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  • O primeiro (des)governo Dilma (2011-2014):

    Balano de um desastre anunciado

    Braslia, Maro de 2015

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    Equipe Responsvel pela Produo deste Documento:

    Coordenao-Geral: Luiz Paulo Vellozo Lucas

    Coordenao-Executiva: Geraldo Biasoto e Srgio Silva

    Consultores: Adriano Pires Ana Lobato Andr Lacerda Antnio Caiado Antnio Mrcio Buainain Barjas Negri Geraldo Biasoto Jos Roberto Afonso Luiz Paulo Vellozo Lucas Maria Helena Castro Mariza Abreu Renilson Rehem Rubens Barbosa Srgio Guimares Ferreira Srgio Silva

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    n d i c e:

    1. A derrocada tica

    2. O futuro comprometido

    3. Incompetncia, negligncia, mediocridade e corrupo

    4. Economia

    5. Campo e Agronegcio

    6. Petrobras

    7. Setor Eltrico

    8. Logstica e Transportes

    9. Gesto Pblica

    10. Polticas Sociais

    11. Sade

    12. Educao

    13. Segurana Pblica

    14. Federao, Estados e Municpios

    15. Poltica Externa

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    O primeiro (des)governo Dilma (2011-2014)

    1. A derrocada tica: Crnica de um desastre anunciado

    Para entender o primeiro mandato de Dilma Rousseff como presidente do Brasil ilustrativo lembrar como ela foi escolhida pelo ento presidente Lula como a candidata do PT.

    Mesmo com a derrocada de Jos Dirceu, Antonio Palocci e de quase todos os demais altos dirigentes do PT aps sucessivos escndalos de corrupo, Lula alcanou grande popularidade no seu segundo mandato presidencial, o que foi possvel graas combinao de quatro fatores principais: primeiro, uma conjuntura internacional extremamente favorvel, caracterizada pelo forte crescimento da China, pela alta dos preos dos principais produtos exportados pelo Brasil e por um grande afluxo de dlares para a economia brasileira. Essa conjuntura internacional, que comeou a mudar apenas em 2008 com o estouro da crise dos ttulos imobilirios nos Estados Unidos, foi responsvel em grande parte tanto pelo bom desempenho da economia, quanto pela reduo da desigualdade de renda no perodo 2002-2010.

    Segundo, pela manuteno da essncia da poltica econmica implantada no governo Fernando Henrique, baseada no supervit primrio, cmbio flutuante e metas de inflao, o que garantiu estabilidade de preos e segurana a investidores nacionais e estrangeiros.

    Terceiro, pelo sucesso alcanado com a ampliao e uso populista do Bolsa Escola e outros programas sociais de transferncia de renda tambm criados no governo Fernando Henrique e agora reunidos no popularssimo Bolsa Famlia. Com baixo desemprego e elevado crescimento econmico, Lula se tornara o todo poderoso, livrando-se at de investigaes criminais sobre a sua participao nos incontveis escndalos do seu governo.

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    Quarto, com a expanso de crdito ao consumo, tanto como consequncia natural de estabilizao econmica que viabiliza o planejamento econmico por parte das famlias (expanso saudvel), quanto como consequncia do uso dos bancos pblicos muito alm dos limites de prudncia financeira pelo governo petista (expanso doentia).

    Nesse contexto, com uma pitada de exploso do crdito bancrio, no foi difcil para Lula escolher Dilma Rousseff, a sua ministra da Casa Civil e presidente do conselho de administrao da Petrobras, como a candidata do PT s eleies de 2010. A tese era simples: Dilma era a pessoa que lhe ajudava a governar o Brasil com tanto sucesso, e por isso era a candidata ideal para dar continuidade quele projeto! Com uma campanha eleitoral iniciada com meses de antecedncia do prazo legal, o governo Lula elegeu Dilma Rousseff.

    Mas o que o povo brasileiro no sabia era que boa parte do que acontecia de bom no Brasil naqueles anos era decorrente de fatores externos e da colheita de frutos cujas sementes haviam sido plantadas ao longo do governo de Fernando Henrique. E mais, que o verdadeiro projeto petista no passava de um perverso projeto de poder, lastreado em um monstruoso esquema de corrupo, no aparelhamento partidrio do Estado, no fisiologismo escancarado e na cooptao, numa nova poltica econmica baseada na irresponsabilidade fiscal, no intervencionismo estatal, na desindustrializao e na manipulao de dados e ainda na ameaa permanente de destruio de conquistas importantes, como a liberdade de imprensa e a autonomia dos rgos pblicos na gesto das polticas governamentais. Como era de se esperar, o verdadeiro projeto petista estava fadado ao fracasso!

    Esse documento mostra como um governo comandado por uma pessoa cujo currculo recente inclui uma pssima atuao como presidente do conselho de administrao da Petrobras, uma incompetente passagem pelo Ministrio de Minas e Energia e uma atabalhoada experincia na Casa Civil do antecessor se revelou um verdadeiro desastre tico, poltico e econmico.

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    2. O futuro comprometido

    Nosso balano do governo Dilma mostra a degradao da Petrobras. A derrocada tica promovida pelos governos petistas em nosso maior smbolo nacional, desnudou para o Brasil e para o mundo o que significa usar o Estado em benefcio prprio para a manuteno do poder a qualquer custo.

    Tambm expe a deteriorao da posio brasileira no cenrio da poltica internacional, ao abraar ditaduras e abandonar a defesa da democracia como um valor universal. Como reflexo, o pas perdeu relevncia e autoridade no concerto das naes.

    Nas polticas sociais, o balano mostra como a incompetncia e a soberba podem ser corrosivas. Na sade, uma crise que j supera os problemas vividos no incio do SUS foi confrontada com a mera importao de mdicos, sem buscar as razes das dificuldades.

    Na educao, a sanha populista cravou a multiplicao de programas e vagas, sem nenhuma conexo com ganhos em qualidade.

    No desenvolvimento social, o governo Dilma apostou nos dividendos polticos da transferncia de renda e no terrorismo chantagista aos beneficirios, esquecendo que ao governo cabe articular polticas que promovam o desenvolvimento.

    No campo econmico, o descalabro no poderia ser maior, sintetizado pela baixssima expanso do PIB no quadrinio, a menor desde o governo de Fernando Collor de Mello.

    Embora as vozes governamentais indiquem a crise do mundo como explicao de um pfio crescimento, os nmeros so cruis com o governo Dilma. Entre 2011 e 2014, o Brasil foi o pas que menos cresceu em toda a Amrica Latina, alcanando apenas metade da mdia de expanso do continente. No mesmo perodo, o Brasil foi 128 dentre 169 pases compilados pela OCDE, por pases como Armnia, Uganda e Haiti, dentre muitos outros.

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    Os problemas apresentam-se em todas as reas. No setor externo, balana comercial deficitria e dependente dos preos das commodities, 4,2% do PIB de dficit em conta corrente, agora dependente de fluxos especulativos para manter o balano de pagamento equilibrado. No campo fiscal, o desastre do dficit primrio e descrdito na contabilidade criativa juntaram-se a objees do Tribunal de Contas da Unio quanto a endividamento no autorizado em Lei, o que crime de responsabilidade.

    O pas que havia domado a inflao hoje luta semana a semana contra a escalada dos ndices de preos, em que pese os malabarismos da equipe econmica para gerar maneiras de segurar artificialmente os aumentos. Combustveis, energia eltrica, cmbio, transporte pblico, tudo que estava mo foi usado para administrar os preos, mas a inflao escapa ao controle a cada momento.

    O mais absurdo que o pas luta contra a inflao e permanece estagnado. A indstria perdeu participao no PIB de forma indita, submetida a custos da inpcia pblica e a polticas errticas de juro e cmbio. Nem os cofres pblicos, comprometidos por grandes subsdios e desoneraes lograram segurar a derrocada da indstria e do investimento. Segundo o IBGE, a indstria encolheu 3,2% em 2014, o pior resultado desde a crise financeira mundial de 2009. Nem mesmo o milagre lulista de escancarar o crdito pblico, como feito em 2010 para ganhar a eleio, conseguiu fazer a economia se movimentar.

    A queima de postos de trabalho nos segmentos mais qualificados do mercado, que j foi de 2 milhes de empregos em quatro anos, ganha nova dimenso nesta fase de aprofundamento da desestruturao econmica.

    A confiana de empresrios e consumidores tende hoje a zero. No se sabe o preo da energia eltrica e nem se haver energia. No se sabe a poltica de preos para combustveis. Ningum faz ideia do que ser o cmbio no contexto de desequilbrio externo em que o Brasil se encontra. Apenas dois consensos podem ser identificados: o crescimento no ocorrer e a taxa de juros real ser alta.

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    A infraestrutura de transporte permanece completamente travada num emaranhado ideolgico que contempla desde sindicalistas temerosos em perder suas bases at fornecedores que no querem desfazer seus cartis. A mobilidade urbana permanece envolta em promessas e o governo federal tem cada vez menos capacidade de apoiar estados e municpios.

    O setor energtico brasileiro foi desorganizado por erros de estratgia e um amadorismo gerencial que sintetiza o tipo de governo a que o pas vem sendo submetido. Na nsia populista de rebaixar as tarifas ao consumidor, o governo Dilma gerou uma conta de subsdios que chegar, em trs anos, a R$ 114 bilhes. Nem por isso o consumidor deixar de pagar a conta e os juros de uma dvida que ele no fez. Os aumentos de tarifas so de 30% a 40%, mas podem subir ainda mais porque, no setor, a incompetncia governamental no tem limites.

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    3. Incompetncia, negligncia, mediocridade e corrupo

    O primeiro governo (ou melhor, desgoverno) Dilma foi um grande fracasso na rea econmica, uma vergonha na rea internacional, medocre na educao, irresponsvel na sade, demaggico na rea social, inerte na segurana pblica e um descalabro na rea de energia e infraestrutura.

    Como se tudo isso no bastasse, merece destaque o fato de que o governo Dilma somente deu alguns passos na rea da mobilidade urbana depois dos protestos que tomaram conta das ruas do pas no ano de 2013. Mesmo assim, a incompetncia do governo petista impediu a tramitao de forma tempestiva da maior parte dos projetos apresentados por estados e municpios para a rea. E mais, a postura antirrepublicana do governo bloqueou o aporte de recursos para cidades importantes governadas pela oposio. Dilma realizou o governo da imobilidade urbana.

    Na rea do meio ambiente, o governo omitiu e retardou a divulgao de dados sobre o aumento do desmatamento na Amaznia, recusou-se a estabelecer metas para o cumprimento de acordos internacionais sobre a preservao da floresta e no avanou na regulamentao do novo cdigo florestal. Alm disso, os investimentos em saneamento no deslancham, e os nossos rios e mananciais continuam a receber milhares de toneladas de esgoto todos os dias. Nessa rea, tivemos no o governo da preservao, mas o da degradao ambiental.

    Se em todas as reas anteriores o fracasso foi evidente, na rea da segurana pblica o desempenho de Dilma Rousseff no pode receber avaliao superior a zero. O Brasil se consolidou como um dos lugares mais perigosos do mundo, e algumas das nossas cidades figuram entre as mais violentas de todo o planeta. O fracasso no impediu que durante a campanha presidencial de 2014 a candidata apresentasse com desfaatez as aes realizadas nas cidades-sede dos jogos da Copa do Mundo de futebol como grandes avanos na rea. Drogas e armas continuam entrando no Brasil de forma descontrolada atravs de fronteiras

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    devassadas, servindo de combustvel para uma degradao social que j alcana limites insuportveis. A atuao negligente do governo federal na segurana pblica est comprometendo seriamente o futuro do nosso pas.

    No se poderia deixar de mencionar o vexame internacional que o governo Dilma fez o Brasil passar durante a preparao da Copa do Mundo de 2014. Durante os dois ltimos anos que antecederam o evento, o Brasil foi ridicularizado pela imprensa internacional pela falta de planejamento e improviso que caracterizaram as obras, algumas entregues dias antes da partida inaugural e outras inconclusas at os dias atuais. E isso aconteceu mesmo tendo sido o Brasil o pas que mais teve tempo para se preparar para a Copa: sete anos desde outubro de 2007, quando foi anunciada a escolha. Mas o mais grave foi a sociedade perceber que alguns estdios de futebol foram construdos ao custo de R$ 400 milhes e atenderam plenamente aos padres tcnicos exigidos pela Federao Internacional de Futebol, enquanto outros, equivalentes em especificaes, chegaram a custar R$ 2 bilhes, ou cinco vezes mais do que o necessrio, a exemplo do que foi construdo pelo governo petista do Distrito Federal. As marcas do governo Dilma na Copa do Mundo foram o atraso, a incompetncia e a corrupo.

    As recentes revelaes constantes em inqurito conduzido pela Polcia Federal de que o monstruoso esquema de corrupo montado na maior empresa estatal brasileira tinha como um de seus operadores o tesoureiro nacional do PT e canalizou pelo menos US$ 200 milhes em propinas para o partido deixaram a sociedade brasileira ainda mais escandalizada e liquidaram qualquer resqucio de autoridade institucional que ainda restasse na figura da ex-presidente do conselho de administrao da Petrobras e atual presidente da Repblica.

    Se antes das mais recentes revelaes do esquema corrupto o governo Dilma j poderia ser classificado como um desastre tico, moral, tcnico, poltico e institucional, agora ele pode ser considerado um retumbante fracasso.

    O povo brasileiro deve estar atento s tentativas do governo e do PT (por meio de seus lderes) de pressionar e coagir as autoridades do

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    Judicirio a serem lenientes no aprofundamento das investigaes e no julgamento dos crimes. O que se exige justia e apurao rigorosa. Quem deve tem que pagar.

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    4. ECONOMIA

    A volta da inflao

    A poltica econmica do governo Dilma pautou-se pela chamada Nova Matriz Macroeconmica nome dado pelo prprio ministro da Fazenda s iniciativas que substituram o antigo trip macroeconmico (metas para a inflao, cmbio flutuante e responsabilidade fiscal).

    A tal matriz visava desonerar o setor produtivo, reduzir os juros reais, expandir de forma imprudente o crdito pblico, selecionar campees nacionais e proteg-los com o crdito do BNDES e a lenincia dos rgos de defesa da concorrncia. Bem como autarquizar a economia, internalizando dentro do pas toda a cadeia produtiva atravs do uso de barreiras no tarifrias ao comrcio, como a exigncia de contedo nacional em emprstimos do BNDES e nas compras das estatais.

    Os resultados colhidos indicam que a derrota foi retumbante: inflao acelerada, ampliao do dficit externo, atividade econmica estagnada e juros maiores do que os recebidos em 2010 pela presidente.

    Em seu discurso de posse, Dilma deixou claro que o novo mandato ser uma reproduo do primeiro, mas em maior intensidade. Falou em sacrifcios, sem o menor pudor, e no reconheceu que o quadro econmico de extrema fragilidade no qual se encontra o pas resultado direto de seus prprios equvocos e tropeos. Agora, os sacrifcios recaem sobre os que acreditaram nas suas etreas promessas de campanha.

    O fato que a inflao encerrou o ano de 2014 a 6,4%, isto , 0,5 ponto percentual acima dos 5,9% registrados em 2013. Trata-se de um percentual elevado em relao meta, da ordem de 4,5%, e tambm em relao ao teto de 6,5%. Aceleraram a inflao e oneraram os trabalhadores e, simultaneamente, aprofundaram a desacelerao da economia.

    A abertura do IPCA evidencia que os itens mais importantes na vida dos cidados sofreram as maiores variaes em 2014: alimentos e bebidas (8%); sade e cuidados pessoais (7%); despesas pessoais (8,3%) e educao (8,5%). Das 13 regies que compem a pesquisa para o clculo do IPCA, seis apresentaram inflao superior ao teto da meta.

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    A convergncia da inflao meta de 4,5% dificilmente ocorrer no horizonte dos prximos quatro anos. O descontrole foi enorme e, agora, o preo pago para conter o avano acelerado dos preos da economia ser igualmente elevado: restrio ao consumo, ao crdito, ao investimento e, portanto, postergao da recuperao da atividade econmica. Um quadro difcil a ser enfrentado pelo mesmo governo incompetente e mope.

    Soma-se a este quadro o tempero amargo da baixa confiana do mercado e da sociedade na capacidade do governo em retomar a estabilidade monetria e recolocar o Brasil na rota do crescimento econmico. Com expectativas desancoradas, a tarefa do Banco Central e do Ministrio da Fazenda torna-se ainda mais inglria. Isso ocorre porque a credibilidade necessria recuperao da economia advm, em primeiro lugar, da presidente da Repblica. Sem isso, dificilmente uma nova estratgia de poltica econmica, por mais bem intencionada que seja, ter sucesso.

    A falta de confiana de empresrios e consumidores deprime a formao bruta de capital fixo e o consumo. Com efeito, as projees do Banco Central/Focus indicam queda de 0,5% do PIB em 2015. Importante lembrar que essa reduo ocorre sobre base deprimida com a (provvel) diminuio do PIB em 2014, a ser anunciada em fins de maro.

    Na ausncia de poltica macro consistente, o governo brincou com o cmbio

    Quando a inflao mostrou maior resistncia e o governo viu-se diante das eleies presidenciais, no ano passado, a resposta de poltica econmica foi vender dlares no mercado futuro de cmbio para evitar uma sobredesvalorizao excessiva do real. como vender reservas, mas sem assumir que se est fazendo isso. Troca-se com o mercado a variao da taxa de cmbio pela variao da Selic. um bom negcio, desde que o cmbio no suba, como aconteceu, impondo prejuzos que, s no segundo semestre do ano passado, superaram a marca de R$ 20 bilhes.

    Essa dinmica de utilizar a taxa de cmbio e a interveno no mercado para afetar o preo dos produtos importados, em reais, e gerar um pseudocontrole da inflao domstica danoso, no apenas por ser ilusrio, como tambm porque acaba impondo ainda maiores custos ao setor produtivo. A indstria est estagnada, desde o ps-crise de 2008 e amargou uma queda de

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    3,2%, em 2014, frente ao ano anterior. Vale ressaltar que a produo de veculos despencou 15,3%, na mesma base de comparao.

    Uma poltica nada fiscal: naufragando no descrdito

    A poltica fiscal do primeiro governo Dilma conseguiu um consenso, para no falar em unanimidade: foi um fracasso. At os que defendem o governo reconhecem que foi ineficiente e ineficaz e isso foi reconhecido pela prpria presidente da Repblica quando escolheu para comandar o Ministrio da Fazenda no novo mandato um economista cuja principal credencial era sua defesa inconteste da austeridade fiscal.

    A despesa primria sempre cresceu frente da receita (nos trs ltimos anos de mandato) e, como decorrncia, o resultado primrio evaporou. O supervit primrio de 2,6% do PIB em 2010, ltimo ano do mandato anterior, transformou-se num dficit primrio de 0,6% do PIB, em 2014. O saldo s no desaparecera antes porque o governo Dilma usou e abusou da criatividade para editar medidas atpicas, que tanto geraram receitas extraordinrias (como venda de ativos e parcelamentos de dvidas tributrias) ou que nem deveriam contar como tal (como dividendos e outras receitas que, na origem, eram cobertas pela emisso de ttulos), quanto esconderam ou postergaram despesas (como a expanso de restos a pagar e dos subsdios creditcios, ora travestidos de investimentos no caso de habitao popular , ora no pagos aos bancos oficiais).

    Nunca se concedeu tantas desoneraes tributrias e tanto crdito estatal barato e longo, mas a taxa nacional de investimentos foi decrescente. O chamado Banco do Tesouro Nacional acumula emprstimos de quase R$ 900 bilhes para a economia e virou uma das maiores instituies financeiras do pas e nem assim conseguiu ativar a economia. O problema que a maioria dos tomadores desse crdito fcil, ao invs de investir mais na produo, preferiam trocar a fonte de recursos dos projetos anteriores, poupar e aplicar os prprios at porque, diante de tanta incerteza, o prprio governo premiava a liquidez.

    O mesmo se repetiu no mbito dos governos estaduais e municipais: o prprio Tesouro Nacional incentivou o rpido endividamento, inclusive ao conceder garantais para a maioria dos emprstimos at quando no tinham capacidade de pagamento, o que dizimou o esforo fiscal antes realizado. Um supervit primrio tradicional prximo de 1% do PIB tambm desapareceu. Pior

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    sorte tiveram as empresas estatais federais excludas desse controle (Petrobras e Eletrobrs), que viram seu supervit virar um dficit primrio que j se aproxima de 1% do PIB.

    Um comprometimento de longo prazo das dvidas pblicas e da poltica fiscal

    A dvida bruta do setor pblico, que no inclui bancos, Petrobras e Eletrobrs, cresceu nada menos que 10% do PIB durante o governo Dilma, chegando, ao final de 2014, a 63,4% do PIB.

    O futuro tambm j foi comprometido pelo descasamento entre o que o governo federal deve (basicamente, a dvida mobiliria interna mais operaes compromissadas do Banco Central), cada vez mais caro e curto, e o que tem a receber (reservas internacionais e emprstimos), que rendem cada vez menos e com retorno a perder de vista. A taxa de juros implcita da dvida pblica nunca recuou abaixo de 15% ao ano, mesmo quando a Selic caiu a menos de dois dgitos. Assim ficar ou ainda crescer mais, j que a trajetria esperada da taxa bsica crescente. As despesas de juros chegaram a 6,1% do PIB em 2014. Com a subida dos juros, o supervit primrio necessrio para estabilizar a relao dvida bruta/PIB aumentar, ainda mais com um denominador que s faz encolher.

    O fracasso da poltica fiscal do primeiro governo Dilma custar caro e muito pesar para o segundo governo Dilma e ainda mais para o pas. No por outro motivo, restou ao governo mudar a orientao e tentar seguir um receiturio clssico na poltica fiscal. Diante da fragilidade da economia, o ideal seria adotar um programa de consolidao fiscal, como fizeram muitas economias avanadas depois da crise que implantaram reformas estruturais em diferentes frentes. Mas mudanas desta natureza jamais estiveram na agenda da presidente Dilma.

    Crescimento com Dilma: na rabeira do mundo

    Nos ltimos anos predominou entre os petistas o discurso de que a economia brasileira vinha mal porque o resto do mundo estava pior ainda. A alegao de que a pneumonia econmica brasileira derivou de friagem externa no resiste, porm, a um tnue sopro da razo. O desempenho da economia do Brasil nos anos recentes est entre os piores registrados em todo o mundo e,

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    mais especificamente, fica na rabeira de todos os rankings quando a comparao feita com pares regionais, considerando tanto os pases da Amrica do Sul, quanto os da Amrica Latina.

    Este um trao que marca de maneira indelvel os quatro primeiros anos da gesto da presidente Dilma Rousseff. Sob o comando dela, a economia brasileira colheu um dos mais medocres resultados em termos de crescimento do PIB de que se tem notcia, tanto na comparao com o restante do mundo, quanto em termos histricos. Trata-se de obra difcil de ser igualada.

    Com os resultados registrados desde 2011 (2,7% em 2011, 1% em 2012 e 2,5% em 2013) e a projeo do Fundo Monetrio Internacional para o PIB de 2014 (uma expanso de 0,3% que at a atual equipe econmica brasileira j considera irrealista), a economia brasileira ter crescido 1,6%, em mdia, no primeiro quadrinio da gesto da atual presidente.

    Em todo o perodo republicano, tal desempenho s encontra competidores altura nos governos dos presidentes Floriano Peixoto (1891-1894) e Fenando Collor de Mello (1990-1992), conforme levantamento realizado pelo professor Reinaldo Gonalves, da UFRJ.

    Talvez seja desnecessrio, mas vale lembrar as circunstncias presentes nos dois governos com os quais Dilma ombreia. O marechal de ferro assumiu a presidncia do Brasil no apagar das luzes do sculo 19 depois da renncia de Deodoro da Fonseca e governou um pas conturbado por revoltas e sublevaes regionais. Nestas circunstncias, a economia nacional encolheu. O mesmo aconteceu no perodo de Collor, apeado do poder aps a revelao de um esquema de corrupo que, hoje, perto do mensalo e do petrolo, mais parece brincadeira de criana.

    Vivendo uma poca de normalidade democrtica e sem sobressaltos institucionais, Dilma Rousseff conseguiu levar o Brasil a um desempenho econmico simplesmente desastroso: entre 2011 e 2014, todos os pases da Amrica do Sul, todos os da Amrica Latina e a maior parte das naes do mundo cresceram mais que ns.

    Na Amrica do Sul, o ranking do perodo liderado pela Bolvia, com mdia de 5,6% ao ano. Na mdia, nestes quatro anos a economia sul-americana apresentou crescimento de 2,7% anuais, ou seja, bem superior ao 1,6% do Brasil. Por incrvel que parea, naes afundadas na desorganizao

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    institucional e na desordem econmica, como a Argentina (2,6%) e a Venezuela (2%), conseguiram sair-se melhor que o pas sob o comando de Dilma.

    Amrica do Sul Crescimento mdio anual do PIB (2011-2014*), em %

    Fontes: FMI e IBGE (para Brasil). *Crescimentos em 2014 projetados pelo FMI (para todos os pases da amostra)

    Quando a amostra ampliada para toda a Amrica Latina, o retrato no se altera. Novamente, entre os 19 pases da regio, o Brasil governado por Dilma Rousseff o lanterninha do ranking, desta vez liderado pelo Panam e seus asiticos 9,2% de mdia de crescimento anual. Na mdia, os latino-americanos cresceram 2,8% entre 2011 e 2014, tambm bem acima da marca brasileira de 1,6%.

    A anlise destes resultados joga definitivamente por terra o argumento petista de que o recuo dos preos das matrias-primas no mercado internacional levou todos os pases exportadores de commodities como tambm o nosso caso para o mesmo buraco. O fosso brasileiro, cavado pela nova matriz econmica petista, bem mais profundo.

    Em sua composio, as caractersticas das economias sul-americanas e latino-americanas so bastante parecidas com as do Brasil, guardadas as distintas propores e dimenses que as separam. Se fomos to piores do que a mdia, as razes devem ser procuradas aqui dentro e no l fora, como tenta fazer o PT. O inferno no so os outros, mas sim o nosso governo, mais precisamente a gesto Dilma.

    Bolvia Peru Equador Paraguai Colmbia Uruguai Chile Argentina Venezuela Brasil

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    Amrica Latina Crescimento mdio anual do PIB (2011-2014*), em %

    Fontes: FMI e IBGE (para Brasil). *Crescimentos em 2014 projetados pelo FMI (para todos os pases da amostra)

    Cabe tambm analisar o desempenho do Brasil comparado com as economias de todo o resto do mundo. Numa lista de 169 naes cujos dados so compilados pela OCDE, o pas aparece apenas na 128 colocao, atrs de pases como Haiti, Uganda e Armnia. Economias que sofreram bastante com a debacle imobiliria do fim da dcada passada tambm se saram melhores que ns, como foi o caso dos EUA, epicentro da crise, que cresceram 2,1% anuais desde 2011.

    Com Lula o Brasil tambm andou na rabeira

    J vimos que a desculpa petista para o desempenho desastroso de Dilma na economia no cola. Isto , as condies preponderantes em todo o mundo no chancelam o discurso oficial de que o Brasil foi mal porque todas as demais naes tambm derraparam. No: samo-nos pessimamente porque temos um governo pior do que merecamos.

    Para tentar fugir da dura realidade dos nmeros, os petistas sempre podero querer alegar que, se com Dilma no foi bom, com Lula tudo foi bem diferente. Naqueles oito anos, o Brasil decolou e acelerou com o vento de cauda que soprou em todo o mundo. Mas a verdade no bem esta: tambm com Lula, ficamos bem abaixo do que poderamos e tambm na rabeira dos rankings.

    Na comparao entre os dez pases da Amrica do Sul, entre 2003 e 2010, os oito anos do mandato do lder-mor dos petistas, o Brasil foi tambm o

    PAN BOL PER ECU PAR COL NCA URU CHI CRC HAI DOM GUA HON MEX ARG VEN ESA BRA

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    ltimo colocado da lista. O crescimento mdio anual foi bem melhor, 4%, mas ainda assim ficou abaixo da mdia das demais economias sul-americanas, que foi de 4,7%. Naquele perodo, o ranking regional foi liderado pela Argentina (6,9% anuais).

    O Brasil de Lula tambm fez feio na comparao com as demais economias da Amrica Latina. Entre 19 pases, figuramos apenas no 14 lugar no perodo, frente apenas de Guatemala, Nicargua, Mxico, El Salvador e Haiti. O Panam liderou o crescimento no continente entre 2003 e 2010, com mdia de crescimento de 7,6% ao ano. Na lista com todos os pases do mundo, melhoramos um pouquinho em relao ao fiasco de Dilma: ficamos na 100 posio.

    A anlise fria das estatsticas mostra que, independente de o mundo ir bem ou no, a receita de crescimento posta em prtica pelos petistas no funciona. O vagalho favorvel da dcada passada teve aproveitamento bastante aqum do desfrutado por economias similares brasileira. Os anos mais recentes, bem mais complicados, encontraram um pas sem condies de reagir s adversidades em razo da equivocada matriz econmica reprovada pela realidade.

    A primeira gesto Dilma Rousseff fica marcada por uma combinao txica na economia: crescimento anmico, inflao persistentemente alta, endividamento pblico em forte expanso, falta de transparncia na contabilidade oficial, interveno excessiva no mercado e poltica de crdito que privilegiou amigos do rei em prejuzo do conjunto da sociedade. No tinha mesmo como dar certo. E no deu.

    Balana comercial: de novo a restrio ao desenvolvimento

    O governo Lula foi caracterizado pela maior bonana no setor externo das ltimas dcadas. Os preos das commodities, ancorados no crescimento chins e no excesso de liquidez, conjugados aos baixos juros internacionais, foram s nuvens e deram ao governo Lula um bnus de US$ 100 bilhes em rendimentos adicionais obtidos com as exportaes.

    O governo Dilma aproveitou-se ainda dessa onda, mas a deteriorao da competitividade de nossa indstria colocou nossa balana comercial na rota do desastre. O saldo comercial brasileiro caiu de US$ 20 bilhes em 2010 para um dficit de US$ 3,9 bilhes em 2014. As exportaes aumentaram apenas 11%

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    (de US$ 202 bilhes para US$ 225 bilhes), enquanto as importaes cresceram 26% de crescimento (de US$ 188 bilhes para US$ 229 bilhes).

    Na balana comercial de manufaturados a face mais perversa da degradao da economia brasileira sob o comando petista. Ligeiramente superavitrio entre 2002 e 2005, virou um dficit de US$ 71,2 bilhes em 2010. Mas o governo Dilma logrou avanar sobre o atraso, levando esse dficit na conta de manufaturados a US$ 109,4 bilhes.

    A falta de polticas comerciais e a ausncia de uma poltica consistente para a indstria brasileira desdobrou-se na exportao de empregos e na perda de dinamismo econmico. Por algum tempo, os setores exportadores de commodities compensaram o fracasso petista, mas a nova fase dos preos internacionais pe a nu a gesto temerria do nosso setor externo.

    Transaes correntes e financiamento externo: a nova velha dependncia

    As transaes correntes (que incluem o fluxo de rendas e servios alm das mercadorias) espelharam a piora das contas comerciais. Em 2010, o dficit foi de 2,3% do PIB. Mas o governo Dilma conseguiu elev-lo a 4,17% do PIB em 2014.

    Ao atingir este patamar, o Brasil passa a experimentar um grau de risco muito alto, reduzindo dramaticamente sua margem de manobra em termos de poltica econmica interna. Agora o dficit em transaes correntes supera em muito a entrada de capitais na forma de investimento direto externo, que se situa ao redor de 2,9% do PIB.

    O governo Dilma produziu a dependncia de capitais externos. Desde fevereiro de 2013, as necessidades de financiamento do balano de pagamentos, que eram prximas de zero, sobem continuamente. O Brasil precisa de influxo de capitais estrangeiros, em bolsa e renda fixa, de 1,2% do PIB para fechar as contas.

    O governo Dilma recriou a restrio externa, o que condiciona toda nossa poltica de juros internos e a poltica cambial, dada a necessidade de manter um fluxo positivo de capitais. Os riscos so apenas mitigados pelo volume de reservas que o pas detm hoje.

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    Derrocada da indstria

    Durante muito tempo, o Brasil teve orgulho de sua transio para uma economia industrializada. Indstria era sinnimo de saber produzir, de ter trabalhadores qualificados, de participao no comrcio mundial de maneira favorvel.

    Mas, nos ltimos anos, a deteriorao do nosso parque industrial foi imensa. Empresas brasileiras foram produzir no exterior, no por uma estratgia de globalizao, mas porque produzir no Brasil tornou-se invivel pelos custos superiores aos do resto do mundo, pela carga tributria excessiva e pela incerteza quanto ao suprimento de insumos bsicos e ao cmbio. Fizeram-no financiadas pelo BNDES, que colaborou para a exportao de empregos.

    A indstria de transformao brasileira enfrenta um processo de deteriorao to profundo que sua participao no PIB j caiu a 12,2%, segundo os ltimos dados disponveis (PIB do terceiro trimestre de 2014). Ou seja, a indstria brasileira retorna a um peso no produto semelhante vigente no Brasil dos anos quarenta do sculo passado.

    Pior, isto se deu na vigncia de uma poltica de balco de incentivos, seja os do Inovar-Auto, seja os do Plano Brasil Maior, redues de IPI, desoneraes de contribuies sobre folha salarial. O governo s no percebeu que a distribuio de benesses no substitui a solidez das polticas econmica e regulatria. O dinheiro pblico foi pelo ralo, sem que a nossa indstria deixasse de perder espao no Brasil e no mercado internacional.

    Investimento paralisado e setor de bens de capital beira do colapso

    A formao bruta de capital fixo a medida do investimento de uma economia, que indica a evoluo futura da capacidade de produzir da economia. Enquanto economias emergentes possuem taxas superiores a 30% do PIB, a economia brasileira restringe-se a 19% nos 12 meses encerrados em setembro de 2014.

    Mas os nmeros no se restringem s contas nacionais. Ao contrrio, so bem reais. Segundo a Abimaq, o setor de mquinas e equipamentos encerrou o ano de 2014 com queda mdia de 15% no consumo aparente e retrao da ordem de 29% no faturamento destinado ao mercado interno, em comparao com o ano anterior. Segmentos como equipamentos pesados e mquinas-

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    ferramenta nunca atravessaram um momento to complexo, em funo da baixa taxa de investimentos e da forte penetrao de produtos importados.

    O caso do setor de bens de capital revela a completa incapacidade do governo Dilma em fazer poltica econmica para o desenvolvimento nacional, embora o bordo seja repetido incessantemente pela presidente. Uma mirade de polticas custeadas pelos cofres pblicos tentou remendar a fragilidade da poltica macroeconmica. No poderia deixar de dar errado: o dinheiro pblico se foi, sem que o setor deixasse de enfrentar sua pior crise em dcadas.

    Queima de empregos: mercado de trabalho da desqualificao

    O mercado de trabalho brasileiro, no governo Dilma, foi marcado por uma evoluo to distorcida quanto a prpria economia. Se nosso pas transformou-se num imenso consumidor de produtos importados e teve uma involuo dramtica do parque produtivo, estes elementos refletiram-se nos postos de trabalho.

    No perodo de 2011 a 2014, mais de 5 milhes de empregos foram gerados nas faixas de remunerao abaixo de dois salrios mnimos. Estes empregos foram criados especialmente nos servios e no comrcio, em parte como regularizao de vnculos antes informais.

    Na outra ponta do mercado de trabalho, no entanto, na faixa de remunerao acima de dois salrios houve forte queima de postos de trabalho. Entre 2011 e 2014, o pas perdeu mais que 2 milhes de empregos com remunerao superior a dois salrios mnimos.

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    Fonte: CAGED/MTE

    -600.000

    -500.000

    -400.000

    -300.000

    -200.000

    -100.000

    02011 2012 2013 2014

    Saldo de admisses/demisses

    2 a 5 s.m. 5 a 10 s.m. + que 10 s.m.

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    5. CAMPO E AGRONEGCIO

    O campo brasileiro, em todos os seus tamanhos, sobreviveu e avanou, apesar das dificuldades com a poltica governamental

    A utilizao do Ministrio da Agricultura como objeto de barganha poltico-fisiolgica, sujeitando-o a todo tipo de incertezas e de prticas esprias, levaram ao sucateamento. Em quatro anos, quatro ministros, alguns sem qualquer vinculao com a rea. Responsvel pela poltica do setor mais dinmico da economia brasileira, a Agricultura hoje um dos ministrios de menor prestgio na Esplanada. Os melhores quadros tcnicos afastaram-se. As secretarias, em geral entregues a pessoas sem qualquer qualificao para exercer as funes, operam com autonomia em relao ao ministro, e respondem diretamente a seus padrinhos polticos. As delegacias estaduais do ministrio perderam, na prtica, suas atribuies tcnicas e se transformaram, em sua maioria, em mero espao para nomeaes da base do governo. Mas a expresso mais grave deste sucateamento a desarticulao da defesa sanitria, expondo o setor a riscos que podem provocar danos irreversveis ao pas.

    Fragilidade do planejamento setorial

    Embora a produo agropecuria envolva decises e investimentos com prazo largo de maturao, o planejamento setorial se resume a planos anuais. O Plano-Safra se resume a indicar volumes de financiamento a ser concedido, e uma pea meramente de comunicao, estando longe de orientar o funcionamento das polticas de governo. Uma das principais promessas de campanha da candidata Dilma foi definir uma poltica agrcola plurianual, de mdio e longo prazo, tema retomado no discurso de posse da nova ministra, atestando o fracasso em seu primeiro mandato.

    Recursos crescentes, mas mal executados

    Os recursos destinados ao financiamento da agricultura cresceram, mas continuaram sujeitos a problemas de execuo, tanto no que se refere tempestividade da liberao como quanto aos volumes liberados, sempre inferiores ao anunciado. Tampouco foram adequadas as condies de

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    financiamento, uma vez que os limites so baixos e no cobrem as necessidades de recursos dos produtores, que sofrem com os atrasos na sua liberao e acabam tendo que recorrer a financiamento a taxas regulares de mercado, extremamente elevadas e incompatveis com a natureza da atividade agropecuria. O Plano Nacional de Armazenagem, voltado para financiar a construo de armazns pela iniciativa privada e nas prprias fazendas, respondia a uma antiga reivindicao do setor, mas foi uma tentativa emergencial. No se previu a necessidade de alocar recursos para financiar a formao dos estoques, e muitos agricultores que construram armazns no puderam utiliz-los por no contar com o crdito de comercializao, usado para financiar a estocagem no imediato ps-safra.

    Setor deixado aos riscos climticos e de mercado, quase sem proteo

    O Programa de Subveno ao Prmio do Seguro Rural, principal mecanismo de gesto de risco para os agricultores no familiares nunca foi prioridade, como comprova a liberao de recursos sempre em descompasso com as necessidades. Em 2014 a liberao de R$ 300 milhes para o programa de subveno, pea central do programa, s foi feita no apagar das luzes do ano, o que deixou as seguradoras praticamente sem recursos para operar entre junho e meados de dezembro, comprometendo, seriamente, a cobertura do risco envolvido no negcio. O Fundo de Catstrofe, pea-chave para o funcionamento da poltica de seguro rural, criado em 2010, at hoje no funciona, colocando em risco todo o setor em caso de um evento climtico mais srio.

    Problemas com o Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar

    A importncia do Pronaf, desde sua criao no governo FHC, inegvel, em particular por lidar com um segmento de agricultores que no tm como buscar recursos no mercado. Embora os recursos alocados para o programa sejam expressivos, sua eficcia muito limitada, uma vez que o foco continuou sendo manter a dependncia dos agricultores e no promover o efetivo fortalecimento da capacidade produtiva e qualific-los para participar e se beneficiar do ciclo favorvel de negcios para a agropecuria. Entre 2011 e 2014, o Pronaf teve desembolsos reduzidos a um quarto. Mesmo o Programa de

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    Aquisio de Alimentos da Agricultura Familiar, importante instrumento de insero dos pequenos agricultores nos mercados institucionais, operado pela CONAB, atravessou srios problemas oramentrios.

    Poltica energtica desastrosa

    A crise do setor de lcool combustvel exemplo emblemtico da falta de viso estratgica do governo federal e da incapacidade de gesto da poltica pblica. A crise no nasceu no mercado e resultado exclusivo dos erros da poltica pblica que lanou em uma crise de propores incomparveis um dos setores mais promissores da nova economia, o de biocombustvel, apontado como um dos principais eixos de uma nova trajetria de desenvolvimento limpo para o pas.

    Todo o interior do Brasil vive uma grande crise, com o fechamento de usinas e indstrias fornecedoras para o setor. Uma grande queima de empregos ocorreu em 2014. Um descalabro to grande na poltica para um setor to promissor s pode ser creditado a uma mistura de inpcia com descaso.

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    6. PETROBRAS

    A degradao sob o comando de Dilma

    Nada sintetiza de forma mais eloquente os males causados pelos governos do PT ao Brasil do que a desestruturao do setor de petrleo e gs e a consequente degradao da maior empresa estatal do Pas, a Petrobras. Em nenhum setor a comparao entre o sucesso da estratgia implementada pelo PSDB e o fracasso do modelo petista pode ser observado de forma to evidente quanto no setor de petrleo e na Petrobras.

    At meados da dcada de 90, o monoplio da Unio Federal sobre a explorao, produo e refino do petrleo foi gerido pela Petrobras . O esgotamento deste modelo aconteceu na medida em que as atividades de prospeco, explorao e produo foram exigindo volumes crescentes de investimento com complexidade tecnolgica cada vez maior. O crescimento do setor em padres internacionais de eficincia e qualidade exigia que fosse criado um ambiente concorrencial regulado por uma agncia governamental independente, com empresas privadas nacionais e internacionais capazes de aportar capitais e tecnologia onde a Petrobras atuaria como empresa lder competindo e se associando com as demais operadoras.

    No governo Fernando Henrique Cardoso, o Congresso Nacional alterou a Constituio para permitir que o monoplio da Unio sobre o setor petrleo fosse explorado em ambiente concorrencial e no mais exclusivamente pela Petrobras. A nova Lei do Petrleo (n 9.478, de 6 de agosto de 1997) criou a ANP (Agncia Nacional do Petrleo) e regulamentou o novo modelo que manteve o monoplio estatal sobre o setor, mas permitiu que outras empresas alm da Petrobras atuassem no setor de explorao e produo de leo e gs (up stream) mediante concesso ou autorizao do poder concedente.

    O resultado dessa mudana foi uma nova revoluo no setor do petrleo no Brasil, com a entrada de 70 novas empresas brasileiras e estrangeiras, novos recursos financeiros e tecnolgicos privados so atrados , provocando um efeito multiplicador extraordinrio na economia.

    Durante os 11 anos em que vigorou o modelo de concesses criado pela Lei do Petrleo de 1997, foram concedidos cerca de 700 blocos mediante leiles realizados pela ANP, sendo gerados cerca de 500.000 novos empregos diretos e

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    indiretos em toda a cadeia produtiva do setor e recolhidos mais de R$ 200 bilhes de reais em impostos para as trs esferas de governo.

    Com a reforma feita em 1997 no governo FHC a produo nacional de petrleo cresceu de 870 milhes em 1997 para 1.850 milhes em dez anos, e o setor do petrleo saltou de 2% para 12% do PIB no perodo. O investimento anual no setor se eleva de US$ 4 bilhes para US$ 43 bilhes e as receitas governamentais em royalties e participaes especiais saltam de R$ 200 milhes anuais para R$ 26 bilhes, um aumento de 130 vezes.

    O PT e o fim de uma trajetria de sucesso

    Mas a trajetria de sucesso da Petrobras e do setor de petrleo no Brasil comeou a mudar quando o Partido dos Trabalhadores assumiu o poder em 2003 e levou para a empresa o modo de governar que implantaria em todas as esferas do poder federal, baseado no aparelhamento partidrio, no fisiologismo poltico, na demagogia inescrupulosa, na irresponsabilidade gerencial perversamente combinados e sempre camuflados por um discurso ideolgico equivocado em favor de uma maior participao do Estado na economia.

    Com a descoberta do campo de Tupi, depois rebatizado de Lula, em meados de 2007 o governo do PT encontrou a desculpa que buscava para destruir o modelo da lei n 9478/97. A descoberta do pr-sal, saudada pelo governo como um bilhete premiado, levou o governo a suspender os leiles por cinco anos e a montar um confuso novo marco regulatrio baseado em contratos de partilha. A Petrobras foi capitalizada com as reservas do pr-sal cedidas pela Unio numa gigantesca operao em mercado aberto e a estatal passou a ser encarregada de ser a operadora nica da explorao das novas reservas. Tudo isso supostamente para que o Brasil pudesse tirar o maior proveito possvel das descobertas, a Petrobras fosse fortalecida e defendida da ameaa que representaria a presena do setor privado e das multinacionais.

    A poltica de contedo nacional mnimo que sempre havia sido praticada com bom senso passa a estabelecer exigncias irracionais tambm supostamente para beneficiar a indstria nacional pela utilizao do poder de compra da Petrobras turbinado pela nova condio de operadora nica .

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    O discurso ufanista envelopado em um nacionalismo requentado sobre o pr-sal e o novo modelo de partilha foram vendidos em uma narrativa falaciosa populao a fim de embalar o projeto de eleio de Dilma Rousseff em 2010. O nico resultado positivo que o PT pde comemorar foi a eficcia eleitoral da farsa montada.

    Como se sabe, a estratgia do governo do PT deu errado para a Petrobras, para o setor de petrleo e gs, para a indstria nacional de equipamentos e principalmente para o Brasil.

    Ao longo dos ltimos quatro anos, esse modelo foi aprofundado e seus resultados desastrosos implodiram quaisquer traos de seriedade que ainda pudessem ser vistos no governo Dilma Rousseff.

    O preenchimento dos cargos passou a ser feito principalmente com base em critrios poltico-partidrios, sendo pouco observada a qualificao tcnica dos postulantes. O fisiologismo poltico foi adotado em larga escala, e diretorias importantes passaram a ser ocupadas em troca de apoio no Congresso Nacional.

    A demagogia inescrupulosa fez com que vultosos recursos pblicos fossem mal empregados, como no caso da comemorao de uma autossuficincia nacional na produo de petrleo que at hoje no foi alcanada, mas que foi antecipada para celebrar a competncia do governo petista e da sua pr-candidata, a presidente do conselho de administrao da Petrobras no perodo de 2003 a 2010, Dilma Rousseff.

    A irresponsabilidade gerencial esteve presente de forma patente em trs aspectos principais: a) na aceitao de custos exorbitantes para a aquisio de bens e servios pela empresa; b) na falta de planejamento para a manuteno de equipamentos obrigando a realizao de inmeras paradas no programadas de unidades industriais, o que gerava a necessidade de contrataes emergenciais sem licitao; e c) na distribuio de doaes para organizaes no governamentais e prefeituras amigas.

    Mesmo sem considerar o mal gerenciamento e a corrupo, todo o programa de construo de refinarias do governo do PT sempre foi um completo equivoco, na opinio unanime dos especialistas. O governo petista se jactava do programa que pretendia construir com antecedncia capacidade de processar todo o leo que o Brasil haveria de produzir depois da descoberta do pr sal. Um voluntarismo delirante absolutamente descolado da realidade do

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    mercado mundial de derivados de petrleo. Um caso, em especial, sintetiza toda a irresponsabilidade gerencial associada ao padro de desgovernana implantado pelo governo petista: a construo da Refinaria Abreu e Lima, que teve o seu custo aumentado de US$ 2 bilhes para US$ 19 bilhes em um perodo de apenas 4 anos desde o anncio da construo, sob a justificativa estapafrdia de que tinham ocorrido erros de projeto. Apesar da tentativa de resumir a situao incompetncia confessada pelo prprio governo na gesto Polcia Federal da empresa, o que j seria imperdovel, investigaes da revelaram, entretanto, que parte significativa desse aumento de custos esteve associada ao monstruoso esquema de corrupo implantado na Petrobras para financiar o esquema de poder do PT.

    Como se no bastasse tudo isso, o governo petista mudou o marco regulatrio do setor do petrleo no ano de 2010, abandonando o regime de concesses e adotando o regime de partilha, no qual a Unio fica com uma parte do leo extrado das reservas pelas empresas que oferecerem o maior bnus pela explorao.

    Ao fazer isso, o governo do PT tentou passar a ideia de que o regime de concesses implantado no governo Fernando Henrique tinha sido ruim, ignorando todos os avanos conquistados desde ento e apesar do impacto muito positivo que tais avanos provocaram na economia brasileira no perodo.

    Pior, para propagar uma viso atrasada da participao do Estado na economia, o novo modelo estabeleceu que a Petrobras fosse necessariamente scia com pelo menos 30% de todos os novos campos de petrleo do pr-sal, obrigando a empresa a assumir compromissos de investimentos muito superiores a sua capacidade financeira.

    Essa mudana provocou uma paralisia de mais de cinco anos nos investimentos no setor do petrleo no Brasil e lanou muitas incertezas para os investidores nacionais e internacionais quanto segurana dos negcios com a Petrobras.

    Como resultado, o primeiro leilo do pr-sal sob o regime de partilha, ocorrido em outubro de 2013, foi um fracasso. Enquanto o governo esperava a inscrio de mais de 40 empresas, apenas 11 se registraram e um nico consrcio apresentou proposta com o mnimo exigido, rendendo um bnus de R$ 15 bilhes ao governo. No demais registrar que naquele momento o petrleo estava cotado a mais de US$ 105/barril, mais do que o dobro da cotao atual.

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    Instrumento (equivocado) de combate inflao

    Ainda em relao viso ultrapassada sobre a presena do Estado na economia, a Petrobras foi utilizada pelos governos petistas como instrumento de combate inflao, ao ter os preos dos seus produtos artificialmente represados em momentos em que a cotao internacional do petrleo alcanava patamares elevados, ressuscitando prtica tpica das dcadas de 70/80. Isso fez com que a empresa perdesse grandes somas de recursos ao importar por preos mais altos do que os que praticava no mercado interno.

    As consequncias nefastas que o modo de governar petista trouxeram para a empresa que era smbolo do orgulho nacional foram escamoteadas durante os dois governos Lula pelos resultados financeiros obtidos com a elevao dos preos internacionais do petrleo que aumentaram da casa dos US$ 30/barril em 2003 para cerca de US$ 90/barril em 2010 e pela descoberta das reservas de petrleo na camada do pr-sal.

    Tudo parecia estar dando certo com a empresa naqueles anos. O ento presidente Lula e a ento presidente do conselho de administrao da Petrobras, Dilma Rousseff, estavam sempre participando de grandes eventos que enalteciam os investimentos e as descobertas de novos campos de petrleo, e os setores da oposio que criticavam os desmandos e a m gesto e exigiam a apurao dos fortes indcios de superfaturamento e corrupo nos contratos da empresa eram tratados como neoliberais e entreguistas , que agiam contra os interesses nacionais.

    Operao Lava Jato

    Mas foi em maro de 2014 que a sociedade brasileira tomou conhecimento do que efetivamente se passava na Petrobras, quando a Polcia Federal desencadeou a Operao Lava Jato, destinada a apurar fortes indcios de corrupo nos contratos da Petrobras. Com a priso do ex-diretor de Abastecimento da empresa, Paulo Roberto Costa, e do doleiro Alberto Youssef, comeou a ser desvendado o maior escndalo de corrupo da histria do Brasil.

    A partir daquele momento, o andamento das investigaes policiais deixava a cada dia mais claro que os problemas no se resumiam s relaes

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    promscuas entre o ex-diretor e o doleiro, mas envolvia outras diretorias da estatal e diversos grandes fornecedores de bens e servios, que tinham se associado em cartel para praticar sobrepreo e obter contratos superfaturados mediante o pagamento de propinas a autoridades integrantes do governo federal.

    No demorou muito para, em agosto de 2014, o ex-diretor preso decidir, aps negociar um acordo de delao premiada, revelar a verdadeira origem e extenso do esquema de corrupo montado na empresa desde o incio do governo Lula e mantido durante o governo Dilma.

    Segundo Paulo Roberto Costa, o Partido dos Trabalhadores recebia, como propina, um percentual do valor dos contratos celebrados pela Diretoria de Servios comandada por um diretor da confiana do Partido, Renato Duque, enquanto outros partidos aliados tambm recebiam propina dos contratos celebrados pela Diretoria de Abastecimento.

    Durante os governos petistas de Lula e Dilma, as licitaes eram todas fraudadas para beneficiar um pequeno clube de empresas, declarou o ex-diretor. E mais, ele mesmo fora nomeado para o cargo no ano de 2003 porque o ento presidente Lula cedera chantagem de um grupo de parlamentares que boicotou o governo durante algumas semanas no Congresso Nacional. Ou seja, Lula teria cometido grave violao Constituio.

    No caso do Partido dos Trabalhadores, as investigaes da Polcia Federal indicam que a propina dos contratos era entregue ao seu tesoureiro nacional, Joo Vaccari Neto, o que, uma vez comprovado, ligar o monstruoso esquema de corrupo ao financiamento da prpria candidatura de Dilma Rousseff, tanto em 2010 como em 2014.

    A compra da Refinaria de Pasadena, no Texas, outro caso emblemtico da degradao promovida pela gesto petista na Petrobras. Ao que tudo indica at agora, o negcio foi realizado em 2006 apenas como mais um golpe na empresa efetuado por uma quadrilha integrada por diretores, gerentes e empresrios corruptos. Mas com um detalhe importante: tudo com a aprovao de Dilma Rousseff, poca presidente do conselho de administrao da estatal e, portanto, responsvel direta por decises de investimento como a do caso em questo. Assim, a Petrobras comprou inicialmente 50% da Refinaria por US$ 360 milhes, mesmo sabendo que um ano antes a vendedora havia desembolsado apenas US$ 42,5 milhes por 100% da mesma. Mas como se isso no bastasse, a Petrobras aceitou clusulas severas, que lhe conduziram a

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    pagar, pouco tempo depois, mais US$ 820,5 milhes pelos outros 50% da empresa. E o que pior: a Refinaria no processava o tipo de leo extrado pela estatal brasileira.

    Foi ento que surgiu a confisso de um ato que tende a se confirmar como um mais um crime, desta vez pela prpria Presidente da Repblica: para justificar a sua aprovao compra da Refinaria, ela disse que se baseou apenas em um resumo executivo mal feito, apresentado pelo Diretor Internacional, Nestor Cerver. No adotou, portanto, o que prev a Lei das Sociedades Annimas em relao aos membros dos Conselhos de Administrao, que no podem se eximir de examinar toda a documentao necessria tomada de decises.

    Mas nesta histria de Pasadena, h ainda o pior: mesmo depois de confessar um provvel crime, tentando transform-lo em mais um episdio de incompetncia, a j Presidente da Repblica no tomou qualquer medida para punir os responsveis pelo investimento fraudulento da principal estatal do pas em uma Refinaria que no processa o leo extrado do subsolo brasileiro.

    Tolerncia com o esquema de corrupo

    importante destacar que investigaes internas na Petrobras apenas comearam a acontecer aps a deflagrao da Operao Lava Jato pela Polcia Federal em maro de 2014, e que mesmo aps esse fato alguns dos protagonistas do escndalo continuaram ocupando cargos pblicos importantes, como o tesoureiro nacional do PT, at recentemente membro do conselho de administrao de uma das mais importantes estatais brasileiras, Itaipu Binacional.

    Tambm a at recentemente presidente da Petrobras, Graa Foster, que assumiu o cargo no incio de 2012 prometendo dar um novo rumo empresa, no tomou qualquer atitude relevante relacionada apurao de denncias, reviso de contratos e procedimentos licitatrios fraudulentos ou punio de degradadores da empresa que era orgulho nacional. A exemplo do que fizera Dilma Rousseff no seu primeiro ano de governo, Graa Foster tentou passar a imagem de austera, competente e honesta apenas adotando medidas cosmticas na presidncia da empresa. Mas como poderia ser diferente, se Graa Foster participara, em cargo de direo, de todas as decises desastrosas tomadas pela gesto petista desde o ano de 2003? Como poderia mostrar

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    austeridade e competncia se assumiu jamais ter desconfiado dos valores astronmicos dos contratos fraudulentos que eram realizados com a sua aprovao na Diretoria Colegiada da empresa? Como conseguir parecer honesta se jamais deu a ateno devida s inmeras denncias apresentadas pela oposio ou por funcionrios da prpria estatal, tendo admitido que a compra fraudulenta da Refinaria de Pasadena tinha sido um mau negcio apenas depois de interrogada numa comisso no Congresso Nacional?

    Se no bastassem os danos causados pela corrupo endmica e estrutural, a situao financeira da Petrobras um reflexo direto da "nova matriz econmica" do petismo. A insistncia em definir um (alto) percentual de contedo nacional levou a criao da Sete Brasil, responsvel por contratar a produo de sondas de explorao a estaleiros, muitos deles inexistentes poca, e outros sem essa expertise. A empresa, em estado falimentar em funo do alto endividamento, recorre a transfuses de dinheiro pblico para aumentar sua sobrevida. Enquanto isso, toda a cadeia de fornecedores (artificialmente criados ou no) ameaa se esfacelar. O lado real, fora dos balanos, apresenta empregos destrudos nos estaleiros e na indstria de bens de capital.

    soma de incompetncia e corrupo se somaram decises motivadas meramente por arranjos polticos e pela diplomacia companheira, casos das refinarias do Maranho e do Cear, e pelo agrado a Hugo Chvez, transformado em cone do superfaturamento na Abreu e Lima.

    Assim, ao longo do Governo Dilma Rousseff, a degradao da Petrobras foi consolidada, com tolerncia ao esquema de corrupo, impunidade aos degradadores e continuidade de uma gesto incompetente sob todos os aspectos em que se pode avaliar uma direo corporativa.

    Aproximando-se do eplogo, a Petrobras hoje no consegue publicar um balano auditvel, e acumula fatores que colocam a empresa em risco de insolvncia ao mudar as condies iniciais de contratos de bonds e disparar clusulas de covenants que do direito ao detentor do ttulo de solicitar pagamento antecipado da dvida.

    Por isso, as agncias de rating, em sequncia, iniciaram um processo de rebaixamento do rating para nvel especulativo. Sabemos que tudo termina com a Unio se endividando para honrar os ttulos da estatal (o que j foi explicitado

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    pelo ministro da Fazenda). A presidente age da forma mais previsvel possvel: matando o mensageiro, ou melhor, responsabilizando as agncias por no entenderem as medidas que esto sendo tomadas pela empresa. Que medidas, presidente? Mudar a direo da Petrobras colocando l um companheiro para dar prosseguimento gesto anterior de passar panos midos nos rastros deixados pela corrupo e pela incompetncia?

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    7. SETOR ELTRICO

    Populismo tarifrio espanta investimentos

    A Medida Provisria (MP) n 579/2012, convertida na Lei n 12.783/2013, atrelou a renovao das concesses a uma reduo drstica das tarifas. Como resultado, a lei provocou uma queda abrupta da receita e um desequilbrio no caixa das empresas que aderiram renovao, como o caso da Eletrobrs. Algumas consequncias nefastas j so amplamente conhecidas e outras ainda esto por vir. O grupo Eletrobrs, que teve 67% das suas concesses de gerao renovadas, amargou prejuzo de R$ 13,2 bilhes somente no binio 2012-2013. Em 2014 (at o terceiro trimestre), a Eletrobrs teve prejuzo de R$ 1,857 bilho. Tal fato se refletiu na queda superior a 50% no seu valor de mercado entre o anncio da MP at dezembro de 2014. A desestruturao econmica do setor nos ltimos dois anos pode atrair investidores abutres, afastando os bons, e comprometer o plano de investimento das empresas existentes.

    Como o nico objetivo do governo Dilma a modicidade tarifria, sem se importar com a segurana do abastecimento ou a qualidade do servio, o governo vem promovendo leiles de energia cujos preos-teto so pouco atrativos e insuficientes para viabilizar os empreendimentos. Por conta disso, os resultados dos certames vm sendo frustrantes.

    Em decorrncia da falta de chuvas, da permanncia das baixas vazes hidrolgicas e o consequente acionamento das termoeltricas, durante boa parte de 2014 o Preo de Liquidao das Diferenas (PLD), que determina o valor da comercializao da energia no mercado livre, atingiu o mximo estabelecido pela Aneel para 2014, R$ 822,83/MWh, ampliando os riscos financeiros do setor eltrico e comprometendo a solvncia do mercado.

    Distoro de preos nunca vista

    A implantao da Lei n 12.783/2013, que, por meio da renovao das concesses do setor, buscou reduzir as tarifas, disparou sinalizao equivocada ao consumidor de que havia sobra de energia no sistema. Mas os tempos eram de escassez. Desde outubro de 2012, a falta de chuvas deixou o nvel dos reservatrios abaixo do recomendvel, exigindo o despacho constante das

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    termoeltricas para assegurar o fornecimento de energia. Consequentemente o custo se elevou, gerando dificuldades financeiras adicionais para geradoras e distribuidoras.

    Somente em 2015 h um dficit de R$ 35 bilhes, que se reverter em reajustes de at 70% para o consumidor ou ser compensado, pelo menos em parte, por recursos do Tesouro. H a expectativa de que o aporte do Tesouro na CDE seja de R$ 9 bilhes, o que reduziria o reajuste para o consumidor para 29%. O impacto financeiro nas tarifas estimado para 2015 fruto de aes realizadas em 2014, por conta da elevao dos custos de gerao de energia eltrica, consistindo: no primeiro ano de pagamento dos emprstimos de recursos concedidos aos agentes do setor, por meio de aportes do Tesouro e da Conta-ACR (R$ 11,1 bilhes); aumento dos custos no gerenciveis das tarifas (R$ 3 bilhes); os custos dos geradores com a aquisio de energia no mercado de curto prazo para suprir seus contratos, em 2014, somados tarifa de repasse de Itaipu (R$ 18 bilhes); e a estimativa de dficit de R$ 2 bilhes da Conta de Desenvolvimento Energtico (CDE) em 2014. H ainda o impacto do incio da vigncia do Sistema de Bandeiras Tarifrias (R$ 6,0 bilhes), que repassaro mensalmente ao consumidor final o custo extra das distribuidoras com o uso de termoeltricas. O nico alvio estimado para a conta deriva da energia proveniente da renovao das concesses, que entraro na oferta a preos menores.

    Impactos financeiros do setor eltrico em 2015

    Fonte: CBIE

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    Custos para o Tesouro, para os empresrios e para a populao: uma rara lio de como no fazer polticas pblicas

    A necessidade dos subsdios ao setor teve incio com a MP n 579/2012, que, somada com o contexto das adversidades climticas, ampliou as dificuldades. Nota-se que as medidas imediatistas e populistas adotadas pelo governo a partir de 2013 em prol da modicidade tarifria ampliaram os custos do setor. Por isso, estima-se que entre 2013 e 2015 as perdas com subsdios/custos ao setor de energia eltrica totalizaro R$ 114,4 bilhes.

    As perdas do setor eltrico foram imensas. Em 2013, foram de R$ 20 bilhes, mas para 2014, as perdas estimadas superam R$ 50 bilhes. Entre despacho das usinas trmicas, bandeiras tarifrias, indenizaes aos proprietrios de geradoras, o ano de 2015 deve implicar em equacionar R$ 39,5 bilhes, recursos que sero pagos pelo consumidor e pelo contribuinte.

    Total dos Subsdios/Custos do Setor Eltrico

    Fonte: CBIE

    Notas: * Aporte anual do Tesouro para manter reduo de tarifas de 20%, pois a conta de renovao no fechou.

    ** Custo incorrido pelos geradores entre janeiro e setembro de 2014.

    *** Indenizaes pendentes de RBSE e melhorias na gerao que podem vir via tarifa ou aporte tesouro.

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    8. LOGSTICA E TRANSPORTES

    H mais de uma dcada o tema da logstica frequenta a agenda de prioridades de qualquer programa de governo. O PAC foi a resposta governamental, enfileirando projetos desde o segundo governo Lula. Sempre numa tica ultrapassada de Estado, os governos Lula e Dilma julgaram que poderiam despejar dinheiro pblico em projetos sem planejamento e com condies de execuo e viabilidade econmico-financeira altamente discutveis.

    O resultado devastador. Em 2010 o ndice de desempenho logstico do Banco Mundial apontava o Brasil numa desprestigiosa 41. colocao entre quase duas centenas de pases. Mas, em 2014, o Brasil conseguia cair muito mais, chegando 64. posio. Para um pas de dimenses continentais, que vem se especializando em commodities para o mercado internacional, trata-se de resultado lamentvel.

    Num ambiente de descrena, o governo Dilma lanou o Programa de Investimentos em Logstica (PIL), com a previso de inverses de R$ 240 bilhes. Seria uma viso articulada dos investimentos nos vrios modais, de modo a garantir o incremento de eficincia s condies da logstica de transportes no Brasil. Infelizmente, um dos primeiros movimentos do PIL foi recolocar a triste iniciativa do trem-bala em posio de destaque na agenda de investimentos. Falta, sobretudo, compreenso acerca da forma como parcerias entre o Estado e o setor privado poderiam ser realizadas.

    Portos e ferrovias: muita discusso e nada de fatos concretos

    No setor porturio, muita discusso e poucas luzes com a nova legislao. A MP 595, de 06/12/2012, foi publicada como salvao do setor, revogando a Lei dos Portos de 1993 e o Decreto 6.620 (de 29/10/2008) e promovendo maior centralizao de decises em Braslia.

    Os resultados foram pfios. Os 159 arrendamentos que seriam licitados tiveram ndice de realizao zero. Apenas ao final do ano de 2014, comearam a ser autorizados os terminais privativos, mas a grande maioria dos processos foi realizada antes da edio da MP 595/2012, o que mostra que a nova legislao no era crucial. Quanto aos investimentos de cerca de R$ 55 bi prometidos, muito pouco foi efetivado.

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    O governo mantm planos ambiciosos para o setor ferrovirio. Na segunda etapa do PAC, esto previstos investimentos da ordem de R$ 43,9 bilhes entre 2011 e 2014, para a expanso da malha em mais de 4,5 mil km e para a construo de linhas de bitola larga. Dentre elas, a extenso da Ferronorte e da Ferrovia Norte-Sul, a concluso da Transnordestina, o Ferroanel de So Paulo e a Ferroeste. No entanto, apenas 1.088 km foram completados, segundo o balano de final de governo do PAC 2.

    O fato que o governo no conseguiu fazer as negociaes nos trechos sob concesso e no logrou mais do que obras problemticas (como a Transnordestina) ou que demoraro muito para ter viabilidade econmica (Norte-sul).

    Aeroportos e rodovias: refns da incapacidade de planejar e executar

    O transporte rodovirio no experimentou situao diferente. Enredado em preconceitos ideolgicos, o programa de concesses patinou e o usurio foi o mais prejudicado. Os indicadores de qualidade da malha rodoviria brasileira, segundo a Pesquisa CNT de Rodovias, pioraram nos ltimos anos. O baixo investimento provocou a deteriorao das condies de segurana e aumento do nmero de pontos crticos, de 219 em 2011, para 289 em 2014.

    Nos ltimos 10 anos, enquanto o nmero de veculos em circulao cresceu 122%, a extenso das rodovias pavimentadas aumentou apenas 13,8%. Focalizando apenas o mandato Dilma, entre 2010 e 2014, o nmero de quilmetros pavimentados avanou apenas 5,6%, segundo a pesquisa da CNT.

    O caso dos aeroportos emblemtico. Premido pela proximidade da Copa, o governo abandonou as questinculas internas e promoveu duas rodadas de concesses, com resultados minimamente satisfatrios. A compulso propagandstica desaguou na promessa de construo de 800 aeroportos regionais, mas nenhum decolou.

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    9. GESTO PBLICA

    As aes do governo Dilma em gesto pblica tiveram a marca do descalabro

    necessrio destacar a continuidade do inchao da mquina pblica e a transformao da estrutura do Estado em presa do fisiologismo e da poltica rasteira do compadrio. O prprio patrimonialismo que tantos cientistas sociais diagnosticaram como elemento perverso e constitutivo da formao do Estado brasileiro foi levado a um novo patamar, assumindo novos perfis e demolindo as condies para a execuo de polticas sociais.

    Um breve olhar sobre a expanso do nmero de servidores j d pista do descalabro. O nmero de funcionrios pblicos federais ativos j tinha avanado de 810 para 973 mil, entre 2002 e 2010, mas cresceu mais 8,8% nos quatro anos seguintes, chegando a 1.059 mil.

    Nas funes gratificadas e cargos de confiana o disparate ainda maior. Em 2002, funes e cargos ocupados somavam 68.931. Em 2014, este quantitativo subiu para 99.234. Isso significa uma evoluo de 44%. S no governo Dilma, o avano foi de 15,3% sobre o final do governo Lula.

    QUANTITATIVO DE CARGOS EM COMISSO E FUNES GRATIFICADAS OCUPADOS DO PODER EXECUTIVO FEDERAL (*)

    FONTE: Boletim Estatstico de Pessoal/MPOG, n 176, Dezembro de 2010 e Boletim Estatstico de Pessoal e de Informaes Organizacionais/MPOG, n 223, Novembro de 2014.

    (*) inclui Administrao Direta, Autrquica e Fundacional de Direito Pblico, excludas as empresas estatais.

    2002 2006 2010 2014Variao de 2010 a

    2014

    Variao de 2002 a

    2014NES 76 50 82 96 17,1% 26,3%DAS 18.374 19.797 21.870 22.993 5,1% 25,1%OUTROS CARGOS EM COMISSO 1.674 2.081 2.628 3.098 17,9% 85,1%FUNO COMISSIONADA 4.838 5.973 6.627 7.301 10,2% 50,9%FUNO GRATIFICADA 18.916 17.137 17.706 17.428 -1,6% -7,9%GRATIFICAO REPRESENTAO 4.398 5.856 6.449 5.473 -15,1% 24,4%SUBTOTAL 48.276 50.894 55.362 56.389 1,9% 16,8%CARGOS DE DIREO - IFES 3.087 3.592 6.170 7.930 28,5% 156,9%FUNO COMISSIONADA - IFES - - - 8.613FUNO GRATIFICADA - IFES 17.568 18.610 24.554 26.302 7,1% 49,7%SUBTOTAL - IFES 20.655 22.202 30.724 42.845 39,5% 107,4%TOTAL 68.931 73.096 86.086 99.234 15,3% 44,0%

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    A omisso na gesto pblica do governo Dilma foi profunda

    Temas cruciais para a organizao da gesto pblica foram esquecidos, pela ausncia de projeto de Estado e pela incapacidade de negociao poltica. Infelizmente, o caso das agncias emblemtico. No incio o governo petista tentou destru-las, depois viu nelas uma boa chance para acomodar companheiros e apaniguados. Para o PT, difcil entender o poder e a importncia dos rgos de regulao para o futuro do pas.

    No governo Dilma, a Agncia Nacional do Petrleo sequer sabia o que acontecia na principal empresa do pas no setor. Ao mesmo tempo, a Agncia Nacional de Energia Eltrica viu, subjugada pelo poder do Planalto, uma das maiores aberraes regulatrias a exigncia de reduo de preos para renovao de concesses ser promovida pela diretiva populista da reduo forada e artificial dos preos de energia, sem base na realidade do pas.

    Mas ao final de seu primeiro mandato, a presidente Dilma conseguiu ir ao paroxismo do loteamento poltico, sem nenhuma salvaguarda da competncia tcnica: a Agncia Nacional de Vigilncia Sanitria no contava com nenhum profissional de sade em seu colegiado diretivo.

    PAC: o velho estilo de Estado dotado de um novo grau de incompetncia

    O Estado teve importncia decisiva no desenvolvimento brasileiro do sculo passado, criando mercados e construindo a base produtiva, a infraestrutura e a institucionalidade.

    O governo Lula, auxiliado por sua escudeira Dilma, props, em 2007, um plano para acelerar o crescimento medocre de seu primeiro governo. Mas o que era para ser um plano de crescimento transfigurou-se rapidamente num monstro caracterizado pela priorizao de aes por critrio fisiolgico, pela ao miditica e pelo completo desrespeito aos critrios tcnicos.

    Os nmeros inchados com o crdito habitacional deram ao setor imobilirio participao de 56% no total investido. Mas nos transportes, onde est o nosso maior gargalo, apenas 8,4% foram executados.

    A lista de pleitos assumiu o lugar do planejamento integrado. O investimento pblico a fundo perdido perdeu o foco da operao coordenada e

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    com avaliao do retorno econmico-financeiro. Mas um estilo de Estado dos anos 50 no poderia dar resposta aos problemas do sculo 21.

    O Minha Casa Minha Vida precisa de aperfeioamentos. preciso haver uma avaliao dos efeitos do programa sobre o dficit habitacional e sobre o bem-estar das famlias beneficiadas. Para arcar com custos elevados da aquisio de terrenos, as incorporadoras muitas vezes constroem projetos distantes das zonas urbanas, longe de escolas e postos de sade, afastados do mercado de trabalho, sem infraestrutura de mobilidade urbana, de saneamento, etc. Assim, algumas famlias beneficiadas tendem a alugar o imvel recebido, voltando para loteamentos informais e favelas. Nada disso contemplado no desenho do programa.

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    10. POLTICAS SOCIAIS

    Avanos sociais no podem parar e nem ser propriedade de um partido

    Os avanos das polticas sociais implementadas no Brasil desde a Constituio de 88 fizeram o pas mudar para melhor. Hoje o Brasil menos desigual e os ndices de pobreza so menores que os registrados nos anos 80. Na poca uma nefasta combinao de elevadssimos patamares inflacionrios e baixssimo crescimento do PIB aprofundou os problemas sociais e ampliou a desigualdade.

    O Brasil avanou socialmente e isso no foi a conquista de um governo nem de um partido; foi um ganho civilizatrio de nosso pas. A Constituio Cidad de 1988 iniciou ampla reviso das polticas sociais. Os programas institudos nos anos 90, com destaque para os programas de transferncia de renda com condicionalidades que tomaram conta do pas por meio de inciativas estaduais e municipais at tornarem-se federais, durante o governo FHC marcaram o surgimento de um novo paradigma de polticas sociais.

    Os sucessivos governos do PT mantiveram e ampliaram os programas de transferncia de renda mas perderam de vista a ideia de desenvolvimento social. Prova disto que deixaram de lado um dos principais avanos em termos de forma de adoo das polticas pblicas em seu conjunto: com uma viso mope sobre a pobreza, o governo do PT teve como um de seus primeiros atos a extino do Projeto Alvorada, programa institudo durante o governo FHC que buscava a superao da pobreza a partir de uma ao multissetorial, focalizando localidades de grande vulnerabilidade.

    Contrariando suas posies anteriores, o governo do PT abandonou a viso de que no adianta apenas dar dinheiro s famlias, e esqueceu-se do imperativo de que todos os membros da famlia devem estar inseridos em programas que supram as necessidades individuais de cada um deles.

    Quem fez mais pela queda de desigualdade no Brasil: o PT ou o PSDB?

    Sabe-se que o tema complexo, e que os fatores que afetam a desigualdade de renda so muito variados para termos uma discusso simplista sobre esse assunto. Contudo, preciso colocar em perspectiva a queda de desigualdade durante o perodo Lula, e desfazer impresses sobre o perodo

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    FHC. Mesmo passadas as eleies, precisamos trabalhar na recuperao da verdade histrica, conhecendo primeiro os dados.

    Pode-se comparar a variao do ndice de Gini no Brasil com uma amostra de pases da Amrica Latina, com dados do Banco Mundial para o perodo 1994-2010.

    Durante o perodo FHC a desigualdade caiu 0,23 ponto no primeiro mandato e 0,99 no segundo, ou seja, o Gini caiu de 59,85 para 58,82 em oito anos. J no perodo Lula, o Gini caiu 2,69 no primeiro governo e 2,45 no segundo governo, chegando a 53,48 em 2010.

    Ocorre que a desigualdade mdia nos 15 pases latino-americanos para os quais o Banco Mundial tem os dados durante o perodo subiu bastante entre 1994 e 2002: 2,77 pontos. Logo, FHC conseguiu reduzir a desigualdade no Brasil quando a Amrica Latina enfrentava o recrudescimento das injustias sociais. Queda da inflao, abertura comercial, universalizao do ensino fundamental, Bolsa Escola concorrem para a explicao desse resultado.

    J o desempenho relativo de Lula foi, ao contrrio do que a sensao de prosperidade do povo parece indicar e o marketing poltico do PT tenta comprovar, apenas mediano. Enquanto a desigualdade brasileira caiu 5,14 pontos (cinco vezes mais do que no perodo FHC), a desigualdade mdia de nossos 15 vizinhos caiu bem mais: 5,41 pontos. Ou seja, o desempenho de Lula esteve abaixo da mdia latino-americana.

    Outra forma de ver o mesmo fenmeno imaginar uma corrida de revezamento. A desigualdade brasileira era a pior da Amrica Latina em 1994. Ao fim do primeiro mandato de FHC, continuvamos em ltimo, e ultrapassamos dois pases ao fim do segundo mandato. No primeiro mandato de Lula, ultrapassamos mais um, mas no ltimo mandato fomos ultrapassados por dois pases de forma que Lula terminou o governo em uma posio abaixo daquela em que FHC terminou.

    O que explica o desempenho espetacular da Amrica Latina no perodo Lula um conjunto de fatores, como programas de renda mnima de molde liberal e uma alta dos preos de commodities sem precedentes. Esse ltimo fator reduz a desigualdade de renda na medida em que altera os termos de troca na direo de atividades que empregam a base da pirmide de distribuio de renda.

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    Quatro anos de (um pouco) mais do mesmo em polticas sociais

    Nos quatro anos do governo Dilma houve uma proliferao de programas e aes vinculadas ao programa Bolsa Famlia, a maioria apenas com intuito propagandstico.

    Quando o governo do PT assumiu em 2003, excetuando-se os beneficirios da LOAS (Lei Orgnica da Assistncia Social) j recebiam algum benefcio de transferncia renda mais de 6 milhes de famlias. Entre 2003 e 2010 foram acrescidas mais 7 milhes, ou seja, uma mdia de 3,5 milhes para cada quatro anos.

    Dados do prprio Ministrio do Desenvolvimento Social indicam que, em 2011, j recebiam o Bolsa Famlia 13 milhes de famlias e que esse nmero saltou para pouco mais de 14 milhes ao final do primeiro mandato de Dilma. Ou seja, em quatro anos o aumento do nmero de beneficirios foi pfio, o menor nmero observado desde a criao dos programas de transferncia de renda no pas.

    O contingente de novos brasileiros beneficiados durante o governo Dilma de cerca de 4 milhes de pessoas, muito longe do que a Presidente costuma afirmar que, 22 milhes de pessoas saram da extrema pobreza em meu governo. O discurso oficial, no entanto, no retrata a verdade. Esse nmero corresponde ao total de beneficirios do programa Bolsa Famlia, que no necessariamente so aquelas que se encontravam na extrema pobreza. Pela metodologia do governo e considerando os dados da PNAD 2013, o nmero de brasileiros extremamente pobres de 10,4 milhes.

    Faltou ao governo Dilma conceito e projeto de poltica social

    Mas a questo no se limita insuficincia numrica do Bolsa Famlia para cumprir os objetivos postos pelo governo Dilma. Faltou olhar o pas em toda a sua dimenso. No foram adotados programas que tivessem como prioridade os municpios mais pobres. As necessidades das famlias no foram vistas em sua integralidade. As famlias vivem em espaos territoriais no apenas dotados de potencial econmico, mas tambm de carncias que afetam o seu desenvolvimento e, por conseguinte, a qualidade de vida dessas famlias.

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    O caso mais emblemtico o do saneamento. O Brasil ocupa a 112 posio entre 200 pases pesquisados na questo do saneamento. Dados do Sistema Nacional de Informaes sobre Saneamento (SNIS) do Ministrio das Cidades indicam que 81% dos brasileiros tm acesso a gua tratada, mas apenas 46% tm coleta de esgoto. Destes, apenas 38% recebem algum tratamento.

    A consolidao dos programas de transferncia de renda e o futuro da poltica social apontam para a incorporao de uma abordagem multidimensional e que leve em conta os espaos geogrficos de concentrao da pobreza. A simples renda transferida no resolver as graves deficincias nas reas de educao, sade, saneamento e segurana pblica, por exemplo.

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    11. SADE

    Os governos petistas jogaram fora os avanos da sade

    Duas caractersticas marcaram a sade pblica no Brasil at 2002: a gesto compartilhada entre a Unio, estados e municpios e o dilogo franco entre as esferas de governo com foco no processo de implantao do SUS.

    Com o advento do governo do PT e, mais gravemente, nos anos do governo Dilma, estas caractersticas saram de cena. Todas as decises do governo federal no campo da sade esquecem o SUS e o foco passou a ser o possvel impacto na mdia. No h mais poltica de sade e sim uma poltica de comunicao.

    A estratgia altamente exitosa no governo FHC de implantao do Programa de Sade da Famlia perdeu importncia no governo Lula, o que se aprofundou no governo Dilma. Seja em nmero de equipes implantadas, seja em incentivos montagem de equipes pelos municpios, mas principalmente na desarticulao entre os distintos nveis de ateno sade, o governo Dilma preferiu o imediatismo miditico, penalizando a estruturao do sistema.

    Remendos vindos do alto comando petista

    Os primeiros remendos ao sistema foram o destaque dado, j nas promessas eleitorais de 2010, implantao das Unidades de Pronto Atendimento (UPAs), que at podem auxiliar os sistemas a dar respostas mais rpidas, mas jamais poderiam ser tratadas como equipamentos isolados. A maior parte das 500 UPAs prometidas no foram implantadas: segundo balano do PAC 2, somente 39 unidades foram finalizadas at outubro de 2014. H muitas obras paralisadas ou em ritmo lento de execuo. As prefeituras no possuem recursos para sua manuteno e a participao do Ministrio da Sade no seu financiamento pequena.

    Outra estratgia miditica foi o Mais Mdicos. Ao invs de buscar a formao de mdicos e sua capacitao na ateno bsica, o governo Dilma optou pelo remendo: a importao de mdicos cubanos como se fossem mercadoria, sem nenhum direito trabalhista. Verdadeiros cidados de segunda classe.

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    O governo Dilma construindo a crise hospitalar

    No campo da gesto do atendimento hospitalar e ambulatorial, com a recusa do ministrio em reajustar de forma adequada a tabela de procedimentos dos SUS, contratada junto rede hospitalar privada e filantrpica, provocou-se uma crise na rede hospitalar, que proporcional a ocorrida no incio dos anos 1990, quando se iniciava a implantao do SUS.

    A postura governamental produziu enorme desmotivao da rede hospitalar privada. Sem remunerao adequada, diversas instituies fecharam suas