A VERDADE Newsletter de informação
Nº 3 Janeiro / 2008
Editorial: Crise? Qual crise?
Imagine que tinha conseguido um emprego em que lhepagavam um salário de 300 000,00 € por ano, lhe atribuíam umpotente BMW 530D com motorista para passear, e o Estado aindalhe concedia crédito bonificado para comprar casa!
Era caso para perguntar: Crise? Qual crise?
Perguntará o leitor onde é que existem empregos desses.
Pois a verdade é que esses empregos existem mesmo. Aqui emPortugal!
Enquanto a maioria aperta o cinto, um pequeno grupo deprivilegiados consegue levar uma autêntica vida de nababo!
Este número d’A VERDADE vailhe revelar quem são, o que fazem,e quem paga os salários destes portugueses
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Pagos a peso de ouro!
O Banco de Portugal
Fig. 1 Filial do Banco de Portugal na Praça da Liberdade, no Porto.
História e funções
O Banco de Portugal é o bancocentral da República Portuguesa. Foi fundadoem 19 de Novembro de 1846, em Lisboa,onde é a sua sede. Surgiu da fusão do Bancode Lisboa e da Companhia ConfiançaNacional. Fundado com o estatuto desociedade anónima, até à sua nacionalização,em 1974, era maioritariamente privado.
Foi o banco emissor de notasdenominadas na moeda nacional o real até1911, o escudo de 1911 até 1998 e o eurodesde 1999. Integra o Sistema Europeu deBancos Centrais que foi fundado em Junhode 1998.
De acordo com a sua Lei Orgânica, oBanco de Portugal prossegue os objectivos eparticipa no desempenho das atribuiçõescometidas ao SEBC.
Compete ao Banco a supervisãoprudencial das instituições de crédito e dassociedades financeiras.
O Banco emite notas de euro e põeem circulação as moedas metálicas, embora oBCE detenha o direito exclusivo de autorizara sua emissão.
Competelhe ainda regular, fiscalizare promover o bom funcionamento dossistemas de pagamentos, gerir asdisponibilidades externas do País e agir comointermediário das relações monetáriasinternacionais do Estado, bem comoaconselhar o Governo nos domínioseconómico e financeiro.
Cabe ao Banco a recolha e elaboraçãodas estatísticas monetárias, financeiras,cambiais e da balança de pagamentos.
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Administração
O actual Governador é VítorConstâncio, os ViceGovernadores são Joséde Matos e Pedro Duarte Neves, sãoadministradores José Silveira Godinho,Manuel Sebastião e Vítor Pessoa.
O Governador
Fig. 2 Vítor Constâncio, Governadordo Banco de Portugal
Vítor Manuel Ribeiro Constâncio(Lisboa, 12 de Outubro de 1943) é umpolítico e economista português.
Foi secretáriogeral do PartidoSocialista de 1986 a 1989. Foi candidatoderrotado a primeiroministro.
Foi governador do Banco dePortugal, entre 1985 e 1986, tendo sidodepois renomeado para as mesma funções emFevereiro de 2000.
Vítor Constâncio é licenciado emEconomia pelo Instituto Superior de CiênciasEconómicas e Financeiras de Lisboa.
Foi secretário de Estado doPlaneamento nos dois primeiros GovernosProvisórios, entre 1974 e 1975. Foi aindaSecretário de Estado do Orçamento e doPlano no VI Governo Provisório em 1976.Em 1976, foi eleito deputado à Assembleiada República, tendo sido também eleito em1980 e 1987. Em 1977, subiu à presidênciada Comissão para a Integração Europeia,cargo que voltaria a ocupar em 1979. MárioSoares fez dele seu ministro das Finanças edo Plano, no II Governo Constitucional em1978.
No Banco de Portugal, foi director deEstatística e Estudos Económicos em 1975.Em 1977, é vicegovernador, cargo queocupou também em 1979, e de 1981 a 1984.
Entre 1995 e 2000, trabalhou nosector privado, como administrador doBanco Português de Investimento e daElectricidade de Portugal (actual EDP).
Academicamente, ficou célebre pornunca ter terminado o doutoramento quecomeçou, mas chegou a professorcatedrático convidado do Instituto Superiorde Economia e Gestão em 1989. (Afinal nãoé só o Sócrates!)
Quanto ganham os membros do Conselho de Administração
O conselho de administração do Banco de Portugal custa mais de 1,5 milhões de euros porano. Administradores acumulam pensões do Banco de Portugal.
Apenas cinco nomes, onde se inclui o do próprio Constâncio, conseguem arrecadar 1,532milhões de euros em salários durante um ano de trabalho no Banco de Portugal (BdP).
Traduzindo em escudos, tratase de qualquer coisa acima de 305 mil contos por cada anocivil. Tudo permitido por lei. Vítor Constâncio lidera um dos conselhos de administração mais bempagos do país.
Da próxima vez que Vítor Constâncio à saída de qualquer encontro, com qualquerPresidente da República, invocar os conhecidos "chavões" de contenção salarial e reformaestrutural das negociações salariais, haja algum repórter que lhe lance na cara estes números.
Acresce ainda que todos têm direito a carro de alta cilindrada e a motorista próprio.Sempre que foi instado a revelar os valores exactos auferidos o Governo remeteuse ao
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silêncio quanto aos faraónicos vencimentos e reformas do conselho de administração do Bancode Portugal.
O Banco de Portugal remete para o Ministério das Finanças. Do Ministério das Finanças,a resposta é que é o próprio Banco de Portugal quem deve esclarecer a questão. Ambos, emseparado, limitamse a remeter para a lei que criou a comissão de fixação de vencimentos. Não épossível, sequer, saber quem são, em concreto, os actuais membros dessa comissão.
Escusas, no seu conjunto, como se esta fosse uma matéria reservada ao segredo dos deuses,que só adensam os motivos de preocupação e agravam o escândalo relativo às mordomias de quebeneficiam o governador do Banco de Portugal e seus pares com assento na administração.
Em comparação, nos EUA, o salário do presidente da Reserva Federal é público e estádisponível no ‘site’ da instituição, ao alcance de qualquer internauta. Basta um clique emhttp://www.federalreserve.gov/generalinfo/faq/faqbog.htm. Em Portugal, os vencimentos dosdirigentes do Banco de Portugal não são públicos. Por essa razão, há mesmo abusos escandalosose uma total falta de transparência.
Vítor Constâncio ganhou mais de 280mil euros só em 2006!
Os rendimentos do trabalhodependente de Vítor Constâncio totalizaramos 280 889,91 euros em 2005. Neste ano, sóem aplicações financeiras e contasbancárias, o governador do Banco dePortugal declarou um montante global de570 454,00 euros.
Estes são alguns dos números que sepodem retirar da declaração que ogovernador do banco central entregou noTribunal Constitucional (TC), relativas aosanos de 2005 e 2004.
Vítor Constâncio é ainda titular,nalguns casos a meias com a sua mulher, deuma habitação em Oeiras, 25% de um outroapartamento e de quatro prédios urbanosna zona de Estremoz.
Em comparação com 2004, a situaçãoeconómica do governador não se alterousignificativamente: ganhou nessa altura272 628,08 euros, não tendo modificado acarteira patrimonial ao nível imobiliário.
As instituições financeiras nas quaisVítor Constâncio mais confia são o BancoPortuguês de Investimento, a Caixa Geralde Depósitos e o Banco Espírito Santo.
Aparente adepto de não pôr todos osovos no mesmo cesto, Constâncio colocouno BPI a fatia maior das suas poupanças:192 180,00 euros num fundo deinvestimento; 50 256,00 euros num planopoupançareforma (PPR); 204 454,00 eurosnuma aplicação de capitalização; 16 664,00euros numa carteira de títulos e ainda
65 810,00 euros em produtos derivados debolsa.
Na CGD, o governador do Banco dePortugal tem um depósito a prazo de119 222,00 euros e 86 680,90 euros numfundo de investimento.
O BES é responsável pela gestão deum outro fundo de investimento maismodesto, no valor de 21 868,00 euros.
O rendimento anual do governador doBdP aumentou em 2006, ascendendo nesteano a um valor de 282 191,00 euros, umacréscimo de 0,46 por cento face aos280 889,91 euros ganhos em 2005.
A consulta da declaração derendimentos entregue por Vítor Constânciono Tribunal Constitucional revela que ogovernador do BdP contava também, emconjunto com a mulher, em 30 de Junhodeste ano, com uma avultada carteira deactivos financeiros: 209 637 euros emaplicações de capitalização; 198 239 eurosem fundos de investimento; 114 438 eurosem depósitos a prazo; 60 775 euros numacarteira de derivados; 50 690 euros emplanos de poupança, entre outros. Porcomparação, em 2005, os fundos deinvestimento ascendiam a 192 180 euros.
A fazer fé na declaração de 2005,Vítor Constâncio não tem dívidas, tendoliquidado no ano anterior o remanescente deum crédito imobiliário.
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José Agostinho Martins de Matos
A consulta das declarações derendimentos de 2005 permitiu ainda concluirque o vicegovernador, José AgostinhoMartins de Matos ganhou 244 536,00 euros.
Do ponto de vista de aplicaçõesfinanceiras, Martins de Matos tinhainvestidos mais de 142 000,00 euros, no finalde 2005,
Pedro Duarte Neves
Já Pedro Duarte Neves, que foinomeado vicegovernador em 2006, ganha254 586,00 euros.
Pedro Duarte Neves que foipresidente da Anacom entre Setembro de2004 e Junho de 2006, tem mais de331 000,00 euros em aplicações financeiras.
José Silveira Godinho
O recordista dos rendimentos brutosdo trabalho dependente no Banco dePortugal é um dos administradores: JoséSilveira Godinho.Entre os restantes três administradoresverificase que José Silveira Godinho é o quetem mais dinheiro investido. Tem perto de1 200 000,00 euros distribuídos por váriosbancos em depósitos, aplicações financeiras,seguros e aplicações de capitalização. Numaempresa de gestão de activos, oadministrador tem ainda um património totalsuperior a 80 000,00 euros dos quais umafatia está investida em “Football PlayersSporting”.
Este exmembro do conselho deadministração do então Banco Espírito Santoe Comercial de Lisboa (BESCL) foi, noentanto, o que menos ganhou do ponto devista salarial, tendo auferido apenas224 634,00 euros em 2005.
Convém referir que José SilveiraGodinho, antigo ministro da AdministraçãoInterna dos governos de Cavaco Silvareformouse do Banco de Portugal nacategoria profissional de director e acumulao seu salário com uma pensão anual de139 550,00 euros como reformado do Banco
de Portugal.A soma dos dois dá 364 184,00
euros!Sem dívidas ao banco está igualmente
Silveira Godinho.
Manuel Sousa Sebastião
Com um rendimento declarado de226 081,00 euros, Manuel Sousa Sebastiãochegou a investir mais de 386 000,00 eurosnesse ano.
Manuel Sebastião pediu umempréstimo ao BPI, mas este administradorapenas declara a situação líquida, pelo que AVERDADE não contabilizou o dinheiro emfalta.
Vítor Manuel Pessoa
Vítor Manuel Pessoa, apesar de tersido entre os seis responsáveis do bancocentral com menos rendimentos (225 240,00euros) e um dos com o menor volumede aplicações financeiras declaradas(218 225,00 euros), foi o que apresentou omais vasto património imobiliário eautomobilístico: com dez imóveis e seisviaturas.
Acrescentese a isto que Vítor Pessoatambém é reformado recebendo 30 101,00euros de pensão, que neste caso não é pagapelo fundo de pensões do Banco de Portugal,e que acumula com o ordenado.
O total é de 255 341,00 euros ano!
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Os complementos remunerativos
No pacote de regalias dos membros,do conselho de administração estáestabelecida, desde 1998, uma reformamilionária do Fundo de Pensões do Bancode Portugal, estabelecida num regimeespecial: o chamado Plano III.
Só para quem ainda não recebepensão e consiga terminar um mandato decinco anos. Geralmente, os administradoresfazem mais um ano para aprovar as contas.
Os cargos de governador, vicegovernador e administrador do BdP são inamovíveis.E basta terminar um mandato para ter direitoà pensão.
Um dos ilustres e jovens reformadosdo Fundo de Pensões do Banco de Portugal,é o exministro das Finanças, LuísCampos e Cunha. que recebe uma pensãode 114 000,00 euros anuais.
O Presidente da República CavacoSilva também está reformado do Banco dePortugal por limite de idade e tem direito auma pensão de 2 679,00 euros.
Num momento em que acabaram osjuros bonificados para os pobres quepretendiam comprar casa, estes autênticosnababos do conselho de administração têmainda a possibilidade de contrair empréstimoscom taxas de juro mais baixas do que aspraticadas no mercado. Como o leitor vê, ataxa bonificada foi retirada aos pobres epassou a ser concedida aos ricos. É esta ajustiça social que o regime PS/PSD trouxepara a melhoria da vida (de alguns)portugueses.
Têm ainda o CA a possibilidade legalde determinar os aumentos dos escalões devencimento dos funcionários, bem como doscomplementos remunerativos: Basta ver agrelha dos administradores, que podemganhar, a título de complemento, mais de800 contos por mês.
As necessidades de contratação derecursos humanos e a escolha de consultoresdo Banco de Portugal são outros dos poderesdo conselho de administração.
Por exemplo, num momento em queas admissões na função pública estãocongeladas, os novos técnicos do Banco, sãocriteriosamente seleccionados.
Uma vez admitidos podem ser
promovidos e progredidos em cada semestreaté quatro vezes consecutivas. Não poracaso, a comissão de trabalhadores do Bancode Portugal detecta que cada vez que mudaum conselho de administração no BdP, entragente nova. Que fica e permanece além dosmandatos dos seus contratadores.
A mesma comissão reivindica há anosa criação de um regime de incompatibilidadesainda hoje inexistente.
É que grande parte dos homens quesão politicamente nomeados para o conselhode administração do Banco de Portugalpassam e regressam à banca privada e semperíodo de nojo. Sendo o banco central umaentidade de supervisão do sistema bancário,há quem sustente a pouca clareza nestastransferências de lugares.
De resto, o BdP é um conhecidoponto de passagem da classe políticaportuguesa. Cavaco Silva, Miguel Beleza,Bagão Félix, Tavares Moreira, entre muitosoutros nomes, passaram no Banco de Portugal.
Entre as medidas de austeridadeanunciadas pelo ministro das Finanças, LuísCampos e Cunha, nenhuma delas diziarespeito ao Banco de Portugal.
O banco é uma entidade autónoma.Menos naquele ponto em que uma "comissãode vencimentos", que integra o ministro dasFinanças ou um seu representante, define oshonorários do conselho de administração doBanco de Portugal.
Finalmente, em Março de 2004, umalei assinada por Manuela Ferreira Leitepermitiu a criação de uma "reserva especial"com as maisvalias do ouro transacionadopelo Banco de Portugal. Na prática, aalienação do ouro deixou de ser taxada. Eencontrase numa reserva de provisão.
Nunca nenhuma das perguntas que osjornalistas dirigiram ao BdP e a VítorConstâncio foi respondida concretamente.
Sempre que lhe colocam questõesembaraçosas, o portavoz do Banco limitasea apontar a legislação aplicável e a garantirque Vítor Constâncio não recebe nenhumapensão. (Coitadinho do Vítor Constâncio,digo eu!)
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Os pópós de alta cilindrada!
O seu carro é um chasso? Está a cair de podre? Precisava de comprar outro e não temdinheiro? Pois se é essa a sua situação, o mesmo não se passa com a administração do Bancode Portugal. Andam todos bem montados em pópós de luxo e ainda com um motorista paraos passear. E tudo isto sem despenderem um cêntimo! Quem paga é o contribuinte.
Com tanto cavalo debaixo do capot a queimar combustível, vêse bem que poupançae preocupações ecológicas não é com eles!
Fig. 3 Um potente BMW 530 D foi comprado para o Dr. Vítor Constâncio se pavonear.
O banco central, de resto, leva a sérioa qualidade de vida dos seus servidores. Sóno último ano e meio, o banco comprou, 26viaturas por 1,2 milhões de euros.
Toda a administração tem aindadireito a carros de alta cilindrada, novinhosem folha, e a motorista próprio.
As marcas e modelos, esses,provavelmente variam segundo os refinadosgostos de cada, indo, do potente BMW 530D de Vítor Constâncio (no valor de 13.400contos) até ao não menos potente Saab
Sport Sedan 2.2 (no valor de 7400 contos),passando pelo Volvo V40 1.9 D, no valor de7363 contos, todos eles atribuídos a outrosadministradores.
E até o motorista pessoal deConstâncio teve direito a um Peugeot 206. Éo único motorista do banco com direito aviatura própria.
E isto num país com 2 milhões depobres e onde se pedem sacrifícios a toda apopulação!
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Fig. 4 Outro dos carros comprados para a Administração do Banco de Portugal foi oluxuoso SAAB Sport Sedan 2.2
Fig. 5 Mais um pópó da Administração o VOLVO V40
Fig. 6 Esta administração é um forró completo: até o motorista pessoal do Dr.Constâncio teve direito a um Peugeot 206 para uso particular. É o únicomotorista do banco com direito a viatura própria.
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Os créditos
O tratamento de favor
Aos membros do conselho deadministração do Banco de Portugalconferida é, por outro lado, a possibilidadede contraírem empréstimos com taxas dejuro mais baixas do que as praticadas nomercado, sendolhes ainda dada aprerrogativa de poderem determinar osaumentos dos escalões de vencimentos dosfuncionários, bem como os complementosremunerativos.
Três administradores do Banco dePortugal (BdP) têm créditos desta entidadepública de supervisão bancária para a comprade habitação. José Agostinho Matos ePedro Duarte Neves, vicegovernadores,obtiveram, segundo o BdP, empréstimosquando eram directores do BdP, mas VictorManuel Pessoa, administrador do BdP,beneficiou de um crédito para compra desegunda habitação na qualidade de membrodo conselho de administração.
Na consulta das declarações derendimentos dos membros do conselho deadministração do BdP depositadas noTribunal Constitucional, desde 2001,constatase a existência de três empréstimosconcretos: estavam em dívida ao BdPcréditos de José Agostinho Matos, no valorde 72 775,00 euros; Pedro Duarte Neves, nomontante de 70 664,00 euros; e VictorManuel Pessoa, no valor de 43 670,00 euros.
O BdP diz que Agostinho Matos eDuarte Neves, funcionários do BdP desde1979 e 1994, obtiveram os créditos comoempregados, mas reconhece que ManuelPessoa conseguiu o empréstimo comoadministrador.
O Ministério das Finanças, cujoministro é presidente da comissão devencimentos do BdP, diz que “osempréstimos bancários para aquisição dehabitação e para aquisição de materialinformático concedidos pelo BdP são umaprerrogativa reconhecida aos trabalhadoresdo BdP”. E sublinha que “o artigo 40.º, n.º 1,b), da Lei Orgânica do BdP, mostra que osmembros do conselho de administração doBdP gozam dos benefícios sociais atribuídosaos próprios trabalhadores, nos termos que
venham a ser concretizados pela comissãode vencimentos”.
O Ministério das Finanças frisa aindaque “o BdP não é uma instituição de créditomas sim uma entidade pública, autoridademonetária e de supervisão financeira, peloque a proibição resultante do RGICSF[Regime Geral das Instituições de Crédito eSociedades Financeiras] de os bancosc o n c e d e r e m c r é d i t o a o s s e u sadministradores não se aplica ao BdP”.
Os responsáveis que têm créditos
JOSÉ AGOSTINHO MATOS(Vicegovernador)
Valor do crédito (Jun/2007): 72 775,00 €
Rendimento anual em 2006: 244 457,00 €
Agostinho de Matos é vicegovernador desde 2002. A declaração derendimentos desse ano dada ao TC referedívida ao BdP de 95 896 euros, dos quais 94806 euros para compra de casa e 361 eurospara equipamento informático. Em Junho de2007, a dívida estava em 72 775 euros. Em2002, o rendimento foi 164 mil euros e, em2006, de 244 mil.
PEDRO DUARTE NEVES(Vicegovernador)
Valor do crédito (Julho/2007): 70 664,00 €
Rendimento anual em 2006: 291 762,00 €
Duarte Neves é vicegovernadordesde Maio de 2006. A declaração derendimentos entregue no TC menciona umadívida ao BdP de 74 560 euros, com data de
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vencimento em Julho de 2021. A declaraçãode rendimentos entregue em Julho de 2007refere que a dívida desse crédito estava em70 664 euros. Em 2006, o rendimento anualrondou 292 mil euros.
VÍTOR MANUEL PESSOA( Administrador )
Valor do crédito (Jul/2007): 43 670,00 €
Rendimento anual em 2006: 225 216,00 €
Manuel Pessoa é administrador doBdP desde Fevereiro de 2000. A declaraçãode rendimentos entregue no TC referente a2001 menciona uma dívida de 81 208 euros.A declaração de recondução no cargo, demeados de 2007, diz que o valor do crédito
estava em 43 670,00 euros. Em 2001, orendimento anual foi de 209 000,00 euros e,em 2006, de 225 000,00.
Taxa de juro e montante máximo
A taxa de juro dos empréstimos àhabitação será igual a 65% da taxa mínima deproposta aplicável às operações principais derefinanciamento pelo Banco Central Europeu(BCE). O montante máximo é de 166 165,00euros.
O Acordo Colectivo de Trabalho doSector Bancário fixa as condições do créditoà habitação para empregados eadministradores do BdP
Foi a partir de 1998 que osadministradores do BdP também passaram ater acesso ao crédito à habitação queoriginalmente só podia ser concedido aosfuncionários do BdP
A comparação com o caso americano
Os políticos portugueses queixamse frequentemente de ser mal pagos em relação aosseus colegas do estrangeiro. Mas será verdade? Será que o Governador do Banco de Portugalestá mesmo mal pago?
Para responder a esta questão, recorramos ao exemplo da maior economia do mundo,e vejamos quanto ganha o presidente da Federal Reserve Board, que é o equivalente nosEstados Unidos da América ao nosso Banco de Portugal.
O Presidente
Fig. 7 Ben S. Bernancke, presidente do Federal Reserve Board
O presidente da Reserva FederalAmericana chamase Ben Shalom Bernanke,nasceu a 13 de Dezembro de 1953 emAugusta, na Georgia, e cresceu em Dillon, naCarolina do Sul. É o mais velho de três filhos,com uma irmã e um irmão mais novos. O seupai era farmacêutico e gerente teatral emparttime, e, a sua mãe era professora. Vejaaqui o seu curriculum:
• Terminou o ensino secundário em1972 e entrou para a Universidadede Harvard, onde se licenciou emEconomia no ano de 1975 com a notamáxima, Muito Bom com Distinção(summa cum laude).
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• Doutorouse em Economia em 1979no Massachusetts Institute ofTechnology. (Este senhor sim, émesmo doutorado!)
• O Dr. Bernanke Leccionou naUniversidade de Stanford naGraduate School of Business de 1979até 1985, primeiro como ProfessorAssistente da disciplina de Economia(197983) e posteriormente ProfessorAssociado da mesma disciplina(198385).
• Foi professor visitante doMassachusetts Inst itute ofTechnology (198990), mais uma vezda disciplina de Economia.
• Foi professor visitante da New YorkUniversity onde leccionou também adisciplina de Economia (1993).
• Foi professor da disciplina deEconomics and Public Affairs naPrinceton University desde 1985 até2002 . Chefiou t ambém oDepartamento de Economia damesma universidade desde 1996 atéSetembro 2002, quando ingressou noserviço público.
• Leccionou vários cursos na LondonSchool of Economics sobre teoria epolítica monetárias.
• O Dr. Bernanke publicou muitosartigos sobre uma variedade de temaseconómicos, incluindo políticamonetária e macroeconomia e é autorde vários manuais escolares,nomeadamente três livros de textosobre macroeconomia e um sobremicroeconomia.
• Em Julho de 2001, foi nomeadoeditor da American EconomicReview.
• Antes da sua nomeação paraPresidente da Reserva FederalAmericana, o Dr. Bernanke chefiavao Conselho de Peritos Económicos
do presidente desde Junho de 2005 aJaneiro de 2006.
• O Dr. Bernanke serviu também oSistema de Reserva Federal emvárias funções. Foi membro doConselho de Governadores doSistema de Reserva Federal de 2002a 2005; visitante académico dosBancos da Reserva Federal deFiladélfia (198789), Boston (198990), e Nova Iorque (199091, 199496); e membro do Painel ConsultivoAcadémico do Banco da ReservaFederal de Nova Iorque (19902002).
• O Dr. Bernanke exerceu também asfunções de Director do Programa deEconomia Monetária do GabineteNacional de Pesquisa Económica(NBER National Bureau ofEconomic Research) e como membrodo Comité de Calendarização dosCiclos Económicos do NBER.
• É sócio honorário do Guggenheim eda Sloan e é sócio da SociedadeEconométrica e da AcademiaAmericana de Artes e Ciências.
• O Dr. Ben S. Bernanke foi nomeadoem 1 de Fevereiro de 2006presidente da Reserva FederalAmericana. Acumula esse cargo como de Presidente do Comité Federal deMercado Aberto, a principal entidadede política monetária.
É autor, entre outras, das publicaçõesseguintes:
• Ben Bernanke (2005). Essays on theGreat Depression. PrincetonUniversity Press.
• Ben Bernanke, Thomas Laubach,Frederic Mishkin, and Adam Posen(2005). Inflation Targeting: Lessonsfrom the International Experience.Princeton University Press.
• Ben Bernanke and Alan Blinder(1992). "The Federal Funds Rateand the Channels of Monetary
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Transmission". Economic Review 82,no. 4: 901–921.
• Andrew B. Abel, Ben S. Bernanke(2001). "Macroeconomics". AddisonWesley.
• Ben S. Bernanke, Robert H. Frank(2007). "Principles of MacroEconomics". McGraw Hill.
• Ben S. Bernanke, Robert H. Frank(2007). "Principles of MicroEconomics". McGraw Hill.
IMPRESSIONANTE, NÃO?
Compareo agora com o curriculum doDr. Vítor Constâncio!
Quanto ganha o Dr. Bernanke?
Atendendo à diferença de curriculaentre o Dr. Bernanke e o Dr. VítorConstâncio, o primeiro pensamento queteríamos era que os americanos lhe teriam depagar uma fortuna para conseguir têlo comopresidente da Reserva Federal! Certamenteganharia um ordenado várias vezes superiorao do Presidente do Banco de Portugal!
Para esclarecer essa questão, fomosespreitar o site da Reserva Federal Americanae, surpresa das surpresas, os ordenados daAdministração são públicos!
É verdade meus amigos!Ao contrário dos nossos governantes
que ocultam quanto é que as sanguessugas àfrente do Banco de Portugal custam ao povoportuguês, os ordenados da administração daReserva Federal Americana estão lápublicados para toda a gente saber:
Salário anual do presidente: $186,600.
Salário anual dos restantes membros daadministração (incluindo o VicePresidente): $168,000.
Ou seja, expresso em euros:
Salário do Presidente: 126 938,80€
Salário do VicePresidente: 114 285,70 €
Ou seja, em termos nominais o Dr.Vítor Constâncio ganha duas vezes e meiamais que o presidente da Reserva FederalAmericana!
Veja os gráficos abaixo para ternoção completa da diferença de vencimentos:
Dr Constâncio Dr. Bernanke
Mas para avaliarmos a diferença realde vencimentos, é necessário comparar aparidade do poder de compra dos doissalários, ajustandoos ao nível de vida dopaís. Dividindo então os vencimentos dosdois presidentes pelo produto per capita dePortugal e dos USA que são respectivamentede 12 316,00€ e 28 515,00€, resulta umadiferença ainda mais abissal de vencimentos:
Dr Constâncio Dr. Bernanke
Ou seja, afinado pelo rendimentomédio do país, o salário do Dr. VítorConstâncio bate o do Dr. Bernanke por KO.Veja só:
• O Dr. Bernanke ganha 4,5 vezesmais que o americano médio.
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• O Dr. Vítor Constâncio ganha 23vezes mais que o português médio, e,5 vezes mais que o Dr. Bernanke!
Simplesmente ESCANDALOSO!
O presidente do Banco Central do
país mais pobre da União Europeia, ganhacinco vezes mais que o presidente do BancoCentral do país mais rico do mundo!
Só falta saber se o Dr. Bernanketambém tem um BMW 530D com motoristaparticular, mas a esse respeito o site daReserva Federal não esclarece.
Vencimentos de luxo no Banco de Portugal: Uma obscenidade!
Sendo dos funcionários públicos maisbem pagos do país, e tendo igualmente umacarreira sólida quer na política quer na gestãoprivada e pública, os seis administradores doBanco de Portugal fazem parte de um gruporestrito de pessoas, cujo património estáreservado apenas à elite económica.
Comparando as situações existemdiferenças significativas entre as práticas daReserva Federal Americana e do Banco dePortugal.
1ª Diferença: a TRANSPARÊNCIA
Na Reserva Federal Americana, ainformação relativa aos vencimentos doselementos da administração é pública.Qualquer pessoa em qualquer parte domundo pode aceder ao site e saber quantoganham os elementos da Administração.
Em Portugal essa informação éocultada. Mesmo quando é instado pelosjornalistas ou pelos deputados a esclarecerquanto ganham os elementos daAdministração do Banco de Portugal, oMinistro das Finanças recusase a revelar ovalor dos salários pagos. Essa ocultaçãonão é inocente. Há interesse da parte dospolíticos em que a população seja mantida naignorância sobre os montantes que estão aser pagos aos marmanjos instalados no Bancode Portugal.
2ª Diferença: os CRITÉRIOS
A selecção do Presidente da ReservaFederal Americana obedece a critériosinstitucionais e tem regras bem definidas eexplicitadas na sua página da internet
Em Portugal, o Governador do Banco
de Portugal t em sido nomeadoarbitrariamente pelo partido do Governo aseu belprazer. A prática corrente é a decolocar um amiguinho do partido para auferirde um ordenado milionário, carro emotorista, crédito bonificado, e, vir emboraao fim de 5 anos com uma reformachoruda!
3ª Diferença: a MEDIOCRIDADE PAGAA PESO DE OURO
Uma das mentiras propaladas commais frequência é a de que “é necessáriopagar bons ordenados, se não, não seconseguem contratar pessoas competentespara os cargos públicos”. Esta afirmaçãorelativamente ao Banco de Portugal é mentiraporque:
1) O Dr. Vítor Constâncio não é acompetência que nos querem fazercrer. O seu curriculum é dumamediocridade atroz (nem odoutoramento conseguiu terminar)quando comparado com o do Dr.Bernanke.
2) O salário que lhe está a ser pago nãoé um bom salário. Um bom salárioseria o equivalente a 5 ou 6 vezes orendimento per capita nacional, talcomo é a prática na Reserva FederalAmericana. Ou seja, entre 61 580,00€e 73 896,00 € por ano.
3) Um salário 23 vezes superior aorendimento per capita nacional, não éum bom salário: é um assalto aodinheiro dos contribuintes!
A VERDADE 003 Jan/2008 | 14
4) O secretismo em relação aos saláriosda administração do BdP e a recusana sua divulgação está assimjustificado: Tal como os ladrões queescondem o produto do roubo,também os administradores do Bancode Portugal tentam esconder aosjornalistas e aos cidadãos o assaltoque estão a fazer ao erário público.
5) Os contribuintes portugueses nãomandataram a Comissão deVencimentos do Banco de Portugalpara lhes andar a desbaratar odinheiro do BdP em salários deadministração principescos. Porconsequência, é seu dever zelar pelosinteresses dos contribuintesportugueses, estabelecendo saláriosmais baixos para a administração doBdP, consentâneos com a realidadedo país. Querem tudo bem, nãoquerem vão procurar trabalho noutrolado!
6) No país existem milhares de pessoastão ou mais competentes que o Dr.Vítor Constâncio e restantes colegasda administração, perfeitamentecapazes de os substituir, e queaceitariam integrar a administraçãodo Banco de Portugal por saláriosbem mais modestos
7) Com o ordenado que está a ser pagoao Dr. Vítor Constâncio, seria fácilao Banco de Portugal contratargestores internacionais da craveira doDr. Bernanke, na medida em queteriam um aumento de 150%relativamente ao salário que aadministração americana lhes paga.
8) Quando os juros bonificadosterminaram para os cidadãos pobresdeste país, o Estado não podecontinuar a mantêlos para cidadãosprivilegiados que ganham centenasde milhares de euros por ano. Éinjusto, é desumano e é um insultoàs dificuldades por que muitaspessoas de recursos reduzidos estãoa passar neste momento.
O que é A VERDADE?
A newsletter A VERDADE é umprojecto editorial que surgiu com oobjectivo de dar voz a um Portugalque sofre em silêncio, sujeito aarbitrariedades da parte dos agentesde autoridade do Estado, asfixiadofinanceiramente pela imposição delegislação de favor, e que viveamordaçado com rece io derepresálias.
A situação de pobreza de umap a r t e d a p o p u l a ç ã o ésubstancialmente mais grave do queaquilo que os nossos governantesquerem fazer crer à opinião pública.Só no ano de 2006, 100 000portugueses foram forçados a emigrarpor não terem trabalho cá.
A estes infelizes contrapõeseuma minoria sem qualquer méritoque está cada vez mais rica fazendonegócios com o Estado, sob aprotecção do Estado, ou favorecidospelo Estado (vide empresas de obraspúblicas, telecomunicações, energia,banca, etc.), usufruindo de um regimede monopólio ou quase que lhespermite cobrar preços exorbitantesaos consumidores que não têm outraalternativa que não seja serem seusclientes.
Ninguém é inocente em relaçãoao descalabro a que as coisas estão achegar, mas alguns serão maisculpados que outros.
Ao longo dos próximos númerosd’A VERDADE pretendemos denunciarsituações, analisar legislação edebater soluções, tudo duma formaanónima a fim de garantir a segurançados envolvidos.
A VERDADE será sempre ummeio de todos os que não têm voznoutro local poderem ser ouvidos.
Lisboa, 15/Jan/2008
Manuel Rodrigues Cunha