Boletim da Sociedade Brasileira de Economia Ecológica(Segundo Quadrimestre de 2007)
Índice:Carta de Apresentação...2
Informações para filiação à EcoEco...3
Diretoria... 3
•Mudanças climáticas e o setor agropecuário na Amazônia: Porquê se preocupar! - Jan Börner…4•Compreendendo o Mecanismo de Desenvolvimento Limpo - Raissa De Luca Guimarães...7•Geração energética e inclusão social no Brasil - Wagner Costa Ribeiro...10•Refugiados ambientais: o lado esquecido da degradação ambiental global - Érika Pires Ramos...11•Política Nacional do Clima – Uma Verdade Conveniente - Luís Henrique Piva, Ricardo Baitelo...13•Uma Verdade Inconveniente – uma resenha e uma experiência didática - Paulo Gonzaga M. de Carvalho...20
"Os Economistas e as Relações entre o Sistema Econômico e o Meio Ambiente” - José Eli da Veiga...22
Relato da Terceras Jornadas de la Asociación Argentino Uruguaya de Economía Ecológica - Dr. Walter A. Pengue...24
Relato 59ª Reunião Anual da SBPC - Clóvis Cavalcanti...25
Informações "ISEE2008 Nairobi - Applying Ecological Economics for Social andEnvironmental Sustainability" ... 25
Bibliografia Recomendada... 26
Eventos Mudanças Climáticas…28
DVD’s Indicados...29
Sites Indicados sobre Mudanças Climáticas...29
VII Encontro da Sociedade Brasileira de Economia Ecológica... 31
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Car@s leitores,
É com grande prazer que publicamos o Boletim do Segundo Quadrimestre de 2007 da Sociedade
Brasileira de Economia Ecológica. Este boletim tem como tema as Mudanças Climáticas, tema tão
abordado pela mídia e que nos faz pensar e nos posicionar como Sociedade Cientifica.
Nesta edição tivemos a contribuição de Jan Börner, sobre a questão agropecuária na Amazônia
Legal e as mudanças climáticas, onde são levantadas as implicações sócio-econômicas com as alterações
climáticas previstas para a região, enfocando a vulnerabilidade da agricultura familiar na adaptação à estas
mudanças. Raissa de Luca contribui com este Boletim com texto explicando o que é o Mecanismo de
Desenvolvimento Limpo (MDL) no âmbito do Protocolo de Kyoto, e suas implicações para alcançar as
metas de redução de emissão de gases de efeito estufa. Wagner Costa Ribeiro, nos leva a repensar a
produção de biocombustíveis no país, enfatizando que esta pode ser uma oportunidade de inclusão social
no país. Temos também a colaboração de Érika Pires Ramos, onde nos traz uma novidade no cenário do
aquecimento global – os Refugiados Ambientais, alertando que com as mudanças climáticas em 2010, a
estimativa da ONU, é que o quantitativo de refugiados ambientais seja de 50 milhões! Acrescentando ainda
que os refugiados ambientais não são reconhecidos pelo direito internacional humanitário. Luís Henrique Piva e Ricardo Baitelo colaboram com este Boletim discutindo a necessidade de uma Política Nacional de
Clima para o Brasil, e acrescentam que a discussão sobre o aquecimento global oferece uma oportunidade
única para transformar o discurso do desenvolvimento sustentável em uma prática. Contamos ainda com
uma resenha de Paulo Gonzaga, sobre o filme do Al Gore – Uma Verdade Inconveniente.
Tivemos neste Boletim a colaboração de Walter Pengue, da Sociedade Argentino Uruguaya de
Economia Ecológica, onde nos traz um relato da Tercera Jornada ASAUEE 2007, estreitando os laços que
nos une cientifica e regionalmente.
Clóvis Cavalcanti nos relata a participação da Ecoeco na 59ª Reunião Anual da SBPC, que
aconteceu em julho, em Belém do Pará. Neste evento houve uma mesa que discutiu “Os problemas
ambientais na perspectiva da Economia Ecológica”, onde participaram Jose Eli da Veiga e Larissa
Chermont, além é claro, do autor da nota.
Temos ainda neste boletim a seção de Bibliografia Recomendada, Seção sobre Eventos relacionados às Mudanças Climáticas, DVD’s Indicados e Sites Indicados. Na seção de Bibliografia
Recomendada vale a pena destacar o lançamento de "Os Economistas e as Relações entre o Sistema Econômico e o Meio Ambiente" (UnB & Finatec), de Charles Mueller. Obra esta onde é apresentada de
forma completa e sistemática os dois prismas pelos quais os economistas discutem as relações entre o
sistema econômico e o meio ambiente.
Esperamos que desfrutem da leitura!
Os Editores
Karin Kaechele, Paulo Gonzaga, João Andrade e Victor Sellin
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Como é do conhecimento de todos, nossa associação mudou o procedimento
de cobrança de anuidades. Em 2007 o pagamento das anuidades será feito
por meio da associação internacional de economia ecológica ( ISEE -
www.ecoeco.org ). Veja todas as vantagens e formas de pagamento no site de filiação
da ISEE.
Diretoria Executiva:Ademar Ribeiro Romeiro (Presidente)Maria Amélia da Silva (Vice-Presidente)Luciana Togeiro de AlmeidaMauricio AmazonasPaulo Gonzaga M. de Carvalho
Diretoria Núcleo Sul:Clítia Helena MartinsMaria Carolina GulloValdir Frigo DenardinValny Giacomelli
Diretoria Núcleo Nordeste:Clóvis CavalcantiIlhering CarvalhoManuel O. L. VianaMaria Cecília Lustosa
Diretoria Núcleo Sudeste:Frederico BarcellosJoão Paulo Soares de AndradeKarin KaecheleWilson Cabral Júnior
Diretoria Núcleo Norte:Alfredo Kingo HommaLarissa Charmon
Diretoria Núcleo Oeste:Joseph Weiss Maria Leticia ParaísoPercy Soares NetoWaldecy Rodrigues
Conselho Fiscal:Carlos Eduardo F. YoungJosé Eli da VeigaPeter Herman May
Edição do Boletim:Pela diretoria: Paulo Gonzaga M. de Carvalho , Karin Kaechele e João Paulo Soares deAndrade; e pela secretaria: Shirlei EdieneFerreira , Tairi Tonon Gomez e Victor BuenoSellin.
Site da EcoEco: www.ecoeco.org.brE-mail: [email protected]: (19) 3521-5716 Fax: 3521-5752
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Mudanças climáticas e o setor agropecuário na Amazônia: Porquê se preocupar!
Jan Börner, Iniciativa Amazônica [email protected]
O relatório mais recente do IPCC (2007)1 e o relatório Stern2 publicado no início do ano deixaram
bem claro que as mudanças climáticas em nível global estão acontecendo atualmente e continuarão a
passo acelerado. O aumento da temperatura média global é o principal indicador e ao mesmo tempo a
principal causa dos impactos da mudança climática.
A discussão pública e acadêmica sobre como enfrentar as mudanças climáticas gira em torno de
duas estratégias: Mitigação e adaptação. Porém, na literatura sobre a Amazônia os estudos de estratégias
de mitigação são dominantes.
Sem querer questionar a importância de se desenvolver essas estratégias, esta contribuição aborda
a questão do impacto esperado das mudanças climáticas no setor agropecuário da Amazônia e aponta
para possíveis medidas de adaptação. Parte do exposto foi extraído das discussões do evento Global
Climate Change in the Americas no âmbito do Pan-American Advanced Study Institute (PASI) que juntou
mais que 40 pesquisadores e estudantes de nove países americanos no período de 3 a 14 de Julho em La
Paz, Baja Califórnia, México.
Além do aumento da temperatura, são esperadas alterações no regime de precipitação na
Amazônia o que provocaria um processo gradual de conversão de grandes áreas da Amazônia em savanas
(Oyama e Nobre 2003, Cox et al. 2004). Esse processo, sendo ainda acelerado pelo desmatamento na
região, causaria grandes perdas de habitat de componentes importantes da biodiversidade Amazônica e
contribuiria para as emissões de gases de estufa, na forma de incêndios por exemplo, como já é possível
observar em anos de El Nino (Miles 2002, Alencar et al. 2005).
Quais as conseqüências socioeconômicas desse cenário?
Espera-se que uma mudança no regime de precipitação, com períodos de chuva ou secas mais
intensas ou maior variação inter-anual da precipitação média, tenha três tipos de impactos no setor
agropecuário: um aumento da variação da produtividade de culturas agrícolas (risco), um aumento do custo
de produção em sistemas de produção agrícola e uma redução do custo de produção e conseqüente
aumento da rentabilidade da produção extensiva do gado de corte.
O risco é ubíquo na produção agropecuária, como por exemplo, na variação de preços e da
precipitação, devido a pragas e doenças ou a eventos inesperados como incêndios e extremos climáticos.
Porém, produtores com baixa renda gerada por atividades pouco diversificadas são geralmente mais
vulneráveis e, em função disso, mais avessos a todos os tipos de risco em comparação com a agricultura
comercial de grande escala (Hardaker et al. 2004).
Börner et al. (2007) mostram, para o caso do nordeste Paraense, que esta aversão ao risco pode
se expressar em baixos níveis de utilização de fertilizantes, o que impede a adoção de tecnologias para
1 http://www.ipcc.ch/2 http://www.hm-treasury.gov.uk/
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intensificação da produção ou ecologicamente mais adaptadas. Mudanças climáticas na Amazônia tendem
a agravar esta situação, no sentido de diminuir a capacidade dos produtores menos favorecidos em atingir
níveis mais altos de produtividade.
A agricultura comercial de grande escala é geralmente capaz de investir em tecnologias de
adaptação às mudanças climáticas, como com a irrigação e defensivos agrícolas, e encontra-se menos
vulnerável a riscos. Porém, esses investimentos representam custos de produção adicionais, o que pode
reduzir a rentabilidade dos sistemas de produção e com isso sua competitividade.
A maioria dos estudos do impacto de mudanças climáticas na agricultura brasileira apóia esta visão
sugerindo quedas significativas da produtividade agrícola. Contudo, falta uma avaliação mais detalhada do
caso da Amazônia onde nem todas as culturas agrícolas atualmente cultivadas encontram condições
climáticas favoráveis (ex. Siqueira et al. 1994 projetaram um aumento na produtividade de soja na região
norte em cenários de mudanças climáticas). Neste sentido também é possível que a mudança climática
represente novas oportunidades para a agricultura na Amazônia com possíveis repercussões na conversão
de florestas.
Vários trabalhos reconheceram o efeito negativo de altos níveis de precipitação na produtividade de
pastagens (Chomitz e Thomas 2001). O clima de savana (cerrado) é mais favorável para a produção
extensiva de gado de corte do que o clima atual da Amazônia. Isto se deve à separação marcada entre
períodos secos e chuvosos que favorece a ocorrência regular de incêndios e que tende a reduzir a invasão
e o rebrotamento de espécies arbóreas nas pastagens.
O cenário da conversão de grandes áreas da Amazônia em savanas por fatores climáticos poderia
aumentar a competitividade da produção pecuária nesta região e com isso os incentivos para o
desmatamento das florestas restantes.
Estas observações não deixam de ser especulações, mas são baseadas no conhecimento do
impacto das variações climáticas espaciais nos sistemas de produção agropecuário hoje. As características
da mudança climática e dos seus impactos, por serem graduais em vez de abruptas, não favorecem uma
atuação decisiva dos órgãos públicos. Portanto, será indispensável gerar uma massa crítica de evidência
empírica sólida que visa à quantificação dos possíveis impactos da mudança climática com menores
margens de erro.
Os ecótonos de Cerrado e floresta no noroeste, leste e sul da Amazônia são regiões promissoras a
serem estudadas como indicadores das mudanças climáticas e seus impactos no uso e cobertura de terra e
nas condições de vida da população rural. A extensão da região que inclui vários países e a complexidade
das inter-relações entre fatores climáticos e sistemas de produção com dimensões sócio-culturais e
econômicas exigirá abordagens interdisciplinares de pesquisa colaborativa.
Sem poder acessar a magnitude dos impactos com a precisão desejada, fica claro que a agricultura
familiar, por ter a menor capacidade de adaptação, será a mais afetada e vulnerável aos riscos que as
mudanças previstas implicam. Até hoje as estratégias de política pública voltadas à redução da pobreza no
Brasil e na Amazônia têm sido pouco eficientes em diminuir a vulnerabilidade da população rural. Ao se
restringirem as transferências não específicas, estas políticas não representam incentivos para a
intensificação da produção agrícola e deixam os produtores expostos aos riscos inerentes a ela. Durante
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bons tempos estas transferências representam um complemento bem-vindo à renda familiar, porém em
tempos difíceis elas não podem compensar as perdas na produção agrícola.
Neste contexto o conceito do seguro agrícola pode ser visto tanto como estratégia para aliviar a
vulnerabilidade quanto como incentivo para uma produção mais intensiva e o uso de inovações
tecnológicas. Experiências recentes na África e Ásia mostram que esquemas de seguros adaptados à
realidade da pequena agricultura, como micro-seguros e seguros baseados em precipitação, deixam
agricultores menos vulneráveis a extremos climáticos. Além de serem intervenções mais econômicas (o
seguro paga apenas em caso de sinistro) seguros podem ter efeitos externos positivos no sentido de ajudar
na negociação de créditos agrícolas.
Contudo, seguros vêm com custos mais altos de transação em comparação com transferências
diretas. É por isto que poucas seguradoras privadas investem no mercado de micro-seguros agrícolas, o
que implicaria a implantação de sistemas de monitoramento e negociações com múltiplos atores em
regiões remotas. As instituições de pesquisa na Amazônia e os atores no âmbito rural (ex. ONGs,
representantes dos produtores rurais e os órgãos públicos) podem contribuir na diminuição desses custos e
com isto criar novas oportunidades de adaptação aos riscos climáticos, hoje e no futuro.
Referencias Bibliográficas Alencar, A., Nepstad, D., Moutinho, P. (2005): Carbon emissions associated with forest fires in Brazil. Em: Moutinho, P. and Schwartzman, S. (Eds): Tropical Deforestation and Climate Change IPAM, 23-34
Börner, J., Denich, M., Mendoza-Escalante, A., Hedden-Dunkhorst, de Abreu Sá, T.D. de (2007): Alternatives to slash-and-burn in forest-based fallow systems of eastern Amazônia: Technology and policy options to halt ecological degradation and improve rural welfare. Em: Tscharntke, T., Zeller, M., Leuschner, C. (Eds): The stability of tropical rainforest margins: Linking ecological, economic and social constraints. Springer, Heidelberg.
Chomitz, K. M., Thomas, T. (2001): Geographic Patterns of Land Use and Land Intensity in the Brazilian Amazon. World Bank Policy Research Working Paper Series, World Bank, 2687
Hardaker, J. B., Huirne, R. B. M., Anderson, J. R., Lien, G. (2004): Coping with Risk in Agriculture. CAB International.
Miles, L. (2002): The Impact of Global Climate Change on Tropical Forest Biodiversity in Amazonia. Ph.D. thesis. University of Leeds, Center for Biodiversity and Conservation, School of Geography.
Oyama, M. D., Nobre, C. A. (2003):A new climate-vegetation equilibrium state for tropical South America. Geophysical Research Letters, 30, 2199
Siqueira, O. d., Farias, J. d., Sans, L. (1994): Potential Effects of Global Climate Change for Brazilian Agriculture and Adaptive Strategies for Wheat, Maize, and Soybean. Revista Brasileira de Agrometeorologia, 2, 115-129
Cox, P.M., Betts, R.A., Collins, M., Harris, P.P., Huntingford, C. Jones, C.D.. (2004): Amazonian forest dieback under climate-carbon cycle projections for the 21st century. THEORETICAL AND APPLIED CLIMATOLOGY, 78, 137-156
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Compreendendo o Mecanismo de Desenvolvimento Limpo
Raissa De Luca Guimarães,Advogada e Bióloga Consultora em Direito Ambiental e Projetos [email protected]
Um sério problema ambiental da atualidade é a mudança climática que decorre, principalmente, da
destruição da camada de ozônio e do efeito estufa. O efeito estufa consiste no fenômeno de retenção da
energia advinda dos raios solares, por determinados gases, também conhecidos como gases do efeito
estufa, ou GEE, que compõem a atmosfera. É um fenômeno natural que criou e mantém o ambiente
terrestre favorável às diversas formas de vida pois, se não existisse, a temperatura em toda a Terra seria de
18°C negativos. Entretanto, a grande intensificação do efeito estufa a partir da revolução industrial vem
provocando sérios distúrbios climáticos.
Diante desse contexto, durante a Rio 92 foi assinada a Convenção-Quadro das Nações Unidas
sobre Mudança do Clima – CQNUMC, que estabeleceu um regime jurídico internacional de cooperação
objetivando alcançar a estabilização das concentrações de GEE. Para a consecução desse objetivo, foi
criado o Protocolo de Quioto, que entrou em vigor em 16 de fevereiro de 2005, e estabelece metas para a
redução em, pelo menos, 5% em relação aos níveis verificados no ano de 1990 das emissões de gases
estufa provocadas por atividades antrópicas. Essas metas foram estipuladas para serem cumpridas entre
2008 e 2012 e somente pelos países signatários relacionados no Anexo I do Protocolo, por serem
considerados países desenvolvidos e que contribuíram mais para a atual mudança climática. Os demais
países, incluindo o Brasil, são países em desenvolvimento e, por isso, não serão obrigados a cumprir a
meta de redução nesse primeiro período. Apesar disso, atualmente o Brasil é o quarto maior emissor de
gases de efeito estufa, sendo que mais de 70 % das suas emissões de GEE decorrem de desmatamentos e
de queimadas.
Para atingir as metas estipuladas para o primeiro período do compromisso, de 2008 a 2012, os
países constantes no Anexo I poderão utilizar mecanismos como o Comércio de Emissões (Emissions
Trade), a Implementação Conjunta (Joint Implementation) e o Mecanismo de Desenvolvimento Limpo, ou
simplesmente MDL (Clean Development Mechanism). O Comércio de Emissões consiste na possibilidade
dos países desenvolvidos transacionarem as cotas de emissão atribuídas a cada país, transformando-as
em licenças de emissão transacionáveis. Contudo, através desse recurso, não há redução das emissões,
somente permite troca de cotas dentro do limite global de emissões estipulado. Já a Implementação
Conjunta permite que os países desenvolvidos ou empresas cumpram parte de seus objetivos de redução
através do custeamento de projetos de eficiência energética e fontes alternativas de energia, retenção de
GEE em florestas (sumidouros) e investimentos em tecnologias mais limpas de outro país que também
integre o Anexo I. O MDL, por sua vez, é idêntico à Implementação Conjunta, diferindo na possibilidade da
ocorrência da cooperação em projetos entre países com objetivos de redução (países desenvolvidos do
Anexo I) e países inicialmente sem esses objetivos (países em desenvolvimento). O MDL, que deriva de
uma proposta brasileira, é o único mecanismo que permite a participação dos países em desenvolvimento
no cumprimento das metas dos países desenvolvidos nesse primeiro período do Protocolo de Quioto. Mas
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visa, ao mesmo tempo, assegurar um desenvolvimento sustentável aos países em desenvolvimento, já os
incentivando a cumprir também o Protocolo.
Para a utilização desse mecanismo, devem ser elaborados projetos de MDL, que demonstrem a
redução das emissões dos GEE ou remoção do CO2 atmosférico. Tal redução ocorre, principalmente,
através das seguintes atividades: investimentos em tecnologias limpas e mais eficientes; substituição de
fontes de energias fósseis por renováveis e racionalização do uso da energia. Já a remoção de CO2
atmosférico pode ser aumentada através de florestamentos e reflorestamentos, que são sumidouros
naturais.
As atividades implementadas através dos projetos de MDL devem implicar em uma redução de
emissão de gases GEE adicional àquela que ocorreria sem a implementação dos mesmos e, ainda,
contribuir para o desenvolvimento sustentável do país em que forem implementados. Devem demonstrar
benefícios reais de mitigação da mudança do clima, possíveis de serem calculados e de longa duração.
O instrumento de troca do MDL são as Reduções Certificadas de Emissões, ou RCEs, também
denominadas “créditos de carbono”. Cada RCE corresponde a uma tonelada métrica de dióxido de carbono
equivalente (t CO2e) que deixou de ser emitida ou foi retirada da atmosfera por um país em
desenvolvimento.
As RCEs são obtidas a partir de projetos de MDL após processo envolvendo 7 etapas e alguns
órgãos. São elas:
1ª- Elaboração
Inicialmente, os participantes do projeto elaboram o Documento de Concepção do Projeto - DCP (Project
Design Document). Esse documento deve ser feito de acordo com o documento-base disponibilizado pelo
Conselho Executivo do MDL para auxiliar os proponentes a encaminharem projetos que busquem
habilitação à condição de MDL.
Nessa primeira etapa, devem ser apresentadas a linha de base, a adicionalidade da atividade e o plano de
monitoramento:
- Linha de base: indicará a quantidade de carbono equivalente que seria emitida na ausência da
implementação do projeto.
- Adicionalidade da atividade: indica a quantidade de toneladas métricas de carbono equivalente que
deixará de ser emitida com a implementação do projeto de MDL junto com a metodologia para cálculo da
redução de emissões de gases de efeito estufa e para o estabelecimento dos limites da atividade de projeto
e das fugas.
- Plano de monitoramento: metodologia e planejamento que será utilizado para a verificação do
cumprimento das metas de redução dos GEE.
Além disso, o Documento de Concepção de Projeto indicará os participantes da atividade de projeto, os
comentários dos atores e informações quanto à utilização de fontes adicionais de financiamento, a
determinação do período de obtenção de créditos, o relatório de impactos ambientais e a justificativa para
adicionalidade da atividade de projeto.
2ª- Validação
A etapa seguinte é o encaminhamento do projeto a uma Entidade Operacional Designada (EOD) buscando
a validação, que indica que o Documento de Concepção do Projeto cumpre os requisitos do MDL.
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3ª- Aprovação
O projeto válido segue, então, para a Autoridade Nacional Designada (AND) que, no Brasil, é a Comissão
Interministerial de Mudança Global do Clima (CIMGC). A AND é que verificará se as Partes envolvidas
confirmam a participação voluntária no projeto e se o mesmo é consistente na redução das emissões dos
GEE e na promoção do desenvolvimento sustentável. No Brasil, o relatório de validação e a contribuição da
atividade de projeto para o desenvolvimento sustentável do país são analisados pelos integrantes da
Comissão Interministerial a partir de cinco critérios básicos: distribuição de renda, sustentabilidade
ambiental local, desenvolvimento das condições de trabalho e geração líquida de emprego, capacitação e
desenvolvimento tecnológico, e integração regional e articulação com outros setores.
4ª- Registro
Em caso seja aprovado, o projeto passa à etapa de registro, que consiste na aceitação formal do projeto de
MDL pelo Conselho Executivo, pois ele também analisa a metodologia escolhida, a adicionalidade do
projeto, dentre outros aspectos.
5ª- Monitoramento
Uma vez registrado, iniciará a fase de monitoramento, que deverá seguir o plano de monitoramento
estabelecido na metodologia contida no Documento de Concepção do Projeto. Os relatórios do
monitoramento serão submetidos à Entidade Operacional Designada para verificação.
6ª- Verificação/Certificação
A verificação consiste na auditoria de revisão independente e periódica dos cáculos de reduções das
emissões e/ou remoções de GEE enviados ao Conselho Executivo por meio do DCP e, desde que
confirmado pelo Conselho Executivo que as reduções de emissões foram alcançadas durante um período
de tempo específico em conseqüência da atividade de projeto, será emitido um certificado ao seu
implementador.
7ª- Emissão
Somente após a certificação é que poderá ser requerida a emissão dos créditos de carbono em si, ou RCEs ao
Conselho Executivo do MDL. Caso seja confirmado que as reduções de emissões de GEE decorrentes das
atividades de projeto são reais, mensuráveis e de longo prazo o Conselho Executivo emite as RCEs que são
creditadas aos participantes de uma atividade de projeto na proporção por eles definida e, se desejarem, poderão
utilizá-las diretamente como forma de cumprimento parcial das metas de redução de emissão de gases de efeito
estufa ou comercializa-las. Acrescenta-se, contudo, a grande ocorrência de parcerias para o desenvolvimento
conjunto das atividades de projetos de MDL visando a obtenção dos “créditos de carbono”.
As RCEs têm prazos de validade que podem ser de no máximo 10 anos, para projetos de período fixo ou de 7
anos, para projetos de período renovável, os quais são renováveis por até três períodos de 7 anos totalizando 21
anos.
Salienta-se que os projetos de MDL não se submetem apenas às regras da Convenção-Quadro das Nações
Unidas sobre Mudança do Clima e do Protocolo de Quioto, mas também deve ser observado o arcabouço jurídico
dos países, estados e municípios envolvidos e cumpridas todas as exigências internas.
Ainda não há lei federal brasileira regulamentando sobre a natureza jurídica dos “créditos de carbono”. Tal
definição é importante, pois determinará a forma adequada de comercialização desses bens. As classificações
mais cotadas para as RCEs são de ativo intangível ou de valores mobiliários.
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Mesmo diante da indefinição da classificação das RCEs, o Brasil ocupa o 3º lugar em número de atividades de
projeto de MDL, com 226 projetos que correspondem a 11% do total de projetos do mecanismo, de acordo com a
publicação do Ministério da Ciência e Tecnologia sobre o panorama atual das atividades de projeto no âmbito do
MDL, de 15 de junho de 2007. Este mesmo documento indica que a Índia encontra-se em primeiro lugar com 673
projetos, e a China em segundo, com 547. Também informa que o Brasil ocupa a terceira posição em termos de
reduções de emissões projetadas, se responsabilizando pela redução de 198 milhões de t CO2e, o que
corresponde a 6% do total mundial, para o primeiro período de obtenção de créditos. O documento acrescenta,
ainda, que em 2006 o mercado de crédito de carbono movimentou em torno de US$ 30 bilhões, sendo que a
participação brasileira correspondeu a aproximadamente US$ 6 bilhões ( 20% do total ).
Percebe-se que o Brasil ocupa posição de destaque em relação às ações que diminuem as mudanças climáticas,
com auxílio direto do Ministério de Ciência e Tecnologia. Sendo assim, é essencial uma maior conscientização
dos brasileiros sobre os aspectos gerais do MDL e sobre o seu procedimento para que possamos continuar
participando efetivamente desse mercado e colaborando para a minimização dos impactos das atividades
antrópicas no clima em todo o meio ambiente.
Geração energética e inclusão social no Brasil
Wagner Costa Ribeiro,Geógrafo, presidente do Programa de Pós-Graduação em Ciência Ambiental da USP e autor de A ordem ambiental internacional, entre [email protected]
Diversos fatores levam à busca de energias alternativas, como a escassez anunciada de petróleo e
o aquecimento global. Ao mesmo tempo, ocorre um crescimento no consumo energético em escala
mundial.
O Brasil possui um sistema de geração de energia distinto da grande maioria de países do mundo.
O modelo adotado combinou características geográficas, como a disponibilidade pluviométrica e ocorrência
de rios, para instalar unidades geradoras em diversos pontos do território nacional. Entretanto, este sistema
gerou diversos impactos sócio-ambientais.
Os principais efeitos negativos da instalação de hidrelétricas de grande potência no Brasil
decorreram da necessidade de ocupar vastas áreas para a formação dos lagos que acumulam água para
posterior aproveitamento hidrelétrico. Como nem sempre a cobertura vegetal foi retirada, comprovada em
escândalos do passado, houve uma perda da qualidade da água dos reservatórios, sem esquecer da perda
de biodiversidade causada pelo desmatamento. Além disso, muita gente teve que ser deslocada de seu
local de moradia para dar lugar à água. O resultado foi um contingente populacional expressivo, que,
somado aos trabalhadores que perderam seus postos de trabalho após a conclusão da obra, constituíram o
movimento dos atingidos por barragens – MAB.
É premente a necessidade de rever o modelo de geração energética do país. Há quem vislumbre
nesta ocasião novas oportunidades empresariais, exportação de tecnologias e de produtos.
Muitos acreditam que o país é uma potência ambiental dada a grande oferta de insolação, terra e
água em nosso território. Eles, mesmo sem o saber, retomam um velho mito que assola o país ao
caracterizá-lo por fatores naturais, uma ideologia geográfica nos termos cunhado pelo professor da USP
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Antonio Carlos Robert Moraes. Foi assim no passado, por exemplo, com a descoberta das reservas de
minério de ferro em Carajás.
Um novo modelo de produção de biodiesel e de álcool pode representar a inclusão social de parte
da população brasileira. Para tal, basta aproveitar ainda melhor as características físicas do Brasil e
introduzir práticas agrícolas e produtos adequados às condições pluviais e de solo das regiões brasileiras
de modo a criar atividade no campo. Trata-se de levar em conta a geografia do país, que considera
também as dimensões sociais e não apenas seus aspectos naturais.
Por que teríamos que esmagar o mesmo tipo de grão em todo o país para produzir biodiesel? Por
que teríamos que impor um padrão de agricultura em um país com as dimensões do Brasil? A quem
interessaria produzir apenas um tipo de grão? Quais implicações teríamos para a segurança energética ao
adotarmos uma única espécie em nosso vasto território?
A produção de biodiesel pode representar uma oportunidade de inclusão social no país e uma
resposta para várias destas perguntas. Para atingir este objetivo é preciso estimular o desenvolvimento de
pesquisas para aproveitamento de espécies nativas que possam ser transformadas em óleo combustível.
Em paralelo, tais tecnologias devem considerar a geração de atividade no campo ou até mesmo a
reparação de dívidas sociais com quem perdeu terras em troca do conforto energético de citadinos.
A busca de fontes de energia alternativas, como o biodiesel ou mesmo o álcool, não pode incorrer
em erros do passado. Não devemos repetir os grandes empreendimentos, que deixaram um passivo
ambiental e social extremamente danoso ao país e que afetaram a imagem externa do Brasil.
Naquela época vivíamos em plena ditadura militar. Os rumos autoritários permitiram também a
imposição de um padrão técnico discutível do ponto de vista sócio-ambiental. O mesmo não pode ocorrer
em um país democrático. O “Brasil potência” dos militares pode se tornar uma potência sócio-ambiental,
desde que se tenha vontade política para tal.
Refugiados ambientais: o lado esquecido da degradação ambiental global
Érika Pires Ramos,Mestre em Direito Ambiental pela Universidade Federal de Pernambuco - UFPEProcuradora Federal em São PauloVisitante internacional da Liser - Living Space for Environmental Refugees – maio/[email protected]
O ano de 2007 certamente ficará marcado pela intensidade dos debates públicos em torno do
agravamento da degradação ambiental global, principalmente em face dos impactos causados pelas
mudanças climáticas e pelo aquecimento global, reconhecidamente agravados pela ação humana,
conforme relatado na última avaliação do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC)
publicado em abril.
Muito se tem discutido sobre as soluções que devem ser adotadas pela comunidade internacional
para deter o aquecimento global e suas graves conseqüências sobre a natureza, tais como o aumento
anormal do nível do mar, o descongelamento das calotas polares, a desertificação, a destruição das
florestas etc.
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No entanto, o objetivo aqui é chamar a atenção para os impactos das mudanças climáticas e da
degradação ambiental em nível global não apenas sobre o ambiente natural, mas também sobre o
ambiente humano, como é o caso dos refugiados ambientais.
Não é difícil imaginar as inúmeras situações em que pessoas ou grupos de pessoas são forçados a
deixar o país onde vivem, provisória ou permanentemente, em razão da ocorrência de perturbações
ambientais significativas resultante: 1) de desastres naturais; 2) das mudanças climáticas; 3) de ações
estatais que provoquem a destruição do ambiente ou da negligência governamental em prevenir ou
responder a grandes catástrofes ambientais como terremotos, furacões, inundações, incêndios,
desabamentos etc; 4) da poluição industrial contínua ou de acidentes industriais súbitos sem a pronta
assistência médica às vítimas; ou 5) da combinação de todos esses fatores. Essa categoria de pessoas,
forçadas a migrar em busca de um destino seguro em outro país, pode ser definida, portanto, como
“refugiados ambientais”, “refugiados ecológicos” ou “refugiados do clima”.
É importante ressaltar que a migração forçada pode ser externa - quando há deslocamento para
outro país -, e interna, dentro do próprio país de origem. A situação de refúgio somente ocorre quando o
deslocamento é externo. Se o deslocamento é interno, está-se diante de pessoas internamente
deslocadas, conhecidas como IDP´s (Internal Displaced Persons). É o caso, por exemplo, dos “retirantes”
do sertão do nordeste brasileiro, região bastante atingida pela desertificação, e dos sobreviventes do
furacão Katrina em Nova Orleans, nos Estados Unidos.
Para visualizar as hipóteses descritas acima, podemos utilizar como exemplos: tsunamis asiáticos
(Indonésia), desertificação do solo na África (Etiópia, Nigéria, etc) e que avança atualmente na Ásia (China),
inundações em Bangladesh, acidente nuclear em Chernobyl. Também merece referência o caso das ilhas
de Tuvalu no oceano Pacífico que correm o risco de desaparecer com o aumento anormal do nível do mar,
o que obrigará os seus habitantes a de migrar para os países vizinhos, Austrália ou Nova Zelândia.
Os números são alarmantes, inclusive se comparados à categoria dos refugiados tradicionais, que
migram por razões políticas, religiosas ou étnicas. Em 1995, estimava-se que os refugiados ambientais
totalizavam 25 milhões, sendo 27 milhões os refugiados tradicionais. O Comitê Internacional da Cruz
Vermelha afirma que hoje há mais pessoas deslocadas por desastres ambientais do que por guerras. Em
2010, a estimativa da Organização das Nações Unidas, a ONU, é que o quantitativo de refugiados
ambientais seja de 50 milhões, o dobro em apenas 15 anos. Um estudo da agência missionária Christian
Aid divulgado em maio deste ano estima que entre 2007 e 2050 pelo menos um bilhão de pessoas podem
ser forçadas a migrar por conta de secas e enchentes, assumindo a condição de refugiados ambientais.
Apesar disso, os refugiados ambientais não são reconhecidos pelo direito internacional humanitário,
a exemplo do que ocorre com os refugiados tradicionais, a partir da Convenção de Genebra relativa ao
Estatuto dos Refugiados de 1951. Por esta razão, os refugiados ambientais não podem pedir asilo e a
mesma proteção conferida aos refugiados tradicionais, que cruzam as fronteiras do país porque sofrem
perseguição política, étnica ou religiosa.
Sem o reconhecimento jurídico, os membros da comunidade internacional não estão obrigados a
reconhecê-los e protegê-los dentro de suas fronteiras nacionais, dificultando também a identificação, a
localização e as necessidades desses grupos.
12
Além das limitações legais da Convenção dos Refugiados e da falta de consenso para uma
modificação do atual sistema internacional de proteção, não há uma instituição ou programa oficial voltado
para o tratamento específico da questão dos refugiados ambientais, como é o caso do Alto Comissariado
das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR/UNHCR) que atua dando proteção legal, auxílio de
emergência e buscando soluções de longo prazo para os refugiados tradicionais.
Numa tentativa de chamar a atenção das organizações ambientais e humanitárias para esta
questão, foi criada, em 2002, na Holanda, a Fundação Liser (Living Space for Environmental Refugees -
espaço de convivência para refugiados ambientais - www.liser.org/).
A Liser congrega pessoas ligadas a organizações ambientais, de direitos humanos e ao
desenvolvimento no terceiro mundo e tem como objetivos imediatos: identificar o perfil dos refugiados
ambientais e suas necessidades, fortalecer a posição dos refugiados ambientais no mundo e incluir o tema
nas agendas das organizações humanitárias em todo o mundo.
A Liser acredita que os refugiados ambientais são bio-indicadores da degradação dos seus países
de origem e que a recuperação do ambiente é uma resposta essencial e intimamente conectada ao
problema do refugiado e que, por isso, todos os esforços concernentes à condição dos refugiados
ambientais devem estar aliados à recuperação ecológica dos seus países de origem (Iniciativa de Toledo
para refugiados ambientais e restauração ecológica de Stuart Leiderman/EUA e Harry
Wijnberg/Holanda/Liser, Espanha/2004).
Por esta razão, uma resposta eficaz para o problema dos refugiados ambientais dependeria, muito
mais do que um mero reconhecimento formal, mas da análise dos dois lados desta questão: o impacto que
o deslocamento dessas pessoas ou grupos tem no ambiente e o papel que o ambiente exerce na criação
de refugiados. É necessária uma conjugação de esforços, seja no âmbito internacional, seja no âmbito
interno dos Estados, por meio da adoção de medidas preventivas e mitigadoras de situações de
degradação ambiental e com a recuperação das áreas degradadas, importante medida de desestímulo aos
deslocamentos em massa.
Política Nacional de Clima: uma necessidade conveniente.
Luís Henrique Piva, Economista, Bacharel em Direito, Especialista em Direito Ambiental e Agrário e Mestrando em Ciência Ambiental (PROCAM/USP) e Coordenador da Campanha de Clima do Greenpeace. [email protected] Baitelo,Engenheiro Elétrico e Doutorando em Planejamento Integrado de Recursos Energéticos (POLI/USP) e Coordenador da Campanha de Energias Renováveis do Greenpeace
A inércia do governo brasileiro em adotar em regime de urgência uma Política Nacional de
Mudanças Climáticas deixa claro uma conveniente falta de visão estratégica do Governo brasileiro diante
das evidências inequívocas do aquecimento global. O Brasil, outrora protagonista das negociações
multilaterais na Convenção do Clima, assume atualmente uma postura reativa, equivocada e perigosa ao
desconsiderar a importância da questão climática em sua agenda, anunciando uma Política para 2009, ano
em que as negociações do período pós-Quioto estarão consolidadas. O objetivo deste artigo é questionar a
13
posição brasileira a respeito da implementação de uma Política Nacional de Mudanças Climáticas e suas
implicações (muitas vezes negativas) acerca das decisões tomadas pelo governo brasileiro que têm
inviabilizado o crescimento sustentável, seguro e limpo do país, tanto pela falta de governança de suas
florestas, sobretudo da Amazônia, como pelo não desenvolvimento de um mercado efetivo para energias
limpas e renováveis e de projetos de eficiência energética, como pela retomada do programa nuclear
brasileiro justificado oportunisticamente por não contribuir com o aquecimento global.
1. Internalização da Convenção-Quadro de Mudanças Climáticas da ONU
Poderíamos justificar a necessidade, urgência e importância desse fato por inúmeras razões:
vontade política, ética, justiça social, visão estratégica, pelo imenso potencial renovável do país, pelo
grande passivo ambiental decorrente das práticas criminosas do desmatamento e também em função dos
compromissos assumidos internacionalmente. O Brasil, signatário da Convenção de Clima da ONU,
comprometeu-se formalmente a estabilizar as concentrações de gases de efeito estufa na atmosfera num
nível que impeça uma interferência antrópica perigosa no sistema climático (art. 2°) e ainda, a formular,
implementar, publicar e atualizar regularmente programas nacionais e, conforme o caso, regionais, que
incluam medidas para mitigar a mudança do clima, enfrentando as emissões antrópicas por fontes e
remoções antrópicas por sumidouros de todos os gases de efeito estufa não controlados pelo Protocolo de
Montreal, bem como medidas para permitir adaptação adequada à mudança do clima (art. 4.1, b).
2. Um recado do IPCC aos tomadores de decisão política
O teor da informação contido no relatório do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas –
IPCC é claro: o ser humano está provocando um fenômeno de conseqüências muito graves e que poderia
até, a longo prazo, inviabilizar a sobrevivência da própria espécie do planeta. Independentemente dos
cenários traçados, sejam eles otimistas ou pessimistas, o fato é que a partir da divulgação desse relatório
ninguém mais pode alegar desconhecimento de causa. Cientistas consideram que a redução das emissões
globais de gases que causam o efeito estufa tem que ser de, no mínimo, 50% até 2050, para que o
aumento da temperatura da Terra fique abaixo dos 2º C, ponto de colapso do clima. As conseqüências de
uma inação seriam trágicas: colapso dos ecossistemas, fome, escassez de água, migrações em massa,
enchentes, elevação do nível do mar, desertificação, aumento de doenças tropicais, além de grandes
prejuízos econômicos. A grande questão é: o que fazer para reduzir o seu ritmo ou, na melhor das
hipóteses, estabilizá-lo?
3. Desmatamento causa aquecimento
É importante lembrar que, no caso do Brasil, a principal questão é deter o desmatamento da
Amazônia. De acordo com a comunicação nacional elaborada pelo Ministério de Ciência e Tecnologia,
identificamos que a mudança no uso da terra e florestas responde por 75% de nossas emissões, e ao setor
de energia corresponde outros 23%. A prioridade número um para a mitigação de nossas emissões estão
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diretamente relacionadas ao fim do desmatamento. Para lidar com o desmatameno é fundamental trazer
governança para a região amazônica e encontrar uma maneira de remunerar a floresta em pé pelo seu
serviço ambiental como área megadiversa e regulador climático. Esta remuneração deve desincentivar o
avanço da fronteira agrícola, da pecuária e da exploração madereira ilegal.Segundo a ONU, o
desmatamento da floresta amazônica ocorrido entre 2000 e 2005 representa 42% da perda líquida de áreas
florestais no mundo. Nesse período, 31 mil quilômetros quadrados de florestas foram perdidos a cada ano,
incluindo todos os biomas. No total, cerca de 17% da Amazônia já foram desmatados, o equivalente a
quase 700 mil quilômetros quadrados.
4. Revolução energética
O segundo desafio é a nossa matriz energética. Além do aquecimento global, há outros fatores
emergentes que exigem nossa atenção especial. A demanda mundial por energia cresce a um ritmo
alarmante e muitos países estão cada vez mais dependentes da importação de fontes de energia como
petróleo e gás de algumas poucas nações, em sua maioria politicamente instáveis. Aliada à volatilidade dos
preços do petróleo e do gás natural, tal situação coloca em xeque a economia mundial, levando a questão
da segurança energética ao topo da agenda política de todos. Há um forte entendimento de que é preciso
mudar a maneira como produzimos e consumimos energia. A questão é: como isso deve ser feito? A
resposta está nas energias renováveis! Uma opção real, madura e que já pode ser aplicada em larga
escala. Décadas de progresso tecnológico demonstram que as tecnologias de energia renovável, como as
turbinas eólicas, painéis solares fotovoltáicos, usinas de biomassa e coletores solares térmicos se
transformaram na principal tendência do mercado energético atual. Em 2006, por exemplo, o mercado
global de energia renovável movimentou US$ 38 bilhões, um crescimento de 26% em relação ao ano
anterior.
4.1 Custos das renováveis
Os custos com eletricidade podem ser reduzidos em até dez vezes a partir de 2030 caso aconteça
a transição da atual matriz energética global para fontes renováveis amparadas por medidas de eficiência
energética, conclui o novo estudo do Greenpeace e do Conselho Europeu de Energia Renovável (EREC).
O relatório “Investimentos Futuros – plano sustentável no setor elétrico para salvar o clima” mostra como
reduzir pela metade as emissões de CO2 e ainda economizar cerca de US$ 180 bilhões por ano.
Segundo os cálculos do relatório, seria necessário um investimento anual global extra de US$ 22
bilhões em energia renovável para a implantação do cenário de revolução energética. Este investimento
inicial seria amortizado com a redução de custos a partir de 2030. Para os autores do estudo, se os atuais
US$ 250 bilhões anuais gastos em subsídios a carvão e gás natural fossem realocados para o setor de
renováveis, haveria recursos mais do que suficientes para efetuar a transição para a matriz de revolução
energética. Em contraste, manter a atual matriz energética lança uma nuvem negra para o futuro, alerta o
estudo. Seriam necessárias mais de 10 mil novas usinas movidas a combustíveis fósseis para suprir a
demanda global, o que implicaria aumento de mais de 50% das emissões de CO2 e a duplicação dos
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custos dos combustíveis. Outro fator importante é que, na próxima década, muitas usinas a carvão e
nuclear chegarão ao fim de sua vida útil e deverão ser substituídas. Os países emergentes como Brasil, a
China e a Índia terão que expandir rapidamente sua infra-estrutura e parques energéticos.
Além disso, investir na melhoria da eficiência energética no uso final tem um efeito positivo na
segurança energética, na redução da poluição local e regional do ar e na geração de empregos
5. O Retrocesso da Opção NuclearA retomada da construção da Usina Nuclear Angra 3 reacendeu o debate político, social e científico
sobre a energia nuclear em todos os veículos de comunicação nacional. Ainda que a decisão final, nas
mãos do presidente Lula, não tenha sido oficialmente tomada, a possibilidade da expansão do programa
nuclear brasileiro tem gerado discussões polêmicas.
Argumentos falsos tem sido utilizados para justificar a opção do governo por uma energia poluente e
de alto risco. Dentre eles, a importância de Angra 3 para evitar o risco de racionamento energético nos
próximos 3 anos, os baixos impactos ambientais e principalmente a contribuição ao combate das mudanças
climáticas. Sabe-se que, no Brasil, a maior parte da emissão de gases ocorre por conta do desmatamento
da Amazônia. Portanto, a redução de emissões deveria priorizar o controle deste desmatamento, conforme
disse José Goldemberg, do Instituto de Energia da Universidade de São Paulo. Usinas nucleares, segundo
ele, repercutem em outros impactos ainda maiores para o meio ambiente, como o risco de acidentes e o
acúmulo de material tóxico radioativo por centenas de gerações. Se a energia nuclear fosse realmente
capaz de desempenhar um papel preponderante na redução de emissões de dióxido de carbono, esta
geração deveria no mínimo atender ao aumento previsto do consumo de combustíveis fósseis nos próximos
anos. Isto demandaria uma taxa de construção de usinas sem precedentes no passado.
Apesar de indicada pelo IPCCC como medida de mitigação de mudanças climáticas, a geração
nuclear está longe de ser livre de emissões de CO2. Se, por um lado, a operação de uma usina nuclear não
causa emissões diretas, por outro, é utilizada uma grande quantidade de energia na cadeia da geração de
energia nuclear. Esta energia, quando proveniente de fontes fósseis, repercute na emissão de uma
quantidade considerável de CO2.
Ao contrário do que está sendo dito, a energia nuclear é cara, perigosa, gera poucos empregos e
não é o caminho para o Brasil enfrentar o aquecimento global. Em termos de custos, com os R$ 7,4 bilhões
previstos para construir Angra 3, seria possível instalar um parque de turbinas eólicas com o dobro da
potência prevista para essa nova usina nuclear (1.350 MW), gerar 32 vezes mais empregos, sem produzir
lixo radioativo ou trazer risco de acidentes graves.
6. China sai na frente com o Programa Nacional de Mudanças Climáticas
A China acaba de ocupar o lugar dos Estados Unidos como grande emissor de dióxido de carbono
(CO2) do mundo. A maior demanda por carvão para geração de eletricidade e uma oscilação na produção
de cimento ajudaram a empurrar as emissões registradas da China em 2006 para além das dos EUA. O
país produziu 6.200 milhões de toneladas de CO2 no último ano, em comparação com 5.800 milhões de
toneladas dos EUA (as emissões chinesas estavam 2% abaixo das americanas em 2005). Para se ter uma
noção, a Grã-Bretanha produziu cerca de 600 milhões de toneladas.
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Ao mesmo tempo em que ocupa o desonroso primeiro lugar no ranking de emissões, a China
apresentou em junho desse ano seu programa de combate às mudanças climáticas, que levou dois anos de
preparação e envolveu 17 ministérios. A idéia é segurar o volume de gases do efeito estufa per capita
reduzindo o consumo de energia em 20% até 2010 e aumentando as fontes de energias renováveis em
10%; além de cobrir 20% das terras nacionais com floresta. Este é o primeiro programa nacional sobre
mudanças climáticas adotado por um país grande emissor em desenvolvimento.
O Programa não se compromete com metas mandatórias de redução de emissões de gases do
efeito estufa, entretanto a China deve assumir determinadas obrigações no âmbito do Protocolo de Quioto
para que se possam atingir as metas estabelecidas para o ano de 2050, uma vez que, nos últimos anos,
compromissos voluntários de redução de emissões não se mostraram satisfatórios. É provável que
aumente a pressão mundial para que o novo acordo sobre mudanças climáticas, que deverá substituir o
Protocolo de Quioto a partir de 2012, inclua a economia chinesa.
7. Brasil: desafios para uma política de clima
Países como China e Brasil, que respondem respectivamente como 1º e 4º maiores emissores de
gases efeito estufa do planeta deverão assumir sua parcela de responsabilidade, que obviamente é menor
que a dos países industrializados – beneficiários do desenvolvimento sujo desde a revolução industrial –
mas não é nula, sendo talvez próxima de sua atual parcela de contribuição. A argumentação acima evoca
princípios do direito internacional os quais o país deve pautar-se no desenvolvimento de um política
nacional: princípio do precaução, das responsabilidades comuns porém diferenciadas e o da participação.
Além disso, deve-se considerar, em todas as esferas de governo, a vulnerabilidade social,
econômica e ambiental das populações bem como as peculiaridades regionais e setoriais e as diferenças
existentes com relação à intensidade do consumo de bens e serviços entre os diversos segmentos sociais
no sentido de estabelecer e definir claramente as responsabilidades de cada ator nesse processo.
O país precisa regulamentar as ações referentes ao clima que deve integrar ações que hoje vêm
sendo implementadas por instituições de pesquisa, universidades e sociedade civil. O assunto não pode
virar prioridade apenas durante os desastres. É preciso que o governo federal coordene a elaboração de
um Mapa de Vulnerabilidade e Riscos às Mudanças Climáticas, além de um Plano Nacional de Adaptação
e um Plano Nacional de Mitigação, com ações estratégicas no campo da agricultura e saúde pública.
8. Conclusões:
A luta contra o aquecimento global oferece uma oportunidade única para transformar o discurso do
desenvolvimento sustentável em uma prática. Poderemos dessa forma, salvar nossas florestas,
biodiversidade e o povo que nela vive. Reduzir nossas emissões e garantir uma matriz energética limpa e
descentralizada, gerando a energia perto de quem necessita consumi-la. Rever nossos padrões de
consumo com uma melhor distribuição de renda, uso e ocupação do solo mais eficiente e maior justiça na
compensação às vítimas das mudanças climáticas.
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Na esfera internacional necessitamos de um compromisso do Brasil com metas mandatórias para a
redução de emissões de gases de efeito estufa, inclusive do setor privado, além de atuação mais pró-ativa
e comprometida do governo brasileiro com redução de emissões. Dessa forma, iríamos fortalecer o papel
regulamentador e indutor do Estado em relação aos objetivos e responsabilidades do País perante a
comunidade internacional. A segunda metade de 2007 será crucial para a questão climática, uma vez que
as decisões tomadas esse ano serão a base das negociações multilateriais futuras (pós-2012). Espera-se
resultados consistentes tanto na reunião de trabalho do grupo ad-hoc em setembro como na COP 13 em
Bali (Indonésia) em dezembro, ressaltando que a reunião convocada por Bush, também em setembro, é
uma estratégia diplomática para desviar o foco do assunto, já que é consenso que o fórum de discussão é
as Nações Unidas.
É possível reduzir nossas emissões e crescer sem poluir. Para isso, devemos adotar mecanismos
que possibilitem zerar o desmatamento na Amazônia, levando maior governança à região, combatendo a
corrupção, fortalecendo as instituições responsáveis pela implementação e fiscalização das leis ambientais
e promovendo a conservação e o uso econômico responsável da floresta. No setor energético
necessitamos de políticas públicas, leis e investimentos para o desenvolvimento de um mercado nacional
para energias limpas e renováveis como solar, eólica, pequenas centrais hidroelétricas e biomassa, além
de forte investimento em eficiência energética, além do cancelamento do Programa Nuclear Brasileiro,
inclusive a construção da usina nuclear Angra 3.
Temos menos de duas décadas para fazer a lição de casa, portanto, não há tempo a perder!
REFERÊNCIAS:
Cadernos NAE – Núcleos de Assuntos Estratégicos da Presidência da República - n°3 (fev. 2005) –
Mudança do Clima – Volume I. Brasília: Núcleos de Assuntos Estratégicos da Presidência da República,
Secretaria de Comunicação de Governo e Gestão Estratégica, 2005.
Cadernos NAE – Núcleos de Assuntos Estratégicos da Presidência da República - n°4 (abr. 2005) –
Mudança do Clima – Volume II. Brasília: Núcleos de Assuntos Estratégicos da Presidência da República,
Secretaria de Comunicação de Governo e Gestão Estratégica, 2005.
Greenpeace Brasil. “Mudanças do clima, mudanças de vida – como o aquecimento global já afeta o Brasil”,
disponível no link http://www.greenpeace.org.br/clima/pdf/catalogo_clima.pdf. 2006.
Greenpeace Brasil.“Revolução energética – perspectivas para uma energia sustentável”, disponível no link
http://www.greenpeace.org.br/energia/pdf/cenario_brasileiro.pdf. 2007.
Ministério da Ciência e Tecnologia. http://www.mct.gov.br
Mudanças climáticas globais e seus efeitos sobre a biodiversidade – caracterização do clima atual e
definição das alterações climáticas no território brasileiro ao longo do século XXI – José A. Marengo,
Ministério do Meio Ambiente, Brasília, 2006
18
Intergovernmental Panel on Climate Change – IPCC. www.ipcc.chJornal da USP, de 26/2 a 4/3/2007. Mudanças Climáticas, instituições multilaterais e desenvolvimento
socioambiental. Wagner da Costa Ribeiro.
Folha de São Paulo, Especial Clima, 3 de fevereiro de 2007, pgs 1-8.
Fórum Brasileiro de ONGs e Movimentos Sociais para o Meio Ambiente e o Desenvolvimento.
www.fboms.org.br.
Fórum Brasileiro de Mudanças Climáticas. www.forumclima.org.br.
Fundamentos de uma Política Nacional sobre Mudança do Clima para o Brasil. Observatório do Clima,
IPAM – Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia. 2002/2003.
Revista Época, N° 455, 5 de fevereiro de 2007. O Mundo vai acabar? (pags. 92 – 100).
Revista Página 22 – Informação para o novo século n° 10 (Políticas Públicas). Centro de Estudos de
Sustentabilidade – CES/FGV. Energia Renovável: O governo tem pouco tempo para provar que cumprirá
as metas do programa de incentivo às energias alternativas até o fim de 2008 e Políticas Públicas:
Discussões tardias, já na fase do licenciamento de obras, evidenciam a falta de um debate anterior sobre
os rumos do Brasil e expõem a fragilidade da nascente democracia.
Revista Pesquisa FAPESP – ciência e tecnologia no Brasil, dezembro de 2006, n° 130. Mudanças
Climáticas – do debate à ação.
United Nations Framework Convention on Climate Change – UNFCCC. www.unfccc.int Vitae Civilis – Instituto para o Desenvolvimento, Meio Ambiente e Paz. http://www.vitaecivilis.org.br.
Uma Verdade Inconveniente – uma resenha e uma experiência didática
Paulo Gonzaga M. de Carvalho, Diretor da ecoeco, professor da ENCE-IBGE e da UNESA, [email protected]
Pensando friamente tinha tudo para dar errado. Quem iria ver um documentário que é pouco mais
que uma palestra filmada sendo que essa é proferida por um político que está no ostracismo e que é
conhecido como Al “Bore” (Al o chato)? Para piorar, o tema da palestra era um tanto obscuro para a maioria
das pessoas em 2006. Só sendo muito “verde” para assistir um filme desses!
Mas, contra todas as expectativas iniciais, o filme foi um grande sucesso de crítica e de público.
Ganhou dois Oscars, feito possivelmente inédito para um documentário. Além disso, alcançou a terceira
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(sendo alguns a quarta) maior bilheteria para um documentário nos EUA, em toda a história do cinema
americano. O que explica isso?
A explicação é simples, o filme é muito bom e veio na hora certa. È uma palestra filmada? Em
grande parte sim, mas uma grande palestra: recursos multimídia, ótimo roteiro e até “efeitos especiais”
como a escada na qual Al Gore sobe no final do filme. Além disso, toda vez que a exposição começa a ficar
chata, são inseridos pequenos filmes sobre a vida do ex-vice-presidente dos EUA. Al Gore é chato?
Realmente não é um palestrante que faça a platéia vibrar, mas ele parece ter consciência disso, pois fala
pouco, deixando o peso da apresentação por conta da multimídia, que está muito bem costurada pelo
roteiro. Mudanças climáticas era um tema obscuro? Era, até certo ponto, quando o filme foi feito, agora está
na ordem do dia e portanto o filme saiu na hora certa.
O filme é, sem dúvida, muito bom, entretanto numa análise mais atenta podemos notar alguns
pontos fracos. Vejamos alguns deles:
Uma Verdade Inconveniente é um filme político que tem uma mensagem clara: o problema do
aquecimento global existe e é muito sério. O filme não é panfletário, mas critica contundentemente os
chamados ambientalistas céticos, aqueles que defendem as teses de que o aquecimento global não é
causado sobretudo por pressões humanas ou que não é um problema grave. O governo Bush representaria
essa posição, reforçando o caráter político (e partidário?) do filme. Mas o governo Bush defende essa
posição, dentre outros motivos, porque existem cientistas que compartilham dessa opinião. Não há dúvida
que muito poucos cientistas desvalorizam a relevância da questão das mudanças climáticas. Mas esses
cientistas existem e têm peso no debate, em especial na época que o filme foi feito, vide, por exemplo, a
importância dada pela revista The Economist ao grupo conhecido como Consenso de Copenhague ,
liderado por Lomborg e a controvérsia Oreskes x Peiser acerca do apoio unânime dos cientistas a tese de
que o problema do aquecimento global é causado fundamentalmente pela ação do homem. O filme
apresenta basicamente uma posição sendo, portanto parcial pois não dá voz para a defesa das posições do
grupo discordante que são apenas criticados.
Isso nos leva a uma questão interessante. É possível um filme ter uma mensagem política clara e
ao mesmo tempo ser imparcial? Neutralidade ou imparcialidade absoluta não existe, mas pode-se ser
razoavelmente imparcial, dando voz ao outro lado, e ao mesmo tempo ter uma mensagem clara. Um bom
exemplo disso é o filme Batalha de Argel de Gillo Pontecorvo. O filme é fortemente político e a claramente a
favor da guerrilha urbana, mas não deixa de ter uma visão crítica sobre o mesmo (ex: sobre os atentados
visando alvos civis) e nem de apresentar a visão dos órgãos de repressão da França colonialista. Na
categoria documentário temos Notícias de uma Guerra Particular de João Moreira Salles e Kátia Lund, um
filme contra a violência que abre espaço tanto para o policial quanto para o traficante expressarem suas
opiniões. Pode-se também fazer um grande filme que seja totalmente parcial, como por exemplo,
Encouraçado Potemkin de Eisenstein, O Nascimento de uma Nação de Griffith e, até certo ponto e sem a
mesma importância dos dois filmes citados, Tiros em Columbine de Michael Moore. Portanto acho que Uma
Verdade Inconveniente ganharia se desse mais espaço para as controvérsias, mas isso de forma alguma
invalida o grande trabalho feito por Al Gore e pelo diretor Davis Guggenhein.
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Apesar de ter sido lançado ano passado, Uma Verdade Inconveniente já envelheceu, pois a
realidade é muito dinâmica. Hoje poucos defendem que o aquecimento global não é um problema grave.
Entre esses estão Bush e seu governo, o que é não pouco. Mas também o governo Bush já é quase coisa
do passado, vide o resultado das últimas eleições parlamentares americanas. O que está na ordem do dia
não é mais o diagnóstico, mas a terapia e sobre isso o filme tem muito pouco a dizer. Só nos minutos finais
esse tema é abordado.
Outra coisa que envelheceu foi o ar de desânimo de Al Gore. No filme ele aparece viajando, de
cidade em cidade, numa cruzada pela defesa do meio ambiente, mas transmitindo a sensação que de que
está falando para as paredes. Agora não, ele virou uma “pop star” e pode até se lançar candidato à
presidência dos EUA. Esse filme veio na hora certa e mudou a vida dele.
O filme fala muito pouco da América Latina e do Brasil em particular. Optou-se por privilegiar
excessivamente a situação do Pólo Norte e Pólo Sul, onde o problema do aquecimento global estaria mais
visível. Para nós, latinos, o aquecimento global ficou bem longe de nossa realidade imediata, do dia a dia.
Esse documentário pode ser visto também de uma outra forma, como um instrumento didático para
uso em sala de aula. Sobre esse ponto farei um breve relato de minha experiência a respeito.
Há vários motivos para apresentar o filme em sala de aula: o documentário é muito bom, o tema é
atual e o filme demora menos de duas horas. Esse último detalhe é importante, pois passar apenas parte
do filme ou dividi-lo em duas aulas é sempre um complicador. Passei o filme no semestre passado para
alunos pós-graduação - Curso de Especialização na área de Meio Ambiente da ENCE e graduação – em
Relações Internacionais da UNESA. Minha maior surpresa foi que muito poucos alunos tinham visto o filme.
Na pós-graduação apenas três alunos, numa turma trinta e dois, tinham assistido. Na graduação ninguém
tinha visto.
Contra as minhas expectativas, os alunos da graduação receberam melhor o filme que os da pós-
graduação. Praticamente todos compareceram à exibição, mesmo tendo a opção de alugar o DVD e vê-lo
em casa. A apresentação do filme terminou com aplausos e uma aluna chegou e me dizer que se
emocionou muito durante o filme e que ia fazer cópias do mesmo e exibi-los para seus amigos. Acho que os
alunos da graduação gostaram mais do filme, pois para eles a novidade era maior, mesmo porque o curso
é noturno e poucos lêem jornal com boa regularidade.
Na pós os alunos gostaram e também fizeram cópias do filme (alguém da turma tinha baixado da
internet), mas foram mais críticos. Muito afirmaram que o documentário era excessivamente pró-EUA,
devido ao apelo patriótico que Al Gore faz no final do filme.
Para quem for utilizar o filme em algum curso existem mais recursos disponíveis. No DVD na edição
nacional vem encartado um DVD extra com um documentário do Greenpeace sobre mudanças climáticas
no Brasil. Esse documentário é muito bom, pois tem o básico sobre mudanças climáticas e muita
informação sobre seus efeitos no Brasil (furacão no Sul, seca na Amazônia etc) comentada por
especialistas (ex: Carlos Nobre do INPE). Dá mais ênfase, do que o filme de Al Gore, às questões relativas
à adaptação e mitigação (ex: energias alternativas). Além disso, dura apenas 50 minutos, portanto
adequado para uma exibição em sala de aula seguida por debates.
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No site do filme Uma Verdade Inconveniente http://www.climatecrisis.net/ há material didático
complementar que é voltado para escolas americanas de segundo grau, mas é útil mesmo assim. O livro
relativo ao filme já saiu pela editora Manole. Existe muito material sobre o documentário na internet e a
Wikipédia é um bom ponto de partida. Seguem abaixo algumas referências.
http://en.wikipedia.org/wiki/An_Inconvenient_Truth
http://en.wikipedia.org/wiki/Lomborg
http://www.copenhagenconsensus.com/Default.aspx?ID=161
PS. Recentemente saíram várias reportagens da imprensa dando conta que algumas das
afirmações contidas no filme de Al Gore estão sendo contestadas por especialistas. Na revista Época n°
483 de 20/08/07 a reportagem “Um Debate Acalorado” de Letícia Sorg relata que a Nasa retificou sua série
de temperatura anual média dos EUA e que agora o ano mais quente do século é 1934 e não mais 1998,
que ficou em segundo lugar. Em terceiro lugar no ranking está o ano de 1921. Na Folha de São Paulo de
17/08/07 a reportagem “Estudo revê colapso da corrente do Golfo” mostra que as mudanças de
temperatura da corrente do Golfo podem se dever a fatores sazonais e não mudanças de longo prazo e que
o assunto precisa ser melhor estudado. José Eli da Veiga em artigo para Valor Econômico de 07/08/07 –
‘Três indagações sobre o aquecimento global” levanta mais indagações, como o estranho fato de no pós-
guerra ter havido muito crescimento industrial mas poucas emissões de gases estufa, conforme o gráfico
apresentado no documentário. Marcelo Leite em “O IPCC não é mais aquele” (Folha de São Paulo
12/08/07), apresenta questionamentos feitos ás conclusões do IPCC. Portanto o documentário de Al Gore
tem grandes méritos mas não encerra a discussão...
"Os Economistas e as Relações entre o Sistema Econômico e o Meio Ambiente"José Eli da Veiga,Professor titular do departamento de economia da FEA/USP e coordenador de seu Núcleo de Economia Socioambiental. www.zeeli.pro.br
Já se publicaram no Brasil diversos livros de economia do meio
ambiente. Mas ainda não havia surgido uma obra que apresentasse de
forma completa e sistemática os dois prismas pelos quais os
economistas raciocinam sobre as relações entre o sistema econômico
e o meio ambiente. O preenchimento de tal lacuna já constitui a
primeira e mais óbvia virtude do livro "Os Economistas e as Relações
entre o Sistema Econômico e o Meio Ambiente" (UnB & Finatec), de
Charles Mueller, professor emérito do departamento de economia da
Universidade de Brasília.
Mas a segunda virtude é ainda mais importante e pode ser constatada
desde a leitura do sumário: sua imensa abrangência teórica. Nas 120
páginas ocupadas pelos dois primeiros capítulos, são apresentados os
elementos básicos da questão ambiental e de suas relações tanto com crescimento econômico quanto com
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desenvolvimento. Elas são seguidas por outras 30, nas quais é contada a gênese da disciplina "economia
do meio ambiente" e apresentadas suas correntes de pensamento.
A rigor, apenas essa primeira parte já seria um ótimo livro introdutório. No entanto, na transição
entre essa espécie de "overview" e as duas últimas partes, dedicadas respectivamente à economia
ambiental (convencional ou neoclássica) e à economia ecológica (ou "da sobrevivência", como prefere o
autor), surgem ainda 70 páginas nas quais estão explicitadas, de forma sintética, as bases conceituais das
duas correntes.
Não poderia ser mais minucioso o tratamento dado por Mueller à abordagem convencional. Nos 13
capítulos a ela dedicados, sucedem-se discussões detalhadas sobre as teorias da poluição e dos recursos
naturais, seguidas de três capítulos sobre suas principais aplicações atuais: valoração monetária, análise
de custo-benefício, e Contas Nacionais. Para tanto, foram necessárias 240 páginas, que - outra vez -
também seriam suficientes para compor o melhor livro didático sobre os malabarismos realizados pelos
ortodoxos para adaptar seu paradigma aos desafios que lhes colocam os problemas ambientais.
Por isso, muitos certamente concluirão que o autor prefere essa corrente convencional.
Principalmente ao perceberem que a corrente alternativa - "da sobrevivência" - só mereceu a meia dúzia de
capítulos finais, cujas 75 páginas não chegam a 14% do livro. Mas será um terrível engano, pois o professor
Mueller é, sem dúvida, o mais antigo e mais importante conhecedor brasileiro da ultra-heterodoxa teoria
formulada pelo romeno Nicholas Georgescu-Roegen (1906-1994).
Foi a crítica de Georgescu aos fundamentos da corrente convencional (neoclássica) que, no início
dos anos 1970, trouxe pela primeira vez para o âmbito da ciência econômica o confronto mais geral entre
os fundamentos da ciência clássica e da moderna. Ciência moderna que considera um mundo complexo,
em que a irreversibilidade e o comportamento estocástico fazem parte da regra, não de exceções. Ao
contrário do que aconteceu com a física, a química ou a biologia, que há muito deram a volta por cima, o
mainstream da análise econômica continua a se valer de uma visão pré-analítica.
Uma das principais conseqüências desse anacronismo é não dar importância às relações do
sistema econômico com seu meio externo. Como disse Georgescu, uma ótima ilustração dessa atitude está
naquela imagem que aparece no início de todos os manuais de introdução à economia para retratar o
processo econômico como um fluxo auto-suficiente e circular entre a produção e o consumo. Só que tal
processo não é isolado e autocontido. Por isso, ao tratá-lo como um análogo mecânico, a abordagem
convencional implicitamente supõe que o sistema econômico funcione como um carrossel de parque de
diversões, não podendo de nenhuma maneira afetar o meio ambiente.
Mueller praticamente viu germinar essa que foi uma das principais sementes da revolução científica
que só agora começa a brotar, após três décadas de estranho obscurantismo, como foi comentado no
artigo "A complexidade em toda sua dimensão", publicado nesta mesma página em 5 de abril. É que depois
de graduar-se bacharel em Ciências Econômicas pela USP (onde foi, aliás, eleito presidente do centro
acadêmico em chapa de oposição à de seu colega Paul Singer), obteve os títulos de mestre e doutor
(Ph.D.) pela Universidade de Vanderbilt no início dos anos 1970, exatamente onde, e quando, Georgescu-
Roegen elaborou sua crucial teoria sobre a relação da economia com a termodinâmica.
Embora como bom curitibano tenha começado sua carreira na Universidade Federal do Paraná
(1962-1972), foi no departamento de economia da UnB que mais trabalhou e para o qual continua a
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contribuir depois de 2004, quando a idade compulsoriamente o aposentou. Nos seus 45 anos de docência,
foi por várias vezes chefe de departamento e coordenador de pós-graduação, pesquisador visitante das
Universidades de Manchester e de Illinois e secretário-adjunto da Associação Nacional de Centros de Pós-
Graduação em Economia (Anpec). Além, é claro, de ter sido diretor e presidente do IBGE entre 1988 e
1990, curto período em que ganhou visibilidade. Uma biografia que também é ótimo indicador da qualidade
deste que certamente é seu melhor livro.
Relato da Terceras Jornadas de la Asociación Argentino Uruguaya de Economía Ecológica - ASAUEE 2007
Profesor Dr. Walter A. Pengue,Presidente del Comité Científico [email protected]
Durante dos días a comienzos del pasado mes de Junio, en la bella ciudad de Tucumán, en el
noroeste argentino, se llevaron adelante las Terceras Jornadas de la Asociación Argentino Uruguaya de
Economía Ecológica, bajo el lema “Ecología, Economía y Abordajes para la Resolución de Conflictos
Ecológicos Distributivos en el Cono Sur”.
El encuentro fue abierto por el Rector de la Universidad Nacional de Tucumán, el Rector de la Universidad
Tecnológica Nacional y miembros representativos de ASAUEE e ISEE.
Las sesiones de Talleres y Plenarias se desarrollaron en la instalaciones del Edificio de la Universidad
Tecnológica Nacional, un lugar cercano al centro histórico de la ciudad de Tucumán, donde se encuentra la
Casa Histórica, espacio donde Argentina declaro su Independencia el 9 de Julio de 1816.
Hubo quince sesiones que abordaron temas como Cuestiones Rurales y Urbanas, Indicadores
Biofísicos de Sustentabilidad, Política Publica, Desarrollo Sostenible, Cuestiones Globales, Valorización de
Recursos Ambientales, Abordaje Económico de la Calidad Ambiental, Apropiación de Recursos Naturales y
Conflictos, Desarrollo del Turismo Sustentable, Deuda Ecológica y Nuevas Cuestiones sobre Desarrollo
Energético. También se presentaron dos Sesiones de Posters en el mismo tiempo, donde se trataron los
mismos temas. Durante todo el encuentro se presentaron 124 documentos de investigación.
Hubo cinco Conferencias Plenarias que disertaron sobre Servicios Ambientales e Indicadores para el
Desarrollo Rural Sostenible (Ernesto Viglizzo, INTA, Argentina), Metabolismo Social y Conflictos Ecológicos
Distributivos en América Latina (Joan Martínez Alier, Presidente, ISEE), Etanol: Un Bien Ambiental?
(Luciana Togeiro, Eco Eco Brasil), (De)Crecimiento Económico, Recursos Naturales y Conflictos Ecológico
Distributivos (Walter A. Pengue, Universidad de Buenos Aires) y Política Forestal Uruguaya y sus Efectos
Ecosistemicos (Daniel Panario, Universidad de la Republica, Uruguay).
En la tarde del 1 de Junio, se realizo un encuentro entre antiguos y nuevos miembros de ASAUEE,
donde Walter Pengue, informo sobre la situación de la Sociedad, las nuevas tendencias y temas de
Economía Ecológica al nivel regional y pidió por el apoyo a la Sociedad en los nuevos pasos a dar
inmediatamente en 2007 y 2008: Un llamado a Elecciones del total de miembros del Board de ASAUEE
durante 2008 y una Convocatoria para la Elección del lugar e institución donde se desarrollaran las Cuartas
Jornadas de Economía Ecológica de la Sociedad en el año 2009, previsto de ser realizadas bajo la
dirección de las nuevas autoridades electas.
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Las Terceras Jornadas de ASAUEE recibieron los auspicios de la Red Iberoamericana de Economía
Ecológica, la ISEE, la Universidad Nacional de Tucumán, Universidad Tecnológica Nacional, ProECO,
Programa de Economía Ecológica de la Universidad de Buenos Aires, Instituto Nacional de Tecnología
Agropecuaria, Fundación Heinrich Boll, Dirección de Medio Ambiente de la Provincia de Tucumán y otras
instituciones publicas y privadas de la provincia.
Profesor Dr. Walter A. Pengue , Presidente del Comité Científico
PD: Durante los próximos meses, las presentaciones y los documentos expuestos en el Tercer Encuentro
estarán disponible en la pagina Web de ASAUEE en www.gepama.com.ar, ASAUEE.
Para aquellos interesados, que necesiten una copia del CD completo de las Jornadas u alguna otra
información, por favor, pónganse en contacto con el Dr. Walter Pengue, al email
"ISEE2008 Nairobi - Applying Ecological Economics for Social andEnvironmental Sustainability"
"ISEE2008 Nairobi - Applying Ecological Economics for Social andEnvironmental Sustainability" - 7-11 de agosto de 2008. A chamada parasimpósios e trabalhos contribuídos será circulado em breve. Fiquem atentosàs novidades no site www.ecoeco.org."
O X Congresso da Sociedade Internacional de Economia Ecológica-ISEE ocorrerá entre os dias 07
e 11 de agosto de 2008, ano em que o ISEE estará celebrando seu 20o aniversário de criação, em Nairobi,
Quênia, em colaboração com a Sociedade Africana de Economia Ecológica-ASEE e o Programa das
Nações Unidas para o Meio Ambiente-PNUMA. Titulado "Aplicando Economia Ecológica para
Sustentabilidade Social e Ambiental", o Congresso está sendo organizado por representantes das
entidades parceiras, sob a liderança de Peter May, Presidente-Eleito do ISEE, Kevin Urama, Presidente em
Exercício da ASEE e Anantha Duraiappah, Chefe da Unidade para Economia de Serviços Ambientais do
PNUMA. O presidente do ISEE, Joan Martinez-Alier, também está bastante envolvido no processo. Já
criou-se a Comissão Científica do Congresso, formado por 43 economistas ecológicas do mundo inteiro
com particular ênfase nos países em desenvolvimento (12 são africanos, 4 latinoamericanos – dos quais 3
brasileiros, e 4 asiáticos) e equilíbrio de gênero (11 são mulheres). Começa-se a debater os temas e
palestrantes mais adequados para servir de orientação do Congresso entre estes pares, assim como de
buscar recursos para a sua realização.
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Relato da 59ª Reunião Anual da SBPC
Clóvis Cavalcanti,Pesquisador da Fundação Joaquim Nabuco e professor da [email protected]
Para a 59ª Reunião Anual da SBPC, em Belém do Pará (8-13 de julho de 2007), a EcoEco – que já
está filiada à SBPC – propôs a realização da seguinte mesa-redonda: “Os problemas ambientais na
perspectiva da Economia Ecológica”. A proposta foi aprovada e a mesa se realizou no dia 13, das 10h às
11h45, coordenada por Clóvis Cavalcanti, pesquisador da Fundação Joaquim Nabuco e professor da
UFPE. Os demais participantes foram José Eli da Veiga, professor da USP, e Larissa Chermont, professora
da UFPA.
A idéia foi mostrar que, apesar do ponderável significado dos problemas ambientais atuais, eles
não seriam propriamente o que se chama de questão ambiental. Tais problemas, de fato, expressariam
atitudes, valores, uma visão de mundo ou arcabouço mental, enfim, que trata a natureza como mais um
compartimento da economia: como um apêndice de menor importância na constelação de setores que
constituem a sociedade.Tal visão de mundo, sim, pareceria constituir a encarnação concreta da questão
ambiental. Pois a natureza, em conseqüência da postura assumida, vai surgir apenas como provedora de
recursos: seja como fonte inesgotável ou como sumidouro final ilimitado de todos os dejetos resultantes das
atividades humanas. Por isso, é tratada a custo zero. Mesmo do ponto de vista dos recursos naturais
indiscutivelmente não-renováveis (há quem negue isso), como o petróleo, a economia raciocina como se
eles fossem durar para sempre. Mas o ganho assim obtido não é renda. Trata-se de pura diminuição de
ativos: diminuição de patrimônio; diminuição da capacidade de prover sustento. Ora, por que esse
raciocínio não é adotado pela visão convencional da economia? É aqui que cabe procurar entender, na
perspectiva da Economia Ecológica, em que base se ergue a questão ambiental. Sobre o assunto, o quadro
mais geral foi oferecido pelo coordenador da mesa, Clóvis Cavalcanti. José Eli tratou do problema da
sustentabilidade do desenvolvimento e Larissa Chermont, de aplicações concretas de princípios da
Economia Ecológica. À sessão da EcoEco compareceram cerca de 70 pessoas.
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Livros Indicados:
Título: Uma Verdade Inconveniente: o que Devemos Saber (e Fazer) Sobre o Aquecimento GlobalAutor: Al goreEditora: ManoleResenha: O novo livro do ex-vice-presidente americano Al Gore, Uma Verdade Inconveniente: o que Devemos Saber (e Fazer) Sobre o Aquecimento Global, faz parte de seu projeto de conscientização ambiental, que inclui palestras ao redor do mundo, em que são apresentados dados incontestáveis sobre a crise climática provocada pela ação do homem no planeta, além do documentário Uma Verdade Inconveniente - Um aviso global, de grande repercussão nos EUA e no mundo político.A obra apresenta, de forma didática e envolvente, o resultado de toda uma vida dedicada à questão ambiental, cada vez mais inadiável. Com base em pesquisas realizadas por especialistas e instituições de renome, e compilando dados e exemplos no mundo inteiro, Al Gore produz uma obra eficaz de alerta sobre o aquecimento global. Narra também parte de sua trajetória de vida, focando os pontos-chave que o fizeram voltar a atenção para o ambiente. Uma Verdade Inconveniente esteve presente na lista de best-sellers dos EUA e venceu o Quills 2006, prêmio literário apoiado pela Reed Business Information e pela NBC, na categoria Histórias, Atualidades e Política.
Título: Os Senhores do ClimaAutor: Tim FlanneryEditora: RecordResenha: Como podemos combater as drásticas alterações climáticas pelas quais o mundo está passando, e como cada país é afetado por essas mudanças? Quanto mais combustível fóssil queimamos, mas danos causamos à atmosfera e ao planeta. O autor surpreende ao apresentar medidas simples que podem ser tomadas diariamente.
Título: A Emergência SocioambientalAutor: José Eli da VeigaEditora: SenacResenha: A rápida evolução por que passou a reflexão sobre problemas relacionados ao meio ambiente é analisada aqui.
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Título: Fernando AlmeidaAutor: “Os desafios da sustentabilidade: uma ruptura urgente”
Editora: Editora Campus Elsevier
Resenha: O presidente executivo do Conselho Empresarial Brasileiro para o
Desenvolvimento Sustentável – CEBDS, Fernando Almeida lança em junho seu
segundo livro, “Os desafios da sustentabilidade: uma ruptura urgente” pela
Editora Campus Elsevier. Engenheiro sanitarista por formação com mestrado em
Engenharia do Meio Ambiente pelo Manhattan College, Fernando foi diretor de
Meio Ambiente e Meteorologia da campanha RIO 2004 e presidente da Fundação
Estadual de Engenharia de Meio Ambiente – FEEMA. Um dos responsáveis pela
implantação no Brasil, de conceitos como ecoeficiência e desenvolvimento
sustentável, Fernando é professor da Coppe/UFRJ e integrante do board do
Millenium Ecosystem Assessments (Avaliação Ecossistêmica do Milênio), da ONG
World Resources Institute (WRI). No livro, o autor aborda os desafios da
sustentabilidade como um dramático dilema de todos nós, em três blocos
principais.
Título: A Vingança de GaiaAutor: JAMES LOVELOCK Editora: IntrínsecaResenha: Más notícias: o aquecimento global é um processo irreversível, e,
para que a Terra não seja inabitável já nas próximas décadas, é bom começar a
trabalhar agora para minimizar seus efeitos. Novo lançamento da Intrínseca, A Vingança de Gaia é o alerta de que a Terra pode estar se preparando para tornar
a vida difícil para o Homem. Quem avisa é James Lovelock, um dos pais do
movimento verde e autor e entusiasta da Teoria de Gaia, que acredita ser a Terra
um organismo vivo, que sabe se defender do ataque de parasitas. E, neste
momento, avisa ele, os parasitas somos nós, que exploramos sem dó os recursos
naturais do planeta e empesteamos a atmosfera com gases poluentes.
Em A Vingança de Gaia, Lovelock não se limita a apontar problemas. Também dá
sugestões de soluções, entre elas a polêmica defesa da energia nuclear como um
mal menor e uma forma de a Humanidade ganhar tempo. E o tempo, alerta ele, é
curto.
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Eventos Mudanças Climáticas:
Congreso Latinoamericano y Caribeño de Ciencias Sociales
La secretaría General, las Sedes de Argentina, Brasil, Chile, Costa Rica, Ecuador, Guatemala, México y los Programas de Cuba, El Salvador y República Dominicana de la Facultad Latinoamericana de Ciencias Sociales FLACSO, tienen el agrado de invitar a la comunidad de científicos/as sociales, a participar en el Congreso Latinoamericano y Caribeño de Ciencias Sociales, que se realizará en conmemoración de los 50 años de la Facultad, del 29 al 31 de octubre de 2007 en Quito, Ecuador.http://www.flacso.org.br/index.php?id=1630
3ª Conferência Regional sobre Mudanças Globais: América do Sul
São Paulo, SP Blue Tree Convention Ibirapuera de 4 a 8 de novembro de 2007
A 3ª Conferência Regional sobre Mudanças Globais: América do Sul, será mais uma grande oportunidade para ampliação e compartilhamento do conhecimento sobre o assunto. O encontro reunirá atores do setor privado, da academia e da sociedade civil na busca de um melhor entendimento e estabelecimento de sinergias e parcerias para obtenção de soluções científicas, tecnológicas e comerciais sustentáveis e socialmente corretas para esse grande desafio.
www.mudancasglobais.com.br, pelo e-mail [email protected] ou com Inês Iwashita, telefone (11) 3091-1685.
O 1° Congresso do "Centro-Oeste Brasileiro Sobre Mudanças Climáticas e Redução de Gases do Efeito Estufa"
Será realizado nos dias 07 a 10 de agosto de 2007, CUIABÁ e CHAPADA DOS GUIMARÃES- MT ,e contará com a participação de especialistas renomados sobre o assunto no Brasil, trazendo informações e discussões atuais sobre as tecnologias para redução de gases do efeito estufa e sobre o panorama nacional com enfoque no centro-oeste sobre às Mudanças Climáticas.
http://www.ecowood.com.br/evento/
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DVD’s Indicados:
Título: Uma Verdade InconvenienteTítulo Original: An Inconvenient Truth Sinopse: O ex-vice-presidente americano Al Gore apresenta uma advertência e impressionante visão do futuro de nosso planeta de nossa civilização, no documentário mais importante do ano. Trata-se de um alerta que perpassa mitos e conceitos errados, para revelar a mensagem que o superaquecimento global é um perigo real e imediato. Uma Verdade Inconveniente traz o convincente argumento de Gore, de que precisamos agir agora para salvar a Terra. Todos e cada um de nós podem mudar essa situação, na maneira que vivemos nosso dia-a-dia e nos tornarmos PARTE DA SOLUÇÃO. O segundo CD é um documentário do Greenpeace feito com capa reciclável. Imperdível.
Título: Enron: Os mais Espertos da ClasseTítulo Original: Enron: The Smartest Guys in the RoomSinopse: Baseado no best-seller de mesmo nome, é um estudo sobre um dos maiores escândalos econômicos dos EUA. O filme, indicado ao Oscar de melhor documentário, analisa um dos maiores desastres corporativos da história, no qual os chefes-executivos da sétima maior empresa do país fugiram com mais de um bilhão de dólares, deixando os investidores e os funcionários sem nada. Através de depoimentos internos e gravações de som e imagem, o filme revela o drama humano que se desenrola entre as paredes da ENRON, modelando a economia e o código de ética americano por muitos e muitos anos.
Sites Indicados sobre Mudanças Climáticas:
Núcleo de Assuntos Estratégicoshttp://www.nae.gov.br/
Fórum Brasileiro de Mudanças Climáticashttp://www.forumclima.org.br/
Centro Clima - Centro de Estudos Integrados sobre Meio Ambiente e Mudanças Climáticashttp://www.centroclima.org.br/
Observatório do Climahttp://www.clima.org.br/
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Blog sobre fontes renováveis de energia e questões ambientaishttp://ises-do-brasil.blogspot.com/
IDS / Universidade de Sussex-Inglaterrahttp://www.ids.ac.uk/ids/researchgateway/climate.html
Intergovernmental Panel on Climate Changewww.ipcc.ch
United Nations Framework Convention on Climate Change – UNFCCCwww.unfccc.int
ONG relacionada ao Al Gorehttp://www.climatecrisis.net/
Greenpeace Brasil / Climahttp://www.greenpeace.org/brasil/greenpeace-brasil-clima/
Ministério da Ciência e Tecnologia do Brasil - Climahttp://www.mct.gov.br/clima
COP-9 (Conferência das Partes 9) http://unfccc.int/cop9/
Imazon – Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazôniahttp://www.imazon.org.br
IPAM - Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia IPAMhttp://ipam.org.br
GTA - Grupo de Trabalho Amazônico http://www.gta.org.br
Conservação Internacional - Brasilhttp://www.conservation.org.br
Instituto SocioAmbientalhttp://www.socioambiental.org
Instituto Centro de Vidawww.icv.org.br
El Banco Mundial y el medio ambiente http://go.worldbank.org/HIPFVOS4L0
Reseña temática sobre el cambio climático http://go.worldbank.org/3PXWZPN100
Preguntas frecuentes sobre el cambio climático http://go.worldbank.org/HK0SHW1F00
Site da ONU para mudanças climáticashttp://www.un.org/climatechange/index.shtml
Ambiente Brasil
http://www.ambientebrasil.com.br/composer.php3?base=./carbono/index.php3&conteudo=./carbono/rosto.html
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VII Encontro da Sociedade Brasileira de Economia Ecológica 28 à 30 de novembro de 2007
UNIFOR - Universidade de Fortaleza (CE)
Governança Ambiental: implicações para oSemi-Árido Brasileiro
Sessão 1: Teoria econômica e meio ambiente: micro e macroeconomia, métodos de valoração.
Sessão 2: Políticas públicas e instrumentos econômicos para o desenvolvimento sustentável.
Sessão 3: Desenvolvimento urbano e meio ambiente.
Sessão 4: Sustentabilidade de biomas ameaçados.
Sessão 5: Pobreza e meio ambiente: o semi-árido brasileiro.
Chamada de Trabalhos:30/09 – Data limite para Envio do Resumo Expandido
20/10 – Resposta do Comitê Científico
10/11 – Data limite para o envio do Trabalho Completo
Os trabalhos devem ser enviados para [email protected] . Mais informações www.ecoeco.org.br.
Realização: Sociedade Brasileira de Economia Ecológica (ECOECO) Co-Realização: Universidade de Fortaleza (UNIFOR) Apoio: International Society for Ecological Economics - ISEE
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