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  • HISTRIA DA ARTE ORATRIA Embora este livro tenha como objetivo bsico a apresentao de elementos prticos para o aprendizado da oratria, julgamos importante discorrer algumas linhas sobre a histria desta arte, por causa da influncia que recebemos dos estudiosos pertencentes s diferentes pocas e porque desejamos atender freqente curiosidade das pessoas sobre as origens e o desenvolvimento das tcnicas utilizadas para falar. E impossvel precisar quando e como nasceu a oratria. Alguns historiadores exercitaram sua imaginao e levantaram diferentes hipteses, entre as quais a de que ela nasceu quando o homem primitivo desenvolveu a fala para a preservao da vida grupal. No nos cabe, entretanto, aqui, polemizar esse assunto; interessa-nos mais abordar a origem e o desenvolvimento da teorizao da arte de falar.

    O PRIMEIRO PASSO A arte oratria, fundamentada em princpios disciplinados de conduta, teve origem na Siclia, no sculo V a.C., atravs do siracusano Corax e seu discpulo Tsias. Existe uma anedota sobre o aprendizado de Tsias. Quando Corax lhe cobrou as aulas ministradas, Tsias recusou-se a pagar, alegando que, se fora bem instrudo pelo mestre, estava apto a convenc-lo de no cobrar, e, se este no ficasse convencido, era porque o discpulo ainda no estava devidamente preparado, fato que o desobrigava de qualquer pagamento. Eles publicaram um tratado, ou techn, que no chegou aos nossos dias, mas sobre o qual vrios autores se referiram. O prprio Aristteles atribuiu-lhes o mrito de iniciar a retrica. Corax escreveu esta obra para orientar os advogados que se propunham a defender as causas das pessoas que desejavam reaver seus bens e propriedades tomados pelos tiranos. Era um tratado prtico, cujos ensinamentos se restringiam aplicao nos tribunais. Segundo Corax, o discurso deveria ser dividido em cinco partes: o exrdio, a narrao, a argumentao, a digresso e o eplogo. OS GREGOS Foi em Atenas, entretanto, que a arte oratria encontrou campo frtil para o seu desenvolvimento. Os sofistas foram os primeiros a dominar com facilidade a palavra; entre os objetivos que possuam visando a uma completa formao, trs eram procurados com maior intensidade: adestrarem-se para julgar, falar e agir. Os sofistas desenvolviam seu aprendizado na arte de falar, praticando leituras em pblico, fazendo comentrios sobre os poetas, treinando improvisaes e promovendo debates. Grgias, importante retor grego, transmitiu seus conhecimentos a muitos oradores, e um de seus discpulos, Iscrates, que viveu de 436 a 338 a.C., implantou a disciplina da retrica no currculo escolar dos estudantes atenienses. Iscrates ampliou o campo de estudo da oratria, no se limitando apenas retrica, pois associou a ela boa parte da filosofia socrtica, assimilada na poca em que foi discpulo de Scrates. Com todo esse mrito que a Histria lhe creditou, Iscrates apresenta uma interessante singularidade: nunca proferiu um s discurso, apenas estudou sua tcnica e os escreveu. Isto porque sua voz era deficiente para a oratria e alimentava pavor incontrolado pela tribuna.

  • Nesta mesma poca, sculo IV a.C., encontramos outro estudioso da retrica, Anaxmenes de Lmpsaco, que apresentou grandes contribuies para a compreenso desta arte, principalmente quanto a sua diviso. Suas observaes levaram-no a classificar a retrica em trs gneros: deliberativo, demonstrativo e judicirio. Esta classificao foi aproveitada e estruturada objetivamente por Aristteles. Aristteles, discpulo de Plato, dele recebeu ensinamentos por largo perodo, cerca de vinte anos. Plato guardava grande admirao pelo discpulo, tanto que, quando este no compareceu a uma das reunies que se faziam na Academia, o mestre afirmou: "A inteligncia est ausente". Nascido em 384 a.C., em Estagira, antiga colnia jnica da Calcdica de Trcia, Aristteles foi para Atenas com dezessete anos, a fim de completar seus estudos. Considerado o mais importante filsofo da Antiguidade, abraou praticamente todas as matrias, destacando-se como poltico, moralista, metafsico, alm de ter penetrado com profundidade nos estudos das Cincias Naturais, da Psicologia e da histria da Filosofia. Os Tpicos, um dos tratados reunidos com os trabalhos lgicos na sua obra Organon, serviu-lhe de alicerce para escrever a Arte Retrica, composta de trs livros, a mais antiga que chegou aos nossos dias. O livro primeiro contm quinze captulos e destinado compreenso daquele que fala. Refere-se linha de argumentao utilizada pelo orador de acordo com a receptividade do ouvinte. O livro segundo contm vinte e seis captulos e destinado compreenso daquele que ouve. Refere-se aos aspectos emocionais, e aborda a linha de argumentao sob a tica do ouvinte. O livro terceiro contm dezenove captulos e destinado compreenso da mensagem. Refere-se ao estilo e disposio das partes do discurso. A retrica de Aristteles uma obra do verossmil, aplicando no aquilo que , mas aquilo que o pblico supe possvel. Segundo seu pensamento, a retrica a faculdade de ver teoricamente o que, em cada caso, pode ser capaz de gerar a persuaso. Tambm Aristteles no foi orador, dedicando-se apenas ao estudo e ao ensino da oratria, sem proferir discursos. Outro grego que no possua o dom da palavra foi Demstenes, mas ele no se conformou com as barreiras impostas pela natureza e custa de muita dedicao eliminou suas deficincias e se transformou no maior orador que a Grcia conheceu (leia ainda sobre Demstenes quando abordarmos uma importante qualidade do orador, a determinao). Assim tivemos em Demstenes um aplicador das regras estabelecidas para a arte de falar, iniciada pela praticidade de Corax, ampliada pela engenhosidade artstica de Iscrates, e aprimorada pela inteligncia de Aristteles, que soube associar a prtica do primeiro com a elevao do pensamento deste ltimo, transformando as duas disciplinas, oratria e retrica, numa arte admirvel. OS ROMANOS Os romanos sofreram extraordinria influncia cultural dos gregos no sculo II a.C., inclusive na arte oratria. Houve resistncia em diferentes perodos a que isto ocorresse, chegando ao ponto de um censor, Crasso, decretar o fechamento de todas as escolas que ensinavam a arte de falar. Essa

  • atitude drstica no arrefeceu o interesse daquele povo, que passara a gostar muito do estudo e da prtica da oratria; assim que Crasso partiu, as escolas foram reabertas e freqentadas com entusiasmo. Ccero foi o maior orador romano. Nascido no ano 106 a.C., preparou-se desde muito cedo para a arte da palavra. Com apenas dez anos de idade, seu pai o deixou aos cuidados de dois mestres da arte oratria. Aos quatorze anos iniciou seu aprendizado retrico na escola do retor Plcio e j aos dezesseis anos abraou a prtica da arte de falar, observando os grandes oradores da sua poca, que se defrontavam nas assemblias do frum. Sua produo literria sobre a oratria foi abundante, destacando-se: De Oratore, obra em trs livros em forma de dilogo, onde define o orador e faz uma reviso da retrica tradicional; Orator, pginas destinadas a determinar uma espcie de perfil do orador ideal; Brutus, um dilogo sobre a histria da arte oratria e dos oradores de Roma; Oratoriae Partitiones, uma obra didtica que cuida da diviso sistemtica e da classificao da retrica e aborda a inveno, que a ao de achar argumentos e razes para convencer e persuadir; Tpicos, escrito sem consultas, de memria, no prazo de oito dias, durante uma viagem que fez Grcia. Trata-se de uma compilao dos Tpicos de Aristteles. Embora considerado um orador perfeito, escritor admirvel, e dotado de inteligncia invejvel, Ccero foi um homem sem carter, arrogante, vaidoso e prepotente. Na poltica no se valia de escrpulos para estar ao lado do partido mais forte e mudava de ideal sempre que vislumbrava maior glria e poder. O mais destacado orador latino da Histria teve morte horrvel. Perseguido pelos homens de Marco Antonio, foi morto e depois degolado. A mo direita e a cabea ficaram expostas no frum romano e sua lngua foi espetada e exibida ao povo. Depois de Ccero, merece ateno especial na histria da Arte Oratria romana Quintiliano. Nascido na metade do primeiro sculo da nossa era, na Espanha, foi para Roma logo nos primeiros anos de vida para estudar oratria. Seu pai e seu av foram retores e o pai lhe ministrou as primeiras aulas de retrica. Quintiliano teve o grande mrito de reunir em sua obra, Instituies Oratrias, todo o conhecimento desenvolvido pelos autores que viveram at sua poca. Composta de doze livros, esta grande fonte da oratria desenvolve a educao do orador desde a sua infncia, dentro de um programa detalhado para a formao pedaggica. O livro I trata da educao inicial a cargo do gramtico e, em seguida, do retor. O livro II cuida da definio da retrica e expe sua utilidade. Os livros de III a VII abordam os itens da inveno ou descoberta, e da disposio ou composio. Os livros de VIII a X, da elocuo ou enunciao. O livro XI trata da realizao do discurso e focaliza os elementos referentes memria. Finalmente o livro XII orienta o orador na aquisio de cultura geral e apresenta as qualidades morais exigidas daquele que se prope a falar. A partir de Quintiliano poucas obras de importncia relevante foram apresentadas. Os autores procuraram quase sempre orientar-se nas observaes estabelecidas nos doze livros das Instituies Oratrias e nos estudos anteriores. Os que procuraram ingressar em caminhos diferentes daqueles percorridos pelos grandes mestres praticamente nada acrescentaram. A ORATRIA NOS DIAS ATUAIS

  • Enganam-se aqueles que imaginam a extino do estudo da oratria nos dias atuais. O que houve, na verdade, foi uma grande transformao nas exigncias dos ouvintes e conseqentemente na orientao do ensino da arte de falar. O auditrio de hoje solicita uma fala mais natural e objetiva, sem os adornos de linguagem e a rigidez da tcnica empregada at o princpio do sculo. O uso da palavra falada deixou de ser um privilgio dos religiosos, polticos e advogados, e alastrou-se para todos os setores de atividades. Os empresrios, executivos, tcnicos, profissionais liberais necessitam cada vez mais da boa comunicao. Todos precisam falar bem para enfrentar as mais diferentes situaes: comandar subordinados, dirigir ou participar de reunies, apresentar relatrios, presidir solenidades, vender ou apresentar produtos e servios, negociar com grevistas e lderes sindicais, dar entrevistas para emissoras de rdio e televiso, fazer palestras, ministrar cursos, fazer e agradecer homenagens, desenvolver contatos sociais, representar a empresa, o clube ou entidade a que pertence, nos mais diversos acontecimentos. O aprendizado dessa antiga arte conta hoje com extraordinrios recursos que facilitam a assimilao e a prtica das tcnicas. Os modernos microfones dispensam o excesso de intensidade da voz dos oradores, permitindo que se apresentem de maneira espontnea, sem exageros. Os aparelhos de videoteipe permitem a visualizao instantnea dos treinamentos, possibilitando a rpida correo das distores da fala e da imperfeio da postura e da gesticulao. Muito mais do que em formar oradores profissionais, os cursos atuais se aplicam em formar profissionais oradores, isto , pessoas que possam expressar pela palavra seu conhecimento, de maneira correta e segura. Esta linha de ensino, mais liberada, no exclui a contribuio dos antigos retores, apenas promove uma adaptao ao gosto da platia moderna, que deseja um orador que converse com o ouvinte em vez de um orador que fale para ele. Este tem sido, modestamente, o nosso trabalho, e esperamos cumpri-lo bem para melhorar o entendimento entre as pessoas e torn-las mais aptas e felizes.

  • COMO CONTROLAR O MEDODE FALAR EM PBLICO

    COMO SURGE O MEDO DEFALAR EM PBLICO

    Muitas pessoas procuram desenvolver sua expresso verbal com o objetivo de eliminar o medo de falar em pblico. O medo, apontado como o maior inimigo do homem por Emlio Mira Y Lpez, um dos mais destacados estudiosos do comportamento humano, constitui o gigante negro* cujos tentculos escravizam a vontade, limitam a criatividade, interrompem o desenvolvimento e o despertar das potencialidades Nasce com o homem e abraa-o por toda a vida. Todos ns estamos sujeitos s investidas desse fantasma que quase sempre apenas resultado da fabulao do nosso esprito.

    Pesquisamos o comportamento de milhares de homens e mulheres, que mesmo possuindo elevado nvel cultural, pressionados pelo medo, no acreditavam nas suas qualidades de comunicadores, evitando todas as oportunidades para falar diante de grupos de pessoas. A partir desse estudo nasceu nossa filosofia de trabalho, responsvel pelo sucesso dos nossos programas de treinamento: "A valorizao das qualidades de cada um, sem considerar falhas ou aspectos negativos das suas apresentaes".

    O homem possui na constituio da sua Expresso Verbal, mais ou menos desenvolvidos, dois oradores normalmente diferenciados, coexistindo dentro da mesma pessoa: um orador real e outro imaginado.

    Orador real a verdadeira imagem do comunicador, composta dos defeitos naturais do ser humano, mas tambm das qualidades visveis ou potencialmente prontas para serem aproveitadas. o orador que aparece aos olhos da platia, que, mesmo no se empolgando, s vezes, com sua forma de se expressar, capaz de ouvi-lo sempre at com relativo interesse.,

    Orador imaginado a imagem que o comunicador pensa que transmite aos ouvintes. Durante a formao do homem, ele recebe toda sorte de presses e acumula nas suas complexas entranhas os fracassos e dissabores que a vida oferece. Esses fatores, isolados ou inter-relacionados, constroem uma imagem distorcida, imaginada dentro de um perfil psicolgico to concreto que parece verdadeira. Nasce a a falta de confiana nas suas possibilidades de sucesso para se apresentar diante de auditrios.?

    De nada adiantar a algum aprender todas as tcnicas da boa Expresso Verbal: voz, vocabulrio, postura, retrica etc.., se continuar pensando que ainda se expressa mal, baseado na convico de que o orador imaginado existe realmente. No se iluda com a criao de qualidades inexistentes, pois isto o levaria a acreditar num comportamento enganoso e irreal, mas, ao analisar suas condies, descubra quais so os aspectos positivos da sua Expresso Verbal. Adquira confiana atravs desta avaliao e crie um retrato interior imaginado mais prximo daquele demonstrado pelo seu orador real. Consciente das suas qualidades j existentes e daquelas prestes a aflorar, voc encontrar novo nimo, encher o esprito de esperana e tornar esta nova fora interior a grande arma que o ajudar a combater o medo de falar em pblico.

    No se trata de um milagre, apenas a chance que cada ser humano precisa dar-se para romper a linha que o impede de acreditar em si prprio. No estamos propondo uma soluo mgica para

  • resolver este drama que ataca o homem desde o seu aparecimento na Terra. Tudo depender do seu esforo, da sua vontade e da sua determinao para encontrar a liberdade to sonhada: falar com desembarao e sem inibies

    Quando a confiana comear a aparecer, pelo conhecimento e conscincia dos aspectos positivos da sua comunicao, as qualidades latentes encontraro caminho livre para o seu aperfeioamento e comearo a adicionar gradativamente um reforo ao conjunto da sua Expresso Verbal. A experincia demonstra que, nessa fase, os defeitos e as falhas comeam a desaparecer ou a perder importncia, devido ao seu enfraquecimento e ao significativo robustecimento da personalidade. Nem sempre esse processo rpido e simples. As vezes exigem-se anos at que ocorra uma completa transformao, pois o orador imaginado foi construdo dia a dia durante toda a vida e fixou-se de tal forma na mente, que necessria at muita persistncia para modific-lo.

    Ao final, quando j tiver trabalhado duro na conquista da segurana, se sentir ainda certo nervosismo antes de falar ou mesmo quando estiver falando, no se preocupe, isto normal e ocorre com quase todos os oradores, at com os mais experientes)Osmar Santos, um dos maiores comunicadores brasileiros, disse, em uma das formaturas do nosso Curso de Expresso Verbal, que sempre ficava nervoso antes de falar e achava isto to importante que tinha prometido a si mesmo abandonar a profisso de locutor esportivo quando no sentisse mais esta sensao antes de narrar um espetculo. Faa deste sintoma outro fator de apoio ao seu sucesso na arte de falar; canalize o nervosismo dentro da fora da sua comunicao; distribua-o entre a vibrao e a emoo das suas palavras e torne sua mensagem mais convincente. Assim, o nervosismo remanescente estar colaborando para conquistar a mente e o corao dos seus ouvintes. Fale principalmente com a energia da verdade do seu corao; traduza em palavras apenas suas convices mais profundas, pois elas colocaro um escudo protetor contra o receio e traro superfcie todas as idias que desejar transmitir.Coelho Neto, grande escritor brasileiro, deixou um magnfico exemplo da importncia desta convico interior. Ele ocupava a cadeira nmero dois na Academia Brasileira de Letras e coube-lhe a responsabilidade de saudar Mrio de Alencar, que ocuparia a cadeira nmero vinte e um, no lugar de Jos do Patrocnio.

    Nesta saudao conta o autor de A Conquista que certa noite, no Teatro Lucinda, no Rio de Janeiro, encontraram-se dois extraordinrios oradores: Jos do Patrocnio e Silva Jardim. Eles que haviam lutado lado a lado em defesa da causa da abolio dos escravos, agora eram adversrios, porque Silva Jardim se apaixonara por um novo ideal, a causa republicana, que ia contra a linha de pensamento de Jos do Patrocnio. Silva Jardim falou inicialmente e entusiasmou a todos quantos o ouviram, pela elegncia e firmeza da sua comunicao, temperada com envolventes doses de ironia.

    Quando chegou a vez de Jos do Patrocnio, ouviu-se uma palavra hesitante e tmida, sada de uma figura apagada, quase medrosa, que lanceava com o olhar indeciso o auditrio agitado. J se pronunciavam as primeiras vaias na platia. "No era o tribuno fogoso dos grandes dias, relata Coelho Neto, mas um vencido que se rendia de rastos aos ps do adversrio."

    Prestes a ser derrotado, sem que ningum esperasse, veio, de repente, entre um tartamudear e outro de suas palavras, uma frase spera do alto de uma das torrinhas do teatro, que cruzou o espao e bateu como uma chicotada no rosto do tribuno: "Cala a boca negro"!

  • Coelho Neto descreve com detalhes o momento da reao: "Patrocnio bambeou, tremeu, acenderam-se-lhe os olhos, as narinas entraram a aflar sofregamente como se farejassem com raiva; o seu corpo ps-se a oscilar como zimbrando em mareta, e o gigante reapareceu formidando, o verbo explodiu como raios duma nuvem negra carregada de procela.

    Oh! esse discurso, o apelo, voz annima, voz covarde, ao silvo da vbora e, por fim, a resposta esmagadora a Silva Jardim, a reabilitao do carter pela gratido do patriota e pelo amor ao pai.

    O povo ergueu-se, e as mesmas vozes que, minutos antes, o haviam apupado aclamaram-no com delrio. A derrota mudou-se em triunfo e foi por entre alas que atroaram aplausos, atravs de uma orao estupenda, que Patrocnio deixou o teatro onde estivera to comprometida a reputao da sua eloqncia arrebatadora".*

    Patrocnio soube depois que Paula Ney, um dos seus pares mais fiis, foi quem havia propositalmente pronunciado aquelas palavras para mexer com seu brio e arrancar a fria adormecida da verdade interior.

    OITO RECOMENDAESPARA CONTROLAR O MEDO DE

    FALAR EM PBLICO

    1. Quando o medo aparecer, encare-onormalmente

    No; voc no o nico que sente medo de falar em pblico. Os maiores oradores, embora no demonstrem ou at mesmo no confessem, de vez em quando so atacados pelo mesmo inimigo.

    Muitos deles, mesmo declarando que no sentem receio de falar em pblico, traem-se pelo empalidecer das faces, pelo tremor das mos, pela movimentao desordenada das pernas e outros indicadores da presena do gigante negro. Portanto, no fique desesperado quando o medo aparecer. Ele normal e com o tempo perder a batalha para a sua experincia e tranqilidade. Acredite: muitas pessoas que hoje voc admira enfrentaram as mesmas dificuldades

    2. Controle seu nervosismo

    Ao se aproximar o momento de falar, seja numa solenidade importante, diante de um auditrio numeroso, seja numa reunio social, diante de alguns amigos, no alimente a chama do seu nervosismo.

    (Atitudes como fumar seguidamente, roer as unhas, cruzar de maneira descontrolada os braos e as pernas, andar sem rumo de um lado para outro so condenveis, faro voc ficar mais tenso e aumentaro sua intranqilidade.

    Procure deixar seu corpo em posio descontrada, solte os braos e as pernas, no fume muito e respire profundamente. Se voc estiver muito agitado, esta descontrao forada poder, no incio, parecer um pouco desconfortvel, mas, quando pronunciar as primeiras palavras de forma mais tranqila e confiante, reconhecer que seu pequeno esforo foi plenamente recompensado.

  • 3. Tenha uma atitude correta

    Renomados psiclogos estudaram profundamente o significado dos gestos* e hoje podemos conhecer com pequena margem de erro o que as pessoas esto sentindo ou pretendendo, sem ouvirmos uma s palavra, isto , apenas analisando a linguagem do corpo. Normalmente os nossos gestos so inconscientes, mas, observados at por leigos neste campo da psicologia, podem transmitir o que se passa em nosso ntimo.

    Vigiar o comportamento do corpo instru-lo a no refletir os nossos receios, alm de ser umatcnica correta de combat-los.

    Ao caminhar para a tribuna, demonstre pela sua postura um comportamento seguro e confiante; faa-o sem hesitar. O auditrio ficar interessado em ouvir um orador que demonstra a atitude de algum equilibrado.

    Com o tempo, voc estar to acostumado a comandar seu corpo, que acabar agindo naturalmente, adquirindo e transmitindo sua confiana.

    4. Antes de pensar como, saiba o que falar

    O orador preparou a sua palestra com todo cuidado, efetuou completa pesquisa nos seus livros, arquivos e anotaes. No esqueceu um detalhe. Ao revisar o trabalho, concluiu que ali no caberia uma vrgula sequer, nada mais poderia ser acrescentado. Porm, ao apresent-lo diante do auditrio, verificou que estava enganado, faltava algo na sua exposio. Enquanto falava, lembrou-se de um fato que ilustraria o assunto de forma mais simples e objetiva.

    Quadros como este que descrevemos so muito comuns. Quase sempre o orador complementa sua palestra com observaes feitas no prprio ambiente do auditrio. Um simples gesto ou comentrio dos ouvintes pode dar a quem fala a oportunidade de perceber aspectos que no poderia imaginar sozinho, afastado deste clima repleto de motivaes.

    Embora saiba, entretanto, que estes fatos so freqentes, no espere que a tribuna seja sua nica fonte de inspirao. Voc controlar o medo de falar na frente das pessoas, se souber exatamente o que vai dizer. Apresentar um assunto que no foi convenientemente preparado o mesmo que andar por um campo minado, temendo a cada passo encontrar uma bomba.

    Se ocorrerem novas idias enquanto estiver falando, timo, transmita-as aos ouvintes. Agora, deixar de se preparar, esperando que elas apaream diante da platia, alm de tirar sua tranqilidade, um risco que ningum deve correr.

    5. No pinte o diabo mais feio do que

    Um estudante preparava um trabalho que deveria ser apresentado na sua prxima aula. Depois de pesquisar todos os livros da sua biblioteca, no conseguiu encontrar alguns dados que confirmariam as afirmaes que fizera ao desenvolver o tema. Lembrou-se, finalmente, que um colega possua um livro que continha as informaes procuradas. O problema estava resolvido.

    Apressou-se a ir at a casa do colega e pedir o livro emprestado. Enquanto se vestia, recordou um fato que o entristeceu e quase no o deixa sair. Alguns meses atrs, este colega emprestara-lhe um

  • livro para ler num final de semana e j na segunda-feira estava sua porta pedindo a devoluo do mesmo. Esta atitude, pensou, demonstrava claramente que o "querido" colega no gostava de emprestar seus livros. Mesmo assim, criou coragem e partiu em busca do emprstimo. Enquanto caminhava, previu algumas situaes que o deixaram perturbado: o colega mal-humorado, recusando o livro, acusando-o de negligente por ficar algumas horas a mais com a obra anterior. Quase desistiu do empreendimento, mas, se agisse assim, poderia ser reprovado por no apresentar o trabalho completo. Aborrecido, irritado, humilhado, chegou finalmente ao seu destino. Apertou a campainha e esperou que a porta se abrisse. Quando foi atendido, estava to angustiado que no conseguiu controlar-se, ergueu os braos e bradou: no preciso da droga do seu livro, fique com ele e faa-lhe bom proveito.

    No tire concluses precipitadas. Enquanto estiver aguardando sua vez de falar, no imagine cenas pessimistas. Enganar-se na pronncia de algumas palavras, perder-se durante a exposio ou trocar algum nome ou data so erros que podem ocorrer, mas isto normalmente no acontece quando o orador est bem preparado, e, se por ventura suceder, a mensagem sendo boa, a platia ser benevolente Ficar demasiadamente preocupado com erros que ainda no cometeu, torn-lo- inseguro e propenso a comet-los>Concentre-se no que os outros esto fazendo e afaste os maus pensamentos. Isto o tornar mais tranqilo e confiante.

    6. No adquira vcios

    Botes do palet, bolsos, lpis, giz, folha de papel, fio do microfone no podero oferecer-lhe segurana. J observou quantos oradores procuram acalmar-se, mexendo nos botes do palet ou colocando as mos nos bolsos? Pensar que agindo assim o nervosismo desaparece um engano. Poder tornar-se um pssimo vcio (se que existem bons) e arriscar a desviar a ateno do auditrio, que durante todo o tempo precisa ficar concentrada nas suas palavras.

    Acostume-se desde o incio a no colocar os cotovelos sobre a mesa ou sobre a tribuna, a no segurar objetos nas mos, a no se apoiar, ora sobre uma perna, ora sobre a outra. Estas so fugas que s podero atrapalh-lo. Enfrentando conscientemente e sem artifcios o problema do medo, voc ir control-lo mais rapidamente.

    Desde que no se transforme num vcio, pouco antes de se dirigir tribuna, descarregue o excesso de tenso, apertando as mos. Mas faa isso apenas uma ou duas vezes, ou poder chegar diante do pblico com esta atitude, e demonstrando que est nervoso.

    7. Chame sua voz com a respirao

    Normalmente, a primeira indicao que recebemos sobre as alteraes ocorridas no estado emocional de uma pessoa atravs da voz. (Veja com detalhes informaes sobre a voz, mais adiante.)

    O nervosismo deixa a voz enroscada na garganta e cada frase pronunciada com dificuldade, aumentando assim a intranqilidade de quem fala. Tossir, pigarrear, alm de ser desagradvel aosouvidos da platia, no resolve o problema, ao contrrio, poder agrav-lo. Se ocorrer um desequilbrio voclico quando estiver falando, fique tranqilo, respire profundamente e em seguida provavelmente a voz voltar ao estado normal.

    8. A prtica ir proporcionar-lhe o reflexo

  • Lembra-se quando comeou a aprender a dirigir automveis? Jamais nos esquecemos dessa faanha. Eram muitos detalhes simultneos. Para mudar a marcha no poderamos esquecer-nos de pisar o pedal da embreagem, ao mesmo tempo olhar para o espelho retrovisor, ligar a seta para indicar se iramos entrar esquerda ou direita, pisar de leve os freios, segurar a direo com as duas mos (Como era possvel? Uma estava na alavanca de cmbio para mudar a marcha, a outra ligando a seta), e ainda tomar cuidado com os nossos "inimigos" motoristas, que pareciam ter vontade de dar uma batidinha no nosso carro. Ufa! Chegamos at a sentir inveja dos outros, que andavam com seus veculos despreocupadamente, como se todas aquelas manobras no existissem.

    Com o passar do tempo, fomos superando esses detalhes. Comeamos a agir com tanta naturalidade que s vezes esquecamos que estvamos dirigindo. Mudar a marcha, ligar a seta, frear tornou-se uma brincadeira que fazamos despreocupadamente.

    Para falar em pblico, o processo o mesmo. No inicio, voc no saber se deve gesticular com o brao direito, com o esquerdo, com os dois, se olha para o auditrio, se pensa no que vai falar, ou se fala sem pensar. Nessa fase voc estar agindo com a ateno concentrada em cada detalhe, timidamente.

    A partir do momento que as suas atitudes forem impulsionadas pelos reflexos adquiridos pela prtica, voc se sentir como um velho motorista, despreocupado, natural, confiante.

    Dificilmente descobrimos quando estamos vivendo esta transformao. De repente, nosso orador imaginado est robustecido, percebemos que o medo de falar j est controlado e chegamos a rir, quando nos lembramos daqueles temores que durante boa parte da vida estiveram ao nosso lado.

    QUE TIPO DE ORADOR VOC DESEJA SER?

    Voc poder tornar-se o orador que desejar ser. Se limitar seus objetivos dentro de um plano inferior, trabalhar apenas para atingir este patamar, mas, se elevar suas aspiraes, determinando para si mesmo um aperfeioamento elevado, esta ser sua conquista.

    Nem todos desejam transformar-se em oradores excepcionais, alguns querem apenas comunicar com segurana e clareza as mensagens que precisam transmitir nas reunies da empresa ou nos contatos sociais com amigos e familiares. Em qualquer circunstncia, tudo depender do objetivo estabelecido para seu aperfeioamento.

    No foram poucos, entretanto, aqueles que nos procuraram para melhorar apenas em alguns pontos sua comunicao, mas, a partir dos treinamentos iniciais, quando passaram a se conhecer melhor e verificaram que possuam condies de ir muito mais adiante, reformularam seus objetivos primitivos e se atiraram com sucesso no aprendizado desta empolgante arte, a arte de falar em pblico.

    O ORADOR NO NASCE FEITO

    Muitos deixaram de tentar seu aprimoramento porque "ouviram dizer" que a oratria um dom natural de alguns poucos privilegiados, e apenas a esses a vida conferiu o poder da comunicao. Falso conceito. Somente a aspirao de falar melhor j se cristaliza como crdito para quebrar os

  • grilhes e soltar-se na busca do sucesso pela palavra. Essa afirmativa feita com a mais forte convico, pois acumulam-se os exemplos daqueles que vimos iniciar-se destitudos de qualquer predicado para falar bem e, ao cabo do treinamento, l estavam eles modificados, desmistificando as opinies infundadas de que a natureza elege seus escolhidos, independentemente da vontade do homem.

    Assim como ningum deve deixar de aprender a nadar porque bebe alguns goles de gua nas primeiras tentativas, tambm o aprendiz de oratria no deve desanimar porque encontra dificuldades ou comete alguns deslizes nas apresentaes iniciais. Disse Bernard Shaw: "A vida como uma pedra de amolar, tanto pode desgastar-nos como afiar-nos, tudo depende do metal de que somos constitudos".

  • COMO PREPARAR-SE PARA ENFRENTARA TRIBUNA

    A apresentao no comea na tribuna. Antes mesmo de voc pronunciar a primeira slaba da orao, o auditrio j estar observando atentamente todas as suas atitudes. Verificar suas reaes quando estiver sentado, aguardando o momento de falar; identificar no seu jeito de andar se tmido ou seguro, e at mesmo o tipo de roupa que resolveu usar para a ocasio. Todos querem saber como se comporta aquele que ter a misso de lhes transmitir a palavra. Antes de falar, fique observando detalhadamente tudo que ocorrer no ambiente, mas demonstre nas suas reaes o ar de algum verdadeiramente interessado, e no o de um exigente astro que inspeciona os preparativos da recepo. O auditrio reconhecer na sua ateno uma estreita identidade com seus anseios, tornando-se com isto mais dcil e benevolente para ouvi-lo.

    Essas observaes preliminares ainda iro proporcionar-lhe a possibilidade de descobrir boas circunstncias que podero ser utilizadas na apresentao, o que a tornar mais interessante, considerando que possuir no contedo fatos nascidos espontaneamente, diante da assistncia. Alm disso, conquistar maior relaxamento das tenses que sempre nos pressionam nessas oportunidades. Agindo assim, no haver tempo de se preocupar com as frases preparadas para sua exposio. Na verdade, rememor-las nesses instantes que antecedem a fala poderia torn-lo preocupado e com receio de esquecer uma idia ou determinado termo. Essa descontrao tambm importante, porque alivia a rigidez do semblante, que uma espcie de retrato do nosso interior. Quanto mais liberada e simptica a fisionomia, mais prximos estaremos dos ouvintes.

    Ao se dirigir tribuna, faa-o com determinao, demonstre confiana no andar e convico na postura; a platia o respeitar na certeza de que abordar uma boa mensagem. Ao se levantar, tenha calma e cuidado e d os ltimos retoques na roupa antes de caminhar -como abotoar o palet, endireitar a gravata, colocar as abas dos bolsos para fora etc. Certa vez, numa importante solenidade na Unio Brasileira dos Escritores, presenciamos um fato que nos motiva a fazer este tipo de sugesto. Um dos participantes, ao ser chamado tribuna, atendeu ao convite prontamente e na pressa, tomado pelo nervosismo, abotoou o boto do colete na casa do boto do palet. Sua mensagem tinha bom contedo, mas no preciso dizer que os ouvintes no prestaram ateno a uma s palavra, escondendo os rostos para disfarar o riso.

    Ao chegar tribuna, acomode as folhas com anotaes, se as tiver levado; acerte a posio do microfone, se existir; olhe rapidamente para todas as pessoas que ouviro suas palavras e, se o assunto permitir, esboce um sorriso sincero e amigo. O Padre Vasconcelos, um dos oradores mais extraordinrios que conhecemos, disse que o sorriso tem o poder de abrir um campo magntico onde todos entram sem resistncias, dobrando-se vontade de quem fala. Torna a presena do comunicador emoldurada na irresistvel fora da empatia. No hesite, sorria, mas faa-o com o corao.

    Pronto, pode comear a falar, tudo est preparado e todos esto prontos para ouvi-lo.

  • QUINZE QUALIDADES DOORADOR PARA AJUDA-LO A

    FALAR MELHOR

    So inmeras as qualidades necessrias para que o orador possa desempenhar-se bem nas suas apresentaes. Entre todas, quinze so consideradas imprescindveis: memria, habilidade, inspirao, criatividade, entusiasmo, determinao, observao, teatralizao, sntese, ritmo, voz, vocabulrio, expresso corporal, naturalidade e conhecimento. Verifique quais as qualidades que j possui e quais precisam ser adquiridas.

    A MEMRIA

    A memria sempre de grande utilidade para o orador. Ele precisa recorrer a ela a fim de recordar as idias e ordenlas enquanto fala: precisa lembrar-se das palavras prprias para traduzir e dar forma aos pensamentos; precisa reproduzir as imagens observadas ao longo da vida e to preciosas na composio dos discursos; precisa trazer lembrana nmeros, datas, estatsticas e posies matemticas que provaro ou tornaro claras suas afirmaes.

    Embora o valor da memria seja inquestionvel, no se pode confiar totalmente no seu auxlio. s vezes, envolvidos pela emoo que nos acompanha quando estamos frente ao auditrio, pode ocorrer um tolhimento repentino na fluncia da exposio, pela fuga temporria da memria, e, se o orador no se preparar psicologicamente para situaes dessa natureza poder amargar graves decepes.

    Jos Kairalla, admirvel professor de Comunicao, habituado a falar aos mais diferentes tipos de platias, sempre deu demonstraes de possuir invejvel memria. Certa vez, numa solenidade na Casa Nobre Colonial em So Paulo, onde havia mais de trezentas pessoas, sem saber exatamente por qual motivo, esqueceu completamente toda a mensagem que preparara, quando j estava diante do microfone. Embora tal fato nunca tivesse ocorrido nas suas apresentaes, sabia que no estava imune a ele, pois presenciara inmeros episdios semelhantes. Sem que os ouvintes percebessem, aproveitou vrios assuntos do ambiente e, baseado nestas circunstncias, montou uma nova exposio, diferente daquela planejada anteriormente. Ainda hoje, temos esse exemplo gravado em vdeo-teipe, e depois de rev-lo diversas vezes, juntamente com o autor, conclumos que foi uma das falas mais vibrantes da sua carreira de orador. Isto s foi possvel porque, mesmo sabendo da importncia da memria, ele estava preparado para falar, ainda que esta o abandonasse por alguns instantes.

    A HABILIDADE

    ~Normalmente, o auditrio que determina o que o orador dever fazer. Quem fala precisa ter a sensibilidade suficientemente desenvolvida para entender as intenes dos ouvintes e ter a habilidade de adaptar o contedo da mensagem ao interesse da platia. A habilidade no sentido mais amplo a capacidade que deve possuir o orador de dizer aquilo que as pessoas desejam ouvir, para que no final ajam de acordo com a sua vontade. Enquanto expe as idias, verificar quais as que produzem maior efeito; atacar com veemncia em determinados momentos, quando as defesas dos ouvintes parecerem desguarnecidas e recuar em outros, quando sentir forte resistncia por parte do auditrio. Quando o comunicador se encontra diante do pblico, ele se transforma num guerreiro prestes a duelar com seu adversrio. E preciso venc-lo, impor suas

  • idias, mas com habilidade, atacando, recuando, observando, at encontrar o caminho para a vitria. No adianta apenas falar com elegncia, preciso persuadir e convencer. Dizem que a grande diferena entre os dois dos maiores oradores que o mundo conheceu, Demstenes e Ccero, que, quando Ccero discursava, o povo exclamava: "Que maravilha!" e quando Demstenes falava, o povo seguia em marcha."

    Braslio Machado, entre todas as qualidades que reunia, de um orador completo, tinha, at pela prpria formao e experincia de jurista, a habilidade assinalando os caminhos dos seus discursos. No foram poucas as oportunidades em que foi obrigado a transmudar literalmente a linha de composio, montada com esmero e meditao, numa nova pea oratria, para corresponder expectativa e se aproximar dos pensamentos daqueles que o ouviam.

    Um dos exemplos mais marcantes dessa habilidade ocorreu na sesso cvica promovida pelos abolicionistas da capital de So Paulo, em homenagem ao ento senador Jos Bonifcio de Andrada e Silva. Braslio Machado tinha sido convidado a falar em nome de todos e preparara com cuidado seu discurso de saudao. Um fato inesperado, entretanto, fez com que o orador fosse obrigado a modificar com habilidade todo o teor da sua mensagem: Jos Bonifcio no comparecera solenidade.

    Pairava no ar um sentimento de frustrao por aquela ausncia e este no poderia ser omitido. Por outro lado, no deveria tambm ser motivo para severas crticas. Vejamos como a habilidade daquele que foi chamado o Paladino do Direito contornou o episdio:

    "Senhores:

    Se no me fora consentido dominar as revoltas do pesar, que uma circunstncia do momento instiga, mos que a reflexo modera, e eu pudesse, numa sntese enrgica, condensar as interrogaes que mal se calam no boca de quantos me escutam, sob cada palavra minha eu deveria sentir as palpitaes de uma surpresa amarga, e em cada gesto deixaria adivinhar o constrangimento.

    Por que nos reunimos? Para afirmar... E o que afirmamos? Uma homenagem. Mas, quem pressuroso acode a receb-la?

    Ningum!

    Pois que! o eminente cidado, em cuja honra se organiza esta homenagem, no pde vencer as travadas linhas da solido e da modstia, em que se isolou, e destarte se esquiva s exclamaes que o esperavam! Pois que! o imaculado patriota que h sabido revestir sua palavra dos primores da eloqncia e das vibraes da verdade, para fulminar o trfico da injustia nos mercados da lei, para verberar o contrabando do homem, feito mercadoria, sob a bandeira do imprio reduzida a pano de anncios de escravos fugidos... o imaculado patriota se ausenta desta festa, que uma afirmao, porque o direito sempre afirma; desta festa que um protesto, porque a liberdade no transige?!

    No! Senhores, o que afirmamos no um homem, um princpio; no a esttua, a significao; no o foco, mas a irradiao; no a pessoa, a propaganda.

  • Ausente, Jos Bonifcio se distancia, mas pela elevao: a luz quanto mais sobe, mais se aproxima; a idia quanto mais domina, mais se eleva. Senti-lo ausente mais significativo que o saudar de perto.

    Deixemos, pois, o grande solitrio da liberdade: no perturbemos em seu retiro o evangelista dos escravos.

    As grandes afirmaes da liberdade nunca necessitaram de se encarnar na matria para se tornar evidentes: essa contingncia melhor assenta nas negaes do direito. Onde quer que a tomemos, sob a clmide grega ou na pretexta romana, na tnica de Cristo ou na blusa do povo, a liberdade sempre a liberdade. Afirmou-se sob todas as formas, atravs de todos os tempos, pelo livro ou pela espada: - no tomou smbolos, rejeitou divisas. O direito humano to largo que no h pirmides que o perpetuem; nem Pantees que o contenham..."

    BRASLIO MACHADO.

    Obras Avulsas, Discursos, pg. 53.

    A INSPIRAO

    A inspirao a forma como o orador cria e produz o seu discurso; a soma das energias para encontrar a melhor idia, modificando e substituindo a mensagem preparada com antecedncia, pelas circunstncias que o cercam, ao sabor das emoes emanadas do ambiente; o desatrelamento ao tabu; a capacidade que deve ter o comunicador para abandonar conceitos previamente concebidos e criar uma nova pea oratria a partir do olhar de um ouvinte ou da manifestao de um grupo; a fora utilizada para penetrar as profundezas da mente e encontrar aforma nova de vestir velhas idias e torn-las atraentes; o aperfeioamento da presena de esprito na sua expresso mxima.

    Dr. Waldir Troncoso Peres, um dos mais eloqentes advogados criminalistas do Brasil, esprito aguado, inspirao pronta para utilizar todas as oportunidades de forma aprecivel, quando foi paraninfo de uma das turmas do nosso Curso de Expresso Verbal, cuja formatura se deu num sbado pela manh, querendo demonstrar sua admirao pelo que tinha observado durante a solenidade, onde os alunos se haviam comportado como oradores excepcionais, contou a seguinte passagem:

    "... Formandos de hoje, na minha adolescncia, com a pertincia de todos os dias, com a contumcia de fazlo incessantemente, eu lia e relia com uma avidez infinita de esprito aquele que, ao menos quela altura, era para mim o homem que pontificava no plano da elaborao mental e que era capaz de adentrar todas as profundidades da alma: o extraordinrio humanista suo que foi Henri Frederic Amiel. Dizia ele na sua obra, entre tantas coisas, que notoriamente o homem tem duas almas: - a alma noturna e a alma diurna; que o homem pensa uma coisa durante o dia, e que o homem pensa outra coisa durante a noite; que durante o dia o homem se aproxima da realidade, as suas qualidades de animal se assentam, ele mais rstico e mais primrio; noite seu esprito mais leve, baila, dana, mais suave e ele se aproxima de Deus. Ento, quando eu vinha para c, perguntava-me se seria possvel uma turma de formandos enunciar, falar, verbalizar, discursar s nove horas, logo depois de ter despertado, durante o dia e num dia de sol. Parecia-me custica e antiesttica esta dimenso e que seria muito mais fcil para vocs produzirem, se o espetculo fosse noturno, quando realmente parece que o homem

  • se aproxima do Criador e o esprito fica muito mais refinado, requintado, para construir o pensamento. Mas, afinal, cheguei concluso que mesmo na ostensiuidade do sol, mesmo que a dia claro, mesmo que ao amanhecer, no foi possvel destruir-se a capacidade criativa de cada um de vocs, o que me deixou profundamente satisfeito... "*

    A CRIATIVIDADE

    A criatividade assemelha-se em muitos pontos essncia da inspirao, chegando mesmo a confundirem-se nas suas definies mais perifricas Todos ns, provavelmente, j tivemos oportunidade de ouvir a mesma histria contada por duas pessoas em pocas diferentes. E quase certo tambm que uma delas nos tenha impressionado mais que a outra. Quase sem receio de errar, podemos dizer que a diferena est na criatividade de quem as contou>Observe o mesmo fato relatado por jornalistas que fizeram a mesma cobertura. Um apenas conta o que ocorreu, o outro descobre enfoques que nos prendem a ateno e alimentam nosso interesse. Com isto consegue criar uma atmosfera que influencia nosso nimo, fazendo-nos acompanhar com entusiasmo sua narrativa

    Ainda nesse plano de observao da fala, h que se ter em conta a disposio emocional e intelectual do auditrio. Quanto mais inculto for ele ou mais prximo estiver de passagens que possam ter motivado momentos de extrema alegria ou tristeza, mais emocionais devero ser as mensagens. Quanto mais bem preparado intelectualmente for o auditrio ou mais distante estiver de acontecimentos que possam ter provocado seus sentimentos, mais racionais devero ser as mensagens. A criao s se tornar uma qualidade positiva quando o contedo da mensagem encontrar o esprito da platia receptivo para assimil-lo com naturalidade e sem esforo.

    Vejamos como Augusto de Lima, criativo na colocao dos seus pensamentos, consegue encontrar definies que carregam o auditrio ao gosto da sua imaginao. O riso e a lgrima, assuntos conhecidos e sempre comentados por muitos, encontram aqui uma abordagem diferente, que provoca o interesse e anima a curiosidade:

    "... Todos podem chorar e nado to vulgar como a lgrima, que o derivativo da dor, partilha dos seres animados; mas podem rir os indivduos que progridem para um grau superior da sua espcie.

    As lgrimas correm todos ao esturio da morte, extremo conforto, mas tambm horror dos fracos. O riso no! Superpondo-se a derrocada do organismo, zomba serenamente do morte, encarando-a como simples acidente, ou riso mstico nos lbios dos mrtires cristos, ou riso estico no face plida dos que acreditam na superuiuncia do virtude ou riso filosfico, apenas denunciado no olhar dos que consideram a vida como um elo ou transio na cadeia das transformaes terrestres. E que ele anestesia todos os sofrimentos.

    O riso partilhou, nos sculos do maior despotismo, o cetro da realeza, quando os bobos da corte esmagaram a fidalguia insolente, tendo o supremo privilgio, vedado prpria coroa, das indiscries, que devassam, e dos sarcasmos, que fulminam.

  • Que vale toda a grandeza de Luiz XIV na sua esplendorosa Versailles, em face da risada de Molire, cujo reinado ainda continua em plena repblica do esprito humano, e cujo brilho sempre uivo mantm a corte da admirao universal?

    Nascido nas mesmas fontes filosficas da dor, o riso lhe superior, porque, atravs das contraes musculares, que lhes so comuns, no geme, no suplica, no se humilha: julga, sentencia, condena e... quase sempre perdoa.

    E nesta ltima funo, principalmente, que ele se eleva at a ironia, supremo grau dessa sensibilidade esquisita que s reside nesse que chamamos - um homem de esprito! Terrvel soberania esta, que no raro recebe a uno em cabeas conformadas para a coroa de espinhos, mas que ela, a ironia, converte, ainda bem! nos da stira e do epigrama.

    Retorso dos fracos contra os fortes, ela responde insolncia dos poderosos de hoje com a interrogao do - `amanh'? que para estes quase uma ameaa e para aqueles talvez uma esperana.

    a vitria dos vencidos da vida contra os desprezos da vilania de basto, que as foras momentneas do sucesso fortuito guindam s eminncias.

    Nada iguala ao sorriso triunfante de Cyrano, quando olha ironicamente para a morte, tendo a fronte ungida do beijo supremo de Roxana, que tambm o supremo penacho de todos os Cyranos que agonizam, depois dos sucessos que eles emprestam aos pobres de esprito, formosos de narizes pequenos.

    Creio que o riso a baliza inferior e a ironia a superior natureza humana. No riem as bestas nem chegam a sorrir os deuses. A formao embrionria do riso uma contrao espasmdica, uma convulso de carter benigno: a evoluo superior do sorriso ser a serenidade divina... "

    Discurso de AUGUSTO De LIMA, in Humberto de Campos - Trinta Anos de Discursos Acadmicos, pg. 85.

    O ENTUSIASMO

    'Os gregos chamavam ao entusiasmo "Deus interior". Ele o responsvel pelas grandes faanhas da humanidade. O homem vence at sem preparo, mas dificilmente ter xito em qualquer atividade se no contar com a fora do entusiasmo, capaz de superar todas as adversidades>

    Quem se apresentar com o comportamento frio, insensvel, aptico, inalterado, provocar o desinteresse dos ouvintes, porque ele mesmo parecer desinteressado por aquilo que fala. O entusiasmo uma espcie de combustvel da Expresso Verbal. Temos presenciado o sucesso de muitos oradores que, possuindo atributos apenas razoveis para a arte de falar, compensaram suas fraquezas pela determinao animadora que emergia do seu interior, sempre contagiando a todos que os ouviam pelo impressionante entusiasmo com que defendiam suas idias Humilhe um campons ignorante e introvertido e ouvir como resposta uma eloqente defesa provocada pelo entusiasmo do seu brio. preciso apresentar cada mensagem como se estivssemos carregando uma bandeira para o campo de batalha. Vibrar a cada afirmao, entusiasmar-nos pela idia, envolver o auditrio num ambiente de emoo e credibilidade. Contam que, quando o extraordinrio advogado criminalista Henrique Ferri defendia a causa de um cliente, o fazia com tal entusiasmo que

  • parecia estar defendendo a prpria liberdade. essa fora, essa disposio, essa audcia que deve impulsionar aquele que se prope a falar.

    Os discursos de Joo Neves da Fontoura possuiam a chama forte do entusiasmo. Quando falava, era a verdadeira figura de um guerreiro a enfrentar com fibra e coragem seus adversrios. No desanimava diante das dificuldades, ao contrrio, quando pressionado, redobrava suas energias e retomava mais vigoroso o duelo verbal. Ele mesmo se considerava um orador pleno de entusiasmo e propagava com altivez esta qualidade:

    "... Lamento que no tenha possibilidade de transfundir no nimo dos que me escutam o mesmo sadio entusiasmo que anima as minhas palavras. Perteno, talvez por um resto de mocidade, por um desses saldos incombustveis de juventude, sempre eternos nas almas combativas, quela classe de homens que crem e esperam. Por isso, no dia de amanh, travado o pleito pacfico, se as urnas forem de lmpido cristal, para que atravs dele se possa avaliar a pureza dos sufrgios, creio e espero que venceremos.

    Triunfando, levaremos Nao nos bandeiras da nossa vitria um elenco de idias renovadoras. No somos taumaturgos nem nos propomos a consumar o milagre da redeno por efeito exclusivo de uma campanha presidencial. Pouco valor dou s frmulas feitas, pelo descrdito em que caram as palavras solenes. Muito menos alimento a superstio de que seja possvel realizar obras ingentes em poucas assentadas de caminho. Mas estou seguro de que cada pedra que conduzirmos para o edifcio do concrdia brasileira h de ser um outro servio prestado, no a ns, mas aos nossos filhos e prpria Ptria.

    Os liberais de hoje, firmes e decididos como nunca em suas deliberaes, vencero pela simples ao de presena no palco poltico, mas no querem levar Nao maiores dores nem impor-lhes maiores sacrifcios do que aqueles que ela j sofre.

    Sabemos das angstias que afligem a sua economia, aviltada por uma srie de fatores anemizantes, que lhe esto roubando o vigor, a fora e a resistncia aos males, que surgem de todos os lados! Por isso, urge evitar que os dinheiros do povo sejam desviados do tesouro nacional ou dos estaduais para a compra de sufrgios, o que amesquinharia a nossa conscin-cia cvica!..."

    Joo NEVES DA FONTOURA,

    A Jornada Liberal. Discursos Parlamentares, pg. 97.

    A DETERMINAAO

    Ao procurar aperfeioar-se, o orador deparar com situaes algumas vezes desanimadoras que provocaro dvidas e incertezas quanto a suas possibilidades de sucesso na arte de falar. Se nessemomento ele fraquejar, render-se ante a aparente impotncia, ser fragorosamente carregado pelo turbilho de justificativas e desculpas que aparecero para explicar a impossibilidade de continuar. necessrio estar acompanhado da determinao para ultrapassar esses obstculos e ter foras para dar seqncia ao trabalho iniciado;Demstenes, considerado um dos mais perfeitos oradores da Antiguidade, obteve xito na arte de falar, depois de ter superado dificuldades impostas pelas suas prprias deficincias naturais. Os problemas de respirao, articulao e postura no lhe creditavam as condies mnimas para que pudesse atingir seu objetivo de tornar-se um orador. Era tambm

  • motivo de constantes zombarias, pois quando falava erguia seguidamente um dos ombros. Uma qualidade, porm, Demstenes possua: a determinao.

    Ao iniciar sua preparao, isolou-se num local onde ningum pudesse perturb-lo. Para que a sua concentrao fosse completa, escanhoou de forma irregular parte da barba e do cabelo, e com esta aparncia ridcula ficou impedido de aparecer em pblico. Para conseguir boa respirao, dedicava-se diariamente a longas e cansativas corridas. A sua dico foi corrigida com seixos que colocava na boca e com os quais procurava pronunciar as palavras da forma mais correta possvel. Como no conseguisse controlar o vcio do ombro, resolveu fazer os seus treinamentos na frente de um espelho, e, toda vez que executava o movimento defeituoso, era espetado por uma espada que produzia ferimentos insuportveis, tanto que foi obrigado a conter-se. Aps toda esta dedicao, transformou seu sonho numa realidade: tornou-se o maior orador que a Grcia pde conhecer.

    Depois de ter adquirido segurana e experincia, mesmo assim, para vencer um debate acirrado, enfrentar um auditrio hostil, falar por alguns momentos em precrias condies fsicas ou com fracos conhecimentos sobre um assunto e vislumbrar com coragem a vitria final, o orador dever estar amparado no vigor da determinao.

    A OBSERVAO

    Todos os assuntos, indistintamente, desde os mais simples e aparentemente sem interesse para um auditrio at os mais complexos, so importantes para a Expresso Verbal. Uma rua deserta e sem vida pode ser transformada com seu silncio numa eloqente mensagem. A splica de um velho pedinte, o semblante iluminado de um campeo, um beijo afetuoso do filho ou da mulher amada, tudo, enfim, poder ser utilizado para enriquecer a fala. Para isto o orador dever estar atento a todas as coisas que o cercam; dever observar o comportamento das pessoas, a beleza da paisagem, o canto dos pssaros, as cores irretratveis do entardecer. Somente um esprito obser-vador poder captar essas imagens e utiliz-las no momento adequado Quem passa pela vida e no v no pode contar o que no viveu

    Aloysio de Castro foi um observador profundo; descreveu nas suas obras os detalhes fulgurantes que a vida apresenta a todos ns. No exemplo seguinte, ele apresenta, atravs de co-mentrios empolgantes, passagens que nos transportam sua poca e de maneira to real que chegamos a penetrar e a fazer parte dos quadros que suas palavras conseguem pintar. A primeira delas, quando encontra Machado de Assis na livraria Garnier, em poucas palavras traduz o ambiente em que ocorreu a cena e como esta se lhe fixou na mente. Outro momento admirvel, apresentado com o sentimento de quem v enquanto lembra, quando, acompanhado do grande escritor, recor-dam o Dr. Francisco de Castro, o imortal que no chegou a tomar posse na Academia, e comentam sobre o quarteiro por onde passavam e as velhas casas, que se transformam em imagens eloqentes na saudade do orador. Finalmente, h o encontro entre Machado de Assis e seu pai, repleto de pormenores revivescenciados no seu discurso, e tudo graas sua observao:

    "...Falar de si no somente um mal, como o disse Renan, seno coisa a que falta a decncia, conforme acrescentou o mestre de Jacques Tournebroche. No ser, contudo, falar de mim trazer-vos algumas reminiscncias pessoais do tempo em que convivi com o Dr. Francisco de Castro e o Sr. Machado de Assis, lembranas que me no parecem pouco a propsito neste lugar, onde conto viver com eles pelo pensamento e pela saudade.

  • Foi um dia j bem longe que conheci o mestre da nossa gerao literria, quando, menino de colgio, entrei com meu pai livraria Garnier Era uma casa velha e escura, cujo soalho gretado tremia sob os ps. A um conto folheava livros certo homem de grande aspecto, a quem o Dr. Francisco de Castro logo se dirigiu com significaes de estima. No sabia eu quem era ele, mas recordo-me que lhe beijei a mo, ou porque adivinhasse que agradaria a vontade paterna, ou porque j no mais verde dos anos desponte s vezes o instinto das grandes veneraes.

    Enterneceu-se com o gesto o Sr. Machado de Assis. Mimou-me no face, dizendo-me que me vira quando ainda lhe cabia no bolso do casaco. Largo conversa conversaram os dois amigos. Ao despedir-se, bem me lembra, sorria o mais velho a dizer: `Sim, a vida um baile de mscaras, uns vo saindo depois de outros. J me sinto no fim do baile'. E repetia, com voz meio gaguejada, `A vida um baile de mscaras'.

    Na rua interpelei meu pai sobre que baile era aquele. Respondeu-me que eram coisas de filsofo. No ajuizei ao certo o que fossem filosofias, mas nunca me esqueci do encontro e das palavras.

    Aprendi depois que a amizade que ao grande escritor alianava meu pai vinha da juventude deste, que, em comeos de 1877, estudante em Medicina, ainda no quarto ano, chegava da Faculdade da Bahia, para nesta cidade concluir os estudos.

    Seu gosto das letras logo o aproximou do Sr. Machado de Assis, j ento o incontestado chefe literrio, o qual lhe deu a mo, publicando num jornal um artigo do estudante sobre a morte de Thiers, e de bom grado prefaciando-lhe, um ano depois, um volume de versos, as Harmonias Errantes! O poeta durou pouco, logo trocou os versos pelas receitas. Bem o pressentira o Sr. Machado de Assis, na Revista Brasileira: `Confesso um receio. A cincia m vizinha; e a cincia tem no Sr. Francisco de Castro um cultor assduo e valente'. No esqueceu, porm, o homem de cincia ao mestre que lhe concertara as primeiras rimas, e por mestre o teve sempre.

    Quando em 26 de abril de 1901 assumiu o Dr. Francisco de Castro a direo da Faculdade de Medicina, a seu lado quis ter no ato da posse, como nico convidado especial, o grande romancista, a quem na Congregao dos Professores deu lugar de honra. Fui designado para o acompanhar nesse dia ao velho edifcio da Faculdade. Busquei-o no Ministrio da Viao, onde trabalhava, subimos a Rua Misericrdia, e como amos andando ia eu rememorando calado, pelo que me sugeria a companhia daquele nobre velho, a mocidade de meu pai. Adivinhou-me o mestre os pensamentos, bateu-me com

  • afeto no ombro para me repetir que conhecera a meu pai quando da minha idade, e como eu ento estudante de Medicina. Dizendo-me isto sua voz era das recordaes, e era como quem dizia: os tempos vo depressa.

    Logo falamos de outras coisas, das casas do vetusto quarteiro que cruzvamos, cheio de reminiscncias coloniais. Como eu as tachasse de desgraciosas e tristes, corrigiu-me brandamente: `So feias, so, mas so velhas'. Porque ele era assim bom, e na conversa, como nos livros, se notava defeito, logo acudia com a desculpa, ou lembrava qualidade que o fizesse esquecer.

    Poucos meses passados desse encontro, vejo o nosso antigo presidente em casa de meu pai, a quem fora pedir ultimasse o discurso que devia apresentar a esta Academia, para a posse, j que tardava. Era domingo, e meu pai, com pacincia que daqui lhe agradeo, me iniciava no conceito das doenas, traduzindo-me em voz alta a Patologia Geral, de Cohnheim, que ento e depois muitas vezes me gabou como livro de polpa. Estava entre os livros e ali mesmo recebeu o amigo. No deixei passar a ocasio de assistir ao colquio, porque sobre prezar como fortuna a afeio que to antiga e segura sabia entre os dois, j me dava s pretenses de querer entender a filosofia do autor de Quincas Borba. Nem errava supondo que a mais alta filosofia a que sai na conversao.

    A visita foi longa e animada. Como estavam de vagar, discretearam de letras, dos insetos que picam os livros, tema obrigatrio entre biblifilos, e por fim, se bem me lembro, do Sr. Ruy Barbosa e da beleza do seu gnio. Os gestos foram ento de admirao exaltada, naqueles dois homens de maneiras to medidas. De quando em quando abriam as estantes, tomavam de um livro e de outro, velhos volumes clssicos, que folheavam, sorrindo contentes das horas. Baixava o crepsculo quan-do findou a entrevista. Da sua coleo de obras de Ruskin, autor que lhe era dos mais conversados, tirou meu pai um tomo, que ofereceu ao visitante. Relutou este em aceitar, como se lhe doesse ver truncar-se a srie, mas acabou cedendo, ningum recusa o que vem dado do peito. Despediu-se com o livro debaixo do brao, e ainda mal que eram despedidas para sempre. Poucos dias passados j no vivia o Dr. Francisco de Castro.

    Ainda me sangrava o luto dessa perda, quando uma noite fui ao Cosme Velho entregar ao Presidente da Academia o manuscrito incompleto do discurso de meu pai. Visita curta e calada. O Sr. Machado de Assis leu o prtico da orao, fez um sinal com a cabea, assim como tradu-zindo a incerteza das coisas, e ao estender-me as mos quis consolar-me, deixando-me crer que viria o meu tempo de ter adito vossa companhia. Quando se jovem e se escuta a voz de uma vida digna e experimentada, as palavras de animao exaltam em ns arrojadas iluses. Tais palavras as ouvi do mestre Augusto. Descendo a ladeira, naquela noite adornada de estrelas, em que as guas do rio prximo me pareciam soluar, no me saa dos olhos o gesto da incerteza das coisas, mas em meu peito despontava a esperana deste dia e desta doce ventura... "

    ALOYSIO DE CASTRO,

    Discursos Literrios, pg. 14.

    A TEATRALIZAO

    Este talvez seja um dos itens mais controvertidos da comunicao. O seu estudo provoca debates acirrados e nem sempre as concluses abrangem a unanimidade das opinies. Fizemos a este respeito perguntas a centenas de pessoas das mais diferentes formaes, nveis sociais e

  • categorias profissionais e o que se verificou como pensamento predominante que "o orador deve demonstrar aos seus ouvintes aquilo que estes pretendem que ele esteja sentindo". J dissemos anteriormente que o auditrio quem manda no orador, desde que no final aja de acordo com a sua vontade. Ora, se o auditrio desejar ver tristeza no semblante de quem fala, dever o comunicador demonstrar nos seus traos e atitudes a tristeza. Da mesma forma, se desejar ver alegria, pnico, desolao, euforia, decepo etc., dever o orador corresponder aos seus anseios.

    Os que contestam essas afirmaes dizem que assim ele estar sendo falso e enganando a platia, o que refutaria o princpio orientador da Expresso Verbal, que o de dizer sempre a verdade. O que se pretende, entretanto, com esse procedimento no faltar verdade, pois esta estar sempre presente na essncia da mensagem, mas uma forma de faz-la chegar at as pessoas que exigem determinados comportamentos para aceit-la. No se confunda essa ao com a demagogia, que tem como objetivo ludibriar a opinio alheia com falsidades, mentiras e omisses.

    O orador e o ator so aqui encarnados na mesma pessoa. Transmitem no falar e no agir as emoes esperadas pelo pblico, mas resguardam o raciocnio e o discernimento para chegar ao objetivo pretendido. Se chorar, no sero suas as lgrimas, porque na verdade o orador no deve perder-se nas emoes, mas as lgrimas que o auditrio pretende ver. Hitler, criticado por quase todo o mundo pelas suas monstruosas decises durante a Segunda Guerra Mundial, foi na verdade um orador admirvel. O povo alemo estava humilhado, desesperado e tomado pelo histerismo, exigia naquele momento um lder que compartilhasse dos seus sentimentos, e Hitler demonstrou nas suas atitudes o que todos desejavam ver.

    Vejamos alguns exemplos desse comportamento de Hitler.*

    Em uma reunio de bons burgueses:

    "O indivduo no conta mais, a Alemanha foi pisoteada... Eu farei da Alemanha uma potncia invencvel..."

    Em uma reunio de industriais:

    "O esforo do indivduo regenera as naes; s o indivduo conta, a massa cega e tola. Cada um de ns um chefe, e a Alemanha feita destes chefes... "

    Em uma reunio de mulheres:

    "O que o nacionalismo deu a vocs todas? Deu-lhes o homem!"

    Em tempo, ao sorrir, faa-o ainda com o corao.

    A SNTESE

    Dizer tudo o que for preciso, somente o que for preciso, nada mais do que for preciso uma tarefa difcil que precisa ser perseguida com obstinao. Principalmente depois que o orador conseguir dominar e controlar as suas aes e perceber um bom retorno para as mensagens, correr o risco de exceder os limites de tempo desejados. No incio dos nossos cursos, quando o aluno se apresenta pelas primeiras vezes, no h motivo de preocupao quanto a esse aspecto, pois a insegurana normalmente o retira rapidamente da tribuna. Com o transcorrer das aulas, a

  • confiana aumenta com a assimilao das tcnicas desenvolvidas e pela conscientizao das qualidades existentes e preciso tocar a campainha para alert-lo que chegou o momento de parar, dando-lhe o condicionamento de tempo a ser utilizado nas futuras apresentaes. Em tom de brincadeira, dizemos que, se no agirmos assim, no final do curso seremos obrigados a jogar a campainha em sua cabea para faz-lo calar. A capacidade de sntese, entretanto, no est ligada exclusivamente ao tempo da fala. O seu conceito mais abrangente que a simples medida do relgio e est relacionado com a importncia dos aspectos desenvolvidos em cada assunto e com o objetivo a ser atingido. No adianta parar de falar porque j se ultrapassou um determinado tempo, se com isto estivermos mutilando importantes informaes referentes matria tratada.

    Por isso mesmo, Anto de Moraes, na sua conferncia sobre Ruy Barbosa, disse: "Chamareis ao mar prolixo, porque imenso? Pois o caso de Ruy: ele no prolixo, grandioso".*

    Dever tambm o orador continuar enquanto sua sensibilidade no detectar que o auditrio o aceitou e se rendeu ao seu poder de persuaso. Mas falar alm desse ponto poder comprometer todo o trabalho desenvolvido.,r

    No encontramos em toda a Histria um exemplo que suplantasse a sntese conquistada pelo Professor Solon Borges dos Reis, no discurso que pronunciou como deputado, em 12 de outubro de 1968. A classe educacional aguardava ansiosa o cumprimento das promessas feitas pelo governo do estado de So Paulo e estas no haviam sido concretizadas. A voz do deputado surgiu em meio contrariedade daqueles que representava, e numa nica palavra definiu o sentimento de frustrao e revolta predominante no esprito dos seus liderados: "Pa-pe-lo!!!"*

    O que mais teria para dizer o orador? Esta nica palavra encerrava, naquelas circunstncias, um discurso completo!

    Certa vez ouvimos de um orador a seguinte afirmao: "Quando estiver na tribuna falando e perceber um ouvinte olhando para o relgio, no se preocupe, ele est apenas querendo saber as horas; mas quando perceber que um ouvinte encosta o relgio ao ouvido para certificar-se de que ele no est quebrado, j passou o momento de parar".

    O RITMO

    Z preciso aperfeioar o ritmo da fala dentro do estilo de cada um, aproveitando a energia, o timbre e a sonoridade da voz. Ningum dever copiar ningum, mas sempre recomendado que se

  • oua os grandes oradores, para que se observem os efeitos do ritmo das suas palavras e se possam associar aos produzidos pela nossa comunicao~Blota Jr., considerado um dos mais completos oradores do Pas, tem a capacidade de transformar simples frases em admirveis perodos oratrios, pela perfeio com que trabalha o ritmo da sua fala. O conjunto harmonioso da pronncia das suas palavras provoca nos auditrios sensaes de extremo encantamento?.~ ritmo e cadncia da fala podero ser co,~nng 'stadscom simples exercqis~itura de poesia, em voz alta.

    'O ritmo faz parte do estudo da voz, mas sua importncia to relevante que resolvemos enfoc-lo separadamente.

    A VOZ

    A voz determina a prpria personalidade de quem fala. Se estamos alegres, tristes, apressados, seguros etc., a primeira identificao destes comportamentos transmitida pela voz. Por que ser que a voz reflete com tanta nitidez o que se passa no interior das pessoas? Desde o nosso aparecimento na Terra at os dias atuais, adaptamos certas partes do nosso aparelho digestivo e certas partes do nosso aparelho respiratrio para a fabricao da fala e construmos assim o aparelho fonador. Nota-se, entretanto, que o aparelho fonador, embora exista para a fabricao da fala, uma adaptao do nosso organismo, e qualquer problema de ordem fsica ou emocional ser imediatamente revelado atravs da voz.

    A respirao

    O primeiro cuidado que se deve tomar para que a voz adquira a qualidade desejada respirar corretamente. Existe normalmente falta de sincronismo fono-respiratrio, o que prejudica sensivelmente a fabricao da voz mais adequada. Algumas pessoas falam quando ainda esto inspirando ou continuam a falar quando o ar praticamente j terminou. Assim, no h aproveitamento da coluna de ar que deveria ser formada pelos foles pulmonares, exigindo um esforo excessivo das ltimas partes do aparelho fonador..",

    A respirao mais indicada para falar aquela que utiliza insprao costo-diafragmtica e expirao costo-abdominal, como fazem os bebs, principalmente quando esto dormindo',

    A dico

    Quanto dico, que a pronncia dos sons das palavras, notamos que a sua deficincia quase sempre provocada por problemas de negligncia. costume quase generalizado omitir os "r" e os "s" finais, como, por exemplo: "lev", no lugar de levar, "traz" no lugar de trazer, "fizemo" no lugar de fizemos, da mesma forma que se omitem comumente os "is" intermedirios: "janero" em lugar de janeiro, "tercero" em lugar de terceiro etc. Outros erros de dico provocados pela negligncia so a troca do "u" pelo "1" e omisses de slabas: "Brasiu" no lugar de Brasil. "pcisa" no lugar de precisa etc.

    Entre as pessoas mais incultas, encontramos vrios erros provocados por alteraes fonticas. o caso da hiprtese, que a transposio de som de uma slaba para outra da mesma palavra: trigue (tigre), drento (dentro), e da mettese, que a transposio de som dentro de uma mesma slaba: troce (torce), proque (porque).

    Certos vcios de linguagem tambm provocam erros na pronncia das palavras:

  • Rotacismo - a troca do 1 por r: crssico (clssico), Crudio (Cludio).

    Lambdacismo - a troca do r pelo 1: talde (tarde), folte (forte).

  • Aqueles que falam com voz igual a um trovo, quando diante de pequeno pblico, fazem papel ridculo, embora possam achar ingenuamente que esto impressionando e conquistando os ouvintes. Com o uso generalizado do microfone*, esse problema atinge atualmente qualquer tipo de ambiente, pois a voz sai ampliada na sua intensidade. Assim, mesmo para os grandes auditrios, quando h microfone, a voz precisa encontrar a altura adequada para no irritar aqueles que ouvem.

    A voz o veculo de importncia fundamental no transporte da mensagem, precisa ser bem cuidada para no prejudicar a comunicao. Se falarmos com voz defeituosa, a mensagem chegar distorcida aos nossos ouvintes.

    O VOCABULRIO

    O vocabulrio corporifica e traduz todas as nossas idias. Se ele se apresentar deficiente, no conseguiremos transmitir o que pensamos, ou, talvez, nem cheguemos a pensar, pois pensamos atravs de palavras. Por exemplo, como poderemos pensar que "Carlos Lacerda foi um dos maiores oradores da histria do Brasil", se no pressupusermos essa informao com esses mesmos vocbulos ou outros correspondentes-1.14h vocabulrio dever ser o mais vasto possvel, embora, melhor do que se ter um vocabulrio riqussimo, seja saber-se usar o vocabulrio que se tem, Embora supondo que as idias pudessem surgir independentemente, sem nenhuma corporificao, s poderiam ser externadas atravs de um corpo, que representado por palavras.

    A escolha do vocabulrio ideal

    Antes de analisarmos o melhor, vamos ponderar os cuidados a serem tomados com alguns tipos de vocabulrios.

    O vocabulrio sofisticado

    O vocabulrio ideal no riqussimo, sofisticado, como se tivesse sido pesquisado nas profundezas de um dicionrio, e muito menos, pobre e vulgar. O vocabulrio rico til para compreendermos tudo aquilo que as pessoas falam ou escrevem, mas nem sempre dever ser usado na nossa Expresso Verbal. O auditrio no est interessado em palavras difceis. Como que as pessoas poderiam ficar concentradas na mensagem, se tivessem de se preocupar com o significado de cada palavra?

    O Dr. Roberto Nunes de Souza era um aluno que vinha experimentando um progresso extraordinrio na arte de falar. Decidido a tornar-se um bom comunicador, no media esforos aprendendo e praticando, mas continuava a apresentar uma falha difcil de ser corrigida. O seu vocabulrio era muito sofisticado. Somente as pessoas de elevado nvel cultural que conseguiam compreend-lo sem dificuldades. As outras perdiam-se completamente no meio do seu palavreado pomposo. Quando indagvamos a causa de toda aquela sofisticao, ele argumentava que passara boa parte da sua vida isolado, lendo somente obras eruditas e assimilando o seu vocabulrio. No era, portanto, um homem afetado, aquelas frases altamente intelectualizadas eram autnticas e prprias da sua personalidade e produto da sua formao, o que no deixava de ser um defeito, porque prejudicava sua comunicao. Mesmo assim resolvemos convid-lo a participar de um concurso de oratria que realizamos trs vezes ao ano. Ficou radiante com o convite. Redigiu seu discurso e submeteu-o apreciao de alguns colegas. Conforme imaginvamos, repetiu as mesmas apresentaes anteriores e, como estava revestido de responsabilidade maior, aprimorou ainda mais o seu vocabulrio, tornando-o

  • imprprio para um auditrio heterogneo. Nesse dia, os colegas no puderam calar-se. Pediram autorizao ao Dr. Roberto e massacraramno com duras crticas. Disseram com toda a sinceridade, que ele jamais poderia obter sucesso se se apresentasse com aquele discurso. Embora seu semblante demonstrasse certa contrariedade, decidiu sujeitar-se s opinies dos colegas, e durante um longo tempo trabalhamos na simplificao das suas palavras. Foi com esse discurso mais simples que ele voltou a pblico, e entre os melhores oradores daquela turma obteve um honroso segundo lugar. A partir desse dia resolveu empenhar-se na utilizao de palavras de fcil compreenso, adaptadas ao interesse dos seus ouvintes.

    O vocabulrio pobre

    O vocabulrio pobre, predominante na maioria das pessoas, atende somente s necessidades mais primrias do dia-adia. Compe-se de um nmero reduzido de palavras e no permite a concatenao eficiente do pensamento. Quando algum se expressa por um vocabulrio com essas caractersticas, decodificamos imediatamente tratar-se de um indivduo despreparado e inculto. Podemos at julg-lo incorretamente, pois algumas pessoas altamente capacitadas, por falta de orientao adequada, no desenvolvem seu vocabulrio. Mas certo ou errado, consciente ou inconscientemente, esta a apreciao que fazemos. Palavras vulgares no podem freqentar a boa Expresso Verbal, e o mesmo se diga das "frases feitas", surradas pelo uso, e das expresses de gria, que s cabem em situaes especialssimas.

    O vocabulrio tcnico ou profissional

    Tambm no se considera como ideal o vocabulrio tcnico, prprio de uma atividade. Diplomas legais, competncia tributria etc. so termos que se prestam comunicao entre advogados, juizes e estudantes de Direito, mas provavelmente dificultaro o entendimento de um auditrio leigo nesta cincia. Da mesma forma, produto nacional bruto, renda "per capita", funo consumo etc. s estaro ao alcance daqueles familiarizados com as cincias econmicas. Nem todos tiveram a oportunidade de tomar conhecimento de uma linguagem tcnica especfica. Sua utilizao dever ser reservada queles que convivem com ela, nas suas atividades normais.

    O melhor vocabulrio

    O vocabulrio ideal aquele que se adapta a qualquer auditrio. Embora simples, traduz as idias claramente, sem divagaes. Lembremo-nos sempre, entretanto, que palavras simples no so palavras sem consistncia. O conceito de simples restringe-se clareza das idias e compreenso dos ouvintes.

    Quanto mais abundante for o vocabulrio, maior ser a capacidade de adaptao aos mais diferentes tipos de auditrios. Essa versatilidade torna o orador admirado em todos os ambientes, dos mais humildes aos mais elevados. Alguns polticos brasileiros tiveram sucesso na sua carreira pela habilidade que possuam de enquadrar-se em qualquer nvel da populao. Tinham um vocabulrio para os operrios, outro para os estudantes e outro ainda para as donas-de-casa. Falavam a linguagem de cada um e eram, portanto, segundo a maioria, dignos de represent-la.

    Como desenvolver o vocabulrio

    Ao longo dos ltimos anos, temos orientado nossos alunos com exerccios simples, fceis de serem executados, que apresentam sempre bons resultados.

  • Vigiar a leitura

    Ler um bom livro, com lpis na mo e um dicionrio ao lado, possibilita o conhecimento de novo vocabulrio. Toda vez que deparamos com palavras desconhecidas ou de que no temos certeza do verdadeiro significado, anotmo-las para recorrer depois ao dicionrio. Em seguida, devemos construir algumas frases, utilizando a nova palavra. Finalmente, restar utilizla nas prximas conversas e redaes. Assim, ela se integrar definitivamente ao nosso vocabulrio.

    Ouvir com ateno

    Quando ouvimos uma pessoa falando, normalmente ficamos preocupados em compreender sua mensagem, mas quase nunca analisamos quais as palavras utilizadas na sua formao. Estes momentos so muito valiosos. Se prestarmos ateno nos vocbulos usados em cada frase, perceberemos que alguns podero pertencer ao nosso vocabulrio. O procedimento o mesmo da leitura: anotar a palavra, estud-la com ajuda de um dicionrio, exercit-la nas prximas conversas e redaes e finalmente sediment-la definitivamente no vocabulrio.

    Existem inmeras formas para tornar o vocabulrio mais extenso: ler bons livros, ir ao teatro, conversar com pessoas cultas, fazer palavras cruzadas, ouvir bons oradores e, o que mais importante, praticar, pois, se no colocarmos em prtica o que foi aprendido, de nada adiantar todo o estudo e sacrifcio.

    A EXPRESSAO CORPORAL

    Todo o nosso corpo fala quando nos estamos comunicando. A posio dos ps e das pernas, o movimento do tronco, dos braos, das mos e dos dedos, a postura dos ombros, o balano da cabea, as contraes do semblante e a expresso do olhar, cada gesto possui um significado prprio, encerra em si uma mensagem. Embora os gestos tenham estreita ligao com a natureza das idias, nem sempre fcil encontrar na sua expresso o complemento ideal para as nossas mensagens. Muitas vezes temos de abandonar a velocidade calma de um movimento que representaria a idia externada, para optar pelo movimento brusco e rspido, coerente com a inflexo da voz.

    A naturalidade do gesto

    Mesmo sabendo que a gesticulao pode ser aprendida e treinada, evitamos ensin-la ostensivamente nos nossos cursos. Correramos o risco de encontrar na tcnica o artificialismo do comportamento. Em comunicao, nada dever superar a naturalidade.

    Recomendamos sempre no falar com as mos nos bolsos, com os braos nas costas, com os braos cruzados, apoiados constantemente sobre a tribuna, a mesa ou a cadeira, no se apresentar com a postura do corpo indicando excesso de humildade, curvada para frente, muito menos indicando arrogncia ou prepotncia, com a cabea levantada olhando por cima do auditrio. Mesmo assim, o cuidado com essas recomendaes precisa estar presente, porque certos gestos con-siderados incorretos na maioria das situaes podero ser os mais expressivos em alguns casos. Por exemplo, recomendase cruzar os braos para indicar uma atitude desafiadora ou de espera, embora seja um gesto desaconselhado para uma postura normal.

  • A prpria natureza se encarrega da maioria dos acertos. Quase todos os nossos alunos aprendem a se expressar com o corpo, seguindo os prprios impulsos naturais. No incio dos treinamentos, alguns cometem incoerncias de movimentos, como juntar as mos para designar a idia de abrir, levantar o brao quando falam em baixar etc., mas, com o passar do tempo, corrigem essas falhas e executam os movimentos de acordo com os seus pensamentos.

    A gesticulao obedece a um processo natural, pensamos na mensagem, ao mesmo tempo que informamos ao corpo o movimento a ser executado, o corpo reage e s depois pronunciamos as palavras. Por isso o gesto vem antes da palavra ou junto com ela e no depois. Se queremos falar que levamos algo, pensamos na mensagem que levar, informamos o corpo sobre qual o movimento a ser executado, o corpo cumpre naturalmente o seu papel estendendo o brao para frente, e depois pronunciamos a frase eu levei. Se ocorresse o contrrio, ou seja, o movimento do brao depois de pronunciar a frase, haveria uma anormalidade facilmente percebida pelo ouvinte.

    A posio das pernas

    A falta de experincia e de segurana faz com que o orador procure refgio atravs da movimentao desordenada das pernas. Falta a palavra ou aumenta o nervosismo e est o prin-cipiante a recuar, a afastar lateralmente as pernas, ou a apoiar o corpo, ora sobre a perna esquerda, ora sobre a direita, procurando dessa forma algum tipo de amparo.

    No incio, apenas como treinamento, sugerimos ficar de frente para o auditrio, plantado sobre as duas pernas, dando bom equilbrio ao corpo. Se verificar que o movimento a ser realizado tem como causa a insegurana ou o nervosismo, o esforo tem de ser redobrado, no sentido de manter a postura. Este pode parecer um desafio muito grande, pois a movimentao quase instintiva, mas os resultados do treinamento compensaro o sacrifcio. Os movimentos das pernas devero surgir lentamente com objetivos determinados, complementando as mensagens e o ritmo da apresentao. De maneira geral, as pernas devero ficar levemente afastadas, sem demonstrar, entretanto, a rigidez de uma esttua. Com relao s mulheres, quando estiverem usando vestidos ou saias, podero colocar uma das pernas um pouco frente da outra, uma postura elegante, embora deix-las levemente afastadas tambm no seja errado.

    A posio das pernas tem significado especial para a esttica da postura, mas no s em considerao ao auditrio. O prprio orador ir sentir-se melhor se mantiver uma atitude correta. Em muitos casos, o auditrio nem pode observar como se comportam as pernas de quem fala. Pode estar ele atrs de uma tribuna fechada ou sentado a uma mesa que no permita a viso da platia na sua parte inferior. Mesmo assim, o comunicador dever evitar a posio rgida com as pernas pressionadas embaixo da cadeira, cruzando os ps, ou relaxadas sem disciplina. Essas atitudes erradas acabam influenciando negativamente a apresentao do orador.

    Os movimentos das mos

    Uma dvida que surge com freqncia sobre qual a posio inicial ou de descanso para os braos e as mos. Ficaro os braos ao longo do corpo, com as mos semi-abertas ao lado das pernas, ou sero colocados frente do corpo, acima da linha da cintura, com as mos separadas ou mesmo juntas uma sobre a outra?

    No devemos instituir uma regra fixa e rgida para a posio inicial ou de descanso dos braos e das mos. Tanto uma

  • como outra podero ser consideradas corretas. Enquanto alguns julgam que os braos colocados ao longo do corpo so mais naturais, outros interpretam que os braos colocados frente do corpo, acima da linha da cintura, esto mais prximos do gesto a ser executado e, portanto, numa posio mais correta. Cada um dever comportar-se da forma que julgar mais conveniente, como sentir-se melhor e mais natural.

    Na verdade, as idias se sucedem rapidamente e a cada idia dever ocorrer um gesto complementar, o que indica que os braos e as mos de certa forma devero estar quase o tempo todo se movimentando. Este conceito implica que no h necessidade de procurar rapidamente algum tipo de apoio aps a execuo do gesto. Muitos fecham as mos em conchas, uma sobre a outra, entrelaam os dedos, prendem uma das mos com a outra ou seguram a gola do palet com tal freqncia, que chegam a irritar o auditrio. Para um pequeno descanso, at colocar as mos sobre a tribuna ou ocasionalmente nos bolsos, desde que rapidamente e com naturalidade, poder ser considerado correto.

    Determinados gestos chegam a ridicularizar a imagem do orador. Alguns, sem saber o que fazer com as mos e at inconscientemente, ficam mexendo na pulseira do relgio, estalando os dedos, limpando as unhas, puxando as mangas ou rodando os botes da blusa ou do palet, alisando os cabelos, coando o queixo e em alguns casos extremos, mas no to incomuns, enfiando o dedo nos ouvidos e at no nariz.

    Os gestos das mos devem ser expressivos, mas no exage _: ?as Devem atender a uma necessidade de elucidao ou afirmao da mensagem, existir com naturalidade, integrar-se com suave elegncia no conjunto da Expresso Verbal. Alguns gestos das mos so to coerentes com as idias que retratam, que vale a pena relembr-los.

    O dedo indicador, em riste, ameaa, acusa; levantado, alerta, pede ateno; ligado ao polegar indica autoridade, conhecimento quanto ao assunto tratado. Para orientar e explicar, basta deixar os trs dedos, mdio, indicador e polegar abertos.

    A mo fechada, com o polegar pressionando o dedo mdio, indica fora, energia, vigor. Quando o polegar pressiona a parte lateral do dedo indicador, ainda com a mo fechada, seu significado passa a ser o de poder.

    A mo aberta, com a palma voltada para cima, indica recebimento, doao, amistosidade, splica. Com a palma voltada para baixo, significa rejeio, repulsa. Ainda voltada para baixo, com pequenos movimentos, significa pedido de calma, pacincia, espera, silncio.

    A mo aberta esticada com a palma voltada para a lateral e sobre a outra aberta com a palma voltada para cima, como se uma fosse cortar a outra, significa separar, dividir. Essa idia tambm poder ser obtida com a mo na mesma posio, esticada, e a palma voltada para a lateral, como se estivesse dando pequenos golpes no ar.

    As mos abertas com as palmas voltadas para cima, com os dedos abertos um pouco curvados e com pequenos e enrgicos movimentos, significa renascer, aflorar, despertar.

    A mo aberta, com a palma voltada para baixo e com movimentos laterais, indica afastar, tirar, remover.

  • As pontas dos dedos unidos, voltados para baixo, com pequenos movimentos, significa plantar, penetrar, tempo presente, local prximo.

    A mo aberta, com os dedos afastados, a palma voltada para a lateral, num movimento para dentro prximo ao corpo, fechando-a ao mesmo tempo, indica reunir, juntar.

    Normalmente os gestos possuem boa expressividade quando realizados acima da linha da cintura, visveis ao auditrio. Devem-se evitar tambm gestos acima da linha da cabea, deixando-os reservados para momentos de emoo excepcional.

    Como sugesto de ordem geral, sem que se constitua uma regra imutvel - quanto maior e mais inculto o auditrio, maiores e mais largos devero ser os gestos; quanto menor o auditrio e melhor preparado, menores e mais moderados devero ser os gestos.

    Os gestos, normalmente, devem apenas ser indicados, representados em parte do movimento, quase nunca completados. Gestos inteiros, como apontar para o corao com a mo no peito, ou pr a mo na cabea para falar do pensamento, quase sempre so desaconselhveis.

    A posio da cabea

    A posio da cabea dever guardar equilbrio com o restante do corpo. Quando inclinada constantemente para um dos lados, excessivamente baixa ou alta, quebra a elegncia da postura. Deve ser usada principalmente para complementar ou indicar idias afirmativas ou negativas.

    Alguns movimentos da cabea so bastante representativos. Por exemplo, quando no gostamos ou no concordamos com alguma coisa, cerramos os lbios e balanamos a cabea de um lado para outro, no sentido negativo. Houve aqui a ajuda do semblante, que passaremos a analisar.

    A comunicao do semblante

    ZO semblante talvez seja a parte mais expressiva de todo o corpo. Funciona como uma espcie de tela, onde as imagens do nosso interior so apresentadas em todas as suas dimenses. Cada sentimento possui formas diferentes para ser apresentado pelo semblante. O queixo, a boca, as faces, o nariz, os olhos, a sobrancelha e a testa trabalham isoladamente, ou em conjunto, para demonstrar idias e sentimentos transmitidos pelas palavras e muitas vezes sem a existncia delas*>A boca semiaberta, com os olhos abertos, indicar estado de espanto, surpresa, sem que uma nica palavra seja pronunciada.

    ~O semblante trabalha tambm como indicador de coerncia e de sinceridade das palavras. Deve demonstrar exatamente aquilo que estamos dizendo. Se falamos de um assunto que deveria provocar tristeza, no podemos demonstrar uma fisionomia alegre ou indiferente. Seria o mesmo que assinar um atestado de falsidade, um comportamento to incoerente que arruinaria a mais bem cuidada de todas as mensagens. ~.


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