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Adolescência & SaúdeAdolesc. Saude, Rio de Janeiro, v. 8, n. 2, p. 32-39, abr/jun 2011

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RESUMOObjetivo: Rever as opções terapêuticas atualmente disponíveis para o tratamento da acne na adolescência tendo em conta a sua base fi siopatológica. Fontes de dados: Artigos contidos na base de dados MEDLINE e ScienceDirect utilizando os descri-tores “tratamento” e “acne”, no período de 1990-2010, foram selecionados tendo em conta o resumo e a relevância temá-tica. Síntese dos dados: Na patogênese da acne estão envolvidos quatro fatores principais: aumento da produção de sebo, hiperqueratose folicular, proliferação bacteriana e infl amação. A efi cácia da terapêutica depende da atuação nestes fatores. Individualmente nenhuma terapêutica é efi caz contra os quatro fatores. A terapêutica tópica está indicada nos casos de acne leve a moderada. Os antimicrobianos tópicos estão recomendados no tratamento da acne infl amatória leve. A resistência bacteriana é um problema crescente. As tetraciclinas e os seus derivados são os antibióticos de primeira linha no tratamento da acne moderada a grave. Nos doentes que não respondem à terapêutica convencional, a isotretinoína sistêmica está indi-cada. Novos fármacos emergentes, tanto tópicos como sistêmicos, têm sido estudados, o que permitiu aumentar as opções de tratamento destes doentes. Conclusão: As recomendações atuais sugerem que os tratamentos devem ser combinados, para atingir o maior número de fatores patogênicos possível. Não se espera melhoria antes de 6-8 semanas de terapêutica. É fundamental a manutenção a longo prazo com fármacos seguros e bem tolerados para aumentar a adesão à terapêutica.

PALAVRAS-CHAVEAcne vulgar, tratamento, adolescente.

ABSTRACTObjective: To review the treatment options currently available for acne in adolescence, bearing in mind its pathophysiological basis. Data Sources: A search for journal papers between 1990 and 2010 was performed in the Medline and ScienceDirect database, with the words “treatment” and “acne” as descriptors, selected on the basis of their abstracts and the relevance of tinier subject matter. Data Summary: Four main factors are involved in acne pathogenesis: increased sebum production, follicular hyperkeratosis, infl ammation and bacterial proliferation. Treatment effi cacy depends on the interactions of these factors. No single treatment is effective against all four factors. Topical therapy is indicated for mild to moderate acne, with topical antimicrobial agents recommended for treating mild infl ammatory acne. Bacterial resistance to antibiotics is an increasing problem. For moderate to severe acne, tetracycline and its derivatives are the fi rst-line antibiotic treatment. Systemic isotretinoin is indicated for patients unresponsive to conventional therapy. New emerging topical and systemic drugs have been studied, extending the treatment options for these patients. Conclusion: Current recommendations suggest that treatments should be combined, in order to target as many pathogenic factors as possible. Up to six or eight weeks of therapy may be required before improvement is evident. Long-term maintenance therapy should use safe and well tolerated drugs in order to enhance compliance with the treatment.

KEY WORDSAcne vulgaris, treatment, adolescent.

Atualização do tratamento médico da acne vulgar na adolescênciaAcne vulgaris in adolescence: an update on medical treatment

Paula Alexandra Simão Nunes1

Maria Alexandra da Silva Neves

Costa2

1Médica interna da especialidade de Pediatria da Faculdade de Ciências Médicas de Lisboa, Serviço de Pediatria - Hospital S. Francisco Xavier, Lisboa, Portugal2Assistente de Pediatria Médica da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Nova de Lisboa e Assistente Hospitalar Graduada de Pediatria do Hospital S. Francisco Xavier, Lisboa, Portugal

ARTIGO DE REVISÃO

Paula Nunes ([email protected]) - Serviço de Pediatria - Hospital S. Francisco XavierEstrada do Forte do Alto do Duque 1495-005 LisboaRecebido em 17/01/2011 - Aprovado em 2/04/2011

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INTRODUÇÃO

A acne é essencialmente uma doença in-fl amatória da unidade pilo-sebácea (UPS) que atinge quase todos os adolescentes e adultos em algum momento das suas vidas. A UPS localiza-se na derme, compreende o folículo piloso ane-xado a uma ou mais glândulas sebáceas. A acne surge com o aumento da produção de androgê-nios na puberdade, que estimula a produção de sebo ao nível da UPS1-4.

Os queratinócitos, células de revestimento da UPS, em condições normais, descamam regu-larmente e transportam o sebo para a superfície cutânea, estabelecendo um equilíbrio entre as células produzidas e as descamadas. Na acne, há um aumento da proliferação dos queratinócitos, formando camadas densas que não descamam adequadamente e não transportam o sebo para a superfície. Esta hiperqueratose de retenção, designada microcomedão, clinicamente invisí-vel, é o precursor das lesões de acne4,5. Quando

mais material queratinoso se acumula, a parede folicular fi ca fi na e dilata. Concomitantemente as glândulas sebáceas atrofi am e são substituídas por células com epitélio indiferenciado, forma-se a lesão visível designada comedão2,4,5. A dilata-ção do orifício folicular origina o que se designa por comedão aberto ou ponto negro; quando o orifício é estreito com bloqueio folicular, desig-na-se comedão fechado, também chamado de ponto branco. Com a contínua acumulação de sebo, o comedão fechado torna-se mais dilata-do, o saco folicular pode romper para o tecido adjacente, levando à formação de lesões infl a-matórias2,5. Estas podem ser pápulas, pústulas, nódulos ou quistos.

A pele é habitualmente colonizada por Propionibacterium acnes (PA)2,5,6. Esta bactéria produz enzimas e fatores quimiotáticos para os neutrófi los, podendo originar um infi ltrado infl a-matório na parede folicular e derme circundan-te. A presença do PA e de outras bactérias pode contribuir para a formação da acne infl amatória

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Quadro 1. TERAPÊUTICA DA ACNE E FUNÇÕES ASSOCIADAS5

TerapêuticaQueratolítico/comedolítico

Antimicrobiano Anti-infl amatórioSupressãode sebo

Tópica

Tretinoína Forte Fraco Ausente Ausente

Isotretinoína Forte Fraco Fraco Ausente

Adapaleno Forte Fraco Moderado Ausente

Tazaroteno Forte Fraco Ausente Ausente

Ácido azelaico Moderado Moderado Fraco Ausente

Peróxido benzoílo Fraco a) Forte Ausente Ausente

Antibacterianos tópicos Fraco a) Forte Fraco Ausente

Sistêmica

Antibacterianos orais Fraco a) Forte Moderado Ausente

Isotretinoína Forte Moderado Moderado Forte

Contraceptivos orais Moderado Ausente Ausente Forte

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através da quimiotaxia, resposta imune celular e humoral, e ainda por ativação do complemento.

Esta doença pode variar de formas leves a graves, deixar cicatrizes persistentes e provocar efeitos adversos importantes no desenvolvimen-to psicológico do adolescente4,5,7.

A terapêutica de sucesso da acne deve ter em conta os quatro fatores principais na sua patogênese: aumento da produção de sebo, hi-perqueratose folicular, proliferação bacteriana e infl amação2-5. O Quadro 1 resume os fármacos utilizados na terapêutica da acne tendo em con-ta a sua ação nos fatores patogênicos.

Os objetivos terapêuticos são: reduzir a produção de sebo e colonização por PA, e consequentemente a infl amação;

reverter a hiperproliferação e normalizar a queratinização;

eliminar e prevenir o desenvolvimento de mi-crocomedões, comedões e lesões infl amatórias.

Devem evitar-se os sabões, detergentes e adstringentes abrasivos; a excessiva limpeza pode agravar a acne e desencadeia o desenvol-vimento de lesões infl amatórias. Deve promo-ver-se a higiene diária suave, não abrasiva4. Os fatores dietéticos não infl uenciam a produção de sebo e as restrições dietéticas não têm signifi ca-do no tratamento da acne2.

As terapêuticas tópicas atuam em três dos quatro principais fatores identifi cados na pato-gênese. Podem ser usadas isoladamente na acne leve a moderada ou em combinação. Não de-vem ser aplicadas apenas nas lesões individuais, mas em toda a zona afetada pela acne para pre-venir o desenvolvimento de novas lesões.

RETINOIDES TÓPICOS

Os retinoides tópicos e seus compostos atu-am principalmente ao nível do microcomedão1. Não afetam a produção de sebo, embora os do-entes refi ram subjetivamente a sensação de pele menos oleosa. Todos são mais efi cazes quando associados com antibióticos tópicos ou sistê-

micos. Os retinoides tópicos eram no passado reservados para os doentes com acne predomi-nantemente comedônica; são atualmente consi-derados tratamento de primeira linha para acne comedônica e infl amatória1. Ao inibir a formação do microcomedão, os retinoides previnem a for-mação de novas lesões, por isso são considera-dos essenciais na terapêutica de manutenção.

A tretinoína, que é efi caz na terapêutica da acne leve a moderada, tem como principal ação a redução da hiperqueratose folicular, prevenin-do a formação do microcomedão. O grau de irritação é infl uenciado pelo veículo usado (so-lução/gel mais irritantes que cremes), pela con-centração do produto, quantidade e frequência de aplicação. O aumento da irritação após a exposição à luz ultravioleta (fotossensibilidade) deve ser explicado aos doentes, recomendando a aplicação apenas à noite1. Preferem-se as for-mulações em gel nos climas quentes e úmidos e os cremes nos climas frios e secos.

Salienta-se que a tretinoína, além de ser fo-tossensível, degrada-se completamente quando administrada concomitantemente com peróxi-do de benzoílo (PBO). Por isso, ao fazer a asso-ciação, aconselha-se que o PBO seja usado de manhã e a tretinoína à noite1

.

O adapaleno é o primeiro dos retinoides de 3ª geração a ser aprovado no tratamento da acne vulgar desde a introdução da tretinoí-na. Tem efeitos anti-infl amatório, comedolítico e queratolítico1,5. O adapaleno demonstra maior rapidez no início da ação do que a tretinoína, permitindo uma melhoria na qualidade de vida e maior adesão à terapêutica5.

O tazaroteno é um retinoide sintético usa-do no tratamento da acne leve a moderada. A sua efi cácia superior comparada com a tretino-ína e semelhante comparada com o adapaleno foi verifi cada em dois estudos multicêntricos, de dupla-ocultação, randomizados em doentes com acne vulgar facial, leve a moderada8,9.

Estudos que compararam o potencial efei-to irritante entre os retinoides tópicos demostra-ram de forma consistente que o adapaleno é o melhor tolerado entre os retinoides disponíveis1.

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ANTIBACTERIANOS TÓPICOS

O PBO tem um potente efeito antibacteria-no e uma atividade comedolítica leve4-6. Doen-tes com pele sensível devem utilizar creme ou loção de baixa potência. No entanto a forma em gel é mais efi caz como veículo terapêutico do que o creme ou loção, embora possa ser mais irritante. Deve iniciar-se com preparações de menor concentração (2,5%, 5%), que devem ser aplicadas em dias alternados. A frequência e concentração podem ser aumentadas de acordo com a tolerância. Os efeitos adversos mais fre-quentes são as reações de irritação, que surgem pelos seus efeitos terapêuticos e que, em regra, desaparecem com a continuação do tratamen-to. Os doentes devem ser informados que o PBO pode branquear a roupa e o cabelo1,3.

Os agentes antibacterianos (AB) tópicos como a tetraciclina, clindamicina e eritromicina estão indicados no tratamento da acne leve in-fl amatória. Constituem alternativas ao PBO, pois não só reduzem a população de PA no folículo sebáceo como também demonstram ação co-medolítica indireta e fraca atividade anti-infl a-matória. Todos os AB tópicos podem causar irri-tação local infl uenciada pelo veículo utilizado10.

Como a resistência aos AB é relativamente comum, especialmente com o uso prolongado dos AB tópicos, sem a utilização concomitante do PBO, não estão indicados como monoterapia no tratamento da acne1,3,6.

TRATAMENTO SISTÊMICO

Indicado se houver falência do tratamento tópico, ou se a acne for grave com a presença de nódulos/quistos com risco de formar cicatrizes.

ANTIBACTERIANOS ORAIS

Os AB, que são largamente usados para o tratamento da acne moderada a grave do tipo infl amatório, são: eritromicina, clindamicina, co-

trimoxazol, trimetoprim e as tetraciclinas (tetra-ciclina, minociclina, doxiciclina)6,10,11.

Estes agentes, em regra bem tolerados pela maioria dos doentes11, suprimem o crescimento do PA e de outras bactérias da pele como Sta-phylococcus epidermidis. Além das suas proprie-dades antimicrobianas, os AB têm propriedades anti-infl amatórias intrínsecas, inibem a quimio-taxia dos neutrófi los, alteram a produção das ci-tocinas, inibem as lipases bacterianas, reduzindo a concentração de ácidos gordos livres5.

As tetraciclinas e seus derivados de segun-da geração (doxiciclina, minociclina, limecicli-na) são os AB de primeira linha no tratamento da acne. A limeciclina constitui um antibiótico com absorção e difusão mais rápida aos tecidos e menores efeitos secundários que as restantes tetraciclinas. Estudos que compararam a lime-ciclina com minociclina demonstraram serem igualmente efi cazes, com efeitos adversos se-melhantes (em alguns casos até menores), mas com relação custo-benefício mais favorável12.

A azitromicina é um macrólido adminis-trado por via oral, estruturalmente relacionado com a eritromicina, com um espectro seme-lhante, que tem sido utilizado de forma experi-mental. Ao comparar minociclina e azitromicina, verifi cou-se terem a mesma efi cácia, e ao com-parar azitromicina com doxiciclina, nenhum fár-maco mostrou ser mais efi caz do que o outro11,13.

De acordo com vários estudos, um em cada quatro doentes com acne tem estirpes PA resisten-tes às tetraciclinas, eritromicina, e clindamicina5.

Apesar de ser rara no início do tratamento, após 16 semanas de tratamento, a resistência aos AB é elevada. Esta desenvolve-se por mu-tação bacteriana, sendo os mutantes tão viáveis como as estirpes sensíveis7.

Uma vez notado o efeito de melhoria da acne, o AB deve ser reduzido e posteriormente suspenso o mais rápido possível1, 11. Se não hou-ver melhoria clínica, deve ser substituído o AB, pois a resistência não é rara.

Regras clínicas para evitar o desenvolvi-mento de estirpes de PA resistentes aos AB: evitar a utilização alargada de antibióticos;

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suspender os AB quando a acne está con-trolada;

usar apenas AB combinados com PBO ou re-tinoide;

usar a isotretinoína quando indicada.

RETINOIDES SISTÊMICOS

Constituem a terapêutica mais efi caz para a acne infl amatória moderada a grave e para os doentes que não respondem à terapêutica con-vencional. É o único agente que mostrou induzir a remissão a longo prazo e potencial curativo7.

A principal contraindicação da isotretinoína é a sua teratogenicidade e os seus efeitos adver-sos. Estes são dependentes da dose e podem ser minimizados com a sua redução. Os mais comuns incluem: secura das membranas/muco-sas, rigidez, fadiga, cefaleias, doença infl amató-ria intestinal, conjuntivite, descamação da pele (palmas e plantas), alterações transitórias da função hepática, hipertrigliceridemia e menos frequentemente hipercolesterolemia. A gravidez deve ser excluída nas mulheres em idade fértil em que a isotretinoína é planejada para o trata-mento, uma vez que é teratogênica3,4,6.

TERAPÊUTICAS COMBINADAS

Foram desenvolvidas para atingir dois ou mais dos fatores fi siopatológicos. Os resultados clínicos suportam a utilização de retinoides tópi-cos associados a AB tópicos ou sistêmicos e reti-noides tópicos conjuntamente com o PBO, como terapêuticas mais efi cazes na acne vulgar11.

Quando os retinoides tópicos são usados concomitantemente com os AB, os dois agentes produzem uma redução mais rápida e signifi -cativamente maior da acne do que a utilização isolada do AB.

No estudo multicêntrico, efetuado por Thiboutot et al., em 467 doentes com acne in-fl amatória moderada a grave que utilizaram o adapaleno gel a 0,1% combinado com doxici-

clina (100 mg/dia) ou AB isolado, verifi cou-se redução signifi cativa das lesões com a terapêu-tica combinada1.

Os maiores benefícios da terapêutica com-binada verifi cam-se quando utilizada desde o início do tratamento, mesmo na acne infl amató-ria. Preferir os retinoides de 3ª geração pelo seu menor número de efeitos irritativos locais, o que melhora a adesão da terapêutica de manuten-ção a longo prazo.

TERAPÊUTICA HORMONAL

O uso de contraceptivo oral, na mulher após a menarca, pode estar indicado de acordo com a gravidade da doença: na acne leve como combinação da terapêutica tópica em jovens que desejam contracepção;

na acne moderada como terapêutica sistêmica; na acne grave como primeira forma de tera-pêutica;

na adolescente com sinais clínicos de hiperan-drogenismo;

como uma das duas formas indicadas de con-tracepção nas mulheres tratadas com isotreti-noína sistêmica14,15.

Os contraceptivos orais têm evoluído no sentido de reduzir o teor de estrogênios e incluir progestagênios com menor androgenicidade in-trínseca. Estas modifi cações reduzem os efeitos secundários desta medicação15,16.

Existem três preparações hormonais presen-temente indicadas no tratamento da acne. Todas estas contêm estrogênios e progestagênios: com um efeito mínimo androgênico, o etini-lestradiol/levonorgestrel;

com potencial efeito antiandrogênico, o eti-nilestradiol/acetato de ciproterona e, mais re-centemente, o etinilestradiol/drosperinona.

O acetato de ciproterona é um análogo da hidroxiprogesterona, com atividade pro-gestagênica. Atua como potente antiandrogê-nico por inibição competitiva da testosterona,

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ligando-se ao receptor androgênico, inibindo a secreção de gonadotropinas.

De acordo com dois estudos multicêntricos, duplamente cegos, randomizados, contra-place-bo, o etinilestradiol 20µg e a drosperinona 3 mg são efi cazes no tratamento da acne moderada16.

A espironolactona é um antiandrogênio que se liga de forma competitiva aos receptores androgênicos, inibe a atividade da 5α-redutase (diminuindo a produção de sebo) e diminui a síntese dos androgênios. Este agente, nas doses 50-200 mg/dia, mostrou ser efi caz na acne, em-bora os estudos sejam pouco consistentes e com metodologias diferentes13. Os seus efeitos secun-dários incluem: tensão mamária, irregularidades menstruais, cefaleias e hiperpotassemia.

A drosperinona é um novo progestagê-nio derivado da espironolactona e tem efeitos antiandrogênico e antimineralocorticoide. A efi cácia dos contraceptivos orais contendo eti-nilestradiol 30µg e drosperinona 3 mg foi com-parada com outros contraceptivos num estudo multicêntrico, prospectivo, observacional recen-te17. Os riscos cardiovasculares e outros efeitos adversos graves em utilizadores de contracep-tivos com drosperinona foram semelhantes aos associados com outros contraceptivos orais.

FÁRMACOS EMERGENTES

ÁCIDO PICOLÍNICO

Trata-se de um agente com propriedades antivirais, antibacterianas e imunorreguladoras; atua como quelante de metais iônicos como zin-co, ferro, crômio e cobre. A sua efi cácia contra o PA ainda não foi formalmente testada, no en-tanto um estudo recente18 demonstrou efi cácia na redução das lesões de acne infl amatória e não infl amatória, respectivamente em 55,2% e 59,7%, após a aplicação de ácido picolínico em gel a 10%, duas vezes ao dia durante o período de 12 semanas. Trata-se de um estudo com ape-nas 20 doentes; esperam-se estudos randomiza-dos que corroborem estes resultados12.

DAPSONA

Pensa-se que inibe a migração dos leucóci-tos, libertação de citocinas e altera os mecanismos de ação do PA na UPS. Estudos que utilizaram dapsona tópica em gel a 5% em monoterapia durante 12 semanas demonstraram melhoria da acne, em especial nas lesões infl amatórias. O per-fi l de efeitos secundários foi considerado seguro, tendo sido descritos como mais frequentes os efeitos locais de eritema e xerose cutâneos12.

SAIS DE ZINCO

O zinco inibe a migração dos neutrófi los para os locais de infl amação, reduz a expressão do TLR2 (receptores da imunidade inata), dimi-nui a libertação de IL-6 e α-TNF, pelo que previne e reduz os processos infl amatórios, e por outro lado difi culta o crescimento do PA. A redução das lesões de acne pelas soluções orais de sais de zinco já foi demonstrada em diversos estudos. Recentemente tem-se estudado a sua associação à terapêutica tópica com eritromicina; os resul-tados foram favoráveis, uma vez que diminui a resistência do PA associada à eritromicina12,19.

TERAPIA FOTODINÂMICA

Investigações têm demonstrado que o PA produz compostos de porfi rinas sensíveis à luz visível de vários comprimentos de onda. A absorção da luz excita os compostos e as por-fi rinas, levando à formação de radicais livres re-ativos, pensando-se que estes danifi cam os lípi-dos da parede celular do PA, destruindo-os. Os compostos ácido A-aminolevulínico (ALA) e os seus derivados esterifi cados podem atuar como percursores do fotossensibilizador endógeno, protoporfi rina IX, quando aplicados topicamen-te. A terapia fotodinâmica consiste então na apli-cação tópica destes fotossensibilizantes, seguida da iluminação com uma luz específi ca por um determinado período de tempo. Demonstrou-se

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uma ausência prolongada de função da glându-la sebácea, com inibição da produção de sebo e diminuição da quantidade de bactérias ao ní-vel do folículo. Efeitos secundários signifi cativos podem ocorrer, tais como: hiperpigmentação transitória, exfoliação superfi cial e formação de crostas, no entanto sem cicatrização associada12.

TERAPÊUTICA DE MANUTENÇÃO

Deve suspender-se imediatamente o uso dos AB após melhoria clínica com regime com-binado e continuar com retinoide tópico de ma-nutenção3, de forma a reduzir o risco de resis-tência bacteriana pelo uso prolongado dos AB e manter as remissões20. Os retinoides tópicos previnem o desenvolvimento de novas lesões e resolvem lesões já existentes, por isso devem ser preferidos como monoterapia na manutenção. Se for necessário prolongar o AB, o PBO deve ser usado em associação ao retinoide tópico11.

ATITUDE PRÁTICA

A prescrição deve ser feita por passos. Na primeira consulta, é necessário começar por rever os medicamentos de venda livre que aplicam, lembrar que um novo regime tera-pêutico pode levar pelo menos 6 semanas a fazer efeito. As mulheres que desejam engra-vidar, devem descontinuar a terapêutica com tetraciclinas e retinoides.

Lavar o rosto com um agente de limpeza sua-ve antisseborreico, 2 vezes por dia.

Eliminar os adstringentes (na maioria com álcool), esfoliantes e dispositivos abrasivos. Estes produtos podem infl amar as glândulas sebáceas.

Acne leve a moderada: recomenda-se um re-tinoide tópico (preferir o adapaleno); utilizar em toda a área afetada ou em alternativa o PBO. Estes produtos devem ser usados todas as noites, mas recomenda-se iniciar em dias alternados durante as primeiras duas sema-

nas, e em pequenas porções, para permitir a adaptação da pele à medicação.

Acne infl amatória superfi cial (pápulas e pús-tulas): substituir o PBO por AB tópico, clinda-micina a 1% ou eritromicina a 2% em gel ou solução, aplicando 2 vezes ao dia, mantendo o retinoide tópico.

Acne infl amatória profunda (nódulos ou quis-tos): substituir o AB tópico e prescrever uma tetraciclina oral (tetraciclina 250-500 mg 1-2 vezes/dia, doxiciclina 50-100 mg 1-2 vezes/dia ou minociclina 50-100 mg 1-2 vezes/dia) ou eri-tromicina 250-500 mg 2 vezes dia, se o doente não tolera as tetraciclinas17. Deve-se manter o retinoide tópico durante a terapêutica AB.

Considerar o uso de contraceptivo oral, na doente do sexo feminino após a menarca, se não houver contraindicações ou objeções morais ou religiosas. O melhor contraceptivo a ser utilizado é aquele com menor atividade androgênica e menor teor em etinilestradiol.

Se estes tratamentos não melhorarem a acne, então deve referenciar-se o doente para o dermatologista para considerar o tratamento com isotretinoína oral.

CONCLUSÃO

O profundo impacto psicossocial da acne no adolescente requer um tratamento médico efi caz para minorar o sofrimento do jovem e prevenir as sequelas da doença. As lesões acnei-cas tendem a recorrer ao longo dos anos, princi-palmente diante da interrupção terapêutica.

O PBO e os retinoides tópicos permitem tratar isoladamente ou de forma mais eficaz em associação as lesões de acne comedônica leve a moderada.

Os antibióticos devem ser interrompidos assim que houver melhoria clínica evidente ou se não existir resposta clínica.

O tratamento da acne moderada/grave deve ser reser vado para o dermatologista, uma vez que pode requerer a utilização de retinoides sistêmicos ou algum dos fármacos emergentes.

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A acne exige do médico não só o diagnós-tico e a decisão terapêutica como a atenção es-

pecial na avaliação da personalidade do adoles-cente e na sua resposta ao tratamento.

ATUALIZAÇÃO DO TRATAMENTO MÉDICODA ACNE VULGAR NA ADOLESCÊNCIA

Nunes e Costa


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