Adoção, Adoção Tardia e Apadrinhamento Afetivo:
Intervenções em Relação a Crianças e Adolescentes Vítimas de
Abandono e Institucionalizadas1
Juliana Noal2
Lucas Neiva‐Silva3
Referência:
Noal, J., & Neiva‐Silva, L. (2007). Adoção, adoção tardia e apadrinhamento
afetivo: Intervenções em relação a crianças e adolescentes vítimas de
abandono e institucionalizadas (pp. 7‐48). In C. S. Hutz (Org.) Prevenção e
intervenção em situações de risco e vulnerabilidade. São Paulo: Casa do
Psicólogo.
A preocupação direcionada a problemas sociais envolvendo o
abandono e a institucionalização de crianças e adolescentes vem aumentando,
apesar de ainda serem reduzidas as pesquisas relacionadas às possíveis
1 Este trabalho é parte da Monografia de Conclusão do Curso de Especialização Psicologia Clínica com ênfase em Saúde Comunitária da UFRGS, de autoria da primeira autora, sob orientação do segundo autor. 2 Juliana Noal é Psicóloga e Especialista em Psicologia Clínica com ênfase em Saúde Comunitária pelo Instituto de Psicologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. E-mail: [email protected] 3 Lucas Neiva-Silva é Psicólogo pela Universidade de Brasília, Mestre e Doutorando em Psicologia do Desenvolvimento pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul e integrante do CEP-Rua/UFRGS. Professor do Programa de Pós-Graduação Lato Sensu em Psicologia Clínica – Ênfase em Saúde Comunitária e Avaliação Psicológica, do Instituto de Psicologia da UFRGS. E-mail: [email protected]
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alternativas para minimizar os fatores de risco relacionados. Dentre alguns
caminhos indicados como fatores de proteção neste contexto de vitimização,
frente a um acompanhamento profissional adequado, estão a adoção, a
adoção tardia e o apadrinhamento afetivo. Os estudos que enfocam estes
aspectos fundamentam os benefícios do convívio familiar e afetivo
oportunizados pela inserção da criança e do adolescente em uma família mais
estruturada, seja ela biológica ou substituta. Paralelamente, vem crescendo o
foco na desmistificação de que a adoção, e principalmente, a adoção tardia
geram problemas desenvolvimentais à criança e à família.
Na cultura brasileira, a adoção convencional de bebês é a mais
procurada e aceita socialmente, mas ainda ocorre permeada por preconceitos.
Esta situação se intensifica na adoção tardia, na qual são adotadas crianças
com mais de dois anos de idade (Weber, 1998). Há estágios e sintomas
característicos nos processos de adoção tardia, que as diferem da adoção de
bebês, principalmente porque, quanto mais idade a criança tem, mais nítidas e
dolorosas são as memórias de um passado marcado pelo abandono (Andrei,
1997). Um dos caminhos é não esconder as diferenças, mas aprender a lidar
com elas, oportunizando um espaço para que as perdas e abandonos sejam
elaborados. Mesmo assim, “faltam” bebês e “sobram” crianças a partir dos
dois anos de idade esperando pela proteção e afeto oportunizados pela
convivência familiar mais estruturada e duradoura (Freire, 1991).
Neste capítulo, o abandono e, por vezes, a institucionalização
decorrente são descritos como fatores de risco de grande impacto sobre o
desenvolvimento de crianças e adolescentes. Por outro lado, a adoção, a
adoção tardia e o apadrinhamento afetivo são apresentados como fatores de
proteção nos processos de resiliência destas crianças e adolescentes.
Para tanto, inicialmente é apresentada uma breve revisão da literatura
sobre os fatores de risco, de proteção e resiliência associados aos processos
adotivos. Posteriormente, o abandono e, em muitos casos, a
institucionalização são apontados historicamente como fatores de risco para o
desenvolvimento de crianças e adolescentes. São descritos como ocorrem os
processos de adoção, adoção tardia e apadrinhamento afetivo no Brasil. Por
fim, é apresentado um conjunto de fatores de risco e proteção associados aos
processos família‐instituição. Além disso, ao longo do texto, são propostas
possíveis intervenções a serem realizadas por profissionais da Psicologia e
demais áreas da saúde, relacionadas aos diferentes problemas abordados.
1. Fatores de risco, fatores de proteção e resiliência associados aos processos adotivos
O movimento denominado Psicologia Positiva vem contribuir para a
transformação de antigas concepções a respeito de fenômenos psicológicos,
no sentido de enfocar aspectos ‘virtuosos’ e saudáveis do ser humano frente
às adversidades que aparecem, ao invés de tentar compreender somente as
patologias e desordens humanas (Yunes, 2003). Dentro desse enfoque, nas
duas últimas décadas, muito se tem discutido sobre as múltiplas definições e
aplicações de conceitos como fatores de risco e proteção, resiliência e
vulnerabilidade.
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Os fatores de risco podem ser entendidos como sendo “eventos
negativos de vida, e que, quando presentes, aumentam a probabilidade do
indivíduo apresentar problemas físicos, sociais ou emocionais” (Yunes &
Szymanski, 2001, p. 24). Muitos são os fatores de risco que operam sobre o
desenvolvimento humano, mas as privações socioeconômicas estão entre os
principais fatores que afetam o desenvolvimento de crianças e adolescentes
(Kim‐Cohen, Moffitt, Capsi & Taylor, 2004; McLloyd, 1998; Werner & Smith,
1992). Dentre as possíveis conseqüências das privações socioeconômicas, estão
a desestruturação familiar, o abandono, a ida para as ruas e/ou a conseqüente
institucionalização, podendo ser apontados como significativos fatores de
risco para o desenvolvimento de crianças e adolescentes.
Os fatores de proteção podem ser entendidos como sendo as
“influências que modificam, melhoram ou alteram respostas pessoais a
determinados riscos de desadaptação” (Rutter, 1985). Analisando a situação
das crianças em situação de risco, três tipos de fatores de proteção se
destacam: 1) características pessoais; 2) suporte familiar; e 3) suporte social
(Werner & Smith, 1992). A adoção e a adoção tardia são fatores de proteção
que funcionam no nível do suporte familiar, tentando suprir a ausência
deixada pela família biológica. Já o apadrinhamento afetivo atua como um
sistema de suporte social, ocorrendo junto às instituições e possibilitando o
desenvolvimento de adolescentes e jovens mais competentes socialmente.
A literatura teórico‐metodológica na área de resiliência apresenta
reduzido consenso sobre as definições, com variações substanciais na
operacionalização das medidas e constructos chave (Luthar, Cichetti &
Becker, 2000). Rutter (2003) afirma que “o ponto inicial para o estudo da
resiliência é o reconhecimento de que para todos os tipos de experiências
adversas, existe uma imensa variação em como as pessoas respondem” (p.
489). Para esse autor, enquanto alguns indivíduos parecem sucumbir ao
menor evento estressor, outros parecem lidar com sucesso diante das mais
difíceis experiências. Nesse sentido, resiliência é entendida como o “fenômeno
de superação de estresse e adversidades” (Rutter, 1999, p. 119). A resiliência
pode ser ainda compreendida como sendo o conjunto de processos que
operam na presença de risco para produzir conseqüências boas ou melhores
do que aquelas obtidas na ausência de risco (Cowan, Cowan & Schulz, 1996).
O termo resiliência deve ser sempre usado quando se refere ao processo ou
fenômeno de competência, apesar das adversidades (Luthar & cols., 2000),
sendo destacada como indicativo de adaptação saudável ao longo do
desenvolvimento (Yunes, 2003), e podendo estar presente em qualquer
processo adotivo.
A resiliência não se baseia no evitar experiências de risco a fim de
apresentar características saudáveis ou no fato de somente ter boas vivências,
esquivando‐se de situações adversas (Rutter, 1993). Entendida como um
processo dinâmico do desenvolvimento, a resiliência é promovida a partir de
duas condições (Luthar & cols., 2000): 1) a presença de fatores de risco que
interferem no bem‐estar da pessoa – no caso deste capítulo, o abandono e, na
maior parte dos casos, a institucionalização; e 2) a adaptação positiva da
pessoa – gerada a partir da adoção, adoção tardia ou do apadrinhamento
afetivo –, apesar das adversidades às quais está exposta. Neste contexto,
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enquadra‐se a afirmação de que os sistemas de educação e formação do
cidadão deverão possibilitar, dentre outros, o desenvolvimento de
mecanismos sociais e éticos que o tornem mais resiliente e menos vulnerável
(Tavares, 2001).
Um dos componentes‐chave na promoção da resiliência é a ampliação
do limiar de frustração, trabalhando o sentimento de autoconfiança para que
o indivíduo possa aprender que os obstáculos podem ser superados (Werner,
1993). Uma criança ou adolescente que se desenvolve no contexto de uma
família substituta, podendo sonhar com um futuro, tende a estar menos
vulnerável que uma outra vivendo no contexto institucional ou das ruas
(Neiva‐Silva, 2003). Uma criança resiliente é descrita como aquela que
trabalha bem, ama bem e elabora expectativas de uma forma boa (Werner &
Smith, 1982). “Um componente central nas vidas de indivíduos resilientes... é
a convicção de que os obstáculos podem ser sobrepujados” (Werner & Smith,
1992, p. 207). Assim, considerando o contexto de abandono e
institucionalização de muitas crianças e adolescentes no Brasil, a adoção,
adoção tardia e o apadrinhamento afetivo são apresentados neste capítulo
como importantes promotores de resiliência.
2. O abandono e a institucionalização como fatores de risco para o
desenvolvimento da criança e do adolescente
O abandono de crianças por parte da família pode ser considerado um
importante fator de risco para o desenvolvimento dessas. Em geral, o
abandono ocorre quando as intervenções focadas na família de origem não
ocorrem ou não chegam a ser eficazes para reestabelecer os vínculos entre a
criança e a família. Os sentimentos de exclusão, frutos da perda do convívio
familiar e afetivo, representado pela situação de abandono, podem perdurar
por toda vida (Saad & Villarreal, 1991). Para esses autores, “todo abandono
condiciona sentimentos de agressividade, angústia e não valorização de si
mesmo” (p. 35). Neste contexto, o papel dos profissionais ligados à saúde‐
comunitária é fundamental, pois através de visitas domiciliares,
acompanhamento terapêutico aos membros da família de origem, trabalho
junto à escola, inserção da criança/adolescente em programas sócio‐
educativos, encaminhamento dos pais a cursos profissionalizantes, entre
outros, podem contribuir para a tentativa de conter a ruptura dos vínculos
familiares e o conseqüente abandono.
A situação de abandono pode acontecer antes mesmo da separação
física entre pessoas. O ser abandonado não faz distinção de nível sócio‐
econômico, raça, credo ou cultura. O sentimento de abandono pode existir
com os pais fisicamente presentes, mas psicologicamente ausentes (Simpson,
1990, citado por Weber & Kossobudzki, 1996). Para Simpson, pode haver uma
incapacidade dos pais em atender seus filhos ou pode haver uma decisão dos
pais em não atendê‐los e abandoná‐los de fato. O “abandono afetivo”, como
será designado neste capítulo, geralmente antecede o abandono físico e pode
ser considerado como a incapacidade dos cuidadores de proteger,
supervisionar e suprir as necessidades afetivas e desenvolvimentais dos
filhos. Assim, quando uma criança ou adolescente chega a uma instituição é
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porque, geralmente, já sofreu todo tipo de abandono, ficando para esta a
difícil tarefa de recuperar e reescrever uma história onde os primeiros
cuidadores, por algum motivo, não exerceram adequadamente o seu papel.
2.1. O abandono e a institucionalização como parte da história de violência
contra crianças e adolescentes
Os primeiros registros de violência contra crianças ocorrem com a
história bíblica da “Matança dos Inocentes”, em Jerusalém, no ano 40 a.C.,
onde o Rei Herodes mandou matar todas as crianças menores de dois anos de
idade (Weber, 1998). Até o final da Idade Média, as práticas de abandono de
crianças e infanticídios eram comuns, principalmente porque o pai tinha
soberania absoluta sobre a vida e a morte de seus filhos. Sendo assim, o pai,
enquanto proprietário dos filhos, fazia deles o que quisesse, sem
arrependimentos ou cobrança social (Weber, 1998). Caso o bebê nascesse
portando alguma necessidade especial, era permitido ao pai, matá‐lo, pois se
acreditava que as deformidades eram sinal de mau agouro (Del Priore, 1993).
No Império Romano, o abandono não era exclusividade dos pobres, pois os
ricos também abandonavam seus filhos, por desconfiarem de infidelidade da
esposa ou por já possuírem herdeiros suficientes (Marcílio, 1998).
No século XVII, as crianças eram extremamente desrespeitadas e
maltratadas, servindo principalmente como criadas (Weber, 1998). A partir
desta época, com a justificativa de proteção aos direitos da infância, a
institucionalização de crianças ganhou força e mascarou o real motivo, que
era o de afastá‐las do convívio social. As instituições, nesta época,
transformaram‐se em fatores de risco, enquanto deveriam representar o
alicerce de medidas protetivas. Esta tentativa de acabar com os infanticídios e
os abandonos não vigorou, já que mais e mais crianças morriam nas
instituições. Diante do fato da mortalidade infantil ter se tornando bastante
onerosa para o Estado, aumentou o interesse em “cuidar” melhor das
crianças, “aproveitando‐as” para fins econômicos e militares (Weber &
Kossobudzki, 1996). As crianças e adolescentes trabalhavam
disciplinadamente em atividades intensas e perigosas nos navios de guerra,
nas fábricas e oficinas das cidades (Moura, 1999). A confusão de papéis a que
estas crianças e adolescentes foram submetidos não os permitia exercer
função social alguma, fosse de estudantes, de trabalhadores ou, muitas vezes,
de filhos. Para eles sobrava a ausência de um lugar a ocupar, deixando‐os
expostos ao abandono no âmbito pessoal e social. O aproveitamento de
crianças e adolescentes para o trabalho contribuiu para a falta de
escolarização e a pobreza das famílias brasileiras (Del Priore, 1999).
No início do século XXI, a problemática no cenário educacional
brasileiro ainda existe, apresentando‐se pouco diferente daquela vivenciada
em séculos anteriores. A porcentagem de crianças que trabalham desde cedo e
que se encontra fora da escola ainda é muito grande, sendo que cerca de 60%
das crianças nordestinas brasileiras são analfabetas (Del Priore, 1999) Segundo
o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 2002,
aproximadamente cinco milhões e meio de crianças e adolescentes estavam
trabalhando no Brasil. O trabalho infanto‐juvenil, que muitas vezes ocorre na
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rua, bem como o abandono, vem transformando precocemente, muitas
crianças em adultos. Esta exposição pode ocorrer em função do sistema
econômico, da precariedade da legislação e da reduzida orientação e
capacitação oferecida às instituições responsáveis pela abrigagem de crianças
e adolescentes.
O trabalho infanto‐juvenil foi a solução encontrada pela sociedade
para as crianças e adolescentes abandonados, que ao invés de terem que
roubar para sobreviver, tornaram‐se de grande valia para o crescimento do
sistema econômico (Moura, 1999). Porém, o trabalho infanto‐juvenil, a falta de
escolarização e a miséria contribuíram para que cada vez mais as crianças e
adolescentes ocupassem uma posição desfavorecida na conjuntura social,
além de serem abandonados mais precocemente. Com objetivo de reduzir a
marginalização, que o Estado supunha ser resultante dos abandonos, a
solução encontrada foi a institucionalização. Entretanto, em muitos casos, as
crianças deixaram de estar abandonados nas ruas para estarem abandonados
dentro das instituições.
A institucionalização pode gerar crianças sem infância e adolescentes
sem juventude, que enfrentam a opressão de uma dupla exclusão. De um
lado, são abandonados e excluídos pela própria família e, de outro, assumem
o estigma de marginais atribuído pela sociedade, também excludente
(Kosminsky, 1993).
No século XIX, o mecanismo social mais utilizado para conter os
escândalos causados pelos inúmeros abandonos de crianças foi a “Roda dos
Expostos” ou “Roda dos Enjeitados” (Weber, 1998), também denominada de
“Depósito dos Expostos” (Arantes, 1995). A solução consistia em abandonar o
bebê na porta da instituição ‐ ou melhor, no tabuleiro da “Roda”, fixado no
muro ou janela da instituição ‐ ao invés de deixá‐lo nas ruas, exposto aos
olhos de todos. O mecanismo da “Roda dos Expostos” também garantia a não
revelação da identidade materna ou de quem o abandonasse ali. No Brasil,
dentre as causas mais significativas para o abandono das crianças na “Roda”,
estavam a situação de exclusão e miséria vivida por grande parte da
população e o nascimento de filhos ilegítimos, os quais eram sinônimos de
vergonha diante da sociedade (Marcílio, 1998). Outras justificativas para o
abandono consistiam na ocorrência de alguma doença em um ou ambos os
pais, na morte dos mesmos, do filho ser fruto da prostituição ou, ainda, na
falta de leite materno. A “Roda” serviu também como um meio para ocultar
os crimes de infanticídio, já que muitos bebês deixados no local já eram
abandonados sem vida ou semimortos. Além disso, os pais de filhos
“legítimos”, ao deixá‐los na “Roda”, poderiam pensar que estavam fazendo o
melhor para a criança, que ela estaria em melhores condições na instituição,
pois eles acreditavam que o filho recebia o batismo, o sustento e a educação,
que muitas vezes a família não conseguia oferecer (Marcílio, 1998). Em
contrapartida, estas instituições foram se tornando gradualmente importantes
fatores de risco, pois nestas se encontravam distintos aspectos que
culminavam gerando altíssimos índices de mortalidade infantil.
A Igreja, no século XIX, era a maior responsável pelos cuidados para
com os “enjeitados” e, para esta tarefa, contava com verba provinda dos
cofres públicos (Rizzini, 1995). Apesar da crueldade que era a “Roda dos
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Expostos”, esta se espalhou rapidamente pelos países católicos, sendo a
“Santa Casa de Misericórdia” a primeira instituição brasileira que oferecia
este mecanismo, fundada por volta de 1730 (Rizzini, 1997).
A partir desta problemática instaurada, começaram a surgir os cursos
profissionalizantes, nos quais as meninas tinham oportunidade de aprender
serviços domésticos e, os meninos, trabalhos de artesãos e operários. Estes
cursos eram precários ou, muitas vezes, fictícios, pois as crianças aprendiam
sozinhas através do próprio trabalho (Marcílio, 1998). A “Roda” tornou‐se
uma “fábrica” de mão‐de‐obra gratuita, uma vez que estas crianças e
adolescentes eram vendidos, emprestados ou doados, para oficinas, fábricas
ou casas de família (Marcílio, 1998). Desta forma, mais uma vez, a sociedade
explorava o trabalho infanto‐juvenil com a justificativa de estar fazendo
filantropia e amparando as crianças e adolescentes abandonados. A adoção,
no século XIX, não era vista como alternativa para as crianças e adolescentes
abandonados na “Roda”, pois, por iniciativa da própria Igreja, a adoção havia
sido banida das legislações ocidentais desde a Idade Média (Marcílio, 1998).
O Brasil foi o último país a terminar com a prática da “Roda dos
Expostos”, persistindo, em teoria, até cerca de 1950 (Weber, 1998). Em teoria
porque algumas das atuais instituições brasileiras que abrigam crianças e
adolescentes atuam apenas como mecanismos sociais para transformar o
abandono físico e afetivo em uma “família estatal”. Na prática, se observa
milhares de crianças e adolescentes em situação de rua ou esquecidos em
instituições, no intuito de se fazer uma profilaxia social. Atualmente, a
institucionalização pode se transformar em um fator de risco no
desenvolvimento de crianças e adolescentes, caso as instituições não exerçam,
de fato, as ações a que se propõem teoricamente.
A criança começou a ser considerada como pessoa, com direitos e
deveres perante a Lei, apenas a partir da segunda metade do século XX
(Weber & Kossobudzki, 1996). Assim, além da responsabilidade da sociedade
e dos pais para com os filhos, passou a ser dever do Estado, proporcionar
proteção aos interesses da criança e do adolescente. Contudo, mesmo com o
Estatuto da Criança e do Adolescente, em 1990, mantém‐se o questionamento
se os direitos e interesses das crianças e adolescentes estão sendo respeitados
efetivamente.
De uma forma ou de outra, as crianças e os adolescentes em situação
de institucionalização ou de rua encontram‐se, muitas vezes, imersos em uma
realidade de abandono e exclusão, sem receber proteção integral, já que na
rua ou nas instituições, geralmente, sofrem privações constantes. Ao invés de
medida protetiva, a institucionalização pode se tornar uma forma de
abandono, não muito diferente da “Roda dos Enjeitados”, caso não venha a
receber um olhar mais acolhedor e familiar. Desta maneira, é preciso um
cuidado especial para que a “Roda” não persista em formatos institucionais
aceitos na atualidade, o que poderia obstruir o saudável desenvolvimento das
crianças e adolescentes que vivenciam esta realidade.
2.2 O abandono e a renúncia do poder familiar no contexto brasileiro
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O Brasil é um país marcado por grandes desigualdades sociais que se
transformam em importantes problemas sociais e de saúde. Em 2004, a
parcela da população submetida à condição de “indigência” ou “extrema
pobreza” – ou seja, aqueles que sobrevivem com menos de um quarto de
salário mínimo domiciliar mensal per capta – foi de 11,3%, significando 19,8
milhões de pessoas (IPEA, 2006). Segundo o IPEA, ainda em 2004, 30,1% da
população brasileira esteve vivendo em condição “pobreza” – aquela que vive
com rendimentos entre um quarto e meio salário mínimo – significando 52,5
milhões de pessoas. Mesmo sem estatísticas oficiais a respeito do número de
recém‐nascidos abandonados nas ruas, pesquisas apontam que, em 1998, na
cidade de São Paulo, a cada dois dias, um bebê foi abandonado em becos ou
latas de lixo, configurando 30% do total de abrigados (Weber, 1998). As
estatísticas oficiais do Ministério da Saúde sobre o número de bebês
assassinados no Brasil entre 1979 e 1996 são de 1.112 bebês baleados,
asfixiados, queimados e estuprados, delatando a gravidade da desestrutura
familiar e da violência doméstica (Dimenstein, 2002). Crianças e adolescentes
continuam sendo submetidos às crueldades, que ferem, em todos os sentidos,
seus direitos e interesses. Os exemplos são vários, tais como o assassinato de
adolescentes nas ruas, o tráfico clandestino de crianças com objetivo de
trabalhos forçados, exploração sexual comercial de crianças e adolescentes,
adoção ilegal, transplante de órgãos e, em maior escala, o abandono (Weber,
1998). As cenas de crianças e adolescentes vítimas tornaram‐se comuns,
configurando um dos pólos extremos de perversidade social (Dimenstein,
2002). Estes “filhos de ninguém”, por serem vítimas, principalmente, do
descaso social, tornaram‐se parte integrante da paisagem urbana.
Considerando as relações existentes entre as instituições de abrigagem
e as famílias, foi constatado que 64% das crianças e adolescentes que vivem
em instituições têm entre sete e 17 anos de idade, sendo que a grande parte
nunca recebeu visita de um familiar, desde a entrada na instituição (Weber,
1998). Porém, é importante destacar que, como em geral o abandono não é
oficializado, os pais continuam com o poder familiar e, por isso, legalmente,
estas crianças não podem ser adotadas. Essas crianças e adolescentes compõem
mais uma parcela dos ditos “inadotáveis”, pois estão fadados, pelos próprios
pais biológicos e pela burocracia estatal, a serem protagonistas de uma
história de abandono, sem nem sequer terem o direito de sonhar com uma
família adotiva. Aqui, o psicólogo, o assistente social ou outro profissional de
área afim, poderia intervir primeiramente junto às famílias, identificado‐as e
estimulando a retomada do vínculo entre a criança e os familiares. Caso após
reiteradas tentativas se constate, de fato, o desinteresse em continuar como
“responsáveis” pela criança ou adolescente, uma possibilidade é orientar e
apoiar os pais biológicos a respeito da renúncia do poder familiar, a fim de
tornar legalmente possível uma adoção.
Ao abordar a referida temática, é importante que se diferencie
abandono e renúncia do poder familiar. O abandono pode ser tanto afetivo
como também físico, e é sempre considerado como um fator de risco para o
desenvolvimento infanto‐juvenil. No trabalho diário com crianças e
adolescentes institucionalizados, observa‐se que o abandono físico tardio
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pode ser impulsionado, em alto índice, pelo abandono afetivo ocorrido desde
os primeiros meses de vida da criança, por sua família biológica. Tem‐se
observado que a renda insuficiente e o excesso de trabalho são fatores que
podem impedir os familiares de manter os filhos, levando‐os a entregar os
filhos a uma instituição (Kosminsky, 1993). Neste cenário, a maioria das
crianças tem acima de sete anos de idade ao ingressar na instituição (Weber,
1998), sendo provável que tenham sido abandonadas afetivamente desde
muito pequenas, sendo extremamente difícil o retorno à família de origem.
Além disso, quanto maior for a ação do tempo e maior o sofrimento causado
pelo abandono, mais frágil se torna a possibilidade de reestruturação dos
vínculos afetivos e familiares.
A renúncia do poder familiar, antigamente denominada renúncia do
pátrio poder, pode ser entendida como a escolha dos pais em oficializar uma
situação de incapacidade de convívio familiar e proteção ao filho, oferecendo‐
lhe a oportunidade de relações afetivas mais estruturadas, seguras e
duradouras em uma família adotiva. No caso da renúncia, os cuidadores
biológicos não estariam abandonando, mas abrindo mão da guarda do filho
para que este tenha melhores condições de desenvolvimento em outro
contexto, sob a proteção de novos cuidadores. É fundamental ressaltar que
uma situação de renúncia do poder familiar pode ser indicada somente
quando todas as intervenções e alternativas de retorno à família de origem
tenham sido esgotadas e não tenham produzido resultados positivos.
Diante do acompanhamento de profissionais especializados, a
renúncia do poder familiar pode ser considerada como fator de proteção,
tendo um caráter preventivo, quando realizada antes que a situação de
abandono e a conseqüente institucionalização aconteçam. A renúncia do
poder familiar torna a criança legalmente apta à adoção, podendo ser um
caminho possível para crianças que se encontram em instituições.
2.3 Institucionalização: fator de risco ou fator de proteção?
O fundamento das instituições de abrigagem é a proteção integral de
crianças e adolescentes, em caráter provisório e excepcional. Contudo parte
das crianças e adolescentes experiencia uma realidade diferente daquela tida
como adequada ao desenvolvimento psicológico e afetivo. A percepção do
senso comum caracteriza a criança e o adolescente institucionalizado como
sendo portador de uma história pessoal e familiar marcada por problemas
afetivos e sem solução, que faria dele uma pessoa em desvantagem, diferente
das demais. Entretanto, é possível encontrar algumas instituições com
excelentes vínculos estabelecidos entre crianças e funcionários, onde essas são
adequadamente acolhidas pelo breve período de tempo em que passam na
instituição. Por outro lado, observa‐se que o contexto de algumas instituições
não oferece condições para o estabelecimento de relações afetivas estáveis e
duradouras entre as próprias crianças e adolescentes, nem entre essas e os
funcionários.
É por meio das relações afetivas, seguras e duradouras, com outros
seres humanos – cuidadores –, que a criança torna‐se capaz de vinculações
baseadas no amor e no afeto, durante toda sua vida (Bowlby, 1990). As
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relações de afeto com figuras cuidadoras nos três primeiros anos de vida da
criança são muito importantes, tendo as funções de proteção e de socialização.
Caso ocorra a perda da proteção, a criança tende a viver constantemente em
situação de ansiedade extrema, pelo medo da separação.
Em muitas instituições, essas relações afetivas estáveis tendem a ser
pouco freqüentes, uma vez que a ligação do técnico responsável com a criança
ou adolescente tende a ser eminentemente profissional. Em geral, os cuidados
são realizados coletivamente, em sistema plantonista, mediante remuneração,
o que torna difícil uma relação baseada no desejo mútuo e no sentimento de
pertencimento familiar. Quando comparada ao desenvolvimento no contexto
familiar, “a criança institucionalizada está sujeita a uma rotina artificial de
relações estereotipadas que fala por ela, privando‐a de seu espaço subjetivo,
de seus conteúdos individuais e da possibilidade de construção de vínculos
afetivos” (Weber, 1998, p. 32).
Além dos problemas relacionados à afetividade, alguns estudos
afirmam que há uma tendência nas crianças e adolescentes institucionalizados
a apresentarem prejuízos no desenvolvimento global. O ambiente
institucional empobrecido em termos de estimulação e vinculação afetiva
pode ser responsável por déficit motor, de linguagem, social e intelectual
(Weber & Gagno, 1995, citado em Weber & Kossobudzki, 1996). Outros
estudos apontam que ambientes com pouca estimulação podem trazer
deficiências nas funções psiconeurológicas, cognitivas e de linguagem
(Poppovic, Esposito & Campos, 1975, citados por Carraher, Carraher &
Schliemann, 1995), assim como baixo autoconceito, sentimentos de culpa e
problemas familiares (Brooks, 1966, citado por Carraher & cols., 1995).
Sobre as relações entre o contexto histórico‐sócio‐econômico e o
desenvolvimento intelectual e cognitivo das crianças, afirma‐se que “os
processos cognitivos podem ser de natureza situacional” (Cole, 1977, citado
por Carraher & cols., 1995, p. 27), o que favorece que os indivíduos tenham
mais habilidades em alguns contextos do que em outros. Assim, os ditos
“fracassos cognitivos e culturais”, muitas vezes atribuídos às crianças e aos
adolescentes institucionalizados, podem ser traduzidos como uma forma
diferenciada de lidar com os desafios, um modo informal de resolução de
problemas. Por ter um processo diferenciado, a sociedade, com seus métodos
formais, desvaloriza os métodos aprendidos no “dia‐a‐dia da rua”,
considerando‐os inferiores (Carraher & cols., 1995). Dessa forma, estas
crianças e adolescentes seriam erroneamente denominados incapacitados para
o aprender e o ensinar.
Afirma‐se ainda haver uma maior propensão das crianças e
adolescentes institucionalizados desenvolverem infecções e doenças
orgânicas, por melhor que sejam as condições de higiene e nutrição oferecidas
pela instituição (Spitz, 1946, citado por Weber & Kossobudzki, 1996). Apesar
desses problemas, quando existe uma acentuada desestruturação familiar, há
uma preferência das crianças e adolescentes por morar nos abrigos ou em
famílias substitutas do que com a família biológica (Weber, 1998).
Reconhecendo‐se que historicamente as instituições têm deixado
algumas marcas negativas e profundas no desenvolvimento de crianças e
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adolescentes, atualmente têm surgido importantes propostas de mudança em
nível de políticas públicas (Tizard, 1991). Anteriormente, as instituições
destinadas à abrigagem caracterizavam‐se por grandes instalações do tipo
quartel, afastadas do núcleo urbano, com um número exorbitante de crianças
e adolescentes. Recentemente, houve um reordenamento deste modelo de
abrigagem para casa‐lares, sendo menores em tamanho e mais bem inseridas
na comunidade, buscando agregar um contexto mais familiar. Todavia, esta
simples substituição não solucionou o problema da exclusão. Apesar de ser
notória a contribuição para uma maior atenção da população em relação à
dignidade e respeito obrigatórios para com a infância e juventude (Tizard,
1991), as instituições continuam sendo percebidas como intimidadoras pela
sociedade em geral.
No que se refere às situações de abandono e institucionalização, os
problemas ainda persistem sem solução adequada, mas existem algumas
possibilidades a serem consideradas com o objetivo de minimizar os danos
causados às crianças e adolescentes. Diante do cenário atual, alguns fatores de
proteção são abordados a seguir, tais como a adoção, a adoção tardia e o
apadrinhamento afetivo.
3. Adoção, adoção tardia e apadrinhamento afetivo como fatores de proteção
para crianças e adolescentes em situação de abandono
A adoção aparece no contexto do abandono como um dos melhores
caminhos para contribuir para o desenvolvimento das crianças e adolescentes
institucionalizados. É através das relações afetivas seguras e duradouras,
proporcionadas pelo convívio familiar (adotivo ou não), que o indivíduo se
torna mais humano e afetivo (Weber, 1998). Caso os processos de adoção ou
adoção tardia sejam impossibilitados por algum motivo, o apadrinhamento
afetivo surge como uma terceira alternativa.
3.1. Adoção nas condições convencionais
Os processos de adoção de crianças e adolescentes vêm se
modificando ao longo do tempo e, atualmente, é vista como uma das
importantes medidas protetivas direcionadas à criança e ao adolescente. No
Brasil, a adoção está regulamentada no Estatuto da Criança e do Adolescente
– ECA (Brasil, Lei nº 8.069/1990) e atende prioritariamente aos interesses do
adotado. Assim, prioriza o resgate do verdadeiro sentido de ser criança e
adolescente, minimizando a existência de adjetivos pejorativos que foram
construídos no decorrer da história, quando se trata de crianças e adolescentes
em situação de abandono e adoção.
Adoção é o ato jurídico no qual uma pessoa assume, como próprio
filho, aquele nascido de outra (ECA, Lei Federal 8.069/1990). “Adotar é então
tornar filho, pela lei e pelo afeto, uma criança que perdeu, ou nunca teve, a
proteção daqueles que a geraram” (Freire, 2004). Em outras palavras, a adoção
pode ser definida como “a criação de um relacionamento afiliativo que
envolve aspectos jurídicos, sociais e afetivos que a diferenciam da filiação
biológica” (Reppold & Hutz, 2003). A adoção surge como recurso gerador de
12
um ambiente favorável à proteção dos interesses da criança e do adolescente,
com a intenção de proporcionar um desenvolvimento saudável.
A decisão de adotar se diferencia do vivenciar uma gestação biológica
em alguns aspectos. Todo processo adotivo exige o desejo de ter um filho que,
em muitos casos, experienciou um passado de conflitos e sofrimentos
transcorridos pelo abandono. Na maioria das vezes, o que se percebe nos
candidatos a pais adotivos é a espera pelo filho idealizado para satisfazer
todas as suas expectativas. Não são raros os casos em que os candidatos a
adotarem uma criança aguardam em uma enorme lista de espera um
“bebezinho saudável, de pele clara e com olhos azuis”. Em geral, esta criança
idealizada é preferencialmente menina, por se acreditar que ela é mais dócil,
meiga e capaz de compensar toda frustração pela espera do filho que não veio
biologicamente (Andrei, 1999). Contudo, essa imagem não condiz com a
realidade da criança. Por outro lado, as crianças e adolescentes em situação de
abrigagem também sonham e esperam um lar, uma família que lhe
oportunize a troca de afeto, carinho e educação. Porém, as crianças que estão
em condições de adoção já não são mais bebês e, em parte, tem pele escura, ou
são portadores de necessidades especiais ou do vírus HIV. Estas
características somadas a uma história de vida marcada por eventos
estressores que as paralisam e as tornam vítimas do seu próprio cenário,
fazem com que estas crianças e adolescentes sejam qualificados como
“inadotáveis”. Elas são a expressão dos fantasmas e medos de uma sociedade
moldada por valores estéticos estrangeiros (Andrei, 1999), que ainda nega
problemáticas como abandono e institucionalização.
A criança, no momento em que é retirada do abrigo onde reside e
colocada em família adotiva, começa a exercer seu direito de ser desejada, já
que “recebe afeto e sustento em base contínua de pelo menos um adulto”
(Solnit & cols., 1987, p. 67). O termo “pai adotivo” designa um adulto que não
é o pai biológico, mas uma pessoa a quem o Estado outorgou completa
responsabilidade paterna. Por esta razão, “a adoção legal cancela os direitos
legais dos pais biológicos” (Solnit & cols., p.15).
A adoção sempre será a melhor alternativa para as crianças que estão
afastadas dos pais biológicos, mas é preciso ter cuidado, pois nem todas as
crianças têm indicação para qualquer processo adotivo, em qualquer
momento de sua vida. Dessa forma, é fundamental que se tenha um bom
conhecimento sobre a criança e a família correspondente para a adoção, com
objetivo de oferecer um lar adequado às exigências de cada criança,
especificamente. A contra‐indicação para um processo adotivo pode acontecer
em diagnósticos graves, como déficits cognitivos e sintomas psicóticos, até
que o contexto familiar que irá recebê‐la possa ser devidamente trabalhado e
acompanhado por profissionais especializados (Chaves, 2001). Caso contrário,
nestes casos específicos, a adoção poderia até ser considerada fator de risco
tanto para o desenvolvimento da criança/adolescente como também para a
família. Assim, fundamenta‐se o papel do psicólogo no acompanhamento de
todo o processo, intervindo desde as entrevistas iniciais dos pretendentes a
pais e filhos adotivos, onde pode verificar as condições e encaminhamentos
necessários a cada caso, até se colocar a disposição para esclarecer
13
questionamentos através de conversas individuais ou palestras/oficinas e
grupos de apoio aos interessados.
A questão da adoção não pode ser pensada isoladamente, já que está
imersa em um contexto complexo que envolve algo que a antecede – o
abandono (Freire, 1991). Neste sentido, o processo adotivo é, de fato,
favorecido quando realizado em idade precoce, pois para um
desenvolvimento saudável, é importante uma favorável interação pais‐bebê
nos primeiros meses de vida. Caso este relacionamento não seja
suficientemente bom, o ideal é que se encontre, o mais cedo possível, um
substituto que preze por esta relação (Diniz, 1991a).
Frente a esse aspecto, mediante o acompanhamento de profissionais
especializados, a renúncia do poder familiar, por parte dos pais biológicos,
nos primeiros momentos de vida do bebê, pode ser indicada a fim de
favorecer um processo adotivo. Com a renúncia, os pais biológicos seriam
destituídos do poder familiar e se oficializaria uma das condições
imprescindíveis para adoção, atuando preventivamente e impedindo uma
situação posterior de abandono e institucionalização. Neste caso, a renúncia do
poder familiar representa um fator de proteção para o desenvolvimento da criança,
permitindo a inclusão da mesma em família substituta, o mais breve possível.
Quanto mais cedo a adoção é realizada, maior a chance de
estabelecimento de uma relação psicológica e afetivamente adequadas,
enquanto que na adoção tardia é dificultada pelas vivências traumáticas de
perdas e separações anteriores (Solnit & cols., 1987). Isso não significa que
uma relação de afeto não possa ser estabelecida com crianças em idades mais
avançadas ou com adolescentes. Ao contrário, os fatores determinantes para o
estabelecimento de relações afetivas são a presença de desejo mútuo, a
reciprocidade afetiva, a continuidade e constância na interação (Solnit & cols.,
1987).
A respeito da adaptação psicológica em filhos adotivos, há uma
diversidade de resultados nas pesquisas já realizadas, o que torna difícil a
unicidade do tema. De um lado, os estudos que focalizam fatores de risco,
como negligência e abandono, mostram que há maior prevalência de
dificuldades de adaptação psicossocial em filhos adotivos (Reppold & Hutz,
2002). Entretanto, outra parte da literatura científica, que centra suas
pesquisas em fatores protetivos, como autoconceito e estratégias de coping,
afirma que a auto‐estima e a ausência de depressão podem ser considerados
indícios de resiliência e, portanto, de saúde emocional (Reppold & Hutz). As
pesquisas sobre as relações entre adaptação psicológica e adoção não são
conclusivas, mas limitadas e com muitas contradições. Por um lado, a adoção,
enquanto uma situação estressante, devido a todas as variáveis que a
acompanham, pode ser uma condição que torna os indivíduos mais
vulneráveis a disfunções psicológicas (Reppold & Hutz). Por outro lado, a
adoção permite que a criança seja inserida em um contexto mais afetivo e
cuidadoso, em princípio com menores índices de violência, o que a torna um
importante fator de proteção para o desenvolvimento do adotado.
Existem muitas controvérsias em relação aos resultados das pesquisas
sobre adoção, dependendo da metodologia adotada, da maneira em que foi
selecionada a amostra da pesquisa. Na área da psiquiatria, constatou‐se que o
14
número de crianças e adolescentes adotivos atendidos nos postos de saúde
mental constitui, pelo menos, o dobro de casos da população geral (Fu I &
Matarazzo, 2001). Este resultado gerou pesquisas a respeito da existência, ou
não, de possíveis conflitos psicológicos desenvolvidos na inserção da criança
em família substituta. Os resultados mostram que há uma freqüência nos
atendimentos em saúde mental de crianças e adolescentes envolvidos em
processos adotivos, principalmente os processos extrafamiliares. Porém, estes
dados não explicam se os problemas para os quais se buscou atendimento
foram gerados pelo processo adotivo ou pelas situações vivenciadas pela
criança antes da adoção.
Por outro lado, na prática clínica, observa‐se que na criança adotada
que apresenta alguma psicopatologia, “a patogenia familiar é prévia e alheia à
adoção” (Loreto, 1997, p. 10). Portanto, não podem ser atribuídas patologias
intrínsecas aos processos adotivos. Os conflitos psíquicos não são exclusivos
de crianças adotivas, mas alguns casos de adoção costumam ser beneficiados
por uma indicação de psicoterapia para que se trabalhem certas vivências
anteriores e se favoreçam a elaboração das mesmas (França, 2001).
É possível afirmar que há relação entre a dinâmica familiar e os
sintomas apresentados pela criança. Diante do contexto da adoção, esta
relação se intensifica, pois não existe o período de contato íntimo e
preparatório proporcionado pela gestação biológica. As fantasias e
preconceitos envolvidos nos processos adotivos, juntamente com sentimentos
ambivalentes e conflituosos dos pais, podem justificar a formação de alguns
sintomas no desenvolvimento da criança (Gomes & Iyama, 2001). Neste
contexto, a representação social de grande parte dos processos adotivos ainda
está vinculada à prevalência de dificuldades psicológicas (Gomes & Iyama,
2001). A adoção ainda é associada, no imaginário social, à caridade e à
filantropia (Weber, 2001), havendo, portanto, a necessidade de intervenções
no sentido de percepção sobre a própria adoção. Mais uma vez fica evidente a
importância da intervenção do profissional em psicologia no
acompanhamento dos aspectos emocionais e afetivos inerentes aos processos
que envolvem adoção, bem como na desmistificação do tema.
Em se tratando de adoção, as teorias são várias e, muitas vezes,
divergentes. Todavia, quase todas concordam que o princípio básico é que, na
impossibilidade de uma criança ou um adolescente ter seus interesses
protegidos pelos pais biológicos, ela deve ser acolhida em uma família
substituta que possa contemplar plenamente seu direito de amar e ser amada,
numa interação estável e duradoura. Além disso, em geral, uma instituição
tem poucas condições de proporcionar sentimento de pertencimento familiar
e afeto, tão fundamentais para qualquer pessoa.
A realidade que envolve a questão da adoção é paradoxal. Por um
lado, há milhares de crianças e adolescentes residindo nas instituições,
desejando a inserção em uma família substituta e, por outro, há famílias que
podem e querem acolher um filho adotivo. Este é um quadro freqüente e
aparentemente difícil de ser solucionado, uma vez que o processo da adoção
engloba três instâncias: 1) a criança e/ou adolescente; 2) a família biológica; e
3) a família adotiva (Bowlby, 1995). Uma quarta instância poderia ser
mencionada – o Estado –, uma vez que é o detentor da Lei e da
15
responsabilidade pelo cumprimento da mesma. Além disso, como já
mencionado, é essencial o acompanhamento de profissionais especializados,
já que todo processo de adoção faz emergir ansiedade, medos, dúvidas, mitos
e sofrimentos. Por este motivo é importante a sensibilização e preparação de
todas as instâncias inseridas no processo de adoção.
Parte da literatura afirma que para que haja um favorecimento na
adoção, os reais desejos e motivações dos adotantes devem ser investigados,
já que, na maioria das vezes, não se encontram manifestos no discurso (Diniz,
1991b). Em contrapartida, outros estudos questionam se as motivações dos
adotantes são realmente importantes em um processo de avaliação de
candidatos a pais adotivos. (Weber, 1995; Weber & Cornélio, 1995). Estes
autores apontam que algumas motivações ditas inadequadas pelos técnicos
podem ficar em segundo plano frente ao trabalho direcionado à construção da
vinculação afetiva na dinâmica familiar, oferecendo uma chance para o
aparecimento de motivações baseadas no desejo de amor. Esta falta de
consenso sobre a importância de se investigar as motivações dos adotantes
pode advir do fato de que se está olhando para uma variável isolada, dentre
tantas envolvidas em um processo adotivo e na saúde emocional dos seus
participantes. De qualquer forma, qualquer processo de adoção requer clareza
e conscientização de aspectos relacionados à maturidade e à estabilidade do
adotante, para que não se torne mais um meio de sofrimento para a criança ou
adolescente adotado (Reppold & Hutz, 2002).
Em caso de crianças e adolescentes institucionalizados, há algumas
barreiras a serem ultrapassadas para um adequado processo adotivo. A
primeira barreira refere‐se à situação judicial que deve estar definida (Chaves,
2001), ou seja, os pais biológicos devem estar destituídos do poder familiar. A
destituição do poder familiar, quando ocorre, em geral se refere aos casos
extremos de negligência, violência física ou sexual e abandono. Outro
caminho, já referido, seria a renúncia do poder familiar, que também
raramente ocorre. A baixa freqüência da renúncia do poder familiar ocorre
principalmente pelo sentimento de culpa, falta de coragem ou falta de
conhecimento dos pais biológicos que terminam por optar em deixar seus
filhos aos cuidados de instituições (Diniz, 1991b). A abrigagem torna‐se uma
solução para as famílias que não sabem ou não querem lidar com os filhos, e
que não admitem a idéia de renunciá‐los para a adoção. Os resultados são
instituições com grande número de crianças e adolescentes em situação de
abandono, que não avançam para etapas posteriores nos processos de adoção
ou de apadrinhamento afetivo.
Uma segunda barreira a ser superada na adoção de crianças
institucionalizadas refere‐se à existência de muitos preconceitos sociais que
influenciam na decisão dos pais adotivos, principalmente quando se fala em
adoção tardia (Chaves, 2001). Dentre os preconceitos e mitos estão a
percepção de que não se poderá dar uma educação como os pais adotivos
querem, o medo de experiências marcadas pela violência e abandono (Andrei,
1999) e a dificuldade de manter segredo sobre a adoção. Outro aspecto é que,
na maioria das vezes, a adoção não é realizada por um adulto consangüíneo
da criança e/ou adolescente, sendo geralmente de uma classe social mais
elevada (Costa, 1991). Por isto, existe o medo de que pode haver um “choque”
16
tanto da criança ao novo contexto quanto em relação à comunidade em aceitar
um membro que vem de um contexto de pobreza. Dessa forma, tem‐se o
desafio da transposição destas barreiras simbólicas e sociais.
Da mesma maneira que em uma gestação biológica, é impossível que
na adoção não sejam elaborados desejos e expectativas em relação ao filho que
está por vir. Por mais madura que seja a decisão de adotar, é raro não existir
preferências relacionadas ao filho ou filha a ser adotado(a). Dessa forma, “o
número de pedidos de adoção supera em muito o número de crianças
adotáveis” (Freire, 1991, p. 104). Este quadro é intensificado porque, em
grande escala, os adotantes têm preferências por bebês com idade inferior a
seis meses, saudáveis e que tenham semelhanças na cor da pele, cabelos e
olhos, com o filho que teriam se pudessem ou viessem a gerá‐lo (Jojima, 1991).
As estatísticas apresentadas pelo Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul
(jan., 2007 – on‐line), entre janeiro e dezembro de 2006, ilustram a questão e
mostram que houve, neste período, aproximadamente 3.265 abrigados, e que
cerca de 95% tem acima de dois anos de idade. Do número total de crianças e
adolescentes institucionalizados, apenas 18,7% (612 crianças e adolescentes)
são considerados aptos para adoção, uma vez que somente destes, os pais
foram destituídos do poder familiar. Já, o número aproximado de adultos
candidatos a adotantes foi de 4.063, ou seja, quase sete vezes maior que o
número de crianças “adotáveis”. Uma das conseqüências dessas estatísticas é
que existirão cada vez menos bebês na lista de espera por adoção (Freire,
1991).
Em função dessas características apresentadas, os processos de
adoção deveriam ser cada vez mais direcionados às crianças ditas
“inadotáveis”, ou seja, crianças maiores de dois anos de idade, adolescentes,
grupos de irmãos, crianças de cor diferente da dos pais adotivos e crianças
portadoras de necessidades especiais, além daquelas portadoras do vírus
HIV. Diante desse desafio, quanto menos exigências e preferências os
adotantes tiverem, maiores serão suas chances de adotar, assim como
aumentarão as chances das crianças e adolescentes considerados
“inadotáveis” de encontrarem um lar acolhedor e compreensivo. É neste
contexto que se insere a adoção tardia, discutida a seguir.
3.2. Adoção tardia: Um desafio mais do que possível
O grande número de crianças com idade avançada e de adolescentes
residindo em instituições de abrigagem constitui‐se em desafio para os
profissionais da área, contribuindo para que direcionem, progressivamente,
suas ações às adoções tardias. Tecnicamente, considera‐se uma adoção tardia
quando a criança tem idade acima de dois anos (Weber, 1998). A preparação
das famílias que desejam acolher crianças em idades avançadas ou
adolescentes visa à integração, à diminuição de rupturas, à conscientização e
sensibilização aos impactos intrínsecos às adoções tardias.
Três são os estágios manifestados na adoção tardia, que acontecem
durante o período de adaptação à nova família (Gil, 1991). O primeiro é de
curta duração, mas vivido com intensa ansiedade, e refere‐se à fase em que a
17
criança/adolescente se esforça para agradar os pais adotivos. Neste primeiro
estágio, o comportamento afetivo pode ser sutil e ocorrer tão rapidamente
que, muitas vezes, nem é percebido pela família. A passagem para o próximo
estágio acontece depressa, na medida em que a criança começa a sentir
angústia por experiências de separações anteriores e medo de sofrer mais uma
rejeição. O segundo estágio é de longa duração, podendo ser bastante
estressante e ameaçador para ambas as partes, já que é nesta fase que a criança
testa sua nova família, para se proteger de possíveis sofrimentos e para
perceber até que ponto ela é valorizada e amada. A insegurança e a baixa
auto‐estima da criança fazem com que ela tenha um medo iminente de que
sua nova família descubra que ela não tem valor. É comum a criança
desconfiar das intenções dos pais adotivos e não aceitar suas demonstrações
de afeto, sendo freqüentes atitudes expressando vontade de abandonar antes
de ser abandonada. Por último, o estágio da integração propriamente dita,
que pode ser antecipado pela intercalação de progressões e regressões no
comportamento da criança. O mecanismo de regressão é o que permite à
criança a vivência da maternagem inicial, que lhe faltou. Esta fase é, então,
marcada pela elaboração de perdas e lutos das ligações afetivas anteriores,
sendo que a criança sente necessidade de experimentar repetidas vezes o
acolhimento dos pais adotivos. A efetiva incorporação na família substituta é
complexa e, às vezes, difícil, já que a criança vivencia o acolhimento como o
luto de ligações afetivas anteriores. Segundo Gil (1991), para que esta etapa de
luto seja vencida com sucesso e a criança/adolescente sinta‐se pronta e
receptiva às novas relações afetivas, é preciso que ela vivencie e elabore suas
perdas.
Além dos aspectos alegres e saudáveis da personalidade, comuns ao
desenvolvimento “normal” da criança, há alguns sintomas previsíveis no
comportamento de crianças adotadas tardiamente. Na idade escolar, em geral,
as crianças demonstram ser muito ativas, mas podem apresentar uma curta
capacidade de concentração, dificuldades em seguir regras, baixo limiar de
frustração ao perder um jogo, problemas de aprendizagem, dificuldade na
atenção, forte poder de dominação, agressividade com outras crianças e
habilidade em culpabilizar os pais (Gil, 1991). O comportamento agressivo
com outras crianças pode ocorrer porque esta foi uma das poucas formas de
relacionamento que aprendeu anteriormente, sendo preciso um tempo para
que conheça outras maneiras de vinculação (Ferreyra, 1994). É também
freqüente que a criança enfatize uma ligação física com um dos pais,
excluindo o outro. A criança pode exercer um papel sedutor, manipulando as
pessoas facilmente, no intuito de receber atenção, mas recusa o afeto
espontâneo. No que diz respeito a comportamentos morais, os pais
freqüentemente descobrem mentiras e roubos, como forma de chamar atenção
(Gil, 1991), fato identificado não apenas em crianças adotadas, mas em
qualquer criança que não estiver se sentindo adequadamente acolhida no seio
familiar. As mentiras podem ser, também, fantasias para negar o passado e
sobreviver a ele ou para encobrir atitudes que julgam erradas e evitar a
violência física a que estavam acostumados (Ferreyra, 1994). Outros
problemas que aparecem com freqüência são a enurese e uma excessiva
18
curiosidade para o sexo e a masturbação. Esses sintomas fazem parte da
integração da criança à família substituta, pois ela precisa testar as novas
relações e analisar o quanto são confiáveis e duradouras (Gil, 1991). Na
medida em que a criança percebe que os novos laços são diferentes dos
anteriores que a abandonaram, o comportamento sintomático e os conflitos
tendem a diminuir, e as partes começam a se acomodar. Neste caso, tempo,
atenção, paciência, persistência, coragem, respeito, amor e dedicação, formam
o alicerce de uma adoção tardia, que privilegie os interesses da criança e do
adolescente (Gil, 1991).
Certamente uma adoção tardia tem características diferentes da
adoção de um bebê em condições convencionais, principalmente porque,
quanto mais idade a criança tem, mais nítidas e dolorosas são as memórias de
um passado marcado pelo abandono (Andrei, 1997). Pode‐se tornar
problemático, então, quando a família idealiza uma adoção e não consegue
entender os aspectos difíceis trazidos por uma vida de rejeições e falta de
amor. É comum que, ao invés de permitir que a criança ou o adolescente
expresse seus pensamentos e elabore seus sofrimentos e lutos, a família tenda
a abafar e esconder o passado, fingindo que nada tenha ocorrido no passado e
não permitindo o aparecimento de sentimentos como hostilidade,
agressividade, tristeza, raiva e perdas (Weber, 1998). Os pais, talvez,
enfrentem dificuldades em perceber que estes sentimentos são fruto de uma
história anterior.
Há características semelhantes em parte dos processos adotivos
tardios, demonstrando possíveis dificuldades a serem enfrentadas (Vargas,
1994). O filho adotivo pode apresentar comportamento regressivo,
agressividade, ritmo de desenvolvimento global acelerado e um esforço de
identificação com as novas figuras parentais. Da mesma maneira, o
enfrentamento do preconceito social, intensificado por se tratar da adoção de
uma “criança grande” ou um adolescente, torna comum a necessidade e o
desejo dos pais adotivos de terem uma preparação e um acompanhamento
específico durante o processo (Vargas, 1994). Diante destes desafios
configurados pela adoção tardia, parece não ser tarefa simples, tanto para a
família quanto para o novo filho, a adaptação à nova situação. Porém,
pesquisas com filhos adotivos, relatam que a maioria absoluta dos adotados
com mais de seis anos de idade revelou que suas vidas melhoraram após a
adoção (Weber, 1998).
São encontradas diferenças nas características de personalidade e
nível sócio‐econômico entre dois tipos de adotantes: os tardios (pais que
adotaram crianças com mais de dois anos de idade) e os convencionais (pais
que adotaram bebês com até dois anos) (Ebrahim, 2001). Neste estudo, os pais
adotantes tardios, em geral, possuem mais maturidade, estabilidade
emocional e altruísmo, em relação aos adotantes convencionais. Da mesma
forma, os adotantes tardios, quando comparados aos convencionais, possuem
nível sócio‐econômico mais elevado, são pessoas com mais idade e, em sua
maioria, são casais que já possuem filhos biológicos. Ebrahim afirma que a
respeito da motivação presente nos adotantes tardios, há a preocupação com a
problemática social do abandono, contrapondo com os adotantes
19
convencionais que, em geral, justificam sua motivação pela ausência de filhos
biológicos.
Nas instituições de abrigagem, tem‐se observado grande rejeição
sofrida pelas crianças mais velhas, pelos adolescentes, pelos portadores de
necessidades especiais ou soropositivos para o HIV. Diante do preconceito da
adoção fora dos padrões convencionais e do desafio de desenvolver alguma
estratégia para minimizar o esquecimento destas crianças e adolescentes no
contexto das instituições, surgiu o Programa de Apadrinhamento Afetivo,
descrito a seguir.
3.3. Apadrinhamento afetivo: Uma alternativa possível para crianças e
adolescentes que não tiveram inclusão sócio‐familiar por meio da adoção e
da adoção tardia
Além da adoção e da adoção tardia, outra alternativa encontrada para
a questão da institucionalização e do abandono é o Programa de
Apadrinhamento Afetivo. No Estado do Rio Grande do Sul, este Programa
vem se estruturando desde 2002, a partir da apresentação de uma proposta da
Organização Não‐Governamental “Instituto Amigos de Lucas” (IAL). Este
Programa foi elaborado na intenção de minimizar o sofrimento das crianças e
adolescentes “esquecidos” nas instituições por meio da sua reinserção social e
familiar. É uma oportunidade para as famílias que não podem ou não querem
o compromisso com a adoção, mas tem o desejo de oferecer e receber afeto e
amor. A criança ou o adolescente permanece residindo nos abrigos e sob a
tutela do Estado, continuando ser este o responsável legal e financeiro. Porém,
é responsabilidade dos padrinhos afetivos o estabelecimento de uma relação
estável que oportunize a troca de afeto, sendo eles as figuras de referência
para aspectos emocionais e afetivos da criança ou do adolescente.
De acordo com experiências relatadas no Instituto Amigos de Lucas
(IAL, 2004), o apadrinhamento afetivo é uma experiência nova de pertencimento
familiar, configurado na escolha mútua, na troca de afeto e cuidados,
podendo ser causa de uma mudança subjetiva que minimiza o sentimento de
abandono e aumenta a auto‐estima. A referência afetiva a um padrinho e/ou
uma madrinha, externos à instituição, tem demonstrado ser uma vivência e
convivência enriquecedora para afilhados e padrinhos/madrinhas, quebrando
preconceitos sociais de raça, faixa etária e conceitos de saúde‐doença.
O apadrinhamento afetivo tem como objetivo primordial a promoção
de relações de afeto entre padrinhos/madrinhas e afilhados (IAL, 2004). Para
que as crianças e adolescentes abrigados possam ser apadrinhados, assim
como na adoção, é necessário que tenham situação judicial definida, ou seja,
que os pais estejam destituídos do poder familiar, e/ou outras situações
excepcionalmente reconhecidas, mas com possibilidades remotas de adoção.
Estas crianças e adolescentes são comumente qualificados como “inadotáveis”
porque a maioria tem idade superior a quatro anos, grande parte é
adolescente, ou porque são portadores de HIV e/ou necessidades especiais ou,
ainda, porque são grupos de irmãos que devem ser adotados juntamente.
A justificativa do Programa de Apadrinhamento Afetivo está baseada
no artigo 4º do ECA (Lei Federal 8.069/1990), no qual consta que é direito de
20
toda criança e adolescente, entre outros direitos previstos, a convivência social
e comunitária. Além disso, a situação de abrigagem, segundo o artigo 101º do
ECA (Lei Federal 8.069/1990), “é medida provisória e excepcional”, o que não
vem ocorrendo nas práticas institucionais.
O Apadrinhamento Afetivo trabalha no sentido de potencializar laços
afetivos e de referência, remetendo aos padrinhos/madrinhas a
responsabilidade afetiva para o desenvolvimento bio‐psico‐social saudável da
criança e/ou do adolescente (IAL, 2004). É uma tentativa de proporcionar
vivências familiares e comunitárias diferenciadas das oferecidas nos abrigos
onde residem, ou seja, oportunizar que o resultado seja o desenvolvimento de
crianças e adolescentes com vínculos, histórias familiares e referências afetivas
de pai e mãe. Esta proposta vem ao encontro do direito e desejo de cada
criança e adolescente em situação de abrigagem, à inclusão numa família que
lhe ofereça a oportunidade da troca de afeto, carinho, amor e educação.
Algumas ações tornam‐se fundamentais para o fortalecimento da
relação entre padrinhos/madrinhas e afilhados (as), tais como ser o
representante na escola, levar o(a) afilhado (a) para conviver em família pelo
menos uma vez por semana, levar para passar datas festivas e férias, visitar o
ambiente institucional, estar ciente do cotidiano do(a) afilhado(a) e
principalmente demonstrar atenção e cuidado, entre outras.
Relatos mostram que a experiência de “afiliação” a uma pessoa
externa ao abrigo é extremamente enriquecedora para ambos, diminuindo
sentimentos de abandono, aumentando a auto‐estima, a capacidade crítica e o
exercício da cidadania. Além disso, uma maior estabilidade emocional e o
sentimento de pertencimento, provindos das relações afetivas seguras e
duradouras, fortalecem o adolescente quando este atingir a maior idade e
precisar ser desligado do abrigo onde reside (IAL, 2004).
É importante que o candidato a padrinho⁄madrinha preencha alguns
critérios para que possa apadrinhar. Um dos aspectos importantes a ser
analisado é que os candidatos não podem fazer parte do cadastro de adoção
do Juizado da Infância e Juventude, visto que o Programa de
Apadrinhamento Afetivo não é uma etapa para um processo de adoção. Caso
o candidato esteja esperando na lista de processos adotivos e queira participar
do Apadrinhamento Afetivo, é necessário que seu pedido de adoção seja
revogado, para que possa ser padrinho/madrinha afetivo(a).
A operacionalização do processo de seleção dos(as) candidatos(as) a
padrinhos/madrinhas acontecem em algumas etapas: 1) inscrição em período
determinado pela comissão regional de acompanhamento; 2) entrevista com
profissional capacitado, observando aspectos relacionados à afetividade,
maturidade, disponibilidade e motivação; 3) entrega da documentação
solicitada; e 4) participação em oficinas de sensibilização para discutir temas
afins. Da mesma forma, há oficinas de preparação aos candidatos a afilhados
para abordar questões referentes a limites, responsabilidades, vínculos, apego,
afeto, pertencimento, abandono e diferenças entre adoção e apadrinhamento.
Após o processo de avaliação dos candidatos ser avaliado como
favorável, padrinhos/madrinhas e afilhados se encontram em uma “grande
festa” e se escolhem mutuamente. No decorrer de todo o processo, deve ficar
claro aos candidatos que o apadrinhamento é somente afetivo. Da mesma
21
forma, é esclarecido que o apadrinhamento é irrevogável e intransferível, ou
seja, a troca de amor e afeto é um compromisso para toda a vida, tanto pelo
aspecto pessoal como pelo jurídico. A definição do apadrinhamento ocorre
após a homologação e determinação judicial e da assinatura de um termo de
compromisso pelos padrinhos.
Em resumo, o Apadrinhamento afetivo é uma alternativa proposta
para que, de um lado, a criança/adolescente em situação de abrigagem tenha
oportunidade de vivenciar o amor que a família pode e deve proporcionar,
bem como a harmonia e o equilíbrio psico‐emocional decorrente de um
ambiente familiar mais estruturado. De outro lado, é uma oportunidade às
pessoas que tem desejo de trocar experiências baseadas no amor familiar, de
maneira semelhante a uma adoção, porém, neste caso, somente afetiva, já que
a criança/adolescente continua sob a tutela do Estado. Na cultura popular, os
padrinhos e as madrinhas são reconhecidos como “segundos pais”, sendo
escolhidos pelos próprios cuidadores para assumir responsabilidades perante
o afilhado na impossibilidade dos mesmos. No apadrinhamento afetivo, o
contexto é semelhante, pois as crianças/adolescentes continuam tendo um
“pai”, legalmente responsável, que no momento é o Estado, mas com
referências de cuidadores e familiares externas aos abrigos, à quem podem
recorrer quando “o pai” não se faz presente.
Na prática, os padrinhos/madrinhas só precisam estar dispostos e
confiantes no seu desejo de convívio com esta criança/adolescente, oferecendo
suporte afetivo necessário ao seu desenvolvimento integral. Para isso, há um
comprometimento pessoal e jurídico, assinando o Termo de
Comprometimento. Somente assim, o juiz concede oficialmente aos
padrinhos/madrinhas a autorização para exercer tal papel. O afilhado pode,
então, ocupar um lugar na vida familiar do(a) padrinho/madrinha, que se
responsabiliza em ser uma referência de família para o resto da vida.
4. Distintos caminhos nos processos de institucionalização e de obtenção de
família substituta
A adoção, a adoção tardia e o apadrinhamento afetivo aparecem
como promotores de resiliência junto às crianças e adolescentes vítimas do
abandono e da conseqüente institucionalização e como alternativas para uma
nova configuração familiar que representa uma reestruturação e
ressignificação dos vínculos afetivos e familiares. Nesta perspectiva, a
estimulação desses fatores de proteção pode contribuir para a melhoria da
qualidade de vida e para a diminuição do número de crianças e adolescentes
que vivem em abrigos.
A Figura 1 ilustra alguns caminhos possíveis nos processos de
abandono e renúncia do poder familiar, transitando por fatores de risco e
fatores de proteção nas diferentes relações entre a família e a instituição.
22
A Figura 1 representa os diferentes fatores de risco e proteção que
influenciam os processos família‐instituição e/ou família‐adoção, vivenciados
por crianças e adolescentes que sofreram uma desestruturação na relação
familiar e estão diante de uma ruptura iminente dos vínculos familiares. A
“Família 1” corresponde à família de origem da criança ou adolescente que
gradualmente vai se distanciando deste contexto, dentre outros motivos, pela
situação de extrema pobreza ou falta de recursos financeiros, pela violência
familiar, pela falta de uma rede de apoio social estável ou pela exploração do
trabalho infantil, que impulsiona a criança/adolescente para as ruas. É neste
momento, antes que haja a ruptura dos vínculos familiares, que deve ser
investido o maior número de esforços no sentido de haver um fortalecimento
da vinculação entre a criança/adolescente e a família de origem. Através de
intervenções em nível primário no contexto familiar, bem como no contexto
da rua em contato direto com a criança ou adolescente, o profissional em
psicologia ou área afim deve trabalhar na busca da reorganização da estrutura
da família, reestabelecendo os laços afetivos, minimizando a violência
doméstica, gerando empregabilidade aos pais, inserindo e acompanhando as
crianças em instituições escolares e fornecendo acompanhamento psicossocial
aos membros envolvidos. Caso estas tentativas de intervenção familiar não
sejam realizadas ou não alcancem o impacto esperado e o retorno da criança
ou do adolescente para a família biológica não seja possível, ocorrerá a
Figura 1: Fatores de risco e fatores de proteção nos processos de institucionalização
e de obtenção de família substituta
23
ruptura dos vínculos familiares. Neste momento, há dois caminhos que
podem ser percorridos: 1) o abandono da criança/adolescente, tornando‐a
mais vulnerável; ou 2) a renúncia/destituição do poder familiar, entendido
neste momento como sendo protetivo, pois possibilita que um processo
adotivo possa acontecer.
Por um lado, a ruptura dos vínculos entre a família de origem e a
criança/adolescente torna‐se um fator de risco na medida em que ocorre o
abandono físico e afetivo da criança (representada na Figura 1 pela seta grande
à esquerda). Utiliza‐se aqui o termo abandono pela família de origem, mesmo
nos casos em que a criança ou adolescente opta pela saída de casa,
entendendo‐se que a família, investida do poder familiar (pátrio‐poder), em
princípio deveria permanecer exercendo a supervisão e controle sobre essas
pessoas ainda em fases iniciais do desenvolvimento. Por outro lado, caso
todas as tentativas de intervenções em nível familiar tenham falhado,
entende‐se como um fator protetivo o fato da família optar pela renúncia do
poder familiar (representada na Figura 1 pela seta grande à direita),
permitindo que a criança entre em uma das etapas do processo de adoção e
não seja necessária a institucionalização. Neste sentido, o papel fundamental
do psicólogo (ou profissional de área afim) junto ao juiz de direito poderia ser
a identificação das famílias com indicação para destituição do poder familiar,
o que possibilitaria a efetivação do processo de maneira mais rápida e
eficiente, bem como o acompanhamento psicológico de todos os envolvidos.
O processo de abandono, em grande parte dos casos, gera uma
trajetória bastante conhecida nas grandes cidades, marcado inicialmente pela
presença da criança ou adolescente nas ruas, fazendo parte da paisagem
urbana. Uma vez que a criança/adolescente encontra‐se na rua, sem ou com
pouca vinculação familiar, há que se intervir em nível secundário, ou seja,
depois que o problema está instaurado. Neste caso, uma primeira tentativa é
agir no sentido de reaproximar a criança de sua família de origem (Família 1),
realizando todas as intervenções familiares descritas anteriormente. Caso não
seja possível, o passo seguinte nesta trajetória é a Institucionalização Provisória,
entendendo‐se que é preferível que a criança/adolescente esteja “protegida”
dentro de uma instituição do que vivendo no contexto da rua. Mais uma vez,
o psicólogo tem sua função neste contexto, podendo ocupar o lugar de
orientador da equipe de profissionais dentro das instituições, assim como ser
o responsável pela avaliação da conduta a seguir, já que a partir da
institucionalização provisória, abrem‐se, novamente, dois caminhos: ou o
retorno à família de origem, ou a destituição do poder familiar, fazendo com
que esta criança ou adolescente se torne “adotável”. Como descrito ao longo
do capítulo, quando se chega nesta etapa, infelizmente nenhum dos dois
caminhos costuma ser tomado, o que sugere a necessidade de maior
capacitação dos profissionais que estão inseridos nas instituições de
acolhimento e abrigagem temporária. Seguindo esta trajetória, raramente a
criança retorna ao contexto familiar de origem e mais raro ainda ocorre a
destituição do poder familiar, o que permitiria que a criança fosse adotada e
inserida em família substituta (Família 2). A principal conseqüência deste
processo é que não ocorre uma institucionalização como medida provisória,
conforme determina o Estatuto da Criança e do Adolescente (Brasil, 1990),
24
mas uma institucionalização ‘permanente’. Neste contexto, o estar em uma
instituição passa a ser considerado um fator de risco para o desenvolvimento
de crianças e adolescentes, pois maximiza a exposição a condições como
abandono afetivo, violência entre os adolescentes e uso abusivo de drogas,
dentre outras. Para as crianças e adolescentes nesta condição, uma saída seria
a adoção tardia. Entretanto, quanto mais tempo na instituição, menores as
chances do retorno para a família de origem (Weber, 1998) e também menores
as probabilidades de ocorrer uma adoção tardia, em virtude dos valores
culturais vigentes.
Tem‐se observado cotidianamente que os adolescentes que entram no
processo de institucionalização permanente terminam chegando à idade de 18
anos e sendo obrigados a sair das instituições de abrigagem por força da lei.
Neste momento, parte dos jovens retorna para as ruas, agora na condição de
‘adultos’ de rua, com baixa escolarização, sem capacitação profissional
adequada, sem emprego e o principal, sem uma vinculação afetiva estável
com algum integrante da família ou outra pessoa que possa representá‐la.
Uma forma de minimizar este conjunto de fatores de risco que culminam com
a saída do jovem da instituição em virtude da maioridade é o apadrinhamento
afetivo. Uma das grandes potencialidades que o apadrinhamento afetivo
oferece é justamente a vinculação afetiva com algum elemento externo à
instituição que contribui no instante do jovem sair da mesma. Neste momento
decisivo, o jovem institucionalizado encontra um apoio de alguém que passa
a ser representante de uma segunda família (na figura, a Família 2) como um
dos mais importantes elementos da nova rede de apoio.
Em resumo, na Figura 1 é proposto que, inicialmente, sejam realizadas
intervenções dentro da família de origem, com o intuito de não haver a
ruptura dos vínculos familiares. Diante da iminência do rompimento dos
vínculos familiares, existem duas trajetórias a serem seguidas. Em uma delas,
se inicia um conjunto sucessivo de fatores de risco – a rua, a
institucionalização provisória e a institucionalização permanente – que
culminam com o retorno do jovem para a rua em condições de extrema
vulnerabilidade. As intervenções devem ser realizadas para que não seja
necessário que a criança/adolescente vivencie o caminho do abandono, sendo
exposta a um universo de fatores de risco. A outra trajetória se inicia com a
renúncia ou destituição do poder familiar e são seguidas pela adoção, adoção
tardia e/ou apadrinhamento afetivo, tidos como fatores de proteção,
culminando na inserção da criança ou adolescente em uma família substituta.
É importante sublinhar que, independentemente do caminho que a situação
siga, os profissionais em psicologia ou áreas afins têm papel fundamental e
indispensável em todas as intervenções que envolvem o contexto dos fatores
de risco e proteção nos processos de institucionalização e/ou obtenção de
família substituta.
25
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