Carapicuíba, 12 de outubro de 2013
Minha querida amiga Bá, quero contar para você o que tenho aprendido
nesse último ano em minha profissão, e quem sabe fazer com que sinta um
pouco do meu momento atual.
Tenho aprendido muitas coisas, minha criatividade anda aflorada em
vários momentos, sinto que estou me libertando de alguns traumas que os
anos de trabalho em escolas que não levavam em conta as vontades das
crianças e colegas frustrados com a profissão me causaram. Vamos lá, quero
te contar um pouquinho das minhas impressões e sentimentos. Desde que
cheguei à EMEI me deparei com um olhar diferente em relação ao
aprendizado das crianças, percebi que elas eram o foco e eu uma mera
coadjuvante. E isso me deixou muito feliz, acredite, me realizei quando
descobri que não seria necessário ficar o tempo todo no controle, buscando
atenção e impondo minha autoridade. Comecei a ler textos e estudar, como as
crianças pensam na infância. Sim elas pensam! E muito! Sabia que o brincar
era importante, mas dúvidas ainda pairavam em minha mente, será que isso os
faria evoluir de verdade? O alento vinha a cada leitura e experiência aplicada,
não acreditava que aquelas 32 crianças estavam evoluindo, escrevendo,
adorando leituras, aprendendo a se socializar e dividir com o outro brinquedo e
espaço.
Quando cheguei à escola os trinta e poucos alunos pesavam muito, me
sentia perdida com tantas crianças, mas existia uma força em mim e no meu
grupo de trabalho me fazendo acreditar que minhas propostas iriam dar certo.
A cada conversa com minhas parceiras e coordenadora sentia que estava no
caminho correto. Nunca pensei que poderia construir tantas coisas com os
pequenos. Fizemos jogos, cartazes, brinquedos, descobrimos palavras novas
usando o dicionário, cantamos, dançamos e conversamos bastante. Eles
conversam entre si coisas muito interessantes também, os meus ouvidos aos
poucos vão sendo treinados a escutar aquelas conversas bem baixinhas,
falando sobre alguma história que aconteceu pela manhã com a família,
inventado alguma brincadeira de faz de conta ou até mesmo imitando a
professora lendo livros quando estão no cantinho da leitura. Sim amiga, eu
disse cantinho. Pois, na minha escola após estudos, vídeos de vivências
praticadas em outros países. Nós decidimos em grupo mudar a dinâmica da
sala dividindo-a em vários espaços com poucas mesas e cadeiras, nele as
propostas se modificam todos os dias, de acordo com as escolhas de todos. Lá
existe o canto da leitura( uma biblioteca recheada de livros bem legais, que os
pequenos podem levar para casa, ou ficar ali folheando e lendo as imagens),
artes, jogos, casinha, carrinhos e pistas. A cada dia as crianças escolhem uma
maneira de transformá-los.
Nossa amiga, quantas coisas já escrevi e olha que ainda não terminei.
Quero te falar também sobre o “PROJETO ALEGRIAS DE QUINTAL”, que
ocorre no período intermediário, no meu caso das 13 às 15 horas, nele as
crianças praticam diversas atividades de acordo com suas escolhas, elas
podem se alimentar, construir esculturas e brinquedos, jogar, dançar, ver um
filme, e uma infinidade de idéias que não caberiam nessa carta. Isso tudo no
momento que decidirem, as educadoras se dividem pela escola e auxiliam os
alunos, ao término desse período, eu os recebo na sala, eles chegam bem
agitados, com pouca concentração, parecem ter um turbilhão dentro do peito.
Em alguns momentos tenho dificuldade para manter a comunicação e propor
uma nova etapa, e aí me bate uma angustia, não vou negar. Nesse momento
paro para pensar na alegria impressa em cada rostinho e no aprendizado que
vem sendo gerado. Me acalmo e tento acalmá-los também, às vezes consigo,
outras deixo que eles me mostrem o caminho.
Nem tudo é perfeito ou finito, estamos em constantes mudanças. Mas
posso afirmar a você minha amiga, que tenho orgulho de trabalhar em um
ambiente assim, orgulho do trabalho que desempenho, das pessoas que me
cercam e principalmente das crianças que me surpreendem a cada dia.
Espero que mesmo de longe possa sentir um pouquinho de mim.
Um grande abraço,
Aline