CAPIM-MIRIM (DE VERSOS A SONHO)
Claudomiro Soares
Capim-Mirim(de versos a sonho)
[Poesia]1ª edição
Belém - 2020
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Copyright © 2020 Claudomiro Soares
Texto fixado conforme o novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa de 1990,
que entrou em vigor no Brasil em 2009.
CapaBreno Castilho
RevisãoNathália Cruz
PreparaçãoNathália Cruz
DiagramaçãoDouglas Oliveira
Probida a reprodução total ou parcial deste livro sem a prévia autorização do autor, conforme a Lei Nº 9.610, de 19 de fevereiro de 1998.
[2020]EDITORA FOLHEANDORua Quinze de Agosto, 51.66821-345 - Belém - PA.Telefone: 91 991596480contato@editorafolheando.com.brwww.editorafolheando.com.br
A poesia vem de qualquer lugar do universo e, apesar do mundo do petróleo que conhecemos bem, de ferros a frio, máquinas, interrupções, inconsistências, ainda con-seguimos descobrir pessoas brilhantes como você, com sensibilidade, romantismo e um dos bens mais preciosos que existem - o sentimento - e isso não tem preço. Sur-presa do amigo escritor que estreia e torna real a contri-buição da escrita para muitas pessoas, cujas palavras serão alimentadas por mudanças, encantamentos e incentivos às novas gerações. O mundo precisa de poetas e menes-tréis para nos contar suas histórias através da música ou da poesia. J. L. Borges disse: “Tudo o que acontece conosco, incluindo nossas humilhações, nossos infortúnios, nossas vergonhas, tudo nos é dado como matéria-prima, como argila, para que possamos moldar nossa arte, plantar seus próprios jardins e decorar sua alma, em vez de esperar alguém lhe traga flores.”.
Carlos Eduardo Sosa Ortiz (CESO)Petroleiro – Escritor (argentino) / Autor de romance
S676c Soares, Claudomiro Capim-Mirim : de versos a sonho : poesia / Claudomiro Soares. 1. ed. – Belém: Folheando, 2020. 84 p. ISBN: 978-65-991343-8-8
1. Poesia brasileira. 2. Poesia paraense. 3. Literatura brasileira. 4. Literatura paraense. I. Título.
CDD: Ed. 23 – B869.1098115
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
Ficha catalográfica elaborada pelo bibliotecário Semias Araújo CRB-2/1225
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“São Domingos do Capim”, quando ouvi pela primei-ra vez, imaginei uma amplitude vegetal, o nome jamais iria atirar-me às margens de um rio e hoje ainda rio ao lembrar da surpresa. Do nordeste do Pará ao Nordeste do Brasil, e a outro rio, só que agora um “pequeno rio”, o Parnamirim, nesse voo direto do Parnaso onde habita a sua verve, Claudomiro pousa e cria raízes nesta terra, porém, sem esquecer a Capital da Pororoca, cidade do açaí, o Capim, como é conhecida São Domingos. Diver-sos são os versos amalgamados a sonho e realidade, afinal, quem aplacaria o mal do século, o mal do mundo, senão a arte e, nesse caso, a poesia? O seu voo agora é para a eternidade, pois gerado está um filho imortal chamado livro, que expõe sua alma aos olhares dos admiradores e nos presenteia de saberes poéticos expressos em sua idios-sincrasia. Hoje o mundo é liquido, mas há solidez na arte dos que atentam para a boa ética, cujas raízes voam sem se desprenderem do solo, e Cláudio, como é conhecido pelos familiares e amigos, faz parte desses. Na sua poesia há coração, mares enigmáticos, risco de amar, e amar é o melhor risco do qual a natureza humana não deve se furtar, pois seus frutos são imensuráveis. As poesias de Cláudio são fortes quais marés de sizígia e, aos que não conhecem seus escritos, é ver o peso e sentir o sabor do açaí que oloriza seus versos.
Ismael Alves (Dumangue)Cantor e Compositor
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Um poeta geólogo ou um geólogo poeta? De certo é que me deparo diante de riquíssima prospecção poéti-co-literária, dádiva divina, cuja criatividade fez emergir estes tesouros. Honra-me registrar o presente testemu-nho sobre magnânima obra, do iluminado amigo-irmão Claudomiro Soares. Parabéns, poeta.
Cláudio GomesJornalista e Ex-Diretor da Fundação de Cultura de Parnamirim
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Claudio,Adorei ler tua composição poética Capim-Mirim (De Versos a Sonho), que foi, para mim, uma rica fonte de reflexão que começa com duas perguntas: O que é a poesia? Quem é o poeta? Respondes, com muita sabedoria, em teus versos, a essas e a muitas outras reflexões oriundas da leitura de tua obra. Outro aspecto importante e inovador na tua obra poética é o estímulo ao otimismo que pode bem ser aplicado ao momento de crise coronaviriana da atualidade. Vejamos isso no trecho: “Mas tendo Deus como guia/ Tudo podemos passar/ Para melhor que antes/ A gente poder se tornar”. Há muitos outros exemplos inspiradores que poderiam ser mencionados aqui, todavia, só mais um pontinho eu gostaria de mencionar: tua apologia à Pororoca de São Domingos do Capim é um verdadeiro hino em louvor à ecologia.
Nelson José Fontoura de MeloProfessor aposentado da UFAM, Doutor em Linguística e Psicolinguística
Sumário
Coração e poesia 17Linha um sete quatro 18A dignidade do trabalho 19Utopia de um chamado mundo melhor 21Despontou a pororoca 22O risco de amar 23Mal do século, mal do mundo 24Intraduzível 25Rebrotar para viver 27O cair a noite 28Desinspirado 29Eterna ilusão 31Mar enigmático 32Enigma do ser 33Lendas 34O despertar 35Saudades do meu pará 36Os cangaceiros 38A deusa pororoca 39Real fuga do ser 41Ela, minha musa 42Sou papa-chibé 43Sonhos de perdão 44Armadilha 45O passar dos anos 46
Da beleza potiguar 48O amor de poeta 49Maior desempregado 50Inquietude do ser 53Não ao anthrax 54Girlfriend 55O teu rio é o meu mar 56Saudades de você 57Devaneios de amor 58O ápice da ressurreição 59Criação ou evolução 60Amor e mar 62Parnameurim 63Imaginária 65Murchar no deserto jamais 66Parnacassi 67Apenas volte 69Rezar, não rezei 71A nave-mãe terra 72Polisacanagem 73A quarta onda (pacífica convivência) 74Rabiscando jorge 76Noturno 77Amar de qualquer maneira 78Mãe natureza 79Invenção de carimbó 80Rosa boto no luar 81Imagine voltar 82Mãe d’agua em festa 83
Dedicado à memória de minha mãe, Dulce Ely Fontoura de Melo Soares,
minha primeira professora, incentivadora maior, amiga de todas as horas e inspiração
traduzida na mais pura forma de AMOR.
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CORAÇÃO E POESIA
Como minha irmã diziaPoeta, coração maior que a poesiaCara, semente, coragem, valentiaAmor como a quem se diriaTão grande quanto a almaO coração maior que a poesia.
Sem ele, ela não existiaSem ela, ele nada seriaEla completa o coraçãoEle completa a poesia.
Poeta, coração, poesiaAmor, paixão, alegriaA marca que já marcadaMuda e reverte no diaNas mãos que já calejadasRefletem o dom da poesia.
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LINHA UM SETE QUATRO
Numa tarde tranquila, horas eram quase quatroQuem imaginar poderia a tragédia tida de fatoO ridículo acontecia na linha um sete quatroQue passageiros trazia, mostrou do Brasil o retrato
Horas como reféns, de um jovem desequilibradoQue pelas suas atitudes algo tinha fumadoAmeaçando inocentes em tons de desajustadoQuem sabe mais uma vítima de um sistema minado
Polícia despreparada, sem armas de precisãoSem tática e sem comando, mostrando a televisãoInocente professorinha, morta sem compaixãoQuando se negociava, justo sua libertação
Tragédia em passando ao vivo, no ar a televisãoMostrou com muitos detalhes pro mundo esse papelãoPolícia despreparada, retrato de uma naçãoQue vive desgovernada, que mata sem ter perdão
Mas como num filme, aqueles de ficçãoDeslancha mais um ato, esse de perversãoMatando covardemente, o jovem no camburãoQue mesmo desarmado, foi morto sem compaixão
Mas aqueles bravos soldados alegam com dura firmezaQue só mataram o jovem num ato de legítima defesaPolíticos, então em discursos, conseguem se promoverMas para quê? Eu pergunto: quantos ainda têm que morrer?
A DIGNIDADE DO TRABALHO
Trabalhar todos os diasGanhar o pão com sua labutaEnobrece o ser humanoEm sua existência curta
Com pão, casa e trabalhoSe constrói uma naçãoAumenta a dignidadeDá ânimo ao coração
Sem trabalho o homem murchaPerde a dignidadeTorna-se um vegetalNão é homem de verdade
Imagino pai, famíliaE trabalho associadoSe separar um do outroÉ emissão de pecado
Pão para matar a fomeDe muitos marginalizadosSedentos de quase tudoSeus rostos amargurados
Há filhos passando fomePais descapitalizadosPolíticos interesseirosMuitos pais desempregados
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E na hora mais sagradaQue se faz a refeiçãoNão se pode dizer nadaA não ser que “hoje não”
Não deu pra matar a fomeA injustiça é demaisCom certeza não é culpaDe seus amargurados pais
Que lutam por dias melhoresDe amor e de gratidãoEm um país que de tão grandeAprenda sua lição
No dia em que cada criançaHomem, mulher, cidadãoAo sentar à mesaHá de encontrar o pão
UTOPIA DE UM CHAMADO MUNDO MELHOR
Quando te encontrei, também me encontreiJuro eu não sabia, mas sempre eu te ameiComo num conto de fadasA gente cresceu a brincarConstruímos nossa estradaCom terra, céu e marCom tijolos nem sempre lógicosMágica como o amarNo vai e vem soletrandoComo canção de ninarComo barulho das ondasDessa que quebram no marVieram nossas criançasPra nossa vida alegrarApesar de todo caminhoEspinho também a encontrarPedras às vezes mal postasSoltas também a rolarMas tendo Deus como guiaTudo podemos passarPara melhor que antesA gente poder se tornarEntão nesse conto de fadasVamos ainda somarCrescer como gente e famíliaAmigos também agregarLevar nossa história pra todosQue queiram aprender a sonharAssim, vamos criar um mundoOnde todos só vivam pra amar
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DESPONTOU A POROROCA
Chegando as águas de março, pode então se prepararPara aparar Pororoca, quando ela despontarRemando com a sua canoa, ou então, pode surfarAtento ao Rio Capim, cuidado com o Rio Guamá
As águas sempre tranquilas, revoltas vão se tornar Formando as maresias, banzeiros a retornar“Surgindo atrás da ilha”, em breve vai despontarCriando uma magia, difícil de se explicar
Lendas ainda persistem, como a dos Três PretinhosFilhos da Pororoca, moleques lindos e traquinosQue brincam com as lavadeiras, a população ribeiraQue gostam é de cachaça e de muita brincadeira
Com a Pororoca vem a chuva, vêm troncos e coisas maisVêm paixões e amores, que surgem às margens do caisEncantos misteriosos, que enchem a imaginaçãoQue nos remetem há tempos de amor ou desilusão
Crianças voltamos a ser, olhando ela passarDeixando toda a tristeza, pra Pororoca levarLembrando de tantas coisas, que jamais irão voltarAmando sempre o Capim, jamais deixando de amar
O RISCO DE AMAR
Amar alguém de verdadeÉ viver sem nada temerNão ter medo do futuroNão procurar entender
Contar apenas com a sorteQuerer sem nada impedirNão ter medo da morteE nunca, jamais, desistir
Conter toda ansiedadeGuardar pra si a emoçãoSorrir da boca pra foraSangrar com o coração
Mentir fingindo alegriaSorrir dizendo que nãoGritar na noite arrediaSonhar com a desilusão
Viver perigosamente Com a vida por um trizQueimar prazerosamente Sentir-se apenas feliz
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MAL DO SÉCULO, MAL DO MUNDO
Tenho meu lado parnasoEmbora meio rebuscadoUm tanto quanto românticoOu simplesmente árcade
Confuso e meio intriganteNeoclássica simplicidade Romantismo exacerbado Confusão de estilo e pecado
Na ânsia de te escreverTorno-me e encarno Dirceu Embora não sejas MaríliaSerei eternamente teu
Escravo tal qual Castro AlvesÍndio, menino, PeriPerdido no mundo das fábulas Monteiro, menino nasci
Então, me julguei um poetaQue o tempo tratou de esconder Mas, para mim, já me bastaViver, ou morrer por você
INTRADUZÍVEL
O Amor que tenho por tiDifícil tentar traduzir Nem mesmo codificando Terá como reduzir
Palavra grande não há Nem se pode inventar Para poder decifrarDifícil até de pensar
Fico, então, procurandoUm modo de te mostrar Tanto quanto te amo Quanto mais quero amar
Imaginei um oceanoTão grande pra navegar Tão largo e tão profundo Não bastou pra mostrar
Vislumbrei céu de estrelasGrãos de areia do marResplendor firmamentoPouco foi pra contar
Universo em expansãoCosmos a navegarMilhões de galáxias Não chegou comparar
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Então, como um último grito Sedento, quase a soluçarTrouxe do mais puro infinito Teu amor para ao meu comparar
REBROTAR PARA VIVER
Brote como brota a semente Rompendo a clausura que lhe cerca Vingando em casulo putriformeRasgando a escura noite eterna
Quebrando as barreiras intransponíveis Buscando a todo custo a luz do dia Despontando aurora esplendorosaNo ínfimo solo árido onde crescia
Fitando, vidrado, um tanto atônito De prazer, espanto, estremeciaMe sentindo infinitamente pequeno Olhando aquela flor surgir pra vida
Jamais presenciei algo tão beloNem mesmo de tamanha perfeição A rara flor que ali cresciaSimilar não tinha não
Quanto me imagino, quanto me imagino não Pois a rara flor que ali cresciaNem precisava nem mesmo de chãoTamanha vitalidade, tamanha sua perfeição
Mas, onde está o mistério ou até mesmo a razão É que a planta que ali cresciaSem precisar nem mesmo de chãoPode nascer todo dia, dentro do seu coração.
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O CAIR A NOITE
A noite cai adentrando a madrugada,E o dia nem teima em aparecer,Sinto que a saudade se engrandece,Aumenta o que sinto por você.
Não posso elevar o pensamento,Sem antes lembrar-me de você,Se o que sinto é apenas saudade,Eu juro, não consigo descrever.
Na ânsia em te buscar, eu me perco,Nos sonhos, meu amor, a vagar,Parece que perdi a consciência, Que agora vivo apenas a sonhar.
Mas tudo na vida é preciso,Talvez para se valorizar,O amor que tanto se prega,Às vezes sem se saber amar,Contudo, o que vale da vida,É o quanto se pode sonhar.
DESINSPIRADO
Um pássaro rasgando o espaçoUm espaço interrompendo o nadaO nada partindo pra lugar nenhumNinguém estava esperando
A esperança cansou e se esvaiuO vinho também já não estavaEle, porém, estava ao ladoDo lado que ninguém ousou ficar
Ficando, imaginava ser queridoQuerendo ser também o melhorMelhor mudar o cursoCursando no pulsar do coração
Cardiacamente ousando saberSabido moleque a traquinarTruques, traquinas, máquinasMovendo o universo a conquistar
Conquistando novo mundo de novoO novo já nem novo tanto assimAssim surgiu a rima perdidaPerdendo das palavras a noção
Noção que deveras procuroCanção que escrevi sem quererQuerendo ser só um alunoAprendo no tempo a correr
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Correndo de novo no tempoMoleque começo a viverPerdido no meio do nada Renúncias, solidão e o amor
Deslumbrando ilusão brotou Arrebatado, coração acertou Haja tempo pra decifrarO que fascinava era como errar
Impossível tentar decifrar Quando pesa na vida a buscar Se vivesse somente pra amarSua busca o eterno buscar
Estrelas brilhando com mesmo pulsarConversa fluindo sem mesmo falar Criança sonhando sem medo ninarCanção ecoando sem mesmo cantar
Caminhos traçando sem o caminharAlgo se encontrando sem nem procurar Amor deslumbrando sem mesmo amarViver enganando sem se enganar
Perdido, sonhando, procura o amar Viver, revivendo tentando encontrar Buscar cada sonho a se conquistarA vida vivendo e tentando acertar
ETERNA ILUSÃO Quando o ciúme aparece, pode machucar até demaisAssim como amamos, odiamos, ou até quem sabe muito maisMesmo com todas as diferenças, cada dia é sempre um dia a maisBriga ou quem sabe desavença, nos unindo cada vez mais
Ora, que tolice, nos amamos e nada vai modificarO amor que cresceu com os anos, ninguém poderá atrapalharComo evitarmos o ciúme, ou como fazer pra não brigarVou me embriagar no teu perfume, com o teu amor vou me matar
Não suporto mais a tua ausência, tudo que eu quero é ter você Sinto tanta falta de teus beijos, teu carinho meigo, teu poderSonho toda noite com teu corpo, acordo alucinado de prazerJá não sei mais o que faço, nem como conseguir te esquecer
Por que não esquecer o ciúme, e as brigas deixar pra trásQuero outra vez o teu perfume, quero te amar cada vez maisComo um sonho que se realiza, volto a te ter só para mimAgora posso sorrir pra vida, posso até voltar a te sentir
Não quero que a noite acabe, posso estar sonhandoCaso não seja realidade, quero viver essa ficçãoSe isto é um sonho de verdade, não quero acordar mais nãoQuero viver sempre nas estrelas, onde mora mesmo a ilusão
Pois, pior que o sonho é a realidade, te perder e voltar à solidãoFicar sem você, ainda que só um dia é como vir a faltar o pãoÉ andar de ponta-cabeça, é pisar sem ver o chãoPra ficar sem teus carinhos, eu prefiro a ilusão
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MAR ENIGMÁTICO
Há um imenso mar a minha voltaMas eu não possa alcançá-loAs ondas tão belas e alvejantesTambém não posso tocá-las.
Esse mar é um gigante mistérioOceano a nos separarAssim como estás ao meu ladoMas eu não posso te amar.
É o enigma da vidaQue tento poder decifrarHá mares e mares perdidosAmores e amores a vagar.
Então, oceano eu confundoAbrigo-me ao balanço do marÀs vezes me sinto perdidoTentando tua nau encontrar.
Contudo, me julgo um poetaPermito-me tentar decifrarO pouco que entendo de amoresO nada que entendo do mar.
ENIGMA DO SER
A mais sóbria renúncia O mais íntimo desejoA mais profunda carícia O mais ardente beijo
O mais estranho romance O néctar da mais fina flor Que cala e até emudece Quando brota, vira amor
De onde vem tanta magia Como se fora brotar Com leve toque, ousadia Como nascesse pra amar
Com a pureza da almaA milenar paciência Como ninguém decifrou Mesmo através da ciência
Enigma não traduzido Que encanta até demais Revela-se só aos purosE os demais ficam pra trás
Assim te vejo e me encanto Difícil esquecer-me de tiO amor que por você sinto Sinto não saber traduzir
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LENDAS
Seu moço, faço versos como a rendeira faz a renda Contarei em prosa e verso, como conhecer uma lendaNa noite, de branco, faceiro, galante, de palha chapéuUm bote, lua cheia, morenas faceiras eu levo pro marNegro, malhado, rosado sou sedutor “o Boto eu sou”.
Moleque, traquino, guardião das florestas tropicaisCabelo de fogo, invisível, pés voltados pra trásProtetor da mata, guardião dos animaisBrincando vivo a aprontar, não se percaNas matas embrenhado, cuidado com o “Curupira”.
Fumando cachimbo, gorro vermelho, uma perna sóMítico, travesso, incomoda cavalos, embaraça a CrinaPula, pula, tão rápido apronta, faz redemoinhoNa mata nasceu e vive, gosta de sorrir, brincarAprontando, pulando cresceu, assim se tornou “Saci”.
Vindo na Pororoca, lá pras bandas da ribeiraDe carona em uma onda começando a brincadeiraAprontar é o nosso lema com as queridas lavadeiras Temos medo de cachaça, gostamos de bandalheira“Pretinhos da Pororoca” surfando a vida inteira.
Gigante da terra, saiu da floresta pro fundo dos riosTransforma-se em embarcações para confundir Nas noites escuras ou no luar, cuidado ao remarRebojo esquisito, na Amazônia sou mito de pescador “Cobra Grande, Boiuna, Sucuri”, acredite, eu sou.
O DESPERTAR
Ainda me lembro do teu sorrisoAnseio o retorno do tempoRecorro as minhas memóriasMergulho no passado distanteReescrevo páginas vividasReencarno vidas devastadasProcuro respostas inexistentesTrovas na noite a ecoarTragando das ervas daninhasAfogo-me em prantos a soluçarArdendo no tempo absortoLavas no peito, a queimarMisturo no ar poluídoAlquimia com bolhas nefastasDeleito no ócio abstratoCorsário das almas penadasVislumbro, porém, um sonho vagoArranco espinhos e esporõesCoquetéis Molotov eu descartoNa penumbra bizantina, uma ilusãoAcordo, e te vejo a meu ladoRespiro tua pele maciaTeu corpo embriaga-me e cegaDe Dante, acordei pesadelo
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SAUDADES DO MEU PARÁ
Sinto falta do açaíDa farinha de verdade Sonho com teu tucupi Tacacá... Ah! Que saudade.
Sinto falta de teus bosques De suas praças domingueiras Da beleza de tuas morenasDo perfume das mangueiras.
Sonho com o Ver-o-PesoCom o museu posto à esquinaCom uma Belém vaidosaMas com jeito de menina.
Tão longe me sinto só Sinto saudade de tudo Da dança do CarimbóDo patchouli, do perfume.
A chuva que logo passaÉ amarga contradiçãoA saudade que nunca passa Desse meu amado chão.
Enganos e desenganosNão fazem esquecer-me de ti De seus frutos agridoces Da palmeira de açaí.
Exótica por natureza Portal da Amazônia mãe Centro de rara grandezaBelém... Belém, apenas Belém.
Como dizia o poeta:“Não permita Deus que eu morra,Sem que eu volte para lá;”Sem que beba o açaíSem que tome o tacacá.
Sem que veja tuas mangueiras Com seus frutos a balançarSem que eu vá ao Bar do ParqueE os amigos encontrar.
Sem que passe longe o Círio Com a Virgem a abençoarSem tomar uma CerpinhaÀs margens do Rio Guamá.
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OS CANGACEIROS
Aprendiz de cangaceiroSou roceiro do sertãoUm pouco de trapaceiroCoragem de lampiãoAdmirador da culturaDa beleza deste chão.
Venho jumento montadoCuspindo fogo de coriscoPitando um cigarro chamuscadoPor entre a caatinga eu me arriscoSe a donzela der bobeiraMe conta entre as ovelhas deste aprisco.
Das cantigas e toadas eu me lembroDos versos das bromélias e das olivasDas noites mal dormidas, das raparigasDas luzes das fogueiras e de Patativa.
Curtido dos tempos de meninoO sol que já calejou meu rostoA volante que até já me avistouMas achou por bem me deixar solto.
Assim fugindo entre caatingasMe embrenho na cultura deste chãoAs rimas que por vezes até nem rimamSão frutos da beleza do sertãoQue faz com que até já brinqueCom a saga de um herói, Lampião.
A DEUSA POROROCA
Para São Domingos do Capim, a Terra da Pororoca
No início era o vazioE uma gota de orvalho despencouAbrindo uma fenda na terraFecundando e fertilizando-lhe o ventreCom a chuva fez brotar o rebentoQue escorrendo se uniu a outros maisSurgindo o encontro das águasQue mais tarde Pororoca se chamouEscavando o leito dos riosE criando seus afluentesE os limites nos quais escorreramDelinearam o ciclo da vidaNa aurora esplendorosa primeiraNo encontro revolto das águasEsculpiram-se as ilhas ribeirasRio Capim e Rio Guamá estavam unidosCom o fluxo tornaram-se doisUm barrento e de águas escurasOutro com águas claras e margens caídasE no fluxo vieram os pólensDe gramíneas, ervas-capimE surgiu então uma ilhaMuitos e muitos anos depoisCriou-se uma vila, e com as cercasO capim começou a germinarEm uma terra bem-aventuradaPois nasceu com a força revolta das águasAbençoada pela mãe natureza
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E hoje, ainda, as águasRecorrem a se encontrarMarcando o encontro de dois riosRio Capim e Rio GuamáMas Gusmão que abençoouO povo que lá foi morarSempre que vê a Pororoca Manda a chuva brotarMostrando a força das águasSempre que a maré despontarPois Pororoca é a Deusa que veio nos abençoarCom dádivas acolheu os seus filhosE amigos que aqui vêm morarPortanto, te amamos PororocaPermitiste o Capim germinar.
REAL FUGA DO SER
Para não me afogar com a verdadeFechei os olhos, me vendei completamente Me enclausurei, me tranquei em meu mundo Me enganei, me magoei, me tornei moribundo.
Para aceitar minhas próprias mentirasMe ofusquei, me escondi, me arruineiFiz pacto com a tortura, a dor de mim se acercou Me apadrinhei da loucura, abismo quase sem fim.
Tão cego tornei-me farsa, vestido de solidão Atormentado desde a alma, traído sem nem perdão Vagando tão moribundo, escravo da imensidão A morte até desejei, mas ela não me quis não.
Na busca por novos rumos, tornei atormentar-me Tentava mesmo sem chance, de novo acreditarQue mesmo esperança tênue, pudesse me consolar Engano e me desengano, você para mim, voltar.
Não sei se sonho ou delírio, difícil foi encararO espelho por vezes é duro, impossível se auto-olhar Pois mesmo que todos vejam, não tente imaginarO quanto nos enganamos, e o tanto, a nos magoar.
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ELA, MINHA MUSA
Para Fran Soares
Um poema inusitado, inspirado em seu valorFoi feito com meus carinhos, descrito com meu amorTrovado em teus cabelos, carícias de uma paixãoRimado com sua beleza, de amor sem desilusãoQuem lê, logo saberá, foi feito só pra vocêDe inveja ele matará, quem não souber entenderPois algo assim pra brotar, vem de dentro do serComo na mágica do poema, inspirado em grande amorNa beleza do universo ou na pureza da florAmor feito de respeito, carinho e compreensãoPoema sem preconceito, sem rima, sem ilusãoCanção que não esqueci, curvas em que me perdiViagens de um poeta, ou ainda de um trovadorVersos de alguém que ama, prova de grande amorTributo a sua beleza, encantos de uma paixãoAmor que brotou na vida, poema que não escreviFoi Deus, em sabedoria, que trouxe você pra mim.
SOU PAPA-CHIBÉ
Quando nado, sou um BotoDa fruta taperebáCurupira lá no matoO sabor do tacacáAçai sou cuia grandePavulagem de arraiá
De noite sou AnhangaAssovio de uma MatinCheiro como cupuaçuForça de patchouliÍndio solto na cidadePele de um muruci
Cobra Grande no remansoBoiando contra a maréBacuri eu sou o gostoQue não sabes como éSou caboclo mocorongoDo Pará, Papa-Chibé
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SONHOS DE PERDÃO
Das noites mal dormidas, sou um mestreDos anos amargados, guardo o felOs erros ou pecados cometidosMe enlaçam na doçura de teu mel.
Perdido na penumbra de meu sonho Me rendo à formosura de teu véu Trancado, maltratado e moribundo Marcado na ausência de teu céu.
Num mundo sombrio e putriformeUm verme maltrapilho me torneiÀs vezes, silencio, enquanto dormes É o sonho de teu corpo junto ao meu.
Nas sombras, ofuscado, sou um vulto Vagando em purgatório de ilusõesInferno bizantino, quase ocultoMe rasgo nos espinhos e esporões.
As guerras que assolaram a humanidade Encarno como simples arranhões Pecados e pecados cometidosVampiros procurando seu perdão.
ARMADILHA
Nos pesadelos, medos e escarpas, colapseiNas frestas entalhadas do destino, escorreguei Nos meus sonhos eternos de menino, busquei Nos vultos sombras do caminho, te encontrei.
Se foi sorte ou se foi sina, ainda não seiMas com seu jeito de menina, me encanteiDos perigos das escarpas, escapeiNas cavalgadas noturnas, eu te amei.
Uma cilada, uma trilha, um destino, eu pensei Era muito mais que um desatino, atineiFoi marcado pelo acaso, quase visgo, bem seiA marca do seu sorriso, finalmente, me entreguei.
O cantar distante dos passarinhos, escutei Amores fazendo ninhos, sonhos, avisteiEm revoadas, em trovas, versos e prosas, cantei Sonhos, não mais que sonhos de menino, te amei.
Agora, tudo tão distante, choreiSaudades de uma alegria que eu já nem seiPois, apesar de um simples menino, eu te ameiE cresci mais que o destino, e vivi, e sonhei.
Imaginando, contudo, que o que sonheiNão foi sonho, nem pesadelo, eu penseiMas o destino sempre conspira, oh! como eu sei Contudo – sonhos, amores, destino – eu te amei.
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O PASSAR DOS ANOS
Com o passar dos anos, com o passar dos planosQuantos desenganos, quantos outros danos Tanto menos humano, tantos outros sonhos Quantos enganos, como nos negamosMas não desistimos, embora, às vezesPensamos que não lutamos o bastanteOu que não somos o bastanteNos negamos ou nos transformamosNos enganamos ou nos acovardamosOu até mesmo não buscamosAlgo com que tanto sonhamos.Refazendo os desenganosConvertemos nossos planosNos tornamos mais humanosAo encontrar os desenganosOu até entender o quanto erramos.Quando precisou, brigamos, brigamos, brigamosCom as brigas e as lutas, crescemosA separação amargamosAo nos separar, morremosE ao morrer, renascemosRenascendo, nos transformamos.Assim, por mais que briguemosVoltamos, voltamos, voltamosDesistir não desistimos, não podemos, não podemosMas, no fundo nós sabemos, nós sabemos, nós sabemosQue por mais que lutemos, lutemos, lutemosNão devemos nos iludir, nem achar queSomos perfeitos o bastante, ou que ainda não sabemos
Que a essência que queremos, já de berço é que trazemosDo amor não desistimos, vamos lutar, lutar, lutarE ao contar os anos, vamos ver que nossos planos Ou até os desenganos só valeram porque nós amamos.
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DA BELEZA POTIGUAR
Vem que vou te mostrarNum poema te encantarPraia, sol, céu e o marE a beleza do lugar Vem curtir Praia de PipaGenipabu, Praia do Meio, ZumbiCajueiro famoso em PirangiCartão-postal de Parnamirim
Tem sol em toda estaçãoRedinha sempre um alto-astralNa Ponta Negra, Morro do CarecaUma duna de beleza sem igual
Só de pensar na saudadeDá logo vontade de voltarVem comigo para conhecerEncantos da beleza potiguar
O AMOR DE POETA
O amor é um solQue queima o poetaQuando vive não vegetaÉ o vazio da noite certaComo sorte na setaComo cilada incertaCom a alma em dorCom o corpo em festaDe sua calma indolorDe viver, ser poeta.
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MAIOR DESEMPREGADO
Sou a escória da raçaCheiro e sou viciadoMinha casa é a ruaSou mais um abandonado
Dos restos, das sobras, dos ratosTenho me alimentadoDos trapos e dos papelõesQue construí meu telhado
Não sonho nem tenho famíliaHá muito já fui rejeitadoPor isso vivo sozinhoCom medo e sempre humilhado
Mas, quando durmo ainda lembroDe um tempo em que fui amadoNo qual eu tinha famíliaComida, amor e telhado
Nas ruas a vida é cruelA morte parece agradávelEu fujo e busco meu céuE ainda me sinto execrável
De manhã passos apressadosPara no trabalho chegarEu, porém, desempregadoNada tenho a me ocupar
E já no final do diaTodos a casa voltarVejo pais, vejo seus filhosVoltando para seu lar
Eu, porém, não tenho abrigoNem para aonde voltarPego meu papel e ponhoNum canto a me agasalhar
A noite é fria e ternaMas pode até piorar Se caso venha à chuvaVou sofrer, vou congelar
Mas, ainda sou humanoAcho que vai melhorarQuem sabe, a sorte me acheE eu a casa vou voltar
Então, eu vejo mamãeCorrendo pra me abraçarDizendo: “te amo, menino”Não te deixes amedrontar
Agora já sou felizPois eu já posso sonharA chuva pode cairJá tenho onde pernoitar
Na manhã, procuro trabalhoJá posso até me apressarNa tarde, todo orgulhosoEu vou a minha casa voltar
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Você, que vive sonhandoNão tente nem imaginarO que é ser rejeitadoSem abrigo, vida, lar
Dê valor ao dom divinoDe viver que Deus lhe deuAgradeça, todo semprePor você e pelos seus
A vida se torna belaSe tudo a gente amarSe cada minuto delaA gente souber plantar
A semente é a vidaLinda, bela, a se mostrarCom amor e paciênciaViver, amar, sorrir e sonhar
INQUIETUDE DO SER
Como posso descobrir o que mais te inquietaSerá a falta de dormir ou a alma de poetaO sussurrar não te incomoda, mas a lerdeza simA língua que não se dobra, ferina nem tanto assim
O preço da liberdade, do sábio e exiladoDo Cristo amor de um povo filho de DeusTraído por nossa culpa, por nós crucificadoPagamos por nossos erros... Acomodamo-nos
Na lâmina afiada, a vida por mais um fioNa alma encravada, a luta de um ser servilNa ânsia dilacerada, a vida se redimiuNa busca exacerbada, a carapaça caiu
Mostramos hipocrisia de um ser bem mais arredio Do sangue que dilacera o mais alto amor servilDo homem que se contrai na lâmina do pavioDa descoberta que choca até mesmo o mais nocivo
Descobrindo ou se enganando a mais cruel verdadeDa busca que não se alcança nem mesmo a sobriedadeDa ganância que sempre cega um sonho de liberdadeDo desleixo que fere e marca a fogueira da vaidade.
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NÃO AO ANTHRAX
Antes que os pólens de AnthraxPermeiem nossos próprios laresAntes que os aviões tornem a virar armasVolte para a vida, ame o semelhanteTorne-se mais humano, lute, mas pelo amorBrigue pela paz em nossos coraçõesLute sim pela busca de um mundo melhorNão deixe que o Anthrax e as bombasDestruam o amor que está dentro de vocêE que nada, nem ninguém poderá deterE o amor que deve florescer, pois bem antesAntes do novo amanhecer, vamos reviverNão queremos desfalecer, vamos crerVamos lutar pra sobreviver, vamos aprenderA lutar, a sofrer, a correr, a sobreviverSomos o que somos, vamos esquecerNão vamos odiar, vamos amar e viver.
GIRLFRIEND
Imagine o quanto eu te amoImagine como eu te queroImagine o quanto te chamoImagine como te espero
Acredite no meu amorAcredite no meu quererAcredite no meu chamarAcredite na minha espera
Que eu tanto te amoQue eu tanto te queroQue eu tanto te chamoQue eu tanto te espero
Te amo quanto te amoTe quero como te queroTe chamo quanto te chamoTe espero como te espero
France nunca duvideConfie no meu olharE veja que ele lhe dizNasci para te amar
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O TEU RIO É O MEU MAR
Como um sonho que não quero esquecer Minha vida quero muito mais viverCom os amigos que eu puder contarAs crianças, o futuro e o amorSonhando com a pureza de um menino Correndo como o vento a viajar Buscando em teu corpo meu sustento Um rio navegando rumo ao marSou assim, mesmo assim, somente assimQuando pensando em ficar tristeVejo tudo que Deus me deuOlho a pureza da criançaProcuro o brilho dos olhos teusPenso de novo no meu sonhoE lembro que a vida é sonhar Encanto-me novamente, vou em frenteBuscando o teu rio que é meu marO vento com a brisa da manhãSorriso de criança novamenteA vida que eu tenho pra viverAgradeço sempre a Deus esse presente Assim vou seguindo meu caminhoEm frente eu jamais vou vacilarSabendo que encontrarei espinhosE, às vezes, a solidão a me encontrarAinda assim eu não desisto, com todo risco Eu corro pro teu rio que é meu mar
SAUDADES DE VOCÊ
Quando mergulhei bem dentro do teu olhar A princípio me perdi por não te encontrar Embora me ofuscasse sem saber aonde ia darAdentrei-me mais e mais na ânsia de te buscar.
Quando do teu beijo eu me atrevi a provar Não entendi o sabor do néctar que fui buscar Demorei um pouco para poder decifrarQue tudo foi como um sonho, louco de ninar.
Quando meu corpo no seu pôde se enroscar Levei algum tempo para poder atinarDe quanto estava querendo, ou como me entregar De tudo que almejava, tão perto ao meu tocar.
Quando inevitável, tive que me afastar Imaginei e sabia não poder aguentarComo ficar tão longe do visgo de teu olhar Como esquecer o sorriso, ficar sem te beijar.
Amargurado, aflito, fico a soluçarFico a tua espera e ficas a me esperar Ansiando nosso encontro louco a se enroscarColado em teu carinho, sempre a te beijar.
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DEVANEIOS DE AMOR
Tudo vai passar, o amor vai resistirInverno chegará, esperarei por tiNos medos não mais pensarInsegurança vou descartar
De esperanças vou me armarA ser criança poder voltarJunto ao riacho quero brincarColhendo frutas no seu pomar
Espinhos vou retirar Não nunca te machucarNa relva vou me deitar Teu colo vai me ninar
Sorrir de alegriaSentir teu calorBeijar tua bocaProvar teu amor
Morrer de ciúmesDomar meu fulgorSentir teu perfumeTeu doce sabor
Do vazio nunca maisNem de dor ilusãoAncorado em teu caisDomei meu coração
O ÁPICE DA RESSURREIÇÃO
No ápice mais longínquoDo estreito se escondeuA mais bela e a mais raraLinda flor que já nasceu
Era clara como a neveSeus espinhos eram azuisO seu brilho era únicoCom a essência que seduz
No brotar da primaveraA flor muda de corTorna-se a formosuraQuando brota, vira amor
Na florada é tão perfeitaCom uma cor especialQue seduz quão delicadaDe beleza sem igual
Essa flor jamais murchaE não se pode arrancarPois precisa de carinhoPara a mesma despontar
Sua receita é tão singelaMuitas outras surgirãoÉ preciso prepararO terreno, a imensidão
Para poder receberDo fundo do coraçãoA beleza, a criançaA flor da ressurreição
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CRIAÇÃO OU EVOLUÇÃO
Aos quatro ventos proponhoA todos uma charadaPeço a vocês que me provemQue a vida surgiu do nada
Juntando o inanimadoNo escuro da imensidãoCriou-se o que de mais beloJá se conhece da perfeição
Tamanha atrocidadeTeimam por assim dizerQue a vida surgiu do nadaDo acaso veio a nascer
Tamanha coincidênciaTantas improbabilidadesNada ainda foi bastantePara se mostrar a verdade
Desde uma perfeita célulaOu da perfeição da retina humanaQue nem com toda ciênciaPor uma coincidência emana
Então a resposta eu proponhoCom a ignomínia de um cidadãoComo a tantos atributosIgnorar justo a criação
Mas o ser de suprema bondadeLá no fundo irá encontrarUma maneira serena e sublimeDe simplesmente nos perdoar
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AMOR E MAR
Você surgiu como uma onda, Mas eu nem te vi chegarAgora quando o sol está se pondo, Busco a todo custo, te encontrar.
Eu te quero como antes,Nos teus mares navegarNessa busca até me perco,Não consigo te alcançar.
Queria eu voltar no tempo,Novamente ver o marNavegando a todo curso,No teu corpo mergulhar.
Do mar, minha eterna canção, Do amor, minha doce ilusãoDa vida uma triste novela,Do sonho uma nau sem a vela.
PARNAMEURIM
Alguma coisa aconteceAo regressar a ti, ParnamirimEu que não sou filho de tiMe sinto como se o fossePois não escolhi a tiTu é que escolhestes a mim.
Tenho saudades de tiComo tenho do CapimLugar onde cresciMas me sinto meio assimUm pouco lá e um tanto aquiDo Pará e de Parnamirim.
Queria te dizer, que tenhoOrgulho de estar aquiDe ser entre filhos e adeptosContados bem junto a tiQue és por mim bem queridaMinha amada, Parnamirim.
Meus filhos aqui criadosRebentos que aprendiAos braços de um filho amadoRetratos de amor sem fimAssim, me sinto seguroEm teus braços, Parnamirim.
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Se por acaso um diaTiver que me afastar de tiTe levarei em meus sonhosNos versos que hão de virNas asas da liberdadeDas coisas lindas daquiQue apenas seja lembradoComo teu filho, Parnameurim.
IMAGINÁRIA
Louca fantasia, ardente desejoResume poesia, embriagante beijoPerfuma o universo com alma e paixão Coroa este encontro, espanta a solidão Destino traçado, escrito em marfimAmor planejado, aurora carmim Tempos sonhado, busca sem fim Da relva, das cores de um belo jardim
Ciclo completado sol na casa astral Busca encerrada, ausência de sinal Triste no meu claustro, simples, trivial Ausência de carinho, canto sem igual
Me contento, não sonho, esqueço todo o malLembro apenas um rosto, que não vi outro igualQuando daquele beijo em encontro casualDuas almas pairavam em tom angelical
Sim, na vida tudo passa, espero poder passarHá coisas pra esquecermos, e outras para lembrarO que levamos da vida, podemos acreditarNa vida que nunca morre, no homem feito pra amar
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MURCHAR NO DESERTO JAMAIS
Poderia se acomodar, aceitar sua sina Se deixar mutilar, mesmo ainda menina De uma forma perversa, pior crueldadeNão encontro sinônimo... Tanta brutalidade
Contra tudo ela lutou: costumes, religião Família, tudo deixou... Na busca de um ideal Fome, sede enfrentou... Contudo, não implorou Seu frágil grito no deserto, Deus escutou
Então, a flor se abriu para o mundoLinda, bela e de rara perfeiçãoFez da dor sua bandeira, do sonho seu ideal Derrubando as barreiras, força sem igual
A linda menina podia até se acomodarPois tudo já tinha, mas não queria parar Hoje, movida por uma terna compaixãoLuta pra libertar outras em igual situação
Assim, se revela heroína de um tempo dito moderno Onde absurdos acontecem e fingimos não vê-los Não temos a coragem da heroína do deserto Acovardamo-nos em nossos próprios medos
Contudo, nos redemos por completoÀ beleza, raridade, exemplo de luta, de vida Da flor rara, que nasceu não muito pertoHeroína de carne e osso, rara flor do deserto
PARNACASSI
Como um rio de poesiaFluindo dentro de mimAssim, atentei sapienteÀ história de ParnamirimEm verso toda contadaBeleza quase sem fimRevela-se na purezaDas coisas lindas daquiPros filhos e adeptosMãe-terra ParnamirimCom riquezas de detalheCientífica comprovaçãoReforçam com autoridadeLegítima de um cidadãoQue muitos aqui passaramNesse pedaço de chãoFala do povo humildePolítica e religiãoDos rios e até de feirasRetratos de uma naçãoDa influência americana Dos costumes adquiridosPrefeitos e até do cleroDe todos os bons pastoresDa fé que aqui brotouCom todos seus seguidoresDas belezas naturaisQue encantam o mundo inteiroNenhuma chega nem perto
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Das terras do cajueiroOrigens e influênciasDos que tiveram aquiDaqueles que derramaramSuor e amor sem fimDe todos que labutaramA fim de contribuirCom esse rio pequenoBut wonderful ParnamirimContudo, minha rima é poucaMas forte como Capim Cidade de onde eu venhoSou índio, sou curumimParaense que adotouA pátria ParnamirimQue brinca e se esmeraTentando assim definirO quanto tenho de apreçoAo grande amigo Acassi
APENAS VOLTE
Antes que a saudade me devoreE as lembranças a me enlouquecer, Mesmo que por dentro ignoreNão consigo nunca te esquecer.
Volta e me traz de volta a vida Dei-me uma chance pra viver,Pois cada dia sem teus beijos São eternos sonhos sem te ter.
Dê-me apenas uma esperançaDiga somente por ilusão, Que ao menos quando morra Irei segurar a sua mão.
Já não existo, eu sou teuPerdi minha individualidade,O mundo me corrompeu, é verdade Estou louco ou é só saudade?
No limiar ou na loucura Eu me rendo ao teu poder, Teu encanto e formosura Minha chance de viver.
Tenho sonhos de menino Com um lindo amanhecer, Do teu corpo adormecido Meu semblante de viver.
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Embora não seja poetaEu sonho te encontrar, Compor cantigas sem rimas Apenas para te mostrar.
Volte como volta a ventania Ou como o murmúrio do mar. Mesmo que seja só um sonho Não me deixe mais acordar.
REZAR, NÃO REZEI
Era pra chegar juntoNão chegueiEra pra botar para quebrarNão quebreiEra pra eu brigarNão brigueiEra pra me esforçarNão me esforceiEra pra chorarNão choreiTinha que me dedicarNão me dediqueiTinha que me acostumarNão me acostumeiQuando foi pra rezarEu não rezeiSe era pra lamentarNão lamenteiSe era pra lacrimejarNão lacrimejeiSe era só pra saberHoje eu já seiO quanto eu vou te amarO quanto eu já te amei.
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A NAVE-MÃE TERRA
A nave-mãe Terra, Que nos leva pelo espaço a vagarA poesia como nave Também nos remete a viajarEntre planetas, asteroides,Cometas, corpos celestesCom sol, com ar, com marAstros, palavras, cançãoAmor, viagem, ilusãoMãe Terra, nave-mãe, poesiaMãe poesia, astro rei, sol maiorUrsa Maior, tempo mais e melhor Navegar, viajar, pilotar a nave do tempo Romper a barreira espaço/tempoUnir amor e pensamentoColisão e conclusão de sentimentoAmar é mais que um acalentoSentir a dor desse momentoÉ navegar num mar de sentimentoÉ ser o sol maior por um momentoEstar no controle, elementoQue move as massas como o tempo Implacável em seu único julgamento Poetar, devagar, navegar, pensamento Nave sem controle a arte do tempoPoema sem nau, sem rima sem momento Universo sem sol, sem mar sem rebento Tudo cala, tudo pode, a contentoSou seu sol, sou seu mar, seu momentoDe plantar, de calar sofrimentoAcabar ou apenas cessar o acalentoDe quem só quis compor um poema com sentimento
POLISACANAGEM
Onde vamos parar? Aonde a política irá nos levar?Sem ética, estamos entregues a corruptos e mercenários Escravizando nosso povo, humilhando nossos operáriosE os políticos, gananciosos, corruptos e latifundiários.
Estamos como barcos ao léu, sem leme à deriva Politicagem imoral, corrupção passiva, povo inocente Massificam nossa gente, sendo humilhada, sofrida Interesses espúrios, políticos disfarçados de gente.
Sem saúde, educação, nosso povo há tempos, pereceSe engana de novo, erra ao votar, novamente padece,Por razão cultural, apanha mais logo, logo esquece Outra arapuca, mesmas armadilhas, novamente acontece.
Deixo então meu lamento, como se fora uma preceQue esse povo humilhado e sofrido que tanto padece, Tente ao menos mudar, renovar, pra ver o que aconteceQuem sabe, assim, nossa Nação tenha o governo que merece.
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A QUARTA ONDA (PACÍFICA CONVIVÊNCIA)
No mundo da tecnologia, fala-se em quarta ondaReviravolta no mundo de internautasMudando e se transformando à velocidade da luzValores perdem espaço para uma corrida acirradaNa busca pelo poder, fama, dinheiroComo voltar aos velhos tempos? Difícil demaisQuando a palavra valia mais do que documentoOu um amigo mais do que dinheiroQue nostalgia, santa inocência, em pensar que isso já existiuDeve ser mais fácil crer que é história da CarochinhaMas, o que é mesmo Carochinha?Ouvi isso em algum lugar, ou melhorAbri um site que falava de antiguidadesFoi por acaso, mesmo sem querer, pois não dispunha de tempoTempo, o que é mesmo isso? Para que serve?Para ganhar dinheiro, e para que mais?Para tentar ganhar mais e mais dinheiroTalvez para depois desfrutar de algum privilégioOu quem sabe tornar-se um chato meticulosoQue baboseira, devo ter acessado erradoVivo fazendo isso e esse mundo louco!Enlouquece-me, acabo saindo de órbitaAcho que vou fazer umas comprasClico no site “vantagens da Net”Ouvi falar de um tempo em que se saia às compras em mercadosDevia ter o seu lado romântico, por falar em românticoNesse tempo as pessoas namoravam e até casavamE pediam consentimento
Parece complicado, acho mais interessante o namoro virtualTanta velocidade de informação, e eu apenasMovimentando os dedos e o pensamentoMinha geração online, preguiçosa, obesaBurrice disfarçada de tecnológica Então, vou propor a criação de uma nova sociedadeOnde possa conviver o antigo com toda a sua perfeiçãoE o novo com toda a sua tecnologiaAssim, mesclando-se e adaptando-se às novas revoluçõesQuem sabe o ser humano encontre uma maneiraDe, apenas, viver e ser feliz
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RABISCANDO JORGE
Ansiando a liberdade, tornei-me toadaProcurando a igualdade, encontrei a amadaMergulhando em fantasias, ilusões formadasTornei-me o Jorge Amado, da Bahia e da amada
Sem ela não existia, sem Zélia não era nadaA vida era vazia, não valia uma empreitadaEu quase que adormecia, confesso eu vegetavaEntão conheci o dia, a aurora que despontava
Em traços de Gabriela, com ela me confundiaOs anos mesmo apressados, com ela não envelheciaAs noites mais do que eternas, com ela adormeciaA vida tornou-se bela, exemplo de poesia
Encantei-me com muita coisa pouca que me consumiaOs encantos do recôncavo, os encantos da BahiaDas musas de meus inscritos, nenhuma me possuíaMas, Zélia era diferente, sem ela eu não existia
Oh, Zélia! Parti da vida, pois ela me consumiaLevei amor e orgulho de ser filho da BahiaDe ser cidadão do mundo, tudo que sonhei um diaLevo também um pesar, por deixar-te, minha alegria
NOTURNO
Imaginei o cair da noite, em uma região desabitadaCom os pássaros se agasalhando, do frio que viráAnimais correm a se apressar, cada um para seu ninhoGotas de orvalho despencam das folhas silvestres
Com a chegada da noite, tudo se cala, adormeceApenas os animais da noite como a coruja a vagarFindou mais uma jornada, finda mais um diaTodos precisam de um sábio descanso
Os primeiros raios penetram através das árvoresE o sol iluminando o desabrochar de um novo diaA natureza canta em festa para lhe receberQuão belo a revoada, a passarada a cantar
Cantam em coro os anjos todos, ao dia saudarTudo então recomeça, parece desabrocharComo se a noite arredia, fizesse-o melhorarSempre depois de uma noite, o dia teima em desabrochar
Os raios agora se esvaindo desaparecem além-mar Animais correm, apressam-se todos a se agasalharO dia foi longo, mas findo, é preciso a energia renovarUma nova noite de descanso, apenas alguns a vagar
A vida inquieta se aquieta, apenas para descansarÉ mister que se faça a parada, necessária agoraDe novo o ciclo da vida voltará a rebrotarAmanhã é um outro dia, tudo irá recomeçar
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AMAR DE QUALQUER MANEIRA
O amor nasce como um sonhoE brota como uma florCresce como sementeDesbota às vezes com o tempoRenova-se em algum momentoTorna-se sempre rebentoGerando maior acalentoPode trazer sofrimentoOu até mesmo lamentoEstremece a gente por dentroSufoca um tanto ou um tempoMas é o melhor dos sentimentosRenova a gente por intentoPra ele (amor) não existe o momentoPois faz o seu próprio tempoPra vencer a barreira e o ventoSoprar a favor do rebentoE o amor renascer, seu momentoAmar e desfiar o tempo, o ventoRealizar tudo quanto queiraSufocar, gritar, falar besteiraAmar, amar, de qualquer maneira.
MÃE NATUREZA
Quando a brisa e orvalho se fundiremO cheiro agreste da manhã, a se espalharPela relva, um embriagante perfumeConfunde-se com o teu a exalar.
Seu corpo de menina se perde entre os riachos O vento balança as folhas das árvoresSeus cabelos também são içados pelo vento Seu sorriso se desmancha prazeroso.
A simplicidade enaltece seus encantos E a amostra sua beleza sobressai Sussurram vento e até a verde mataChuva de pétalas que caem.
Silêncio na mata se ouviuO vento parou de soprarA natureza no instante sorriuTe vendo em sonho a passar.
Então, acordando te vejoE quase sem acreditarRespiro e te sinto a meu ladoTeu beijo poder desfrutar.
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INVENÇÃO DE CARIMBÓ
Do Carimbó guardei o sonhoComo sabor de tacacáCheiro cheiroso do ParáNo rio bem cedo me banhar
Tenho perfume de mangueiraFruto agridoce lá da feiraÁgua de coco em IcoaraciMorena Bela Marapanim
Misturando o tucumãCom açaí e taperebáCachaça de AbaetéE a força de um RE x PA
Açaí só se na tigelaOu no banho de igarapéVer-o-Peso quanta magiaNo Círio de Nazaré
Toada do MarajóVerequete, Lucindo e CupijóPin, Ximbinha e PinducaRitmo forte é meu Carimbó.
ROSA BOTO NO LUAR
Foi, foi, foi, foiNuma noite enluaradaVi um boto cor de rosaBrincando com a Mãe d’Água
Debaixo dos teus cabelosOu dentro do teu olharMergulho só no teu rioOnde quero me afogar
E quando a maré despontaE o sol no rio a brilharMãe d’Água brinca com botoAté a luz do luar
E quando a maré despontaE o banzeiro a retornarMãe d’Água brinca com botoAté a luz do luar
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IMAGINE VOLTAR
Quando eu voltar, vai ser assimEu vou cantar, eu vou sorrirAs amizades eu sei vou encontrarPororoca já preparada a me esperar
No fim de tardeVer o pôr-do-solE nas ruasJunto com os amigos, jogar futebol
Eu sei lá tem samba,Pagode e tradiçãoPra você, eu dedico esse refrãoSe a morena comigo vem sambar
Andei do Capim-Mirim até a MatrizDa beira do rio ao MurumuruTomei açaí, castanha e cajuDe volta em teus braços me sinto feliz
E à noite, a lua, na beira do caisSaudade amor nos trazÀ noite, a lua, na beira do caisCapim não te esquecerei jamais
MÃE D’AGUA EM FESTA
Foi a Mãe d’Água em festaBoto a Oiara encantouJunto com a Cobra GrandeA natureza criou
E chegou em São DomingosOnde o caboclo encontrouAquele dom de meninoE a Pororoca voltou
Tem Boto no rioCachaça a tomarTem mulher bonita Na beira do Rio Guamá
Tem boto no rioCachaça pra mimTem mulher bonita Na beira do Rio Capim
Tem festa de São DomingosDo Padroeiro GusmãoBarraca de todos os tiposE na igreja o leilão
Vamos chegar em setembroFesta de fé e devoçãoCírio de NazaréÉ a maior tradição
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Tem clássico no domingoGrêmio e Progresso a jogarO povo todo na estradaO Nagibão vai lotar
A festa será na quadraOu então no Beira-marÀ noite a lua despontaNinguém poderá faltar
ESTA OBRA FOI COMPOSTA EM CARDO 12, IMPRESSA EM PAPEL PÓLEN SOFT 80 SA SUZANO CELULOSE S.A. EM JULHO DE 2020 PARA A EDITORA FOLHEANDO