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  • A FAZENDA PBLICA EM JUZO

    1.INTRODUO

    Tema dos mais relevantes em provas de concurso pblico relativo aos aspectos atinentes Fazenda Pblica em Juzo.

    No h dvida que o estudo das vicissitudes processuais e materiais da Fazenda Pblica indispensvel para todos aqueles que almejam alcanar uma das carreiras da Advocacia Pblica (AGU, Procuradorias Estaduais, Municipais, Autarquias e Fundaes), uma vez que dizem respeito diretamente as atividades desempenhadas por esses profissionais, o que torna natural a sua cobrana nas provas de concurso dessas carreiras.

    Mas no s para eles. Tambm para aqueles que almejam a Magistratura, Ministrio Pblico ou Defensoria Pblica a matria indispensvel j que a Fazenda Pblica o maior litigante (cliente) do Poder Judicirio.

    Nesse sentido, o presente curso abordar de forma bem objetiva os aspectos mais relevantes da matria.

    2. CONCEITO DE FAZENDA PBLICA

    No estudo do tema, o primeiro ponto a ser enfrentado pelo candidato diz respeito ao conceito de Fazenda Pblica.

    Para o direito processual a expresso Fazenda Pblica significa Estado em juzo, ou seja, quando o Poder Pblico atua processualmente como uma das partes.

    E o Estado em juzo so as pessoas jurdicas de direito pblico, ou seja:

    1) Unio 2) Estados 3) Distrito Federal 4) Municpios 5) Autarquias 6) Fundaes de direito pblico

  • Destarte, no so todas as pessoas jurdicas integrantes da Administrao Pblica que integram o conceito de Fazenda Pblica mas to somente as que possuam natureza de direito pblico.

    Assim, empresas pblicas e sociedades de economia mista, em que pese serem integrantes da Administrao Pblica Indireta, no integram o conceito de Fazenda Pblica j que possuem natureza de direito privado.

    Segundo Leonardo Carneiro da Cunha1, ainda quanto ao alcance do conceito de Fazenda Pblica:

    A esse rol de pessoas jurdicas acrescem as agncias, s quais se tem atribudo a natureza jurdica de autarquias especiais, significando dizer que tais agncias se constituem de pessoas jurdicas de direito pblico, destinadas a desempenhar atividade pblica. [...]. Tambm se revestem de natureza de pessoas jurdicas de direito pblico, integrando o conceito de Fazenda Pblica, as associaes pblicas (Cdigo Civil, art. 41, IV), constitudas na forma da Lei n 11.107 de 6 abril de 2005, em razo da formao de consrcio pblico.

    E saber quem integra o conceito de Fazenda Pblica indispensvel uma vez que uma srie de prerrogativas processuais so deferidas ao Poder Pblico.

    E quem representa a Fazenda Pblica em juzo?

    Segundo o atual Cdigo de Processo Civil:

    Art. 12. Sero representados em juzo, ativa e passivamente:

    I - a Unio, os Estados, o Distrito Federal e os Territrios, por seus procuradores;

    II - o Municpio, por seu Prefeito ou procurador;

    1 A Fazenda Pblica em Juzo. 12 Edio.

  • Com efeito, cabem aos Advogados Pblicos a representao judicial da fazenda pblica em juzo.

    O texto constitucional de 1988 ao disciplinar as funes essenciais da justia dispe, em seo destinada Advocacia Pblica, que:

    Art. 131. A Advocacia-Geral da Unio a instituio que, diretamente ou atravs de rgo vinculado, representa a Unio, judicial e extrajudicialmente, cabendo-lhe, nos termos da lei complementar que dispuser sobre sua organizao e funcionamento, as atividades de consultoria e assessoramento jurdico do Poder Executivo.

    1 - A Advocacia-Geral da Unio tem por chefe o Advogado-Geral da Unio, de livre nomeao pelo Presidente da Repblica dentre cidados maiores de trinta e cinco anos, de notvel saber jurdico e reputao ilibada.

    2 - O ingresso nas classes iniciais das carreiras da instituio de que trata este artigo far-se- mediante concurso pblico de provas e ttulos.

    3 - Na execuo da dvida ativa de natureza tributria, a representao da Unio cabe Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional, observado o disposto em lei.

    Art. 132. Os Procuradores dos Estados e do Distrito Federal, organizados em carreira, na qual o ingresso depender de concurso pblico de provas e ttulos, com a participao da Ordem dos Advogados do Brasil em todas as suas fases, exercero a representao judicial e a consultoria jurdica das respectivas unidades federadas.

    Pargrafo nico. Aos procuradores referidos neste artigo assegurada estabilidade aps trs anos de efetivo exerccio, mediante avaliao de desempenho perante os rgos prprios, aps relatrio circunstanciado das corregedorias.

  • Note que o texto constitucional omisso quanto a representao judicial dos municpios, sendo essa exercida, segundo os termos do Cdigo de Processo Civil, pelo Prefeito ou por Procurador.

    O Novo Cdigo de Processo Civil mantm essa disciplina para os municpios, passando a regular expressamente a situao das autarquias e fundaes de direito pblico:

    Art. 75. Sero representados em juzo, ativa e passivamente:

    I - a Unio, pela Advocacia-Geral da Unio, diretamente ou mediante rgo vinculado;

    II - o Estado e o Distrito Federal, por seus procuradores;

    III - o Municpio, por seu prefeito ou procurador;

    IV - a autarquia e a fundao de direito pblico, por quem a lei do ente federado designar;

    Inovao interessante do novo CPC quanto a representao judicial das pessoas jurdicas de direito pblico prevista no pargrafo 4 do art. 75:

    Art. 75 [...] 4o Os Estados e o Distrito Federal podero ajustar compromisso recproco para prtica de ato processual por seus procuradores em favor de outro ente federado, mediante convnio firmado pelas respectivas procuradorias.

    No que diz respeito a representao da Unio, compete a Advocacia Geral da Unio representar o ente federal em juzo, atravs de Advogados da Unio. J na hiptese do processo versar sobre matria tributria, a representao da Unio realizada por Procuradores da Fazenda Nacional2.

    2 Ateno para aqueles que vo fazer concurso da AGU. Segundo a Lei Complementar 73/93 a

    Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional subordinada tcnica e juridicamente ao Advogado-Geral da Unio (art. 2, 1) e administrativamente subordinado ao titular do Ministrio da Fazenda (art. 12).

  • E na hiptese de um Procurador da Fazenda Nacional atuar em processo judicial que no diga respeito a matria tributria? Ou seja, na hiptese da citao ser dirigida Procuradoria Geral da Fazenda Nacional, ao invs da Procuradoria Geral da Unio, isso tornar nulo o processo?

    Em precedente relevantssimo para os prximos concursos da Advocacia Geral da Unio, o STJ decidiu:

    Informativo 554

    DIREITO PROCESSUAL CIVIL. ATUAO DA PROCURADORIA-GERAL DA FAZENDA NACIONAL (PGFN) EM CAUSA DE COMPETNCIA DA PROCURADORIA-GERAL DA UNIO (PGU). O fato de a PGFN ter atuado em defesa da Unio em causa no fiscal de atribuio da PGU no justifica, por si s, a invalidao de todos os atos de processo no qual no se evidenciou e sequer se alegou qualquer prejuzo ao ente federado, que exercitou plenamente o seu direito ao contraditrio e ampla defesa, mediante oportuna apresentao de diversas teses jurdicas eloquentes e bem articuladas, desde a primeira instncia e em todos os momentos processuais apropriados. Ainda que se reconhea, na hiptese em anlise, o erro consistente na atuao da PGFN em causa de natureza no fiscal de competncia da PGU, deve prevalecer a considerao de que a parte representada pelos dois rgos a mesma, a Unio, e teve ela a oportunidade de realizar o seu direito de defesa, o que efetivamente fez de modo pleno, mediante arguies competentes e oportunas, deduzindo diversas teses defensivas, todas eloquentes e bem articuladas,

  • desde a primeira instncia e em todos os momentos processuais. Assim, no resta espao algum para enxergar ndoa no direito constitucional que assegura o contraditrio e a ampla defesa. A propsito, se no houve prejuzo e, a rigor, no houve sequer alegao de prejuzo , no vivel que sejam simples e sumariamente descartados todos os atos processuais, como se no vigorassem os princpios da economicidade, da instrumentalidade das formas, da razovel durao do processo, e como se no tivesse relevncia o brocardo segundo o qual ne pas de nullit sans grief. REsp 1.037.563-SC, Rel. Min. Napoleo Nunes Maia Filho, julgado em 25/11/2014, DJe 3/2/2015.

    Os representantes da Fazenda Pblica precisam juntar procurao aos autos?

    No. A representao judicial decorre de lei, sendo dispensvel a juntada de instrumento de mandato.

    Ateno: Diversos municpio no possuem Procuradoria organizada, sendo a representao judicial nesses casos decorrente de contratao de escritrio particular. Nesse caso, como os procuradores no so servidores pblicos concursados, fazendo necessria a juntada do instrumento de mandato.

    Nesse sentido Leonardo da Cunha:

    Em alguns Municpios de pequeno porte, no h o cargo de procurador judicial, devendo, nessa hiptese, a representao ser confiada ao prefeito, que poder constituir advogado, outorgando-lhe poderes mediante procurao a ser exigida em juzo.

    Embora o Prefeito seja representante judicial do municpio, podendo receber citao e intimao, mesmo ele sendo Advogado ele no pode atuar na defesa do ente, uma vez que o exerccio de mandato de Chefe do Executivo incompatvel com a Advocacia (art. 28, I, da Lei. 8.906/94).

  • 2. Razes para as Prerrogativas Processuais deferidas ao Poder Pblico em Juzo

    As normas processuais prescrevem uma srie de prerrogativas processuais a favor da atuao dos entes pblicos em juzo.

    A finalidade dos benefcios processuais estabelecidos em lei no uma arbitrariedade fixada pelo legislador, violando o princpio da igualdade das partes no processo. Na verdade as prerrogativas visam preservar o interesse pblico.

    Jos Roberto de Moraes expe que:

    [...] quando a Fazenda Pblica est em juzo, ela est defendendo o errio. Na realidade, aquele conjunto de receitas pblicas que pode fazer face s despesas no de responsabilidade, na sua formao, do governante do momento. toda a sociedade que contribui para isso. (...) Ora, no momento em que a Fazenda Pblica condenada, sofre um revs, contesta uma ao ou recorre de uma deciso, o que se estar protegendo, em ltima anlise, o errio. exatamente essa massa de recurso que foi arrecada e que evidentemente supera, ai sim, o interesse particular. Na realidade a autoridade pblica mera administradora.

    Nesse sentido, face o interesse tutelado pela atuao do Poder Pblico em juzo, o legislador entendeu por bem conferir algumas prerrogativas processuais que permitem uma melhor atuao processual do Estado.

    No bastasse a defesa do interesse pblico, a prpria burocracia a que se sujeitam os atos administrativos, impossibilita que o ente estatal consiga atuar na mesma velocidade que o particular.

    Quando um advogado pblico recebe um processo para contestar, boa parte das vezes, ele precisa obter informaes junto a rgos estatais (envia ofcio por exemplo), que pela burocracia inerente ao servio pblico demanda tempo para ser obtida.

    Outro aspecto relevante muito bem apontado por Leonardo da Cunha o de que [...] enquanto um advogado particular pode selecionar suas causas, recusando

  • aquelas que no lhe convm, o advogado pblico no pode declinar de sua funo, deixando de proceder defesa da Fazenda Pblica.

    Todas essas razes legitimam os benefcios processuais estabelecidos em lei a favor dos entes estatais.

    3. Prazos Processuais

    Uma das prerrogativas processuais mais relevantes, sem dvida alguma, a prevista no art. 188 do CPC:

    Art. 188. Computar-se- em qudruplo o prazo para contestar e em dobro para recorrer quando a parte for a Fazenda Pblica ou o Ministrio Pblico.

    Pelo dispositivo, as pessoas jurdicas de direito pblico possuem3:

    1) Prazo em qudruplo para contestar; 2) Prazo em dobro para recorrer.

    A regra aplica-se aos procedimentos ordinrio e especial, no se aplicando o prazo em qudruplo para contestar no procedimento sumrio. A regra tambm aplica-se ao processo cautelar e ao processo de execuo.

    3 O novo CPC traz alterao substancial quanto ao tema ao fixar que:

    Art. 183. A Unio, os Estados, o Distrito Federal, os Municpios e suas respectivas autarquias e fundaes de direito pblico gozaro de PRAZO EM DOBRO PARA TODAS AS SUAS MANIFESTAES PROCESSUAIS, cuja contagem ter incio a partir da intimao pessoal.

    1 A intimao pessoal far-se- por carga, remessa ou meio eletrnico.

    2 No se aplica o benefcio da contagem em dobro quando a lei estabelecer, de forma expressa, prazo prprio para o ente pblico.

  • E por que no se aplica o prazo em qudruplo para contestar no procedimento sumrio4?

    Porque alm de ser incompatvel com o rito, afinal no sumrio a parte citada para comparecer em audincia, e no obtida conciliao que se apresenta a defesa, existe regra especfica quanto ao tema:

    Art. 277. O juiz designar a audincia de conciliao a ser realizada no prazo de trinta dias, citando-se o ru com a antecedncia mnima de dez dias e sob advertncia prevista no 2 deste artigo, determinando o comparecimento das partes. Sendo r a Fazenda Pblica, os prazos contar-se-o em dobro.

    [...].

    Art. 278. No obtida a conciliao, oferecer o ru, na prpria audincia, resposta escrita ou oral, acompanhada de documentos e rol de testemunhas e, se requerer percia, formular seus quesitos desde logo, podendo indicar assistente tcnico.

    No se pode perder de vista que por ser o art. 188 do CPC uma prerrogativa processual, a regra deve ser interpretada restritivamente, sendo somente aplicvel s hipteses de contestao e de recurso.

    Por essa razo a regra do art. 188 no aplicvel aos casos de:

    1) Peties enviadas por meio eletrnico ou fac-smile que devem ter os originais apresentados em at 5 dias (Lei 9.800/99); 2) Indicao de testemunhas; 3) Indicao de assistentes tcnicos e percia.

    4 Novidade do Novo CPC a extino do procedimento sumrio. Com o Novo CPC o

    procedimento comum deixa de ser dividido entre ordinrio e sumrio. Ele passa a ser unicamente comum.

  • Segundo Carneiro da Cunha:

    Somente no se aplica o art. 188 quando h regra especfica fixando prazo prprio, a exemplo do prazo de 20 (vinte) dias para contestar a ao popular (Lei 4.717/1965, art. 7, IV). Tambm no se aplica o disposto no art. 188 no procedimento dos Juizados Especiais Cveis Federais; ali os prazos previstos para a Fazenda Pblica so todos singelos, no havendo contagem em qudruplo, nem em dobro.

    A regra aplicvel em contrarrazes de recurso?

    No. O art. 188 deve ser interpretado restritivamente, no sendo possvel enquadrar as contrarrazes recursais nas hipteses previstas pelo dispositivo5.

    Na hiptese de duas pessoas de direito pblico atuarem no mesmo polo da ao, possvel cumular a regra do art. 188 com a do 191 do CPC?

    Art. 191. Quando os litisconsortes tiverem diferentes procuradores, ser-lhes-o contados em dobro os prazos para contestar, para recorrer e, de modo geral, para falar nos autos6.

    O entendimento de que no. Se fosse possvel a cumulao os prazos restariam extremamente alargados, comprometendo o trmite processual.

    5 Com o Novo CPC, e a redao do art. 183 que concede prazo em dobro para todas as

    manifestaes da Fazenda Pblica, os prazos para contrarrazes passaro a ser contados em dobro para o poder pblico.

    6 Art. 229. Os litisconsortes que tiverem diferentes procuradores, de escritrios de advocacia

    distintos, tero prazos contados em dobro para todas as suas manifestaes, em qualquer juzo ou tribunal, independentemente de requerimento.

    1 Cessa a contagem do prazo em dobro se, havendo apenas 2 (dois) rus, oferecida defesa por apenas um deles.

    2 No se aplica o disposto no caput aos processos em autos eletrnicos.

  • Agora isso no significa que a Fazenda no se beneficie do art. 191 do CPC. Ela poder utilizar sim o benefcio do art. 191 para todos os outros atos processuais, quando atuar em litisconsrcio, desde que no relativos a contestar e recorrer.

    A comunicao disciplinada pelo art. 526 do CPC fica sujeita ao prazo em dobro?

    O art. 526 do CPC, ao tratar do agravo de instrumento, dispe que o agravante, no prazo de 3 (trs) dias, requerer juntada, aos autos do processo de cpia da petio do agravo de instrumento e do comprovante de sua interposio, assim como a relao dos documentos que instruram o recurso.

    O referido prazo plenamente aplicvel ao Poder Pblico, no estando sujeito a incidncia da regra do art. 188, uma vez a comunicao prevista no art. 526 no tem natureza recursal7.

    A Fazenda Pblica tem a prerrogativa do art. 188 nas Aes Diretas de Inconstitucionalidade ou na Ao Declaratria de Constitucionalidade?

    Quanto ao ponto importante lembrar que os entes polticos no possuem legitimidade processual para atuar em controle concentrado de constitucionalidade.

    7 Art. 1.018. O agravante PODER requerer a juntada, aos autos do processo, de cpia da

    petio do agravo de instrumento, do comprovante de sua interposio e da relao dos documentos que instruram o recurso.

    1 Se o juiz comunicar que reformou inteiramente a deciso, o relator considerar prejudicado o agravo de instrumento.

    2 No sendo eletrnicos os autos, o agravante tomar a providncia prevista no caput, no prazo de 3 (trs) dias a contar da interposio do agravo de instrumento.

    3 O descumprimento da exigncia de que trata o 2o, desde que arguido e provado pelo agravado, importa inadmissibilidade do agravo de instrumento.

  • A Constituio Federal estabelece que:

    Art. 103. Podem propor a ao direta de inconstitucionalidade e a ao declaratria de constitucionalidade:

    I - o Presidente da Repblica;

    II - a Mesa do Senado Federal;

    III - a Mesa da Cmara dos Deputados;

    IV - a Mesa de Assemblia Legislativa ou da Cmara Legislativa do Distrito Federal;

    V - o Governador de Estado ou do Distrito Federal;

    VI - o Procurador-Geral da Repblica;

    VII - o Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil;

    VIII - partido poltico com representao no Congresso Nacional;

    IX - confederao sindical ou entidade de classe de mbito nacional.

    O STF entende que os entes polticos no possuem legitimidade para recorrer em controle concentrado de constitucionalidade, sendo inaplicvel o art. 188 no processo objetivo.

    E nos Embargos Execuo8?

    O dispositivo no aplicvel uma vez que o Embargos Execuo possui natureza jurdica de ao, sendo o prazo para o seu ajuizamento de 30 dias.

    8 O Novo CPC passou a prever que a execuo contra a Fazenda Pblica ser realizada atravs

    de cumprimento de sentena e a defesa do ente pblico ser exercida em 30 dias atravs de impugnao (art. 534). Os embargos execuo movido pela Fazenda Pblica sero destinados a hiptese em que for movido contra o ente pblico execuo de ttulo extrajudicial.

  • O pedido de suspenso ajuizado perante um Tribunal. Da deciso do Presidente que indeferir o pedido cabe agravo pela pessoa de direito pblico. Esse agravo interno se sujeita ao prazo em dobro?

    O STF e STJ entendem pela inaplicabilidade do dispositivo no referido instrumento. O pedido de suspenso apreciado pela Presidncia de algum tribunal, a depender da questo. O presidente da Corte pode deferir, ou no, a medida. Dessa deciso cabvel agravo interno, que segundo a posio atual dos tribunais superiores, no fica sujeito ao art. 188, sendo o prazo do recurso de cinco dias.

    O art. 188 aplicvel a Estado estrangeiro?

    O STJ entende pela inaplicabilidade do art. 188 aos Estados estrangeiros.

    O prazo do art. 188 aplicvel para as demais respostas do ru, ou somente para a contestao?

    Art. 297. O ru poder oferecer, no prazo de 15 (quinze) dias, em petio escrita, dirigida ao juiz da causa, contestao, exceo e reconveno.

    Em que pese o art. 188 ser uma norma excepcional, a exigir do intrprete uma leitura restritiva, no se pode ignorar que o CPC unificou o prazo para as possveis respostas do ru.

    Nesse sentido, Carneiro da Cunha muito bem esclarece que:

    Na verdade, o que se percebe to somente uma impropriedade terminolgica no texto normativo. Quando o art. 188 do CPC faz meno a contestar, esta referindo-se a responder, de forma que a Fazenda Pblica dispe de prazo em qudruplo para contestar, para reconvir, para apresentar excees de incompetncia de impedimento e de suspeio, e ainda, para ajuizar ao declaratria incidental.

  • Ao regular a ao rescisria, o CPC estabelece no art. 491 que o relator mandar citar o ru, assinando-lhe prazo nunca inferior a 15 (quinze) dias nem superior a 30 (trinta) para responder aos termos da ao9. Esse prazo fica sujeito a incidncia do art. 188?

    Um aspecto relevante quanto ao art. 188 o que diz respeito a diferena entre prazos judicias e prazos legais.

    Art. 177. Os atos processuais realizar-se-o nos prazos prescritos em lei. Quando esta for omissa, o juiz determinar os prazos, tendo em conta a complexidade da causa.

    A primeira parte do art. 177 disciplina o chamado prazo legal, que aquele fixado pela lei. J a segunda parte do dispositivo disciplina os prazos judicias, que so aqueles fixados pelo juiz da causa.

    Segundo o entendimento prevalecente, o art. 188 inaplicvel aos prazos judiciais.

    Esse entendimento levaria a concluso de que o prazo do art. 491 no ficaria sujeito a incidncia do art. 188. Ocorre que esse no entendimento nem do STF e nem do STJ, que reconhecem a plena aplicabilidade do dispositivo.

    Qual o prazo para a Fazenda Pblica responder em processo cautelar10?

    Uma vez que aplica-se o art. 188 esse prazo ser de 20 dias (art. 802 do CPC).

    9 Novo CPC Art. 970. O relator ordenar a citao do ru, designando-lhe prazo nunca inferior

    a 15 (quinze) dias nem superior a 30 (trinta) dias para, querendo, apresentar resposta, ao fim do qual, com ou sem contestao, observar-se-, no que couber, o procedimento comum. 10

    O processo cautelar deixa de existir no novo CPC.

  • O art. 188 aplicvel para a impetrao do recurso adesivo?

    Conforme entendimento esposado pela doutrina, o recurso adesivo no possui natureza jurdica de recurso, uma vez que no foi elencado como tal pelo Cdigo de Ritos Ptrios (princpio da taxatividade).

    O recurso adesivo consiste em uma forma de interposio de recurso.

    Nas hipteses de sucumbncia recproca uma das partes pode se conformar com a deciso, deixando de apresentar recurso. Ocorre que durante o prazo recursal a parte adversa apresentou impugnao. Para essas hipteses o CPC admite que no prazo para resposta a parte que inicialmente se conformou possa interpor recurso contra a deciso.

    O recurso adesivo admissvel na apelao, embargos infringentes, recurso especial, recurso extraordinrio11.

    A questo : se o recurso adesivo deve ser apresentado no prazo de resposta, e se a resposta da fazenda, como j visto, no se sujeita ao prazo em dobro, a Fazenda Pblica dever apresentar simultaneamente as contrarrazes e o recurso adesivo, ou ter a seu favor o benefcio do prazo em dobro?

    Segundo o STF e o STJ o recurso adesivo se submete ao prazo em dobro12.

    Como j visto, aplica-se o prazo em dobro para contestar em ao rescisria. Mas e para o ajuizamento? Ser que a Fazenda tem prazo em qudruplo?

    No. Considerando que a ao rescisria possui natureza de ao inaplicvel o art. 188 para fixao do seu prazo para ajuizamento.

    11 Com o novo CPC ser admissvel na apelao, no recurso extraordinrio e no recurso especial

    (art. 997, 2, II). 12

    Com o novo CPC no pesistir qualquer dvida quanto ao tema. importante lembrar que a nova legislao processual aplica o prazo em dobro para todas as manifestaes do ente estatal.

  • importante o candidato saber que medida provisria duplicou o prazo para o ajuizamento de ao rescisria pela Fazenda Pblica, sendo que o STF julgou inconstitucional a medida (ADI 1910) por entender que violava o princpio da isonomia. Seria uma diferenciao entre as partes que no seria razovel.

    Outrossim, a legislao ptria possui norma que prev hiptese para ajuizamento de ao rescisria em 08 (oito) anos. Est prevista no art. 8-C da Lei 6.379/79:

    Art. 8oC de oito anos, contados do trnsito em julgado da deciso, o prazo para ajuizamento de ao rescisria relativa a processos que digam respeito a transferncia de terras pblicas rurais.

    Carneiro da Cunha defende que a norma constitucional e que esse entendimento no iria de encontro ao decidido pelo STF no caso acima relatado, explicando que:

    Impe-se acentuar, contudo, que tais precedentes consideraram inconstitucional o aumento do prazo para o ajuizamento de qualquer ao rescisria, por ser evidente o abuso normativo. No caso do art. 8-C da Lei n 6.739/1979, h uma peculiaridade: a regra destina-se a casos especficos de transferncia de terras pblicas rurais, permitindo a reviso de decises que consolidaram grilagens ou transferncias ilegais de bens pblicos. A regra no est a majorar, indistintamente, o prazo para o ajuizamento da ao rescisria, mas somente para esses casos especficos de transferncia de terras rurais. Aplica-se, no particular, o princpio da adequao [...].

    Por fim, uma ltima observao quanto ao art. 188 do CPC.

    Ele aplicvel ao mandado de segurana, ou seja, a pessoa jurdica de direito pblico detm prazo em dobro para recorrer de qualquer deciso. Ocorre que o STJ entende que no se aplica o art. 188 na hiptese de mandado de segurana na esfera criminal.

  • Ano: 2015 - Banca: PUC-PR - rgo: PGE-PR - Prova: Procurador do Estado

    Sobre os prazos processuais da Fazenda Pblica no Cdigo de Processo Civil, assinale a alternativa CORRETA.

    a) O prazo para apresentar contrarrazes a recurso conta-se em dobro.

    b) O prazo para opor embargos execuo conta-se em qudruplo.

    c) O prazo para propor ao rescisria conta-se em dobro.

    d) O prazo para contestar no procedimento ordinrio conta-se em dobro.

    e) O prazo para interpor recurso adesivo conta-se em dobro.

    O gabarito oficial apontou como correto o item E.

    Ano: 2015 Banca: FUNDATEC rgo: PGE-RS Prova: Procurador do Estado

    As pessoas jurdicas de direito pblico gozam de prerrogativas em juzo, entre as quais se destaca a dos prazos diferenciados, nos termos do art. 188, do Cdigo de Processo Civil. Sobre os prazos diferenciados da Fazenda Pblica em juzo, assinale a alternativa correta.

    a) As pessoas jurdicas de direito pblico, tanto no procedimento ordinrio como no sumrio, dispem de prazo em qudruplo para contestar e prazo em dobro para recorrer.

    b) O prazo previsto no art. 526, do CPC, relativo apresentao de petio ao juiz da causa, informando-lhe da interposio do agravo de instrumento, contado em dobro quando o recorrente for uma pessoa jurdica de direito pblico.

    c) O prazo para apresentao pela Fazenda Pblica de contrarrazes a um recurso contado em dobro.

  • d) Segundo entendimento do STF e do STJ, a regra do art. 188, do CPC, aplica-se ao prazo de resposta para a ao rescisria.

    e) De acordo com o entendimento do STF e do STJ, no incidente de suspenso de segurana ou de liminar, reconhece-se a prerrogativa da contagem de prazo em dobro para interpor agravo interno da deciso do presidente do tribunal que indefere o pedido do Poder Pblico.

    O gabarito oficial apontou como correto o item D.

    Ano: 2014 - Banca: CESPE - rgo: PGE-PI - Prova: Procurador do Estado Substituto

    De acordo com a jurisprudncia do STJ, assinale a opo correta acerca de prazos e de prerrogativas da fazenda pblica.

    a) Assim como ocorre com a fazenda pblica, as empresas pblicas dispem de prazo em qudruplo para contestar e em dobro para recorrer.

    b) O prazo para a apresentao de originais de recurso protocolado via fax inicia-se no dia seguinte ao termo final do prazo legal, ainda que o fax tenha sido transmitido antes, durante seu curso.

    c) Para a fazenda pblica, conta-se em dobro o prazo legal deferido para a juntada dos originais do recurso interposto via fax.

    d) Na condio de parte, a fazenda pblica goza de prerrogativas quanto a prazos processuais, o que no ocorre quando atua na condio de terceiro interessado.

    e) A fixao de prazo pelo juiz para que a parte pratique determinado ato mero despacho ordinatrio, insuscetvel, portanto, de recurso.

    O gabarito apontou como correto o item B.

  • 4. Intimao Pessoal da Fazenda Pblica

    A Fazenda Pblica tem direito a intimao pessoal ou sua intimao deve ser feita via Dirio da Justia?

    Muito cuidado com essa questo.

    Membros do Ministrio Pblico e da Defensoria Pblica possuem a prerrogativa de intimao pessoal. Ser que essa mesma prerrogativa foi deferida aos entes pblicos?

    A Lei de Execuo Fiscal confere a prerrogativa da intimao pessoal, com vista dos autos, para as execues fiscais:

    Art. 25 - Na execuo fiscal, qualquer intimao ao representante judicial da Fazenda Pblica ser feita pessoalmente.

    Pargrafo nico - A intimao de que trata este artigo poder ser feita mediante vista dos autos, com imediata remessa ao representante judicial da Fazenda Pblica, pelo cartrio ou secretaria.

    Trata-se de previso aplicvel exclusivamente as execues fiscais.

    E nos outros processos? Ou seja, nos processos que no versem sobre execuo fiscal?

    A legislao federal somente defere prerrogativa de intimao pessoal nos processos da Fazenda Pblica para os entes federais, ou seja, somente Advogados da Unio, Procuradores Federais, Procuradores do Banco Central e da Fazenda Nacional que possuem o direito de serem intimados pessoalmente

    Essa prerrogativa no prevista pelo Cdigo de Processo Civil mas sim por leis esparsas.

    A Lei 9.028/95 prevs a prerrogativa para membros da Advocacia-Geral da Unio:

  • Art. 6 A intimao de membro da Advocacia-Geral da Unio, em qualquer caso, ser feita pessoalmente.

    [...].

    2o As intimaes a serem concretizadas fora da sede do juzo sero feitas, necessariamente, na forma prevista no art. 237, inciso II, do Cdigo de Processo Civil.

    A Lei 10.910/2004 prev a prerrogativa para Procuradores Federais e do Banco Central:

    Art. 17. Nos processos em que atuem em razo das atribuies de seus cargos, os ocupantes dos cargos das carreiras de Procurador Federal e de Procurador do Banco Central do Brasil sero intimados e notificados pessoalmente.

    E a Lei 11.033/2004 para Procuradores da Fazenda Nacional:

    Art. 20. As intimaes e notificaes de que tratam os arts. 36 a 38 da Lei Complementar n o 73, de 10 de fevereiro de 1993, inclusive aquelas pertinentes a processos administrativos, quando dirigidas a Procuradores da Fazenda Nacional, dar-se-o pessoalmente mediante a entrega dos autos com vista.

    Ser que a previso de tal benefcio nos mencionados diplomas legislativos, por uma interpretao teleolgica, pode ser estendida para entes estaduais e municipais?

    A jurisprudncia do STJ firme no sentido da impossibilidade:

    PROCESSUAL CIVIL E ADMINISTRATIVO. AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. SERVIDOR PBLICO. PROCURADOR DO DISTRITO FEDERAL. INTIMAO VIA IMPRENSA, E NO PESSOALMENTE. 1. A prerrogativa de intimao pessoal dos representantes judiciais exclusiva do Ministrio Pblico, da Defensoria Pblica, dos Advogados da Unio, dos Procuradores Federais, da Fazenda Nacional e do Banco Central, no alcanando as Procuradorias

  • dos Estados, do Distrito Federal e dos Municpios, sendo vlida a intimao efetuada via imprensa, salvo quando se tratar de execuo fiscal, o que no o caso dos autos. Precedentes: AgRg no Ag 970.341/BA, Rel. Ministra Jane Silva (Desembargadora convocada do TJ/MG), Sexta Turma, DJe 20/10/2008; EDcl no REsp 984.880/TO, Rel. Ministro Herman Benjamin, Rel. p/ Acrdo Ministro Mauro Campbell Marques, Segunda Turma, DJe 26/4/2011; AgRg no Ag 1.318.904/BA, Rel. Ministro Arnaldo Esteves Lima, Primeira Turma, DJe 26/5/2011. 2. Agravo regimental no provido. (AgRg no AREsp 353638 / DF - DJe 26/09/2013).

    Destarte diante da omisso do CPC quanto a prerrogativa de intimao pessoal, Procuradores de Estado e do Municpio so intimados via publicao no Dirio Oficial.

    Pois bem, essa a regra. Ocorre que alguns Estados da Federao editaram leis conferindo a prerrogativa de intimao pessoal aos Procuradores de Estado. Alagoas um exemplo.

    A Lei Complementar 07/91, Lei Orgnica da Advocacia Geral do Estado de Alagoas, prev:

    Art. 81. So prerrogativas do Procurador de Estado:

    [...]

    VI receber intimao pessoal em qualquer processo e grau de jurisdio, mediante a entrega dos autos com vistas;

    Ou seja, embora no exista norma federal prevendo a intimao pessoal, existe norma estadual instituindo essa prerrogativa (e outros Estados possuem idntica previso).

    E essa prerrogativa instituda pela legislao estadual constitucional?

    A Constituio Federal estabelece que:

  • Art. 22. Compete privativamente Unio legislar sobre:

    I - direito civil, comercial, penal, processual, eleitoral, agrrio, martimo, aeronutico, espacial e do trabalho;

    A leitura do dispositivo poderia levar a concluso de que normas estaduais que instituem essa prerrogativa seriam inconstitucionais por vcio formal.

    Outrossim, o texto constitucional mais adiante afirma:

    Art. 24. Compete Unio, aos Estados e ao Distrito Federal legislar concorrentemente sobre:

    [...].

    XI - procedimentos em matria processual;

    Nesse sentido, Carneiro da Cunha esclarece que:

    possvel, entretanto, que a legislao estadual preveja a prerrogativa de intimao pessoal aos procuradores de Estado. Isso porque, conforme j decidiu o Superior Tribunal de Justia, A Constituio Federal de 1988 concedeu competncia concorrente aos Estados-membros para legislarem sobre normas de procedimento em matria processual (art. 24, XI). Assim, na ausncia de lei federal e existindo lei local dispondo sobre a prerrogativa de intimao pessoal aos procuradores estaduais h que se observ-la. [...]. A intimao pessoal pode ser garantida por lei estadual ou pela prpria Constituio Estadual.

    Vale destacar que o TJAL, em incidente de inconstitucionalidade, reconheceu a constitucionalidade da norma estadual que prev a intimao pessoal.

    Por fim, vale destacar que essa discusso relativa ao direito de intimao pessoal sofrer importante alterao com o novo CPC, vejamos:

  • Art. 183. A Unio, os Estados, o Distrito Federal, os Municpios e suas respectivas autarquias e fundaes de direito pblico gozaro de prazo em dobro para todas as suas manifestaes processuais, cuja contagem ter incio a partir da intimao pessoal.

    1o A intimao pessoal far-se- por carga, remessa ou meio eletrnico.

    2o No se aplica o benefcio da contagem em dobro quando a lei estabelecer, de forma expressa, prazo prprio para o ente pblico.

    Quer dizer, com o novo CPC todos os entes federativos tero direito a intimao pessoal. E mais. A intimao ser realizada com vista dos autos, que ser feita por carga, remessa ou meio eletrnico.

    5. Prescrio nas demandas envolvendo a Fazenda Pblica

    Conforme lio veiculada pela doutrina majoritria a prescrio implica na extino da pretenso do direito face o decurso de prazo pelo seu no exerccio.

    O Cdigo Civil fixa uma srie de prazos prescricionais.

    Outrossim, o direito ptrio dispe de diploma especfico regulando a prescrio nas causas envolvendo a Fazenda Pblica, no caso o Decreto n 29.910/32 e o Decreto-Lei n 4.597/42.

    O Decreto 29.910/32 dispe que:

    Art. 1 As dvidas passivas da Unio, dos Estados e dos Municpios, bem assim todo e qualquer direito ou ao contra a Fazenda federal, estadual ou municipal, seja qual for a sua natureza, prescrevem em cinco anos contados da data do ato ou fato do qual se originarem.

  • Com efeito, milita a favor da Fazenda Pblica o prazo quinquenal para a prescrio das pretenses formuladas contra si. E o referido prazo plenamente aplicvel a autarquias e fundaes (art. 2, do Decreto-Lei 4.597/4213).

    Leonardo da Cunha expe que:

    Das distines que se fazem entre prescrio e a decadncia [...] extrai-se que as aes declaratrias so, em regra, imprescritveis, podendo ser propostas a qualquer momento. Nada impede, entretanto, que o legislador atribua-lhes prazo prescricional ou decadencial. O legislador tem o poder de escolha da eficcia do prazo, podendo impor prescrio, decadncia ou at mesmo atribuir perpetuidade. relevante perceber que o Decreto-lei n 20.910/1932 estabelece que toda e qualquer ao ou pretenso contra a Fazenda Pblica, seja qual for a natureza, prescrevem em 5 (cinco) anos. No h imprescritibilidade, nem perpetuidade, de sorte que at mesmo as demandas declaratrias so prescritveis, ressalvadas as demandas de indenizao por tortura [...].

    De tudo isso se constata uma coisa: o prazo previsto no mencionado diploma legal engloba tanto a prescrio como a decadncia14.

    importante destacar que o Decreto. 20.910/32 admite a suspenso do referido prazo durante a demora que, no estudo, ao reconhecimento ou no pagamento da dvida, considerada lquida, tiverem as reparties ou funcionrios encarregados de estudar e apur-la.

    A suspenso da prescrio, neste caso, verificar-se- pela entrada do requerimento do titular do direito ou do credor nos livros ou protocolos das reparties pblicas, com designao do dia, ms e ano (art. 4).

    13 Art. 2 do Decreto-Lei 4.597/42:

    O Decreto n 20.910, de 6 de janeiro de 1932, que regula a prescrio qinqenal, abrange as dvidas passivas das autarquias, ou entidades e rgos paraestatais, criados por lei e mantidos mediante impostos, taxas ou quaisquer contribuies, exigidas em virtude de lei federal, estadual ou municipal, bem como a todo e qualquer direito e ao contra os mesmos.

    14 Guilherme de Freitas Barros. Poder Pblico em Juzo. Ed. JusPodivm.

  • 5.1 Reconhecimento da Prescrio pelo Juiz

    Como a prescrio extingue a pretenso da parte adversa, comum a sua alegao como tese defesa.

    Outrossim, mesmo na hiptese da parte no alegar a prescrio, o juiz pode conhece-la de ofcio, seja o ru um particular, seja o demandado a Fazenda Pblica (art. 219, 5, do CPC):

    Art. 21915. A citao vlida torna prevento o juzo, induz litispendncia e faz litigiosa a coisa; e, ainda quando ordenada por juiz incompetente, constitui em mora o devedor e interrompe a prescrio.

    [...].

    5 O juiz pronunciar, de ofcio, a prescrio16.

    No se pode perder de vista que apesar do juiz poder reconhecer de ofcio a prescrio, em respeito ao princpio do contraditrio, faz-se imperioso que ele oua a parte contrria previamente.

    15 Novo CPC:

    Art. 59. O registro ou a distribuio da petio inicial torna prevento o juzo.

    Destarte, com o novo CPC, no mais com a citao vlida que ocorre a preveno. com o registro ou distribuio da petio inicial. [...].

    Art. 240. A citao vlida, ainda quando ordenada por juzo incompetente, induz litispendncia, torna litigiosa a coisa e constitui em mora o devedor, ressalvado o disposto nos arts. 397 e 398 da Lei no 10.406, de 10 de janeiro de 2002 (Cdigo Civil).

    1o A interrupo da prescrio, operada pelo despacho que ordena a citao, ainda que proferido por juzo incompetente, retroagir data de propositura da ao.

    16 Novo CPC: Art. 487. Haver resoluo de mrito quando o juiz:

    II - decidir, de ofcio ou a requerimento, sobre a ocorrncia de decadncia ou prescrio;

  • Em que pese esse j ser entendimento que decorre da ordem jurdica vigente, em respeito ao contraditrio e a ampla defesa, o novo Cdigo de Processo Civil retira qualquer dvida quanto ao assunto ao elencar no captulo denominado Das Normas Fundamentais do Processo Civil:

    Art. 9o No se proferir deciso contra uma das partes sem que ela seja previamente ouvida.

    Pargrafo nico. O disposto no caput no se aplica:

    I - tutela provisria de urgncia;

    II - s hipteses de tutela da evidncia previstas no art. 311, incisos II e III;

    III - deciso prevista no art. 701.

    E tambm no captulo destinado a sentena e coisa julgada quando prev que:

    Art. 487. Haver resoluo de mrito quando o juiz:

    [...].

    II - decidir, de ofcio ou a requerimento, sobre a ocorrncia de decadncia ou prescrio;

    Pargrafo nico. Ressalvada a hiptese do 1o do art. 332, a prescrio e a decadncia no sero reconhecidas sem que antes seja dada s partes oportunidade de manifestar-se.

    A lei de Execuo Fiscal regula expressamente a questo:

    Art. 40 - O Juiz suspender o curso da execuo, enquanto no for localizado o devedor ou encontrados bens sobre os quais possa recair a penhora, e, nesses casos, no correr o prazo de prescrio.

  • 1 - Suspenso o curso da execuo, ser aberta vista dos autos ao representante judicial da Fazenda Pblica.

    2- Decorrido o prazo mximo de 1 (um) ano, sem que seja localizado o devedor ou encontrados bens penhorveis, o Juiz ordenar o arquivamento dos autos.

    3 Encontrados que sejam, a qualquer tempo, o devedor ou os bens, sero desarquivados os autos para prosseguimento da execuo.

    4 Se da deciso que ordenar o arquivamento tiver decorrido o prazo prescricional, o juiz, depois de ouvida a Fazenda Pblica, poder, de ofcio, reconhecer a prescrio intercorrente e decret-la de imediato.

    5 A manifestao prvia da Fazenda Pblica prevista no 4o deste artigo ser dispensada no caso de cobranas judiciais cujo valor seja inferior ao mnimo fixado por ato do Ministro de Estado da Fazenda.

    5.2 Prestaes de trato sucessivo

    Prestaes de trato sucessivo so aqueles que so renovadas periodicamente. Exemplo so os valores devidos a ttulo de remunerao do servidor. A cada ms renovado o dever do ente estatal em efetuar o pagamento. A mesma coisa so as prestaes devidas a ttulo de aluguel.

    O Decreto 20.910/32 dispe que:

    Art. 3 Quando o pagamento se dividir por dias, meses ou anos, a prescrio atingir progressivamente as prestaes medida que completarem os prazos estabelecidos pelo presente decreto.

    Interpretando o diploma legal o STJ editou a relevante Smula 85 de sua jurisprudncia:

    Nas relaes jurdicas de trato sucessivo em que a Fazenda Pblica figure como devedora, quando no tiver sido negado o prprio direito

  • reclamado, a prescrio atinge apenas as prestaes vencidas antes do quinqunio anterior propositura da ao.

    Destarte, nas aes que envolvam prestaes de trato sucessivo a prescrio no fulmina o direito em si (o que se chama de fundo de direito), mas to somente a prestao peridica que j tenha sido transcorrido o prazo de cinco anos.

    A jurisprudncia do Superior Tribunal de Justia pacfica no sentido de que, inexistindo manifestao expressa da Administrao Pblica negando o direito reclamado, no ocorre a prescrio do chamado fundo de direito, mas to-somente das parcelas anteriores ao qinqnio que precedeu propositura da ao, ficando caracterizada relao de trato sucessivo (Smula 85 do STJ)17.

    Por exemplo, existiu um aumento remuneratrio de determinada categoria no ano 2000. Por alguma razo esse aumento no foi aplicado na remunerao de um servidor. Esse servidor desatento s percebeu o problema em 2006, ou seja, quando j transcorridos mais de cinco anos.

    A questo : ele tem direito ao aumento ou devido a prescrio o seu direito est extinto?

    Nesse caso ele tem sim direito ao aumento, s estando fulminada a pretenso quanto as parcelas com mais de cinco anos anteriores ao pedido do pagamento. Ou seja, a prescrio no atingiu o fundo do direito mas to somente as prestaes vencidas com mais de cinco anos.

    Diferente seria a hiptese de no ano 2000 ele ter percebido o erro da administrao e ter formulado pretenso administrativa que foi negada. Ou seja, a administrao negou a prpria existncia do direito no ano de 2000. Nesse caso, ajuizada a ao em 2006 o seu direito estar totalmente prescrito.

    17 AgRg no REsp 1517802 - DJe 15/04/2015.

  • Carneiro da Cunha expe que:

    Caso haja, todavia, expresso pronunciamento da Administrao, que venha a rejeitar formalmente o pleito do sujeito, evidente que, a partir da cincia do ato administrativo denegatrio, se inicia a contagem do prazo de 5 (cinco) anos.

    Para que se aplique a Smula 85 do STJ, preciso que se trate de relao jurdica de trato sucessivo, ou seja, todo ms renova-se a violao ou a leso pretenso da parte, surgindo mensalmente, um novo prazo, com o incio contnuo do lapso temporal da prescrio. Ora, se a Administrao nega, expressa e formalmente, o pedido da parte, a partir da se inicia o curso do prazo quinquenal, sem que incida o enunciado contido na Smula 85 do STJ.

    Ainda quanto a negativa do prprio fundo de direito, o STJ entende que na hiptese de ato normativo de efeitos concretos, que suprime vantagem pecuniria de servidor pblico, a ao respectiva deve ser ajuizada no prazo de cinco anos, a contar da vigncia do ato, sob pena de prescrever o prprio fundo de direito18. Ou seja, a prescrio comea a contar da vigncia da lei.

    J na hiptese da supresso no decorrer de lei de efeitos concretos, mas sim de ato administrativo, o prazo prescricional comea a correr da publicao do ato no dirio oficial ou de qualquer outro ato que confira cincia ao interessado.

    5.3 Interrupo da Prescrio

    A interrupo da prescrio contra a Fazenda Pblica s pode ocorrer uma nica vez (art. 8).

    Tradicionalmente as hipteses de prescrio fazem recomear o prazo prescricional, ou seja, na hiptese de um prazo prescricional de 10 anos ser interrompido quando j transcorridos 9 anos, essa interrupo tem aptido para fazer retornar o prazo integralmente.

    18 AgRg nos EDcl no RECURSO ESPECIAL N 916.960 - PB (2007/0013376-8) 28/02/2014.

  • Nesse sentido, causas interruptivas so positivas para o credor, j que com a incidncia de alguma delas o prazo restabelecido.

    Ocorre que para causas em que a Fazenda Pblica demandada existe regra especfica prevista no Decreto 20.910/32:

    Art. 9 A prescrio interrompida recomea a correr, pela metade do prazo, da data do ato que a interrompeu ou do ltimo ato ou termo do respectivo processo.

    A questo : essa interrupo, quando realizada na primeira metade, do prazo reduz o prazo do credor?

    Nas demandas contra a Fazenda Pblica o prazo prescricional de cinco anos. No h dvida que se a interrupo for causada no quarto ano, ou seja, quando faltando 1 ano para a prescrio, o prazo do credor ser de dois anos e meio (art. 9). Embora ele no receba integralmente de volta o seu prazo, no h dvida que nessa hiptese a causa interruptiva lhe foi favorvel.

    A questo acima formulada diz respeito a situao em que a causa interruptiva ocorreu na primeira metade, ou seja, ele interrompeu a prescrio no primeiro ano, por exemplo. Nesse caso, a causa interruptiva reduziria o prazo prescricional do credor?

    Aplicando o dispositivo o STF editou a Smula 383 que assim dispe:

    A PRESCRIO EM FAVOR DA FAZENDA PBLICA RECOMEA A CORRER, POR DOIS ANOS E MEIO, A PARTIR DO ATO INTERRUPTIVO, MAS NO FICA REDUZIDA AQUM DE CINCO ANOS, EMBORA O TITULAR DO DIREITO A INTERROMPA DURANTE A PRIMEIRA METADE DO PRAZO.

    Destarte, a resposta que se impe a pergunta negativa.

    Carneiro da Cunha interpretando a smula do STF assim expe:

    No total do perodo, somando-se o tempo de antes com o posterior ao momento interruptivo, no deve haver menos de 5

  • (cinco) anos. Essa, alis, a orientao ministrada na Smula 383 do STF [...]. Assim se o prazo transcorrido, antes do momento interruptivo da prescrio, tiver sido inferior a dois anos e meio, a interrupo faz recomear o resto do lapso temporal pela diferena que faltava para os 5 (cinco) anos. Tome-se como exemplo a hiptese em que a interrupo se operou quando somente se tinha passado 1 (um) ano. Nesse caso, interrompida a prescrio, recomea a correr pelo prazo de 4 (quatro) anos, computando-se, no total, 5 (cinco) anos. Caso entretanto, a interrupo tenha ocorrido quando j ultrapassados mais de dois anos e meio, ai recomea a correr pelo prazo de dois anos e meio. Imagine-se, por exemplo, que, no momento interruptivo, j se passaram trs ou quatro anos. Nessa hiptese, a interrupo faz com que se volte a correr a prescrio pelo prazo de dois anos e meio; haver, no total, cinco anos e meio, no primeiro exemplo, e seis anos e meio, no segundo exemplo. No cmputo total do prazo prescricional, no haver perodo inferior a 5 (cinco) anos, podendo ocorrer lapso de tempo superior, caso a interrupo tenha se operado quando j ultrapassados dois anos e meio. [...]. Enfim, quando o titular do direito o interrompa durante a primeira metade do prazo, a prescrio recomea a correr pelo prazo restante, de forma que se totalizem os 5 (cinco) anos. E nem poderia ser diferente, sob pena de se reduzir, injustamente, o prazo quinquenal, quando a interrupo se operasse antes dos primeiros dois anos e meio, prejudicando o alegado credor diligente, que exera, desde logo, sua pretenso.

    5.4 Prazos Prescricionais do Cdigo Civil

    Como j destacado, conforme disciplina do Decreto 20.910/32, o prazo prescricional das aes contra a Fazenda Pblica de cinco anos.

    Nesse mesmo Decreto consta o seguinte dispositivo legal:

    Art. 10. O disposto nos artigos anteriores no altera as prescries de menor prazo, constantes das leis e regulamentos, as quais ficam subordinadas s mesmas regras.

  • Ou seja, o prazo quinquenal foi uma prerrogativa instituda para beneficiar o Poder Pblico, j que estabeleceu um prazo prescricional inferior ao que era usualmente praticado pelo Cdigo Civil de 1916.

    Carneiro da Cunha muito bem expe que:

    O que se percebe, em verdade, um ntido objetivo de beneficiar a Fazenda Pblica. A legislao especial conferiu-lhe um prazo diferenciado de prescrio em seu favor. Enquanto a legislao geral (Cdigo Civil de 1916) estabelecia um prazo de prescrio de 20 (vinte) anos, a legislao especfica (Decreto 20.910/1932) previa um prazo de prescrio prprio de 5 (cinco) anos para as pretenses contra a Fazenda Pblica. Nesse intuito de benefici-la, o prprio Decreto 20.910/32, em seu art. 10 dispe que os prazos menores devem favorec-la.

    Com o advento do Cdigo Civil de 2002 vrios prazos prescricionais foram reduzidos, podendo ser destacado dois exemplos:

    Art. 206. Prescreve:

    2o Em dois anos, a pretenso para haver prestaes alimentares, a partir da data em que se vencerem.

    3o Em trs anos:

    [...]

    V - a pretenso de reparao civil;

    Quer dizer, o Cdigo Civil de 2002 instituiu prazos mais favorveis ao devedor do que o prazo quinquenal fixado pelo Decreto 20.910/32, o que levou os Advogados Pblicos a defenderem abertamente a tese de que os prazos mais benficos institudos pelo atual Cdigo Civil seriam plenamente aplicveis Fazenda Pblica.

    Nesse sentido, a Fazenda Pblica pugnava pela aplicao do prazo prescricional de trs anos para as hipteses de responsabilidade civil e de dois anos para os casos de prestaes de natureza alimentar.

  • Guilherme Barros ao fundamentar a tese expe que:

    Primeiro, por haver disposio expressa no Decreto 20.910/32 acerca da existncia de prazos inferiores a 5 anos. O art. 10 do Decreto prev: O disposto nos artigos anteriores no altera as prescries de menor prazo, constantes das leis e regulamentos, as quais ficam subordinadas s mesmas regras. H norma especfica que ressalva a existncia de prazos prescricionais inferiores.

    Segundo, a prpria ratio da existncia da prescrio quinquenal conduz a essa concluso. O objetivo da norma do prazo quinquenal conceder ao ente pblico regime mais favorvel. Com o advento de norma geral que j contempla a todos prazos menores, logicamente tal previso deve-se estender ao Poder Pblico. Trata-se de verdadeira interpretao teleolgica da norma jurdica, que busca revelar o valor ou bem jurdico a ser tutelado em dado preceito.

    Pois bem, essa questo chegou ao Superior Tribunal de Justia que chegou a decidir com base nesse entendimento, reconhecendo a aplicabilidade dos prazos mais favorveis institudos pelo Cdigo Civil (RESP 1.137.354 Rel. Castro Meira).

    Outrossim, mudando seu posicionamento, o STJ passou a entender pela inaplicabilidade dos prazos prescricionais previstos no Cdigo Civil para a Fazenda Pblica:

    PROCESSUAL CIVIL E ADMINISTRATIVO. AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL. RESPONSABILIDADE CIVIL DO ESTADO. DANOS MORAIS. FALECIMENTO DE INDGENA. DEMORA NO TRASLADO DO CORPO. PRESCRIO INDENIZATRIA CONTRA A FAZENDA PBLICA. CINCO ANOS. RECURSO ESPECIAL REPETITIVO 1.251.993/PR. INTERRUPO DA PRESCRIO DECORRENTE DA INSTAURAO DE INQURITO CIVIL. IMPOSSIBILIDADE. 1. A Primeira Seo dessa Corte Superior, no julgamento do REsp 1.251.993/PR, de minha relatoria, submetido ao rito do art. 543-C do CPC, firmou entendimento no sentido de que quinquenal o prazo prescricional para propositura de ao indenizatria contra

  • a Fazenda Pblica, a teor do art. 1 do Decreto n. 20.910/32, afastada a aplicao do Cdigo Civil. 2. O pedido de providncias ao Ministrio Pblico Federal, ou mesmo a instaurao de inqurito civil, no ilidem a ocorrncia da prescrio. Isso porque, ainda que a parte interessada tenha realizado diligncias em busca da soluo da lide, o curso do prazo prescricional somente interrompido nas hipteses legais e suspenso quando se verificar a pendncia de um acontecimento que impossibilite o interessado de agir, o que no se verifica na hiptese dos autos. 3. Outrossim, a jurisprudncia do STJ encontra-se consolidada no sentido que o termo inicial do prazo prescricional para o ajuizamento de ao de indenizao contra ato do Estado ocorre no momento em que constatada a leso e os seus efeitos, conforme o princpio da actio nata. Nesse sentido: AgRg no REsp 1.333.609/PB, Segunda Turma, Rel. Min. Humberto Martins, DJe 30/10/2012; AgRg no REsp 1248981/RN, Segunda Turma, Rel. Min Mauro Campbell Marques ,DJe 14/9/2012; AgRg no AgRg no Ag 1.362.677/PR, Primeira Turma, Rel. Min. Benedito Gonalves, DJe 07/12/2011. 4. Agravo regimental no provido. (AgRg no REsp 1384087 / RS - Ministro MAURO CAMPBELL MARQUES - DJe 25/03/2015).

    PROCESSUAL CIVIL. ADMINISTRATIVO. SERVIDOR PBLICO. AO DE COBRANA. DIRIAS. PRESCRIO. INTERRUPO EM VIRTUDE DE CITAO VLIDA EM PROCESSO EXTINTO SEM JULGAMENTO DO MRITO. POSSIBILIDADE. 1. O Tribunal de origem consignou que no ocorreu a prescrio, uma vez que a sentena proferida na ao ajuizada pelo Sindicato transitou em julgado, em 4.7.2008, data em que se reiniciou o curso do lapso prescricional restante, de dois anos e meio. "Assim, como a presente ao foi proposta em 14.12.2010, transcorrido, portanto, prazo inferior a 02 (dois) anos e 06 (seis) meses da data do trnsito em julgado da referida sentena, no h que se falar em prescrio da pretenso deduzida." 2. Mostra-se inaplicvel, no caso dos autos, a prescrio bienal do art. 206, 2, do CC de 2002, uma vez que o conceito jurdico de prestaes alimentares nele previsto no se confunde com o de verbas remuneratrias de natureza alimentar. O Cdigo Civil de 2002 faz referncia s prestaes alimentares de natureza civil e

  • privada, incompatveis com as percebidas em relao de Direito Pblico. 3. O entendimento do STJ no sentido de que a prescrio quinquenal prevista no art. 1 do Decreto 20.910/1932 deve ser aplicada a todo e qualquer direito ou ao contra a Fazenda Pblica, seja ela federal, estadual ou municipal, independentemente da natureza da relao jurdica estabelecida entre a Administrao Pblica e o particular. Smula 85 do STJ. 4. O acrdo recorrido encontra-se em sintonia com a atual jurisprudncia do STJ, segundo a qual a citao vlida em processo extinto sem julgamento do mrito importa na interrupo do prazo prescricional. Incidncia da Smula 83/STJ. 5. Agravo Regimental no provido. (AgRg no AREsp 202429 / AP - Ministro HERMAN BENJAMIN - DJe 12/09/2013).

    Da leitura dos julgados que afastam a aplicao dos dispositivos do Cdigo Civil relacionados prescrio nas demandas envolvendo a Fazenda Pblica constam dois fundamentos:

    1) A natureza especial do Decreto 20.910/32, que regula a prescrio, seja qual for a sua natureza, das pretenses formuladas contra a Fazenda Pblica, ao contrrio da disposio prevista no Cdigo Civil, norma geral que regula o tema de maneira genrica;

    2) Por outro lado, o art. 10 do Decreto 20.910/32 estabelece que o "disposto nos artigos anteriores no altera as prescries de menor prazo, constantes das leis e regulamentos, as quais ficam subordinadas s mesmas regras". A previso contida na norma, por si s, no autoriza a afirmao de que o prazo prescricional nas aes indenizatrias contra a Fazenda Pblica foi reduzido pelo Cdigo Civil de 2002, a qual deve ser interpretada pelos critrios histrico e hermenutico. A norma expressamente prev que o disposto no referido decreto "no altera" eventuais prescries de menor prazo constantes em leis e regulamentos, o que inequivocamente remete ideia de legislao em vigor poca e que contivesse prazos mais reduzidos em favor da Fazenda Pblica.

  • Assim, para provas de concurso pblico, deve-se entender pela inaplicabilidade dos prazos prescricionais previstos no Cdigo Civil nas demandas envolvendo a Fazenda Pblica.

    5.5 Da Imprescritibilidade das aes indenizatrias por perseguio, tortura e priso por motivos polticos no regime da ditadura militar

    Como j amplamente exposto, as demandas envolvendo a Fazenda Pblica se sujeitam ao prazo prescricional fixado pelo Decreto n 20.910/32, qual seja, de cinco anos.

    Ocorre que a jurisprudncia do STJ reconhece uma hiptese de imprescritibilidade. Trata-se das demandas que envolvam perseguio, tortura e priso por motivos polticos no regime da ditadura militar:

    PROCESSUAL CIVIL. ADMINISTRATIVO. PERSEGUIO POLTICA E TORTURA DURANTE O REGIME MILITAR. IMPRESCRITIBILIDADE DE PRETENSO INDENIZATRIA. INAPLICABILIDADE DO ART. 1 DO DECRETO N. 20.910/32. SMULA N. 83/STJ. CONFIGURAO DO DANO E REVISO DO VALOR ARBITRADO. REEXAME DE PROVAS. IMPOSSIBILIDADE. SMULA N. 7/STJ. 1. A jurisprudncia do Superior Tribunal de Justia pacfica no sentido de que no se aplica a prescrio quinquenal do Decreto n. 20.910/32 s aes de reparao de danos sofridos em razo de perseguio, tortura e priso, por motivos polticos, afirmando a sua imprescritibilidade, incidindo, no caso, o enunciado da Smula n. 83/STJ. 2. Segundo entendimento desta Corte, no possvel revisar a deciso do Tribunal de origem que fixa o valor de indenizao por danos morais, por importar na necessidade de reexame do conjunto ftico-probatrio, o que encontra bice na Smula n. 7/STJ. Agravo regimental improvido. (AgRg no REsp 1487012 - Ministro HUMBERTO MARTINS - DJe 13/04/2015).

  • 5.6 Da Prescrio da Execuo

    Obtido ttulo executivo contra a Fazenda Pblica deve o autor manejar a devida execuo.

    Segundo entendimento pacfico da jurisprudncia o prazo prescricional da execuo o mesmo da ao. Nesse sentido a smula 150 do STF:

    PRESCREVE A EXECUO NO MESMO PRAZO DE PRESCRIO DA AO.

    O incio do prazo prescricional da execuo ocorre com o trnsito em julgado do processo de conhecimento, sendo ele de cinco anos.

    E na hiptese do valor ser ilquido, dependendo de clculos aritmticos que precisam, para serem elaborados, de documento na posse do Poder Pblico. O atraso no fornecimento dessa documentao traz alguma consequncia para a contagem do prazo prescricional?

    PROCESSUAL CIVIL E ADMINISTRATIVO. AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. SERVIDOR PBLICO. NO FORNECIMENTO DE FICHAS FINANCEIRAS. CONTAGEM DO PRAZO PRESCRICIONAL.I NEXISTNCIA DE SUSPENSO OU INTERRUPO. PRESCRIO RECONHECIDA. ART. 105 DA CF, ART. 541 DO CPC E ART. 255, 2, DO RISTJ. FUNDAMENTAO DEFICIENTE. SMULA 284/STF. 1. A dificuldade de acesso s fichas financeiras para elaborao dos clculos de liquidao da sentena no interrompe ou suspende o prazo prescricional, considerando que a liquidao presente nos autos por clculo. Precedentes: AgRg no AgRg no AREsp 151.681/PE, Rel. Ministro Humberto Martins, Segunda Turma, DJe 25/10/2012; AgRg no REsp 1159215/PR, Rel. Ministro Marco Aurlio Bellizze, Quinta Turma, DJe 17/10/2012; AgRg no AgRg no AREsp 72.565/PE, Rel. Ministro Herman Benjamin, Segunda Turma, DJe 24/08/2012. 2. No possvel conhecer das supostas ofensas ao art. 105 da CF, art. 541 do CPC e art. 255, 2, do RISTJ, uma vez que as razes do agravo regimental no explicam de que forma os aludidos dispositivos

  • legais vieram a ser violados pelo entendimento adotado na deciso agravada. Incide, na espcie, o bice contido na Smula 284/STF. 3. Agravo regimental no provido. (AgRg no AgRg no AREsp 245011 / PE - DJe 18/03/2013).

    PROCESSUAL CIVIL. EXECUO CONTRA A FAZENDA PBLICA. PRESCRIO. ART. 1 DO DECRETO N. 20.910/32. SMULA N. 150 DO STF. DESNECESSIDADE DE INCIDENTE DE LIQUIDAO. TERMO A QUO DO PRAZO PRESCRICIONAL: TRNSITO EM JULGADO DA SENTENA CONDENATRIA. NECESSIDADE DE JUNTADA DE DOCUMENTOS PELA DEVEDORA, PARA A ELABORAO DOS CLCULOS. PEDIDO QUE DEVE SER FEITO AO JUZO DA EXECUO NA FORMA DO ART. 475-B, 1, DO CPC. PRECEDENTES. 1. cedio nesta Corte que o termo a quo do prazo prescricional relativo execuo se inicia com o aperfeioamento do respectivo ttulo, momento em que no mais se discute a sua certeza e liquidez. Concluiu-se, portanto, que no da sentena condenatria que se conta o prazo prescricional para a execuo, mas sim da sentena da liquidao, tendo em vista que somente aps ela haver a liquidez e a certeza necessrias para o ajuizamento do feito executivo. Nesse sentido: REsp 1.103.716/PR, Rel. Ministro Benedito Gonalves, Primeira Turma, DJe 14/06/2010; AgRg no REsp 1.129.931/PR, Rel. Ministro Herman Benjamin, Segunda Turma, DJe 18/12/2009 e AgRg no AgRg no REsp 1.106.436/PR, Rel. Ministro Felix Fischer, Quinta Turma, DJe 14/12/2009. 2. Contudo, em casos nos quais no se faz necessria a liquidao da sentena, mas apenas a realizao de meros clculos aritmticos, cabe ao credor instruir a execuo/cumprimento da sentena com a memria discriminada e atualizada do clculo. Nessas hipteses, a jurisprudncia desta Corte tem entendido que o simples atraso no fornecimento de fichas no tem o condo de alterar o termo inicial para a propositura da ao executiva, mesmo porque, tais dados poderiam ser requisitados pelo juiz, nos autos da execuo, a requerimento dos prprios credores - nos moldes do art. 475-B, 1 do CPC. Nesse sentido: AgRg no REsp 1.174.367/RS, Rel. Ministro Gilson Dipp, Quinta Turma, DJe 22/11/2010 e AgRg no AgRg no AgRg no REsp 1.104.476/PR, Rel. Ministra Maria Thereza de Assis Moura, Sexta Turma, DJe 27/09/2010.

  • 3. Conforme se extrai do acrdo recorrido, as fichas financeiras requisitadas pelo Juzo Unio, ora recorrente, no consubstanciam incidente de liquidao, pelo que a demora no fornecimento desses documentos no exime os credores de ajuizarem a execuo no prazo legal, qual seja, cinco anos - art. 1 do Decreto n. 20.910/32 -, eis que, nos termos da Smula n. 150 do STF, a execuo tem o mesmo prazo prescricional da ao. Portanto, no podem os credores aguardarem ad eternum que a devedora encaminhe documentos necessrios elaborao dos clculos, sobretudo porque existem meios judiciais para, nos autos da execuo, requisitar referidos dados devedora, ex vi do art. 475-B, 1 do CPC. 4. Tendo em vista que o trnsito em julgado da sentena ocorreu em 24.9.2001 e a execuo somente foi proposta em 13.6.2008, aps o lapso quinquenal prescricional, de se reconhecer a ocorrncia da prescrio para extinguir o feito na forma do art. 269, V, do CPC. Honorrios advocatcios fixados em 10% sobre o valor da causa. 5. Recurso especial provido. (REsp 1231805 / PE - DJe 04/03/2011).

    Ano: 2014 - Banca: FCC - rgo: PGE-RN - Prova: Procurador do Estado de Terceira Classe

    No tocante extino das pretenses, pela prescrio, contra a Fazenda Pblica, considere as afirmaes abaixo.

    I. Nenhuma disposio do Decreto n 20.910/1932, que a regulava, subsiste depois da entrada em vigor do Cdigo Civil de 2002, porque este disciplinou integralmente a matria referente prescrio.

    II. No se admite a distino entre prescrio parcelar e prescrio de fundo de direito ou nuclear.

    III. No corre prescrio durante a demora que, no estudo, no reconhecimento ou no pagamento da dvida, considerada lquida, tiverem as reparties ou funcionrios encarregados de estudar e apur-la.

    IV. A prescrio somente poder ser interrompida uma vez e recomear a correr, pela metade do prazo, da data do ato que a interrompeu ou do ltimo ato ou termo do respectivo processo, mas, se

  • a interrupo ocorrer antes da metade do prazo de cinco (05) anos, o lustro ser respeitado a favor do credor.

    V. O prazo prescricional sujeita-se interrupo, mas no se sujeita suspenso.

    Est correto o que se afirma APENAS em

    a) II e IV. b) I e II. c) III e IV. d) IV e V. e) I e III.

    O gabarito apontou como correto o item D.

    Ano: 2013 - Banca: CESPE - rgo: TRF - 1 REGIO- Prova: Juiz Federal

    Considere que, em 20/8/2013 (tera-feira), determinada pessoa tenha sofrido danos materiais em razo de acidente provocado por servidor de rgo pblico, no exerccio de sua funo. Nessa situao, o ltimo dia de prazo para o ajuizamento de ao que vise obteno de indenizao a ser paga pelo ente pblico, de acordo com o entendimento do STJ, ser

    a) 21/8/2018 (tera-feira).

    b) 20/8/2015 (quinta-feira).

    c) 23/8/2016 (tera-feira).

    d) 22/8/2023 (tera-feira).

    e) 22/8/2016 (segunda-feira).

    O gabarito apontou como correto o item A.


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