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Page 1: Boletim SBI: ano XIII - nº 52

Uma publicação da Sociedade Brasileira de Infectologia – Ano XIII – n0 52 – Out/Nov/Dez de 2015

Doenças tropicais em pauta no 9o Congresso Mundial sobre Doenças Infecciosas PediátricasDe 18 a 21 de novembro, o Rio de Janeiro (RJ) recebeu o mais importante evento da infecto-pediatria em todo o mundo, o 9o Congresso Mundial sobre Doenças Infecciosas Pediátricas. Entre os temas que protagonizaram as discussões, o Zika vírus, a chikungunya e a dengue em crianças. Página 5

Microcefalia e Zika vírus: tudo sobre o caso que

colocou o Brasil em alertaAulas do Infecto2015 já estão disponíveis no portal

Para aqueles que não puderam comparecer ao XIX Congresso Brasileiro de Infectologia, de 26 a 29 de agosto, em Gramado (RS), ou que gostariam de rever os assuntos debatidos durante os três dias de encontro, os vídeos das aulas estarão no portal da SBI. Página 6

Realizado pelo Ministério da Saúde, de 17 a 20 de novembro, no Centro de Convenções Poeta Ronaldo Cunha Lima, em João Pessoa (PB), o 10o Congresso de HIV/Aids e o 3o Congresso de Hepatites Virais superaram todas as expectativas, tanto do público como dos organizadores e palestrantes. Página 7

10o Congresso de HIV/Aids e 3o Congresso de Hepatites Virais

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OHIV é um dos maiores de-

safios que a humanidade já

enfrentou. Ainda não temos

uma vacina efetiva e até o momento

não conseguimos um tratamento

curativo que possa ser oferecido a um

grande número de pessoas. Existem

aproximadamente 37 milhões de

pessoas infectadas em todo o mundo,

mas somente a metade sabe de seu

diagnóstico, segundo estimativas da

Organização Mundial da Saúde (OMS).

Para eliminar a aids como problema

de saúde pública, a OMS estabeleceu,

como meta, que, até 2020, 90% das

pessoas que vivem com HIV estejam

diagnosticadas, 90% destas estejam

tratadas e 90% das tratadas estejam

com supressão viral (carga viral abaixo

dos limites de detecção).

Apesar do gigantesco esforço que ainda

teremos que empreender, já avançamos

muito. Em 2014, quase 15 milhões de

pessoas estavam recebendo tratamento,

das quais 90% em países de baixos e

médios recursos. O tratamento, apesar de

não ser curativo, permite controlar a infec-

ção e fazer com que as pessoas tenham

uma vida produtiva, com qualidade. Os

medicamentos também se mostraram

úteis para diminuir a transmissão do vírus.

Reduzindo a quantidade de vírus na pes-

soa infectada, limita sua transmissão aos

parceiros sexuais. Ademais, pode ser usa-

do como profi laxia pós e pré-exposição

(indivíduo não infectado pode utilizar os

medicamentos para evitar a contamina-

ção após uma relação sexual desprotegida

ou mesmo antes da relação).

Dia mundial de luta contra aids – 2015

Esses avanços nos colocam em uma

posição histórica, quando temos dis-

poníveis elementos suficientes para

controlar defi nitivamente a epidemia:

conhecimento, preservativos, método

diagnóstico fácil e rápido (teste rápido

em sangue e saliva) e tratamento efetivo

(antirretrovirais), que serve, inclusive,

como profi laxia. O Brasil detém todas

essas ferramentas, com capacidade

de produção nacional. Agora nos cabe

diagnosticar precocemente o maior

número de casos, principalmente nas

populações de maior risco de ter a in-

fecção, especialmente entre os jovens

do sexo masculino que se relacionam

sexualmente com outros homens. Nesse

grupo, para os que não conseguem ade-

rir à prática de sexo seguro, considerar

oferecer profi laxia pré-exposição.

Apesar dos dados ofi ciais nos revela-

rem padrões favoráveis nos porcentuais

de diagnosticados (80% da estimativa

do número total de pessoas com HIV

no Brasil), convivemos com a realidade

de grande número de casos tendo diag-

nóstico tardio (quando já apresentam

infecções oportunistas) em boa parte

dos serviços especializados no cuidado

de pessoas com HIV/aids. Profi ssionais

de saúde, devemos intensifi car o ofere-

cimento de teste rápido para popula-

ções de risco acrescido. Quanto maior

o número de casos diagnosticados,

em período mais inicial da infecção, e

instituído tratamento, menos transmis-

são ocorrerá, permitindo-nos reduzir

de forma mais robusta a epidemia em

nosso País e no mundo.

Érico Arruda, presidente da SBI

EDITORIAL

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3ATUALIZAÇÃO

Microcefalia e Zika vírus: tudo sobre o caso que colocou o Brasil em alerta

De acordo com o Ministério da Saú-

de, até 21 de novembro, 739 casos

suspeitos de microcefalia foram

notifi cados em todo o Brasil. Concentrado

especifi camente na Região Nordeste, já

atingiu 160 cidades de 9 estados, sendo

Pernambuco o detentor do maior número

de casos (487), seguido por Paraíba (96),

Sergipe (54), Rio Grande do Norte (47), Piauí

(27), Alagoas (10), Ceará (9), Bahia (8) e Goiás

(1). Em uma semana, o Ministério da Saúde

apontou para o aumento de 85% dos re-

gistros de microcefalia, também em outras

regiões, subindo de 55 para 160 cidades e

chegando à Região Centro-Oeste do País.

A maior suspeita da doença está rela-

cionada ao Zika vírus, cuja identificação

em território nacional é datada de abril.

Transmitido pelo Aedes aegypti, vetor co-

mum da dengue e da febre chikungunya,

a circulação do vírus já foi comprovada

nos 18 estados brasileiros nos quais já

foram notificados casos autóctones nos

últimos meses.

Apesar de o ministro da Saúde, Marcelo

Castro, afi rmar que há 90% de chances de

o alto índice de microcefalia ser causado

pelo vírus, o infectologista Rodrigo Ange-

rami, coordenador do Comitê Científi co de

Doenças Emergentes da SBI, aponta para o

fato de que, embora as evidências apontem

cada vez mais para a possível associação

entre a infecção pelo Zika vírus e o risco de

microcefalia, ainda se trata de uma hipóte-

se, embora bastante consistente, passível

de ser comprovada cientifi camente, em

caráter defi nitivo, por estudos epidemio-

lógicos laboratoriais. “Antes de qualquer

conclusão defi nitiva, as demais hipóteses

devem ser devidamente investigadas e

afastadas e a associação com a infecção

pelo Zika vírus deve ser defi nitivamente

comprovada laboratorialmente em um

maior número de casos. Trata-se de um ví-

rus, que, embora tenha sido originalmente

identifi cado na década de 1950, nunca es-

teve associado a um cenário epidemiológi-

co tão complexo, cocirculando com outros

dois vírus (dengue e chikungunya) em áreas

densamente povoadas. É imprescindível,

neste momento, que sejam conduzidos

estudos clínicos, epidemiológicos e labo-

ratoriais, bem desenhados, com a parceria

entre a academia e a saúde pública, para

que se investigue, compreenda e dimen-

sione não apenas a possível associação do

Zika vírus com o risco de microcefalia, mas

também o potencial desse vírus com outras

complicações graves, como a síndrome

de Guillain-Barré. Somente com dados

cientifi camente consistentes e validados

é que poderão ser estabelecidas medidas

apropriadas para o enfrentamento de pos-

sível situação epidêmica e suas potenciais

consequências”, explica o especialista.

Além da identificação de evidências

de que o Zika vírus teria a capacidade de

atravessar a barreira placentária e, portanto,

potencial de causar infecção intraútero do

feto, há uma nítida associação temporal e

geográfi ca entre a detecção da circulação

epidêmica do Zika vírus nos estados do

Nordeste e o significativo aumento da

incidência de casos de microcefalia. Outra

evidência que aponta para uma possível

relação causal do Zika vírus com o risco de

microcefalia é o fato de que uma signifi cati-

va proporção de mães cujos fi lhos vieram a

nascer com microcefalia relatou quadro cli-

nico de febre exantema (sintomas descritos

e esperados na doença causada pelo Zika

vírus) em algum momento da gestação

Érico Arruda, presidente da SBI, afi rma

que ainda não se sabe como o vírus exer-

ce seu efeito patogênico para chegar à

microcefalia. “É possível que exista algum

efeito direto no cérebro, causando danos

ao desenvolvimento, tornando-o menor e

com falhas em sua estrutura tecidual.”

Arruda reconhece que as evidências

apontam para um efeito causal entre a

infecção pelo Zika vírus e a microcefalia.

“É fundamental agora conhecer melhor

tal fenômeno e tentar, assim, minimizar

sua ocorrência e possíveis danos, além de

detectar se é defi nitivo ou não.”

Angerami destaca, ainda, que diferen-

tes agentes, já bem conhecidos, podem

estar associados ao risco de microcefalia,

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4 ATUALIZAÇÃO

incluindo-se infecções intraútero por

agentes como vírus da rubéola, citomega-

lovírus e toxoplasmose, desnutrição grave

da gestante, e exposição a drogas e álcool,

e que devem, portanto, ser considerados

para investigação.

NOTIFICAÇÃOEm 22 de outubro, a Secretaria de Saúde

do Estado de Pernambuco (SES/PE) comu-

nicou à Secretaria de Vigilância em Saúde

do Ministério da Saúde (SVS/MS) sobre o

aumento dos casos de microcefalia desde

agosto. Na ocasião, houve 26 neonatos

com microcefalia. Atraindo a atenção de

especialistas e autoridades, foi possível

constatar que, de janeiro a outubro de 2015,

aconteceu uma mudança no padrão de

incidência dessa malformação congênita

quando comparado ao dos anos anteriores.

A SES/PE uniu forças com o Ministério da

Saúde e com a Organização Pan-Americana

de Saúde para investigar o chocante au-

mento: enquanto em todo o ano de 2014

há registro de 12 casos, até o dia 21 de

novembro de 2015 há registro de 487 casos,

ou seja, uma taxa mais de 40 vezes maior.

A partir da notifi cação, a SVS/MS tomou

as seguintes ações: notifi cou a Organização

Mundial da Saúde, classifi cando o evento

como potencial emergência de saúde

pública de importância internacional, por

causar grave impacto e ser um episódio

incomum e inesperado; reuniu-se com ges-

tores da SES/PE e especialistas e integrou-se

à investigação por meio da Equipe de Res-

posta Rápida da SVS/MS; ativou o Centro

de Operações de Emergência em Saúde

Pública no âmbito do Plano de Resposta; e

publicou a Portaria CM no 1.813, declarando

Emergência em Saúde Pública de Impor-

tância Nacional por alteração do padrão da

ocorrência de microcefalia no Brasil.

GRUPO INTERMINISTERIALA presidente Dilma Rousseff determinou

a criação de um grupo interministerial,

coordenado pela Casa Civil, para tratar do

surto de microcefalia espalhado por nove

estados brasileiros, acelerando as investi-

gações. Na mira do ataque também está o

mosquito Aedes aegypti.

O Grupo Estratégico Interministerial

de Emergência em Saúde Pública de

Importância Nacional e Internacional

(GEI-ESPII) reuniu 19 órgãos e entidades

a fi m de propor medidas de emergência

em saúde pública, com ações urgentes de

prevenção, controle, contenção de riscos,

danos e agravos.

O Ministério da Saúde envia às Secreta-

rias Estaduais de Saúde orientações sobre

o processo de notificação, vigilância e

assistência às gestantes e aos bebês diag-

nosticados com a malformação. Em fase de

estudo, o Ministério da Saúde afi rma que

não é possível estabelecer o causador do

elevado registro e, por isso, prontifi ca-se

a atualizar as informações passadas aos

estados e municípios. O órgão também

orienta os profi ssionais de saúde no sentido

de comunicar imediatamente, por meio de

formulário eletrônico, todo caso suspeito

de microcefalia (bem se fortaleça contro-

le vetorial em áreas urbanas, conforme

estabelecido nas diretrizes do Programa

Nacional de Controle da Dengue).

AEDES AEGYPTI E GESTAÇÃOAngerami informa que não é a pri-

meira vez que o mosquito transmissor é

relacionado a complicações na gestação.

No caso da dengue, há complicações

descritas no caso da infecção durante a

gestação, dentre as quais se incluem risco

de hemorragias intrauterinas, trabalho de

parto prematuro e, em algumas situações,

óbito fetal. Em relação ao vírus chikun-

gunya, há descrição de casos de retardo

do desenvolvimento neuropsicomotor

em crianças nascidas de mães infectadas

por esse vírus durante a gestação.

COMBATENDO O VETOR“A maneira mais eficiente, até onde

conhecemos essa doença e em analogia à

dengue, é combater o mosquito transmissor,

evitando seus criadouros, que, na maioria

das vezes, estão no interior dos domicílios.

Cada cidadão deve cuidar de seu ambiente,

procurando e eliminando focos de prolifera-

ção”, enfatiza o presidente da SBI.

Todas as medidas para evitar a picada do

mosquito são válidas, mas não protegem

completamente. “O uso de repelentes

fi gura como medida potencialmente efi caz,

desde que utilizados produtos aprovados

pelos órgãos regulatórios e aplicados con-

forme orientado pelo fabricante. Contudo,

a melhor forma de prevenção é interrom-

per a reprodução e, consequentemente, a

infestação pelo mosquito vetor, é barrar a

propagação do mosquito”, reforça o coor-

denador do Comitê Científi co de Doenças

Emergentes da SBI.

Aproximadamente 80% dos criadores

do vetor são residenciais, por isso não só

providências coletivas são importantes,

mas, também, individuais. Simples atitudes

são muito efi cazes, como: armazenar lixo

em sacos plásticos fechados; não jogar lixo

em terrenos baldios; fazer furos na parte

inferior das lixeiras externas para evitar o

acúmulo de líquidos; manter a caixa d’água

completamente fechada; não deixar água

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5CIENTÍFICO

De 18 a 21 de novembro, a

cidade do Rio de Ja-

neiro (RJ) recebeu o

mais importante evento da

infectopediatria em todo

o mundo, o 9o Con-

gresso Mundial sobre

Doenças Infecciosas

Pediátricas. Entre os

temas que protagoni-

zaram as discussões,

o Zika vírus, a chi-

kungunya e a den-

gue em crianças. O

encontro contou com

a presença maciça de

1.500 congressistas, sendo

300 deles brasileiros.

Além disso, houve espaço para

tratar da terapia de citomegalovírus

congênito, principal vírus que pode causar

surdez nas crianças no primeiro ano de

vida. Estiveram presentes no Congresso

David W. Kimberlin e Pablo J. Sanchez, auto-

res do estudo estabelecendo o tratamento

com uso de fármaco por via oral durante

6 meses, que antigamente se aplicava em

apenas 6 semanas, acarretando menor per-

da auditiva e menos impacto neurológico.

“Foi interessante ver a relevância dos

debates em torno do Zika vírus e a possibi-

lidade de ele estar associado aos alarman-

tes números de casos de microcefalia no

País”, destaca Rosana Richtmann, membro

do Comitê Científico de Imunizações

da SBI. Sua apresentação contemplou

doenças imunopreveníveis no passado,

presente e futuro, abordando o rotavírus, o

sarampo e a coqueluche. A infectologista

abordou a introdução da vacina contra

o rotavírus nas Américas, que comemo-

rou 10 anos apresentando excelentes

resultados, em termos de prevenção de

hospitalização e redução expressiva de

mortalidade. Segura e efi caz, essa vacina

integra o calendário do Programa Nacional

de Imunizações. Ainda discorreu sobre o

grave surto ocorrido em 2013 e 2014 e

controlado em 2015, especialmente na

região do Ceará. “Alcançamos o controle

por meio da vacina, que é o principal meio

para prevenir a doença, e, felizmente, esta-

mos novamente livres dela. É importante

manter a vacinação em dia, com uma

cobertura alta, em torno de 90%, para

garantir a erradicação”, explica.

Outro problema passível de preven-

ção, a coqueluche gera, hoje, grande

preocupação aos especialistas, pois,

infelizmente, ainda apresenta elevado

índice de casos. O grupo de maior risco

é o de bebês antes dos 6 meses de vida,

que ainda não têm imunidade para a

doença. “Por isso, recomendamos a vaci-

na na gestante para proteger a criança,

que seria a tríplice bacteriana de adulto,

aplicada de 27 a 34 semanas de gestação,

para que o bebê, ao nascer, tenha os

anticorpos transmitidos pela mãe através

da placenta”, indica Rosana.

acumulada em calhas e coletores de águas

pluviais; verifi car o nivelamento da laje para

não criar poças; recolher recipientes que

possam ser reservatórios de água parada,

como garrafas, galões, baldes e pneus,

conservando-os guardados ou tampados;

encher com areia os pratinhos dos vasos de

planta; e tratar água de piscinas e espelhos

d’água com cloro.

Os programas municipais utilizam, entre

as medidas de controle do vetor, a nebuli-

zação, incluindo-se o popular fumacê, para

eliminar os mosquitos adultos; entretanto,

se não forem extintos os focos onde as

larvas se concentram, em poucos dias

o local estará novamente infectado por

transmissores.

SOBRE O ZIKA VÍRUSO Zika vírus (genoma RNA), da família

Flaviviridae e do gênero Flavivirus, causa,

em humanos, a doença conhecida como

febre Zika. Encontrado em 1947 nos

macacos habitantes da Floresta Zika, em

Uganda, contaminou os primeiros seres

humanos em 1952, no leste africano,

chegando à Ilha de Yap e outras ilhas

próximas da Micronésia em 2007 e à

Polinésia Francesa em 2013. O registro

de surto no Brasil data de abril de 2015,

atingindo principalmente a Bahia, onde

foram registrados 62.635 casos.

Equivocadamente, tais surtos foram

relacionados ao vírus da dengue. O Zika só

foi tido como agente responsável após aná-

lises sorológicas e de biologia molecular. Foi

na Polinésia Francesa que ocorreram os pri-

meiros casos da síndrome de Guillain-Barré

após infecção por Zika. Nesse mesmo surto

também houve registros de complicações

neurológicas, como encefalites, menin-

goencefalites, parestesias, paralisia facial

e mielites, além de outras complicações,

como trombocitopenia.

A febre Zika caracteriza-se por uma do-

ença febril aguda, autolimitada, que, geral-

mente, não se associa a manifestações mais

graves. Quando sintomática, causa febre

baixa, exantema maculopapular, artralgia,

mialgia, cefaleia, hiperemia conjuntival e,

menos frequentemente, edema, odinofa-

gia, tosse seca e alterações gastrointestinais,

principalmente vômitos.

Doenças tropicais em pauta no 9o Congresso Mundial sobre Doenças Infecciosas Pediátricas

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6 CIENTÍFICO INOVAÇÃO

AFECÇÕES DO MESMO VETORDiversas mesas trouxeram à discussão

dengue, chikungunya e Zika vírus, do-

enças transmitidas pelo mesmo vetor, o

Aedes aegypti, nos países africanos, região

em que mais crianças são acometidas por

esses males, embora o aumento progres-

sivo das notificações no Brasil seja cada

vez mais relevante.

Segundo o Ministério da Saúde, de

janeiro a 14 de novembro identifi caram-se

1,5 milhão de casos de dengue no Brasil,

aumento de 176% comparativamente ao

mesmo período do ano passado, quando

foram registrados 555,4 mil casos. Existe

grande preocupação em termos de evitar

a contaminação nos grupos infantis, pois o

licenciamento da vacina não será aprovado

para os menores de 9 anos de idade, em de-

corrência de sua inefi cácia nessa faixa etária.

“A vacina da dengue não fará bloqueio

em situações de surto. Serão três doses,

no intervalo de seis meses, altamente

efi caz na prevenção de rotina”, esclarece.

A princípio, não estará disponível na rede

pública de saúde até que se tenha mais

entendimento. Inclusive, a quantidade pro-

duzida mundialmente não será sufi ciente

para toda a população. Rosana pondera ser

essencial pensar estrategicamente e defi nir

os benefi ciários da imunização.

Um novo vírus começa a se espalhar

pelos trópicos, o Zika, da mesma família da

dengue, cuja predileção é atingir o sistema

nervoso central, conforme comprovado

na década de 1960 por meio de estudo

em ratos. Até 24 de novembro, 18 estados

receberam confirmação laboratorial da

doença, com maior incidência no Nordeste.

Na Bahia, aliás, onde está a maior concen-

tração de casos, até o início de novembro

foram feitas 62.635 notifi cações.

Investiga-se a possibilidade de o Zika

ser responsável pelo elevado registro de

microcefalia: até meados de novembro,

foram 739 suspeitas. “Já foi isolado líquido

amniótico de mães com diagnóstico de

Zika vírus, em uma análise em retrospec-

tiva. Por se tratar de um quadro clínico

tênue, benigno e bastante brando, de

curta duração (três a cinco dias), os sin-

tomas como febre, rash cutâneo, coceira

e conjuntivite podem passar desperce-

bidos, sem que a gestante procure ajuda

médica”, alerta a infectologista.

A ideia é associar a fase temporal da do-

ença com o achado do vírus nas amostras

de líquidos amnióticos. Os especialistas se

preocupam não somente com o estágio

atual, mas com a temporada do verão tão

próxima, época com maior quantidade de

mosquitos e proliferação na Região Sudes-

te. “Temos o vetor, entretanto não temos

pacientes contaminados; por essa razão,

a principal indicação é de as mulheres

não engravidarem.” Isso porque já existe a

descrição de transmissão potencialmente

sexual e por meio do leite materno.

No Brasil, também foram registrados

em 2015, até 14 de novembro, 17.146

suspeitos de chikungunya, sendo 6.726

confirmados. Com alta circulação no

Nordeste, segundo a infectologista, o que

mais chama a atenção é a dor articular,

que pode ser crônica e até incapacitante

(pode durar de seis meses a um ano).

24/8/2016X CONGRESSO PAULISTA DE INFECTOLOGIALocal: Mendes Convention Center (Santos – SP)Informação: www.infectologiapaulista.org.br/congresso2016

9/11/2016XV CONGRESSO BRASILEIRO DE CONTROLE DE INFECÇÃO E EPIDEMIOLOGIA HOSPITALARLocal: Minascentro (Belo Horizonte – MG)Informação: www.controledeinfeccao2016.com.br

AGENDA DE EVENTOS

Para aqueles que não puderam com-

parecer ao XIX Congresso Brasileiro

de Infectologia, de 26 a 29 de agos-

to, em Gramado (RS), ou que gostariam

de rever os assuntos debatidos durante

os três dias de encontro, os vídeos das

aulas estarão no portal da SBI. A previsão

é de que todas entrem no site até janeiro.

“ Trata-se da maior quantidade de

aulas já disponibilizadas pela SBI desde

sua existência”, comenta Érico Arruda,

presidente da Sociedade. “Valorizamos a

educação continuada, proporcionando

oportunidades como esta ao nosso asso-

ciado adimplente, que poderá acompa-

nhar apresentações variadas de debates,

mesas-redondas e conferências ocorridas

durante o Infecto2015”, acrescenta.

São, ao todo, 74 palestras individuais agru-

padas em 39 sessões, distribuídas em Mesas-

-Redondas, Vinho com Especialistas, Casos

Clínicos Interativos, Controvérsias, Inovação

e Estado da Arte, Top Papers, Conferências e

Cafés com Professor. As aulas serão postadas

no portal com intervalos regulares.

Os sócios quites já podem acessar as ses-

sões com os temas “HIV e Aids” e “Hepatites

Gerais e Micologia”. Além disso, os DVDs da

TV MED contam com mais 42 sessões do

XIX Congresso Brasileiro de Infectologia, 15

cursos e 4 sessões de Casos Clínicos pré-

-congresso. Um deleite para os que buscam

se inteirar, cada vez mais, com assuntos mais

atuais e ligados à prática da Infectologia.

Palestrantes comemoram o sucesso do evento

Aulas do Infecto2015 já estão disponíveis no portal

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OUT/NOV/DEZ | 2015www.infectologia.org.br

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Realizado pelo Ministério da Saúde,

de 17 a 20 de novembro, no Centro

de Convenções Poeta Ronaldo

Cunha Lima, em João Pessoa (PB), o 10o

Congresso de HIV/Aids e o 3o Congresso

de Hepatites Virais superaram todas as

expectativas, tanto do público como dos

organizadores e palestrantes.

Em suas edições anteriores, pautava-se

somente no público leigo. Este ano, além

de tratar de prevenção, o congresso tornou-

-se mais abrangente, com a inclusão de

pautas científi cas. “Ampliou seu espectro

de atuação. Além de atingir aqueles com

pouco conhecimento técnico, conseguiu

incluir médicos especialistas, propiciando

a eles a possibilidade de discutir com a po-

pulação”, afi rma Juvêncio Furtado, professor

de Infectologia da Faculdade de Medicina

do ABC e ex-presidente da SBI.

O encontro contou com quase 3 mil

participantes, um volume que chamou a

atenção dos organizadores. “A capacidade

de mobilização por parte dos congressis-

tas, vindos de todas as regiões do País, é

realmente um marco, pois temos certeza

de que as informações científi cas e a troca

de boas práticas realizadas no evento terão

impacto positivo na prática clínica dos

participantes”, comenta Evaldo Stanislau,

presidente da Comissão Científi ca do 3o

Congresso de Hepatites Virais.

O mote “Novos Horizontes, Novas Res-

postas” representou, de forma concisa, o

quão apropriado foi o momento em que

o evento ocorreu e como as possibilidades

dentro do campo que abrange as doenças

discutidas se ampliam cada vez mais. De

acordo com Stanislau, o Brasil está na dian-

teira em assumir o tratamento de HIV como

prevenção e em cogitar a possibilidade

de transformar a profi laxia pré-exposição

(PrEP) em política pública.

Por esse motivo, houve uma extensa

e importante discussão sobre PrEP e

também sobre profi laxia pós-exposição

(PEP), mostrando situações nas quais se

recomenda o uso de antirretrovirais para

pessoas de risco e pessoas que foram ex-

postas ao HIV. O evento também contou

com ofi cinas voltadas a públicos específi -

cos: profi ssionais que atuam no tratamen-

to da aids fora da especialidade, mas que

pertencem às equipes de saúde, como

enfermeiros, farmacêuticos, psicólogos e

voluntários de assistência, assim como fó-

runs voltados ao público LGBT+ e ativistas

da causa. “Todas essas populações foram

acolhidas em fóruns específicos para

discutir questões relacionadas a direitos,

vulnerabilidades, inspeção social e com-

bate à discriminação”, ressalta Stanislau.

Quanto às hepatites, a mais pautada foi

a do tipo C, que caminha para se tornar

uma doença crônica, com a maioria dos

pacientes curada. “Temos, atualmente,

um arsenal terapêutico mais amplo do

que tínhamos há alguns anos. Como

alternativa terapêutica, disponibilizada

pelo programa nacional, contamos com

os novos fármacos para tratamento da

hepatite C que não necessitam de inje-

ções. Há, ainda, a possibilidade de tratá-la

por um período mais curto de tempo: 12

semanas e não mais 48, tomando dois

comprimidos por dia. Isso trouxe muita

facilidade e proporcionará chances de

cura mais elevadas”, declara Furtado.

Um dos mais importantes convidados

na área foi Marc Bourliére, da França, que

abordou, em sessão plenária, o tema “Eli-

minação da hepatite C como problema

de saúde pública”, com a atual realidade

do país, que, hoje, tem a maior experiência

mundial de tratamento dos pacientes com

esses novos fármacos.

Os convidados internacionais vieram

de diversos cantos do mundo e tiveram

importante destaque no evento, uma vez

que todos são de alta relevância cientí-

fica. “Buscamos privilegiar a participação

dos convidados internacionais e apro-

veitamos sua importância nas áreas em

que atuam para colocá-los em posição de

destaque”, comenta Stanislau.

Julio Montaner, diretor do British Colum-

bia Centre for Excellence in HIV/Aids, foi

responsável pela conferência de abertura

Novos Horizontes, Novas Respostas: principais destaques do 10o Congresso de HIV/Aids

e do 3o Congresso de Hepatites Virais

De um congresso com característica de prevenção para um evento que incluísse pautas científicas

O público compareceu em peso ao congresso

EVENTO

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8 EVENTO

DIRETORIAPresidenteÉrico ArrudaVice-presidenteThaís GuimarãesPrimeira-secretáriaMônica Jacques de MoraesSegunda-secretáriaCláudia CarrilhoPrimeiro-tesoureiroLuís Fernando Aranha CamargoSegundo-tesoureiroUnaí Tupinambás

COORDENADORESCientí� coHeloísa Ramos Lacerda de MeloComunicação Alexandre CunhaInformática Cristiane da Cruz Lamas

PRESIDÊNCIA DAS SOCIEDADES FEDERADAS Fernando Luiz de A. Maia (AL)Eucides Batista da Silva (AM)Fabianna Marcia M. Bahia (BA)Melissa Soares Medeiros (CE)Henrique Marconi Sampaio Pinhati (DF)Janaina Aparecida S. Casotti (ES)Josela Palmeira (GO)José de Macedo Bezerra (MA)Carlos Ernesto Ferreira Starling (MG)José Ivan de A. Aguiar (MS)Maria do Perpétuo S. C. Correa (PA)Francisco Bernardino da Silva Neto (PB)Heloísa Ramos Lacerda de Melo (PE)Maria do Amparo S. Cavalcanti (PI)José Luiz de Andrade Neto (PR)Alberto Chebabo (RJ)André Prudente (RN)Lessandra Michelim R. N. Vieira (RS)Antonio Fernando B. Miranda (SC)Iza Maria Fraga Lobo (SE)Thaís Guimarães (SP)Myrlena Mescouto (TO)

Sede da SBI R. Domingos de Moraes, 1061 - cj. 114 - CEP 04009-002São Paulo / SPTel/fax: (11) 5572-8958 / 5575-5647E-mail: [email protected]

Secretária: Givalda Guanás

EXPEDIENTEProdução:Acontece Comunicação e Notí[email protected] responsável: Chico Damaso (MTb 17.358/SP)Arte e diagramação:Giselle de Aguiar Pires

Federada da

“Por que pensar no fi m da epidemia em

2030?”, que buscou avaliar situações em que,

no futuro, será possível acabar com a epide-

mia de aids. Também estiveram presentes a

ONG Médicos Sem Fronteiras, representada

pela coordenadora de políticas de acesso

para HIV e hepatite, Isabelle Andrieux, que

discutiu os medicamentos genéricos para

hepatite e aids, e Kenneth Meyer, pesquisa-

dor norte-americano, responsável por trazer

à tona a discussão sobre PrEP.

Margareth Hellard, chefe do Centre for

Population Health, da Austrália, veio ao Bra-

sil para abordar as questões do tratamento

de pessoas em situação de vulnerabilidade,

como usuários de drogas, pessoas em situ-

ação de rua ou privadas de sua liberdade.

Na área das hepatites, o congresso contou

com a presença de Francisco Averhof, do

Centro de Controle e Prevenção de Doen-

ças de Atlanta (Estados Unidos), além do

canadense Jordan Feld, uma das maiores

autoridades no campo das hepatites virais.

Em meio às discussões, houve um resga-

te da hepatite Delta, um tipo extremamen-

te negligenciado com o qual não há muita

experiência fora da região amazônica.

“As políticas públicas eram muito tênues,

tímidas, e agora, a partir desse congresso,

assim como do fórum que discutiu ex-

clusivamente os problemas amazônicos,

passará a ser uma hepatite com especial

atenção por parte do Ministério da Saúde”,

assegura Stanislau.

A SBI esteve presente para apoiar e aju-

dar na construção de um evento balan-

ceado, com programação científica perti-

nente e atualizada, assim como temas de

extrema relevância. O presidente da SBI,

Érico Arruda, representou a Sociedade

na solenidade de abertura, compondo a

mesa de autoridades e representantes da

sociedade civil organizada nas áreas de

HIV/Aids e Hepatites Virais. “O evento foi

excelente, com grande participação de

profissionais da saúde e ativistas. A SBI

também foi representada por Monica Jac-

ques, Unaí Tupinambás, Evaldo Stanislau,

Valdileia Veloso, Estevão Portela, Juvêncio

Furtado, João Mendonça e Maria Cássia,

entre outros membros da Diretoria e dos

comitês que contribuíram com a progra-

mação científica”, afirma.

O Congresso também recebeu apoio da

Sociedade Brasileira de Hepatite (SBH) e da

Sociedade Brasileira de Medicina Tropical

(SBMT). Além da programação científi ca,

os congressistas usufruíram de uma vila

cultural, com atividades musicais, artesa-

nato e comércio, para que a experiência

fosse bem aproveitada do começo ao fi m.

A SBI esteve presente para ajudar na construção de um evento com programação científica pertinente e atualizada

Érico Arruda, presidente da SBI, falou sobre

interações com medicamentos de uso contínuo em HIV

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