CHILDE, Gordon. A Evolução Cultural do Homem.
- Gordon Childe morreu na Austrália, em outubro de 1957, aos 65 anos. Estava recém aposentado da cátedra
de Arqueologia Européia na Universidade de Londres. Era o mais culto especialista em NEOLÍTICO vivo.
Escreveu certa de 20 livros sobre pré-histórica.
“Para os arqueólogos, a descoberta mais desconcertantes foi a de que nem todos os agricultores (no período
neolítico) eram ceramistas” p. 9.
- Por ironia diziam que os historiadores da pré-história tinham a missão de criar a pré-história a partir de
ossos e potes quebrados. “Fazer com que os cacos falassem e os ossos vivessem” p. 11.
“Este livro foi, realmente, uma síntese da pré-história que marcou uma época... Aqui, pela primeira vez,
Childe apresentou uma análise das possibilidades e limitações da pré-história” p.12.
- Thomsen-Worsaae foi o autor do famoso e velho sistema das TRÊS IDADES.
- O livro representa a visão que Childe tinha dessas “três idades”. Foi ele quem definiu a chamada
“Revolução Neolítica e Urbana (ou Segunda Revolução) – frases que passaram à linguagem comum dos
arqueólogos e historiadores. Ninguém ao estudar a história remota do homem pode deixar de conhecer essa
primeira exposição da síntese da pré-história, feita por Childe” (p.12).
- Todas as conclusões de Childe foram feitas sem o apoio do método Carbono 14, inventado em 1945. Esse
método só veio validar tudo que Childe havia escrito.
- CRÍTICA: parece que Childe quis dizer que a Revolução Neolítica ocorreu apenas uma vez e no mais
antigo Oriente Próximo, hoje, já se levanta a hipótese de que a cultura neolítica teve origem independente
em vários lugares. Tanto a vida urbana, quanto a agricultura pode ter surgido em várias partes do antigo
mundo ao mesmo tempo. “Numa palavra, hoje parece possível ter havido várias revoluções neolíticas e
urbanas” p. 13, (Apresentação feita por GLYN DANIEL, 1964).
CAP. 1 – História Humana e História Natural (p. 19).
- A idéia de revolução é moderna. Nenhum homem primata pensou o neolítico como fase revolucionária. O
século XIX foi o século do progresso. O progresso impregnou a ciência e os cientistas. Tema esse
desconhecido pelos medievais ou antigos. Depois das duas guerras mundiais, o pessimismo é quem está na
ordem do dia. O saudosismo é uma conseqüência inevitável.
“Um dos objetivos deste livro é mostrar que, de um ponto de vista científico, impessoal, a História pode
justificar ainda a fé e o progresso, tanto na época de depressão como no auge da prosperidade do século
passado” p. 20.
“Antes de 1914, pelo menos, a história significava, para a maioria das pessoas, a história britânica” p.21.
Ela representava o progresso mundial.
- Querem transformar a pré-história em uma introdução do mundo civilizado. “Relata a vida de povos que
não tiveram escrita... Pela inclusão da pré-história, o âmbito da história ampliou-se cem vezes. Cobrimos um
período de mais de 500.000 anos, ao invés de apenas 5.000” p. 22.
- O progresso antigo visto pelos modernos é desconcertante, os mais ilustres intelectuais gregos surgiram em
momentos em que a história nomeou como trevas da história grega clássica. Nessa fase o que havia
declinado foi o poder político de Atenas. A contribuição dos atenienses para o helenismo estava em fase
crescente. Fala-se em ascensão e queda no mundo antigo do ponto de vista da história política. Isso é apenas
uma visão. O que a história diz sobre a Ascensão de Roma é, do ponto de vista da moral, um declínio total.
“A história antiga e a história britânica tendem a ser representadas exclusivamente como história política”.
P.23. As descobertas científicas e o progresso pareciam estar situados em um determinado período e noutros
não. “Esse tipo de história dificilmente poderia ser científico” p.23. A pré-história foi renegada, pois era
impossível ao historiador resgatar dela os nomes “importantes” da política. “A pré-história não pode
encontrar lugar nela” p. 23.
“A pré-história faltam todas as provas escritas, sendo-lhe, portanto, impossível recuperar os nomes de seus
atores ou discernir detalhes de suas vidas privadas” p.23.
- A história não pode estar refém do olhar político ou econômico. Marx retirou o olhar da política e colocou
no econômico como fator de transformação social.
- Para a contrariedade dos fascistas, hoje a história tende a tornar-se a história cultural.
- Nenhum documento histórico sobreviveu, mas se encontra instrumentos e ferramentas de trabalho
característico do sistema econômico que imperava nos grupos pré-históricos.
- Parece que certas comunidades de hoje ainda vivem a fase neolítica.
- A arqueologia tenta colocar em ordem cronologia os mais diversos sistemas econômicos. “As divisões
arqueológicas do período pré-histórico, nas idades da Pedra, do Bronze e do Ferro, ao são totalmente
arbitrárias. Baseiam-se nos materiais usados para os instrumentos de corte, especialmente machados, e tais
instrumentos estão entre as mais importantes ferramentas de produção” p. 25.
“O machado de pedra, ferramenta característica de pelo menos parte da Idade da Pedra, é um produto
doméstico que podia ser feito e usado por qualquer pessoa, num grupo autônomo de caçadores ou
camponeses. Não exige especialização do trabalho nem um comércio fora do grupo. O machado de bronze,
que o substitui, não só e uma ferramenta superior como também pressupõe uma estrutura econômica
e social mais complexa. A fusão do bronze é um processo demasiado difícil para ser realizado por uma
pessoa no intervalo do plantio, da caça ou do cuidado das crianças” p. 24.
“O cobre e o estanho de que era feito o machado de bronze são comparativamente raros e dificilmente
ocorrem juntos” p. 25.
- As modificações em que os arqueólogos insistem em ter ocorrido, correspondem às mudanças das forças
produtivas. Dessa forma, a história muda de fase, conforme os instrumentos de produção. Visão
economicista.
“A pré-história não só faz recuar a história escrita como também faz avançar a história natural... a pré-
história constitui uma ponte entre a história humana e as ciências naturais da zoologia, paleontologia e
geologia” p. 26.
“O progresso do historiador pode ser equivalente à evolução do zoologista... a sobrevivência do mais capaz
é um bom princípio evolucionário” p. 26.
“A antropologia pré-história, que se ocupa dos restos materiais dos primeiros homens é apenas um ramo da
Paleontologia ou da Zoologia” p. 26.
- Os sobreviventes não foram tanto por causa de serem mais fortes, talvez seja pela capacidade de se
fecundidade mais.
“A continuidade entre a história natural e a história humana pode permitir que os conceitos numéricos sejam
introduzidos na última” p.29.
“Lembrando a lição desses números e curvas, poderemos discernir nas eras antigas da história humana,
outras revoluções. Elas se manifestam da mesma forma que a revolução industrial – numa ascensão da
curva populacional. Podem ser julgadas pelo mesmo padrão. O principal objetivo deste livro é examinar a
pré-história e a história antiga sob este ângulo. Esperamos que um exame das revoluções, tão remotas que
é impossível nos irritarmos ou entusiasmarmos com elas, possa ajudar a defender a idéia de progresso,
contra os sentimentalistas e os místicos” p. 31.
CAP. 2 – Evolução orgânica e progresso cultural (p. 32.)
“Já se afirmou ser a pré-história uma continuação da história natural, havendo uma analogia entre a evolução
orgânica e o progresso na cultura. A história natural traça o aparecimento de novas espécies, cada qual
melhor adaptada à sobrevivência... A história humana mostra o homem criando novas indústrias e novas
economias que estimularam o aumento de sua espécie e com isso provaram sua maior capacidade” p. 32.
- É uma relação entre o legado social e a hereditariedade biológica.
“A herança social do homem não é transmitidas pelas células das quais ele nasce, mas por uma tradição que
só começa a adquirir depois de ter saído do ventre materno” p. 33.
“Nenhum esqueleto fóssil digno de nome HOMEM é mais velho do que o penúltimo volume da história da
terra, o volume intitulado plistoceno” p. 39.
“Na história evolucionária, comparativamente curta, documentada pelos restos fósseis, o homem não
aperfeiçoou seu equipamento hereditário através de modificações corporais perceptíveis em seu esqueleto”
p. 40.
“Pelo controle do fogo e pela habilidade de fazer roupas e casas, o homem pode viver, e vive e viceja, desde
o Círculo Ártico até o Equador” p. 40.
“Portanto, o homem foi dotado pela natureza com um cérebro bastante grande em comparação com seu
corpo, mas esse dote é a condição que lhe permite fazer a sua própria cultura” p. 41.
“... tais desenvolvimentos do cérebro e do sistema nervoso seguem lado a lado com modificações na
disposição dos músculos da língua, não encontradas em nenhum outro gênero...” p. 43.
“... a língua é, essencialmente, um produto social” p. 44.
“A criança humana aprende regras e preceitos de ação que os membros de seu grupo e seus ancestrais
julgaram benéficos” p. 45.
“Dar nome a uma coisa é um ato de abstração” p. 46.
“A evolução do corpo humano, de seu equipamento fisiológico, é estudada pela Antropologia pré-histórica,
um ramo da paleontologia” p. 47.
“Nenhum dos raros homens fósseis cujos esqueletos sobreviveram das primitivas épocas glaciárias pode ser
classificado entre nossos ancestrais diretos. Não representam fases no processo de criação do homem pela
natureza, mas experiências abortadas – gêneros e espécies – que desapareceram” p. 48.
“Os mais antigos esqueletos de nossa própria espécie pertencem às fases finais da última época glacial...
desde a época na qual os esqueletos do homo sapiens surgem no registro geológico, talvez há 25.000 anos, a
evolução do corpo humano praticamente parou, embora o progresso cultural estivesse apenas começando...
O progresso na cultura substituiu, realmente, novas evoluções orgânicas na família do homem” p. 48.
“Os arqueólogos dividiriam as culturas do passado em Idades da Pedra (velha e nova), do Bronze e do Ferro,
à base do material de uso mais generalizado e preferido para os instrumentos de corte... os critérios usados
para distinguir as suas várias idades servem também de índices do estado da ciência” p. 49.
- Se olhadas em sua totalidade, “revelam não só o nível de habilidade técnica e de ciência alcançado, mas
também a forma pela qual seus autores ganhavam o sustento, sua economia. E é esta economia que
determina a multiplicação de nossa espécie e, assim, seu êxito biológico. Estudadas deste ângulo, as
velhas divisões arqueológicas adquirem nova significação. As idades arqueológicas correspondem
aproximadamente aos estágios econômicos. Cada idade nova é iniciada por uma revolução econômica do
mesmo tipo e dos mesmos efeitos da Revolução Industrial do século XVIII” p. 49.
- Paleolítico: os homens dependiam da caça, pesca e coleta de grãos, raízes, animais lentos e mariscos.
- Neolítico: cultiva plantas e cria animais.
- Em conseqüência da revolução neolítica a população aumentou extraordinariamente.
- Idade de Bronze: caracterizada pelas cidades populosas e comércio.
“Os progressos culturais que formam a base da classificação arqueológica tiveram, então, o mesmo efeito
biológico das mutações na evolução orgânica... Mostraremos como as revoluções econômicas influíram
sobre a atitude do homem para com a natureza e proveram o crescimento das instituições, da ciência e
literatura” p. 51.
CAP. 3 – Escalas de tempo (p. 52)
“O drama da história humana ocupa um período mensurável não em anos, mas em séculos ou mesmo em
milênios” p. 52.
“A velha idade da pedra, pelo menos no sentido econômico dado à expressão no capítulo anterior, dura até
hoje na Austrália central e na América ártica. A revolução neolítica deu início à nova idade da pedra no
Egito e Mesopotâmia há aproximadamente sete mil anos” p. 58.
“é tão importante compreender o caráter arqueológico das épocas quanto perceber as grandes extensões de
tempo que elas podem indicar em certas áreas. A velha Idade da Pedra foi, na verdade, tão imensamente
longa que quase pode ser tratada como um período universal, equivalente ao plistoceno do geólogo” p.
58.
“Os selvagens contemporâneos vivem, ainda hoje, na idade da pedra” p. 59.
“A suposição de que qualquer tribo selvagem de hoje é primitiva, no sentido de que sua cultura reflete
fielmente a cultura de homens muito mais antigos, é gratuita” p. 60.
CAP.4 – Coletores de alimentos (p. 61).
“O aparecimento dos homens sobre a terra é indicado pelos instrumentos que ele fez. O homem necessita de
instrumentos para suplementar as deficiências de seu equipamento fisiológico na obtenção de alimento e
abrigo” p. 61.
“Somente depois de dominada a técnica da manufatura, pôde o homem começar a fazer, com êxito,
ferramentas especiais para cada operação individual” p. 62.
“O controle do fogo foi, presumivelmente, o primeiro grande passo na emancipação do homem em relação à
servidão de seu ambiente” p. 62.
“Ao dominar o fogo, o homem estava controlando uma poderosa força física e uma notável transformação
química. Pela primeira vez na história, uma criatura da natureza dirigia uma das grandes forças naturais... ao
alimentar ou apagar o fogo, ao transportá-lo e usá-lo, o homem afastou-se revolucionariamente do
comportamento dos outros animais. Afirmou sua humanidade e se fez homem... Talvez a variedade de
métodos usados para obter o fogo indique que a técnica humana, quando nossa espécie já se havia
dispersado em grupos isolados... tornou-se, conscientemente, um criador” p. 63.
- No pleistoceno, a numerosa quantidade de materiais não significa quantidade grande de população.
“O homem de neandertal desaparece subitamente; seu lugar é ocupado pelos homens modernos, cujos
corpos dificilmente provocariam qualquer comentário num necrotério, hoje” p. 68.
“O aspecto mais surpreendente e louvado das culturas paleolítica é a atividade artística dos caçadores” p. 72.
“O desejo é tão importante para a ciência moderna quanto a escrita” p. 73.
- Os desenhos tinham a ver com a questão econômica e sagrada.
“A arte do paleolítico superior é valiosa por proporcionar um índice aproximado do conhecimento zoológico
dos homens da época” p. 74.
“Pelas provas existentes, durante a velha idade da pedra, isto é, a era do pleistoceno, a coleta e a caça eram
os únicos métodos utilizados pelo homem para garantir a sua subsistência” p. 76.
“Durante todas as prolongadas épocas claciárias, o homem não realizara nenhuma modificação fundamental
em sua atitude para com a natureza exterior. Limitara-se a colher o que lhe era possível conseguir... no
último vigésimo de sua história, o homem começou a controlar a natureza, ou pelo menos conseguiu
controlá-la cooperando com ela” p. 77.
“A primeira revolução que transformou a economia humana deu ao homem o controle sobre o
abastecimento de sua alimentação. O homem começou a plantar, cultivar e aperfeiçoar, pela seleção, as
ervas, raízes e árvores comestíveis. E conseguiu domesticar e colocar sob sua dependência certas espécies de
animais, em troca do alimento, da proteção e da previsão que podia oferecer” p. 77.
“Uns poucos, ainda, afirmam que uma fase pastoril precedeu universalmente ao cultivo da terra” p. 78.
“Como revolução, a adoção de uma economia produtora de alimentos influiu na vida de todos os
interessados, refletindo-se na curva populacional... o cultivo do alimento derruba imediatamente os limites
até então impostos. Para aumentar o abastecimento, basta semear mais e colocar mais terra em uso... A
priori, portanto, a probabilidade de que a nova economia tenha sido acompanhada de um aumento da
população é muito alta... é realmente impressionante o número de ferramentas da Velha Idade da Pedra” p.
80.
“Somente depois da primeira revolução neolítica que nossa espécie realmente começou a multiplicar-se
rapidamente” p. 81.
“Dentro em pouco, toda a terra próxima ao aldeamento se exauriu... O que acabamos de descrever é a forma
mais primitiva de cultivo, freqüentemente denominada cultura de enxada ou cultura de horta. A natureza
apresentou sem demora um problema aos agricultores – o da exaustão do solo. A forma mais fácil de
resolvê-lo era abandoná-lo e afastar-se” p. 83.
“Os coletores de alimentos devem ter utilizado dos grãos do trigo e cevada selvagem como alimento, muito
antes de começarem a cultivá-los... E a irrigação natural seria o protótipo de todos os sistemas de cultivo”
p. 84.
“A utilização dos arreios dos animais para transporte de pesos ou para puxar arados e veículos é uma
adaptação posterior, e será estudada entre as medidas que levaram à segunda revolução na economia
humana” p. 89.
“O nomadismo exclusivamente pastoril é conhecido, e ilustrado por vários povos do Velho Mundo; os
beduínos da Arábia e as tribos mongólicas da Ásia Central são os exemplos mais conhecidos” p. 90.
“Quando não plantam, os pastores nômades são, quase sempre, economicamente dependentes de aldeias
camponesas fixas” p. 90.
“Qualquer que seja sua origem, a criação de animais deu ao homem o controle de seu abastecimento de
alimento, da mesma forma que o cultivo da terra... devemos lembrar também que a produção de alimentos
não substitui imediatamente a coleta” p. 90.
“Só aos poucos a agricultura conquistou a posição de indústria independente, e finalmente predominante...
Depois da segunda revolução, a caça se torna, como ocorre entre nós, um esporte ritual, ou então, como a
pesca, se transforma em indústria especializada praticada por grupos dentro da comunidade” p. 91.
“A produção e acumulação de um excedente são muito mais fáceis para os produtores de alimentos do que
para os coletores” p. 91.
“O mundo neolítico deve ser visto como uma cadeia contínua de comunidades. Cada qual se ligava à outra
através de contatos repetidos, embora infreqüentes e irregulares” p. 92.
“Só a arqueologia poderia justificar a apresentação de uma economia neolítica como uma fase histórica
universal no progresso na direção da civilização moderna. Mas tudo o que a arqueologia pode fazer no
momento é isolar fases transitórias do que foi, na realidade, um processo contínuo” p. 92.
- Não dá para provar que o neolítico desenvolveu simultaneamente em várias regiões. “Citamos
deliberadamente os grupos de selvagens contemporâneos para ilustrar o mesmo estágio econômico” p. 93.
“Os chineses neolíticos só criavam porcos” p. 94.
“Vários grupos humanos de diferente composição racial, vivendo em condições diversas de clima e solo,
adotaram as mesmas idéias de cultivo e as adaptaram diferentemente aos seus vários ambientes” p. 94.
“As diferenças que separam tão claramente as culturas neolíticas não são surpreendentes, tendo em vista o
caráter da economia, a auto-suficiência de cada comunidade. Sendo cada grupo economicamente
independente de quaisquer vizinhos, podia permanecer isolado deles” p. 94.
“Assim, tempos neolíticos podem significar qualquer coisa entre 8000 a 10000 a.C. e o ano 1800 de nossa
era. Civilização neolítica é uma expressão perigosa, aplicável a uma enorme variedade de grupos culturais,
todos mais ou menos no mesmo plano cultural... em outros pontos, e mais tarde, encontramos ainda
comunidades que revelam a mesma estrutura econômica fundamental” p. 96.
“No período final da Velha Idade da Pedra, as ferramentas semelhantes ao machado parecem ter sido
desconhecidas... A essência da ferramenta neolítica é ter a extremidade aguçada pelo atrito” p. 96.
“Uma característica universal das comunidades neolíticas parece ter sido a manufatura de potes... somente
em épocas neolíticas a fabricação de potes em grande escala foi comprovada; qualquer localidade neolítica
está, geralmente, cheia de fragmentos de cerâmicas quebradas” p. 97.
- A atividade é a mais antiga utilização consciente feia pelo homem de uma transformação química. “A
essência da arte do ceramista é poder modelar um pedaço de argila segundo sua vontade, e dar-lhe então
permanência, cozendo-o” p. 97.
“O caráter construtivo da arte da cerâmica reagiu sobre o pensamento humano. Fazer um pote era um
exemplo supremo da criação do homem” p. 100.
“A invenção do tear foi um dos grandes triunfos da engenhosidade humana” p. 102.
“Em nossa hipotética fase neolítica, não havia especialização do trabalho, no máximo, uma divisão das
atividades entre os sexos. E tal sistema existe até hoje” p. 102.
- Todas as atividades só foram possíveis graças “à acumulação da experiência e à aplicação de deduções
nela baseadas” p. 103.
“As ciências aplicadas do período neolítico foram transmitidas pelo que hoje chamamos de sistema de
aprendizado. Os artesanatos neolíticos foram apresentados como indústrias domésticas... A experiência e o
conhecimento de todos os membros da comunidade são constantemente reunidos” p. 103.
“E a economia neolítica como um todo não pode existir sem um esforço cooperativo... as atividades
cooperativas exigidas pela vida neolítica encontraram expressão exterior nas instituições sociais e políticas...
as novas forças controladas pelo homem, em conseqüência da revolução neolítica e do conhecimento obtido
e aplicado no exercício de novos ofícios, devem ser reagido sobre as perspectivas do homem” p. 105.
“Se as tribos bárbaras de hoje ainda se contentam em obter a subsistência pelo mesmo método neolítico de
há dez mil anos, não há garantia de que sua vida política e religiosa se tenha mantido igualmente estagnada...
A segunda revolução, como iremos ver, criou vigorosos sistemas de crenças mágico-religiosas” p. 105.
“A revolução neolítica não foi uma catástrofe, mas um processo. Suas várias fases foram, sem dúvida,
modificando as instituições sociais e as idéias mágico-religiosas dos coletores de alimentos e dos
caçadores... Foi provavelmente a ausência mesma de ideologias rígidas e instituições profundamente
arraigadas que permitiu o rápido progresso de aldeias alto-suficientes, transformando-as em cidades
industriais e comerciais, em menos de dois mil anos” p. 106.
- Instituições firmes e arraigadas são inimigas do progresso.
“Não há provas definidas da existência de chefias, nos primeiros cemitérios e aldeias neolíticas” p. 107.
“O cuidado dos mortos, remontando à Velha idade da pedra, pode ter adquirido maior significação na Nova.
CAP. 6 – Prelúdio à Segunda Revolução (p. 111).
“A revolução neolítica que acabamos de descrever foi o auge de um longo processo. Deve ser apresentada
como um acontecimento súbito porque a arqueologia só pode reconhecer os resultados... A segunda
revolução transformou pequenas aldeias de agricultores auto-suficientes em cidades populosas,
alimentadas pelas indústrias secundárias e comércio exterior, e regularmente organizadas como
Estados” p. 111.
- Entre 6000 e 3000 a.C o homem passou a usar a força do boi e dos ventos, inventou o arado, o carro de
rodas, o barco a vela, a fundição de minérios, calendário solar. “Equipou-se, com isso, para a vida urbana, e
preparou o caminho para a civilização que exigirá a escrita, processos de contagem e padrões de
mensuração” p. 111.
“A vida sedentária deu oportunidade ao aperfeiçoamento das instalações residenciais e abriu caminho para a
arquitetura” p. 117.
“A transformação do cobre sólido em metal derretido e novamente ao estado sólido é dramática, e deve ter
parecido misteriosa” p. 122.
“O uso industrial do metal pode, assim, ser considerado como indício da especialização do trabalho, e de que
o abastecimento de alimentos da comunidade excede suas necessidades normais” p. 123.
“A mineração deve ter sido um ofício ainda mais especializado que o do ferreiro” p. 125.
“A utilização da força do boi ou dos mares, e da força do vento, foi a primeira tentativa efetiva do homem
para fazer com que as forças naturais trabalhassem para ele... Talvez o boi tenha sido o primeiro a ser
atrelado a um arado... E o arado prenunciou a revolução agrícola” p. 126.
“A roda foi a realização máxima da carpintaria pré-histórica: ela é a condição preliminar para a maquinaria
moderna... a roda não só revolucionou o transporte como também foi aplicada na indústria de manufatura, já
em cerca de 3000 a.C... a confecção de vasos foi a primeira indústria mecanizada, a primeira a aplicar a roda
à maquinaria industrial. Em conseqüência, o ofício transformou-se” p. 128.
“A introdução da roda na cerâmica marca outro passo na especialização do trabalho” p. 129.
“A domesticação do cavalo deve ser aumentada substancialmente o alcance e velocidade da comunicação”
p. 130.
“Finalmente, sugeriu-se que a conquista é um requisito preliminar essencial à acumulação de capital
comunal, necessário para a realização da segunda revolução” p. 134.
- A segunda revolução exigiu a acumulação de capital na forma de alimentos, tal concentração foi possível
graças a conquistas. “A conquista militar é um dos meios de garantir a acumulação de um excedente de
riqueza” p. 135.
- A guerra mais do que outra coisa estimulou a demanda por metais. A guerra mostrou que os homens
podiam ser domesticados. Surge o escravismo. “Essa descoberta tem sido comparada, em importância, à
descoberta da domesticação dos animais” p. 136.
- A escravidão foi um instrumento poderoso para a acumulação de capital.
- Escravos por dívidas. Exilados de outras comunidades. “A guerra e a fome eram, igualmente, agentes
potenciais para o recrutamento da força de trabalho à disposição das cidades, depois da segunda revolução”
p. 137.
“A primeira revolução não aboliu a mágica” p. 138. Os rituais continuaram sendo os responsáveis por
afastar da comunidade as forças nocivas.
“O calendário egípcio é, reconhecidamente, o pai de todos os calendários solares do Velho Mundo, inclusive
o nosso” p. 139.
CAP. 7 – A Revolução Urbana (p. 142).
“E, apesar da abundância de alimentos, os vales aluviais são excepcio
nalmente pobres em outras matérias-primas essenciais à vida civilizada... a fertilidade das terras deu aos seus
habitantes os meios de satisfazer sua necessidade de importações. Mas a auto-suficiência econômica teve de
ser sacrificada e uma estrutura econômica completamente nova foi criada” p. 143.
“A modificação no material do arqueólogo reflete uma transformação na economia que produzia o material”
p. 144.
“Os cemitérios urbanos atestam não só um aumento de riqueza, mas também a multiplicação de pessoas” p.
144.
- Concretamente os resultados da segunda revolução no Egito, Mesopotâmia e Índia foram espantosamente
diferentes. Os produtores apresentam formas diversas, apesar do mesmo material empregado.
“Somente em cerca de 1.300 a.C. o ferro teve uso industrial regular, e não na mesopotâmia, mas na Ásia
Menor” p. 150.
- Heródoto informa que as pirâmides foram construídas durante dez anos a base de 100.000 homens
trabalhando diariamente. P. 162.
- Egito: p. 155 – 165.
“As revoluções que descrevemos ocorreram quase simultaneamente no Egito e Suméria, e provavelmente
também na Índia. De qualquer modo, a revolução baseou-se nas mesmas descobertas cientificas e resultou
no aparecimento das mesmas classes novas” p. 166.
“A civilização urbana não foi simplesmente transplantada de um centro para outro, mas foi, em cada
caso, um crescimento orgânico com raízes no solo local” p. 166-167.
“Assim o Egito, Suméria e Índia não se tinham isolado ou eram independentes, antes da revolução. Todos
partilhavam, mais ou menos, de uma tradição cultural comum, para a qual haviam contribuído... Uma vez
estabelecida, porém, a nova economia nos três centros principais, ela se difundiu dali para os centros
secundários, mais ou menos como o capitalismo ocidental se difundiu às colônias e dependências
econômicas” p. 167.
“Mas com freqüência a segunda revolução foi propagada pela violência e imposta pela força do
imperialismo. Certas comunidades eram demasiadas atrasadas e sem iniciativa para apreciar as vantagens da
nova economia e de seus produtos... Em outros casos, porém, as vítimas do imperialismo foram educadas
para competir com os agressores, em cultura material” p. 170.
“O imperialismo econômico não propagou a segunda revolução apenas pela conquista. A resistência aos
seus ataques, ou à ameaça de ataques, só foi possível pela assimilação de parte da civilização dos
agressores... Para conseguir defender sua independência, povos que até então se haviam contentado com o
equipamento neolítico, tiveram de adotar armas de metal... numa palavra, tinham de submeter-se à segunda
revolução e adotar uma economia urbana” p. 173.
CAP. 8 – A revolução no conhecimento humano (p. 176)
“A revolução econômica que descrevemos só foi possível porque sumerianos, egípcios e indianos
dispunham de um conjunto de experiência acumulada e de ciência aplicada. A revolução inaugurou um novo
método de transmitir experiência, novas formas de organizar o conhecimento e ciência mais exata... As
necessidades práticas da nova economia tinham, na realidade, provocado as inovações” p. 176.
- A escrita foi “inspirada pelas necessidades práticas da economia urbana... a verdadeira significação da
escrita é que está destinada a revolucionar a transmissão do conhecimento humano” p. 182.
- A escrita era uma especialização adquirida ao longo de muitos anos de dedicação.
- A Segunda Revolução provocou uma maior divisão da sociedade em classes.
- A divisão de classe na sociedade urbana foi acentuada pela escrita.
“A imortalização de uma palavra na escrita deve ter parecido um processo sobrenatural” p. 184. Com ela, o
morto podia falar.