INTRODUÇÃO
A biografia de Nietzsche é a história de uma existência de errança, sofrimento e
solidão. Seu pensamento rebelde e insolente desafia as normas de sua época e declara
guerra aos valores do seu tempo. Com efeito, esse homem atribui-se a missão de
derrubar a base dos ideais do Ocidente - o Cristianismo - para instaurar os valores
materialistas que ele julgava "bons".
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1. A VIDA
Nascido no dia 15 de Outubro de 1844 na pequena cidade de Röcken, na Prússia,
Friedrich Wilhelm Nietzsche era o primogênito de Karl Ludwing e Franziska Oehler,
descendentes de família protestante, sendo seu pai um pastor luterano. O casal ainda
teve mais dois filhos: Elizabeth e Joseph.
Em 1849, seu pai veio a falecer, vítima de uma queda. Poucos meses depois
morreu o pequeno Joseph. A viúva Franziska mudou-se com as crianças para
Naumburgo. Lá, Nietzsche começou seus estudos e, num colégio em regime de
internato, dedicou grande parte do tempo ao estudo da teologia, pois queria ser pastor
como seu pai. Em Outubro de 1864, entrou na Universidade de Bonn, para estudar
teologia e filologia clássica, transferindo-se um ano depois para a Universidade de
Leipzig, onde fundou a Sociedade Filológica de Leipzig. Chegou também a participar
como enfermeiro voluntário da guerra franco-prussiana.
Contrariando o desejo de sua família, Nietzsche, após dedicar-se por muito tempo
ao estudo das ciências bíblicas, abandonou a teologia, encaminhando-se ao ateísmo.
Com apenas 24 anos de idade, foi nomeado professor de filologia clássica na
Universidade da Basiléia, na Suíça, onde ficou amigo do famoso compositor Richard
Wagner. Em 1873 surgem os primeiros problemas de saúde, numa vida marcada por
desilusões amorosas, pouco contato com a família e até três tentativas de suicídio.
Doente, em 1879, apresenta uma carta de demissão à Universidade e abraça uma vida
errante, vivendo de uma modesta pensão anual. Começa então uma vida errante em
busca de um clima favorável tanto para sua saúde como para seu pensamento
Em vão, tentou se casar. Apaixonado por uma "jovem russa" que conhecera em
1882, teve seu pedido de casamento recusado. Pouco tempo depois Lou Salomé já
estava casada com um dos melhores amigos do infeliz filósofo rejeitado.
Entre músicas, poemas, conferências, livros e apêndices, é muito grande o seu
número de escritos. Como não possuíam uma seqüência lógica, optou por organizá-los
em aforismos para publicação. O seu primeiro livro, "O Nascimento da Tragédia no
Espírito da Música", foi publicado em 1873 e agradou a muitos poucos. Por
conseguinte, perdeu praticamente todos os seus alunos e foi excomungado do círculo
dos filólogos.
Eis as obras mais conhecidas do pensador alemão: "Humano, Demasiadamente
Humano" (1878), "Aurora" (1881), "A Gaia Ciência" (1882), "Assim Falou Zaratrusta"
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(1883), "Para-Além de Bem e Mal" (1885), "Genealogia da Moral" (1887),
"Crepúsculo dos Ídolos" (1888), "O Anticristo" (1888) e sua autobiografia "Ecce
Homo" (1888).
Durante muito tempo, ele mesmo arcava com as despesas de publicação dos seus
livros, que enviava para as pessoas conhecidas, que não se interessavam. O
reconhecimento só veio quando já estava quase no fim da vida.
Nietzsche passou a viver solitário, discriminado e inquieto, quando passou a escrever
cartas consideradas estranhas, até ser internado na clínica psiquiátrica da Basiléia com
paralisia progressiva do cérebro. No início desta loucura, Nietzsche encarna
alternativamente as figuras míticas de Dionísio e Cristo, expressa em bizarras cartas,
afundando depois em um silêncio quase completo até a sua morte. Uma lenda dizia que
contraiu sífilis. Estudos recentes se inclinam antes para um câncer do cérebro, que
eventualmente pode ter origem sifilítica.
Perdeu a razão, oficialmente, no início de 1889 e passou os últimos onze anos de
sua vida tutelado pela família, vindo a falecer em Weimar, completamente alheio à
realidade à sua volta, ao meio-dia de 25 de Agosto de 1900.
Muitos estudiosos da época tentaram localizar os momentos que Nietzsche escrevia sob
crises nervosas ou sob efeito de drogas (Nietzsche estudou biologia e tentava descobrir
sua própria maneira de minimizar os efeitos da sua doença).
Neste período, desempenhou um papel importantíssimo a irmã do adoentado
pensador, Elizabeth Föster-Nietzsche, que através de trâmites judiciários, recebeu a
custódia de todos os seus escritos. Ela elaborou uma nova edição das obras e divulgou o
nome do irmão na imprensa, fazendo-o ídolo e ganhando muito dinheiro. Com a renda
proveniente dos direitos autorais e das doações, criou em Weimar os Arquivos
Nietzsche, sendo posteriormente visitada pelo próprio Hitler e enterrada com honras
nacionais quando finalmente também desencarnou.
2. INFLUÊNCIA NA EDUCAÇÃO
Os primeiros escritos de Friedrich Nietzsche, pouco comentados, abordam a
educação. Neles o filósofo critica as instituições de seu tempo e duas tendências básicas
em relação à cultura: a tendência à universalização e a tendência à especialização. Tanto
uma quanto outra são vistas como extremamente nefastas, pois contribuem para a
massificação e a mediocrização, produzindo uma “barbárie cultivada”. Nietzsche
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propõe uma educação baseada no modelo dos grandes mestres, que com sua grandeza e
genialidade fariam com que toda sociedade se elevasse culturalmente. Contra esta idéia
de elevação cultural em prol da vida existem os interesses dos negociantes, do Estado e
da ciência, que vêem a educação apenas como um meio para a obtenção de seus fins.
Sua filosofia é uma fonte riquíssima de pesquisa e reflexão, pois a educação foi
um de seus objetos de estudo além de aparecer, por vezes implicitamente, em toda sua
obra. Se levada a extremos, sua filosofia – sobretudo a derradeira – pode ser vista
inclusive como impossibilitadora da própria educação.
Suas “Considerações Intempestivas” ou “Extemporâneas” desferem um ataque
profundo à educação de seu tempo e indiretamente ao projeto pedagógico da
modernidade como um todo. Estas obras fazem parte do que os comentadores
costumam chamar de “primeiro Nietzsche” ou “o primeiro período” de três que
corresponderiam a toda sua produção. Nelas o filósofo critica a educação ministrada nas
instituições de ensino de seu tempo, acusando-as de apequenarem o homem ao formá-lo
apenas para servir aos interesses do Estado, da ciência e do mercado. Nietzsche aponta
uma tendência para a potencialização de elementos comuns (e medíocres) dos
indivíduos, nivelando-os para sua melhor utilidade ao invés de despertá-los em suas
singularidades como seres humanos. Esta tendência de uniformização exacerba a
importância da memorização como a forma mais importante para se educar, em
detrimento da ação e da criação.
É incomum, ainda, a percepção de Nietzsche como um filósofo que tenha pensado
a educação. No entanto, toda sua obra é permeada direta ou indiretamente pela
preocupação com a formação de um outro ser humano. Embora apenas em seus
primeiros escritos ele trate especificamente do tema educação, a preocupação em
transmitir algo e ser compreendido segue aparecendo em toda sua produção intelectual,
sobretudo em seu Zaratustra.
Para Nietzsche a situação desanimadora da educação de seu tempo poderia
ser percebida pela leitura dos pedagogos, da pobreza de sua produção que mais
pareceria uma brincadeira de crianças. Exatamente na formação básica do ginásio,
essencial, era onde reinavam maus profissionais que não tinham a menor delicadeza
para o trabalho pedagógigo, para a “mais delicada das técnicas que poderia existir numa
arte, a técnica da formação cultural” (ibidem, p.67). Mas como poderiam os professores
realizar esta grandiosa tarefa, se eles próprios não haviam sido “iniciados” em uma
cultura nobre e superior? Nietzsche lamenta o abandono do projeto de reforma do
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ensino iniciada no início do século XIX na Alemanha, que objetivava um retorno à
Antigüidade clássica e que havia sido abandonado principalmente na proposta de formar
os mestres do ginásio dentro da tradição dos antigos gregos.
A massificação e universalização da cultura acabaram gerando também um
número excessivo de estabelecimentos de ensino superior, todos voltados para a
formação das grandes massas. No entanto, Nietzsche defende a tese de que a natureza
produz um número extremamente limitado de homens para a cultura e por isso deveriam
existir apenas algumas instituições de ensino superior. Porém, o que se vê é o
surgimento de mais e mais estabelecimentos, onde irão lecionar mestres tão medíocres
quanto seus alunos. À cultura de massa Nietzsche contrapõe uma cultura voltada para o
surgimento dos grandes gênios, indivíduos que deixariam sua marca original para os
tempos vindouros e serviriam como parâmetro seguro para avaliar a grandeza de uma
época.
Segundo Nietzsche a ampliação e o grande número de escolas serviam apenas aos
interesses do Estado que vinculava, assim, a formação nos ginásios com a obtenção de
cargos. O Estado moderno percebe que se financiar a produção e a difusão da cultura,
pode utilizá-la para seus fins. A cultura passa a ser considerada útil apenas se serve aos
interesses do Estado, diferentemente do que se passava na Grécia antiga quando o
Estado era o “companheiro de viagem” da cultura. A elevação cultural com a finalidade
de formar o gênio, a exceção, dá lugar a uma formação massificada que uniformiza a
todos a partir de características comuns, medíocres. Muitos anos depois, no período
derradeiro de seus escritos, Nietzsche dirá em seu Crepúsculo dos Idolos: “O que as
“escolas superiores” alemãs sabem fazer de fato é um adestramento brutal para tornar
utilizável, explorável ao serviço do Estado uma legião de jovens com uma perda de
tempo tão mínima quanto possível”.
O adestramento realizado pelas instituições de seu tempo, para Nietzsche, nada
tem a ver com a verdadeira cultura. O que cada indivíduo necessita aprender para sua
própria sobrevivência é importante, e as experiências que levam-no a tais aprendizados
são realmente necessárias. Nietzsche não nega a necessidade de uma educação para a
sobrevivência, representada nas escolas técnicas. O que enfatiza é que não há cultura
sem o desligamento do “mundo das necessidades”, e que um homem que está ligado à
esta luta individual pela vida não pode simplesmente dispor de tempo para alcançar a
verdadeira cultura. Uma educação que se propõe como finalidade formar alguém para
ocupar um cargo de funcionário ou ganhar dinheiro não pode ser chamada de educação
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para a cultura, mas apenas uma indicação do caminho que o indivíduo deverá percorrer
para manter-se vivo. Trata-se de uma educação que visa a domesticação, a criação de
pessoas medíocres e úteis aos ditames de seu tempo. Nietzsche contrapõe a esta
domesticação um “adestramento seletivo” que leve o jovem a tornar-se senhor de seus
instintos.
Indo em direção contrária à tendência de dar autonomia aos educandos, Nietzsche
propõe a idéia de um modelo de educador ao qual o jovem estudante poderá tomar
como exemplo para si, como a melhor forma de encontrar a si próprio.
A educação acontece, então, a partir do modelo ou exemplo de vida fornecido pelo
mestre, e não pela simples transmissão de conhecimentos. A credibilidade pessoal do
mestre ou guia é ainda mais importante que o conteúdo objetivo de sua doutrina. O
educando descobrirá suas próprias potencialidades através do contato com o mestre,
aprofundando suas forças e libertando-se pela imitação criadora. Os mestres ou guias
são modelos a serem criativamente imitados, não no sentido de repetição de seus atos,
mas como “pretextos para a experimentação de si”. A educação moderna, para
Nietzsche, havia substituído os verdadeiros educadores que seriam os “modelos
ilustres” por “uma abstração inumana” que é a ciência.
3. OBRAS
Obras de Friedrich Nietzsche, na ordem em que foram compostas:
O Nascimento da Tragédia no Espírito da Música (Die Geburt der Tragödie aus
dem Geiste der Musik, 1872); reeditado em 1886 com o título O Nascimento da
Tragédia, ou Helenismo e Pessimismo (Die Geburt der Tragödie, Oder:
Griechentum und Pessimismus)
A Filosofia na Idade Trágica dos Gregos (Philosophie im tragischen Zeitalter
der Griechen, 1873 - publicado postumamente).
Sobre a verdade e a mentira em sentido extramoral (Über Wahrheit und Lüge
im außermoralischen Sinn, 1873 - publicado postumamente;
Considerações Extemporâneas ou Considerações Intempestivas (Unzeitgemässe
Betrachtungen, 1873 a 1876). — Série de quatro artigos:
o David Strauss, o Confessor e o Escritor (David Strauss, der Bekenner
und der Schriftsteller, 1873);
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o Dos Usos e Desvantagens da História Para a Vida (Vom Nutzen und
Nachteil der Historie für das Leben, 1874);
o Schopenhauer como Educador (Schopenhauer als Erzieher, 1874);
o Richard Wagner em Bayreuth (Richard Wagner in Bayreuth, 1876).
Humano, Demasiado Humano, um Livro para Espíritos Livres (Menschliches,
Allzumenschliches, Ein Buch für freie Geister, verão final publicada em 1886);
Aurora, Reflexões sobre Preconceitos Morais (Morgenröte. Gedanken über die
moralischen Vorurteile, 1881). —
A Gaia Ciência, traduzida também com Alegre Sabedoria, ou Ciência Gaiata
(Die fröhliche Wissenschaft, 1882).
Assim Falou Zaratustra, um Livro para Todos e para Ninguém (Also Sprach
Zarathustra, Ein Buch für Alle und Keinen, 1883-85).
Além do Bem e do Mal, Prelúdio a uma Filosofia do Futuro (Jenseits von Gut
und Böse. Vorspiel einer Philosophie der Zukunft, 1886).
Genealogia da Moral, uma Polêmica (Zur Genealogie der Moral, Eine
Streitschrift, 1887).
O Crepúsculo dos Ídolos, ou como Filosofar com o Martelo (Götzen-
Dämmerung, oder Wie man mit dem Hammer philosophiert, agosto-setembro
1888).
O Caso Wagner, um Problema para Músicos (Der Fall Wagner, Ein
Musikanten-Problem, maio-agosto 1888).
O Anticristo - Praga contra o Cristianismo (Der Antichrist. Fluch auf das
Christentum, setembro 1888).
Ecce Homo, de como a gente se torna o que a gente é (Ecce Homo, Wie man
wird, was man ist, outubro-novembro 1888).
Nietzsche contra Wagner (Nietzsche contra Wagner, Aktenstücke eines
Psychologen, dezembro 1888).
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4. REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS
http://www.consciencia.org/nietzsche_educacaoneukamp.shtml
http://pt.wikipedia.org/wiki/Friedrich_Nietzsche
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