AVALIAÇÃO DO SOLO COM RESÍDUOS ORGÂNICOS
Área temática: Gestão Ambiental e Sustentabilidade
Patrycia Pansini de Oliveira
João Batista Christófori
Wallace Luís de lima
Resumo: Every day in Brazil are produced about 241 000 tonnes of solid waste, and only 28% is collected or receive
some form of treatment and / or disposal, 23% deposited in landfills, 3% and 2% recycled composted. The solid
residue, if used properly, is no longer a problem and happens to be an alternative to the productivity of soil fertility,
plant nutrition and supplementation of mineral fertilizer. Composting is traditionally seen as a usual practice in rural
properties and central waste recycling. The research aims to initially investigate the use of food debris, through the
technique of composting as a source of organic matter, macro and micronutrients to the soil. The organic wastes from
food debris, appear feasible its use as a source of organic matter, macro and micronutrients to the soil.
Palavras-chaves: Composting, fertility, solid.
ISSN 1984-9354
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1. INTRODUÇÃO
Diariamente no Brasil são produzidas, cerca de 241 mil toneladas de resíduos
sólidos, e apenas 28% são coletadas ou recebem alguma forma de tratamento e/ou
disposição final, 23% depositado em aterros sanitários, 3% compostado e 2% reciclado. O
restante 44% vai para despejo a céu aberto nos lixões, favorecendo a proliferação de
vetores biológicos como moscas, mosquitos, baratas e ratos, responsáveis por inúmeras
doenças. (IPT/CEMPRE 1995). Além disso, o lixo produz um líquido denominado
“Chorume”, característico de materiais orgânicos em decomposição. A descarga deste
líquido nos cursos d’água faz com que haja uma redução de oxigênio das águas, podendo
provocar a morte dos organismos aeróbios (NETO, et al. 2007).
O resíduo sólido, se utilizado de maneira correta, deixa de ser um problema e passa a
ser uma alternativa com a produtividade na adubação do solo, na nutrição de plantas e na
complementação da adubação mineral. Contudo, cuidados com a sanidade dos adubos
orgânicos e a aplicação em quantidades adequadas, são imprescindíveis para que a
produção de alimentos e o meio ambiente não tenham prejuízos (DANIEL, 2005).
Para que haja a exploração de forma agroecológica do resíduo sólido, foi
desenvolvida a técnica da compostagem, com a finalidade de acelerar de maneira
sustentável, a estabilização da matéria orgânica (também conhecida como humificação).
Na natureza a humificação ocorre sem prazo definido, dependendo das condições
ambientais e da qualidade dos resíduos orgânicos (OLIVEIRA et al., 2005).
O processo de tratamento do chorume é muito importante para o meio ambiente.
Caso não seja tratado, ele pode atingir lençóis freáticos, rios e córregos, levando a
contaminação para estes recursos hídricos. Neste caso, os peixes podem ser contaminados
e, caso a água seja usada na irrigação agrícola, a contaminação pode chegar aos alimentos
(frutas, verduras, legumes, etc). Em função da grande quantidade de matéria orgânica
presente no chorume, pode ser utilizado como fertilizante para o solo (PROJETO LIXO
LIMPO, 2012).
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A compostagem é uma técnica milenar, praticada pelos chineses há mais de cinco
mil anos. Nada muito diferente do que natureza faz a bilhões de anos desde que surgiram
os primeiros microrganismos decompositores. Podemos observar que cada resíduo, seja ele
de origem animal ou vegetal, é reaproveitado pelo ecossistema como fonte de nutrientes
para as plantas e a biota do solo, fundamentais nos processos de decomposição e ciclagem
dos nutrientes. Quando procedemos com a compostagem estamos seguindo as regras da
natureza e destinando corretamente nossos resíduos (RIBEIRO, 2011).
Para Oliveira et al(2005), compostagem é o conjunto de técnicas aplicadas para
estimular a decomposição de materiais orgânicos, com a finalidade de obter, no menor
tempo possível, um material estável, ricos em substâncias húmicas e nutrientes minerais,
com atributos físicos, químicos e biológicos, característicos de um fertilizante orgânico.
Tradicionalmente a compostagem é vista como uma prática usual em propriedades rurais e
centrais de reciclagem de resíduos. No primeiro caso é uma estratégia do agricultor para
transformar os resíduos agrícolas em fertilizantes essenciais para a prática da agricultura
orgânica. No segundo é uma necessidade administrativa, que tem a intenção de diminuir o
volume do material a ser gerenciado além de estabilizar um material poluente (RIBEIRO,
2011).
A eficiência do processo de compostagem está diretamente relacionada a fatores que
proporcionam condições ótimas para que os microrganismos aeróbios possam se
multiplicar e atuar na transformação da matéria orgânica. O conjunto de fatores
condicionantes para o bom desenvolvimento de um sistema biologicamente complexo
como a compostagem deve ser balizado por uma série de parâmetros, sendo que cada tipo
de material a ser compostado exige uma combinação ótima de umidade, aeração,
temperatura, relação C/N, pH, granulometria e altura da composteira (VALENTE, et al,
2009).
Este trabalho tem por objetivo averiguar inicialmente a utilização de restos
alimentares, através da técnica de compostagem, como fonte de matéria orgânica, macro e
micronutrientes para o solo.
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Metodologia
No Instituto Federal do Espírito Santo – Campus de Alegre, com média de duas mil
refeições por dia para alunos do nível técnico e superior, mais quarenta quilos são
desperdiçados por dia. Assim, o resíduo orgânico foi adquirido na própria instituição.
O experimento foi realizado no setor de Agroecologia, do Instituto Federal do
Espírito Santo (IFES) Campus de Alegre, no período de janeiro a março de 2015,
localizado nas coordenadas geográficas 20°45´30´´S e 41°27´23´´W. Segundo
classificação de Köppen o clima da região é do tipo “Aw”, inverno seco e verão chuvoso
com temperatura anual média de 23°C e precipitação anual em torno de 1.200mm.
Inicialmente realizamos a análise do solo (Tabela 1) para saber as quantidades de
nutrientes presentes no solo (A1). As amostras foram coletadas a uma profundidade de 0 –
20 cm.
Tabela 1 – Análise de solo no setor da Agroecologia.
P mg/dm3 K mg/dm3 Ca cmol/dm3 Mg cmol/dm3 Al cmol/dm3
M.O dag/dm3
*
A1 5,5 158 1,6 0,7 0,41 1,8
S mg/dm3 B mg/dm3 Zn mg/dm3 Mn mg/dm3 Cu mg/dm3 Fe mg/dm3
A1 23 0,11 2,2 16,9 1,8 161
*M.O - Matéria Orgânica.
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Em seguida, montamos a composteira (Figura 1) com Madeirit de 1m de altura, com
1m de cumprimento e 1,5m de largura; onde posteriormente foram inseridos, resíduos
orgânicos, provenientes de restos de alimentos (restos de frutas, legumes, verduras, arroz,
feijão, macarrão, entre outros) produzidos no refeitório do Campus de Alegre.
Figura 1 – Composteira com restos alimentares.
Resultados e Discussões
Com o processo de decomposição, foi liberado ao solo o resíduo orgânico (chorume)
(Figura 2).
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Figura 2 – Chorume sendo liberado pelos resíduos orgânicos.
Com o chorume liberado ao solo, foram realizados novamente outra análise de solo
(Tabela 2) afim de comparar os ingredientes presentes inicialmente no solo (A1) e os
ingredientes inseridos no solo após a inserção da composteira (A2).
O presente estudo revela o aumento dos teores de fósforo (P), potássio (K), cálcio
(Ca) e magnésio (Mn) encontrados na segunda análise (Tabela 2), em comparação aos
valores encontrados na primeira análise (Tabela1).
Na segunda análise (Tabela 2), os valores de alumínio (Al), diminuíram contrapondo
os valores encontrados na primeira análise (Tabela 1).
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Tabela 2 – Segunda análise de solo no setor da Agroecologia
*M.O -
Matéria Orgânica.
O teor de matéria orgânica aumentou na segunda análise (Tabela2), em relação aos
valores inicialmente encontrados na primeira análise (Tabela 1).
Os teores de enxofre (S), boro (B), zinco (Zn), manganês (Mn) e ferro (Fe) tiveram
seus valores elevados na segunda análise (Tabla 2), comparados aos valores encontrados
na primeira análise (Tabela 1).
Houve uma redução dos valores de cobre (Cu) encontrados na segunda análise
(Tabela 2), quanto aos valores primeiramente encontrados (Tabela1).
Datalto & Fullin (2001), realizaram estudos em solos do Espírito Santo onde
identificaram os limites do nível de fertilidade nos solos capixabas (Tabela 3).
P mg/dm3 K mg/dm3 Ca cmol/dm3 Mg cmol/dm3 Al cmol/dm3
M.O dag/dm3
*
A2 70,2 308 5,1 1,8 0,00 3,5
S mg/dm3 B mg/dm3 Zn mg/dm3 Mn mg/dm3 Cu mg/dm3 Fe mg/dm3
A2 51 0,14 2,6 29,0 1,5 211
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Tabela 3 – Análise de fertilidade do solo do Espírito Santo segundo Dadalto & Fullin (2001).
*M.O
.
Matér
ia
Orgâ
nica.
A
s
anális
es de
solo realizados no presente foram classificados de acordo com Dadalto & Fullin (2001).
Tabela 4 - Classificação de Datalto & Fullin (2001) nos solos do Espírito Santo com valores
encontrados na primeira e na segunda análise:
P K Ca Mg Al M.O
Médio Alto Médio Médio Médio Médio
Primeira análise
S B Zn Mn Cu Fe
Alto Alto Muito Baixo Médio Médio Médio
Continua...
P K Ca Mg Al M.O
Alto Alto Alto Alto Baixo Alto
Parâmetros Analisados Expressões Muito baixo Baixo Médio Alto Muito alto
P mg/dm3 - ≤5,0 06 - 10 > 10 -
K mg/dm3 - ≤ 30 31 - 60 > 60 -
Ca cmol/dm3 - ≤ 1,5 1,6 - 4 0 > 4,0 -
Mg cmol/dm3 - ≤ 0,5 0,6 - 1,0 > 1,0 -
Al cmol/dm3 - ≤ 0,3 0,4 - 1,0 > 1,0 -
M.O* dag/dm3 - ≤ 1,5 1,6 - 3,0 > 3,0 -
S mg/dm3 - ≤ 5 6 - 10 > 10 -
B mg/dm3 - ≤ 0,3 0,4 - 0,6 > 0,6 -
Zn mg/dm3 ≤ 4 4,1 - 6,9 7,0 - 40,0 > 40,0 -
Mn mg/dm3 ≤ 5 6 - 11 12 - 130 > 130 -
Cu mg/dm3 ≤ 0,5 0,6 - 1,5 1,6 - 20,0 > 20,0 -
Fe mg/dm3 ≤ 2,0 21 - 31 32 - 200 > 200 -
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Segunda análise
S B Zn Mn Cu Fe
Alto Alto Muito Baixo Médio Baixo Alto
De acordo com a classificação de Dadalto & Fullin (2001), na primeira análise de
solo os valores de matéria orgânica foram classificados como médios, já na segunda
análise, foram classificados com alto.
Os teores de macronutrientes na primeira análise fósforo (P), cálcio (Ca), magnésio
(Mg) e alumínio (Al) foram identificados como médios. Os valores de potássio (K) na
análise, se diferenciam por serem classificados como alto. Na segunda análise, os valores
de fósforo (P), potássio (K), cálcio (Ca), magnésio (Mg), foram determinados como alto.
Porém os valores de alumínio (Al) na segunda análise, foram considerados como baixo.
Os micronutrientes enxofre (S) e boro (B) foram caracterizados com altos teores no
solo na primeira e na segunda análise. Os valores de manganês (Mn), cobre (Cu) e ferro
(Fe), foram conceituados como médio. Já os valores de zinco (Zn), foram analisados como
muito baixo nas duas análises realizadas. Na segunda análise, os valores de manganês
(Mn), cobre (Cu) e ferro (Fe), são respectivamente classificados como médio, baixo e alto.
Neidimar Mariano (2011), afirma que a análise do solo vai nos dar um espelho das
condições de fertilidade do solo. De acordo com os nutrientes disponíveis no solo, a
recomendação vão se basear em tabelas fornecidas pelos órgãos de pesquisa para a
produção de uma determinada cultura.
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Conclusões
Os resíduos orgânicos provenientes de restos alimentares através do processo de
compostagem, inicialmente mostram-se viáveis seu uso como fonte de matéria orgânica, de
macro e de micronutrientes para o solo, uma vez que houve a alteração na estrutura do
solo.
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Referências Bibliográficas
DANIEL, G. Controle Da Poluição Proveniente Dos Dejetos Da Suinocultura,
Reaproveitamento E Valoração Dos Subprodutos. Curitiba: PUC, 2005. 59p. Trabalho
Conclusão Curso
IPT/CEMPRE - Instituto de Pesquisas Tecnológica/Compromisso Empresarial
pela Reciclagem. Manual de Gerenciamento Integrado. 1995.
NETO, PEREIRA J. T.; Manual de compostagem: processo de baixo custo. UFV.
2007.
OLIVEIRA, Arlene Maria Gomes; AQUINO, Adriana Maria de;NETO,Manoel
Teixeira de Castro.Compostagem Caseira de Lixo Orgânico Doméstico, 2005.
Disponível em: <http://www.cnpmf.embrapa.br/publicacoes/circulares/circular_76.pdf>.
Acesso em: 05 de abr. de 2015.
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<http://www.brasilglobal.org.br/index.php/programas/projeto-lixo-limpo>. Acesso em: 05
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RIBEIRO, Raquel. Guia Da Compostagem Caseira (2011). Disponível em:
<http://www.lixo.com.br/documentos/manual_compostagem.pdf> Acesso em: 05 de abr. de
2015.
VALENTE, B.S.1, E.G. XAVIER, T.B.G.A. MORSELLI, D.S. JAHNKE, B. de S. Brum Jr.,
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go=1767>Acesso em: 05 de abr. de 2015.
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MARIANO, N. Interpretação da Análise do Solo (2011) Disponível em:
<http://agronomos.ning.com/forum/topics/interpretacao-da-analise-do> Acesso em: 05 de abr. de
2015.