A tipografia Bodoni ainda é considerada uma das impressões mais refinadas e estruturadas já
produzidas.
- Allan Haley
Bodoni
Giam
battista Bodoni
OS PRIMEIROS MODERNOS DA HISTÓRIA DA TIPOGRAFIA:
Ab
ril,
201
3
do
dosses tipos fazem parte de um complexo sistema de comuni-cação, tendo uma função prática,
estética e simbólica que transmitem informações aos usuários e neles desen-cadeiam emoções e interpretações. Cumprindo esse papel tipográ-fico, o tipo Bodoni, criado há mais de 300 anos, permanece em constante uso, sendo altamente considerado pelos designers por suas características que remetem ao luxo e sofisticação.
“A sufocante feiura das letras Bodoni fazem delas o tipo mais ilegível jamais
produzido até hoje”
-William Morris
BoBodoni presente em editoriais de moda
E
“O Pai do tipo moderno”
— Nicholas Fabian
01
doNIA TIPOGRAFIA PODE SER MUITO MAIS QUE UM ELO ENTRE FORMA E ESCRITA. OS TIPOS QUE ESTÃO PRESENTES EM CARTAZES, LIVROS E PRODUTOS TRAZEM MUITO MAIS QUE SIMPLES INFORMAÇÃO AO USUÁRIO.
"Não se obtém das cartas sua verdadeira delícia, quando as
fazem com pressa e desconforto, nem simplesmente fazê-las com
diligência e dor, mas em primeiro lugar quando elas são criadas com amor e paixão."
-Giambattista Bodoni
Os caracteres criados por Bodoni caracterizam-se, sobretudo pela passagem sutil e cuidadosamente estudada do traço fino ao traço grosso e também pela coexistência de hastes finas e grossas, num jogo de claro e escuro. Com uma alternância estu-dada do corpo da letra nas linhas dos títulos e um cuidado especial na escolha dos papéis e das tintas, a página é ampla, simples, com margens e espaçamentos entre linhas generosos e grandes áreas da página em branco. A procura de clareza e lumi-nosidade da página é reforçada pelo uso de tipos com altura reduzida e longos ascendentes e descendentes. Esta dialética do branco e negro dos caracteres é claramente neo-clássica.
BoCaracterísticas
03
O Neoclássico As romanas tinham apenas as letras maiúsculas. As minúsculas foram criadas por Alcuin, bispo de York, contrata-do por Carlos Magno [742-814] e recebe-ram o nome de carolíngias. Elas tinham a vantagem de serem escritas mais rapida-mente do que as maiúsculas e são conside-radas as primeiras autênticas caixas-baixas da história dos alfabetos. Não é uma adap-tação, mas uma invenção. Destas letras derivaram as blachlet-ters- popularmente conhecidas como letras góticas - que eram usadas lado a lado das romanas desde a criação da imprensa de tipos móveis por Gutenberg em meados do século 15.
O início da transformação tipográfica começa com a origem do alfabeto ocidental formado pelas antigas letras romanas, sendo estas cópias das letras gregas ao sul da Itália. Não foi uma adaptação simples e direta, os romanos tiveram que adaptar algumas delas para simbolizar os sons romanos. As chamadas romanas ganharam sua autonomia cerca de 100 anos depois de Cristo e seu exemplo mais famoso está gravado na Coluna de Trajano em Roma, sendo conhecido pelo nome de capitalis romana. Possuem cerca de dez centímetros de altura e foram pintads no mármore com pincel.
O passo evolutivo seguinte foi a criação dos tipos humanistas, minúscu-las adaptadas das carolíngias, que tiveram na Itália um desenvolvimento próprio na escrita conhecida como Cancellaresca. É bom lembrar que até Gutenberg todas estas letras eram desenhadas à mão com penas de ponta chata, cortadas retas ou em ângulos. O modo como se segurava a pena, a posição do braço e do corpo em relação à página eram fatores que determinavam o estilo da escrita de cada escrevente. Com o processo de industrialização, e conseqüentemente da mecanização da imprensa, os tipos foram sendo trazidos para o metal levando consigo as caracte-rísticas da escrita manual. Mas não por muito tempo. E é aqui que entram Granjean,
Bodoni e outros profissionais. O caminho de influências e cópias não se restringe à apresentação do alfabeto manuscrito. No século 16 o francês Claude Garamong desenhou seu famoso tipo olhando os desenhos de Francesco Griffo. Por sua vez o também francês Robert Granjon se inspirou em Garamond, e Christopher Plantin, francês estabelecido na Holanda e, que segundo Claudio Rocha “não era tipógrafo e sim impressor e editor, comprava matrizes diretamente de Garamond e Granjon. O tipo que leva seu nome foi produzido no inicio do século 20”, copia idéias editoriais de Grajon. Bodoni por sua vez se espelha nas páginas criadas pelo inglês John Baskerville e nos tipos desenhados por seu rival Firmin Didot e em Fournier. Mais ou menos como hoje em dia Zuzana Licko ou Sumner Stone dirigem seus olhares para mestres do passado e do presente. É nesse filão romano-italiano que localizamos os origens das Bodonis. Suas formas são também originárias do gestual que por 200 anos guardou em seus traços as características determina-das pelo pincel e pela pena caligráfica.
Há historiadores que desconsideram a importância das capitalis romanas na forma-ção dos tipos do século 18, e em compensa-ção dão a maior importância aos tipógrafos venezianos como Nicolas Jenson (Frances), Erhard Ratdolt [alemão] e ao impressor Aldus Manutius, cujo escultor de tipos [punchcutter] era o bolonhês Francesco Griffo. Para o historiador inglês Alan Bartram “Aldus representa os intelectuais do renascimento, Garamond a nobreza france-sa, e os impressores holandeses as novas classes mercantis” emergentes dos negócios gerados pelos descobrimentos de Colombo e Cabral. Um dos primeiros passos fora do trilho gestual foi dado pela racionalista França, sob Luis XIV. Ele encomendou de Philip Granjean a primeira romana desenha-da com base cientifica. Isto é, traçada com régua e compasso, para o imprimérie Royale e que ficou famosa com a denominação Romain Du Roi. O trabalho de Grajean não
resultou num grande desenho, sobre o qual trabalhou Pierre-Simon Fournier criando letras que vieram a influenciar Giambattista na Itália e a família Didot na França. Outro passo foi dado pelo inglês John Baskerville, editor e tipógrafo inglês, de produção importante no período. Bodoni adotou de Baskerville o uso dos espaços vazios e das grandes margens das páginas. Entretanto, para alguns cronistas da tipografia, foi Firmin Didot quem criou o primeir alfabeto moderno em 1784. As características deste tipo são a geometrização das serifas, o eixo vertical [contrariando a natural tendência à inclinação do desenho manuscrito] e a oposição marcante entre as hastes finas e as grossas. Os Didots na França, Walbaum na Alemanha, Bell na Inglaterra e Bodoni na Itália criaram ao mesmo tempo tipos muito semelhantes, mas segunda Alan Halley, “Bodoni não foi um copiador” já que seus tipos revelam-se mais equilibrados nas suas relações formais, incluindo as curvas e as
dimensões das serifas. Mal comparando os tipos Didone – classificação aceita para os padrões de Didot e Bodoni – resultado da geometrização radical dos padrões das romanas, seriam para a tipografia o equiva-lente aos primeiros edifícios de Walter Gropius e Peter Behrens: austeros e puros, mas ainda com alguns ornamentos clássicos em suas fachadas. A elegância formal de Bodoni, que pode ser entendida como uma ponte cultural entre o renascimento e o mundo moderno, antecipa as transforma-ções que a revolução industrial vai provocar na sociedade. Hoje devemos olhar para ela com respeito e curiosidade, de modo que possamos entender que todo desenho e todo design representa com precisão a sensibilidade de seu tempo.
Letra manuscrita, desenhada com pincel chato
Garamond, tipo esculpido em metal com base no
desenho caligráfico
Baskerville, desenhada com ajuda de instrumentos mecânicos com régua e
compasso
As romanas tinham apenas as letras maiúsculas. As minúsculas foram criadas por Alcuin, bispo de York, contrata-do por Carlos Magno [742-814] e recebe-ram o nome de carolíngias. Elas tinham a vantagem de serem escritas mais rapida-mente do que as maiúsculas e são conside-radas as primeiras autênticas caixas-baixas da história dos alfabetos. Não é uma adap-tação, mas uma invenção. Destas letras derivaram as blachlet-ters- popularmente conhecidas como letras góticas - que eram usadas lado a lado das romanas desde a criação da imprensa de tipos móveis por Gutenberg em meados do século 15.
O início da transformação tipográfica começa com a origem do alfabeto ocidental formado pelas antigas letras romanas, sendo estas cópias das letras gregas ao sul da Itália. Não foi uma adaptação simples e direta, os romanos tiveram que adaptar algumas delas para simbolizar os sons romanos. As chamadas romanas ganharam sua autonomia cerca de 100 anos depois de Cristo e seu exemplo mais famoso está gravado na Coluna de Trajano em Roma, sendo conhecido pelo nome de capitalis romana. Possuem cerca de dez centímetros de altura e foram pintads no mármore com pincel.
O passo evolutivo seguinte foi a criação dos tipos humanistas, minúscu-las adaptadas das carolíngias, que tiveram na Itália um desenvolvimento próprio na escrita conhecida como Cancellaresca. É bom lembrar que até Gutenberg todas estas letras eram desenhadas à mão com penas de ponta chata, cortadas retas ou em ângulos. O modo como se segurava a pena, a posição do braço e do corpo em relação à página eram fatores que determinavam o estilo da escrita de cada escrevente. Com o processo de industrialização, e conseqüentemente da mecanização da imprensa, os tipos foram sendo trazidos para o metal levando consigo as caracte-rísticas da escrita manual. Mas não por muito tempo. E é aqui que entram Granjean,
Bodoni e outros profissionais. O caminho de influências e cópias não se restringe à apresentação do alfabeto manuscrito. No século 16 o francês Claude Garamong desenhou seu famoso tipo olhando os desenhos de Francesco Griffo. Por sua vez o também francês Robert Granjon se inspirou em Garamond, e Christopher Plantin, francês estabelecido na Holanda e, que segundo Claudio Rocha “não era tipógrafo e sim impressor e editor, comprava matrizes diretamente de Garamond e Granjon. O tipo que leva seu nome foi produzido no inicio do século 20”, copia idéias editoriais de Grajon. Bodoni por sua vez se espelha nas páginas criadas pelo inglês John Baskerville e nos tipos desenhados por seu rival Firmin Didot e em Fournier. Mais ou menos como hoje em dia Zuzana Licko ou Sumner Stone dirigem seus olhares para mestres do passado e do presente. É nesse filão romano-italiano que localizamos os origens das Bodonis. Suas formas são também originárias do gestual que por 200 anos guardou em seus traços as características determina-das pelo pincel e pela pena caligráfica.
Há historiadores que desconsideram a importância das capitalis romanas na forma-ção dos tipos do século 18, e em compensa-ção dão a maior importância aos tipógrafos venezianos como Nicolas Jenson (Frances), Erhard Ratdolt [alemão] e ao impressor Aldus Manutius, cujo escultor de tipos [punchcutter] era o bolonhês Francesco Griffo. Para o historiador inglês Alan Bartram “Aldus representa os intelectuais do renascimento, Garamond a nobreza france-sa, e os impressores holandeses as novas classes mercantis” emergentes dos negócios gerados pelos descobrimentos de Colombo e Cabral. Um dos primeiros passos fora do trilho gestual foi dado pela racionalista França, sob Luis XIV. Ele encomendou de Philip Granjean a primeira romana desenha-da com base cientifica. Isto é, traçada com régua e compasso, para o imprimérie Royale e que ficou famosa com a denominação Romain Du Roi. O trabalho de Grajean não
resultou num grande desenho, sobre o qual trabalhou Pierre-Simon Fournier criando letras que vieram a influenciar Giambattista na Itália e a família Didot na França. Outro passo foi dado pelo inglês John Baskerville, editor e tipógrafo inglês, de produção importante no período. Bodoni adotou de Baskerville o uso dos espaços vazios e das grandes margens das páginas. Entretanto, para alguns cronistas da tipografia, foi Firmin Didot quem criou o primeir alfabeto moderno em 1784. As características deste tipo são a geometrização das serifas, o eixo vertical [contrariando a natural tendência à inclinação do desenho manuscrito] e a oposição marcante entre as hastes finas e as grossas. Os Didots na França, Walbaum na Alemanha, Bell na Inglaterra e Bodoni na Itália criaram ao mesmo tempo tipos muito semelhantes, mas segunda Alan Halley, “Bodoni não foi um copiador” já que seus tipos revelam-se mais equilibrados nas suas relações formais, incluindo as curvas e as
dimensões das serifas. Mal comparando os tipos Didone – classificação aceita para os padrões de Didot e Bodoni – resultado da geometrização radical dos padrões das romanas, seriam para a tipografia o equiva-lente aos primeiros edifícios de Walter Gropius e Peter Behrens: austeros e puros, mas ainda com alguns ornamentos clássicos em suas fachadas. A elegância formal de Bodoni, que pode ser entendida como uma ponte cultural entre o renascimento e o mundo moderno, antecipa as transforma-ções que a revolução industrial vai provocar na sociedade. Hoje devemos olhar para ela com respeito e curiosidade, de modo que possamos entender que todo desenho e todo design representa com precisão a sensibilidade de seu tempo.
Bodoni, um dos primeiros desenhos modernos, o
último sobre as formas das romanas
HASTE RETA E COM TERMINÇÃO EM BOLA
SERIFAS COM INCLINAÇÕES DIFERENTES
SERIFAS EM ÂNGULOS RETOS
SERIFAS SIMETRICAS
ARCOS CRUZADOS
Série de 5 romances do escritor Edward St. Aubyn
05
As romanas tinham apenas as letras maiúsculas. As minúsculas foram criadas por Alcuin, bispo de York, contrata-do por Carlos Magno [742-814] e recebe-ram o nome de carolíngias. Elas tinham a vantagem de serem escritas mais rapida-mente do que as maiúsculas e são conside-radas as primeiras autênticas caixas-baixas da história dos alfabetos. Não é uma adap-tação, mas uma invenção. Destas letras derivaram as blachlet-ters- popularmente conhecidas como letras góticas - que eram usadas lado a lado das romanas desde a criação da imprensa de tipos móveis por Gutenberg em meados do século 15.
O início da transformação tipográfica começa com a origem do alfabeto ocidental formado pelas antigas letras romanas, sendo estas cópias das letras gregas ao sul da Itália. Não foi uma adaptação simples e direta, os romanos tiveram que adaptar algumas delas para simbolizar os sons romanos. As chamadas romanas ganharam sua autonomia cerca de 100 anos depois de Cristo e seu exemplo mais famoso está gravado na Coluna de Trajano em Roma, sendo conhecido pelo nome de capitalis romana. Possuem cerca de dez centímetros de altura e foram pintads no mármore com pincel.
O passo evolutivo seguinte foi a criação dos tipos humanistas, minúscu-las adaptadas das carolíngias, que tiveram na Itália um desenvolvimento próprio na escrita conhecida como Cancellaresca. É bom lembrar que até Gutenberg todas estas letras eram desenhadas à mão com penas de ponta chata, cortadas retas ou em ângulos. O modo como se segurava a pena, a posição do braço e do corpo em relação à página eram fatores que determinavam o estilo da escrita de cada escrevente. Com o processo de industrialização, e conseqüentemente da mecanização da imprensa, os tipos foram sendo trazidos para o metal levando consigo as caracte-rísticas da escrita manual. Mas não por muito tempo. E é aqui que entram Granjean,
Bodoni e outros profissionais. O caminho de influências e cópias não se restringe à apresentação do alfabeto manuscrito. No século 16 o francês Claude Garamong desenhou seu famoso tipo olhando os desenhos de Francesco Griffo. Por sua vez o também francês Robert Granjon se inspirou em Garamond, e Christopher Plantin, francês estabelecido na Holanda e, que segundo Claudio Rocha “não era tipógrafo e sim impressor e editor, comprava matrizes diretamente de Garamond e Granjon. O tipo que leva seu nome foi produzido no inicio do século 20”, copia idéias editoriais de Grajon. Bodoni por sua vez se espelha nas páginas criadas pelo inglês John Baskerville e nos tipos desenhados por seu rival Firmin Didot e em Fournier. Mais ou menos como hoje em dia Zuzana Licko ou Sumner Stone dirigem seus olhares para mestres do passado e do presente. É nesse filão romano-italiano que localizamos os origens das Bodonis. Suas formas são também originárias do gestual que por 200 anos guardou em seus traços as características determina-das pelo pincel e pela pena caligráfica.
Há historiadores que desconsideram a importância das capitalis romanas na forma-ção dos tipos do século 18, e em compensa-ção dão a maior importância aos tipógrafos venezianos como Nicolas Jenson (Frances), Erhard Ratdolt [alemão] e ao impressor Aldus Manutius, cujo escultor de tipos [punchcutter] era o bolonhês Francesco Griffo. Para o historiador inglês Alan Bartram “Aldus representa os intelectuais do renascimento, Garamond a nobreza france-sa, e os impressores holandeses as novas classes mercantis” emergentes dos negócios gerados pelos descobrimentos de Colombo e Cabral. Um dos primeiros passos fora do trilho gestual foi dado pela racionalista França, sob Luis XIV. Ele encomendou de Philip Granjean a primeira romana desenha-da com base cientifica. Isto é, traçada com régua e compasso, para o imprimérie Royale e que ficou famosa com a denominação Romain Du Roi. O trabalho de Grajean não
resultou num grande desenho, sobre o qual trabalhou Pierre-Simon Fournier criando letras que vieram a influenciar Giambattista na Itália e a família Didot na França. Outro passo foi dado pelo inglês John Baskerville, editor e tipógrafo inglês, de produção importante no período. Bodoni adotou de Baskerville o uso dos espaços vazios e das grandes margens das páginas. Entretanto, para alguns cronistas da tipografia, foi Firmin Didot quem criou o primeir alfabeto moderno em 1784. As características deste tipo são a geometrização das serifas, o eixo vertical [contrariando a natural tendência à inclinação do desenho manuscrito] e a oposição marcante entre as hastes finas e as grossas. Os Didots na França, Walbaum na Alemanha, Bell na Inglaterra e Bodoni na Itália criaram ao mesmo tempo tipos muito semelhantes, mas segunda Alan Halley, “Bodoni não foi um copiador” já que seus tipos revelam-se mais equilibrados nas suas relações formais, incluindo as curvas e as
dimensões das serifas. Mal comparando os tipos Didone – classificação aceita para os padrões de Didot e Bodoni – resultado da geometrização radical dos padrões das romanas, seriam para a tipografia o equiva-lente aos primeiros edifícios de Walter Gropius e Peter Behrens: austeros e puros, mas ainda com alguns ornamentos clássicos em suas fachadas. A elegância formal de Bodoni, que pode ser entendida como uma ponte cultural entre o renascimento e o mundo moderno, antecipa as transforma-ções que a revolução industrial vai provocar na sociedade. Hoje devemos olhar para ela com respeito e curiosidade, de modo que possamos entender que todo desenho e todo design representa com precisão a sensibilidade de seu tempo.
As romanas tinham apenas as letras maiúsculas. As minúsculas foram criadas por Alcuin, bispo de York, contrata-do por Carlos Magno [742-814] e recebe-ram o nome de carolíngias. Elas tinham a vantagem de serem escritas mais rapida-mente do que as maiúsculas e são conside-radas as primeiras autênticas caixas-baixas da história dos alfabetos. Não é uma adap-tação, mas uma invenção. Destas letras derivaram as blachlet-ters- popularmente conhecidas como letras góticas - que eram usadas lado a lado das romanas desde a criação da imprensa de tipos móveis por Gutenberg em meados do século 15.
O início da transformação tipográfica começa com a origem do alfabeto ocidental formado pelas antigas letras romanas, sendo estas cópias das letras gregas ao sul da Itália. Não foi uma adaptação simples e direta, os romanos tiveram que adaptar algumas delas para simbolizar os sons romanos. As chamadas romanas ganharam sua autonomia cerca de 100 anos depois de Cristo e seu exemplo mais famoso está gravado na Coluna de Trajano em Roma, sendo conhecido pelo nome de capitalis romana. Possuem cerca de dez centímetros de altura e foram pintads no mármore com pincel.
O passo evolutivo seguinte foi a criação dos tipos humanistas, minúscu-las adaptadas das carolíngias, que tiveram na Itália um desenvolvimento próprio na escrita conhecida como Cancellaresca. É bom lembrar que até Gutenberg todas estas letras eram desenhadas à mão com penas de ponta chata, cortadas retas ou em ângulos. O modo como se segurava a pena, a posição do braço e do corpo em relação à página eram fatores que determinavam o estilo da escrita de cada escrevente. Com o processo de industrialização, e conseqüentemente da mecanização da imprensa, os tipos foram sendo trazidos para o metal levando consigo as caracte-rísticas da escrita manual. Mas não por muito tempo. E é aqui que entram Granjean,
Bodoni e outros profissionais. O caminho de influências e cópias não se restringe à apresentação do alfabeto manuscrito. No século 16 o francês Claude Garamong desenhou seu famoso tipo olhando os desenhos de Francesco Griffo. Por sua vez o também francês Robert Granjon se inspirou em Garamond, e Christopher Plantin, francês estabelecido na Holanda e, que segundo Claudio Rocha “não era tipógrafo e sim impressor e editor, comprava matrizes diretamente de Garamond e Granjon. O tipo que leva seu nome foi produzido no inicio do século 20”, copia idéias editoriais de Grajon. Bodoni por sua vez se espelha nas páginas criadas pelo inglês John Baskerville e nos tipos desenhados por seu rival Firmin Didot e em Fournier. Mais ou menos como hoje em dia Zuzana Licko ou Sumner Stone dirigem seus olhares para mestres do passado e do presente. É nesse filão romano-italiano que localizamos os origens das Bodonis. Suas formas são também originárias do gestual que por 200 anos guardou em seus traços as características determina-das pelo pincel e pela pena caligráfica.
Há historiadores que desconsideram a importância das capitalis romanas na forma-ção dos tipos do século 18, e em compensa-ção dão a maior importância aos tipógrafos venezianos como Nicolas Jenson (Frances), Erhard Ratdolt [alemão] e ao impressor Aldus Manutius, cujo escultor de tipos [punchcutter] era o bolonhês Francesco Griffo. Para o historiador inglês Alan Bartram “Aldus representa os intelectuais do renascimento, Garamond a nobreza france-sa, e os impressores holandeses as novas classes mercantis” emergentes dos negócios gerados pelos descobrimentos de Colombo e Cabral. Um dos primeiros passos fora do trilho gestual foi dado pela racionalista França, sob Luis XIV. Ele encomendou de Philip Granjean a primeira romana desenha-da com base cientifica. Isto é, traçada com régua e compasso, para o imprimérie Royale e que ficou famosa com a denominação Romain Du Roi. O trabalho de Grajean não
resultou num grande desenho, sobre o qual trabalhou Pierre-Simon Fournier criando letras que vieram a influenciar Giambattista na Itália e a família Didot na França. Outro passo foi dado pelo inglês John Baskerville, editor e tipógrafo inglês, de produção importante no período. Bodoni adotou de Baskerville o uso dos espaços vazios e das grandes margens das páginas. Entretanto, para alguns cronistas da tipografia, foi Firmin Didot quem criou o primeir alfabeto moderno em 1784. As características deste tipo são a geometrização das serifas, o eixo vertical [contrariando a natural tendência à inclinação do desenho manuscrito] e a oposição marcante entre as hastes finas e as grossas. Os Didots na França, Walbaum na Alemanha, Bell na Inglaterra e Bodoni na Itália criaram ao mesmo tempo tipos muito semelhantes, mas segunda Alan Halley, “Bodoni não foi um copiador” já que seus tipos revelam-se mais equilibrados nas suas relações formais, incluindo as curvas e as
dimensões das serifas. Mal comparando os tipos Didone – classificação aceita para os padrões de Didot e Bodoni – resultado da geometrização radical dos padrões das romanas, seriam para a tipografia o equiva-lente aos primeiros edifícios de Walter Gropius e Peter Behrens: austeros e puros, mas ainda com alguns ornamentos clássicos em suas fachadas. A elegância formal de Bodoni, que pode ser entendida como uma ponte cultural entre o renascimento e o mundo moderno, antecipa as transforma-ções que a revolução industrial vai provocar na sociedade. Hoje devemos olhar para ela com respeito e curiosidade, de modo que possamos entender que todo desenho e todo design representa com precisão a sensibilidade de seu tempo.
Bodoni em outros estilos de literatura
JUNÇÃO DUPLA E SERIFAS SUPERIORES COM COMBI-NAÇÃO DE JUNÇÕES RETAS E ARREDONDADAS
BARRA E HASTE ONDULADAS
O escritor britânicoTed Hughes demonstra sua preferência pela Bodoni em suas obras
07
torna-se diretor da gráfica que o duque Fernando, infante da Espanha, fundou em Parma, sendo ali super-visor de publicações de livros como a Ilíada, de Homero, e centenas de outras obras. Foi o autor do primeiro manual tipográfico moderno com caracteres romanos, o Manuale Tipográ-fico com 142 tipos de letras romanas e seus correspon-dentes itálicos, sendo no segundo volume incluso numerosos ornamentos árabes, gregos, russos e tibeta-nos. Iniciado no final do século 18, impresso em 1818, por sua esposa Margherita Dall’Aglio, depois de sua morte. Tournou-se conhecido por seus desenhos de caracteres tipográficos considerados mais aptos "para serem admirados por fonte e layout e não para serem estudados ou lidos". Sua impressão reflete um estilo estético simples, sem adornos, combinado com pureza de materiais. Este estilo atraiu muitos admiradores e imitadores, ultra-passando a popularidade dos tipógrafos franceses, como Philippe Grandjean e Simon Pierre Fournier.
odoni nasceu no dia 16 de feverei-ro de 1740 na cidade italiana de Saluzzo. Foi contemporâneo de
Wolfgang Mozart, de Johann Sebastian Bach, conviveu com o início da Revolu-ção Industrial e com a instalação dos primeiros altos- fornos na Inglaterra. Bodoni não era um simples criador de tipos. Segundo Allan Haley, cronista de tipografia da revista Step-by-Step “era em primeiro lugar impressor e tipógrafo, e em segundo um designer de tipos. Bodoni desejava criar belas páginas e seus tipos eram simplesmente um meio de atingir este fim”. Foi seu pai quem lhe ensinou o ofício de impressor. Adolescente, decide morar em Roma para trabalhar na imprensa do Vaticano. Porém, abalado com a morte de seu mentor e chefe, decide tentar a sorte em Londres. Em 1768
B
PERNA CURTA
ORELHA CURVADA PARA BAIXO
ESPORAS HORIZONTAIS COM SALIÊNCIA CÔNCAVA
HASTES CRUZADAS E SERIFAS FECHADAS
SERIFA UNILATERAL NA BASE DA HASTE
torna-se diretor da gráfica que o duque Fernando, infante da Espanha, fundou em Parma, sendo ali super-visor de publicações de livros como a Ilíada, de Homero, e centenas de outras obras. Foi o autor do primeiro manual tipográfico moderno com caracteres romanos, o Manuale Tipográ-fico com 142 tipos de letras romanas e seus correspon-dentes itálicos, sendo no segundo volume incluso numerosos ornamentos árabes, gregos, russos e tibeta-nos. Iniciado no final do século 18, impresso em 1818, por sua esposa Margherita Dall’Aglio, depois de sua morte. Tournou-se conhecido por seus desenhos de caracteres tipográficos considerados mais aptos "para serem admirados por fonte e layout e não para serem estudados ou lidos". Sua impressão reflete um estilo estético simples, sem adornos, combinado com pureza de materiais. Este estilo atraiu muitos admiradores e imitadores, ultra-passando a popularidade dos tipógrafos franceses, como Philippe Grandjean e Simon Pierre Fournier.
odoni nasceu no dia 16 de feverei-ro de 1740 na cidade italiana de Saluzzo. Foi contemporâneo de
Wolfgang Mozart, de Johann Sebastian Bach, conviveu com o início da Revolu-ção Industrial e com a instalação dos primeiros altos- fornos na Inglaterra. Bodoni não era um simples criador de tipos. Segundo Allan Haley, cronista de tipografia da revista Step-by-Step “era em primeiro lugar impressor e tipógrafo, e em segundo um designer de tipos. Bodoni desejava criar belas páginas e seus tipos eram simplesmente um meio de atingir este fim”. Foi seu pai quem lhe ensinou o ofício de impressor. Adolescente, decide morar em Roma para trabalhar na imprensa do Vaticano. Porém, abalado com a morte de seu mentor e chefe, decide tentar a sorte em Londres. Em 1768
Giambattista Bodoni
Utilização da tipografia na indústria da Moda e perfumarias
01
Aplicação da Bodoni na indústria fonográfica e cinematográfica
09
CAUDA CENTRAL CURVADA
ABERTURA GRANDE EAUSÊNCIA DE ESPORA
CAUDA AFILADA E TERMINAL COM BOLA
CABEÇA TRIANGULAR CÔNCAVA
CABEÇA DIAGONAL
VÉRTICE ABERTOE BARRA GROSSA
VÉRTICE UM POUCO ACIMA
DA LINHA DE BASE
SERIFAS COM CURVATURA INTERNA ACENTUADA
CALDA LIGEIRAMENTE ENTORTADA
Utilizada também em instituições de ensino
do
A Bodoni utilizada na revista é o tipo Bauer Bodoni, porém a família tipográfica Bodoni possui muitas variações, dentre as principais: ATF Bodoni, Bodoni Antiqua, Bodoni Old Face, ITC Bodoni Seventy Two, ITC Bodoni Six, ITC Bodoni Twelve, Bodoni MT, LTC Bodoni 175, WTC Our Bodoni, Bodoni EF, Bodoni Classico, e TS Bodoni.