MEMÓRIAS E ATOS DE LEITURA – RESSONÂNCIAS ACERCA DA
LITERATURA E MARCAS AINDA VÍVIDAS
JANETE MARCIA DO NASCIMENTO
Mestre em letras – Linguagem e Sociedade UNIOESTE.
CTESOP / [email protected]
Palavras chave: Leitura – Atos – Desejos – Vivências – Escrita – Ressonâncias
Introdução
Este texto deseja expressar vivências de leitura de obras literárias ao
longo de décadas de trabalho docente em diferentes níveis e modalidades de
ensino. Será um texto narrado em primeira pessoa, por objetivar, dentre outros
aspectos, compartilhar atos de leitura de obras literárias, em geral infantis e infanto
juvenis para crianças, adolescentes, jovens e adultos realizadas em diferentes
momentos, lugares e com diversas pessoas em ocasiões distintas. Um elo se faz
notar: os espaços de leitura aqui expressos são espaços de docência – salas de
aula.
Outro objetivo que moveu a escrita desse texto consiste no desejo de
publicar memórias ainda vívidas de experiências concretas do passado e do
presente, que corporificam o fio condutor da minha constituição como sujeito
docente professora escrileitora, pesquisadora e leitora voraz de obras literárias, que
por não caberem mais em mim, escorrem pelas aulas que, às vezes, inicio com
leituras, das quais gosto. Assim, serão narrados aqui, situações e feedbacks
diversos, que se desenharam durante aulas que inicio com a leitura de uma, duas ou
mais páginas de alguma obra literária. São momentos únicos, que se tornaram atos
constantes de deleite, prazer e conhecimento de diferentes obras, autores,
contextos. Práticas, às vezes inusitadas, que se fizeram e se fazem no cotidiano de
salas de aulas em escolas de ensino fundamental, em turmas de graduação e de
especialização, dentre outros lugares.
A metodologia utilizada consistirá na apresentação de relatos chamados
atos de leitura. Tais atos serão discutidos a partir das marcas temporais /
cronológicas de surgimento, os relatos de memória1, bem como as obras literárias
que os alimentaram. Serão também mostrados nesse trabalho, alguns feedbacks de
pessoas (acadêmicos de graduação e crianças do Ensino Fundamental) que
aceitaram participar da corporificação desse texto, expressando suas intensidades
ao participarem dos atos de leitura que se dão durante as aulas.
Discussões e resultados
Escrever sobre experiências vividas e ainda vívidas sobre leitura e
literatura é fazer, no máximo, escolhas. Pois ler, é viajar para muitos mundos,
adentrar vidas desconhecidas, compartilhar com elas sentidos que não os nossos. É
conviver com diferentes tempos, espaços, intensidades e vivências possíveis,
constantes ou não, próximas ou não. A leitura abre possibilidades; reconstrói
sentidos, define caminhos a serem percorridos. Estabelece elos! Possibilita nascer
escritas! Por isso, escrever pode significar costurar, emendar restos / sobras de
leitura. Aquilo que não cabe mais em nós, às vezes suplica por derramar-se em
forma de tinta no papel, para que outros tenham acesso às nossas sobras. Para que
possamos multiplicar e talvez imprimir nosso deleite em outras pessoas, lugares,
desejos!
Gosto de ler. E quando leio, espalho pedaços de mim nos outros.
Compartilho minhas intensidades e possibilito desejos, de ler e de talvez escrever.
Mostro saídas, que se descobrem nos outros. Por isso, quero escrever sobre alguns
prazeres aqui nesse texto, que pretende ser leve, breve e se possível, belo!
Discutirei os momentos em que atos de leitura se deram em mim, por meio de
1 Como em Memórias inventadas – as infâncias de Manoel de Barros – livro no qual o autor narra suas memórias de infância de forma belíssima afirmando que só teve infância – a primeira, a segunda e a terceira, pois segundo ele, continua a ser criança.
relatos de memórias de leitura, bem como dos atos ainda presentes no meu fazer
docente e suas intensidades.
Primeiro Ato: Ressonâncias acerca da leitura e marcas vívidas da literatura
Lembro-me vividamente do meu primeiro contato com um livro de
literatura. Era infantil. Foi no grupo escolar onde estudei, em São Sebastião – um
pequeno distrito situado próximo ao município de Toledo, onde moro atualmente e
desde a infância. Eu tinha sete anos de idade e estava no primeiro ano primário. Já
sabia ler algumas palavras, mas não podíamos naquela época “pegar” ou “tocar” o
livro, que já era bem usado. A professora lia para nós, que escutávamos em silêncio,
quase sem respirar! Não me lembro do título ou do texto, mas as imagens
desbotadas de crianças e paisagens coloridas povoam ainda hoje, minhas
memórias. Não sei se era o único livro que lá havia, mas é dele que me lembro.
Apenas dele. No decorrer da escola primária, não me lembro de ter lido ou ouvido
outros livros de histórias, além deste que citei ou dos fragmentos de textos dos livros
didáticos de comunicação e expressão (era assim que se chamava a língua
portuguesa naquela época). Mas recordo-me de que as narrativas me encantavam!
Eu adorava ler, ouvir, entrar naquele mundo contado por escritas que me roubavam
da realidade o tempo todo para que eu pudesse habitar outros mundos.
Na adolescência, com a mudança para a cidade, as leituras se
modificaram. Conheci os gibis, os romances, os filmes que passavam na televisão,
os desenhos animados e tantas outras formas de ler e me encantar. Tive sempre
muitos irmãos (somos seis em casa), primos, amigos e vizinhos com quem
trocávamos muitas leituras, sempre! Minha irmã devorava os romances. Eu preferia
os gibis que os meninos liam. Eram variados os estilos: Tex Willer, Conan, Recruta
Zero, Fantasma, Disney, A turma da Mônica e tantos mais.
Ler gibis era uma nova modalidade para fazer voar a imaginação! Se até
então os textos sem imagens nos faziam viajar por mundos desconhecidos, ver o
traço do desenhista ganhar vida nas imagens nos faziam deleitar de prazer. Eu
gostava de criar na memória o texto, apenas olhando as imagens, para só depois ler
os balões. Os desenhos eram um belo atrativo. Quando lia os balões, os textos
davam novos sentidos aos desenhos. Eram outras vidas nascendo nas histórias que
eu lia. Não havia final nos gibis, apenas novos começos! As histórias curtas me fazia
querer devorar, de uma só vez, um gibi inteiro. E quanto mais gordo ele fosse, mais
eu gostava. Na verdade, eu gosto de gibis até hoje!
Figura 1: Minhas memórias de leituras: Os Gibis que líamos na adolescência.
As narrativas nos enredavam por mundos que não conhecíamos e os
tornavam nossos. Realidade e fantasia se misturavam constantemente. Lembro-me
de que eu vivia no mundo da lua. Depois descobri que era o mundo dos livros. Era
fantástico! Na escola, nos tempos de ginásio e ensino médio, li a coleção vaga-lume
quase completa. As histórias eram belíssimas! Eram narrativas para adolescentes
que nos faziam ler e conversar sobre elas. Gostávamos de ler para ter assunto com
os colegas na hora do recreio. Trocávamos livros, histórias, e sem o saber, vidas!
Isso me constituiu: as leituras que me alimentam ainda hoje!
Figura 2: Os livros da coleção vaga-lume eram os melhores que tinha na Biblioteca do Colégio. Todo mundo
gostava de ler. Eu amava!
Ainda na adolescência, com os sonhos da mocidade, vieram as revistas e
as surpresas que elas traziam dentro. Eram músicas, dicas de modas, horóscopo,
variedades, histórias de amor, pôsteres de artistas famosos, etc. Mais tarde vieram
os romances “gordos”: Julia, Sabrina, Bianca e outros tantos. Minha irmã e eu
gostávamos de literatura norte americana. Eram romances tórridos de Sidney
Sheldon, Danielle Steel, Agatha Cristie, dentre outros. Havia também os bolsilivros
de faroeste, que meu primo preferido me emprestava. Eu lia um daqueles livros num
único dia. Entre a escola e as tarefas da casa, eu fugia para alguma leitura das que
gostava. É curiosa a forma como tudo isso acontecia, alheio aos olhares de nossos
pais, sempre tão envolvidos com o trabalho. Criávamos um universo particular, do
qual não participavam e sobre o qual pouco ou nada falávamos. Era o nosso mundo
e nós o reinventávamos sempre! Lembro-me de que nossos pais não compravam
livros. Mas sempre os tínhamos em casa. Pois trocávamos com primos, amigos,
vizinhos. Foi uma fase inesquecível! Uma coisa que muito nos marcou foi o universo
da biblioteca pública. Minha irmã e eu disputávamos livros lidos e ela ganhava
sempre! Pois lia muito rápido. Minha adolescência foi a melhor fase da minha vida.
Penso que durará ainda muito tempo, porque continuo gostando das mesmas
coisas. A vantagem é que meu universo se ampliou bastante. Hoje conheço muito
mais autores e livros. Tenho mais possibilidades de compartilhá-los!
Segundo ato: Quando a leitura de livros infantis entrou na minha vida, parecia
já ser tarde demais
Quando concluí a graduação em Pedagogia, já com quase 21 anos de
idade, minha irmã começou a cursar Letras. Lá ela conheceu e comigo compartilha
até hoje as delícias da Literatura Infantil e Infanto Juvenil. A leveza das obras de
Lygia Bojunga, Ana Maria Machado, Ruth Rocha, Bartolomeu Campos Queirós,
Elias José, Tatiana Belinki, dentre outros, amenizavam a “dureza” das disciplinas
teóricas que eu então ministrava na Universidade nos cursos de licenciatura. Foram
tempos novos e mágicos para mim, que de tanto gostar, passei a ler meus pequenos
tesouros para os alunos da graduação. Fui gostando cada vez mais! Leitura e
literatura povoaram meu mundo, e eu fiz delas, minha morada! Estudei leitura e
literatura na Especialização, no Mestrado e passei a ter sempre obras literárias na
bolsa. Sou devoradora de livros. Vivencio essas delícias com todos à minha volta. E
contagio, sempre! Comecei lendo pedaços, textos curtos, poemas. De repente, me vi
lendo livros inteiros com cem, duzentas páginas para os alunos para quem tenho
lecionado. A cada aula, um pedaço, algumas páginas, enfim. Este foi o começo
desse ato que pratico até hoje.
Muitas coisas aconteceram e me surpreendo com os depoimentos dos
alunos para quem leio, ao iniciar nossas aulas na graduação e na especialização.
Muitos adultos comentam que sou a primeira professora a ler para eles. As pessoas
passam a buscar os livros que ostro. Algumas os relêem e me relatam a emoção da
releitura. Tais relatos me lembram Bartolomeu Campos Queiros ao dizer que pouco
importa quantos livros já lemos, mas sim aqueles que relemos sempre2. Reler é, de
fato, uma delícia. Desenvolvi técnicas de livros artesanais e as tenho ensinado em
oficinas e cursos para alunos, professores e colegas. A magia sempre acontece, e
sempre me surpreende!
Terceiro ato: Da bolsa amarela para outras cores e tons
Minha irmã sugeriu que eu lesse O sofá estampado, de Lygia Bojunga.
Ela disse que eu amaria! Ela ainda está certa, porque eu já o li inúmeras vezes, para
muitas pessoas, em diferentes momentos da vida; já o comprei outras tantas, e
também já doei este livro, perdi, comprei de novo, enfim! O fato é que sempre tenho
um sofá estampado comigo. É impressionante a leveza com que a autora adentra o
universo infantil nessa obra, de modo a nos fazer pensar se o texto foi, de fato,
escrito por uma pessoa adulta. Depois do sofá, li outras obras de Bojunga. Tantas
quanto pude. Mas a Bolsa amarela me transformou numa outra pessoa. Conhecer a
Raquel foi um divisor de águas na minha vida! Por isso, vou apresentá-la: “Raquel é
uma menina de nove anos de idade, mais ou menos, que mora com sua família –
pais e irmãos. Por ser a caçula, é muito esquecida por todos. Sua voz é muito
marcante no texto. Reclama de tudo e tudo sofre, segundo ela, por ser a caçula e
por ser menina. Três vontades a dominam em momentos distintos: a vontade de ter
nascido menino, a vontade de ser grande e a vontade de ser escritora. As se
2 Palestra proferida no XV Cole – Congresso de leitura do Brasil no ano de 2005.
expressarem, tais vontades engordam a ponto de a menina não conseguir escondê-
las. Ao ganhar uma bolsa amarela de uma tia que gosta de comprar coisas que não
usa para depois doá-las à família de Raquel, a menina decide guardar / esconder
seus segredos / vontades / invenções dentro da bolsa amarela que passa a ser seu
universo particular”3.
A narrativa fluida de Bojunga nos leva a duvidar das marcas reais /
imaginárias traçadas nesta obra. Entramos junto com a Raquel na Bolsa Amarela e
para lá também levamos nossos segredos. O vai e vem da narrativa atemporal
sugere encontros que se dão entre realidade / fantasia, alegria / tristeza, medo /
coragem, enfim. Inúmeros sentimentos se misturam, definem-se em determinados
momentos da obra e voltam a se confundir noutros, em múltiplos sentidos. A bolsa
amarela me mostra labirintos de pensamentos infantis há tempos adormecidos em
vívidas e por vezes esquecidas memórias. Expressos por fatos e vivências da
Raquel, fizeram-me rememorar diálogos (inventados?) (vivenciados?) por mim na
infância, com animais, plantas, nuvens, céu, estrelas, lua e outros elementos da
natureza, como os passarinhos e as borboletas, muito comuns no sítio onde nasci e
vivi toda minha infância. Ter morado no campo me possibilitou invencionar narrativas
que, até conhecer a bolsa amarela me faziam ter dúvidas de que eles haviam
acontecido dentro ou fora de mim. Devo escrever também, que de intensas
maneiras, o estampado do sofá, de Bojunga, me remete às estampas das roupas
que minha mãe costurava e que eu, muitas vezes reproduzia, dando vida às minhas
elegantes bonecas que ganhava uma vez por ano, no Natal.
As cores da literatura colorem nossa vida, constantemente. Os tons se
definem de maneiras diversas em momentos distintos. A literatura para crianças, em
geral, devido ao seu aspecto ilustrativo, colorido, trás leveza e serenidade aos
eventos do cotidiano infantil, e talvez por isso, denota uma seriedade que não faz
parte do mundo adulto. Ao ler para os acadêmicos da graduação, isso fica explícito.
Apesar de a maioria gostar de ouvir as histórias que leio, alguns resistem ao fato de
que elas sejam infantis. Ao ler um conto como felicidade clandestina de Clarice
Lispector, por exemplo, o ato de ler ganha diferentes significados, pois a princípio,
nada neste conto, a não ser o próprio texto nos remete a ideia de que ele narre as
3 Relato de memória – leitura e releitura da obra A Bolsa Amarela (Lygia Bojunga).
angústias de uma infância – a história de uma menina, sem posses e devoradoras
de livros, que implora por ter emprestados os livros que a filha do dono de livraria
não lia.
Quarto ato: Das delícias de ler e sentir
Para desenhar esse texto sobre os atos de leitura que tenho realizado ao
longo de meus fazeres docentes, decidi compartilhar as intensidades daqueles que
tem tornado possíveis tais atos: os acadêmicos para quem leio há anos. Então
propus em algumas turmas de cursos de licenciatura (Pedagogia, Geografia e
Matemática – do CTESOP / UNIMEO – turmas de 2012), que me escrevessem
sobre “o que sentem quando leio alguma história na sala de aula”. O objetivo foi
conhecer os sentidos das leituras que faço, do ponto de vista de quem lê com os
ouvidos as histórias, em geral, de literatura infantil ou infanto juvenil, como já foi
explicado anteriormente. Seguem alguns dos relatos:
“Ao escutar uma história, como as que a professora lê, leva nossos sentidos a interpretar, e às vezes entrar no contexto histórico imaginando quais os próximos passos que irá ocorrer na estorinha. Ou seja, dispersamos nossas preocupações diárias e nos envolvemos com algo que nos distrai e ao mesmo tempo se torna prazeroso, pois a nossa imaginação nos leva a algo que desconhecemos e que muitas vezes não praticamos este conhecimento, esta dádiva nos dada que é a imaginação.”
“Eu acho muito legal, uma didática diferente de trabalhar, momento para ouvirmos, refletir e de distração, o que torna a aula mais interessante.”
“Quero que a professora continue com as histórias, pois o início das delas já nos deixa atentos e curiosos, são histórias com mensagens gostosas de ouvir, um momento diferente, de viajar... são histórias simples e ao mesmo tempo, complexas. Obrigada!”
“Acho um modo interessante de começar a aula, já que não somos acostumados a pegar livros de histórias.”
“Quando a professora de Políticas lê histórias infantis, faz com que viajemos pelo menos um pouco do dia, pois vivemos num mundo conturbado, cheio de deveres e estressante. Com essas leituras, além da nossa imaginação viajar em fantasias, tiramos ainda lições que pode servir e ajudar no nosso cotidiano, quando viramos adultos não ligamos, e muitas vezes não temos tempo para ler essas histórias, a professora fornece para nós acadêmicos este momento de distração, ou lembramos de nossa infância.”
“Na minha opinião, a professora Janete tem um costume bonito, pois ao chegar na nossa aula, ela pede licença para contar uma história, que ela trás. As histórias são um pouco infantis, mas para nós que estamos estudando para ser docentes, é muito gratificante, pois a leitura é muito necessária para todos. Obrigado, professora Janete.”
“Conforme a professora relata a história, vou formando o ambiente em que se passa embasada nos detalhes. Quando as histórias se estendem muito, confesso que me disperso facilmente, mas quando não, as narrações me deixam intrigada e curiosa para saber o que ocorrerá depois.”
“Como eu não gosto muito de leitura, ouvir a professora ler é melhor porque faz a gente refletir com o que a leitura diz. Como a professora lê compassado, é muito gostoso ouvir ela lendo, dá para ficar imaginando como a história está acontecendo, imaginar cenas. Eu prefiro ouvir do que ler porque quando lemos e não entendemos a história não tem sentido, mas quando ouvimos a leitura eu entendo melhor.”
“Quando a professora lê as histórias vou navegando em uma imaginação que nem eu mesma, na correria sei que tenho. Na história da andorinha Sinhá e do gato Malhado
4 trouxe
muito para minha vida, pois nos ensina que se queremos algo não importa se pareça impossível, mas devemos lutar por nossos sonhos. Me incentivou mais na prática da leitura percebendo que é algo importante e de muito valor. Pois se não temos a prática da leitura somos ignorantes, pois é nela que adquirimos muitos conhecimentos.”
“Ouvir a professora lendo uma história é sempre uma forma de fugir dos pensamentos rotineiros e viajar, relaxar. É um prazer inexplicável, pois os textos nos fazem rever nossa forma tão rígida de viver a vida. A leitura nos dá outras possibilidades.”
“Não é um sentimento muito nítido. Geralmente eu prefiro ler, mas a sua leitura, provavelmente devido à expressão facial e ao tom de voz que você usa, torna-se interessante e faz com que eu me sinta interessada no desfecho da estória, que na maioria das vezes não é um desfecho comum. Apesar de eu ter o gosto totalmente diferente do seu, aprecio sua leitura.”
“Quando a professora está lendo alguma história, eu paro de pensar e fico fixado, tentando desenhara história na minha cabeça.
4 O Gato Malhado e a Andorinha Sinhá – (Jorge Amado). Li esta obra inteira para esta turma no ano anterior, na disciplina de didática. Foi emocionante o envolvimento da turma. Um ato intenso de trocas de emoções. Muitos choraram com final infeliz da história de amor entre o gato e a andorinha.
Isso faz com que eu me esqueça das dificuldades da aula e me sinta mais tranqüilo, mais criança.”
“Me sinto muito bem, parece que sou expectadora, que estou presente lá dentro da história, fico quietinha, sem dar uma palavra sequer, apenas escutando, o que se transforma em „ver‟, na minha imaginação. Neste instante me sinto leve, parece que a tensão do decorrer do meu dia some, assim, do nada, desaparece. Me lembro de uma fase quando era criança, foi quando minha mãe estava montando o enxoval da minha irmã que estava pra nascer. Pois como eu tinha nove anos, com medo de que eu ficasse cm ciúmes, minha tia me presenciou com uma coleção de livrinhos infantis, que todas as noites quando ia dormir minha mãe lia para mim, juntamente com meu pai, nós quatro, juntos. Desta maneira me sentia muito bem, assim como me sinto hoje, nas aulas de filosofia, parece que volto ao tempo e começo a sentir novamente aquela paz de espírito, viajando deste modo, sem rumo e barreiras, apenas viajando dentro da história.”
“Ao ouvir as histórias infantis contadas pela professora Janete, sinto vontade de chegar logo ao final, pois a forma como a mesma conta as histórias me cativa e faz com que eu queira ouvir mais histórias. No decorrer das histórias somos instigados a soltar a imaginação e prever o final das mesmas, quando a professora conta com entusiasmo e emoção, obtemos os mesmos sentimentos. Eu, particularmente sou apaixonada por histórias infantis, e quando ouço alguém lendo a minha expectativa em relação às mesmas é maior do que quando eu leio.”
“A hora da leitura em sala de aula, é um momento de distração, de alegria, reflexão de nossas atitudes, escolhas. Sinto prazer em ouvir as histórias contadas pela professora. Fico imaginando como são os lugares, os personagens, entre outros. Desperta também a curiosidade, atenção para ver qual será o final da história. É interessante o momento em que a professora, após contar a história, pergunta aos alunos o que acharam, se gostaram e qual foi a interpretação e compreensão de cada aluno a respeito da história contada.”
“Simplesmente imagino junto com a história, não tem como ouvir e não passar um filme na mente, como se fossem as imagens em movimento, é mesmo muito legal uma descontração assim.”
“Adoro as histórias, acho bem interessante pois, é uma forma de nos distrair, de ir além da realidade. Todos os professores deveriam ler histórias pra gente. Por mim, a professora pode continuar contando histórias até o final do ano que vem. Eu gosto muito das histórias até descobri a gatinha. Rsrs
5.”
“A leitura feita antes de ser passado o conteúdo é método muito bom, pois traz tranqüilidade e faz com que a aula se torne mais agradável depois de um dia de trabalho cansativo e corrido”.
“O que eu sinto ao ouvir as histórias da professora Janete é... calma. Também há momentos de tranquilidade; curiosidade (para saber o final); Emoção (alegria, tristeza,... Dependendo do contexto); Imaginação; Aprendizado; Desenvolvimento (da percepção auditiva)”.
“Quando a professora conta as histórias, eu aprecio como um descanso. Pois a gente faz matemática, temos muitas listas, muitos textos e um período muito curto para observar tudo isso. E quando a professora faz uma atividade diferente, ou conta uma história foge dessa rotina cansativa, e a professora faz essa mesclagem, e dá aula ao mesmo tempo”.
“Ao observar a leitura, percebo um mundo encantador a ser desvendado, a imaginação, curiosidade, levar ao movimento do pensamento, a viajar na história, e também a contextualizar a história no nosso contexto”.
“Na minha opinião as histórias são muito bem desenvolvidas em cima de conteúdos, às vezes precisamos de algo diferente que nos motive a ir além e essas histórias fazem toda a diferença. As histórias nos influenciam e nos fazem buscar motivos para continuar a vencer na vida. Muitas vezes suas histórias se encaixam em momentos de nossa vida que nos fazem entender e valorizar cada vez mais aquilo que nos é dado”.
“Quando a professora lê, nós podemos sair um pouco desse mundo e nos distrair, voltar aos bons tempos onde nossos pais contavam histórias. Isso é bom, pois o ânimo da aula
5 A acadêmica, que é do 2° Ano de Matemática refere-se a Dalva – personagem central do romance entre uma gata e um tatu em O sofá estampado. Li a primeira parte da obra e perguntei quem eles achavam que eram os personagens. Todos pensaram que fossem pessoas, mas são animais. Ela sugeriu que poderia ser uma gata e ficou muito feliz com sua descoberta.
muda completamente. Um método de aprendizagem excelente!”
“Ao escutar as histórias que a professora conta, viajo no mundo desses encantos literários, pois saio do mundo real e passo a imaginar essas histórias fantásticas, que transmitem esperança, alegria e diversão e ainda mais, a emoção e expectativa de ouvir mais e mais histórias”.
“Alegria, emoção (curiosidade, raiva, felicidade, liberdade, descontração); momento próprio, individual, de pensamento só meu, minha imaginação. Construção de ideias, imagens, representações, viajar na imaginação, imaginar sem repreensão; deixar fluir os sentimentos, compreender a mensagem passada, interpretá-la e utilizá-la corretamente. Deixar o lúdico fazer-se presente em mim. Voltar a ser criança (...).”
“A leitura de livros de histórias em sala de aula, para mim, é muito importante para estimular e incentivar o aluno a ler também. Com a leitura feita pelo professor, o aluno fala a história mentalmente, criando características dos personagens e acontecimentos. Muitos alunos de nosso curso não tem o hábito de ler esse tipo de leitura. Talvez seja uma forma de iniciar esse hábito. Como professor, vejo essa atividade não muito produtiva, pois é algo que não é visto da mesma maneira por todos. Alguns participam, outros não”.
“A leitura no início da aula nos traz um momento de distração, em que fazemos o uso da imaginação. Com isso conseguimos ter mais concentração na aula”.
“No meu ponto de vista, esta prática que a professora usa de ler histórias é maravilhosa. Quando a professora conta as histórias as mesmas parecem ser de verdade e isso faz a história ficar mais bonita e divertida. Acho que todos professores deveriam adotar esta prática porque a leitura deixa a aula mais gostosa. Além disso, comecei a olhar a leitura de maneira diferente”.
Considerações finais
Este foi um texto homenagem. Àqueles que de muitas formas
compartilham comigo durante décadas de docência, as delícias dos atos de leitura.
Sejam eles os autores, os alunos que me ouvem ler, os amigos que me suportam ao
mostrar os livros que passo a conhecer, e todos os envolvidos nos diferentes grupos
dos quais faço parte e que passam a me conhecer e a compartilhar meus singelos
atos de leitura. Ler e ver ressoar os efeitos nas pessoas que convivem conosco,
diariamente é digno de homenagem. É o tipo da coisa, que como diria Queiros
(2005) a gente não dá conta de viver e admirar sozinho. Gosto disso! Me alimenta
ver brilho nos olhos dos alunos, adultos ou crianças, ao concluir a leitura do texto,
seja ele curto ou longo. Muitas vezes me perco no texto por não resistir à
curiosidade de conferir com olhares fortuitos, as expressões que vão se desenhando
nas pessoas enquanto leio. Elas variam de acordo com o texto. Mas trazem sempre
a intensidade de quem ouve, atento, ao desenrolar de uma historia, na maioria das
vezes desconhecida. É curioso ver os alunos pedirem se não tenho algum livro na
bolsa, quando começo a aula sem mencionar a leitura de algum texto. É interessante
ser cobrada sobre isso e ao mesmo tempo ter que cobrar constantemente a leitura
dos conteúdos das disciplinas! Ou seja, ler por prazer é muito mais interessante.
Isso me faz crer que a literatura pode ocupar um espaço até então, repleto de
sentidos na vida de pessoas que afirmamos sempre, não gostar de ler. Britto (2003)
sugere que quando uma criança de três anos lê com a voz emprestada da mãe, da
professora ou de qualquer outro adulto, já estabelece um contato com a linguagem
escrita, que é a voz da escrita, diferente da voz de quem conta, relata, fala, reconta.
E isso, segundo o autor, é ler também. Penso que de certa forma, estamos formando
leitores que poderão ler quando gostam de ouvir as leituras que fazemos em sala de
aula. Penso, portanto, que atos de leitura podem vir a ser leituras!
Referências Bibliográficas
BARK, Jaspre. Diário das invenções de Leonardo Da Vinci. São Paulo: Ciranda
Cultural, 2009.
BARROS, Manoel de. Memórias inventadas: as infâncias de Manoel de Barros. _ São Paulo: Editora Planeta do Brasil, 2010.
BOJUNGA, Lygia. A bolsa amarela. 33ª Ed. Rio de Janeiro: Ed. Casa Lygia Bojunga, 2003.
______________. O sofá estampado. 19ª Ed. Rio de Janeiro. José Olympio, 1995.
FRANÇA, Mary e Eliardo. A verdade verdadeira – contos de Andersen. São Paulo: ática,
2004. 3ª edição
LISPECTOR, Clarice. Felicidade Clandestina. Rio de Janeiro. Rocco Ed., 1998 – 1ª edição.
QUEIROS, Bartolomeu Campos. Onde tem bruxa tem fada. 3ª ed. São Paulo: Moderna, 2002.
Sites das imagens:
http://www.google.com.br/search?hl=ptBR&q=gibi+tex+online+willer,+conan,+recruta+zero,+fantas
ma&bav=on.2,or.r_gc.r_pw.r_qf.,cf.osb&biw=1280&bih=619&um=1&ie=UTF-
8&tbm=isch&source=og&sa=N&tab=wi&ei=olPdT-DdJ4L68gSGwqX4Cg – gibis diversos.
http://poptude.blogspot.com.br/2012/04/livros-da-colecao-vaga-lume-vao-parar.html - coleção
vaga-lume.