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A Fotografia de Rua como Experiência do Sensível

Profª Drª Marta Martins

Maryella Sobrinho | Luciano Buchmann | Cyntia Werner

Boris Kossoy (São Paulo, 1941), fotógrafo, pesquisador, historiador e professor. Em 1968 fundou o Estúdio Ampliart, atuando nas áreas de jornalismo, publicidade e retrato, paralelamente a uma carreira autoral.

Responsável pelo resgate histórico da pesquisas que comprovaram a invenção paralela da fotografia no Brasil por Hércules Florence, trazendo reconhecimento mundial a esse inventor.

Hercules Florence, através dos seus experimentos com métodos de “impressão pela luz”, inventou a fotografia no Brasil de forma isolada em 1833. Através de uma intensa pesquisa, BorisKossoyo colocou entre os pioneiros mundiais na descoberta da fotografia

Construção e desmontagem do signo fotográfico

•Estética, memória e ideologia•Imagem fotográfica. Sua trama, suas realidades•Mecanismos internos da produção e da recepção de imagens: processos de construção de realidades•Mundo real e mundo ficcional•Proposição metodológica de análise e interpretação das fotografias: a desmontagem do signo fotográfico

Estética, memória e ideologia

•1ª parte teórica: retoma conceitos para expandir questões e propor novas contribuições ao “terreno pantanoso e sedutor da estética fotográfica”•Estudo de fontes propiciar elementos de percepção para registro e direção da compreensão sobre fatos históricos;•Trata-se da fotografia como instrumento para a reflexão da estética fotográfica;•aplicação de tais conceitos na interpretação das imagens contemporâneas e do passado;

Estética, memória e ideologia

•A fotografia: “testemunho da verdade”, de fatos, as fotos; credibilidade mesmo sempre possível de prestar-se a diferentes usos;

•Ideologias diversas tiveram na foto instrumento de veiculaçãomultimassiva- informação + divulgação. Manipulação para a credibilidade junto a massa sempre foi presente: política comprova.

•Uso ilustrativo

•O potencial do documento não é explorado; desconhecimento ou despreparo;

•Informação não decodificada

•“muitas vezes na própria imagem” como sendo a fotografia igual à história” (p.21)

•O conteúdo da imagem- fonte de informação para emprego na investigação histórica, “além da própria fotografia”, ponto de partida para desvendar o passado:

Elas nos mostram um fragmento selecionado doa aparência das coisas, das pessoas, dos fatos, tal como foram(estética/ideologicamente) congelados num a cada momento de sua existência/ocorrência (p.21)

•A foto não é espelho fiel do fato.

•Ambiguidades, portadoras de significados não explícitos e de omissões, pensadas e calculadas que “aguardam competente decifração”(p.22)

•Sem o que permanecem “estagnadas no seu silêncio – fragmentos desconectados da memória, meras ilustrações “artista do passado”

•A imagem fixa congelada na sua condição documental.

Cabe

•A “tarefa de desmontagem de contribuições ideológicas materializadas”;

•“Decifrar a realidade interior das representações fotográficas, realidades e ficções, as finalidades para as quais foram produzidas é a tarefa para as quais foram produzidas é a tarefa fundamental a ser empreendida” (p.23)

Imagem fotográfica. Sua trama, suas realidades.

Os elementos constitutivos incorporados a imagem

fotográfica.

Desmonte dos elementos constitutivos:

•assunto;•Seleção do equipamento•Quadro, composição – harmonia•Momento: instante de obtenção do resultado planejado;•Seleção material (f. base química);•“atmosfera”/laboratório;

•Fragmentação: assunto selecionado do real (recorte espacial)

•Congelamento:paralisação da cena (interrupção da cena)

A imagem é criada de um só golpe

“fio da duração e do continuum da extensão” “temporalmente a imagem-ato fotográfica interrompe, detém, fixa, imobiliza[...]desprende da duração captando um só instante. Espacialmente, da mesma maneira, funciona, elege, isola[...]uma porção da extensão” (p.29)Dubois

Robert Doisneau-1948

Técnica/repertório

•A técnica - articular a relação fragmentação/congelamento: cultural e expressivamente no processo criação – no instante do registro se dá a materialização documental do espaço e tempo;•Repertório/filtro individual c/ apoio tecnológico = Interpretação final/ laboratório=processo/construção

Fotografia: documento/representação

•Representação a partir do real – olhar e a ideologia de seu autor.•Em função da sua materialidade registro a tomamos também como documento do real, umafonte histórica [contém informação de testemunha direta dos fatos]•Registro/testemunho fotográfico-processo de criação; relação registro/criação: binômio indivisível. (p.31)•Ambiguidade fundamental na análise de fontes fotográficas

seleção

DUALIDADE ONTOLÓGICA DOS CONTEÚDOS FOTOGRÁFICOS

•A foto fornece sempre provas, indícios, funciona sempre como documento iconográfico de certa realidade:•Índice: prova, constatação documental sobre o assunto representado;rastroindicial, mesmo que este referente tenha sido artificialmente produzido;•Ícone:comprovação documental da aparência do assunto que o mesmo tem com a imagem, produto iconográfico com elevado grau de semelhança; (p.33)

•Indicialidade iconográfica que dá corpo à evidência e conforma o registro fotográfico não independente do ato criador;•O índice comprova a ocorrência / aparência do referente que o fotógrafo pretendeu perpetuar.•O dado do real, registrado, corresponde a um produto documental elaborado cultural, técnica e esteticamente, portanto ideologicamente

Imagem fotográfica

REPRESENTAÇÃO[a partir do real]

[materialização documental]REGISTRO

[obtido através de u sistema de representação visual]

[Processo de ]CRIAÇÃO/CONSTRUÇÃO[elaboração pelo fotógrafo]

DOCUMENTO[do real

As realidades da fotografia

•Primeira realidade

•É o próprio passado;•Assunto na dimensão da vida passada;•História particular do assunto;•Contexto do assunto no ato do registro;•Processo de criação / tempo e espaço

•Segunda realidade

•Realidade do assunto representado, limites bidimensionais da imagem;•imutável documento visual.•Realidade do documento, referência sempre presente de um passado inacessível. Original e cópias sempre uma segunda realidade

O assuntoconteúdo explícito: face aparente e externa de uma micro história do passado.Realidade exterior = documento

Natureza comum a todas as imagens fotográficas e que se constitui em segunda realidade

A fotografia consiste nisso:

•Transposição da realidade – assunto selecionado ( primeira realidade), para a realidade da representação ( 2ª representação);•Registro expressivo das aparências não verdade histórica;•Quadro 3

ASSUNTOregistrado(representação)

Processo de CRIAÇÃO

[dimensão da imagem fotográfica]

2ª realidade

REALIDADE EXTERIOR[nível do documento o

aparente]

ESPAÇO TEMPO

Mecanismos Internos da Produção e da Recepção das Imagens:

Processos de construção de Realidade*

Detecção e explicitação dasmultiplasrealidades

Mecanismos de regência da produção e recepção das imagens

Mecanismos mentais que encerram a experiência fotográfica:

•Processo de construção e representação;•Processo de construção da interpretação/recepção;•Objetivo : contribuir para fundamentos daestéticada fotografia;•A desmontagem destes mecanismos permite perceber produção e recepção são processos de construção de realidades; (quadro 4)

A produção da imagem:mecânismo interno de construção e representação

•A fotografia é construção somatória de montagens: intenção + material cultural, estética/ ideológica;•Fotografia conecta c referente; recriação: assunto é produto do processo de criação; construção do signo+ nova realidade, do objeto à representação como transposição da realidade, esse como um novo real, ideologizado “a segunda realidade”

•Elo de ligação com o passado – documento•Realidade fragmentária o assunto da representação; ligação ao passado que tomamos como referencia (1ª realidade)•Essa realidade da representação veicula memória, apreciada, interpretada•A 1ª realidade – do passado – substituída pelo signo expressivo “signo da presença imaginária de uma ausência definitiva”(FritzKempe)

A recepção

•Subtende os mecanismos do processo de interpretação. Liga-se ao imaginário, ao repertório individual.•Diferenças subjetivas permitem leitura plural;•O receptor possui imagens preconcebidas que agem como filtros e regem o comportamento;•Dependendo do estímulo: interagimos e recriamos•Rememoração; moldagem comportamental: consumo, conceituação, fantasiar ...interpretações convenientes na adequação dos significados (p.45)

•Adequação em relação as imagens mentais•A foto gera memórias, um arquivo visual de referências insubstituível – uma vez assimiladas, torna-se dinâmico/ reação imaginária;•Imaginário em combinatória com o capital simbólico e a emoção;•A imagem fotográfica ultrapassa na mente do receptor, o fato que representa. (p.45)

A foto original está e que inclui Joseph Stalin, NikolaiYezhov, e Leon Trotsky. Stalin,Trotsky tinha tirado a fotografia na segunda imagem para fins de propaganda, negandoqualquer associação entre os dois. Isso muda completamente a mensagem doimage. DepoisYezhovfoi executado, alguns anos depois, ele também foi editado fora

desta fotografia, portanto, o que implica que ele não existia em afiliação com Stalin.Foto não autentica e não verídica.

Fotos de celebridades manipuladas digitalmente em favor das manifestações no Brasil.Não é autentica e não é verídica.

Governo norte-coreano adulterou fotos para gerar comoção internacional. Não éautentica e não é verídica.

PROCESSO DE CONSTRUÇÃO DE REALIDADES

- Para construir um signo fotográfico, é necessária a criação

documental de uma realidade concreta.

- Confronto de realidades: segunda (a representação) e a primeira

(o que se imagina,construção fragmentada, através de recuperação

de pedaços do passado).

- O conflito = visível x invisível.

- A realidade passada é fixa. Não há como mudar o passado.A vida

“real”. mesmo assim, está sujeita à múltiplas interpretações.

- Sempre haverá uma construção de realidades. É ai que reside o

ponto nodal da expressão fotográfica: uma realidade moldável em

sua produção, plena de verdades explícitas e segredos implícitos.

- A fotografia é documental, porém imaginária.(p.47)

“Tratamos,pois, de uma expressão peculiar que, por possibilitar

inúmeras representações/interpretações, realimenta o imaginário

num processo sucessivo e interminável de construção e criação de

novas realidades.” (p.48)

http://www.alemdaimaginacao.com/Fotos%20do%

20Alem/fotos_post_mortem.html

Produção, elaborada pelo fotógrafo (materialização documental)

Pós-produção, editoração estética/ideológica (manipulação de toda ordem)

Representação final (mensagem direcionada)

Processo de construção de interpretação

Recepção

�Moradias improvisadas ao redor do acampamento Paranoá.

�Brasília, 1958.�Marcel Gautherot

Análise iconográfica: arqueologia do documento.

Tentar encontrar todas as informações daquele

documento. É uma busca por informações úteis na

medida em que nos revelam dados concretos sobre o

documento no que diz respeito à sua materialização

documental e aos detalhes nele gravados.

Interpretação iconológica: momento em que lembramos

que o documento fotográfico é uma representação a

partir do real, onde está representado um recorte do

real, organizado ideologicamente. É importante

resgatar a história própria do assunto (não importa o

momento). Busca-se decifrar a realidade interior, seu

significado.

Documento fotográfico

Análise iconográfica Interpretação iconológica

Realidade exterior+Realidade interior

Taguatinga em 1979

Partem rumo ao planalto central os primeiros funcionários públicos a fazerem o trajeto de mudança para a capital de ônibus

PARTE 2

DECIFRANDO A REALIDADE INTERIOR DAS IMAGENS DO PASSADO

O Cartão postal:Entre a Nostalgia e a Memória

- Surgimento do cartão postal na passagem do século XIX para o XX;

- Imagens acessíveis a grande massa através da reprodução em gravura;

- Consolidação da “civilização da imagem”;

- 1900-1925, “idade de ouro” do cartão postal, colecionismo;

- Modismo europeu absorvido pela sociedade brasileira;

- Fotográfos retratistas passaram a se dedicar as fotos de paisagem;

- Predomínio de vistas de logradouros e panoramas de cidades;

- Caso de São Paulo na passagem do seculo XIX para o XX;

- Elite almeja uma capital iconograficamente européia.

- Fotágrafos: Guilherme Gaensly e Vicenzo Pastore.

A Construção Nacional na Fotografia Brasileira:O Espelho Europeu

- Montagem ideológica na imagem fotográfica;

- Construção de uma identidade nacional no período imperial;

- Joaquim Insley Pacheco, retrato da família real;

- Cenas de progresso material, triunfos militares e natureza;

- Acumulo de componentes ideológicos na imagem fotográfica;

- Estereótipos nacionais como elemento de identificação no exterior;

- Album de vues du Brésil, Barão de Rio Branco;

- Montagem editada, construída ideologicamente;

- Reelaborada por “renomados litógrafos franceses”;

- Exposição Universal de 1889;

- Queda da monarquia.

Imagens e Arquivos: para que não nos

esqueçamos

“A luta pela proteção do patrimônio fotográfico é

uma questão cultural que afeta a todos aqueles

que têm um minimo de preocupação com a segurança

das informações históricas e contemporâneas que

se acham gravadas nos documentos.”

“A fotografia conecta-se a uma realidade primeira que

a gerou em algum lugar e época. Porém, perdendo-se os

dados sobre aquele passado, ou melhor, não existindo

informações acerca do referente que a originou, o que

mais resta? Uma imagem perdida, sem identificação,

sem identidade… sem história.” (p.130)

Autoria desconhecida. Fonte: Arquivo Público de Brasília

“É o espetáculo da cidade, identificável pela aparência gravada na

imagem fotográfica: precioso documento, que preserva a memória

histórica. (...) Estamos diante de realidades superpostas, a que se

vê retratada na imagem (segunda realidade, a da representação)

convivendo com aquela que se imagina e que teve lugar no passado

(primeira realidade) num jogo ambíguo, eterno e deslizante.” (p.133)

https://www.google.com.br/search?q=candangos+na+constru%C3%A7%C3%A3o+de+brasilia&rlz=1CASMAE_enBR645BR645&espv=2&biw=1366&bih=633&site=webhp&source=lnms&tbm=isch&sa=X&ved=0CAYQ_AUoAWoVChMIycT47dz7xwIVzH2QCh102wC3#imgrc=bOxjkQKnEdsdAM%3A