Universidade Federal de Alagoas
Centro de Tecnologia
Graduação em Engenharia Ambiental
Disciplina de Ecologia
Prof. Roberto Caffaro
MATA DOS COCAIS
Jade Varallo Corte
Jéssica Francyne Frias
Jonas Rafael Duarte Cavalcante
Maceió, 23 de setembro de 2009
Universidade Federal de Alagoas
Centro de Tecnologia
Graduação em Engenharia Ambiental
Disciplina de Ecologia
Prof. Roberto Caffaro
MATA DOS COCAIS
Maceió, 23 de setembro de 2009
Relatório desenvolvido pelos
alunos Jade Varallo Corte, Jéssica
Francyne Frias e Jonas Rafael
Duarte Cavalcante, matriculados
no quarto período do curso de
Engenharia Ambiental, para a
disciplina Ecologia ministrada pelo
Professor Roberto Caffaro.
Introdução
Segundo a WIKIPEDIA (2009), biomas “são as comunidades biológicas,
ou seja, as populações de organismos da fauna e da flora interagindo entre si e
interagindo também com o ambiente físico chamado biótopo”.
Bioma é uma unidade biológica ou espaço geográfico caracterizado de
acordo com o macroclima, a fitofisionomia (aspecto da vegetação de um lugar),
o solo e a altitude específicos. Alguns, também são caracterizados de acordo
com a presença ou não de fogo natural. A palavra bioma (de bios=vida e
oma=grupo ou massa) foi usada pela primeira vez com o significado acima por
Clements (ecologista norte-americano) em 1916. Segundo ele a definição para
bioma seria, “comunidade de plantas e animais, geralmente de uma mesma
formação, comunidade biótica”. (FARIA, 2007)
Ecótono (ou ecótone) é definido, de acordo com a Resolucão CONAMA
(1994), como “zona de contato ou transição entre duas formações vegetais
com característica distintas”. De forma geral pode-se dizer que é a região
situada na transição de dois ou mais biomas, de forma que a Mata dos Cocais
é um exemplo claro de ecótono.
LIMA et al (2006) afirma que, segundo COELHO et al. (2002), “a zona
dos cocais é uma formação de transição entre a floresta amazônica, mata
atlântica, caatinga e cerrado”.
A região é considerada a de maior concentração de plantas oleaginosas
do mundo e fonte da maior produção extrativista vegetal do país. (LIMA et al,
2006).
Mata de Cocais – Imagem disponível em
http://www.colegiosaofrancisco.com.br/alfa/mata-dos-cocais/mata-dos-cocais-2.php
1. Localização
De acordo com o MUNDO EDUCAÇÂO (2009), “a mata dos cocais
abrange os estados do Maranhão, Piauí, Ceará e setentrional do Tocantins,
área conhecida como meio-norte”, podendo também sem encontradas
formações características desse ecótono na Bahia (FARIA, 2008).
Ainda por FARIA (2008), “a mata de cocais faz a transição entre a
caatinga, típica do nordeste, a floresta amazônica, típica da região norte, e o
cerrado, mais ao sul”, uma vez que está localizada bem no meio destes
importantes biomas.
Localização da Mata dos Cocais no Brasil. Imagem disponível em
http://geografiabrasil.wordpress.com/2008/03/20/mata-dos-cocais/
2. Fatores ambientais
Segundo o MUNDO EDUCAÇÃO (2009), nas regiões onde ocorre a
mata dos cocais o clima varia desde o equatorial úmido até o semi-árido. Ainda
de acordo com a mesma fonte, as localidades com o clima mais úmido são o
Maranhão, norte do Tocantins e oeste do Piauí, onde ocorre a proliferação do
babaçu. A carnaúba é o vegetal que predomina nas áreas mais secas, que se
dão a leste do Piauí.
Climas do Brasil. Imagem disponível em:
http://www.sogeografia.com.br/Conteudos/GeografiaFisica/Clima/
Partindo da informação que Carnaúba só se desenvolve em solos
argilosos, aluviões e em leito de rios, alem de ser resistente ao sal, e que na
Mata dos Cocais há o desenvolvimento desta espécie, infere-se que tais
características são aplicáveis ao solo da região em estudo. (MUNDO
EDUCAÇÃO, 2009).
O Meio Norte (mais conhecido por Mata dos Cocais), por estar situado
numa região de transição entre a região Amazônica – quente e muito úmica - e
o sertão semi-árido, possui clima quente e chuvoso em São Luis – MA (em
média 2 mil mm por ano), porém a chuva diminui quando vamos para o leste e
o interior da região caindo para 1500 mm anuais em Teresina, e apenas 700
mm no sul ocidental do Piauí, cujas condições climáticas são similares às do
sertão (JOÃO, 2004).
Com relação ao relevo da Região dos Cocais, JOÃO (2009) diz que no
Maranhão e Piauí, a planície costeira ocupa quase um terço da superfície
destes estados.
Classificação de Aziz Ab Saber para o relevo do Brasil. Imagem disponível em
http://conceitosetemas.blogspot.com/
De acordo com a imagem acima, é claro enxergar que a afirmação
acima é verdadeira. A Mata dos Cocais está localizada, em sua maior parte,
sobre o Planalto do Maranhão-Piauí.
“O planalto do Maranhão-Piauí (ou do Meio-Norte) situa-se na parte sul e
sudeste da bacia sedimentar do Meio-Norte. Aparecem, nessa área, vários
planaltos sedimentares de pequena altitude, além de algumas cuestas.”
(VESTIBULAR1, 2009).
A Mata dos Cocais é uma floresta secundária, pois cresceu com o
desmatamento de vegetações anteriores. Atualmente, a área desta região
ocupa menos de 3% da área do Brasil. (WIKIPEDIA, 2009).
O extrativismo da carnaúba e, principalmente, do babaçu exercem
grande importância na população que habita na Região dos Cocais. As
atividades desenvolvidas com tais espécies não geram nenhum prejuízo
ambiental, uma vez que são retirados somente os frutos e as folhas e essas
são recompostas pela planta, ou seja, brotam novamente. O que tem colocado
em risco a conservação da mata dos cocais é a ocupação agropecuária, pois
retira a cobertura original para que o local seja ocupado por pastagens para a
criação de gado e lavouras de monoculturas. (MUNDO EDUCAÇÃO, 2009).
3. Espécies Locais
As vegetações típicas da Mata dos Cocais além do babaçu, que aparece
em maior quantidade, e da carnaúba, são a oiticica e o buriti. Durante muito
tempo o extrativismo vegetal foi a principal fonte produtiva da região. Os
recursos vegetais que adquirem maior expressividade para sua exploração
são: carnaúba babaçu e o buriti. Dentre as atividades mais extraídas nessa
região são: a carnaúba e o babaçu. (PORTAL SÃO FRANCISCO, 2009)
Carnaubeira. Imagem disponível em:
http://www.portalsaofrancisco.com.br/alfa/carnauba/carnauba.php
Nome popular: Carnaubeira
Nome científico: Copernicia prunifera (Miller) H.E. Moore Família botânica:
Palmae
Origem: Brasil, no Nordeste e Pantanal.
Características da planta: Estipe reto e cilíndrico, atingindo de 10 a 15 m de
altura, formando saliências espiraladas em sua superfície, decorrentes dos
restos das folhas que caíram Folhas em forma de leque com até 1 m de
comprimento. Flores amarelas em cachos pendentes que surgem de julho a
outubro.
Fruto: Cacho com centenas de frutos ovóides a globosos, brilhantes,
esverdeados quando jovens e roxos quando maduros. Frutifica de novembro a
março.
A Carnaúba é uma árvore endêmica no semi-árido do nordeste
brasileiro, árvore símbolo dos Estados do Piauí e Ceará, conhecida como
árvore da vida. (WIKIPEDIA, 2009)
Coqueiro-buriti. Imagem disponível em:
http://www.portalsaofrancisco.com.br/alfa/buriti/buriti.php
Nome popular: carandá-guaçu; coqueiro-buriti; palmeira-do-brejo; miriti.
Nome científico: Mauritia flexuosa L.
Família botânica: Palmae.
Origem: Brasil - Regiões brejosas de várias formações vegetais.
Características da planta: Palmeira de porte elegante com estipe ereto de até
35 m de altura. Folhas grandes, dispostas em leque. Flores em longos cachos
de até 3 m de comprimento, de coloração amarelada, surgem de dezembro a
abril.
Fruto: Elipsóide, castanho-avermelhado, de superfície revestida por escamas
brilhantes. Polpa marcadamente amarela. Semente oval dura e amêndoa
comestível. Frutifica de dezembro a junho.
Fruto do Buriti. . Imagem disponível em:
http://www.portalsaofrancisco.com.br/alfa/buriti/buriti.php
Babaçu. Imagem disponível em:
http://www.portalsaofrancisco.com.br/alfa/babacu/babacu.php
Nome popular: baguaçu; coco-de-macaco
Nome científico: Orrbignya speciosa (Mart.) Barb. Rodr.
Família botânica: Palmae
Origem: Brasil - Região amazônica e Mata Atlântica na Bahia.
Características da planta: Palmeira elegante que pode atingir até 20 m de
altura. Estipe característico por apresentar restos das folhas velhas que já
caíram em seu ápice. Folhas com até 8 m de comprimento, arqueadas. Flores
creme-amareladas, aglomeradas em longos cachos. Cada palmeira pode
apresentar até 6 cachos, surgindo de janeiro a abril.
Fruto: Frutos ovais alongados, de coloração castanha, que surgem de agosto a
janeiro, em cachos pêndulos. A polpa é farinácea e oleosa, envolvendo de 3 a
4 sementes oleaginosas.
A respeito da flora local, Caxirimbu, cidade localizada dentro da região do
Cocais, é cercada por grande área verde e densas matas de cocal com a
presença de babaçuais, mas identifica-se a presença de várias espécies
nativas entre as quais se destacam o caneleiro (Lindockeria paraensis), a
maçaranduva ou maçaranduba (Manilkara huberi), ipê ou pau d’arco (Tabebuia
serratifolia), aroeira (Astronium sp), sapucaia (Lecythis usitata), mirindimba
(Buchenavia sp.). Além dessas espécies podemos identificar ainda a presença
de cultura induzida de caju, tamarindo (Tamarindus indica L.) e manga
(Mangifera indica L).
Sobre as espécies de animais silvestres, de acordo com depoimentos de
assentado/as, podem ser encontradas cotia (Dasyprocta agouti), paca (Agouti
paca), macaco-prego (Cebus nigrivittatus), veado (Mazama americana), gato
do mato (Leopardus tigrinus), mucura (Philander sp), répteis como teiú
(Tupinambis teguixin) e camaleões (Chamaeleo chamaeleon) cobras como
jibóia (Boa constrictor), cascavel (Crotalus durissus terrificus). Entre as aves
têm destaque o nambu (Crypturellus sp), perdiz (Rhynchotus rufescens), jacu
(Penelope ochrogaster). E espécies não definidas de macacos, tatus e
papagaios. (LIMA, 2007)
O extrativismo de madeira consiste na exploração de espécies vegetais
nobres, para fins industriais e rurais. Em conseqüência do desmatamento, a
área de tensão ecológica da porção centro-norte da Bacia do Parnaíba reduziu
a taxa de produção de madeira na região devido à fiscalização do IBAMA. Esta
atividade não existe um manejo sustentável que interfere no ecossistema
através da diminuição da população das espécies vegetais, tendo como
conseqüência a diminuição do potencial madeireiro, da população das espécies
animais e do aumento do escoamento superficial, que acelera os processos de
degradação (SOUZA, 2006, em citação a GATTO, 1999).
A fauna é muito diversificada, tendo, porém, poucos mamíferos de
grande porte. Ao nível do solo há poucos animais (roedores, gambás, lagartos,
cobras), vivendo a maioria nas copas das árvores: aves, macacos, insetos, etc.
Nas águas dos rios podem ser encontrados o boto, a ariranha e o acará-
bandeira. (FESMADAJEKA, 2007)
4. Relações Ecológicas
Nas comunidades bióticas dentro de um ecossistema encontram-se
várias formas de interações entre os seres vivos que as formam, denominadas
relações ecológicas ou interações biológicas. Essas relações se diferenciam
pelos tipos de dependência que os organismos vivos mantêm entre si. Algumas
dessas interações se caracterizam pelo benefício mútuo de ambos os seres
vivos, ou de apenas um deles, sem o prejuízo do outro. Essas relações são
denominadas harmônicas ou positivas.
Outras formas de interações são caracterizadas pelo prejuízo de um de
seus participantes em benefício do outro. Esses tipos de relações recebem o
nome de desarmônicas ou negativas.
Tanto as relações harmônicas como as desarmônicas podem ocorrer
entre indivíduos da mesma espécie e indivíduos de espécies diferentes.
Quando as interações ocorrem entre organismos da mesma espécie, são
denominadas relações intra-específicas ou homotípicas. Quando as relações
acontecem entre organismos de espécies diferentes, recebem o nome de
interespecíficas ou heterotípicas.
No caso da Mata dos cocais essas interações são facilmente mais
freqüentes, devido a própria situação ecológica do bioma, por se tratar de uma
zona de transição entre o bioma Amazônico e o bioma da Caatinga, por conta
disso haverá mais espécies o habitando e conseqüentemente, mais espécies
interagindo.
5. Importância Econômica
De acordo com CARVALHO (1998), a região é considerada a de maior
concentração de plantas oleaginosas do mundo e fonte da maior produção
extrativista vegetal do país. Desta afirmação já se percebe o potencial
econômico da mata dos cocais.
Dentre as espécies de valor econômico, destacam-se o Babaçu e a
Carnaúba.
Babaçu:
CARVALHO (1998) afirma que o babaçu é uma matéria-prima explorada
extrativamente que apresenta enorme potencialidade, tanto do ponto de vista
econômico quanto social.
Uma única arvore de babaçu é capaz de produzir até 2.000 frutos por
ano, cada um contendo de 3 a 4 sementes oleaginosas que, devido à alta
concentração de matérias graxas, são a principal fonte de renda das famílias
locais. (http://www.infoescola.com/geografia/mata-dos-cocais/)
De acordo com a EMBRAPA (1984), citada por TEIXEIRA E MILANEZ
(2003), os babaçuais se distribuem numa área de aproximadamente 14,5
milhões de hectares, por sete estados brasileiros (Maranhão, Tocantins, Piauí,
Goiás, Minas Gerais, Mato Grosso e Espírito Santo), com um potencial
produtivo estimado em 15 milhões t/ano, sendo realmente aproveitados
somente 30% do estimado. A coleta e quebra do fruto dessa Palmacea chega a
empregar até 2 milhões de pessoas durante o pico da safra. Os principais
produtos comerciais extraídos da palmeira de babaçu são o óleo (extraído da
amêndoa) e a torta (que resulta do processo). A amêndoa representa 7% do
peso total do fruto e as fibras (epicarpo), 11%, que, se totalmente aproveitadas,
gerariam 1,5 milhão de t/ano.
De acordo com LORENZI (1996), o babaçu é a maior fonte mundial de
óleo silvestre para uso doméstico. Os óleos extraídos do babaçu são usados
na indústria de alimentos, medicamentos e cosméticos, além da fabricação de
produtos de limpeza (sabões) e glicerina
Só no Estado do Maranhão estima-se que mais de 300 mil famílias
vivam do extrativismo do babaçu que, na maioria dos lugares, ainda têm suas
amêndoas extraídas de forma rudimentar: mulheres e crianças se encarregam
de colher os cachos carregados e depois quebrar os frutos extremamente
duros. A “quebradeira”, como é chamada a pessoa encarregada de quebrar os
frutos para extrair as amêndoas (geralmente crianças), apóia o fruto sob o fio
de um machado e, depois de golpeá-lo várias vezes com um pedaço de pau,
finalmente extrai o precioso fruto.
As folhas do babaçu são aproveitadas para a cobertura de casas; o
palmito serve como alimento para o gado; as fibras são utilizadas na confecção
de um rico artesanato, com cestos, bolsas, abanos, esteiras, peneiras, e até
mesmo portas e janelas. Do coco se extrai etanol, metanol, coque, carvão,
alcatrão, acetato e gases combustíveis.
A casca pode ser usada para repelir insetos quando queimada e, além
disto, devido à crescente demanda por matéria-prima pela indústria de base
florestal e, conseqüentemente, ao aumento do seu preço, os resíduos de
natureza lignocelulósica vêm despertando interesse cada vez maior. Dentre
esses resíduos, a casca de babaçu apresenta-se como alternativa, uma vez
que há grande disponibilidade desse material em alguns estados do Norte e
Nordeste, adicionado ao fato de que ele irá contribuir para amenizar os
impactos ambientais. (FARIA, 2008)
Segundo ALMEIDA et al. (2002), os resíduos de babaçu são usados
como biomassa para a produção de energia, na maioria das vezes através da
queima direta, agregando pouco valor à matéria-prima.
Carnaúba:
Como tudo dessa palmeira pode ser aproveitado (folhas, caule, fibras), o
nordestino denominou-a “árvore da providência”. (GEOGRAFIA BRASIL, 2008)
A cultura da carnaúba é um perfeito exemplo da utilização sustentável
dos recursos naturais, não agredindo o meio ambiente em nenhuma das
etapas do seu processo.
Os frutos da carnaúba, inteiros, são basicamente aproveitados pelos
animais de criação; de sua polpa, extrai-se uma espécie de farinha e um leite
que pode substituir o leite do coco-da-bula.
Exemplo máximo da adaptação do homem às condições de
subsistência, a amêndoa da carnaúba, quando torrada e moída, costuma até
mesmo ser aproveitada localmente em substituição ao pó de café.
O lenho da carnaúba é resistente, podendo ser usado no fabrico de
moirões, na construção de edificações rústicas e como lenha pesada. Inteiro, o
estipe (caule) da carnaúba costuma ser usado como poste; fragmentado ou
serrado, fornece ótimos caibros, barrotes ou ripas, podendo também ser
aplicado na marcenaria de artefatos torneados, tais como bengalas e objetos
de uso doméstico.
No Nordeste brasileiro, habitações inteiras são construídas com
materiais retirados da carnaúba, da mesma forma como se retiram materiais do
babaçu e do buriti. Também com suas folhas fazem-se telhados e coberturas
de casas e abrigos; com suas fibras confeccionam-se cordas, sacos, esteiras,
chapéus, balaios, cestos, redes e mantas.
Imponente, esbelta como a maioria das palmeiras brasileiras, a
carnaúba é mais alta do que o babaçu e economicamente mais rentável do que
o buriti. Isto porque, além dos frutos, das amêndoas, do estipe, das folhas e
das fibras de utilidades variadas, das folhas da carnaúba obtém-se uma cera
de grande importância industrial.
A cera, principal produto obtido da carnaúba, é, ainda hoje e na maioria
dos carnaubais, extraída por processos manuais bastante rudimentares. Em
geral, o procedimento adotado é o seguinte: depois de cortadas, as folhas
jovens das palmeiras são estendidas pelo chão e postas ao sol, por vários dias,
para secar. Quando as folhas secam e a película de cera que as recobre se
transforma em um pó esfarinhado, elas são levadas para um quarto escuro,
sem janelas, de construção simples. Ali, são rasgadas com grandes garfos de
madeira e começa a "batedura": as folhas são violentamente batidas até que
toda a cera se desprenda, na forma de minúsculas escamas brancas, e possa
ser separada da palha rasgada. Depois que esse pó se assenta, ele é varrido,
recolhido e levado ao fogo, com um pouco de água, em grandes latões de
querosene. Essa calda transforma-se em uma pasta esverdeada, que é jogada
em uma prensa rústica de madeira, a partir da qual se obtém uma cera liquida
que, depois, é despejada em gamelas de barro ou de madeira até esfriar.
Assim é obtido o chamado "pão de cera de carnaúba" que é vendido
para as indústrias e usinas como matéria- prima para a fabricação de uma
imensa variedade de produtos.
As principais aplicações da cera de carnaúba são:
Informática (chips, tonners, código de barras, matrizes de discos);
Polidores (pisos, móveis, carros, couro);
Indústria alimentícia, farmacêutica e cosmética;
Tintas;
Papel carbono;
Filmes plásticos e isolantes térmicos;
Lâmpadas incandescentes;
Lubrificantes;
Velas;
Ácidos;
Fósforos.
Na extração do pó cerífero, o rejeito das palhas se transforma em adubo
orgânico.
Na produção da cera bruta a água é utilizada como solvente. Já nas
indústrias, durante o processo de clareamento, a reação do peróxido de
hidrogênio libera no ambiente água (vapor d’água) e oxigênio.
Apesar de ter tantas qualidades, de oferecer tantos produtos diferentes e
de crescer com facilidade em qualquer clima tropical, é apenas no particular
ambiente seco das caatingas do Nordeste do Brasil que a carnaúba produz a
cera em condições de exploração econômica.
Porém, o processo de fabricação da cera envolve um conjunto de
operações que, em virtude das técnicas rudimentares utilizadas no Nordeste
brasileiro, geram um produto de qualidade inferior ao exigido pelos processos
industriais.
Mesmo assim, o Brasil é um grande produtor e exportador do pó e da
cera de carnaúba, sendo o Estado do Piaui o seu principal fornecedor, seguido
pelo Ceará e pelo Rio Grande do Norte.
Os maiores e mais densos carnaubais do país encontram-se nessa
região que, ano após ano, é sempre a mais atingida pelas secas no Brasil.
(SÃO FRANCISCO, 2009)
6. Pressões Antrópicas:
Embora aproveitada, em parte, de maneira ordenada por várias
comunidades extrativistas que exercem suas atividades sem prejudicar essa
formação vegetal, a Mata de Cocais também é seriamente ameaçada pela
ampliação das áreas de pasto para a pecuária, principalmente no Maranhão e
no norte do Tocantins. (SÃO FRANCISCO, 2009)
A ocupação da área dos cocais, especificamente do município de Caxias
– MA, ocorre desde fins do século XVII, quando o Marquês de Pombal criou a
Companhia Geral do Comércio do Maranhão e Grão-Pará, para impulsionar o
desenvolvimento econômico da região.
Com a proposta de incentivar e melhorar a produção agrícola da região,
a Companhia é responsável pela entrada de cerca de 10.000 escravos em 20
anos de funcionamento, usados no incremento da cultura do arroz e algodão,
principais produtos de exportação. Analisando numa perspectiva da relação
humana com a natureza, já se verifica uma grande mudança socioeconômica
que, como conseqüência, vem transformar a paisagem física e cultural das
áreas atingidas pelo agrarismo incentivado pela Companhia.
A partir de 1730, o avanço do povoamento seria resultante da
implantação das fazendas de gado, oriundas do interior do São Francisco e
que se espalharam pelos sertões. Protagonistas de verdadeiras disputas de
terras com as tribos indígenas que ocupavam as áreas, vaqueiros e criadores
vinham em busca de pasto para os seus rebanhos. Ao contrário da ocupação
através de incentivos públicos, a ocupação pastoril era patrocinada por
iniciativa dos próprios boiadeiros, como eram conhecidos os proprietários das
fazendas.
Desde então, grupos agroempresariais se sentem atraídos para se
instalar na região da mata dos cocais, criando fazendas-empresas na região
para o plantio de eucalipto, cana-de-açúcar e criação de gado.
Do ponto de vista ambiental, apesar de as empresas se comprometerem
em desenvolver seus projetos dentro de um conjunto de atividades que
garantissem o prevalecimento da perenização das florestas, evitando sua
degradação exaustiva, isto não se consagrava, já que diversas fazendas
promoviam, mediante decreto do próprio governo estadual, desmatamento a
fim de implantarem projetos de celulose e cana-de-açúcar, chegando a um total
de 65 mil hectares de babaçuais (MAY apud ANDRADE, 1995).
Em 1980, o então governador do Estado assinou um decreto protegendo
os babaçuais, exceto em áreas de implantação de projetos de desenvolvimento
agrícola, protegendo na realidade, os grupos agroindustriais que, agora
amparados, promoveram destruição ambiental e expulsões através de
incêndios em vários povoados na região de Caxias, atingindo populações
tradicionais que viviam nas grandes propriedades.
Após vários anos de luta, em 1980 algumas propriedades começaram a
ser desapropriadas e muitas famílias de outras áreas da zona rural e da zona
urbana se instalaram na área, provocando um movimento migratório em
sentido inverso ao que se constata normalmente: famílias inteiras rumando da
zona urbana para a zona rural, em busca de um espaço para a reprodução
familiar.
Apesar de estas famílias demonstrarem interesse em utilizar as
possibilidades naturais de forma mais equilibrada, os agroempresários que
continuam na área dos cocais mantém a ampliação das áreas de pasto para a
pecuária, principalmente no Maranhão e no norte do Tocantins. A mata do
cocais só tem sobrevivido ao desmatamento devido ao seu rápido crescimento
e à importância econômica na região. (LIMA & MORAIS, 2007).
7. Particularidades:
A Região dos Cocais é considerada a de maior concentração de plantas
oleaginosas do mundo e fonte da maior produção extrativista vegetal do país.
De acordo com LORENZI (1996), o babaçu é considerado o maior
recurso oleífero nativo do mundo. É um dos principais produtos extrativistas do
Brasil, contribuindo, de maneira significativa, para a economia de alguns
estados da federação. Adicionalmente, deve-se levar em conta que a palmeira
de babaçu é uma planta de importância socioeconômica e cultural, pois os
povos de sua área de ocorrência utilizam-na para os mais variados fins.
O interesse em estudar as potencialidades do babaçu só aconteceu a
partir de 1973, com a crise do petróleo, embora de maneira bastante discreta.
(LORENZI, 1996)
Na seca de 1951-52 foi definido o Polígono das secas, área sujeita à
repetidas crises de prolongamento das estiagens e, conseqüentemente, objeto
de especiais providências do setor público, com 936.993 km² de extensão.
Como os estados do Maranhão e do Piauí, nos quais se concentra a maior
parte da área de transição amazônica, apresentam rios perenes e grandes
reservas de água subterrânea, foram inseridos na área do Polígono das secas
como solução, para receber excedentes populacionais da área assolada.
Dessa maneira, função seria a de atenuação dos efeitos sociais da seca,
principalmente pela absorção da mão-de-obra liberada durante os períodos
mais críticos que afetam o Sertão e a regulação da oferta de alimentos.
(WIKIPEDIA, 2009 e REBOUÇAS, 1997)
A foz dos rios brasileiros é, sobretudo, em estuário: deságuam no mar
num terminal só. Uma exceção é o rio Parnaíba, que atravessa a mata dos
cocais entre o Maranhão e o Piauí, e que deságua em delta, com várias
embocaduras no oceano. (WIKIPEDIA, 2009)
A carnaúba é uma das palmeiras mencionadas por Martius, o naturalista
e botânico tomado pela exuberância da terra.
Mas não é apenas mais uma delas: é especial. Tão especial que não
escapou à atenção de escritores como Mário de Andrade, Guimarães Rosa,
José de Alencar e Euclides da Cunha, entre outros, que souberam destacar,
em sua obra literária, a total integração do homem regional ao ambiente em
que vive. E a carnaúba, planta de grande longevidade, tem sido testemunha
viva e participante ativa dessa integração.
Quando no século XVIII, o também naturalista Humboldt conheceu a
carnaúba em terras brasileiras, impressionou-se de tal forma com as
numerosas e importantes finalidades da planta, que passou a chamá-la de
"árvore da vida".
Palmeiras - disse Martius - abundam na terra brasílica, medram nas
areias do litoral,crescem nas campinas infindas , levantam-se destemidas e
orgulhosas nos paius e brejos, expandem sobranceiras suas lindas frondes por
entre o verdume me das florestas e vivem mesmo no ressequido solo das
caatingas...Grandes ou pequenas surgem em toda parte, nas praias sobre os
cômores, nas encarpas das rochas, no solo fértil e no estéril. (SÃO
FRANCISCO, 2009).
8.Bibliografia:
FARIA, Camila. Biomas. [online]. Disponível em: <www.infoescola.com/geografia/bioma/>. Acesso em 21 de setembro de 2009.
FARIA, Caroline. Mata dos Cocais. [online]. Disponível em: <http://www.infoescola.com/geografia/mata-dos-cocais/>. Acesso em 21 de setembro de 2009.
BIOMA. In: WIKIPÉDIA, a enciclopédia livre. Flórida: Wikimedia Foundation,
2009. Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/w/index.php?
title=Bioma&oldid=16957216>. Acesso em: 21 de setembro 2009.
Resolução CONAMA nº 12, de 04 de maio de 1994. Disponível em:
<www.lei.adv.br/012-94.htm>. Acesso em 21 de setembro de 2009.
LIMA, A Moras et al. Utilização de fibras (epicarpo) de babaçu como
matéria-prima alternativa na produção de chapas de madeira aglomerada.
Disponível em <http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0100-
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setembro de 2009.
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<http://www.mundoeducacao.com.br/geografia/mata-dos-cocais.htm>. Acesso
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