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Com Maria... a contemplarA alegria de sermos discípulos missionários
entusiasma-nos a viver de forma renovada este Ano Pastoral. Fazemo-lo, em ambiente de celebração do Centenário das Aparições em Fátima (1917-2017), na perspetiva da fé contemplada. Propomo-nos continuar a redescobrir a nossa identidade cristã e o dom da fé, numa adesão e conversão a Jesus Cristo, contemplando as maravilhas que Deus operou em Maria e na nossa própria vida pessoal, familiar, paroquial e social. Como Maria, felizes, porque acreditamos, queremos percorrer um caminho de conversão até Jesus Cristo. Pela fidelidade da presença de Maria junto à Cruz, vamos tecendo, compondo e recordando no coração os acontecimentos e palavras da vida.
Com Maria… junto à Cruz“Ao pé da cruz, na hora suprema da nova criação,
Cristo conduz-nos a Maria; conduz-nos a Ela, porque não quer que caminhemos sem uma mãe; e, nesta imagem materna, o povo lê todos os mistérios do Evangelho. Não é do agrado do Senhor que falte à sua Igreja o ícone feminino. Ela, que O gerou com tanta fé, também acompanha «o resto da sua descendência, isto é, os que observam os mandamentos de Deus e guardam o testemunho de Jesus» (Ap 12, 17)” (Evangelii Gaudium, 285).
Maria recebe a missão de acolher o discípulo amado e todos quantos ele representa como filhos e filhas. O discípulo amado é, na verdade, o símbolo da comunidade cristã, de cada um de nós enquanto discípulos amados do Senhor. “Eis o teu filho”, “eis a tua mãe” – é dito para cada um, pessoalmente. Aqui “está plenamente indicado o motivo da dimensão
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mariana da vida dos discípulos de Cristo... A maternidade de Maria que se torna herança do homem é um dom: dom que o próprio Cristo faz a cada homem pessoalmente” (Redemptoris Mater, 45).
Maria faz parte da Igreja e da vida de fé do discípulo como um bem precioso e um valor vital; a Igreja e cada fiel podem reconhecer nela a mãe que lhes foi confiada e a quem eles foram confiados. Isto suscita em nós o amor a Maria e convida a deixarmos que este amor alimente o nosso amor a Cristo e à Igreja.
Com Maria… na IgrejaO nosso amor a Maria é muito mais do que uma mera devoção
sentimental; é, antes, a contemplação da beleza do amor misericordioso de Deus por nós, pela humanidade dispersa que Ele quer reunir; é a contemplação da beleza da Igreja como Povo do Senhor, de que ela é membro eminente e mãe amorosa; e da beleza da vida com Cristo, de quem ela foi mãe, primeira e perfeita discípula. Naturalmente, tudo tem em vista uma renovação da vida cristã e da Igreja. Como afirma perspicazmente o cardeal Walter Kasper, “uma verdadeira renovação da Igreja não é possível sem uma renovada mariologia e sem uma renovada devoção a Maria. Por isso, Maria pode ser também hoje um modelo para uma renovação da vida da Igreja e ajudar a realizá-la”.
A Igreja, em toda a sua história, cultivou intensamente a relação com Maria pois não se pode perceber a si mesma sem contemplar a fé de Maria, a sua eleição gratuita, a sua disponibilidade, o seu compromisso. Neste sentido, a disponibilidade e o compromisso de Maria tornam-se a disponibilidade e o compromisso da Igreja, isto é, daqueles e daquelas que aceitam ser habitados por Deus. “Ir até Maria é ir à escola do Cristianismo; compreendê-la é possuir a gramática para compreender a humanidade e para falar a língua da vida. [...] Nela está o alfabeto da vida. [...] Maria é como o ADN da Igreja e de cada discípulo, nela já está presente o património original e fundamental que faz crescer a Igreja” (Ermes Ronchi).
Com Maria… nas dores e alegriasA existência da Virgem Maria não foi uma caminhada tranquila, sem
encruzilhadas, sem esquinas, sem tensões, sem dúvidas ou sem dores. Maria passa por tudo isso, mas pondera, acolhe, compõe e tece no seu coração com linhas de sofrimento. Ao longo de toda a sua vida, soube manter sempre claro e firme o seu “sim” à vontade de Deus. Porque guardava tudo no coração, Maria torna-se a “Virgem Fiel”. Maria de Nazaré “recordava”, aprendia “de cor”, guardava no seu coração tudo o que tinha ouvido e visto acerca de Jesus. A sua fidelidade nutria-se diariamente da memória sempre refrescada das maravilhas do Senhor.
Esta alegria gerada pela contemplação das maravilhas do Senhor aparece bem sublinhada pelo Papa Bento XVI quando diz: “com fé, Maria saboreou os frutos da ressurreição de Jesus e, conservando no coração a memória de tudo, transmitiu-a aos Doze reunidos com Ela no Cenáculo para receberem o Espírito Santo. [...] Pela fé, no decurso dos séculos, homens e mulheres de todas as idades, cujo nome está escrito no Livro da vida, confessaram a beleza de seguir o Senhor Jesus nos lugares onde eram chamados a dar testemunho do seu ser cristão: na família, na profissão, na vida pública, no exercício dos carismas e ministérios a que foram chamados. Pela fé, vivemos também nós, reconhecendo o Senhor Jesus vivo e presente na nossa vida e na história” (Porta Fidei, 13).
Com Maria… na QuaresmaNo contexto da caminhada do Ano Litúrgico, temos vindo a assumir
as atitudes de Maria como modelo da nossa experiência de Deus e de vida em Igreja, conforme podemos ver no quadro que se segue:
Tempo Litúrgico Atitude de MariaAdvento Silêncio
Tempo Comum I LouvorQuaresma Penitência
Páscoa OraçãoTempo Comum II Ação de Graças
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A Quaresma é um tempo que convida à reflexão e à conversão interior, no fundo, a “voltarmo-nos para Deus de todo o coração” e ponderar, recordar e contemplar a Palavra de Deus, preparando-nos para reconhecer toda a alegria Pascal que vem da Ressurreição de Jesus, que nos salva e nos compromete com Ele e com os irmãos. Neste espírito, queremos celebrar e viver as atitudes de Maria acima enunciadas para estes Tempos Litúrgicos.
Segue-se uma proposta de caminhada Quaresmal, a partir das dores de Maria, que posteriormente terá continuidade na caminhada para o Tempo Pascal, que se apresentará em ligação com as alegrias de Maria.
Será na escuta atenta e no acolhimento da Palavra, ao ritmo da Liturgia de cada Domingo, que esta conversão se poderá operar, através de uma predisposição e de uma atitude que passará pela vivência na Família, na Catequese e na Liturgia.
Quaresma: tecidos de Misericórdia O Tempo da Quaresma abre para cada cristão a porta da conversão
que conduz à alegria da reconciliação. Efetivamente, sendo um tempo de uma vivência profunda dos mistérios da paixão-morte-ressurreição de Jesus Cristo, pretende-se desenvolver uma atitude de penitência e conversão para um encontro fundamental e alegre com Jesus Cristo.
Para exprimir todo este dinamismo de conversão e de revestimento de Cristo, numa imagem que fosse a base de trabalho e de desenvolvimento desta caminhada, recorremos a três elementos: a Cruz, a figura de Maria e tecidos/faixas. Estes devem estar unidos entre si: uma cruz visível, com Cristo ou sem a figura de Cristo, revestida de panos/faixas/tecidos manchados, escuros, com a figura de Maria a seus pés.
Assim, abeiramo-nos de Maria, Mãe de Misericórdia, para que com ela possamos lavar, tecer e recriar o tecido da nossa vida, marcado pela fragilidade e pelo pecado. Com Maria, acreditamos que será possível revestir os cantos mais íntimos da nossa vida com mais esperança e misericórdia, fazendo essa experiência em vários ambientes: a nível pessoal, na família, na liturgia e na catequese.
LITURGIAO caminho da Quaresma será percorrido ao ritmo da Palavra de
Deus que ilumina a nossa vida e nos faz reconhecer os aspetos do tecido do nosso viver que necessitam de purificação (conversão), tal como se apresenta no quadro da página seguinte.
A partir dos elementos simbólicos e do itinerário propostos, vamos procurar cultivar a penitência, como atitude a aprender de Maria, valorizando em cada celebração o momento da Preparação Penitencial:
a) o presidente introduz o momento, em conformidade com um texto que se preparará para cada celebração semanal, evocando a atitude que será necessário purificar no tecido da nossa vida e convidando a assembleia a um tempo de silêncio;
b) convida depois à oração da Confissão; c) da Cruz retira-se a faixa onde está escrita a palavra que identifica
a atitude que queremos purificar; d) o tecido é colocado num cesto, junto de Maria;e) para concluir o momento penitencial reza-se a oração: «À Vossa
Proteção…».
À vossa proteção recorremos, Santa Mãe de Deus. Não desprezeis as nossas súplicas em nossas necessidades, mas livrai-nos sempre de todos os perigos, ó virgem gloriosa e bendita. Amém
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Esquema da Caminhada Quaresmal
Celebração Data Contemplar a Alegria do Evangelho
Itinerário Simbólico
Atitude mariana
Expressão na faixa que pende da Cruz
Quarta feira de Cinzas 1 de março “Arrependei-vos e acreditai no Evangelho”
Penitência
Indiferença
I Domingo 5 de março “Nem só de pão vive o homem, mas de toda a palavra que sai da boca de Deus” Esquecimento de Deus
II Domingo 12 de março “Este é o meu Filho muito amado, no qual pus toda a minha complacência. Escutai-O” Egoísmo
III Domingo 19 de março “Se conhecesses o dom de Deus…” Orgulho
IV Domingo 26 de março “Eu sou a Luz do Mundo” Pessimismo
V Domingo 2 de abril “Eu sou a ressurreição e a vida. Quem acredita em Mim, ainda que tenha morrido, viverá” Desconfiança
Domingo de Ramos 9 de abril “Jesus fez-se obediente até à morte” Desobediência
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Celebração penitencial e Via Sacra
O perdão – como diz o Papa Francisco – é uma carícia de Deus, que nos traz a liberdade interior, a paz espiritual e a alegria. É necessário redescobrir este sacramento. Neste sentido e tendo por base o texto bíblico de Jo 19, 26-27 (Maria e João junto à Cruz), a Comissão de Liturgia apresentará uma Celebração Penitencial, que poderá ser preparada em família, onde será possível recuperar a oração mariana e o exame de consciência, e celebrada em cada comunidade cristã, em ordem a valorizar a vivência pessoal e comunitária da maravilha do perdão que Deus opera na vida de cada cristão.
Quanto à Via Sacra, também será apresentada uma proposta que conduzirá à meditação do percurso dos passos de Jesus com Maria. Sugere-se também, como opção, tendo em conta a celebração do Centenário das Aparições em Fátima, a Via Sacra Orai Assim, elaborada pelo Padre Marcelino Paulo Machado Ferreira (Edições Salesianas, 2017).
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CATEQUESEDinâmica da sessão de catequese
Em cada sala de catequese haverá três elementos centrais para a vivência da caminhada proposta: Cruz, Maria e tecidos/faixas. As faixas/tecidos estarão já colocadas na Cruz à semelhança do que se fez na igreja paroquial. A imagem de Maria estará também junto à Cruz.
Assumindo a atitude de Maria junto à cruz, poderemos tentar ajudar as crianças e adolescentes a aprender a fazer e a cultivar o hábito do exame de consciência diário, a partir de uma experiência feita na sessão de catequese. Para isso, ao preparar a sessão, deve ter-se em conta o melhor momento para fazer o exame de consciência a partir dos seguintes pontos:
- Agradecer o dia vivido; - Pedir a Luz do Espírito Santo; - Examinar o que terá sido menos bom, iniciando
com a confissão (as perguntas abaixo apresentadas podem ajudar neste momento);
- Pedir perdão (ato de contrição); - Propor (propósito de melhoria para o dia seguinte).
Este momento pode ser enriquecido com o gesto vivido na celebração da Liturgia da comunidade. No final desta dinâmica, cada catequizando é levado a fazer um compromisso que há de ser escrito, levado para casa e colocado no Cantinho Mariano de Oração, ou andar com ele no dia a dia, num lugar onde a criança ou adolescente o possa facilmente ver e recordar. Na
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sessão seguinte, ao fazer memória da semana, deve fazer-se sempre referência ao compromisso.
A celebração do Sacramento da Reconciliação surgirá, neste itinerário, como momento luz em toda esta dinâmica. Por isso, sugere-se que cada grupo de catequese participe na Celebração Penitencial.
Proposta de Exame de Consciência
1. Oração - Vou sempre à Missa aos domingos ou às vezes arranjo desculpas
para não ir? Costumo comungar? Procuro dialogar com Jesus que veio a mim na comunhão? Ao longo do dia vou pensando na presença de Deus e falo com Ele?
- Tenho agradecido a Deus os dons e as graças que recebo? Faço o meu exame de consciência diário, peço perdão e procuro melhorar e não voltar a pecar?
- Aproveito a catequese para conhecer melhor Jesus?- Falo de Jesus aos amigos ou, pelo contrário, tenho vergonha?- Estou zangado(a) com alguém? Falo mal de alguém nas suas
costas? Sou mandão (mandona)?- Desobedeço aos pais, aos professores e aos catequistas? Na escola
e na catequese faço barulho, perturbando os outros?
2. Esmola - Decerto recebo dos meus pais uma “semanada” ou uma “mesada”:
por que não destinar alguma quantia para um pobre? - Com os amigos na catequese ou com a família, posso até apoiar
uma instituição que ajude os mais necessitados; tenho aderido a essas iniciativas com alegria?
3. Jejum - Sou guloso(a)? Sou demasiado dependente da TV, do telemóvel,
do computador e do tablet? - Minto? Sou egoísta, invejoso(a) e materialista? Convencido(a)?
Vaidoso(a)? Preguiçoso(a)? - Fui violento(a) nas atitudes ou palavras ou chamei nomes feios a
alguém? Roubei ou estraguei de propósito alguma coisa dos outros?- Utilizo bem o tempo, tentando não o desperdiçar?- Procuro respeitar a natureza, não poluindo o ambiente nem
deitando lixo para o chão?
Confesso a Deus todo-poderoso e a vós irmãos,que eu pequei muitas vezes por pensamentos, palavras, actos e omissõespor minha culpa, minha tão grande culpa.Peço à Virgem Maria aos Anjos e Santos e a vós, irmãos,que rogueis por mim a Deus Nosso Senhor.
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FAMÍLIAA dinâmica em casa consiste em criar um tempo de
oração e conversão em família. Assim, cada família da comunidade é convidada a criar um Cantinho Mariano de Oração. Aí a família poderá reunir-se em oração, tal como Maria fez com os discípulos no Cenáculo.
A oração poderá começar com o acender de uma vela, invocar o dom da presença do Espírito Santo, e rezar/meditar a partir da proposta do livro Rezar na Quaresma (Edições Salesianas, 2017).
Posto isto, criar um breve tempo de silêncio, para acolher com a docilidade e calma de Maria a Palavra escutada e meditada, e aí cada um poder realizar um exame de consciência, ora pessoal, ora familiar, com a ajuda do esquema anteriormente proposto. Como seria bom que esta oração fosse feita em família!
Depois deste momento, o compromisso trazido da catequese é colocado debaixo da imagem de Maria. A ela confiamos as nossas dores e esperanças. Com ela e por ela nós queremos chegar à paz de coração que vem de seu Filho Jesus.
Este tempo de oração termina com a oração a Maria “À Vossa Proteção…”.
À vossa proteção recorremos, Santa Mãe de Deus. Não desprezeis as nossas súplicas em nossas necessidades, mas livrai-nos sempre de todos os perigos, ó virgem gloriosa e bendita. Amém
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COM MARIA… DOMINGO A DOMINGO
Segue-se uma proposta de reflexão para cada Domingo da Quaresma. Em ano dedicado à Virgem Maria, Mãe de Deus e da Igreja. Este itinerário pretende auxiliar os ambientes nos quais a conversão deve acontecer.
Maria guarda no coração a Palavra de Deus. Será na escuta atenta e no acolhimento da Palavra, ao ritmo da Liturgia de cada Domingo, que a conversão se pode operar, através de uma predisposição e de uma atitude que passará pela vivência na Catequese, na Família e na Liturgia.
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“Arrependei-vos e acreditai no Evangelho”
Quarta-feira de cinzas* Tomar consciência de que somos cinza e de que, em Tempo
Quaresmal, há necessidade de cada um “voltar-se mais para Deus de todo o coração”, recordar com fidelidade a sua vida e tecê-la com a misericórdia de Deus.
* Seguindo os passos de Maria, estabelecer uma profunda relação com Deus. “Maria conservava todas estas palavras, ponderando-as (compondo-as/tecendo-as) no seu coração”. Maria guarda no coração a Palavra de Deus.
* O Tempo Quaresmal que inicia na Quarta-feira de Cinzas deve ser um caminho de autêntica conversão, um tempo propício para cada um/família se “voltar para Deus” e “recordar”, “guardar” palavras e acontecimentos, abrindo espaço à conversão e à verdadeira penitência.
* As cinzas são expressão da atitude necessária durante esta caminhada, sinal desta consciência humana e atitude humilde que permitirá percorrer este caminho de verdadeira conversão do coração em direção à Páscoa.
* Em Ano Mariano, lembramos ainda todas as mães, mulheres e famílias, que também fazem este caminho de conversão, tornando-se cinza, no encontro pessoal com Cristo e com os irmãos, na Evangelização/Testemunho/Anúncio de Cristo a todas as pessoas.
* A partir do Evangelho, sublinhar quatro atitudes fundamentais: oração, jejum, esmola e penitência.
* Fazer referência ao destino do Contributo Penitencial.* Elementos: Cruz, Maria, faixa/tecido.* No Momento da preparação penitencial: confissão, retirar
a faixa/tecido com a expressão “Indiferença” e concluir com a oração “À Vossa Proteção”.
* Depois da homilia, segue-se a imposição das cinzas sobre as pessoas.
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1º Domingo da Quaresma* Tomar consciência de que voltar-se para Deus passará por fazer
deste Tempo Quaresmal um tempo de deserto, um espaço de paragem, reflexão e oração para não cedermos às diversas tentações do mundo.
* “Antes de dar início à Sua pregação, Jesus entrega-se à oração, uma atitude quaresmal; antes de se apresentar em público, vai para o deserto; antes de Se misturar com o povo, retira-se para a solidão. Antes de ir ao encontro dos homens, busca a intimidade do Seu Pai, que está no Céu” (Karl Rahner).
* O deserto é espaço de paragem obrigatória, de reflexão, oração, introspeção para quem quer fazer um caminho sério em direção à Páscoa, isto é, em direção a uma vida nova, livre das tentações, ou melhor, com força para se ir libertando das várias tentações com que se é confrontado diariamente.
“Nem só de Pão vive o homem, mas de toda a palvara que sai da boca de Deus”
* Depois de 40 dias de desânimo, vagueando pelo deserto, o profeta Elias encontra Deus. Jonas, em nome de Deus, concede aos pecadores 40 dias para se converterem e mudarem de vida. Jesus está 40 dias no deserto e o jejum ajuda-O a sintonizar plenamente com o projeto de Deus.
* Só orando, refletindo, entrando no deserto do meu íntimo, é que me transformo ao ponto de me poder “voltar para Deus de todo o coração”, acolhendo-O na Sua Palavra, pois só assim perceberei que “nem só de pão vive o homem” (Evangelho).
* S. Paulo refere na segunda leitura: “A Palavra está perto de ti, na tua boca e no teu coração”. Então, aproveitemos este Tempo Quaresmal para acolher e amar essa Palavra que está tão perto, dentro de nós.
* Por outro lado, a tentação de Jesus no Deserto não foi um acontecimento isolado, foi o começo de uma luta que se prolongará por toda a vida, atingindo o auge com a morte em Jerusalém.
* O Batismo não nos introduz num estado de segurança. É antes o começo de uma exigente caminhada, no decorrer da qual a nossa fidelidade a Deus é, muitas vezes, posta à prova.
* Em Ano Mariano, somos precisamente convidados a refletir sobre a nossa fidelidade a Deus, sobre o “sim” à nossa vocação batismal, que implica acolher Deus de todo o coração, na Sua Palavra.
* Elementos: Cruz, Maria, faixa/tecido.* No Momento da preparação penitencial: confissão, retirar
a faixa/tecido com a expressão “Esquecimento de Deus” e concluir com a oração “À Vossa Proteção”.
EntrelinhasObrigado por estes 40 dias que me concedes, Senhor.
Fica comigo e ajuda-me a fazer escolhas sérias.Se Tu estiveres comigo, vou conseguir encontrar um estilo
novo para a minha vida.Obrigado por estes 40 dias que quero passar com Jesus.
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2º Domingo da Quaresma* Tomar consciência de que voltar-se para Deus passará por querer
estar mais com Ele (“Mestre, como é bom estarmos aqui!”), escutar mais a Sua Palavra, acolher mais as propostas que Deus me vai fazendo no silêncio e ser mais presença d’Ele no mundo e na Igreja (Viver as 24 horas para o Senhor como oportunidade de conhecer o rosto transfigurado de Jesus).
* A Quaresma convida a parar interiormente, a construir tendas do encontro e do acolhimento a Jesus na minha vida, mas simultaneamente a agir, a descer do monte e a anunciar a Boa Nova de Jesus Cristo transfigurado.
* A experiência, breve mas maravilhosa, que foi dada viver aos apóstolos na transfiguração, constitui uma “antevisão” de Jesus ressuscitado. “O seu rosto ficou resplandecente como o Sol e as suas
“Este é o meu Filho muito amado, no qual qual pus toda a minha complacência. Escutai-O”
vestes tornaram-se brancas como a luz”. Este acontecimento quer iluminar o nosso caminho, quer que descubramos a verdadeira missão do Messias e a coragem necessária para seguirmos os Seus ensinamentos e a Sua vida de ressuscitado. Mostra que é na Cruz que descobriremos o verdadeiro sentido da vida, a verdadeira luz. A transfiguração é o prenúncio de que o triunfo da vida e da dignidade do homem nasce da Cruz, no dar a vida, concretizando-se no homem transfigurado, no homem que deixa branquear as vestes do seu Batismo pela luz da ressurreição.
* Tal como Cristo, cada um é chamado a dar-se, a assumir a sua cruz, transfigurando-se e dignificando-se. Mas este dar-se tem de ser permanente e sem barreiras, como acontece com Maria que assume a missão, a graça que Deus derrama na sua vida.
* Chega de caricaturas e de verdades a meias. Quem é mesmo Jesus? Para lá das imagens “fofinhas” do menino Jesus do presépio… para lá da tentativa de reduzir Jesus a um profeta contestatário… para lá do Jesus homem bondoso…queres saber quem é realmente Jesus? Escuta a voz do Pai.
* Como Maria aos pés da Cruz, vivemos um tempo favorável da fé, um tempo do acolhimento da Palavra no nosso coração, um tempo de contemplação do rosto misericordioso de Deus.
* Elementos: Cruz, Maria, faixa/tecido.* No Momento da preparação penitencial: confissão, retirar
a faixa/tecido com a expressão “Egoísmo” e concluir com a oração “À Vossa Proteção”.
EntrelinhasTu és filho. Tu és amado. Daqui nasce a tua força, a tua
coragem, a tua alegria.Quero estar mais contigo. E como Tu, sentir-me filho amado
pelo Deus da beleza e da ternura.
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3º Domingo da Quaresma** Tomar consciência de que voltar-se para Deus, que é Pai
Misericordioso, passará por estar atentos aos seus apelos e, como Maria o fez, acolher a Sua Palavra e vontade, com mais fé e alegria na nossa vida e no nosso coração.
* Contrariando uma opinião corrente entre os seus contemporâneos, Jesus afirma que, na vida presente, não existe relação direta entre pecado e desgraça, calamidades e erros.
* Já tentamos tantas coisas, tantas soluções para uma vida feliz. A maioria nem sequer funciona. Limitam-se a ficar com o dinheiro que pagamos e a deixar o coração ainda mais insatisfeito. Outras parecem funcionar, mas ao fim de alguns dias vemos que não resistem ao teste do tempo, ao embate com os altos e baixos da vida. E começamos a duvidar de tudo. E a vida parece uma longa travessia pelo deserto,
“ Se conhecesses o dom de Deus...”
cheio de sede e desilusão.* Não deixa de haver, no entanto, sinais ou apelos da parte
de Deus à mudança de vida, à conversão permanente, apelos que todos temos de acolher, pois não somos melhores do que os que sofrem.
* A Quaresma ensina-nos que todos somos pecadores, todos precisamos de recordar das nossas faltas e pecados, as nódoas que mancham a relação pessoal, com os outros e com Deus, mas, acima de tudo, acolher com coragem a Misericórdia de Deus, através do Sacramento da Reconciliação, vivido numa Celebração Penitencial.
* É urgente arrependermo-nos e convertermo-nos ao Sagrado Coração de Jesus, que tanto nos ama e que só n’Ele está a salvação.
* Elementos: Cruz, Maria, faixa/tecido.* No Momento da preparação penitencial: confissão, retirar
a faixa/tecido com a expressão “Orgulho” e concluir com a oração “À Vossa Proteção”.
EntrelinhasTu és água fresca, Senhor da vida abundante.
Tu és a resposta aos desejos mais profundos que trago dentro de mim.
Em Ti, só em Ti, encontro paz, perdão, sentido, esperança.Em Ti, só em Ti, recupero forças para me levantar e continuar
a viver com entusiasmo.
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4º Domingo da Quaresma* Tomar consciência de que é importante recordar o caminho
que nos aproxima ainda mais de Deus e que poderá passar por nos reconciliarmos com Deus, com os irmãos e com o próprio. Durante esta semana, pode viver-se o Sacramento da Reconciliação ou pode optar-se por fazer a Via Sacra.
* Jesus propõe-nos um caminho novo, um caminho de reconciliação, um caminho de regresso à casa do Pai, um encontro com a Sua Palavra, no fundo, um “voltar-se para Ele”.
* Recordar que a “Penitência” é a atitude mariana que se pretende viver neste itinerário.
* A Cruz e o perdão são um caminho novo de conversão, em oposição às tantas “costas voltadas”, que tantas vezes nos limitam, prendem e não nos deixam olhar de frente.
“Eu sou a Luz do Mundo”
* Na comunidade e na catequese, deve incentivar-se à prática do sacramento da Reconciliação, como sinal de encontro com a misericórdia e o perdão que Deus sempre oferece.
* A reconciliação obriga cada um a olhar para dentro de si mesmo, reiniciando um processo de renovação e de reconciliação com o Pai.
* “Por Cristo, Deus reconciliou-nos consigo”, diz-nos S. Paulo na segunda leitura.
* Acreditar em Jesus é acreditar no dom da vida e da reconciliação do homem consigo, com os outros, com Deus e com a natureza, como acolhimento de uma proposta nova, de caminho alternativo àquele que nos conduz às trevas e nos faz sair da casa do Pai, como o filho mais novo de que fala o Evangelho.
* No entanto, o pai acolheu-o novamente em seus braços, em suas mãos, fazendo festa por aquele filho ter “voltado para o Pai”.
* Elementos: Cruz, Maria, faixa/tecido.* No Momento da preparação penitencial: confissão, retirar
a faixa/tecido com a expressão “Pessimismo” e concluir com a oração “À Vossa Proteção”.
EntrelinhasQuero ver quem és Jesus!
Quero sentir a tua presença e a tua consolação.Quero olhar para Ti e ver o rosto do Pai.
Quero deixar-me abraçar por ti.Quero acreditar em Ti e deixar que a fé
se torne em mim vida nova!
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5º Domingo da Quaresma* Tomar consciência de que voltar-se para Deus passará por não
condenar ninguém, sendo capazes de oferecer o dom do perdão, podendo, porventura, recordar algum irmão a quem tenhamos condenado ou levantado algum boato ou falso testemunho.
* Jesus condena sempre o pecado, mas, perante o pecador, a Sua atitude não é de condenação, mas de salvação e misericórdia.
* Jesus veio para libertar o homem do pecado, para lhe dar a alegria do perdão.
* “Voltar-se para Deus”, ou seja, acolher Deus passará também por sermos mais acolhedores uns dos outros, por nos perdoarmos uns aos outros, tal como refere a oração do “Pai Nosso”.
“Eu sou a ressurreição e a vida. Quem acredita em Mim, ainda que
tenha morrido, viverá”
* Este Domingo convida à prática do jejum, uma atitude que me propõe renunciar e jejuar àquilo que me satisfaz apenas a mim, sugerindo-me uma entrega mais radical aos outros.
* Acreditas? Achas que Jesus te pode curar da cegueira? Que Ele pode dar uma qualidade nova ímpar à tua vida? Acreditas ao ponto de arriscar tudo com Ele?
* Elementos: Cruz, Maria, faixa/tecido.* No Momento da preparação penitencial: confissão, retirar
a faixa/tecido com a expressão “Desconfiança” e concluir com a oração “À Vossa Proteção”.
EntrelinhasNão sei muito bem como dizer em palavras a minha fé.
Mas sei que em Ti consigo perdoar.Sei que contigo na minha vida resisto ao sofrimento, à doença
e ao desânimo. Sei que ao Teu lado é possível construir um amor fiel, que supera todos os solavancos.
Por tudo o que fizeste na minha vida, é fácil acreditar em Ti.
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Domingo de Ramos* Tomar consciência de que voltar-se para Deus passará por
vivermos em profundidade o mistério desta Semana Santa, isto é, o mistério da paixão, morte e ressurreição.
* Recordar, em Dia Mundial da Juventude, os jovens de todo o mundo e de cada paróquia, particularmente os que vivem sem rumo e desorientados pelas drogas, álcool ou outros vícios, pela falta de emprego e de projetos, pela falta de amor e de afetos, no fundo, um apelo a que os acolhamos e ajudemos.
* Celebramos, neste Domingo, dois acontecimentos da vida de Cristo, lembrados no nome litúrgico deste dia (Ramos): a entrada triunfal de Jesus em Jerusalém e a Sua Paixão e Morte. Aqueles que O aclamaram na Sua entrada em Jerusalém foram os mesmos que, pouco tempo depois, O mataram e suspenderam na Cruz, na Sexta-
“Jesus fez-se obediente até à morte”
feira Santa, três dias antes de ressuscitar.* A Cruz é o sinal por excelência deste Tempo Quaresmal, é
fonte e geração de uma vida nova. Maria, junto à Cruz de Seu Filho, manifesta a fidelidade e a esperança para toda a Igreja.
* Iniciar a celebração com a Bênção dos Ramos fora da Igreja.* Neste dia deve apelar-se, mesmo aos jovens e na catequese,
uma vez que é Dia Mundial da Juventude, à vivência e participação nas celebrações da Semana Santa e na celebração da Vigília Pascal e do Dia de Páscoa, como forma e condição para haver uma forte vivência do espírito pascal em cada um/família, ou seja, como forma de cada um se permanecer junto da Cruz de Jesus, tal como Maria nos testemunha.
* Elementos: Cruz, Maria, faixa/tecido.* No Momento da preparação penitencial: confissão, retirar
a faixa/tecido com a expressão “Desobediência” e concluir com a oração “À Vossa Proteção”.
EntrelinhasQuero gritar-Te a minha alegria. Tu conheces os meus
desejos mais sinceros e profundos. E quiseste entrar na minha cidade. Vieste à minha vida e trouxeste o dom de Deus.Para Ti, o meu aplauso, o meu louvor, a minha adoração.