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O biOdiesel e sua cOntribuiO aO desenvOlvimentO brasileirO

NDICEO BIODIESEL EM POUCAS PALAVRAS... 4 O PROGRAMA........... 6 MATRIAS-PRIMAS...... 9 INDSTRIA............ 16 AGRICULTURA FAMILIAR .............. 20 SADE E AMBIENTE.... 24 REFLEXOS MACROECONMICOS... 28 POR UMA TRAJETRIA VIRTUOSA.. 30

OUTUBRO 2010

APRESENTAOsta publicao um esforo conjunto da Unio Brasileira do Biodiesel (Ubrabio) e da Fundao Getulio Vargas para conhecer melhor uma iniciativa de vanguarda na economia brasileira, o Programa Nacional de Produo e Uso de Biodiesel (PNPB). No atual estgio do desenvolvimento brasileiro, intimamente associado incluso social, trata-se de um projeto de inegvel sucesso. Em apenas cinco anos, o Pas deu um grande salto na produo de biodiesel, com o setor privado atendendo de forma vigorosa a sinalizao do governo. Essa atuao torna premente hoje a criao de um novo marco regulatrio, o que resultar em mais investimentos, gerao de renda e emprego e mais participao da agricultura familiar, em especial nas regies menos desenvolvidas do Brasil. O presente trabalho traz uma anlise abrangente da cadeia do biodiesel e sua importncia para a economia do Pas, considerando a produo de matrias-primas, o setor industrial, questes envolvendo sade e o ambiente, impactos na balana comercial, benefcios sociais e destinao dos produtos. Por fim, h uma discusso dos benefcios a serem gerados pelo aumento na produo de biodiesel, com base em projees para atender maiores percentuais de mistura nos prximos anos, atingindo o B10 e o B20 metropolitano at 2014 e chegando ao B20 em todo o Pas no ano de 2020. Em poucas palavras, trata-se de um estudo valioso a todos os interessados nos rumos da economia brasileira e nas melhores escolhas para aperfeioar a trilha do desenvolvimento sustentvel.

E

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O BIODIESEL EM POUCAS PALAVRASCriado em 2005, o Programa Nacional de Produo e Uso de Biodiesel (PNPB) apresenta-se como oportunidade valiosa de gerao de riqueza, incluso social e qualidade de vida.

Benefcios sociaisA descentralizao e o aumento da produo de oleaginosas so fatores estruturantes para o desenvolvimento de regies menos favorecidas e da agricultura familiar. Em 2010, devem ser gastos R$ 980 milhes com aquisio de matriasprimas da agricultura familiar, envolvendo 100 mil famlias. Com a adoo de meta de 20% de biodiesel at 2020, o nmero de internados por problemas respiratrios relacionados combusto de leo diesel ter uma sensvel reduo, com 77 mil internaes a menos naquele ano. Nesse mesmo cenrio, sero evitadas 11 mil mortes por ano que seriam decorrentes de poluentes emitidos por diesel fssil.

Benefcios amBientaisO Brasil hoje um dos poucos pases com condies de expandir a produo agrcola sem comprometer sua biodiversidade. A adoo de maiores teores de biodiesel misturado ao diesel fssil comum representa uma reduo significativa de emisses de hidrocarbonetos. O combustvel possibilita uma mitigao dos altos teores de enxofre no diesel fssil.

Benefcios tecnolgicosO PNPB o principal agente para o desenvolvimento de diversas culturas oleaginosas. O parque industrial nacional altamente desenvolvido, com mais de 60 indstrias produtoras que poderiam atender imediatamente a meta B10.

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Benefcios mercadolgicosEntre os anos de 2005 e 2010, foram investidos cerca de R$ 4 bilhes na indstria do biodiesel e criado 1,3 milho de empregos. Na trajetria de adoo de 20% de mistura at 2020, seriam criados 532 mil empregos diretos e 6 milhes de ocupaes indiretas. Com o biodiesel, o Brasil pode, em 2020, exportar aproximadamente 28 milhes de toneladas de farelo de soja e obter uma receita de US$ 8,4 bilhes. O aumento da produo de farelo, usado com rao, possibilita uma maior oferta de protena animal, ou seja, carnes em geral. Com uma mistura de 10% de biodiesel ao diesel, o pas teria tido uma economia de U$ 2,2 bilhes somente de janeiro a junho de 2010 por no importar diesel. Estudo do Ibre-FGV mostra que a adoo da mistura no causa impacto inflacionrio. O PNPB estimula o desenvolvimento regional. O biodiesel pode ser um piso de referncia de preo, garantindo a compra de matria-prima em casos de queda no preo do leo vegetal.

Desafio setorialO setor de biodiesel necessita da construo de uma conjuntura favorvel sua expanso para manter sua trajetria virtuosa. necessrio ampliar os atuais volumes de mistura para consolidar a confiana na capacidade de crescimento, estabelecendo-se um novo marco regulatrio.

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O PrOGrama

energia mais limpa e renovvel, com renda e emprego no campoA produo brasileira de biodiesel cresceu vigorosamente e permite atingir metas mais ambiciosas a capacidade instalada suficiente para atender imediatamente a demanda de 10% de mistura no diesel fssil

O

Programa Nacional de Uso e Produo de Biodiesel (PNPB) uma iniciativa inovadora, criada em 2005, para fomentar a produo e uso desse combustvel no Brasil. No se trata apenas de uma fonte alternativa de energia, mas tambm de como uma oportunidade para a gerao de emprego e renda no campo. O biodiesel pode substituir total ou parcialmente o leo diesel fssil em motores ciclo diesel automotivos (de caminhes, tratores, camionetas, automveis etc.) ou estacionrios (geradores de eletricidade, calor etc.). Pode ser usado puro ou misturado ao diesel em diversas propores. A mistura de uma porcentagem de biodiesel ao diesel mineral chamada de BX, em que X representa o teor do biocombustvel, sendo o B5 correspondente a uma mistura de 5% de biodiesel ao diesel e assim sucessivamente, at o biodiesel puro, denominado B100.

A importncia do biodiesel vem crescendo nos ltimos anos em diversas partes do mundo. Pases como a Alemanha (maior produtor mundial), o Brasil, os Estados Unidos, a Malsia, a Argentina, a Frana e a Itlia produzem grande quantidade de biodiesel. Dentre as vrias vantagens de sua utilizao, destacam-se: energia renovvel; Alto potencial de gerao de empregos e renda, sobretudo no campo; Menos poluente que o diesel, proporcionando importante ganho ambiental; Possibilita a utilizao de crditos de carbono; um timo lubrificante para motores; Seu risco de exploso baixo, o que facilita questes relacionadas a transporte e armazenamento. Na poca da aprovao da lei 11.097/05, que introduziu o biodiesel na matriz energtica brasileira, havia incertezas sobre se o pas teria ou no como desenvolver a capacidade de produo e processamento de matria-prima para atender demanda gerada pela adio de 2% de biodiesel ao leo diesel. No entanto, a indstria do biodiesel respondeu s perspectivas criadas pela nova demanda no mercado brasileiro e aumentou a sua produo e capacidade industrial instalada. A resposta do mercado foi bastante positiva, o que motivou o governo a antecipar a implementao da obrigatoriedade das misturas B3, B4 e B5, atingindo a meta fixada na lei trs anos antes do prazo inicialmente previsto. Nos

a cadeia de produo do biodiesel tem potencial de estimular o desenvolvimento de produo de diversas variedades de oleaginosas e impulsionar o desenvolvimento de regies carentes do brasil

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nmeros gerais da produoVolume de biodiesel produzido no BrasilProduo (m3) 1.608.053

2.400.000

1.167.128

404.329 69.002 2006 2007 2008 2009 2010

736 2005Fonte: ANP 2010, adaptado por FGV Projetos

PartIcIPao de matrIa-PrIma na produo de Biodieselleo de soja

78%

16% Sebo bovino 3% leo de algodo 3% Outros

na cadeia de valor do Biodiesel

Matria-prima

72%

Beneficiamento

8%

Biodiesel

20%

Fonte: ANP e FGV Projetos

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a importncia do biodiesel vem crescendo nos ltimos anos em diversas partes do mundo. Pases como a alemanha (maior produtor mundial), o brasil, os estados unidos, a malsia, a argentina, a Frana e a itlia produzem grande quantidade do combustvel. no brasil, os investimentos em pesquisa so de grande importncia

ltimos dois anos, a produo cresceu significativamente, em consequncia da obrigatoriedade de misturas. Em 2009, por exemplo, ano em que a mistura obrigatria passou de 3% para 4%, houve um aumento de aproximadamente 38% em relao a 2008. O setor de produo de biodiesel continua em expanso, permitindo a considerao de metas mais ambiciosas. A capacidade instalada autorizada

atualmente de aproximadamente 5,1 milhes de m3, superior necessidade da demanda gerada pelo B5 e muito prxima demanda projetada para um possvel B10 em 2014 e dever aumentar ainda mais com a concretizao dos projetos atualmente em andamento. A cadeia de produo do biodiesel tem potencial de estimular o desenvolvimento de produo de diversas variedades de oleaginosas e impulsionar o desenvolvimento de regies carentes em todo o Brasil.

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matrias-Primas

Competitividade, tecnologia e culturas diversificadasA soja o lastro para a produo de biodiesel e o PNPB incentiva a produo de outros tipos de oleaginosas at ento pouco utilizadas, desenvolvendo know-how e fomentando a agricultura familiar

A

indstria de biodiesel no Brasil recente, mas j mostra sua importncia para um segmento muito promissor do setor agrcola nacional: o da produo de oleaginosas. H no Brasil uma extensa gama de espcies que podem ser utilizadas, como a soja, a palma, a mamona, o girassol, o algodo, o babau, o amendoim, o pinho manso, a canola, o crambe e o gergelim, dentre outras. Apesar do fato desse setor ter atrado grandes grupos mundiais desde a ltima dcada para atuar na cadeia de produo da soja, na diversificao de produo de outros tipos de oleaginosas que o Brasil hoje vive um momento de expanso nico. Impulsionada pelo PNPB, a indstria de biodiesel tem atuado fortemente em vrias regies do Pas no desenvolvimento de novas cadeias de oleaginosas. Estimulada pelo programa do governo federal Selo Combustvel Social, a indstria do biodiesel incentiva a agricultura familiar a diversificar a produo de oleaginosas. A produo de matria-prima para o biodiesel corresponde a 72% de todo o valor da cadeia gerada por este combustvel. O lastro no abastecimento de matria-prima para a produo de biodiesel tem sido a soja e, embora existam boas perspectivas para participao de outras oleaginosas, a soja dever continuar sendo matria-prima base para produo de biodiesel nos prximos anos. A descentralizao da produo do biodiesel apresenta-se como um fator estruturante para o desenvolvimento de plos de produo oleaginosas

no Brasil. O pas tem possibilidades de diversificao da sua cadeia de fornecimento, contando com um vasto leque de opes de oleaginosas para diferentes situaes de clima e solo. Nesse processo, a agricultura familiar tem um papel decisivo, pois conta com maior flexibilidade para o manejo das culturas, principalmente as perenes, onde a dedicao normalmente maior. O modelo que vem sendo aplicado pela indstria do biodiesel o fornecimento de assistncia tcnica intensiva ao pequeno produtor, de modo a garantir boas prticas no manejo das culturas, alm de ndices de produtividade que permitam a obteno de um piso mnimo de renda. Outro fator importante no programa Selo Combustvel Social a no obrigatoriedade de utilizar os volumes adquiridos de matria-prima diretamente na fabricao do biodiesel. Essa prtica possibilita tambm o desenvolvimento de oleaginosas com

O modelo que vem sendo aplicado pela indstria do biodiesel o fornecimento de assistncia tcnica intensiva ao pequeno produtor, de modo a garantir boas prticas no manejo das culturas, alm de ndices de produtividade que permitam a obteno de um piso mnimo de renda

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o Brasil e o mercado internacional da sojacadeia de produo da soja na safra 2009/2010(milhes de toneladas)

exportao

28,0

23,6

Farelo

Produo

57,4

Indstria Processadora

30,8

Insumos

6,0

leo

Fonte: Abiove, 2010, adaptado por FGV Projetos

participao Brasileira no mercado mundial de soja (gro)Sem considerar o marco regulatrio do B20 nas projees (mil toneladas)120.000

Comrcio mundial

Expotaes brasileiras

Participao brasileira relativa

45% 40% 35%

100.000

80.000

30% 25% 20%

60.000

40.000

15% 10% 5%

20.000

0

0%

2000

2002

2004

2006

2008

2010

2012

2014

2016

2018

2020

ProjeesFonte: World Oilseeds and Products-FAPRI 2010 Agricultural Outlook, Adaptado por FGV Projetos

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Produo e exportao brasileira leo de sojaexportao

12,0

(mil toneladas)6.000 5.000 4.000

Produo Exportao

consumo interno

3.000 2.000 1.000 0 2001 2005 2010

11,6

O farelo de soja, subproduto da produo de biodiesel, serve de rao animal e possibilita o aumento da oferta de carnes em geral

demanda projetada para o leo de soja com cenrio para o B20 em 2020(mil toneladas)12.000

consumo interno

10.000 8.000 6.000 4.000

10.025

4,5

5.221

exportao

1,5

2.000 1.880 0 2010Fonte: FGV Projetos

2015

2020

participao Brasileira no mercado mundial de farelo de sojaSem considerar o marco regulatrio do B20 nas projees (mil toneladas)80.000 70.000 60.000 50.000 40.000 30.000 20.000 10.000 0

Comrcio mundial

Expotaes brasileiras

Participao brasileira relativa

40% 35% 30% 25% 20% 15% 10% 5% 0%

2000

2002

2004

2006

2008

2010

2012

2014

2016

2018

2020

ProjeesFonte: World Oilseeds and Products-FAPRI 2010 Agricultural Outlook, Adaptado por FGV Projetos

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alto valor agregado, em que os preos descolam dos usualmente encontrados na indstria do biodiesel. A indstria pode repassar para outras cadeias de produo o produto adquirido da agricultura familiar.

COMPLEXO SOJAA produo de soja no Brasil expandiu-se rapidamente no incio dos anos 70 com uma produo tipicamente agroindustrial. Com a mesma velocidade da expanso do plantio, foram criadas unidades esmagadoras para beneficiar o gro da soja em leo, incluindo o refino do leo destinado alimentao humana e tambm o farelo bruto. Desde ento o pas, com destaque regio Centro-Oeste, transformou-se em um dos principais produtores mundiais de soja em gro e tambm um dos principais plos da agroindstria, que contempla a produo e o processamento de carne de aves. Atualmente, o Brasil o segundo maior produtor e processador mundial de soja em gro, segundo exportador mundial de soja em farelo e o terceiro maior exportador de leo. A soja representa uma das principais fontes de divisas para o Pas, com aproximadamente 10% das exportaes e com o emprego de 1,4 milhes de pessoas. A participao brasileira no mercado mundial de gros de soja tem sido expressiva. Nos ltimos anos, o mercado tem crescido a um ritmo de 7% ao ano, alavancado principalmente pela indstria de alimentos e de protena animal. A expanso da soja no Brasil tende a acontecer em reas abandonadas ou degradadas, impulsionada principalmente pela iniciativa conhecida como Moratria da Soja, liderada pela Associao Bra-

sileira da Indstria de leos Vegetais (Abiove) e pela Associao Brasileira dos Exportadores de Cereais (Anec), que se comprometeram a no comercializar nenhuma soja oriunda do Bioma Amaznia em reas que tenham sido desflorestadas aps 2006. Tal iniciativa deve contribuir significativamente para manuteno e at crescimento da participao da soja brasileira no mercado internacional, uma vez que vai ao encontro das melhores prticas de gesto com a utilizao sustentvel dos recursos naturais, buscando conciliar a preservao do ambiente com o desenvolvimento econmico. Atualmente, existem no Brasil cerca de 106 milhes de hectares disponveis para agricultura, alm de aproximadamente 220 milhes de hectares de pastagens subutilizadas, das quais uma frao poderia ser convertida em reas de produo agrcola. Portanto o Brasil hoje um dos poucos pases que possuem condies de expandir a produo agrcola com menor impacto na sua biodiversidade. possvel ento considerar que no existem restries de reas para a expanso da soja no Brasil.

farelo e valor agregadoSegundo o Ministrio da Agricultura, a rea plantada de soja no Brasil dever passar dos atuais 23,5 milhes de hectares para algo em torno 26,5 milhes de hectares no ano de 2018, ou seja, teramos naquele ano matria-prima para atender as projees do B17. Nesse cenrio, o Brasil naturalmente passaria a direcionar suas exportaes para produtos de maior valor agregado na cadeia produtiva da soja, como o farelo, e diminuiria significativamente suas exportaes de soja em gro. Portanto, o complexo da soja brasileiro apresenta elasticidade para absorver as demandas da indstria do biodiesel nos prximos anos, mantendo assim sua posio de importante lastro alternativo, dando segurana de abastecimento de matria-prima para assegurar o desenvolvimento de outras oleaginosas no Pas. No processamento da soja, o farelo no mercado interno tem desempenhado papel relevante para o fortalecimento da indstria de protena no Brasil, garantindo importante participao no comrcio mundial. Nas exportaes de farelo, o Brasil tem perdido muito espao no mercado internacional, principalmente para os exportadores argentinos. De 1999 a 2009, o comrcio mundial de farelo de soja cresceu mais de 5% ao ano, enquanto o Brasil perdeu importante participao de mercado, praticamente estagnando seus volumes exportados. Segundo o Food and Agricultural Policy Research Institute, rgo norte-americano que prepara as

distriBuio territorial Brasileira(milhes de hectares*)

220 Pastagens

55 reas protegidas 47 Culturas anuais 15 Culturas perenes 20 Cidades, lagos e estradas 5 Florestas cultivadas 38 Outros usos 106 reas disponveis para a agricultura

345 Floresta amaznica

Fonte: MAPA, Adaptado por FGV Projetos, 2010. * Estimativa

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projees de mercado para o setor agrcola, o Brasil, como est, deve praticamente manter os volumes atuais de exportaes de farelo de soja em 2020, indicando que as exportaes do produto brasileiro no acompanharo o aumento da demanda internacional. H, no entanto, elasticidade no mercado mundial para que o Brasil salte dos atuais 20% de participao de mercado para cerca de 40%, a mesma participao do comercio mundial de farelo de soja que detinha em 1996, o que representaria 28 milhes de toneladas exportadas e uma receita anual de US$ 8,4 bilhes em 2020. Um fator que pode contribuir para o aumento nas exportaes de farelo o incentivo modernizao das indstrias esmagadoras no Brasil. Dessa maneira, em vez de exportar gros, o Brasil poderia esmag-los e exportar o farelo, aumentando o valor agregado do produto, alm de poder utilizar o leo para a produo de biodiesel. H exemplos de pases que indiretamente incentivam o esmagamento em detrimento da exportao de gros, como a Argentina, onde o gro taxado em 35% para exportao. de importncia fundamental que o governo regule o setor, sinalizando para os participantes da cadeia de produo do biodiesel quais sero as porcentagens adotadas at o ano de 2020.

o Brasil e o mercado de protena animalProduo mundial de carnes e a participao brasileira 2009 (milhes de toneladas)120 100 80 60 40 20 0

Market share Exportaes Produo mundial

35,9% 24,9% 11,6% 3,4% Aves Sunos Bovinos 13,6%

10,8%

Fonte: ABEF, USDA, adaptado por FGV Projetos, 2010

comrcio mundial de FareloSem considerar o marco regulatrio do B20 nas projees (mil toneladas) Total 53.151 67.273 Indstria de protena 35.430 44.844 2010 2020

Fonte: FAPRI e USDA, adaptado por FGV Projetos, 2010

insumo para protena animalO Brasil hoje importante produtor mundial de protena animal: o principal exportador mundial de frango e carne bovina e sua importncia cresce no mercado de carnes sunas. Segundo dados da Organizao das Naes Unidas para Agricultura e Alimentao (FAO), a produo de carne de aves dever crescer cerca de 40% at 2020. O consumo ser impulsionado principalmente por pases em desenvolvimento, que devero ter crescimento expressivo nos prximos anos. A demanda desses pases se explica pelo aumento da renda per capita e pela urbanizao, reforada pelo crescimento populacional que duas vezes maior do que nos pases desenvolvidos, reforando a tendncia de aumento mundial do consumo de protena animal, a exemplo do que acontece atualmente em pases como o Brasil, a China e a ndia. O crescimento do mercado de protenas no mundo dever alavancar o consumo de farelo de soja, que destinado principalmente fabricao de rao para aves e sunos. Em mdia, utiliza-se 20% de farelo de soja nas dietas dos animais, o

que representa cerca de 2/3 do consumo mundial de farelo de soja, ou seja, da produo mundial no ano de 2010, estimada em 53 milhes de toneladas, cerca de 35 milhes de toneladas de farelo sero comercializados mundialmente para a produo de rao animal. Assim, estima-se que o mundo deva necessitar comercializar cerca de 45 milhes de toneladas de farelo em 2020 e o Brasil, nesse contexto, poderia fornecer grande parte desse volume. H tambm a possibilidade de consumo de protena de soja por parte do rebanho bovino confinado. O rebanho confinado brasileiro e mundial tem tendncia de crescimento, o que pode impulsionar o consumo de farelo protico, sobretudo se o preo deste vier a cair, alm de liberar terras atualmente ocupadas com pecuria extensiva para produo de gros. O adicional de farelo de soja produzido com o B20 em 2020 poder alimentar mais de 20% do rebanho bovino brasileiro, se este for confinado. Alm de absorver os adicionais de farelo, um fato importante para a indstria de carnes, uma vez que

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o gado confinado pode resultar em uma carne de qualidade superior, podendo at alavancar os preos de carnes exportadas pelo Brasil.

Produo de leo de sojaO Brasil produziu na safra 2009/10 aproximadamente 6 milhes de toneladas de leo de soja, das quais 1,46 milho foi exportado como leo bruto. Do consumo interno de leo de soja de 4,52 milhes de toneladas, 25% foram destinados para o mercado de biodiesel, ficando o volume restante para os outros mercados. Cerca de 90% da produo de leo vegetal no Brasil oriunda da soja. A indstria esmagadora altamente dependente dessa cultura e, apesar do incremento de produo de outras oleaginosas, esse cenrio no dever se alterar nos prximos anos. Embora a produo de leo de soja venha crescendo no pas, os nveis de exportao tiveram queda nos ltimos anos. Isso pode ser explicado pelo fato do Brasil ter exportado maior quantidade de gros in natura, evitando o processamento das quantidades adicionais de produo. Os investimentos para aumento da capacidade de processamento do complexo soja no Brasil vieram, sobretudo, da necessidade de acompanhamento da demanda gerada pelo mercado de alimentos, seguida pelo mercado de biodiesel. Nos ltimos dez anos, a indstria de processamento saltou de 108.000 toneladas/dia de produo para as atuais 166.000 toneladas/dia, ou seja, aproximadamente 54% de aumento do processamento, praticamente acompanhando a demanda interna por farelo e leo de soja. O principal insumo para a fabricao do biodiesel o leo vegetal e, atualmente, apenas o leo de soja est disponvel para produzir grandes quantidades de biodiesel no Pas. Aproximadamente 80% do biodiesel fabricado no Brasil produzido a partir desse leo. A importncia atual e futura dessa matria-prima dever continuar elevada at a consolidao de novos plos de produo de outras oleaginosas, contribuindo de maneira significativa para garantir as demandas futuras do programa de

biodiesel brasileiro. O crescimento da indstria de biodiesel nacional, por meio do aumento planejado da mistura de biodiesel no diesel, de fundamental importncia para o complexo soja brasileiro e dever contribuir para fortalecer toda a cadeia de produo da soja, mantendo o Brasil como um candidato a liderana mundial do setor. A participao do leo de soja como matria prima para indstria do biodiesel sair dos atuais 80% para 70% em 2020, o que significaria um volume adicional de leo de soja de aproximadamente 8 milhes de toneladas em relao ao volume projetado em 2010. Vale ressaltar que a diminuio da participao do leo de soja na indstria do biodiesel est sendo projetada sobre uma base crescente, ou seja, o volume de outras oleaginosas crescer em aproximadamente 3,9 milhes de toneladas, o que significaria um aumento de cerca de dez vezes a atual produo de outros leos vegetais, sem considerar a soja.

OUTRAS MATRIAS-PRIMASPor meio de programas governamentais para a insero da agricultura familiar, outras oleaginosas devero aumentar muito a sua contribuio produo de biodiesel no Brasil. Diversas oleaginosas possuem potencial para diversificar a matriz de produo do biodiesel. Porm sua utilizao depende ainda de pesquisas que definam o melhor pacote tecnolgico de produo agrcola e processamento industrial. O biodiesel responsvel pelo crescimento na produo de oleaginosas e os produtores desse combustvel, para obter o Selo Combustvel Social, tendem a fomentar cada vez mais a diversificao de matrias-primas baseada na agricultura familiar, no aproveitamento de assentamentos, na fixao do homem no campo. Das principais matrias-primas potencias para diversificar a matriz produtiva destacam-se as caractersticas listadas abaixo: Palma (dend), cultivo perene com vida econmica entre 20 e 30 anos. At eu vou querer plantar palma, afirmou o presidente Luiz Incio Lula da Silva, ao lanar o programa de produo sustentvel dessa cultura. amendoim, leguminosa de ciclo curto, utilizada em reas de rotao de lavoura. canola, oleaginosa de inverno. Girassol, oleaginosa anual, que se destaca por ter maior resistncia seca, ao frio e ao calor. mamona, oleaginosa bem adaptada na regio

O volume de outras oleaginosas, sem considerar a soja, crescer em aproximadamente 3,9 milhes de toneladas, o que significa multiplicar por dez a atual produo

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estimativa da participao das fontes de matria-prima de Biodiesel at 2020(%)80 60 40 20 0

Soja

outras algodo Sebo

2010Fonte: FGV Projetos, 2010

2012

2014

2016

2018

2020

semi-rida. Sebo bovino, subproduto da produo pecuria. caroo de algodo, com exigncias hdricas comparativamente pequenas. Alm das fontes de leo citadas, h uma grande gama de culturas promissoras, alvos de grandes investimentos em pesquisas atuais. Dentre estas culturas, pode-se destacar o pinho manso, o gergelim, o babau, o crambe, alm de outras palmceas. O potencial de desenvolvimento de outras oleaginosas bastante alto. O PNPB dever ser o principal agente para o desenvolvimento tecnolgico de culturas oleaginosas, que antes do programa apresentavam pequena expresso no agronegcio brasileiro. Esse avano se dar tanto em pesquisa e desenvolvimento de novas variedades e cultivares, como em programas de assistncia tcnica. importante salientar que tais iniciativas contribuem para avanos tecnolgicos no que diz respeito ao cultivo de diversas culturas at ento pouco exploradas. A Petrobras, por exemplo, planeja investir US$ 3,5 bilhes em biocombustveis nos prximos quatro anos e a Embrapa Agroenergia est iniciando uma parceria com a Universidade Nacional de Braslia na rea de pesquisa em agroenergia. Um dos focos a domesticao de novas culturas, como o pinho-manso, por exemplo. Caso o leo produzido tenha altos valores comerciais, o biodiesel pode servir como um piso de referncia de preo, garantindo a compra de matria-prima em casos de queda no preo do leo, e a compra dessas matrias-primas pelos produtores pode ajud-los na obteno do Selo

Combustvel Social, independentemente do destino dado ao leo.

A participao da soja tem oscilado entre entre 75% e 85%, enquanto a do sebo vem ocupando uma faixa de 10% a 25%. Tais oscilaes ocorrem a cada ms e podem ser explicadas por diversos fatores, como pocas de colheita das matrias-primas, variaes de preo etc. Por esse motivo, foram adotados valores mdios de participao. Levando em conta os esforos do governo e dos produtores em diversificar as fontes de matria-prima, haver um aumento gradativo na participao das outras oleaginosas at 2020. Para a soja, considera-se uma diminuio de 1% ao ano na participao, atingindo um patamar de 70% em 2020. Para o cenrio adotado, a rea ocupada, em 2020, com diferentes oleaginosas alm da soja (desconsiderando a disponibilidade de reas de pecuria extensiva que podem ser convertidas a sistemas intensivos de confinamento) seria de cerca de 2 milhes de hectares, valor no muito significativo quando se considera os mais de 100 milhes de hectares disponveis para a agricultura que o Brasil possui. Alm disso, existiria no perodo uma circulao monetria de aproximadamente R$ 15 bilhes somente em investimentos. O valor estimado em venda de leo de outras oleaginosas, para o ano de 2020, de aproximadamente R$ 5,75 bilhes. Isso demonstra o potencial de gerao de riqueza com a diversificao das fontes de matrias-primas, riqueza que tende a ser distribuda entre os Estados produtores, localizados em sua maioria nas regies Norte, Nordeste e Centro-Oeste.

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indstria

Grande capacidade de atender demandas e antecipar metasA indstria brasileira de biodiesel deve produzir 2,4 milhes de m em 2010, o que significa apenas 47% da capacidade instalada . Portanto existe uma capacidade extra para a ampliao do programa nacional

O

mercado interno de biodiesel no Brasil tem aberto importantes oportunidades de desenvolvimento. Vale ressaltar a caracterstica da descentralizao da produo do biodiesel, em que a necessidade de estar prximo ao local de produo da matria-prima, o leo vegetal, estratgica e a gerao de riqueza mais distribuda geograficamente. As unidades produtoras se distribuem de forma mais ou menos homognea nas regies Sul, Sudeste e Nordeste, que correspondem por 25%, 17% e 12%, respectivamente, da capacidade instalada; em menor escala, encontra-se a regio Norte, com 4%. Com destaque aparece o Centro-Oeste, com 29 usinas e 42% da capacidade instalada de produo. A indstria brasileira de biodiesel deve produzir neste ano 2,4 milhes de m3, ou 47% da capacidade instalada, indicando uma subutilizao da estrutura produtiva. Mesmo assim, o Brasil o segundo maior parque industrial do mundo e o terceiro maior produtor mundial de biodiesel, ficando atrs apenas dos Estados Unidos e da Europa.

Os investimentos no parque produtivo tm sido realizados em ritmo acelerado, acompanhando os desafios colocados pelo PNPB. Em 2005, quando se iniciou o programa, havia oito indstrias de biodiesel instaladas com capacidade de produzir 85.320 m/ano. Em 2008, esta capacidade de produo era de 3,3 milhes de m/ano e, atualmente, saltou para aproximadamente 5,1 milhes de m/ano, em um parque que agrega 63 indstrias produtoras. Esse total capaz de atender de imediato demanda para uma mistura B10. Esses investimentos foram necessrios para adequar o setor produo de volumes para o B5. Espera-se que com metas maiores, como o B20, por exemplo, seja possvel ter montantes de investimentos ainda maiores, haja vista a necessidade de desenvolvimento de novos plos de produo de matria-prima. Um papel muito importante para adequar o setor produo de maiores volumes de biodiesel foi desempenhado pelo governo federal, por meio da garantia de compra e de pagamento de dado volume do biodiesel s indstrias, com os leiles pblicos da ANP. No primeiro leilo, o volume negociado de biodiesel foi de 70.000 m, gerando R$ 133 milhes, ao passo que no ltimo leilo, os 600.000 m negociados renderam R$ 1,26 bilho. Observa-se ento uma tendncia de negociar valores cada vez maiores, medida que a mistura obrigatria de biodiesel ao diesel aumenta. Outra

a antecipao de metas de percentual de mistura de biodiesel no diesel fssil deu e dar viabilidade a maiores investimentos na cadeia produtiva

16

distriBuio das indstrias produtoras de Biodiesel

RR

AP

Norte AM

12%6 Usinas PA MA CE RN PB PE SE BA AL

Nordeste

6 Usinas

4%

TO AC RO MT

PI

Centro-Oeste

42%29 Usinas MS

DF GO MG ES RJ

regio Norte Nordeste Centro-Oeste Sudeste Sul Total

N de Usinas 6 6 29 13 9 63

capacidade Instalada mil m3/ano Porcentagem 214 598 2.151 868 1.275 5.106

SP Sudeste PR SC RS Sul

4% 12% 42% 17% 25% 100%

17%13 Usinas

25%9 Usinas

Fonte: ANP, 2010, adaptado por FGV Projetos, 2010

Volumes* de produo em milhes de m3Capacidade de produo Biodiesel B10 Biodiesel B5 Consumo de Diesel*

0* projeo para o ano de 2010. Fonte: FGV Projetos, 2010

10

20

30

40

50

17

tendncia foi a reduo no nmero de leiles realizados na medida em que se aumentava a mistura obrigatria de biodiesel ao diesel. Isso significa dizer que o setor produtivo ganhou robustez, pois foi capaz de atender demanda crescente em um menor nmero de negociaes, com exigncias cada vez maiores de mistura de biodiesel ao diesel, reflexo dos investimentos no perodo. medida que o mercado evolua para misturas superiores ao B5, existe uma forte tendncia de expanso de negcio das empresas participantes do setor e tambm da chegada de novos participantes no mercado, principalmente em regies com potencial de produo de matria-prima. Essa lgica de negcio, inerente ao setor, cria um impulso de desenvolvimento nas regies com baixo ndice de desenvolvimento humano,

mas com forte potencial agrcola para abastecer a indstria de biodiesel, ou seja, os investimentos so atrados menos pelo poder de consumo do mercado local e mais pela sua capacidade de produo de oleaginosas. Os empregos gerados pela cadeia de valor da indstria do biodiesel so bastante elevados no setor agrcola, tanto nas culturas com alto ndice de mecanizao, como a cadeia da soja, como em culturas mais intensivas em mo de obra, mais bem trabalhadas pela agricultura familiar, caso da mamona e do dend. A contribuio da indstria do biodiesel relevante tambm em relao ao desenvolvimento tecnolgico, pois representa importante vetor de difuso de conhecimento tanto na rea agrcola, em que a busca pela matria-prima competitiva incentiva o constante investimento em novas variedades

valores negociados nos leiles da anp(R$ milhes)1.400 1.200 1.000 800 600 400 200 0

1

2

3

4

5

6

7 8 9 10 Leiles da ANP

11

12

13

14

15

16

17

18

Valores e nmero de leiles segundo o BX(R$ bilhes)

3,859 3,182 2,287 2,107

B2Fonte: ANP, adaptado por FGV Projetos, 2010

7

B3

6

B4

2

B5

3

Nmero de leiles realizados e BX

18

e tcnicas de produo. Na rea industrial, o treinamento de pessoal para o aperfeioamento tcnico tem sido constante e importante para manter a competitividade das empresas no setor, haja vista a caracterstica de mdia-alta concorrncia do mercado. A indstria de biodiesel no Brasil tem tambm se caracterizado pela participao de agentes pblicos e privados, tais como entidades pblicas, usinas, agricultores, distribuidoras, montadoras, consumidores entre outros, os chamados stakeholders, que apresentam papel relevante para o desenvolvimento desse setor. Pode-se destacar a participao da Embrapa, que vem realizando importante trabalho nas pesquisas de novas matrias-primas com alto rendimento de leo, alm do desenvolvimento das atuais oleaginosas, como a palma, em parceria com universidades. Essas e muitas outras iniciativas esto sendo levadas a cabo em todo territrio nacional impulsionadas pelo PNPB. Entre 2005 e 2010, o programa foi capaz de formar um parque industrial vigoroso, com capacidade industrial pronta para atender demandas acima do B5. Segundo o Plano Decenal de Expanso de Energia, divulgado em abril de 2010 pela Empresa de Pesquisa Energtica (EPE), para o atual ndice de 5% de mistura de biodiesel, a capacidade de produo atual da indstria de biodiesel ser capaz de garantir o suprimento at o ano de 2019. Um cenrio de aumento gradativo do ndice de mistura de biodiesel, em que a meta seja o B20, por exemplo, de fundamental importncia para construir as bases de crescimento do setor para os prximos dez anos. Definir um objetivo de volume para os prximos anos importante para o desenvolvimento da produo de toda a cadeia, principalmente no que tange produo de matria-prima, para as quais os investimentos so sempre de longo prazo. Quanto maior a previsibilidade de volume de produo para os anos subsequentes, maior ser o efeito estruturante dos investimentos, ou seja, melhor percepo de retorno sobre os investimentos e menor a percepo de risco por parte de todos os participantes. As projees mostram que 2014, ano da Copa do Mundo no Brasil, seria alcanada a mistura B10, com aproximadamente 5,5 milhes de m de consumo de biodiesel, podendo tambm antecipar o B20 metropolitano. O grande desafio para o setor de biodiesel est na construo de uma

projeo de produo de Biodiesel(milhes de m)16 14 12 10 8 6

B20

B10

4

2

0

2005* incio das projees .

2010*Fonte: FGV Projetos, 2010

2015

2020

conjuntura favorvel sua expanso, evitando restries ao seu crescimento e mantendo sua trajetria virtuosa. O sucesso do programa de biodiesel no deve ser visto como um resultado j assegurado para o futuro. necessrio ampliar os atuais volumes de mistura para consolidar a confiana na capacidade de crescimento e manter a competitividade do setor no longo prazo. Em suma, a indstria de biodiesel tem demonstrado capacidade de oferta para enfrentar no somente uma demanda em expanso, evitando a formao de eventuais gargalos ou presses inflacionrias, mas tambm capacidade para absorver maiores ndices de mistura.

necessrio ampliar os atuais volumes de mistura para consolidar a confiana na capacidade de crescimento e manter a competitividade do setor no longo prazo

19

aGricultura Familiar

esforo institucional de gerao de riqueza e incluso socialO PNPB tem promovido a incluso social e gerao de renda no campo . A estimativa que aproximadamente 100 mil famlias participem do programa em todo o Brasil neste ano, por intermdio do Selo Combustvel Social .

D

esde sua criao, um dos pilares do PNPB tem sido a incluso social por meio do Selo Combustvel Social, concedido pelo Ministrio do Desenvolvimento Agrrio (MDA) aos produtores de biodiesel que adquiram matria-prima da agricultura familiar e assegurem assistncia e capacitao tcnica. Para incentivar os produtores de biodiesel a aderirem ao selo, o PNPB estabeleceu reduo das alquotas do PIS/Cofins, de acordo com percentuais diferenciados por regio e direito a participao exclusiva do lote um (que representa 80% do volume total) nos leiles da ANP. Com esse mecanismo, o PNPB tem promovido a incluso social e gerao de renda para comunidades de agricultores familiares e contribudo significativamente para promover a diversificao da produo de matria-prima de acordo com a vocao agrcola de diferentes regies. Esse esforo institucional de introduzir a agricultura familiar na cadeia produtiva do biodiesel proporciona a diversificao da produo de leos vegetais, incluindo ao agronegcio brasileiro regies antes marginais produo agrcola e carentes em desenvolvimento. Nesse contexto, o aumento da mistura de biodiesel no diesel para

alm dos atuais 5% dever ser fator determinante para consolidao da agricultura familiar na cadeia de valor do biodiesel. Atualmente, 20% do biodiesel produzido no Pas oriundo da agricultura familiar e cerca de 90% desse volume refere-se soja cultivada por agricultores familiares, notoriamente na regio Sul. O cultivo da soja no sistema familiar emprega um trabalhador a cada 10 ha, e para o sistema empresarial um trabalhador a cada 100 ha. Considerando essa proporo, com a produo de biodiesel no Brasil, quando contabilizada apenas a produo procedente da soja (1,6 milho de m3), so gerados cerca de 100 mil empregos no campo. Estima-se que, para cada emprego direto no campo, sejam gerados 12 empregos na cadeia de produo agroindustrial. Nesse caso, somente a produo de biodiesel oriundo da produo de soja seria responsvel por cerca de 1,3 milho de empregos, considerando-se toda a cadeia envolvida. A diversificao de matria-prima, com a introduo de culturas perenes, poder colaborar sensivelmente para a gerao de novos empregos, contribuindo para o desenvolvimento regional e gerao de riqueza. Os investimentos do Pronaf (Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar), operacionalizados principalmente pelo Banco do Brasil no mbito das linhas de apoio ao PNPB, disponibilizaram R$ 100 milhes para a produo de oleaginosas por agricultores familiares apenas

a produo de biodiesel foi capaz de gerar 1,3 milho de empregos, considerando-se toda a cadeia produtiva

20

participao da agricultura familiar na produo de matria-prima para o Biodiesel

agricultura familiar

20%

103.0002010

agricultura empresarial

80%

nmero de famlias fornecedoras de matria-prima51.431 2009 40.595 2006 36.746 2007 27.858 2008

16.408 2005

Fonte: SAF/MDA e FGV Projetos

21

cooperativas de agricultores familiares que realizaram vendas a empresas com o Selo combustvel Social40 35 30 25 20 15 10 5 0

aquisies de matria-prima oriunda da agricultura familiar(R$ milhes)1.000

800

600

400

200

0

2006Fonte: SAF/MDA, 2010

2007

2008

2009

2006

2007

2008

2009

2010

em 2008, com taxas de juros muito favorveis, girando em torno de 1% a 4% ao ano. Para que a incluso da agricultura familiar no PNPB seja efetiva, outras culturas oleaginosas devero ser includas na matriz produtiva do biodiesel. A razo principal da incluso de outras oleaginosas o aumento da participao da agricultura familiar. A soja continuar sendo importante para o biodiesel, uma vez que serve de lastro para o setor, dando maior segurana cadeia de suprimentos.

especificados na Instruo Normativa n 1, de 19 de fevereiro de 2009. De acordo com essa determinao, a partir da safra 2010/11, o limite mnimo de aquisio de matria-prima de agricultores familiares por parte da indstria de 15% para as regies Norte e Centro-Oeste. Para as regies Sul, Sudeste, Nordeste e semi-rido, o limite mnimo de 30%. As porcentagens so calculadas sobre o custo de aquisio da matria-prima adquirida do agricultor familiar ou de sua cooperativa em relao ao custo total de aquisies de matria-prima utilizadas para a produo de biodiesel. Para que sejam levados em considerao nos clculos de porcentagens, os agricultores ou cooperativas devem possuir a DAP (Declarao de Aptido ao Pronaf). Os valores considerados como aquisio de matrias-primas englobam, alm do gasto com a prpria matria-prima, valores despendidos com anlises de solo nas propriedades familiares, valores referentes doao de insumos cedidos aos agricultores familiares (desde que no oriundos de recursos pblicos) e valores referentes assistncia e capacitao tcnica. Esses fatores representam uma grande vantagem tanto para os agricultores familiares como para os produtores de biodiesel. Os agricultores

COMBUSTVEL SOCIALPara a empresa produtora de biodiesel obter o selo, h limites mnimos de aquisio de matria-prima oriunda da agricultura familiar,

em junho de 2010, de 47 usinas produtoras de biodiesel em atividade, 31 possuam o selo combustvel social, o que corresponde a 66% do total ou, aproximadamente, 90% da capacidade instalada

22

enquanto no ano de 2006 foram gastos r$ 69 milhes com aquisio de matrias-primas da agricultura familiar, o valor previsto para 2010 de r$ 980 milhescampo de canola

familiares tm garantias de compra de sua produo, alm de assistncia tcnica fornecida, sem custos, para uma boa prtica da agricultura. Adicionalmente, existe a vantagem de realizar safras consorciadas, aliando a produo de oleaginosas produo de alimentos para subsistncia. Os produtores industriais de biodiesel podem destinar recursos para capacitao de pessoal, melhoria na produtividade das reas onde compra matria-prima e ter esse gasto considerado como parte de sua aquisio de matria-prima. H casos em que as indstrias de biodiesel, alm de fornecer a assistncia tcnica, financiam a agricultura familiar, com adiantamentos de sementes, maquinrios etc. Em 2009, 27 empresas produtoras de biodiesel, em um total de 45, possuam o Selo Combustvel Social, o que correspondia a 60%. Se for levada em conta a capacidade instalada em litros, a porcentagem de capacidade instalada

de empresas possuidoras do selo em relao capacidade total era ainda maior, ultrapassando a casa dos 90%. Em junho de 2010, das 47 usinas produtoras de biodiesel, 31 possuam o selo, o que corresponde a 66%. As empresas que possuem o selo social tm exclusividade de participao no lote 1 dos leiles da ANP, alm de benefcios fiscais. Para 2010, a perspectiva de que aproximadamente 100 mil famlias de agricultores j estejam participando do PNPB em todo o Brasil. Essa projeo representa um aumento de praticamente 100% com relao a 2009. Os valores em moeda gastos com aquisio de matrias-primas da agricultura familiar tambm vm crescendo significativamente). Enquanto no ano de 2006 foram gastos R$ 69 milhes com aquisio de matrias-primas da agricultura familiar, o valor previsto para 2010 de R$ 980 milhes.

23

sade e ambiente

Menos poluio e problemas de sade nas grandes cidadesA adoo de misturas maiores de biodiesel ao diesel fssil resultaria em uma reduo significativa de internaes por problemas respiratrios e evitaria quase duas mortes por dia apenas nas seis maiores capitais brasileiras

O

s grandes centros urbanos so as regies que mais sofrem com a poluio atmosfrica. Dentre as emisses mais preocupantes, encontram-se as de materiais particulados (MP), dixido de enxofre (SO2), monxido de carbono (CO), hidrocarbonetos (HC), xidos de nitrognio (NOx) e as emisses de oxidantes fotoqumicos, como o oznio (O3). O biodiesel um dos combustveis renovveis que possuem vantagens em relao aos combustveis derivados do petrleo. Esses poluentes so emitidos em quantidades significativas em todo o Pas em razo do predomnio do modal rodovirio nos transportes. Seus efeitos so percebidos proeminentemente em cidades mais populosas. Recentemente a Environmental Protection Agency (EPA) tambm reconheceu o potencial do biodiesel em reduzir as emisses de poluentes, calculando uma reduo de emisses de 57% de CO2 em comparao com o diesel mineral.

neiro indicam que, para o crescimento projetado da populao urbana brasileira para 2050, mantendo o padro de mobilidade hoje vigente no Brasil, estima-se um incremento de mais de 50% no total de CO2 emitido. Considerando o crescimento populacional combinado com um aumento da mobilidade, constata-se um acrscimo mais significativo, da ordem de 590%. Mesmo com o crescimento populacional, porm substituindo os combustveis fsseis por biocombustveis, verifica-se um incremento menor, de 165%. E, na melhor das hipteses, admitindo o crescimento da populao, porm mantendo-se no futuro o padro atual brasileiro de mobilidade e apenas substituindo os combustveis fsseis por biocombustveis, verifica-se uma reduo de 43% sobre as emisses geradas pela situao atual.Alm de diminuir o efeito estufa, a substituio do diesel de petrleo pelo biodiesel pode ser convertida em vantagens monetrias no mercado de carbono mundial. Anlises das sries de preo da tonelada equivalente de CO2 indicam tendncia de aumento do preo no mercado. No entanto, para as estimativas, considerou-se o valor estagnado de US$ 10. Nessa perspectiva conservadora, ao longo de dez anos, apenas com o B10, o Brasil geraria aproximadamente US$ 1 bilho. Com o B20, esse valor seria de US$ 2,9 bilhes. Ressalta-se que no h ainda uma definio concreta a respeito dos reais beneficiados com os crditos, mas, de maneira geral, os crditos pertencem ao investidor, que no caso seriam os donos das frotas que utilizariam caminhes abastecidos com a mistura, e evitariam as emisses de CO2.

EFEITO ESTUFAA queima de combustveis fsseis tida como uma das principais fontes responsveis pelo efeito estufa. Por ser uma substncia comum na natureza, o dixido de carbono alocado no grupo de resduos no regulamentados, ou seja, fiscalizado sob o prisma da quantidade e proporo de lanamento na atmosfera. Porm ele representa 64% dos gases causadores do efeito estufa. Estudos da Universidade Federal do Rio de Ja-

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a contriBuio do Biodiesel reduo de emisso de poluentesEmisses mdias (%) de biodiesel comparadas ao diesel fssil

Biodiesel B10

Biodiesel B20 +1 +2 Sox mP

co

Hc

Porcentagem de alteraes nas emisses de diferentes concentraes de biodiesel20

Nox*

NOx0 -20

-8 -10 -12 -10

-7,5

-40 -60

MP CO HC 100 20 40 60 80 Porcentagem de Biodiesel

-12

-80

0

-20

-20

Poluentes oriundos da queima do diesel fssil que causam riscos ao meio ambientePoluentes Hidrocarbonetos (HC) Dixido de enxofre (SO2) Dixido de carbono (CO2) xidos de nitrognio (NOx) riscos ao meio ambiente Formam oxidantes como oznio (O3) e contribuem para o aquecimento global. Principal componente da chuva cida que provoca a corroso de construes e a destruio da vegetao. Principal causador do efeito estufa. Compem a chuva cida em forma de cido ntrico, constitui o smog e contribui para o efeito estufa.

Principais poluentes oriundos da queima do diesel fssil e seus riscos sade pblicaMonxido de carbono (CO) Atua no sangue reduzindo a sua oxigenao. Afeta principalmente o sistema nervoso. Dixido de carbono (CO2) Causa distrbios na respirao, transpirao e dor de cabea. Nveis elevados podem ocasionar perda de conscincia ou at mesmo morte. Oznio (O3) Danifica os tecidos pulmonares, diminuindo a resistncia s doenas infecciosas. Provoca irritao nos olhos e nas vias respiratrias. xidos de nitrognio (NOx) Irritante dos brnquios e olhos, causando conjuntivites, tosse, asma e bronquite. Pode resultar em edema pulmonar em nveis elevados. Responsvel pela formao do smog fotoqumico. Hidrocarbonetos (HC) Em altas concentraes provoca intoxicao crnica, afetando fgado e rins. Em baixas concentraes causa como dor de cabea, enjo e vmitos. xidos de enxofre (SOx) Causa inflamaes graves nas mucosas e das vias respiratrias, podendo ser fatal em alguns casos. Material particulado (MP) Agravam quadros alrgicos e de bronquite. Geram mal-estar, asma, irritao nos olhos, e cncer pulmonar. Compostos orgnicos volteis (COVs) Provocam irritao nos olhos, nariz, pele e aparelho respiratrio. Dentre os mais crticos esto o benzeno e alguns aldedos.

* O controle pode ser feito com catalisadores e adaptaes tecnolgicas em motores. Fonte: Morris et al., 2003, EPA - Environmental Protection Agency, FGV Projetos

25

os Benefcios do Biodiesel sade em razo da diminuio de poluentes atmosfricos

Internaes, custos e bitos evitveis por capital selecionada, em 2007com o uso do Biodiesel B10capital Internaes custos evitados bitos evitadas (r$) evitados 326 428 347 190 364 1.321 2.977 361.754,65 366.981,22 219.640,18 182.053,74 312.570,49 1.436.600,45 2.879.600,73 46 61 49 27 52 188 423

Internaes, custos e bitos decorrentes da poluio pela queima do diesel de petrleo por capital selecionada, em 2007capital Belo Horizonte Fortaleza Braslia Salvador Rio de Janeiro So Paulo Internaes 4.078 5.352 4.332 2.378 4.555 16.514 custos (r$) 4.521.933 4.587.265 2.745.502 2.275.672 3.907.131 17.957.506 bitos ocorridos 579 760 615 338 647 2.345 5.284 mortes

Belo Horizonte Fortaleza Braslia Salvador Rio de Janeiro So Paulo total

com o uso do Biodiesel B20capital Belo Horizonte Fortaleza Braslia Salvador Rio de Janeiro So Paulo total Internaes evitadas 530 696 563 309 592 2.147 4.837 custos evitados (r$) 587.851,31 596.344,48 356.915,29 295.837,32 507.927,04 2.334.475,74 4.679.351,19 bitos evitados 75 99 80 44 84 305 687

totalFonte: FGV Projetos

37.209

r$ 35.995.009

O enxofre, um dos componentes nocivos sade e ao ambiente, presentes no diesel, j alvo de aes visando sua reduo. O International Fuel Quality Center - IFQC divulgou em setembro de 2009 um mapa apontando pases que tm um diesel menos nocivo sade da populao e os que ainda precisam avanar para reduzir os ndices de enxofre no combustvel. Um levantamento do IFQC classificou cem pases com base nos limites de enxofre no diesel de petrleo. O Brasil ocupa o 68 lugar neste ranking. Entre os pases considerados emergentes, o Brasil est atrs da ndia (56) e da

frica do Sul (55). Na Amrica Latina, perde para o Chile (49), o Mxico (47) e a Costa Rica (64). Para cumprir as novas exigncias legislativas, as refinarias teriam que aplicar novas tecnologias para reduo de enxofre do diesel brasileiro ou mesmo aumentar as importaes do produto com menores ndices. Os dois cenrios apresentam desvantagens econmicas em razo principalmente ao alto custo de instalao e at mesmo desequilbrio na balana comercial. Ainda haveria custos e impactos do enxofre residual slido do hidrotratamento. O aumento da adio de biodiesel ao diesel diminuiria o teor de enxofre do combustvel, colaborando para a eficincia dos novos motores.

estima-se que, do total de 133 mil internaes por problemas respiratrios nas seis maiores capitais do brasil registrados em 2007, 37.240 so ocasionadas pela poluio advinda da queima do diesel fssil

SADE PBLICASegundo a Organizao Mundial de Sade (OMS), a poluio atmosfrica tem sido citada como causadora de efeitos sade e estima-se a ocorrncia de cerca de 2 milhes de mortes prematuras por ano no mundo.

26

Internaes evitveis(2007)

4.837 2.977

a taxas de 10% e 20%, poderia, efetivamente, contribuir para reduzir os lanamentos de poluentes atmosfricos danosos sade humana, dadas as menores quantidades de material particulado (MP), monxido de carbono (CO), hidrocarbonetos (HC), entre outros poluentes. As misturas B10 e B20 impactam de forma muito positiva o ambiente e a sade humana em razo dos lanamentos de poluentes evitados. A adoo do B10 permitiria evitar a emisso 65 mil toneladas de monxido de carbono por ano, ao passo que o B20 impediria o lanamento de aproximadamente 100 mil toneladas do poluente. As redues de emisses para os hidrocarbonetos (HC) tambm so animadoras: menos 12.500 toneladas do poluente na atmosfera em um cenrio B10, e em uma realidade de B20, observam-se emisses evitadas do poluente na ordem de 25.000 mil toneladas. Tomando os dados que apontaram para 37.209 internaes, 5.284 bitos, e R$ 36 milhes gastos com sade devido poluio ocasionada pela queima do diesel de fssil, pode-se estimar o impacto das emisses evitadas pela adoo das misturas B10 e B20 em termos de vidas salvas e de economia de recursos. A adoo de misturas maiores de biodiesel ao diesel fssil resultaria em menos 3.000 e menos 4.800 internaes por problemas respiratrios, e evitaria 420 e 690 mortes, para o B10 e o B20, respectivamente. Ademais, deixa-se de gastar cerca de R$ 2,88 milhes, no B10, e R$ 4,68 milhes, no B20, com sade. Conforme mostram as tabelas da pgina anterior, as capitais mais poludas como So Paulo, Fortaleza e Rio de Janeiro seriam tambm as mais beneficiadas pela adoo do B10 e do B20. Alm dos benefcios mensurados, existem as dimenses qualitativas dos benefcios de sade e ambientais associados ao aumento das misturas de biodiesel ao diesel fssil. Questes como a melhoria na qualidade de vida e na paisagem urbana, por exemplo, embora de difcil mensurao, constituem em impactos positivos do incremento da participao do biodiesel na matriz energtica brasileira que no podem ser negligenciados.

B10

B20

bitos evitveis(2007)

687 423B10 B20

recursos financeiros que poderiam ser economizados(2007, em R$)

4.679

2.879

B10

B20

A necessidade de se mitigar a poluio atmosfrica oriunda da queima de combustveis fsseis ganha ainda maior importncia quando se observa que, em 2007, registraram-se 133 mil internaes por doena respiratria nas seis principais capitais brasileiras, resultando em 18 mil mortes (13,5%), e um custo total para o Sistema nico de Sade (SUS) de R$ 128,55 milhes. Essas graves estatsticas so, em parte, o resultado dos poluentes lanados na atmosfera pela queima do leo diesel, resultando em altas concentraes dessas substncias nas seis capitais em foco. Estima-se que, do total de 133 mil internaes por problemas respiratrios nas seis maiores capitais do Brasil registrados em 2007, 37.240 so ocasionadas pela poluio advinda da queima do diesel de petrleo. Dessas internaes, 5.284, ou 14,20%, resultam em bito, acompanhando a taxa de bito das internaes por doenas respiratrias (13,5%), comprometendo cerca de R$ 36 milhes com a sade pblica. Dessa forma, a diminuio no uso de leo diesel mineral, pelo aumento das misturas de biodiesel

O aumento da adio de biodiesel ao diesel diminuiria o teor de enxofre do combustvel, com reflexos bastante positivos para a sade pblica

27

reFleXOs macrOecOnmicOs

Contribuio na balana comercial sem impacto inacionrioCom a mistura B10, o Brasil praticamente no mais necessitaria realizar importaes de diesel fssil, o que melhoraria o resultado comercial com o exterior . A adio do biodiesel no causa impacto significativo na inao

O brasil deixou de gastar, de 2005 a julho de 2010, us$ 2,84 bilhes com importaes de diesel mineral graas aos avanos na produo de biodiesel O ibre-fGV verificou um impacto na inflao ao consumidor entre 0,00021 e 0,00034 ponto percentual ao ano portanto os aumentos projetados da participao de biodiesel na mistura no ocasionaro impactos significativos na inflao

O

diesel um insumo fundamental para economia e seu consumo est diretamente relacionado ao crescimento econmico, como mostra grfico na pgina ao lado. Em 2009, a demanda nacional de diesel mineral foi de 44,7 milhes de m. Desse total, o Brasil importou um volume de 3,5 milhes de m, ou seja, 7,86% da demanda. O volume de produo de biodiesel em 2009 foi cerca de 1,6 milhes de m, ou seja, aproximadamente 3,6% do total de diesel consumido no Brasil. Para zerar as importaes de diesel do pas, a produo de biodiesel teria que incrementar mais 7,86% do total do diesel consumido, ou seja, com a mistura B10 o Brasil praticamente no necessitaria realizar mais importaes de diesel mineral, o que contribuiria contra o dficit atual decorrente da importao de diesel que foi recorde no primeiro semestre de 2010 (US$ FOB 2,2 bilhes ou 3,8 milhes de m de janeiro a junho), com reflexos diretos nas contas nacionais no balano de pagamentos. Assim, com base nos volumes de 2009, o Brasil evitaria com o B10 o dispndio com a importao do diesel mineral de aproximadamente US$ 1,67 bilho, ou 3,52 milhes de m, necessrios para o atendimento da demanda nacional. A balana comercial no seria a nica afetada positivamente pela entrada do B10, mas toda cadeia de valor do biodiesel seria beneficiada com o aumento da produo de matrias-primas que incrementaria o consumo de insumos agrcolas, a assistncia tcnica ao pequeno produtor e a agricultura familiar, a capacidade de armazenagem e processamento

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de oleaginosas, o transporte etc. Combinadas, essas atividades geram efeitos multiplicadores sobre a renda, emprego e arrecadao tributria do Brasil e contribuem para acelerar o processo de desenvolvimento regional. Tomando-se por base 2005 (ano de incio do PNPB) e considerando-se que todo o biodiesel produzido desde ento tem substitudo uma quantidade de diesel mineral que seria importada, pode-se confrontar os dados anuais de produo de biodiesel com os de gastos com importao de diesel mineral (para apurar o valor mdio gasto por m de diesel mineral a cada ano), fornecidos pela ANP. Analisando-se esses dados, conclui-se que o Brasil deixou de gastar, de 2005 a julho de 2010, US$ 2,84 bilhes com importaes de diesel mineral graas aos avanos na produo de biodiesel. O grfico abaixo mostra os volumes de biodiesel que podem ser produzidos, projetando-se uma mistura B5 em 2010, B10 em 2014 e B20 em 2020. Esse volume d uma idia da grande

quantidade de diesel mineral que pode deixar de ser importado com o aumento na produo de biodiesel, favorecendo a balana comercial.

PREOS PRESERVADOSEstudo do Ibre-FGV no identificou impacto significativo na inflao em razo do processo de adio do biodiesel ao diesel. Constatou-se um impacto na inflao ao consumidor entre 0,00021 e 0,00034 ponto percentual ao ano nas projees da mistura at B20.Com base nos valores apurados, concluiu-se que os aumentos projetados da participao de biodiesel na mistura no ocasionaro impactos diretos relevantes na inflao. A obrigatoriedade de mistura a ser estabelecida por um marco regulatrio funcionar como uma garantia de oferta e demanda, evitando riscos de choques. Adicionalmente, ressalta-se que h uma tendncia de aumento na demanda, baseada nas previses de crescimento econmico do Brasil nos prximos anos.

relao entre piB e consumo de leo diesel46

Volumes de biodiesel produzidos considerando diferentes misturasBiodiesel (m3)

44 leo diesel (milhes de m3)

14.320.921

42

40

38

5.562.053

36

2.350.00034 2,00 2,20 2,40 2,60 2,80 3,00 3,20 B20 B10 B5

PIB (trilhes R$, base 2008)Fonte: FGV Projetos

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POr uma traJetria virtuOsa

Benefcios econmicos e sociais valiosos para a sociedadeO desafio para o Pas aproveitar as oportunidades de uma conjuntura favorvel expanso do programa do biodiesel . necessrio consolidar a confiana na capacidade de crescimento do setor e manter sua competitividade

N

esta seo, sero analisados as projees referentes ao aumento da mistura de biodiesel de 5% para 20%, com base no que foi apresentado nas sees anteriores. Para isso, considera-se que o Brasil atingir a mistura B10 em 2014 e continuar com um ritmo de aumento na produo de biodiesel, tendo condies de abastecer sua frota com uma mistura B20 no ano de 2020. No que diz respeito s matrias-primas, projeta-se um grande aumento na produo de oleaginosas, que inclui a diversificao de fontes, expanso de reas de plantio, gerao de empregos e distribuio de renda. Como visto, a participao relativa da soja no total de matria prima deve sofrer ligeira queda, assim como a de sebo bovino, enquanto a participao de outras oleaginosas deve aumentar, absorvendo esses volumes demandados.

No caso da soja, considerou-se que o Brasil aumentar o esmagamento de gros, exportando maior quantidade de farelo, produto com maior valor agregado e que, como rao, possibilita o aumento da oferta de protena animal. Dessa maneira, o Brasil teria em 2014 uma produo de leo suficiente para atender demanda projetada de B10 e, no ano de 2020, seria necessria uma rea adicional de apenas 1,62 milho de hectares de soja para atender demanda projetada de B20. Essa rea corresponde a apenas 1,5% dos 106 milhes de hectares que o Brasil tem disponveis para a agricultura. Se for considerado um sistema de produo familiar, com gerao de um emprego a cada dez hectares, conclui-se que sero criados 154 mil empregos diretos com a adoo do B10 em 2014, total que chegar a 531 mil empregos em 2020, com o B20. Se, adicionalmente, forem levados em conta os empregos indiretos gerados ao longo da cadeia, esse valor ultrapassa os 6 milhes de postos de trabalho. Com relao circulao monetria, haver um potencial de R$ 28 bilhes com investimentos e R$ 23,6 bilhes com a venda de leo at 2020, distribudos em todo o territrio nacional, principalmente em regies menos desenvolvidas atualmente. Com relao indstria, pode-se fazer um clculo projetando o total de investimentos adicionais necessrios para um aumento na capacidade instalada, de maneira a atender o abastecimento

a gerao de empregos chegar a 531 mil em 2020, com o b20. se, adicionalmente, forem levados em conta os empregos indiretos gerados ao longo da cadeia, esse valor ultrapassa os 6 milhes de postos de trabalho

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projeo de ampliao de capacidade

capacidade instalada atual

5,1

Necessidade de ampliao

milhes de m3

9,2

demanda projetada para B20 em 2020

milhes de m3

14,3 m milhes de

3

Investimentos necessrios at 2020

r$ 7,36 bilhes

projees de gerao de empregos com a adoo de B10 e B20Empregos gerados diretamente

153.950 2014 531.045 2020ainda mais empregoCom a adoo do B20 em 2020, sero gerados

6 milhes de empregos indiretos

Volumes necessrios de leos e gorduras para atender o B10 e B20oleaginosa Soja (1.000 m3) Sebo (1.000 m3) Algodo (1.000 m3) outras (1.000 m3)Fonte: FGV Projetos, 2010

atual

2014

2020

1.880 293 59 118

4.227 336 161 837

10.025 414 501 3.381

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mais Biodiesel, menos emisses de poluentes...consumo projetado de biodiesel por subsetor de transportes, na atualidade, em 2014 e 2020(em mil metros cbicos) 8.580

B5

B10

B20

3.332

1.408 880 63 149 FerroviaFonte: FGV Projetos, 2010

928 60 143 386 Cargas 152 361 Outros

383

144

342 nibus urbano

nibus rodovirio

com o b20, o nmero de internados por problemas respiratrios relacionados combusto de leo diesel sofrer uma sensvel reduo, com 77 mil internaes a menos no Pas no ano de 2020. em relao s mortes decorrentes dos poluentes emitidos pelo diesel, estima-se que haver cerca de 11 mil bitos a menos por ano

da demanda pelo B20 em 2020. Ser necessria a construo de mais 9,2 milhes de m3 anuais de capacidade instalada, que resultariam num investimento total de aproximadamente R$ 7,36 bilhes nos prximos dez anos. Conforme verificado anteriormente, a adoo de misturas cada vez maiores de biodiesel ao diesel fssil tem o potencial de reduzir as emisses de poluentes, com impactos diretos sobre o nmero de internaes, bitos por doenas respiratrias, bem como sobre as quantias gastas pelo setor pblico em sade, considerando seis capitais brasileiras. Verifica-se que o B5 j representa R$ 11 milhes economizados na sade pblica, valor que s aumentar com a adoo do B10 e do B20, chegando a cerca de R$ 71 milhes economizados neste ltimo. A quantia de internados por problemas respiratrios relacionados combusto de leo diesel tambm sofrer uma sensvel reduo, com 77 mil internaes a menos ao ano em 2020, em um cenrio B20. Em relao aos bitos decorrentes dos poluentes emitidos pelo diesel, estima-se que haver cerca de 11 mil bitos a menos por ano no Pas.

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menos gastos com saderecursos financeiros que podem ser economizados e internaes e bitos evitveis por ano no Brasil

B5

B10 77.672

B20

71.222

34.520

31.654

12.945

11.870 1.838 4.902 bitos

11.029

InternaesFonte: FGV Projetos, 2010

Custo (R$ mil)

CONSIDERAES FINAISO Programa Nacional de Produo e Uso de Biodiesel uma oportunidade valiosa de gerao de riqueza e distribuio de renda. Desde a sua criao, a resposta do setor produtivo tem sido vigorosa a antecipao da implementao da obrigatoriedade das misturas B3, B4 e B5 o principal exemplo de sua solidez. A capacidade instalada atual de aproximadamente 5,1 milhes de m3 anuais j atenderia demanda para um B10 imediato e seria quase suficiente para atender o crescimento da demanda at o ano de 2014. Os benefcios gerados pelo PNPB so bastante amplos e muitas vezes avaliados sobre uma tica excessivamente estreita, no abrangendo todo o seu alcance mercadolgico, social, ambiental e tecnolgico, conforme previsto nas diretrizes do programa. Sob o ponto de vista mercadolgico, tem-se que a soja deve manter-se como um importante lastro alternativo para garantir o abastecimento de matria-prima para o biodiesel e assegurar o desenvolvimento de outras oleaginosas. H, no mercado mundial, de acordo com a tendncia de aumento do consumo de protena animal, elasticidade para que o Brasil retome os 40% que detinha no mercado mundial de farelo em 1996. Isso representaria uma exportao de aproximadamente 28 milhes de toneladas de farelo e uma receita de US$ 8,4 bilhes em 2020. Entre os anos de 2005 e 2010, de acordo com dados compilados com o setor produtivo, foram investidos cerca de R$ 4 bilhes na indstria do biodiesel. Quanto s importaes de diesel mineral, uma mistura B10 poderia suprir esta necessidade, o que teria representado uma economia de US$ 1,67 bilhes no ano de 2009. A Argentina, ao contrrio do Brasil, exporta seu biodiesel, que atualmente mais competitivo que o brasileiro em razo de diferenas tributrias e conjunturais. Esses fatores levaram a Argentina a se tornar o quinto produtor mundial de biodiesel e incrementar a participao desse combustvel em sua matriz energtica, com uma mistura obrigatria atual de 7% e uma mistura B10 prevista at dezembro de 2010.

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Aumentos no percentual de mistura para 10% e 20% (2014 e 2020, respectivamente) no devem acarretar elevaes significativas na inflao (0,00021 e 0,00034 ponto percentual ao ano, conforme calculado pelo Ibre-FGV). Alm disso, haver um potencial de circulao monetria at 2020 de cerca de R$ 28 bilhes com investimentos e uma receita naquele ano de R$ 23,6 bilhes com venda de leo, que devem estar distribudos em todo o territrio nacional no cenrio de diversificao de matrias primas previsto. Uma interessante estratgia de mercado a adoo do biodiesel como um piso de referncia de preo, garantindo a compra de matria-prima em casos de queda no preo do leo vegetal, uma vez que os valores gastos nessa aquisio so levados em conta na obteno do Selo Combustvel Social. No campo tecnolgico, o PNPB dever ser o principal agente para o desenvolvimento de diversas culturas oleaginosas, com pouca expresso no agronegcio nacional at ento. Os cenrios estudados neste trabalho indicam avanos em pesquisa e desenvolvimento de novas variedades e cultivares, alm de programas de assistncia tcnica e extenso rural. O marco regulatrio fundamental para transformar pesquisas em arranjos produtivos. Com relao questo ambiental, sabe-se que o Brasil hoje um dos poucos pases com condies de expandir a produo agrcola sem grandes impactos em sua biodiversidade. Alm

disso, a adoo de maiores teores de biodiesel misturado ao diesel fssil representa uma reduo importante de emisses de poluentes. Na tica social, a descentralizao e o aumento da produo de oleaginosas sero fatores estruturantes para o desenvolvimento de plos de produo, inclusive em regies atualmente menos favorecidas, incluindo a agricultura familiar (assentamentos e comunidades rurais tradicionais) e promovendo a fixao do homem no campo. H uma previso de R$ 980 milhes a serem gastos com aquisio de matrias-primas da agricultura familiar e aproximadamente 100 mil famlias participando do PNPB em 2010, o que representaria o dobro da participao de 2009. Alm disso, projeta-se uma gerao de aproximadamente 531 mil empregos diretos at 2020. Com relao sade pblica, foram registradas, no ano de 2007, 133 mil internaes por doenas respiratrias nas seis principais capitais brasileiras, que resultaram em 18 mil mortes e um custo de 128,55 milhes de reais. A adoo de uma mistura B10 resultaria, para esse cenrio, em 3.000 internaes e 420 bitos a menos, alm de uma economia de R$ 2,88 milhes. Para as mesmas condies, a mistura B20 resultaria em 4.800 internaes e 690 bitos a menos e uma economia de R$ 4,68 milhes. Num cenrio considerando uma mistura B20 em 2020, sero evitadas cerca de 11 mil mortes ao ano no Brasil decorrentes de poluentes emitidos por diesel.

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O grande desafio atual para o setor de biodiesel est na construo de uma conjuntura favorvel sua expanso, para evitar restries ao seu crescimento e manter sua trajetria virtuosa. O sucesso do programa no deve ser visto como um resultado j assegurado no futuro. necessrio ampliar os atuais volumes de mistura para consolidar a confiana na capacidade de crescimento sustentvel e manter a competitividade do setor no longo prazo.

equipe fGV diretor do Projeto: Cesar Cunha Campos supervisor: Ricardo Simonsen coordenador: Cleber Lima Guarany corpo tcnico: Giuliano Marchini Senatore (coordenador tcnico), Ana Paula Fraga, Denis Faquim Araki, Felipe Gavioli, Flvio Rodrigues Cabrera, Maria Gabriela Beloto, Mariane Crespolini dos Santos, Rodrigo Rota Bermejo e Saulo de Castro Mendes

consultoria editorial: Edney Cielici Dias

www.ubrabio.com.br

elaborao grfica: Mario Kanno e Lucia Paiva

O Programa Nacional de Uso e Produo de Biodiesel (PNPB) uma iniciativa inovadora, criada em 2005, para fomentar a produo e uso desse combustvel no Brasil. No se trata apenas de uma fonte alternativa de energia, mas tambm uma oportunidade para a gerao de emprego e renda, com benefcios sociais, ambientais e para a sade da populao.