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A Legião da Boa Vontade apresenta recomendações de boas práticas aos participantes da 60a sessão da Comissão sobre a Situação da Mulher, realizada na sede da ONU em Nova York, nos Estados Unidos, de 14 a 24 de março de 2016. A LBV é uma organização da sociedade civil brasileira com status consultivo geral no Conselho Econômico e Social (Ecosoc) das Nações Unidas, desde 1999. 66 anos

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mPAIVA NETTO escreve “Caridade e estratégia” e destaca:

“A Caridade, aliada à Justiça, é o combustível das transformações profundas. Sua ação é sutil, mas eficaz”. (Leia a íntegra na p. 4.)

App gratuito da revista

BOA VONTADE

Presidente da 60a sessão da Comissão sobre a Situação da Mulher da ONU, o embaixador Antonio Patriota fala sobre a importância feminina na implementação da Agenda 2030.

O trabalho da Legião da Boa Vontade para a formação de meninas e mulheres de todas as idades para se tornarem protagonistas nas comunidades onde vivem

ENTREVISTA EXCLUSIVA

AGENTES DA TRANSFORMAÇÃO

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EDIÇÃO COMEMORATIVA DE 24/2/2016, NOS IDIOMAS ESPANHOL, FRANCÊS, INGLÊS E

PORTUGUÊS.

Revista apolítica e apartidária de

Espiritualidade Ecumênica

BOA VONTADE Mulher é uma publicação da LBV, lançada pela Editora Elevação. Registrada sob o no

18.166 no livro “B” do 9o Cartório de Registro de Títulos e Documentos de São Paulo.

DIRETOR E EDITOR RESPONSÁVEL: Francisco de Assis Periotto — MTE/DRTE/RJ 19.916 JPCHEFE DE REDAÇÃO: Rodrigo de Oliveira — MTE/DRTE/SP 42.853 JPCOORDENAÇÃO GERAL DE PAUTA: Gerdeilson BotelhoSUPERINTENDÊNCIA DE MARKETING E COMUNICAÇÃO: Gizelle de AlmeidaEQUIPE ELEVAÇÃO: Adriane Schirmer, Allison Bello, Ana Paula de Oliveira, Andrea Leone, Angélica Periotto, Bettina Lopez, Camilla Custódio, Cida Linares, Daniel Guimarães, Eduarda Pereira, Felipe Duarte, Gabriela Marinho, Giovanna Pinheiro, Jéssica Botelho, Josué Bertolin, Laura Leone, Leila Marco, Letícia Rio, Lísia Peres, Luci Teixeira, Marcos Antonio Franchi, Mariane de Oliveira Luz, Natália Lombardi, Neuza Alves, Raquel Bertolin, Rosana Bertolin, Roseli Garcia, Sarah Jimena Moreno, Silvia Fernanda Bovino, Valéria Nagy, Walter Periotto e Wanderly Albieri Baptista. CAPA: Helen Winkler / FOTO DE CAPA: Leilla ToninPROJETO GRÁFICO: Helen Winkler / DIAGRAMAÇÃO: Diego Ciusz e Helen WinklerIMPRESSÃO: Mundial GráficaENDEREÇO PARA CORRESPONDÊNCIA: Rua Doraci, 90 • CEP 01134-050 • Bom Retiro • São Paulo/SP • Tel.: (11) 3225-4971 • Caixa Postal 13.833-9 • CEP 01216-970 • Internet: www.boavontade.com / E-mail: [email protected] revista BOA VONTADE Mulher não se responsabiliza por conceitos e opiniões em seus artigos assinados. A publicação obedece ao elevado propósito de fomentar o debate dos assuntos de interesse global e de fazer refletir sobre as tendências do pensamento contemporâneo.

RECOMENDAÇÕES DA LBVDeclaração da LBV para a 60a sessão da Comissão sobre a Situação da Mulher

70 ANOS DAS NAÇÕES UNIDASHistória de lutas e conquistas

ENTREVISTAEmbaixador Antonio Patriota, presidente da 60a sessão da Comissão sobre a Situação da Mulher da ONU.

MENSAGEM DE PAIVA

NETTOCaridade e estratégia

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SUMÁRIO

42 OPINIÃO – EDUCAÇÃOpor Suelí Periotto Empoderamento da mulher mãe

46 PROTAGONISMO SOCIALReescrevendo o destino

52 REDE SOCIEDADE SOLIDÁRIA Liderança comunitária feminina

56 NOVAS OPORTUNIDADES Adaptação e acolhimento

60 VIOLÊNCIA DE GÊNEROHora de recomeçar

64 AÇÃO JOVEM LBVpor Regina do Nascimento Silva Escola da minha vida

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MENSAGEM DE PAIVA NETTO

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Caridade e estratégia

sos e enfermos, e do trabalho e da renda delas dependem a educação, a saúde e o bem-estar dos familiares.

Empoderar, pois, essa natural ativista dos direitos humanos é tarefa urgente para o advento de uma Sociedade Solidária Altruística Ecumênica, que exige o espírito de real Caridade, assunto sobre o qual me debruçarei neste artigo, com base na experiência de décadas de trabalho na Legião da Boa Vontade (LBV).

O destino de ser mulher e a dimensão universal do Amor Fraterno são temas que convergem e devem ser lembrados

nesta 60a sessão da Comissão das Nações Uni-das sobre a Situação da Mulher (CSW, na sigla em inglês), realizada de 14 a 24 março, em Nova York/Estados Unidos. Afinal, na maioria das vezes, está nas mãos do sexo feminino a responsabilidade de cuidar de crianças, ido-

José de Paiva Netto é escritor, jornalista, radialista, compositor e poeta. É diretor-presidente da Legião da Boa Vontade (LBV). Membro efetivo da Associação Brasileira de Imprensa (ABI) e da Associação Brasileira de Imprensa Internacional (ABI-Inter), é filiado à Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), à International Federation of Journalists (IFJ), ao Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Estado do Rio de Janeiro, ao Sindicato dos Escritores do Rio de Janeiro, ao Sindicato dos Radialistas do Rio de Janeiro e à União Brasileira de Compositores (UBC). Integra também a Academia de Letras do Brasil Central. É autor de referência internacional na defesa dos direitos humanos e na conceituação da causa da Cidadania e da Espiritualidade Ecumênicas, que, segundo ele, constituem “o berço dos mais generosos valores que nascem da Alma, a morada das emoções e do raciocínio iluminado pela intuição, a ambiência que abrange tudo o que transcende ao campo comum da matéria e provém da sensibilidade humana sublimada, a exemplo da Verdade, da Justiça, da Misericórdia, da Ética, da Honestidade, da Generosidade, do Amor Fraterno”.

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Acerca do propósito desse dia, o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, declarou:

— A caridade desempenha um papel importante no apoio aos valores e no trabalho das Nações Unidas. Doações de tempo ou de dinheiro; envolvimento voluntário numa das suas próprias comu-nidades ou no outro lado do mundo; atos de caridade e bondade sem esperar uma recompensa; estas e outras expressões de solidariedade global nos ajudam na nossa procura partilhada de viver em harmonia e de construir um futuro pacífico para todos. Saúdo esta primeira celebração do Dia Internacional da Caridade.

Em português, Caridade rima com ami-zade. E não apenas pela fonética. Sua ação está intrinsecamente ligada ao gesto cordial de esclarecer e amparar os menos instruídos.

Na nova edição de Cidadania do Es-pírito, destino um capítulo ao significado do termo Caridade, a partir de conceitos

MENSAGEM DE PAIVA NETTO

Vivian R. FerreiraSão Paulo/SP

Antes, quero abrir parênteses para saudar o embaixador Antonio Patriota, representante permanente do Brasil junto às Nações Unidas, presidente da histórica 60a edição da CSW e antigo defensor da igualdade de gênero. Ao conceder entrevis-ta exclusiva à revista BOA VONTADE, nos deu a honra de trazer relevantes conside-rações sobre o encontro, que enriquecem esta publicação (veja p. 10).

FERRAMENTA IMPRESCINDÍVELEm 5 de setembro de 2013, a Organiza-

ção das Nações Unidas lançou a comemora-ção anual do Dia Internacional da Caridade. A LBV foi convidada a participar e discursou sobre a força da Caridade Completa para o cumprimento da agenda internacional de desenvolvimento sustentável, durante ceri-mônia, que teve lugar na sede da ONU em Nova York. Cinco de setembro faz referência à data de falecimento de uma mulher ícone no amparo aos mais pobres e vulneráveis: Madre Teresa de Calcutá (1910-1997), Prêmio Nobel da Paz em 1979.

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que tenho desenvolvido desde a década de 1960, convidando o(a) leitor(a) a refletir sobre essa ferramenta imprescin-dível, em minha opinião, para ajustar os mecanismos de uma sociedade, ainda hoje regida pelo individualismo, seja no âmbito particular ou coletivo. Aliás, esse individualismo tem contribuído para levar muita gente à indiferença, à secura de alma, isto é, à ausência da Solidarieda-de, da Fraternidade, da Generosidade nos relacionamentos humanos e sociais. Aqui, alguns trechos do tema. Espero que apreciem:

A Caridade não é um sentimento de tolos. É uma estratégia de Deus, que estabelece nos corações a condição ideal para que se trabalhe, governe, empresa-rie, administre, pregue, exerça a Ciência, elabore a Filosofia e se viva, com espírito de Generosidade, a Religião.

Quando há Amor Fraterno, incontrastá-vel empenho e consagrada competência, que se desenvolve com labor e zelo —

A Caridade não é um sentimento de tolos. É uma estratégia de Deus, que estabelece nos corações a condição ideal para que se trabalhe, governe, empresarie, administre, pregue, exerça a Ciência, elabore a Filosofia e se viva, com espírito de Generosidade, a Religião.

Jean CarlosCampina Grande/PB

desde a fixação de um simples prego na madeira (creia no seu valor próprio!) —, não existem limites para o alicerce de um mundo melhor.

Realizar o Bem voluntariamente é uma das mais belas páginas de Amor que o ser humano pode escrever. (...) A Caridade, aliada à Justiça, é o combustível das trans-formações profundas. Sua ação é sutil, mas eficaz. A Caridade é Deus, quando inequivocamente entendido como Amor, e não como vingança.

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Paulo Rappoccio Parisi

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reira REFORMA EFETIVA

Desumanidade resulta em desumani-dade. Aí está, em resumo, a explicação do estado atual do planeta. Porém, com a riqueza de nosso Espírito, podemos edificar um amanhã mais apreciável. Entretanto, nenhuma reforma será duradoura se não houver o sentido de Caridade atuando na Alma.

A Caridade é o centro gravitacional da consciência política, social, filosófica, científica, religiosa, de modo que — se o ser humano não tiver compreensão dela — deve esforçar-se para entendê-la, a fim de que venha a subsistir em sua própria intimidade pessoal. Não há céu mais auspicioso do que o coração, quando iluminado pelas forças do Bem. Ela é o divino sentimento que nos mantém vivos. Por toda a existência, mormente na hora da dor, ao invés de lamentações, não nos esqueçamos dela e a pratiquemos com

devoção. Trata-se de um grande medica-mento para a Alma.

A Caridade é a prova do poder do Espírito de construir promissoras épocas para os cidadãos de todo o planeta. Não há maior inspiração para a boa política do que ela. Absurdo?! O tempo mostrará que não. Aliás, já está mostrando.

CARIDADE: POLÍTICA EXCELENTE

Conforme afirmei, em 1981, ao saudoso jornalista italiano radicado no Brasil Paulo Rappoccio Parisi (1921-2016): Tornou-se inadiável iluminar o Capitalismo com o lu-zeiro do espírito moral, ético da Caridade, o qual provém de Deus — que significa Amor e Justiça, dentro da Verdade e da Misericórdia — para que a ânsia desenfreada pelo capi-tal, ou seja, a ganância e a corrupção, não fragilize, de tempos em tempos, a Demo-cracia, com os resultados que conhecemos

MENSAGEM DE PAIVA NETTO

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Antônio Martins/RN Salvador/BA

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[email protected]

www.paivanetto.com

CARIDADE COMPLETAHá mais de seis décadas, a Legião da Boa Vontade defende sua van-

guardeira tese da Caridade Completa. A prática desse conceito, criado pelo fundador da LBV, Alziro Zarur (1914-1979), e desenvolvido por Paiva Netto, significa ir além do amparo material, visto que valoriza o indivíduo como um todo, oferecendo-lhe o apoio necessário para reerguer-se e mudar sua própria realidade.

Por acreditar que nenhuma nação progrida se a população estiver desamparada, a LBV fundamenta todas as suas atividades, programas e projetos sociais e educacionais no princípio da Caridade Completa. Esse trabalho, reconhecido internacionalmente, foi, aliás, lembrado por Madre Teresa de Calcutá. A saudosa missionária, à época da inaugura-ção do Parlamento Mundial da Fraternidade Ecumênica (ParlaMundi da LBV), na capital federal brasileira, em 1994, felicitou o dirigente da LBV pela iniciativa:

“Prezado sr. José de Paiva Netto, confio-lhe minhas preces por todos. Que as bênçãos de Deus estejam com vocês da Legião da Boa Vontade, e que muitas pessoas conheçam o Amor de Jesus por intermédio do Parlamento Mundial da Fraternidade Ecumênica da LBV e mantenham viva a Boa Nova de Seu Amor no mundo, amando uns aos outros como Ele nos amou. Que Deus os abençoe”.Re

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muito bem. Do contrário, continuaremos a assistir, horrorizados, à negação do direito à liberdade, à vida, à saúde, ao estudo, ao emprego e à felicidade de multidões que cometeram a ousadia de nascer.

Trata-se de Política excelente. A provi-dência de educar, reeducar, instruir, espiri-tualizar no caminho da Paz, resultante da confraternidade das numerosas culturas que compõem a civilização que, em si mesma, é una, planetária. (E não esque-çamos jamais que a nossa existência não é unicamente física, porquanto começa no Alto, antes de sermos carne.) Um dia, se juntarão àqueles que, com coragem, desenvolverão esse tema, pois precisamos aprender as Leis que governam, do Mundo Espiritual, a nossa trajetória terrena. Alziro Zarur falou-nos da Política de Deus sem ódios e intolerâncias. Ei-la aí. O tempo, pelo Mestre Amor ou pela Mestra Dor, comprovará isso. Muito temos de apren-

der uns com os outros, seres humanos e nações, em vez de nos trucidar. Uma política, portanto, de convergência para a Fraternidade nas relações internacionais, em que, por exemplo, o esporte e o cui-dado com o meio ambiente tenham ainda maior participação efetiva na vida, no desenvolvimento sustentável dos povos e dos países. Somos seres complementares. Um dia, essa realidade deverá ser mais bem compreendida, assim como eficaz e solida-riamente vivenciada. Senão, o que poderá vir a suceder com a Humanidade será o reinado do ódio, o extermínio consciente e inconsequente praticado por todo o planeta, salvo raras exceções, que se devem dar, pois sempre existe solução quando há Boa Von-tade e consequentemente o Ecumenismo da Paz nos corações.

(Os editores)

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ENTREVISTA

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Desde a criação da Comissão sobre a Situação da Mulher (CSW, na sigla em inglês), em 1946, esta é a primeira vez que um representante per-

manente do Brasil junto às Nações Unidas assume a sua coordenação. Eleito para a presidência da 60a sessão da CSW, o embaixador Antonio de Aguiar Patriota sabe que comanda uma das mais importantes edições dessa conferência. Afinal, esta comissão carrega a expectativa de fomentar esforços a fim de que a igualdade de gênero seja inserida em todos os debates e ações globais da Agenda de Desenvolvimento Sustentável Pós-2015, chamada também de Agenda 2030.

A poucos dias da referida sessão, que ocorrerá de 14 a 24 de março, em Nova York, nos Estados

em pautaDireitos

Presidente da 60a sessão da Comissão sobre a Situação da Mulher da ONU, o embaixador Antonio Patriota destaca a importância feminina na

implementação da Agenda 2030.

DA REDAÇÃO

Unidos, o diplomata falou, em entrevista exclusiva à revista BOA VONTADE Mulher, da criação de um seg-mento ministerial na CSW que, para ele, “permitirá aumentar a visibilidade e reforçar o compromisso político dos países, em alto nível, com a igualdade de gênero”. Ainda de acordo com o representante brasileiro, esse comprometimento contribuirá para o empoderamento feminino e, consequentemente, para a promoção da Paz e a melhora da qualidade de vida de toda a população planetária.

BOA VONTADE Mulher — Embaixador, o que sig-nifica para a Missão do Brasil na ONU a escolha de seu nome para presidir essa histórica sessão

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toda CSW? Que influência o país pode levar para esse encontro?

Antonio Patriota — É uma honra exercer a presidência da CSW. Tenho certeza de que minha eleição foi resultado do perfil elevado que o Brasil tem assumido na defesa dos direitos das mulheres nos planos internacional e nacional. O Brasil levará para a CSW a sua experiência na promoção dos direitos femininos e o firme compromisso com a igualdade de gênero, com o empoderamento da mulher e com a implementação da Plataforma de Ação de Pequim.

BV — Como é presidir a CSW no mo-mento em que as Nações Unidas se organizam em torno dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), que são um desdobramento da Con-ferência Rio+20, cuja coordenação também esteve a seu cargo?

Patriota — A CSW-60 terá o papel--chave em acompanhar e monitorar os compromissos assumidos na Agenda 2030 para o desenvolvimento sustentável no to-cante ao Objetivo 5 (“Alcançar a igualdade de gênero e empoderar todas as mulheres e meninas”) e aos outros objetivos. Essa agenda é muito cara ao Brasil, tendo em conta o papel da Conferência Rio+20, que estabeleceu um mapa do caminho para a adoção dela. A Agenda 2030 constitui a base sobre a qual governos, sociedade civil, setor privado e o Sistema ONU orientarão suas políticas e ações em favor do desenvolvimento sustentável pelos próximos quinze anos.

BV — Em 2016, será também a pri-meira vez que essa sessão da ONU terá um segmento ministerial. O que muda com essa nova estrutura?

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No Brasil, as mulheres escolarizam-se mais do que os homens e têm menor atraso escolar em

relação ao sexo masculino.

Patriota — Os primeiros três dias da próxima sessão da CSW serão dedicados ao segmento ministerial. Isso permitirá aumentar a visibilidade e reforçar o com-promisso político dos países, em alto nível, com a igualdade de gênero. Como parte do segmento ministerial, haverá um exercício de revisão das conclusões acordadas na 57a sessão, [realizada] em 2013, sobre a eliminação e prevenção de todas as formas de violência contra mulheres e meninas. Os Estados-membros da ONU poderão fazer apresentações acerca dos principais progressos obtidos no combate à violência de gênero e intercambiar lições aprendidas e outras boas práticas.

BV — Os ODS relacionam-se com a busca pela pluralidade, seja esta de gênero, seja esta de acesso. O empo-deramento feminino ganha maior força nessa nova agenda mundial?

Patriota — Certamente. A Agenda 2030 fundamenta-se no entendimento de que não será possível alcançar o de-senvolvimento sustentável se metade da Humanidade não puder usufruir de seus direitos humanos em toda a plenitude. A

Antonio Patriota, embaixador do Brasil e presidente da 60a sessão da Comissão sobre a Situação da Mulher da ONU.

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realização da igualdade de gênero e o em-poderamento das mulheres são contribui-ções essenciais para o progresso de todos os objetivos da Agenda, nos três pilares dela: econômico, social e ambiental. A igualdade de gênero beneficia a sociedade como um todo e deve ser promovida em âmbito global.

BV — Nos últimos anos, quais foram os mais expressivos progressos para que isso ocorra?

Unidade móvel do programa Mulher, Viver sem Violência. O veículo consiste em um ônibus adaptado para a realização do atendimento emergencial e preventivo voltado para o público feminino vítima de violência e conta com equipe multidisciplinar treinada para a escuta das denúncias.

Patriota — No Brasil, houve avanços expressivos em matéria de legislação, de políticas de gênero e de ações voltadas para promover o direito das mulheres. A Lei do Feminicídio transformou em crime hediondo e inafiançável o assassinato de mulheres por motivação de gênero. Elas também passaram a ser as protagonistas nas políticas de inclusão social e se torna-ram as principais receptoras das políticas de renda. Outro dado relevante é o de que, atualmente, as brasileiras se escolarizam mais do que os homens e avançam no mercado de trabalho. Em nenhum país do mundo, contudo, foi alcançada a igualdade de gênero. O desafio que encontramos é o da plena realização da paridade de gênero e do empoderamento da mulher até 2030, como determinado pelo quinto Objetivo de Desenvolvimento Sustentável.

BV — Além das leis implementadas no Brasil sobre a questão da mulher, em especial a Lei Maria da Penha, a implementação de novas políticas públicas é um caminho visto pelo país para a promoção da igualdade de gênero?

Patriota — A transversalidade da pers-pectiva de gênero nas políticas públicas é crucial para que se alcance a igualdade de gênero não só no Brasil, mas também em todo o mundo. Um bom exemplo é o

“A Agenda 2030 fundamenta-se no entendimento de que não será possível alcançar o desenvolvimento sustentável se metade da Humanidade não puder usufruir de seus direitos humanos em toda a plenitude. A realização da igualdade de gênero e o empoderamento das mulheres são contribuições essenciais para o progresso de todos os objetivos da Agenda, nos três pilares dela: econômico, social e ambiental.”

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programa Mulher, Viver sem Violência [coordenado pela Secretaria de Políticas para as Mulheres, da Presidência da Re-pública], que visa à implementação, de fato, da Lei Maria da Penha. As unidades da Casa da Mulher Brasileira integram esse programa e oferecem serviços de atendimento às mulheres em situação de violência. Com abordagem multidimensio-nal, as casas prestam serviço de orientação para o trabalho e a renda, incentivo ao em-preendedorismo, qualificação profissional e inserção no mercado. Outro exemplo de política voltada para a igualdade de gênero foi a promulgação da Proposta de Emen-da à Constituição (PEC) das Domésticas, que promoveu a inclusão definitiva dessa categoria no sistema de proteção social, beneficiando diretamente mais de seis milhões de brasileiras.

BV — Como o senhor vê a participação masculina na campanha #ElesPorElas, da ONU Mulheres?

Patriota — A participação dos homens na luta pela igualdade de gênero é abso-lutamente fundamental, pois a sociedade

como um todo deve estar mobilizada para acabar com a desigualdade e a discrimina-ção nesse âmbito. É preciso conscientizar os homens das desigualdades e injustiças que afetam as mulheres. A presidente Dilma Rousseff apoia a campanha, que busca trazer os homens para o centro do debate sobre a igualdade de gênero. Aproveito para convidar todos os leitores a se associar a essa campanha. Todos os co-laboradores do sexo masculino da Missão do Brasil junto à ONU já se associaram, pelo site www.heforshe.org.

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ão IGUALDADE DE GÊNERO Os homens diplomatas da Missão do Brasil junto às Nações Unidas apoiam a causa pela igualdade de gênero e aderiram à campanha #ElesPorElas, da ONU Mulheres. Segundo o embaixador Antonio de Aguiar Patriota (no centro, sentado), “os conceitos normativos de masculinidade e feminilidade reforçam relações de poder verticais e desiguais”. O diplomata considera “revolucionário engajar homens e meninos na discussão sobre a superação da desigualdade de gênero”.

“A participação dos homens na luta pela igualdade de gênero é absolutamente fundamental, pois a sociedade como um todo deve estar mobilizada para acabar com a desigualdade e a discriminação nesse âmbito.”

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ENTREVISTA

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BV — Os ODS devem mexer com o debate e a distribuição de recursos. Eles podem ser um forte agente de cooperação econômica nos próximos anos?

Patriota — A expectativa é a de que os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, por seu caráter universal, ou seja, pelo fato de estes se aplicarem a países desenvol-vidos e em desenvolvimento, galvanizem a cooperação internacional. A CSW-60 tratará justamente da necessidade de ampliar os investimentos em igualdade

de gênero, incluindo a mobilização de recursos domésticos e priorizando ações voltadas para o empoderamento da mu-lher e para o aumento da ajuda oficial ao desenvolvimento.

BV — Em sua gestão à frente da Co-missão de Consolidação da Paz, da ONU, o senhor defendeu, em nome do Brasil, a igualdade de gênero. O em-poderamento feminino é fundamental para a Paz?

Patriota — Sim. Há diversos estudos e estatísticas oficiais que ilustram o efeito transformador do empoderamento da mulher no progresso social, no crescimento econômico e no desenvolvimento em cená-rios pós-conflito. A Comissão de Consolida-ção da Paz concentra a atenção em países com instituições e economias frágeis, entre os quais Libéria, Guiné-Bissau e Burundi. Pude comprovar, pessoalmente, em Guiné--Bissau como as mulheres representam um segmento pacificador da população, pelo fato de focar suas aspirações na construção de sociedades justas e com nível de vida mais elevado para as gera-ções futuras.

“Pude comprovar, pessoalmente, em Guiné-Bissau como as mulheres representam um segmento pacificador da população, pelo fato de focar suas aspirações na construção de sociedades justas e com nível de vida mais elevado para as gerações futuras.”

Em reconhecimento ao grande potencial para a democracia

e para a Paz que as mulheres

representam, três destaques femininos

foram laureados com o Prêmio Nobel da Paz de 2011. A partir da esquerda, a ativista iemenita Tawakkul Karman,

a militante liberiana Leymah Gbowee

e a presidente da Libéria, Ellen Johnson Sirleaf.

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Declaração apresentada pela LBV e traduzida pela ONU para os seis idiomas oficiais desta (árabe, chinês, espanhol, francês, inglês e russo) sob o símbolo E/CN.6/2016/NGO/126. Baixe o leitor QR Code em seu smartphone ou tablet, fotografe o código e leia o documento na versão em inglês.

RECOMENDAÇÕES DA LBV

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São Paulo/SP

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60a sessão da Comissão sobre a

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Declaração da LBV para a

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RECOMENDAÇÕES DA LBV

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Este relatório apresenta à Comissão das Nações Unidas sobre a Situação da Mulher (CSW) recomendações e boas práticas da Legião da Boa Vontade (LBV), organização da sociedade civil com status consultivo geral no Conselho Econômico e Social da ONU (Ecosoc), desde 1999.

Preparar mulheres que lideram organizações comunitárias é uma das mais estratégicas políticas de

promoção do desenvolvimento sustentá-vel das comunidades, em particular nas regiões de maior vulnerabilidade social. É o que nós temos comprovado em mais de 150 cidades em sete países, no amplo trabalho realizado pela Legião da Boa Vontade da Argentina, da Bolívia, do Brasil, dos Estados Unidos, do Paraguai, de Portugal e do Uruguai.

Nos últimos cinco anos, oferecemos mais de 60 milhões de atendimentos e benefícios a populações em situação de pobreza. A educação e a reeduca-ção — estruturadas a partir de valores espirituais, éticos e ecumênicos — são nossos eixos de transformação social. As comunidades acompanhadas, de forma geral, têm escassez de empregos e inci-pientes serviços públicos, principalmente nas áreas de saneamento, de educação e de saúde. Nesses locais são registrados altos níveis de violência e de empregos informais.

A missão da LBVPromover Desenvolvimento Social e Sustentável, Educação e Cultura, Arte e Esporte, com Espiritualidade Ecumênica, para que haja Consciência Socioambiental, Alimentação, Segurança, Saúde e Trabalho para todos, no despertar do Cidadão Planetário.

Grande parte das famílias é monopa-rental, chefiada por mulheres que têm de se desdobrar para garantir o sustento da casa e para cuidar dos filhos. Com pouca escolaridade e baixos salários, elas perdem horas deslocando-se até o trabalho diariamente, enquanto suas crianças permanecem longos períodos sem os cuidados nem a supervisão de adultos. No Brasil, as famílias atendidas pela LBV sofrem, em ambiente exterior, também com o preconceito e o racismo, já que são em sua maioria negras, em um país ainda marcado pela triste herança de mais de três séculos de escravidão.

Todas essas dificuldades se sobrepõem e se acentuam em momentos de crise econômica, aumentando o número de pes soas que, destituídas de um sentido para a própria vida, abandonam o lar para viver nas ruas, se viciam em álcool e em outras drogas, se tornam vítimas da depressão e de outras enfermidades psí-quicas e/ou físicas. Acerca desses desa-fios, nosso diretor-presidente, o jornalista, radialista e escritor José de Paiva Netto — que, há seis décadas, defende os direitos humanos e pauta o tema na mídia brasi-leira com preleções de grande repercus-são, entre estas os artigos “Apartheid lá e Apartheids cá” e “Raízes e memórias” —, declarou:

“Uma das razões básicas da existên-cia da Legião da Boa Vontade é o seu zelo com o educar, o instruir e o espiritualizar, mostrando que a vida não termina no túmulo, uma destinação deveras triste. Um país cujo povo não é educado é fraco. E um país fraco é facilmente dominado. Quanto mais ignorante o povo, maior o cativeiro para ele. Como argumentei tantas vezes, a princesa Isabel assinou a polêmica Lei Áurea, contudo o espíri-to de senzala ainda prejudica a nossa gente, fazendo-a, por exemplo, refém da violência, que campeia, ela sim, livre por qualquer parte. Temos de crescer na instrução, na educação e na espirituali-

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(1) Durante a Reunião de Alto Nível do Ecosoc em 2013, em Genebra, na Suíça, o secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon, é saudado por Adriana Rocha, da LBV, enquanto recebe a edição especial da BOA VONTADE em inglês. Atencioso, folheou a publicação e reafirmou seu apreço pelo trabalho da Instituição. (2) A diretora-geral da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), Irina Bokova (E), recebeu, durante a 58a sessão da Comissão Sobre a Situação da Mulher (CSW, na sigla em inglês), ocorrida em 2014, a revista BOA VONTADE Mulher também das mãos de Adriana Rocha.

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dade. Valorizar-nos significa manter, no cume, a autoestima popular”.

Aliás, contrapor a elevada autoestima popular ao “espírito de senzala” é um dos cernes da agenda social hoje. Nem tudo são espinhos nas favelas e nas co-munidades “excluídas”. O protagonismo social e as relações de solidariedade e de pertencimento existentes, estas incremen-tadas pelas novidades tecnológicas, têm consolidado identidades e novas formas de organização popular e de vocalizar as demandas por maior cidadania. Soma--se a isso a descoberta, pelos agentes econômicos, de inovadoras maneiras de impulsionar o gigantesco potencial latente nessas regiões. PROGRAMA REDE SOCIEDADE SOLIDÁRIA, DA LEGIÃO DA BOA VONTADE

Promover o progresso de comunidades vulneráveis exige, além das macroestra-tégias citadas anteriormente, medidas eficazes a curto e médio prazos, a exem-plo das previstas no pioneiro programa Rede Sociedade Solidária, da LBV. Ele consiste, principalmente, em identificar e assessorar, nas áreas técnica e adminis-trativa, lideranças comunitárias e organi-zações sociais das regiões metropolitanas em que estão situa das nossas unidades socioeducacionais.

Nossos profissionais prestam orienta-ção sobre as políticas de desenvolvimento social do país, capacitando os gestores a mobilizar recursos públicos e privados em prol das próprias comunidades. Sessenta e seis por cento dos presidentes das enti-dades participantes são mulheres. O per-centual sobe a 71% quando se considera todo o universo de assessorados. Acesso à moradia, à educação de qualidade, bem como a garantia de proteção social e de um meio ambiente sadio são as principais reivindicações desses movimentos.

Dentre os resultados alcançados pelo programa até agora destacam-se:

• fortalecimento e qualificação das enti-dades para o planejamento organizacio-nal, para a captação de recursos, bem como para a gestão, o monitoramento, a avaliação, a oferta e a execução de serviços sociais;• ampliação do conhecimento do grande público sobre políticas públicas;

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RECOMENDAÇÕES DA LBV

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São Paulo/SP

Buenos Aires, Argentina

escolas

O Instituto de Educação José de Paiva Netto, em São Paulo/SP, Brasil, demonstra que Educação de qualidade, Solidariedade e Espiritualidade Ecumênica são indispensáveis à formação do cidadão pleno. Tais valores refletem a Pedagogia do Afeto e a

Pedagogia do Cidadão Ecumênico, preconizadas por Paiva Netto e aplicadas, com sucesso, na rede de ensino e nos programas socioeducativos da Instituição. Em um grande totem, ao lado do frontispício, o dirigente da LBV fez colocar esta máxima de Aristóteles (384-322 a.C.), grafada em letras douradas: “Todos quantos têm meditado na arte de governar o gênero humano

acabam por se convencer de que a sorte dos impérios depende da educação da mocidade”.

• acesso a conteúdos, recursos e me-todologias relacionados ao aumento da participação social e ao fortalecimento do protagonismo na reivindicação dos direitos de cidadania;• identificação de potencialidades locais, bem como mobilização e organização de grupos de lideranças, por meio da articula-ção destes com as políticas públicas.

O fortalecimento das comunidades não substitui eventuais políticas afirmativas que visem aumentar a participação das mulheres em processos de tomada de de-

Vivian R. Ferreira

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A Legião da Boa Vontade foi criada oficialmente em 1o de janeiro de 1950 (Dia Mundial da Confraternização Universal e da Paz), no

Rio de Janeiro/RJ, Brasil, pelo jornalista, radialista e poeta Alziro Zarur (1914-1979), sucedido na presidência da Instituição pelo também jornalista, radialista e escritor José de Paiva Netto. Os dados abaixo correspondem ao trabalho da LBV de sete países: Argentina, Bolívia,

Brasil, Estados Unidos, Paraguai, Portugal e Uruguai.

LBV NO MUNDO

NÚMEROS DE 2011 a 2015

Além de escolas, Centros Comunitários de Assistência Social e lares para idosos, a LBV utiliza meios de comunicação social (rádio, TV, internet e publicações) para fomentar educação, cultura e valores de cidadania. Mais de 12 mil especialistas de todo o Brasil participaram, em 2015, da programação da Super Rede Boa Vontade de Comunicação.

* Há mais de duas décadas, a Legião da Boa Vontade tem seu balanço geral analisado e aprovado pela Walter Heuer, auditores externos independentes, em uma iniciativa de José de Paiva Netto, diretor- -presidente da LBV, muito antes de a legislação que exige essa medida entrar em vigor.

Número de atendimentos e benefícios prestados pela Legião da Boa Vontade do Brasil de 2011 a 2015*

1,7+de

MILHÃOde pessoas impactadas pelas ações da LBV

91UNIDADES

SOCIOEDUCACIONAIS EM SETE PAÍSES

60+MILHÕESde

de atendimentos e benefícios a pessoas e famílias em situação de vulnerabilidade social

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RECOMENDAÇÕES DA LBV

22 BOA VONTADE Mulher

cisão política, sobretudo, pode colaborar para a realização de tais políticas, na medi-da em que empodera lideranças ‘orgânicas’ dessas comunidades. Porém, permanecem sendo esforços paralelos, como podemos concluir a partir de pesquisa realizada pela dra. Teresa Sacchet, pesquisadora da Universidade de São Paulo, no Brasil, e professora visitante da Universidade da Califórnia em Berkeley, nos Estados Uni-dos, cujo resultado foi publicado no artigo da referida autora “Capital social, gênero e representação política no Brasil” (2009): “(...) as mulheres tendem a investir seus recursos de forma mais coletiva: nos gastos com a família (educação, saúde e bem-estar dos seus membros) ao invés de consigo próprias. Programas oficiais de governos e agências multilaterais de desenvolvimento têm na mulher a sua principal beneficiária e parceira na im-

escolas

Rio de Janeiro/RJ

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Teófilo Otoni/MG Patrícia Oliveira

Abrigos para idosos

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Vivia

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Uberlândia/MG

RECOMENDAÇÕES DA LBV

Volta Redonda/RJ

24 BOA VONTADE Mulher

plementação de projetos sociais. Sem desconsiderar a importância estratégica dessas iniciativas para as próprias mulhe-res, inclusive para seu empoderamento econômico, é necessário que se questione o que está implícito em tal discurso e prática (...). Por isso, faz-se necessária também a implementação de medidas efetivas para incluí-las nos processos de tomada de decisão onde os projetos so-ciais são idealizados e articulados”.

Para conscientização dos moradores das comunidades acompanhadas sobre esses desafios, nós permeamos com tais debates as ações de nosso programa de assessoramento, a saber:• formação de gestores e técnicos de en-tidades, bem como de lideranças comuni-tárias e de organizações que representam a população atendida;• orientação personalizada a esses atores;• promoção de encontros locais e regio-nais sistemáticos entre os participantes da rede formada;• produção de conteúdos multimídia que socializem pesquisas à sociedade e aos

Page 25: Boa Vontade Mulher, edição 2016

Centros comunitários de assistência social

Porto Alegre/RSLiliane Cardoso

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RECOMENDAÇÕES DA LBVRECOMENDAÇÕES DA LBV

Centros comunitários de assistÊNCIA SOCIAL

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Belo Horizonte/MG

Belo Horizonte/MG

Vivian R. Ferreira

26 BOA VONTADE Mulher

operadores de políticas públicas;• instrumentalização das entidades com sistema de banco de dados para o registro de usuários, de atendimentos e de benefí-cios, qualificando a atuação delas perante a população (próxima fase);• realização de seminários sobre políticas públicas.

O debate sobre as realidades vivencia-das pelos moradores das comunidades contempladas pelo programa Rede Socie-dade Solidária, por si só, é muito impor-tante, visto que muitas das disparidades

São Paulo/SP

Page 27: Boa Vontade Mulher, edição 2016

Porto, Portugal

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Buenos Aires, Argentina

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BOA VONTADE Mulher 27

sociais existentes no Brasil são considera-das “naturais” pela população, pois estão enraizadas nas práticas sociais e culturais vigentes. No entanto, nós percebemos também a necessidade de construir nar-rativas alternativas. Daí adotarmos com urgência um modelo inovador de processo ensino-aprendizagem, que tem por base valores comuns a diferentes culturas, entre os quais o Amor, o respeito e a Boa Vontade. Essa nova proposta edu-cacional abrange fundamentalmente dois segmentos: a Pedagogia do Afeto

La Paz, Bolívia

Ciudad del Este, Paraguai

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28 BOA VONTADE Mulher

e a Pedagogia do Cidadão Ecumênico, aplicadas com sucesso em nossa rede de ensino e nos programas socioeducacionais que desenvolvemos.

Na Pedagogia do Afeto, o enfoque é sobre crianças de até os 10 anos de idade, unindo-se sentimento ao desenvolvimento cognitivo destas, de modo que o carinho e o afeto façam parte de todo o conhecimen-to e dos ambientes da vida delas, inclusive o escolar. Na continuidade do processo de ensino-aprendizagem, aplica-se a Pedago-gia do Cidadão Ecumênico, direcionada à educação de adolescentes, jovens, adultos e idosos, dispondo o indivíduo para viver a Cidadania Ecumênica, firmada no exercício pleno da Solidariedade Planetária.

Temos compartilhado com institui-ções educacionais públicas e privadas a metodologia e os promissores resultados dessa linha educacional, entre os quais ambientes livres de evasão escolar e de

Centros comunitários de assistÊNCIA SOCIAL

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Porto, Portugal

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RECOMENDAÇÕES DA LBV

Page 29: Boa Vontade Mulher, edição 2016

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Page 30: Boa Vontade Mulher, edição 2016

30 BOA VONTADE Mulher

agressividade entre os estudantes. Por isso, colocamo-nos à disposição das orga-nizações e dos governos que desejam co-nhecer melhor essa proposta pedagógica e os programas socioeducionais que aplica-mos. Eles visam fomentar uma nova men-talidade, que enseje inovadores modelos culturais e de comportamento, tal como destacado, em 1981, pelo criador dessa vanguardeira proposta, o educador Paiva Netto, em entrevista ao jornalista italiano radicado no Brasil Paulo Rappoccio Parisi, e reafirmado em mensagem à Cúpula das Nações Unidas sobre o Desenvolvimento Sustentável 2015, realizada de 25 a 27 de setembro, na sede da ONU em Nova York, nos Estados Unidos:

“A Solidariedade se expandiu do lu-minoso campo da ética e se apresenta como uma estratégia, de modo que o ser humano possa alcançar e garantir a sua própria sobrevivência. À globalização da miséria contrapomos a globalização da Fraternidade, que espiritualiza e enobrece a Economia e solidariamente

Santa Quitéria/CE

Nova Jersey, EUA

União da Vitória/PR

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Campanhas de socorro às populações

RECOMENDAÇÕES DA LBV

Page 31: Boa Vontade Mulher, edição 2016

BOA VONTADE Mulher 31

Biguaçu/SC

Xerém, Duque de Caxias/RJ Juazeiro/BA

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Brasília/DF

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Page 32: Boa Vontade Mulher, edição 2016

32 BOA VONTADE Mulher

a disciplina, como forte instrumento de reação ao pseudofatalismo da pobreza”; e

“Por isso, é fundamental convergir todas as ferramentas disponíveis para a Solidariedade Ecumênica e compartilhá--las, para que se promova, com maior rapidez, a transição para o pleno desen-volvimento sustentável. Integrados esses instrumentos que visam ao bem comum, pelo autêntico sentido de Amor Fraterno e de Justiça, que nos distinguem dos ani-mais ferozes, poderemos fazer cessar os horrores que ainda persistem no mundo. Além de superar todas as mazelas sociais — dure o tempo que durar a luta —, é nosso dever construir, unidos, um modelo novo de desenvolvimento que efetivamente preserve a vida neste orbe.

“A Legião da Boa Vontade, fundada há quase 66 anos por Alziro Zarur (1914-1979), batalha diuturnamente contra a fome e as desigualdades sociais e em prol da sustentabilidade e da educação com Espiritualidade Ecumênica, jamais se es-

Ipatinga/MG

São Paulo/SP

Nova Jersey, EUA Aracaju/SE

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Campanhas de socorro às populações

RECOMENDAÇÕES DA LBV

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Page 33: Boa Vontade Mulher, edição 2016

BOA VONTADE Mulher 33

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Page 34: Boa Vontade Mulher, edição 2016

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Curitiba/PR

Juazeiro/BA La Paz, Bolívia

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quecendo de empreender hercúleo com-bate à pior das carências, que atravanca, de maneira direta, o êxito de qualquer tentativa de transformação benéfica na Terra: a falta de Solidariedade, de Frater-nidade, de Misericórdia, de Generosidade, de Altruísmo, de Justiça; por conseguinte, a aridez do Espírito, do coração. Por essa razão, é mais que atual relembrar a mile-nar regra ensinada pelo filósofo, ativista religioso e social Jesus, quando proferiu esta Palavra de Paz: ‘Amai-vos uns aos outros como Eu vos amei. (...) Não há maior Amor do que doar a sua própria Vida pelos seus amigos’ (Evangelho, segundo João, 13:34 e 15:13)”.

Nesta histórica sessão da Comissão sobre a Situação da Mulher, que alcança a significativa marca de 60 edições, aplaudi-mos todas as mulheres e todos os homens que fizeram, fazem e farão parte dessa longa trajetória de lutas e conquistas, ratificando nosso solidário compromisso com a erradicação de todas as formas de desigualdade no planeta.

Rafael MendesVale do Jequitinhonha/MG

RECOMENDAÇÕES DA LBV

Page 35: Boa Vontade Mulher, edição 2016

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Porto Velho/RO Buíque/PE

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38 BOA VONTADE Mulher

70 ANOS DAS NAÇÕES UNIDAS

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Page 39: Boa Vontade Mulher, edição 2016

BOA VONTADE Mulher 39

A 60a sessão da Comissão sobre a Situação da Mulher, de 14 a 24 de março deste ano, faz um amplo debate sobre o tema

“O empoderamento das mulheres e a ligação deste com o desenvolvimento sustentável”. Além disso, o encontro é uma oportunidade histórica para a Organização das Nações Unidas e seus Estados-membros de fazer um balanço do muito que foi realizado pela entidade ao longo dessas sete décadas e dos novos rumos que se preten-de dar a ela nos próximos anos. Tal reflexão, propiciada pelo 70o aniversário de existência da ONU em 2015 — cuja fundação oficial ocorreu em 24 de outubro de 1945 —, prossegue em 2016, ano de implementação dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), que cons-tituem a nova agenda mundial. Nessas metas está imbuída a reafirmação de ideais universais, entre estes a dignidade e a valorização do ser humano e a igualdade de direitos e deveres entre mulheres e homens. Sem a concretização desses ideais não haverá economias prósperas nem a possibilidade de viver em uma sociedade justa, equitativa e feliz.

LBV saúda ONU pelos 70 anos e participa da 60a sessão da Comissão sobre a Situação da Mulher

JANINE MARTINS

e conquistasHistória de lutas

A Legião da Boa Vontade — que, em 1994, se associou ao Departamento de Informação Pública (DPI) das Nações Unidas e, em 1999, conquistou o status consultivo geral no Conselho Econômico e Social (Ecosoc) desse organismo — não poderia deixar de saudar a ONU por ocasião tão expressiva. Cabe destacar que, todos os anos, a LBV leva à enti-

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Page 40: Boa Vontade Mulher, edição 2016

40 BOA VONTADE Mulher

dade recomendações dela e de organizações do Terceiro Setor de boas práticas para a implementação de políticas públicas e de ações humanitárias internacionais, além de utilizar sua capilaridade nos sete países onde está presente (Argentina, Bolívia, Brasil, Estados Unidos, Paraguai, Portugal e Uruguai) com o intuito de fazer chegar à sociedade civil discussões e resoluções protagonizadas por chefes de Estado. O trabalho da LBV é o de dar a populações em situação de vulnerabilidade social in-formações e oportunidades a fim de que elas busquem o cumprimento dos próprios

“Quero aproveitar esta ocasião para agradecer sempre o esforço e a constância do engajamento da Legião da Boa Vontade para com os

Objetivos de Desenvolvimento e a justiça econômica e social,

que a ONU, em defesa dos direitos humanos, leva adiante.

São parcerias assim de que nós precisamos em cada país.”

GIANCARLO SUMMADiretor do Centro de Informação das

Nações Unidas para o Brasil (UNIC Rio)

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Durante a Cúpula das Nações Unidas sobre o Desenvolvimento Sustentável 2015, na sede da entidade em Nova York, nos EUA, o presidente do Quênia, Uhuru Kenyatta (1), e a presidente da Croácia, Kolinda Grabar-Kitarović (2), recebem a revista da Legião da Boa Vontade para o evento. A publicação especial da Instituição é entregue também ao primeiro-ministro de São Vicente e Granadinas, Ralph Gonsalves (3), e ao primeiro-ministro da Eslovênia, Miro Cerar (4), pelo representante da LBV Danilo Parmegiani.

21

70 ANOS DAS NAÇÕES UNIDAS

direitos e consigam viver de forma digna. A Instituição colabora, assim, para o alcance dos objetivos da ONU.

Em entrevista à BOA VONTADE, Giancarlo Summa, diretor do Centro de Informação das Nações Unidas para o Brasil (UNIC Rio), falou da importância da par-ceria entre os vários segmentos sociais. “É uma campanha global que a ONU faz, en-gajando atores dos governos federal e local. (...) é fundamental o apoio da sociedade civil, das organizações não governamentais que são, por exemplo, como a Legião da Boa Vontade, associadas ao DPI, ao Ecosoc

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BOA VONTADE Mulher 41

Mais de 350 lugares em 85 países foram

iluminados na cor azul para saudar as Nações Unidas pelos 70 anos, completados em 24 de

outubro de 2015. No Brasil, Rio de Janeiro/RJ,

São Paulo/SP, Salvador/BA, Brasília/DF e outras

cidades participaram do ato. Nas fotos, o

Templo da Boa Vontade, no Distrito Federal, e o Centro Educacional

da LBV, na capital fluminense, aderiram à

homenagem.

Paulo Medeiros, administrador do Templo da Boa Vontade; Alziro Paolotti de Paiva, representando o fundador do monumento, José de Paiva Netto; sr. Alan Bojanic, representante da FAO no Brasil; Marta Jabuonski, curadora da Galeria de Arte do TBV; e algumas crianças atendidas pela LBV na capital federal.

e a organismos da ONU, mas também [a colaboração] dos meios de comunicação, para transmitir o que a gente faz.”

DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL SEGUNDO O OLHAR INFANTOJUVENIL

Como forma de homenagear a ONU pelo 70o aniversário, a Legião da Boa Von tade, pensando nas gerações futuras, convidou também meninas e meninos entre 6 e 17 anos que participam de seus programas socioeducacionais em dezenas de cidades brasileiras a refletir, por meio da arte, sobre os 17 Objetivos de Desenvolvimento Sus-tentável (ODS), os quais foram adotados pelas Nações Unidas em setembro de 2015 e devem ser alcançados por todos os países até 2030.

O resultado da iniciativa da Insti-tuição pôde ser visto nos mais de cem trabalhos artísticos que fizeram parte da exposição “Todos de mãos dadas com a Paz — Homenagem da LBV aos 70 anos da ONU”, ocorrida de 21 a 28 de outubro de 2015, na Galeria de Arte do Templo da Boa Vontade (TBV), em Brasília/DF, Brasil. As pinturas traduzem a visão dessas crian-ças e adolescentes acerca do desafio de realizar o desenvolvimento sustentável. Para a confecção das obras, além de ser empregado acrílico sobre tela, foram utilizadas diversas técnicas mistas, com colagens e a aplicação de grãos, linhas,

folhas, areia, lã, corrente, botões, miçan-gas etc.

A criatividade dos jovens artistas cha-mou a atenção de Alan Bojanic, represen-tante da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) no Brasil, que prestigiou a abertura da mostra. “Fico muito contente de ver a identificação dessas crianças com a nova agenda global, uma agenda que é para unir a Humani-dade e comprometer todos nós com esse grande objetivo da erradicação da pobreza, da fome e das doenças, [bem como o] de ter um mundo melhor, de Paz”, ressaltou naquela data.

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OPINIÃO — EDUCAÇÃO

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Rodenilde Pereira e a filha Hacsa Melissa, de 5 anos, aluna da Escola de Educação Infantil Alziro Zarur, da LBV, em Taguatinga/DF, uma das beneficiadas pela Campanha Criança Nota 10 — sem Educação não há Futuro!. Todos os anos, a iniciativa da Instituição distribui, nas cinco regiões do Brasil, milhares de kits escolares, contribuindo, assim, para a melhora da autoestima e do desempenho do educando.

Page 43: Boa Vontade Mulher, edição 2016

BOA VONTADE Mulher 43

Aplicação da Pedagogia do Afeto e da Pedagogia do Cidadão Ecumênico, que compõem a linha educacional da LBV, contribui

para fomentar esse importante processo.

Suelí Periotto é supervisora da

Pedagogia do Afeto e da Pedagogia do Cidadão

Ecumênico e diretora do Instituto de Educação José de Paiva Netto, em São Paulo/SP. É doutoranda e mestre em Educação pela

PUC-SP, conferencista e apresentadora do programa Educação

em Debate, da Super Rede Boa Vontade de Rádio (acesse: www.

boavontade.com).

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EMPODERAMENTO DA

MULHER MÃESUELÍ PERIOTTO

Na rede de escolas de ensino regu-lar da Legião da Boa Vontade e em seus Centros Comunitários de

Assistência Social (que atendem crianças e jovens no período inverso ao escolar), pais ou responsáveis são convidados para participar de uma parceria que fortaleça os esforços da comunidade socioeduca-cional em que as meninas e os meninos estão inseridos. Afinal, como define o diretor-presidente da LBV, o educador Paiva Netto, “A escola é imprescindível, mas não substitui o lar. O Estado e a sociedade têm de, unidos, gerir soluções para que as famílias criem e eduquem dignamente os seus filhos”. Essa integração contínua é im-pulsionada em encontros coletivos ou indivi-dualizados, os quais visam ao envolvimento e ao respaldo de cada núcleo familiar nas atividades propostas aos educandos pela Instituição, conforme orientam a Pedagogia do Afeto (destinada a crianças de até os 10 anos de idade) e a Pedagogia do Cidadão Ecumênico (a indivíduos a partir dos 11 anos), que compõem a linha educacional preconizada pelo dirigente da LBV.

Os profissionais da Legião da Boa Von -tade também utilizam nas reuniões com as famílias o MAPREI (Método de Apren-dizagem por Pesquisa Racional, Emocional

e Intuitiva), criado pelos próprios educado-res da Instituição para a inovadora linha pedagógica da LBV. Essa proposta tem como fundamento a Educação com Espi-ritualidade Ecumênica, que é o diferencial da Entidade.

Dessa forma, os pais ou responsáveis têm a oportunidade de vivenciar a me-todologia aplicada nas ações lúdicas e pedagógicas realizadas com os estudantes.

Cabe destacar que nesses encontros a presença de mulheres é predominante, o que faz deles ocasiões valiosas de incen-tivo ao empoderamento feminino, pois fortalecem nelas o potencial de provedoras dos recursos financeiros do lar, bem como o de agentes responsáveis pelo encami-nhamento acadêmico das meninas e dos meninos. Os eventos ainda demonstram o alto grau de envolvimento dessas mulheres nas tarefas de casa das crianças e dos jovens as quais requerem o auxílio delas para pesquisa/coleta de dados, ativida-des essas direcionadas pelos educadores das escolas da Instituição ou solicitadas em atividades aplicadas nos programas socioeducativos da LBV, que objetivam o desenvolvimento cognitivo e emocional dos que deles integram.

Prática constante desses eventos é o

Page 44: Boa Vontade Mulher, edição 2016

44 BOA VONTADE Mulher

OPINIÃO — EDUCAÇÃO

Oficina temática para pais e responsáveis “Disciplina e limites: uma visão além do intelecto”

PROPOSTA PEDAGÓGICA DA LBV: A ESPIRITUALIDADE ECUMÊNICA NA PRÁTICA

1ETAPA IDENTIFICAÇÃO DO CONTEÚDO

Palavra-chave: mobilizaçãoUso de recurso audiovisual para mostrar cenas e situações de indisciplina, corroborando os pontos apontados como desafiadores pelas famílias.

3ETAPA SOCIALIZAÇÃO DO CONHECIMENTO

Palavras e expressões-chave: mediação e aprofundamento do temaOs profissionais da Instituição que conduzem a oficina fazem a mediação, deixando as famílias à vontade para compartilhar o que está dando certo e o que tem fugido do controle delas.

2ETAPA BUSCA INDIVIDUAL DO CONHECIMENTO

Palavras-chave: intuição e pesquisaPara pesquisa, é lançada a questão: “Como você trabalha regras e limites com seus filhos?”. A proposta feita às famílias é a de que pensem nas estratégias que costumam dar certo. Além disso, sugere-se a elas realizar uma autoavaliação, em que cada uma identifique as formas de lidar com os filhos que não têm trazido resultados positivos.

4ETAPA CONCLUSÃO

Palavra-chave: produçãoOs pais ou responsáveis são incentivados a escrever, na roupa dos bonecos de EVA que lhes são entregues, a melhor qualidade das crianças

e dos jovens e o maior problema de disciplina que enfrentam com eles. Na sequência, o mediador

recolhe os bonecos e distribui-os aleatoriamente, chamando-os de “filhos secretos”. As famílias “trocadas” têm de trabalhar na produção de um material que apresente sugestões de maneiras de resolver as questões ali apontadas.

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BOA VONTADE Mulher 45

debate de temáticas sugeridas pelos pais e responsáveis, extraídas de situações de desa fio do cotidiano deles. Para exempli-ficar a boa experiência da utilização do MAPREI também nessas ações, registra-mos aqui a oficina realizada sob o tema “Disciplina e limites: uma visão além do intelecto”, que propiciou à Escola de Educação Infantil Alziro Zarur, da LBV, em Taguatinga/DF, um resultado bastante positivo. Nessa oficina, foi aplicado um planejamento do MAPREI, elaborado pela equipe multidisciplinar da referida unidade escolar (veja o quadro ao lado).

CONGRESSO DE EDUCAÇÃO DA LBV, EM PORTUGAL

Vale destacar que o planejamento aqui citado foi apresentado em ofici-na do 15o Congresso Internacional de Educação da LBV, que ocorreu em 24 e 25 de novembro de 2015, na cidade do Porto, em Portugal. Os participantes simularam a realização da oficina, como se eles estivessem aplicando-a para as famílias dos grupos ou instituições às quais pertencem. A atividade levou-os a refletir sobre o necessário preparo das famílias para o enfrentamento de problemáticas atuais.

A Legião da Boa Vontade considera que tem sido de extrema valia essa par-ceria com as famílias. Por isso, estimula continua mente o envolvimento dos pais ou responsáveis em atividades que am-pliem vínculos afetivos com as crianças e os jovens, a fim de que estes se sintam mais bem acolhidos e incentivados. O objetivo dos encontros que a LBV pro-move com esses pais ou responsáveis é o de que cada núcleo familiar se sinta suficientemente preparado para enfrentar e superar dificuldades, fortalecendo e potencializando sua capacidade de iden-tificar, preventivamente, os perigos que ameaçam a integridade física, emocional e/ou psicológica das crianças e dos jovens que o compõem.

5ETAPA APRESENTAÇÃO DE

RESULTADOSExpressão-chave: integração escola–família–comunidade

O mediador organiza o material resultante da busca de soluções

dos problemas expostos pelas famílias sobre os “filhos secretos”, disponibilizando-o

para apreciação, sob o nome de “Não há manuais para cuidar dos filhos, mas temos sugestões”. Nele são incluídas propostas de atividades lúdicas que podem ser praticadas dentro do lar que fortaleçam os vínculos de seus componentes.

6ETAPA CONCLUSÃO INDIVIDUAL

Palavras e expressão-chave: internalização e retorno ao indivíduoPara fechar o encontro, promove-

-se uma discussão com as famílias acerca do tema em foco, gerando

conclusões pessoais sobre as possíveis mudanças das crianças e dos jovens quando os pais ou responsáveis por eles se sentem empoderados e aptos não só a perceber as situações de riscos que rodeiam a vida deles, mas também a agir com conhecimento e firmeza para a prevenção ou o combate dessas situações, conforme propõem as cinco etapas anteriores, cujas ações são pautadas pelos valores da Espiritualidade Ecumênica.

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PROTAGONISMO SOCIAL

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BOA VONTADE Mulher 47

Reescrevendoo destino

Arevista BOA VONTADE dedica essas páginas para apresentar outras histórias de mulheres que vivenciaram situações de risco social, de adver-

sidades e de desafios. Mas que, apesar de tudo isso, deram a volta por cima, assumiram seu protagonismo social e se tornaram personagens importantes na área em que atuam. Em comum a todas elas, o desejo de concretizar sonhos, a determinação e o apoio que re-ceberam da Legião da Boa Vontade, fato determinante para que pudessem manifestar o próprio potencial.

Vindas das camadas mais pobres e sofridas da so-ciedade, essas mulheres melhoraram não apenas sua vida, mas também a de sua família e a da comunidade em que residem.

VOLTA POR CIMA DE QUEM PASSOU FOMEA narrativa de Oderlânia Leite Galdino, de 37

anos, retrata a de inúmeras outras mulheres do Nordeste brasileiro e exemplifica bem a importân-cia de despertar a potencialidade feminina. Nem a experiência da fome e as angústias provocadas pela miséria mais profunda apagaram do coração dela a esperança de dias melhores. “Nasci em meio a um cenário de beleza incomparável; foi no alto da Serra de Martins, no Rio Grande do Norte. Recordo-me

Mulheres encontram na LBV um caminho para o empoderamento feminino

LEILA MARCO

do desejo, quando criança, de alçar altos e belos voos, tão altos, bem mais altos do que a serra onde eu morava, que me fizessem esquecer e superar as dificuldades que eu passava”, relata.

Em 1985, quando tinha apenas 7 anos de idade, o pai faleceu. A mãe teve de se desdobrar e realizar diversas atividades a fim de obter o sustento da família. “Eu a vi trabalhar por duas pessoas para alimentar oito filhos”, rememora. Apesar do esforço materno, essa fase foi muito difícil, conforme ela conta: “Doía-me profundamente quando em casa não tínhamos o que comer. Eu bebia água ou comia farinha de mandioca para tentar matar a fome e conseguir dormir. Eu e meus irmãos chegamos a pedir esmolas de casa em casa para sobreviver. Recordo-me sempre do sabor daquele primeiro iogurte que tomei após ter encontrado no lixo; foi perfeito. O lixão era, para mim, um ponto de apoio, onde buscava o alimento para manter-me de pé junto com minha família”.

Aos 16 anos, já na capital potiguar, novas perspec-tivas surgiram para sua vida. Meses depois, começou a ser voluntária na Legião da Boa Vontade. “Minha história com a LBV é de transformação. A Instituição entrou na minha vida como uma luz, onde eu não imaginava que existia claridade. Identifiquei-me com

D O S D R A M ÁT I C O S M O M E N T O S N O L I X Ã O A G E S T O R A D O S E R V I Ç O S O C I A L

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48 BOA VONTADE Mulher

até que foi convidada para ser gestora do Centro Comunitário de Assistência Social da LBV. “Nesse dia, fiquei surpresa e ao mesmo tempo feliz. Aceitei e estou, até os dias atuais, buscando desenvolver um excelente trabalho, para, assim, contribuir na construção de um mundo melhor e no empoderamento de cada um dos atendi-dos pela Instituição. Hoje, sou formada em Serviço Social e pós-graduada em Sustentabilidade e Elaboração de Pro-jetos Sociais. (...) Sinto-me realizada e vencedora, graças à LBV e ao seu diretor--presidente, José de Paiva Netto, que é um ser humano iluminado e abençoado por Deus”, afirmou.

esta Casa desde o primeiro momento em que entrei nela”, revela.

A paixão “pelo cuidado, pelo capricho, pela atenção que a LBV tem com todos os atendidos” modificou-a de maneira profunda, a ponto de aquela jovem extre-mamente tímida, que não gostava de falar com ninguém, ir sendo deixada de lado. “Meus medos pareciam ser maiores do que eu. Porém, aos poucos, fui ganhando desenvoltura na missão que Deus havia preparado para mim”, ressalta.

Em 1996, surgiu a oportunidade de trabalhar como contratada na unidade de atendimento da Instituição. Sempre muito dedicada, desempenhou diversas funções,

“Minha história com a LBV é de transformação. A Instituição entrou na minha vida como uma luz, onde eu não imaginava que existia claridade. Ela foi e é um divisor de águas em minha vida para a superação das dificuldades que passei.”

ODERLÂNIA LEITE GALDINODepois de uma infância difícil marcada pela fome, venceu na vida,

tornou-se voluntária da LBV e, atualmente, é gestora do Centro Comunitário de Assistência Social da Instituição em Natal/RN.

PROTAGONISMO SOCIAL

(1) Em ação promovida na comunidade de Pissarreira, em Taipu/RN, a LBV entregou roupas às famílias em situação de vulnerabilidade social. (2) Durante a entrega de cestas da LBV, em Taipu/RN.

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A portuguesa Maria Adelaide Silva Pinto, de 54 anos, há alguns anos, enfrentou graves problemas de

saúde que mudaram drasticamente sua vida. Com uma atividade profissional muito ativa na área contábil, teve de se afastar do emprego após sofrer dois acidentes vasculares cerebrais (AVCs) e vivenciar forte depressão, ficando dependente dos cuidados da mãe, idosa, por certo período de tempo.

A primeira porta abriu-se para Maria Adelaide no início de 2014, quando ela buscou, com o apoio de um vizinho, aten-

“Eu agradeço muito a Deus pela oportunidade de ser voluntária, porque é uma forma de me sentir útil.”

MARIA ADELAIDE SILVA PINTO

Voluntária

Voluntariado trazpaixão pela vida

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Porto, Portugal

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50 BOA VONTADE Mulher

dimento na unidade da LBV de Portugal, na cidade do Porto. Segundo relata, era difícil falar da necessidade pela qual passava; tinha vergonha de pedir ajuda.

Com a boa recepção que obteve da Entidade, deixou de ser atormentada por esses temores e um vínculo de carinho e compreensão logo se formou entre essa lusitana e a Instituição. Participante do programa Um Passo em Frente, começou a receber mensalmente uma cesta de ali-mentos para seu sustento e o de sua mãe, bem como a assistir às palestras oferecidas por meio do programa.

Maria Adelaide ainda conta que, na Legião da Boa Vontade, encontrou não só o amparo social, mas um espaço privilegiado para refletir sobre postura e comportamen-to diante do próximo. “Eu agradeço muito a Deus pela oportunidade de ser voluntária, porque é uma forma de me sentir útil. Quando vejo outras pessoas que também estão passando por situações idênticas à minha, quero transmitir minha experiên-cia”, salienta. Foi dessa maneira que ela

“Ao descobrir o voluntariado na LBV, pude trabalhar em prol do bem e da justiça humanitária, o que me dá muito orgulho.”

ANA SOFIA SEQUEIRAVoluntária da LBV dos EUA

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venceu a depressão e outros problemas de saúde. “Eu não tenho muita coisa, mas sou a pessoa mais feliz do mundo. Tenho o que mais quero na vida, que é a paz interior.”

NOVA YORK, EUAEsse sentimento também é comparti-

lhado pela secretária-executiva Ana Sofia Sequeira, de 37 anos. Portuguesa de ascendência angolana, mora nos Estados Unidos há 22 anos e tornou-se uma pessoa mais feliz depois de conhecer a Legião da Boa Vontade dos EUA. Ela presta auxílio a gestantes em risco social e colabora para que crianças pobres sejam incluídas socialmente. “Ao descobrir o voluntariado na LBV, pude trabalhar em prol do bem e da justiça humanitária, o que me dá muito orgulho. É inevitável não ser tocada pela reação dos atendidos, quando nossa ação tem algum tipo de impacto direto e imediato na vida deles”, destaca e com-plementa: “Com certeza, hoje sou uma vencedora!”.

L A M B A R É , P A R A G U A I

Tecnologia e aumento da renda familiar

Foi participando de ações da Legião da Boa Vontade do Paraguai que María Luisa Russo, de 35 anos, realizou um sonho de muitas mães: trabalhar em casa. Ela ficava preocupada com a saúde da filha de 6 anos, que era obrigada a acompanhá-la pelas ruas de Assunção, capital desse país, na busca de material reciclável, de cuja venda obtinha parte do sustento da família. “Se fizesse frio ou chovesse, da mesma forma tínhamos de ir, e minha menina vivia doente por isso”, conta.

Essa realidade mudou quando a LBV levou o programa Boa Vontade em Ação ao assentamento de Villa Angélica (leia outras informações na p. 54), onde María Luisa reside, localizado em Lambaré, região metropolitana da capital paraguaia. Graças à iniciativa, ela pôde frequentar cursos gratuitos de diferentes téc-nicas artesanais e, como participante de programas da Entidade, também foi convidada para integrar o grupo Fortalecendo Vidas.

Desde então, sua vida e a de seus três filhos melhorou consideravelmente. No grupo, ela aprendeu a ter autonomia e elevou a autoestima. A participação nele ainda fez com que vislumbrasse a possibilidade de usar as redes sociais para ven-der os produtos que aprendeu a confeccionar com profissionais voluntários da Instituição. Atualmente, chega a ganhar cinco vezes mais do que recebia com a antiga atividade. “Hoje, eu ganho meu dinheiro em casa e tenho mais tempo para estar com meus filhos. Agradeço por todo o ensinamento que a LBV nos dá e pela cesta de alimentos oferecida. É uma bênção para nós”, diz.

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52 BOA VONTADE Mulher

REDE SOCIEDADE SOLIDÁRIA

O que fazer quando a comunidade sofre com uma precária infraestrutura e com a ausência de serviços básicos,

entre os quais água encanada, saneamento e energia elétrica? Diante de situações como essas, muitas mulheres possuem dentro de si um fator indispensável: a determinação de ir atrás de soluções para os problemas da localidade onde estão inseridas.

São pessoas que, por meio da atuação individual ou em associações, se esforçam para alcançar o bem-estar de sua família e de quem vive ao seu redor. De acordo com Marcos Kisil, consultor estratégico e funda-dor do Instituto para o Desenvolvimento do Investimento Social (Idis), essa procura pela garantia dos direitos da coletividade aumenta

desde a década de 1980. “Com o retorno da democracia [no Brasil], houve o crescimento das organizações comunitárias focadas em problemas ou questões de interesse públi-co, prestadoras de serviços, ou na busca [do cumprimento] dos direitos humanos, presentes em nossa Constituição”, explicou.

Em sintonia com essa realidade e com o 17o Objetivo de Desenvolvimento Susten-tável — “Fortalecer os meios de implemen-tação e revitalizar a parceria global para o desenvolvimento sustentável” —, a Legião da Boa Vontade tem apoiado organizações do Terceiro Setor para melhorar a qualidade de vida de pessoas e famílias residentes em bairros ou assentamentos em situação de risco social. Esse atendimento ocorre por

LBV apoia mulheres a assumirem papel de protagonistas nos locais onde vivem

JANINE MARTINS

Liderança comunitária

feminina

AT I T U D E T R A N S F O R M A D O R A

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Tia Lourdes no bairro Jardim Princesa, onde atua com a comunidade, por meio da Associação Creche Imaculado Coração de Maria.

meio do programa Rede Sociedade Soli-dária, da LBV, que prioriza a atuação para o empoderamento feminino.

A TRAJETÓRIA DA TIA LOURDESImagine a seguinte cena: alguém passa

em frente a um barraco e ouve o choro de uma criança. Ao se aproximar, percebe que um menino de 5 anos deixado em casa so-zinho enquanto os pais tentavam conseguir o sustento do lar se havia queimado ao esquentar a própria comida. Quem viven-ciou essa situação foi a alagoana Maria de Lourdes dos Santos Silva, atualmente com 62 anos. O triste fato fez com que ela resolvesse agir para que acontecimentos desse tipo não ocorressem mais, e a to-mada de atitude impulsionou-a a se tornar referência de liderança no Jardim Princesa, bairro onde mora, localizado na Zona Norte de São Paulo/SP.

Comovida com o caso do garoto, tia Lourdes — apelido carinhoso que recebeu — ofereceu-se para fornecer comida a ele, a fim de que não se queimasse mais. Outros pais que passavam por situação semelhante logo pediram para deixar os filhos na casa dela. Seu lar acabou se transformando em uma creche, a primeira mantida pela Associação Creche Imaculado Coração de Maria, a qual ela fundou para acolher essas crianças.

Nessa ação, Maria de Lourdes mudou a vida de muita gente. Roselita Vitor da Silva é uma dessas pessoas. Também vinda da região Nordeste, mais especificamente do Estado do Ceará, chegou à capital paulis-ta recém-casada e buscou a ajuda de tia Lourdes. Criou seu único filho na creche e, hoje, auxilia outras mães por meio do trabalho na entidade.

Atualmente, Roselita é quem participa dos encontros promovidos pela Legião da Boa Vontade por intermédio do programa Rede Sociedade Solidária. “Recebemos esse suporte da LBV, além de cursos para qualificar, montar, dirigir uma associa-ção... Isso é fantástico!”, declarou. Vi

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LAMBARÉ, PARAGUAI: “COM A LBV, EU APRENDI A VENCER COMO MULHER”.

No assentamento Villa Angélica, situa-do na cidade de Lambaré, no Paraguai, quem precisa de amparo procura Elsa Raquel Morel Callante e a LBV. Há seis anos, a líder comunitária conseguiu di-versas benfeitorias para o local, entre as quais energia elétrica, água encanada e pavimentação em uma das ruas.

Mãe de dez filhos, Elsa perdeu um deles no nascimento e outro aos 4 anos, atingido por uma bala perdida. Apesar dos afazeres domésticos, ela alterna o cuidado com a prole com o trabalho de reciclagem, por meio do qual ajuda o marido no sustento da casa, e com a busca de soluções dos problemas da localidade em que reside.

Há quatro anos, a LBV começou a fazer parte da vida de Elsa e da comuni-dade dela, que conta com sua liderança. “A partir desse período, conquistamos bastante coisa; amadurecemos como pes-soas, como mulheres; melhoramos nossa autoestima; aprendemos a nos relacionar melhor com os nossos vizinhos, com as

“Como entidade social, às vezes recuamos um pouco, porque nos sentimos muito sós. É muito bom recebermos esse apoio da LBV, esse braço amigo, aconchegante, que entende nossa língua.”

ROSELITA VITOR DA SILVA (D) Ela auxilia a tia Lourdes na gestão das creches

da Associação na Zona Norte da capital paulista.

FOCO NA MULHERRede Sociedade Solidária, da LBV

O QUE É Ação de assessoramento a associações e instituições do Terceiro Setor. Com essa iniciativa, a Legião da Boa Vontade colabora de forma intersetorial para que associações e entidades parceiras dela consigam trabalhar mais e melhor pelas comunidades em que estão inseridas.

COMO Profissionais da LBV prestam orientação a gestores sociais sobre políticas de desenvolvimento social e os capacitam a empregar recursos públicos e/ou privados em prol das próprias comunidades.

PRIORIDADE

Do público-alvo assistido pelas entidades assessoradas por esse

programa são compostos de mulheres.

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Do total de entidades cadastradas estão sob liderança feminina.

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REDE SOCIEDADE SOLIDÁRIA

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mulheres; temos muitos benefícios com a LBV, não só as mulheres, mas também as crianças”, salientou. Formado por cerca de 140 famílias, as quais têm, no total, mais de 300 meninas e meninos, o assentamento recebe todo mês cestas de alimentos da LBV. Além disso, a Instituição realiza constantemente no local programas e campanhas socioeducacionais de preven-ção e promoção da saúde.

Recentemente, Elsa concluiu o curso de secretariado e ainda aumentou a ren-

“A LBV ENSINA VOCÊ A PESCAR.”“Para manter este trabalho na comunidade, quem nos ajuda é a LBV. Se não fosse ela, eu não estaria aqui hoje. A LBV ensina você a pescar. Paiva Netto é, para nós, um pai, que nos tem ajudado, e as associações devem agradecer muito a ele por esse suporte. Quantas vezes entrei aqui pensando: ‘Como eu vou conseguir?’, e a reunião do programa Rede Sociedade Solidária me ajudou a buscar a solução. Se não fosse a Instituição, eu não conseguiria tantas doações como consigo, além de a própria LBV dar doações para a gente. Então, só tenho a agradecer.”

MARIA DA GLÓRIA JULIÃOPresidente da Associação Leão de Judá,

situada no bairro Vila Sílvia, na Zona Leste da capital paulista.

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No assentamento Villa Angélica,

na cidade de Lambaré, no

Paraguai, (1) Elsa Raquel discursa em atividade do programa e (2) ladeada pelos filhos em sua

casa.

da familiar por meio da venda de itens confeccionados com as técnicas de arte-sanato que aprendeu no grupo intitulado Fortalecendo Vidas, da LBV. A iniciativa da Instituição tem beneficiado não só ela, como também outras mães da comunida-de. “Graças a tudo o que aprendemos no grupo, fomos crescendo. Alguns dos pro-dutos que produzimos, nós já vendemos, e [isso] nos dá uma renda. Trabalhamos em casa e podemos cuidar dos nossos filhos”, contou.

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Segundo pesquisa da Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal) — uma das cinco comissões regionais da Orga-

nização das Nações Unidas (ONU) —, divulgada em 2014, cerca de 28,5 milhões de latino-americanos e caribenhos vivem fora do país de origem. Ainda de acordo com o relatório, nesse grupo cresceu a presença feminina. Outros estudos mostram que, a partir da década de 1980, houve significativa mudança no perfil da migração, isso porque não apenas mulheres casadas passaram a deslocar-se, com sua família, de uma região para outra, mas também mulheres solteiras e jovens começaram a sair do local de nascimento em busca de melhores condições de vida e de trabalho.

Nesse contexto, muitas dessas mulheres acabam por assumir o papel de provedoras do lar, a fim de vencer uma situação socioeconômica difícil. Para aju-dar essas trabalhadoras no processo de acolhimento

Adaptação eacolhimento

Mulheres enfrentam as diferenças de uma nova cultura com a ajuda da LBV

NOVAS OPORTUNIDADES

e propiciar a elas oportunidades na nova sociedade em que estão inseridas, a Legião da Boa Vontade oferece apoio de diferentes maneiras. Conheça a história de duas mulheres que mudaram de país e, nesse novo contexto, encontraram a LBV para vencer seus desafios.

APOIO AOS QUE MIGRAMEm 2005, aos 15 anos, Soledad Encinas saiu

de La Paz, na Bolívia, para rever a mãe, que vivia havia oito anos em Buenos Aires, na Argentina. Apesar de esses dois países terem o espanhol como idioma oficial, a adaptação à nova pátria foi difícil para ela. “Eu não estava confortável, não me sentia bem, porque as pessoas eram diferentes. A comida, a cultura, tudo [era] diferente”, revelou.

Poucos anos depois, Soledad constituiu famí-lia, e somaram-se às dificuldades culturais as da maternidade. Mãe

JANINE MARTINS

“Desde que cheguei [neste país], nunca havia feito um amigo e, na LBV, eu me senti bem, unida [aos demais]. (...) [O atendimento prestado pela Escola Infantil Jesus] é bom, porque não é apenas para as crianças, mas para toda a família.”

SOLEDAD ENCINAS

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A boliviana Soledad Encinas, de 25 anos, com os filhos Agustín (E), Maximiliano e Valentina, atendidos pela Escola Infantil Jesus, em Buenos Aires, na Argentina.

Escola da LBV em Buenos Aires, na Argentina.

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Educação em Ação, fez com que passasse a encarar a própria existência de um jeito mais positivo. “Desde o ano passado, tenho outro semblante, porque, antes, eu tinha um olhar cabisbaixo e, agora, olho para o futuro”, disse.

Sobre o atendimento que recebe da Escola Infantil Jesus, ela destacou: “É bom, porque não é apenas para as crianças, mas para toda a família. É um alívio saber que seus filhos estão em boas mãos”.

DE ALUNA A PROFESSORAFilha de um alfaiate e de uma costu-

reira e a mais velha de quatro irmãos, Melvi Janete Callizaya Conde nasceu em La Paz, na Bolívia. Em abril de 1998, a família — à época constituída por Melvi, sua irmã e seus pais — desembarcou no Brasil e fixou residência em São Paulo/SP. Alfabetizada em sua terra natal, Melvi mudou-se com 7 anos para o país, onde os outros dois irmãos nasceram.

A menina estudou breve período em alguns colégios na capital paulista e ingressou, pouco tempo depois, no Conjunto Educacional Boa Vontade, cujo lema é “Aqui se estuda. Formam-se Cé-rebro e Coração” e onde são aplicadas

NOVAS OPORTUNIDADES

de cinco crianças e com sérios problemas financeiros, viu sua trajetória tomar rumo melhor ao achar na Escola Infantil Jesus, mantida pela LBV da Argentina, o amparo de que necessitava.

A insegurança de deixar os filhos com alguém que não fosse da família para trabalhar fora passou quando a menina mais velha foi matriculada naquele esta-belecimento educacional. Além de propor-cionar ensino de qualidade, a Instituição tornou-se seu porto seguro nos dias mais críticos. “Às vezes, [eu] não tinha comida, e a LBV me ajudava”, afirmou.

Mais tranquila, começou a participar de programas sociais da Entidade, nos quais conseguiu o respeito e o carinho que tanto desejava. “Reunimo-nos com outras mães, contamos nossos casos e como nos sentimos naquele momento. Foi assim que me senti confortável pela primeira vez. Desde que cheguei [neste país], nunca havia feito um amigo e, na LBV, eu me senti bem, unida [aos demais]”, relatou.

Aos 25 anos, Soledad experimenta a possibilidade de crescimento profissional. O fato de ter concluído recentemente o curso de Atendimento ao Cliente, ofe-recido pela LBV por meio do programa

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LBV CONTRIBUI PARA DEBATE NA ONU SOBRE CRISE MIGRATÓRIAA Legião da Boa Vontade organizou, de parceria com o Comitê de ONGs sobre Educação, o painel “Educação para a inclusão sustentável de populações deslocadas”, realizado em 11 de fevereiro. O evento integrou a programação oficial da 54a sessão da Comissão das Nações Unidas para o Desenvolvimento Social. (1) O representante da LBV na ONU, Danilo Parmegiani, apresentou trecho do livro É Urgente Reeducar!, do escritor Paiva Netto. (2) O psicólogo e psicanalista Joseph DeMeyer, copresidente do Comitê de ONGs sobre Educação e representante da Sociedade de Estudos Psicológicos para Assuntos Sociais (SPSSI), discursou no painel. A reportagem completa sobre o assunto está em http://goo.gl/f0C54N.

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a Pedagogia do Afeto e a Pedagogia do Cidadão Ecumênico (mais sobre o assunto na p. 42), que compõem a pioneira linha educacional criada pelo dirigente da Legião da Boa Vontade, o educador Paiva Netto. “Em outras escolas nas quais estudei antes de vir para a LBV, eu sentia a diferença por ser estrangeira; na Instituição, não. Tive melhor acolhimento”, ressaltou.

Um dos fundamentos da proposta pe-dagógica da LBV é trabalhar a individua-lidade do estudante, o que foi fundamen-tal para a jovem, que cursou os ensinos fundamental e médio no referido estabe-lecimento. “Os professores que eu tive fizeram a diferença, porque percebiam nossa dificuldade; então, tinham maior paciência”, mencionou. Ela também viu nos antigos educadores inspiração para seguir a carreira escolhida. Formada em Matemática e iniciando graduação em Le-tras, com habilitação em Espanhol, já le-ciona e nota como a formação que teve na educação básica se reflete positivamente hoje em seu trabalho. “Dá para fazer a diferença, e a gente percebe o resultado nos alunos, [se] você está sendo querida ou não, se suas aulas estão funcionando ou não”, comentou.

“Os professores, funcionários, alunos, enfim, toda a escola da LBV tem um carinho grande conosco. Esse mesmo amor, eu acabo reproduzindo no meu ofício e com meus irmãos. Isso faz uma grande diferença.”

MELVI CONDEEx-aluna do Conjunto Educacional Boa Vontade, em São Paulo/SP,

é professora e faz parte da primeira geração de universitários de sua família, que migrou da Bolívia para o Brasil. Já cursando a

segunda graduação, sonha em lecionar no ensino superior. Dois de seus três irmãos ainda estudam na referida escola da LBV.

A escolha de investir em uma profissão na área da educação não foi bem aceita pela família de Melvi no início, mas, atual mente, os pais orgulham-se da opção dela. “Quando meu pai falou ‘Minha filha é professora’, eu me senti totalmente realizada, além do reconhecimento dos alunos”, confessou.

Estudiosa, Melvi, aos 24 anos, planeja voos mais altos. “Meu sonho é lecionar no ensino superior”, contou.

Vivian R. Ferreira

Brasil

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VIOLÊNCIA DE GÊNERO

Acabar com a violência de gênero é um dos gran-des desafios da agenda global para os próximos anos. Em 2013, estudo divulgado pela Orga-

nização Mundial da Saúde (OMS) revelou que 35% das mulheres irão sofrer, pelo menos uma vez na vida, atos de violência cometidos por parceiros, familiares, conhecidos ou estranhos.

Por isso, a Legião da Boa Vontade trabalha para combater essa prática condenável e para fortalecer a proteção das mulheres, além de promover iniciativas de conscientização e mobilização social em torno do tema. Quando profissionais da LBV se defrontam com atendidas que sofreram algum tipo de agressão, por meio da equipe multidisciplinar da Instituição, oferecem assistência psicológica ou encaminham as vítimas para delegacias especializadas, caso seja necessário.

VENCENDO A VIOLÊNCIA DOMÉSTICAMorar na rua é a realidade de muitas pessoas,

incluindo a de várias mulheres. Foi o que vivenciou Guadalupe, mãe de Luiz, de 5 anos — nomes fictícios para preservar a identidade deles —, que vivem em

Programas da LBV ajudam a fortalecer a proteção das mulheres

RECOMEÇARHORA DE

Montevidéu, no Uruguai. Ela conheceu o marido em 2006 e, após três anos, eles se casaram. Com o nasci-mento do filho, teve de largar o emprego para cuidar do bebê e da casa. Foi nesse momento que começaram as agressões; primeiro psicológicas, com uma indiferença por parte do esposo para com Luiz.

Posteriormente, com o envolvimento do companheiro com drogas, a situação foi agravada, e Guadalupe teve sua integridade física ameaçada: “Ele me forçou a ter relações sexuais e, depois, atingiu minha cabeça com um objeto pesado. (...) Além disso, tornou minha casa um local para mulheres, drogas e álcool”.

Para evitar tanto constrangimento e dor, a mãe fugiu da própria residência com o filho e, em decorrência das inúmeras dificuldades financeiras, acabou morando por quatro meses nas ruas com seu menino. Batalhadora, conseguiu uma oportunidade de emprego e conheceu a mão amiga da LBV do Uruguai, que deu oportunidade para o garoto estudar no Instituto Educativo e Cultural José de Paiva Netto. Dessa forma, poderia trabalhar tranquila para conseguir o sustento do lar.

Guadalupe hoje é outra pessoa. Ela afirma que read-

GIOVANNA PINHEIRO

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62 BOA VONTADE Mulher

*Dados do relatório de 2013 “Estimativas mundiais e regionais da violência contra mulheres: prevalência e efeitos na saúde da violência doméstica e se-xual”.

NÚMEROS DA VIOLÊNCIA DE GÊNERO

Estudo realizado pela OMS*, de parceria com a London School of Hygiene & Tropical Medicine e o South African Medical Research Council, analisou a prevalência de violência física e sexual cometida por parceiros íntimos e parceiros não íntimos (familiares, amigos, conhecidos e estranhos) contra mulheres e os efeitos dessas ocorrências na saúde delas. Entre outros dados, o trabalho revelou que:

Cerca de 35% de todas as mulheres do mundo vão sofrer violência doméstica ou fora do ambiente familiar, em algum

momento da vida.

35%

A agressão praticada pelo companheiro é o tipo mais comum de violência contra as mulheres: 30% desse grupo em todo o planeta.

30%

42%

Das mulheres que sofreram violência física e/ou sexual de seus parceiros, 42% apresentaram algum tipo de comprometimento, seja de ossos partidos, seja de complicações na gravidez, até perturbações mentais.

quiriu a esperança em dias melhores. “Agora, meu filho e eu estamos felizes, temos uma nova vida, eu estou muito bem em meu trabalho — sou militar —, e meu filho é muito bem tratado na escola da LBV. Estou muito contente em vê-lo tão feliz e porque o nosso passado é apenas isso: um passado”.

EXCLUSÃO E DESIGUALDADE DE GÊNERO

Apesar de os índices de analfabetismo na Bolívia terem diminuído, o problema ainda tem o “rosto da mulher”. Três em cada 100 pessoas são analfabetas naquele país e, dessas, duas são mulheres. Isso se deve muito aos fenômenos da exclu-são e da desigualdade de gênero. Amalia Apaza, de 30 anos, mãe de dois filhos, é uma delas. Nascida na comunidade de Humanata, na província de Camacho, em uma família numerosa, ela conta que os pais achavam que estudar era “um direito só dos homens”. Para eles, explica Amalia, “as mulheres só deveriam aprender os trabalhos de casa”.

“Agora, meu filho e eu estamos felizes, temos

uma nova vida, eu estou muito bem em meu

trabalho — sou militar —, e meu filho é muito bem tratado na escola da LBV. Estou muito contente em vê-lo tão feliz e porque o nosso passado é apenas

isso: um passado.”GUADALUPE

VIOLÊNCIA DE GÊNERO

Uruguai

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Aos 16 anos, mudou-se para La Paz, capital boliviana, e se viu subordinada em ambientes sociais cada vez mais competi-tivos. “Nos primeiros trabalhos que conse-gui como ajudante de cozinha, sofri maus--tratos por parte de meus empregadores, em razão da minha falta de experiência e, sobretudo, porque era muito tímida por não saber ler e escrever”, relembra.

As humilhações continuaram mesmo depois de casada. “O meu esposo dizia que eu não servia para nada, que não ajudava com os gastos da casa, que só sabia pedir dinheiro”, diz.

O ciclo trágico de violência psicológica foi interrompido em 2014, quando Ama-lia, morando no assentamento de Buena Vista, na cidade de El Alto (a cerca de dez quilômetros da capital do país), descobriu que um grupo de jovens e mulheres adultas participavam, nas dependências do centro social da localidade, de cursos de alfabeti-zação e de capacitação técnica promovidos pela Legião da Boa Vontade, para qualificar a mão de obra feminina e gerar renda.

“Pouco a pouco aprendi diferentes pontos [de tricô e crochê] e a fazer en-xovais para bebês. Um dia, uma senhora viu meu trabalho e me disse que, se quisesse, poderia levar os meus produtos para a loja dela para colocá-los à venda. A partir dessa data, vendo bem os meus trabalhos, sempre tenho mais encomen-das”, ressalta.

A autonomia que conquistou também mudou o cenário no lar: “O meu parceiro não me humilha mais. Além de eu agora contribuir financeiramente em casa, aprendi a me valorizar como mulher, mãe, e me esforço para que meus filhos não sofram o que eu sofri. Agradeço à LBV por nos dar cursos gratuitos, por essa opor-tunidade de aprender e, assim, melhorar a nossa vida”.

Amalia Apaza Tengo (primeira à esquerda) recebe o diploma do curso de capacitação

técnica da LBV.

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V

Bolívia

DEZ ANOS DE AVANÇOSBatizada como Lei Maria da Penha, em homenagem à

farmacêutica bioquímica Maria da Penha Maia Fernandes, a Lei no 11.340 completa, em 2016, dez anos de vigência no combate e prevenção à violência de gênero no Brasil. No dia 19 de fevereiro, crianças atendidas pela LBV, em Fortaleza/CE, parabenizaram a inspiradora da nova legislação pela significativa data. “[Estou] feliz, porque eu sei que vocês estão trabalhan-do na questão da violência contra a mulher, da divulgação dessa lei na infância. A maneira como a gente é educado, como aprende as coisas boas, a gente tende a reproduzir. E a LBV trabalha neste sentido; eu me sinto honrada de ter a minha causa incluída nesta ação de vocês. Eu sou muito grata ao Paiva Netto pelo trabalho que tem desenvolvido junto às crianças na questão da educação, da cidadania. Gostaria de agradecer a ele a divulgação e o compromisso que tem em relação à implementação da Lei Maria da Penha”, ressaltou a ativista brasileira.

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dro

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da minha vidaESCOLA

Como estudar na LBV alavancou minhas potencialidades para lutar pelo protagonismo feminino

REGINA DO NASCIMENTO SILVA

AÇÃO JOVEM LBV

Vivia

n R.

Fer

reira

Mulher, jovem, mineira. Para uns, parda. Para mim, negra. Filha de pais que passaram a infância na roça e não terminaram o ensino fundamental, mas

possuem diploma em honra e em valores espirituais, éticos e ecumênicos. Hoje, ao rememorar minha trajetória, vejo como foi importante ter estudado no Conjunto Educacional Boa Vontade, em São Paulo/SP. O que aprendi nesse estabelecimento de ensino alavancou meu crescimento espiritual, humano e profissional.

Na escola, éramos sempre incentivados a olhar para os problemas sociais ao nosso redor — alguns deles pre-sentes no nosso lar — de maneira crítica, mas também sensível, o que despertou em nós a vontade de construir um mundo melhor. Em uma das ações realizadas no ensino médio, visitamos a comunidade Lidiane, no bairro do Limão, na capital paulista. Lá, participamos, com o apoio de profissionais e voluntários da Legião da Boa Vontade, de atividades recreativas com crianças e

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Regina do Nascimento Silva, 29 anos, ex-aluna do Conjunto Educacional Boa Vontade, graduada

em Pedagogia pela Universidade

Presbiteriana Mackenzie e pós-graduada em

Linguagem das Artes pelo Centro Universitário

Maria Antonia, da Universidade de São

Paulo (USP).

Vivia

n R.

Fer

reiraadolescentes do local, enquanto as mães e

outros familiares deles eram atendidos por meio de programas sociais da Instituição.

Essa experiência não serviu apenas para nos acordar para a dura realidade, fazendo-nos perceber o sofrimento e as mazelas da vida, mas também nos possibi-litou enxergar as potencialidades daquelas pessoas e aprender que há luzes humanas espalhadas em todas as classes sociais. Somos todos iguais. Somente as oportuni-dades que nos são dadas nos diferenciam.

Os conteúdos extracurriculares ofere-cidos pela LBV ampliam a criticidade e o senso de humanidade dos estudantes, indo muito além dos tópicos trabalhados geralmente em um sistema apostilado caro. Eles integram um projeto pedagógico consistente, que sabe exatamente o que precisa ser apresentado ao indivíduo para fazê-lo chegar ao resultado que se espera dele como ser humano.

No entanto, infelizmente, não são todas as pessoas que entendem a educação des-se modo. É comum pensar que a formação ética das crianças e dos adolescentes deve ficar a cargo exclusivamente de seus pais

ou responsáveis. Na verdade, toda a so-ciedade educa, porque nenhum indivíduo vive enclausurado no espaço puramente educativo familiar. Todo ser humano, por estar inserido no mundo, acaba por inte-ragir com a diferença.

Sabendo disso, posso afirmar, segura-mente, que toda a equipe de profissionais e educadores da Legião da Boa Vontade, engajada na aplicação da Pedagogia do Afeto e da Pedagogia do Cidadão Ecumêni-co* contribuiu para fazer de mim a pessoa que sou hoje, levando-me a entender que sou um ser em constante formação. Essa educação me deu coragem para enfrentar meus problemas e desafios da existência, bem como o conhecimento necessário para que me saísse bem em diferentes provas de minha vida, entre estas aquela que me conduziu ao ensino superior. Formei--me em Pedagogia em uma universidade conceituada, com bolsa de estudo integral, excelente histórico acadêmico, iniciação científica concluída e publicação do pri-meiro artigo.

Outra porta, além da educação, me foi aberta pela LBV: a do mundo do trabalho.

* Pedagogia do Afeto e Pedagogia do Cidadão Ecumênico — Compõem a linha educacional criada pelo dirigente da LBV, o educador Paiva Netto, e aplicada com sucesso nas unidades de atendimento da Instituição. (Veja mais sobre o assunto na p. 42)

Clay

ton

Ferre

ira

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se destaca por se sensibilizar com a falta de recursos nos seus bairros e por mobili-zar pessoas diversas do poder público, do setor privado e da própria comunidade em busca de melhoria da qualidade de vida da população. Na maioria das vezes, essa gente é composta de mulheres que têm histórias lindas de lutas e de dificuldades desde a juventude, mas que, com garra, superaram o sofrimento ao fazer cessar a dor do outro. É o trabalho para o qual eu nasci com certeza, pois, além de todo o preparo técnico que busquei e adquiri, me identifico muito com essa atividade e com cada uma das mulheres participantes desse programa.

Desejo que toda a Humanidade saiba cuidar das crianças e dos adolescentes e construir efetivamente o conhecimento so-lidário, que é a soma do potencial cognitivo com valores espirituais, éticos e ecumêni-cos. Como postula a linha pedagógica da LBV, somos seres integrais, isto é, somos “Cérebro e Coração”, no dizer do educador Paiva Netto.

Com alegria, faço parte do imenso grupo que realiza diariamente a proposta socio-educacional dessa Instituição, que é um dos maiores movimentos humanitários do planeta.

Primeiro trabalhei como monitora, de-senvolvendo atividades lúdicas, artísticas, culturais e de raciocínio lógico, por meio do ensino do xadrez, jogo de tabuleiro. Tempos depois, tendo vivido incríveis experiências e aprendizados com a infância e a juventu-de atendidas pela Entidade, tive condições de assumir o cargo de supervisora peda-gógica do trabalho de outros educadores que lidam com o público de programas sociais. Nesse período, aprofundei-me no exercício das ações de assistência social e alcancei, então, as condições necessárias para atuar com lideranças comunitárias por intermédio do programa da LBV de assessoramento e de defesa e garantia de direitos: o Rede Sociedade Solidária. Com essa iniciativa, a Instituição empodera — principalmente ao oferecer acesso ao conhecimento — gente muito simples que

Vivia

n R.

Fer

reira

AÇÃO JOVEM LBV

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você estiver

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