Transcript
Page 1: Autonomia das radios comunitarias em mocambique

Universidade Eduardo Mondlane

Escola de Comunicação e Artes

Cadeira: Metodologia de Investigação Cientifica

Tema:

AUTONOMIA DAS RÁDIOS COMUNITÁRIAS EM RELAÇÃO À PRODUÇÃO DE

PROGRAMAS EDUCATIVOS

“Caso da Rádio Muthyana e da Rádio Voz Coop”

Discentes:

1. Rogério Marques Benedito Júnior

2. Vanila Carlos Amadeu

Docente: dr. Mário Fonseca

Maputo, Novembro de 2014

Page 2: Autonomia das radios comunitarias em mocambique

2

Universidade Eduardo Mondlane

Escola de Comunicação e Artes

Cadeira: Metodologia de Investigação Cientifica

Tema:

AUTONOMIA DAS RÁDIOS COMUNITÁRIAS EM RELAÇÃO À PRODUÇÃO DE

PROGRAMAS EDUCATIVOS

“Caso das Rádios Muthyana e Voz Coop”

Discentes:

1. Rogério Marques Benedito Júnior

2. Vanila Carlos Amadeu1

Docente: dr. Mário Fonseca

Maputo, Novembro de 2014

1 Neste Trabalho, ela participou a partir do capítulo interpretação dos dados bem como na conclusão, isto é,

todo o material que tem a ver com a Rádio Voz Coop a partir do capítulo “Interpretação dos Dados” é da inteira responsabilidade da Vanila Carlos Amadeu.

Page 3: Autonomia das radios comunitarias em mocambique

3

Índice Dedicatória .............................................................................................................................................. 5

Agradecimentos ...................................................................................................................................... 6

Introdução ............................................................................................................................................... 7

CAPITULO I .............................................................................................................................................. 8

AUTONOMIA DAS RÁDIOS COMUNITÁRIAS EM RELAÇÃO À PRODUÇÃO DE PROGRAMAS

EDUCATIVOS ........................................................................................................................................... 8

Problema: ............................................................................................................................................ 8

Problemática ....................................................................................................................................... 8

Interferências no Funcionamento das Rádios Comunitárias ............................................................... 9

1. Caso de Homoíne .................................................................................................................... 9

2. Quelimane ............................................................................................................................. 10

3. Manica................................................................................................................................... 10

4. Macanga ................................................................................................................................ 10

5. Xinavane ............................................................................................................................... 10

6. Morrumbene .......................................................................................................................... 11

7. Mogovolas............................................................................................................................. 11

CAPITULO II ........................................................................................................................................... 12

DEFINIÇÃO DOS CONCEITOS ................................................................................................................. 12

O que é uma rádio comunitária? ....................................................................................................... 12

O que é um programa educativo? ..................................................................................................... 14

O que é Autonomia? ......................................................................................................................... 15

CAPITULO III .......................................................................................................................................... 18

OBJECTIVOS ........................................................................................................................................... 18

Geral .................................................................................................................................................. 18

Específicos ........................................................................................................................................ 18

HIPÓTESES ..................................................................................................................................... 18

METODOLOGIA E TÉCNICAS DE RECOLHA DE DADOS ...................................................... 19

CAPITULO IV .......................................................................................................................................... 21

APRESENTAÇÃO E ANALÍSE DOS DADOS .............................................................................................. 21

Historial da Rádio Comunitária Muthyana ....................................................................................... 21

Historial da Rádio Comunitária Voz Coop ....................................................................................... 22

Objectivos da Rádio Muthyana ......................................................................................................... 22

Objectivos da Rádio Voz Coop ......................................................................................................... 23

Grelha de programação da Rádio Muthyana ..................................................................................... 23

Page 4: Autonomia das radios comunitarias em mocambique

4

Grelha de programação da Rádio Voz Coop .................................................................................... 23

Condições de trabalho ....................................................................................................................... 24

Programas de origem interna ........................................................................................................... 27

Programas de Génese Externa .......................................................................................................... 29

Contextualização dos programas ...................................................................................................... 30

Stop Violência ............................................................................................................................... 30

Análise do conteúdo do programa Stop Violência ........................................................................ 31

Debate Sobre Industria Extractiva ................................................................................................ 32

Incumprimento dos regimes contratuais na produção do programa “Industria Extractiva” ......... 32

CAPITULO V ........................................................................................................................................... 33

INTERPRETAÇÃO DOS DADOS ............................................................................................................... 33

CAPITULO VI .......................................................................................................................................... 35

Conclusão .......................................................................................................................................... 35

O poder de determinar a própria lei .................................................................................................. 35

Capacidade de realização dos programas educativos ........................................................................ 36

BIBLIOGRAFIA .............................................................................................................................. 39

Page 5: Autonomia das radios comunitarias em mocambique

5

Dedicatória

Cada página deste trabalho é dedicada aos meus sobrinhos; Benazir, Manuela e Helton a

razão da minha luta constante em busca da felicidade.

Page 6: Autonomia das radios comunitarias em mocambique

6

Agradecimentos

Quero, profundamente, em primeiro lugar agradecer a Deus por me ter dado a inspiração,

energia e força para a realização deste trabalho que é, na verdade, o inicio da construção da

cultura académica na perspectiva de investigação. Em segundo lugar o agradecimento vai aos

meus pais, nomeadamente, Rogério Marques Benedito Massa e Margarida Salvador Alfaiate

que com muito sacrifício lutam para o meu bem-estar em todos os níveis da vida.

Não deixarei de endereçar o meu aceno de apreço ao professor Mário Fonseca, este que com

muita paciência ajudou-me a problematizar melhor o presente trabalho bem como instigou-

me a observar os factos através de vários ângulos, dado que, só assim poderemos encontrar o

melhor caminho.

Ao doutor João Carlos Colaço e Tomas Vieira Mário também agradeço por terem tomado o

seu preciosíssimo tempo para ouvirem os meus problemas relativamente ao trabalho e que

posteriormente mostraram-me caminhos seguros para a minha investigação.

Agradeço aos meus amigos Muler Lopes Oliveira, Felisberto Silvério, Abdul Janfar e José

Manuel Jacinto e colegas Abú Artur, António Francisco e ao, que carinhosamente chamo-lhe

de mano Ananias Langa. Graças a eles, eu tive várias conversas e debates informais que em

muito ajudaram-me a especificar melhor o problema que pretendia estudar.

“Os alunos de sucesso mantêm-se em movimento. Eles cometem erros, mas não param”

Por: André Malraux

Page 7: Autonomia das radios comunitarias em mocambique

7

Introdução

A emergência das Rádios Comunitárias no mundo esteve directamente ligada a pessoas

influentes ou a movimentos de base, com a sociedade civil, usando a rádio como uma

ferramenta para atingir seus círculos, a comunidade.

Todavia, em Moçambique pelo contrário, não foi o caso, devido, por um lado, à falta de

acesso a criação de médias independentes durante o período mono partidário. Por outro, à

ausência de uma forte sociedade civil após o inicio da transição rumo à implantação da

democracia, com a introdução da lei de imprensa em 19912.

Como consequência da liberdade de expressão e de imprensa, consagrados pela constituição

de 1990, que abriu as portas ao pluralismo político, assistiu-se à criação em massa de novos

meios de comunicação social do chamado sector independente3. Até 2001 Moçambique

contava com, pelo menos, 30 rádios com orientação comunitária no ar. Grande parte destas

emissoras foi iniciada pelo Instituto de Comunicação Social – ICS, outra pela igreja católica e

alguns casos por organizações cívicas e poderes autárquicas. Em 2004, com o objectivo de

melhorar a coordenação e o trabalho realizado pelas rádios comunitárias em Moçambique,

surgiu O Fórum Nacional de Rádios Comunitárias, abreviadamente designado FORCOM,

uma organização constituída em rede. O FORCOM congrega actualmente 45 Rádios

Comunitárias em todo o Pais. Em muitos casos, as emissões e sobretudos as actividades de

recolha de informações são garantidas pelo pessoal voluntario, regra geral jovens estudantes4.

O presente trabalho procurou compreender a autonomia das rádios comunitárias em relação a

produção de programas educativos nas rádios “Muthyana” e “Voz Coop” dado que, para a

concepção destes é necessário o envolvimento de vários agentes. Tratando-se de um trabalho

experimental, estamos cientes das falhas que, inconscientemente, poderemos ter cometido.

No entanto as críticas e sugestões por parte do leitor, são bem-vindas.

Óptima leitura!

Os discentes

.

2 Directório das rádios comunitárias (2001)

3 CHILUVANE, Fernando, o papel das rádios comunitárias na formação de opinião pública e identidades culturais locais.

O caso da rádio a “Voz da Cooperativa”, no bairro de Bagamoio, Cidade de Maputo, (2001-2004). UEM/FLCS.

Departamento de antropologia. 2006. 4 Segundo dados fornecidos pelo ICS

Page 8: Autonomia das radios comunitarias em mocambique

8

CAPITULO I

AUTONOMIA DAS RÁDIOS COMUNITÁRIAS EM RELAÇÃO À PRODUÇÃO DE

PROGRAMAS EDUCATIVOS

“Caso da Rádio Muthyana e Voz Coop”

Problema:

Em que medida as Rádios Comunitárias5 tem autonomia em relação à produção de

programas educativos?

Problemática

Os meios de comunicação social em Moçambique, com especial destaque as Rádios

Comunitárias têm vindo a ganhar um espaço de merecido destaque porque acredita-se serem:

“catalisadores de transformação social, através da participação directa nas suas respectivas

comunidades, na criação e transmissão da mensagem de desenvolvimento social geral,

nomeadamente daquelas comunidades mais carenciadas, e longe dos centros urbanos” 6.

Em Moçambique, a UNESCO7 foi aliada incondicional no processo de implantação e

sustentabilidade das emissoras de rádios comunitárias durante vários anos. A criação de

rádios comunitárias foi um meio encontrado por aquele órgão para favorecer o

desenvolvimento social e económico local visando à redução da pobreza absoluta.

Em 2004, o Conselho de Ministro introduziu através do Decreto nº 63/2004, de 29 de

Dezembro, a cobrança da Taxa Anual de Utilização de Espectro de Frequências, cobrada

anualmente pelo Instituto Nacional das Comunicações (INCM) aos utilizadores do espectro

de frequências radioeléctricas, quer para uso público, quer para servir o sector privado.

Porém, na concepção do referido decreto não foram separadas as rádios comunitárias das

comerciais, o que faz com que os dois tipos tenham o mesmo tratamento. No entender do

Fórum Nacional das Rádios Comunitárias (FORCOM): “não faz sentido porque as rádios

comunitárias não têm um objectivo lucrativo, diferentemente das comerciais”8.

5 Muthyana e Voz Coop

6Projecto “Desenvolvimento Dos Media Em Moçambique” UNESCO/PNUD, A experiência das Rádios Comunitárias nas

Eleições Autárquicas de 2003 em Moçambique, Casos concretos de: Dondo, Chimoio e Cuamba.

7UNESCO - United Nations Educational, Scientific and Cultural Organization.

8@Verdade, Abril de 2014, Naldo Chivite, oficial de comunicação e advocacia do Fórum Nacional das Rádios Comunitárias.

Page 9: Autonomia das radios comunitarias em mocambique

9

Por isso, enquanto não se fizer tal distinção, as rádios comunitárias vão continuar a pagar a

Taxa de Exploração do Espectro Radioeléctrico anualmente, estimadas em cerca de cinco mil

meticais9, um valor que está além das suas capacidades.

Interferências no Funcionamento das Rádios Comunitárias10

Nos últimos anos – 2010 a 2014 – os relatos de intimidações a colaboradores dos meios de

comunicação social comunitários têm-se feito sentir de uma forma cada vez mais frequente,

criando um cenário desolador para a Imprensa. De uma forma geral, estes actos são

protagonizados pelos governos provinciais e distritais, nas pessoas dos respectivos dirigentes

ou com recurso a terceiros que actuam a mando daqueles e a justificação é a mesma: as rádios

divulgam informações que não são do seu agrado.

1. Caso de Homoíne

Um dos casos mais recentes deu-se em Janeiro de 2014, no distrito de Homoíne, província de

Inhambane, aquando da chegada dos homens armados da Renamo àquele ponto do país.

Aliás, este facto é que esteve na origem deste caso, pois a presença repentina dos homens

armados da “segurança” da Renamo naquele distrito (Homoíne) e a agitação advinda dessa

situação que levou muitas pessoas a abandonar as suas casas à procura de “esconderijos”, foi

considerado notícia de interesse público pela Rádio Comunitária Arco, sediada naquela

zona, cujos colaboradores, no seu dever de informar, trataram de o difundir e ainda

questionaram os governos local e provincial sobre o seu papel em relação à situação que se

vivia naquele distrito.

No lugar de dar uma resposta à preocupação colocada, o governo distrital mandou um

membro do comitê de gestão da mesma rádio, de nome Benedito Cuna, por sinal membro

assumido do partido FRELIMO, “advertir” aos colaboradores daquela emissora. Caso não

parassem de emitir informações sobre a matéria relacionada com a presença de ex-

guerrilheiros da RENAMO, a estação seria encerrada.

Assim, a partir daquele momento, a Rádio Arco estava proibida de divulgar qualquer que

fosse a informação relativa a esse assunto. E para aterrorizar ainda mais os jornalistas, o

9 De acordo com Olga Muthemba, Produtora da Rádio Voz Coop, o valor é mais do que acima referenciado, pois, passam

dos dez mil meticais. 10

FORCOM, citado pelo jornal @Verdade

Page 10: Autonomia das radios comunitarias em mocambique

10

portador da mensagem disse que, caso fosse necessário, a Polícia seria usada para a

concretização de tal objectivo.

2. Quelimane

Outros episódios recentes de limitação das actividades da Imprensa aconteceram em

Novembro de 2013, na província da Zambézia, onde as rádios “Nova Paz” e “Quelimane

FM”, na cidade capital, viram a sua autonomia “beliscada” pelo partido no poder por estarem

a veicular informações que não lhe convinham. As ameaças e intimidações tinham como alvo

os seus colaboradores.

“No dia 20 de Novembro, dia das eleições autárquicas, as duas rádios reportaram em directo

o decurso do processo, incluindo algumas irregularidades verificadas nas mesas de votação, e

realizaram programas que apostaram na participação do cidadão através de telefonemas”,

conta o FORCOM. Estranhamente, a 10 de Dezembro, a Rádio Quelimane FM foi

vandalizada por indivíduos desconhecidos que destruíram o material do jornal, situação que

mais tarde foi denunciada à Polícia local e à Procuradoria Provincial pela FORCOM.

3. Manica

Em Outubro de 2012, o então presidente do município de Manica, Moguene Candeeiro,

usando as Polícias da República de Moçambique (PRM) e Municipal, mandou encerrar, de

forma ilegal, as portas da Rádio Comunitária de Macequece, no distrito com o mesmo

nome.

4. Macanga

No mês seguinte, Novembro, era a vez de o administrador do distrito de Macanga, província

de Tete, Alexandre Faite, exibir a sua intolerância. Este mandou encerrar a Rádio

Comunitária de Furankungo por alegadamente estar a divulgar informações que, também,

não eram do seu agrado.

5. Xinavane

Em Junho de 2012, a chefe do posto administrativo de Xinavane, no distrito da Manhiça, na

província de Maputo, Teresa Gulamo, através do uso da forca policial local, mandou encerrar

as portas da Rádio Gwevhane, por ter divulgado informações sobre a qualidade do material

usado na asfaltagem de uma estrada.

Page 11: Autonomia das radios comunitarias em mocambique

11

6. Morrumbene

No segundo semestre de 2011, a mando de alguns membros do governo do distrito de

Morrumbene, na província de Inhambane, a Rádio Comunitária Millenium FM, 100.2

MHZ, situada no mesmo distrito, foi forçada a interromper a transmissão do programa

“Retrospectiva dos 20 Anos de Paz”, no qual estavam em debate vários aspectos ligados à

paz, ao desenvolvimento e à governação local.

7. Mogovolas

Já em Outubro de 2010, a um jornalista da Rádio Comunitária de Luluti, no distrito de

Mogovolas, em Nampula, foi arrancado o material de trabalho por estar a investigar a

exploração de pedras preciosas por cidadãos estrangeiros. O governo local ainda exigiu que

aquele abandonasse tal investigação.

Estes factos podem incorrer para a contribuição da retirada de autonomia das rádios

comunitárias em relação à produção de programas de carácter educativos e noticiosos. Para a

efectivação autónoma deste género radiofónico, são necessários investimentos económicos, e

gozo de liberdade no âmbito de produção, isto é, os programas devem ser produzidos sem

interferência ideológica a favor de um grupo determinado. De acordo com os dados

apresentados acima, percebe-se que muitos programas de género educativos deixam de

funcionar quando um determinado doador deixa de financiar, para além de, quando são

ameaçados pelos dirigentes, na sua maioria, do governo.

Por estas e outras razões internas e externas, as Rádios Comunitárias estão a perder o foco

educativo para dar primazia ao entretenimento e a publicidades como forma de arrecadar

fundos com o intuito de, posteriormente, pagar a tal taxa. Na presente pesquisa do nível

exploratório, pretendemos analisar e discutir sobre a autonomia das rádios comunitárias em

relação à produção de programas educativos. No entanto faz-se necessário conhecer, de

antemão, o que é uma rádio comunitária para depois compreendermos a essência de um

programa educativo e o conceito de autonomia.

Page 12: Autonomia das radios comunitarias em mocambique

12

CAPITULO II

DEFINIÇÃO DOS CONCEITOS

O que é uma rádio comunitária?

Rádio Comunitária é habitualmente definida como sendo “um serviço de radiodifusão, sem

fins lucrativos, gerido com a participação da comunidade, e que responde a necessidade da

comunidade, serve e contribui para o desenvolvimento de uma maneira progressiva

promovendo a mudança social, a democratização da comunicação através da participação da

comunidade”11

.

É com utilização da rádio comunitária que se cultiva o uso da língua local, a divulgação dos

direitos humanos, a cultura de informação, que se cria uma plataforma de debate, intercâmbio

de ideias e reacções a vários planos e projectos comunitários e que permite a preservação da

identidade cultural. Outra definição da Rádio comunitária é dada pela Associação Mundial

das Rádios Comunitárias (AMARC) nos seguintes termos:

“Rádio comunitária é uma rádio da comunidade, feita pela mesma e voltada

para a comunidade”12

.

Nesta perspectiva, um estudo recente sobre as rádios comunitárias em Moçambique, conclui

que estas são fundamentais para o desenvolvimento das comunidades locais, por criar

mecanismos de interactividade entre ouvintes, os promotores do desenvolvimento

(associações, ONGs, Instituições públicas e privadas etc.) e os líderes comunitários13

.

A programação diária de uma rádio comunitária deve conter informação, lazer, manifestações

culturais, artísticas, folclóricas e tudo aquilo que possa contribuir para o desenvolvimento da

comunidade, sem discriminação de raça, religião, sexo, convicções político-partidárias e

condições sociais. Deve respeitar sempre os valores éticos e sociais da pessoa e da família e

dar oportunidade à manifestação das diferentes opiniões sobre o mesmo assunto. Não pode,

11

Sadique, 2003. 12 TAIMO, Nélia - Manual de Pesquisa para Rádios Comunitárias.

13Tomas Jane (2005, p. 168)

Page 13: Autonomia das radios comunitarias em mocambique

13

em hipótese alguma, inserir propaganda comercial, a não ser sob a forma de apoio cultural, de

estabelecimentos localizados na sua área de cobertura14

.

As emissoras comunitárias são aquelas que são formatadas para a comunidade, pela

comunidade e sobre a comunidade e cuja propriedade e gestão são representativas da

comunidade, dedicando-se, sem fins lucrativos a assuntos de desenvolvimento

(socioeconómico e cultural)15

.

A rádio Comunitária visa dar oportunidades a difusão de ideais, elementos de cultura, e

hábitos sociais da comunidade. Visa oferecer mecanismos a formação e integração da

comunidade, estimulando o lazer, a cultura e o convívio social. Também tem em vista prestar

serviços de utilidade pública, integrando-se aos serviços de defesa civil, sempre que

necessário. Uma rádio propriamente comunitária deve apresentar as seguintes

características:16

Sem fins lucrativos, comercializa espaços publicitários para patrocínio na forma de

apoio cultural ou até presta serviços de áudio a terceiros mas os recursos arrecadados

são canalizados para custeio e manutenção e/ou reinvestimento e não para o lucro

particular

Produto da comunidade, sob o ponto de vista da programação que tende a ter um

vinculo orgânico com a realidade local, tratando de seus problemas, suas festas, suas

necessidades, seus interesses e sua cultura. E ainda por possuir sistemas de gestão

partilhados, ou por outra, funciona na base de órgãos deliberativos colectivos tais

como conselhos e assembleias comunitários;

Favorece uma programação interactiva, com a participação directa da população

ao microfone e até produzindo e transmitindo seus próprios programas, através de

suas entidades e associações. É garantido o acesso público ao veiculo de

comunicação. É neste tipo de experiência de comunicação, desde os altifalantes,

rádios de escuta colectiva e outros veículos, nos anos recentes, que têm sido

concretizadas as mais completas formas de interactividade nos meios de

comunicação;

14Tudo Rádio. Rádios Comunitárias (www.tudoradio.com/conteúdo/ver/3-o-radio-comunitarias) 15

A Carta Africana de Radiodifusão (2001) 16

Peruzzo (1989)

Page 14: Autonomia das radios comunitarias em mocambique

14

Valoriza e incentiva a transmissão e produção, das manifestações culturais locais,

difundindo e estimulando os artistas locais, a legitima arte popular, a música local e

regional;

Tem compromisso com a educação, para a cidadania no conjunto de programação e

não apenas em algum programa específico, estimulando no ouvinte e no produtor de

programas comunitários a buscar o conhecimento, destacando os direitos e deveres do

cidadão na comunidade;

Democratiza o poder de comunicar, proporcionando o treino das pessoas da própria

comunidade para que adquiram conhecimentos e noções técnicas de como falar na

rádio, produzir programas, etc.

O que é um programa educativo?

Um programa educativo é aquele que tem uma preocupação com a cultura e a educação. O

objectivo é aumentar o conhecimento do ouvinte sobre o tema apresentado17

. Os programas

musicais, por exemplo, podem informar sobre tipos de música, resgatando, a cultura nativa.

Outro exemplo é o dos programas femininos, dirigidos a donas de casa, que podem falar

sobre problemas de higiene na alimentação, saúde, cuidados com crianças. O fundamental é

ter um bom profissional da área para falar: médicos, psicólogos, professores, nutricionistas

e outros.

Um programa educativo obedece duas fases nomeadamente: planificação e produção18

, na

primeira fase, a equipa deverá definir o público-alvo, escolher o tema do tópico, procurar

informações acerca do tema, definir as mensagens chaves, escolher formato do programa e

dividir tarefas ao nível do grupo. No segundo caso, a de produção, deve-se observar as

seguintes etapas: produção das rubricas/elementos do programa, elaboração do guião,

captação e montagem – caso seja gravado – e a equipa tem a obrigação de fazer monitoria do

programa através das autocríticas vindas da escuta atenciosa.

Os grupos-alvo de um programa educativo podem ser crianças, adolescentes, jovens,

estudantes universitários, ou adultos dentro do público em geral. Um programa educativo

deve satisfazer as necessidades do seu público através do uso de uma linguagem adequada,

17

GIRARDI, Ilsa & JACOBUS, Rodrigo. Para fazer Rádio Comunitária com “C” maiúsculo. 79 p

18Manual de apoio para jornalistas comunitários, planificação e produção de programas radiofónicos, IBIS, 2008.

Page 15: Autonomia das radios comunitarias em mocambique

15

produção de conteúdos relevantes, envolver ao debate pessoas que tenham conhecimentos

relacionados ao tema em discussão. E muitos outros aspectos que, se não forem observados o

programa poderá ser considerado persi uma barreira para a educação19

.

O problema reside na maneira como os programas “educativos” são produzidos e

apresentados. É notável, por exemplo, uma grande miscigenação de assuntos, incongruência

entre o que é discutido e a música tocada. A modalidade de abordagem e ou a linguagem

usada constitui outra barreira, a fraca interactividade com o público, o facto de o apresentador

não fazer parte do público para o qual é destinado o programa, a falta de preparação dos

indivíduos, etc.

William James, nas suas Conversas com os Professores, insiste claramente sobre este

aspecto:

“Devem olhar o vosso trabalho profissional como consistindo, sobretudo e essencialmente em

orientar a conduta do vosso aluno (...) entendendo-se conduta no sentido mais amplo, como

incluindo toda a espécie de reacções adequadas às circunstâncias em que o aluno se pode

envolver nas peripécias da vida.”

Parafraseando este dito para os apresentadores e ou produtores de programas educativos, que

também, assumem o papel de professores de um publico diversificado e maior, traduziria da

seguinte maneira: “Os produtores de programas educativos devem olhar o trabalho deles,

como consistindo, essencialmente em orientar a conduta do ouvinte, entendendo-se conduta

no sentido mais amplo, como incluindo toda a espécie de reacções adequadas às

circunstâncias em que o ouvinte se pode envolver nas peripécias da vida.”

O que é Autonomia?

Etimologicamente autonomia significa o poder de dar a si a própria lei, autós (por si mesmo)

e nomos (lei). Autonomia é oposta a heteronomia, que em termos gerais é toda lei que

procede de outro, hetero (outro) e nomos (lei)20

.

19

Educação engloba os processos de ensinar e aprender. É um fenómeno observado em qualquer sociedade e nos grupos

constitutivos destas, responsável pela sua manutenção e perpetuação a partir da transposição, às gerações que se seguem, dos

modos culturais de ser, estar e agir necessários à convivência e ao ajustamento de um membro no seu grupo ou sociedade.

(http://pt.wikipedia.org/wiki/Educação)

20Ferrater Mora (1965)

Page 16: Autonomia das radios comunitarias em mocambique

16

Autonomia é uma realidade que é regida por uma lei própria. Ainda sugere dois sentidos para

o termo autonomia: o sentido ontológico se refere a certas esferas da realidade que são

autónomas em relação às outras, por exemplo, a realidade orgânica é distinta da inorgânica, o

sentido ético se refere a uma lei moral que tem em si seu fundamento e a razão da própria

lei21

.

Segundo o sentido de autonomia é desenvolvido por Kant. É bastante usada a expressão

“princípio autónomo” no sentido de que o princípio tenha em si, ou coloque por si mesmo, a

sua validez ou a regra de sua acção22

Ao longo da história essa noção de autonomia vai adquirindo significados diferentes e, assim,

vai sendo elaborada. Por isso, para entendermos a concepção de autonomia de um autor,

precisamos olhar a qual heteronomia se opôs e o contexto histórico e teórico que o envolvia.

Na Grécia antiga, historiadores como Tucídides e Xenofonte citam povos que se rebelavam

e buscavam sua independência23

, o que mostra a presença da ideia de autodeterminação

política das cidades.

Mas a noção de autonomia dos historiadores gregos fica restringida à ideia de

autodeterminação das unidades políticas, as cidades. Ela é distinta da noção de soberania, de

autarquia, de poder absoluto. É aproximada do conceito de autarquia, suficiência, de não ter

necessidade de ninguém24

.

Platão desenvolve uma concepção pouco mais elaborada. Ao definir uma comunidade

perfeita, define como autarquia, acrescentando o aspecto da suficiência económica25

. Em

Platão a noção de autonomia ainda não possui carácter moral, mas ele, indirectamente,

contribui para o desenvolvimento do carácter moral do conceito moderno de autonomia por

ter pensado o autodomínio, somos bons quando a razão governa e maus quando dominados

por nossos desejos26

.

21

Idem 22

Segundo Abbagnano (1962, p. 93) 23

cf. BOURRICAUD, 1985, p. 52 24

idem 25

Idem 26

cf. TAYLOR, 1997, p. 155

Page 17: Autonomia das radios comunitarias em mocambique

17

Platão distingue entre partes superiores e inferiores da alma, dominar a si mesmo é fazer com

que a parte superior da alma controle a inferior, ou seja, fazer com que a razão controle os

desejos. O governo da razão instaura a ordem, enquanto os desejos representam o reino do

caos. “Somos bons quando a razão passa a governar e não somos mais dominados por nossos

desejos”.27

A noção de autarquia/autonomia, em Aristóteles, recebe uma dimensão moral. Agora se

refere ao indivíduo humano e o que ele visa na busca da felicidade. O Bem se basta por si

mesmo, é o seu próprio fim, é livre de toda necessidade. Assim a felicidade e a autonomia se

dão ao sujeito que possui tal Bem28

Na modernidade, Maquiavel desenvolveu seu conceito pioneiro de autonomia política, na

obra Discursos29

, combinando dois sentidos de autonomia, o de liberdade de dependência e

do poder de auto-legislar.

Em Martinho Lutero a autonomia como liberdade de dependência passa a ser liberdade

espiritual, interior, em relação ao corpo e suas inclinações. Assim, o sujeito seria autónomo

na medida em que estivesse livre das inclinações do corpo e poderia obedecer a Deus30

.

Para o presente trabalho de pesquisa, a definição que nos parece adequada por fornecer

melhor o sentido de autonomia é a do Vocabulário Técnico e Crítico da

Filosofia31

: “Etimologicamente autonomia é a condição de uma pessoa ou de uma

colectividade cultural, que determina ela mesma a lei à qual se submete”. Como a

autonomia é “condição” e se dá no mundo e não apenas na consciência dos sujeitos, então sua

construção envolve dois aspectos:

1- O poder de determinar a própria lei;

2- O poder ou capacidade de realizar;

O primeiro aspecto está ligado à liberdade e ao poder de conceber, fantasiar, imaginar,

decidir, e o segundo ao poder ou capacidade de fazer. Para que haja autonomia os dois

27

cf. idem, p. 156 28

cf. BOURRICAUD, 1985, p. 52 29

cf. CAYGILL, 2000, p. 42 30

Idem 31

Lalande, 1999, p. 115

Page 18: Autonomia das radios comunitarias em mocambique

18

aspectos devem estar presentes, e o pensar autónomo precisa ser também fazer autónomo.

Se autonomia é a condição de quem determina a própria lei, a condição de quem é

determinado por algo estranho a si denomina-se heteronomia32

. A autonomia exige uma

existência que não é de antemão determinada, a fim de que o sujeito possa exercer o poder de

determinar-se.

CAPITULO III

OBJECTIVOS

Geral

Compreender a autonomia das rádios comunitárias33

em relação à produção de

programas do género educativo.

Específicos

Identificar o número de programas educativos em detrimento dos recreativos;

Identificar as condições de trabalho e as orientações editoriais em ambas as rádios

Compreender os processos de planificação e produção dos mesmos

Perceber a génese dos programas educativos;

Descrever o contexto da criação e analisar o conteúdo dos programas educativos de

origem externa.

HIPÓTESES

H1 – A orientação editorial limitada das rádios comunitárias é um factor que contribui

para a retirada da autonomização das mesmas em relação aos programas educativos;

H2 – A produção dos programas educativos, nas rádios comunitárias, é determinada

por certos eventos sociais, daí a falta de autonomia;

H3 – O trabalho voluntário, nas Rádios Comunitárias, condiciona a sua autonomia em

relação à produção de programas educativos;

32

Lalande (idem), 33

Rádio Muthyana e Rádio Voz Coop

Page 19: Autonomia das radios comunitarias em mocambique

19

METODOLOGIA E TÉCNICAS DE RECOLHA DE DADOS

Os métodos, assim como as técnicas de pesquisa devem adequar-se ao problema a ser

estudado, às hipóteses levantadas, ao tipo de informantes com que se vai entrar em contacto.

Dependerão do objecto da pesquisa, dos recursos financeiros, da equipe humana e de outros

elementos da investigação34

.

Dado que a nossa pesquisa enquadra-se no tipo descritivo35

, no presente trabalho vamos usar

o método de abordagem comparativo, pois, trata-se de uma pesquisa que visa analisar duas

rádios com o objectivo de averiguar, entre elas, qual é que tem mais autonomia em relação à

produção de programas educativos.

É importante salientar que o método comparativo ajuda-nos a explicar os fenómenos e

permite-nos analisar um dado concreto, deduzindo desse “os elementos constantes, abstractos

e gerais36

”.

Por outro lado, este tipo de método – comparativo – procede pela investigação de indivíduos,

classes, fenómenos ou fatos, com vistas a ressaltar as diferenças e as similaridades entre eles.

“Sua ampla utilização nas ciências sociais deve-se ao fato de possibilitar o estudo

comparativo de grandes agrupamentos sociais, separados pelo espaço e pelo tempo37

”.

A entrevista exploratória, a leitura e a observação também foram instrumentos usados no

processo de colecta de informações. Como forma de facilitar a interpretação de algumas

comunicações e mensagens, vamos também, basear-nos na técnica de análise de conteúdo.

Esta técnica é uma investigação que, através de uma descrição objectiva, sistemática

quantitativa do conteúdo manifesto das comunicações, tem por finalidade a interpretação

destas mesmas comunicações38

.

A análise de conteúdo é uma técnica de investigação destinada a formular, a partir de certos

dados, inferências reproduzíveis e válidas que possam aplicar-se a seu contexto. É preciso

despregar-se de algumas afirmações que vêm do senso comum (...) a análise das mensagens

34

Segundo LAKATOS e MARCONI (1999) 35

Pesquisa descritiva é aquela de opinião ou pesquisa de atitude, pesquisa de motivação, estudo de caso, análise do trabalho,

e pesquisas documentais. Aqui, o pesquisador procura conhecer e interpretar a realidade. Interessa-se em descobrir e

observar fenómenos – procura descrevê-los, classificá-los e interpretá-los. 36

LAKATOS; MARCONI, 2007, p. 107 37 GIL, 2008, p. 16-17 38

Idem; p 153

Page 20: Autonomia das radios comunitarias em mocambique

20

deve contemplar seus significados simbólicos. “As mensagens e as comunicações simbólicas

tratam, em geral, de fenómenos distintos daqueles que são directamente observados39

”.

Para efeitos práticos, nos baseamos, apenas, nos programas educativos difundidos em língua

portuguesa, numa quantidade de dois programas de iniciativa própria e dois programas de

iniciativa externa. No entanto, para percebermos o número de programas educativos em

detrimentos dos recreativos existentes nas rádios em análise enveredamos por arrolar num

quadro com as seguintes categorias: Programas educativos do lado esquerdo e Programas

recreativos do lado direito. Feito isso, preenchemos nas tabelas abaixo das categorias os seus

respectivos programas.

A técnica de análise do conteúdo pautou-se da seguinte forma; com base no exemplo de um

programa educativo em língua portuguesa de iniciativa externa procuramos identificar a

ausência ou presença de certos elementos típicos deste género nomeadamente:

Indicativo/Jingle de abertura, música ou efeito do fundo enquanto o apresentador

falava, consonância entre o tema e os entrevistados, actualização do tema e seus

objectivos, procuramos também perceber se o tema em debate segue uma lógica/anglo de

abordagem, etc. Com estes e outros elementos pretendemos perceber se as condições de

trabalho existentes em cada uma das rádios estudadas reflectem-se no produto final.

No concernente ao processo de planificação e produção de programas educativos40

partimos

da premissa que aponta que este tipo de género obedece duas fases tais como: planificação e

produção41

na primeira fase, a equipa deverá definir o público-alvo, escolher o tema do

tópico, procurar informações acerca do tema, definir as mensagens chaves, escolher

formato do programa e dividir tarefas ao nível do grupo. No segundo caso, a de produção,

deve-se observar as seguintes etapas: produção das rubricas/elementos do programa,

elaboração do guião, captação e montagem – caso seja gravado – e a equipa tem a

obrigação de fazer monitoria do programa através das autocríticas vindas da escuta

atenciosa. Com base nestes elementos, construímos uma matriz de análise com as seguintes

categorias:

39

Para Krippendorff , 1990:p 28 40

De iniciativa própria ou não. 41

Manual de apoio para jornalistas comunitários, planificação e produção de programas radiofónicos, IBIS, 2008.

Page 21: Autonomia das radios comunitarias em mocambique

21

Exemplo42

:

PROGRAMA PLANIFICAÇÃO PRODUÇÃO RÁDIO

Stop

Violência

Publico Alvo Mulheres e

crianças

Produção

das Rubricas

O programa

não tem

rubricas

Voz Coop

Tema do

tópico, etc.

Tratamento

de

tuberculose

Elaboração

do guião, etc

Guião aberto

CAPITULO IV

APRESENTAÇÃO E ANALÍSE DOS DADOS

Historial da Rádio Comunitária Muthyana

A Rádio Muthiyana foi criada em 2001 pela Associação Moçambicana da Mulher na

Comunicação Social (AMCS), com a frequência 93.5 FM. Tem o alcance de um raio de 100

quilómetros, o que é suficiente para cobrir a província de Maputo e emite desde as 6 até às 19

horas, sendo 50 % da sua programação em Shangana e 50% em português. Esta é a primeira

rádio comunitária feita por mulheres e destinada a mulheres. A sua estação está localizada no

Bairro do Ferroviário das Mahotas.

A Rádio Muthiyana iniciou desde o ano 2004 o Projecto Desenvolvimento Através de Rádio

(Development Through Rádio - DTR), que já criou 10 Clubes de Escuta nos distritos de

Matutuíne, Magude, Boane, Namaacha, Manhiça, Marracuene e nos Bairros Albasine, Costa

do Sol, Chiango e Zimpeto da Cidade de Maputo43

.

Os Clubes de Escuta consistem em grupos maioritariamente constituídos por mulheres que

receberam da AMCS um rádio-gravador, cassetes e pilhas. Os Clubes de Escuta debatem os

42

Veja o quadro completo no capitulo sobre a apresentação e analise dos dados. 43

De acordo com Américo Artur, Chefe da redacção da Rádio Muthyana, os clubes de escuta, não estão operacionais como o

desejado, actualmente, porque a responsável pela monitoria não faz parte do quadro dos profissionais daquela estação.

Page 22: Autonomia das radios comunitarias em mocambique

22

problemas que afectam as suas comunidades e gravam em cassetes que posteriormente são

recolhidas para produção de programas radiofónicos divulgados pela Rádio Muthyiana.

Historial da Rádio Comunitária Voz Coop

A rádio “Voz Coop”é uma emissora comunitária que transmite em 91.4 na frequência

modulada (FM), em 2001, ano em que foi criada pela união geral das cooperativas

agropecuárias, SCRL (UGC), com o financiamento das UNESCO.

O projecto de instalação da rádio começa em 2000 quando a UGC manifesta o compromisso

em assegurar sustentabilidade técnica e financeira à UNESCO. A sua instalação surgiu como

uma resposta à necessidade que os cooperativistas sentiam de ter um instrumento que

facilitasse a comunicação entre eles e que permitisse discutir as ideias da organização de uma

forma mais abrangente.

Neste contexto, a Rádio Voz Coop é criada com missão de manter, a partir do bairro

Bagamoio, arredores da cidade Maputo, um serviço comunitário de radiodifusão. Contribuir

para o desenvolvimento cooperativo agro-pecuário nas cinturas per-urbanas das cidades de

Maputo e Matola com a participação directa e activa das cooperativas e dos seus membros44

Objectivos da Rádio Muthyana

Os objectivos desta rádio são:

Dar voz às comunidades que não têm espaço nos grandes Órgãos de Informação,

sobretudo às mulheres,

Ajudar que as comunidades a participarem no processo democrático e do

desenvolvimento económico do país,

Dar oportunidade às comunidades de questionarem sobre o tudo o que está a

acontecer à sua volta,

Informar e formar.

44

CHILUVANE, Fernando, o papel das rádios comunitárias na formação de opinião publica e identidades culturais locais. O

caso da rádio a “Voz da Cooperativa”, no bairro de Bagamoio, Cidade de Maputo, (2001-2004). UEM/FLCS. Departamento

de antropologia. 2006.

Page 23: Autonomia das radios comunitarias em mocambique

23

Objectivos da Rádio Voz Coop

São objectivos da criação da rádio45

:

Consolidar o movimento cooperativo no seio dos associados;

Promover a mulher camponesa;

Promover a participação da camada jovem na pratica da agricultura,

Facilitar a transmissão do conhecimento nas áreas de educação cívica, saúde

preventiva e saúde pública;

Contribuir para o intercambio de experiências no campo da agricultura, avicultura,

planificação e avaliação das actividades, comercialização e;

Participar na divulgação de eventos sociopolíticos de maior impacto no país e no

mundo.

Grelha de programação da Rádio Muthyana46

A grelha de programas desta rádio inclui vários programas relacionados com os Direitos

Humanos, o HIV/SIDA, a Saúde da Mulher, Programas de Desenvolvimento, Segurança

Rodoviária, preocupações da comunidade, debates e entrevistas.

Grelha de programação da Rádio Voz Coop47

A Rádio Comunitária Voz Coop48

apresenta uma grelha semanal que envolve programas que

abordam questões ligadas a preocupações da sua comunidade, destacando áreas como a

violência, saúde, mulher, desporto, cultura, agricultura, etc.

45

Idem 46 Vide em anexo toda grelha com os respectivos programas educativos 47

Para mais informações vide em anexo a grelha. 48

Este nome advém de Voz da Cooperativa

Page 24: Autonomia das radios comunitarias em mocambique

24

Condições de trabalho

Rádio Muthyana Rádio Voz Coop

Gravadores 4 (Quatro) Gravadores 6 (Seis

gravadores

operacionais)

Computadores 6 (Seis) Computadores 5 (Cinco)

Internet Não tem

internet

Internet Tem internet

Impressora Tem Uma

impressora

operacional49

Impressora Tem50

Material didáctico Não tem51

Material didáctico Tem

Colaboradores/Voluntários 2752

(Vinte e

Sete)

Colaboradores/Voluntários 35 (Trinta e

Cinco).

Efectivo 7 (Sete) Efectivo 8 (Oito)

Apresentação gráfica dos dados relativos às condições de trabalhos apresentados para as

Rádios Comunitárias Voz Coop e Muthyana

49 Na altura da nossa pesquisa, a impressora fazia um mês, isto é, era nova. 50 A impressora não está operacional. 51 De acordo com Américo Artur, os materiais didácticos para a concepção dos programas, 52 Incluindo as crianças que produzem os programas desta faixa etária.

0

10

20

30

40

50

60

70

Radio Voz Coop

Radio Muthyana

Page 25: Autonomia das radios comunitarias em mocambique

25

Orientações Editoriais

1. Grupo editorial da agricultura

2. Grupo editorial da saúde

3. Grupo editorial da criança

4. Grupo editorial Desporto

5.Grupo editorial Educação

6. Grupo editorial da Educação cívica

7. Grupo editorial da Cultura

8. Grupo editorial da Mulher

1. Grupo editorial Desporto

2. Grupo editorial Criança

3. Grupo editorial Saúde53

4. Grupo editorial Mulher

5. Grupo editorial de Educação

6. Grupo editorial Educação Cívica

Programas Educativos e Recreativos da Rádio Voz Coop e Muthyana

Rádio Muthyana Rádio Voz Coop

Número de programas educativos

9 Programas:

Debate;

Noticiário;

Debate (Mulher na

Comunicação Social);

Magazine Cultural;

Informe Estudantil;

Debate (sobre a

indústria extractiva);

Mulher e

desenvolvimento;

A nossa saúde;

As nossas crianças.

6 Programas:

Educação no

quotidiano;

Saúde na

comunidade;

Agricultura e

desenvolvimento;

Stop violência;

Lato leta.

53Os grupos editoriais de saúde, mulher e educação da Rádio Comunitária Muthyana encontram-se parados,

aproximadamente há nove meses, devido à desistência dos produtores responsáveis.

Rádio Voz Coop

Rádio Muthyana

Page 26: Autonomia das radios comunitarias em mocambique

26

Número de programas recreativos

8 Programas:

A voz do coração;

Rubrica “fica ou não

fica”;

Música variada;

Rola bola;

Escolha, nós tocamos;

Explosion Hip-hop;

Revelações;

Melodia Tropical.

5 Programas:

Sábado à noite;

Espelho cultural;

RVC Desporto;

Ritmos da Terra;

Fala oração.

s

0 0

6

9

00

2

4

6

8

10

1

5

8

0 0 00

2

4

6

8

10

1

PROGRAMAS EDUCATIVOS

Radio C. Muthyana

Radio C. Voz Coop

PROGRAMAS RECREATIVOS

Radio C. Muthyana

Radio C. Voz Coop

Page 27: Autonomia das radios comunitarias em mocambique

27

Programas de origem interna

54 O programa não vai para o ar faz dez meses. 55 Os temas são decididos a nível do grupo editorial 56 O guião utilizado neste programa é fechado, isto é, já vem com todas as falas que o apresentador/a deverá dizer de forma

de detalhada. O mesmo já não vai para o ar há alguns meses. 57Saúde na Comunidade é um programa, com a duração de 15 minutos, transmitido na Rádio Voz Coop em todas as

segundas-feiras e repetido as quintas-feiras. O aqui analisado é do dia 13 de Outubro de dois mil e catorze.

PROGRAMA PLANIFICAÇÃO PRODUÇÃO RÁDIO

A NOSSA54

SAÚDE

Público-

alvo

Mulher Produção

das

rubricas

O programa

não tem

rubricas

MUTHYAN

A

Tema do

programa

Temas55

semanais

Elaboração

do guião

elaboração de

guião56

que

antecede a

apresentação

do programa

Procura

de

informaçõ

es acerca

do tema

As

informações

para a

sustentabilida

de dos

programas

são colhidas

nas unidades

sanitárias,

através da voz

de técnicos da

área.

Captação e

montagem

O programa é

directo -

gravado uma

vez por

semana.

Mensagen

s chaves

Não há

definição das

mensagens

chaves

Monitoria

do

programa

Não há

monitoria do

programa

Formato

do

programa

Educativo Apresentad

or

Único, de

preferência,

uma Mulher.

Tarefas ao

nível do

grupo

Permanente

SAÚDE NA57

COMUNIDA

DE

Público-

alvo

A

comunidade

em geral

Produção

das

rubricas

O programa

tem uma

rubrica

denominada

“Janela de

Saúde” onde

dois

apresentadore

s, de sexo

masculino e

feminino

VOZ COOP

Page 28: Autonomia das radios comunitarias em mocambique

28

58

Esta mensagem-chave não é geral, foi retirada de um programa do dia 13 de 10 de 2014 e que tinha como tema: O

tratamento da tuberculose. 59

Algumas vezes quando não tem torneares nas impressoras a rádio é obrigada a delegar uma e única pessoa para escrever,

porque tem caligrafias legíveis.

apresentam

verdades

contra certos

mitos.

Tema do

tópico Temas

Semanais

Elaboração

do guião

elaboração de

guião

Procura

de

informaçõ

es acerca

do tema

As

informações

são colhidas

na

comunidade

através de

entrevistas

(Vox-Pop)

Captação e

montagem

É gravado

Mensagen

s chaves

Ex: “A

tuberculose é

uma doença

grave se não

for tratada,

mas tem cura

se descoberta

e tratada

cedo”.58

Monitoria

do

programa

As vezes

Formato

do

programa

É um

programa

meramente

“Educativo”

Apresentad

or

O programa é

apresentado

por uma

dupla

Tarefas ao

nível do

grupo

Cíclico –

Todos fazem

tudo, isto é,

podem ser

apresentadore

s, repórteres,

produtores,

etc59

.

Page 29: Autonomia das radios comunitarias em mocambique

29

Programas de Génese Externa

60

Este programa é financiado pela PANOS e vai para o Ar as terças feiras a partir das 14h05 Minutos. 61

Neste caso particular o apresentador é ao mesmo tempo o coordenador da rádio, porque, segundo Américo Artur, Chefe da

redacção da RC Muthyana, participou da capacitação fornecida pela PANOS, sendo por isso, o único dotado de capacidade

para tal. 62

Financiado pela organização Médicos de El Mundo Espanha. 63

De acordo com Olga, Produtora e Administrativa da Rádio Voz Coop, o programa têm este público por serem os que mais

sofrem de violências.

PROGRAMA PLANIFICAÇÃO PRODUÇÃO RÁDIO

DEBATE60

SOBRE

INDÚSTRIA

EXTRACTIV

A

Público-

Alvo

Decisores

políticos e

governantes

Produção

das rubricas

O programa

não contém

rubricas

MUTHYAN

A

Tema do

tópico

Semanal

com temas

que abordam

questões

ligadas à

indústria

extractiva

Elaboração

do guião

Guião do

tipo fechado

Procura de

informaçõe

s acerca do

tema

As

informações

são

recolhidas

em formato

de debate.

Captação e

montagem O programa

é transmitido

em directo

Mensagens

chaves

Não Monitoria

do

programa

Não há

monitoria do

programa.

Formato

do

programa

Educativo Apresentado

r

O programa

é

apresentado

por um

apresentador61

Tarefas ao

nível do

grupo

Permanente

STOP62

VIOLÊNCIA

Público-

alvo,

Mulheres e

crianças63

Produção

das rubricas

Não tem

VOZ COOP

Tema do

tópico

Temas

diferentes Elaboração

do guião

Guião

fechado

Page 30: Autonomia das radios comunitarias em mocambique

30

Contextualização dos programas65 e a sua análise do conteúdo.

Stop Violência – RÁDIO VOZ COOP

O programa Stop violência teve o seu início em Maio de 2014 criado pela Organização não

governamental Médicos Del Mundo – Espanha. Surge na necessidade de divulgar os serviços

prestados pela organização no centro de atendimento às vítimas de violência que se encontra

no hospital de Ndlavela e de dar a conhecer os meios de prevenção da violência baseada no

género em particular e dos direitos humanos.

A exigência que a Médicos Del Mundo - Espanha impõe a rádio Voz Coop em relação à

produção do programa é de que eles desenvolvam programas dentro do contexto. Os

conteúdos emitidos no programa são determinados pela Médicos Del Mundo e os seus

parceiros (CAPAZ, Instituto do Património Jurídico (IPAJ), a Direcção Provincial da Mulher

e Acção Social, Serviço Distrital da Mulher e Acção Social está lá a (procuradoria, polícia)

Associações (Nhamae, JPJ, CODEMO, entre outras), através de uma estratégia

64

O programa é apresentado por um pivô semana a semana, com algum nível de alternância, na companhia de convidados

para a discussão em torno do tema, 65

Programa de iniciativa externa

Procura de

informaçõe

s acerca do

tema

As

informações

são colhidas

pela rádio e

monitorizada

s pela equipe

de da

médicos de

el mundo

Captação e

montagem

É gravado na

medida em

que é

transmitido

em directo

Mensagens

chaves

Não é

definida

mensagens –

chaves

Monitoria

do

programa

A monitoria

é feita pela

entidade

financiadora

da iniciativa

Formato

do

programa

Educativo Apresentado

r

Agostinho

Muchavo64

Tarefas ao

nível do

grupo

Permanente

Page 31: Autonomia das radios comunitarias em mocambique

31

multissectorial de prevenção. Por sua vez a Rádio Voz Coop não interfere em termos

ideológicos na produção dos conteúdos.66

O programa em directo vai ao ar as terças-feiras das 11 as 12 e a repetição aos sábados das 10

as 11 horas. Em função do tema, a organização, em parceria com outros agentes, já

mencionados, responsabiliza-se na identificação das fontes para responder as questões sendo

o foco para a violência doméstica. A rádio, também, algumas vezes, participa no processo de

identificação de fontes67

.

Análise do conteúdo do programa Stop Violência68

Componentes Observações Indicativo/Jingle Tem

Música de Fundo Instrumental

Consonância entre o tema e os

convidados

Sim69

Ângulo de abordagem

Existência de dois temas nos quais não se

estabelece uma ponte que identifique a ligação entre

estes. São abordados numa perspectiva em que não

direcciona-os aos objectivos do programa.

Rubricas Não tem

Equilíbrio de género em relação as

fontes

Os homens são privilegiados para debates em

estúdio, e as mulheres como fontes em entrevistas

exteriores.

Tipo de linguagem Cuidada.

Enfatização da mensagem principal Não com frequência.

Fraquezas

Há uma dissonância entre o tema debatido no

estúdio e as entrevistas feitas fora deste.

No estúdio apenas debatem-se questões relativas

aos direitos e deveres da criança, e o debate é

feito na língua portuguesa. Em contra partida, as

entrevistas feitas fora são sobre a violência

baseada no género, sendo estas feitas na língua

local Xi-Changana.

66

Isac Macu, Educador Social da Médicos Del Mundo 67

De acordo com Olga Muthemba, Produtora da Rádio Voz Coop 68

Programa do dia nove de Setembro de 2014 69

Mas não há envolvimento de todas as vozes para o qual o programa é direccionado.

Page 32: Autonomia das radios comunitarias em mocambique

32

Debate Sobre Industria Extractiva70

– RÁDIO MUTHYANA

O programa “Debate Sobre Indústria Extractiva” na rádio comunitária Muthyana é financiado

pela PANOS71

. Neste programa, a PANOS não tem interferência na aprovação ou não do

plano de conteúdos. A rádio é responsável em definir temas que se enquadram na temática da

indústria extractiva72

. Este programa surge no âmbito da implementação um projecto ligado a

jornalismo investigativo sobre a indústria extractiva em parceria com o MASC73

dando

suporte para a produção de reportagens sobre este sector quer para televisão, rádio assim

como jornais. Com a Rádio Muthyana houve um acordo de produzir programas de debates

ligados a indústria extractiva em cerca de 23 series onde devia-se trazer à tona alguns

convidados para fazer face a um tema pertinente. E nisso, a PANOS deixou sobre inteira

responsabilidade da rádio. O objectivo do programa é de estimular um debate informativo

para manter o cidadão informado sobre esta temática. Trata-se de uma área emergente e

temos pouca informação sobre o funcionamento desta indústria, os seus desafios e acima de

tudo os constrangimentos daí volvidos74

A PANOS, no âmbito deste programa, não faculta material de apoio para a orientação da

produção dos programas. Mas, antes da aprovação efectiva do programa, esta organização

proferiu uma formação ao indivíduo que responsabilizar-se-ia na produção e apresentação a

fim de traçar linhas mestras que deviam ser observadas.

Incumprimento dos regimes contratuais na produção do programa

“Industria Extractiva”

O protocolo entre a PANOS e A Rádio Muthyana relativamente ao programa Industria

Extractiva não estão a ser cumpridos, pois, a panos financia, mas, a Rádio não produziu o

número de series acordados, não me reportaram atempadamente em relação ao número de

relatórios. Portanto, o protocolo não está sendo cumprido na íntegra. Estes factos levaram ao

corte de contrato.75

70

Não foi possível analisar o conteúdo do programa porque ele é transmitido em directo. 71

A Panos é uma organização ligada a comunicação para o desenvolvimento e seu valor acrescentado é trabalhar com os

Órgãos da Comunicação Social, isto é, televisão, Rádio e Jornal. 72

Américo Artur, Chefe de redacção da Rádio Muthyana 73

Mecanismo de Apoio a Sociedade Civil 74

Adelino Jorge Saguate, Coordenador de programa da PANOS 75

Idem

Page 33: Autonomia das radios comunitarias em mocambique

33

Nesta esteira, A PANOS adverte que qualquer rádio deve tornar claro no âmbito das

assinaturas do contrato é a sua capacidade em termos de poder ou saber fazer, isto é, estar em

condições de mobilizar painelistas fortes que podem criar um debate de inclusivo de interesse

geral. Na sua maioria, as rádios assinam os contratos pela procura de sustentabilidade, mas

isso não bastam é preciso trazer algum resultado em termos qualitativos e quantitativos.

Outro ponto apontado pelo Coordenador do programa da PANOS é o nível de preparação das

rádios na definição de temas importantes para poder se criar um debate, porque, se o tema

não for sugestivo consequentemente não haverá debate dado que a adesão será quase que

insignificante.76

CAPITULO V

INTERPRETAÇÃO DOS DADOS

Rádio Muthyana Rádio Voz Coop

Programas Tem 17 programas, sendo 9

educativos e 8 recreativos.

Alguns não vão ao ar (como é o

caso dos programas: A nossa

saúde, Informe estudantil, entre

outros) devido à desistência

sucessiva do quadro pessoal que

tinha responsabilidade sobre

alguns programas.

Tem menos número de

programas em relação à rádio

Muthyana (11 programas)

mas, diferentemente desta,

todos vão ao ar. Isto leva a

crer que a questão levantada

na rádio Muthyana sobre a

dependência dos programas

em relação aos colaboradores

não se faz sentir nesta rádio.

Condições de

trabalho

Tem material básico

(Gravadores, computadores,

Impressora) para produzir os

programas.

Contudo, não tem acesso à

internet e material didáctico que

os permita investigar e ter a

possibilidade de criar e inovar os

programas.

Dispõe de elementos como:

Internet e Material didáctico,

que a rádio Muthyana não

possui. Isto faz com que tenha

mais recursos que ajudam na

criação e auxiliam na

produção dos programas.

Portanto, as condições em que

os colaboradores desta rádio

trabalham são relativamente

melhores comparadas à rádio

Muthyana

Planificação e

produção dos

programas

Os programas de origem interna

são planificados a nível dos

grupos editoriais pertencentes à

rádio.

Em contra partida, o de origem

A rádio tem apenas um

programa de origem externa

(Stop Violência que é da

inteira responsabilidade do

seu patrocinador, Medicos del

76

Idem

Page 34: Autonomia das radios comunitarias em mocambique

34

externa (indústria extractiva) é

da inteira responsabilidade do

seu patrocinador, PANOS.

À rádio cabe apenas produzir e

emitir o programa mas não

interferi na escolha dos temas.

Alguns programas (como é o

caso do programa saúde na

comunidade) são apenas

emitidos em função de eventos

sociais.

Mundo Espanha).

Todos os programas são de

origem interna com a

excepção do programa

indústria extractiva que é da

Organização Medicos del

Mundo Espanha sendo apenas

1 de origem externa. Isto lhe

confere autonomia em relação

a produção e planificação dos

programas emitidos pela

rádio.

Origem dos

programas

1 De origem externa (indústria

extractiva financiado pela

PANOS).

1 De origem externa (Stop

violência financiado pela

Médicos del Mundo-Espanha)

Conteúdos dos

programas de

origem externa

São determinados pelos

patrocinadores

É determinado pelo

patrocinador.

Orientações

editoriais

6 Grupos editoriais, sendo que

3 (saúde, mulher e educação)

não emitem programas.

Tem limitação nos grupos

editoriais factor que condiciona

os temas e eventos a serem

cobertos pela rádio.

8 Grupos editoriais.

Tem mais grupos editoriais

comparativamente à Rádio

Muthyana. Este facto lhe

confere vantagem porque tem

a possibilidade de falar sobre

diversos tipos assuntos

envolvam a comunidade na

qual está inserida (desde

agricultura até Educação

Cívica)

Page 35: Autonomia das radios comunitarias em mocambique

35

CAPITULO VI

Conclusão

Resgatando o conceito de autonomia levado em conta neste trabalho tirada do Vocabulário

Técnico e Crítico da Filosofia77

: “Etimologicamente autonomia é a condição de uma pessoa

ou de uma colectividade cultural, que determina ela mesma a lei à qual se submete”.

Lembremo-nos que para a existência da autonomia é necessário que haja (1) O poder de

determinar a própria lei e (2) O poder ou capacidade de realizar, caso estes dois

elementos não se façam presentes, não temos autonomia, mas sim heteronomia. O

primeiro aspecto está ligado à liberdade e ao poder de conceber, fantasiar, imaginar, decidir, e

o segundo ao poder ou capacidade de fazer.

O poder de determinar a própria lei

Relativamente a este aspecto, a Rádio Muthyana apresenta mais autonomia de produção de

programas educativos do que a Rádio Voz Coop, visto que, o primeiro, em termos

quantitativos tem mais programas. Tal como ilustra o seguinte gráfico:

Apesar desta vantagem, a Rádio Muthyana assim como Voz Coop apresentam apenas um

programa de origem externa78

, nomeadamente “debate sobre indústria extractiva” e “Stop

Violência” Respectivamente. Estes dados revelam-nos que as rádios têm, ambas, poder de

tomada de iniciativa própria para a produção de programas educativos, dado que os de

iniciativa externa são em menor número. Entretanto se fosse para considerar apenas esta

variável inferiríamos imediatamente que Muthyana é a campeã da autonomia relativamente

ao primeiro aspecto do conceito de autonomia.

77

Lalande, 1999, p. 115 78

Retirando o programa da criança financiado pelo UNICEF

0 0

6

9

00

2

4

6

8

10

1

PROGRAMAS EDUCATIVOS

Radio C. Muthyana

Radio C. Voz Coop

Page 36: Autonomia das radios comunitarias em mocambique

36

Capacidade de realização dos programas educativos.

Aqui é onde as rádios diferem-se em grande medida, pois, para este aspecto a Rádio Voz

Coop demonstra-se como sendo a mais autónoma relativamente a Muthyana, pois a partir da

variável condições de trabalho podemos perfeitamente comprovar isso.

Embora o número de computadores entre as rádios apresente uma diferença de um, isso não

tira a capacidade de Voz Coop em termos de produção de programas educativos. Ora

vejamos que a internet e material didáctico possuídos pela Rádio Voz Coop dá-lhe uma total

autonomia em termos de capacidade de execução. A variável “orientação editorial” mostra

que a rádio Voz Coop está em vantagem, esta também grava os programas educativos para

além de emiti-los em directo e envolve mais pessoas no processo de planificação e produção

facto que não se faz notar na Rádio Muthyana. Nesta última os programas educativos são

transmitidos, apenas, em directo e número de pessoas envolvidas é reduzido.

0

10

20

30

40

50

60

70

Radio Voz Coop

Radio Muthyana

Rádios Voz Coop e Muthyana

Apresentação gráfica dos dados relativos às condições de trabalhos

apresentados pelas Rádios Comunitárias Voz Coop e Muthyana

Page 37: Autonomia das radios comunitarias em mocambique

37

O programa de iniciativa própria da Rádio Muthyana aqui analisado, não contém rubrica

diferentemente da rádio Voz Coop, portanto não conter rubricas significa a incapacidade que

está tem em dinamizar o programa tornando-o mais atractivo.

Em programas financiados ou de origem externa, os financiadores impõem o que gostariam

que fosse divulgado e visto que pagam para tal. Isto faz com que a rádio se submeta as

exigências colocadas, porque usa o valor pago pelo tempo de antena para se autosustentar. A

PANOS, financiadora do programa voltado para a indústria extractiva na Rádio Muthyana

não impõe ideologias, apenas financia, entretanto, a rádio tem a responsabilidade de produzir

todos elementos que tornem possível a transmissão dos programas. O diferente acontece com

a Médicos Del Mundo, financiadora do programa “Stop Violência”, esta entidade, para além

de idealizar o programa, também produz os planos de conteúdo, identifica fontes, etc. E deixa

para a rádio Voz Coop uma participação parcial na tomada de decisão sobre as temáticas ou

conteúdos.

No entanto, para a primeira hipótese levantada neste trabalho de pesquisa, que dá conta que, a

orientação editorial limitada das rádios comunitárias é um factor que contribui para a retirada

da autonomização das mesmas em relação à produção de programas educativos, verificamos

que na Rádio Voz Coop por possuir muitas opções editoriais isso lhe dá mais liberdade de

criar programas educativos. O contrário acontece para a Rádio Muthyana que pela sua

limitação editorial não tem possibilidades de criação, por exemplo, dum programa de índole

Cultural, dado que não tem orientação editorial que o permita, daí a falta de autonomia.

A segunda hipótese “a produção dos programas educativos, nas rádios comunitárias, é

determinada por certos eventos sociais” verificamos em ambas as Rádios. Percebemos que

estas, embora tenham uma orientação editorial voltada para a “Educação Cívica”, apenas

produzem programas deste género perante a aproximação dos processos eleitorais. Depois de

esse evento terminar, os programas também param de ir para o ar. Daí os eventos sociais

influenciarem na autonomia das rádios comunitárias em relação a produção de programas

educativos. A educação deve ser um processo continuado, independentemente destes eventos

que a sociedade cria. Se a ideia é dizer para o cidadão da importância de voto, que tal se

existisse um programa que falasse deste assunto regularmente? Talvez teríamos uma

sociedade mais consciente.

Page 38: Autonomia das radios comunitarias em mocambique

38

Na Rádio Voz Coop, assim como na Rádio Muthyana, o trabalho voluntário, condiciona a sua

autonomia em relação à produção de programas educativos. Isto acontece porque alguns

programas estão sob responsabilidade de um grupo de voluntários, de modo que se estes

param de colaborar com a rádio, devido a vários factores, o programa deixa de ser emitido.

Na verdade o trabalho voluntário não estabelece um vínculo consistente entre a instituição e

estes, pois, não se sentem comprometidos em relação ao trabalho que prestam à rádio.

Se a autonomia é verificada pelo poder de determinar a própria lei e o poder ou capacidade de

realizar. Então podemos dizer que ambas as rádios apresentam uma autonomia parcial que,

para alguns casos podemos considerar de heteronomia do que autonomia propriamente dita.

Este trabalho não explorou elementos como identidade dos colaboradores das rádios, visto

que este poderia enriquecer, em parte, a pergunta de porquê uma determinada rádio tem mais

autonomia que outra? Será que a identidade dos colaboradores influência na variação de

autonomia das rádios? Como? A resposta à estas perguntas poderá tornar este trabalho mais

consistente ainda, dado que, ao falar de identidade, o pesquisador chamará para a discussão

outros elementos. Procurar identificar os agentes de tomada de decisão dentro das rádios e

compreender o nível de democratização das tarefas a nível dos programas poderiam também

ser uma das alternativas. Como podemos ver, este é um tema inacabado, existindo, por isso

muitos aspectos que podem ser explorados em prol do melhoramento deste tema.

Page 39: Autonomia das radios comunitarias em mocambique

39

BIBLIOGRAFIA

BOURRICAUD, François. Autonomie. In: Encyclopaedia Universalis - Vol. 3. Paris: France

S.A., 1985.

TAYLOR, Charles. As Fontes do Self: A construção da identidade moderna. Trad. Adail

Ubirajara Sobral e Dinah de Abreu Azevedo. São Paulo: Editora Loyola, 1997.

CAYGILL, Howard. Dicionário Kant. Trad.Álvaro Cabral. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed.,

2000.

LALANDE, ANDRÉ. Vocabulário Técnico e Crítico da Filosofia. 3ª ed. São Paulo: Martins

Fontes, 1999.

FERRATER MORA, José. Dicionário de Filosofia - Vol. 1. Buenos Aires: Editorial

Sudamericana, 1965.

ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de Filosofia. Trad. Alfredo Bosi. 2ª ed. São Paulo:

Mestre Jou, 1962.

GIRARDI, Ilsa& JACOBUS, Rodrigo. Para fazer Rádio Comunitária com “C” maiúsculo.

79 p.

________ Manual de apoio para jornalistas comunitários, planificação e produção de

programas radiofónicos, IBIS, 2008.

CHILUVANE, Fernando, o papel das rádios comunitárias na formação de opinião pública e

identidades culturais locais. O caso da rádio a “Voz da Cooperativa”, no bairro de

Bagamoio, Cidade de Maputo, (2001-2004). UEM/FLCS. Departamento de antropologia.

2006.

MARCONI, Maria, LAKATOS, Eva, fundamentos de metodologia cientifica, Atlas, 5ª

edição, São Paulo, 2003.

GIL, António, Métodos e Técnicas de Pesquisa Social, Atlas, 6ª Edição, São Paulo, 2008.

TAIMO, Nelia - Manual de Pesquisa para Rádios Comunitárias - Técnicas simples para

monitoramento e avaliação de rádios comunitárias. UNESCO/PNUD MOZ. Outubro de

2004. 94p

Page 40: Autonomia das radios comunitarias em mocambique

40

Projecto “Desenvolvimento Dos Media Em Moçambique” UNESCO/PNUD, A experiência

das Rádios Comunitárias nas Eleições Autárquicas de 2003 em Moçambique, Casos

concretos de: Dondo, Chimoio e Cuamba.

@Verdade, Abril de 2014, NaldoChivite, oficial de comunicação e advocacia do Fórum

Nacional das Rádios Comunitárias.

Web

www.tudoradio.com/conteúdo/ver/3-o-radio-comunitarias (pesquisado no dia 22 de

Setembro de 2014 pela 13h21 Minutos).

http://pt.wikipedia.org/wiki/Educação (Pesquisado no dia 25 de Setembro de 2014 pelas

20h33 minutos)

Fontes Humanas

1. Olga Muthemba, Produtora da Rádio Voz Coop

2. Américo Artur, Chefe da Redacção da Rádio Muthyana

3. Adelino Jorge Saguate, Coordenador de programa da PANOS

4. Isac Macu, Educador Social da Médicos Del Mundo

Page 41: Autonomia das radios comunitarias em mocambique

41

Anexos