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SOCIOLOGIA, ESTUDOS ANTROPOLÓGICOS E RELAÇÕES ÉTNICO-RACIAIS

AUTOR: JEAN CARLOS BITTENCOURT

C A D E R N O

ESTUDO

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FICHA TÉCNICA

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Coordenação do Curso de Odontologia – Dr. Túlio Del Conte ValcanaiaCoordenador-adjunto: Me. Giovani MelloE-mail: [email protected]

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Coordenação do Curso de Psicologia - Dra. Fernanda Germani de Oliveira ChiarattiE-mail: [email protected]

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Coordenação do Curso de Tecnólogo em Gastronomia – Me. Jocilene Demétrio JurcevicE-mail: [email protected]

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SUMÁRIO

AUTOR ........................................................................................ 8

INTRODUÇÃO .............................................................................. 9

UNIDADE I ..................................................................................11SOCIOLOGIA UMA CIÊNCIA DA MODERNIDADE1 SURGE A SOCIOLOGIA, E COM ELA AFLORAM AS MAIS DIVERSAS TEORIAS ....................11

1.1 ANTES DE A SOCIOLOGIA ENTRAR EM CENA. ................................................................................ 13

1.2 A RAZÃO COMO INSTRUMENTO PARA COMPREENSÃO DO MUNDO... ............................................. 14

1.3 COM A REVOLUÇÃO INDUSTRIAL CONSOLIDA-SE O CAPITALISMO. ................................................ 19

1.4 O TEMA EM ARTIGO .....................................................................................................................20

1.5 SOCIOLOGIA E SUA HISTÓRIA SOCIAL ...........................................................................................25

1.6 ÉMILE DURKHEIM ........................................................................................................................29

1.7 DURKHEIM E A MODERNIDADE EMINENTE. .................................................................................. 31

1.8 SOLIDARIEDADE MECÂNICA E SOLIDARIEDADE ORGÂNICA – EMILE DURKHEIM .............................33

1.9 HEBERT SPENSER .......................................................................................................................35

1.10 KARL MARX ..............................................................................................................................37

1.10.1 Marx e o seu discurso sobre o modo de produção. ..............................................................38

1.11 O AUTOR EM ARTIGO... ...............................................................................................................40

1.12 MAX WEBER ...............................................................................................................................44

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SUMÁRIO

UNIDADE II .................................................................................53A SOCIOLOGIA CONQUISTA A MATURIDADE2 PIERRE BOURDIE ...................................................................................................53

2.1 O SOCIÓLOGO EM ARTIGO ............................................................................................................55

2.2 ANTÔNIO GRAMSCI ......................................................................................................................59

2.3 KARL MANNHEIN .........................................................................................................................66

UNIDADE III ................................................................................76SOCIOLOGIA NO BRASIL3 APRESENTAÇÃO ....................................................................................................76

3.1 GILBERTO DE MELO FREYRE ........................................................................................................76

3.2 FLORESTAN FERNANDES .............................................................................................................84

3.2.2 O autor em Revista ..............................................................................................................87

3.3 HERBERT JOSÉ DE SOUZA ............................................................................................................89

3.4 FERNANDO HENRIQUE CARDOSO ................................................................................................. 91

UNIDADE IV ................................................................................96RELAÇÕES ÉTNICO-RACIAIS4 DIFERENÇAS PELA DIVERSIDADE .............................................................................96

4.1 O TEMA EM ARTIGO .....................................................................................................................99

4.2 RACISMO E AS QUESTÕES DE GÊNERO ...................................................................................... 105

4.3 O JOVEM E NEGRO BRASILEIRO ................................................................................................. 106

REFERÊNCIAS ........................................................................... 108

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8SOCIOLOGIA, ESTUDOS ANTROPOLÓGICOS

E RELAÇÕES ÉTNICO-RACIAIS

JEAN CARLOS BITTENCOURT

Graduado em História (Bacharel) e Estudos Sociais (Licenciatura) pela Universidade do Vale

do Itajaí, possui Cursos de Especialização em Metodologia do Ensino de História, Docência na

Educação Básica e Docência no Ensino Superior. É Mestre em Educação com pesquisa na área do

currículo e avaliação com enfoque em História, Sociedade, Políticas Educacionais e educação de

Jovens e Adultos. Atualmente é professor da disciplina de Socio logia, na Faculdade Avantis. Atua

também como docente da Escola Municipal Professora Felicidade Pinto Figueredo – Balneário

Piçar ras/SC, onde é efetivo como professor de História.

AUTOR

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9SOCIOLOGIA, ESTUDOS ANTROPOLÓGICOS

E RELAÇÕES ÉTNICO-RACIAIS

Cada ser humano é único, e pelo simples fato de sua existência é dotado de ação. Essas ações

não surgem do nada, são impelidas pelos diversos contextos a que somos submetidos desde o

dia em que nascemos até nossa morte, e também, apesar de sermos únicos necessitamos de algo

maior para que possamos imprimir nossa marca e expor nossas vontades e ações. A esse “algo

maior”, podemos chamar de sociedade.

O mundo em que vivemos, passa por transformações constantes. Por milhões de anos os

seres que o habitam ou já não existem mais, presenciaram essas transformações, num processo

de eterna evolução. Neste cenário, eis que surge a mais complexa das criaturas: O ser humano,

que, dotado de uma maravilhosa possibilidade de raciocínio e habilidades manuais, jamais

encontradas em outros animais, transformou drasticamente as relações entre a natureza e os

seres que a habitam.

A condição humana também cria formas de viver em grupos, grupos estes que chamamos

de sociedade, historicamente modificadas a medida que aumentam e tornam-se cada vez mais

complexas, com problemas e relações pertinentes a cada momento da evolução humana na terra.

Neste cenário, o homem ainda figura no topo das relações de uso e transformação da natureza,

é ele que, dotado da razão, explora e comanda este complexo planeta, criando situações que

muitas vezes o coloca como algoz de seu próprio povo.

“A pluralidade é a condição da ação humana pelo fato de sermos todos os mesmos, isto é, humanos, sem que ninguém seja exatamente igual a qualquer pessoa que tenha

existido, exista ou venha a existir”.

Hannah Arendt (2004)

INTRODUÇÃO

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10SOCIOLOGIA, ESTUDOS ANTROPOLÓGICOS

E RELAÇÕES ÉTNICO-RACIAIS

Saudações iniciais...

Olá queridos alunos e alunas. É com grande satisfação que convido a todos a iniciarem nossos

estudos na disciplina de Sociologia.

À você, neste momento, está sendo apresentado um novo conceito de aprendizagem, visto

que a partir de agora, você juntamente ao professor passa a ser o agente de sua aprendizagem,

podendo extrapolar os limites de uma aula normal, visto que um mundo de oportunidades e

novos saberes poderão ser acessados a qualquer momento por ambos e discutidos em nossa

plataforma de ensino.

Queremos muito mais que ensinar a você alguns conceitos dessa disciplina. Na verdade,

gostaríamos de lhe oferecer a oportunidade de poder escrever textos marcantes, que contemplem

conhecimentos científicos, culturais e que propiciem uma verdadeira reflexão a respeito de sua

formação acadêmica, sua profissão e a sociedade dinâmica em que está inserido.

Neste caderno, veremos como e em que momento histórico surgiu a Sociologia enquanto

ciência; conheceremos seus principais pensadores, tanto na Europa quanto na América, e neste

último continente, estudaremos alguns sociólogos importantes para a sociologia brasileira. Junto

às histórias de vida desses pensadores, vocês terão também algumas observações sobre suas

correntes teóricas, bem como suas obras.

Teremos também a oportunidade de discutir algumas questões relacionadas às produções

humanas em sociedade, vendo como elas modificam nossas relações e interferem drasticamente

em nossas vidas.

Para finalizarmos nossos estudos, discutiremos várias temáticas relacionadas à questões

étnico raciais, questões essas, tão pertinentes quanto importantes no cenário brasileiro de todos

os tempos.

Com uma leitura crítica, pesquisa em outras fontes e a análise interessada dos conteúdos aqui

apresentados, seus estudos certamente poderão ajudar você a entender a sociedade que vive e

suas relações.

Então? Vamos começar nossos estudos?

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11SOCIOLOGIA, ESTUDOS ANTROPOLÓGICOS

E RELAÇÕES ÉTNICO-RACIAIS

SOCIOLOGIA UMA CIÊNCIA DA MODERNIDADE

1 SURGE A SOCIOLOGIA, E COM ELA AFLORAM AS MAIS DIVERSAS TEORIAS

Nascida nos primórdios da modernidade1, a sociologia pode ser considerada uma ciência

nova que tem por objetivo estudar a sociedade, foco de análise de seus estudos, além do homem

como sujeito social e suas relações neste espaço.

Os processos de produção humana na coletividade, os grupos sociais, as instituições e as

formas de relacionamentos, tanto num contexto micro onde pequenos grupos interagem criando

formas de se relacionar muito particular, como no macro onde forma diferentes de relacionamento

são observados em grandes metrópoles, são objetos de estudos desta ciência que junto a tantas

outras, nos ajuda a compreender nosso mundo e as relações existentes nele.

A história da humanidade fornece o palco ideal para que sociólogos possam teorizar a partir

de movimentos como a evolução do pensamento científico construído pelo próprio homem e

suas ações políticas que resultaram em acontecimentos sociais importantes, criação de uma

estrutura econômica bastante teorizada e questões polêmicas como raça ou etnia, a divisão social

em classes e a criação de instituições sociais como a família, religião e o objeto maior de nosso

interesse nessa disciplina.

1 A modernidade costuma ser entendida como um ideário ou visão de mundo que está relacionada ao projeto de mundo moderno, empreendido em diversos momentos ao longo da Idade Moderna e consolidado com a Revolução Industrial. Está normalmente relacionada com o desenvolvimento do Capitalismo.Fonte: Babylon (2017)

UNIDADE I

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12SOCIOLOGIA, ESTUDOS ANTROPOLÓGICOS

E RELAÇÕES ÉTNICO-RACIAIS

Entender as sociedades com os olhos da sociologia e compreender que se as práticas sociais

estão fundamentadas nas instituições sociais, também as crenças, os valores as produções e suas

relações são os fundamentos de suas produções enquanto entidade eminentemente humana.

A sociologia, como ciência que visa entender a sociedade, tem nas instituições sociais ótimos

objetos de estudo, pois nelas, as ações e criações do homem enquanto indivíduo social são

perpetuadas através do repasse e afirmação da criação cultural humana afirmando seus valores

e atitudes.

Embora a sociologia pense as sociedades indistintamente, é na sociedade capitalista mais

especificamente que ela encontra as características mais relevantes para sua atuação como

ciência. O final do século XIX, com o capitalismo se configurando como a maior forma de

organização social e apresentando ao mundo novas relações de trabalho jamais experimentadas,

leva algumas pessoas a pensarem sobre essas relações e os problemas decorrentes delas. Junto a

esses pensamentos algumas teorias começam a ser elaboradas tentando explicar a nova dinâmica

social em construção, repleta de novos olhares e algumas concepções e posicionamentos

políticos, assim desde seu surgimento, a sociologia se ocupa em entender, explicar e questionar

os mecanismo de organização, produção humana, controle e poder exercidos por instituições

públicas ou privadas, controle esse que resulta, invariavelmente, em mudanças nas relações

sociais, na distribuição e aquisição de renda, na exploração dos indivíduos e nas gritantes

desigualdades sociais.

Tamanha é a complexidade que a sociedade globalizada assumiu, que fica impossível

pensarmos suas relações apenas através da sociologia, desta forma, outras ciências se fazem

necessárias e nos apropriando de seus estudos, melhor conseguimos entender a complexidade

social e da humanidade.

SAIBA MAIS!

Livro

Para que você possa ter uma visão mais ampla da construção da sociedade e na formação

dela, como é hoje, sugiro a você a leitura do livro de Eric Hobsbawm, “A Era dos Extremos”. O livro é considerado um testemunho sobre o século XX, contato pelo autor que protagonizou uma grande parte deste século. Boa leitura!

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13SOCIOLOGIA, ESTUDOS ANTROPOLÓGICOS

E RELAÇÕES ÉTNICO-RACIAIS

1.1 ANTES DE A SOCIOLOGIA ENTRAR EM CENA.

Mesmo sendo considerada uma ciência nova (criada na modernidade) que se consolida no

início do século XIX, sua finalidade e objetivos já podem ser observados muito antes de sua

criação enquanto ciência. Se estudarmos a Grécia na antiguidade clássica, certamente podemos

nos deparar com pessoas interessadas em entender os problemas sociais e políticos daquela

sociedade.

Neste espaço (Grécia) e tempo (século V a.C.) existiu uma corrente filosófica denominada

Sofista que já se preocupava com questões sociais e políticas de seu tempo. Mesmo não sendo

eles (os gregos) os criadores da sociologia, foram eles, sem sombras de dúvidas, que esboçaram

um primeiro pensamento crítico social.

Com Platão (427 – 347 a.C.) e Aristóteles (384 – 322 a.C.) surgem os primeiros escritos sobre

questões sociais da antiguidade. Defensor de uma concepção idealista, Platão acreditava que o

aspecto material do mundo apontava para uma espécie de fruto imperfeito das ideias universais

e que elas existiam por si mesmas. Para Aristóteles, no entanto, o homem era um ser que nascia

para viver em conjunto, ou seja, em sociedade.

Tempos depois, numa ordem cronológica da história da humanidade, ainda no ocidente, a

chamada Idade Média (séculos V ao XV) constrói outras relações sociais, onde a fé e a religião,

dominavam o pensamento e as ações sociais deste período. Denominado por muitos de “idade

das trevas” devido à forma bitolada que se percebia o mundo, buscavam apenas nas concepções

míticas e religiosas as explicações e soluções para seus problemas. Esse pensamento dominou

toda Europa e mais tarde boa parte do novo mundo, onde o predomínio da Igreja Católica ditava

o pensamento e regras para as relações sociais.

Este predomínio da fé sobre a razão, para muitos teóricos, asfixiava as tentativas mais racionais

de entender e resolver parte dos problemas deste período. Experimentar, testar e criar novas

formas de pensamento era considerado pecado, muitas vezes punido de forma brutal e cruel.

Se olharmos para a Idade Média sob a ótica do Renascimento podemos visualizar um período

sombrio e até mesmo de trevas, na verdade sob outros aspectos, este período foi também muito

rico para a humanidade e serviu de base para a formação de nossa sociedade capitalista moderna.

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14SOCIOLOGIA, ESTUDOS ANTROPOLÓGICOS

E RELAÇÕES ÉTNICO-RACIAIS

1.2 A RAZÃO COMO INSTRUMENTO PARA COMPREENSÃO DO MUNDO...

Embora a fé nunca tenha deixado de existir nos grandes centros urbanos e nem nas mais

remotas vilas em todo o planeta da antiguidade, por volta do século XIV começando pela

Europa e espalhando-se pelo mundo ocidental, ela começa a deixar de ser predominante

nas relações sociais e culturais. Eis que acontece uma grande revolução que renova,

principalmente, as culturas desses povos. Estava iniciado o período denominado

Renascimento2.

Representantes legais desta mudança de pensamentos e atitudes, os renascentistas

retomam a forma antiga de ver as coisas, voltam ao passado, mais especificamente

à sociedade grega e seus questionamentos para pensar e questionar a sociedade em

2 Nota do Autor: O termo Renascimento nasce por causa da volta a cultura do passado (principalmente a grega) e revalorização de suas produções culturais sociais que passaram a nortear as mudanças em direção aos ideais humanistas em plena ascensão neste período. Registros apontam como sendo o livro de Jacob Burckhardt A cultura do renascimento na Itália – 1867 que lança o conceito como hoje o conhecemos.

SAIBA MAIS!

VÍDEO

Para entender melhor esta questão e de forma mais agradável, sugerimos que você

assista ao filme Sombras de Goya.

Nos primeiros anos do século XIX, em meio ao radicalismo da Inquisição e à iminente invasão da Espanha pelas tropas de Napoleão Bonaparte (Craig Stevenson), o gênio artístico do pintor espanhol Francisco Goya (Stellan Skarsgard) é reconhecido na corte do Rei Carlos IV (Randy Quaid). Inés (Natalie Portman), a jovem modelo e musa do pintor, é presa sob a falsa acusação de heresia. Nem as intervenções do influente Frei Lorenzo (Javier Bardem), também retratado por Goya, conseguem evitar que ela seja brutalmente torturada nos porões da Igreja. Estes personagens e os horrores da guerra, com os seus fantasmas, alimentam a pintura de Goya, testemunha atormentada de uma época turbulenta.

Título original: Goya’s Ghosts

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15SOCIOLOGIA, ESTUDOS ANTROPOLÓGICOS

E RELAÇÕES ÉTNICO-RACIAIS

que viviam e munidos de uma curiosidade há muito sufocada, renegam tudo que dizia

respeito à cultura medieval, promovem um verdadeiro rompimento com o pensamento

cultural da igreja católica medieval.

Muito rapidamente, o Renascimento espalha-se pela Europa, influenciando os

diversos setores dessa sociedade, nas artes, nas ciências, literatura, na indústria que dava

seus primeiros passos, tudo agora era visto através do espírito crítico do Renascimento,

personagens que se tornariam importantes para a história da humanidade começam a

aparecer e contribuir com a construção de uma nova ordem social. Nicolau Maquiavel

(1469 – 1527) cria a obra chamada de ‘O Príncipe’ onde faz um verdadeiro manual de

guerra lido e apreciado até hoje. Nele o autor mostra como os governantes podem

manipular e manter o poder em suas mãos.

Produções deste tipo, junto às novas descobertas científicas levaram essa sociedade

a olhar de forma diferente para seu futuro, levou os homens também a perceberem que

através da razão e da ciência poderiam dominar os problemas sociais de seu tempo e

tudo isso seria possível longe da influência da igreja e que isso os colocaria como donos

de sua história. Surge a teoria do Antropocentrismo, agora o homem passa a ser visto

como o centro de suas relações, com o poder antes apenas divino de transformar tudo

a sua volta, inventar, conquistar novas barreiras, mudar seu mundo através da força

de seu pensamento e de suas mãos. Além de Maquiavel, muitos outros pensadores

dominaram o conhecimento neste período, dente eles Francis Bacon 1561 – 1626),

personagem importante na consolidação dessas mudanças, personagem este que vale a

pena conhecermos melhor.

Com seus estudos, Francis Bacon, apresenta a possibilidade de entender os fenômenos

através de métodos científicos, contrapondo-se as práticas anteriores onde o que ocorria

na sociedade era explicado através da teologia. Bacon inaugura uma nova fase da sociedade

ocidental, onde a razão científica passa a dominar as decisões acerca do conhecimento do

mundo natural. Ele não nega a fé, mas afirma que a ciência tinha a possibilidade, através

de seus novos métodos de dar luz a escuridão em que a humanidade ainda se encontrava.

Boneti (2008, p. 21) teoriza em relação a essa posição de Bacon que:

Para Bacon, a autoridade que constituía o alicerce principal da teologia, deveria

ceder lugar à dúvida metódica, a fim de possibilitar um conhecimento objetivo. Para

ele, o novo método de conhecimento, baseado na observação e na experimentação,

inicialmente elaborado para o estudo da natureza, deveria ser estendido para o

estudo da sociedade.

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16SOCIOLOGIA, ESTUDOS ANTROPOLÓGICOS

E RELAÇÕES ÉTNICO-RACIAIS

O pensamento deste fabuloso sujeito da história ecoou pelo fim do século XVII e chegou

ao século XVIII presenciando uma verdadeira transformação de pensamentos e um avanço

espetacular das ciências no domínio da natureza.

Estava germinando a semente do iluminismo, onde os intelectuais desta época fundamentavam-

se, mas, também criticavam pensadores antecessores a eles como Bacon, Hobbes e Descartes,

reelaborando suas obras e imprimindo em seu tempo, novas ideias e procedimentos para o

domínio da natureza através da ciência e, também, do entendimento da sociedade.

VOCÊ PRECISA SABER...

O Iluminismo.

Diante das transformações ocasionadas pelo Renascimento, principalmente no que diz

respeito às ideias de separação do pensamento baseado na fé e no pensamento baseado na

razão, surge um movimento muito bem articulado, constituído de pessoas importantes

e intelectuais deste período denominado Iluminismo. Este movimento vai transformar

drasticamente o modo de pensar e agir do homem europeu, abalando significativamente

as estruturas de poder vigente, tanto no que diz respeito à política (monarquias) quanto à

religiosa (Cristã). Embora iniciado na Europa, esse movimento e seu pensamento, muito

rapidamente se espalham pelo ocidente, proporcionando a ascensão da classe burguesa

(burguesia) e seus ideais de lucro, riqueza e poder.

Movimentos que antecedem o Iluminismo.

Basicamente dois foram os movimentos que antecederam o iluminismo. O racionalismo

(pensamento com base na razão) e o liberalismo, ambos contribuíram consideravelmente

para a formação do pensamento iluminista e tinham como principais contribuintes, três

notáveis pensadores deste período:

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17SOCIOLOGIA, ESTUDOS ANTROPOLÓGICOS

E RELAÇÕES ÉTNICO-RACIAIS

Pensadores que contribuíram com o surgimento do iluminismo

René Descartes (1596-1650) – partia do princípio de que tudo deveria ser

questionado e que somente aquilo que a razão poderia explicar era verdadeiro.

Descartes acreditava que o conhecimento deveria partir de ideias que estavam no

interior do próprio homem. A frase “Penso, logo existo” sintetiza seu pensamento.

John Locke (1632-1740) – foi um ferrenho opositor do Absolutismo (poder

centralizado pelo rei). Para ele o homem tinha alguns direitos naturais (direito

à vida, à liberdade, à propriedade) que deveriam ser assegurados por uma

Constituição. Ao contrário de Descartes, Locke acreditava que o conhecimento

era adquirido somente pela experiência, ao nascer o homem era como uma

“tabula rasa”.

Isaac Newton (1642-1727) – procurou dar uma explicação científica a toda

natureza. Para ele todos os fenômenos da natureza eram regidos por leis próprias

(Leis da Física) e o papel da ciência era o de descobrir essas leis.

Fonte: História Livre (2017a)

A partir das ideias destes pensadores, as formas de pensar, agir e ver o mundo que os

cercavam, foram postas em xeque, contribuindo para uma transformação política e

religiosa, tanto da monarquia absolutista da época, quanto dos dogmas da igreja, pois tão

fortes eram suas ideias, que ambas as instituições passaram a ser criticadas, principalmente

por uma nova classe social rica e ávida pelo poder que era a burguesia, classe essa cada

vez mais forte e poderosa pelo dinheiro do comércio e seus mais diversos empreendimentos.

A gastança dos reis absolutistas e da igreja católica na

Europa será o estopim para esta mudança e é na França que

elas primeiramente se manifestam, observadas por uma

burguesia rica mas ainda sem poder político. Essas ideias

vinham a calhar para resolver os principais problemas

dessa nova classe social, ou seja, a possibilidade de acabar

com a intervenção do Estado na economia, já que eram

apenas os reis quem ditavam as regras comerciais e legais

e pôr fim a possibilidade de uma participação efetiva da

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18SOCIOLOGIA, ESTUDOS ANTROPOLÓGICOS

E RELAÇÕES ÉTNICO-RACIAIS

classe burguesa nas questões políticas de seus Estados.

Através de publicações feitas pela literatura impressa, suas ideias conquistam os

salões de Paris e espalharam se pelo mundo civilizado. Enciclopédias como a editada por

Denis Diderot e Jean D’Alembert, passam a contar com as contribuições de importantes

criticos e intelectuais da época questionando principalmente as ações da igreja católica.

Os principais filósofos Iluministas

Montesquieu (1689-1755) Em sua principal obra “O Espírito das Leis”,

Montesquieu analisa as principais formas de governo (despotismo, monarquia e

república), sua ênfase recai na monarquia parlamentarista. É nesta obra que

Montesquieu afirma que é necessária a separação dos poderes (Legislativo,

Executivo e Judiciário). Após a Revolução Francesa, suas teorias influenciaram na

formação dos Estados europeus e na constituição dos Estados Unidos da América.

Voltaire (1694-1778) Foi o mais importante dos iluministas franceses. Era

um ferrenho crítico da Igreja e do Absolutismo. Por suas críticas foi exilado na

Inglaterra, de onde escreveu uma de suas principais obras: “Cartas Inglesas”.

Apesar de monarquista, Voltaire pregava a necessidade de participação política

por parte da burguesia. Pois somente desta forma seria garantida a liberdade

política e religiosa. Após a Revolução Francesa, sua obra influenciou boa parte

dos Déspotas Esclarecidos.

Jean Jacques Rousseau (1712-

1778) foi o mais radical dos iluministas.

Criticava tanto a monarquia quanto

a sociedade burguesa, sua posição

era de defesa às classes populares.

Pregava uma sociedade justa onde

todos seriam iguais. Essa sociedade

seria governada pela soberania

do povo. Ao contrário dos outros

iluministas, Rousseau acreditava que

a propriedade privada corrompia o

homem. Para ele, os homens deveriam assinar um Contrato Social onde estariam

se sujeitando à vontade da maioria.

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19SOCIOLOGIA, ESTUDOS ANTROPOLÓGICOS

E RELAÇÕES ÉTNICO-RACIAIS

Fonte: História Livre (2017b)

1.3 COM A REVOLUÇÃO INDUSTRIAL CONSOLIDA-SE O CAPITALISMO.

Como podemos perceber, a sociedade europeia vinha mudando drasticamente, no campo do

pensamento, nas ciências, artes, entre outros, mas havia também um campo onde as relações

haviam sido mudadas drasticamente: era o campo da economia. Neste campo, o capitalismo

consolidou-se rapidamente o que levou à Revolução Industrial. Em meados do século XVIII, na

Inglaterra, esse movimento de industrialização acarretará já no seu início em grandes alterações

no modo e estilo de vida das pessoas, principalmente naquelas que viviam no campo e às custa

do artesanato, que agora passa a ser substituído pela produção industrial em série.

Estas mudanças despertam o interesse de pensadores da época, fato esse que desperta o

interesse também da criação de uma ciência que estudasse os problemas sociais ocasionados

pela implantação e desenvolvimento dessa nova ordem social.

Sabemos que na história as mudanças não ocorrem de um dia para o outro, assim, o início

desse sistema capitalista agora em vigor na Europa, havia começado muito antes na baixa idade

média. A partir do século XI com as Cruzadas, movimento patrocinado pela igreja católica,

possibilitou-se o contato cultural e principalmente o comércio com o oriente. Com a circulação

de pessoas as cidades foram surgindo e nelas uma nova organização levava a necessidade de

produção em escala cada vez maior de bens de consumo, e as corporações de ofício responsáveis

pela produção artesanal desses bens já não dava mais conta desta ação. O lucro já havia se

estabelecido e com ele a punibilidade de acumulação de riquezas que hoje é a base do capitalismo

atual já se estabelecera.

AUTO ATIVIDADE

A partir da leitura dos temas anteriores e do artigo a seguir, redija uma Resenha Crítica a respeito do nascimento das fábricas. Lembre-se: neste tipo de trabalho suas críticas a

respeito do tema são de suma importância.

Bom trabalho!

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20SOCIOLOGIA, ESTUDOS ANTROPOLÓGICOS

E RELAÇÕES ÉTNICO-RACIAIS

1.4 O TEMA EM ARTIGO

O NASCIMENTO DAS FÁBRICAS

Dhiogo Jose Caetano

RESUMO

O objetivo do artigo é mostrar a “verdade” histórica do nascimento das fábricas,

as influências provocadas no meio social, político e econômico visando ressaltar

os conflitos e barreiras os quais a burguesia teve que enfrentar para implantar o

seu objetivo pessoal no meio de produção; utilizando os saberes e as técnicas para

desenvolver o processo de transformação do trabalho que passa de um sistema

primitivo, para um modelo de produção capitalista. Para explicar estas relações

antagônicas em decorrer do processo do trabalho, que visava o capital, como

fonte principal, foram utilizados ideais de Marx, Weber e Durkheim que trazem a

complexidade da vida social em suas várias modalidades, descrevendo a realidade

social em um processo concreto, um conjunto de características fundamentais de

uma sociedade. Podemos perceber que a Revolução Industrial acelerou o conceito

de alienação do trabalho dos meios social e produtivo; promovendo uma relação

entre os homens de oposição, antagonismo e exploração; o capital transformou

o trabalho em uma mercadoria. As classes sociais, não apresentam apenas uma

diferença por status, mas também posições, interesse e consciências diversas.

Mas, a partir da construção do artigo, foi possível perceber que as fábricas nascem,

mas junto com elas surge a tecnologia e a modernidade de imediato, ficando claro

que a burguesia queria acabar com o trabalho individual, para ter o controle total

não só no capital, mas até mesmo o controle dos saberes e técnicas. Portanto, as

fábricas foram introduzidas com grande interesse de fundamentar e organizar a

sociedade, uma relação marcada por conflitos e revoltas de classes, que ao mesmo

tempo rejeitavam e aceitavam o ideal, empregado pelas classes superior, ou seja, a

classe proletariada cujo objetivo é manter a sua subsistência.

Palavras-chave: Trabalho. Fábrica. Capital. Marx e conflitos.

INTRODUÇÃO

A partir do século XVI, podemos perceber que dos vários acontecimentos e

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21SOCIOLOGIA, ESTUDOS ANTROPOLÓGICOS

E RELAÇÕES ÉTNICO-RACIAIS

ideias, nenhum se realizou tão desgraçadamente com a sociedade do trabalho;

fábricas-prisões, fábrica-conventos, fábricas-sem salário, sonhos realizados

pelos patrões, que tornou possível a glorificação do trabalho; palavra que tinha

como significado penalidade, cansaço, dor, esforço extremo, um estado de pura

miséria e pobreza; mas uma nova concepção da palavra trabalho surgiu no século

XVI, uma visão que traz positividade.

Adam Smith afirma que o trabalho é fonte de toda a riqueza, alcançando o

topo do “sistema de trabalho de Marx”, pois o trabalho passa ser a fonte de toda a

produtividade e expressão da própria humanidade do homem. A glorificação do

trabalho se fortalece com o surgimento das fábricas mecanizadas, a qual alimenta

a ilusão, que a partir dela há limites para produtividade humana. Percebemos que

as fábricas, ao mesmo tempo em que confirmavam a potencialidade criadora do

trabalho, anunciavam a dimensão ilimitada da produção.

A presença da máquina traz consigo a superação de barreiras da própria condição

humana, uma reflexão que propõe, uma imagem cristalizada do pensamento do

século XIX, que se reduz a um acontecimento tecnológico, que apresenta uma

intervenção de organizar e disciplinar o trabalho. Durkheim divide o trabalho em

dois momentos identificado como uma espécie social, que estabelece a passagem

da solidariedade orgânica; tipicamente relacionado às fábricas, ao conceito de

solidariedade orgânica, afirmamos a aceleração da divisão do trabalho social, os

indivíduos se tornam interdependentes. Essa interdependência garante a união

social ao mesmo tempo em que os indivíduos são mutuamente dependentes,

cada qual se especializa numa atividade e tende a desenvolver maior autonomia

pessoal.

VIDA OU SUBSISTÊNCIA

O trabalho nas fábricas, não permitia, ao homem, pensar além do que já foi

dado, o mercado estabelecia ao homem o que pensar e agir, empregando regras,

portanto, o comércio não só impõe aos homens determinadas tecnologias, como

também impede que seja possível pensar em outras tecnologias.

Portanto, deve-se pensar segundo regras já definidas, e a sua oposição, em

relação à sociedade é juntamente a impossibilidade de pensar além das regras.

Falar de mercado ou divisão social do trabalho é apropriar-se da ideia que o

homem está vetado e impossibilitado de saber; um saber que restitui e serve hoje

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22SOCIOLOGIA, ESTUDOS ANTROPOLÓGICOS

E RELAÇÕES ÉTNICO-RACIAIS

para manter a ordem de domínio político, técnico, cultural e etc.

Os mecanismos permitem o reconhecimento de uma imposição de normas

de valores próprios de determinadas sociedades em que aparece dotada de

universalidade; podemos utilizar como exemplo, o pensar do desenvolvimento

de uma sociedade burguesa no seio da sociedade feudal, que logo imaginamos a

instituição do mercado como esfera universalizadora de uma nova ordem que se

impõe.

A autodisciplina, proposta pela classe dominante, torna-se ideia dominante

de toda a sociedade uma aplicação de novas normas, ideias e valores, que

enfrenta conflitos gerados pelos trabalhadores que não, estavam dispostos a

seguirem normas, a cumprirem horário e aceitarem ordem de um superior; mas

com o processo de organização das fábricas que constituía em primeiro momento

de um trabalho manufatureiro, portanto, fica claro que a tecnologia não surgiu

juntamente com as fábricas. Em primeiro momento foi utilizada a força de trabalho

como mercadoria, não se tratando de uma mercadoria qualquer, pois o trabalho

significa a criação de valor, sendo reconhecido como verdadeira fonte de riqueza

da sociedade. Afirmam os marxistas que “o capitalismo transformou o trabalho

em mercadoria”; portanto, o valor da mercadoria dependia do tempo de trabalho

que era estabelecido, da habilidade individual média e as condições técnicas

vigentes na sociedade. Por isso o valor de uma mercadoria era incorporado ao

tempo de trabalho socialmente necessário para a produção.

Sabemos que o capitalista produz com intuito de obter lucro, isto é, quer

ganhar com sua mercadoria, mais do que investiu. Podemos citar o exemplo da

mais-valia de Marx, onde o trabalhador trabalha mais tempo e ganha o mesmo

valor, ou seja, gera um valor maior do que é pago na forma de salário.

Porém, nota-se que a insuficiência do valor correspondente, do salário pago

para o trabalhador, não sendo suficiente para a sua subsistência, provoca uma

luta entre as classes, de um lado encontra-se a burguesia, do outro os menos

favorecidos, que agora fazem parte de uma dimensão na qual o homem pensa e

age, tornando o seu lugar imaginário e real, onde se opera efetivamente a divisão

do social. As desigualdades sociais eram provocadas pelas relações de produção

do sistema capitalista que divide os homens em proprietários e não proprietários

dos meios de produção, afirma Marx que “As desigualdades são à base da formação

de classes sociais”. Podemos perceber uma relação entre os homens, de oposição,

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23SOCIOLOGIA, ESTUDOS ANTROPOLÓGICOS

E RELAÇÕES ÉTNICO-RACIAIS

antagonismo e exploração da classe proprietária, ou seja, a burguesia, sobre os

trabalhadores, classe proletariada.

DESIGUALDADE SOCIAL E CONFLITOS

Em meio ao confronto nasce o sujeito social a imagem de que existe a

imperiosidade da figura do capitalismo como elemento indispensável para o

próprio processo de trabalho A discussão está diante de uma situação história

na qual o domínio da sociedade, embora esteja delimitada pelo dispositivo do

mercado, não se transformou ainda em domínio técnico; no caso a razão técnica,

por mais que esteja sob o domínio de quem participa do processo de trabalho,

ainda não representa um instrumento através do qual se possa exercer o controle

social.

Marx mostra que nenhuma tecnologia avançada determinou a união dos

trabalhadores no sistema de fábricas, seguindo em direção de como esse sistema

possibilitou a disciplina e a hierarquia na produção, baseado na dispersão dos

trabalhadores domésticos, que gerava problema ao capitalista, isto é desvio

de parte de produção a falsificar dos produtos, utilizando a matéria-prima de

qualidade inferior àquelas fornecidas pelo capitalista.

O sistema fabril representou a perda desse controle dos trabalhadores

domésticos; pois nas fábricas a hierarquia, a disciplina, a vigilância e outras

formas de controle, tangíveis que tornaram pontos que os trabalhadores

acabaram se submetendo ao regime de trabalho, ou seja, o domínio do capitalista

sobre o processo de trabalhadores. Em primeiro lugar os comerciantes precisavam

controlar e comercializar toda a produção dos artesãos com desejo de reduzir ao

mínimo as práticas de desvio dessa produção; assim, as fábricas transformam-se

no marco organizador do desejo empresarial, um sistema ditado com necessidade

de organização que teve como resultado uma ordem disciplinar durante todo o

transcorrer da modernidade.

Na realidade as máquinas só foram desenvolvidas e introduzidas depois que os

tecelões já haviam sido concentrados nas fábricas; os tecelões, os ceramistas não

estavam acostumados com esse novo tipo de disciplina; segundo um historiador

inglês, os ceramistas haviam gozado de uma independência durante muito

tempo para aceitar amavelmente as regras, procurava implantar, a pontualidade,

a presença constante, as horas prefixadas, as escrupulosas regras de cuidado e

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24SOCIOLOGIA, ESTUDOS ANTROPOLÓGICOS

E RELAÇÕES ÉTNICO-RACIAIS

de limpeza, a diminuição dos desperdícios, a proibição de bebidas alcoólicas;

promovendo uma formação de um conjunto magnífico de mão.

O desenvolvimento foi crucial no que se refere ao estabelecimento do sistema

fabril contribuído na efetivação de uma disciplinarização geral na força de

trabalho; ocorrendo um impacto de poderosas forças, atrativas ou repulsivas,

que o trabalhador ou artesão inglês se transformou em mão-de-obra fabril,

afirmando uma nova relação de poder hierarquizado e autoritarista. Alguns

historiadores ingleses afirmam mesmo que o êxito alcançado por alguns

empresários capitalistas, em meio a tantos fracassos que rodearam as primeiras

tentativas de instalação das fábricas, deve-se muito mais à qualidade de direção

dessas empresas do que à uma substância de mudanças de qualidade do trabalho

ou das máquinas.

O processo descrito esclarece a dependência do capitalismo em relação ao

desenvolvimento das técnicas de produção; mostrando, ainda, como o trabalho,

sob o capital, perde todo o atrativo e faz do operário mero apêndice da técnica,

o homem, torna-se o principal elemento da força produtiva, e é o principal

responsável pela ligação ente natureza e a técnica e os instrumentos. Porém, os

revoltosos e os destruidores de máquinas, se manifestavam em várias regiões,

como maneira criteriosa de como lutar, desencadeada não contra a mecanização

em geral, mas em direção a determinadas máquinas em particular. Mas apesar de

toda a resistência e das vitórias alcançadas pelos quebradores de máquinas, já por

volta de 1820 “os avanços tecnológicos” adicionais mudaram de nova geração de

operários, acostumada à disciplina e à precisão da fábrica.

CONCLUSÃO

A utilização da maquinaria não só visava conseguir a docilização e a submissão

do trabalho fabril e, neste sentido, assegurar a regularidade e a continuidade

apresentou um forte obstáculo do trabalhador fabril. As máquinas vão sendo

introduzidas ajudando a criar um marco dentro do qual se podia impor uma

disciplina, mas sua introdução se deu uma ação de contrapartida dos patrões para

controlar as greves e as outras formas de militância industrial.

Marx em ‘O Capital’, embora saudasse o advento do universo fabril como o

limitar de uma nova era, deixa de ficar profundamente apreensivo com relação à

introdução das máquinas automáticas no processo de trabalho o qual dizimaria

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25SOCIOLOGIA, ESTUDOS ANTROPOLÓGICOS

E RELAÇÕES ÉTNICO-RACIAIS

a sociedade trabalhadora; nesse sentido, enfatiza o determinismo pelo saber

a técnica, cujo fundamento estava ligado ao inerente bojo de implicações

relacionada à hierarquia, disciplina e controle do meio de trabalho, ao mesmo

tempo em que separa crucialmente a produção do saber técnico.

Enfim, as relações sociais, produzidas a partir da expansão do mercado

capitalista, com a união das fábricas, geraram uma relação antagônica na

sociedade tornando possível o desenvolvimento de uma determinada tecnologia

que impõe, não apenas aos instrumentos que incrementa a produtividade, mas

como principal instrumento de controle disciplinar que enfrenta conflitos da

relação entre consciências e realidade e, principalmente, a dinâmica histórica.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

DECCA, E. S. O Nascimento das Fábricas. 9 ed. São Paulo: Brasiliense. 1980

MARX, K. O Capital. Ed. São Paulo: Ouro

QUINTANEIRO, T.; OLIVEIRA, M. L.; OLIVEIRA, M. G. Um Toque de Classe:

Durkhein, Marx e Weber. Tânia Quintaneiro, - Belo Horizonte: Ed; UFMG,1995.

Fonte: Caetano (2010)

1.5 SOCIOLOGIA E SUA HISTÓRIA SOCIAL

Embora o percussor de uma vontade de estudar ou pensar a nova sociedade que estava

surgindo de forma sistemática seja apontado pela história como sendo Claude-Henri de Revroy,

o conde de Saint-Simon (1760-1825), é com Auguste Conte que a sociologia surge como ciência,

dotada de um método na busca de explicações para as questões de seu tempo.

Mas, Saint-Simon percebe que as transformações ocorridas a partir da Revolução Industrial

mudaram drasticamente a configuração social das cidades envolvidas neste processo. O homem

que vivenciou o fim dos regimes monárquicos totalitários e o forte e rápido surgimento de uma

nova classe de comerciantes e industriais burgueses no poder, passa a ser importante para o

pensamento moderno, pois implanta as bases desta nova ciência. Para ele a racionalidade como

propulsora desta sociedade em surgimento, acabaria com a dominação imposta a muito pelas

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26SOCIOLOGIA, ESTUDOS ANTROPOLÓGICOS

E RELAÇÕES ÉTNICO-RACIAIS

monarquias medievais e que, com o desenvolvimento racional das ciências em surgimento, o

homem dominaria a natureza de forma ordeira, pacífica e, principalmente, mais justa.

A história ainda nos aponta que o pensamento de Saint-Simon não se efetivou, ao contrário

do que ele pensava onde as elites, os intelectuais e empresários da época providenciariam formas

justas de divisão da renda obtida pelo trabalho de todos. O que pôde ser observado por ele, foi

o crescimento da miséria, assolando essa nova classe de trabalhadores, e neste embate entre

exploradores e explorados, o surgimento de uma proposta de sistema econômico pautado na

socialização dos meios de produção e dos resultados obtidos por ele. Nasce assim, neste período

conturbado de transformações, o socialismo.

Como dito anteriormente, ainda no século XIX Auguste Comte (1798-1857) procurando

entender as transformações sociais de seu tempo, suas causas e consequências para a sociedade,

cria mais especificamente a partir de 1826, o curso de filosofia positiva, composto por seis

volumes que após o quarto, passa a esboçar a ideia da fundação de uma ciência dedicada e dotada

de métodos próprios para estudar de forma científica a sociedade.

A ideia toma corpo e Comte, a princípio, batiza sua disciplina de física social, que mais tarde

passa a ser chamada por ele de sociologia que etimologicamente provem do latim socius + logus

designando o “estudo do social”.

Mas a disciplina não surge tão facilmente, é preciso que Comte consiga seu reconhecimento e,

para isso, através da filosofia positiva, base de seu curso, Comte aponta que para o desenvolvimento

pleno do homem, era preciso que o mesmo passasse por três estados, nos quais com aprendizagem

adquirida neles, proporcionaria ao homem a plena capacidade de sua inteligência e inspiração de

suas atitudes.

A Física Social de “Comte” cria a primeira lei natural da humanidade, definido por ele como a

lei dos “Três Estados”.

Como fundamento de seus trabalhos, Comte apresenta suas observações, feitas através

do estudo do desenvolvimento total da inteligência humana e como ela se daria nas diversas

atividades cotidianas ou não, realizadas por ele.

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27SOCIOLOGIA, ESTUDOS ANTROPOLÓGICOS

E RELAÇÕES ÉTNICO-RACIAIS

PARA REFLETIR

Para Auguste Comte, existe uma grande lei que rege nosso desenvolvimento e que a

partir dela, cada uma de nossas concepções e ramos do conhecimento humano passa de

forma sucessiva por três estados, diferentes historicamente, sendo eles: o teológico, o

metafísico e, por último, o positivo.

Lei dos Três Estados.

No estado teológico, o espírito humano, dirigindo essencialmente suas

investigações para a natureza intima dos seres, as causas primeiras e finais de

todos os efeitos que o tocam, numa palavra, para os conhecimentos absolutos,

apresenta os fenômenos como produzidos pela ação direta e contínua de agentes

sobrenaturais mais ou menos numerosos, cuja intervenção arbitrária explica

todas as anomalias aparentes do Universo.

No estado metafísico, que no fundo nada mais é do que simples modificação

geral do primeiro, os agentes sobrenaturais são substituídos por forças abstratas,

verdadeiras entidades (abstrações personificadas) inerentes aos diversos seres

do mundo, e concebidas como capazes de engendrar por elas próprias todos os

fenômenos observados, cuja explicação consiste, então, em determinar para cada

um, uma entidade correspondente.

No estado positivo, o espírito humano, reconhecendo a impossibilidade de

obter noções absolutas, renuncia a procurar a origem e o destino do Universo,

a conhecer as causas íntimas dos fenômenos, para preocupar-se unicamente

em descobrir, graças ao uso bem combinado do raciocínio e da observação, suas

leis efetivas, a saber, suas relações invariáveis de sucessão e de similitude. A

explicação dos fatos, reduzida então a seus termos reais, se resume de agora em

diante na ligação estabelecida entre os diversos fenômenos particulares e alguns

fatos gerais, cujo número o progresso da ciência tende cada vez mais a diminuir.

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28SOCIOLOGIA, ESTUDOS ANTROPOLÓGICOS

E RELAÇÕES ÉTNICO-RACIAIS

Temos que pensar que Comte conseguiu vislumbrar um novo mundo surgindo com a

modernidade, um mundo totalmente influenciado pela ciência e pela racionalidade humana,

mas um mundo cheio de novos conflitos gerados pela transição do sistema feudal (com sua

base agrária e no patriarcalismo) para o capitalismo (industrializado, com um comércio forte

e internacional, forte urbanização e, principalmente, com uma nova forma de exploração da

mão de obra do trabalhador). Para este novo cenário, Comte vislumbrava algo Positivo, com sua

filosofia positiva se transformando numa nova ciência denominada Sociologia.

Comte colocava toda sua esperança em poder estudar e compreender os novos problemas

sociais que surgiam, com sua ciência e através dela por ordem social e disciplina no caos que

se estabelecia no início da civilização moderna. Para este pensador, através do estudo de forma

sistematizada e profunda dos movimentos de sociedades do passado, poderíamos entender o

presente e imaginar o futuro com suas novas gerações e conquistas.

Para Comte a consolidação desse novo sistema capitalista era algo certo e necessário para o

desenvolvimento das sociedades, com ele e a mudança do pensamento teológico como forma

única de explicação do mundo, daríamos um grande passo para o progresso das civilizações,

mesmo com os problemas sociais que surgiam, pois estes eram apenas obstáculos que, se

resolvidos pela sociedade, permitiriam o sucesso do curso do progresso humano.

Comte apostava na sociologia como ciência que poderia solucionar a crise em que seu tempo

enfrentava, mas a história nos mostra que ele não conseguiu ver a aplicação de seu trabalho, que

precisou ainda de muita discussão e da contribuição de outros teóricos para que a Sociologia

como a sonhara, conquistasse seu espaço junto às novas ciências sociais da modernidade.

AUTO ATIVIDADE

Você certamente percebeu que a nova ciência de Comte estabelece uma ligação da melhoria da

sociedade às condições de “Ordem e Progresso”. Onde você já viu essa expressão? É claro! Em nossa bandeira nacional. Portanto, faça uma pesquisa e descubra qual a ligação de nossa bandeira com os ideais positivistas da época.

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29SOCIOLOGIA, ESTUDOS ANTROPOLÓGICOS

E RELAÇÕES ÉTNICO-RACIAIS

Figura 1 - Conheça um pouco da história de nossas bandeiras.Fonte: Tourin Brazil (2017)

Para dar à sociologia o status de ciência, numa visão positiva, surge no cenário das

discussões deste período, o pensador francês Émile Durkheim (1858-1917), é com o

trabalho desse pensador que a sociologia ganha um caráter mais técnico e um método de

investigação próprio. Com Durkheim e a sociologia a sociedade moderna pode estudar

seus problemas de ordem social com procedimentos investigativos que não deixava nada

a desejar em relação às outras ciências.

1.6 ÉMILE DURKHEIM

Nascido na França do século XIX, Émile Durkheim é um dos principais pensadores a relacionar

a presença e a importância da educação na sociedade.

Para a sociologia, ele é considerado o primeiro teórico desta ciência, e por ter vivido no mesmo

ambiente teórico que Auguste Comte defende a aplicação na prática das ideias positivistas.

Baseado no positivismo esse pensador cria uma teoria sociológica da sociedade, conhecida

nos meios acadêmicos como teoria funcional.

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30SOCIOLOGIA, ESTUDOS ANTROPOLÓGICOS

E RELAÇÕES ÉTNICO-RACIAIS

Segundo Boneti (2008, p. 23):

A teoria funcionalista vê a sociedade como um sistema composto de partes, cada

uma cumprindo com sua função, indivíduos, instituições etc. se todos cumprem com

suas respectivas funções, a sociedade funciona. Mesmo que um corpo constituído

de membros cujas funções interligam o corpo inteiro. É desta ideia que nasce a

expressão funcionalista.

Durkheim aponta que nesta teoria existem duas expressões importantes: o sistema e a função

social.

O sistema, que sinaliza para a ideia de um conjunto de unidades Inter dependentes, como

engrenagens, cada qual cumprindo sua função e sendo todas importantes, independentemente

do seu tamanho ou função. Para ele, se uma dessas partes pararem de funcionar, toda a sociedade

para.

Já função social é apontada pelo autor como sendo a atividade individual de cada engrenagem

neste sistema. É preciso, segundo Durkheim, que todas tenham consciência da importância de

suas funções na sociedade e, independente da classe que ocupa, percebam que se uma dessas

engrenagens pararem todo o resto para.

À educação, Émile Durkheim destina o papel de formação e conscientização para o exercício

de suas funções sociais. Dedicado a estudar a relação entre os indivíduos e a sociedade, Émile

Durkheim permeia esta relação pelo que ele denomina de FATOS SOCIAIS.

SAIBA MAIS

Fatos sociais

A sociologia do francês Émile Durkheim (1858-1917) adota

uma posição que rejeita as interpretações biológicas ou

psicológicas do comportamento dos indivíduos, este focaliza os determinantes

sócio-estruturais na explicação da vida e dos problemas sociais. Para ele, existem

“fatos sociais” que são o assunto da sociologia e que influenciam e condicionam as

atitudes e os comportamentos dos indivíduos na sociedade. Esses fatos sociais são

reais, objetivos, sólidos, sui generis, isto é, não reduzíveis à realidades biológicas,

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31SOCIOLOGIA, ESTUDOS ANTROPOLÓGICOS

E RELAÇÕES ÉTNICO-RACIAIS

psicológicas, climáticas, etc. Esses fatos sociais são relações sociais exteriores aos

indivíduos que perduram no tempo, enquanto indivíduos particulares morrem

e são substituídos por outros. Os fatos sociais não são somente exteriores ao

indivíduo, mas possuem “um poder coercitivo... pelo qual se impõem a ele,

independentemente de sua vontade individual”. Os constrangimentos, seja na

forma de leis ou costumes, se manifestam cada vez que as demandas sociais são

violadas pelo indivíduo. Assim, para Durkheim, o indivíduo sente, pensa e age

condicionado e até determinado por uma realidade social maior, a sociedade ou

a classe. Durkheim define o fato social como “cada maneira de agir, fixa ou não,

capaz de exercer um constrangimento (uma coerção) externo sobre o indivíduo”.

Alguém pode, por exemplo, pensar que age por vontade e decisão pessoal; na

realidade, age-se deste ou daquele modo por força da estrutura da sociedade, isto

é, das normas e padrões estabelecidos.

Fonte: Jornalista Tripod (2017)

As características dos fatos sociais são:

Coletivo ou geral – Significa que o fenômeno é comum a todos os membros

de um grupo;

Exterior ao indivíduo – Acontece independente da vontade individual;

Coercitivo – Os indivíduos são “obrigados” a seguir o comportamento

estabelecido pelo grupo.

1.7 DURKHEIM E A MODERNIDADE EMINENTE.

Em seus estudos teóricos, Durkheim registra suas convicções a respeito da humanidade, para

ele, a sociedade estaria em constante evolução e aos homens e mulheres, atores nesta sociedade,

restava dessa evolução um aumento nos papeis sociais por eles representados ou novos papeis a

serem representados.

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32SOCIOLOGIA, ESTUDOS ANTROPOLÓGICOS

E RELAÇÕES ÉTNICO-RACIAIS

Para esse pensador, existem sociedades diferentes que se organizam sob a forma de uma

solidariedade a que ele denomina de Mecânica e outras a que este autor chama de solidariedade

Orgânica.

A humanidade, para esse autor, está em constante evolução, o que seria caracterizado pelo

aumento dos papéis sociais ou funções.

As sociedades organizadas sob a forma de solidariedade mecânica seriam aquelas nas

quais existiriam poucos papéis sociais. Segundo ainda esse autor, nesse tipo de sociedade,

seus membros viveriam de maneira iguais e eram ligados por crenças e sentimentos comuns,

o que para ele caracteriza uma consciência coletiva, nessa sociedade não existiria espaço para

atitudes ou ações individuais, e se elas existirem, rapidamente seriam percebidas e corrigidas

pelos membros dessa sociedade.

Como forma de exemplificar a solidariedade mecânica, podemos usar a sociedade indígena,

que apresenta pessoas vivendo e produzindo de forma semelhante, com crenças comuns e

valores iguais.

Em relação às sociedades organizadas em solidariedade orgânica, comuns no mundo moderno,

caracterizam-se por apresentarem muitos papeis sociais realizados por seus indivíduos, como

exemplo, podemos tomar as cidades modernas onde várias funções são desempenhadas por

seus habitantes. Este pensador, acreditava que mesmo complexa e com uma grande variedade

de funções, todos deveriam cooperar entre si de forma a fluir como um organismo, por isso usou

o termo Orgânico. Ele observa ainda que devido à grande quantidade de papeis sociais a serem

interpretados, o grau de controle da sociedade sobre cada pessoa diminuiria consideravelmente e

com uma individualidade menos controlada as pessoas teriam melhores condições de agir dentro

desta sociedade e até mesmo mudar de posição ou status social.

Como problematização a essa situação, Durkheim aponta o egoísmo das pessoas no mundo

moderno, que sem controle sobre suas individualidades não contribuiriam para o funcionamento

eficaz da sociedade. Como Durkheim comparava a sociedade como um corpo, se em alguma parte

tivesse um problema (fatos sociais), esse deveria ser diagnosticado e tratado, para essa função

existia a sociologia.

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33SOCIOLOGIA, ESTUDOS ANTROPOLÓGICOS

E RELAÇÕES ÉTNICO-RACIAIS

1.8 SOLIDARIEDADE MECÂNICA E SOLIDARIEDADE ORGÂNICA – EMILE DURKHEIM

A maioria dos conflitos sociais advindos da modernidade estavam certamente atrelados

às questões econômicas, principalmente, questões ligadas à divisão do trabalho, porém essa

questão ultrapassava os limites financeiros ou mais especificamente ligados à riqueza ou não

do ser humano. O que chamava a atenção e permeava os trabalhos dos pensadores sociais da

época era a forma como e riqueza, advinda dos mais variados tipos de trabalhos estabelecia por

si só, uma hierarquia social e uma ordem moral, tirando dos trabalhadores comuns a condição de

transformação de suas vidas pelo trabalho e de qualquer possibilidade de ascensão social.

A solidariedade é uma forma de organização social que liga os indivíduos uns aos outros,

pois suas funções muito parecidas e limitadas nos conhecimentos necessários às suas ações, os

tornam muito parecidos, num tipo de solidariedade que vai além de suas trocas de serviço, por

um pagamento ou salário, mais vai muito mais longe, pois está atrelada às suas vidas e posições

na sociedade.

A solidariedade a que Émile Durkheim aponta é um elo entre o indivíduo e a sociedade a

que está inserido, mas não é somente uma ligação geral, simples e que acaba por si. Ela torna

harmônicos os grupos, principalmente através de sua consciência coletiva e através dela manter

indefinidamente a coesão social tão necessária para este tipo de organização.

Outro tipo de solidariedade, apontada por Durkheim, seria a solidariedade mecânica, neste

tipo de solidariedade, a consciência coletiva torna-se superior à consciência individual O

autor nos mostra que nesta solidariedade o elemento mais importante numa sociedade seria a

consciência coletiva, pois ela anula a personalidade do indivíduo o que não o permite questionar,

ou seja, o indivíduo passa a ser mais um elo da corrente social, parecido aos demais e dependente

dos mesmos, regidos por um conjunto de crenças, valores e sentimentos comuns, sendo a

consciência individual uma dependente do tipo coletivo, onde todos os indivíduos são iguais.

Então, quando as sociedades começam a produzir excedentes, isto os leva a escolher a divisão

do trabalho que, por sua vez, transforma a solidariedade mecânica, numa solidariedade orgânica,

causando uma emitente diminuição do poder de coerção existente através da consciência

coletiva, assim atendendo aos interesses do capitalismo. Este tipo de organização e solidariedade

aproxima-se da solidariedade proposta por Durkheim.

Numa solidariedade orgânica a sociedade possui uma divisão do trabalho muito mais

desenvolvida e elaborada, os indivíduos têm a possibilidade de se construírem diferentes, cada

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34SOCIOLOGIA, ESTUDOS ANTROPOLÓGICOS

E RELAÇÕES ÉTNICO-RACIAIS

qual com sua personalidade e coesos com a sociedade que os engloba.

Diferenças entre as solidariedades orgânica e mecânica:

Solidariedade

Mecânica Orgânica

Sociedades simples Sociedades industriais

Indivíduos semelhantes Indivíduos diferentes

Funções iguais Função especializada e interdependente

Sem divisão social do trabalho Com divisão de trabalho

Consciência social menor Consciência social maior

Mecanismos de coerção exercidos de forma imediata, violenta e punitiva

Mecanismos de coerção mais formalizados e exercidos de forma mediata

Direito repressivo (prevenções) Predomínio do direito restituitivo (reparação)

Pouco desenvolvidas Bem desenvolvidas

Fonte: Wordpress (2017)

Para Durkheim, a divisão do trabalho social livraria a sociedade da anomia, tornando-a

mais próxima de um tipo de sociedade em que as funções sociais poderiam ser comparadas as

funções de um corpo humano, o dos órgãos de organismos vivos que funcionam perfeitamente,

existindo entre eles uma solidariedade orgânica sem a existência de uma consciência coletiva

com condições de o indivíduo ser desenvolver livremente em prol da sociedade. Para Durkheim:

É a esse estado de anomia que devem ser atribuídos, como mostraremos, os conflitos incessantemente renascentes e as desordens de todo tipo de que o mundo econômico nos dá o triste espetáculo. Porque, como nada contém as forças em presença e não lhes atribui limites que sejam obrigados a respeitar elas tendem a se desenvolver sem termos e acabem se entrechocando, para se reprimirem e se reduzirem mutuamente. […] As paixões humanas só se detêm diante de uma força moral que elas respeitam. Se qualquer autoridade desse gênero inexiste, é a lei do mais forte que reina e latente

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35SOCIOLOGIA, ESTUDOS ANTROPOLÓGICOS

E RELAÇÕES ÉTNICO-RACIAIS

ou agudo, o estado de guerra é necessariamente crônico (DURKHEIM, 2004. P 78).

Fugindo dessa anomia e com uma sociedade orgânica, Durkheim aponta o seu ideal de

organização social.

1.9 HEBERT SPENSER

Nascido em 1882, o sociólogo inglês Hebert Spenser influenciou muito as teorias da educação.

Contemporâneo de Durkheim, este pensador foi considerado um grande seguidor das ideias

de Charles Darwin, Spenser torna-se um defensor das teorias do evolucionismo e das ciências

humanas.

Com forte influência dos estudos científicos, onde a natureza passa a ser compreendida e

dominada pela ciência, Spenser compara em seus estudos a sociedade a organismos vivos,

defendendo a ideia de que como os seres vivos, a sociedade também passa por uma evolução,

que se daria por etapas e tinha na educação uma importante aliada.

Antes mesmo de Charles Darwin formular sua teoria da evolução das espécies, Spenser

publica a expressão “sobrevivência do mais apto” expressão essa que posteriormente vai ser

muito utilizada por Darwin, aplicando à sociologia muitas ideias que teve a partir dos estudos

das ciências naturais. Deste modo, Spenser influencia consideravelmente o pensamento de seu

tempo.

Seus estudos ainda apresentam uma forte mudança em relação ao poder do Estado sobre o

indivíduo, para ele o correto é que haja uma primazia do indivíduo sobre o estados pois é para o

indivíduo que o Estado existe e não vice versa.

Este autor contribui bastante no campo da educação, pois combate ferrenhamente a

interferência do Estado na mesma e defende o ensino de ciências nas escolas afirmando que a

função social da mesma era a formação do caráter do indivíduo. Spenser descreve a lei

fundamental da matéria que posteriormente chama de lei da persistência da força, pois segundo

essa lei, existe uma tendência natural das coisas, que mediante a interação com forças extremas,

existe uma tendência dos indivíduos saírem da homogeneidade em direção à heterogeneidade e

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36SOCIOLOGIA, ESTUDOS ANTROPOLÓGICOS

E RELAÇÕES ÉTNICO-RACIAIS

a medida em que forças externas continuam a agir sobre o que era homogêneo, mais variado se

torna o resultado das mudanças decorrentes dessa ação.

Darwinismo social

O darwinismo social, decorrente das teorias evolucionistas de Darwin e de

Spencer, considera que o conflito e a seleção natural dos mais aptos são condições

da progressão social. Trata-se de aplicar ao mundo social os princípios de luta pela

vida e pela sobrevivência dos melhores das sociedades animais, defendidos pela

corrente evolucionista. A competição relativa à luta das espécies prolonga-se,

assim, na vida social, explicando a mudança e a evolução das próprias sociedades.

O evolucionismo de Spencer é cauteloso, na medida em que o autor adverte

que a evolução depende de “condições diversas” que a favorecem ou inibem

(relações do sistema social com o seu meio ambiente, dimensão da sociedade,

diversidade, etc.). Spencer considera, igualmente, que os determinismos sociais

são demasiado complexos; os indivíduos têm tendência a adaptar-se ao sistema

social a que pertencem, do mesmo modo que as atitudes dos indivíduos facilitam

ou inibem o aparecimento de determinado tipo social (o tipo “militar” ou o tipo

“industrial”, por exemplo).

O darwinismo social tornou-se um argumento a favor do individualismo

SAIBA MAIS!

Conhecimento, Evolução e Complexidade na Filosofia Sintética de Herbert Spenser

Fonte: Baiard (2008)

Prezado aluno(a).... O material sugerido a você neste momento de seus estudos, ajudará numa maior compreensão da importância do sociólogo HEBERT SPENSER no cenário mundial e permitirá fazer uma breve imersão nas temáticas defendidas por ele.

É importante que você faça anotações na medida que desenvolva a leitura e poste as mesmas no fórum de discussões em nosso ambiente virtual.

Boa Leitura...

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37SOCIOLOGIA, ESTUDOS ANTROPOLÓGICOS

E RELAÇÕES ÉTNICO-RACIAIS

econômico e político, contra o intervencionismo do Estado. Segundo Spencer, o

Estado só deve, através do Direito, estabelecer as regras do mercado. Por sua vez,

Durkheim, que segue o modelo evolutivo do darwinismo social, dando conta de

tendências evolutivas na sociedade, considera (na sua obra A divisão do trabalho

social) que o desenvolvimento do individualismo - que é uma consequência da

complexidade crescente da divisão do trabalho - é um aspeto fundamental na

passagem das sociedades tradicionais às sociedades modernas.

Fonte: Infopédia (2017)

1.10 KARL MARX

Na data de 05 de maio de 1818, na cidade de Trier, Província alemã do Reno, nascia Karl

Marx, importante pensador da modernidade. Filósofo historiador, economista e sociólogo, Marx

vivencia enquanto estudante de direito em Berlim, um acirrado debate em torno das observações

filosóficas de Friedrich Hegel.

Inovador, Marx apresenta uma nova forma de interpretação da dialética, ele utiliza-se deste

método, mas em outro viés, afirmando que é a vida material que condiciona o pensamento e a

ação humana, isto é, todas as estruturas políticas, ideológicas, culturais, entre outras, nascem e

são influenciadas a partir da produção econômica de cada sociedade em cada momento histórico

vivido.

Este pensamento leva Marx à criação da teoria da sociedade capitalista, que por sua ligação

ao momento social histórico vivido, passa a ser conhecida como MATERIALISMO HISTÓRICO.

A história sempre foi a fonte de pesquisa para as teorias de Marx, que se tornam pontos

de partida para uma melhor compreensão do materialismo histórico e suas críticas ao modo

de produção capitalista. Teorias como a mais valia, modo de produção, teoria de classe social,

estrutura e super. estrutura, permeiam a produção de Marx e nos permitem entender melhor este

pensador.

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38SOCIOLOGIA, ESTUDOS ANTROPOLÓGICOS

E RELAÇÕES ÉTNICO-RACIAIS

1.10.1 Marx e o seu discurso sobre o modo de produção.

Modo de produção é a forma como a sociedade se organiza para realização de qualquer

atividade produtiva.

Para Marx, essa organização se dá num contexto histórico, onde existem relações entre

pessoas e essas relações é que permitem a produção de toda a riqueza da sociedade onde ela se

configura. É importante também para Marx perceber a forma como essas relações definem quem

comanda e quem é comandado, quem ganha mais, ou quem não ganha nada. Marx aponta ainda

o fato de que em diferentes períodos, a sociedade foi marcada por diferentes modos de produção

e que a diferenciação na hierarquia nesta social, dependia da relação em torno do gerenciamento

da atividade e do próprio trabalho, como exemplos, o senhor e o escravo, o senhor feudal e o

vassalo, o dono da fábrica e o operário.

Para Marx existem semelhanças nos vários modos de produção já vivenciados pela humanidade.

Em todas as formas, sempre existiu alguém no comando (gerenciando) e consequentemente,

essa condição dá a este sujeito, o direito de se apropriar da sobra, deste modo, começa a existir

a possibilidade da acumulação de um certo capital, pois esta sobra pode ser comercializada

gerando lucros e posteriormente sendo reaplicada aumentando o capital e o poder de seu dono.

Marx defende a ideia de que a apropriação através da história dessas sobras, vai constituir a

propriedade privada, que passa a ser nos dias atuais a base do sistema capitalista em que estamos

imersos.

A sobra de produção, apropriada por um único sujeito neste processo caracteriza-se lucro,

permitindo assim que cada sociedade vá criando uma estrutura de diferenciação social que

tem nas condições econômicas de cada indivíduo, o mérito de sua classificação nesta mesma

sociedade. No sistema capitalista, chamamos esta diferenciação de classe social.

Para este pensador esse sistema capitalista é caracterizado por uma estrutura que tem na

propriedade privada (terras- fábricas- posses em geral) e na exploração do trabalho a base de

sua existência, e esta condição, perpetua a divisão social em classes o que dificulta o acesso aos

menos afortunados aos meios de produção e à riqueza produzida através deles, impossibilitando

o acesso a outras classes, perpetuando assim a condição desses sujeitos nas posições em que se

encontram.

Para demonstrar a organização da sociedade capitalista como a percebe, Marx a divide em

estrutura (ou infraestrutura) e superestrutura. Para ele, a estrutura (ou infraestrutura) se dá pela

organização das formas de produção, ou seja, neste sistema, existe uma organização onde uma

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39SOCIOLOGIA, ESTUDOS ANTROPOLÓGICOS

E RELAÇÕES ÉTNICO-RACIAIS

classe dominante, detém como posses suas os meios de produção, e outras que não a possuem

dependem da venda de sua força de trabalho para sobreviver.

Como forma de explicar esta apropriação do lucro resultante do trabalho dos operários pelos

proprietários dos meios de produção, Marx desenvolve a teoria da mais valia.

Mas o que é a mais valia?

Muitos autores lançam mão de exemplos simples, mas eficazes para explicar esta teoria.

Boneti (2008 p. 17), afirma que:

Segundo Marx, mais valia se entende como lucro líquido que o proprietário dos

meios de produção tem sobre a aquisição da força de trabalho. Isto é, com algumas

horas de trabalho o trabalhador rende o suficiente para pagar o seu próprio trabalho,

o restante a mais que ele trabalhar seria agora, o que foi chamado por Marx.

Como falamos anteriormente, Marx divide esta organização capitalista em infra e super

estrutura, e o que caracteriza para ele então a super estrutura é justamente esta organização

da sociedade configurada pelas figuras de proprietários e não, dos meios de produção, pela

exploração da força de trabalho pelo capitalismo que ainda, segundo Marx, é perpetuada pela

produção de ideias e ideologias pelo próprio Estado, através de seus aparelhos. A esta organização

ele chama de super. estrutura.

Nesta configuração sinalizada por Marx, o Estado, fonte das aspirações do povo nos regimes

democráticos, ainda assim estaria a serviço das classes dominantes (detentoras dos meios de

produção) e as instituições existentes nela, como é o caso da escola serviria como meio para

perpetuar esta configuração.

É importante pensarmos aqui, que se a escola serve aos interesses das classes dominantes é

também nela que se possibilita a aquisição de conhecimentos suficientes para o questionamento

da própria sociedade. A crítica leva a luta de classes, apontada por Marx em suas obras. Para ele,

na sociedade capitalista, os avanços são possíveis através dos conflitos existentes pelas diferenças

de interesses.

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40SOCIOLOGIA, ESTUDOS ANTROPOLÓGICOS

E RELAÇÕES ÉTNICO-RACIAIS

1.11 O AUTOR EM ARTIGO...

Karl Marx

O trabalho de Karl Marx, um dos maiores teóricos da história moderna,

tornou-se um dos pilares para os estudos sociológicos.

Karl Marx (1818-1883) talvez seja um dos teóricos mais citados e discutidos

em nossa história moderna. Suas obras teóricas mais famosas são esforços

monumentais de análise histórica, social e econômica. De tão abrangentes, suas

ideias trouxeram contribuições tanto para a área da Sociologia quanto para a

Economia, Filosofia, História, Ciências Políticas e entre tantas outras.

Karl Marx, Émile Durkheim e Max Weber foram considerados os três pensadores

clássicos, pois seus trabalhos tornaram-se pilares para a construção dos estudos

sociológicos. Assim como Durkheim, o interesse de Marx era entender as

mudanças sociais que testemunhara no decorrer da Revolução Industrial. Ele viu,

em primeira mão, o rápido processo de crescimento das fábricas e da produção

industrial, bem como o consequente crescimento das desigualdades sociais.

Sua relação íntima com os movimentos trabalhistas europeus da época

influenciou seus escritos e a sua abordagem teórica. Embora se dedicasse mais

a temas da área da economia, sua visão abrangente também considerava os

acontecimentos que estavam ligados ao mundo social. Justamente por esse

motivo, seus trabalhos são grandemente utilizados nos estudos sociológicos.

Embora tenha se dedicado ao estudo de diferentes momentos históricos, era

a transição da modernidade que mais lhe interessava. Os fenômenos sociais

que observara eram profundos e complexos, de tal forma que mudaram toda a

estrutura social do mundo europeu e, posteriormente, de todo o resto do mundo.

No entanto, Marx concentrou-se nas mudanças que envolviam o desenvolvimento

do capitalismo dentro do novo contexto que se apresentava. Seu interesse devia-

se às grandes diferenças que o sistema capitalista possuía em relação aos sistemas

de produção que surgiram anteriormente na história humana, pois o foco desse

sistema era a produção em larga escala de bens de consumo.

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41SOCIOLOGIA, ESTUDOS ANTROPOLÓGICOS

E RELAÇÕES ÉTNICO-RACIAIS

A relação entre o capitalista e o proletário

Para Marx, um dos pontos principais da questão estava no capital, isto é,

qualquer bem, como dinheiro, máquinas e fábricas, que pudesse ser investido

no intuito de gerar uma maior quantidade de capital. O segundo ponto principal

era o estabelecimento da mão de obra assalariada como regra das relações de

trabalho que se estabeleciam naquele momento. Esse ponto era crucial para Marx

em razão dos impactos causados na vida do trabalhador, que, afastado da terra

em virtude dos processos de cercamento não possuía mais meios de produção

para sua subsistência, sendo, portanto, obrigado a vender a sua força de trabalho

em troca de um salário. Esse seria o início de uma nova relação de exploração, na

qual o capitalista, ou o dono dos meios de produção, estabeleceria uma relação de

dominação sobre o trabalhador, também chamado de proletário.

Nessa perspectiva, Marx enxergava o estabelecimento de uma relação de conflito entre classes: o capitalista era detentor dos meios de produção e obtinha

lucros sobre a produção do proletário, que, por sua vez, possuía pouco poder ou

controle sobre seu trabalho. Marx enxergava nessa relação o surgimento iminente

do conflito entre as classes envolvidas.

Perspectiva materialista da história

Vale salientar outra importante contribuição de Marx para o mundo teórico: a

perspectiva materialista da história. No materialismo histórico, as respostas

para os fenômenos sociais estão inseridas nos meios materiais dos sujeitos. Isso

quer dizer que diferentes situações materiais, o que, em uma sociedade capitalista,

traduz-se em situação econômica, moldam diferentes sujeitos. Essa diferença

seria, para Marx, vetor de conflitos entre grupos de indivíduos submetidos a

realidades materiais diferentes.

Com essa ideia, Marx fez referência ao conflito incessante entre classes, o que julgou

ser “o motor da história”. A preocupação de Marx estava além do estudo dos problemas

das sociedades modernas, pois seu trabalho direcionava-se para a busca de uma lógica

do desenvolvimento humano ao longo da história. Sob essa perspectiva, os modos de

produção de uma sociedade eram determinantes tanto na constituição de sua realidade

social quanto na determinação dos rumos que seu desenvolvimento tomaria.

Fonte: RODRIGUES (2017)

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42SOCIOLOGIA, ESTUDOS ANTROPOLÓGICOS

E RELAÇÕES ÉTNICO-RACIAIS

Trocando em miúdos...

Para Marx, são as coisas materiais que movem a sociedade, para ele tudo o que acontece nela

tem a ver com a economia e a produção de bens capitais. Segundo este pensador, quando as

formas de produção são modificadas a sociedade também muda. Com o advento do capitalismo

e a Revolução Industrial, as relações de poder na sociedade transformaram-se muito, novos

embates surgiram nesta forma de organização econômica.

Karl Marx, defendia a ideia que só o homem poderia mudar a sociedade para melhor e que

isso se daria a partir do momento em que ele tomasse sua história nas mãos. Para este pensador,

o homem comum nem sempre mudava o rumo de sua vida, pois herdava dos seus antepassados

estruturas sociais que não o permitia tal ação, deste modo, não só o homem faz a sociedade em

que vive, mas também a sociedade o constrói através das heranças herdadas historicamente

(Materialismo Histórico) essa condição que o indivíduo se encontra na sociedade, segundo Marx,

se dá reciprocamente.

A classe dominante a que Marx denomina de Burguesia, segundo sua lógica, tem maiores

oportunidades de fazer sua história em condições infinitamente melhores, pois tem em seu poder

a economia e a política, ao contrário do proletariado que herda nesta estrutura social quase nada,

apenas a condição de venda de sua força de trabalho, que geralmente é explorada pela burguesia.

Marx aponta que para que haja uma mudança nesta

estrutura, é necessária a uma Revolução, deste modo, a

classe trabalhadora poderia assumir o poder e mudar

o rumo de sua história, através do controle dos meios

de produção e de uma melhor organização política.

Este importante sociólogo defende ainda que através

da conscientização de sua condição de explorado,

o trabalhador deveria mudar a sociedade e suas

estruturas de um regime capitalista vigente para um

socialismo mais justo e próspero. Com o controle total dos meios de produção o proletário dono

da fábrica e sem a instituição da propriedade privada, que neste sistema pertenceriam a todo,

mudariam sua sorte e o destino da humanidade.

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43SOCIOLOGIA, ESTUDOS ANTROPOLÓGICOS

E RELAÇÕES ÉTNICO-RACIAIS

Trabalhadores de mundo uni-vos! (Karl Marx)

“Trabalhadores de mundo uni-vos’’ (Karl Marx), é assim que Marx conclama

o proletariado europeu, a luta e a modificação dinâmica e social imposta a partir

da tutela do Estado e de interesses particulares de uma minoria. O manifesto do

partido comunista escrito em 1848 tem em seu cerne o objetivo de mobilização

do operariado. Desta forma foi escrito de maneira militante que se possibilitava

seu pleno entendimento e a idealização completa do ideal ali contido.

O contexto de crise na economia europeia e a constante efervescência social

fizeram do manifesto um folheto político social e ideológico com as bases da

revolução socialista e a tomada de consciência por parte da classe trabalhadora,

segundo Marx elemento principal de mudança da realidade social.

A luta do proletariado deve ser constantemente, a análise materialista histórica

engloba-se em um processo muito maior que nossas vontades... Somos então

englobados em processo de lutas concretas entre dominadores e dominados,

transformações pelas quais irradiam seus reflexos a ideia da dinâmica dos

trabalhadores.

Na teoria marxista o trabalho ocupa posição basilar na relação entre homem

e a natureza intermediada pela técnica diferenciando-os dos demais animais.

Intensificada pelo aumento da distância entre o trabalhador e aquilo que ele

produziu pela alienação, pela qual o trabalhador apenas serve para o meio de

produção estritamente relacionado com a divisão do trabalho social.

Marx encara o trabalho como uma mercadoria com valor de uso e troca

configurando a unidade mais simples o capitalismo. No manifesto os trabalhadores

são levados a mercantilização das relações sociais sejam familiares, afetivas ou

como outros fenômenos de forma especial a exploração e a possibilidade de

mudança.

Fonte: Sociologias (2017)

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44SOCIOLOGIA, ESTUDOS ANTROPOLÓGICOS

E RELAÇÕES ÉTNICO-RACIAIS

1.12 MAX WEBER

No ano de 1864, na cidade de Erfurt na Turíngia, nasce Max Weber. Este sociólogo,

como Karl Marx, renegava a ideia de que a sociologia tinha ligação com as ciências

naturais como pensavam os primeiros sociólogos. Weber defendia a ideia de que a análise

da sociedade deveria ser isenta de certos de valores, para ele, o verdadeiro objetivo na

sociologia, deveria ser o entendimento e a identificação das formas de criação das

regras sociais e como elas funcionam na organização das mesmas.

Weber tem como ponto central de sua obra a busca da compreensão das coisas,

principalmente o que ele determina como ação social.

O autor afirma que o que move a sociedade é a ação social, o que vai dar a sua

teoria o nome de “compreensiva”. Para este autor, a ação social é uma sequência de

acontecimentos que têm como início um conjunto de motivações.

Weber afirma ainda que cada ação humana é motivada por um sentido e este é o

responsável pelo processo de uma determinada ação. Para ele, toda ação começa no

individual, para depois ganhar força na coletividade.

Para este pensador, a cultura é fundamental nesse processo e ela deve ser vista como

uma estrutura de símbolos, símbolos estes que, por sua vez, passam a ser mais ou menos

valorados, dependendo da importância dada a eles nesta mesma sociedade. Um exemplo

de símbolo de uma cultura segundo Weber é o ESTADO que, na ótica deste autor, é um

AUTO ATIVIDADE

Responda as questões abaixo e, a partir de suas respostas, elabore um texto posicionando-se a respeito das problemáticas apontadas nas questões.

1- De que forma a teoria de Marx nos ajuda a entender a sociedade contemporânea?

2- A miséria no Brasil e no mundo pode ser pensada como sendo uma das consequências do sistema capitalista? Por quê?

3- Qual a diferença entre Marx e os demais sociólogos vistos até aqui?

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45SOCIOLOGIA, ESTUDOS ANTROPOLÓGICOS

E RELAÇÕES ÉTNICO-RACIAIS

símbolo cultural de poder.

Weber em seus estudos desenvolve a TEORIA DA RACIONALIDADE CAPITALISTA por

meio da qual defende a ideia de que os indivíduos podem desenvolver um conjunto de

pensamentos e habilidades para se darem bem nas relações capitalistas da sociedade em

que estão inseridos. Essa condição permite também a eles, segundo Weber, a condição

de desenvolverem uma consciência das possibilidades de ganhos e perdas nas relações

sociais.

Com base na sociedade capitalista americana, Max Weber, escreve sua principal obra

intitulada ÉTICA PROTESTANTE E ESPÍRITO DO CAPITALISMO onde analisa a formação

de uma racionalidade capitalista, criada e incorporada pelos protestantes ingleses depois

das ideias revolucionárias de Martinho Lutero e também na imigração inglesa para a

América do Norte.

Para Weber, uma ação que normalmente surge no âmbito individual, e passa a ter um

sentido cultural para este indivíduo, pode ser absorvida na coletividade e fazer parte de

um pensamento de grupo.

Ao contrário de seus antecessores (Durkheim e Comte) este teórico interpreta a

sociedade não pelos fatos sociais, mas sim pelos indivíduos que nele vivem e pelas ações

que os orientam como suas intenções, motivações, expectativas e valores. Desta forma,

é através da análise dos homens que se pode compreender as instituições que estes

mesmos indivíduos criam na sociedade, como a família, a justiça, a igreja entre outras.

Criador da sociologia compreensiva, Weber propõe entender a sociedade a partir da

análise dos motivos pensados subjetivamente pelos indivíduos em suas ações.

SAIBA MAIS...

Max Weber e o destino do “despotismo oriental”

Sérgio da Mata

Max WEBER. Estudos políticos. Rússia 1905 e 1917. Rio de Janeiro,

Azougue, 2005. 215 páginas.

Por volta de 1905 a atenção de Max Weber gravitava em torno dos colossos

norte-americano e russo. A publicação da segunda parte da Ética protestante

estava concluída, e no ano anterior ele viajara, na companhia de sua esposa

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46SOCIOLOGIA, ESTUDOS ANTROPOLÓGICOS

E RELAÇÕES ÉTNICO-RACIAIS

Marianne e de Ernst Troeltsch, para a Exposição Universal em Saint Louis. Foi

forte a impressão que teve dos Estados Unidos, como se pode ver nas longas

cartas reproduzidas na biografia escrita por Marianne. Em 1906, ele publica no

jornal protestante-liberal Christliche Welt um ensaio sobre “Igrejas e seitas na

América do Norte” (WEBER 1973), no qual atribui à ética do puritanismo e das

seitas o ethos liberal daquele país. Esta apreciação remete de forma explícita

aos trabalhos de Georg Jellinek. Em 1895, Jellinek (2003) havia postulado que o

fundamento do liberalismo político norte-americano fora o ideal de liberdade

religiosa trazido pelos colonos protestantes.

Os estudos de Weber sobre a Rússia, publicados na mesma época, trabalham

com uma problemática similar. Para ele, a Alemanha poderia e deveria aprender

com as experiências que se desenrolavam a oeste e a leste. Pois nelas se encerrava,

se assim podemos nos expressar, um dos grandes dilemas da modernidade.

Tratava-se, quanto aos Estados Unidos, da seguinte questão: como não perder a

liberdade a duras penas conquistadas? quanto à Rússia: como inventá-la?

O interesse de Weber pela Rússia vinha de longe. Ele estava bastante

familiarizado com a literatura de Dostoiévski e Tolstói, bem como com os escritos

do filósofo Vladimir Soloviev. Em 1912, chegaria a anunciar, em carta, o desejo de

escrever um livro (o que nunca chegou a ocorrer) sobre a ética em Tolstói.

Foi provavelmente por meio de Theodor Kistiakovski, professor de filosofia do

direito em Heidelberg, que Weber estreitou seus laços com inúmeros estudantes

russos. Ele simpatizava com a plataforma dos kadets (constitucional-democratas)

e abriu-lhes espaço no Archiv für Sozialwissenschaft. Quando o “domingo

sangrento” precipita os acontecimentos na Rússia, Weber passa a acompanhar

atentamente a imprensa daquele país, pois considerava demasiado hostil a

cobertura dos jornais alemães (MOMMSEN 1997).

Antes, porém, de abordarmos os textos propriamente ditos, algumas palavras

sobre esta edição brasileira. O volume é precedido de um extenso ensaio

introdutório do tradutor, Maurício Tragtenberg. Na sua apresentação, situa com

maestria os ensaios no quadro mais amplo dos textos políticos e dos estudos

sociológicos de Weber. Trata-se de um esforço que, por si só, merece um lugar à

parte na história da recepção do pensamento weberiano no Brasil.

A tradução realizada por Tragtenberg, em meio à década de 1980, certamente

não foi fruto de uma curiosidade informada por razões puramente teóricas. Num

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47SOCIOLOGIA, ESTUDOS ANTROPOLÓGICOS

E RELAÇÕES ÉTNICO-RACIAIS

momento em que a sociedade civil brasileira pôde dar início a uma gradativa

recomposição de seus espaços de participação política (mas que à época nenhum

analista sensato se arriscava a considerar irreversível), não deixava de ser

particularmente oportuno conhecer mais de perto a experiência russa de início

de século XX – também ela marcada por aquilo que Jessé Souza chamou de

“modernização seletiva”. Uma modernização confrontada com a persistência de

um sistema político não apenas autocrático, mas (no entendimento de Weber)

anacrônico.

Contudo, parte significativa do empreendimento de Weber permanece

ainda inédita em português, uma vez que se tomou por base a versão editada

por Johannes Winckelmann. As diferenças em relação aos textos originais são

enormes. Basta dizer que o primeiro dos estudos do volume (“A situação da

democracia burguesa na Rússia”) teve sua extensão praticamente reduzida à

metade por Winckelmann. Das mais de noventa notas inseridas por Weber

chegaram-nos apenas cinco, sendo apenas três delas da pena do próprio autor.

Desnecessário dizer que, com isso, se perde muita coisa importante. Na primeira

nota do original, o autor adverte que sequer reclama para si um conhecimento

aprofundado da situação da Rússia. Ele pretende apenas oferecer um substituto

temporário para um “relato político-social sério” da Revolução de 1905. Weber

caracteriza seu artigo como “notas ao estilo de crônicas” (chronikartige Notizen).

Uma verdadeira história dos acontecimentos só poderia ser escrita, afirma, depois

de reunida grande quantidade de documentos escritos, aos quais o pesquisador

ocidental ainda não tinha acesso. Limitemo-nos, em todo caso, ao texto tal como

foi posto à disposição do leitor brasileiro. Em “A situação da democracia burguesa

na Rússia”, Weber discute o projeto de constituição elaborado por Piotr Struve,

um ex-marxista convertido ao liberalismo e discípulo de Jellinek (Struve havia

inclusive publicado no Archiv). Toda a discussão se dá em torno de uma tríade:

a situação das forças políticas liberais, a crise do regime político czarista e as

reivindicações do campesinato.

Eis uma consideração surpreendente para um autor que ainda se definia, em

grande medida, como historiador: “com exceção da Igreja e das comunidades

camponesas [...], não existe [na Rússia] mais nada de ‘histórico’” (WEBER p.51).

O regime czarista fazia lembrar a monarquia de Diocleciano. Essa propensão a

julgar a-históricas as estruturas social e política da Rússia não era exatamente

incomum na Alemanha. Engels havia manifestado opinião semelhante. Aquilo

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48SOCIOLOGIA, ESTUDOS ANTROPOLÓGICOS

E RELAÇÕES ÉTNICO-RACIAIS

que os fundadores do materialismo histórico denominaram “despotismo oriental”

era também objeto de preocupação para Weber – que, curiosamente, manteria

sua opinião a respeito do suposto imobilismo russo. Em uma participação oral

no primeiro congresso alemão de sociologia, Weber (1988, p. 468) afirma que o

cristianismo russo mantivera basicamente as mesmas feições do cristianismo

antigo. Portanto, era em “ambiente ainda arcaico” (WEBER p. 144) que se tentavam

implantar reformas de cunho liberalizante.

Weber avalia as possibilidades dos reformistas a partir da confluência de

distintas forças sociais e econômicas favoráveis: os zemstvos (conselhos comunais

criados por Alexandre II), o desenvolvimento do capitalismo e a organização

crescente dos partidos liberais. Ele se detém sobre a legislação eleitoral antes

da convocação da Duma, em maio de 1906. E antevê a radicalização do processo

político: diante da perspectiva de forte presença da representação camponesa e

dos diversos segmentos da esquerda russa, Weber mantém-se pessimista, pois

considera que a massa popular “ainda não possui formação política” (WEBER p.

62). Da visão mística de Soloviev sobre a “missão” do povo russo à ética heroica de

Tolstói, do radicalismo da esquerda revolucionária à intransigência da burocracia

czarista, tudo isso lhe parecia configurar um quadro em que o exercício de uma

Realpolitik era virtualmente impossível.

Dada a fragilidade da incipiente burguesia russa, o campesinato tornara-

se o fiel da balança. O “radicalismo furioso das massas” rurais (WEBER p. 77)

alimentava-se do avanço do capitalismo no campo e mesmo da redistribuição de

terras: “a execução do programa de reforma agrária dos democratas burgueses

viria a dar [...] um enorme impulso ao ‘espírito’ do comunismo agrário e do

socialismo agrário entre os camponeses” (WEBER p. 79). Ademais, o forte

sentimento antiburocrático do campesinato conduzia a Rússia a outro dilema. As

massas rurais aparentemente dispunham-se a aceitar a parlamentarização, mas

não o aumento do peso do aparato burocrático por ela acarretada. Mais ainda:

nada poderia garantir que, de um momento para o outro, seu radicalismo político-

social não se transformasse em reacionarismo.

Weber não acreditava que os marxistas pudessem encontrar uma solução para

a questão agrária e nada lhe sugeria que na Rússia de então houvesse “estadistas”

à altura da crise (WEBER. P 99). A missão dos liberais consistiria em lutar contra

o centralismo e difundir entre as massas o individualismo e a noção de direitos da

pessoa. Por outro lado, tais valores tinham a ingrata tarefa de se impor a despeito

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49SOCIOLOGIA, ESTUDOS ANTROPOLÓGICOS

E RELAÇÕES ÉTNICO-RACIAIS

do desenvolvimento econômico capitalista. Weber é cético com relação ao futuro

da democracia. “Todos os barômetros da economia”, afirma ele, “preveem o

aumento das restrições à liberdade” (WEBER. P 103). A grande questão que se

colocava era, pois, a seguinte: “como é ‘possível’ a persistência da democracia e

da liberdade sob o domínio do alto capitalismo?” (WEBER. P 104).

O complexo de causas que explicariam a gênese histórica da nossa noção de

liberdade teria se dado apenas uma vez na história. Tais condições, consideradas

irrepetíveis por Weber, seriam as seguintes: a facilidade de difusão de (e a abertura

para) novas ideias no contexto da expansão ultramarina dos séculos XV a XVII,

as características próprias da estrutura econômico-social europeia na época da

aurora do capitalismo, o domínio da ciência sobre a vida e, enfim, determinadas

concepções de valor originadas no mundo das representações religiosas. Ainda

assim, Weber acreditava que valia a pena acompanhar de perto as experiências

norte-americana e russa. Elas seriam as “‘últimas’ oportunidades para construir

culturas ‘livres’, começando pelos ‘alicerces’” (WEBER. P 108).

Weber acertou em sua previsão de que a situação política russa tendia à

radicalização. As pressões da Duma pela libertação dos presos políticos, pelo direito

à sindicalização e pela reforma agrária levaram o Czar a dissolver o parlamento

em julho de 1906. Em agosto, Weber publica “A transição da Rússia a um regime

pseudoconstitucional”, em que dá continuidade à “crônica” iniciada no artigo

anterior. Uma nova variável passa a ser considerada: a interferência do capital

financeiro no processo revolucionário. Três décadas antes, Engels (1962, p. 567) já

havia observado que “as finanças [do Estado russo] estão arruinadas”. Weber faz

um diagnóstico idêntico, mostrando como tal situação levou a uma dependência

crescente do Czar em face dos bancos estrangeiros, o que, em contrapartida,

lhe permitia manter-se insensível às demandas da burguesia russa e dos que a

representavam na Duma. Assim, a abertura política prometida pelo manifesto de

17 de outubro foi simplesmente jogada no lixo por Nicolau II. A “racionalização

burocrática definitiva de todo o campo da política interna” (WEBER. P 130) serviria

ainda menos à causa da liberdade. Diante de um “absolutismo burocraticamente

racionalizado”, mesmo a estratégia do terrorismo de setores da esquerda estava

fadada ao fracasso (WEBER. p.136).

A questão-chave era, para Weber, o problema agrário. A reforma agrária, tal

como vinha sendo reclamada pelos camponeses, seria simplesmente irrealizável.

As “estatísticas” demonstravam que “não havia tantas terras assim” (WEBER.

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50SOCIOLOGIA, ESTUDOS ANTROPOLÓGICOS

E RELAÇÕES ÉTNICO-RACIAIS

P 152). Somente um regime despótico, e que gozasse de finanças saudáveis,

estaria em condições de eliminar as oposições à reforma agrária. Weber descarta

a possibilidade de desapropriação forçada. O bom senso faltaria a todos, dos

kadets à esquerda revolucionária. Julgar que os camponeses poderiam realizar

esta reforma por si sós não passava de “auto-ilusão” (WEBER. pp 156-157). Em

inúmeras passagens Weber revela sua crença de que somente uma liderança

carismática – um “parvenu genial” (WEBER. p. 157) – estaria em condições de

restaurar a ordem, pacificar o ambiente político e constituir as bases a partir das

quais poderia surgir uma “nova Rússia”.

Em março de 1906, ficava claro que o governo estava encurralado. A “democracia

ideológica” estava eliminada e Nicolau II, a quem Weber não poupa em momento

algum, se rendera ao poder dos bancos. Somente dessa forma se explica, acredita

Weber, que as forças da reação tenham evitado a invenção da liberdade na Rússia.

A Duma teve, aos seus olhos, um desempenho surpreendentemente positivo:

“não existe nenhum parlamento do mundo que tenha realizado tanto em tão

pouco tempo” (WEBER.p.175). Sua dissolução significava apenas o adiamento de

uma verdadeira solução do dilema russo. Embora não dispusessem do “charme”

das primeiras revoluções burguesas, ainda assim os acontecimentos de 1905

eram dignos de admiração. Afinal, “jamais se viu tamanha prontidão para o

martírio” (WEBER.p.184). A comparação com outras revoluções revelava uma

outra diferença que Weber acreditava ser fundamental (e o fato de ele insistir

repetidas vezes nesse ponto é bastante revelador em si mesmo): a ausência de

uma liderança carismática à altura das exigências históricas do momento. Na

Rússia faltariam “líderes realmente grandes”, “grandes personalidades” (WEBER

.pp.181-182). É evidente que ele não os reconhece entre os líderes da esquerda,

e muito menos entre os bolcheviques, o que pode ser atribuído tanto às suas

posições políticas pessoais quanto – é a tese de Mommsen – à sua convicção de

que a Alemanha vivia uma situação análoga neste particular.

O último ensaio do volume (“A transição da Rússia à pseudodemocracia”) é,

de longe, o menos inspirado. Aparentemente, a revolução de fevereiro de 1917

pegou nosso autor de surpresa. Como a maioria dos observadores, à exceção

dos marxistas, uma solução de tipo não-burguês lhe parecia improvável. Ele

chegou a admitir que haveria, entre os novos governantes, “chefes hábeis e pelo

menos parcialmente desprendidos” (WEBER, p.190), mas o problema era que o

governo provisório não dispunha de crédito no exterior – fragilidade que Weber

considerava fatal.

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51SOCIOLOGIA, ESTUDOS ANTROPOLÓGICOS

E RELAÇÕES ÉTNICO-RACIAIS

O leitor se surpreende por não encontrar uma apreciação, por ligeira que seja,

da situação do proletariado russo. Nem mesmo os soviets são mencionados. É

ainda o campesinato o ator social em que Weber concentra sua atenção. Para ele,

não havia paz à vista entre Rússia e Alemanha (àquela altura, não lhe escapava

que seu país caminhava a passos largos para a derrota na guerra). Pois o interesse

principal dos novos governantes russos consistia em manter os camponeses

longe de casa. O campesinato também não deveria esperar muito dos operários.

Na avaliação de Weber, a vitória dos primeiros poderia significar um atraso no

desenvolvimento industrial russo. Ao fim e ao cabo, fevereiro de 1917 não seria

uma revolução, mas o mero desligamento de um monarca incapaz (WEBER,

p.207).

Em que pesem as fragilidades de sua crônica política, nos artigos de Weber não

falta, como sempre, o lampejo da intuição genial. Para um homem que se inteirava

do que ocorria na Rússia unicamente através da imprensa e de seus contatos

pessoais, o resultado inegavelmente impressiona. Somos tentados a imaginar

como Weber pensaria hoje o dilema russo, de vez que, exatos cem anos depois,

este não parece completamente solucionado. Talvez seja oportuno acrescentar

que, em várias outras partes do mundo, a necessidade de invenção da liberdade

e de superação do “despotismo oriental” continua a reclamar observadores do

mesmo quilate.

Referências

BELKIN, D. Die Rezeption V. S. Solov’evs in Deutschland. Tese de doutorado. Eberhard-

Karls-Universität zu Tübingen, datilo, 2000.

DOSTOIEVSKI, F. Journal d’un écrivain. Paris, E. Fasquelle, 1904.

ENGELS, F. Soziales aus Russland, in Marx-Engels Werke, Berlin, Dietz, v. 18, 1962.

JELLINEK, G. La declaración de los derechos del hombre y del ciudadano. México,

Universidad Autónoma de México, 2003.

MATA, S. da. Max Weber e a ciência histórica. Teoria & Sociedade, (número especial):

150-171, maio, 2005.

MOMMSEN, W. Max Weber and the regeneration of Russia. Journal of Modern History,

v. 69, n.1, p. 1-17, 1997.

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52SOCIOLOGIA, ESTUDOS ANTROPOLÓGICOS

E RELAÇÕES ÉTNICO-RACIAIS

WEBER, M. Soziologie. Universalgeschichtliche Analysen. Politik. Stuttgart, Kröner, 1973.

_________. Gesammelte Aufsätze zur Soziologie und Sozialpolitik. Tübingen, J. C. B.

Mohr, 1988.

Fonte: Mata (2006)

SAIBA MAIS!

VÍDEO

Assista ao filme Germinal e através do conteúdo apresentado no mesmo, relacione o seu contexto à

situação apresentada por Karl Marx e Max Weber quanto à exploração da mão de obra no sistema capitalista em vigência até hoje. Faça uma lista de observações das situações apresentadas no filme e relacione as conhecidas por você em seu cotidiano. Após seu trabalho realizado, poste o mesmo no fórum aberto pelo professor em nosso ambiente virtual. Boa atividade!

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53SOCIOLOGIA, ESTUDOS ANTROPOLÓGICOS

E RELAÇÕES ÉTNICO-RACIAIS

A SOCIOLOGIA CONQUISTA A MATURIDADE

2 PIERRE BOURDIE

Dentre os sociólogos contemporâneos e suas preocupações sociais, destaca-se Pierre Bourdie

e seus estudos teóricos. Nascido na localidade de Deguin, no sul da França na década de 30,

Bourdie forma-se em filosofia, disciplina esta que mais tarde leciona na conceituada Sorbonne,

o que antecede sua direção dos estudos na École Dês Hautes Études en Sciences Sociales de

Paris. Bourdie fica conhecido nos círculos acadêmicos e científicos por seus estudos sobre os

mecanismos de construção das desigualdades sociais.

Pierre Bourdie é identificado na Academia como sendo “neomarxista”, pois suas teorias têm

origem no materialismo histórico de Marx, mas Bourdie vai além e tem em Max Weber outra

fonte de inspiração, dando ênfase às funções sociais dos símbolos (cultura – escola – patriotismo,

etc.) os quais ficam evidentes em sua sociologia.

Segundo Rodrigues (2001, p. 84):

Para levar a cabo a ambição de Durkheim de unificar as ciências humanas em torno

da sociologia, Bourdie introduziu uma síntese teórica entre o modelo durkheimiano

e o estruturalismo. O estruturalismo se conecta à sociologia de Durkheim na medida

em que pretende desvendar justamente o peso das estruturas sociais por trás das

ações do sujeito. Na verdade, trata-se aqui de uma versão mais radical do modelo de

UNIDADE II

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54SOCIOLOGIA, ESTUDOS ANTROPOLÓGICOS

E RELAÇÕES ÉTNICO-RACIAIS

Durkheim, que leva às últimas consequências o ponto de partida, segundo o qual, os

indivíduos estão submetidos ao controle das estruturas da sociedade.

Na obra “A Reprodução” Bourdie junto a Passeron3 fazem análises de como se

reproduzem as condições sociais através da escola, da cultura e dos saberes das classes

dominantes, proporcionando a dominação e legitimando a desigualdade própria do

capitalismo.

Nas décadas de 70 e 80, Bourdie configurou-se como um dos principais teóricos da

sociologia, com forte influência por seus estudos na educação.

A parceria com Jean-Claude Passeron rende um livro que tenta desmistificar a ideia de

que os estudantes e todo o meio estudantil configuravam uma classe a parte na sociedade

da época, e por sua juventude, cultura e capacidade de ação e liderança.

Poderiam promover a transformação social.

No livro chamado Os Herdeiros, Bourdie junto a Passeron refutam o discurso de que

a implantação de uma escola para todos, igualitária, possibilitaria o pleno democrático

desenvolvimento das potencialidades humanas, como bons críticos sociais. Esses autores

evidenciam o que as escolas realizam por trás de sua suposta neutralidade, segundo

eles: A Reprodução” das relações sociais e do poder vigente. Para eles é impossível com

essa estrutura escolar de reprodução romper com a triagem e seleção dos sujeitos para

ocuparem suas posições em classes sociais distintas.

Para saber mais...

Campo e Habitus

Campo

O social objetivado – indivíduos, grupos, classes

Habitus

Conjunto de disposições duradouras que determinam o pensar, sentir, atuar.

Como se constitui o campo?

Campos são espaços estruturados de posições, espaços de jogo historicamente constituídos com suas instituições específicas e leis de

funcionamento.

3 Jean Claude Passeron também professor da École des hautes études en sciences sociales. Faz várias parcerias com Pierre Bourdieu dentre elas, escreve a obra La Reproduction, que é publicada em 1970. No Brasil a obra recebe o título de A reprodução: elementos para um teoria geral do sistema de ensino, publicada pela editora Francisco Alves em 1975.

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55SOCIOLOGIA, ESTUDOS ANTROPOLÓGICOS

E RELAÇÕES ÉTNICO-RACIAIS

Como se constitui o Habitus?

Surge como produto da coação das estruturas sociais, importa a posição que cada agente ocupa no espaço social e em cada campo.

Pense nisso!!!!

• No campo da cultura, que lugar ocupam os meios de comunicação?

• No campo econômico que lugar ocupam os organismos internacionais?

• No campo da educação, que lugar ocupam os alunos?

Em cada campo, como espaço de luta, há relações de força, posições e interesses em jogo.

2.1 O SOCIÓLOGO EM ARTIGO

Pierre Bourdieu, o investigador da desigualdade

O sociólogo francês detectou mecanismos de conservação e reprodução em

todas as áreas da atividade humana, entre elas, o sistema educacional.

Embora a maioria dos grandes pensadores da educação tenha desenvolvido

suas teorias com base numa visão crítica da escola, somente na segunda metade do

século XX surgiram questionamentos bem fundamentados sobre a neutralidade

da instituição. Até ali a instrução era vista como um meio de elevação cultural

mais ou menos à parte das tensões sociais. O francês Pierre Bourdieu (1930-2002)

empreendeu uma investigação sociológica do conhecimento que detectou um

jogo de dominação e reprodução de valores.

Suas pesquisas exerceram forte influência nos ambientes pedagógicos nas

décadas de 1970 e 1980. “Desde então, as teorias de reprodução foram criticadas

por exagerar a visão pessimista sobre a escola”, diz Cláudio Martins Nogueira,

professor da Universidade Federal de Minas Gerais. “Vários autores passaram a

mostrar que nem sempre as desigualdades sociais se reproduzem completamente

na sala de aula.” Na essência, contudo, as conclusões de Bourdieu não foram

contestadas.

Na mesma época em que as restrições a sua obra acadêmica se tornaram

mais frequentes, a figura pública do sociólogo ganhou notoriedade pelas críticas

à mídia, aos governos de esquerda da Europa e à globalização. Ele costuma ser

incluído na tradição francesa do intelectual público e combativo, a exemplo do

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56SOCIOLOGIA, ESTUDOS ANTROPOLÓGICOS

E RELAÇÕES ÉTNICO-RACIAIS

escritor Émile Zola (1840-1902) e do filósofo Jean Paul Sartre (1905-1980).

VALORES INCORPORADOS

O livro A Reprodução (1970), escrito em parceria com Jean-Claude Passeron,

analisou o funcionamento do sistema escolar francês e concluiu que, em vez

de ter uma função transformadora, ele reproduz e reforça as desigualdades

sociais. Quando a criança começa sua aprendizagem formal, segundo os autores,

é recebida num ambiente marcado pelo caráter de classe, desde a organização

pedagógica até o modo como prepara o futuro dos alunos.

Para construir sua teoria, Bourdieu criou uma série de conceitos, como habitus

e capital cultural. Todos partem de uma tentativa de superação da dicotomia entre

subjetivismo e objetivismo. “Ele acreditava que qualquer uma dessas tendências,

tomada isoladamente, conduz a uma interpretação restrita ou mesmo equivocada

da realidade social”, explica Nogueira. A noção de habitus procura evitar esse

risco. Ela se refere à incorporação de uma determinada estrutura social pelos

indivíduos, influindo em seu modo de sentir, pensar e agir, de tal forma que

se inclinam a confirmá-la e reproduzi-la, mesmo que nem sempre de modo

consciente.

Um exemplo disso: a dominação masculina, segundo o sociólogo, se mantém

não só pela preservação de mecanismos sociais, mas pela absorção involuntária,

por parte das mulheres, de um discurso conciliador. Na formação do habitus,

a produção simbólica - resultado das elaborações em áreas como arte, ciência,

religião e moral - constitui o vetor principal, porque recria as desigualdades de

modo indireto, escamoteando hierarquias e constrangimentos.

Assim, estruturas sociais e agentes individuais se alimentam continuamente

numa engrenagem de caráter conservador. É o caso da maneira como cada

um lida com a linguagem. Tudo que a envolve - correção gramatical, sotaque,

habilidade no uso de palavras e construções etc. - está fortemente relacionado

à posição social de quem fala e à função de ratificar a ordem estabelecida. Para

Bourdieu, todas essas ferramentas de poder são essencialmente arbitrárias, mas

isso não costuma ser percebido. “É necessário que os dominados as percebam

como legítimas, justas e dignas de serem utilizadas”, afirma Nogueira.

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57SOCIOLOGIA, ESTUDOS ANTROPOLÓGICOS

E RELAÇÕES ÉTNICO-RACIAIS

CAPITAL CULTURAL

Outro conceito utilizado por

Bourdieu é o de campo para designar

nichos da atividade humana nos quais

se desenrolam lutas pela detenção do

poder simbólico, que produz e confirma

significados. Esses conflitos consagram

valores que se tornam aceitáveis pelo

senso comum. No campo da arte, a

luta simbólica decide o que é erudito

ou popular, de bom ou de mau gosto.

Dos elementos vitoriosos, formam-se o

habitus e o código de aceitação social.

Os indivíduos, por sua vez, se

posicionam nos campos de acordo com o

capital acumulado - que pode ser social,

cultural, econômico e simbólico. O capital social, por exemplo, corresponde à rede

de relações interpessoais que cada um constrói, com os benefícios ou malefícios

que ela pode gerar na competição entre os grupos humanos. Já na educação se

acumula, sobretudo, capital cultural, na forma de conhecimentos apreendidos,

livros, diplomas etc.

Protesto em Seattle em 1999: nova ordem vista como excludente.

Com os instrumentos teóricos que criou, Bourdieu afastou de suas análises a

ênfase central nos fatores econômicos - que caracteriza o marxismo - e introduziu,

para se referir ao controle de um estrato social sobre outro, o conceito de violência

simbólica, legitimadora da dominação e posta em prática por meio de estilos de

vida. Isso explicaria por que é tão difícil alterar certos padrões sociais: o poder

exercido em campos como a linguagem é mais eficiente e sutil do que o uso da

força propriamente dita.

Escola de filhos de imigrantes ilegais na França: desigualdade tende a se

reproduzir.

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58SOCIOLOGIA, ESTUDOS ANTROPOLÓGICOS

E RELAÇÕES ÉTNICO-RACIAIS

OS SUTIS ARTIFÍCIOS DE PERPETUAÇÃO.

Para Bourdieu, a escola

é um espaço de reprodução

de estruturas sociais e de

transferência de capitais de

uma geração para outra. É

nela que o legado econômico

da família transforma-se

em capital cultural. E este,

segundo o sociólogo, está

diretamente relacionado ao desempenho dos alunos na sala de aula. Eles tendem

a ser julgados pela quantidade e pela qualidade do conhecimento que já trazem de

casa, além de várias “heranças”, como a postura corporal e a habilidade de falar em

público. Os próprios estudantes mais pobres acabam encarando a trajetória dos

bem-sucedidos como resultante de um esforço recompensado. Uma mostra dos

mecanismos de perpetuação da desigualdade está no fato, facilmente verificável,

de que a frustração com o fracasso escolar leva muitos alunos e suas famílias a

investir menos esforços no aprendizado formal, desenhando um círculo que se

auto-alimenta. Nos primeiros livros que escreveu, Bourdieu previa a possibilidade

de superar essa situação se as escolas deixassem de supor a bagagem cultural que

os alunos trazem de casa e partissem do zero. Mas, com o passar do tempo, o

pessimismo foi crescendo na obra do sociólogo: a competição escolar passou a

ser vista como incontornável.

BIOGRAFIA

Pierre Bourdieu nasceu em 1930 no vilarejo de Denguin, no sudoeste da

França. Fez os estudos básicos num internato em Pau, experiência que deixou

nele profundas marcas negativas. Em 1951 ingressou na Faculdade de Letras, em

Paris, e na Escola Normal Superior. Três anos depois, graduou-se em filosofia.

Prestou serviço militar na Argélia (então colônia francesa), onde retomou a

carreira acadêmica e escreveu o primeiro livro, sobre a sociedade cabila. De volta

à França, assumiu a função de assistente do filósofo Raymond Aron (1905-1983)

na Faculdade de Letras de Paris e, simultaneamente, filiou-se ao Centro Europeu

de Sociologia, do qual veio a ser secretário-geral. Bourdieu publicou mais de

300 títulos, entre livros e artigos. Fundou as publicações Actes de la Recherche

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59SOCIOLOGIA, ESTUDOS ANTROPOLÓGICOS

E RELAÇÕES ÉTNICO-RACIAIS

en Sciences Sociales e Liber. Em 1982, propôs a criação de uma “sociologia da

sociologia” em sua aula inaugural no Collège de France, levando esse objetivo

em frente nos anos seguintes. Quando morreu de câncer, em 2002, foi tema de

longos perfis na imprensa europeia. Um ano antes, um documentário sobre ele,

‘Sociologia é um Esporte de Combate’, havia sido um sucesso inesperado nos

cinemas da França. Entre seus livros mais conhecidos estão A Distinção (1979),

que trata dos julgamentos estéticos como distinção de classe, Sobre a Televisão

(1996) e Contrafogos (1998), a respeito do discurso do chamado neoliberalismo.

A GLOBALIZAÇÃO E OS DESCONTENTES

Bourdieu tornou-se ideólogo e símbolo dos protestos contra a globalização

econômica e cultural, sobretudo, depois do lançamento, em 1993, do livro ‘A Miséria

do Mundo’. Ele assumiu um papel ativo de apoio à greve do servidores franceses,

em 1995 e 1996, por julgar que ela representava um sinal de resistência do espírito

público contra as privatizações. Desde então, posicionou-se fortemente contra

a tendência política neoliberal e todas as outras que considerava aparentadas

a ela, incluindo a linha de moderação adotada pelos partidos de esquerda que

chegaram ao poder na Europa. Grupos movidos por insatisfação semelhante à de

Bourdieu amplificaram seus protestos durante a reunião da Organização Mundial

do Comércio em Seattle, nos Estados Unidos, em 1999, dando origem ao Fórum

Social Mundial de Porto Alegre. Com suas críticas a uma ordem que considerava

excludente, Bourdieu centrou fogo contra os meios de comunicação, que acusava

de renderem-se à lógica do comércio e produzirem lixo cultural em larga escala.

Fonte: Revista Escola (2017a)

2.2 ANTÔNIO GRAMSCI

A Europa ainda observa o surgimento de vários pensadores da sociedade contemporânea

quando, na Itália, mesmo sem ter publicado um único livro, Antônio Gramsci (1891-1937) deixa

como fruto de seu longo período na prisão do regime fascista italiano de Mussolini, uma obra

importantíssima que representa uma possibilidade fantástica de reflexão sociológica da sociedade

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60SOCIOLOGIA, ESTUDOS ANTROPOLÓGICOS

E RELAÇÕES ÉTNICO-RACIAIS

contemporânea. Os cadernos de cárcere demonstram toda a capacidade deste pensador em

adequar às inspirações marxistas as características e problemas da sociedade europeia capitalista

do início do século XX.

Gramsci defende a ideia de que a obra de seu antecessor Marx pensava as concepções da

sociedade capitalista do século XIX, e que novos enfoques deveriam ser dados, ao analisar as

sociedades de forte capitalismo já existentes na primeira metade do século XX. Este pensador

diferencia politicamente o Oriente do Ocidente, para ele o ORIENTE é formado por países onde

o “Estado” concentra em suas políticas geralmente autorizadas todo o poder e de decisão sobre a

sociedade, nesta perspectiva, ele aponta que a sociedade civil é fraca e pouco organizada, assim,

nesta configuração é pouco provável qualquer relação contra esse poder, o que se possível só

aconteceria através de uma revolução armada.

Já o ocidente, para este pensador, é uma sociedade civil organizada que apresenta a configuração

deste sistema, dividindo com o Estado e as estruturas políticas a administração e organização da

vida em sociedade. Esta forma de organização social permite, segundo Gramsci, uma divisão do

poder que além do governo também pode ser notado nas empresas, clubes, partidos políticos, na

cultura e demais instituições sociais.

Através desta divisão, Gramsci não descarta a dominação entre as classes, mas aponta que não

é possível hoje mudar a situação apenas através da insurreição contra o Estado, é preciso muito

mais, é preciso fazer uma revolução no cotidiano das pessoas. É na sociedade que se deve fazer

política e nela, deve perceber todos os espaços de poder disponíveis.

Não é só através da força que se muda, mas também através da conquista da consciência das

pessoas.

Esta convicção de Gramsci nos mostra que não é suficiente como defendia Marx eliminar

apenas a apropriação desigual dos meios de produção econômica, é preciso lutar também contra

a apropriação privada do saber, da cultura ou de todo e qualquer modo de conhecimento.

Acabar com a possibilidade de diferenciação do capital intelectual, da aquisição do

conhecimento científico, para Gramsci acabaria com a dominação de uma classe sobre outra, pois

para ele neste tipo de sociedade é para os intelectuais que são destinados os melhores empregos e

cargos nas organizações políticas no Estado.

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61SOCIOLOGIA, ESTUDOS ANTROPOLÓGICOS

E RELAÇÕES ÉTNICO-RACIAIS

Diferente de outros pensadores anteriores há seu tempo Gramsci mostra que existe uma

luta constante pela hegemonia, pelo poder entre as diversas classes sociais, e nessa luta muitas

vezes passa a existir uma convergência de ideais interesses, proporcionando alianças internas,

Gramsci dá a essas alianças o nome de blocos ou blocos históricos, pois para ele esses interesses

são construídos historicamente.

Nessa luta de classes constante, cada bloco conta com seus argumentos e lança mão de seus

intelectuais para justificarem suas ações, a esses intelectuais cabe a função de organizar sua

cultura conforme seus interesses.

VOCÊ PRECISA SABER...

Para este pensador existem, na verdade, alguns tipos de intelectuais, mas

ele classifica como sendo tipos principais nessa classificação, os dois tipos

apresentados abaixo.

SAIBA MAIS!

A este processo lento e complexo de luta pelo poder político nas sociedades complexas, Gramsci chama de disputa pela hegemonia. Para chegar ao poder não basta ganhar a eleição ou dar um golpe de Estado, diz ele. É preciso, repito, ganhar a batalha do convencimento, obter um consenso social em torno de suas concepções. O pensador

florentino Nicolo Maquiavelli, no século XVI, já havia ensinado, em sua célebre obra chamada ‘O Príncipe’, que quando o soberano obtém seu poder mas pelo amor que o povo tem a ele do que pelo medo que tem de sua força, a conquista é mais duradoura. É melhor ser amado que temido, ensinou Maquiavelli. É preciso mais convencimento do que força, é preciso ser hegemônico, confirma Gramsci.

Ora, se para conquistar a hegemonia política e ideológica é necessário “ganhar a batalha das ideias”, evidentemente os intelectuais desempenham um papel-chave nesse processo. Pois os intelectuais organizam a cultura. Eles definem os parâmetros pelos quais os homens concebem o mundo em que vivem, veem a divisão de poder e de riqueza de sua sociedade, e também definem se os homens percebem como justa ou injusta essa situação. É por esta razão que o processo de eliminação de toda desigualdade e de toda injustiça, segundo Gramsci, passa por uma “reforma intelectual e moral”. Ao próprio partido político moderno, que é um dos atores principais dessa luta, ele chama de “intelectual coletivo” aquele que atua no sentido de reformar as mentalidades, as concepções de mundo e, portanto, no sentido da conquista da hegemonia.

Fonte: Cunha (2010)

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62SOCIOLOGIA, ESTUDOS ANTROPOLÓGICOS

E RELAÇÕES ÉTNICO-RACIAIS

*Intelectual orgânico.

Esse tipo de intelectual, está ligado aos interesses de classes que estão chegando

ao poder, elas surgem para dar hegemonia e criar uma concepção de mundo que

interessa a esta classe, a esse intelectual cabe a função de criar uma consciência a

esse grupo.

Na burguesia e nas classes dominantes em geral existem esse tipo de intelectual

e seu trabalho permite que todos pensem com a cabeça da classe dominante,

principalmente os dominados que sem perceberem cumprem suas funções sem

questionar ou causarem maiores problemas.

Mas não pensem que essa relação se dá assim tão facilmente e sem conflitos,

os dominados também possuem seus intelectuais que constantemente buscam

apontar a dominação imposta à classe trabalhadora e caminhos a inversão dessa

condição de dominado.

*Intelectual tradicional.

Esse tipo de intelectual em tempos passados já foram intelectuais orgânicos, já

serviram em algum momento à classes que já estiveram no poder.

Na idade média o que legitimava o poder real era o clero, exercendo a ação de

intelectualidade orgânica, com a decência e total fim deste tipo de classe, esse

tipo “tradicional” de intelectualidade não acabou, apenas encontrou outro meio

para sua ação, é na política ainda, mas de forma independente, conservando a

tradição que ela de forma conservadora, traça alianças com as classes dominantes

do presente.

Muito bem, essas duas tipologias não existem segundo Gramsci por acaso, elas servem a uma

função, uma luta pela hegemonia e poder, elas são instrumentos para consolidar um pensamento

coletivo, um consenso em torno das ideias dessas classes que buscam se perpetuarem no poder.

No passado distante, eram os que tinham algum tipo de conhecimento mais elaborado, os que

comandavam, na idade média o clero conseguiu impor suas ideias e comandar junto à monarquia

pelo seu total domínio da produção cultural existente.

E hoje, onde são formados os intelectuais? Parece óbvio a resposta, é na escola que essa ação

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63SOCIOLOGIA, ESTUDOS ANTROPOLÓGICOS

E RELAÇÕES ÉTNICO-RACIAIS

acontece, tanto os intelectuais orgânicos quanto os tradicionais têm na escola o seu local de

formação e condução de suas ações futuras.

Observando a escola, Gramsci aponta que nas sociedades modernas, o conhecimento

científico passa a fazer parte da vida cotidiana das pessoas e que as atividades práticas, agora

mais especializadas, requerem uma escola especifica que tendem a criar grupos de intelectuais

especiais e num estágio mais elevado, enquanto que fora deste grupo existem escolas que se

preocupam apenas em repassar conhecimento geral.

Gramsci aponta ainda que em nossas formações há uma distinção com objetivos específicos,

dentre eles a perpetuação da dominação por uma determinada classe. A formação de um

indivíduo completo, ciente do conhecimento acumulado através da história e capaz do uso de

parte significativa deste conhecimento, é destinada às classes dominantes, proporcionando

através da cultura, sua hegemonia e dominação sobre as outras. E no Brasil? Você consegue notar

essa dominação?

AntônioS Gramsci, um apóstolo da emancipação das massas

O filósofo italiano atribuía à escola a função de dar

acesso à cultura das classes dominantes, para que todos

pudessem ser cidadãos plenos.

Co-fundador do Partido Comunista italiano, Antônio

Gramsci (1891-1937) foi uma das referências essenciais

do pensamento de esquerda no século XX. Embora

comprometido com um projeto político que deveria culminar com uma revolução

proletária, Gramsci se distinguia de seus pares por desacreditar de uma tomada do

AUTO ATIVIDADE

A partir da leitura dos temas anteriores a respeito deste autor e do artigo a seguir, redija uma Resenha Crítica a respeito de suas ações enquanto filósofo e pensador da

sociedade moderna. Lembre-se, neste tipo de trabalho, suas críticas a respeito do tema são de suma importância.

Bom trabalho!

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64SOCIOLOGIA, ESTUDOS ANTROPOLÓGICOS

E RELAÇÕES ÉTNICO-RACIAIS

poder que não fosse precedida por mudanças de mentalidade. Para ele, os agentes

principais dessas mudanças seriam os intelectuais e um dos seus instrumentos

mais importantes, a escola.

Alguns conceitos criados ou valorizados por Gramsci hoje são de uso corrente

em várias partes do mundo. Um deles é o de cidadania. Foi ele quem trouxe à

discussão pedagógica a conquista da cidadania como um objetivo da escola.

Ela deveria ser orientada para o que o pensador chamou de elevação cultural

das massas, ou seja, livrá-las de uma visão de mundo que, por se assentar em

preconceitos e tabus, predispõe à interiorização acrítica da ideologia das classes

dominantes.

Ao contrário da maioria dos teóricos que se dedicaram à interpretação e à

continuidade do trabalho intelectual do filósofo alemão Karl Marx (1818-1883),

que concentraram suas análises nas relações entre política e economia, Gramsci

deteve-se particularmente no papel da cultura e dos intelectuais nos processos

de transformação histórica. Suas ideias sobre educação surgem desse contexto.

Para entendê-las, é preciso conhecer o conceito de hegemonia, um dos pilares

do pensamento gramsciano. Antes, deve-se lembrar que a maior parte da obra de

Gramsci foi escrita na prisão e só veio a público depois de sua morte. Para despistar

a censura fascista, Gramsci adotou uma linguagem cifrada, que se desenvolve em

torno de conceitos originais (como bloco histórico, intelectual orgânico, sociedade

civil e a citada hegemonia, para mencionar os mais célebres) ou de expressões

novas em lugar de termos tradicionais (como filosofia da práxis para designar o

marxismo). Seus escritos têm forma fragmentária, com muitos trechos que

apenas indicam reflexões a serem desenvolvidas.

Saudação fascista diante da residência de Mussolini em 1938: escola como privilégio de classe

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65SOCIOLOGIA, ESTUDOS ANTROPOLÓGICOS

E RELAÇÕES ÉTNICO-RACIAIS

Elogio do “ensino desinteressado”

Uma parte importante das reflexões de Gramsci sobre educação foi motivada

pela reforma empreendida por Giovanni Gentile, ministro da Educação de Benito

Mussolini, que reservava aos alunos das classes altas o ensino tradicional,

“completo”, e aos das classes pobres uma escola voltada principalmente para

a formação profissional. Em reação, Gramsci defendeu a manutenção de “uma

escola única inicial de cultura geral, humanista, formativa”. Para ele, a Reforma

Gentile visava predestinar o aluno a um determinado ofício, sem dar-lhe acesso

ao “ensino desinteressado” que “cria os primeiros elementos de uma intuição do

mundo, liberta de toda magia ou bruxaria”. Ao contrário dos pedagogos da escola

ativa, que defendiam a construção do aprendizado pelos estudantes, Gramsci

acreditava que, pelo menos nos primeiros anos de estudo, o professor deveria

transmitir conteúdos aos alunos. “A escola unitária de Gramsci é a escola do

trabalho, mas não no sentido estreito do ensino profissionalizante, com o qual se

aprende a operar”, diz o pedagogo Paolo Nosella. “Em termos metafóricos, não se

trata de colocar um torno em sala de aula, mas de ler um livro sobre o significado,

a história e as implicações econômicas do torno.”

Biografia

Nascido em Ales, na ilha da Sardenha, em 1891, numa família pobre e

numerosa, Antonio Gramsci foi vítima, antes dos 2 anos, de uma doença que

o deixou corcunda e prejudicou seu crescimento. Na idade adulta, não media

mais do que 1,50 metro e sua saúde sempre foi frágil. Aos 21 anos, foi estudar

letras em Turim, onde trabalhou como jornalista de publicações de esquerda.

Militou em comissões de fábrica e ajudou a fundar o Partido Comunista Italiano,

em 1921. Conheceu a mulher, Julia Schucht, em Moscou, para onde foi enviado

como representante da Internacional Comunista. Em 1926, foi preso pelo regime

fascista de Benito Mussolini. Ficou célebre a frase dita pelo juiz que o condenou:

“Temos que impedir esse cérebro de funcionar durante 20 anos”. Gramsci

cumpriu dez anos, morrendo numa clínica de Roma em 1937. Na prisão, escreveu

os textos reunidos em Cadernos do Cárcere e Cartas do Cárcere. A obra de

Gramsci inspirou o eurocomunismo - a linha democrática seguida pelos partidos

comunistas europeus na segunda metade do século XX e teve grande influência

no Brasil nos anos 1970 e 1980.

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66SOCIOLOGIA, ESTUDOS ANTROPOLÓGICOS

E RELAÇÕES ÉTNICO-RACIAIS

A experiência prática das contradições

Durante sua curta vida, Gramsci testemunhou de perto os dois extremos

totalitários do século XX Conheceu em Moscou a Revolução Russa no calor de seus

primeiros anos e, pouco tempo depois, foi uma das vozes pioneiras a denunciar

a degeneração da política soviética para a tirania, sob Josef Stalin. No outro

extremo, a ditadura fascista em seu país natal fez de Gramsci um alvo precoce de

perseguição, que resultou em seu aprisionamento. A trajetória do pensador pela

Itália durante a infância e a juventude - do sul atrasado, camponês e tradicionalista

ao norte industrial onde se engajou na política - também não podia ter sido mais

emblemática das contradições de seu tempo. A lucidez com que Gramsci refletiu

sobre essas experiências fez seu pensamento sobreviver não só a ele mesmo

como ao próprio socialismo real, como era chamado o regime característico do

conjunto de países comunistas do Leste Europeu, que desmoronou em bloco na

virada dos anos 1980 para os anos 1990. Seu pensamento, que havia sido uma

alternativa ao marxismo predominante nos meios acadêmicos de todo o mundo

até então, continua atual, já que não conflita com o sistema democrático.

Fonte: Revista Escola (2017)

2.3 KARL MANNHEIN

O filósofo e sociólogo Karl Mannhein (1893-1947) destina uma nova função à sociologia. Esse

pensador aposta na ideia de que a sociologia pode servir de aporte teórico a educadores para que

possam entender a formação da educação moderna e como ela se encontra atualmente.

Para este sociólogo, o pensamento social não poderia explicar as ações humanas, apenas

expressar suas ações.

Defende a tese de que a sociedade deveria ser essencialmente democrática, dirigida

racionalmente através de planejamentos feitos essencialmente por cientistas. Na educação este

pensador defende a ideia de que se a racionalização da vida através da ciência impediu a formação

do ser humano de forma integral, a democracia possibilita uma nova condição a todas as classes

exigentes, se o capitalismo gerou grandes desigualdades e uma distância enorme entre elas,

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67SOCIOLOGIA, ESTUDOS ANTROPOLÓGICOS

E RELAÇÕES ÉTNICO-RACIAIS

Mannhein aponta ainda, que existe através da democratização do conhecimento, um interesse

dos jovens em acender socialmente e é na educação que se possibilita a percepção das diferentes

culturas e uma intercomunicação entre elas.

Pensador de seu tempo, Mannhein percebe a importância da sociologia na modernidade,

principalmente no entendimento dos fenômenos educacionais. Para ele, a vida baseada na

tradição, estava se esgotando e a educação nesta perspectiva tradicional tinha como objetivo

apenas conectar as crianças à ordem social vigente. Rodrigues (2001, p. 26) nos mostra o que

Mannhein percebeu sobre a sociologia.

Nas épocas históricas dominadas pela tradição (pré-capitalista) a educação resumia-

se a ajudar. A criança a ajustar-se a ordem social tradicionalmente estabelecida.

Valendo-se da infância da psicanálise, ele observa que tal processo era apenas de

assimilação (inconsciente) pela criança, do modelo de ordem vigente. Mas quanto

mais a tradição vai sendo substituída pela racionalização da vida, provocada pela

consolidação da sociedade industrial, mas os mesmos conteúdos educacionais

devem ser transmitidos num processo “consciente”, em que o educando se aperceba

do meio social em que vive e da mudança pelas quais passa.

Mannhein destaca também a importância do contexto social na educação, para ele, tanto os

objetivos da educação quanto suas metas não podem ser considerados fora do contexto social a

que a criança está inserida

Karl Mannhein rejeita a possibilidade das teorias existirem apenas como tentativas de

explicação de algo ou algum processo, para ele a sociologia enquanto ciência poderia servir de

instrumento para o melhoramento da educação, embora reconhecendo que os modos de vida

de cada classe social possam ser incutidos pela educação até então apresentada, e que a cultura

embutida privilegia certas classes no poder, mesmo assim, ele questiona se os valores transmitidos

por essa educação são exclusivos das classes mais abastadas ou se eles podem ser apropriados

de alguma forma pelas classes menos privilegiadas ou trabalhadores, desta forma, para este

pensador, o elemento histórico possibilitador de transformações sociais e ascensão de classes

seria a política e estaria presente na democracia moderna. E sua principal contribuição a oferecer

seria a possibilidade de que todas as classes possam contribuir com o processo educacional.

Mannhein tinha plena convicção de que a sociologia poderia contribuir com a pedagogia,

assim, busca em seu trabalho a criação de projetos com bases em seus estudos de sociologia

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68SOCIOLOGIA, ESTUDOS ANTROPOLÓGICOS

E RELAÇÕES ÉTNICO-RACIAIS

da educação possibilidades para a superação das divisões de pensamentos humanos em blocos

ideológicos que nada o agradava.

PARA SABER MAIS...

O marxismo exerceu inicialmente uma forte influência sobre

o pensamento de Mannheim, mas acabou abandonando-o,

em parte por não acreditar que fossem necessários meios

revolucionários para atingir uma sociedade melhor. Seu

pensamento assemelha-se em certos aspectos aos de Hegel e Comte: acreditava

que, no futuro, o homem iria superar o domínio que os processos históricos

exercem sobre ele. Foi também muito influenciado pelo historicismo alemão e

pelo pragmatismo inglês.

Seu primeiro livro, Ideologie und Utopia (Ideologia e utopia), de 1929, é também

considerado seu mais importante escrito. Nesta obra, Mannheim afirma que todo

ato de conhecimento não resulta apenas da consciência puramente teórica mas

também de inúmeros elementos de natureza não teórica, provenientes da vida

social e das influências e vontades a que o indivíduo está sujeito.

Segundo Mannheim, a influência desses fatores é da maior importância

e sua investigação deveria ser o objeto de uma nova disciplina: a sociologia

do conhecimento. Cada fase da humanidade seria dominada por certo tipo de

pensamento e a comparação entre vários estilos diferentes seria impossível. Em

cada fase aparecem tendências conflitantes, apontando seja para a conservação,

seja para a mudança. A adesão à primeira tende a produzir ideologias e a adesão à

segunda tende a produzir utopias.

O pensamento de Mannheim foi criticado sob a alegação de, através do

historicismo, conduzir ao relativismo. Mannheim negou essa crítica afirmando

que o relativismo só existe dentro de uma concepção absolutista das ideologias

ou de qualquer forma de pensamento.

Outras investigações importantes de Mannheim compreendem estudos

sobre as relações entre pensamento e ação. Sua contribuição para a teoria do

planejamento e para a caracterização das sociedades de massa tem especial

destaque.

Fonte: Wikipedia (2017)

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69SOCIOLOGIA, ESTUDOS ANTROPOLÓGICOS

E RELAÇÕES ÉTNICO-RACIAIS

SAIBA MAIS...

A percepção(*) sócio-política em Karl Mannheim

Por Suzana J. de Oliveira Carmo

Nossa decisão de pautar este trabalho pelas diretrizes do

pensamento sócio-filosófico e pedagógico de Karl Mannheim funda-se em

uma de suas preposições mais consideráveis, aquela de que não basta ser mero

observador, ainda que das observações empreendidas o resultado seja uma visão

do mundo, consideravelmente ampla, se, contudo, não há um respaldo fundado

em experiência prática.

Embora sociólogo, Mannheim contribuiu imensamente para aquilo que hoje,

torna-se cada vez mais “moderno” e imprescindível, que é a análise profunda da

Ciência Política, através ou por via dos sintomas sócio-culturais.

Analisando o cenário político em suas patologias, ao mesmo passo,

diagnosticando o contexto histórico da humanidade, Mannheim sugere um

estudo inovador destas questões humanas, erigindo a existência de um observador

empírico que se assemelha a um “revolucionário” (paciencioso por estratégia,

mas, não inerte pela dominação), em verdade, um “reformador”, retratado

como um sujeito capaz de aplicar mecanismos e métodos e, de empreender na

melhor oportunidade não só teoria epistemológica, mas, primordialmente, novas

técnicas de remodelagem da sociedade.

Assim, ainda que mantendo uma postura médica ao exarar um diagnóstico

científico dos evidentes males sociais, Mannheim não se limitou ao diagnóstico

do tempo ou da sociedade, sua tese vai além, e, se inspira fundamentalmente

em algo, por ele denominado como: Conhecimento Ateórico. Noutras palavras,

enfatiza uma cognição que emerge da abordagem prática da experiência humana;

advinda da imediata concreção histórica dos fatos. Porque para ele, seriam

estes os dois fatores determinantes e que assinalam o rumo na marcha dos

acontecimentos.

Partindo da constatação de que a sociedade humana, de fato e verdadeiramente,

só pode revestir-se ou fundar-se sob duas formas: edificação piramidal, onde na

base estão sedimentadas as massas e no ápice a minoria dominante (estrutura

ditatorial); ou em plano horizontal, organizada pelo planejamento de instituições

e controlada pela divisão do poder político (estrutura democrática). Mannheim,

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70SOCIOLOGIA, ESTUDOS ANTROPOLÓGICOS

E RELAÇÕES ÉTNICO-RACIAIS

não vê nas técnicas de controle social, que tão costumeiramente são utilizadas

pelos governos, uma essência boa ou ruim, vislumbra sim, uma vulnerabilidade

em função da vontade humana daquele que as utiliza sob o falso argumento de

serem tão-somente um mecanismo de contenção econômica, política ou social.

Daí porque, na maioria das vezes, esta utilização onde os verdadeiros objetivos

estão camuflados, resulta em uma eficiência antagônica, impondo à sociedade uma

escravidão intelectual, por institucionalizar crenças, credos e comportamentos

que não correspondem à própria natureza do cidadão, tampouco, ao exercício da

cidadania.

Neste ponto, insurge a primeira afirmativa fulcrada no conhecimento ateórico:

“Só vale a pena estudar a natureza da sociedade tal como é, se somos capazes de

insinuar as medidas que, tomadas a tempo, poderão tornar a sociedade àquilo

que deve ser”.1

Notadamente, convencido de que só o conhecimento concreto da sociedade

é capaz de definir quais são ou serão suas tendências políticas. Mannheim

ressalta que, a sociedade não consegue sobreviver se fomenta conformismo e

conformidade, porque estas são características evidentes de algo monótono ou

fadado à inércia, e como tal, passível de se tornar obsoleto.

Conferindo verdade à doutrina precursora de Émile Durkheim, assinala

que só as sociedades simples como as dos povos primitivos podem funcionar

satisfatoriamente quando fundadas na homogeneidade e na conformidade.

Porque a integração social em toda a sua magnitude, jamais foi ou será alcançada

por via de um comportamento comum e uniforme, ou contrário, exige uma

coordenação geral e complexa, de ideias e comportamentos variados. Desta

forma, nos aclara que, não basta para que haja vigor na sociedade, tampouco,

para a manutenção Estado, a existência fictícia ou abstrata do Princípio

Democrático, quando sua materialização ou percepção sinestésica, está em

uma dependência ávida, de que antecedentemente ocorra a satisfação de

uma necessidade orgânica básica, que é a de Justiça Social. Lembrando que,

“a reivindicação de maior justiça não implica, forçosamente, uma concepção

mecânica de igualdade. Diferenças razoáveis de renda e de acumulação de

riqueza, para gerar o estímulo necessário aos empreendimentos, podem ser

mantidas desde que não interfiram nas linhas mestras do planejamento nem

aumentem de molde a impedir a cooperação entre as diferentes classes”.2

Abrangendo outros saberes e, também centrado na obra de Freud, utilizou-se de

sua orientação em uma análise psicanalítica, análise de que o homem entregue a

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71SOCIOLOGIA, ESTUDOS ANTROPOLÓGICOS

E RELAÇÕES ÉTNICO-RACIAIS

si mesmo não pode oferecer qualquer resistência, e quando sujeito a dissolução

de seu elo de segurança e reconhecimento com a sociedade, acaba por extrair-lhe

qualquer atitude, o fazendo quedar-se silente diante dos fatos. Sigmund Freud

traçou o primeiro segmento em que descreve a rota dos males sociais atribuindo-

os à cultura, tais males representam um processo de sofrimento ao homem.

Em sua obra: “O Mal Estar na Civilização”, Freud argumenta a tríade: homem,

sociedade e cultura, e através dela conclui que: os seres humanos necessitam

organizar-se em sociedades a fim de se defender da própria natureza agressiva e,

permanentemente adversária. Donde, surge um grande dilema: o próprio esforço

realizado pelo homem para que se torne possível a vida em sociedade fará com

que estas sociedades venham a evoluir para civilizações, o que representa um

enorme entrave para a felicidade humana. Talvez, tal pensamento venha ser

melhor explicitado através da célebre frase do existencialista Jean Paul Sartre: “O

inferno são os outros”.

Com igual finalidade, Jacques Lacan posteriormente retoma o tema do mal

cultural, e analise a obra de Freud, embora, evidenciando a questão da ética

social e humana nela encontrada. E, no “Seminário VII - A ética da psicanálise”.

Afirmou Lacan, o “Mal-estar na civilização” é obra definitiva no que diz respeito

à questão ética, uma vez que evidencia que a felicidade é mesmo o que deve ser

proposto como termo a toda busca, por mais ética que seja.

Fica, então, evidente que o funcionamento adequado do organismo social está

sob a égide das atitudes e decisões políticas, embora, o respaldo autorizante destas

tomadas de decisão seja conferido pela sociedade. De tal modo, o funcionamento

da democracia está sujeito ironicamente ao consentimento democrático e à

existência da justiça social. E, este sistema de intercâmbio, este circuito fluxo,

retrata não só a viabilidade e manutenção do sistema como um todo, a priori,

demarca que os insumos axiológicos que o alimentam, são de ordem ética.

E, uma vez mais, de acordo com Mannheim, nem a tolerância democrática

nem a objetividade científica estão autorizadas a nos determinar abstinência às

lutas que necessariamente devam ser travadas em prol daquilo que julgamos ser

verdadeiro. Apontando que, só uma democracia militante pode sobreviver em

tempos de desordem moral ou ética. A ideias de militância quando atrelada à

democracia, significa a existência de uma atitude de defesa dos procedimentos

corretos, dos valores sócio-culturais, da decência, do respeito à cidadania etc.

“[...] que a liberdade e a democracia são necessariamente incompletas enquanto

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72SOCIOLOGIA, ESTUDOS ANTROPOLÓGICOS

E RELAÇÕES ÉTNICO-RACIAIS

as oportunidades sociais estiverem tolhidas pela desigualdade econômica, é

irresponsável não compreender quão grande realização elas representam e que

através delas podemos ampliar o âmbito do progresso social”.3

E sempre que refletimos sobre a militância democrática ou debatemos a crise

advinda de uma dolorosa experiência política, captamos ou capturamos a imagem

distorcida do homem de Estado. Esta figura política, antes de tudo, humana, nos

esboça a imagética do elemento humano mitigado, nos reflete os signos de uma

crise de valoração social ou moral, o que nos descortina ou desnuda um cinismo

agressor. Surge assim, um agente substitutivo e espontâneo, em circunstâncias

em que há um escancarado abandono da ética. Neste cenário desesperador, o

Homem de Estado deixa de ser um dirigente apto a conduzir sua sociedade, e,

passa a ser um mero guia a nos demarcar as trilhas do caos social e da desordem

política.

E, este desajustamento sócio-político, esta inversão de papeis e valores, nos

coloca em xeque; ao passo que nos cria um impasse, posto que, já nem somos

capazes de discernir se vivenciamos um delito ou uma patologia, se conhecemos

suas causas, ou, se só sofremos seus sintomas. Já nem conseguimos isolar o

instituto da culpa, ponto em que se torna impossível justificar a própria existência

ou sentido dentro do organismo civilizado. Pois, o político é uma unidade social

em uma função específica e de relevante representação. Se sua índole é ruim ou

podre, ou vulnerável seu caráter, e, talvez esta sua representatividade simbólica

esteja tão-somente a nos retratar com fidelidade os contornos exatos de sua

sociedade.

Para Mannheim, o grande problema que ocorre em momentos de crise, e

tanto faz se de valores em modo genérico, ou se ética ou moral ao falarmos em

espécies; é a alienação, pois, poucos se apercebem do caos que qualquer uma

delas representa. Em verdade, resta muito claro que, nos mostramos muito vagos

aos assuntos sociais, tanto quanto aos políticos, embora, soframos todas as suas

consequências e pesares. Notadamente, a melhor maneira de captar as primeiras

manifestações e, restabelecer-se o equilíbrio ante uma crise ética, seria uma pré-

compreensão de que uma crise destas não é só efeito, é também causa de uma

crise antecedente, que é sem sombra de dúvida a da espécie humana.

Contemplando com receio a ideias de que todos os atos e fatos, ainda que os

mais comuns e rotineiros são de ordem cultural, posto que, em nossa vida nem

mesmo em nível de hábitos como a alimentação, boas maneiras e comportamento

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73SOCIOLOGIA, ESTUDOS ANTROPOLÓGICOS

E RELAÇÕES ÉTNICO-RACIAIS

nos são inseridos pela cultura. Daí porque, nada tem origem ou se justifica, senão

através das regras e valores que governam a sociedade e a civilização humana.

De tal maneira, quando deparamos com uma crise política, ética ou moral,

estamos em verdade, constatando que há em nós enquanto unidades sociais

partícipes do todo, uma crise antecedente ou antecessora, se considerarmos que

é a sociedade quem fornece a matéria prima a todos sistemas por nós inventados,

experimentados ou idealizados, porque são, sem exceção, artificialidades criadas

por nossa cultura.

Cumpre salientar, onde não há sediado um sistema austero de valores sócio-

culturais, e ainda, perpetua-se uma ausência diretiva, tal crise vê-se agravada pela

existência de uma autoridade “soberana” dispersa, seus métodos de justificação

tornam-se arbitrários, e daí emerge todo o contexto de um desolamento geral.

Esta abolição das precondições existenciais nasce de um processo lento e

degenerativo, embora, nos pareça ser súbita e açodada. É sofrível a exposição

desta “nova” realidade em que as regras de conduta e convivência comum, bem

como, as normas de organização política foram impunemente descumpridas,

esquecidas ou extirpadas; onde “de repente”, já não existem responsáveis,

tampouco, responsabilidades a serem cumpridas ou exigidas. Neste momento

crucial, reconhecemos os sintomas, diagnosticamos a doença, porém, ignoramos

a cura. E, por falta de coesão e homogeneidade das classes e grupos, torna-se

impossível uma aderência incondicionada a esta vida social assim estabelecida.

Tendo ainda em foco a desordem político-social, Mannheim retoma algo de

bom advindo do comunismo, ou seja, algo proveitoso ou aproveitável que pode

ser extraído da doutrina de Marx, que é o seu reconhecimento de que a vida

cultural e a esfera básica de valores a ela inerentes dependem da existência e

favorabilidade de determinadas condições sociais. E ainda, aponta como um

ledo engano acreditar-se que são exclusivamente os fatores econômicos e as

lutas de classes que compõem ou desencadeiam uma crise na cultura ou em

nosso sistema de valores. Ao contrário, nós como seres falíveis e corruptíveis

nos alternamos em um duplo papel, por vezes, quando isentos ou isolados de

qualquer emanação de poder - somos a vítima, noutras, quando investidos dos

privilégios e favorecimentos que ele nos traz – somos algozes.

Neste ponto, a título de exemplificação, lançamos mão da Teoria de Jacques

Lacan, em que trata do Estádio de Espelho, através dela descobrimos amargamente

que somos aquilo que vemos na sociedade. Através desta Teoria, tem-se que a

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74SOCIOLOGIA, ESTUDOS ANTROPOLÓGICOS

E RELAÇÕES ÉTNICO-RACIAIS

imagem refletida por este espelho social vai gerar uma identificação imediata,

podendo mesmo causar um sofrimento ou uma comoção desesperada, em casos

em que a imagética (eu ‘humano’ sou aquilo que vejo no outro) não se apresenta

favorável ou digna; dando ao ser um referencial de si mesmo. Ou seja, o sujeito vai

se conhecer como ser humano deplorável, quando falamos em falta de moral ou

ética. Assim vai se conceber como um outro que não ele mesmo, contudo, com ele

identificado e através podendo ser reconhecido, e, esta concepção que se torna

fundadora da exterioridade em nossa relação com nós mesmos.

Sim, Mannheim pontua e assinala a existência de uma questão dúplice em

que nosso caráter se modela em virtude ou nos limites do poder que possuímos.

Talvez, por serem raros os ‘cidadãos’ que de posse do poder não criam para si

privilégios.

Pensando e repensando a ordem dos valores humanos, independentemente

de serem eles de natureza individual ou coletiva, todavia, sempre dentro de

uma visão que a eles atribui suma importância. A propósito, sempre deixando

evidente a impossibilidade de se viver em sociedade sem que haja um norte de

valoração das coisas. Porém, Mannheim reconhece que as normas, os conselhos e

os tabus impostos pela cultura são mais que uma técnica prática de viabilidade da

convivência comum, é em primeiro plano, um elemento restritivo, uma limitação

ao ser, e, uma contenção da “natureza” humana literalmente “in natura”. Razão

pela qual, a maior dificuldade de nosso tempo tem sido a de se fazer uma avaliação

racional dos valores, porque o que poderia ser entendido como uma mudança

formidável, se perfaz de modo inusitado, posto que, não consiste em criar um

cidadão tão-somente obediente à lei, às regras, normas ou costumes, em virtude

de uma aceitação cega e habitual, de origem unicamente condicionada. Mas

sim, de uma reivindicadora reeducação do homem em sua integralidade. E isto

significa fazê-lo conhecer e reconhecer em qualquer circunstância seus próprios

valores, não cegamente, mas por uma deliberada forma de escolha, sendo que

estes tendem a ser coincidentes com os dos demais membros da sociedade. Neste

diapasão, a convivência civilizada permanece por vontade e “animus, há uma

aderência necessária, todavia, querida e buscada pelo homem. Nunca coincidente

com uma habitualidade irracional, porque esta pode, e na maioria das vezes é:

sinônimo de repressão, imitação ou adestramento.

Por fim, através de Karl Mannheim percebemos a vida social como uma

necessidade passível de ser satisfeita, e este é o “dever ser” da organização

democrática apontada por ele definida, porque justifica o caos advindo do choque

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75SOCIOLOGIA, ESTUDOS ANTROPOLÓGICOS

E RELAÇÕES ÉTNICO-RACIAIS

entre a natureza dos valores predominantes e o método de adestramento sócio-

político.

Notas

(*) Processo pelo qual o indivíduo se torna consciente dos objetos e relações no

mundo circundante, na medida em que essa consciência depende de processos

sensoriais – CABRAL, Álvaro. Dicionário de Psicologia e Psicanálise, 2ª ed., Rio de

Janeiro: Expressão e Cultura, 1979.

1. MANNHEIM, Karl. Diagnóstico de nosso tempo. Tradução: Octávio Alves

Velho, 2ª ed., Rio de Janeiro: Zahar, 1967. p. 16.

2. Mannheim, op. Cit., p.19.

3. Mannheim, op. Cit., p.23.

4. O conceito do estádio do espelho foi desenvolvido por Lacan a partir da

experiência de Henry Wallon que, em 1931, descreveu como a criança vai aos

poucos diferenciando seu corpo da imagem que observa no espelho. Segundo

Wallon, isto se daria face a uma compreensão simbólica, por parte do sujeito, do

espaço imaginário em que constitui sua unidade corporal. A “Prova do espelho”,

como Wallon chamou sua experiência, demonstraria, assim, a passagem do

especular para o imaginário e do imaginário para o simbólico. O texto final do

estádio do espelho é apresentado em sua versão definitiva em 17 de julho de 1949,

no XVI Congresso Internacional de Psicanálise, em Zurique, com o nome de: “O

estádio do espelho como formador da função do eu – tal como nos é revelada

na experiência psicanalítica”. Em seu seminário sobre os escritos técnicos de

Freud, 1953/1954, Lacan aborda novamente o tema do estádio do espelho para,

na parte intitulada “A Tópica do imaginário”, repensar os conceitos freudianos do

Narcisismo, Eu ideal e Ideal de eu.

Fonte: Carmo (2005)

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76SOCIOLOGIA, ESTUDOS ANTROPOLÓGICOS

E RELAÇÕES ÉTNICO-RACIAIS

SOCIOLOGIA NO BRASIL

3 APRESENTAÇÃO

Prezado aluno(a).

Nesta unidade estaremos abordando questões sociológicas através de pensadores (sociólogos)

e temáticas voltadas a nosso pais. Neste momento chamo a todos a uma abordagem critica a

respeito primeiramente da formação étnica e cultural de nosso povo e posteriormente as causas e

consequências dessa formação, visto que nosso país aos olhos da história ainda é bastante jovem

e tem em sua formação como “Estado” questões muito particulares relacionadas a sua mistura

étnica e cultural.

Entendendo essa formação, compreenderemos melhor as questões atuais que permeiam o

cotidiano de nosso pais.

3.1 GILBERTO DE MELO FREYRE

Pernambucano da cidade de Recife, Gilberto Freyre nasceu no dia 15 de março de 1900. Escritor

e sociólogo, Freire apresenta em sua obra um importante retrato da formação da sociedade

brasileira.

Sua história de vida é marcante pela trajetória e condição social de nascimento, pois filho

de representantes da sociedade colonial brasileira, cedo viaja para fazer seus estudos primários

no Colégio Americano Glireath e posteriormente cursa as Universidades de Baylon (Texas) e

UNIDADE III

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77SOCIOLOGIA, ESTUDOS ANTROPOLÓGICOS

E RELAÇÕES ÉTNICO-RACIAIS

Columbia (Nova York).

No período em que frequentava a universidade nos Estados Unidos, Gilberto Freyre, conheceu

o antropólogo Franz Boas, que por intermédio do contato e conhecimento da obra, viria a ser

uma forte influência na sua perspectiva de pensamento a respeito da diferenciação dada por este

autor às questões relacionadas à raça e a cultura.

Para Freyre, havia uma separação entre herança cultural e herança étnica, considerava ainda

que num conceito antropológico, cultura era o conjunto de costumes, hábitos e crenças do povo.

No ano de 1933, publica sua dissertação de mestrado intitulada “CASA GRANDE E SENZALA”

alcançando grande repercussão no mundo acadêmico, esta obra até hoje serve de referência para

o pensamento e estudos da sociologia no Brasil.

A importância desta publicação é apontada por muitos pelo novo olhar para o cotidiano que

o autor visualiza o papel de cada sujeito nessa sociedade, isto, possibilitado pelos relatos orais

e também por documentos manuscritos, Gilberto Freyre abandona a prática comum até então

de analisar, pensar e escrever a história através dos “Grandes Feitos”. Na obra Casa Grande e

Senzala, o autor demonstra toda a importância deste ESPAÇO importante da sociedade colonial

brasileira denominado “Casa Grande”, demonstra, como ele influencia na formação cultural do

Brasil e também a senzala, espaço que, para ele, complementaria a primeira nesta ação.

É importante perceber que para Gilberto Freyre a estrutura arquitetônica da fazenda colonial

com sua representante maior, a casa grande, representa o modo como esta sociedade se

organizava social e politicamente e demonstra claramente uma sociedade patriarcal, pois através

dela observa-se a incorporação dos vários elementos da propriedade fundiária no Brasil deste

período e também do poder do senhor de engenho ou cafeicultor que era reconhecido como

dono de tudo neste pequeno mundo de sua propriedade.

Pertencia a ele nesse imaginário coletivo a posse das terras, dos escravos, filhos, esposas e

tudo o mais que estivesse em seus domínios.

As relações observadas por Freyre na casa grande demonstraram que neste espaço não eram

abrigados apenas os donos da casa, mas nele além do abrigo, havia relações muito importantes

entre a família e seus escravos, os filhos e suas amas de leite, entre outras relações de cunho

afetivo.

A importância deste sociólogo é também apontada pelo trabalho de desmistificação da

determinação racial dada a formação do povo brasileiro, para ele o que se deve realmente

considerar são as questões culturais e também ambientais. Freyre aponta para as questões

positivas advindas da miscigenação do povo brasileiro que podem ser observadas na cultura de

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78SOCIOLOGIA, ESTUDOS ANTROPOLÓGICOS

E RELAÇÕES ÉTNICO-RACIAIS

um modo em geral, nega veementemente a ideia de que esta miscigenação resultaria na criação

de uma raça inferior.

Apesar da importância do conjunto de sua obra, principalmente pela trilogia (Casa Grande

e Senzala – Sobrados e Mocambos – Ordem e Progresso) Freyre tinha também críticos que

o acusavam de manter uma postura elitista, principalmente o acusando de benevolência a

escravidão, para muitos ao contrário de Freyre, principalmente do ponto de vista cultural na

miscigenação entre brancos e negros da forma como ocorreu no Brasil.

A violência e as injustiças deste regime escravista também são apontadas por seus críticos que

argumentavam não trazer qualquer ponto positivo para esta relação.

Florestan Fernandes, nosso próximo sociólogo brasileiro a ser analisado neste caderno, critica

Freyre, pois em sua perspectiva, não existe igualdade racial no Brasil e o contato entre brancos e

negros nunca promoveu a ascensão dos negros ou mulatos, mas sim promoveu a hegemonia da

raça branca dominante.

Como falamos antes, pela influência sofrida no contato com Franz Boas, Freyre sofre influência

de uma escola culturalista, enquanto Florestan utilizando-se do método dialético de Karl Marx

assume uma postura eminentemente contraditória nesta relação.

Gilberto Freyre é um dos mais importantes intelectuais latino-americanos

da primeira metade do século XX. Várias gerações de pensadores brasileiros

encararam seus livros de modos muito diversos. Reconhecido desde o início

como um autor de talento, as reações a seus principais textos oscilaram entre o

escândalo provocado pelo tratamento audaz dos temas sexual e racial e a suspeita

SAIBA MAIS!

LIVRO

GILBERTO FREYRE: UMA BIOGRAFIA CULTURAL Larreta e Giucci (2007)

A seguir entrevista com os autores da obra...

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79SOCIOLOGIA, ESTUDOS ANTROPOLÓGICOS

E RELAÇÕES ÉTNICO-RACIAIS

de apologia senhorial da escravidão. Em Gilberto Freyre: Uma biografia cultural,

Enrique Rodríguez Larreta e Guillermo Gucci analisam a maioria dos textos

escritos por Freyre no período de 1900 a 1936 e traçam a genealogia intelectual de

suas principais ideias, mantendo constante diálogo com os diferentes contextos

culturais e as obras produzidas. Gilberto Freyre: Uma biografia cultural prova

porque ele é considerado por muitos um precursor da moderna antropologia

histórica. Leitura obrigatória por todos que pretendem entender a produção

cultural brasileira contemporânea.

Como o cosmopolitismo de Freyre, que viveu nos EUA e na Europa durante

sua formação e depois morou como exilado em Portugal, ajudaram-no a

entender a cultura brasileira sob um enfoque regionalista?

A precoce experiência de estudar em um colégio batista, sendo escolarizado

em inglês, os estudos feitos durante a juventude, no Texas e Nova York, assim

como o conhecimento pessoal das culturas francesa, alemã, inglesa e portuguesa,

lhe permitiram distinguir desde cedo as particularidades da cultura brasileira.

Além disso, Freyre teve acesso ao pensamento nacional norte-americano, ao

pluralismo cultural de Randolph Bourne, ao regionalismo francês, através de

Maurras e Barrès, assim como diversos ensaístas ingleses e portugueses. Essa

perspectiva comparativa das diferentes tradições lhe proporcionou um senso

agudo da diversidade cultural tanto regional como nacional.

Freyre cresceu no subúrbio de Recife e teve uma infância e uma adolescência

de leituras, marcadas pelo estranhamento em relação ao mundo. Este livro

afirma que “seus modelos transcendentais não surgem apenas dos exemplos

de seu entorno imediato, mas também de narrativas literárias”. Esta biografia

cultural confirmaria a antropologia de Freyre, embora materialista e factual,

como “imaginação histórica” mais do que reveladora de um Brasil real?

O real é sempre uma construção social impregnada de imaginação. As leituras

de Eça de Queiroz, Tolstoi, José de Alencar e outros, assim como sua primeira

incursões como desenhista, lhe permitiram organizar sua percepção de mundo.

A representação do Nordeste, tal como a conhecemos hoje, não existia antes da

obra de Gilberto Freyre e do movimento regionalista impulsionado por ele.

Na medida em que fala da infância e da vida pessoal de Freyre, e mostra a

influência de sua mãe, Dona Francisquinha, este livro reforça a interpretação

de sua obra, voltada para o detalhe e a vida doméstica, como um “olhar

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80SOCIOLOGIA, ESTUDOS ANTROPOLÓGICOS

E RELAÇÕES ÉTNICO-RACIAIS

feminino”?

Sem dúvida, os modelos femininos, como o caso de sua mãe, tiveram influência

em sua interpretação do mundo patriarcal. Mas a valorização da vida doméstica

e do espaço da casa é um tema presente em autores como Walter Pater, Spengler

e outros. O sentido do singular, característico de Freyre, está mais associado às

correntes de ideias com as quais dialogou — o decadentismo e a antropologia

cultural – do que com um olhar feminino.

Freyre teve a iniciação sexual, típica para um jovem de sua classe, com a

empregada doméstica. Como esse livro se situa diante da opinião de que ele

fez sua antropologia da defesa do Brasil como um país de mestiços do ponto

de vista da Casa-Grande?

Gilberto Freyre era filho de um professor de classe média, com algumas

raízes familiares nos antigos senhores de engenho. Não acreditamos que essa

experiência sexual de Freyre, bastante comum em um adolescente de classe

média, não apenas no Brasil, senão no mundo, naquela época, seja uma chave

de acesso à sua obra. Quando Freyre publicou Casa-grande & senzala, o livro

foi criticado por denegrir a tradição portuguesa e por estimular as rebeliões dos

negros.

A obra de Freyre reflete um desejo de ver no Brasil como uma civilização

triunfante nos trópicos, baseada na interação de culturas. A biografia

cultural, ao mergulhar em seu universo afetivo, confirma ou contraria a

ideia de que Freyre distorceu o Brasil com seu “nacionalismo cultural”? Esta

biografia cultural ajuda a mostrar que Freyre via o passado com nostalgia em

contraposição a um olhar crítico para modernidade?

A nostalgia é o sentimento da perda produzido por certos aspectos da

modernidade europeia, o que Freyre chamou de “civilização carbonífera e gris”

estão presentes em sua obra. Por outro lado, é um sentimento que acompanha o

nascimento das ciências sociais. Tanto a Sociologia como a Antropologia contêm

fortes componentes de nostalgia, oposição comunidade versus sociedade,

tradição versus fragmentação individual. A obra de Gilberto Freyre é mais do que

uma interpretação ensaística e subjetiva do Brasil. É um trabalho de antropologia

histórica em diálogo com as ciências sociais mais avançadas de sua época.

Hoje poucos cientistas sociais celebram a modernização irrestrita. Fala-se de

“modernidade reflexiva”, “retromodernidade”, “modernidades plurais”, “pós-

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81SOCIOLOGIA, ESTUDOS ANTROPOLÓGICOS

E RELAÇÕES ÉTNICO-RACIAIS

modernidade”, o que Freyre denominou de “além do apenas moderno”.

Freyre disse no livro de memórias Tempo morto e outros tempos que a

escritora e amiga Amy Lowell, em sua conferência na universidade de Baylor,

elogiou o artigo que ele escrevera sobre ela, o que é desmentido pelo livro de

vocês. O elogio fora feito por carta, enviada a Freyre depois da conferência.

Isso mostra que ele era tão vaidoso que queria reconstruir seu passado de

modo favorável?

A vaidade é uma marca de sua personalidade. Darcy Ribeiro em seu

conhecido ensaio sobre Casa-grande & senzala confessou que se tratava de uma

característica que compartilhava com Gilberto. Sem dúvida, o que surpreende na

análise dos documentos, mais do que a distorção dos dados, é o grau em que as

fontes primárias confirmam os dados biográficos apresentados por Freyre. Por

exemplo, a importância de Franz Boas na obra de Freyre, que foi negada ou posta

em dúvida por vários pesquisadores, é confirmada em nossa biografia, assim

como a precocidade de algumas de suas ideias, já presentes em sua fase escolar,

no Colégio Americano Batista.

Qual ou quais as documentações históricas e de fonte primária

você destacaria como mais importantes e que contribuição elas

trouxeram para revelar as ideias e a personalidade de Freyre?

O manuscrito Em busca do menino perdido que revela informações preciosas sobre

sua infância, a documentação referente a sua passagem pelo Colégio Batista, os

cursos de Ciências Sociais que ministrou no Rio de Janeiro e na Califórnia, analisados

pela primeira vez, a reconstrução de certas fontes intelectuais portuguesas, o

congresso Afro-brasileiro examinado em detalhe e no contexto de sua época.

Depois de Casa-grande & senzala, a organização do I Congresso Afro-

Brasileiro e a valorização das manifestações religiosas trazidas pelos escravos

não aponta para um caminho diferente da atual política de cotas raciais nas

universidades? O que aconteceu com o país de mestiços de Gilberto Freyre?

A maioria dos temas presentes no Primeiro Congresso Afro-brasileiro de 1934

está presente no debate contemporâneo no Brasil. É verdade que a mestiçagem

era, então, uma ideia que lutava para impor-se assim como a significação da

cultura negra para o Brasil. Hoje essas ideias são aceitas como evidentes e são

amplamente reconhecidas. Naquele tempo havia autores renomados que

sustentavam a inferioridade biológica do negro e o barbarismo das culturas de

origem africana.

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82SOCIOLOGIA, ESTUDOS ANTROPOLÓGICOS

E RELAÇÕES ÉTNICO-RACIAIS

Quando Casa-grande e senzala é formulado, no Brasil se falava em

“branqueamento” da raça. Foi um livro progressista, que tornou-se afinado

com a cultura nacional popular “oficial” difundida pelo rádio, promovendo

componentes do imaginário nacional baseados na mistura racial e cultura.

Freyre teria aberto caminho para a mentalidade que ajudou a erguer o

Brasil moderno. Ironicamente, o Brasil moderno que foi erguido não parece

misturado racial e culturalmente. O Brasil de Freyre, enquanto projeto, não

vingou?

O Brasil é muito misturado racial e culturalmente se o compararmos com

outros países que possuem uma história colonial similar. É mais misturado e de

modo menos conflitivo que outros países da América Latina, como por exemplo,

os países andinos. Sem dúvida, a integração cultural e social é diferente dos EUA

que apesar de sua riqueza, apresenta altos índices de discriminação de negros e

latinos. No caso norte-americano não se pode deixar de levar em conta o fato de

que sua posição imperial se expressa muitas vezes em termos de superioridade

cultural e racial da “tradição anglo-saxã”. Na Europa, uma simples viagem

de trem pelos subúrbios de Paris e pelas cidades do sul da Espanha, com seus

imigrantes africanos ilegais e árabes dormindo nas ruas, é suficiente para notar

que a situação está longe de ser ideal.

Você acha que diante do mundo globalizado, as ideais de integração de

raças e multiculturalismo defendidas por Freyre são atuais ou ultrapassadas?

As questões são atuais. O desenvolvimento de uma teoria dinâmica sobre a

diversidade cultural e a identidade que se opõem a um imaginário de pureza e

segregação cultural e sociológica nos parecem aspectos importantes do legado de

Gilberto Freyre, juntamente com outros aspectos de sua obra que são examinados

em nossa biografia.

Fonte: Larreta e Giucci (2007)

Um pouco mais de Gilberto Freyre...

Suas Obras

G Casa-Grande & Senzala (1933)

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83SOCIOLOGIA, ESTUDOS ANTROPOLÓGICOS

E RELAÇÕES ÉTNICO-RACIAIS

G Sobrados e Mucambos (1935)

G O Mundo que o Português Criou (1940)

G Perfil de Euclides e Outros Perfis (1944)

G Interpretação do Brasil (1947)

G Ingleses no Brasil (1948)

G Quase Política (1950)

G Ordem e Progresso (1959)

G Manifesto Regionalista de 1926 (1952)

G Vida, Forma e Cor (1962)

G Arte, Ciência e Trópico (1962)

G Heróis e Vilões no Romance Brasileiro (1979)

PESQUISA

LIVRO

A obra de Gilberto Freyre, possibilita uma ótima oportunidade de você conhecer o cenário agrário

implantado no Brasil colonial, mas além dessa possibilidade, o autos permite-nos visualizar as relações entre os sujeitos desta sociedade, principalmente no âmbito da casa grande e da senzala, espaços de convívio e de resistências onde a convivência forçada por um modo de produção implantado aqui enquanto colônia de Portugal, deixa raízes profundas na história de nosso povo. Vale realmente a pena você ler.

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84SOCIOLOGIA, ESTUDOS ANTROPOLÓGICOS

E RELAÇÕES ÉTNICO-RACIAIS

3.2 FLORESTAN FERNANDES

Muito diferente da condição social de seu contemporâneo Gilberto Freire foi o início de vida

deste importante sociólogo brasileiro. É na convivência com uma família abastada da sociedade

paulista que Florestan Fernandes adquire o gosto pelos estudos e pelos livros.

Desde muito cedo, (6 anos) começa a trabalhar numa barbearia e estuda apenas até o terceiro

ano do primeiro grau. Mas tarde estimulado por amigos termina o ensino secundário e ingressa

na Faculdade de Filosofia Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo, Florestan

forma-se em ciências sociais, torna-se docente em 1945 na Cadeira de Sociologia na mesma

instituição.

Em 1955 Florestan Fernandes defende sua tese de doutorado na USP com o tema A Função

Social da Guerra na Sociedade Tupinambá, tese esta que se torna um clássico da etnologia

brasileira, explorando o método funcionalista. (3)

Percebe-se uma nova perspectiva na análise da sociologia brasileira, a partir do trabalho

deste pensador. Suas críticas permitem um novo olhar sobre a sociologia no Brasil, Florestan,

estimula a releitura de obras de seus antecessores através de um outro aspecto mais crítico,

assim, Fernandes abre caminho para uma nova forma de olhar e pensar o Brasil, tanto no passado

com sua colonização através de uma mistura cultural muito intensa, como no presente, onde as

tramas dessa miscigenação dão forma a um povo rico culturalmente mais ávido por um lugar

melhor nas distintas classes desta sociedade.

Suas obras, revelam, além da formação deste povo, formado inicialmente pela tríade cultural

indígena – portuguesa – africana e mais tarde por toda sorte de imigrantes europeus, uma história

de lutas e resistências que no seu desenvolver, a princípio permite a criação de uma sociedade de

castas e posteriormente a formação de classes sociais tão distintas econômica e culturalmente.

Tanto no campo a partir da criação de uma sociedade agrária colonialista, quanto na cidade

após o advento do início da industrialização brasileira, Florestan analisa as lutas desses grupos

de trabalhadores livres ou não, na conquista de seus direitos sociais e na transformação das

estruturas formadas pelas classes mais abastadas.

No campo da sociologia enquanto ciência social, é possível perceber o diálogo desse sociólogo

com as teorias de pensadores como Conte, Spenser, Durkheim, Weber entre outros, mas também

é clara sua fascinação pela obra de

Marx que lhe dá constantemente uma concepção critica em suas análises da sociedade

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85SOCIOLOGIA, ESTUDOS ANTROPOLÓGICOS

E RELAÇÕES ÉTNICO-RACIAIS

brasileira, observada facilmente em obras como: Fundamentos empíricos da explicação

sociológica, a natureza sociológica e também em ensaios da sociologia geral e aplicada,

Florestan Fernandes, é fundador da sociologia crítica no Brasil, além de questionar de forma

crítica a formação social, ele analisa também a formação do pensamento nesta sociedade, daí sua

importância para sociologia da educação, Florestan, enquanto sociólogo, oferece a partir de suas

críticas, novas condições para a pesquisas no Brasil, temas como abolição, escravatura, folclore,

educação, revoluções entre outros, a partir deste sociólogo, ganham uma outra perspectiva de

análise.

Ao questionar os fatos ocorridos e as formas como foram registradas oficialmente e até

no imaginário social, Florestan critica os membros desse grupos no sentido de se observar os

embates decorrentes dessas relações e aponta que nelas, sempre há vencedores e vencidos, nesse

contexto, para Florestan é preciso olhar sobre qual dessas perspectivas a história é registrada.

SAIBA MAIS...

A reflexão de Florestan Fernandes sobre os fundamentos

lógicos e históricos da explicação sociológica inspira-se nessa

perspectiva crítica; constrói-se com ela. Aí se localiza a cuidadosa

análise das três matrizes clássicas do pensamento sociológico: o

método funcionalista, ou objetivo, sistematizado por Durkheim; o compreensivo,

formulado por Weber; e o dialético, criado por Marx. Elas sintetizam muito do

que se havia pesquisado e pensado até então e estabelecem os paradigmas ou

estilos de pensar a realidade social, que exercem influência marcante em todo

pensamento sociológico no século XX. “O método de compreensão, cuidando

dos problemas pertinentes à socialização e às bases sociogenéticas da interação

social, permite abstrair as variáveis operativas de um campo a-histórico; o método

objetivo (ou genético-comparativo), focalizando os problemas ontogenéticos e

filogenéticos colocados pela classificação das estruturas sociais, permite abstrair

as variáveis operativas, combinadas em constelações nucleares mutáveis, de um

campo supra histórico; e o método dialético, tratando das relações existentes

entre as atividades socialmente organizadas e a alteração dos padrões da ordem

social, que caem na esfera de consciência social, permite abstrair as variáveis

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86SOCIOLOGIA, ESTUDOS ANTROPOLÓGICOS

E RELAÇÕES ÉTNICO-RACIAIS

operativas de um campo histórico”. Cada método lida com a realidade social de

forma peculiar quanto à relação do real com o pensado e vice-versa.

Essas peculiaridades estão simbolizadas no tipo ideal weberiano, no tipo médio

durkheimiano e no tipo extremo marxista. Cada um “representa uma construção

lógica ou mental, produzida em função dos intuitos ou propósitos cognitivos do

investigador”. Sob vários aspectos, a minuciosa e fundamental análise desses

paradigmas propicia o resgate do conteúdo crítico do pensamento clássico.

Resgate esse cada vez mais estimulado pela reflexão dialética.

É claro que as contribuições teóricas dos clássicos tiveram desenvolvimentos

diversos, às vezes notáveis. Além disso, têm surgido outras e novas propostas

teóricas: fenomenologia, existencialismo, estruturalismo, estrutural-

funcionalismo, hiperempirismo dialético, teorias de alcance médio, teorias

sistêmicas e assim por diante. Mas talvez seja possível afirmar que todas as

mais notáveis contribuições teóricas posteriores aos clássicos guardam algum,

ou muito, compromisso com eles. A sociologia é uma forma de apropriação e

constituição do mundo social gerada por dissolução da comunidade, emergência

da sociedade burguesa, dinâmica de uma sociedade fundada nas desigualdades

social, econômica, política e cultural.

Esse, em forma breve, o nível, o estatuto, em que se lança a sociologia crítica.

Sintetiza e desenvolve um diálogo de amplas proporções. Nesse sentido é que se

pode dizer que a sociologia de Florestan Fernandes sintetiza as contribuições de

cinco fontes. Algumas das principais características da sua produção intelectual

expressam um diálogo com essas fontes. Naturalmente elas se revelam de modo

diferenciado, menos aqui, mais ali. Não são igual e homogeneamente visíveis em

cada monografia, ensaio, livro, artigo, aula, conferência, debate. Mas mostram-

se plenas no todo, quando examinamos o conjunto da produção intelectual de

Florestan Fernandes.

Fonte: Ianni (1996)

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87SOCIOLOGIA, ESTUDOS ANTROPOLÓGICOS

E RELAÇÕES ÉTNICO-RACIAIS

3.2.2 O autor em Revista

Florestan Fernandes, um militante do ensino democrático.

O sociólogo não só refletiu sobre a escola brasileira, apontando seu caráter

elitista, como atuou pessoalmente em defesa da educação para todos.

Florestan Fernandes (1920-1995) foi um dos mais influentes sociólogos

brasileiros, mas muitos o chamavam de educador sem saber que isso o

incomodava em sua modéstia. O equívoco tinha razão de ser. Vários escritos

de Florestan tiveram a educação como tema e sua atuação na Câmara dos

Deputados, já no fim da vida, se concentrou na área do ensino. Além disso,

a preocupação com a instrução era um desdobramento natural de sua obra

de sociólogo. “Em nossa época, o cientista precisa tomar consciência da

utilidade social e do destino prático reservado a suas descobertas”, escreveu.

Como o italiano Antônio Gramsci (1891-1937), Florestan militava em favor do

socialismo e não separava o trabalho teórico de suas convicções ideológicas. Ainda

que com abordagens diferentes, ambos acreditavam que a educação e a ciência

têm, potencialmente, uma grande capacidade transformadora. Por isso, deveriam

ser instrumentos de elevação cultural e desenvolvimento social das camadas mais

pobres da população. “Um povo educado não aceitaria as condições de miséria e

desemprego como as que temos”, disse ele em entrevista a NOVA ESCOLA em

1991. “A escola de qualidade, para Florestan, não era redentora da humanidade,

mas um instrumento fundamental para a emancipação dos trabalhadores”,

diz Ana Heckert, docente da Universidade Federal do Espírito Santo.

Florestan tomou para si a tarefa de romper com a tradição de

pseudoneutralidade das ciências humanas e reconstruir uma análise do Brasil

abertamente comprometida com a mudança social. Segundo sua análise, uma

classe burguesa controlava os mecanismos sociais no Brasil, como acontecia em

quase todos os países do Ocidente. No entanto - por causa de fatores históricos

como a escravidão tardia, a herança colonial e a dependência em relação ao

capital externo -, a burguesia brasileira era mais resistente às mudanças sociais

do que as classes dominantes dos países desenvolvidos.

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88SOCIOLOGIA, ESTUDOS ANTROPOLÓGICOS

E RELAÇÕES ÉTNICO-RACIAIS

Revolução incompleta

Segundo Florestan, a revolução burguesa, cujo exemplo emblemático

é a de 1789 na França, não teria se completado no Brasil. Enquanto os

revolucionários franceses do século 18 exigiam ensino público e universal,

as elites brasileiras do século 20 ainda queriam controlar a educação para

manter a maioria da população culturalmente alienada e afastada das decisões

políticas. Por isso, uma das principais lutas de Florestan foi pela manutenção e

pela ampliação do ensino público (leia quadro na página 109). “Ele acreditava

que o sucateamento da escola, com péssimas condições de trabalho e estudo,

fazia parte das tentativas de sufocar a democratização da sociedade por meio

da restrição do acesso à cultura e à pesquisa”, diz a pesquisadora Ana Heckert.

O Brasil, dizia o sociólogo, era atrasado também em relação ao que ele

chamava de cultura cívica, ou seja, um compromisso em torno do mínimo

interesse comum. Para Florestan, não havia tal cultura no Brasil por dois motivos:

ela estimularia as massas populares a participar politicamente e ao mesmo tempo

tiraria das classes dominantes a prerrogativa de fazer tudo o que quisessem sem

precisar dar satisfações ao conjunto da população.

Revolução incompleta

Segundo Florestan, a revolução burguesa, cujo exemplo emblemático é a de

1789 na França, não teria se completado no Brasil. Enquanto os revolucionários

franceses do século 18 exigiam ensino público e universal, as elites brasileiras

do século 20 ainda queriam controlar a educação para manter a maioria

da população culturalmente alienada e afastada das decisões políticas. Por

isso, uma das principais lutas de Florestan foi pela manutenção e pela

ampliação do ensino público (leia quadro na página 109). “Ele acreditava que

o sucateamento da escola, com péssimas condições de trabalho e estudo, fazia

parte das tentativas de sufocar a democratização da sociedade por meio da

restrição do acesso à cultura e à pesquisa”, diz a pesquisadora Ana Heckert.

O Brasil, dizia o sociólogo, era atrasado também em relação ao que ele

chamava de cultura cívica, ou seja, um compromisso em torno do mínimo

interesse comum. Para Florestan, não havia tal cultura no Brasil por dois motivos:

ela estimularia as massas populares a participar politicamente e ao mesmo tempo

tiraria das classes dominantes a prerrogativa de fazer tudo o que quisessem sem

precisar dar satisfações ao conjunto da população.

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89SOCIOLOGIA, ESTUDOS ANTROPOLÓGICOS

E RELAÇÕES ÉTNICO-RACIAIS

Mestre de uma geração desbravadora

Florestan Fernandes integrou a primeira geração de sociólogos formados

pela Universidade de São Paulo, da qual também fez parte o crítico literário

Antônio Candido. Foi mestre da terceira geração, que incluía Octavio Ianni e

o futuro presidente Fernando Henrique Cardoso. De um modo ou de outro,

tanto veteranos quanto seus discípulos viveram grande parte de sua existência

sob longas ditaduras - primeiro a de Getúlio Vargas (1937-1945), que havia sido

precedida de governos apenas parcialmente democráticos, e depois o regime

militar, iniciado em 1964 e encerrado com eleições indiretas em 1984. Não é de

espantar que o período de liberdade civil anterior a 1964, em especial o governo

Juscelino Kubitschek (1956-1960), tenha sido tão produtivo para todos esses

intelectuais. Algumas das mais importantes reflexões sobre o Brasil datam dessa

época, tanto nas ciências humanas como nas artes (com exemplos como a Bossa

Nova e o Cinema Novo).

Fonte: Revista Escola (2017)

3.3 HERBERT JOSÉ DE SOUZA

Começamos este caderno de sociologia, falando sobre a importância desta ciência e de sua

preocupação com a sociologia e suas relações.

O sociólogo que vamos conhecer agora, além de se ocupar do entendimento das causas que

criam a pobreza e a desigualdade social, Betinho como passa a ser carinhosamente chamado pela

população brasileira, apesar dos inúmeros problemas enfrentados em sua vida pessoal, arregaça

as mangas e com todos os meios possíveis ao seu alcance vai tentar transformar essa realidade.

Para este sociólogo por questões éticas todos deveriam ter os mesmos direitos na sociedade,

apesar da diversidade cultural do brasileiro e essa igualdade passaria muito mais pelas questões

éticas do que políticas. A política era para Betinho o instrumento da ação democrática que

organizaria formas de garantir a todos, os direitos básicos de educação, alimentação, cultura

entre outros.

Fortemente marcado pela doutrina marxista, este sociólogo combateu incessantemente a

exclusão, apontando o desenvolvimento do país marcado desde sua colonização por uma forte

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90SOCIOLOGIA, ESTUDOS ANTROPOLÓGICOS

E RELAÇÕES ÉTNICO-RACIAIS

e cruel exclusão social, tanto no passado quanto no presente, Betinho aponta que a péssima

distribuição da renda e das riquezas a que exploradas produziu essa enorme massa de excluídos

o que chamava de imenso “outro”.

Ao referir-se a democracia, Betinho não se referia apenas as questões relacionadas as

instituições, ao voto e também a liberdade de expressão, para ele, esse termo era composto

por muitos mais significados e atingia níveis muitos maiores na consolidação de direitos, nos

princípios de igualdade, liberdade em todos os níveis, diversidade, participação e principalmente

solidariedade,

Como pode um país ser apontado por organismos internacionais como grande concentrador

de renda ser repleto de desigualdades sociais?

Como pode um país ser considerado democrático se grande parte da população passa fome?

Essas indagações eram constantes nos trabalhos deste sociólogo, que leva a palavra democracia

uma amplitude jamais vista no Brasil.

Herbert José de Souza, “Betinho”

Sociólogo e ativista social brasileiro

O sociólogo Herbert José de Souza foi um exemplo de vontade e persistência.

Amante da justiça e inconformado com a miséria humana, mesmo convivendo

com a hemofilia e o vírus da aids, contraído por transfusão de sangue, liderou

uma das mais expressivas campanhas de solidariedade que o Brasil já conheceu

e um dos mais belos exemplos de cidadania: a Ação da Cidadania contra a Fome

e a Miséria. Criada em 1993 com o lema “Cada um pode fazer alguma coisa pelo

outro”, sem recorrer ao governo nem às lideranças econômicas ou partidárias, a

Campanha da Fome, como ficou conhecida, chegou a mobilizar cerca de 3 milhões

de voluntários, arrecadando e distribuindo toneladas de alimentos para famílias

carentes de todo o Brasil. Além da alimentação, estendeu o tema ao emprego, à

renda e à terra, defendendo um plano de reforma agrária para o país.

Apoiou ainda programas em favor da educação e da saúde, contra a violência

de que são vítimas crianças e de adolescentes abandonados e foi um vivaz

batalhador nas campanhas pelo controle do sangue e do sexo seguro. Mineiro

de Bocaiúva, quando jovem, participou ativamente do movimento político

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91SOCIOLOGIA, ESTUDOS ANTROPOLÓGICOS

E RELAÇÕES ÉTNICO-RACIAIS

estudantil, integrando a Juventude Universitária Católica (JUC). Aderiu mais tarde

à Ação Popular (AP), organização de esquerda nascida da atividade dos católicos

progressistas e que se tornaria marxista. Com o golpe militar de 1964, sofrendo

perseguições, exilou-se no Uruguai. De volta ao Brasil, em 1965, depois de preso,

permaneceu na clandestinidade até 1971, quando se exilou novamente, dessa

vez no Chile. Com o golpe militar chileno em 1973, seguiu para o Panamá e, em

seguida, para o Canadá. Viveu quatro anos em Toronto, onde conquistou o título

de doutor em Ciências Políticas, pela Universidade de York, e organizou um centro

de estudos sobre o Brasil, que, ampliado para a América Latina, com parcerias de

chilenos, argentinos e uruguaios, se transformou na Latin American Research

Unity (Laru). Depois de morar um ano no México, a convite da Universidade

Nacional Autônoma do México (Unam), com a anistia de 1979, retornou ao Brasil,

fundando o Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas (Ibase), no Rio

de Janeiro, em 1981. Indicado por Lula, ingressou no Conselho de Seguridade

Alimentar (Consea), em 1993, iniciando sua campanha contra a fome, a miséria e

a desigualdade.

Fonte: Click educação (2017)

3.4 FERNANDO HENRIQUE CARDOSO

Ex-presidente do Brasil, o sociólogo Fernando Henrique Cardoso surge no cenário brasileiro

como um notável intelectual que entra para a vida política como estadista com grande capacidade

AUTO ATIVIDADE

Como você pode perceber a sociologia no Brasil está bem representada, Além dos sociólogos aqui apresentados, muitos outros contribuíram para o pensamento sociológico

em nosso país-, dentre eles nosso ex-presidente Fernando Henrique Cardoso que desenvolve a teoria da dependência. Pesquise sobre essa teoria e produza um pequeno texto, analisando suas colocações sobre os países em desenvolvimento, após sua atividade realizada, poste a mesma em nosso ambiente virtual.

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92SOCIOLOGIA, ESTUDOS ANTROPOLÓGICOS

E RELAÇÕES ÉTNICO-RACIAIS

de articulação entre os partidos políticos.

No ano de 1961, conclui seu doutorado em Ciências Políticas e, convidado pelo francês Alain

de Touraine, vai para a França fazer seus estudos de pós-graduação em Paris.

Por forças políticas, exilou-se no Chile logo após o golpe militar de 1964 e atua no Instituto latino-

americano de Planejamento Econômico – ILPES. Publica nesta época sua tese “Desenvolvimento

e dependência na América Latina”, junto com Enzo Faletto. Fernando Henrique Cardoso, atua

também na França e só em 1968 retorna ao Brasil.

Com grande importância no cenário científico, principalmente para as ciências sociais, a obra

deste estudioso não pode ser ignorada, pois várias são suas publicações, tanto nacionais quanto

internacionais e se dão por quase dezoito anos seguidos.

Sua obra procura teorizar sobre a formação específica de países subdesenvolvidos com

passado colonial, com ênfase no Brasil. Como destaque de suas produções este sociólogo fica

mundialmente conhecido por sua teoria da dependência.

A teoria e seu destino...

Fernando Henrique Cardoso e a teoria da dependência

Na obra escrita com Enzo Falleto, no Chile, em 1967, (intitulada “Dependência

e Desenvolvimento na América Latina”) e, em textos posteriores (como o livro

“As ideas e seu lugar”), Cardoso colocou em relevo o papel dos fatores internos

na compreensão dos processos estruturais de dependência. Nesta direção, ele

procurava mostrar como as diferentes formas de articulação entre economias

nacionais e sistema internacional e, ao mesmo tempo, os diferentes arranjos de

poder, indicavam modalidades distintas de integração com os pólos hegemônicos

do capitalismo. Assim, em seu ponto de partida (período primário-exportador),

podiam ser identificadas duas formas distintas de organização econômica: as

economias de enclave e aquelas na qual existia o controle nacional do sistema

produtivo. A evolução destas diferentes formas de articulação econômica com

o capitalismo mundial também se diferenciou de acordo com as composições

e lutas de classes dos diferentes países da América Latina. Nas década de 1960

e 70, as sociedades latino-americanas já tinham consolidado seu mercado

interno e a internacionalização do capitalismo (fase do capitalismo monopolista,

com expansão das indústrias multinacionais) indicava um novo padrão de

dependência.

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93SOCIOLOGIA, ESTUDOS ANTROPOLÓGICOS

E RELAÇÕES ÉTNICO-RACIAIS

A obra de Fernando Henrique Cardoso notabilizou-se também pelo fato

de negar que a dependência implicava – necessariamente – em estagnação

econômica e subdesenvolvimento e de que a ruptura socialista seria a única via

possível para a industrialização do continente. Ao mesmo tempo, Cardoso criticou

o “consumo” da ideia de dependência como arcabouço teórico sistemático e

a-histórico, lembrando que as “análises da dependência” constituam estudos

que estavam situados no campo teórico do marxismo, em particular da teoria do

imperialismo, sendo seu objetivo precípuo a análise da realidade concreta das

diferentes sociedades situadas na América Latina.

O DESPRESTÍGIO DA TEORIA DA DEPENDÊNCIA

A Teoria da Dependência no decorrer da década de 1970 entrou em uma

crise, a produção autoral ligada a ela diminuiu, principalmente a partir do fim

dessa década. Sofreu um primeiro baque com o golpe do Chile (1973). Foi muito

criticada porque teria influenciado o governo chileno de Salvador Allende. Seus

críticos dizem que assim como a experiência fracassou, a teoria da dependência

teria tido o mesmo destino

Segundo os críticos, ela também não teria captado as mudanças que ocorreram

na década de 1980, a partir dos dois mandatos do presidente dos Estados Unidos,

Ronald Reagan (1980-1988) - a consolidação do neoliberalismo na América

Latina, e nos anos 1990 a globalização. Outros, por sua vez, dizem que a teoria da

dependência não processou essa fase porque já estava em baixa.

No fim da década de 1970 encerra-se o ciclo de densenvolvimento a partir das

experiências de industrialização planejadas pelos governos locais. A economia

desses países ficaram mergulhada na hiper-inflação e na crise das dívidas

externas. Nesse contexto, o espaço do debate em torno ao desenvolvimento ficou

limitado. Também, houve um “vendaval neoliberal” que afastou o interesse da

intelectualidade e dos formuladores das políticas públicas por essa perspectiva,

inclusive entre as novas gerações. O debate acadêmico e político na região durante

a década de 1980 e 1990 ficou impregnado e dominado pelos temas e perspectivas

derivadas da Macroeconomia.

Apesar do retorno do exílio com a re-democratização nos países sulamericanos

os autores da teoria da dependência tiveram grande dificuldade de ocupar o

espaço para no debate nas ciências sociais. No caso brasileiro ajudou a limitar

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94SOCIOLOGIA, ESTUDOS ANTROPOLÓGICOS

E RELAÇÕES ÉTNICO-RACIAIS

o espaço acadêmico, o advento da Escola de Campinas no decorrer da década

de 1970, inclusive ganhando popularidade na intelectualidade acadêmica e

nas autoridades das políticas públicas, inclusive por sua ligação com os temas

macroeconômicos. Houve, particularmente no Brasil, apesar da anistia,

dificuldade dos intelectuais da dependência em re-inserir-se em universidades

e centros de pesquisa importantes. Também houve uma campanha de críticas

contra a Teoria, em que colaborou antigos membros como o próprio Fernando

Henrique Cardoso.

No decorrer da década de 1970 com a fuga do Chile e ascensão em quase

todos os países de governos autoritários, houve uma dispersão do grupo e uma

baixa articulação entre os mesmos, além de uma perseguição às suas ideias,

dificultando a divulgação de seu pensamento. No Brasil, acrescem-se dois fatos: a

expulsão precoce dos fundadores pela ditadura militar entre 1964 a 1967 e a pouca

edição em língua portuguesa das obras da corrente.

Os próprios autores ligados à teoria da dependência também em parte

contribuíram para situação de baixa. Houve dificuldades desses intelectuais após

a redemocratização em seus países em se reinserirem nos movimentos sociais

mais dinâmicos e em organizações política de maior influência de massas, o que

poderia ter ajudado na sua popularidade.

NOVOS RUMOS DOS AUTORES TEORIA DA DEPENDÊNCIA

Também, parte da dificuldades pode ser atribuidas aos próprios autores da

teoria da dependência, em medida dos seus próprios novos rumos intelectuais e

na direção da produção autoral tomada a partir do fim da década de 1970 e início

da década de 1980.

Ruy Mauro Marini faz reflexões atualizando e aperfeiçoando suas análises

sobre o capitalismo latino-americano em vários artigos, mas não há uma análise

profunda e sistemática do neoliberalismo e da globalização, embora estabelecera

no México um importante centro de investigação sobre a América Latina.

Theotonio dos Santos faz um trânsito sem rupturas à Teoria do Sistema mundo. O

mesmo fará André Gunder Frank, que em Reflections on the World Economic Crisis

(1981) explica isso com as seguintes palavras “embora a teoria da dependência

esteja morta, na realidade está viva, porque não há como substituí-la por uma

teoria ou ideologia que negue a dependência; seria necessário substituí-la por

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95SOCIOLOGIA, ESTUDOS ANTROPOLÓGICOS

E RELAÇÕES ÉTNICO-RACIAIS

uma teoria que fosse além dos limites da teoria da dependência, incorporando

esta, juntamente com a dependência em si, numa análise global da acumulação.”

Nessa nova fase acadêmica, a partir das bases estabelecidas pela teoria da

dependência, dedicam-se à elaboração de uma teoria dos ciclos sistêmicos de

acumulação que vislumbra como uma fase superior da teoria da dependência para

o qual retoma o trabalho já iniciado no CESO e que havia sido, em grande parte,

destruído pela repressão chilena. Theotonio dos Santos e André Gunder Frank

passam tratar a ideia de desenvolvimento de longo termo do sistema mundial

capitalista combinando com os ciclos de longo prazo de Nikolai Kondratiev (as

ondas longas ou ciclos de Kondratiev) e os ciclos históricos de Fernand Braudel,

aproximando assim da teoria do sistema mundial, também trabalhada por

Giovanni Arrighi, Samir Amin e Immanuel Wallerstein.

Fonte: Wikipedia ,(2017b)

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96SOCIOLOGIA, ESTUDOS ANTROPOLÓGICOS

E RELAÇÕES ÉTNICO-RACIAIS

RELAÇÕES ÉTNICO-RACIAIS

4 DIFERENÇAS PELA DIVERSIDADE

Ao longo das últimas décadas e com as novas tecnologias, parece que o mundo em que

vivemos tornou-se menor. Coisas, informações, conhecimentos que antes levavam dias e até

mesmo meses para chegar até nós, hoje apenas num toque de controle remoto ou click do mouse

em seu computador, apresentam-se quase que instantaneamente, mostrando-nos o que está

acontecendo no mundo nas mais diversas áreas.

Apesar dessas facilidades, é fato ainda, que vivemos num mundo de grandes desigualdades e

diferenças. Lidar com elas, nem sempre é fácil, visto que as mais simples são facilmente notadas

e trabalhadas em nossas relações sociais de forma relativamente tranquilas, exemplo delas são as

questões políticas, as religiosas, embora estas já tenham sido motivos de guerras e intolerâncias

e ainda hoje apresentam alguns problemas, agremiações desportivas, entre outras.

Por outro lado, existem temas mais complexos que exigem do ser humano racional uma

abordagem mais crítica e uma postura ética em relação a tudo que norteiam estas questões. Entre

elas, queremos destacar aqui, a diversidade em suas mais variadas formas, mas com um enfoque

mais específico às questões étnico-raciais.

Viver nesta nova sociedade global e tecnológica implica cada vez mais na necessidade de

adotarmos uma postura ética em relação à diferenças, além disso, para que possamos mudar

nossas ações e modo de pensar, também é necessário que possamos percebe-las e traze-las à

discussão, conhecendo novos pontos de vista a este respeito através do pensamento de outros

interlocutores. Se não formos capazes de discutir estes assuntos a partir da divergência de

opiniões, corremos o risco de supor que nossa forma de pensar é única e a correta, sendo assim

UNIDADE IV

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97SOCIOLOGIA, ESTUDOS ANTROPOLÓGICOS

E RELAÇÕES ÉTNICO-RACIAIS

imutável, dando a ela um juízo de valor impossível de ser transformado, não nos permitindo

viver de forma plena neste novo mundo ávido por mudanças e cada vez mais diversos.

Iniciando esse capítulo, nossa proposta de abertura a estas discussões acerca de

questões étnico-raciais, trago a vocês uma importante questão, relacionada à formação

étnica do povo brasileiro, ou seja, dos homens e mulheres que fazem parte da jovem

história deste país. Embora muitas faces dessa “formação” possam serem aqui discutidas,

é nas desigualdades que vamos nos debruçar, mais precisamente no entendimento de

como um grupo se torna “minoria” e passa a ser desvalorizado em relação ao outro.

A história de um país, geralmente é contada sob o ponto de vista dos vencedores, essa

história normalmente é ida como “oficial”. No Brasil, esta história, infelizmente relega

aos negros e negras um papel secundário em nossa formação enquanto Povo, Estado ou

Nação.

Entender o papel do negro através de um outro olhar mais crítico e justo permite-nos

perceber o processo de exclusão social destinados aos negros deste país e, a partir desta

percepção, construirmos uma sociedade menos desigual e um pouco mais justa.

Para início de discussão acredito serem necessárias algumas indagações

a. No cenário político brasileiro, quantos negros e negras você conhece ocupando altos

cargos na administração pública?

b. Quantos grandes administradores de empresas (CEO’s) são negros ou negras?

c. Nas novelas e filmes de nosso país, quanto protagonistas principais são negros?

Se de fato queremos discutir esse assunto de forma crítica e isenta de juízo de valores, é

preciso que aceitemos que há sim em nossa sociedade uma brutal discriminação racial e que ela

está presente em toda a sociedade, tanto de forma mais branda, nas diversas piadinhas contadas

de forma “inocente”, quanto pela ausência desconcertante da ocupação por negras e negras dos

espaços privilegiados em nossa sociedade.

Você não acha estranho que em uma sociedade que tem sua maioria formada por negros

ou pardos tem nos bancos das universidades ou faculdades particulares, incluindo a sua, uma

maioria absoluta de acadêmicos brancos? Por que isso acontece?

Vale aqui ressaltar que essa desigualdade de oportunidades não é exclusividade da população

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98SOCIOLOGIA, ESTUDOS ANTROPOLÓGICOS

E RELAÇÕES ÉTNICO-RACIAIS

negra ou afrodescendente, outros grupos também a sofrem, tanto no Brasil, quanto nos demais

pontos do mundo.

Sabedores disso, o que devemos fazer para mudar essa situação? Certamente a mudança

começa pelo conhecimento.

VAMOS REFLETIR:

• A raça é um conceito que obedece diversos parâmetros para classificar diferentes populações de uma mesma espécie biológica de acordo com suas características genéticas ou fenotípicas; é comum falar-se das raças de cães ou de outros animais.

• Um grupo étnico é um grupo de pessoas que se identificam umas com as outras, ou são identificadas como tal por terceiros, com base em semelhanças culturais ou biológicas, ou ambas, reais ou presumida.

AUTO ESTUDO

Para que vocêpossa aprofundar mais suas discussões sobre este tema, procure em nossa

plataforma digital (blackboard) o artigo intitulado “A inexistência biológica versus a existência social de raças humanas: pode a ciência instruir o etos social?”, de Sérgio Pena e Telma Birchal. Faça a leitura do artigo, elencando 10 argumentos dos autores que, a seu ver, refletem mais proximamente suas opiniões a respeito deste tema. Após elencar os mesmos, elabore um pequeno texto que deverá ser publicado num fórum criado pelo professor em nossa plataforma de estudos.

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99SOCIOLOGIA, ESTUDOS ANTROPOLÓGICOS

E RELAÇÕES ÉTNICO-RACIAIS

4.1 O TEMA EM ARTIGO

ORIGENS E SIGNIFICADOS DO TERMO RAÇA

Maria Clareth Gonçalves Reis

Doutora em Educação pela UFF

Pesquisadora Associada do NEAB/UFJF

Capacitadora do projeto A Cor da Cultura

1 INTRODUÇÃO

Este artigo baseia-se nas necessidades observadas durante os cursos de

formação de professores para trabalhar com a Lei 10.639/03. Lei que torna

obrigatório o ensino de História e Cultura Afro-brasileiras, História da África e

dos africanos nos estabelecimentos de ensino públicos e privados.

Tive a oportunidade de conhecer um pouco o perfil de professores/as de

alguns Estados brasileiros, dentre eles: Mato Grosso do Sul, São Paulo, Minas

Gerais, Rio de Janeiro, Pernambuco, Rio Grande do Sul, Paraná, etc. Nessas

ocasiões, percebi que parte significativa dos participantes desconhece a base do

pensamento racista que, consequentemente, originou o racismo. A ideologia de

superioridade e inferioridade entre os grupos humanos ainda permanece ativa

em muitos pensamentos. Diante disso, surgiram algumas indagações: por que

essa ideologia ainda está presente no pensamento de muitas pessoas? Como

ela foi historicamente construída? E, conforme foi anunciado no Caderno 2, de

Metodologia, da Cor da Cultura, “desvendar alguns conceitos, pode nos ajudar

a rever nossos “pré-conceitos” (BRANDÃO 2006, p. 20). Daí, a necessidade de se

conhecer a origem dos termos raça e racismo.

Inicialmente, é necessário entendermos a gênese da ideia de raça, base

do pensamento racista, e de onde se originou a ideologia de superioridade e

inferioridade racial. Na concepção de Quijano (2000), a origem está no nascimento

da América e no surgimento do capitalismo colonial/moderno e euro centralizado,

como um novo padrão de poder mundial. Uma das marcas fundamentais desse

padrão de poder é a “classificação social da população mundial a partir da ideia

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100SOCIOLOGIA, ESTUDOS ANTROPOLÓGICOS

E RELAÇÕES ÉTNICO-RACIAIS

de raça, uma construção mental que expressa a experiência básica da dominação

colonial” (SQUIJANO.2000.p.1). A partir daí, essa ideia teve grande repercussão e

influência nas formas de poder e domínio mundial.

A partir de estudos de evolução biológica do século XIX aplicou-se o conceito

de raça à humanidade, marcando a relação de superioridade e inferioridade entre

colonizadores e conquistados. Tal concepção justificou as respectivas relações de

dominação. Essa classificação racial (que atribuía aos colonizadores o poder de

separar a população entre “superior” e “inferior”) não ficou restrita à América.

Expandiu-se por todo o mundo, criando novas identidades sociais (índios, negros,

mestiços) e redefinindo outras.

Assim, o advento da ideia de raça na América legitimou as relações de

dominação europeia. Ideia falsificadora da realidade, mas que justificava a visão

eurocêntrica do conhecimento; supremacia cultural a partir de um modelo

que se julgava hegemônico não só na Europa, mas fora dela, desrespeitando a

diversidade cultural existente em outras sociedades.

Paralelamente ao surgimento dessa perspectiva, teorias sobre raça são

elaboradas para justificar e naturalizar as relações coloniais. Isto é, pré-conceitos

com status de ciência para explicar as relações entre dominadores e dominados

sob a falsa ótica de superioridade e inferioridade entre seres humanos. É o que

veremos a seguir.

2 O DEBATE EM TORNO DAS TEORIAS RACIAIS NO SÉCULO XIX

Neste texto, a prioridade de análise é dada ao século XIX, pois é o período

marcante da discussão sobre o significado e o uso do conceito de raça. Ao fazer

este debate, tenho ciência da sua complexidade e da impossibilidade de esgotá-lo.

Mas, ao mesmo tempo, para entendermos o racismo presente em nossa sociedade

precisamos compreender a ideia de raça, seu significado, por quem foi usado e

ainda o é, e qual o seu papel nas políticas sociais e educacionais.

A utilização de teorias raciais, em cada momento histórico, não ocorreu de

forma aleatória, já que cada uma delas apresentava intenções e objetivos bastante

definidos. Nesse contexto, o antropólogo Kabengele Munanga discute raça,

partindo do pressuposto de que os conceitos têm uma historicidade através da

qual podemos melhor compreender o seu significado. Alerta ainda que conceitos

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101SOCIOLOGIA, ESTUDOS ANTROPOLÓGICOS

E RELAÇÕES ÉTNICO-RACIAIS

são objetos de manipulação política e ideológica, sendo necessário o máximo

de atenção em sua análise para perceber sua eficácia em retratar a realidade

contemporânea.

Ainda, segundo esse autor, raça já teve vários significados ao longo da história.

Foi utilizada para classificar espécies (animais e vegetais); como referência

de “pureza” de sangue por meio da expressão “raça nobre”; para classificar a

diversidade humana, apoiando-se na tese do determinismo biológico. Através da

antropometria, teve o objetivo de analisar os aspectos externos da raça e do seu

potencial criminal para descobrir os criminosos, antes mesmo da prática do crime;

tentando provar que a mestiçagem produz raças degeneradas e a superioridade

da raça branca sobre as demais, etc.

O debate sobre a origem da humanidade prosseguiu no século XIX, através

das versões: monogenista e poligenista. A primeira perdurou até a metade desse

século e acreditava que a humanidade era una, isto é, surgira de um só núcleo

de criação e dele se expandiu. Em contraposição, a segunda versão, poligenista,

defendia a existência de vários núcleos de criação e que estes estariam

relacionados às diferenças raciais observadas. Independentemente de uma

análise mais aprofundada sobre essas teses, a verdade é que a segunda versão

propiciou o avanço de uma interpretação biológica sobre os comportamentos

humanos, sendo estes compreendidos a partir de leis biológicas e naturais.

Segundo Skidmore (1976), a partir de 1860 as teorias raciais obtiveram plena

aceitação nos Estados Unidos e na Europa. Diz ainda o autor que durante o

século XIX surgiram três grandes escolas de teorias raciais: a primeira foi a

etnológico-biológica. Nesta escola, a poligenia (criação das raças humanas

através de mutações diferentes das espécies) teve grande influência. “A base de

seu argumento era que a pretendida inferioridade das raças – indígena e negra

– podia ser correlacionada com suas diferenças físicas em relação aos brancos; e

que tais diferenças eram resultado direto da sua criação como espécies distintas”

(SKDMORE.1976.p. 66).

Por sua vez, o suíço Louis Agassiz foi um dos teóricos que mais se apossaram

dessa versão, utilizando-a na defesa da superioridade da raça branca sobre

as demais. Para ele, as diferentes espécies (ou raças) estariam relacionadas às

diferenças climáticas. Assim, essas suposições apontavam a raça branca como

superior, tanto em qualidades mentais quanto sociais, demonstrando, inclusive,

a capacidade de “criar civilizações”. Para os demais estudiosos dessa versão, esses

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102SOCIOLOGIA, ESTUDOS ANTROPOLÓGICOS

E RELAÇÕES ÉTNICO-RACIAIS

argumentos tinham base científica; portanto, deveriam ser aceitos como um fato

inquestionável.

Entretanto, essa teoria foi substituída pela teoria de Charles Darwin. Numa

viagem de cinco anos ao redor do mundo, o arguto senso de observação de Darwin

permitiu-lhe colher dados sobre a adaptação das diferentes espécies animais

e vegetais ao seu meio ambiente. A partir daí, construiu a Teoria da Evolução.

A sua reflexão foi apropriada pela classe dominante burguesa, aplicando-a

mecanicamente à história social humana, vindo justificar o imperialismo, a

guerra, o domínio do europeu sobre o resto do mundo, “do mais forte sobre o

mais fraco, do mais adaptado ao menos adaptado” (SCHWARCZ, 1993, p. 80). É o

chamado “darwinismo social”.

A segunda escola do pensamento racista, a escola histórica, surgiu nos

Estados Unidos e na Europa, porém, demonstrou-se influente também no

Brasil. Os pensadores dessa corrente partiam do pressuposto de que as diversas

raças humanas poderiam ser diferenciadas umas das outras, e que, no entanto,

a raça branca seria, indiscutivelmente, superior às demais. Gobineau, um

dos representantes dessa ideia, contribuiu com a divulgação do pensamento

determinista, afirmando que o fator determinante da história humana era a raça.

Defensor ardoroso da pureza das raças, Gobineau argumentava sobre a “raça

suprema ariana”, “produtora exclusiva de civilização e sobre a associação entre

a mestiçagem e a decadência (supondo que a mistura de raças ‘desiguais’ conduz

à degeneração de um povo)” (SEYFERTH, 2002, p. 19). Para ele, o surgimento

das grandes civilizações decorreria da conquista das raças inferiores. Assim, a

abordagem histórica teve como marca principal o culto ao arianismo.

A terceira escola do pensamento racista intitula-se determinismo biológico.

Para DaMatta (1987), no determinismo biológico “as diferenciações biológicas

são vistas como tipos acabados e que cada tipo está determinado em seu

comportamento e mentalidade pelos fatores intrínsecos ao seu componente

biológico” (DAMATTA.1987.p. 71). Ou seja, ele é imutável pela ação social, tirando

a responsabilidade da sociedade, já que são os elementos herdados por cada

indivíduo que determinam, desde o seu nascimento, o que ele será futuramente:

um agricultor, um desempregado, um burguês ou um mendigo, sem que ninguém

possa intervir nesses resultados. Assim, esse determinismo é usado para justificar

a superioridade e o domínio de uma raça sobre outra.

Todas essas teorias racistas foram muito bem aceitas e utilizadas pelos teóricos

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103SOCIOLOGIA, ESTUDOS ANTROPOLÓGICOS

E RELAÇÕES ÉTNICO-RACIAIS

brasileiros do século XIX, dentre eles, Silvio Romero, Nina Rodrigues, Oliveira

Viana e João Batista Lacerda. O antropólogo Nina Rodrigues, por exemplo, um

dos nomes mais destacados entre os doutrinadores racistas da época, não via

a mistura das raças como algo positivo para o Brasil. Através de seus estudos

sobre a influência do africano no Brasil, realizado na Bahia na década de 90 do

século XIX, ele detectou a inferioridade do africano a partir de seus parâmetros

científicos. Sua teoria foi aplicada em seu trabalho de medicina legal, afirmando

que “as características raciais inatas afetavam o comportamento social e deveriam

ser levadas em conta por legisladores e autoridades policiais” (DAMATTA 1987, p.

76).

Assim, na concepção de Nina Rodrigues, a raça negra não poderia ter tratamento

equivalente à raça branca. Ele se opunha veementemente à crença de que o Brasil

se tornaria branco através do processo de miscigenação, tese defendida por João

Batista Lacerda a partir da teoria do branqueamento. Na opinião de Lacerda, a

mestiçagem seria um fenômeno inevitável. Assim, “a melhoria da raça brasileira,

através da miscigenação das raças inferiores com o branco, iria produzir no Brasil,

ao cabo de 100 anos, o total embranquecimento da população” (LOBO, 2000, p.

72). Para isto, o incentivo à imigração europeia para o Brasil seria fundamental.

Essa também era uma proposta da eugenia (eu: boa, genus: geração), criada

em 1883 pelo britânico Francis Galton, com o objetivo de difundir a eliminação

das raças inferiores, intervindo, sobretudo, na reprodução das pessoas e nos

casamentos inter-raciais. Segundo esse pensamento, era necessário, através

dessas práticas, encontrar um maior equilíbrio genético para aprimorar as

populações, identificando os traços físicos que apresentassem grupos sociais

indesejáveis. Os eugenistas diziam que o problema não se resumia à questão

do negro e do mestiço, o que os preocupava era a obtenção de pessoas sadias,

evitando-se a reprodução daqueles que pudessem degenerar a raça. No entanto,

negros, mestiços e pobres eram os principais responsáveis tanto pela sua miséria

material e moral quanto pela degeneração da espécie.

3 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Embora o conceito biológico de raça tenha sido desconstruído cientificamente,

nos dias atuais, muitas pessoas ainda acreditam que os negros são inferiores aos

brancos, e devem ocupar um lugar específico, sem possibilidade de mobilidade

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104SOCIOLOGIA, ESTUDOS ANTROPOLÓGICOS

E RELAÇÕES ÉTNICO-RACIAIS

na sociedade. Assim, as marcas deixadas pela antropometria, pela ideologia

do “sangue puro”, pela classificação da espécie humana através da cor da pele

e pelas características morfológicas (ou seja, a raça no sentido biológico) ainda

persistem nas atitudes de grande parte da população mundial. E, nessas atitudes,

percebemos a manifestação do racismo, fruto da construção histórica de raça.

Para Seyferth (2002), “como conceito, racismo diz respeito às práticas que

usam a ideia de raça com o propósito de desqualificar socialmente e subordinar

indivíduos ou grupos, influenciando as relações sociais” (SEYFERTH.2002.p. 28).

Nessa perspectiva, o racismo é uma ideologia que atinge não somente a população

negra, mas todas as populações (judeus e árabes, por exemplo) que em diferentes

épocas e contextos são tratadas de forma diferenciada e desigual.

Enfim, o racismo atua também na crença do poder, da autoridade, do controle

de um grupo que se vê como superior aos demais. Nesse sentido, é necessário

estudar e compreender a origem tanto de raça quanto de racismo para evitar que

elementos da sua versão biológica permaneçam criando desigualdades e, a partir

daí, possamos estabelecer novas relações sociais equânimes.

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Janeiro: Fundação Roberto Marinho, v. 2, 2006. (Projeto A Cor da Cultura).

DAMATTA. Roberto. Relativizando: uma introdução à antropologia social.

Rio de Janeiro: Rocco, 1987.

LOBO, Lilia Ferreira. Racismo e controle social no Brasil: a psiquiatria e

os saberes competentes. In: BRANDÃO, André Augusto (org.). Programa de

Educação do Negro na Sociedade Brasileira. Niterói: EdUFF, 2000. (Cadernos

PENESB; 5). 

I SEMINÁRIO DO II CONCURSO NEGRO E EDUCAÇÃO, 2001. Rio de

Janeiro. ANPED. MUNANGA, Kabengele. Conceitos e categorias na área do Negro

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QUIJANO, Aníbal. La colonialidad del saber: eurocentrismo y ciencias

sociales. Publicado em Lander, Edgardo (comp.). Bs.As. CLACSO, 2000.

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105SOCIOLOGIA, ESTUDOS ANTROPOLÓGICOS

E RELAÇÕES ÉTNICO-RACIAIS

SCHWARCZ, Lilia Moritz. O espetáculo das raças: cientistas, instituições e

questão racial no Brasil – 1870-1930. São Paulo: Companhia das Letras, 1993.

SEYFERTH, Giralda. Racismo e o ideário da formação do povo no pensamento

brasileiro. In. OLIVEIRA, Iolanda (org.). Relações raciais e educação: temas

contemporâneos. Niterói: EdUFF, 2002. (Cadernos PENESB; 4).

SKIDMORE, Thomas E. Preto no branco: raça e nacionalidade no pensamento

brasileiro; tradução de Raul de Sá Barbosa. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1976. 

Fonte: Reis (2011)

4.2 RACISMO E AS QUESTÕES DE GÊNERO

Certamente as dificuldades vivenciadas pela população de afrodescendentes no Brasil

englobam todos os gêneros de forma brutal e desumana, mas não podemos deixar de observar

aqui, que recai sobre a mulher negra uma dupla carga de preconceitos relacionadas a sua

condição de negra e mulher ao mesmo tempo. Infelizmente, a violência praticada sobre a mulher

SAIBA MAIS!

VÍDEO

Refletir sobre as diversas discriminações existentes nesta

temática, parece-nos a forma mais eficaz de nos posicionarmos e conseguirmos elencar propostas significativas para a solução deste problemas. Portanto, como mais uma forma de conhecermos o universo de exclusão e preconceitos construídos em nosso país e relegados as populações de afrodescendentes sugiro a você, assistir ao filme O xadrez das cores, que está disponível em nossa plataforma digital bem como no YouTube. https://www.youtube.com/watch?v=NavkKM7w-cc. Bom filme e ótimas reflexões.

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106SOCIOLOGIA, ESTUDOS ANTROPOLÓGICOS

E RELAÇÕES ÉTNICO-RACIAIS

negra neste país ultrapassa os limites já absurdos da condição do homem negro no Brasil. Duplas

jornadas de trabalho, salários menores e postos de trabalhos em setores de menor importância,

violência doméstica entre outras questões agravam ainda mais sua situação.

Muitos estudiosos consideram que a condição da mulher negra na sociedade brasileira atual

não mudou muita coisa em relação à sua condição na sociedade escravista dos séculos passados,

pois dados apontam que poucas mudanças aconteceram em suas vidas. No cenário atual,

mulheres negras trabalham mais que as demais, ganham consideravelmente menor e têm grau

de escolaridade baixo, o que reforça e perpetua sua condição de operário ou braçal, raras são as

mulheres negras que conseguem lugar de destaque em nossa sociedade, rompendo o preconceito

e a discriminação.

A condição de pobreza invariável das populações negras as coloca muito cedo no mercado de

trabalho, a falta de estudo aliada à necessidade de trabalhar, reforçam o preconceito e perpetuam

sua condição de inferioridade, mas, felizmente, essa condição não é absoluta. Observamos

também que através de mobilizações e da conscientização de sua condição, mulheres negras vem

mudando, embora muito que lentamente, sua condição através do estudo com ingresso nas

universidades e outros níveis de ensino, melhorando e qualificando sua mão-de-obra.

4.3 O JOVEM E NEGRO BRASILEIRO

Outro ponto fundamental em nosso exercício de tomada de conhecimento das condições

étnico-raciais em nosso país deve passar pela situação do jovem negro brasileiro. Assistimos

horrorizados todos os dias nos noticiário de Televisão, jornal ou internet, uma verdadeira

SAIBA MAIS!

Para saber mais sobre este tema, sugiro a você uma visita nos endereços eletrônicos abaixo:

http://www.revistaforum.com.br/questaodegenero/2013/11/11/mulher-negra-nem-escrava-nem-objeto/

http://www.geledes.org.br/o-movimento-da-mulher-negra-brasileira-historia-tendencia-e-dilemas-contemporaneos/#gs.null

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107SOCIOLOGIA, ESTUDOS ANTROPOLÓGICOS

E RELAÇÕES ÉTNICO-RACIAIS

matança da população jovem de nosso País. Dados oficiais nos apontam que 71,1% das mortes

de jovens por causas externas nos últimos anos foram de jovens entre 15 a 19 anos de idade e a

grande maioria delas foram decorrentes de homicídios.

Neste verdadeiro cenário de guerra a juventude negra vem despontando como a mais atingida,

os homicídios registrados apontam um aumento de 63% para 76,9% entre os anos de 2002 e 2011

com a participação de brancos esses dados apontam um decréscimo neste mesmo período de

36,7% para 22,8%. Por que será que isto acontece?

Ainda que a discriminação social, o preconceito e as condições históricas nos mostrem um

caminho construído a esta situação, não podemos deixar de enxergar a disparidade econômica

entre jovens brancos e negros, é notável que até mesmo entre as populações mais pobres os

negros invariavelmente encontram-se em situação pior. Indicadores sociais revelam muito bem

essa situação, sendo que 73% da população mais pobre é negra; 79,4% de pessoas analfabetas são

negras; 62% das crianças que estão fora da escola são negras; em média a renda de negros é 40%

menor que a de brancos. Diante desses fatos fica irrefutável a dívida social que este país tem com

sua enorme população de afrodescendentes e a necessidade urgente de políticas públicas, sociais

e até mesmo da iniciativa privada no resgate dos direitos e da dignidade desta população tão

importante na formação de nosso país, como um Estado democrático no sentido amplo a que o

termo remete.

SAIBA MAIS!

FILME

Para finalizarmos nosso caderno de estudos, mas não suas discussões a respeito de temas sociais, tão

relevantes à profissão escolhida por você, deixo aqui uma ótima sugestão de filme para que você possa começar a entender os mecanismos sociais que tão descaradamente perpetuam as condições sociais vigentes.

Espero sinceramente que ao longo de nossos encontros e através de suas leituras e atividades você tenha mudado seu pensamento e, consequentemente, suas ações em prol de uma sociedade mais justa e igualitária Um grande abraço e “sucesso”

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110SOCIOLOGIA, ESTUDOS ANTROPOLÓGICOS

E RELAÇÕES ÉTNICO-RACIAIS

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