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Taís Brem - Especial para o DP

País. O dia 19 de agosto será mar-cado pelo lançamento da cervejaartesanal Biritis, produzida em ho-menagem ao humorista e ex-Tra-palhão Antônio Carlos BernardesGomes, o Mussum. Um dos ideali-zadores e sócios da cervejaria Bras-saria Ampolis, seu filho SandroGomes, acertou ao dizer que “comum garoto-propaganda desses, osucesso da marca está garantido”,ainda mais nos dias atuais. Tam-bém pudera. Muito antes de a be-bida sonhar em existir, várias ho-menagens póstumas já vinham sur-gindo na mídia, cativando, até mes-mo, os que nem eram nascidosquando o país perdeu um de seusartistas mais engraçados.

Bastou uma enquete informalcom a pergunta “Qual dos Trapa-lhões era o seu favorito?” paracomprovar o que já estava implí-cito. Manfried Sant’anna (Dedé) se-quer foi citado. O terceiro lugarficou para o líder do grupo, Rena-to Aragão (Didi), com apenas umvoto. Também já falecido, MauroFaccio Gonçalves (Zacarias) pon-tuou bem, graças a sua boa impres-são junto aos fãs, aparecendocomo segunda opção. Mas, é mes-mo de Antônio Carlos o mérito doprimeiro lugar. Traduzindo, não éexagero dizer que Dedé, Didi eZacarias devem boa parte da po-

Homenagens muito além da “Biritis”Vinte anos após suamorte, o humorista negroMussum faz sucesso entrequem não o conheceu

pularidade do quarteto mais famo-so da televisão brasileira ao perso-nagem Mussum, mesmo às véspe-ras dos 20 anos de sua morte.

O contabilista Lázaro Ferreirasimpatizava com o humorista pelaidentificação com a raça negra, osamba e o modo “diferente” de fa-lar - o consagrado vocabulário coma terminologia “is”, que acabou ge-rando bordões como o “cacildis” eo “forévis”. “Considero que ele se-ria um comediante melhor que opróprio Renato Aragão, nos diasde hoje. E acho que, além de estarconhecendo o trabalho que ele fa-zia, a nova geração, que não o viu,somente ouviu falar, está gostan-do, aprovando e se identificando”,destacou.

O universitário Anderson Ro-drigues, que tinha apenas sete anosà época da morte de Mussum, con-corda: “Ele é ‘o cara’. Penso que éimportante manter viva a memó-ria desse humorista e é uma exce-lente oportunidade para as novasgerações conhecerem”, disse, so-bre a faixa etária na qual ele mes-mo se inclui.

Na infância do músico e foto-jornalista Solano Ferreira, 37, a in-fluência do seriado foi tão intensaque, até hoje, sempre que presen-cia uma cena desastrada faz ques-tão de puxar a trilha sonora quemarcou a abertura do programa.“Meus domingos eram divididosentre antes e depois dos Trapa-lhões. Inclusive chorei quando osdois integrantes (Zacarias, em1990, e Mussum, em 1994) morre-ram, porque os quatro para mim éque faziam a diferença. Juntos, eleseram insuperáveis. É que nem se-

parar o Gordo do Magro ou umdos Três Patetas, que eu tambémsou superfã!”, comentou.

Caiu na redeAlém de fazer carreira na tele-

visão e no cinema como humoris-ta, o carioca Mussum era integran-te do grupo Originais do Samba efazia questão de ressaltar seu amorà escola carnavalesca Estação Pri-meira de Mangueira. Quando mor-reu, em julho de 1994, por compli-cações no coração, o acesso à in-ternet ainda não era nada comum.Ainda assim, hoje até ele tem seuespaço garantido por lá. Uma dasiniciativas da rede que mais deucerto, brindando fãs e arrebanhan-do novos admiradores, foi a divul-gação de uma série de montagensque mesclavam o rosto do humo-rista com o de diversos famosos ouem cenários característicos. A boaideia gerou figuras engraçadas,como o “Obamis”, o “Anderson Sil-vis”, o “Harry Potis” e a “Ana MariaBraguis”. Um excelente viral, comosão chamadas as febres que estou-ram no ambiente virtual. “Eu acre-dito que é uma tendência bem for-te essa retomada de alguns ícones.As páginas do facebook que utili-zam bastante esse método são ‘su-perpops’ e deslancham com muitafacilidade. Com esse sucesso cons-tatado, a publicidade se aproprioue fez o mesmo com o Mussum, usan-do a comédia”, opinou a jornalista,pesquisadora de redes sociais emestranda do Programa de Pós-Graduação em Letras da Universi-dade Católica de Pelotas (PPGL/UCPel), Taiane Volcan. “Foi a ve-lha regra da apropriação e, claro,um pouco de sorte.”

E bota sorte nisso. Na mesmaépoca do famoso viral da internet,em 2012, a agência de publicidadepelotense Santa Anna elaborouuma campanha de Natal para a lojaOtros Aires. “A ideia era associaro Mussum, personagem-ícone dosanos 1980 e querido pelo público-alvo da marca, à data, que remetea tantas lembranças da infância.Usamos ele com touca de PapaiNoel, em máscaras na vitrine e to-

A cerveja batizada de Biritis remete ao jeito como Mussum falava na TV

Fotos Divulgação - DP

CIDADES10DIÁRIO POPULARDOMINGO, 11 DE AGOSTO DE 2013

das as peças possuíam a chamada‘Feliz Natalis’”, relembrou, orgu-lhosa, a publicitária da agência,Cadija Souza. “Os consumidoresgostaram tanto da ideia que mui-tos tiravam foto da vitrine e pedi-am para posar com a máscara.”

A também publicitária e sóciada Tr3s Comunicação Total, Fer-nanda Morales, não é muito adeptaà tendência de utilizar em campa-nhas celebridades que já morreram,embora confesse ser fã dos Trapa-lhões. “Elvis Presley, mesmo, é umdos mais usados. Eu, pessoalmen-te, não gosto dessa estratégia, masrespeito quem usa. Realmente, oMussum foi um ‘bum’”, opinou.

“Nada mudou”Esse movimento todo soa, pra-

ticamente, como uma tentativa deressurreição do ídolo nas diversasmídias. A imagem de Mussum estáestampada em roupas, seu lingua-jar próprio na boca de todo o Bra-sil e sua figura cai como luva nadivulgação de qualquer projeto quequeira ser bem-sucedido. Talvez,como nunca antes na história des-se país. Até porque, quando sur-giu nas telinhas e telonas interpre-tando seu personagem mais famo-so, Antônio Carlos enfrentou umracismo bem mais forte que o queexiste atualmente. Porém, para abancária Eva Maria Soares, gradu-ada no curso de Licenciatura emEducação Artística, com habilita-ção em Artes Cênicas da Universi-dade Federal do Rio Grande do Sul(UFRGS), a valorização do perso-nagem em nossos dias não remete

à evolução racial. Negra e peloten-se radicada em Porto Alegre háquase 30 anos, ela acompanhou osucesso do quarteto de perto, todavez que levava a afilhada aos sho-ws no Gigantinho ou às estreiasdos filmes nos cinemas. Era diver-são garantida em família. Mas asrisadas não embaçavam seu olharcrítico. “Os Trapalhões eram extre-mamente preconceituosos com fei-os, negros, gordos e pobres. Acholamentável que os três que acom-panhavam o Didi compactuassemcom isso (o Mussum negro, o Dedégordo e o Zacarias feio)”, disse. “Deuns tempos para cá, tivemos mui-tas celebridades negras aparecen-do - e reaparecendo -, mas é só paracalar a nossa boca. Nada mudou.Os negros aparecem só um pouco.Não muito. O suficiente para a gen-te ‘achar’ que não tem preconceitoe que a sociedade está nos aceitan-do. Na verdade, só está nos ‘engo-lindo’, porque sabe que qualquerdeslize pode arder em seu bolso.”

Imagem do humorista do grupo Os Trapalhões estará nas embalagens

AS CERVEJAS

Saúdis - Do tipo Vienna Lager (ca-racterizado pela baixa fermentação,malte importado, cor alaranjada earoma a lúpulo), a cerveja artesanalBiritis será comercializada no Rio eem São Paulo em embalagens de600ml. Haverá ponto de venda aténa quadra da escola de samba docoração do homenageado.

Cacildz - Não é a primeira vez queMussum é lembrado em forma decanção. “Cacildz” (assim mesmo, com“z”), do cantor de hip hop PregadorLuo, é um exemplo. O ritmo é dan-çante, mas a letra não dispensa umtoque de crítica social: “Cacildz, ca-cildz, a parada tá sinistris/ Tão to-mando muito mé, exagerando na bi-ritis/O povão tá estressado/ Quan-do você já não serve, metem o péno seu forévis”.

Fusquis - Mussum também é estre-la na montagem feita pela Volkswa-gen, no início desse ano, para apre-sentar ao público o Novo Fusca. Acampanha publicitária reconstituiuo cenário do Viaduto do Chá, em SãoPaulo, como na década de 1970.

Feliz Natalis - A frase virou sloganda campanha publicitária encomen-dada pela loja pelotense Otros Airesà agência Santa Anna, no Natal de2012. Os consumidores aprovaram.

In memoriam

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