Transcript

Verso il 3 Forum Internazionale Paulo Freire

152

MOACIR GADOTTI

BONITEZA DE UM SONHO Ensinar-e-aprender com sentidoSo Paulo

Editora Cortez

2002

SUMRIO1 Por que ser professor? ............................................................. 3

2 Crise de identidade, crise de sentido ....................................... 10

3 Formao continuada do professor ..........................................17

4 Ser professor na sociedade aprendente .................................. 22

5 Aprender com emoo, ensinar com alegria ........................... 28

6 Educar para uma vida sustentvel .......................................... 37

7 Ser professor, ser educador .................................................... 42

Bibliografia ..................................................................................... 50

Sobre o autor ................................................................................. 52

1

Por que ser professor?

A beleza existe em todo lugar. Depende do nosso olhar, da nossa sensibilidade; depende da nossa conscincia, do nosso trabalho e do nosso cuidado. A beleza existe porque o ser humano capaz de sonhar.

Inspirei-me em Paulo Freire para escrever esse livro. Paulo Freire nos fala em sua Pedagogia da autonomia da boniteza de ser gente, da boniteza de ser professor: ensinar e aprender no podem dar-se fora da procura, fora da boniteza e da alegria. Paulo Freire chama a ateno para a essencialidade do componente esttico da formao do educador. Coloquei um ttulo que fala de sonho e de sentido que querem dizer a mesma coisa. Sentido quer dizer caminho no percorrido mas que se deseja percorrer, portanto, significa projeto, sonho, utopia. Aprender e ensinar com sentido aprender e ensinar com um sonho na mente. A pedagogia serve de guia para realizar esse sonho.

Paulo Freire, em 1980, logo aps voltar de 16 anos de exlio, reuniu-se com um grande nmero de professores em Belo Horizonte, Estado de Minas Gerais. Falou-lhes de esperana, de sonho possvel, temendo por aqueles e aquelas que pararem com a sua capacidade de sonhar, de inventar a sua coragem de denunciar e de anunciar, aqueles e aquelas que, em lugar de visitar de vez em quando o amanh, o futuro, pelo profundo engajamento com o hoje, com o aqui e com o agora, que em lugar desta viagem constante ao amanh, se atrelem a um passado de explorao e de rotina.

Dezessete anos depois, em 1997, em seu ltimo livro, lanado trs semanas antes de falecer, ele se mantinha fiel mesma linha de pensamento, reafirmando o sonho e a utopia diante da malvadez neoliberal, diante do cinismo de sua ideologia fatalista e a sua recusa inflexvel ao sonho e utopia. Denncia de um lado, anncio de outro: a sua pedagogia da autonomia frente pedagogia neoliberal.

Lembrando os cinco anos da morte de Freire, nesse pequeno livro, quero retomar o que ele disse e entender o seu significado no contexto de hoje. Paulo Freire nos falava da boniteza do sonho de ser professor de tantos jovens desse planeta. Se o sonho puder ser sonhado por muitos deixar de ser um sonho e se tornar realidade.

A realidade, contudo, muitas vezes bem diferente do sonho. Muitos de meus alunos e alunas, seja na Pedagogia, seja na Licenciatura, no pensam em se dedicar s salas de aula. Muito revelam desinteresse em seguir a carreira do magistrio, mesmo estando num curso de formao de professores. Pesam muito nesse deciso as condies concretas do exerccio da profisso. Preparam-se para ser professor e iro exercer outra profisso.

O brasileiro desvaloriza o professor. o que se poderia deduzir de um dito que se tornou popular nas ltimas dcadas no Brasil: Quem sabe faz, quem no sabe ensina. sinistro. Essa destruio da imagem do professor custar muito caro, dizia j em 1989, o jornalista Leonardo Trevisan: Todos dizem que gostam muito dos professores, mas no chegam a incomodar-se muito com o fato de que h tempos eles recebem um salrio de fome. O salrio a parte mais visvel de uma condio da qual decorre um papel social que se descaracterizou por completo... S quem no quer ver no percebe o sentimento de cansao, de esgotamento de expectativas de quem encarava com dignidade o seu desempenho profissional.

A situao vem se arrastando h anos. Tenho 41 anos de magistrio e no tenho visto grandes melhorias. Ao contrrio, tenho ouvido muitas promessas. As melhorias existem aqui e acol, mas so pontuais e localizadas servem apenas de exemplo so conjunturais e no estruturais, so provisrias, passageiras e no permanentes. Correspondem a uma poltica de governo e no a uma poltica pblica de estado.

Por isso continuo me perguntando: Por que sou professor? uma pergunta que ouo com freqncia tambm entre meus pares.

A resposta talvez possa ser encontrada numa mensagem deixada por um prisioneiro de campo de concentrao nazista na qual, depois de viver todos os horrores da Guerra crianas envenenadas por mdicos diplomados; recm-nascidos mortos por enfermeiras treinadas; mulheres e bebs fuzilados e queimados por graduados de colgios e universidades ele pede aos professores que ajudem seus alunos a tornarem-se humanos, simplesmente humanos. E termina: ler, escrever e aritmtica s so importantes para fazer nossas crianas mais humanas.

Talvez esteja a a chave para entender a crise que vivemos: perdemos o sentido do que fazemos, lutamos por salrio e melhores condies de trabalho sem esclarecer a sociedade sobre a finalidade de nossa profisso, sem justificar porque estamos lutando.

O que me leva agora a escrever esse pequeno livro justamente esse imperativo histrico e existencial que me obriga a colocar a questo do sentido do que estou fazendo. Qual o papel do educador, da escola, da educao? O que um professor pode fazer, o que ele deve fazer, o que possvel fazer?

Em inmeras conferncias que tenho feito a professores, professoras, por este pas e fora dele, alm de constatar um grande mal-estar entre os docentes, misturado a decepes, irritao, impacincia, ceticismo, perplexidade, paradoxalmente, existe ainda muita esperana. A esperana ainda alimenta essa difcil profisso. H uma nsia por entender melhor porque est to difcil educar hoje, fazer aprender, ensinar, nsia para saber o que fazer quando todas as receitas governamentais j no conseguem responder. A maioria dessas professoras - elas so a quase totalidade - com a diminuio drstica dos salrios, com a desvalorizao da profisso e a progressiva deteriorao das escolas muitas delas tm hoje cara de presdio - procuram cada vez mais cursos e conferncias, para buscar uma resposta que no encontraram nem na sua formao inicial e nem na sua prtica atual.

Poucas so as vezes em que encontram resposta nesses cursos. Na sua maioria, ou encontram receitas tecnocrticas que causam ainda maior frustrao, ou encontram profissionais da pedagogia da ajuda que encantam com suas belas e sedutoras palavras, fazem rir enormes platias numa catarse coletiva. E voltam vazios como entraram depois de assistirem ao show desses falsos pregadores da palavra. Voltam com a mesma pergunta: O que estou fazendo aqui? Por qu no procuro outro trabalho? Para que sofrer tanto? Por qu, para que ser professor?.

Se, de um lado, a transformao nas condies objetivas das nossas escolas no depende apenas da nossa atuao como profissionais da educao, de outro lado, creio que sem uma mudana na prpria concepo da nossa profisso ela no ocorrer to cedo. Enquanto no construirmos um novo sentido para a nossa profisso, sentido esse que est ligado prpria funo da escola na sociedade aprendente, esse vazio, essa perplexidade, essa crise, devero continuar.

Em sua essncia, ser professor hoje, no nem mais difcil nem mais fcil do que era h algumas dcadas atrs. diferente. Diante da velocidade com que a informao se desloca, envelhece e morre, diante de um mundo em constante mudana, seu papel vem mudando, seno na essencial tarefa de educar, pelo menos na tarefa de ensinar, de conduzir a aprendizagem e na sua prpria formao que se tornou permanentemente necessria.

As novas tecnologias criaram novos espaos do conhecimento. Agora, alm da escola, tambm a empresa, o espao domiciliar e o espao social tornaram-se educativos. Cada dia mais pessoas estudam em casa pois podem, de l, acessar o ciberespao da formao e da aprendizagem a distncia, buscar fora a informao disponvel nas redes de computadores interligados servios que respondem s suas demandas de conhecimento. Por outro lado, a sociedade civil (ONGs, associaes, sindicatos, igrejas...) est se fortalecendo, no apenas como espao de trabalho, mas tambm como espao de difuso e de reconstruo de conhecimentos.

Na formao continuada necessita-se de maior integrao entre os espaos sociais (domiciliar, escolar, empresarial...) visando a preparar o aluno para viver melhor na sociedade do conhecimento. Como previa Herbert McLuhan, na dcada de 60, o planeta tornou-se a nossa sala de aula e o nosso endereo. O ciberespao rompeu com a idia de tempo prprio para a aprendizagem. O espao da aprendizagem aqui, em qualquer lugar; o tempo de aprender hoje e sempre.

Hoje vale tudo para aprender. Isso vai alm da reciclagem e da atualizao de conhecimentos e muito mais alm da assimilao de conhecimentos. A sociedade do conhecimento uma sociedade de mltiplas oportunidades de aprendizagem. As conseqncias para a escola, para o professor e para a educao em geral so enormes: ensinar a pensar; saber comunicar-se; saber pesquisar; ter raciocnio lgico; fazer snteses e elaboraes tericas; saber organizar o seu prprio trabalho; ter disciplina para o trabalho; ser independente e autnomo; saber articular o conhecimento com a prtica; ser aprendiz autnomo e a distncia.

Nesse contexto, o professor muito mais um mediador do conhecimento, diante do aluno que o sujeito do sua prpria formao. O aluno precisa construir e reconstruir conhecimento a partir do que faz. Para isso o professor tambm precisa ser curioso, buscar sentido para o que faz e apontar novos sentidos para o quefazer dos seus alunos. Ele deixar de ser um lecionador para ser um organizador do conhecimento e da aprendizagem.

Em resumo, poderamos dizer que o professor se tornou um aprendiz permanente, um construtor de sentidos, um cooperador, e, sobretudo, um organizador da aprendizagem. Se falamos do professor de adultos e do professor de cursos a distncia, esses papis so ainda mais relevantes. De nada adiantar ensinar, se os alunos no conseguirem organizar o seu trabalho, serem sujeitos ativos da aprendizagem, auto-disciplinados, motivados.

Ser professor, no ser um ofcio em risco de extino, pergunta-se Luiza Corteso. Um certo professor est em risco de extino. O funcionrio da eficcia e da competitividade pode existir mas ter se demitido da sua funo de professor. Diz ela que h hoje uma evidente contradio entre o professor em branco e preto, o professor monocultural, bem formado, seguro, claro, paciente, trabalhador e distribuidor de saberes, eficiente, exigente e o professor intermulticultural que no um daltnico cultural, que d-se conta da heterogeneidade, capaz de investigar, de ser flexvel e de recriar contedos e mtodos, capaz de identificar e analisar problemas de aprendizagem e de elaborar respostas s diferentes situaes educativas. Um no se pergunta porque ser professor. Simplesmente cumpre ordens, currculos, programas, pedagogias. Outro questiona-se sobre seu papel. Um est centrado nos contedos curriculares e outro no sentido do seu ofcio. Sim, um certo professor est em risco de extino. E isso muito bom.

- O que ser professor hoje?

- Ser professor hoje viver intensamente o seu tempo com conscincia e sensibilidade. No se pode imaginar um futuro para a humanidade sem educadores. Os educadores, numa viso emancipadora, no s transformam a informao em conhecimento e em conscincia crtica, mas tambm formam pessoas. Diante dos falsos pregadores da palavra, dos marqueteiros, eles so os verdadeiros amantes da sabedoria, os filsofos de que nos falava Scrates. Eles fazem fluir o saber - no o dado, a informao, o puro conhecimento - porque constrem sentido para a vida das pessoas e para a humanidade e buscam, juntos, um mundo mais justo, mais produtivo e mais saudvel para todos. Por isso eles so imprescindveis.

2

Crise de identidade, crise de sentidoO ofcio de professor est, realmente, em risco de extino?

Um velho professor est realmente desaparecendo e espero que nesse velho professor esteja nascendo um novo professor. No a profisso que est morrendo. uma profisso que est renascendo. O professor no est morrendo, sua funo no est desaparecendo, mas ela est se transformando profundamente, adquirindo uma nova identidade. E isso no nada novo, pois cada gerao de professores constitui sua prpria identidade docente no contexto em que vive. Hoje o contexto o prprio mundo globalizado. O professor precisa hoje adequar sua funo, ensinar, educar no mundo globalizado, at para transformar profundamente o modelo de globalizao dominante, essencialmente perverso e excludente.

Ccero traduziu paidia (formao integral do homem) por humanitas (formao da/para a humanidade). No h civilizao sem professores. No haver uma nova civilizao sem uma nova formao dos professores. No h nao sem professores.

Escolher a profisso de professor no escolher uma profisso qualquer. Na maioria das vezes essa escolha se d por intuio. Muitas professoras, quando perguntadas porque escolheram essa profisso respondem: porque gosto de criana. uma resposta correta e significativa, mas ela no levada em conta no seu processo de formao. Essa motivao e pouco trabalhada. Em geral, a sua formao limita-se a aspectos tcnico-pedaggicos e no tico-polticos, que seriam mais afinados com os motivos da sua escolha. Alm disso, o aspecto profissional tem sido descuidado por causa da confuso que ainda freqentemente feita entre o papel de me e de professora, sobretudo na educao infantil.

A docncia, como aprendizagem da relao, est ligada a um profissional especial, um profissional do sentido, numa era em que aprender conviver com a incerteza. Da a necessidade de se refletir hoje sobre o novo papel do professor, as novas exigncias da profisso docente, principalmente da formao continuada do professor, da professora.

Antes de mais nada, para entender a crise de identidade dessa profisso preciso colocar em evidncia as caractersticas atuais da profisso docente. Estamos diante de uma profisso massificada, o que reala o grande alcance dessa profisso e sua importncia estratgica. Como o conhecimento da humanidade duplica em curto espao de tempo, ele obsolece rapidamente, extremamente mutvel. Por isso, hoje no tem mais sentido a existncia de um profissional que se limita a reproduzir o conhecimento e a cultura que outros desenvolveram. O professor hoje precisa ser um profissional capaz de criar conhecimento.

Estamos tambm diante de uma profisso genrica (poltica). No um ofcio especfico pois o professor precisa lutar contra a excluso social, ser animador de grupos, organizar o trabalho e a aprendizagem dele e dos alunos; sua profisso tem relao com as estruturas sociais, com a comunidade... enfim, ele um profissional que precisa ter muita autonomia e exercer muita liderana. Existem caractersticas comuns a qualquer docente independentemente da matria que leciona, o que torna essa profisso muito homognea, no importando o grau de ensino onde esteja trabalhando. A competncia genrica da profisso est sobretudo em seu saber poltico-pedaggico.

Por isso, preciso ter cuidado especial quando se fala em especialista na educao. claro que existem saberes e competncias especficas, mas separ-las burocraticamente um equvoco que tem custado caro aos sistemas educacionais, tornando-os inflexveis, apesar das declaraes em contrrio. Como diz Mrio Osrio Marques, a especificidade da formao do pedagogo exige no se confunda ela com a formao de um especialista a mais, como se a questo fosse simplesmente a da diviso do trabalho e no, muito mais, a da articulao da ao comunitativa/coletiva. Mas, por outra parte, no se requer um generalista ou superpedagogo a ser colocado num pedestal de autoridade, ou em posio de mando, nem mesmo na situao de simples assessoria tcnica. No se trata de algum detentor de um saber hierrquico.

Uma terceira caracterstica marcante dessa profisso: ela constituda predominantemente de mulheres. Uma grande fora numa poca em que a mulher est exercendo um papel cada vez mais protagonista, inserido-se cada vez mais na vida social, poltica e econmica das sociedades mais avanadas. A participao da mulher na sociedade indicador de avano social e de desenvolvimento humano.

Finalmente, no h como negar: somos profissionais de baixa renda. Perdemos com isso. Mas, pensando numa civilizao do oprimido, como costuma nos dizer Jos Eustquio Romo, esse profissional pode ter, por essa caracterstica, um potencial revolucionrio que outras profisses no tm, j que uma profisso voltada para a emancipao das pessoas. A mudana vem dos debaixo, como sustentava Florestan Fernandes. Os debaixo, s tem a ganhar com a transformao. Por isso, tm uma grande capacidade para gestar a transformao.

Uma pesquisa de Eurize Caldas Pessanha mostra que a professora primria era uma categoria profissional filiada s camadas mdias da populao. Ela foi um nicho ideal para as mulheres dos estratos mais altos das camadas mdias urbanas por ser uma profisso situada do lado do trabalho no-manual na diviso social do trabalho. No entanto, atualmente esses estratos parecem ter outras aspiraes, e so os estratos mais baixos que desejam ter professores primrios na famlia, diz a professora Marli Andr, na apresentao do livro de Eurize Caldas Pessanha. Para Eurize Caldas Pessanha, o trabalho de professor, na forma em que se apresenta hoje, um trabalho no-manual, assalariado, num setor no-produtivo, embora socialmente til, da atividade humana. Sendo necessrio tambm lembrar o fato de ser assalariado, funcionrio do Estado ou de um servio que, embora mantido por empresas privadas, considerado um servio pblico. esse servio pblico que coloca o professor em p de igualdade, esteja ele no ensino superior ou no fundamental, no setor pblico ou no setor privado.

Parece que todos hoje esto de acordo quando se trata da necessidade de mudana. A maioria afirma que a profisso docente deve mudar - sobretudo em funo da complexidade da nova sociedade - mas no se diz como, nem porque e para onde devemos mudar. Da, como diz Francisco Imbernn, no de admirar que nos ltimos tempos no apenas o professor, mas tambm as instituies educacionais passem uma sensao de desorientao que faz parte da confuso que envolve o futuro da escola e do grupo profissional. Onde h desorientao h falta de sentido. As respostas crise so sempre na direo da mudana, ou melhor, da formao para a mudana. Mas esse no um discurso novo.

H consenso quando se afirma que nossa profisso deve abandonar a concepo predominante no sculo XIX de mera transmisso do saber escolar. O professor no pode ser um mero executor do currculo oficial e a educao j no mais propriedade da escola, mas de toda a comunidade. O professor, a professora precisam assumir uma postura mais relacional, dialgica, cultural, contextual e comunitria. Durante muito tempo a formao do professor era baseada em contedos objetivos. Hoje o domnio dos contedos de um saber especfico (cientfico e pedaggico) considerado to importante quanto as atitudes (contedos atitudinais ou procedimentais).

A educao do futuro dever se aproximar mais dos aspectos ticos, coletivos, comunicativos, comportamentais, emocionais... todos eles necessrios para se alcanar uma educao democrtica dos futuros cidados. Isso implica novos saberes, entre eles, saber planejar, saber organizar o currculo, saber pesquisa, estabelecer estratgias para formar grupos, para resolver problemas, relacionar-se com a comunidade, exercer atividades scio-antropolgicas, etc.

Como a mudana nas pessoas muito lenta, o novo profissional que recebeu uma formao atrasada, centrada no saber escolar, tentado a desistir. Antes, a transmisso do conhecimento era facilmente medida. Agora, como o professor no foi preparado para trabalhar com contedos atitudinais, ele desiste.

Essas mudanas essenciais para a formao inicial e continuada da(o) professora(r) supem uma nova cultura profissional. O maior desafio desta profisso est na mudana de mentalidade que precisa ocorrer tanto no profissional da educao quanto na sociedade e, principalmente, nos sistemas de ensino. A noo de qualidade precisa mudar profundamente: a competncia profissional deve ser medida muito mais pela capacidade do docente estabelecer relaes com seus alunos e seus pares, pelo exerccio da liderana profissional e pela atuao comunitria, do que na sua capacidade de passar contedos.

E uma nova cultura profissional implica uma redefinio dos sistemas de ensino e das instituies escolares. Mas essa redefinio no vir de cima, do prprio sistema. Ele , por essncia, conservador. A mudana do sistema deve partir do professor e de uma nova concepo do seu papel. Da a importncia estratgica de discutir hoje o novo papel do professor. Da a importncia de uma redefinio da profisso docente, de uma nova concepo do papel do professor.

Nesse sentido, no contexto atual, podemos identificar e confrontar duas concepes opostas da profisso docente: a concepo neoliberal e a concepo emancipadora. A primeira, amplamente dominante hoje, concebe o professor como um profissional lecionador, avaliado individualmente e isolado na profisso (viso individualista); a segunda considera o docente como um profissional do sentido, um organizador da aprendizagem (viso social), uma liderana, um sujeito poltico.

- Por que falamos de uma concepo emancipadora?

- Porque o papel da educao, na concepo que defendemos, emancipar as pessoas, ou, como diz Francisco Imbernn, o objetivo da educao ajudar a tornar as pessoas mais livres, menos dependentes do poder econmico, poltico e social. A profisso de ensinar tem essa obrigao intrnseca.

Numa concepo emancipadora da educao, a profisso docente tem um componente tico essencial. Sua especificidade est no compromisso tico com a emancipao das pessoas. No uma profisso meramente tcnica. A competncia do professor no se mede pela sua capacidade de ensinar muito menos lecionar mas pelas possibilidades que constri para que as pessoas possam aprender, conviver e viverem melhor.

Para mim, Paulo Freire foi o prottipo desse professor emancipador. Basta dar uma olhada nas mensagens recebidas no Instituto Paulo Freire, em So Paulo, logo depois de sua morte, dia 2 de maio de 19997. Ali se fala se esperana, de projeto comum, de mundo melhor, de emoo, de solidariedade. apaixonante reler essas mensagens. Ser educador despertar isso nas pessoas. Paulo Freire conseguiu tocar a alma das pessoas. Suas idias podero ter despertado controvrsias, mas no a sua pessoa. Muitas dessas mensagens dizem textualmente: minha vida no seria a mesma se eu no tivesse lido a obra de Paulo Freire. O que ele escreveu ficar no meu corao e na minha mente. Essa relao entre o cognitivo e o afetivo muito forte na prxis de Paulo Freire e tambm naqueles que foram influenciados por ele. Essa relao era muito forte tambm na sua obra. Ele no envolvia as pessoas emocionalmente s atravs de suas to encantadoras falas, mas tambm atravs de seus escritos.

As mensagens recebidas logo depois de sua morte revelavam o impacto terico e afetivo sobre a vida de tantos seres humanos de todas as partes do mundo. Essas manifestaes terminavam sempre com o desejo de unir-se a outras pessoas e instituies para dar continuidade ao seu legado, ao seu compromisso, no o compromisso com os oprimidos deste ou daquele lugar, mas com os oprimidos de todo o mundo.

3

Formao continuada do professor

A formao do profissional da educao est diretamente relacionada com o enfoque, a perspectiva, a concepo mesma que se tem da sua formao e de suas funes atuais. Para ns, a formao continuada do professor deve ser concebida como reflexo, pesquisa, ao, descoberta, organizao, fundamentao, reviso e construo terica e no como mera aprendizagem de novas tcnicas, atualizao em novas receitas pedaggicas ou aprendizagem das ltimas inovaes tecnolgicas.

A nova formao permanente, segundo essa concepo, inicia-se pela reflexo crtica sobre a prtica. Examinar as teorias implcitas, estilos cognitivos, preconceitos (hierarquia, sexismo, machismo, individualismo, intolerncia, excluso...). Como diz Paulo Freire na formao permanente dos professores, o momento fundamental o da reflexo crtica sobre a prtica. E essa reflexo crtica no se limita ao seu cotidiano na sala de aula pois, como diz Francisco Imbernn a sua reflexo atravessa as paredes da instituio para analisar todo tipo de interesses subjacentes educao, realidade social, com o objetivo concreto de obter a emancipao das pessoas.

Nesse sentido, deve-se realar a importncia da troca de experincias entre pares, atravs de relatos de experincias, oficinas, grupos de trabalho: Quando os professores aprendem juntos, cada um pode aprender com o outro. Isso os leva a compartilhar evidncias, informao e a buscar solues. A partir daqui os problemas importantes das escolas comeam a ser enfrentados com a colaborao entre todos.

Na formao continuada do professor, outro eixo importante o da discusso do projeto poltico-pedaggico da escola, a elaborao de projetos comuns de trabalho de cada rea de interesse do professor, frente a desafios, problemas e necessidades de sua prtica. preciso formar-se para a cooperao. Como diz Francisco Imbernon a colaborao, mais que uma estratgia de gesto, uma filosofia de trabalho. Os sistemas de ensino investem na formao individual (individualista?) e competitiva do professor, quando o mais importante a formao para um projeto comum de trabalho, a formao poltica do professor. Mais do que uma formao tcnica, a funo do professor necessita de uma formao poltica para exercer com competncia a sua profisso.

Em sntese, a nova formao do professor deve estar centrada na escola sem ser unicamente escolar, sobre as prticas escolares dos professores, desenvolver na prtica um paradigma colaborativo e cooperativo entre os profissionais da educao. A nova formao do professor deve basear-se no dilogo e visar redefinio de suas funes e papis, redefinio do sistema de ensino e construo continuada do projeto poltico-pedaggica da escola. O prprio professor precisa construir tambm o seu projeto poltico-pedaggico.

Muito sofrimento da professora, do professor, poderia ser evitado se a sua formao inicial e continuada fosse outra, se aprendesse menos tcnicas e mais atitudes, hbitos, valores. Antes de se perguntar o que deve saber para ensinar, a professora deve se perguntar porque ensinar e como deve ser para ensinar. Muita dor poderia ser evitada se o professor, a professora, aprendessem a organizar melhor o seu trabalho e o de seus alunos e alunas, se aprendessem a sistematizar e avaliar mais dialogicamente, se tivessem aprendido a aprender de forma cooperativa: o individualismo da profisso mata de ansiedade e angstia, leva ao sofrimento e at ao martrio do professor compromissado e desistncia daquele que perdeu a esperana.

Para evitar o martrio e a desistncia que os sistemas escolares e as escolas necessitam de uma ajuda externa, de uma assessoria pedaggica. No para fazer o trabalho delas. Minha experincia me mostrou que a assessoria deve apenas ajudar a escola a inovar. Ns no devemos implantar inovaes de fora, por melhores e mais bem intencionados que sejam os amigos da escola. A escola que deve ser protagonista e no os assessores. Toda inovao que vem de fora est fadada ao fracasso. Vejam-se os numerosos exemplos de implantao de inovaes feitas pelos sistemas de ensino, mera determinao exterior, artificial e separada dos contextos pessoais e institucionais em que trabalham os profissionais da educao nas escolas.

A experincia do Instituto Paulo Freire nos mostrou, por exemplo, que o seu Projeto da Escola Cidad, iniciado por Paulo Freire logo depois de haver deixado a Secretaria Municipal de Educao de So Paulo, em 1991, no pode ser implantado sob pena de fracassar. Todo professor e deve ser, necessariamente, um mau implantador de idias dos outros. E timo que assim seja, porque ele deve ser autnomo, ele precisa assumir, construir e conquistar sua autonomia profissional. O que a assessoria externa pode fazer propor uma colaborao na identificao das necessidades e construir, com eles, as respostas a essas necessidades. Para isso, precisamos dispor de estratgias. Envolver a comunidade interna e externa da escola essencial para qualquer inovao.

O agente protagonista o profissional da escola. O assessor, como guia e mediador entre iguais, amigo crtico, deveria intervir a partir das demandas dos professores ou das instituies educacionais com objetivo de auxiliar no processo de resolver os problemas ou situaes problemticas profissionais que lhes so prprios. Por isso, a comunicao, o conhecimento da prtica, a capacidade de negociao, o conhecimento de tcnicas de diagnstico, de anlise de necessidades, o favorecimento da tomada de decises e o conhecimento da informao, so temas-chave na assessoria.

Pela legislao brasileira, hoje a formao continuada do professor em servio um direito. Contudo, para que esse direito seja exercido na prtica, de fato, creio que so necessrias algumas pr-condies ou exigncias mnimas; entre elas:

1 direito a pelo menos 4 horas semanais de estudo com os colegas, no s com especialistas de fora, para refletirem sobre a sua prpria prtica, dividirem dvidas e resultados obtidos;

2 possibilidade de freqentar cursos seqenciais aprofundados em estudos regulares, sobretudo sobre o ensino das disciplinas ou campos do conhecimento de cada professor;

3 acesso bibliografia atualizada;

4 possibilidade de sistematizar sua experincia e escrever sobre ela;

5 possibilidade de participar e expor sua experincia em congressos educacionais;

6 possibilidade de publicar a experincia sistematizada;

7 enfim, no s sistematizar e publicar suas reflexes, mas tambm colocar em rede essas reflexes, o que cada professor, cada professora, cada escola est fazendo, por exemplo, atravs de uma site da secretaria de educao ou da prpria escola.

A professora, o professor, podem ter um papel mais decisivo na construo de um novo paradigma civilizatrio se entenderem de outra forma o seu papel na sociedade do conhecimento e educarem para a humanidade. Eles e elas podem ter um poder como nunca tiveram na sociedade. E como o poder nunca doado, mas conquistado, as entidades de professores tm uma enorme responsabilidade nesse processo de nova formao inicial e continuada dos profissionais da educao.

O mundo hoje favorvel s mudanas sonhadas por educadores como Antonio Gramsci, que entendia o educador como um intelectual organizador da cultura, Paulo Freire, que defendia o dilogo crtico como essncia da educao e Florestan Fernandes, que sustentava que a emancipao s poderia vir a partir da organizao dos debaixo. A nova pedagogia para a educao da humanidade no apenas uma pedagogia da resistncia, mas, sobretudo, uma pedagogia da esperana e da possibilidade.

4

Ser professor na sociedade aprendenteEm 2001 fiz uma enquete com os meus alunos da Licenciatura da Faculdade de Educao da USP perguntando quais seriam os saberes necessrios profisso docente hoje. Eis o que eles me responderam. Para ser professor necessrio: ter uma concepo de educao; ter uma formao poltica, tica, isto , ter compromisso; respeitar as diferenas; ter uma formao continuada; ser tolerante diante de atitudes, posturas e conhecimentos diferentes; preparar-se para o erro e a incerteza; ter autonomia didtico-pedaggica; ter domnio do saber especfico que leciona; ser reflexivo e crtico; saber relacionar-se com os alunos; ter uma formao geral, polivalente e transversal. Enfim... fazer da profisso um projeto de vida.

Recentemente tem-se realado o carter reflexivo da funo docente como algo muito novo. Todavia, no existe nenhuma teoria da educao que no defenda expressamente a necessidade da reflexo na prtica do professor. Por isso, falar de professor reflexivo, pode ser considerado como redundncia. Para o educador no basta ser reflexivo. preciso que ele d sentido reflexo. A reflexo meio, instrumento para a melhoria do que especfico de sua profisso que construir sentido, impregnar de sentido cada ato da vida cotidiana, como a prpria palavra latina insignare (marcar com um sinal), significa.

A reflexo deve, portanto, ser crtica. O professor no pode ser reduzido a isto ou quilo. Seu saber profissional, de experincia feito, de reflexo, de pesquisa, de interveno, deve ser visto numa certa totalidade e no reduzido a certas competncias tcnico-profissionais. Educar tambm arte, cincia, prxis. Realar o carter reflexivo do quefazer educativo do professor, pode ser relevante, na medida em que se contrape corrente do pensamento pedaggico pragmatista e instrumental, mas pode ser limitativo, se esse carter no for compreendido numa certa totalidade de saberes necessrios prtica educativa.

Fala tambm muito hoje de competncias profissionais do professor. Fala-se menos de saberes. Virou moda falar de novas competncias ou do enfoque por competncias, que lembra um pouco o debate da dcada de 80 entre competncia tcnica e compromisso poltico.

Como em toda moda, em toda ideologia, ela tem um fundamento. Por isso, preciso buscar, nesse senso comum, o bom senso, como queria Antonio Gramsci. preciso reconhecer que o contexto atual coloca novos desafios para a escola, para o ensino, o professor, o aluno, etc. O professor precisa saber organizar o seu trabalho e orientar o do aluno a organizar o seu, saber trabalhar em equipe, participar da gesto da escola, envolver os pais, utilizar novas tecnologias, ser tico, continuar sua formao... mas esses saberes no foram desde sempre os saberes necessrios prtica educativa?

Paulo Freire preferia falar de saberes e no de competncias, uma palavra associada tradio utilitarista, tecnocrtica, ao mundo da empresa, economia, competitividade (ao mundo do trabalho neoliberal), eficincia, racionalizao, avaliao... Por isso ele fala de saberes necessrios prtica educativa em seu ltimo livro.

As profisses que dependem inteiramente da tecnologia (o torneiro mecnico, por exemplo) esto vendo suas competncias e habilidades se transformarem rapidamente. O professor, para o exerccio das suas funes no depende exclusivamente da tecnologia. Nem tudo muda para ele mudando a tecnologia que utilizar. No novo contexto de impregnao da informao ele precisa continuar sua formao ao longo de toda a vida e saber ser, saber aprender, saber conviver, saber fazer, como diz a UNESCO. Mas precisa continuar, como sempre, saber porque est ensinando e o que est ensinando, precisa saber pensar, necessita associar ensino, pesquisa e envolvimento comunitrio. Pesquisar faz parte da prpria natureza da prtica docente, como diz Paulo Freire: Fala-se hoje, com insistncia, diz ele, no professor pesquisador. No meu entender o que h de pesquisador no professor no uma qualidade ou uma forma de ser ou de atuar que se acrescente de ensinar. Faz parte da natureza da prtica docente a indagao, a busca, a pesquisa. O de que se precisa que, em sua formao permanente, o professor se perceba e se assuma, porque professor, como pesquisador.

Alguns confundem competncia com habilidade, mas competncia no habilidade: o professor pode ser competente, ter conhecimentos profundos de uma determinada disciplina e no ter habilidades prticas para o ensino, no saber ensinar. A educao no s cincia, mas tambm arte. O ato de educar complexo. O xito do ensino no depende tanto do conhecimento do professor, mas da sua capacidade de criar espaos de aprendizagem, vale dizer, fazer aprender e de seu projeto de vida de continuar aprendendo.

Nesse contexto devemos destacar as competncias de vida ou os saberes de experincia feitos, como costumava dizer Freire. As competncias de vida que no se enquadram nas competncias dos campos profissionais especficos. A questo das competncias est ligada ao tema como aprendemos. Aprendemos atuando, empreendendo, agindo. A ao gera saber, habilidade, conhecimento. Agindo, por exemplo, aprendemos tcnicas e mtodos sobre como fazer. E, muitas vezes, por no termos sido formados para reconhecer essas competncias, no sabemos ensinar como fazemos, como chegamos a ter xito no que fazemos.

Paulo Freire foi um mestre do respeito desse saber, dessas competncia de vida. Para ele aprender era conhecer melhor o que j se sabe para poder ter acesso a novos conhecimentos. Essa no era apenas uma tcnica pedaggica mas um ato pedaggico e uma concepo de vida que parte do acolhimento, com respeito, de um ser que conhece e quer aprender mais.

H um movimento, sobretudo na Europa, para reconhecer (certificar) as competncias das pessoas (sobretudo adultas) que no passaram pela certificao da escola. Qual o sentido do reconhecimento das competncias de vida das pessoas?

Creio que essa certificao s faz sentido se no for burocrtica, isto , se valorizar a capacidade de aprender das pessoas. Reconhecer uma competncia ou habilidade estimula e motiva as pessoas a continuar aprendendo, a pensar a sua prtica para transform-la, como queria Freire.

O surgimento desse debate em torno da certificao de todas as competncias das pessoas no deve ser invalidado pela possibilidade de controle social que traz em si mesmo. Este debate tambm traz algo positivo, na medida em que encarna o surgimento de uma nova sociedade, de uma sociedade essencialmente aprendente.

A sociedade contempornea est marcada pela questo do conhecimento. E no por acaso. O conhecimento tornou-se pea chave para entender a prpria evoluo das estruturas sociais, polticas e econmicas de hoje. Fala-se muito hoje em sociedade do conhecimento, s vezes com impropriedade. Mais do que a era do conhecimento, devemos dizer que vivemos a era da informao, pois percebemos com mais facilidade a disseminao da informao e de dados, muito mais do que de conhecimentos. O acesso ao conhecimento ainda muito precrio, sobretudo em sociedades com grande atraso educacional.

Como ser professor na sociedade aprendente?

Hoje as teorias do conhecimento na educao esto centradas na aprendizagem, no ato de aprender, de conhecer.

- O que conhecer?

Conhecer construir categorias de pensamento, ler o mundo e transform-lo, dizia Freire. No possvel construir categorias de pensamento como se elas existissem a priori, independentemente do sujeito que conhece. Ao conhecer, o sujeito do conhecimento reconstri o que conhece.

- Como conhecer?

S possvel conhecer quando se deseja, quando se quer, quando nos envolvemos profundamente com o que aprendemos. No aprendizado, gostar mais importante do que criar hbitos de estudo, por exemplo. Hoje se d mais importncia s metodologias da aprendizagem, s linguagens e s lnguas estrangeiras, do que aos contedos. A transversalidade e a transdisciplinaridade do conhecimento mais valorizada do que os contedos longitudinais do currculo clssico.

Frente disseminao e generalizao do conhecimento, necessrio que a escola e o professor, a professora, faam uma seleo crtica da informao, pois h muito lixo e propaganda enganosa sendo veiculados. No faltam, tambm na era da informao, encantadores da palavra para tirar algum proveito, seja econmico, seja religioso, seja ideolgico.

Conhecer importante porque a educao se funda no conhecimento e este na atividade humana. Para inovar preciso conhecer. A atividade humana intencional, no est separada de um projeto. Conhecer no s adaptar-se ao mundo. condio de sobrevivncia do ser humano e da espcie.

Antes de conhecer o sujeito se interessa por... curioso, esperanoso (Freire). Da a importncia do trabalho de seduo (Nietzsche) do professor, da professora, frente ao aluno, aluna. Seduzir no sentido de encantar pela beleza e no como tcnica de manipulao. Da a necessidade da motivao, do encantamento. Motivao que deve vir de dentro do prprio aluno e no da propaganda. preciso mostrar que aprender gostoso, mas exige esforo, como dizia Paulo Freire no primeiro documento que encaminhou aos professores quando assumiu a Secretaria de Educao do Municpio de So Paulo.

Certamente, para o professor ter xito nessa sociedade aprendente, o professor, a professora precisam ter clareza sobre o que conhecer, como se conhece, o que conhecer, porque conhecer, mas um dos segredos do chamado bom professor trabalhar com prazer, gostando do que se faz. A gente faz sempre bem o que gosta de fazer. S bem sucedido aquele ou aquele que faz o que gosta.

5

Aprender com emoo, ensinar com alegria

A educao necessria para a sobrevivncia do ser humano. Para que ele no precise inventar tudo de novo, necessita apropriar-se da cultura, do que a humanidade j produziu. Educar tambm aproximar o ser humano do que a humanidade produziu. Se isso era importante no passado, hoje ainda mais decisivo numa sociedade baseada no conhecimento.

O professor precisa saber, contudo, que difcil para o aluno perceber essa relao entre o que ele est aprendendo e o legado da humanidade. O aluno que no perceber essa relao no ver sentido naquilo que est aprendendo e no aprender, resistir aprendizagem, ser indiferente ao que o professor estiver ensinando. Ele s aprende quando quer aprender e s quer aprender quando v na aprendizagem algum sentido. Ele no aprende porque burrinho. Ao contrrio, s vezes, a maior prova de inteligncia encontra-se na recusa em aprender.

Aprender vem de ad (junto de algum ou algo) e praehendere (tentar prender, agarrar, pegar). Aprendemos porque somos seres inacabados: as tartarugas nascem sabendo o que precisam. Nascem na praia sem a presena da me. Mesmo assim, elas sabem que devem ir logo para o mar, caso contrrio podem acabar na boca de algum predador. Os seres humanos, contudo, se abandonados, mesmo com alguns meses de vida, eles morreriam. Nascem frgeis. Se os pais no os alimentam, morrem.

Ns, seres humanos, no s somos seres inacabados e incompletos como temos conscincia disso. Por isso, precisamos aprender com. Aprendemos com porque precisamos do outro, fazemo-nos na relao com o outro, mediados pelo mundo, pela realidade em que vivemos.

O que acontece conosco que se o que aprendemos no tem sentido, no atender alguma necessidade, no apreendemos. O que aprendemos tem que significar para ns. Alguma coisa ou pessoa significativa quando ela deixa de ser indiferente. Esquecemos o que aprendemos sem sentido, o que no pode ser usado. Guardar coisa intil burrice. O corpo aprende para viver. isso que d sentido ao conhecimento. O que se aprende so ferramentas, possibilidades de poder. O corpo no aprende por aprender. Aprender por aprender estupidez.

Todo ser vivo aprende na interao com o seu contexto: aprendizagem relao com o contexto. Quem d significado ao que aprendemos o contexto. Por isso, para o educador ensinar com qualidade, ele precisa dominar, alm do texto, o com-texto, alm de um contedo, o significado do contedo que dado pelo contexto social, poltico, econmico... enfim, histrico do que ensina. Nesse sentido, todo educador tambm um historiador.

Ns, educadores, precisamos ter clareza do que aprender, do que aprender a aprender, para entendermos melhor o ato de ensinar. Para ns, educadores, no basta saber como se constri o conhecimento. Ns precisamos dominar outros saberes da nossa difcil tarefa de ensinar. Precisamos saber o que ensinar, o que aprender e, sobretudo, como aprender.

- O que aprender?

Aprender no acumular conhecimentos. Aprendemos histria no para acumular conhecimentos, datas, informaes, mas para saber como os seres humanos fizeram a histria para fazermos histria. O importante aprender a pensar (a realidade, no pensamentos), aprender a aprender.

o sujeito que aprende atravs da sua experincia. No um coletivo que aprende. Mas no coletivo que se aprende. Eu dialogo com a realidade, com autores, com meus pares, com a diferena. Meu texto, este texto que estou escrevendo agora, por exemplo, resultado de um dilogo: dilogo com o contexto, com os educadores, presentes em diversas palestras, cos os autores que li, etc.

Aprende-se o que significativo para o projeto de vida da pessoa. Aprende-se quando se tem um projeto de vida. Aprendemos a vida toda. No h tempo prprio para aprender.

E mais: preciso tempo para aprender e para sedimentar informaes. No d para injetar dados e informaes na cabea de ningum. Exige-se tambm disciplina e dedicao. Como diz Paulo Freire: Quem ensina aprende ao ensinar e quem aprende ensina ao aprender".

S aprendemos quando colocamos emoo no que aprendemos. Por isso necessrio ensinar com alegria. Nossas escolas continuam preocupadas em ensinar e no param para pensar o que ensinar, como se aprende, porque se aprende. Dar aulas tem-se constitudo na nica preocupao da escola. Tudo se resume na aula. Precisamos parar para pensar a escola, pensar no que estamos fazendo. Pedro Demo acha inacreditvel que a escola prossiga meramente dando aulas, em vez de estar cuidando da aprendizagem de todos os estudantes.

Um concurso para professores traa o perfil do candidato. Elabora questes. Define bibliografia. Define o processo de seleo: d pesos diferentes (juzo de valor) s partes da prova escrita, faz ou no entrevistas, considera ou no o tempo de servio, a experincia, a prtica, considera ou no os ttulos... Um concurso para professores define o professor que quer. Somos escolhidos.

E ns, professores, escolhemos tambm? Que sentido tem para ns nos submetermos ao processo de seleo? Queremos se aprovados para qu? H um projeto que nos move? Ou nos submetemos passivamente ao perfil exigido pelo concurso? Por que no definimos as caractersticas a serem valorizadas no processo de seleo? Por que no definimos o processo de seleo? Com quem trabalharemos? Com quem construiremos um projeto de vida, de escola, de educao, de sociedade? O que esperam de ns, nossos alunos e alunas? Precisamos passar no concurso do sentido que tem o nosso fazer pedaggico. Precisamos usar estrategicamente os concursos pblicos para professor para viabilizar um projeto de vida, um sonho.

Emprego. O sistema trata o professor apenas como um vaga? O sistema, ao abir um concurso est chamando para um emprego. E ns, estamos nos candidatando a uma vaga, ou a um projeto de vida a ser realizado, a uma sonho?

E, finalmente, conseguimos um emprego. E agora? cada vez mais difcil manter-se no emprego, na profisso, principalmente pelo desrespeito, pela indisciplina, pelo desinteresse e pela violncia que contamina muitas de nossas escolas. H muitos professores e professoras que se sentem infelizes na escola e principalmente na sala de aula. Falta interesse, falta disciplina, faltam objetivos claros, enfim, falta sentido para o que ensinam. O aluno tambm no v sentido no que est aprendendo na escola. E vem a pergunta desalentadora: Para que estou estudando isso, professora? - Para que estudar?.

Em muitas palestras que venho dando, uma pergunta, dita de diversas maneira, me chega mesa: O que devo fazer? O que o senhor faria no meu lugar?.

O aluno quer saber, mas ele no quer aprender, no quer aprender o que lhe ensinado e nem como lhe ensinado. E o conflito, o desinteresse, a indisciplina, a violncia nas escolas est crescendo. A escola ensina num paradigma e o aluno aprende num outro paradigma. O que fazer diante do paradoxo: o aluno quer saber, mas no quer aprender?

A escola precisa estar atenta s mudanas profundas que o contexto miditico contemporneo est provocando na cabea de crianas e jovens. Em mdia, no mundo, uma criana passa 4 horas dirias em frente televiso. No Brasil so 8 horas. Em mdia, no mundo, a criana passa 8 horas dirias na escola. No Brasil so 4 horas. E mais: os professores passam mais tempo com as crianas do que os pais. Passamos muito tempo na escola, passamos muito tempo diante da televiso.

A criana passa muito tempo sentada diante da televiso porque sente prazer em ficar l. O que o professor fala no exerce o mesmo fascnio da TV. Cada vez mais as crianas chegam escola transportando consigo a imagem de um mundo real ou fictcio que ultrapassa em muito os limites da famlia e da comunidade de vizinhos. As mensagens mais variadas ldicas, informativas, publicitrias transmitidas pelos meios de comunicao social entram em concorrncia ou em contradio com o que as crianas aprendem na escola. Estas mensagens surgem sempre organizadas em rpidas seqncias o que, em numerosas regies do mundo, tem uma influncia negativa sobre a capacidade de manter a ateno, por parte dos alunos e, portanto, sobre as relaes na aula. Passando os alunos menos tempo na escola do que diante da televiso, a seus olhos grande o contraste entre a gratificao instantnea oferecida pelos meios de comunicao, que no lhes exige nenhum esforo, e o que lhes exigido para alcanarem sucesso na escola. Tendo assim perdido, em grande parte, a preeminncia que tinham na educao, professores e escola encontram-se confrontados com novas tarefas: fazer da escola um lugar mais atraente para os alunos e fornecer-lhes as chaves de uma compreenso verdadeira da sociedade da informao. O professor deve estabelecer uma nova relao com quem est aprendendo, passar do papel de solista ao de acompanhante, tornando-se no mais algum que transmite conhecimentos, mas aquele que ajuda os seus alunos a encontrar, organizar e gerir o saber, guiando, mas no modelando os espritos, e demonstrando grande firmeza quanto aos valores fundamentais que devem orientar toda a vida. Essas consideraes do Relatrio para a UNESCO da Comisso Internacional sobre Educao para o Sculo XXI me parecem muito apropriadas para explicar as dificuldades enfrentadas hoje pelos professores. So pistas para enfrentar a questo: O que devo fazer? O que o senhor faria no meu lugar?. Mas, claro, elas no do conta de toda a complexa questo do saber ensinar.

Diante das dificuldades da prtica docente, do desencanto dos nossos alunos, muitos e muitas professoras so vtimas da sndrome da desistncia. Ela expressa na exausto emocional provocada pelo aumento da quantidade de trabalhos e pela despersonalizao provocada pela sua baixa valorizao social e reduzida realizao pessoal.

So essas dificuldades que nos levam pergunta de sempre: por que ser professor hoje? Qual sentido de ser professor hoje? Para que estou ensinando? Como deve ser o novo professor?

Eis, em resumo, as respostas que tenho dado com mais freqncia em minhas falas, considerando o contexto da globalizao e da nova globalizao emergente, que venho chamando de planetarizao e a sociedade da informao que prefiro chamar de sociedade aprendente.

1. O novo professor um profissional do sentido. Diante dos novos espaos de formao (diversas mdias, ONGs, Internet, espaos pblicos e privados, associaes, empresas, sindicatos, partidos, parlamento...), o novo professor integra esses espaos e deixa de ser lecionador para ser um gestor do conhecimento social (popular), o profissional que seleciona a informao e d/constri sentido para o conhecimento, um mediador do conhecimento. Gestor aqui significa construtor, organizador, mediador, coordenador. No se confunde com gerente de uma empresa.

O novo profissional da educao precisa perguntar-se: por que aprender, para qu, contra qu, contra quem. O processo de aprendizagem no neutro. O importante aprender a pensar, a pensar a realidade e no pensar pensamentos j pensados. Mas a funo do educador no acaba a: preciso pronunciar-se sobre essa realidade que deve ser no apenas pensada, mas transformada.

Muitas vezes no vemos sentido no que estamos ensinando. E nossos alunos tambm no vem sentido no que esto aprendendo. Numa poca de incertezas, de perplexidades, de transio, esse profissional deve construir sentido com seus alunos. O processo ensino/aprendizagem deve ter sentido para o projeto de vida de ambos para que seja um processo verdadeiramente educativo. O grande mal-estar de muitos de nossos professores e de nossas escolas est no viver sem sentido do que esto fazendo. O ato educativo est essencialmente ligado ao viver com sentido, impregnao de sentido para nossas vidas.

2. O novo professor um profissional que aprende em rede (ciberespao da formao), sem hierarquias, cooperativamente (saber organizar o seu prprio trabalho). um aprendiz permanente, um organizador do trabalho do aluno; consciente, mas tambm sensvel. Ele desperta o desejo de aprender para que o aluno seja autnomo e se torne sujeito da sua prpria formao.

Por isso, o novo professor precisa desenvolver habilidades de colaborao (trabalho em grupo, interdisciplinaridade), de comunicao (saber falar, seduzir, escrever bem, ler muito), de pesquisa (explorar novas hipteses, duvidar, criticar) e de pensamento (saber tomar decises).

O enfoque da formao do novo professor deve ser na autonomia e na participao, nas formas colaborativas de aprendizagem. Diz Paulo Freire: O bom professor o que consegue, enquanto fala, trazer o aluno at a intimidade do movimento de seu pensamento. Sua aula assim um desafio e no uma cantiga de ninar. Seus alunos cansam, no dormem. Cansam porque acompanham as idas e vindas de seu pensamento, surpreendem suas pausas, suas dvidas, suas incertezas.

3. Ensinar mobilizar o desejo de aprender. Mais importante do que saber nunca perder a capacidade de aprender. Saber saborear, diz Rubem Alves. O novo profissional da educao deve romper o divrcio entre a vida escolar e o prazer.

Para ensinar so necessrias principalmente duas coisas:

a) gostar de aprender, ter prazer em ensinar, como um jardineiro que cuida com emoo do seu jardim, de sua roa;

b) amar o aprendente (criana, adolescente, adulto, idoso). S aprendemos quando aquilo que aprendemos significativo (Piaget) para ns e nos envolvemos profundamente no que aprendemos.

O que aprendemos deve fazer parte do nosso projeto de vida. preciso gostar de ser professor (auto-estima) para ensinar.

4. A tica parte integrante da competncia do professor, do saber ser professor. Isso significa que um professor que no tem um sonho, uma utopia, no comprometido... no competente, no tico. No se pode educar sem um sonho. Ensinar por ensinar, mecanizar, deshumanizar o processo educativo no ser tico. Aprende-se ao longo de toda a vida, desde que tenhamos um projeto de vida. tica do cuidado, da amorosidade (Freire).

A razo competente deve ser uma razo molhada de emoo (Freire). O papel das emoes no processo de aprendizagem decisivo: razo e emoo no so instncias separadas no ser que aprende (Wallon). A emoo parte do ato de conhecer.

Em alemo educar significa cuidar, acolher. Uma sociedade alucinada e ruidosa como a nossa no pode educar porque no pode cuidar, no pode acolher. Nela no h mais tempo para o modo de ser cuidado, para o encontro, mas apenas para o modo de ser trabalho ou explorao, nas expresses utilizadas por Leonardo Boff.

5. O novo professor tambm um profissional do encantamento. Num mundo de desencanto e de agressividade crescentes, o novo professor tem um papel bifilo. um promotor da vida, do bem viver, educa para a paz e a sustentabilidade. No podemos abrir mo de uma antiga lio: a educao ao mesmo tempo cincia e arte. A arte a tcnica da emoo (Vygotski). O novo profissional da educao tambm um profissional que domina a arte de reencantar, de despertar nas pessoas a capacidade de engajar-se e mudar.

6

Educar para uma vida sustentvel

Trs dcadas de debates sobre nosso futuro comum deixaram algumas pegadas ecolgicas, tanto no campo da economia, quanto no campo da tica, da poltica e da educao, que podem nos indicar um caminho diante dos desafios do Sculo XXI. A sustentabilidade tornou-se um tema gerador preponderante neste incio de milnio para pensar no s o planeta mas tambm a educao; um tema portador de um projeto social global e capaz de reeducar nosso olhar e todos os nossos sentidos, capaz de reacender a esperana num futuro possvel, com dignidade, para todos.

O cenrio no otimista: podemos destruir toda a vida no planeta neste milnio que se inicia. Uma ao conjunta global necessria, um movimento como grande obra civilizatria de todos indispensvel para realizarmos essa outra globalizao, essa planetarizao, fundamentada em outros princpios ticos que no os baseados na explorao econmica, na dominao poltica e na excluso social. O modo pelo qual vamos produzir nossa existncia neste pequeno planeta, decidir sobre a sua vida ou a sua morte, e a de todos os seus filhos e filhas.

Os paradigmas clssicos, fundados numa viso industrialista predatria, antropocntrica e desenvolvimentista, esto se esgotando, no dando conta de explicar o momento presente e de responder s necessidades futuras. Necessitamos de um outro paradigma, fundado numa viso sustentvel do planeta Terra. O globalismo essencialmente insustentvel. Ele atende primeiro s necessidades do capital e depois s necessidades humanas. E muitas das necessidades humanas a que ele atende, tornaram-se humanas apenas porque foram produzidas como tais para servirem ao capital.

Precisamos de uma Pedagogia da Terra, uma pedagogia apropriada para esse momento de reconstruo paradigmtica, apropriada cultura da sustentabilidade e da paz. Ela vem se constituindo gradativamente, beneficiando-se de muitas reflexes que ocorreram nas ltimas dcadas, principalmente no interior do movimento ecolgico. Ela se fundamenta num paradigma filosfico emergente na educao que prope um conjunto de saberes/valores interdependentes. Entre eles podemos destacar:

1. Educar para pensar globalmente. Na era da informao, diante da velocidade com que o conhecimento produzido e envelhece, no adianta acumular informaes. preciso saber pensar. E pensar a realidade. No pensar pensamentos j pensados. Da a necessidade de recolocarmos o tema do conhecimento, do saber aprender, do saber conhecer, das metodologias, da organizao do trabalho na escola.

2. Educar os sentimentos. O ser humano o nico ser vivente que se pergunta sobre o sentido de sua vida. Educar para sentir e ter sentido, para cuidar e cuidar-se, para viver com sentido cada instante da nossa vida. Somos humanos porque sentimos e no apenas porque pensamos. Somos parte de um todo em construo e reconstruo.

3. Ensinar a identidade terrena como condio humana essencial. Nosso destino comum no planeta, compartilhar com todos, sua vida no planeta. Nossa identidade ao mesmo tempo individual e csmica. Educar para conquistar um vnculo amoroso com a Terra, no para explor-la, mas para am-la.

4. Formar para a conscincia planetria. Compreender que somos interdependentes. A Terra uma s nao e ns, os terrqueos, os seus cidados. No precisaramos de passaportes. Em nenhum lugar na Terra deveramos nos considerar estrangeiros. Separar primeiro de terceiro mundo, significa dividir o mundo para govern-lo a partir dos mais poderosos; essa a diviso globalista entre globalizadores e globalizados, o contrrio do processo de planetarizao.

5. Formar para a compreenso. Formar para a tica do gnero humano, no para a tica instrumental e utilitria do mercado. Educar para comunicar-se. No comunicar para explorar, para tirar proveito do outro, mas para compreend-lo melhor. A Pedagogia da Terra que defendemos funda-se nesse novo paradigma tico e numa nova inteligncia do mundo. Inteligente no aquele que sabe resolver problemas (inteligncia instrumental), mas aquele que tem um projeto de vida solidrio. Por que bela a diversidade, porque enriquecedora na possibilidade de criao de novas realidades e mais plenas. A solidariedade, como valor e como necessidade humana, embeleza, humaniza e promove a vida.

6. Educar para a simplicidade e para a quietude. Nossas vidas precisam ser guiadas por novos valores: simplicidade, austeridade, quietude, paz, saber escutar, saber viver juntos, compartir, descobrir e fazer juntos. Precisamos escolher entre um mundo mais responsvel frente cultura dominante que uma cultura de guerra, do rudo, de competitividade sem solidariedade, e passar de uma responsabilidade diluda a uma ao concreta, praticando a sustentabilidade na vida diria, na famlia, no trabalho, na escola, na rua. A simplicidade no se confunde com a simploriedade e a quietude no se confunde com a cultura do silncio. A simplicidade tem que ser voluntria como a mudana de nossos hbitos de consumo, reduzindo nossas demandas. A quietude uma virtude, conquistada com a paz interior e no pelo silncio imposto.

claro, tudo isso supe justia e justia supe que todas e todos tenham acesso qualidade de vida. Seria cnico falar de reduo de demandas de consumo, atacar o consumismo, falar de consumismo aos que ainda no tiveram acesso ao consumo bsico. No existe paz sem justia.

Diante do possvel extermnio do planeta, surgem alternativas numa cultura da paz e uma cultura da sustentabilidade. Sustentabilidade no tem a ver apenas com a biologia, a economia e a ecologia. Sustentabilidade tem a ver com a relao que mantemos conosco mesmos, com os outros e com a natureza. A pedagogia deveria comear por ensinar sobretudo a ler o mundo, como nos diz Paulo Freire, o mundo que o prprio universo, por que ele nosso primeiro educador. Essa primeira educao uma educao emocional que nos coloca diante do mistrio do universo, na intimidade com ele, produzindo a emoo de nos sentirmos parte desse sagrado ser vivo e em evoluo permanente.

No entendemos o universo como partes ou entidades separadas, mas como um todo sagrado, misterioso, que nos desafia a cada momento de nossas vidas, em evoluo, em expanso, em interao. Razo, emoo e intuio so partes desse processo, onde o prprio observador est implicado. O Paradigma-Terra um paradigma civilizatrio. E como a cultura da sustentabilidade oferece uma nova percepo da Terra, considerando-a como uma nica comunidade de humanos, ela se torna bsica para uma cultura de paz.

O universo no est l fora. Est dentro de ns. Est muito prximo de ns. Um pequeno jardim, uma horta, um pedao de terra, um microcosmos de todo o mundo natural. Nele encontramos formas de vida, recursos de vida, processos de vida. A partir dele podemos reconceitualizar nosso currculo escolar. Ao constru-lo e ao cultiv-lo podemos aprender muitas coisas. As crianas o encaram como fonte de tantos mistrios! Ele nos ensina os valores da emocionalidade com a Terra: a vida, a morte, a sobrevivncia, os valores da pacincia, da perseverana, da criatividade, da adaptao, da transformao, da renovao.

Todas as nossas escolas podem transformar-se em jardins e professores-alunos, educadores-educandos, em jardineiros. O jardim nos ensina ideais democrticos: conexo, escolha, responsabilidade, deciso, iniciativa, igualdade, biodiversidade, cores, classes, etnicidade, e gnero.

Paulo Freire insistia na necessidade de reafirmar a esttica como dimenso fundamental da tarefa de educar. O Instituto Paulo Freire vem dando continuidade e reinventando esse sonho de Paulo Freire. Como me escreveu um dos seus diretores pedaggicos, Paulo Roberto Padilha, que est concluindo sua tese de doutorado sobre esse tema, a boniteza de ser professor est no fato de ser uma atividade desafiadora, cheia de cores, tempos e espaos diferentes. A vida do professor poderia ser dinmica e bela se pudssemos ench-la de jardins, de sons, de imagens, de sentimentos... se pudssemos resgatar a beleza que temos em ns, seres humanos. Resgatar na sala de aula e na escola, a nossa humanidade. Concordo plenamente com ele.

7

Ser professor, ser educador

Educadores, onde estaro?, pergunta Rubem Alves.

E ele mesmo responde: Em que covas tero se escondido? Professores, h aos milhares, mas professor profisso, no algo que se define por dentro, por amor. Educador, ao contrrio, no profisso, vocao. E toda vocao nasce de um grande amor, de uma grande esperana. E continua: Com o advento da indstria como poderia o arteso sobreviver? Foi transformado em operrio de segunda classe, at morrer de desgosto e saudade. O mesmo com os tropeiros, que dependiam das trilhas estreitas e das solides, que morreram quando o asfalto e o automvel chegaram. Destino igualmente triste teve o boticrio, sem recursos para sobreviver num mundo de remdios prontos. Foi devorado no banquete antropofgico das multinacionais.

Rubem Alves um emrito escritor, psicanalista, educador respeitado, mas sobretudo um semeador de sonhos e de idias que do a pensar. Foi assim que introduziu uma intrigante distino entre ser professor e ser educador: Com o advento do utilitarismo a pessoa passou a ser definida pela sua produo; a identidade engolida pela funo. E isto se tornou to arraigado que, quando algum nos pergunta o que somos, respondemos inevitavelmente dizendo o que fazemos. Com essa revoluo instaurou-se a possibilidade de se gerenciar e administrar a personalidade, pois que aquilo que se faz e se produz, a funo, passvel de medio, controle, racionalizao. A pessoa praticamente desaparece, reduzindo-se a um ponto imaginrio em que vrias funes so amarradas. isto que eu quero dizer ao afirmar que o nicho ecolgico mudou. O educador, pelo menos o ideal que minha imaginao constri, habita um mundo em que a interioridade faz uma diferena, em que as pessoas se definem por suas vises, paixes, esperanas e horizontes utpicos. O professor ao contrrio, funcionrio de um mundo dominado pelo Estado e pelas empresas. uma entidade gerenciada, administrada segundo a sua excelncia funcional, excelncia esta que sempre julgada a partir dos interesses do sistema. Freqentemente o educador mau funcionrio, porque o ritmo do mundo do educador no segue o ritmo do mundo da instituies. No de se estranhar que Rousseau tenha se tornado obsoleto. Porque a educao que ele contempla ocorre colada ao imprevisvel de uma experincia de vida ainda no gerenciada. E conclui mais a frente: Talvez que um professor seja um funcionrio das instituies... O educador, ao contrrio um fundador de mundos, mediador de esperanas, pastor de projetos. No sei como preparar o educador. Talvez que isto no seja nem necessrio nem possvel... necessrio acord-lo. E a aprenderemos que educadores no se extinguiram como tropeiros e caixeiros.

As reaes s provocaes de Rubem Alves no se fizeram esperar. Suas teses geravam uma saudvel polmica. O professor Jefferson Ildefonso da Silva sustenta que existe um falso dilema entre educador e professor. Esse dilema se dilui e perde sua relevncia ao se encarar a formao do educador para alm do mbito pedaggico ou individualista, para situ-lo na perspectiva de uma proposta e teoria pedaggica que incorpore o carter poltico da prtica pedaggica e sua dependncia da prxis social global, onde se d a luta hegemnica das classes. Todo professor , por funo, educador. Para ele o educador um intelectual dirigente, orgnico. Numa sociedade dividida, ele no neutro. Numa perspectiva emancipadora, o educador um intelectual orgnico das classes populares, a favor dos interesses das pessoas que necessitam de educao.

Com ele, tambm concorda meu ex-aluno e amigo, a quem ensinei e, sobretudo, com quem muito aprendi e continuo aprendendo, o professor Celso dos Santos Vasconcellos para o qual seria um contra-senso pensar que a classe dominante se disponha a oferecer um ensino popular de qualidade que desvende as relaes de dominao existentes na sociedade: A escola para o povo s tem sentido numa nova forma de organizar a sociedade. No possvel fazer uma escola para todos dentro de uma sociedade para alguns! Ou seja, a democratizao da escola precisa ser acompanhada de um novo projeto social. Formar para e pela cidadania no pode limitar-se a uma formao genrica para uma sociedade que no existe. Uma educao cidad precisa ser uma educao de classe.

Vasconcellos insiste na questo do sentido da funo docente. Ele sustenta que os educadores no esto sabendo articular o novo sentido da sua profisso sobretudo em funo de seu desgaste profissional. Ele sustenta que o que vai dar sentido sua profisso justamente a esperana de poder construir uma realidade diferente e de que a escola pode contribuir para a concretizao desta sociedade mais humana. O mesmo movimento que recupera o sentido do trabalho do professor o que d sentido ao estudo para o aluno. Estamos no mesmo barco; da a importncia de ver no aluno e na comunidade um aliado (e no um inimigo, como tem acontecido amide). Vasconcellos insiste na necessidade do professor ganhar o aluno para a indispensvel mudana que deve ocorrer: no se trata mais de estudar simplesmente para poder garantir o seu lugarzinho no bonde da histria; trata-se, isto sim, de estudar a fim de ganhar competncia e ajudar a mudar o rumo deste bonde, ou seja, ajudar a construir uma sociedade onde haja lugar para todos! e cita a seguir um artigo da Folha de S. Paulo, segundo o qual o Brasil logo ter dois tipos de pessoas: os que no comem, porque no tm o que comer e os que no dormem, de medo dos que no comem.

Diante desse quadro, o professor competente, profissionalmente, o professor que sabe, no pode ficar indiferente. Porque ser comprometido, engajar-se, ser tico, faz parte da sua competncia como professor. Como profissional do sentido, sua profisso est ligada ao amor e esperana. Ela no se extinguir enquanto houver espao para a construo da humanidade.

A esperana, para o professor, a professora, no algo vazio, de quem espera acontecer. Ao contrrio, a esperana para o professor encontra sentido na sua prpria profisso, a de transformar pessoas, a de construir pessoas, e alimentar, por sua vez, a esperana delas para que consigam, por sua vez, construir uma realidade diferente, mais humana, menos feia, menos malvada, como costumava dizer Paulo Freire. Uma educao sem esperana no educao.

A educao, nesse sentido, confunde-se com processo de humanizao. Respondendo questo como o professor pode tornar-se um intelectual na sociedade contempornea, o gegrafo brasileiro Milton Santos, falecido no ano de 2001, respondeu: Quando consideramos a histria possvel e no apenas a histria existente, passamos a acreditar que outro mundo vivel. E no h intelectual que trabalhe sem idia de futuro. Para ser digno do homem, qual seja, do homem visto como projeto, o trabalho intelectual e educacional tem que ser fundado no futuro. dessa forma que os professores podem tornar-se intelectuais: olhando o futuro.

Pensar a educao do futuro e o futuro da humanidade pensar holisticamente, pensar a totalidade. E educar holisticamente estimular o desenvolvimento integral do ser humano em sua totalidade pessoal - intelectual, emocional, fsica - relacionada com a totalidade do mundo da vida - os outros seres vivos, a comunidade, a sociedade - e a totalidade csmica: a Terra, o universo. Educar holisticamente entender o se humano como um ser que transcende, que ultrapassa todos os limites, at o ltimo horizonte, como diz Leonardo Boff.

O professor precisa indagar-se constantemente sobre o sentido do que est fazendo. Se isso fundamental para todo ser humano, como ser que busca sentido o tempo todo, para toda e qualquer profisso, para o professor tambm um dever profissional. Faz parte de seus saberes profissionais continuar indagando, junto com seus colegas e alunos, sobre o sentido do que esto fazendo na escola. Ele est sempre em processo de construo de sentido. Como diz Celso Vasconcellos, o sentido no est pronto em algum lugar esperando ser descoberto. O sentido no advm de uma esfera transcendente, nem da imanncia do objeto ou ainda de um simples jogo lgico-formal. uma construo do sujeito! Da falarmos em produo. Quem vai produzir o sujeito, s que no de forma isolada, mas num contexto histrico e coletivo (...). Ser professor, na acepo mais genuna, ser capaz de fazer o outro aprender, desenvolver-se criticamente. Como a aprendizagem um processo ativo, no vai se dar, portanto, se no houver articulao da proposta de trabalho com a existncia do aluno; mas tambm do professor, pois se no estiver acreditando, se no estiver vendo sentido naquilo, como poder provocar no aluno o desejo de conhecer?

Celso Vasconcellos insiste, em seu livro que o papel do professor educar atravs do ensino. Ele pode apenas ensinar tabuada, mas s educa atravs do ensino quando construir o sentido da tabuada junto com seu aprendiz, por que, como diz ele, ensinar vem do latim insignare, que significa marcar com um sinal, atuar na construo do significado do que fazemos. Tudo o que fazemos precisamos fazer com sentido, tudo o que estudamos tem que ter sentido.

Os dois maiores educadores do sculo passado, John Dewey e Paulo Freire, cada um a seu modo, procuraram responder a essa questo e centraram suas anlises na relao entre educao e vida, reagindo s pedagogias tecnicistas do seu tempo tanto de esquerda quanto de direita que s se preocupavam com mtodos e tcnicas. Gostaria de ser lembrando como algum que amou a vida, disse Paulo Freire duas semanas antes de falecer. A educao s tem sentido como vida. Ela vida. A escola perdeu seu sentido de humanizao quando ela virou mercadoria, quando deixar de ser o lugar onde a gente aprende a ser gente, para tornar-se o lugar onde as crianas e os jovens vo para aprender a competir no mercado.

A educao, para ser transformadora, emancipadora, precisa estar centrada na vida, ao contrrio da educao neoliberal que est centrada na competividade sem solidariedade. Para ser emancipadora a educao precisa considerar as pessoas, suas culturas, respeitar o modo de vida das pessoas, sua identidade. O ser humano incompleto e inacabado como diz Paulo Freire, em formao permanente.

Por isso, hoje, o professor precisa mostrar que o neoliberalismo, com sua poltica de mercantilizao da educao, tornou a sua profisso descartvel. preciso mostrar tambm que uma educao de qualidade para todos invivel e contrria ao projeto poltico neoliberal capitalista. preciso fazer a anlise crtica, social, econmica. Mas tudo isso no basta. preciso que a rigorosa anlise da situao no fique nela, mas aponte caminhos e nos indique como caminhar. Caso contrrio, as anlises sociolgicas e polticas, por mais rigorosas e corretas que sejam, ajudam apenas para manter o imobilismo e a falta de perspectivas para o educador. H que superar tanto o imobilismo quanto a prtica do imediatismo tarefeiro e descomprometido com um projeto amplo de socidade.

O poder do professor est tanto na sua capacidade de refletir criticamente sobre a realidade para transform-la quanto na possibilidade de formar um grupo de companheiros e companheiras para lutar por uma causa comum. Paulo Freire insistia que a escola transformadora era a escola de companheirismo, por isso sua pedagogia uma pedagogia do dilogo, das trocas, do encontro, das redes solidrias. Companheiro vem do latim e significa aquele que partilha o po. Trata-se portanto de uma postura radical ao mesmo tempo crtica e solidria.

s vezes somos apenas crticos e perdemos o afeto dos outros por falta de companheirismo. No haver superao das condies atuais do magistrio sem um profundo sentimento de companheirismo. Lutando sozinhos chegaremos apenas frustrao, ao desnimo, lamria. Da o sentido profundamente tico dessa profisso. No fundo, para enfrentar a barbrie neoliberal na educao vale ainda a tese de Marx de que o prprio educador deve ser educado, educado para a construo histrica de um sentido novo de seu papel.

Escrevi esse pequeno inspirado na Pedagogia da autonomia de Paulo Freire. Nesse seu ltimo livro, ele trabalhou principalmente a tica e a esttica do ser professor: o que ele deve saber para ser professor, como ele deve ser para ser professor.

Paulo Freire sonhava com uma sociedade, um mundo, onde todos coubessem. A educao pode dar um passo na direo deste outro mundo possvel se ensinar as pessoas com um novo paradigma do conhecimento, com uma viso do mundo onde todas as formas de conhecimento tenham lugar, se dotar os seres humanos de generosidade epistemolgica, um pluralismo de idias e concepo que se constitui na grande riqueza de saberes e conhecimento da humanidade.

Creio que existe ainda na comunidade humana uma imensa reserva de altruismo e de solidariedade, um dique que o educador precisa conhecer e potencializar para romper as barreiras do represamento. Educar empoderar. No tanto ensinar quanto reencantar. Ou melhor, ensinar, nesse contexto, reencantar, despertar a capacidade de sonhar, despertar a crena de que possvel mudar o mundo. Essa profisso, por isso, insubstituvel. No podemos imaginar um futuro sem ela. No podemos imaginar um futuro sem professores. Nisso acredito nas palavras de Rubem Alves: Ensinar um exerccio de imortalidade. De alguma forma continuamos a viver naqueles cujos olhos aprenderam a ver o mundo pela magia da nossa palavra. O professor, assim no morre jamais....

A esta altura muitos leitores e leitoras estaro se perguntando se eu no estaria idealizando a figura do professor, ignorando totalmente a estrutura catica imposta s redes e sistemas de ensino pelo estado capitalista que acaba culpabilizando o prprio professor pelos fracassos da escola. O cenrio no otimista. Eu no poderia, de forma alguma, ignor-lo. Ao contrrio, precisamos reacender o sonho de ser professor com sentido, justamente para combater esse estado de coisas. Precisamos reafirmar o sonho justamente, como nos diz Paulo Freire, para fazer frente malvadez neoliberal, ao cinismo de sua ideologia fatalista e a sua recusa inflexvel ao sonho e utopia. Sair do plano ideal para a prtica, no abandonar o sonho para agir, mas agir em funo dele, agir em funo de um projeto de vida e de escola, de cidade, de mundo possvel, de planeta... um projeto de esperana.

BIBLIOGRAFIAALVES, Rubem. Conversas com quem gosta de ensinar. So Paulo, Cortez, 1981.

ANTUNES, ngela. Aceita um conselho? Como organizar o colegiado escolar. So Paulo, Cortez/IPF, 2002.

ANTUNES, ngela. Leitura do mundo no contexto da planetrarizao: por uma pedagogia da sustentabilidade. So Paulo, Faculdade de Educao da Universidade de So Paulo, 2002 (Tese de doutorado).

ARROYO, Miguel G. Ofcio de mestre: imagens e auto-imagens. Petrpolis, Vozes, 2000.

BOFF, Leonardo. Saber cuidar: tica do humano, compaixo pela terra. Petrpolis, Vozes, 1999.

----------. Tempo de transcendncia: o ser humano como um projeto infinito. So Paulo, Sextante, 2000.

BRANDO, Carlos R. (org.). O educador: vida e morte escritos sobre uma espcie em perigo. So Paulo, Brasiliense, 1982.

CNTE (Confederao Nacional dos Trabalhadores em Educao). Educao: carinho e trabalho Burnout, a sndrome da desistncia do educador, que pode levar falncia da educao. Braslia, CNTE, 1999.

CORTESO, Luiza. Ser professor: um ofcio em risco de extino. So Paulo, Cortez/IPF, 2002.

DELORS, Jacques Delors (org.). Educao: um tesouro a descobrir Relatrio para a UNESCO da Comisso Internacional sobre Educao para o Sculo XXI. So Paulo, Cortez, 1998.

DEMO, Pedro. Conhecer & Aprender Sabedoria dos limites e desafios. Porto Alegre, Artmed, 2001.

----------. Ironias da educao: mudana e contos sobre mudana. Rio de Janeiro, DP&A, 2000.

----------. Saber pensar. So Paulo, Cortez/Instituto Paulo Freire, 2000.

DOWBOR, Ladislau. A reproduo social: propostas para uma gesto descentralizada. Petrpolis, Vozes, 1998.

----------. Tecnologias do conhecimento: os desafios da educao. Petrpolis, Vozes, 2001.

ESTEVE, Jos M. O mal-estar docente. Lisboa, Escher, 1992.

FERNNDEZ, Alcia. A mulher escondida na professora. Porto Alegre, Artmed, 1994.

FREIRE, Paulo. Educao e mudana. Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1979.

----------. Professora sim, tia no: cartas a quem ousa ensinar. So Paulo, Olho Dgua, 1993.

----------. Pedagogia da autonomia: saberes necessrios prtica educativa. So Paulo, Paz e Terra, 1997.

GADOTTI, Moacir. Pedagogia da Terra. So Paulo, Peirpolis, 2001.

----------. Perspectivas atuais da educao. Porto Alegre, Armed, 2000.

IMBERNN, Francisco. Formao docente e profissional: formar-se para a mudana e a incerteza. So Paulo, Cortez, 2000.

MARQUES, Mrio Osrio. A formao do profissional da educao, Iju, Editora UNIJU, 1992.

McLUHAN, Herbert M. Os meios de comunicao como extenses do homem. So Paulo, Cultrix, 1974.

NVOA, Antnio (org.). Profisso professor. Porto, Porto Editora, 1991.

PADILHA, Paulo Roberto. Planejamento dialgico: como construir o projeto poltico-pdaggico da escola. So Paulo, Cortez/IPF, 2001.

PERRENOUD, Philippe. Construir as competncias desde a escola, Porto Alegre, Artmed, 2002.PESSANHA, Eurize Caldas. Ascenso e queda do professor, So Paulo, Cortez, 1994.

SANTOS, Milton. O professor como intelectual na sociedade contempornea. In Anais do IX ENDIPE- Encontro Nacional de Didtica e Prtica de Ensino, vo. III, So Paulo, 1999.

----------. Por uma outra globalizao: do pensamento nico conscincia universal. So Paulo, Record, 2000.

SILVA, Jefferson Ildefonso da. Formao do educador e educao poltica, So Paulo, Cortez/Autores Associados, 1991.

SNYDERS, Georges. A alegria na escola. So Paulo, Manole, 1986.

VASCONCELLOS, Celso. Para onde vai o professor? Resgate do professor como sujeito de transformao. So Paulo, Libertad, 2001.

SOBRE O AUTOR

MOACIR GADOTTI nasceu em Rodeio (SC), em 1941. licenciado em Pedagogia (1967) e Filosofia (1971). Fez Mestrado em Filosofia da Educao na Pontifcia Universidade Catlica de So Paulo (1973), Doutorado em Cincias da Educao na Universidade de Genebra (1977) e Livre Docncia na Universidade Estadual de Campinas (1986).

Foi professor de Histria e Filosofia da Educao em cursos de graduao e ps-graduao de diversas instituies, entre elas a Pontifcia Universidade Catlica de So Paulo, a Universidade Estadual de Campinas e a Pontifcia Universidade Catlica de Campinas. Foi assessor tcnico da Secretaria Estadual de Educao de So Paulo (1983-1984) e Chefe de gabinete da Secretaria Municipal de Educao da Prefeitura de So Paulo (1989-1990), na gesto de Paulo Freire. Atualmente professor titular da Faculdade de Educao da Universidade de So Paulo e diretor do Instituto Paulo Freire.

Possui um grande nmero de publicaes em que desenvolve uma proposta educacional cujos eixos so a formao crtica do educador e a construo da escola cidad, numa perspectiva dialtica integradora da educao e orientada pelo paradigma da planetaridade. Entre os livros publicados destacam-se: A educao contra a educao (1981), Concepo dialtica da educao (1983), Pensamento pedaggico brasileiro (1987), Convite leitura de Paulo Freire, (1988), Escola cidad (1992), Histria das idias pedaggicas (1993), Pedagogia da Prxis (1995) Paulo Freire: uma biobibliografia (1996), Perspectivas Atuais da Educao (2000), Pedagogia da Terra (2000) e Um legado de esperana (2001). Paulo Freire, Pedagogia da autonomia: saberes necessrios prtica educativa. So Paulo, Paz e Terra, 1997, p. 67.

Idem, ibidem, p. 160.

Paulo Freire, in Carlos R. Brando (org.), O educador: vida e morte escritos sobre uma espcie em perigo. So Paulo, Brasiliense, 1982, p. 101.

Paulo Freire, Pedagogia da autonomia: saberes necessrios prtica educativa. So Paulo, Paz e Terra, 1997, p. 15.

Estou tornando pblicos os direitos autorais deste livro para que ele possa ser reproduzido parcial ou integralmente e impresso em qualquer formato, por qualquer pessoa ou instituio, desde que no seja vendido a preo superior a R$ 1,00 (um real). Aproveito a oportunidade para agradecer aos companheiros Paulo Roberto Padilha e ngela Antunes pelas preciosas sugestes que me ofereceram na reviso do texto original deste livro.

E somos muitos professores no mundo: 50 milhes. Somos organizados e alguma coisa podemos fazer para mudar a ordem das coisas. Segundo a UNESCO (In Jacques Delors (org.), Educao: um tesouro a descobrir Relatrio para a UNESCO da Comisso Internacional sobre Educao para o Sculo XXI. So Paulo, Cortez, 1998, p. 156),a profisso de professor uma das mais fortemente organizadas do mundo e as organizaes de professores podem desempenhar e desempenham um papel muito influente em vrios domnios. A maior parte dos cerca de cinqenta milhes de professores que h no mundo esto sindicalizados ou julgam-se representados por sindicatos.

Leonardo Trevisan, in O Estado de S. Paulo, 1 de julho de 1989, p. 2.

Essa mensagem est, na ntegra, na abertura de um pequeno e denso livro do educador e economista Ladislau Dowbor, Tecnologias do conhecimento: os desafios da educao. Petrpolis, Vozes, 2001.

Herbert M. McLuhan, Os meios de comunicao como extenses do homem. So Paulo, Cultrix, 1974.

Ladislau Dowbor, A reproduo social: propostas para uma gesto descentralizada. Petrpolis, Vozes, 1998.

Luiza Coreso, Ser professor: um ofcio em risco de extino. So Paulo, Cortez/IPF, 2002.

Ver ngela Antunes, A leitura do mundo no contexto da planetarizao: por uma pedagogia da sustentabilidade. So Paulo, FE-USP, 2002 (Tese de doutorado).

Ver Paulo Freire, Professora sim, tia no: cartas a quem ousa ensinar. So Paulo, Olho Dgua, 1993.

Mrio Osrio Marques, A formao do profissional da educao, Iju, Editora UNIJU, 1992, p. 113.

Eurize Caldas Pessanha, Ascenso e queda do professor, So Paulo, Cortez, 1994.

Idem, p. 28.

Francisco Imbernn. Formao docente e profissional: formar-se para a mudana e a incerteza. So Paulo, Cortez, 2000, p. 109. O autor professor da Universidade de Barcelona.

Veja-se o livro do grande discpulo de John Dewey, William Heard Kilpatrick (1876-1965) Educao para uma civilizao em mudana.

Francisco Imbernn. Formao docente e profissional: formar-se para a mudana e a incerteza. So Paulo, Cortez, 2000, p. 11.

Veja-se Paulo Freire (Pedagogia da autonomia: saberes necessrios prtica educativa), Jacques Delors, org. (Educao, um tesouro a descobrir) e Edgar Morin (Sete saberes necessrios educao do futuro).

Francisco Imbernn. Formao docente e profissional: formar-se para a mudana e a incerteza. So Paulo, Cortez, 2000, p. 27.

Paulo Freire, Pedagogia da autonomia: saberes necessrios prtica educativa, So Paulo, Paz e Terra, 1997, p. 43.

Francisco Imbernn. Formao docente e profissional: formar-se para a mudana e a incerteza. So Paulo, Cortez, 2000, p. 40.

Idem, p. 78.

Veja-se Paulo Roberto Padilha, Planejamento dialgico: como construir o projeto poltico-pdaggico da escola (So Paulo, Cortez/IP, 2001) e ngela Antunes, Aceita um conselho? Como organizar o colegiado escolar (So Paulo, Cortez/IPF, 2002).

Op. cit., p 81.

Para maiores informaes sobre os projetos do Instituto Paulo Freire veja-se o site HYPERLINK "http://www.paulofreire.org" www.paulofreire.org.

Francisco Imbernn. Formao docente e profissional: formar-se para a mudana e a incerteza. So Paulo, Cortez, 2000, p. 88.

Idem, p. 94.

Donald Schn. Educando o profissional reflexivo. Porto Alegre, ArtMed, 1998.

Philippe Perrenoud, Construir as competncias desde a escola, Posto Alegre, Artmed, 2002. Traduo do francs Construire des comptences ds lcole. Paris, ESF, 1997.

Moacir Gadotti, Perspectivas atuais da educao. Porto Alegre, Armed, 2000.

Paulo Freire, Pedagogia da autonomia: saberes necessrios prtica educativa. So Paulo, Paz e Terra, 1997.

Jacques Delors (org.), Educao: um tesouro a descobrir Relatrio para a UNESCO da Comisso Internacional sobre Educao para o Sculo XXI. So Paulo, Cortez, 1998.

Pedro Demo, Saber pensar. So Paulo, Cortez/Instituto Paulo Freire, 2000.

Paulo Freire, Pedagogia da autonomia: saberes necessrios prtica educativa. So Paulo, Paz e Terra, 1997, p. 32.

Rubem Alves, Sobre moluscos e homens, in Folha de S. Paulo, 17 de fevereiro de 2002, p. 3.

Paulo Freire, Pedagogia da autonomia: saberes necessrios prtica educativa. So Paulo, Paz e Terra, 1997, p. 25.

Georges Snyders, A alegria na escola. So Paulo, Manole, 1986.

Pedro Demo, Conhecer & Aprender Sabedoria dos limites e desafios. Porto Alegre, Artmed, 2001.

Jacques Delors (org.), Educao: um tesouro a descobrir Relatrio para a UNESCO da Comisso Internacional sobre Educao para o Sculo XXI. So Paulo, Cortez, 1998, p.154-155.

Ver pesquisa sobre sade dos trabalhadores em educao da CNTE (Confederao Nacional dos Trabalhadores em Educao), Educao: carinho e trabalho Burnout, a sndrome da desistncia do educador, que pode levar falncia da educao. Braslia, CNTE, 1999. Essa pesquisa foi o mais amplo levantamento j realizado a respeito da educao em todo o mundo. Durante dois anos foram entrevistados 52 mil professores e funcionrios de escola em 1.440 unidades das redes pblicas estaduais, nos 27 estados do Brasil.

Milton Santos, Por uma outra globalizao: do pensamento nico conscincia universal. So Paulo, Record, 2000.

Ver ngela Antunes, Leitura do mundo no contexto da planetarizao: por uma pedagogia da sustentabilidade. So Paulo, Faculdade de Educao da Universidade de So Paulo, 2002 (Tese de doutorado) e Moacir Gadotti, Pe


Recommended