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Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13th Women’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos), Florianópolis, 2017, ISSN 2179-510X

CIBERFEMINISMOS NA COMUNIDADE SOFTWARE LIVRE DO BRASIL

Mônica de Sá Dantas Paz1

Resumo: O artigo proposto se baseia nos estudos de Gênero, Ciência e Tecnologia, principalmente,

aos que se atentam para como as relações de gênero estão presentes em todo o processo de

planejamento, produção, consumo e de apropriação da tecnologia (CASTAÑO, 2008; HARAWAY,

2004; 2009; WAJCMAN, 2006). Neste âmbito, são discutidas as diferentes correntes ativistas e

teóricas que buscaram se aproximar das tecnologias digitais, o que convencionamos chamar de

ciberfeminismos (HAWTHORNE & KLEIN, 1999; MIGUEL & BOIX, 2013; PLANT, 1999;

WAJCMAN, 2006). É válido mencionar que este trabalho é derivado da tese de doutorado intitulada

“Mulheres e Tecnologia: hackeando as relações de gênero na comunidade software livre do Brasil”

(2015), que teve como objetivo geral investigar o lugar social e ativista das mulheres na cultura

hacker e no movimento software livre (SL) (HIMANEN, 2001; SILVEIRA, 2004). A partir da

etnografia digital multimodal (AMARAL et al., 2008; BRAGA, 2006; HINE, 2011; KOZINETS,

2009; MURTHY, 2008), analisamos o grupo /MNT – Mulheres na Tecnologia, criado em 2009 em

Goiânia-GO, por três mulheres que perceberam que era necessário incentivar uma maior atuação de

mulheres, não apenas no movimento SL, mas em toda a Tecnologia da Informação no país.

Portanto, este artigo tem como objetivo discutir os ciberfeminismos e analisar um grupo que, na

atualidade, vem se utilizando as TIC para discutir o ser mulher na comunidade SL.

Palavras-chave: Ciberfeminismos. Mulheres. Gênero. Tecnologia. Software livre.

Este artigo tem como objetivo discutir os ciberfeminismos e analisar o grupo /MNT – Mulheres na

Tecnologia, que, na atualidade, vem se utilizando as TIC para discutir o ser mulher na comunidade

de Tecnologia da Informação (TI) e de software livre (SL).

A seguir faremos uma breve revisão de literatura sobre o movimento ciberfeminista para

entendermos suas pautas, motivações, além das críticas sofridas desde a sua emergência na década

de 90 até os dias atuais. Na sequência, apresentamos a comunidade brasileira de software livre e o

grupo de mulheres estudado, o /MNT – Mulheres na Tecnologia, dando enfoque para a sua

participação em eventos seja de software livre (Fórum Internacional de Software Livre), seja o de

realização própria (Encontro Nacional de Mulheres na Tecnologia).

Ciberfeminismos: ativismo e teoria feminista na era digital

A partir da década de 1990, os primeiros estudos de Internet e Cibercultura passaram por

uma fase otimista em relação ao ciberespaço, de forma que um dos focos das pesquisas da época era

1 Doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas pela UFBA; Integrante do GIG@/UFBA - Grupo de

Pesquisa em Gênero, Tecnologias Digitais e Cultura; Professora no Centro Universitário Estácio da Bahia. Salvador-

BA.

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a liberação do corpo material e a criação de identidades fluidas e múltiplas (BAYM, 2010). O

ambiente textual que marcou as interações sociais via computador e internet corroborava para para

essa performance criativa do eu, o que resultou em uma experimentação intensa da formação de

identidades, o que inclui outras manifestações de gênero nos ambientes virtuais, refletindo, mais

adiante, também na sua relação com a vida offline (TURKLE, 1997).

Como forma de entender as diferenças de gênero, alguns estudos compararam a atuação

online de homens e de mulheres, como também a recepção de mensagens enviadas por ambos. A

conclusão foi a existência de sexismo, o que contrariou as expectativas dos estudos pioneiros,

afinal, por exemplo, algumas mulheres sofreram ataques em ambientes de comunicação mediada

por computadores apenas pelo fato de serem mulheres ou continuaram a serem representadas de

forma objetificada. Já os homens eram mais atacados devido a suas posições ideológicas e

argumentativas expostas nesses ambientes (BAYM, 2010).

Diante dessas diferenças em suas vidas online em soma às diferenças de gênero já vividas

pelas mulheres em suas vidas offline, surge a corrente feminista denominada ciberfeminismo, que

possui influência do cyberpunk e do pós-modernismo. O termo que denominou esta corrente, que

foi motivada pelo potencial ativista das Tecnologias da Informação e Comunicação, tem origem no

campo artístico com o grupo de artistas australianas, VNS Matrix, em 1991, em sua publicação

intitulada “Manifesto Ciberfeminista para o Século 21”, que também foi uma forma de homenagear

a cientista Donna Haraway e o seu “O Manifesto Ciborgue” de 1985 (MIGUEL & BOIX, 2013;

WELLS, 2005).

Neste momento inicial, o movimento acreditava na relação entre internet e feminilidade, o

que era explorado em trabalhos artísticos experimentais através das representações dos sujeito

femininos e da virtualidade (MIGUEL & BOIX, 2013; WELLS, 2005). Seria a “vez” das mulheres.

Esta foi a abordagem otimista e utópica do ciberfeminismo (WAJCMAN, 2006; BROPHY, 2010),

consagrado com o trabalho de Sadie Plant (1999):

Os zeros e uns da linguagem de máquina candidatam-se aparentemente como símbolos

perfeitos das ordens da realidade ocidental, dos antigos códigos lógicos que estabeleciam a

diferença entre ligado e desligado, direita e esquerda, luz e trevas, forma e matéria, mente e

corpo, [...] E formam um belo casal quando o assunto é sexo. Homem e mulher, macho e f ẽ

mea, masculino e feminino: 1 e 0 considerados ansolutamente perfeitos, feitos um para o

outro. [...] São precisos dois para formar um binário, mas todos esses pares são da mesma

qualidade, e a qualidade é sempre do mesmo tipo: 1 e 0 formam outro 1. Homem e mulher

somam homem. Não há equivalente feminino. Nenhuma mulher universal ao lado dele

(PLANT, 1999, p. 38-39).

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Embora Plant esteja em meio à polêmica de ser considerada a “principal expoente britânica

do ciberfeminismo” (WAJCMAN, 2006, p. 99) e de se autodenominar “escritora” e não

“ciberfeminista” (TRENEMAN, 1997). A autora, que denunciou a falta de espaço dado às mulheres

no campo da C&T, acreditava que o ciberespaço ajudaria as mulheres a superarem a linearidade e o

binarismo da corporeidade, através da sua multiplicidade e da possibilidade de criação de redes, da

navegabilidade, da criação e do compartilhamento de conteúdos hipertextuais e multimídia. Sendo

assim, para a autora, a internet foi considerada em sua essência como feminina e com potencial

transformador das condições de vida das mulheres por esta autora.

Ao questionar e acreditar que, com as tecnologias digitais, o androcentrismo, a relação

identitária dos indivíduos a um corpo sexuado e a tecnofobia das feministas poderiam ser superados

e reconfigurados, esta ciberfeminista ajuda a construir um dos legados do ciberfeminismo: o de

ajudar a delinear uma nova relação entre o feminismo e as tecnologias digitais, entendendo-as como

um promissor espaço para a experimentação social, ativista, identitária e sexual das mulheres.

(MIGUEL & BOIX, 2013; WAJCMAN, 2006).

Para Plant, as inovações tecnológicas foram essenciais na fundamental transferência de

poder dos homens para as mulheres que se produziu nas culturas ocidentais na década de

1990, transferência qualificada de “tremor de gênero”. Ao acessar as mulheres as

oportunidades econômicas, as habilidades técnicas e os poderes culturais sem precedentes,

foram postas em questão as expectativas, os estereótipos, o sentido de identidade e os

postulados de épocas anteriores. A automação reduziu a importância da força física e das

energias humanas e substituiu estas por requisitos de velocidade, inteligência e habilidades

de versatilidade, relações interpessoais e comunicação. Isto foi acompanhado pela

feminilização da mão de obra, que neste momento favorece a independência, a flexibilidade

e a adaptabilidade. Enquanto que os homens estão mal preparados para um futuro pós-

moderno, as mulheres se adaptarim perfeitamente à nova tecnocultura (WAJCMAN, 2006,

p. 100-101, tradução nossa)2.

Nesta fase utópica do ciberfeminismo, a internet é considerada feminina por apresentar

características ditas relacionadas às mulheres como a não linearidade, a fluidez e a subjetividade. A

reconfiguração espacial proporcionada pela internet, levou as ativistas a considerar uma suposta

descorporização que afetaria as experiências das mulheres, uma vez que igualaria as diferenças

sexuais nos espaços online (MIGUEL & BOIX, 2013; WAJCMAN, 2006).

2 Texto original: Para Plant, las innovaciones tecnológicas han sido esenciales en la transferencia fundamental

de poder de los hombres a las mujeres que se produjo en las culturas occidentales en la década de 1990, transferencia

cualificada de “temblor de género”. Al acceder las mujeres a oportunidades económicas, cualificaciones técnicas y

poderes culturales sin precedentes, se han puesto en tela de juicio las expextativas, los esteriotipos, el sentido de

identidad y los postulados de épocas anteriores. La automatización ha reducido la importancia de la fuerza física y de

las energías hormonales y ha sustituido éstas por requisitos de velocidad, inteligencia y habilidades de versatilidad,

relaciones interpersonales y comunicación. Esto ha ido acompañado de la feminización de la mano de obra, que en este

momento favorece la independencia, la flexibilidade y la adaptabilidad. Mientras que los hombres están mal

preparados para un futuro postmoderno, las mujeres se adaptan perfectamente e la nueva tecnocultura.

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A principais críticas ao trabalho de Plant recai sobre: 1 - não lidar com a categoria mulher de

forma considerar seu percurso histórico (WAJCMAN, 2006), encarando a marco da criação da

internet como um novo começo, desconsiderando o passado; 2 - tratar de forma supérflua as

relações de poder entre os gêneros nos meios digitais (Susan HAWTHORNE & Renate KLEIN,

1999).

Há também críticas ao dualismo ciberfeminista mente-corpo em dois principais aspectos: 1-

tratar o ciberespaço como um lugar livre do corpo oculta a existência de convenções sociais que

atuam sobre os corpos em ambos os ambientes, o virtual e o físico; 2 – desconsiderar os contextos

dos usuários é o mesmo que assumir os sujeitos como padronizados e homogêneos, ignorando

questões de sexo, raça, idade, etc. (BROPHY, 2010).

Uma outra abordagem ciberfeminista pode ser classificada como pessimista e determinista,

pois entendia que o impacto das tecnologias na vida das mulheres seria prejudicial para estas, dando

em se tratando de acesso, habilidades e mercado de trabalho (WAJCMAN, 2006)

Podemos considerar que tanto a abordagem utópica quanto a abordagem pessimista

assumiam uma postura conivente ao determinismo tecnológico, pois partiam de um pressuposto,

otimista e pessimista, respectivamente, em suas interpretações sociais e de gênero sobre a TIC. Por

exemplo, em seus trabalhos, Plant busca contornar os argumentos pessimistas, mas também se

revela determinista ao defender a feminilidade da internet, não dando a devida importância à

atuação midiática e de outras instituições e estruturas sociais. Por outro lado, as abordagens se

diferenciavam por: uma estar aberta às possibilidades e às experiências com as TIC (otimista); e a

outra pode ser dita como tecnofóbica (pessimista) por criticar tais tecnologias sem buscar, de forma

mais efetiva, o seu uso construtivo para a situação das mulheres.

Com o avançar dos estudos sobre o tema, o ciberfeminismo passou a ser tensionado para que

se tornasse uma corrente crítica que se importasse em abordar e analisar as consequências pessoais

e políticas das TIC no cotidiano das mulheres, bem como a agência delas frente as potencialidades

dessas tecnologias. Dessa forma, entende-se que o ciberfeminismo deveria ser o trabalho feminista

em relação às mídias digitais e que tanto a vida online quanto a offline se constituem mutuamente e

não segregadas como se pensou nos primórdios da movimento e da Internet (BROPHY, 2010).

Apesar dos argumentos polêmicos e das críticas sofridas pelo ciberfeminismo, esta corrente

apresentou muitos avanços para os estudos feministas e para os estudos de cibercultura. Destacamos

quatro deles, a seguir. Primeiro, a exploração da conexão via rede e artefatos tecnológicos, que

possibilitou a interligação de ativismos de diferentes pautas, localidades e culturas, articulando o

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local e o global, além da convergência de temas e da troca de experiências entre diferentes grupos

de mulheres, ou seja, o ciberativismo feminista. Segundo, o debate sobre questão da virtualização

dos corpos, das interações sociais em ambientes digitais e memória. Terceiro, a tecnoarte como

forma de pensar as mudanças sociotécnicas, aliando, principalmente, a arte e a multimídia

(HAWTHORNE & KLEIN, 1999).

Atualmente, podemos considerar que são inúmeras as expressões ciberfeministas presentes

nos ambientes digitais e nos espaços de debate feminista, contudo muitas dessas manifestações não

se intitulam feministas. São mulheres organizadas que sustentam a bandeira do feminino e da

feminilidade de forma ora mais ora menos ativista (FLORES, 2001; MIGUEL & BOIX, 2013;

WELLS, 2005).

Experiências de mobilização e organização de mulheres são importantes para o resgate da

cultura feminina, como os recentes festivais "Lady Fest Brasil" (25) de meninas que se

consideram riot grrrls, subdivisão do punk e da cultura do faça-você-mesmo, em São Paulo

e "Corpus Crisis" (26) em Brasília, ou os encontros de grupos de grafiteiras como TPM

Crew (27) e Só Calcinha, que também usam Fotologs (sites de fotos), entre outros, como o

e-zine Bendita (...) e que mostram que existem muito mais manifestações femininas, que se

utilizam das mais diversas mídias para se organizar, comunicar mas também brincar, nem

sempre questionando e sim celebrando a tecnocultura. São exemplos de formações multi-

disciplinares de mulheres também fora de qualquer modelo organizacional permanente,

projetos táticos que não possuem um background institucional, e que não são mediados por

nenhum veículo de comunicação comercial, beneficiando-se somente de ferramentas de

comunicação online, e buscando um diálogo com atividades nas mais diversas áreas de

atuação cultural da mulher, agregando muitas meninas que sequer ouviram falar de

ciberfeminismo ou mesmo se encaixam nos diferentes feminismos existentes [...] (WELLS,

2005).

Essa multiplicidade e divergências dos movimento de mulheres frente às TIC, ficou evidente

durante a realização do I Encontro Internacional Ciberfeminista, ocorrido em setembro de 1997, em

Kassel, Alemanha. Em comum, todas as participantes apresentaram a preocupação em repensar e

combater o sexismo e o patriarcado com o auxílio das tecnologias digitais. Mas nem todas possuíam

uma aproximação teórica e ativista com o feminismo, bem como não estavam em concordância com

os avanços alcançados pelo movimento tradicional, inclusive criticavam algumas das abordagem

apresentadas pelo ciberfeminismo até então. Apesar desta consciência, elas optaram por deixar o

ciberfeminismo em aberto, provemos maior liberdade de expressões invés de tentar estipular

princípios para este movimento (MIGUEL & BOIX, 2013).

Essa falta de identificação com o feminismo e com a corrente ciberfeminista também ficou

evidente no contexto latinoamericano, apesar de terem se multiplicado as associações de mulheres

em torno da TIC (Cindy Gabriela FLORES, 2001):

São poucas as mulheres interessadas no ciberfeminismo na América Latina. Por outro lado,

entre os feminismos, o ciberfeminismo ocupa um lugar não muito bem definido, pois mais

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além da utilização da internet ou da apropriação da cibercultura e do ciberespaço, ainda se

deixa por definir se uma feminista ou uma mulher abordando temas das mulheres e

trabalhando com tecnologia, multimídia ou fazendo arte digital, inclusive quando seu

trabalho não se pode ver no ciberespaço ou não seja indispensável a internet para apreciar a

sua obra, é ciberfeminista ou não; ou se vídeos e arte transmitidos através da rede são

realmente interativos, ou se são arte de internet (não necessariamente net.art) ou não os

são... […]. Ainda que não se tenha clara a perspectiva feminista, quando falamos sobre

ciberfeminismo e o feminismo, com seu olhar atento e a mente aberta, estas garotas

irradiam entusiasmo por participar de alguma forma. É emocionante pensar que a

tecnologia e o feminismo podem caber em suas vidas futuras, se façam chamar

ciberfeministas ou não (FLORES, 2001, tradução nossa)3.

Na última décadas, o termo ciberfeminismo voltou a ser utilizado por pesquisadoras a partir

de uma nova concepção para relacionar as causas feministas e as tecnologias digitais, sendo estas

vistas não apenas como suporte sociotécnico para o movimento, como também como objeto de

estudo da crítica feminista, principalmente, ao que se refere ao androcentrismo (BROPHY, 2010;

HACHÉ et al., 2011, 2013; HAWTHORNE & KLEIN, 1999; MIGUEL & BOIX, 2013;

NATANSOHN, 2014; ROCHA et al., 2013; SERRANO & BIGLIA, 2011). Esta atual abordagem se

aproxima dos estudos de Gênero, Ciência e Tecnologia, visto que consideram que as relações de

gênero estão presentes em todo o processo de planejamento, produção, consumo e de apropriação

da tecnologia (CASTAÑO, 2008; HARAWAY, 2004; 2009; WAJCMAN, 2006). Sendo assim, se faz

necessário pensar não só em fomentar o acesso e o consumo de TIC por mulheres, mas também em

seu empoderamento através da presença e participação em posições de projeto, criação, gestão e

governança de tais tecnologias digitais.

Dentre esses novos estudos teóricos do ciberfeminismo, considera-se o surgimento de uma

terceira abordagem desse movimento, que conseguiu reunir diferentes correntes feministas

preocupados em promover a mudança nas relações de gênero, com os direitos humanos e com as

redes sociais na internet e que se opõem aos processos da globalização neoliberal. Caracteriza-se

assim o ciberfeminismo social (MIGUEL & BOIX, 2013). Utilizando-se de uma linguagem mais

próxima à das novas gerações na internet, esta nova abordagem também pode ser denominada de

ciberfeminismo 3.0 (NATANSOHN, 2014).

3 Texto original: Son pocas las mujeres interesadas en el ciberfemenismo en Latinoamérica. Por otro lado, entre

los feminismos, el ciberfemenismo ocupa un lugar no muy bien definido, pues más allá de la utilización de internet o la

apropiación de la cibercultura y el ciberespacio, aún queda por definir si una feminista o una mujer abordando temas

de la mujer y trabajando con tecnología, multimedia o haciendo arte digital, incluso cuando su trabajo no se pueda ver

en el ciberespacio o no sea indispensable internet para apreciar su obra, es ciberfemenista o no; o si videos y arte

transmitidos a través de la red son realmente interactivos, o si son arte de internet (no necesariamente net.art) o no lo

son... […]. Aunque no tienen clara todavía la perspectiva feminista, cuando hablamos sobre ciberfemenismo y el

feminismo, con sus miradas atentas y la mente abierta, estas chicas irradian entusiasmo por participar de alguna

forma. Es emocionante pensar que la tecnología y el feminismo pueden caber en sus vidas futuras, se hagan llamar

ciberfeministas o no.

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O termo “ciberfeminismo” está novamente em uso entre as mulheres jovens que têm na

internet e nas tecnologias digitais o suporte para a sua militância. Acreditamos que o termo

tem potencial, ainda, para representar/nomear os recentes estudos e ativismos feministas

que se focam nas TICs, enquanto meio/suporte e enquanto objeto a ser discutido pela

tecnociência feminista (PAZ, 2015, p. 69-70).

Sendo assim, o que podemos chamar hoje de ciberfeminismo é um conjunto diverso de

manifestações de mulheres e seu uso e apropriação das TIC para fomentar projetos tecnológicos por

e para mulheres, podendo ou não apresentar, de forma explícita, uma crítica ativista ou feminista ao

contestar a situação delas frente ao androcentrismo das tecnologias digitais. Logo, o ciberfeminismo

tem sido constituído por vários temas e linhas de ações. Por isso, consideramos válido utilizar o

termo “ciberfeminismos”, assim em sua forma plural, para indicar, além de todos os seus percursos

ao longo dessas décadas, a multiplicidade de suas atuais expressões.

A comunidade software livre e o grupo /MNT

Segundo a FSF – Free Software Foundation, softwares livres são aqueles que possuem

licenças que garantem as quatro liberdades do software: a de uso, distribuição, modificação e

distribuição das modificações. Além disso, uma das principais diferenças dos software livres para os

softwares proprietários é que a sua cadeia de desenvolvimento está baseada em produção

colaborativa em comunidade. Assim se desenvolvem e se licenciam softwares como o navegador

web Firefox, o servidor web Apache e o sistema operacional GNU/Linux Debian.

As comunidades de desenvolvedores e usuários, bem como coletivos, grupos e outras

organizações formadas ao redor desses projetos e demais entusiastas do movimento formam as

chamadas comunidades locais e internacionais de software livre. Sendo assim, a comunidade

software livre é formada por pesquisadores, profissionais, estudantes, entusiastas, ativistas; pessoas

que defendem a liberdade de informação e do conhecimento de acordo com o que podemos

considerar como os princípios sociotécnicos da cultura hacker (HIMANEN, 2001; SILVEIRA,

2004). Contudo, mesmo que muitos grupos feministas considerem que o SL proporcione meios

sociais, culturais e técnicos, além de ambiente mais amigável para o empoderamento das mulheres

nas TIC, esta comunidade não está isenta de conflitos de gênero (NAFUS et al., 2006; REAGLE,

2013). Assim como acontece em toda a área da TI, tais tensões também podem afastar as mulheres

dos projetos e eventos realizados sob o conhecido lema “Software Livre: socialmente justo,

economicamente viável e tecnologicamente sustentável” (TEZA, 2014).

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Em termos práticos, estudamos o grupo /MNT – Mulheres na Tecnologia, que foi criado em

2009 em Goiânia-GO por três mulheres que se conheceram na comunidade SL local e perceberam

que era necessário incentivar uma maior atuação de mulheres, não apenas no movimento SL, como

também junto à TI de uma forma geral. Desde então, o grupo cresceu e possui membros de

diferentes estados que se encontram, anualmente, para debater tecnologia, tendo em vista uma

perspectiva de gênero.

A atuação do grupo /MNT, segundo o exposto em seu site, é “TRANSFORMAÇÃO -

Habilitamos organizações para a jornada de promoção da equidade de gênero; COMUNIDADE -

Conectamos comunidades de mulheres em TI através dos nossos canais; EVENTOS - Organizamos

o Encontro Nacional de Mulheres na Tecnologia e apoiamos iniciativas”. Neste mesmo site, o grupo

agrega links para seus perfis nas redes sociais na internet, grupo de discussão por e-mail, cadastro

de algumas nas mulheres do grupo, bem como agenda, notícias, vagas de emprego, etc..

Além de sua atuação online, o grupo está presente em vários eventos realizados dentro das

temáticas da tecnologia da informação e do software livre. É válido citar que o software livre, sendo

uma cultura sociotécnica baseada em colaboração online, tem como prática recorrente a realização

de eventos (generalistas e/ou técnicos), que, presencialmente, atuam como espaços de sociabilidade,

networking e compartilhamento de conhecimentos.

A atuação do /MNT em eventos de software livre e de gênero e TI

No que tange o /MNT e como já mencionado, uma das suas principais realizações é o evento

denominado Encontro Nacional de Mulheres na Tecnologia (ENMNT)4, que ocorre anualmente em

Goiânia-GO. A primeira edição do evento ocorreu em 02 de março de 2013 em comemoração do

aniversário de quatro anos do grupo. O I ENMNT contou com a participação de 111 pessoas, dentre

elas, 80,2% mulheres provenientes de 10 diferentes estados (BA, CE, DF, GO, MG, PB, RJ, RS, SC

e SP). Tanto a mesa de abertura, quanto a grade de palestras e minicursos foram compostas

unicamente por mulheres como é de praxe em todas as suas edições. O evento não teve uma

temática oficial, mas a maioria das palestras tinham como foco debater a condição da mulher na TI

como o que ocorreu, por exemplo, nas palestras “Participação Feminina em Projetos

Colaborativos”, ministrado por Luciana Fujii e “Empreendedorismo Feminino na TI” por Cecília

Queiroz.

4 Ver sobre todas as cinco edições em: <http://mulheresnatecnologia.org/eventos/encontro-nacional>.

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A edição mais recentemente realizada do evento, sua 5ª edição, ocorreu em 02 e 03 de junho

de 2017, com a temática “Construindo o futuro Digital”5. Podemos dizer que, ao longo dos anos, o

evento passou por um reposicionamento, deixando de ser apenas um evento de mulheres sobre

gênero e tecnologia para ser um evento de tecnologia feito por mulheres com perspectiva de gênero.

Logo, ao mesmo tempo que aposta em debates como os das mesas redondas “O feminino nas

empresas de tecnologia: refletindo sobre os atuais mecanismos de equidade” e “Comunidades e

ativismo de gênero em TI: experiências, resultados e possibilidades futuras”, o evento também

promove palestras técnicas como “Data Science, o poder dos dados e como isso vai mudar o

mundo” por Fabiane Nardon e “Crie o site do seu evento com ConfBoilerplate + Heroku” por

Vanessa Tonini. Contudo, sempre buscando promover o protagonismo feminino.

A relação do /MNT com o SL não é seu único foco mas é uma das bandeiras levantadas por

estas mulheres:

Sim. A gente acredita muito nessa filosofia de colaboração. Então o encontro não é só

focado nisso mas em todas as oportunidades que a gente teve de envolver a ideia da

liberdade do conhecimento, da filosofia de colaboração para a mudança do resultado que a

gente quer da sociedade, a gente inseriu e são princípios que a gente viu no SL. Todas as

fundadoras fazem parte do movimento SL e foi nesse que nasceu o movimento de Mulheres

na Tecnologia. Então o grupo se preocupou com isso sim quando imaginou o encontro

nacional (Conselheira do /MNT em entrevista durante I ENMNT, 2013).

Para demonstrar a atuação do grupo na comunidade software livre, podemos citar o caso da

14ª edição do Fórum Internacional de Software Livre (FISL14), considerado o maior evento

brasileiro do tema e que ocorre anualmente em Porto Alegre-RS. Nesta edição de 2013, a

participação do /MNT ganhou particular destaque. Anteriormente, no I ENMNT, houve a palestra

“A participação Feminina no FISL” por Mariel Zasso, integrante da organização do fórum. Após a

palestra um debate que podemos resumir nas questões “como o /MNT pode ajudar o FISL?” e

“como o FISL pode intensificar suas ações sobre equidade de gênero?”.

Em relação à participação de mulheres como palestrantes no fórum, foi levando que apenas

disponibilidade uma chamada aberta de trabalhos não seria suficiente, visto que parte das palestras

são escolhidas através de votação feita por participantes e palestrantes do evento. Sendo assim,

carece haver uma maior sensibilidade da organização:

Acontece que o que a gente tem que lembrar é que a maior parte dos participantes é

homem, dos palestrantes é homem e dos ex palestrantes também é homem. Então a grande

maioria que vai votar é homem. Então se existe uma pequena intervenção para quando tem

5 O evento ainda não apresentou suas estatísticas em seu site (Coletas de dado realizadas em julho de 2017).

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um trabalho que a equipe está olhando e sabe que é de qualidade mas não foi muito bem

avaliado... (participante do debate durante o I ENMNT, 2013).

Para unir esforços para apresentar mais protagonistas apresentando seus conhecimentos e

experiências em TI, o /MNT entrou em campanha de divulgação da chamada de trabalhos do

FISL14. Algumas membros do grupo, contataram possíveis palestrantes, oferecendo apoio em

forma de presença e coautoria, buscando assim quebrar possíveis barreiras para falar em público.

Como fruto dessa parceira militante entre /MNT e FISL, o FISL14 apresentou: sorteio de

inscrições gratuitas para o FISL14 no I ENMNT; stand do grupo, que serviu como ponto de

encontro e trocas sociais entre as mulheres do evento; minicurso de programação ministrado por e

voltado para mulheres; minicurso sobre o sistema operacional GNU/Linux para mulheres; aumento

de palestrantes mulheres na grade do evento (via convite da organização e chamada de trabalhos,

incluindo a palestra do grupo /MNT “Onde guardamos o nosso machismo?”, ministrada por

Christiane Santos, Danielle Oliveira, Luciana Oliveira e Márcia Almeida; entrevista com algumas

militantes na rádio online do evento; dois “Encontro Comunitários”6, um do /MNT e outro do

GarotasCPBr.

Incentivado pela ativista e palestrante convidada Valerie Aurora (EUA) do ADA Institute for

Diversity in Leadership, o FISL14 inovou na comunidade SL brasileira com a adoção de uma

política anti-assédio, que teve como objetivo inibir discriminações de gênero, raça, etnia,

necessidades especiais, orientação sexual, aparência física, religião e condição sócio-econômica. O

/MNT aprovou a iniciativa e também passou a atrelar a inscrição dos participantes no ENMNT com

a aceitação de seu Código de Conduta: “Não toleramos qualquer forma de assédios ou intimidações

de qualquer participante do evento, seja audiência, palestrantes, colaboradores, ou quaisquer

membros da comunidade”7.

Através dessas frentes de atuação, o /MNT visa atingir seus objetivos de se tornar uma

referência no reconhecimento e no empoderamento de mulheres na TI, bem como colabora para o

crescimento da comunidade software livre, levando através de seu ativismo a consciência de

diversidade e a perspectiva de gênero. Como discutido anteriormente, o /MNT pode ser considerado

um legítimo exemplo de expressão do ciberfeminismos 3.0, que ocorre com a organização de

6 Espaço na grade cedido pela organização do FISL para que as comunidades de usuários possam desenvolver

seus próprios mini-eventos. 7 Ver <http://encontro2017.mulheresnatecnologia.org/>.

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mulheres, que não apenas usam a tecnologia mas buscam modificar as práticas androcêntricas das

comunidades sociotécnicas como é o caso do software livre no Brasil.

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Cyberfeminisms in the free software community of Brazil

Astract: The proposed article is based on the studies of Gender, Science and Technology, especially

those that look at how gender relations are present in the whole process of planning, production,

consumption and appropriation of technology (CASTAÑO, 2008; HARAWAY, 2004, 2009;

WAJCMAN, 2006). In this context, we discuss the differents activist and theoretical currents that

have sought to approach digital technologies, what we call cyberfeminisms (HAWTHORNE &

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KLEIN, 1999; MIGUEL & BOIX, 2013, PLANT, 1999; WAJCMAN, 2006). It work is derived

from the doctoral thesis titled "Women and Technology: Hacking Gender Relations in the Free

Software Community of Brazil" (2015), whose general objective was to investigate the social and

activist place of women in the hacker culture and the free software movement (FS) (HIMANEN,

2001; SILVEIRA, 2004). We use a new methodology, the multimodal digital ethnography

(AMARAL et al., 2008; BRAGA, 2006; HINE, 2000; KOZINETS, 2009; MURTHY, 2008), to

analyze the group /MNT – Mulheres na Tencnologia, created in 2009 in Goiânia-GO/Brazil, by

three women who realized that it was necessary to encourage greater participation of women, not

only in the FS movement, but in all Information Technology in the country. Therefore, this

communication aims to discuss cyberfeminisms and to analyze a group that is currently using ICT

to discuss to being woman in the FS community.

Keywords: Cyberfeminism. Women. Gender. Technology. Free software.