CENTRO UNIVERSITÁRIO MUNICIPAL DE SÃO JOSÉ - USJ
CURSO DE GRADUAÇÃO EM PEDAGOGIA
ALINE THAIS DE SOUZA
“A HORA DO RECREIO: recriando oportunidades de brincar”
São José
2012
ALINE THAIS DE SOUZA
“A HORA DO RECREIO: recriando oportunidades de brincar”
Trabalho de Conclusão de Curso
apresentado ao Centro Universitário
Municipal de São José – USJ, como
requisito final para a obtenção do título de
Licenciatura em Pedagogia, realizado sob a
orientação da Professora Simone Ballmann
de Campos.
São José
2012
ALINE THAIS DE SOUZA
Trabalho de Conclusão de Curso elaborado como requisito final para a aprovação no
Curso de Pedagogia do Centro Universitário Municipal de São José – USJ.
Avaliado em 22 de Junho de 2012 por:
___________________________________
MSc. Simone Ballmann de Campos
Orientadora
___________________________________
MSc. Alexsandra de Souza Münich
Membro examinador
___________________________________
MSc. Wanderleia Damásio Maurício
Membro examinador
2
Dedico este trabalho à minha orientadora, que durante o
processo de realização do TCC sempre esteve ao meu
lado, apoiando-me e me incentivando a prosseguir,
mesmo diante de tantas dificuldades.
AGRADECIMENTOS
Primeiramente gostaria de agradecer a Deus por ter me dado forças para proceguir
mesmo diante de momentos difíceis, nos quais por muitas vezes pensei que não conseguiria ir
adiante. Ele me mostrou que, mesmo cansada e com as forças esgotadas, nada é impossível ao
que crê.
Agradeço de forma especial e sincera à minha orientadora Simone pela sua dedicação,
empenho, incentivo, mediação, auxílio na elaboração deste e, principalmente, por acreditar na
sua realização. Ela foi meu porto seguro neste último semestre.
Agradeço a meus pais Pedro José de Souza e Letícia Varela de Souza, que me deram
possibilidades de estar aqui hoje e sempre estiveram ao meu lado, apoiando-me e me
incentivando; fizeram-me entender que o futuro é feito a partir da constante dedicação no
presente.
Ao meu namorado, Jonny de Souza, que sempre esteve ao meu lado, incentivando-me
a continuar mesmo com tantas pedras ao caminho. Agradeço-lhe pelo companheirismo,
dedicação e paciência!!!
Agradeço também a meus amigos que sempre estiveram ao meu lado, não só neste
último semestre, mas por toda a vida acadêmica: Oésle Luiz Alexandre, Norberto Muraro,
Silvio Valentim, Ana Lúcia Rios, Pedro Paulo de Matos, Gabriela, Silvia Carolina, Gustavo
S. entre outros. Obrigada pelo apoio!
Às acadêmicas Tatiane Heinz, Bárbara Alves e Danielle Carioca, e em especial Elaine
Maria Martins, por estarem presentes nos momentos em que mais precisei; mostraram-me que
é possível superar barreiras.
Às diretoras da instituição e professora regente da classe onde foi realizada a pesquisa,
pela atenção e disponibilidade.
À banca examinadora, MSc. Wanderleia Damásio Maurício e MSc. Alexsandra de
Souza Münich, por terem aceito fazer parte deste momento importante.
A todos os professores desta caminhada acadêmica que fizeram com que crescêssemos
na parte profissional e pessoal, cada dia mais! Alguns se tornaram além de professores
amigos. Esses levarei em meu coração.
Por fim, agradeço à instituição, Centro Universitário Municipal de São José- USJ- por
proporcionar a conquista de uma formação superior de qualidade.
É sempre colorido, muitas vezes de papel, com
arcos, flechas, índios e soldados; Cheinho de
presente feitos por papai Noel; O mundo da criança
é iluminado; Baleias gigantescas, violentos
tubarões; Mistérios de um espaço submerso;
Espaçonaves passam por dez mil constelações; O
mundo da criança é um universo, O mundo da
criança é um universo.
Pipas, peões. Bolas, balcões, skates e patins; Vovó,
vovô, mamãe, papai, família; É fácil imaginar uma
aventura; Dentro de uma selva escura; Com
perigos e armadilhas; Viagens para encontrar
minas de ouro; Piratas e um tesouro enterrado
numa ilha; Imagens, game, bate-papos no
computador; O tempo é cada vez mais apressado;
E mesmo com todo esse imenso interativo amor; O
mundo da criança é abençoado; O mundo da
criança é abençoado (TOQUINHO)
RESUMO
O presente trabalho constitui-se em uma pesquisa de campo, que por meio de um estudo de
caso buscou conhecer e analisar o momento do recreio no Ensino Fundamental I. Para isso,
foram realizadas observações do período de recreio e aplicados questionários com docentes e
alunos de uma escola do município de São José – SC. A partir dos dados coletados e à luz do
referencial teórico, que discute os conceitos de lúdico, jogo, brinquedo, brincadeira, recreio e
as relações dos mesmos com o universo infantil sob a ótica de, principalmente, Kishimoto
(2008), Wajskop (2007) e Neuenfeldt (2005), pôde-se identificar quais brincadeiras eram
realizadas pelas crianças no momento do recreio, compreender a importância desse momento
tanto para a criança quanto para o professor e apresentar alternativas para aprimorá-lo, como
por meio do recreio dirigido.
PALAVRAS- CHAVE: Recreio, Recreio dirigido, Jogo, Brinquedo, Brincadeira e Atividades
Lúdicas.
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................... 09
2 CAMINHOS DA PESQUISA ............................................................................................. 12
3 REFERENCIAL TEÓRICO .............................................................................................. 16
3.1 A INFÂNCIA E A CONSTITUIÇÃO DA CRIANÇA ..................................................... 16
3.2 O LÚDICO, O JOGO, O BRINQUEDO E A BRINCADEIRA ........................................ 19
3.2.1 O lúdico ........................................................................................................................... 20
3.2.2 O jogo .............................................................................................................................. 20
3.2.3 O brinquedo ..................................................................................................................... 22
3.2.4 A brincadeira ................................................................................................................... 24
3.3 O MOMENTO DO RECREIO ........................................................................................... 27
4 ANÁLISE DOS RESULTADOS DA PESQUISA ............................................................ 32
4.1 O MOMENTO DO RECREIO ........................................................................................... 27
4.2 A PAUSA PARA O PROFESSOR .................................................................................... 32
4.3 A INTERVENÇÃO PEDAGÓGICA NO MOMENTO DO RECREIO ........................... 39
5 ALGUMAS CONSIDERAÇÕES ....................................................................................... 46
REFERÊNCIAS ..................................................................................................................... 48
APÊNDICES ........................................................................................................................... 53
APÊNDICE A - QUESTIONÁRIO DESTINADO AOS ALUNOS DO 5º ANO ................... 53
APÊNDICE B - QUESTIONÁRIO DESTINADO ÀS PROFESSORAS ............................... 53
APÊNDICE C – DIÁRIOS DE BORDO ................................................................................. 55
ANEXOS ................................................................................................................................. 62
9
1 INTRODUÇÃO
As trajetórias escolares imprimem marcas àqueles que passam pelas instituições de
ensino. Porém, tais marcas nem sempre trazem lembranças agradáveis. Contudo, a trajetória
escolar da pesquisadora que redige este estudo foi marcada por momentos especiais, sendo
que a maior parte deles ocorreu no momento do recreio. Histórias, brincadeiras, lembranças
boas!
Recorda-se ela de que quando estava no Ensino Fundamental, estudava em uma igreja,
pois a escola estava em reforma. Na época, o sinal para o recreio era um sininho e a cada dia
uma criança era escolhida para tocá-lo, era uma festa! No recreio brincavam de amarelinha,
esconde-esconde, elástico, de roda e, sobretudo, de pular corda.
Quando frequentou o Ensino Médio novamente o recreio lhe marcou em função da
“Rádio Escola”. Os alunos esperavam ansiosos pela pausa.
Em 2010, cursando Pedagogia, teve a oportunidade de trabalhar em uma escola
particular do município de São José, onde sua função era auxiliar um menino portador de
necessidades especiais que utilizava cadeira de rodas. Na hora do recreio tal aluno, apesar de
sua deficiência física, pulava corda, jogava bola e interagia com os outros. Percebeu, assim,
que para brincar não existe limites e que para aprender não existe barreiras.
Os estágios vieram no decorrer do percurso acadêmico e a brincadeira e o lúdico na
educação infantil a fascinou. Em meio a tantas temáticas abordadas e à vontade de pôr em
prática tudo que aprendeu, houve dúvida sobre o que trabalhar para finalizar a jornada
acadêmica no curso de Pedagogia. Porém, depois de algumas tardes estudando na biblioteca
da universidade, que estava instalada provisoriamente em um colégio municipal, algo chamou
a sua atenção: ao ver as crianças no recreio relembrou os momentos que vivenciou e passou a
comparar o brincar de ontem com o atual. Dessa forma, surgiram algumas inquietações e
dentre tantas ideias ficou definida a seguinte problemática: Como as instituições de ensino
podem contribuir para que o momento do recreio seja aproveitado pelo educando?
Lopes, Lopes e Pereira (2006, p.272), pautados em Marques et al (2001) relatam que:
As características dos espaços de recreio condicionam os acontecimentos, se
está vazio de estruturas e materiais, as crianças brincam com seus próprios
corpos (lutam, correm e perseguem-se) e frequentemente inventam conflitos.
Se existem materiais, as suas relações são mediadas pelos materiais e as
regras dos jogos, ajudando a resolver conflitos.
10
Ao pesquisar o sentido da palavra “recreio”, constatou-se que ela deriva de recrear,
significando divertimento, prazer. “Recrear vem do latim „recreare‟, que indica a
possibilidade de proporcionar recreio, de divertir, causar alegria, prazer ou brincar,
espaço de tempo concedido às crianças nos intervalos das aulas; lugar próprio para se recrear”
(ALVES, 1998, p.597). Já a recreação, de acordo com Cavallari & Zacharias (1994 apud
NEUENFELDT, 2005, p.15), é “o momento ou a circunstância que o indivíduo escolhe
espontânea e deliberadamente, através do qual ele se satisfaz (sacia) seus anseios voltados ao
seu lazer”. Diante disso, o objetivo geral deste trabalho de conclusão de curso é observar o
momento do recreio dos Anos Iniciais de uma escola pública do município de São José, afim
de analisar a relação das crianças entre si, com o espaço físico, brinquedos e brincadeiras
realizadas neste momento. Pretende-se também identificar as brincadeiras e interação sociais
realizadas pelas crianças no momento do recreio; refletir sobre possibilidades para que o
aluno aproveite o intervalo de forma prazerosa; estudar a importância do brincar para a
criança e propor alternativas para melhorar o momento do recreio.
O recreio escolar deve ser um momento de diversão e descontração dos alunos. É
também um momento de aprendizagem, no qual novas significações estão sendo
constantemente construídas. Por isso, é um momento singular da cultura escolar, devendo ser
valorizado e qualificado.
Nesse sentido Kishimoto (2008, p. 20), afirma que “a criança independente de
brinquedos, classe social ou cultura, brinca com o que tem”, constrói seu mundo imaginário,
no qual tudo é do seu jeito e muitas vezes traz a sua fantasia para a realidade. Um lápis se
transforma em um avião, uma panela vira uma bateria e por aí vai... É algo espontâneo. Como
destaca Rubem Alves (1994, p. 27), “as crianças são seres oníricos1, seus pensamentos têm
asas”...
A brincadeira é de fundamental importância para o desenvolvimento da criança. Lima
(2007), afirma que a brincadeira é um caminho natural do desenvolvimento humano,
possibilita que o indivíduo se desenvolva cognitiva e emocionalmente. Enfatiza também que
a brincadeira oportuniza a construção de uma base sólida para toda vida, pois o brincar
possibilita uma inserção no meio em que o indivíduo vive. A necessidade do lazer, da
brincadeira e de jogos para o desenvolvimento infantil pode ser vivenciada no recreio.
1 oníricos : adj. Relativo aos sonhos. (http://www.dicio.com.br)
11
Assim, neste estudo serão abordados, em princípio, “Os caminhos da pesquisa”, que
possibilitam a compreensão do percurso feito durante a mesma e explicitam os procedimentos
metodológicos adotados.
Na “Revisão de literatura” deste TCC, por sua vez, discute-se os conceitos de lúdico,
jogo, brinquedo, brincadeira, recreio e as relações dos mesmos com o universo infantil à luz,
sobretudo, de teóricos como Kishimoto (2008), Wajskop (2007) e Neuenfeldt (2005).
Já na “Análise e discussão dos dados coletados” procura-se relacionar a teoria
estudada sobre o tema com o que foi constatado no campo de pesquisa, além de se fazer
proposições para o recreio escolar.
12
2 CAMINHOS DA PESQUISA
Para pesquisar precisa-se ter clareza sobre o que seja uma pesquisa. Gil (2002, p.19),
a define como “o procedimento racional e sistemático que tem como objetivo proporcionar
respostas aos problemas que são propostos”. Já Silva (2001, p. 19) afirma que pesquisar é
“procurar respostas para indagações propostas”. Luna (2002, p.24), por sua vez, diz que a
“pesquisa é sempre um elo de ligação entre o pesquisador e a comunidade científica, razão
pela qual sua publicidade é elemento indispensável do processo de produção de
conhecimento”. Lakatos (2008), entretanto, afirma que a pesquisa vai muito além de somente
procurar verdades; pesquisar é localizar respostas às questões propostas, utilizando-se de
métodos científicos.
Por conta de alguns acontecimentos ocorridos durante a realização do projeto de TCC1
o mesmo não foi concluído no prazo devido. Sendo assim, o projeto e a pesquisa aqui
apresentados foram realizados durante o semestre atual. Apesar do curto espaço de tempo, a
intenção inicial era realizar as observações em duas escolas públicas localizadas no município
de São José2 e intervir em uma delas, pois uma das escolas possuía o recreio dirigido e a outra
não. Porém, como as escolas públicas municipais que serviriam como campo de pesquisa
encontravam-se em greve, houve um redirecionamento das ações e optou-se por realizar a
mesma em outra escola, também municipal.
O primeiro contato com tal instituição aconteceu de forma receptiva. Conhecer as
pessoas responsáveis pela coordenação pedagógica e pela direção da escola facilitou a
comunicação entre a pesquisadora e o campo de pesquisa. Logo na primeira conversa com
uma das diretoras, havia uma professora que trabalhava com a coordenação pedagógica junto
à sala e esta mencionou “um projeto que outra professora iria começar na semana seguinte e
que era referente ao momento do recreio. A partir disso pôde-se ampliar a visão de como a
escola entendia o recreio dirigido.” (Diário de Bordo 1, 1.2). Após a explanação do que seria
o projeto, foi solicitado à instituição autorização para observação e aplicação dos
questionários. Contudo, devido ao pouco tempo hábil para a pesquisa, tornou-se improvável
que a pesquisadora conseguisse realizar as intervenções pretendidas durante o recreio:
Foi explicado como seria apresentado o projeto aos alunos e combinamos de
começar as observações na semana seguinte. Porém, minha intenção inicial
2 A opção pela pesquisa em escolas públicas municipais teve o intuito de retribuir e contribuir de
alguma forma com o município onde fica localizado o Centro Universitário Municipal de São José.
13
era trabalhar com o período matutino, pela questão de ter menos crianças, até
porque além de observar queria intervir no recreio, propor algo. Mas, como o
projeto Pic Recreio, elaborado pela professora do 2º Ano, é desenvolvido
apenas no período da tarde, justamente pela quantidade de crianças e por
serem basicamente da mesma faixa etária, fiquei de apenas observar e
aplicar um questionário com os alunos. (Diário de Bordo 1, 1.3)
Ao escutar a conversa com a diretora, uma professora que posteriormente comentou
que ministrava aula para o 5º ano, se propôs a participar do projeto. Comentou que muitos
acadêmicos fazem questionário com seus alunos e se colocou à disposição para que, se
necessário fosse, aplicar questionários ou fazer alguma atividade com eles.
A instituição campo de pesquisa é localizada no município de São José – SC, foi
fundada em 12 de novembro de 1988, iniciou suas atividades em 1989. Segundo o PPP
(2009), o Colégio dispõe de Educação Infantil, Séries Iniciais, Ensino Fundamental, Ensino
Médio e EJA. Possui mais de 200 profissionais e uma média de 4000 alunos. É o maior
colégio do município. Dispõe de dois prédios com total de 39 salas, uma biblioteca, sala dos
professores, laboratórios de informática, ciências e comunicação, secretaria, sala de vídeo,
auditório, sala de dança, cozinha, quadra esportiva e parque.
Um projeto desenvolvido na instituição e denominado “Pic recreio” (ANEXO 1)
acontece duas vezes por semana. O mesmo foi proposto por uma das professoras da escola e é
dedicado ao 1º e 2º ano sendo “desenvolvido da seguinte forma: cada turma confecciona um
tapete e uma caixa de papelão sobre uma temática que está sendo trabalhada como grupo. A
caixa serve para que os educandos guardem os brinquedos e livros que são utilizados durante
o projeto.” (Diário de Bordo 1, 1.4)
O recreio na instituição pesquisada é organizado em dois momentos, “[...] o recreio do
Ensino Fundamental II é realizado das 15h15 às 15h30 e o do Ensino Fundamental I ocorre
das 15h45 às 16h” (Diário de Bordo 2, 2.1). As crianças desta instituição como relatado no
(Diário de bordo 2, 2.5) são bastante agitadas! Buscam o brincar constantemente.
Diante do interesse pelo tema iniciou-se a pesquisa. Segundo Lakatos (2008), uma
pesquisa necessita de levantamento de dados e fontes variadas. Há dois procedimentos através
dos quais se pode levantar os dados: a documentação direta e a indireta. A primeira constitui-
se em levantamento de dados da própria instituição em que ocorre o fenômeno. Sendo assim,
este estudo tem o caráter de pesquisa de campo e utilizou como instrumento de coleta de
dados a observação direta e os questionários aplicados. A segunda utiliza-se de fontes de
dados coletados por outros indivíduos, caracterizada pela pesquisa bibliográfica realizada em
14
livros, artigos científicos, resoluções e leis, para que com a construção do projeto de pesquisa
pudesse-se ampliar a concepção de recreio, brinquedo, brincadeira, lúdico, jogos e infância.
O presente estudo foi direcionado às crianças e seus professores, com a finalidade de
saber como percebem o momento do recreio e, a partir disso, poder-se fazer proposições. O
mesmo pode ser considerado quali-quantitativo. Segundo Gil (1999) na pesquisa qualitativa o
ambiente natural é a fonte direta para coleta de dados e o pesquisador é o instrumento-chave.
Este estudo também pode ser considerado quantitativo pois, de acordo com Silva (2011,
p.10), “traduz em números opiniões e informações para classificá-los e analisá-los.”
Dessa forma, esta pesquisa pode ser caracterizada como “estudo de caso”. Dencker
(2000 apud SILVA, 2011, p.13) traz a definição desse tipo de pesquisa:
O estudo de caso pode abranger análise de exame de registros, observação de
acontecimentos, entrevistas estruturadas e não-estruturadas ou qualquer
outra técnica de pesquisa. Seu objeto pode ser um indivíduo, um grupo, uma
organização, um conjunto de organizações, ou até mesmo uma situação.
Neste estudo foram utilizados questionários e observações. Os questionários foram
respondidos por professores e por alunos de uma turma do 5º ano. De acordo com Silva e
Menezes (2005, p.33-34), pode-se definir questionário como:
Uma série ordenada de perguntas que devem ser respondidas por escrito pelo
informante. O questionário deve ser objetivo, limitado em extensão e estar
acompanhado de instruções As instruções devem esclarecer o propósito de
sua aplicação, ressaltar a importância da colaboração do informante e
facilitar o preenchimento. As perguntas do questionário podem ser: abertas:
“Qual é a sua opinião?”; fechadas: duas escolhas: sim ou não; de múltiplas
escolhas: fechadas com uma série de respostas possíveis.
Gil (1999, p.128) destaca a vantagem da aplicação de tal instrumento ao trazer que
“através do questionário pode-se atingir maior número de pessoas no mesmo espaço
geográfico, garante-se o anonimato das respostas, além de não expor os pesquisados à
influência das opiniões.” A partir do questionário buscou-se averiguar o que as crianças
faziam no momento do recreio, suas brincadeiras prediletas e se havia a necessidade de propor
alterações durante tal momento. Já com as professoras quis-se averiguar o que entendiam por
recreio e se percebiam que possuíam alguma responsabilidade neste espaço escolar. Os
questionários elaborados possuem questões fechadas e abertas e foram testados com uma
professora e uma criança antes de serem efetivamente aplicados.
Para ampliar o estudo utilizou-se também a observação como ferramenta de coleta de
15
dados. Para Lakatos e Marconi (1979, p. 190), “a observação é uma técnica de coleta de dados
para conseguir informações e utiliza os sentidos na obtenção de determinados aspectos da
realidade. Não consiste apenas em ver ou ouvir, mas também em examinar fatos ou
fenômenos que se desejam estudar”. Severino (2007, p.125), em consonância com os autores
citados, afirma que “a observação é todo procedimento que permite acesso aos fenômenos
estudados. É uma etapa imprescindível em qualquer tipo ou modalidade de pesquisa”.
A análise dos dados coletados contou com a codificação das observações
(denominadas de Diários de bordo- DB) e das respostas obtidas nos questionários (Q).
Após a apresentação deste estudo à banca, pretende-se apresentá-lo à escola para que a
mesma possa utilizá-lo para refletir sobre sua prática pedagógica e, se necessário, realizar
mudanças em seu cotidiano.
16
3 REFERENCIAL TEÓRICO
3.1 A INFÂNCIA E A CONSTITUIÇÃO DA CRIANÇA
A infância é compreendida como a primeira fase de uma vida, é um momento de
descobertas contínuas tanto feitas pela criança em relação a si, ao mundo que gira ao seu redor
e à sociedade à qual ela está inserida.
Para Batista (1998, p. 85), a infância compreende um período repleto de
Experiências, descobertas, exploração dos sentidos, dos significados, das
cores, da água, do médico; de criar e recriar ar, da terra, do fogo; dos desejos
de tocar, mexer, desmanchar o que já está feito; de fazer e refazer muita e
muitas vezes de uma mesma coisa; de designar e ressignificar o mundo à sua
moda; de correr, pular, contar e recontar o mesmo conto; de ler, escrever,
cantar dançar ao mesmo tempo; de chorar e rir num curto espaço de tempo;
de viver diferentes papéis: de mãe pai, filho, avô, médico de criar e recriar
um mundo de fantasia e imaginação; de brincar de faz-de-conta, transformar
uma caixa de papelão num tesouro, uma árvore numa floresta, um pneu num
carro, um cabo de vassoura num cavalo, uma mesa numa casinha; de
conversar sozinhas sem se importar a volta com o mundo delas, de viver no
faz de conta a vida dos adultos.
Pensar a criança exige pensar no seu espaço dentro da sociedade. Segundo Vygotsky
(1984), o ambiente ao qual a criança é inserida, as mudanças e regras pré-estabelecidas pela
sociedade, têm influências diretas na personalidade do sujeito. Wajskop (2007, p. 25),
completando tal abordagem, afirma que “a criança está imersa, desde o seu nascimento, num
contexto social [...], desenvolve-se pela experiência social nas interações que estabelece”. A
formação da personalidade de uma criança vai além das relações familiares. Quando se fala
em meio, deve-se contemplar o espaço e o tempo e valorizar, também, o contexto, as relações
e experiências vivenciadas.
Durante a fase de desenvolvimento do indivíduo ele sofre influências que serão
determinantes para o seu futuro, enquanto ser integrante de uma sociedade repleta de
especificidades e regras com as quais ele precisa conviver. Wajskop (2007), ao fazer alusão à
forma de educar, destaca as mudanças ocorridas com o desenvolvimento social. Nesse afã, de
acordo com Àries (2006), as crianças sempre existiram, mas a infância como categoria social
constituiu-se, sobretudo, quando a criança aos poucos foi percebida como um ser diferente do
adulto. Até então participava de todas as atividades cotidianas da família, como trabalho,
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jogos, diversões. Sua vida se misturava à dos adultos. Mudanças significativas também
ocorreram no entendimento sobre as necessidades da infância a partir das contribuições de
Montessori (1870-1909), Decroly (1871-1932), Wallon (1879-1962), Vygotsky (1896-1934),
e Piaget (1896-1980), e outros que perceberam a criança como um ser com características
próprias e questionaram a educação verbal e tradicional de sua época. A partir de então várias
escolas buscaram alternativas de trabalho que contemplassem essa nova ótica educacional que
tinha o aluno como foco.
Fröebel, Montessori e Decroly contribuíram, e muito, para a superação de
uma concepção tradicionalista de ensino, inaugurando um período histórico
onde as crianças passaram a ser respeitadas e compreendidas enquanto seres
ativos [...] marcados por uma concepção cumulativa e progressional de
conhecimento, cuja elaboração vai se dando a partir de uma exploração
empírica da realidade que parte do simples ao complexo e do concreto ao
abstrato. (WAJSKOP, 2007, p.22).
Essas contribuições possibilitaram que a escola passasse a valorizar o contexto social
em que a criança estava inserida e a reconhecê-la como produtora de cultura, além de
considerá-la como sujeito no processo de elaboração das atividades pedagógicas.
Entender o papel da família e dos cuidadores nesta construção é parte fundamental
para compreender e exercer uma influência saudável no desenvolvimento da criança. Muitas
foram as mudanças ocorridas na concepção de família dos últimos anos. As mudanças
ocorreram principalmente nas questões de valores, cultura e na forma de educar os filhos.
[...] houve uma mudança na estrutura familiar e nas relações entre pais e
filhos, a partir da qual o tempo que os pais passam em contato com seus
filhos reduziu-se. A mulher, por sua vez, está deixando de ser a figura
destinada apenas ao lar, pois está saindo para o campo de trabalho para
ajudar no orçamento familiar ou em busca de sua realização profissional e/ou
pessoal. Dessa forma, a educação formal das crianças começa mais cedo nas
creches, pré-escolas e escolas. (NEUENFELDT, 2005, p.17).
Acima, Neuenfeldt (2005) ressalta a importância de se observar a relação entre pais e
filhos, a qual vem sofrendo alterações contínuas dentro da sociedade. Atualmente, na cultura
ocidental, pais e mães costumam dividir a responsabilidade em cuidar dos filhos ou, ainda, em
casos de pais separados ou em produções independentes, a tarefa pode ficar sob
responsabilidade de apenas um deles.
Com o ingresso da figura feminina no mercado de trabalho, as crianças têm sido
inseridas cada vez mais cedo em instituições de ensino, a escola, em meio a isso, além de
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educar para a sociedade, culturizando os indivíduos, passa a educar para a vida, moralizando e
socilizando-os. Entretanto, Vecchio (2005, p.42) destaca que:
a escola é uma maravilhosa colaboradora, mas são os pais que educam... As
bases que desenvolvem o caráter da criança correspondem aos pais, cabendo
à escola o papel de orientadora e reforçadora da educação familiar, que deve
ensinar os modelos de convivência e exemplificar a verdade, a alegria, a paz,
a tolerância, a justiça.
Voltando à infância, Lima (1980, p. 100), ao comentar a importância da criança e da
infância revela que:
Foi Rousseau quem descobriu que este "homúnculo", vestido e tratado como
adulto, era, de fato, um ser especial, com características próprias, perdido e
"massacrado" na floresta selvagem do mundo adulto [...] Uma criança não é
um "adulto em miniatura": deve ser tratada como se estivesse ainda num
processo embriológico extra-uterino, a ponto de até os juízes de menores
encorajarem-se a decidir o que é bom e o que é mau para as crianças num
mundo cada vez mais complexo, em que os meios de comunicação de massa
subverteram todos os tabus arcaicos da educação familiar.
Nesse afã, Wajskop (2007, p. 22) confirma que a criança deve ser vista como um ser
diferente dos adultos; diferencia-se na idade, na maturidade, além de ter certos
comportamentos típicos. O limite entre criança e adulto é muito mais complexo do que uma
mera questão de idade. O limite de idade está associado à cultura, ao momento histórico e aos
papéis determinados pela sociedade. Logo, o meio em que a criança está inserida exerce sobre
ela forte influência.
Assim, longe de ser apenas um organismo em movimento, como de resto
qualquer categoria etária, a criança é também alguém profundamente
enraizada em um tempo e um espaço, alguém que interage com estas
categorias, que influencia o meio onde vive e é influenciado por ele.
(PERROTTI, 1990, p.12).
Diante da exposição ao mundo e dos contatos e relações interpessoais, a formação
sofre influências que serão determinantes para o futuro.
Nesse sentido, os jogos populares refletem a cultura e o conhecimento de um povo.
Integram os saberes de seus antepassados e estimulam as crianças a (re)inventarem e (re)
adaptarem as formas de jogos e brincadeiras de acordo com a sua realidade, faixa etária,
gênero e idade. Porém, com o surgimento dos jogos eletrônicos, os jogos populares foram
relegados ao segundo plano.
19
Na infância moderna assumiu uma face diferente, na qual as crianças se divertem em
frente ao videogame ou ao computador. Alguns jogos eletrônicos oportunizam
desenvolvimento cognitivo a seus jogadores. A outra face da moeda é que se não forem
dosados podem gerar consequências maléficas à saúde e bem-estar de quem os joga, como a
obesidade, o sedentarismo ou a individualidade.
A escola é um ambiente em que as crianças entram em contato com diversos fatores
que auxiliam e influenciam na construção da identidade do grupo. Ela tem um papel
fundamental na construção da identidade autônoma de cada criança que passa por seus
bancos, principalmente na Educação Infantil e nos Anos Iniciais, cuja faixa etária se
identifica, com maior facilidade, com o modelo de ser humano que lhe é apresentado.
3.2 O LÚDICO, O JOGO, O BRINQUEDO E A BRINCADEIRA
Ao longo dos anos percebeu-se a importância dos jogos, brinquedos e brincadeiras na
infância e em outras fases do desenvolvimento humano. Alguns autores (KISHIMOTO, 2008;
LIMA, 1980 e BROUGÈRE 2008) caracterizam o jogo como algo manipulável tanto pelo
adulto quanto pela criança; já a brincadeira é vista como a ação de brincar, que por sua vez,
pode se consolidar por meio de um brinquedo. Moura (1994 apud KISHIMOTO 2008, p. 77)
salienta que “teóricos como Piaget, Vygotsky, Leontiev, Elkonin, entre outros, trouxeram
contribuições para o aparecimento de propostas de ensino com jogos”.
Kishimoto (2008, p.21), entrementes, ao relacionar jogo, brinquedo e brincadeira,
destaca que “brinquedo e brincadeira relacionam-se diretamente com a criança e não se
confundem com jogo”. Isso porque para ela o jogo é feito por regras; a brincadeira livre não é
um jogo e o brinquedo é um objeto que estimula a criatividade; o lúdico, tanto para que se
desempenhe a brincadeira ou o jogo.
A autora também explicita que, para algumas tribos indígenas, a brincadeira nada mais
é do que a preparação da criança para a vida adulta. Como exemplo, cita que ao ver a criança
usando um arco e flecha em uma tribo, pode-se pensar que ela está apenas brincando, porém,
para os índios, a criança além e brincar está se preparando para um dia sair à caça. A
brincadeira, o brinquedo e as regras desse brincar traduzem a cultura indígena.
Dessa forma, a seguir detalhar-se-á o lúdico, o jogo, o brinquedo e a brincadeira,
considerando-se outras abordagens sobre o assunto.
20
3.2.1 O lúdico
O lúdico tem como objetivo alcançar o prazer; ele pode ser a situação imaginável da
criança, mesmo que ela não esteja brincando ou jogando, pois a sua imaginação está em ação.
Como afirma Perrotti (1990, p. 20), o “lúdico é o jogo, a brincadeira, a criação contínua,
ininterrupta, intrínseca à produção”.
O termo lúdico pode ser considerado parte do brincar ou do jogar. Dantas (1998 apud
KISHIMOTO, 1998, p.111) remete ao mesmo como “tudo aquilo que se refere à infância”, ou
seja, toda atividade que seja executada de forma prazerosa pela criança.
Neuenfeldt (2005, p.52), traz a definição de lúdico nesta mesma perspectiva:
O lúdico é um meio através do qual alcançamos o objetivo de prazer; é
espontâneo, diferindo de toda atividade obrigatória, pertencendo à dimensão
do sonho, da magia e da sensibilidade; é baseado na atualidade,
privilegiando a criatividade, a inventividade e a imaginação por sua ligação
com o prazer. Reconhecer o lúdico é reconhecer a especificidade da infância,
permitindo que as crianças sejam crianças e vivam como crianças,
descobrindo a linguagem dos nossos desejos e a corporeidade.
A atividade lúdica para a criança é de extrema importância, pois colabora com o seu
desenvolvimento cognitivo. A mesma é necessária para a vida do ser humano enquanto
indivíduo, tanto na infância quanto na idade adulta. Nesse sentido, Brougère (2008, p. 13)
afirma que “os objetos lúdicos dos adultos são chamados exclusivamente de jogos, definindo-
se assim pela sua função lúdica”. Isso indica que o adulto também necessita de um momento
para o “brincar”, pois embora tenha crescido e adquirido responsabilidades, enquanto ser
humano o adulto requer desse tempo para si, para estabelecer relações com a criança que há
em seu interior.
3.2.2 O jogo
Sabe-se que os jogos e as competições sempre despertaram interesse no ser humano,
seja por esporte ou diversão.
O jogo, para Kishimoto (1994, p.16), pode ser visto como "o resultado de um sistema
linguístico que funciona dentro de um contexto social; um sistema de regras; e um objeto".
Esses três aspectos permitem a compreensão do jogo, diferenciando significados atribuídos
por culturas diferentes, pelas regras e objetos que o caracterizam. Assim, embora possam
receber a mesma denominação em diferentes locais, os jogos podem adquirir características e
21
regras de acordo com o contexto social e cultural em que estão inseridos. Dessa forma,
incluídos na categoria jogo estão o faz-de-conta, os jogos simbólicos; os motores, sensórios-
motores, intelectuais ou cognitivos; os jogos individuais ou coletivos; os metafóricos, verbais,
de palavras; os políticos; de adultos, de crianças, de animas, de salão e uma infinidade de
outros que identificam uma multiplicidade de fenômenos.
Ainda de acordo com Kishimoto (Op. cit), o jogo vincula-se ao sonho, à imaginação,
ao pensamento e ao símbolo. Para a autora, o homem como ser simbólico se constrói
coletivamente e sua capacidade de pensar está ligada à capacidade de sonhar, imaginar e jogar
com a realidade. Nesse sentido, o jogar é percebido como gênese da metáfora humana. Ou
seja, possibilita humanizar o indivíduo.
Lima (2007), de forma mais concisa, define jogo como simplesmente uma brincadeira
com regras, que contribui para o desenvolvimento da criança. Brougère (2008, p.13),
entretanto, afirma que “o jogo pode ser destinado tanto à criança quanto ao adulto: ele não é
restrito a uma faixa etária”.
O jogo, uma atividade marcada por regras, envolve a criança de forma lúdica e
interage com o universo infantil. Oliveira (2007, p. 31), nesse afã, indica que “o uso do jogo
na educação formal se fundamenta quase sempre nos estudos acerca do seu papel no
desenvolvimento infantil”.
Abreu (2002, p. 14), nesse afã, aponta que:
No jogo, as regras são parâmetros de decisão, uma vez que, ao iniciar uma
partida, ao aceitar jogar, cada um dos jogadores concorda com as regras que
passam a valer para todos, como um acordo, um propósito que é de
responsabilidade de todos. Assim, ainda que haja um vencedor e que a
situação de jogo envolva competição, suas características estimulam
simultaneamente o desenvolvimento da cooperação e do respeito entre os
jogadores, porque não há sentido em ganhar a qualquer preço.
O jogo oportuniza o desenvolvimento da criança. Enquanto joga ela desenvolve a
iniciativa, a imaginação, o raciocínio, a memória, a atenção, além de adquirir noções espaciais
e conscientização de regras e responsabilidades impostas pela sociedade, ou seja, o jogo pode
colaborar tanto na formação cognitiva quanto emocional e social.
Kishimoto (1998, p. 21), também enfatiza que:
Uma das características do jogo consiste efetivamente no fato de não dispor
de nenhum comportamento específico que permita separar claramente a
atividade lúdica de qualquer outro comportamento. O que caracteriza o jogo
22
é menos o que se busca do que o modo como se brinca. O estado de espírito
com que se brinca.
Percebe-se, assim, que o jogo faz parte do cotidiano das pessoas. Mesmo sem perceber
elas podem estar jogando.
Para Piaget (2002), os jogos dividem-se em jogos de exercício, simbólico e regras. A
finalidade dos jogos de exercício é o próprio prazer do funcionamento. Já os jogos simbólicos
têm como função a compensação, a realização de desejos e a liquidação de conflitos,
expressam-se no faz de conta e na ficção. Já os jogos de regras são aqueles cuja regularidade é
imposta por um determinado grupo, resultado da organização coletiva das atividades lúdicas.
O jogo pode ser utilizado como uma ferramenta no processo de ensino-aprendizagem,
conforme afirma Kishimoto (2008, p.77):
O raciocínio decorrente de que os sujeitos aprendem através do jogo é de que
este possa ser utilizado pelo professor em sala de aula. As primeiras ações de
professores apoiados em teorias construtivistas foram no sentido de tornar os
ambientes de ensino bastante ricos em qualidade e variedade de jogos, para
que os alunos pudessem descobrir conceitos inerentes às estruturas dos jogos
por meio de sua manipulação.
Para o aluno o jogo é uma forma lúdica de aprendizagem, é algo que prende sua
atenção, uma forma de envolver o educando com a aula, fazendo assim com que ele
compreenda o conteúdo com mais facilidade.
as situações de jogos são consideradas como parte das atividades
pedagógicas, porque são elementos estimuladores do desenvolvimento.
Sendo assim, o jogo é elemento do ensino apenas como possibilitador de
colocar em ação um pensamento que ruma para uma nova estrutura.
(MOURA, 1994, apud KISHIMOTO, 2008, p.78).
Os jogos são elementos que possibilitam diversas aprendizagens. Sendo assim, podem
e devem ser utilizados no contexto escolar.
3.2.3 O brinquedo
A história do brinquedo percorre a história da humanidade. De acordo com alguns
estudiosos como Kishimoto (2008) e Brougère (2008), os brinquedos são objetos concretos
que possibilitam o ato de brincar, esses também podem ser utilizados como ferramentas no
processo de ensino aprendizagem. Muitos brinquedos conhecidos hoje têm sua origem nas
23
mais remotas civilizações. E alguns deles se apresentam em versões praticamente inalteradas,
se forem consideradas sua distância temporal e cultural. É o caso das bonecas; de acordo com
Zatz , Halaban (2007, p. 19) “elas foram construídas possivelmente há quarenta mil anos, na
Ásia e na África, onde eram usadas em rituais”. Os autores ainda apontam outros brinquedos
como:
[...] os piões, outro brinquedo que manteve-se atual com o passar das
gerações, foram criados por volta do ano 3000 a.C. na Babilônia. As pipas
são provenientes da China e, por sua vez, remontam o ano 1000 a.C. Outros
brinquedos, como os soldadinhos de chumbo, provêm do século XVIII, que
eram usados como peças de jogos de guerra praticados por reis, como o
francês Luís IX. (ZATZ , HALABAN 2007, p. 20)
Neste afã Kishimoto (2000) afirma que independente de época, cultura e classe social,
o brinquedo faz parte da infância.
O brinquedo, segundo Kishimoto (2008), é um objeto com o qual a criança interage e
forma uma brincadeira. Em consonância com a autora citada, Brougère (2008, p. 62-63)
destaca que o brinquedo pode ser considerado um objeto utilizado na hora da brincadeira:
[...] O brinquedo é aquilo que é utilizado como suporte numa brincadeira;
pode ser um objeto manufaturado, um objeto fabricado por aquele que
brinca, uma sucata, efêmera, que só tenha valor para o tempo da brincadeira,
um objeto adaptado. Tudo nesse sentido pode se tornar um brinquedo, e o
sentido de objeto lúdico só lhe é dado por aquele que brinca enquanto a
brincadeira perdura.
Para Kishimoto (Ibid, p. 21) “o brinquedo [...] enquanto objeto, é sempre suporte de
brincadeira. É o estimulante material para fazer fluir o imaginário infantil”. Tal objeto pode
servir para identificar a personalidade de cada criança. A autora (1998, p.46) ainda afirma
que:
O brinquedo é a essência da infância e seu uso permite um trabalho
pedagógico que possibilita a produção do conhecimento e [...] a estimulação
da afetividade na criança. A criança estabelece com o brinquedo uma relação
natural e consegue extravasar suas angústias e paixões; suas alegrias e
tristezas, suas agressividades e passividades. Independente de época, cultura
e classe social, os jogos e os brinquedos fazem parte da vida da criança, pois
elas vivem num mundo de fantasia, de encantamento, de alegria, de sonhos,
onde realidade e faz-de-conta se confundem.
24
Contudo, ao longo dos anos os objetos denominados “brinquedo” vêm se modificando.
Nossas bisavós brincavam com bonecas de palhas, nossas avós com bonecas de pano, nossas
mães com bonecas de borracha e a cada nova geração tal brinquedo sofre influências dos
recursos tecnológicos e apresenta inovações. Uma indústria de consumo se estabeleceu, então,
a partir da constituição da infância.
Brougère (2008), na mesma perspectiva, afirma que cada faixa etária tem um
brinquedo adequado. Entretanto, quando a criança cresce (Ibid, p. 20-21), “ela se distancia da
representação que exalta seu estado infantil. Ela é criança e sabe o que isso significa [...] O
mais provável é que ela vá procurar imagens sedutoras de seu futuro estado adulto, através da
beleza, da riqueza ou da aventura”. De acordo com o ator (Loc. cit), “o universo feminino
parece ficar junto da família e do cotidiano. Enquanto o do menino, que começa sem dúvida,
com a miniatura do automóvel, traduz a vocação para a descoberta dos espaços longínquos,
escapando do peso do cotidiano”. Com isso, Brougère faz alusão às brincadeiras distinguindo-
as entre os gêneros. Meninas e meninos ganham brinquedos diferentes, e em cima destes, é
que cada gênero constrói e realiza os seus jogos, inventam e reinventam brincadeiras e
constituem sua identidade.
Kishimoto (2008, p. 18) mostra que “os brinquedos podem incorporar um imaginário
pré-existente criado pelos desenhos animados, seriados televisivos, mundo de ficção científica
com motores e robôs, mundo encantado dos contos de fada, estórias de piratas, índios e
bandidos”. O brinquedo nas mãos de uma criança se torna uma ferramenta para o brincar.
Qualquer objeto pode ser percebido como um brinquedo, pois é por meio deste que a
imaginação infantil vai além. Com reutilização de materiais diversos ou a reciclagem, pode-se
observar as múltiplas formas das crianças expressarem o seu imaginário.
O ato de brincar é fundamental para a formação física, emocional e intelectual da
criança. E os brinquedos são ferramentas que podem ser utilizadas nas escolas para que os
alunos aprendam e se desenvolvam de maneira mais saudável. Cada brinquedo pode estimular
determinadas qualidades e habilidades, tudo depende de como a criança fará uso dele.
3.2.4 A brincadeira
De acordo com Friedmann (2006, p.42), a "brincadeira é o ato ou efeito de brincar.
Etimologicamente, „Brincando + eria‟: significa divertimento, passatempo, distração".
25
Wajskop (2007) enfatiza que a discussão sobre o brincar e a brincadeira não é algo
contemporâneo, tem bases nas ideias de Platão e Aristóteles que associavam ao estudo do
prazer. Em sua época, utilizavam doces e guloseimas em forma de números como forma
lúdica de ensinar. Entretanto, a autora (Op. cit, p. 19) salienta de que “é apenas com a ruptura
do pensamento romântico que a valorização da brincadeira ganha espaço na educação das
crianças pequenas. Anteriormente era geralmente considerada como fuga ou recreação [...]”.
Durante a infância, a brincadeira desempenha um papel fundamental na formação e no
desenvolvimento físico, emocional e intelectual infantil. Naturalmente curiosa, a criança se
sente atraída pelo ambiente que a rodeia, cada pequena atividade é para ela uma possibilidade
de aprender e pode se tornar uma brincadeira. Onde quer que a criança esteja o lúdico está
sempre presente para que desse modo ela descubra o mundo à sua volta e aprenda a interagir
com ele.
A criança leva a brincadeira muito a sério e é importante que o adulto a respeite nesse
sentido. Ela considera que está ocupada quando está brincando.
Para Olivier (1976 apud SILVA, 2007, p.4), a brincadeira “é uma necessidade para a
criança, que precisa tanto disso como do ar que respira”. Quando uma criança não se
predispõe a brincar, algo de errado pode se passar com ela.
Medel (2011, p. 90), na mesma perspectiva, enfatiza que “a brincadeira é um aspecto
fundamental na vida das crianças e chave para sua aprendizagem”.
Para entender o significado da brincadeira, de acordo com Kishimoto (1998), deve-se
analisar o contexto sociocultural ao qual ela está inserida, para que se possa compreender o
real sentido deste para a criança envolvida com a brincadeira. Nesse ensejo pode-se perceber
que a atividade do brincar para a criança é marcada pela influência cultural, o que se torna um
elemento primordial na mediação entre o sistema do seu grupo social e as funções
psicológicas do indivíduo.
Brougère (1995, p.97), nesse sentido, afirma que “a brincadeira é um processo de
relações interindividuais, portanto de cultura”. Já a cultura, segundo a concepção de Valsiner
(2000), refere-se à organização estrutural de normas sociais, valores, regras de conduta e
sistemas de significados compartilhados pelas pessoas pertencentes a certo grupo com uma
história de convivência e relações de pertencimento. Para ele, a cultura tem duas formas de ser
vista: como entidade coletiva (significados compartilhados) ou como entidade pessoal
(significados pessoais). A criança é inserida em ambas as relações e, por isso, não realiza a
26
brincadeira em um âmbito apenas relacionado à brincadeira livre, pois ela parte de
significados culturais e experiências de seu cotidiano e os transfere para sua brincadeira.
Brougère (2008, p.15) destaca também a importância do brincar com um objeto e
afirma que o brinquedo “tem seu valor expressivo, estimula a brincadeira ao abrir
possibilidades de ações coerentes com a representação: pelo fato de representar um bebê, uma
boneca-bebê desperta atos de carinho, de troca de roupa, de dar banho [...]”.
Cabe ressaltar que tanto a brincadeira com um objeto concreto, quanto com o
imaginário tem sua importância; ambos auxiliam no desenvolvimento da criança. A
brincadeira é uma ação livre que ultrapassa os limites do real.
Dessa forma, Kishimoto ( 1998, p.150), destaca que:
As brincadeiras de faz-de-conta são mais duradouras, com efeitos positivos
no desenvolvimento, quando há imagens mentais para subsidiar a trama.
Crianças que brincam aprendem a decodificar o pensamento dos parceiros
por meio da metacognição, o processo de substituição de significados, típico
de processos simbólicos.
Vygotsky (1984, p. 103), por sua vez, assinala que:
Uma das funções básicas do brincar é permitir que a criança aprenda a
elaborar/resolver situações que vivencia no seu dia-a-dia, para isso, usará
capacidades como a observação, a imitação e a imaginação. Essas
representações, que de início podem ser "simples", de acordo com a idade da
criança, darão lugar a um faz-de-conta mais elaborado que, além de ajudá-la
a compreender situações conflitantes, ajuda a entender e assimilar os papéis
sociais que fazem parte de nossa cultura (o que é ser pai, mãe, filho,
professor, médico) [...].
Ao brincar, a criança transcende em suas experiências. Brinca com carrinho imitando
o som do carro mecânico, joga bola imitando seus familiares e amigos, brinca de casinha
imitando a mãe, brinca de boneca com o cuidado que uma mãe tem ao carregar um bebê no
colo e, geralmente, adota tal bebê como se a boneca fosse seu filho legítimo. A criança cria
relações afetivas com seus brinquedos.
A criança não se encontra diante de uma reprodução fiel do mundo real, mas
sim de uma imagem cultural que lhe é particularmente destinada. Antes
mesmo da manipulação lúdica, descobrimos objetos culturais e sociais
portadores de significações. Portanto, manipular brinquedos remete, entre
outras coisas, a manipular situações culturais originadas numa determinada
sociedade. (BROUGÈRE, 2008, p. 43).
27
As crianças buscam referência no ser adulto tentando imitá-lo. O jogo simbólico na
criança, que tem início entre os 2-6 anos, implica a representação de um objeto ausente à
brincadeira do faz de conta, fazendo a comparação entre um elemento oferecido e um
elemento imaginado. Por exemplo, a criança que desloca uma caixa imaginando ser um
automóvel, representa simbolicamente este último e satisfaz-se com uma ficção, pois o
vínculo entre o significante e o significado permanece subjetivo.
Oliveira (2000, p.45) afirma que “no brincar, casam-se a espontaneidade e a
criatividade com a progressiva aceitação das regras sociais e morais”. Em outras palavras,
percebe-se que o brincar alimenta a criatividade da criança, ajuda-a a criar a sua identidade e,
também, conceitos e regras que serão utilizados pelo sujeito em seu grupo social.
3.3 O MOMENTO DO RECREIO
A palavra recreação vem do latim „recreare’, que significa recrear (GUERRA, 1982,
P. 11). Atividades recreativas envolvem criatividade e espontaneidade, sendo algo prazeroso,
que promove a qualidade de vida e atende às necessidades físicas, mentais ou psíquicas não só
da criança, mas do ser humano. O momento do recreio deve proporcionar esta possibilidade
aos educandos e educadores durante o período em que estão na escola.
De acordo com as pesquisas feitas por Neuenfeld (2005), cada escola possui sua
cultura, o que permite que o recreio de cada instituição também tenha suas especificidades.
O recreio escolar contempla desde a infância à fase adulta de um indivíduo em fase
escolar e pode ser considerado como um tempo para merendar, um momento de lazer, um
espaço para socializar ou mesmo um período dedicado à extravasar as energias economizadas
em sala de aula. Também é um espaço propício a jogos, brincadeiras e conversas informais
dentro da escola.
Depois de algum tempo na escola a criança faz do recreio parte de sua rotina.
Gonçalves (apud PLACCO, 2006) mostra a importância da rotina no âmbito escolar ao
comentar que esta “direciona-se para o funcionamento do cotidiano, para as normas
reguladoras do processo de decisão-ação, para a manutenção de procedimentos e de recursos
de trabalho. O compromisso é com a estabilidade”. Sendo assim, a rotina adquire um papel
importante para que haja ordem dentro da escola.
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Neste sentido, Medel (2011, p.84) salienta que “a organização do tempo requer uma
tomada de decisões a respeito dos diversos períodos que constituem a jornada diária, suas
características, sequência e duração”. O momento do recreio faz parte desta organização.
Dentro de uma instituição de ensino, toda e qualquer ação por trás deve ter uma
intencionalidade que considere a criança e seu desenvolvimento.
Nesse ínterim, o Conselho Nacional de Educação/CNE, no Parecer CEB nº 05/97
(2010, p. 17), afirma-se:
O recreio é efetivo trabalho escolar. Portanto, não são apenas os limites da
sala de aula propriamente dita que caracterizam, com exclusividade, a
atividade escolar de que fala a lei. Em vista disso, as atividades livres ou
dirigidas durante o recreio integram o projeto pedagógico da escola, com a
presença e efetiva orientação de professores [...] As escolas devem tornar o
recreio em ambiente livre ou organizado, favorável à convivência, lazer,
esporte, jogos, leitura, bate-papo, música, entre outros.
O parecer do CEB citado acima, propõe que o recreio escolar, sendo dirigido ou livre,
seja organizado. O „organizado‟ no momento do recreio, refere-se ao mesmo estar inserido no
projeto pedagógico da escola e, em consequência, receber atenção dos professores e demais
funcionários da mesma com o intuito de torná-lo um espaço agradável, que contemple as
necessidades da criança, sendo aproveitado com atividades sadias. As atividades „sadias‟
podem ser consideradas como aquelas que auxiliam o desenvolvimento da criança, como o
brincar e o merendar.
De acordo com Medel (2011) Durante o recreio as crianças “podem integrar-se a
outras, propostas pelo educador [...] É aconselhável que o período do recreio se realize ao ar
livre, de modo que as crianças possam desfrutar da natureza e desenvolver atividade física de
forma lúdica”. (Ibid, p. 97). As brincadeiras ao ar livre são as mais esperadas pelas crianças,
pois geralmente o restante do tempo na escola ficam retidas entre quatro paredes.
O momento do recreio, segundo pesquisas realizadas por Neuenfeldt (2005, p.21), “é
tão, senão mais esperado pelas crianças do que a Educação Física, pois é o momento em que
podem correr, saltar, jogar e brincar”. Ao saírem da sala com destino ao intervalo, extravasam
suas energias como podem; as brincadeiras mais comuns são as de correr, o que pode
ocasionar alguns acidentes.
No recreio, as crianças brincam livremente, usam e abusam da imaginação. Placco
(2006, p. 50) salienta que a pausa é “um rico momento de recomposição de si mesmo, de re-
29
integração de pensamentos, valores e ações, de re-arranjo de modos de conhecer e interpretar
o mundo, a si mesmo e aos outros”.
Em muitos locais o recreio é sinônimo de pausa em função do curto espaço de tempo
que o caracteriza, de 15 a 20 minutos. De acordo com Neuenfeldt (2005, p.16), "nenhum
professor, quer abrir mão dos poucos minutos de intervalo que tem por direito como qualquer
outro trabalhador [...] esse momento é uma trégua entre professor e aluno”.
Nessa perspectiva, de acordo com Gonçalves (1995 apud PLACCO, 2006, p.50),
As atividades de pausa destinam-se ao atendimento das necessidades
individuais do sujeito e incluem o descanso, os períodos de férias, as ações
descomprometidas com resultados, a atenção para fatos e circunstâncias não
vinculadas à função social da instituição e os elementos subjetivos das
relações interpessoais. São compromissos com a humanização do trabalho.
Assim como para o aluno, o recreio é para o professor uma pausa para descansar,
descontrair, socializar com os demais professores. Essa pausa é necessária para que o
organismo humano se revitalize e reinicie as próximas atividades de maneira mais saudável.
Diante desta situação, poucos profissionais se dispõem para estarem juntos aos
educandos no momento do recreio. Pode-se perceber que muitos tentam ajudar como podem,
mesmo assim essa falta de interação distancia a relação entre professores e alunos.
Um exemplo disso é o fato ocorrido em uma escola de Guaporé, RS (REVISTA
NOVA ESCOLA, 2002, p.50) na qual a diretora constatou que no recreio as crianças
deveriam conviver em um ambiente agradável, diferente do “caos” observado em sua escola
em tal momento. Junto com os professores buscou encontrar alternativas para aprimorar o
recreio. Resolveram ampliá-lo para 30 minutos e dividi-lo em duas etapas, ou seja, enquanto
uma turma estava lanchando a outra estava brincando e vice-versa. O momento do lanche
passou a ser dirigido pelos professores regentes de classe e os outros quinze minutos, nos
quais eram realizadas brincadeiras e jogos, era dirigido pelos professores de Educação Física
e demais funcionários da instituição. Sendo assim, os professores regentes passaram a ter o
seu momento de pausa e as crianças diminuíram o número de acidentes e de brigas durante o
recreio. Nesse afã, os educadores perceberam que as crianças voltavam mais calmas para a
sala de aula.
O recreio dirigido ou orientado tem como objetivo propor um momento lúdico e
pedagógico, no qual os alunos participam de atividades propostas por professores e ou
funcionários da instituição de ensino. Nele, as brincadeiras e atividades são organizadas para
30
que as crianças delas participem, divirtam-se e diminuam as situações de conflito. Mas, esse
tipo de intervenção nem sempre possibilita que os alunos possam se expressar livremente,
criando e recriando suas formas de brincar.
Para que o educando sinta prazer nesse momento, os estudos de Neuenfeldt (2005)
indicam que se deve aplicar atividades com as quais o educando se identifique e que sinta
vontade de praticá-las. Cislaghi e Carlos Neto (2002 apud NEUENFELDT 2005, p.21) aponta
que é neste momento que o aluno extravasa suas energias:
[...] a escola está sendo cada vez mais cobrada para suprir a carência de
movimentação das crianças, consequência da violência urbana e da falta de
espaços físicos adequados. Dessa forma, é necessário que os novos projetos
de reformas e de construção de escolas considerem a necessidade de haver
equipamentos e espaços que ampliem as vivências sociais.
Há pouco tempo, a maioria das famílias morava em casas e as crianças brincavam na
rua com os vizinhos. Hoje, em função da violência, do tráfego constante de veículos e da
moradia em apartamentos, são poucos os lugares que têm um espaço próprio para a criança
brincar. Em comunidades rurais ou mais afastadas da urbanização ainda pode-se ver as
crianças brincando de jogar bola, pega-pega, esconde-esconde na rua. Mas, as que moram em
áreas urbanizadas reelaboraram uma forma de brincar dentro de casa, com brinquedos
eletrônicos como videogame e jogos no computador. Para muitas dessas crianças a escola é o
ambiente em que há oportunidade de desgastar as energias.
Por meio dos espaços ampliados e diversificados no momento do recreio, pode-se
trabalhar de várias maneiras com as crianças, sempre respeitando-as e organizando os espaços
para que elas possam usufruir dos objetos e dos ambientes de maneira lúdica e prazerosa. Para
Faria (2003, p.74), “a organização do espaço físico [...] deve levar em consideração todas as
dimensões humanas potencializadas nas crianças: o imaginário, o lúdico, o artístico, o afetivo,
o cognitivo etc.” Assim, os espaços podem ser organizados para contribuir na construção da
identidade da criança e do grupo e, portanto, devem ser diferenciados para que proporcionem
experiências positivas tanto para os meninos quanto para as meninas.
Barbosa e Horn (2001, p. 73) afirmam que:
[...] o espaço físico é fundamental para o desenvolvimento das crianças, na
medida em que ajuda a estruturar as funções motoras, sensoriais, simbólicas,
lúdicas e relacionais. Inicialmente as crianças têm as suas percepções
centradas no corpo; concomitante com o seu desenvolvimento corporal, sua
percepção começa a descentrar-se e estabelecer as fronteiras do eu e do não-
eu. Consequentemente, os espaços educativos não podem ser todos iguais, o
31
mundo é cheio de contrastes e de tensões, sendo importante às crianças
aprenderem a lidar com isso.
A criança ao longo de seu desenvolvimento começa a perceber o que há ao seu redor,
perceber o mundo e sua função dentro dele. Como Barbosa referencia acima, as crianças
precisam interagir em espaços diferentes e atraentes, e o solicitar a participação e
envolvimento delas ao construir esses espaços proporciona-lhes a sua identificação com o
ambiente em que está inserida. O auxílio na organização dos espaços até mesmo dentro de
sala faz com que iniciem a percepção do seu papel na sociedade.
Também é no espaço da sala de aula e do recreio que as questões de gênero, sociais e
afetivas se configuram. A construção de tais conceitos iniciam-se geralmente, no ambiente
familiar e, posteriormente, são transferidos e compartilhados pela sociedade. No momento do
recreio, ao se distinguir as brincadeiras de meninos e meninas recebe-se influências culturais
que, se forem confrontadas, nem sempre são aceitas pelo grupo.
[...] crianças identificam mais facilmente as brincadeiras de seu próprio
gênero - não sabem colocar as do outro gênero, mais sabem de quais elas
próprias brincam. Segundo, a experiência prévia de uma criança em relação
às brincadeiras do outro gênero, por exemplo, uma menina jogar futebol ou
um menino pular corda, dificulta sua posterior classificação da brincadeira
como só de um gênero. Isso desconstrói a ideia de que as brincadeiras por si
sós estabelecem quem deve brincar. (WENETZ, 2005, p. 160).
Atualmente a sociedade ainda vê como diferente aquele menino que brinca de boneca
ou aquela menina que só quer brincar de carrinho ou de correr, apesar disso, tem se notado
uma mudança de costumes a cerca de gênero nos últimos anos. Essa curiosidade por conhecer
o brinquedo do outro começa na Educação Infantil e quando as crianças chegam nos Anos
Iniciais, poucas levam brinquedos para a escola, brincam mais com o corpo e com a
imaginação. É nessas brincadeiras que se constitui a identidade de cada ser. Assim, o recreio
também é um momento que contribui para aumentar ou diminuir a autoestima da criança.
32
4 ANÁLISE DOS RESULTADOS DA PESQUISA
A análise dos dados do presente estudo tem como intenção responder
significativamente às questões levantadas pela pesquisa.
Dessa forma, realizou-se a análise dos resultados em três eixos:
*O momento do recreio;
*A pausa para o professor;
*A intervenção pedagógica no momento do recreio.
A partir dos aspectos supracitados iniciou-se a análise das observações e das respostas
dos questionários. Em relação aos mesmos, fez-se primeiramente uma leitura flutuante dos
dados registrados e, na sequência, uma codificação das respostas obtidas, (numeração dos
questionários) e, concomitantemente, da indicação de qual é a questão analisada. Exemplo:
questionário 1, questão 1 (Q1.1). No que se refere às respostas apresentadas nos questionários,
foram tabuladas e organizadas em gráficos ou tabelas. Os questionários e suas respostas se
encontram nos anexos da pesquisa (ANEXO 1, 2, 3 [...] 29). O mesmo procedimento foi
realizado com as observações, chamadas de “Diário de bordo”. Cada parágrafo do texto foi
numerado. Assim, na observação 1, parágrafo 2, temos a numeração 1.2 (DB 1.2). As
observações também estão registradas nos apêndices da pesquisa (APÊNDICE C).
4.1 O MOMENTO DO RECREIO
A escola é responsável pelo bem-estar da criança nos momentos em que elas se
encontram dentro da instituição. De acordo com o Conselho Nacional de Educação/CNE, no
Parecer CEB nº 05/97 (2010, p. 17)
O recreio é efetivo trabalho escolar. Portanto, não são apenas os limites da
sala de aula propriamente dita que caracterizam, com exclusividade, a
atividade escolar de que fala a lei. Em vista disso, as atividades livres ou
dirigidas durante o recreio integram o projeto pedagógico da escola, com a
presença e efetiva orientação de professores [...] As escolas devem tornar o
recreio em ambiente livre ou organizado, favorável à convivência, lazer,
esporte, jogos, leitura, bate-papo, música, entre outros.
Pôde-se perceber que a coordenação e os demais funcionários da escola que serviu
como campo de estudo se preocupam com o bem-estar das crianças, e se esforçam para que o
momento do recreio se torne um espaço sadio para esses educandos. O recreio na instituição é
33
organizado da seguinte forma: “(DB 2, 2.1) [...] o recreio do Ensino Fundamental II, é
realizado das 15h15 às 15h30” e “(DB 2, 2.5) do ensino fundamental I ocorre das 15h45 às
16h”. Neste segundo momento acontece o projeto “Pic recreio” já explicitado anteriormente
nos caminhos da pesquisa.
A partir de tal proposta pôde-se averiguar que a instituição estava buscando
alternativas para o recreio e que possuía um projeto de recreio dirigido.
Durante as observações evidenciou-se que quando bate o sinal para o recreio, os
educandos querem é sair correndo para brincar; não importa se a professora está perto ou não,
eles correm, pulam e gritam. A pesquisadora relata a situação presenciada quando chegou à
instituição: “encontrei-me em um verdadeiro emaranhado de vozes e muita correria; pude
perceber que a brincadeira mais praticada neste momento pelas crianças era a de correr.” (DB
2, 2.1). Nesse sentido, o recreio observado corrobora com a pesquisa feita por Neuenfeld
(2005, p.11) na qual afirma que “o recreio nos dias em que não há aula de Educação Física,
tornou-se o único momento que as crianças possuem para se movimentar”. Os alunos ao
saírem das salas de aula, „explodem‟ em movimento. A utilização de atividades em sala de
aula que contemplem exercícios com o corpo pode auxiliar a criança a prestar,
posteriormente, mais atenção nas atividades que requerem concentração. Se o plano de aula
do professor contemplar atividades de expressão corporal poderá obter resultados
significativos no que se refere à aprendizagem. Nesse sentido, tanto dentro como fora de sala,
as situações de jogos são consideradas como parte das atividades
pedagógicas, porque são elementos estimuladores do desenvolvimento.
Sendo assim, o jogo é elemento do ensino apenas como possibilitador de
colocar em ação um pensamento que ruma para uma nova estrutura.
(MOURA, 1994 apud KISHIMOTO, 2008, p.78).
Questionadas em relação a gostarem ou não do brincar, as crianças foram unânimes
em responder que sim, conforme o gráfico a seguir.
Gráfico 2: Interesse das crianças pelo brincar
100%
0%
Sim
Não
34
Fonte: Alunos que participaram da pesquisa.
A partir desses dados pôde-se perceber que a brincadeira possui importância na
infância. Ao observar o recreio constatou-se que a maioria das meninas fica mais sossegada,
normalmente em grupos, sentadas conversando, ou em brincadeiras tranquilas. Já os meninos
correm, pulam, gritam, como foi evidenciado nas observações realizadas:
A questão de gênero estava bastante evidente neste espaço, as meninas
andavam de um lado para outro em grupos, muitas de braços dados,
conversando; em relação aos meninos, raros encontravam-se sentados ou
andando calmamente, a maioria brincava de correr ou lutinha com os
colegas. (DB 2, 2.2).
Atualmente, em nossa cultura as questões de gênero relativas ao brincar são
influenciadas pela mídia, pela sociedade e pelos familiares, ficando determinado para a
criança que menino deve brincar com brinquedos de menino e menina com os de menina.
Entretanto, a criança quando pequena ainda não tem esse entendimento e muitas vezes não vê
sentido para não poder brincar com tal brinquedo, a curiosidade é maior. De acordo com cada
gênero e idade as crianças conseguem diferenciar as brincadeiras que são consideradas como
de menino ou de menina. Nesse ínterim, Wenetz (2005, p. 160) destaca que “a experiência
prévia de uma criança em relação às brincadeiras do outro gênero, por exemplo, uma menina
jogar futebol ou um menino pular corda, dificulta sua posterior classificação da brincadeira
como só de um gênero”.
Contudo, apesar de algumas meninas reunirem-se em grupo, por meio das observações
e questionários aplicados foi constatado que as crianças preferem brincar de brincadeiras
agitadas, como a pesquisadora evidencia durante a observação: “pude perceber que a
brincadeira mais praticada neste momento pelas crianças era brincadeiras de correr” (DB 2,
2.1).
O gráfico seguinte expõe a opinião da criança sobre as brincadeiras realizadas durante
o recreio na escola que serviu como campo de pesquisa. Faz-se a ressalva, neste momento,
que os questionários foram preenchidos pelas crianças do 5º ano e que as mesmas não
participam do projeto Pic Recreio. Percebe-se, então, por meio dos dados apresentados, que
apesar de brincarem sobretudo de correr, tais crianças consideram as atividades do recreio
divertidas e criativas. Talvez por morarem principalmente em prédios, nos arredores da
escola, sintam necessidade de correr, gastar energia e apreciam tal brincadeira.
35
Gráfico 7: Sobre as brincadeiras realizadas no momento do recreio:
31%
24%12%
9%
10%
5%5%
2% 2%
Divertidas
Criativas
Não gosto de brincar no recreio
Variadas
São propostas por meus colegas ou por mim
Não há tempo para brincar no recreio
Outra
Desinteressantes
São propostas por algum professor ou funcionário da escola
Não há brincadeiras no recreio
Fonte: Alunos que participaram da pesquisa
Na turma analisada, 5º ano, a maioria dos alunos possui a mesma faixa etária (Gráfico
1). Porém, nessa fase do desenvolvimento, alguns já são pré-púberes e outros não. Apesar do
interesse pelas brincadeiras coletivas, novas características relativas à faixa etária podem ser
evidenciadas.
Gráfico 1: Idade dos alunos
8%
72%
16%
4%
09anos
10anos
11anos
12anos
Fonte: Alunos que participaram da pesquisa
De acordo com a observadora “algumas crianças ainda ficam sentadas nos bancos a
lanchar, muitas sozinhas. Pode-se refletir sobre o porquê dessas crianças ficarem tão
36
quietinhas”. (DB 3, 3.2). Imagina-se que a criança possa ser um pouco tímida, que não esteja
com vontade de brincar ou que seus interesses sejam outros. (DB 3, 3.3). “Ao conversar com
uma dessas crianças, a menina me pareceu um pouco tímida, penso que estava com vergonha
de lanchar na mesa e foi no banco que tem ao lado. Sentei ao lado dela e a perguntei se ela
não iria brincar. Ela respondeu que lancharia primeiro. Logo depois uma menina sentou em
seu lado e ficaram conversando. Em outros momentos as percebi afastadas do grupo” (DB 3,
3.3). Se o professor participar do recreio, assim como a pesquisadora, poderá perceber que
talvez a criança em questão necessite de um olhar mais apurado, de um questionamento sobre
o que está ocorrendo e, quem sabe, de uma intervenção adulta para ser estimulada a brincar,
ou ainda, para resolver problemas com algum colega de classe.
O recreio do período vespertino da instituição observada é dividido por espaços e
idade. De acordo com a pesquisadora:
O primeiro recreio acontece de um lado da escola e o segundo do outro lado. O
Ensino Fundamental II, ao qual pertencem as crianças maiores, recreia na parte do
colégio onde se encontra a cantina, sala dos professores, cozinha, banheiro, alguns
bancos de concreto e uma área livre bem grande. O espaço é dividido por um portão
de ferro. Do outro lado, onde é realizado o recreio do Ensino Fundamental I, ficam a
biblioteca, cantina, banheiro, quadra de esportes e algumas mesas grandes para o
lanche. Como a cozinha fica no outro espaço, a cozinheira traz a merenda e distribui
aos alunos neste espaço. Pode-se perceber que as crianças comem bem rapidinho
para logo irem brincar. (DB 3, 2.1).
Assim, percebe-se que a escola tem se preocupado com a organização do momento do
recreio. A pesquisa de Faria (2003), indica que os espaços podem e devem ser organizados
para contribuir na construção da identidade da criança e do grupo. Dessa forma (Ibid, p.74) “a
organização do espaço físico [...] deve levar em consideração todas as dimensões humanas
potencializadas nas crianças: o imaginário, o lúdico, o artístico, o afetivo, o cognitivo etc.”
Assim, “de acordo com uma professora, o recreio foi dividido de tal forma para diminuir o
risco de possíveis acidentes durante o mesmo” (DB 3, 2.1). De um lado do colégio, onde fica
a quadra e a biblioteca, ficam os menores e do outro lado, que também possui um espaço
amplo, ficam os maiores. Com isso, as brincadeiras de correr causam menos acidentes.
Em dias de chuva, pelo que foi constatado durante as observações, nem todas as
turmas descem para o intervalo, algumas lancham dentro de sala, isso porque “o espaço físico
coberto seria pouco para tamanha quantidade de crianças” (DB 4, 4.1). Entretanto, planejar
atividades para esses dias oportunizaria maior qualidade para o recreio da escola observada,
uma vez que geralmente as crianças não sabem o que devem fazer.
37
4.2 A PAUSA PARA O PROFESSOR
O momento do recreio é curto, são cerca de 15 minutos de pausa. De acordo com
Neuenfeldt (2005, p.16), "nenhum professor, quer abrir mão dos poucos minutos de intervalo
que tem por direito como qualquer outro trabalhador [...] esse momento é uma trégua entre
professor e aluno”. De acordo com Gonçalves (1995 apud PLACCO, 2006, p.50),
As atividades de pausa destinam-se ao atendimento das necessidades
individuais do sujeito e incluem o descanso, os períodos de férias, as ações
descomprometidas com resultados, a atenção para fatos e circunstâncias não
vinculadas à função social da instituição e os elementos subjetivos das
relações interpessoais. São compromissos com a humanização do trabalho.
De acordo com relatos das professoras da instituição, o recreio ainda é um momento
desorganizado.
A mesma professora que relatou que havia um projeto que seria posto em
execução, disse que ela não perderia seu tempo de descanso ficando com os
alunos. Ela comentou que deixa os brinquedos, os orienta e vai fazer seu
lanche. As outras professoras ainda afirmaram que esse momento estava
bastante desorganizado. E a coordenadora completa dizendo que não estava
sendo um recreio sadio, mas que com o projeto iria mudar. (DB 1, 1.3).
Desta forma pode-se perceber que embora acontecesse o projeto “Pic recreio”, nem
sempre há uma intervenção pedagógica. A professora tem direito e necessita usufruir de seu
tempo para descansar, mas se conseguisse participar do recreio em alguns dias teria
oportunidade de estabelecer novos vínculos com seus alunos e melhor entender sua dinâmica
de interação e de aprendizagem. Contudo, outros profissionais da escola poderiam promover
às crianças alguma atividade durante a pausa. Se o recreio fizer parte do projeto político da
escola, todos são responsáveis por ele e é possível fazer uma escala para que os professores
também tenham seu merecido e saudável momento de pausa.
No questionário aplicado aos professores foi revelado que para eles o momento do
recreio serve necessariamente, conforme gráfico abaixo, “para o lanche, troca de informações
e relaxar” (R1) e, também, como “tempo de descanso, alimentação e organização de
materiais” (R2).
Gráfico 7: O professor necessita do horário do Recreio? Por quê?
38
100%
0%
Sim
Não
Fonte: Professores que participaram da pesquisa
Dessa forma, percebe-se que o momento do recreio é tão necessário para o professor
quanto para o aluno, pois o organismo humano precisa de pausa para se revitalizar e reiniciar
as próximas atividades de maneira mais proveitosa. Entretanto, como muitos profissionais da
educação, para conseguir um salário digno, trabalham de 40 a 60 horas semanais em sala de
aula, possuem poucos momentos destinados ao descanso. O tempo reservado para este se
resume aos minutos do recreio ou durante as aulas de Educação Física. Contudo, o professor
tem que se programar, fazer os planejamentos de aula, corrigir provas e trabalhos, e é
geralmente nestes intervalos que também realizam tais atividades. Se a instituição de ensino
considerar estes aspectos, poderá associar aos projetos do recreio outros profissionais que
trabalham na instituição, como os bibliotecários ou coordenadores.
4.3 A INTERVENÇÃO PEDAGÓGICA NO MOMENTO DO RECREIO
As crianças desta instituição possuem vivacidade, como enfatiza a pesquisadora em
um de seus relatos (DB 5, 5.2). “As crianças estavam com toda energia! Todo e qualquer
lugar era espaço para as brincadeiras; ao lado da quadra da escola tem uma escada pra subir
no prédio, este parece ser um espaço em que as crianças adoram brincar!”
Os questionários aplicados com os alunos revelou que 100% das crianças questionadas
gostam de brincar. Entre suas brincadeiras favoritas ficaram os jogos eletrônicos (videogame,
computador, assistir TV), bola (futebol, vôlei, basquete etc), pega-pega, esconde-esconde,
corda e dança da cadeira. As brincadeiras propostas como amarelinha, roda (ex. gato e o rato,
batata-quente), bambolê, bola de gude e casinha foram pouco citadas (6% cada). Sendo assim,
pôde-se constatar que as brincadeiras preferidas, além dos jogos eletrônicos, envolvem
39
atividade física mais intensa. Certamente, a idade das crianças que participaram da pesquisa
(de 9 a 12 anos) interferiu nesse resultado. Em cada fase de seu desenvolvimento as crianças
apresentam interesse distinto pelas brincadeiras. Conhecer as etapas do desenvolvimento
infantil auxiliará no planejamento de atividades recreativas.
Gráfico 3: Brincadeira favorita
13%
10%
9%
16%
4%4%5%
4%
7%
20%
4%1% 3%
Pega-pega
Esconde-esconde
Corda
Bola (Futebol, Vôlei, Basquete etc)
Amarelinha
Brincadeiras de roda ( ex. gato e o rato, batata-quente)
Bambolê
Bola de Gude
Dança da cadeira
Jogos Eletrônicos (videogame, computador, assistir TV)
Casinha
Fonte: Alunos que participaram da pesquisa
Ao serem questionados sobre “Qual sua brincadeira favorita no momento do recreio?”
33% das crianças preferiram pega-pega e 19% bater cartinha. Porém, 16% dos alunos
responderam que não gostam de brincar ou que não brincam nesse momento, e, 13% preferem
ficar andando ou conversar. Em princípio pode parecer algo preocupante não gostar de
brincar, mas a partir da pré-adolescência a conversa com os amigos substitui algumas
brincadeiras. Todavia, os alunos necessitam de um olhar atento para constatar se esta hipótese
está correta ou se há alguma intercorrência durante a pausa, pois geralmente é nesse momento
que situações como o bullying podem ocorrer.
40
Gráfico 6: Brincadeira favorita no momento do recreio
32%
3%20%13%
13%
16%
3%
Pega-pega
Esconde-esconde
Bater cartinha
ficar andando
pega-pega
Não brinco, ando com meus amigos e converso
jogo "pusera"
Fonte: Alunos que participaram da pesquisa.
Dentre os dias em que foi feita a observação, em dois deles foram aplicados o projeto
Pic recreio. Mas, poucas crianças foram envolvidas no projeto e alunos de outras turmas
paravam para olhar. Outras, ainda, se aproximam para brincar com os que estavam sentados
no tapete.
Uma turma levou o tapete, alguns brinquedos e livros. Na verdade havia
mais livros do que brinquedos. Havia cerca de vinte crianças neste espaço.
Algumas crianças de outras turmas passavam e ficavam a olhar. Outros
sentavam-se juntos para olhar, ler e brincar. Junto deles havia uma
professora acompanhando-os.( DB 4, 4.2)
Durante o projeto pôde-se perceber que as crianças envolvidas com o mesmo estavam
bastante entretidas. Muitas ainda não haviam terminado de lanchar; então, enquanto algumas
brincavam outras lanchavam naquele espaço.
Analisando o próximo grafico, referente ao questionário aplicado em (APÊNDICE A),
constata-se que 38% das crianças revelam brincar com colegas de outras turmas e 31% de sua
sala, o que corrobora com as observações relatadas anteriormente. Talvez, se o projeto “Pic
recreio” abrangesse outras turmas, várias crianças seriam contempladas com novas
brincadeiras e oportunidades durante a pausa.
41
Gráfico 7: Com quem você costuma brincar no recreio?
38%
31%
10%
21%
0% Com os colegas de outra sala.
Somente com os colegas de sala de aula.
Com as crianças que estão envolvidas na brincadeira proposta pelo professor durante o recreio.
Não costumo brincar no recreio.
Fonte: Alunos que participaram da pesquisa.
Durante a execução do projeto proposto o interesse dos demais alunos da instituição
ficou evidente, “pois crianças de outras turmas sentavam-se para brincar”.(DB 6, 6.3). “No
tapete havia várias caixas com brinquedos, me aproximei e perguntei o que eles estavam
fazendo, me responderam que estavam brincando”. (DB 6, 6.1). “Dentre os brinquedos havia
quebra-cabeça, brinquedos de montar, além de livros de histórias infantis, entre outros.” (DB
6, 6.2). Pelo que foi observado, no final do recreio poucas crianças ainda estavam brincando
com os materiais propostos no tapete. A maioria delas foi brincar de correr!
Sabe-se que em casa e dentro da escola que a criança inicia sua concepção de
identidade. Na brincadeira, a imitação dos adultos tem um papel fundamental na estruturação
e conquista da identidade infantil. “Dentre as brincadeiras realizadas, pude perceber que duas
meninas brincavam com uma boneca de mamãe e filhinha, caracterizando assim a imitação do
adulto na brincadeira.” (DB 6, 6.4).
As crianças, ao serem questionadas sobre o que pensam do recreio, apontaram diversas
respostas, como “porque é a hora da gente comer e brincar” (Q 6.1), “porque eu lancho e
descanso um pouco” (Q 6.2), “porque é importante para falar e comer” (Q 6.3), “porque eu
tenho tempo de falar com minhas amigas” (Q 6.4), “porque senão passo fome” (Q 6.5) e
outras mais. Destaca-se, nas respostas das crianças, a importância dada ao momento de
merendar, pois 61% referiram-se a sentir fome no intervalo das aulas. Talvez seja oportuno a
escola averiguar se as crianças possuem uma alimentação adequada em casa.
42
Gráfico 6: O recreio é importante para você? Justifique.
100%
0%
Sim
Não
Fonte: Alunos que participaram da pesquisa.
Entretanto, 100% das crianças destacaram o recreio como algo importante, cada uma
tem um objetivo, um desejo ou expectativa para esse momento.
Nos dias em que é proposto o projeto para os anos iniciais pode-se perceber que as
crianças brincam com o que têm. Os espaços mais aproveitados são a quadra, onde correm,
pulam e brincam e, por incrível que pareça, o banheiro: “pode-se ver rostinhos espiando e a
criança que estava do lado de fora deu um susto, e gritando um grupo de crianças entrou para
se esconder no banheiro. Isso aconteceu algumas vezes no recreio de hoje, não que nos outros
não ocorrera, mas neste a frequência foi maior (DB 5, 5.3).
Nesses dias, as crianças sentem falta de materiais para brincar, como relata a
pesquisadora:
No início do recreio, os professores de Educação Física sempre passavam
com os materiais (bola, corda, bambolês) para guardá-los em uma sala ao
lado da quadra esportiva. As crianças que lá estavam, olhavam para a
professora com os olhos brilhando, como quem diz: Eba! Vamos brincar!!!
Neste dia alguns dos alunos se aproximaram da professora e perguntaram se
podiam brincar com a bola, ela respondeu que no momento não, só depois,
na aula de Educação Física. As crianças voltaram correndo à quadra para
brincar. (DB 5, 5.2)
Ao analisar a situação citada anteriormente percebe-se dois vértices: de um lado a
professora, que estava em seu horário de descanso, e, do outro, o do aluno, que solicitava um
instrumento para brincar, e que não foi atendido. Então, foi brincar com o que tinha
disponível: o espaço físico e sua imaginação.
Durante a graduação e principalmente nos estágios realizados apresenta-se aos
estudantes de Pedagogia a importância dos jogos, brinquedos e brincadeiras para a criança, e
43
o quanto as mesmas necessitam desses momentos. A partir da pesquisa em foco pode-se
constatar que os educandos necessitam de espaço para brincar livremente, com aquilo que têm
vontade e interesse, mas que a interação com os adultos da escola pode trazer benefícios para
o recreio.
O recreio dirigido tem como objetivo propor um momento pedagógico, no qual os
alunos participam de atividades propostas por professores e ou funcionários da instituição.
Este momento, se bem planejado, pode auxiliar na criatividade, cooperação, socialização,
destreza, alto gasto calórico, desenvolvimento motor, socialização, interação com o meio,
retirada da ênfase no aspecto competitivo dos jogos, coordenação, agilidade, ritmo,
diminuição da violência e bullying no ambiente escolar.
O processo de interação da criança com o espaço escolar pode ser feito de diversas
formas. Recreio é cultura, sendo assim por que não fazer um show de talentos neste
momento? Um projeto transdisciplinar que trabalhe com atividades como apresentações
musicais e teatro poderia auxiliar os alunos no processo de ensino-aprendizagem de forma
lúdica. Outra sugestão seria a realização de gincanas culturais e amostras de trabalhos, as
quais também podem ser incentivadas por meio de projetos iniciados em sala de aula.
Na pesquisa realizada, as crianças foram convidadas a sugerir atividades para o recreio
(APÊNDICE A). Dentre as respostas, a mais cotada foi pega-pega. Porém, outras ideias foram
apontadas, como fazer brincadeira de cartinha com as classes, concorrendo a medalhas; vôlei;
dança da cadeira; amarelinha; esconde-esconde; adoleta; bolinha de gude; jogos de tabuleiro;
damas; basquete; futebol; corda; bambolê e batata-quente. Sendo assim, pode-se perceber que
as mais sugeridas ainda são as brincadeiras que exercitam a parte física do corpo, mostrando a
necessidade de extravar energia.
Essa proposta também foi feita aos educadores. Uma professora propôs brincadeiras
de roda, pula corda, amarelinha e hora do conto. Ao ser questionada se estaria disposta a
contribuir para efetivar as brincadeiras no recreio afirmou que sim. Infelizmente, só esta
professora respondeu tal questão.
Diante deste, ficam mais algumas sugestões para posteriores projetos dentro da escola.
O resgate de brincadeiras populares como cantigas de roda, brincadeiras com corda,
amarelinha, elástico, elefante-colorido, bate-manteiga, dança da cadeira, corrida de ovos, além
de jogos como vôlei, futebol, basquete. Os jogos populares refletem a cultura e o
conhecimento de um povo. Integram os saberes e virtudes de seus antepassados e estimulam
as crianças a (re) inventarem e readaptarem as formas de jogos e brincadeiras de acordo com a
sua realidade, faixa etária, gênero e idade. Já os jogos de concentração, como xadrez, quebra-
44
cabeça, jogo da memória, cruzadinhas e jogos de perguntas e respostas são importantes
estimuladores do cérebro e auxiliam no processo de ensino-aprendizagem. As crianças em
idade escolar devem ser incentivadas a utilizá-los, tanto dentro como fora de sala de aula.
Além dos brinquedos industrializados, é interessante que seja incentivada a elaboração
de brinquedos com materiais recicláveis, que podem fazer parte de um projeto de sala para
posterior uso no recreio. É uma proposta econômica e que garante a integração das crianças
no processo de criação e produção de brinquedos. Outros professores, como os de Educação
Física, podem colaborar para a realização da proposta. Brinquedos como boliche com garrafas
pet, peteca e vai e vem, são exemplos que podem ser aproveitados no momento do recreio,
cultivando desta forma a conscientização da importância da reciclagem.
Por fim cabe sugerir um rodízio entre os professores de classe, professores de
Educação Física e demais profissionais da instituição para interagir com as crianças no
momento do recreio, propondo cada dia uma atividade.
Pode-se ainda destinar para cada dia da semana um tema, como por exemplo:
Segunda-feira: Multiatividades: cantinho das danças, de artes etc
Terça-feira: Show de talentos
Quarta-feira: Resgate de brincadeiras populares
Quinta-feira: Dia da leitura ou brincadeira livre
Sexta-feira: Jogos, brinquedos e brincadeiras cooperativas
Desta forma, ficam sugestões para que o recreio seja percebido como espaço e
responsabilidade de todos. E sugere-se, também, que a proposta pedagógica da escola deva
contemplar este assunto.
45
5 ALGUMAS CONSIDERAÇÕES
No início deste estudo a pesquisadora imaginou que seria fácil de ser abordado tal
tema, até quis mudá-lo por não se sentir motivada a fazer uma pesquisa que pensava já saber a
resposta. Posteriormente, com as leituras e pesquisas de campo, percebeu as primeiras
dificuldades. Ao buscar por teóricos que discutem tal tema, pouco material foi encontrado,
exclusivamente, sobre o momento do recreio.
A ideia inicial da pesquisa, de interagir com os educandos promovendo algo diferente
para o recreio, foi deixada de lado em função do pouco tempo para a realização do trabalho e
por dificuldades em função da greve dos professores municipais. Assim, os objetivos da
pesquisa também foram alterados: ao invés de interagir propondo atividades, a pesquisadora
passou a observar e analisar o que os alunos faziam durante o recreio e permitiu que,
utilizando-se das ferramentas de pesquisa, sugerissem atividades para futuras proposições no
intervalo escolar.
Por meio da análise dos dados, constatou-se que os vinte e cinco alunos que
participaram do estudo enfatizaram a importância do recreio. Desta forma pode-se confirmar a
teoria explicitada no referencial teórico que afirma que o momento do recreio é tão importante
quanto o de Educação Física, pois permite aos alunos extravasar as energias economizadas em
sala de aula, além de possibilitar momentos de brincar, conversar, se divertir, enfim ter um
tempo prazeroso.
A proposição do recreio dirigido teve como objetivo direcionar um momento lúdico,
com atividades propostas pelos profissionais da instituição de ensino aos educandos. É
importante ressaltar que o recreio dirigido precisa contemplar espaço para as brincadeiras
livres das crianças, pois do contrário as perdas não justificarão os ganhos. A brincadeira é
algo espontâneo, que vem de dentro da criança, quando ela tem vontade, motivando assim, a
criatividade da mesma.
As escolas que empreenderam um projeto de recreio dirigido afirmam verificar a
diminuição da violência e a interação entre professor e aluno. A atividade dirigida pode
proporcionar ainda outros benefícios, como auxiliar na cooperação entre alunos, a apropriação
de brincadeiras não conhecidas anteriormente, o desenvolvimento da iniciativa e do respeito
pelo outro.
A partir das observações foi constatado que a escola em que foi realizada a pesquisa,
está buscando alternativas para aprimorar o recreio e que a coordenação da mesma se
preocupa com o bem-estar dos alunos, propondo atividades diferenciadas. Porém, como o
46
projeto inclui apenas o primeiro e segundo ano, faz-se necessário envolver os outros alunos da
instituição no projeto, tendo em vista o interesse deles pelo mesmo, como explicitado durante
as observações. Além disso, pode-se organizar um rodízio entre os professores, para que todos
possam participar do recreio e, concomitantemente, usufruir da pausa necessária para o
descanso. A proposta realizada na escola de Guaporé, RS, pode auxiliar na reflexão sobre o
tema.
Para efetivar um novo projeto em uma escola é necessário que os profissionais que
dela fazem parte aceitem colaborar com o mesmo. Por isso, se o PPP da escola contemplar o
recreio como espaço educativo, outros projetos podem ser incorporados ao cotidiano escolar.
Ao analisar os dados obtidos, não foi possível abordar a amplitude do assunto em foco.
Sendo assim, ficam sugestões para posteriores pesquisas, como questões de gênero ou de
bullying durante o recreio e envolvimento dos professores.
Sabe-se que mudanças são necessárias dentro de uma instituição de ensino, afinal este
é um espaço democrático. A escola pesquisada, ao tencionar o projeto “Pic recreio” mostrou
isso. Nem sempre o que é proposto dá certo. Erros e acertos fazem parte de uma conquista,
uma conquista que é diária. Se cada um fizer sua parte dentro de um projeto conjunto bons
resultados poderão ser colhidos. Vale a pena ousar e buscar novos horizontes educativos.
47
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52
APÊNDICES
APÊNDICE A - QUESTIONÁRIO DESTINADO AOS ALUNOS DO 5º ANO
O momento do recreio
1) Sua idade _______.
2) Você gosta de brincar?
a) ( ) Sim
b) ( ) Não
3) Qual a sua brincadeira favorita?
a) ( ) Pega-pega
b) ( ) Esconde-esconde
c) ( ) Corda
d) ( ) Bola (Futebol, Vôlei, Basquete etc)
e) ( ) Amarelinha
f) ( ) Brincadeiras de roda ( ex. gato e o rato, batata-quente)
g) ( ) Bambolê
h) ( ) Bola de Gude
i) ( ) Dança da cadeira
j) ( ) Jogos Eletrônicos (videogame, computador, assistir TV)
k) ( ) Casinha
l) ( ) Prefiro Ler
m) ( ) se outra, qual?
____________________________________________________
4) Qual sua brincadeira favorita no momento do recreio?
R. ________________________________________________
5) Com quem você costuma brincar no recreio?
a) ( ) Somente com os colegas de sala de aula.
b) ( ) Com os colegas de outra sala.
c) ( ) Com as crianças que estão envolvidas na brincadeira proposta
pelo professor durante o recreio.
d) ( ) Não costumo brincar no recreio.
e) ( ) Outro _______________________________________
53
6) O recreio é importante para você? Justifique.
a) Sim ( ) _________________________________________________
b) Não( ) _________________________________________________
7) O que você pensa sobre as brincadeiras realizadas no momento do
recreio? Assinale as respostas que considerar adequadas.
a) ( ) Divertidas
b) ( ) Criativas
c) ( ) Variadas
d) ( ) Desinteressantes
e) ( ) São propostas por meus colegas ou por mim
f) ( ) São propostas por algum professor ou funcionário da escola
g) ( ) Não há brincadeiras no recreio
h) ( ) Não gosto de brincar no recreio
i) ( ) Não há tempo para brincar no recreio
j) ( ) Outra:__________________________________________.
8) Você gostaria de sugerir algumas brincadeiras ou atividade para o
momento do recreio?
a) ( ) Sim . Qual ou quais?
_______________________________________________________
b) ( ) Não
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APÊNDICE B - QUESTIONÁRIO DESTINADO ÀS PROFESSORAS
1) Formação Profissional
a) ( ) 2º grau completo
b) ( ) Graduação Incompleta, Curso: Pedagogia
c) ( ) Graduação, Curso: ____________________.
d) ( ) Pós-Graduação, Curso:_________________.
2) Tempo de serviço em sala de aula?
a) ( ) Primeiro ano
b) ( ) 1 a 2 anos
c) ( ) 3 a 5 anos
d) ( ) mais de 6 anos
e) ( ) mais de 10 anos
f) ( ) mais de 15 anos
3) O que pensa sobre o Recreio nesta escola?
a) ( ) Ótimo
b) ( ) Bom
c) ( ) Regular
4) O recreio desta instituição de ensino pode ser melhorado?
a) ( )Não
b) ( )Sim. Como?
5) Se você pensa que o recreio precisa ser melhorado, estaria disposta em
contribuir para que o mesmo seja aprimorado?
a) ( ) Sim
b) ( ) Não, porque___________________________________
________________________________________________
55
6) Você possui experiência com outras propostas que dinamizavam
o Recreio?
a) ( ) Sim, Como eram?
____________________________________________________
____________________________________________________
b) ( ) Não
7) O professor necessita do horário do Recreio? Por quê?
_________________________________________________________
_________________________________________________________
8) O que entende por brincar?
_________________________________________________________
________________________________________________________
09) Que brincadeiras são realizadas no momento do recreio nesta escola? O
que você pensa sobre elas?
_______________________________________________________
10) Você costuma presenciar situações em que há desrespeito entre os
alunos no momento do recreio? Justifique.
_______________________________________________________
11)Você teria algo a propor para o momento do recreio?
a) ( ) Sim
____________________________________________________
b) ( ) Não
56
APÊNDICE C - DIÁRIOS DE BORDO
Diário de bordo 01: 05 de abril de 2012
(1.1) Ao chegar à instituição fui muito bem recebida, uma das diretoras me levou em
sua sala para conversarmos, lá estavam mais quatro professoras que ajudam na coordenação
pedagógica no período da manhã e dão aula na parte da tarde. Ao iniciarmos a conversa ela
me perguntou sobre o tema que estava pesquisando, comentei que seria o recreio e elas me
olharam um tanto surpresas. A diretora continuou me perguntou se eu já havia visto algum
recreio naquela instituição, respondi que sim, e ela me questionou se mesmo assim eu gostaria
de continuar, pediu para que eu refletisse pois aquele colégio possui uma grande quantidade
de alunos. Inicialmente me indicou outros colégios para fazer a pesquisa e destacou que ali
em sua concepção não seria o lugar mais adequado para que fosse realizada a pesquisa.
(1.2) Neste momento uma das professoras mencionou um projeto que outra professora
iria começar na semana seguinte e que era referente ao momento do recreio, me veio uma
esperança! A diretora colocou que daí sim poderia ficar interessante minha pesquisa, que
conversaria com a professora para confirmar quando começaria e eu poderia observar o antes,
durante e depois do projeto.
(1.3) Neste momento a mesma professora que relatou que havia um projeto que seria
posto em execução, disse que teria o projeto, mais ela não perderia seu tempo de descanso
ficando com os alunos, ela deixa os brinquedos, os orienta e vai fazer seu lanche. As outras
ainda afirmaram que esse momento estava bastante desorganizado. E a coordenadora
completa dizendo que não estava sendo um recreio sadio, mais que com o projeto iria mudar.
(1.3) Foi explicado como seria apresentado o mesmo aos alunos e combinamos de
começar as observações na semana seguinte. O projeto “Pic recreio” (ANEXO 02) que
acontece duas vezes por semana na instituição, foi proposto por uma das professoras da
instituição e é dedicado ao 1º e 2º ano, o mesmo é desenvolvido da seguinte forma: cada
turma confecciona um tapete e uma caixa de papelão sobre uma temática que esta sendo
trabalhada com a turma. A caixa serve para que os educandos guardem os brinquedos e livros
que são utilizados durante o projeto.
Minha intenção inicial seria trabalhar com o período matutino, pela questão de ter
menos crianças, até porque além de observar queria intervir, propor algo. Mas como o projeto
é desenvolvido apenas no período da tarde, justamente pela quantidade de crianças e por
57
serem basicamente da mesma faixa etária, fiquei de apenas observar e aplicar um questionário
com os alunos.
Diário de bordo 02: 09 de abril de 2012
(2.1) Ao chegar na instituição estava acontecendo o recreio do Ensino Fundamental II,
que é realizado das 15h15 às 15h30. Encontrei-me em um verdadeiro emaranhado de vozes e
muita correria, pude perceber que a brincadeira mais praticada neste momento pelas crianças
eram brincadeiras de correr.
(2.2) A questão de gênero estava bastante evidente neste espaço, as meninas andavam
de um lado para outro em grupos, muitas de braços dados, conversando; em relação aos
meninos, raros encontravam-se sentados ou andando calmamente, a maioria brincava de
correr ou lutinha com os colegas.
(2.3) As questões de gênero neste momento apesar de ficarem evidentes, em certos
grupos crianças de gêneros diferentes brincavam juntas, pelo que pude observar a favorita
deles é de pega-pega, meninos e meninas brincam juntos, nesse dia uma das meninas estava
dentro do banheiro e olhando para fora, o menino a assustou e ela saiu correndo para dentro
do banheiro gritando como se estivesse tomado um susto, logo depois saiu ela e mais duas
meninas continuaram com a mesma brincadeira, por fim o menino cansou e foi para a quadra,
elas saíram correndo atrás para assustá-lo.
(2.4) Logo após bateu o sinal, formaram as filas e cada um subiu com a professora
regente de classe.
(2.5) Minutos depois desceram os pequenos, muito agitados! Por mais que as
professoras dissessem: crianças desçam devagar, pareciam muito ansiosos por este momento.
Algumas crianças já descem as escadas comendo para dar tempo de brincar!
(2.6)O recreio do ensino fundamental I ocorre das 15h45 às 16h. Neste dia ficaram
cerca de quatro professores junto às crianças no momento do lanche e recreação.
(2.7) O recreio desse período acontece em uma parte do colégio onde encontra-se a
biblioteca, uma parte coberta e a quadra da escola. Grande parte das crianças ao descer para o
intervalo já corre para a quadra, percebe-se que o que gostam mesmo é brincadeiras de correr.
Chamei uma das meninas para brincar de roda-cutia, veio com ela mais um grupinho. As
meninas (cerca de três) gostaram da brincadeira, os dois meninos que estavam perto não
gostaram muito, aproximaram-se para ver e um deles me propôs outra brincadeira. Perguntei
58
o nome dela, e ele disse que seria bate-bate, imaginei que estivesse falando de bate-manteiga,
ele logo foi explicando como era... pediu para que colocássemos a mão estendida em sua
direção e com a palma para cima e deu um tapa, ao dar o tapa disse que quem dissesse “Ai”
primeiro sairia da roda. Eu obviamente não tive coragem de continuar a brincadeira, deixei-os
a brincar.
(2.8) Logo após o sinal bateu, as crianças foram para a fila e posteriormente subiram
para suas salas.
Diário de bordo 3: 10 de abril de 2012
(3.1) Ao observar o recreio neste dia parei para ver a estrutura física da escola. O
primeiro recreio acontece de um lado da escola e o segundo do outro lado. O Ensino
Fundamental II, ao qual pertencem as crianças maiores, recreia na parte do colégio onde
encontra-se a cantina, sala dos professores, cozinha, banheiro, alguns bancos de concreto e
uma área livre bem grande. O espaço é dividido por um portão de ferro. Do outro lado, onde é
realizado o recreio do Ensino Fundamental I, ficam a biblioteca, cantina, banheiro, quadra de
esportes e algumas mesas grandes para o lanche. Como a cozinha fica no outro espaço, a
cozinheira traz a merenda e distribui aos alunos neste espaço. Pode-se perceber que as
crianças comem bem rapidinho para logo irem brincar. De acordo com uma professora, o
recreio foi dividido de tal forma para diminuir o risco de possíveis acidentes durante o
mesmo.
(3.2) Algumas crianças ainda ficam sentadas nos bancos a lanchar, muitas sozinhas,
pode-se refletir o porquê dessas crianças ficarem tão quietinhas.
(3.3) Ao conversar com uma dessas crianças a menina me pareceu um pouco tímida,
penso que estava com vergonha de lanchar na mesa e foi no banco que tem ao lado. Sentei ao
lado dela e a perguntei se ela não iria brincar, ela respondeu que lancharia primeiro. Logo
depois uma menina sentou em seu lado e ficaram conversando.
59
Diário de bordo 4: 11 de abril de 2012
(4.1) Hoje o dia estava chuvoso. Ao iniciar o recreio pôde-se perceber que haviam
menos crianças no pátio que o normal. Além disso, algumas crianças desciam para pegar o
lanche e logo sobiam, até então não havia entendido o que estava a acontecer. Em conversa
com as professoras da instituição, elas comentaram que quando o tempo não está muito bom,
algumas turmas ficam em sala. Passei a analisar este espaço, percebi que o espaço físico
coberto realmente seria pouco para tamanha quantidade de crianças.
(4.2) Neste dia estava acontecendo o projeto “Pic recreio (em anexo)” na escola. Uma
turma levou o tapete, alguns brinquedos e livros. Na verdade havia mais livros do que
brinquedos. Havia cerca de vinte crianças neste espaço, algumas de outras turmas, passavam e
ficavam a olhar, outros sentavam-se juntos para olhar, ler e brincar, junto deles havia uma
professora acompanhando-os.
Diário de bordo 5: 12 de abril de 2012
(5.1) Neste dia a tarde estava nublada, já havia chovido pela manhã, porém como no
dia anterior algumas turmas tinham ficado em sala, todos os alunos desceram para o recreio.
(5.2) No inicio do recreio, os professores de educação física sempre passavam com os
materiais (bola, corda, bambolês) para guardá-los em uma sala ao lado da quadra esportiva.
As crianças que lá estavam, olhavam para a professora com os olhos brilhando, como quem
diz: Eba! Vamos brincar!!! Neste dia alguns dos alunos se aproximaram a professora e
perguntaram se podiam brincar com a bola, ela respondeu que no momento não, só depois, na
aula de educação física, as crianças voltaram correndo a quadra para brincar.
(5.3) As crianças estavam com toda energia! Todo e qualquer lugar era espaço para o
brincar; ao lado da quadra da escola tem uma escada pra subir no prédio, este parece ser um
espaço em que as crianças adoram brincar! Outro espaço é o banheiro: do lado de fora pode-
se ver rostinhos espiando e a criança que estava do lado de fora que lhe deu um susto, e
gritando o grupo de crianças entrou para se esconder no banheiro. Isso aconteceu algumas
vezes no recreio de hoje, não que nos outros não ocorrera, mas neste a frequência foi maior.
60
Diário de bordo 6: 13 de abril de 2012
(6.1) Neste dia, tanto como nos outros as crianças estavam bem agitadas, era dia do
projeto “Pic recreio” na escola. Como o dia estava com o céu límpido e propício para uma
atividade em área externa, a turma colocou o projeto em práxis em meio à quadra da escola.
No tapete havia várias caixas com brinquedos, me aproximei e perguntei o que eles estavam
fazendo, me responderam que estavam brincando. Perguntei aos alunos que estavam
envolvidos no projeto se gostavam do que estava sendo proposto a eles e responderam que
sim, que é muito legal.
(6.2) Crianças de outras turmas também se aproximaram e sentaram-se no tapete para
brincar, dentre os brinquedos havia quebra-cabeça, brinquedos de montar, além de livros de
histórias infantis.
(6.3) Muitas crianças ainda não haviam terminado de lanchar, então, enquanto
algumas brincavam outras lanchavam neste espaço.
(6.4) Dentre as brincadeiras realizadas nesse momento, pude perceber que duas
meninas brincavam com uma boneca de mamãe e filhinha, não cheguei a perguntar mais
penso que tivessem trago de casa, logo bateu o sinal e retornaram para sala.