UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE
PRÓ-REITORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA
NÚCLEO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DESENVOLVIMENTO E MEIO
AMBIENTE
NÍVEL MESTRADO
SHEYLA PINK DÍAZ MORALES
CONFLITOS AMBIENTAIS EM UNIDADES DE CONSERVAÇÃO: Uma abordagem sobre as relações de poder
na institucionalização do Parque Nacional Serra de Itabaiana/SE-Brasil
Março – 2011 São Cristóvão – Sergipe
Brasil
SHEYLA PINK DÍAZ MORALES
CONFLITOS AMBIENTAIS EM UNIDADES DE CONSERVAÇÃO: Uma abordagem sobre as relações de poder
na institucionalização do Parque Nacional Serra de Itabaiana/SE-Brasil
Dissertação apresentada como requisito parcial para a obtenção do título de Mestre, pelo Núcleo de Pós-Graduação em Desenvolvimento e Meio Ambiente da Universidade Federal de Sergipe.
Orientador: Profº Drº Marcelo Alario Ennes
Março – 2011 São Cristóvão – Sergipe
Brasil
FICHA CATALOGRÁFICA ELABORADA PELA BIBLIOTECA CENTRAL UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE
D542c
Díaz Morales, Sheyla Pink
Conflitos ambientais em unidades de conservação : uma abordagem sobre as relações de poder na institucionalização do Parque Nacional Serra de Itabaiana/SE - Brasil / Sheyla Pink Diaz Morales. – São Cristóvão, 2011.
164 f. : il.
Dissertação (Mestrado em Desenvolvimento e Meio Ambiente) – Núcleo de Pós-Graduação em Desenvolvimento e Meio Ambiente, Programa Regional de Desenvolvimento e Meio Ambiente, Pró-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa, Universidade Federal de Sergipe, 2011.
Orientador: Prof. Dr. Marcelo Alario Ennes
1. Meio ambiente. 2. Sociologia rural. 3. Parque Nacional Serra de Itabaiana - Sergipe. I. Título.
CDU 502:316.334.55(813.7)
SHEYLA PINK DÍAZ MORALES
CONFLITOS AMBIENTAIS EM UNIDADES DE CONSERVAÇÃO: Uma abordagem sobre as relações de poder
na institucionalização do Parque Nacional Serra de Itabaiana/SE-Brasil
Dissertação apresentada como requisito parcial para a obtenção do título de Mestre, pelo Núcleo de Pós-Graduação em Desenvolvimento e Meio Ambiente da Universidade Federal de Sergipe.
Aprovada em 25 de março de 2011
BANCA EXAMINADORA
Prof. Dr. Marcelo Alario Ennes
Universidade Federal de Sergipe
Prof. Dr. Ronaldo Gomes Alvim Universidade Federal de Sergipe
Prof. Dr. Wilson José Ferreira de Oliveira Universidade Federal de Sergipe
SHEYLA PINK DÍAZ MORALES
CONFLITOS AMBIENTAIS EM UNIDADES DE CONSERVAÇÃO: Uma abordagem sobre as relações de poder
na institucionalização do Parque Nacional Serra de Itabaiana/SE-Brasil
Este exemplar corresponde à versão final da Dissertação de Mestrado em Desenvolvimento e Meio Ambiente.
Sheyla Pink Díaz Morales - Autora Universidade Federal de Sergipe
Profº Drº Marcelo Alario Ennes - Orientador Universidade Federal de Sergipe
SHEYLA PINK DÍAZ MORALES
CONFLITOS AMBIENTAIS EM UNIDADES DE CONSERVAÇÃO: Uma abordagem sobre as relações de poder
na institucionalização do Parque Nacional Serra de Itabaiana/SE-Brasil
É concedido ao Núcleo responsável pelo Mestrado em Desenvolvimento e
Meio Ambiente da Universidade Federal de Sergipe permissão para disponibilizar,
reproduzir cópias desta dissertação e emprestar ou vender tais cópias.
Sheyla Pink Díaz Morales - Autora Universidade Federal de Sergipe
Profº Drº Marcelo Alario Ennes - Orientador Universidade Federal de Sergipe
Dedico este trabalho a todos aqueles que
contribuíram para a sua realização,
especialmente, a minha família e a
querida irmã Shéron Joyce Díaz Morales
AGRADECIMENTOS
Ao Deus maravilhoso, fiel e misericordioso por me capacitar e sustentar.
À minha querida mãe Renilde Barbosa Díaz Morales e ao meu pai Genaro
Díaz Morales pelo apoio incondicional e palavras de fé e esperança que me
sustentaram nesta caminhada. Em todo momento fui acolhida e compreendida por
eles. Agora, compartilho essa vitória que não é somente minha, mas deles também.
Às minhas irmãs Shirley e Shéron Morales por me sustentarem quando não
tinha mais força para continuar. Estas irmãs são presente de Deus na minha vida.
Como agradecer neste espaço tão restrito um amor tão zeloso que estas meninas
geniais depositaram em mim? Posso dizer que este trabalho de pesquisa foi fruto da
união de três irmãs. Nos momentos de insegurança minhas irmãs estavam ao meu
lado, não somente no sentido espiritual, mas físico também. Não passei por esta
jornada sozinha. Agradeço por me acompanharem às idas à biblioteca, jornais e
entrevistas. À minha irmã Shéron em especial por me encaminhar na vida
acadêmica e fazer o papel de coorientadora nesta pesquisa.
À minha tia Maria Edith por ficar ao meu lado e me acalmar com sua
serenidade.
À CAPES pelo financiamento deste projeto de pesquisa
Ao professor Marcelo Alario Ennes por aceitar ser meu orientador, acreditar
na relevância da pesquisa e ouvir minhas opiniões.
À professora e coordenadora do Núcleo de Pós-graduação em
Desenvolvimento e Meio Ambiente, Maria José Nascimento Soares pelos conselhos,
paciência e compreensão.
Ao professor Wilson José Francisco de Oliveira pelas observações e
contribuições dadas a este projeto de pesquisa.
À minha professora de redação do ensino médio, Denise Farias por acreditar
em mim, dizendo o quanto eu era capaz e que nesta etapa contribuiu sobremaneira.
Por isso, esta dissertação é também sua. Jamais vou esquecer o que fez por mim.
Aos integrantes do grupo de Estudo e Pesquisa em Processos Identitários e
Poder (GEPIP) pelas contribuições ao estudo concedendo informações sobre a
Serra de Itabaiana e em especial minha amiga e companheira Carla Taciane pelos
momentos agradáveis que passamos juntas.
Aos amigos da turma de mestrado 2009 em especial Neuma, Ana Karina,
Miria, Felipe, Alba, Heloisa, Mércia, Laura, Priscila, e Sandro. Esta turma mostrou
que é possível viver em harmonia e sem individualismo. Foram momentos incríveis
ao lado desta turma.
Aos atores sociais entrevistados pela disponibilidade em conceder
informações preciosas para o alcance dos objetivos traçados nesta pesquisa
Aos funcionários da Biblioteca Pública Ephifânio Dórea; Instituto Histórico de
Sergipe e Jornal Correio de Sergipe pela preocupação em contribuir com a minha
pesquisa e excelente atendimento, tornando minhas idas a campo agradáveis.
Aprendi com eles que quando amamos o que fazemos nosso trabalho se torna
valoroso mesmo que as circunstâncias não permitam.
Aos amigos Thiago Rodrigues, Luana Mendes, Ives Rocha, Henrique
Mendonça pelas palavras de incentivo e a socióloga, Raquel Souza e a advogada e
professora de inglês, Ana Régia Vidal por toda a ajuda prestada nesta dissertação
quando necessitei.
Aos membros da Primeira Igreja Batista de Aracaju e em especial os irmãos
do grupo de oração do Condomínio Vivendas de Aracaju pelas intercessões para
conclusão desta etapa.
Aos funcionários do PRODEMA, Julieta, Najó, Aline e Natanael pela
dedicação e atenção investida aos alunos deste programa de Pós-graduação.
RESUMO
Sabe-se que os conflitos ambientais trazem consigo disputas por interesses entre diversos agentes, mediante suas práticas sociais. Por isso, ainda configuram-se como maior desafio gerencial em unidades de conservação. É, nesta dinâmica dos conflitos ambientais em parques nacionais, que o presente trabalho permeou as suas pesquisas e reflexões. Assim, tendo em vista a complexidade em torno das relações sociais e de poder existentes em unidades de conservação e sua relevância, a presente pesquisa tomou como objeto de estudo o PARNASI – Parque Nacional Serra de Itabaiana/SE-Brasil. A escolha do objeto foi feita diante da necessidade deste ser compreendido, uma vez que sua institucionalização está inserida dentro de um complexo campo de forças. Partindo deste pressuposto, o presente trabalho teve como propósito analisar e discutir as relações de poder presentes na institucionalização do PARNASI. Foram feitas pesquisas documentais nos principais jornais diários do Estado de Sergipe, Jornal da Cidade e Correio de Sergipe entre os anos de 2003 e 2007. Através da pesquisa documental em acervo jornalístico foi possível reconstruir o momento histórico da institucionalização do PARNASI e diagnosticar os principais atores sociais envolvidos neste processo de criação. A pesquisa mediante a aplicação de questionário e entrevista aberta com os principais atores sociais envolvidos na institucionalização do PARNASI analisou as ações políticas envolvidas nesse processo e identificou os discursos que prevaleceram naquele momento. Ao final, o trabalho foi capaz de responder aos questionamentos levantados inicialmente pela pesquisa: Quais representações e discursos que prevaleceram na criação do PARNASI? Quais os padrões de relação de poder que fundamentam esse sistema de ação? Quem detém o poder na definição e gestão das políticas ambientais? Quais recursos fundamentam suas ações? Observou-se a importância dos conceitos bourdieunianos sobre campo, habitus, poder e capital no estudo de conflitos ambientais em unidade de conservação. O presente estudo demonstra que as implantações de políticas públicas ambientais no Brasil ainda se movem conforme o interesse político, conferindo às criações de parques nacionais a construção de um campo de disputas simbólicas. Esta pesquisa torna-se relevante pelo seu caráter pioneiro no estudo das relações de poder aplicado ao contexto de unidades de conservação no Estado de Sergipe.
Palavras-chave: Conflito. Poder. Parque Nacional. Políticas Públicas.
ABSTRACT
It is known that environmental conflicts bring along disputes over interests between several agents, by their social practices. Ergo, they’re still set as the biggest managing challenge in preservation units. It is, in this dynamic of environmental conflicts in national parks, that the present paper permeated its researches and reflections. Thus, taking into consideration the complexity around the social relations and existing powers in preservation units and its relevance, the present research took as a study object the ISNP – Itabaiana/SE - Brazil Sierra National Park. This object was chosen because of the need of this understood being, since its institutionalization is inserted in a complex force field. Under this assumption, the present paper had as its purpose to analyze and discuss the relations of power existent in the institutionalization of the ISNP. Documental researches were made in the main daily newspapers of the State of Sergipe, City Newspaper and Sergipe’s Mail between the years 2003 and 2007. Through the documental research in the journalistic collection the reconstruction of the institutionalization of the ISNP was possible to be remade and to diagnose the main social factors involved in this creation process. The research by questionnaires and interviews with the main social players involved in the institutionalization of the INSP analyzed the political actions related to this process and identified the speeches that prevailed that moment. At the end, the paper was able to answer the raised questionings initially by the research: Which representations and speeches prevailed in the creation of the INSP? Which power relation patterns is the base of this action system? Who holds the Power in the definition and management of the environmental politics? Which resources base their actions? It was observed the importance of bourdieunians concepts about field, habitus, power and capital in the study of environmental conflicts in preservation units. The present study demonstrates that implantation of environmental public politics in Brazil still moves according to the politic interest, giving the creations of national parks a meaningful dispute field. This research becomes relevant by its pioneer feature in the study of the power relations applied to the preservation units contexts in the State of Sergipe.
Key-Words: Conflict. Power. National Park. Public Politics.
LISTA DE FIGURAS
FIGURA 1 - Parque Nacional Serra de Itabaiana......................................................50
FIGURA 2 - Povoado Bom Jardim............................................................................ 52
FIGURA 3 - Povoado Mundês.................................................................................. 52
FIGURA 4 - Representação do campo socioambiental.............................................67
FIGURA 5 - Forno à lenha utilizado em Olarias........................................................ 71
LISTA DE SIGLAS
ADEMA – Administração Estadual do Meio Ambiente
APAs – Áreas de Proteção Ambiental
CHESF – Companhia Hidrelétrica do São Francisco
CODEVASF – Companhia de Desenvolvimento do Vale do São Francisco
CS – Correio de Sergipe
DNPM – Departamento Nacional de Produção Mineral
E.E – Estações Ecológicas
EIA – Estudo de Impacto Ambiental
IBAMA – Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e de Recursos Naturais Renováveis
INCRA – Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária
ISO – International Organization for Standardizations
JC – Jornal da Cidade
MOPEC – Movimento Popular Ecológico
ONGs – Organizações Não Governamental
PARNASI – Parque Nacional Serra de Itabaiana
PFL – Partido da Frente Liberal
P.N – Parques Nacionais
PSDB – Partido da Social Democrática Brasileiro
PT – Partido dos Trabalhadores
R.B – Reservas Biológicas
RIMA – Relatório de Impacto Ambiental
SEMA – Secretaria Especial do Meio Ambiente
SEMEAR - Sociedade de Estudos Múltiplos, Ecológica e de Artes
SNUC – Sistema Nacional de Unidades de Conservação
UC – Unidade de Conservação
UFS – Universidade Federal de Sergipe
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO............................................................................................... 15
2 O CAMPO AMBIENTAL ............................................................................................ 19 2.1 DO PENSAMENTO ECONÔMICO À PROBLEMÁTICA AMBIENTAL......... 19 2.2 SUSTENTABILIDADE E POLÍTICA............................................................ 23 2.3 A POLÍTICA AMBIENTAL NO BRASIL...................................................... 27 2.4 PARQUES NACIONAIS: BREVE HISTÓRICO.......................................... 32
3 CONFLITOS AMBIENTAIS SOB O ENFOQUE SOCIOLÓGICO ................. 37 3.1 A TEORIA DE HABITUS POR PIERRE BOURDIEU................................. 39 3.2 DAS RELAÇÕES DE PODER ÀS LUTAS SIMBÓLICAS.......................... 45 3.3 É POSSÍVEL UM ATO DESINTERESSADO?........................................... 47
4 MATERIAIS E MÉTODOS ............................................................................. 50 4.1 ÁREA DE ESTUDO.................................................................................... 50 4.2 MÉTODO, TÉCNICA E INSTRUMENTO DE COLETA DE DADOS........... 53 4.3 POPULAÇÃO, AMOSTRAGEM E AMOSTRA............................................ 55 4.4 QUESTÕES DE PESQUISA....................................................................... 56 4.5 ANÁLISE DOS DADOS............................................................................... 56
5 PARQUE NACIONAL SERRA DE ITABAIANA: UM RESGATE HISTÓRICO DA INSTITUCIONALIZAÇÃO NOS CONTEXTOS DE 2 003 - 2007 EM ACERVOS JORNALÍSTICOS ...........................................................
59 5.1 O PARNASI E SEU ENFOQUE JORNALÍSTICO: AS LUTAS SIMBÓLICAS....................................................................................................
59
5.2 DESFECHO DAS LUTAS: É CRIADO O PARQUE NACIONAL SERRA DE ITABAIANA..................................................................................................
62
5.3 AS FASES DO PROCESSO DE INSTITUCIONALIZAÇÃO DO PARNASI E SEUS ATORES SOCIAIS...........................................................
66
5.3.1 A pré-institucionalização do Parnasi: o perío do da esperança verde ................................................................................................................
67
5.3.2 O enfoque político-partidário da fase pós-ins titucionalização do Parnasi ..............................................................................................................
69
5.3.3 O papel das organizações ambientais não-gover namentais e instituições superiores de ensino no processo de cr iação do parque ....
74
6 REPRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS PRINCIPAIS ATORES SOCIA IS ENVOLVIDOS NO PROCESSO DE INSTITUCIONALIZAÇÃO DO PARQUE NACIONAL SERRA DE ITABAIANA/SE .......................................
79 6.1 A INSTITUCIONALIZAÇÃO DO PARNASI NA ÓTICA DOS ATORES SOCIAIS............................................................................................................
84
6.2 DOS BENS SIMBÓLICOS AO DISCURSO HEGEMÔNICO....................... 89
7 CONSIDERAÇÕES FINAIS.............................................................................. 96 REFERÊNCIAS................................................................................................. 99
ANEXO A - REGISTROS FOTOGRÁFICOS DO ACERVO JORNALÍSTICO REFERENTE AO PARQUE NACIONAL SERRA DE ITABAIANA ENTRE OS ANOS DE 2003-2007 ..............................................
106
CAPÍTULO 1:
INTRODUÇÃO
15 MORALES, S. P. D.Conflitos ambientais em Unidades de Conservação: uma abordagem sobre as relações de poder no Parque Nacional Serra de Itabaiana/SE, Brasil, 2011.
1INTRODUÇÃO
A problemática ambiental é considerada um fenômeno que desdeas últimas
décadas do século 20 possui forte presença na pauta de discussão política.A
temática está associada a um conjunto de reflexões e discursos social-científicos
queao se juntar com as ações de movimentos e organizações sociais em defesa do
meio ambiente conseguiram expressar os anseios e discutir formas para resolver tais
problemáticas(LENZI, 2005). Tais reflexões e discussões contribuíram para o estudo
das relações sociedade-natureza.
Sobre a relação sociedade-natureza atualmente a maior atenção está
direcionada na vertente de que os problemas ambientais tenham raízes em
processos sociais. Nesta discussão emerge uma perspectiva crítica aos produtos e
pensamento da sociedade ocidental capitalista. Dessa forma, a consequência da
modernidade teria agravado a situação de desequilíbrio no meio ambiente com o
crescimento populacional, industrialização, urbanização acelerada, poluição e
esgotamento dos recursos naturais(MELLO, 2007).
De acordo com Mello (2007) a relação homem-natureza está alicerçada em
um complexo sistema de interações envolvendo três subsistemas básicos: biosfera,
tecnosfera e sociosfera. Com o resultadoda evolução da civilização e do
desenvolvimento o homem passou a representar a forma dominante de vida sobre a
crosta terrestre e subjugououtras espécies viventes. Ainda segundo o autor foi neste
século que a consciência política e social voltada para as problemáticas ambientais
alcançou seu amadurecimento.
A consciência ambiental levou ao questionamento da ciência e tecnologia e
tambémreivindicação de novas práticas. Esta nova prática teria um nome,
desenvolvimento sustentável. Tal termo foi formulado e apresentadocomo resultado
do relatório final da Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento em
1987. No relatório o conceito de desenvolvimento sustentável era divulgado como
aquele que atende às necessidades das gerações presentes sem comprometer as
necessidades das gerações futuras.
Em 1992, após cinco anos desde sua apresentação no relatório final da
Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento em 1987, o termo
16 MORALES, S. P. D.Conflitos ambientais em Unidades de Conservação: uma abordagem sobre as relações de poder no Parque Nacional Serra de Itabaiana/SE, Brasil, 2011.
Desenvolvimento Sustentável, novamente, estaria nas arenas de debates de
políticos e ambientalistas. O evento ocorrido era a ECO 92 e a cidade escolhida para
sediar o encontro foi o Rio de Janeiro, no Brasil.
Através dos debates sobre os fundamentos do desenvolvimento sustentável
e a busca por alternativas que diminuíssem os impactos negativos ao meio ambiente
causados pelos homens, foram instituídas políticas públicas voltadas,
especificamente, para o meio ambiente.
Mesmo tendo um histórico de formulação e reformulação, as políticas
públicas ambientais viabilizaram medidas importantes para preservação e
conservação ambiental; sendo sentida, expressivamente, nos países em
desenvolvimento. No Brasil, o resultado dessas políticas públicas voltadas para o
meio ambiente resultaria na criação de áreas protegidas.
A noção de desenvolvimento sustentável passou a fundamentaras políticas
de criação de áreas protegidas e representar uma ferramenta importante para a
resolução das problemáticas existentes nestes contextos, uma vez que o grande
conflito existente ainda é a ocupação humana.
Aimplantação de medidas de regulamentação e fiscalização do uso dos
recursos naturaisprocurou melhorar a convivência da comunidade local e as
Unidades de Conservação.A presença de pessoas em Unidades de Conservação,
bem como em seu entorno, no entanto, têm gerado conflitos ambientais,
consequências das relações de dominação entre os atores sociais que compõem o
espaço (TEIXEIRA, 2005).
Tendo em vista a complexidade e relevância das relações sociais e de
poder existentes em Unidades de Conservação, dentre as quais, os parques
nacionais;esta pesquisa tomou como objeto de estudo o Parque Nacional Serra de
Itabaiana/SE (PARNASI), mas especificamente as tensões políticas que deram
origem à sua institucionalização.
Desse modo, o presente trabalho teve como propósito analisar e discutir as
relações de poder existentes durante o período da institucionalização do PARNASI.
Mediante tal proposta foi possíveldiagnosticar os principais atores sociais envolvidos
no processo de institucionalização do Parque Nacional Serra de Itabaiana; analisar
17 MORALES, S. P. D.Conflitos ambientais em Unidades de Conservação: uma abordagem sobre as relações de poder no Parque Nacional Serra de Itabaiana/SE, Brasil, 2011.
as ações políticas envolvidas nesse processo e identificar os discursos que
prevaleceram naquele momento.
O trabalho foi dividido em setecapítulos. O aporte teórico norteou-senas
reflexões sobreo campo ambiental;políticas públicas ambientais; conflitos
ambientais; Unidades de Conservação e conceitos bourdieunianos sobre campo,
habitus, interesse e capital, localizados no segundoe terceiro capítulos.
Oquarto capítulo foi dedicado a apresentação e discussão dos recursos e
procedimentos metodológicos adotados no trabalho. Por seu caráter inédito, a
pesquisa teve caráter exploratório, envolvendo dados primários e secundários. Os
dados da pesquisa foram levantados através de dois instrumentos, o questionário e
o roteiro de entrevista, utilizados em momentos distintos e com diferentes sujeitos.
Foi realizada pesquisa documental em jornais diários da região entre os anos de
2003 e 2007, para reconstruir o momento histórico da institucionalização do
PARNASI.
A pesquisa foi orientada pelas contribuições do método científico de Pierre
Bourdieu quanto à concepção de pesquisa baseada no raciocínio analógico, intuição
racional e homologias, em especial pela noção de campo.
Oquinto e sexto capítulosfizeram uma abordagem sobre o Parque Nacional
Serra de Itabaiana, analisando o momento de sua institucionalização e o campo de
forças que ali atuaram. As considerações finais da pesquisa vêm em seguida,
apresentando de forma sucinta o que foi alcançado, as contribuições esugestões.
Ao final o trabalho foi capaz de responder os questionamentos: Quais
representações e discursos que prevaleceram na criação do PARNASI? Quais os
padrões de relação de poder que fundamentam esse sistema de ação? Quem detém
o poder na definição e gestão das políticas ambientais? Quais recursos
fundamentam suas ações?
CAPÍTULO 2:
O CAMPO AMBIENTAL
19 MORALES, S. P. D. Conflitos ambientais em Unidades de Conservação: uma abordagem sobre as relações de poder no Parque Nacional Serra de Itabaiana/SE, Brasil, 2011.
2 O CAMPO AMBIENTAL
2.1 DO PENSAMENTO ECONÔMICO À PROBLEMÁTICA AMBIENTAL
Para melhor argumentar sobre a problemática ambiental e as práticas da
sociedade industrial, serão feitas, neste capítulo, discussões teóricas sobre a origem
do desenvolvimento econômico com embasamento na história do pensamento
econômico. Assim, podemos iniciar com o relato histórico de que foi a partir dos
meados do século XX que a temática ‘desenvolvimento econômico’ se destacou,
ganhando olhares dos mais renomados economistas da época.
Segundo Souza (1999), bem antes do século XX, a sociedade europeia já
demonstrava bastante interesse pela temática “desenvolvimento econômico”. Mas,
para os que detinham o controle das finanças públicas o maior alvo estava
direcionado para o poder econômico e militar, deixando de lado as discussões sobre
melhorias de vida da sociedade. As formas de atuação política estavam centradas
na segurança contra ataques inimigos internos e externos.
Ainda sobre a origem do desenvolvimento econômico, as viagens
exploratórias por terra e mar se fizeram presentes. Alguns momentos históricos
auxiliaram na evolução e disseminação do desenvolvimento econômico como: o
Estado Nacional moderno, o Renascimento, as grandes descobertas marítimas e as
riquezas coloniais.
Ainda de acordo com Souza (1999), o surgimento do desenvolvimento
econômico possui raízes teóricas e empíricas, originadas das crises econômicas.
Sendo assim, compreendendo seu aparecimento no plano teórico, o tema
desenvolvimento econômico é tema da obra de Adam Smith, “A riqueza das
nações”, em 1776, no qual o autor apresenta um modelo abstrato e conceitual de
funcionamento do modo de produção capitalista.
Para Smith, o desenvolvimento só era possível mediante o aumento do nível
da proporção dos trabalhadores produtivos em relação aos improdutivos, ou seja, o
fator essencial para o aumento da riqueza era o trabalho produtivo. Ao escrever sua
obra, Smith absorveu as problemáticas socioeconômicas de sua época, período este
que compreendia a Revolução Industrial inglesa (1750 e 1830). Com a sua forma
20 MORALES, S. P. D. Conflitos ambientais em Unidades de Conservação: uma abordagem sobre as relações de poder no Parque Nacional Serra de Itabaiana/SE, Brasil, 2011.
particular de ver as relações econômicas derrubou a tese fisiocrata, segundo a qual
a riqueza estava atrelada à terra.
Diante de um considerável crescimento econômico presente na Inglaterra e
propagando-se para outros países; Smith, novamente, se destacou ao elaborar uma
teoria histórica, na qual buscava explicar tais transformações ocorridas na sociedade
de classes e, além de formular uma teoria sociológica com o objetivo de estudar e
explicar as relações de poder entre as principais classes sociais do capitalismo:
capitalistas – proprietários de terras; operários “livres” (HUNT, 1981).
Outro economista que se debruçou sobre o estudo dos processos
econômicos foi David Ricardo, grande discípulo de Smith. Ricardo é considerado o
teórico mais rigoroso dentre os economistas clássicos. De acordo com Hunt (1981),
o economista David Ricardo até hoje influencia a teoria econômica, lançando um
modelo econômico abstrato e dedutivo. É de sua autoria, a teoria da renda e do
lucro, na qual defendia a concentração de renda nas mãos dos capitalistas, uma vez
que eles eram responsáveis pelo desenvolvimento econômico e, portanto, pela
geração de empregos.
Ainda outro autor que fez importantes contribuições teóricas sobre a origem
do desenvolvimento econômico, foi Joseph Schumpeter com a sua obra “Teoria do
desenvolvimento econômico”, publicada em 1911. Schumpeter conseguiu diferenciar
crescimento e desenvolvimento. Para ele, o crescimento só era possível mediante
uma economia que funcionasse em sistema de fluxo circular de equilíbrio, movida
mediante a expansão demográfica, enquanto que no desenvolvimento, ocorria na
presença de inovações tecnológicas (SOUZA, 1999).
O termo desenvolvimento econômico ficou mais latente através da teoria
Keynesiana, onde a Contabilidade Nacional classificou diferentes países como ricos
e pobres pela comparação da renda per capita, tirando assim uma média da renda.
A teoria de Keynes foi uma análise sobre os processos contínuos de produção,
circulação e consumo (HUNT, 1981).
Além do pensamento econômico clássico, as abordagens neoclássicas
também influenciaram os estudos acadêmicos, tendo em Alfred Marshall seu grande
representante na escola inglesa. A economia neoclássica fundamentou a economia
21 MORALES, S. P. D. Conflitos ambientais em Unidades de Conservação: uma abordagem sobre as relações de poder no Parque Nacional Serra de Itabaiana/SE, Brasil, 2011.
política dos países desenvolvidos até 1929 e estava focada no lucro em curto prazo,
ou seja, na eficiência microeconômica da produção. Os neoclássicos eram otimistas
quanto à forma de acúmulo do capital, sendo para eles um processo gradual,
contínuo e harmonioso de desenvolvimento (SOUZA, 1999).
Diferentemente da visão otimista dos neoclássicos, surge um olhar
pessimista sobre o sistema capitalista e suas formas de produção, no qual evolução
e crescimento passam a ser fenômenos de desequilíbrio. Esta nova forma de
perceberas técnicas de produção e a organização econômica da sociedade daria
origem a um novo sistema chamado socialismo, tendo como seu precursor Karl
Marx, cuja obra mais conhecida é “O Capital”. Crítico da economia clássica e de sua
miopia histórica, Marx afirmava que a produção era uma atividade social, portanto,
interessava-se em explicar as relações sociais entre capitalistas e trabalhadores
(salário e lucro).
Marx entendia que o tempo do trabalho era o que determinava o valor das
mercadorias, nas relações de troca. Tais estudos emergiram em uma época onde o
capitalismo tomava pra si a força de trabalho como mecanismo de obtenção de
lucros. Assim, a sociedade industrial foi fortemente influenciada pelo pensamento
econômico vigente, deixando que o desejo pelo progresso, crescimento e inovação
tecnológica acarretasse no agravamento de sua relação não harmônica com
natureza (SOUZA, 1999).
De acordo com Bernardes e Ferreira (2005), a natureza era percebida como
algo mecânico, onde o pensamento determinista era dominante. Portanto, era posta
como um obstáculo ao desenvolvimento social. Tal pensamento predominaria até
meados dos anos 60. O modelo econômico capitalista e predatório seria enfocado
criticamente por diversos autores, uma vez que o meio ambiente estaria passando
por um processo chamado de instrumentalização, ou seja, desnaturalização.
Mesmo chegando neste processo de desnaturalização, surge um desejo de
reverter o quadro atual da natureza que de acordo com Bernardes e Ferreira (2005)
seria o movimento de resistência, os quais teriam um controle de risco e estaria
ligado à noção de futuro. Ressalta-se que até chegar a se falar em consciência
ambiental a humanidade precisou ver perplexa sua própria destruição. A lista de
22 MORALES, S. P. D. Conflitos ambientais em Unidades de Conservação: uma abordagem sobre as relações de poder no Parque Nacional Serra de Itabaiana/SE, Brasil, 2011.
acontecimentos desastrosos para a natureza e sociedade não ficou no passado,
ainda é realidade.
A sociedade só perceberia a natureza como finita e o uso incorreto dos
recursos naturais como sua própria condenação, em meados do século XX, logo
após a Segunda Guerra Mundial. A escassez de matéria prima e a capacidade de
suporte limitada da natureza devido à produção econômica acelerada seriam uma
das forças desestabilizadoras do modelo de desenvolvimento que até hoje
predomina e que contribui para o surgimento da consciência ambiental, tornando a
ciência e a tecnologia questionáveis.
Para Milaré (1995), a concentração da população nas cidades, a elevação
de renda por uma minoria da população, a produção intensiva de bens de consumo
e o descarte precoce de bens usados são outras marcas visíveis geradas pela
dominação humana sobre a natureza e o rápido processo de modernização
tecnológica do século XX.
Durante muito tempo legitimou-se a crença economicista de que a
capacidade humana de criação, adquirida com o crescimento e inovação
tecnológica, compensaria os estragos causados à natureza. Contudo, a crença da
autorregularão do processo de desenvolvimento esbarrou na capacidade auto
regeneradora da natureza. Dessa forma, a crença economicista não se sustentou e
não apresentou respostas para as problemáticas geradas por ela mesma,
desencadeando um processo no qual uma antiga solução passaria a ser um novo
problema (BECKER, 1999).
Mediante as consequências negativas do processo de desenvolvimento
estruturado na concepção de acumulação de capital e aceleração de produção e
consumo surgiria a necessidade de organizar um novo modelo possuidor de bases
sociais, econômicas, culturais e ambientais mais sustentáveis. Esta nova forma de
desenvolvimento teria como fundamento o reconhecimento da insustentabilidade
social e ambiental (ALMEIDA, 1999).
23 MORALES, S. P. D. Conflitos ambientais em Unidades de Conservação: uma abordagem sobre as relações de poder no Parque Nacional Serra de Itabaiana/SE, Brasil, 2011.
2.2 SUSTENTABILIDADE E POLÍTICA
O caminho de uma sociedade capitalista rumo a uma nova concepção de
desenvolvimento, a de sustentabilidade, foi construído à base de muitas
preocupações e discussões sobre a vida planetária e seu futuro. Para se ter uma
ideia até meados dos anos 70, o termo desenvolvimento ainda estava atrelado ao
progresso material. Apesar da resistência era preciso pensar em uma alternativa
para a insustentabilidade planetária.
Assim, modelos de desenvolvimento foram formulados e apresentados como
o ecodesenvolvimento, lançado por Maurice Strong em 1973, no qual consistia em
um estilo de desenvolvimento que levava em conta o respeito ao homem,
observando suas especificidades e a gestão competente dos recursos naturais,
sendo visto como uma solução para os problemas socioambientais e,
particularmente, adaptado às regiões rurais do Terceiro Mundo. Este modelo ainda
consistia em um sistema operacional constituído de uma filosofia de
desenvolvimento cuja importância somente poderia ser avaliada através da prática
(SACHS, 2007).
O surgimento do eco desenvolvimento pela publicação do relatório do Clube
de Roma inspiraria, posteriormente, a construção de um novo modelo de
desenvolvimento, este multidimensional e interdisciplinar, que ultrapassaria os
limites econômicos, expresso no termo desenvolvimento sustentável.
O Relatório Brundtland, traduzido para a língua portuguesa como “Nosso
Futuro Comum”, publicado em 1987, trouxe a definição do termo “desenvolvimento
sustentável” como texto preparatório para as Conferências das Nações Unidas sobre
o Meio Ambiente em 1992, a ECO 92, ocorrida no Rio de Janeiro, e a criação da
Agenda 21 e o Fundo Global para o Meio Ambiente, do Banco Mundial
(BERNADES; FERREIRA, 2005).
O conceito de desenvolvimento sustentável como apresentado no Relatório
de Brundtland apesar de possuir interligações com os conceitos de eco
desenvolvimento apresentava 5 princípios, dentre os quais estavam a integração
entre conservação da natureza e desenvolvimento; o atendimento e a satisfação das
necessidades fundamentais humanas; a equidade e justiça social; a busca pela
24 MORALES, S. P. D. Conflitos ambientais em Unidades de Conservação: uma abordagem sobre as relações de poder no Parque Nacional Serra de Itabaiana/SE, Brasil, 2011.
autodeterminação social; o respeito pela diversidade cultural e por fim a integridade
ecológica (SACHS, 2007).
Assim, o termo como é conhecido hoje foi concebido mediante uma crise
socioambiental instaurada mundialmente. Neste período o mundo passava pela
experiência da disseminação do neoliberalismo, pregava-se um crescimento
econômico desenfreado justificado no discurso de geração de emprego (FREY,
2001). Dessa forma, o termo desenvolvimento sustentável passou a se configurar
como a solução para os problemas planetários desencadeados pela ação do homem
sobre a natureza.
Para Almeida (1999), alguns aspectos não são claros quanto à definição e
aplicabilidade desta nova forma de pensar o mundo, sendo preciso responder duas
questões: Trata-se de sustentar o quê? Futuro comum de quem e para quem?
É importante saber que relacionado ao desenvolvimento sustentável estão
diversas visões de mundo. Neste âmago de ideias é que atores alternativos irão
proferir um modelo fundamentado em um modo de desenvolvimento socialmente
justo, economicamente viável, ecologicamente sustentável e culturalmente aceito
(ALMEIDA, 1999).
Em suas análises sobre desenvolvimento sustentável, Almeida (1999)
apresenta duas concepções que envolvem a temática, uma gestada dentro da
economia, em que a natureza é um bem capital, e a outra sendo contrária a este
discurso econômico.
Quanto à problemática da práxis do desenvolvimento sustentável, Vecchiatti
(2004), expressa que somente uma articulação ético-política guiada pela política
ambiental, poderia direcionar uma revolução social e cultural. Dessa forma
reorientaria o modo de produção de bens materiais e imateriais, tornando possível
conciliar crescimento econômico com as formas de desenvolvimento sustentável.
Assim, em meio a uma sociedade tecnocrata, a prática do desenvolvimento
sustentável depende das disputas entre diversos atores sociais, cada um com seu
modo diferenciado de apropriação, uso e significação do território, como bem
observa Acselrad (2004). Deste modo, pode-se relacionar ao desenvolvimento
sustentável um espaço de produção da ciência ou mesmo um espaço social; onde
25 MORALES, S. P. D. Conflitos ambientais em Unidades de Conservação: uma abordagem sobre as relações de poder no Parque Nacional Serra de Itabaiana/SE, Brasil, 2011.
existem as relações de força, tendo como objetivo a disputa do monopólio da
capacidade técnica e poder social pelos participantes desse campo (BOURDIEU,
1983).
Ainda sobre o modelo de desenvolvimento da sociedade industrial é possível
notar a influência da concorrência de mercado e suas formas atrativas de obtenção
de bens de consumo necessários ou não. Para Frey (2001), a valorização do
consumismo e do economicismo é o grande entrave para a construção de uma
consciência ecológica.
É possível observar grandes espaços em branco no que preconiza o
desenvolvimento sustentável referente aos países pobres e industrializados. Ora, se
ser pobre significa risco e ser rico também, então, qual seria alternativa? Frey (2001)
observa que o relatório Brundtland, apenas criticou e não apresentou propostas
reais quanto às alterações dos mecanismos deliberativos e das condições de poder
nos fóruns nacionais ou mundiais. Para ele, a concepção nada mais foi que uma
forma de reivindicar uma nova forma de crescimento da sociedade capitalista,
levando em consideração os impactos socioambientais negativos.
Sachs (2007) prefere pensar que a solução para os países pobres seria o de
não percorrer o mesmo caminho dos países ricos quanto ao seu modo de
desenvolvimento, baseado na subjugação de outros países e no esgotamento dos
recursos naturais, mas norteando-se em ações que prezem o respeito às
diversidades culturais, econômicas, sociais e ambientais.
Ainda sobre a problemática ambiental, Leff (2007) entende que a crítica ao
intenso processo de degradação do meio ambiente representa uma crítica mais
ampla que questiona não apenas a relação da sociedade com a natureza, mas
também o modelo econômico e político vigente. Portanto, a questão ambiental não
pode ser enfrentada de modo dissociado das dimensões política e cultural. Isto é, a
solução para o problema ambiental passa pela superação da condição de exclusão
de populações que, tal como a natureza, é usurpada e explorada (LEFF, 2007).
Ocorre que, por ser uma questão eminentemente política, a questão ambiental foi
apropriadamente retraduzida pela “ideia” da sustentabilidade para adequar-se à
lógica do mercado:
26 MORALES, S. P. D. Conflitos ambientais em Unidades de Conservação: uma abordagem sobre as relações de poder no Parque Nacional Serra de Itabaiana/SE, Brasil, 2011.
O discurso da sustentabilidade [...] seu intuito não é internalizar as condições ecológicas da produção, mas proclamar o crescimento econômico como um processo sustentável, firmado nos mecanismos do livre mercado como meio eficaz de assegurar o equilíbrio ecológico e igualdade social (LEFF, 2007, p. 26).
Com base nessa abordagem, o discurso ambiental poderia ser
compreendido como um elemento ideológico que corresponde a uma nova fase de
reprodução do capital, cuja especificidade é a conversão da natureza como
mercadoria. Parece que se vive, atualmente, uma daquelas encruzilhadas da
história, a exemplo do período das grandes revoluções do século XVIII e XIX, cujo
caminho é definido pelo embate político. Como pode perceber, mais uma vez, as
forças hegemônicas são as do mercado e do capital.
Uma segunda crítica compreende o questionamento ao “natural” e de sua
dissociação e oposição em relação à sociedade, cuja a ênfase é dada aos projetos e
iniciativas de preservação da natureza. Assim, estes projetos não podem excluir
comunidades de também tomarem parte nos processos decisórios.
“A visibilidade da conservação é o meio natural. A ocupação humana é
considerada um problema e não parte – inter-relacionada – da proteção ambiental.”
(TEIXEIRA, 2005, p. 63).
Assim, parece não haver parte dos idealizadores e gestores de projetos de
proteção ambiental na complexidade da organização social o que gera uma visão
mecanicista que opõe a natureza à sociedade, uma vez que não compreendem que
a sociedade é composta por grupos e classes sociais que fazem uso e se apropriam
da natureza de diferentes modos e intensidades.
Como se vê, a noção desenvolvimento sustentável parece ser uma
reacomodação das forças hegemônicas que despolitizaram o modelo preconizado
pelo ecodesenvolvimento e o ajustou às necessidades e dinâmicas da reprodução
da sociedade capitalista em um cenário onde a questão ambiental deixa de ser uma
ameaça e passa ser uma oportunidade.
27 MORALES, S. P. D. Conflitos ambientais em Unidades de Conservação: uma abordagem sobre as relações de poder no Parque Nacional Serra de Itabaiana/SE, Brasil, 2011.
2.3 A POLÍTICA AMBIENTAL NO BRASIL
Antes que se faça uma reflexão sobre os caminhos que as políticas
ambientais percorreram no Brasil, é necessário em primeira instância abrir uma
discussão sobre as políticas públicas e a ação de seus sujeitos. As reflexões iniciais
deste capítulo foram norteadas pelas contribuições de Muller (1995) e Bourdieu
(1997).
Assim, de uma forma mais ampla, as políticas públicas podem ser
entendidas como um conjunto de ações mediadoras de cunho político-institucional
que envolve múltiplos atores sociais com o objetivo de resolver problemas coletivos
(VIEIRA; BREDARIOL, 2006). Ainda de acordo com Vieira e Bredariol (2006) as
políticas públicas devem ser vistas como “resultados de negociações, dentro de uma
correlação de forças entre atores, com predomínio do atendimento dos interesses de
grupos hegemônicos nas relações de poder de uma sociedade”.
Muller (1995, p. 6) acrescenta à interpretação de políticas públicas um
processo de construção de uma relação com o mundo, que vai chamar de
referencial. Este referencial seria a dimensão intelectual da ação pública e sua
abordagem seria a análise, propriamente dita, das políticas públicas.
De fato, o processo de produção do referencial não está limitado à fase de construção do problema e da inclusão na agenda da grade dita de Jones. Aí encontramos a dimensão da produção do sentido tanto na fase de decisão quanto nas fases de implementação (implementation) e, evidentemente, de avaliação (MULLER, 1995, p. 6).
Enquanto estrutura, as políticas públicas apresentam no seu referencial
quatro distintas percepções do mundo: valores - define o quadro global da ação
pública pelo saber do que é desejável ou rejeitável; normas - princípios da ação pelo
distanciamento do real percebido e do real desejado; algoritmos - relações de
causas expressas na teoria da ação; e imagem - efeito cumulativo de todas as
distinções de forma imediata sem o uso do discurso prolongado (MULLER, 1995).
É importante salientar que o referencial não é, somente, uma ideia ou um
discurso, mas uma ideia em ação. Tal referencial por sua vez não se reserva
somente às elites profissionais, políticas e administrativas, já que é produzida em
atos entendidos como discursos construídos. Nesta esfera, os conflitos surgem
28 MORALES, S. P. D. Conflitos ambientais em Unidades de Conservação: uma abordagem sobre as relações de poder no Parque Nacional Serra de Itabaiana/SE, Brasil, 2011.
mediante as várias visões de mundo por grupos distintos (componente identitário).
A intensidade dos conflitos se explica pela dimensão identitária do referencial: o que está em jogo não são apenas idéias abstratas, mas a própria existência dos grupos em questão enquanto atores, por meio da imagem que concebem do seu lugar no mundo, buscando fazer com que seja aceita (MULLER, 1995, p. 8).
Percebe-se, claramente, que o conflito entre visões dominantes diferentes
levará às disputas pelo poder. Contudo, é neste confronto pela legitimidade do
discurso que a política pública se apresentará como mediadora. Assim, ela
conseguirá trazer para realidade, as problemáticas, as representações de grupos
sociais ou de setores envolvidos e a teoria da mudança social.
Bourdieu (1997, p. 99) explica bem esta relação de campo de forças e a
produção de poder dentro do referencial de políticas públicas concebido por Muller,
uma vez que o Estado, agente privilegiado da definição e execução das políticas
públicas, concentra vários tipos de capital:
O Estado é resultado de um processo de concentração de diferentes tipos de capital, capital de força física ou de instrumentos de coerção (exército, política), capital econômico, capital cultural, ou melhor, de informação, capital simbólico, concentração que, enquanto tal, constitui o Estado como detentor de uma espécie de metacapital, com poder sobre os outros tipos de capital e sobre seus detentores. A concentração de diversos tipos de capital [...] permite ao Estado exercer um poder sobre diversos campos e sobre diversos os diferentes tipos específicos de capital [...] BOURDIEU 1997, p. 99).
Neste espaço de jogo, a luta é pelo poder sobre o Estado,
consecutivamente, sobre os diferentes tipos de capital. A conquista se dá pela
dominação simbólica, ou seja, pelo reconhecimento que este se apoia no
desconhecimento (BOURDIEU, 2007b). Bourdieu consegue explicar esta lógica
através de sua obra The Logic of Practice, na qual aborda a teoria do espaço social,
composição de grupos e competição simbólica, focando em duas formas de
dominação - pessoal e estrutural.
Pensar o Estado, não é uma tarefa das mais fáceis, pois ao fazê-lo corre-se
o risco de cair no exagero literário. Mas, Pierre Bourdieu em sua obra Razões
Práticas: sobre a teoria da ação explica que é possível senti-lo no domínio da
produção simbólica. Assim, [...] as administrações públicas e seus representantes
são grandes produtores de “problemas sociais” que a ciência social frequentemente
29 MORALES, S. P. D. Conflitos ambientais em Unidades de Conservação: uma abordagem sobre as relações de poder no Parque Nacional Serra de Itabaiana/SE, Brasil, 2011.
apenas ratifica, retomando-os por sua conta como problemas sociológicos [...]
(BOURDIEU, 1997, p. 95).
Com base nestas reflexões, pensar o Estado como expressão das lutas e
forças políticas da sociedade, mas, também, como uma das forças que atua de
modo mais significante nessa mesma sociedade, é mais que entender suas normas
e hierarquias, é pensar um espaço social e simbólico capaz de conservar ou
transformar a realidade social, política e simbólica. E as políticas públicas podem ser
entendidas como expressão de lutas e do processo de reposicionamento de agentes
sociais a partir da ação do Estado.
Nesta perspectiva das políticas públicas como mediadoras de conflitos é que
as políticas ambientais no Brasil foram alicerçadas. De acordo com Vieira e Bredariol
(2006) as políticas ambientais no Brasil já existiam desde o século XVII, mas
somente nos últimos quarenta anos que produziram resultados consideráveis. A
legislação que vigorava ainda era da década de 30 e trazia os códigos de água,
florestal, de caça, pesca e mineração (VIEIRA; BREDARIOL, 2006).
Ainda de acordo com os autores, do pós-guerra a Conferência de Estocolmo
não existia, a chamada política ambiental; mas políticas que resultaram nela. Os
assuntos mais abordados no período dos anos 30 eram: o fomento à exploração dos
recursos naturais, saneamento rural, educação sanitária, etc. A esfera política era
dividida em duas linhas: políticos conservacionistas e políticos nacionalistas. De um
lado defendiam a natureza por meio da exploração controlada a exemplo da
Fundação Brasileira de Conservação da Natureza (FBCN), e de outro a exploração
dos recursos naturais pelos brasileiros.
Diferentemente de Vieira e Bredariol (2006), outros autores consideram a
década de 30, como o período onde houve um maior fortalecimento das políticas
públicas voltadas para o meio ambiente (CUNHA; COELHO, 2005).
Há, segundo Cunha e Coelho (2005), pelo menos três tipos de políticas
ambientais no Brasil. O primeiro teria caráter regulatório, no qual estabelece ou
regulamenta normas e regras de uso e acesso ao ambiente natural e seus recursos.
Segundo, as estruturadoras que são intervenções direta do poder público ou de
organismos não governamentais para proteger o meio ambiente. Por fim, o terceiro
30 MORALES, S. P. D. Conflitos ambientais em Unidades de Conservação: uma abordagem sobre as relações de poder no Parque Nacional Serra de Itabaiana/SE, Brasil, 2011.
tipo, as indutoras de comportamento que se referem às ações que possuem o intuito
de influenciar o comportamento de indivíduos ou grupos sociais, ou seja, iniciativas
destinadas a otimizar a alocação de recursos.
Ainda no que se refere às políticas ambientais no Brasil, três momentos
marcam esta história (CUNHA; COELHO, 2005): o primeiro período vai de 1930 a
1971; o segundo vai de 1972 a1987; e o terceiro vai de 1988 até os dias atuais.
O primeiro momento que vai de 1930 a 1971 compreendeu uma época onde
a humanidade enfrentava problemas com a Segunda Guerra Mundial, os riscos
nucleares, de crescimento populacional e químico.
O Brasil por sua vez tinha grandes experiências com Revolução de 30,
constituição de 34, aceleração industrial e urbana. Assim, dentro das políticas
regulatórias, o país promulgou os códigos Florestal, das Águas e de Minas; criou a
Fundação Brasileira para Conservação da Natureza, o Departamento Nacional de
Obras Contra as Secas; reformulou os códigos de pesca, de minas e florestal; criou
o Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Florestal. Em relação às políticas
estruturadoras surgem: as propostas de criação de parques nacionais e estaduais;
criação do primeiro parque em 1937, com o Parque Nacional de Itatiaia-RJ; criação
da primeira floresta nacional na Amazônia, FLONA de Caxuanã em 1961; e a
criação de 26 unidades de Conservação. Já as políticas indutoras no Brasil não
foram formalizadas no período.
No contexto internacional o período de 1972 a 1987 foi marcado pela:
divulgação do Relatório do Clube de Roma; organização de movimentos
ambientalistas como o Greenpeace; realização da Conferência de Estocolmo em
1972; ameaças das usinas nucleares; crise do petróleo; e politização da questão
ambiental. Já no contexto nacional, o período foi reconhecido como o: do milagre
econômico; do crescimento das áreas metropolitanas; da crise econômica e da
realização da Assembleia Nacional Constituinte.
Nesse momento, as políticas regulatórias estariam envolvidas na criação da
Secretaria Especial do Meio Ambiente; da Companhia de Desenvolvimento do Vale
do São Francisco (CODEVASF); criação do Ministério do Desenvolvimento,
Urbanização e Meio Ambiente; resolução de obrigatoriedade do Estudo de Impacto
31 MORALES, S. P. D. Conflitos ambientais em Unidades de Conservação: uma abordagem sobre as relações de poder no Parque Nacional Serra de Itabaiana/SE, Brasil, 2011.
Ambiental (EIA) e do Relatório de Impacto Ambiental (RIMA) em 1986. As políticas
estruturadoras focavam a: criação de estações biológicas federais no RJ e sul da BA
para proteger o mico-leão; criação de parques nacionais, florestas nacionais e
reservas biológicas no país todo; formulação da política nacional do meio ambiente;
definição e criação de áreas de proteção ambiental em todo território nacional;
elaboração da política nacional do meio ambiente e do sistema de licenciamento de
atividades poluidoras; criação do projeto de assentamento extrativista; e implantação
de 76 unidades de conservação.
Por fim, de 1988 aos dias atuais observou-se no cenário internacional: crises
ambientais de grande amplitude, apresentação do Relatório Brundtland; crise
financeira; realização da ECO 92, Fórum das organizações não-governamentais e
Conferência do Clima Global em Kyoto. O cenário brasileiro vislumbrava: a
promulgação de uma nova Constituição, em 1988, com aspectos descentralizadores,
sendo a primeira a abordar a questão ambiental; instituição de novas bases para
aplicação de multas em casos de danos ao meio ambiente e a lei dos royalties; crise
financeira e discussões sobre os transgênicos.
Cunha e Coelho (2005) destacam a ausência das políticas indutivas nos
outros anos. Nelas serão feitas proposições de estratégias, mecanismos e
instrumentos econômicos e sociais para a melhoria da qualidade ambiental e do uso
dos recursos naturais; construção da Agenda 21 em 1992; criação de formas de
fomento ao manejo florestal de uso múltiplo e de ações de prevenção e combate a
incêndios florestais e à capacitação para o planejamento e o uso da terra; fomento
às ações de educação ambiental; e implantação de certificação ambiental, o selo
verde e das ISOs – 9000 e 14000.
Entre formulações e reformulações as políticas ambientais no Brasil
viabilizaram ações preservacionistas e conservacionistas nas quais se encontram
até hoje. A Lei nº 9.985que instituiu o Sistema Nacional de Unidades de
Conservação (SNUC), estabelecendo critérios e normas para criação, implantação e
gestão de unidades de conservação é exemplo desse processo evolutivo das
políticas públicas no Brasil.
32 MORALES, S. P. D. Conflitos ambientais em Unidades de Conservação: uma abordagem sobre as relações de poder no Parque Nacional Serra de Itabaiana/SE, Brasil, 2011.
2.4 PARQUES NACIONAIS: BREVE HISTÓRICO
No mundo o primeiro Parque Nacional a ser criado, em meados do século
XIX, chamava-se Yellowstone, e situava-se em solos norte-americanos. Este parque
foi fruto da ideologia preservacionista daquele país. A ideia que eles tinham era de
uma natureza subordinada à vontade dos homens. Tal pensamento era criticado por
povos orientais, que possuíam uma visão de natureza como bela e sagrada, sendo
venerada por eles (DIEGUES, 1994).
O mundo selvagem só passou a ser valorizado em meados do século XIX,
quando a civilização passou a sofrer com as consequências do modo de vida
industrial das cidades. Assim, o campo passou a representar um refúgio ecológico.
Segundo Diegues (1994), as ideias dos românticos do século XIX tiveram
um papel de destaque no que concerne à criação de áreas naturais protegidas, as
“ilhas”, de grande beleza e valor estético.
Com a criação desse refúgio surgiu também a expressão “wilderness”:
Em grande parte do século XIX, a maioria do território dos Estados Unidos era selvagem. A inesgotabilidade dos recursos era o mito americano dominante por um século depois da independência. Até o conservacionismo utilitário parecia desnecessário, muito menos ainda qualquer ponto de vista ameaçasse a visão antropocêntrica. Até as pessoas que criticavam a exploração dos recursos não podiam escapar ao sentimento que além de tudo havia muito espaço para povos e natureza no Novo Mundo. Os indígenas então estavam exasperados; grande parte do oeste era selvagem. Nesse contexto geográfico, o progresso era sinônimo de crescimento, desenvolvimento e conquista da natureza (NASH, 1989 apud DIEGUES, 1994, p. 20).
Nesta “wilderness”, muitos nativos foram tirados de suas propriedades para
residir em reservas, e em seu lugar, colonos fizeram da natureza, que pouco havia
sido tocada pelo homem, o domínio de uma agricultura moderna e de uma indústria
expansiva (DIEGUES, 1994).
O trágico resultado dessa ocupação levaria a criação de áreas naturais nos
EUA, sendo esta influenciada pelos teóricos Thoreau e Marsh. Contudo, este
modelo desconsideraria a presença de ocupação de povos tradicionais, tornando-se
alvo de criticas, tanto dentro como fora dos Estados Unidos.
33 MORALES, S. P. D. Conflitos ambientais em Unidades de Conservação: uma abordagem sobre as relações de poder no Parque Nacional Serra de Itabaiana/SE, Brasil, 2011.
Tal criação se fundamentou em uma visão antropocêntrica de valorização às
motivações estéticas, religiosas e culturais dos humanos. A preocupação com a
natureza e os povos tradicionais viria somente em 1970 através do controle dos
recursos naturais (TEIXEIRA, 2005).
Em 1976, um programa intitulado “Man and Biosphere”, da Unesco, iria
definir o conceito de Reserva da Biosfera como uma proposta de otimizar as
relações homem e natureza.
[...] os efeitos perversos da exclusão de populações que viviam nos parques, uma vez que o seu deslocamento e as restrições de uso de recursos naturais em áreas protegidas demonstraram ser uma ameaça à reprodução de populações consideradas tradicionais, geralmente já castigadas pela pobreza. Além disso, observou-se que nem sempre as práticas produtivas dessas populações eram incompatíveis com os objetivos da conservação (TEIXEIRA, 2005, p. 52).
O Brasil somente aderiu a esta proposta na década de 80, uma vez que os
organismo internacionais já lhe cobravam uma postura ambientalmente correta. O
país, então, elaborou sua primeira proposta de criação de um Sistema Nacional de
Unidades de Conservação, incorporando a ela categorias nas quais o uso
sustentável era permitido.
Assim, desencadearam-se propostas para o extrativismo e a agricultura – atividades que permitiam a reprodução de populações tradicionais –, mantendo seu acesso aos recursos naturais e sua participação no planejamento e na gestão das unidades de conservação (BRITO, 2000 apud TEIXEIRA, 2005, p. 53).
A legislação ambiental brasileira diz que os Parques Nacionais estão
integrados às Unidades de Conservação (U.C.), que “são áreas legalmente
instituídas com o objetivo de conservar a natureza [...]” (BRASIL/MI/IBDF/FBCN,
1982 apud PAGANI, 1995, p.159).
De acordo com Pagani (1995), em 1993 foi proposto, por meio do Projeto de
Lei Federal nº 2892/92, um novo sistema de Unidades de Conservação para ajustar
as unidades à realidade brasileira, na qual observa a necessidade de conciliar
preservação com a existência de comunidades tradicionais.
Assim, em junho de 2000, o Governo brasileiro, através da Lei nº 9.985,
instituiu o Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC), estabelecendo
critérios e normas para criação, implantação e gestão de unidades de conservação.
34 MORALES, S. P. D. Conflitos ambientais em Unidades de Conservação: uma abordagem sobre as relações de poder no Parque Nacional Serra de Itabaiana/SE, Brasil, 2011.
O capítulo 3, do SNUC, define as categorias das unidades de conservação,
como sendo dividida em duas: I - Unidades de Proteção Integral e II - Unidades de
Uso Sustentável. Ainda apresenta cinco grupos das Unidades de Proteção Integral
composta pela Estação Ecológica; Reserva Biológica; Parque Nacional; Monumento
Natural e Refúgio de Vida Silvestre.
Quanto aos que constituem o Grupo das Unidades de Uso Sustentável,
encontram-se as seguintes categorias: Áreas de Proteção Ambiental; Áreas de
Relevante Interesse Econômico; Floresta Nacional; Reserva Extrativista; Reserva de
Fauna; Reserva de Desenvolvimento Sustentável e Reserva Particular do Patrimônio
Natural.
Contudo, dentro do território brasileiro, as unidades com mais
representatividade são: os Parques Nacionais (P.N.); as Reservas Biológicas (R.B.);
as Estações Ecológicas (E.E.) e as Áreas de Proteção Ambiental (APAs).
No que concernem às Estações Ecológicas estas possuem a função de
preservar a natureza e permitem a realização de pesquisa científica. É de posse e
domínio públicos, e são proibidas visitações públicas que não sejam para fins
educacionais. Na Estação a permissão para experimentos científicos só podem
ocorrer se as ações visarem a restauração de ecossistemas modificados; o manejo
de espécies, se este for para preservar a diversidade biológica, e a coleta de
componentes dos ecossistemas com finalidades científicas (BRASIL, 2000).
Quanto ao que confere as Reservas Biológicas estas tem como objetivo “a
preservação integral da biota e demais atributos naturais existentes em seus limites,
sem interferência humana direta ou modificações ambientais [...]” (BRASIL, 2000, p.
5).
No que se refere a Parques Nacionais, a Lei nº 9.985/2000 diz que este
pode ser visitado, seja com fins recreativos como científicos, desde que esteja
sujeito “[...] às normas e restrições estabelecidas no Plano de Manejo da unidade, às
normas estabelecidas pelo órgão responsável por sua administração, e àquelas
previstas em regulamento” (BRASIL, 2000, p. 6).
É importante salientar que as unidades criadas pelo Estado ou Município
devem ser denominadas de Parque Estadual e Parque Natural Municipal.
35 MORALES, S. P. D. Conflitos ambientais em Unidades de Conservação: uma abordagem sobre as relações de poder no Parque Nacional Serra de Itabaiana/SE, Brasil, 2011.
Por fim, as Áreas de Proteção Ambiental são definidas como:
[...] porções do território nacional de configuração e tamanho variáveis, submetidas a modalidades de manejo diversas, podendo compreender ampla gama de paisagens naturais e semi-naturais, com características notáveis e dotadas de atributos bióticos, estéticos ou culturais que exijam proteção para assegurar o bem estar das populações humanas, conservar ou melhorar as condições ecológicas locais ou constituir-se em local de experimentação de novas técnicas e atitudes que permitam conciliar o uso da terra com a manutenção dos processos ecológicos essenciais (BRASIL, 2000, p. 7).
De todas as unidades citadas os Parques Nacionais e as Reservas
Ecológicas são consideradas as mais antigas. O primeiro parque brasileiro criado foi
o de Itatiaia, em 1937, e a primeira reserva foi a de Poço das Almas, em 1974. Já as
Estações Ecológicas e as Áreas de Proteção Ambiental datam de 1981.
CAPÍTULO 3:
CONFLITOS AMBIENTAIS SOB O ENFOQUE SOCIOLÓGICO
37 MORALES, S. P. D. Conflitos ambientais em Unidades de Conservação: uma abordagem sobre as relações de poder no Parque Nacional Serra de Itabaiana/SE, Brasil, 2011.
3 CONFLITOS AMBIENTAIS SOB O ENFOQUE SOCIOLÓGICO
Este capítulo reserva-se ao entendimento do conflito ambiental. A escolha
em abordar os conflitos ambientais por uma visão sociológica, nesta dissertação,
deve-se ao fato de que o meio ambiente não mais pertence, exclusivamente, ao
campo das ciências naturais, uma vez que incita a multidisciplinaridade e
interdisciplinaridade com vistas a resultados mais satisfatórios neste estado da arte.
Dessa forma, não seria incorreto entender tais conflitos que permeiam o campo
ambiental por uma visão sociológica quando tal problemática possui raízes em
processos sociais.
Hoje, somado ao empenho de se entender os fenômenos ambientais, surge
uma linha de estudo das ciências sociais, intitulada, ‘sociologia ambiental’, que
possui nos estudos sobre os recursos naturais sua origem (LENZI, 2005). Mesmo
sendo iniciada de forma tardia, final da década de 70 e inicio de 80, por Riley E.
Dunlap e Willian R. Catton Jr., a sociologia ambiental tem contribuído para o
aprofundamento dos fenômenos relativos ao campo socioambiental (LENZI, 2005).
Esse aprofundamento dos estudos socioambientais e amadurecimento da
disciplina sociologia ambiental podem ser constados nos impactos gerados pelos
conceitos do desenvolvimento sustentável, nas teorias da modernização ecológica e
teses de Anthony Giddens e Ulrich Beck. Neste estudo, sobre a dimensão social e
política da degradação ambiental, foram várias as correntes que tentaram explicar
as relações conflitantes entre a sociedade e a natureza.
Para entender melhor as bases do conflito ambiental, cabe trazer aqui a
afirmação de Buttel (2000, apud ALONSO; COSTA, 2000) quando este diz que a
democratização e globalização da temática ambiental trouxeram consigo disputas
por interesses entre diversos atores sociais desencadeando conflitos ambientais. E
nesta perspectiva não seria incorreto afirmar que todo conflito surge mediante
práticas de determinado grupo social.
Seguindo o entendimento de Carvalho e Scotto (1995, apud BERTÉ, 2009),
os conflitos são compostos por determinadas situações em que estão presentes
conflitos de interesses apresentados por diversos atores sociais, em torno do uso
e/ou gerenciamento do meio ambiente. Sendo assim o conflito nada mais é que a
inter-relação entre indivíduos, grupos, organizações e coletividades que gera
38 MORALES, S. P. D. Conflitos ambientais em Unidades de Conservação: uma abordagem sobre as relações de poder no Parque Nacional Serra de Itabaiana/SE, Brasil, 2011.
confrontos para que haja acesso e partilha de recursos que encontram-se em
escassez (BERTÉ, 2009).
Desse modo, um conflito ambiental se configura quando atores sociais
tomam consciência de um dano ou risco ambiental e mobiliza-se no intuito de
impedir ou eliminar determinado problema ambiental.
Para Alonso e Costa (2000), a esfera pública se configura como arena de
conflitos e negociação entre atores. E neste entendimento os conflitos passam a se
estruturar simultaneamente em torno de interesses e valores, e manifestar-se no
cotidiano e na heterogeneidade do meio social.
É por meio do objeto de disputa, como mencionado acima, o recurso
escasso, que se veem claramente as relações de poder entre os que participam
desse campo de forças. De acordo com Berté (2009), à ideia de conflito está ainda
associada ao poder, à riqueza e ao prestígio.
No campo ambiental, este objeto de disputa, são os recursos naturais e a
sua utilização é pivô de vários conflitos. Pensar que existe uma forma de resolver
totalmente determinado conflitos é cair em campo de incertezas e erros, uma vez
que o conflito é inerente a própria existência do meio social, ou seja, nunca existiu
uma sociedade sem conflitos (SANTOS, 2003, apud BERTÉ, 2009).
Mas, se o conflito não pode ser resolvido, então como tratar as disputas por
recursos escassos pelos diversos atores? Ligada a questão de conflitos está a
chamada negociação e mediação. Nesta, é feita a regulamentação do conflito, onde
são traçadas regras aceitas pelos participantes. Dessa forma a manifestação do
conflito é regulamentada (BERTÉ, 2009).
Essa estratégia pode ser chamada na área ambiental de gestão ambiental.
É na relação conflituosa entre os diversos atores sociais que o poder público
intervirá para que os interesses desses atores, dentre eles agricultores, madeireiros,
empresários da construção civil, industriais, moradores, turistas, etc, não
comprometam o meio ambiente e ponham em risco a qualidade de vida das
pessoas.
Ao tempo que o poder público toma uma posição mediadora também pode
construir relações de conflito com a sociedade, uma vez que tendo uma função
39 MORALES, S. P. D. Conflitos ambientais em Unidades de Conservação: uma abordagem sobre as relações de poder no Parque Nacional Serra de Itabaiana/SE, Brasil, 2011.
reguladora sobre os recursos escassos estabelece uma conexão direta de uso de
poder e influência sobre os atores (BERTÉ, 2009).
Para Berté (2009), os atores sociais devem assumir um papel de gestor, no
sentido de denunciar, opinar e julgar, exercendo o pleno uso da cidadania em
defesa do meio ambiente e das gerações futuras. Através de uma gestão ambiental
participativa, a tomada de decisão que traz benefícios para uns e prejuízos para
outros pode ser minimizada.
[...] o importante é que o órgão de meio ambiente, no exercício de sua competência mediadora, proporcione condições para que os diferentes atores sociais envolvidos tenham oportunidades de expor a outros e ao conjunto da sociedade os argumentos que fundamentam a posição de cada um quanto à destinação dos recursos ambientais em disputa (BERTÉ, 2009, p. 79).
Contudo, são perceptíveis que conhecimento e competência técnica são
fatores determinantes para a legitimação de discursos. Tal situação pode ser vista
em processos de institucionalizações de Parques Nacionais, na qual a comunidade
local não possui habilidade necessária para defender seus interesses.
Os conflitos ambientais podem ser melhor apreendidos, analisados e
compreendidos a partir das contribuições de Pierre Bourdieu. De acordo com
Bourdieu o campo é resultado das disputas de forças entre os atores sociais que o
compõe e são orientados pelo habitus. É por meio do habitus que os atores se
expressam em ações que dão a dinâmica deste campo de forças (BOURDIEU,
2007b). Seguindo esta análise teórica será possível entender a dinâmica dos
conflitos presente em Unidades de Conservação. Para tanto, é preciso que se faça
entender a lógica de habitus, campo e capital apresentada por Pierre Bourdieu.
3.1 A TEORIA DE HABITUS POR PIERRE BOURDIEU
A importância da discussão que se fará neste momento objetiva entender a
representação social dos agentes inseridos em conflitos socioambientais dentro de
Unidades de Conservação. Para tal intento, serão aplicados os conceitos
bourdieunianos de habitus e campo num exercício teórico centrado em alguns
elementos: valores estatutários que rege a moral cotidiana; campo, como algo que é
invariável; apreensão intelectualmente da realidade. Esses elementos irão significar
40 MORALES, S. P. D. Conflitos ambientais em Unidades de Conservação: uma abordagem sobre as relações de poder no Parque Nacional Serra de Itabaiana/SE, Brasil, 2011.
que os agentes são relativamente autônomos (BOURDIEU, 2007b).
É perceptível, dentro das arenas de discussão sobre a questão ambiental, a
existência de disputas de interesse, marcado por luta pelo espaço territorial e
legitimação de discursos que desencadeiam, inevitavelmente, em conflitos entre os
agentes. Assim, chega-se ao denominador comum de que toda a ação gerada pelos
agentes se insere em um campo de forças.
Nesta discussão o habitus é importante porque é gerador das
representações sociais. Sobre ele, ainda entende-se que as identidades se
constroem a partir de um processo de socialização do indivíduo em um meio; onde
são desencadeadas práticas que moldam as ações do individuo, para que seja
inserido em um grupo com regras as quais se adaptou, por meio da violência
simbólica.
Dessa forma, não seria incorreto dizer que os conflitos em Unidades de
Conservação surgem em razão das disputas entre os diversos atores pelos bens
característicos do campo. Portanto, o conflito existirá independente do habitus -
disposições práticas e simbólicas - ser ou não aceito. Tais habitus foram construídos
pelas influências adquiridas no meio social, no meio familiar, escola, mídia, de forma
sutil e imperceptível através da violência simbólica. As relações sociais moldam a
forma como o agente age dentro do campo.
Quando o agente possui habitus adequados ou não ao campo que faz parte
deixa de incorporar as regras desse campo e surge a ruptura, sai da continuidade e
passa a posição de adversário. Dentro do contexto de uma Unidade de
Conservação, podemos ver claramente as distinções e a ruptura quando os agentes
assumem um discurso de defesa de interesses particulares e passam ao campo de
força pelo domínio do poder sobre determinado território (BOURDIEU, 2007a).
A noção de habitus faz parte de uma tradição sociológica que vai de
Durkheim a Bourdieu. Para Durkheim, o habitus é um estado geral do individuo,
profundo, vindo do seu interior que motiva suas ações de forma durável (SETTON,
2002). Para Bourdieu (1997), os habitus são diferenciados e também
diferenciadores, ou seja, seria um princípio gerador de práticas distintas e distintivas.
41 MORALES, S. P. D. Conflitos ambientais em Unidades de Conservação: uma abordagem sobre as relações de poder no Parque Nacional Serra de Itabaiana/SE, Brasil, 2011.
Bourdieu (2007a, p. 164) ainda fala sobre o produto do habitus, nomeado de estilo
de vida:
Os estilos de vida são os produtos sistemáticos dos habitus que, percebidos em suas relações mútuas seguindo esquemas do habitus, tornam-se sistemas de sinais socialmente qualificados - como "distintos", "vulgares", etc. (BOURDIEU, 2007a, p. 164).
Este, habitus, ao qual Bourdieu se refere, também seria como uma
ferramenta mediadora, uma vez que tenta o equilíbrio entre o indivíduo e a
sociedade; entre as práticas sociais e condições sociais de sua existência (SETTON,
2002).
O habitus, dentro da estrutura do campo, é adaptável aos agentes e as
dinâmicas locais. Assim, se o habitus não for combatível com as dinâmicas locais,
ou se transformará ou o campo se transformará. O que Bourdieu (2007a) coloca é
que as práticas são flexíveis. E essa dialética entre o agente e estrutura do campo é
que plastifica o habitus.
Todo campo não é estruturado de forma homogênea e é constituído por
dois habitus - dominante e dominado -. O habitus é construído pela existência de
dois grandes grupos. Todo grupo vai dar sua visão homogênea do campo, lutar para
prevalecer a sua visão de classe. E num campo de disputa de dominação pelo
poder, cada habitus vai possuir um traço distintivo que se reverte num traço de
distinção simbólica como bem Bourdieu (2007a, p. 166) explicita:
Assim, o gosto é o operador prático da transmutação das coisas em sinais distintos e distintivos, das distribuições contínuas em oposições descontínuas; ele faz com as diferenças inscritas na ordem física dos corpos tenham acesso à ordem simbólica das distinções significantes. Transforma práticas objetivas classificadoras, ou seja, em expressão simbólica da posição de classe, pelo fato de percebê-las em suas relações mútuas e em função de esquemas sociais de classificação (BOURDIEU (2007a, p. 166).
O habitus conforma e orienta a ação. São práticas estruturadas, que
independe da vontade individual, como diz Durkheim, mas também estruturantes de
acordo com Bourdieu (2007b). O agente transforma o habitus em algo
intraconsciente e não o incorpora como algo arbitrário, ao contrário internaliza como
algo natural, através de uma violência simbólica pela sociedade.
Assim, o individuo só é dominado por uma prática, por um grupo, porque
não percebe que sofre dominação. O processo é tão naturalizado, intraconsciente,
42 MORALES, S. P. D. Conflitos ambientais em Unidades de Conservação: uma abordagem sobre as relações de poder no Parque Nacional Serra de Itabaiana/SE, Brasil, 2011.
adquirido mediante a interação social com os outros, que não conseguem entender
como arbitrário. Na dinâmica dos campos, o ganho simbólico que legitima a
dominação é decidido pela apropriação material e simbólica de um bem comum
disputado (BOURDIEU, 2007b).
Enfim, o ser humano se comporta como homem, como mulher, como
membro de uma classe, membro de um partido político, a partir de práticas que
foram transmitidas.
Bourdieu (2007a) destaca que o habitus implica a existência de um
consenso, implica a existência de um limite, onde os agentes não estão livres no
espaço social, por sua vez sendo submetidos às regras dominantes do campo em
que se insere.
Para Setton (2002) a teoria do habitus de Bourdieu deve ser entendida
como um conjunto de esquemas de percepção, cujas ações são experimentadas e
postas em prática, estimuladas pelas regras de um campo.
Concebido como sistema de esquemas individuais, socialmente constituído de disposições estruturadas (no social) e estruturante (nas mentes), adquirido nas e pelas experiências práticas (em condições sociais específicas de existência), constantemente orientado para funções e ações do agir cotidiano (SETTON, 2002, p. 63).
Aplicando o conceito de habitus dentro de Unidades de Conservação deve-
se entender que o habitus que compõe este campo, o das UC's, é representado por
pontos de vista, ações, comportamentos, escolhas ou aspirações individuais.
Pierre Bourdieu (1997), em sua obra ‘Razões Práticas’, trata de duas
noções importantes: Illusio e estratégia. A illusion segundo ao autor significa “estar
preso ao jogo, preso pelo jogo, acreditar que o jogo vale a pena ou, para dizê-lo de
maneira mais simples, que vale a pena jogar”.
É, dentro do campo, que os agentes investem economicamente e
psicologicamente, através de tempo, dinheiro e trabalho, suscitados por um alvo e
interesse dentro desse campo, que os levará a adotar um habitus, ou seja, uma
prática (BOURDIEU, 2004).
43 MORALES, S. P. D. Conflitos ambientais em Unidades de Conservação: uma abordagem sobre as relações de poder no Parque Nacional Serra de Itabaiana/SE, Brasil, 2011.
Bourdieu (2004), ainda diz que as ações dos agentes são resultados do
encontro de um habitus e um campo. É nesta dinâmica que a noção de estratégias
se define, estas seriam utilizadas para controlar ou manter o equilíbrio do jogo no
campo de acordo com o interesse pessoal ou coletivo dos agentes. O autor
acrescenta que as estratégias seriam ações práticas motivadas pelos estímulos de
uma situação histórica específica.
O habitus é construído de forma contínua, se adequando às novas
experiências do sujeito, ou seja, muda conforme a realidade vivida no campo,
engendrado de relações invisíveis de interesses e disputas pelo prestígio e poder.
Para melhor entender o que seria o habitus dentro do campo, Bourdieu
(1983) diz que este seria como disposições incorporadas por experiências
acumuladas dentro do curso da trajetória individual do sujeito, em espaços sociais
distintos, como no meio da família, da escola, do trabalho, da rede de amigos,
cultura de massa, que se manifestam quando estimuladas dentro do campo.
Ao trazer este entendimento sobre o estudo do habitus e suas disposições
ligadas a uma trajetória social para a realidade de Unidades de Conservação, é
possível observar um campo complexo de forças. Essa dinâmica social entre os
agentes ou atores desse campo ultrapassa as barreiras do aqui e agora e incorpora
estímulos globais, motivadas pelo mundo contemporâneo.
As transformações sociais do mundo contemporâneo contribuem para a
produção de um habitus, construído mediante pressões das demandas modernas. E
este acaba saindo das instituições sociais tradicionais e migra para um sistema em
constante mutação. É neste tipo de entendimento que Anthony Giddens (SETTON,
2002) vai tratar de um habitus pelo conceito da reflexividade, em que se entende que
este processo de mudança, gerado pela modernidade, possui três critérios de
entendimento: novas redefinições das noções de tempo e espaço; mecanismo de
desencaixe e fenômeno da reflexividade.
Para Setton (2002) a modernização gerou um novo processo de
socialização, onde os espaços promotores da formação ética, identitária e cognitiva
do homem são livres de barreira temporais e espaciais. Em decorrência dessa
modernidade um novo processo de habitus foi construído. Os agentes englobados
nesse sistema passaram então a desenvolver uma nova postura decisória, baseada
44 MORALES, S. P. D. Conflitos ambientais em Unidades de Conservação: uma abordagem sobre as relações de poder no Parque Nacional Serra de Itabaiana/SE, Brasil, 2011.
em regras globais. Tais consequências levaram a um campo, onde os agentes,
leigos, assumem uma posição de submissão, legitimando outro sujeito.
Ao apresentar seu conceito de reflexividade, Giddens (SETTON, 2002)
mostra a importância de entender o habitus de uma sociedade não mais sob uma
ótica do aqui e agora, mas considerando que as ações, escolhas e destinos devam
ser continuamente norteadas com base em novas informações, alterando
constantemente seu caráter e sentido.
Ainda, sobre o exercício teórico de entender os conflitos ambientais em
Unidades de Conservação e os habitus dos atores sociais inseridos neste contexto,
Pierre Bourdieu (2007b) defende que a compreensão do mundo social deve seguir à
luz de três conceitos fundamentais e indissociáveis: campo, habitus e capital.
É possível através das contribuições de Pierre Bourdieu e seus conceitos de
campo, habitus e capital, analisar o funcionamento das dinâmicas do campo
ambiental de Unidades de Conservação, uma vez que o teórico francês sempre
esteve engajado no estudo dos mecanismos de reprodução social legitimadores de
diversas formas de dominação.
Para Bourdieu (2007b) o que determina a posição e o poder do agente
dentro do campo é o volume global do capital econômico e/ou cultural no espaço
social que este detiver, isto é, o acúmulo de capital. Ainda segundo o autor, se cada
campo possui regras específicas, não irá bastar o acúmulo, somente, de vários
capitais, mas se fará importante ter um capital específico para legitimar sua posição
na disputa.
Ao trazer as Unidades de Conservação para a discussão das lutas
simbólicas pela “apropriação dos bens raros e pelo poder propriamente político
sobre a distribuição ou redistribuição dos ganhos” (BOURDIEU, 2007a, p. 230),
percebe-se que os conflitos são de competência. De acordo com Bourdieu (2007a),
este espaço de lutas simbólicas dentro de contextos de Unidades de Conservação
constrói um espaço político, engendrado de diversos tipos de capitais, que define a
estrutura do campo, direcionando a estratégias com fins no reconhecimento das
posições dentro desse campo. É na estrutura das relações de poder que se darão
as lutas simbólicas entre os agentes, e isto será melhor observado a seguir.
45 MORALES, S. P. D. Conflitos ambientais em Unidades de Conservação: uma abordagem sobre as relações de poder no Parque Nacional Serra de Itabaiana/SE, Brasil, 2011.
3.2 DAS RELAÇÕES DE PODER ÀS LUTAS SIMBÓLICAS
Para Pierre Bourdieu (1991, apud LEE, 2006) a linguagem é um dos
principais instrumentos do poder simbólico, uma vez que através dela os interesses
dos grupos dominantes são transmitidos pela violência simbólica.
De acordo com Thompson (1991, apud IHLEN, 2005) as relações de poder
se dão em um campo que normalmente é entendido como um espaço estruturado
de posições que são determinadas pela distribuição de diferentes tipos de recursos
ou capital. O capital pode ser específico para um determinado campo e
relativamente inútil em outros campos. Assim, a importância dada ao sujeito só é
compreendida dentro do campo que este está inserido, quer seja um campo
religioso, político, acadêmico, econômico, social, dentre outros. E ao mesmo tempo,
como coloca Ihlen (2005), cada um desses campos pode ser parte de um ou vários
outros campos maiores, ou conter subcampos dentro de si. O campo ambiental
configura bem esta realidade, uma vez que em seu contexto pode existir subcampos
como o político, econômico, intelectual, cultural e social, e dentro destes funcionar
diversos tipos de capital.
Ainda de acordo com Ihlen (2005), o campo seria um espaço
multidimensional, onde as posições são também classificadas por um sistema
multidimensional, levando em consideração o volume global do capital que possuem
e a composição do capital, em outras palavras, o peso relativo dos diferentes tipos
de capital no conjunto total de seus ativos.
O campo aqui tratado será nomeado de campo força. Assim, há uma luta
contínua para manter ou alterar a distribuição, ou converter o tipo de capital no
campo de forças. E essa concorrência de interesses dará origem aos conflitos, e
toda a lógica do campo. As relações de poder neste sistema serão expressas pela
distribuição do capital. (BOURDIEU, 1998 apud IHLEN, 2005).Quanto aos tipos de
capital, Bourdieu (1997) dará relevância ao capital intitulado de simbólico, que é,
senão, qualquer tipo de capital “com base cognitiva, apoiado sobre o conhecimento e
reconhecimento".
Sobre as estruturas simbólicas, Bourdieu (2007b, p. 7), coloca que o poder
simbólico se dá pela cumplicidade e pelo estado de desconhecimento do sujeito:
46 MORALES, S. P. D. Conflitos ambientais em Unidades de Conservação: uma abordagem sobre as relações de poder no Parque Nacional Serra de Itabaiana/SE, Brasil, 2011.
[...] é necessário saber descobri-lo, onde ele se deixa ver menos, onde ele é mais completamente ignorado, portanto, reconhecido: o poder simbólico é, com efeito, esse poder invisível o qual só pode ser exercido com cumplicidade daqueles que não querem saber que lhe estão sujeitos ou mesmo que o exercem (BOURDIEU (2007b, p. 7).
É possível, ainda, aplicar os conceitos das relações de poder e das lutas
simbólicas ao estudo do conflito ambiental em Unidades de Conservação, já que a
participação política e social estão presentes neste campo. Dessa forma, as ações e
atitudes dos agentes no campo irão, obrigatoriamente, desenvolver e exercer o
poder dentro de um grupo, político ou social, através da influência (BOURDIEU,
2007b).
Os conflitos ambientais em Unidades de Conservação se inserem no que
Bourdieu (2007b), retrata de campo de força, ou campo político ou campo de lutas.
Lugar que gera na concorrência produtos políticos, problemas, programas, análise,
comentários, conceitos, acontecimentos, onde os cidadãos comuns devem fazer
suas escolhas.
Pierre Bourdieu (2007b) faz referência às produções simbólicas como
instrumentos de dominação, tomando conceitos da tradição marxista quanto aos
sistemas simbólicos e suas produções estarem relacionados aos interesses das
classes dominantes. As ideologias, neste sentido, servirão a interesses particulares,
mas sendo apresentados como universais. Por isso, que Bourdieu (2007b) irá
afirmar que o poder simbólico se faz na presença no desconhecimento e
cumplicidade do agente que o sofre, pela violência simbólica. Este efeito ideológico
existe em diversas culturas. Nas Unidades de Conservação este efeito é sentido pela
adoção e aplicação das noções ambientalistas e desenvolvimentistas no campo
pelos agentes.
As diferentes classes e fracções de classes estão envolvidas numa luta propriamente simbólica para impôr a definição do mundo social mais conforme aos seus interesses, e impôr o campo das tomadas de posições ideológicas reproduzindo em forma transfigurada o campo das posições sociais. Elas podem conduzir esta luta, quer diretamente, nos conflitos simbólicos da vida quotidiana, quer por procuração, por meio da luta travada pelos especialistas da produção simbólica [...] e na qual está em jogo o monopólio da violência simbólica legítima [...], quer dizer, do poder de impor [...] (BOURDIEU, 2007b, p. 11).
Neste exercício teórico sobre as relações de poder e as lutas simbólicas,
Bourdieu (2007b) dirá que o poder simbólico é quase como mágico, pois consegue
47 MORALES, S. P. D. Conflitos ambientais em Unidades de Conservação: uma abordagem sobre as relações de poder no Parque Nacional Serra de Itabaiana/SE, Brasil, 2011.
“obter o equivalente daquilo que é obtido pela força (física ou econômica), graças ao
efeito específico de mobilização”. Esta mobilização só é exercida quando se é
reconhecido. Ainda, nesta esfera da dominação pelo poder simbólico sobre
determinado grupo ou agente, Bourdieu (1983), emprega o termo allodoxia para
designar o fato de tomar uma opinião por outra, com fins a construir uma própria
opinião, contudo, sem consciência de classe, sujeitos assim, à manipulação de
discursos. Por isso, como citado acima, a linguagem é um dos principais
instrumentos do poder simbólico.
O efeito allodoxia se deve por um lado ao fato de que os produtores de opinião manipulam inconscientemente os habitus de classe, por comunicações que se instauram entre corpos de classe sem passar pela consciência, quer do emissor ou receptor (BOURDIEU, 1983, p. 193).
Enfim, é no âmbito das lutas simbólicas que os indivíduos serão movidos no
campo pelo interesse. Mas, de alguma forma é possível haver um ato
desinteressado neste campo de forças?
3.3 É POSSÍVEL UM ATO DESINTERESSADO?
Este questionamento foi levantado por Bourdieu (1997) e causou espanto
em muitos. Tal questionamento desmistificou uma visão encantada das condutas
humanas. Um dos grupos no qual Bourdieu mostrou como espaço de interesse foi o
universo intelectual, que por excelência seria o lugar de desinteresse.
Para postular as condutas humanas como atos interessados, Bourdieu
(1997) soma ao seu intento sociológico a filosofia clássica ao aceitar o “princípio da
razão suficiente”. Neste princípio, os agentes não agem de forma “disparatada”, sem
sentido, mas nem tampouco são orientados pela razão.
Eles podem ter condutas razoáveis sem serem racionais; podem ter condutas às quais podemos dar razão, como dizem os clássicos, a partir da hipótese de racionalidade, sem que essas condutas tenham tido a razão como princípio (BOURDIEU, 1997, p. 138).
Pode-se, sociologicamente, descobrir a razão “para transformar uma série
de condutas aparentemente incoerentes, arbitrárias, em uma série coerente, em
algo que possa compreender a partir de um princípio único” (BOURDIEU, 1997, p.
138). Assim, nenhum agente social realiza atos gratuitos, sem serem motivados.
48 MORALES, S. P. D. Conflitos ambientais em Unidades de Conservação: uma abordagem sobre as relações de poder no Parque Nacional Serra de Itabaiana/SE, Brasil, 2011.
Apesar da noção de interesse ter sido repudiada por alguns, nada possui de
tão grave, uma vez que representa, somente, que o jogo merece ser jogado, ou
seja, que seu investimento no jogo possui sentido. Nos diversos campos, seja ele
político, burocrático, científico ou artístico, tende a manter em suas relações a
illusion (BOURDIEU, 1997).
Dessa forma, as condutas humanas ocorrem em espaços de jogo e seus
agentes o compreende. Neste, espaço de jogo, não basta somente entendê-lo, mas
também prevê-lo.
CAPÍTULO 4:
MATERIAIS E MÉTODOS
50 MORALES, S. P. D. Conflitos ambientais em Unidades de Conservação: uma abordagem sobre as relações de poder no Parque Nacional Serra de Itabaiana/SE, Brasil, 2011.
4 MATERIAIS E MÉTODOS
4.1 ÁREA DE ESTUDO
O Parque Nacional da Serra de Itabaiana foi institucionalizado por meio do
decreto Presidencial em 15 de junho de 2005, quando este sucedeu a então Estação
Ecológica, implantada em 1979 (MENEZES, 2004).
Possui uma área de 7.966ha que abrange as Serras de Itabaiana, Comprida
e do Cajueiro.
Está distribuído pelos municípios de Areia Branca, Itabaiana, Laranjeiras,
Itaporanga D´Ajuda e Campo do Brito, e está localizado a 46 km de Aracaju, capital
sergipana.
Estão presentes diversos ecossistemas que vão desde áreas de Mata
Atlântica a Caatinga e estes apresentam uma grande diversidade biótica, em que
estão inclusas inúmeras espécies de serpentes, aves e répteis (Figura 1).
O Parque possui a função de preservar ecossistemas naturais, possibilitando
pesquisas científicas e de educação, além de permitir a recreação e o turismo
ecológico.
Figura 1 - Parque Nacional Serra de Itabaiana Fonte: GEPPIP, 2009.
51 MORALES, S. P. D. Conflitos ambientais em Unidades de Conservação: uma abordagem sobre as relações de poder no Parque Nacional Serra de Itabaiana/SE, Brasil, 2011.
O PARNASI possui uma história marcada por conflitos socioambientais que
antecedem o período de sua criação, quando ainda se pensava na Estação
Ecológica como alternativa para os problemas ambientais na região.
Menezes (2004) reporta que, a Serra de Itabaiana ao ser escolhida pela
Secretaria Especial do Meio Ambiente do Governo Federal (SEMA) em 1973, como
Estação Ecológica, não contou com a participação popular. Mesmo assim, os órgãos
oficiais do Estado de Sergipe elaboraram um Projeto Básico para a implantação da
Estação Ecológica Serra de Itabaiana, em julho de 1978, mas que nunca foi
decretado, uma vez que antes do SNUC, as Estações só poderiam existir mediante
toda a regularização fundiária.
Assim, com a aprovação da proposta de Estação pela SEMA e a tentativa de
implementação, os conflitos socioambientais começaram a surgir, uma vez que as
políticas públicas da ditadura militar brasileira não consideraram as comunidades
tradicionais que ali habitavam.
Já na década de 90, após assumir a gerência da estação, o IBAMA tentou
consolidar o decreto proibindo as visitações ao espaço, bem como manifestações
religiosas e culturais.
Em 2000, o Governo Federal através do SNUC, continuou com a Lei 9.985,
que excluía as populações locais de participarem dos processos culturais,
econômicos e ambientais de Unidades de Conservação, uma vez que não obrigava
a realização de consulta pública.
Dentre as ações por parte dos órgãos ambientais fiscalizadores de Sergipe
destacam-se a proibição à visitação à área desapropriada e ao seu entorno, mas
estas tiveram pouca efetividade por parte do Estado (MENEZES, 2004).
Hoje, o Parque Nacional Serra de Itabaiana/SE retrata bem a realidade
existente em áreas de proteção, onde existe pouco investimento na integração entre
comunidades locais e conservação de ecossistemas.
Quanto aos conflitos socioambientais que marcam o Parque Nacional Serra
de Itabaiana/SE, este pode ser entendido como um espaço, onde ocorrem disputas
entre diversos atores sociais - neste caso específico, moradores; donos de olarias e
52 MORALES, S. P. D. Conflitos ambientais em Unidades de Conservação: uma abordagem sobre as relações de poder no Parque Nacional Serra de Itabaiana/SE, Brasil, 2011.
cerâmicas; Ong's; universidades; órgãos públicos e poder local - por recursos
simbólicos e materiais históricos.
Os conflitos socioambientais localizados na Serra, estes envolvem dois
povoados de seu entorno, Bom Jardim (Figura 2), e Mundês (Rio das Pedras)(Figura
3). No povoado Bom Jardim há atividades agrícolas e é dependente da Serra: água,
lenha, caça, áreas de extração de areia e roça. Já no povoado Mundês, verifica-se a
presença de olarias e cerâmicas, e apesar de existir uma menor dependência da
Serra, a extração de argila e atividades agrícolas estão presentes.
A relação entre as comunidades locais e o Parque Nacional Serra de
Itabaiana é o resultado do processo de exclusão social, que leva a população pobre
a buscar abrigo e sustento em áreas ambientalmente fragilizadas. Este tipo de
relação acaba implicando em um elevado crescimento demográfico e degradação
ambiental. Deste modo, tornam-se inevitáveis os conflitos socioambientais e
consequentemente, a luta pelo espaço ocupado.
Figura 3 – Povoado Mundês Fonte: GEPPIP, 2009.
Figura 2 - Povoado de Bom Jardim Fonte: GEPPIP, 2009.
53 MORALES, S. P. D. Conflitos ambientais em Unidades de Conservação: uma abordagem sobre as relações de poder no Parque Nacional Serra de Itabaiana/SE, Brasil, 2011.
4.2 MÉTODO, TÉCNICA E INSTRUMENTO DE COLETA DE DADOS
O método científico é o conjunto de processos ou operações mentais que se
deve empregar na investigação. É a linha de raciocínio adotada no processo de
pesquisa.
Para Mattar (1997), ao realizar qualquer pesquisa, o pesquisador deve
conhecer os vários métodos disponíveis, os diferentes tipos de dados que podem ser
coletados, as fontes de dados e as formas de coletá-los. Assim, diante da
necessidade de melhor adequar o método de coleta de dados a presente pesquisa,
optou por trabalhar o método do estudo de caso.
A escolha pelo estudo de caso se baseou no interior de sua interpretação,
tendo em vista que “é uma inquisição empírica que investiga um fenômeno
contemporâneo dentro de um contexto da vida real, quando a fronteira entre o
fenômeno e o contexto não é claramente evidente e onde múltiplas fontes de
evidência são utilizadas” (GODOY, 1995).
A importância do estudo de caso para esta pesquisa se fundamentou dentre
outras coisas na possibilidade de novas descobertas, uma vez que sua flexibilidade
permite ao pesquisador observar outros aspectos não observados anteriormente
(GIL, 1996; DENCKER, 2001).
Além de ser um estudo de caso, o desenvolvimento do estudo teve também
caráter exploratório e descritivo por apresentar em sua proposta maior familiaridade
com o problema com vistas a torná-lo explícito ou a construir hipóteses, envolvendo
procedimento de pesquisa como levantamento bibliográfico; entrevistas com
pessoas que tiveram experiências práticas com o problema pesquisado; análise de
exemplos que estimulem a compreensão (GIL, 1999).
Ainda para desenvolvimento do estudo foi adotado um enfoque qualitativo
em suas abordagens junto aos atores sociais analisados, tendo em vista que a
pesquisa qualitativa ocupa hoje um “lugar reconhecido entre as várias possibilidades
de se estudar os fenômenos que envolvem os seres humanos e suas intrínsecas
relações sociais, estabelecidas em diversos ambientes” (GODOY, 1995, p. 21).
54 MORALES, S. P. D. Conflitos ambientais em Unidades de Conservação: uma abordagem sobre as relações de poder no Parque Nacional Serra de Itabaiana/SE, Brasil, 2011.
Para a reconstrução do momento da criação do Parque Nacional Serra de
Itabaiana a pesquisa recorreu às consultas em arquivos jornalísticos na Biblioteca
Pública Ephifânio Dórea, Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe (IHGS) e Jornal
Correio de Sergipe.
Assim, o estudo tomou como fonte impressa, jornais que fossem diários, e
dentre esses foram escolhidos o Jornal da Cidade (JC) e Correio de Sergipe (CS).
A pesquisa no acervo jornalístico compreendeu os anos de 2003 a 2007,
tendo como critério verificar as discussões dois anos antes e dois anos após a data
de implantação do parque, fazendo registros fotográficos das notícias que focavam a
temática em questão.
Em relação ao tipo de entrevista aplicada aos atores sociais, utilizou-se o
relato de experiência, pois permitia o aprofundamento do entendimento da
participação desses atores no processo de institucionalização do Parque Nacional
Serra de Itabaiana/SE. Assim, o relato de experiência serviu de suporte
metodológico para a pesquisa auxiliando no conhecimento sobre a realidade do
PARNASI (HANDEM et al.,2008).
Quanto à técnica de coleta de dados, esta se tratou de um documento em
que foram dirigidas perguntas e questões aos entrevistados, sendo também
registradas as respostas e dados obtidos. O estudo adotou a entrevista do tipo
pessoal, em que o investigador se apresenta frente ao investigado através de
formulações de perguntas, com o objetivo de obtenção de dados que interessam à
investigação, e semiestruturada, uma vez que foi elaborado um roteiro preliminar de
perguntas e à medida que as informações eram obtidas novas perguntas eram
introduzidas ao roteiro. Para construção de um instrumento de coleta de informações
intercalou-se o tipo de entrevista aberta e fechada.
Para o intento, foi produzido um questionário constituído por sete etapas: I -
Características, Relacionamentos e Itinerários na Esfera Familiar; II - Características,
Relacionamentos e Itinerários na Esfera Afetiva; III - Características,
Relacionamentos e Itinerários na Esfera Escolar; IV - Características,
Relacionamentos e Itinerários na Esfera Profissional; V - Características,
Relacionamentos e Itinerários na Esfera Associativa e Política; VI - Características,
Relacionamentos e Itinerários na Esfera Cultural; VII - Posição Pessoal sobre as
55 MORALES, S. P. D. Conflitos ambientais em Unidades de Conservação: uma abordagem sobre as relações de poder no Parque Nacional Serra de Itabaiana/SE, Brasil, 2011.
Questões Ambientais e Parque Nacional Serra De Itabaiana/SE. A sétima etapa foi
formulada de acordo com a representação de cada entrevistado dentro do campo
socioambiental da Serra de Itabaiana.
A aplicação dos questionários tornou possível o conhecimento do perfil dos
entrevistados inseridos na institucionalização do parque, além de compreender seus
discursos e interesses neste processo.
No que se refere ao estudo das relações de poder no processo de
institucionalização do Parque Nacional Serra de Itabaiana/SE foram efetuadas, em
um primeiro momento, pesquisas bibliográficas, fundamentadas nos conceitos de
campo, habitus, capital e poder simbólico de Pierre Bourdieu. Através da associação
de tais conceitos à realidade do campo socioambiental da Serra de Itabaiana foi
possível entender o envolvimento dos atores sociais no processo de
institucionalização do Parque Nacional.
A presente pesquisa foi orientada baseada no raciocínio analógico, pela
intuição racional e pelas homologias, que permite fazer a crítica à sociologia
empiricista e não tomar o “dado” como a realidade objetiva. Nesse sentido, os dados
foram tomados como “pistas” para se pensar a realidade da localidade em estudo.
Assim, a Serra de Itabaiana e os povoados do seu entorno foram construídos como
“objeto de pesquisa” como parte do campo socioambiental, entendido aqui como
“campo de forças” na definição de Pierre Bourdieu.
4.3 POPULAÇÃO, AMOSTRAGEM E AMOSTRA
Gil (1999) define o universo ou população, como um conjunto constituído por
elementos que possuem determinadas características, e a amostra, seria uma parte
ou subconjunto dessa população.
Já a amostragem seria o processo de obtenção de amostras de uma
população podendo proporcionar relevantes informações sobre ela (MATTAR, 1997).
Ainda conforme Mattar (1997) há grande variedade de tipos de amostras e
de plano de amostragem. Como por exemplo, a probabilística e a amostragem não
probabilística.
56 MORALES, S. P. D. Conflitos ambientais em Unidades de Conservação: uma abordagem sobre as relações de poder no Parque Nacional Serra de Itabaiana/SE, Brasil, 2011.
Em relação aos tipos de amostragem, estes, estão distribuídos da seguinte
forma: tipo probabilística- aleatória simples; aleatória estratificada e conglomerado
(sistemática e área) / tipo não probabilística - conveniência (acidental); intencional
(julgamento); quotas (proporcional), em que há variações de tráfego; autogerada; e
desproporcional.
Na presente pesquisa o tamanho da amostra não foi determinado, uma vez
que a sua mensuração se aplicaria a pesquisa de caráter quantitativo. Os sujeitos
sociais pesquisados pela definição da amostragem foram compostos por moradores,
representado por líder comunitário; funcionários do IBAMA; representantes políticos;
pesquisadores e donos de cerâmicas e olarias.
O universo da pesquisa compreendeu ao Parque Nacional Serra de
Itabaiana/SE.
4.4 QUESTÕES DE PESQUISA
Para Triviños (2008), a questão de pesquisa indica o que o investigador
deseja descobrir. Neste sentido, a questão de pesquisa é profundamente orientadora
do trabalho do investigador, ou seja, ela parte das ideias colocadas na formulação do
problema e dos objetivos da investigação.
Assim sendo, a pesquisa respondeu aos seguintes questionamentos:
1. Quais representações e discursos que prevaleceram na criação do
PARNASI?
2. Quais os padrões de relação de poder que fundamentam esse sistema de
ação?
3. Quem detém o poder na definição e gestão das políticas ambientais?
4. Quais recursos fundamentam suas ações?
4.5 ANÁLISE DOS DADOS
A análise dos resultados é o passo seguinte após a coleta e tabulação dos
dados. Essa parte é considerada por Gil (1999), como uma das mais importantes do
57 MORALES, S. P. D. Conflitos ambientais em Unidades de Conservação: uma abordagem sobre as relações de poder no Parque Nacional Serra de Itabaiana/SE, Brasil, 2011.
estudo, pois aqui se estabelecem as discussões a partir dos dados coletados, assim
como as respostas ao problema proposto e as questões de pesquisa.
A presente pesquisa nesta etapa seguiu uma abordagem subjetiva
respaldada nas ciências sociais, uma vez que depois da tabulação, os dados foram
analisados de acordo com a concepção de Bourdieu, ou seja, como instrumento de
observação, além de pensar cada caso de maneira relacional (BOURDIEU, 2007a ;
b).
CAPÍTULO 5:
PARQUE NACIONAL SERRA DE ITABAIANA: UM RESGATE HISTÓRICO DA
INSTITUCIONALIZAÇÃO NOS CONTEXTOS DE 2003-2007 EM ACERVOS
JORNALÍSTICOS
59 MORALES, S. P. D. Conflitos ambientais em Unidades de Conservação: uma abordagem sobre as relações de poder no Parque Nacional Serra de Itabaiana/SE, Brasil, 2011.
5 PARQUE NACIONAL SERRA DE ITABAIANA: UM RESGATE HI STÓRICO DA
INSTITUCIONALIZAÇÃO NOS CONTEXTOS DE 2003 - 2007 EM ACERVOS
JORNALÍSTICOS
Para entender como a política de criação de unidades de conservação foi
construída em Sergipe e como foi desencadeado o processo de institucionalização
do Parque Nacional Serra de Itabaiana, a pesquisa tomou como estudo os acervos
jornalísticos dos anos de 2003 a 2007 em dois jornais diários de âmbito local, o
Jornal da Cidade e Correio de Sergipe.
Dessa forma iniciou-se uma profunda análise do conteúdo jornalístico, na
qual observou que a política ambiental em Sergipe foi marcada por sucessivos
erros. A pesquisa ainda conseguiu identificar os atores sociais envolvidos na criação
do Parque Nacional Serra de Itabaiana/SE; os diferentes interesses sobre a região;
os conflitos socioambientais locais; e as fragilidades gerenciais.
5.1 O PARNASI E SEU ENFOQUE JORNALÍSTICO: AS LUTAS SIMBÓLICAS
Através da pesquisa em acervos jornalísticos foi possível observar que as
discussões sobre a implantação de um Parque Nacional no município de Itabaiana
somente ganhou notoriedade dos dois jornais locais de Aracaju, Correio de Sergipe
e Jornal da Cidade, no ano de 2004, não tendo nenhum registro de matérias
jornalísticas em 2003. Assim, o ano de 2004 foi marcado por discussões sobre o
interesse em implantar novas Unidades de Conservação em Sergipe, focando a
mudança de categoria de Estação Ecológica Serra de Itabaiana para outra que
promovesse o aproveitamento turístico na região.
O interesse pelo investimento no turismo local de Itabaiana foi manifestado
pela prefeita eleita da época, Maria Mendonça (PSDB). Em suas colocações a
prefeita afirmava que sua administração priorizaria políticas sociais e de turismo,
com fins de promover o município como um paraíso ecológico e atrair pessoas de
todo o país para conhecer as potencialidades da região.
Na época, a Estação Ecológica da Serra de Itabaiana passava por grandes
problemas gerenciais, principalmente, em sua capacidade de resolver os problemas
fundiários, bem como promover ações de conservação da biodiversidade local.
60 MORALES, S. P. D. Conflitos ambientais em Unidades de Conservação: uma abordagem sobre as relações de poder no Parque Nacional Serra de Itabaiana/SE, Brasil, 2011.
A mídia local noticiava a implantação de uma Unidade de Conservação na
Serra de Itabaiana sobre duas óticas: avanço nas políticas ambientais,
principalmente, para a Serra de Itabaiana; e processo que se arrastava há 26 anos
sem considerável avanço, já que a Estação Ecológica não havia sido consolidada,
ficando somente em fase de implantação.
Segundo os jornais, o projeto, encabeçado pelo IBAMA, tinha parceria com o
Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária - INCRA e o Departamento de
Biologia da Universidade Federal de Sergipe e com a Universidade Tiradentes.
Reuniões para tratar da proposta de criação do Parque Nacional Serra de Itabaiana
eram realizadas junto aos representantes da Diretoria de Áreas Protegidas e do
Programa de Revitalização do IBAMA, do Comitê de Bacia, da Companhia
Hidrelétrica do São Francisco (CHESF) e da Companhia de Desenvolvimento dos
Vales do São Francisco e do Parnaíba (CODEVASF).
De acordo com as reportagens daquele ano, os estudos preliminares para a
construção da Unidade de Conservação já estavam concluídos e até o final de
novembro de 2004 aconteceria uma audiência pública para ouvir a comunidade
local, ambientalistas e técnicos sobre o assunto. Neste período ainda não havia sido
decidida qual categoria seria implantada na Serra de Itabaiana. Apesar da dúvida
quanto à nova categoria, a preferência era de um Parque Nacional para a exploração
do turismo (NOVAS ÁREAS DE CONSERVAÇÃO, 2004a).
É relevante mencionar que o projeto de criação do Parque Nacional Serra de
Itabaiana foi apresentado pelo IBAMA e elaborado por pesquisadores de diferentes
departamentos da Universidade Federal de Sergipe e da Universidade Tiradentes.
Estes agentes tiveram forte representação na definição da categoria, respaldados
em seus pareceres técnicos. Assim a população pôde participar de audiência pública
e opinar, mas não teve relevante representação para a escolha da categoria
(SERRA VAI VIRAR PARQUE ECOLÓGICO, 2004).
Segundo registros jornalísticos, duas consultas públicas teriam ocorrido, uma
na cidade de Areia Branca e outra em Itabaiana. Em ambas as consultas,
representantes da sociedade civil e de classe política, a exemplo da prefeita eleita de
Itabaiana, Maria Mendonça, estiveram presentes. Em Areia Branca, vereadores
suspenderam a sessão para acompanhar o evento.
61 MORALES, S. P. D. Conflitos ambientais em Unidades de Conservação: uma abordagem sobre as relações de poder no Parque Nacional Serra de Itabaiana/SE, Brasil, 2011.
Nota-se durante a análise dos jornais pesquisados que a comunidade não
teve nenhuma força no processo decisório da escolha da categoria para Parque
Nacional. Registra-se que quando ocorreram as duas consultas públicas nas
cidades de Areia Branca e Itabaiana, o objetivo relatado pelo Superintendente do
IBAMA, Márcio Macedo, era discutir com a sociedade a transformação da Serra de
Itabaiana em um Parque Nacional, ou seja, a escolha da categoria já havia sido feita:
O gerente executivo do IBAMA em Sergipe, Márcio Macedo, explicou que a categoria Estação Ecológica não seria ideal para a Serra, porque as chamadas ESEC são unidades de conservação fechadas à visitação pública, voltadas exclusivamente à pesquisa científica. Já o Parque Nacional prevê a concretização do ecoturismo, desde que respeitadas as exigências em prol da preservação dos recursos naturais. Diante desse argumento, é lógico que a proposta foi aceita (PARQUE NACIONAL I; PARQUE NACIONAL II; PARQUE NACIONAL III, 2004, p. C-4).
Na época, a escolha dos técnicos pela categoria de parque era respaldada
no discurso de “preservação do valioso patrimônio natural de Sergipe”. Assim,
mostrou-se para a comunidade local que a categoria de parque beneficiaria não
somente a natureza, mas a economia local, já que o superintendente do IBAMA,
afirmava em jornais que a região receberia investimentos e que no entorno da Serra
a comunidade seria beneficiada.
Neste projeto, constavam os depoimentos da comunidade local declarando
apoio à criação do Parque. A consulta pública como citada nos jornais mostrava-se
tendenciosa, mesmo divulgando que o objetivo era discutir a categoria de Unidade
de Conservação que melhor se adequava a Serra de Itabaiana:
[...] até o final deste mês acontece a audiência pública para ouvir a comunidade local, ambientalistas e técnicos sobre o assunto. Ainda, não se sabe que categoria o local passará a ser. Estão sendo avaliadas a criação de um Parque Nacional ou de uma unidade de preservação permanente. A tendência é criar o parque que permitirá, entre outras coisas, o incremento do turismo ecológico acompanhado na região. [...] A categoria só será definida depois de receber os pareceres técnicos do Ministério do Meio Ambiente, IBAMA e pesquisadores da área (NOVAS ÁREAS DE CONSERVAÇÃO, 2004b, p. B-4).
De acordo com o Jornal da Cidade, de 30 de novembro de 2004, a consulta
pública realizada, no dia 18 de novembro do mesmo ano, para tratar sobre a criação
de uma Unidade de Conservação na Serra de Itabaiana não permitiu uma maior
abertura para debates, já que o IBAMA havia sugerido a categoria de Parque
Nacional.
62 MORALES, S. P. D. Conflitos ambientais em Unidades de Conservação: uma abordagem sobre as relações de poder no Parque Nacional Serra de Itabaiana/SE, Brasil, 2011.
Na próxima quinta-feira, o IBAMA em Sergipe estará realizando mais uma consulta pública, desta vez para criação de uma Unidade de Conservação Federal abrangendo áreas dos municípios de Pirambu, Pacatuba, Brejo Grande e Ilha das Flores, ou seja, no complexo da Foz do São Francisco. A consulta será das 9h às 12h, em Pacatuba (Associação Comunitária de Pacatuba), e das 15h às 18h, no povoado Brejão, município de Brejo Grande (Centro Comunitário dos Idosos), favorecendo assim a participação de toda a coletividade rural e urbana. Diferentemente das consultas no dia 18 passado, quando o IBAMA em Sergipe sugeriu que a Unidade de Conservação da Serra de Itabaiana tivesse a categoria de Parque Nacional (CONSULTA..., 2004, p. C-4).
Basicamente, o ano de 2004 representou um período onde discursos eram
formulados e legitimados, e negociações e acordos eram mantidos entre os agentes
envolvidos na institucionalização do Parque Nacional Serra de Itabaiana.
5.2 DESFECHO DAS LUTAS: É CRIADO O PARQUE NACIONAL SERRA DE
ITABAIANA
O ano de 2005 é considerado como resultado das lutas simbólicas travadas
pela legitimação dos discursos que em seu bojo possuíam o interesse em ditar o
futuro da utilização da Serra de Itabaiana, a respeito de sua categoria, que ocorreu
no ano de 2004. "O projeto original era para a criação da estação ecológica, mas o
parque é melhor adequado à nossa realidade” (Márcio Macedo, SERRA DE
ITABAIANA AGORA É PARQUE NACIONAL, 2005, p. A-9).
Alguns fatos também contribuíram para legitimar a importância da criação do
Parque Nacional, como o incêndio que destruiu 10% da reserva da Serra de
Itabaiana. De acordo com os jornais da época o incêndio teria começado em 3 áreas
simultâneas. Neste incêndio morreram vários animais e cerca de 100 dos 1.300
hectares que fazem parte da Estação Ecológica Serra de Itabaiana teriam sido
destruídos. O IBAMA na época suspeitava de ação criminosa. Foi um dos maiores
incêndios, na floresta, já registrado no Estado. Na Serra do Comprido 70% da área
foi atingida. No Parque dos Falcões animais, como aves de rapina, filhotes de cotias,
gambás e lagartos morreram. Neste acontecimento, a comunidade pôde ser inserida,
servindo como somadores às operações de salvamento da biodiversidade na região.
Além dos bombeiros e da brigada de incêndio do IBAMA, foi fundamental o auxílio de moradores da região que conhecem a geografia do local. [...] A região atingida pelo incêndio fez parte da área de criação do primeiro parque de preservação nacional de Sergipe. O IBAMA pleiteia junto ao governo federal a criação do parque, que se for aprovado vai contar com
63 MORALES, S. P. D. Conflitos ambientais em Unidades de Conservação: uma abordagem sobre as relações de poder no Parque Nacional Serra de Itabaiana/SE, Brasil, 2011.
uma área de sete mil hectares. As três serras, Caju, Comprido e Itabaiana, formarão uma das maiores áreas de preservação do país. Atualmente, o projeto só depende de um decreto do presidente da república (INCÊNDIO..., 2005, p. B-7).
Na época, chegou a se especular que o incêndio poderia prejudicar a criação
do Parque Nacional:
Gerente executivo do IBAMA, Márcio Macedo, assegura que o sinistro não vai prejudicar o projeto para transformação da área em um Parque Nacional, que já está tramitando em Brasília. [...] Será o primeiro Parque Nacional de Sergipe, assegurou (LAUDO..., 2005, p. B).
Em abril de 2005 é publicado no Jornal da Cidade que o IBAMA não possuía
área para a implantação do Parque Nacional. De acordo com a matéria, particulares
dispunham de grande parte da Serra. A Serra de Itabaiana possuía um total de 1.300
hectares, e desse número o IBAMA só teria 288,53 (IBAMA NÃO TEM ÁREA PARA
FAZER RESERVA, 2005).
Nesta mesma notícia, a analista ambiental do referido órgão, Valdineide
Barbosa de Santana, haveria dito que o IBAMA não controlava a área de forma
satisfatória porque não teria a posse das terras. Mas, que mesmo nesta situação, o
órgão controlava o desmatamento, as queimadas, a caça, não permitia
acampamentos e coordenava visitas educativas, só não acompanhava às visitações,
devido à falta de estrutura do órgão ambiental.
Esta mesma publicação foi de grande importância uma vez que reconstruiu
toda a problemática desde a Estação Ecológica Serra de Itabaiana até o projeto de
criação do Parque Nacional Serra de Itabaiana.
Conforme o jornal, o projeto para a conservação da Serra já durava 26 anos,
mas que pouco havia avançado. Teria começado em 1979, através do Governo do
Estado, e sob os cuidados da Secretaria Especial do Meio Ambiente de então. Em
1983, o Governo Federal adquiriu dois terrenos na área, que estariam lá até hoje. De
1983 até 1990 a área foi gerenciada pela Administração Estadual do Meio Ambiente
(ADEMA). Em 1990, com a criação do IBAMA, a área passou para a administração
federal (IBAMA NÃO TEM ÁREA PARA FAZER RESERVA, 2005).
Quanto à questão da Serra de Itabaiana, na época, virar uma área de
reserva florestal só era possível mediante as terras passarem a ser de domínio
64 MORALES, S. P. D. Conflitos ambientais em Unidades de Conservação: uma abordagem sobre as relações de poder no Parque Nacional Serra de Itabaiana/SE, Brasil, 2011.
público, ou seja, da união. O IBAMA teria apenas 288,53 hectares dos mais de 1.300
ha da Serra de Itabaiana.
Conforme expressa o jornal, a situação encontrada em 1990 era a mesma
de 2005, quanto às questões fundiárias, contudo, não mais existia o desejo em
transformar aquele espaço em reserva florestal, mas sim em um Parque Nacional.
No ano passado, o Instituto começou a trabalhar com a idéia de transformar a área num Parque Nacional e não só em reserva florestal. Isto porque como a área é de visitação e vendida como rota turística de Sergipe seria difícil fechar e impedir a entrada. Porém, a mudança vai resultar numa área maior a ser preservada (IBAMA NÃO TEM ÁREA PARA FAZER RESERVA, 2005, p. B).
Como a categoria defendida pelo órgão ambiental era de um Parque
Nacional, a extensão precisou ser adequada, incorporando, ao projeto, a Serra
Comprida e a Serra do Cajueiro. Desta forma, a área a ser preservada aumentaria
vertiginosamente de 1.300 ha para 7.999 ha. O IBAMA teria de desapropriar as
terras da região para dar prosseguimento ao projeto de implantação do Parque
Nacional Serra de Itabaiana.
Como dito, inicialmente, sobre a força decisória da escolha da categoria se
restringir aos gestores ambientais, universidade e poder local, o Jornal da Cidade
respalda tal afirmação ao escrever que:
O órgão já fez estudos e consultas públicas nos dois municípios que abrigarão o futuro Parque. Foi na segunda consulta em Areia Branca, inclusive, que surgiu a idéia de incluir a Serra dos Cajueiros na área a ser preservada (IBAMA NÃO TEM ÁREA PARA FAZER RESERVA, 2005, p. B).
Na citação a conotação “abrigarão o futuro Parque”, leva a entender que
ocorreria uma consulta pública somente para seguir os regimentos do SNUC, mas
não que realmente estivesse em fase de discussão. Dessa forma, se havia algum
intento de discussão este era para tratar da extensão do futuro parque e não da
categoria mais adequada à realidade da região.
Apesar da notícia publicada no Jornal da Cidade do dia 10 e 11 de abril de
2005 levantar as problemáticas históricas sobre a região da Serra de Itabaiana e a
criação do parque, não cabia mais nenhuma reunião para chamar a comunidade,
uma vez que o decreto da criação do Parque Nacional de Serra de Itabaiana já teria
sido enviado à Brasília e estava em andamento no ministério do Meio Ambiente,
65 MORALES, S. P. D. Conflitos ambientais em Unidades de Conservação: uma abordagem sobre as relações de poder no Parque Nacional Serra de Itabaiana/SE, Brasil, 2011.
sendo posteriormente encaminhado à casa civil e depois ao presidente da época,
Luiz Inácio Lula da Silva.
A analista ambiental do IBAMA na ocasião, Valdineide Barbosa de Santana,
afirmava em jornais sergipanos que seria realizado o plano de manejo logo que o
decreto fosse sancionado pelo presidente da república:
Não depende só da gente. Quando sair o decreto, faremos de imediato o plano de manejo, para definir a infra-estrutura e o projeto para a área. Com o parque, a Serra de Itabaiana será fiscalizada (Valdineide Barbosa de Santana, IBAMA NÃO TEM ÁREA PARA FAZER RESERVA, 2005, p. B).
Foi relatado também um quadro estrutural do IBAMA, mostrando uma equipe
com apenas quatro funcionários, distribuídos entre os diversos serviços. O número
insatisfatório de fiscais para monitorar a área foi reclamação por parte dos
moradores da região, suscitando questionamentos quanto à fiscalização de uma
área de abrangência superior a Estação Ecológica como a de um Parque Nacional.
Quando o decreto de criação do Parque Nacional Serra de Itabaiana foi
assinado pelo então presidente Luiz Inácio Lula da Silva e a ministra do Meio
Ambiente, Marina Silva, após autorização concedida no dia 07 pelo presidente
Nacional do IBAMA, Marcos Barros, e publicado em diário oficial da união, nº 114,
em 16 de junho de 2005, os jornais sergipanos noticiavam as diversas
manifestações de satisfação por parte dos atores sociais inseridos na política
ambiental do Estado (Eugênio Nascimento, PARQUE DA SERRA DE ITABAIANA É
CRIADO, 2005, p. B-1).
Nestas manifestações, garantias foram feitas, tanto para a implantação de
um plano de manejo como para as regularizações fundiárias:
[...] a analista ambiental ressalta que brevemente estará sendo concluído o plano de manejo do parque para que possa analisar as áreas primitivas, de uso intensivo, de proteção ou de recuperação e, a partir desse estudo, com a delimitação de acordo com os estudos do plano, definir a aptidão e se implantar a infra-estrutura para ser aberto ao turismo sustentável (SERRA DE ITABAIANA: PRIMEIRO PARQUE NACIONAL DE SERGIPE, 2005, p. A-6). Em paralelo aos projetos, o superintendente do IBAMA lembrou que está se preparando a regularização fundiária. Ele observou que dos 7.966 hectares que compreendem o parque, 288 estão sobre administração do IBAMA. O restante deverá ser desapropriado (SERRA DE ITABAIANA AGORA É PARQUE NACIONAL, 2005, p. A-9).
66 MORALES, S. P. D. Conflitos ambientais em Unidades de Conservação: uma abordagem sobre as relações de poder no Parque Nacional Serra de Itabaiana/SE, Brasil, 2011.
Queremos esclarecer que esse será um processo lento, avaliado criteriosamente e realizado em conjunto com o Ministério Público. Em Brasília discutiremos com o IBAMA nacional a locação desses recursos que vêm de compensação ambiental, conforme dita a lei (Marcio Macedo, SERRA DE ITABAIANA AGORA É PARQUE NACIONAL, 2005, p. A-9). Ele assegurou que o processo de desapropriação só será iniciado quando o dinheiro estiver em caixa. Macedo observou que ainda não há valor estimado para a desapropriação. Ele disse que todos os imóveis que estão dentro do parque serão criteriosamente avaliados (SERRA DE ITABAIANA AGORA É PARQUE NACIONAL, 2005, p. A-9).
Somente no dia16 de novembro de 2005, às 9 horas, na base do IBAMA,
localizada na própria Serra, que o Parque Nacional Serra de Itabaiana foi implantado
oficialmente. No evento vários políticos estiveram presentes, a comunidade
científica, técnicos do IBAMA e a comunidade local.
[...] É importante ressaltar que o processo iniciado para a criação do Parque vinha se arrastando por sucessivos governos sem solução. A sua implantação agora vem resolver um passivo ambiental do Estado (Márcio Macedo, SOLENIDADE..., 2005, p. A-8). Essa data é um grande marco na nossa política ambiental e uma vitória dos sergipanos, especialmente das populações de Itabaiana, Areia Branca, Laranjeiras, Itaporanga e Campo do Brito (Márcio Macedo, INSTALADO..., 2005, p. A-8). Toda essa riqueza natural dos sergipanos se transformou num patrimônio do povo brasileiro. [...] De parabéns estão o gerente do IBAMA em Sergipe, Márcio Macedo, e todos os técnicos competentes que ele comanda e que se empenharam ao máximo para que o parque se tornasse uma realidade (Maria Mendonça, INSTALADO..., 2005, p. A-8).
A implantação oficial significou para os atores sociais do grupo com maior
força representativa a retribuição pelos recursos investimentos no campo
socioambiental da Serra de Itabaiana, tendo como premiação a criação do Parque
Nacional Serra de Itabaiana.
5.3 AS FASES DO PROCESSO DE INSTITUCIONALIZAÇÃO DO PARNASI E SEUS ATORES SOCIAIS
Para melhor compreensão do processo político de institucionalização do
Parque Nacional Serra de Itabaiana reconstruído pelos jornais, a pesquisa optou por
dividir em duas fases: pré-institucionalização e pós-institucionalização. Nestas duas
fases os atores sociais envolvidos são distintos, classificados nos termos de
dominantes e dominados, e o campo socioambiental muda conforme o jogo. Esta
67 MORALES, S. P. D. Conflitos ambientais em Unidades de Conservação: uma abordagem sobre as relações de poder no Parque Nacional Serra de Itabaiana/SE, Brasil, 2011.
análise buscou o embasamento teórico nas contribuições conceituais sobre relações
de poder de Pierre Bourdieu (2007a;b).
Cabe nesta analise situar que os agentes envolvidos no processo político de
institucionalização do Parque Nacional Serra de Itabaiana, tanto da primeira como da
segunda fase, compuseram as esferas política, acadêmica, burocráticas, econômica
e militante por meio das homologias (Figura 4).
Figura 4 - Representação do campo socioambiental Fonte: GEPPIP, 2009.
5.3.1 A pré-institucionalização do PARNASI: o perío do da esperança verde
Neste processo, de 2004 a junho de 2005, os principais atores citados nos
jornais foram: gerente Executivo do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos
Naturais Rendáveis (IBAMA) em Sergipe, Márcio Macedo; prefeita de Itabaiana,
Maria Mendonça; prefeito de Areia Branca, Ascendino Souza; e analista Ambiental
do IBAMA, Valdineide Barbosa de Santana.
A primeira fase mostra um grupo dominante composto por agentes atuantes
na carreira política-partidária, burocrática da administração pública e acadêmica,
possuidores de capital político e escolar. Na segunda fase os agentes da esfera
acadêmica deixam o grupo dominante, uma vez que o campo mudou conforme o
jogo e as forças atuantes da carreira política-partidária e burocrática da
administração pública permanecem, somando-se a estes novos agentes.
Órgãoburocrático
Cerâmicas e Olarias
Moradores
Ongs
Universidade
Poder local
68 MORALES, S. P. D. Conflitos ambientais em Unidades de Conservação: uma abordagem sobre as relações de poder no Parque Nacional Serra de Itabaiana/SE, Brasil, 2011.
A primeira fase é marcada pelo discurso de que a Estação Ecológica não se
enquadrava como uma categoria adequada à realidade da Serra de Itabaiana,
devendo ser legitimado o discurso de criação de um Parque Nacional. A partir daí os
agentes dominantes investiram para que a sua visão de mundo, bem como a visão
da sua posição no mundo, orientasse a prática no campo.
Através dos conceitos sobre lutas simbólicas de Pierre Bourdieu, nota-se
no processo de institucionalização do Parque Nacional Serra de Itabaiana que as
posições dos agentes dominantes naquele espaço foram decididas pelo volume
global do capital. Assim, a luta política mostrou que o conhecimento e competência
técnica foram fatores determinantes para a legitimação de discursos.
Na luta pela imposição da visão legítima do mundo social [...] os agentes detêm o poder à proporção do seu capital, quer dizer, em proporção ao reconhecimento que recebem de um grupo (BOURDIEU, 2007a, p.145).
Na primeira fase os agentes representados pelo poder local, universidade e
órgão burocrático, eram mais capitalizado; e, por isso, englobaram o grupo dos que
detinham maior força. Com isso foi mantido um sistema capaz de orientar as práticas
dos proprietários de cerâmicas e olarias, comunidade e Ong’s.
A institucionalização do Parque Nacional Serra de Itabaiana foi constituído
mediante interesses e lutas políticas (simbólicas) com habilidades de conservar ou
transformar a realidade social pela formação das próprias representações.
Se pela teoria bourdieuniana é sabido que o interesse leva a investir, ou
seja, a entrar e se manter no jogo; assim, pode-se dizer que a institucionalização do
Parque Nacional Serra de Itabaiana, teve como interesse articulador o prestígio
político-partidário.
Em discurso na tribuna da Assembléia a deputada Estadual Maria Mendonça pediu que o prefeito de Aracaju, Marcelo Déda (PT), agende uma audiência com o presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para assinar o decreto que transforma a Serra de Itabaiana em Parque Nacional. Com essa medida a área ganhará investimento, pois a Secretaria Estadual de Turismo já dispõe de investimentos reservados para aplicar na área (PARQUE I; PARQUE II, 2004, p. A.).
Entretanto, este interesse hegemônico não excluiu outros interesses de
tomarem parte no jogo, como o ambiental:
69 MORALES, S. P. D. Conflitos ambientais em Unidades de Conservação: uma abordagem sobre as relações de poder no Parque Nacional Serra de Itabaiana/SE, Brasil, 2011.
O Parque da Serra de Itabaiana gera otimismo para todos aqueles que desejam ver aquela área preservada, principalmente para as populações que moram próximo a serra. [...] Antes mesmo desse reconhecimento os sergipanos já entendiam a área como um parque e por isso muitos deles trabalhavam no sentido de proteger aquele espaço. Agora com a situação legalizada, o interesse em proteger vai aumentar (Valdineide Barbosa de Santana, SERRA DE ITABAIANA VIRA RESERVA; PARQUE; PARQUE DA SERRA DE ITABAIANA É CRIADO, 2005, p. B-1). A maior preocupação dos ecologistas é em relação à proteção da serra e o que poderá ocorrer com ela no futuro. Diante disso, a analista ambiental do IBAMA, Valdineide Barbosa de Santana, esclareceu que é preciso trabalhar no sentido de proteção da fauna e flora que são remanescentes de Mata Atlântica” (Valdineide Barbosa de Santana, SERRA DE ITABAIANA AGORA É PARQUE NACIONAL, 2005, p. A-9.).
Assim, é possível perceber que ligado ao processo de institucionalização do
PARNASI estavam diversos interesses que moviam o campo de disputas conforme
a participação dos atores no jogo. Dessa forma, pode-se dizer que a primeira fase
representou a luta simbólica por um bem comum, a criação do Parque Nacional,
pelos atores sociais motivados por interesses diversos.
5.3.2 O enfoque político-partidário da fase pós-ins titucionalização do PARNASI
Após o período da esperança verde da primeira fase, se seguiu uma
segunda fase marcada por uma forte atuação de caráter político-partidário. Os atores
sociais envolvidos nesta fase eram os representantes do governo do Estado de
Sergipe, João Alves Filho; da superintendência do IBAMA/SE, Márcio Macedo e do
movimento associativista e sindical de Ceramistas de Itabaiana e do Estado de
Sergipe, Augusto César Santos.
Assim, visto pela ótica das pesquisas nos jornais, a segunda fase do
processo político do Parque Nacional Serra de Itabaiana, que compreendeu a pós-
institucionalização, teve dois aspectos que chamaram a atenção: 1 - especulação de
desemprego em massa e fechamento de cerâmicas e olarias; 2 - manifestações
acusatórias de cunho político-partidário pelo governo do Estado.
Nesta fase os jornais noticiavam um profundo descontentamento e crítica
quanto ao processo de institucionalização do parque pelo governo do Estado;
representado pelo, então governador João Alves Filho, do Partido da Frente liberal
(PFL). Na ocasião, formou-se por parte da força do PFL de Sergipe uma retaliação
ao governo federal petista, declarando que a criação do Parque Nacional Serra de
70 MORALES, S. P. D. Conflitos ambientais em Unidades de Conservação: uma abordagem sobre as relações de poder no Parque Nacional Serra de Itabaiana/SE, Brasil, 2011.
Itabaiana geraria desemprego, já que os ceramistas seriam prejudicados, e que o
governo do Estado de Sergipe teria ficado de fora do processo de discussão.
Assim, tomando à frente das discussões, assumindo sua posição de
militante petista e representando o governo federal, o superintendente executivo do
IBAMA em Sergipe, Márcio Macedo, declarava que o Parque em nada prejudicaria
os ceramistas. A matéria do dia 14 de outubro de 2005, do Jornal da Cidade,
publicou a declaração do superintendente executivo do IBAMA/SE na época, Márcio
Macedo, questionando a atitude do governador João Alves Filho, uma vez que ele se
manifestava contra a criação do Parque, mas era a favor da revitalização do Rio São
Francisco, atribuindo tal atitude à briga política (IBAMA DIZ QUE RESERVA NÃO
VAI PREJUDICAR CERÂMICAS, 2005, p. B-12).
Dessa forma, pôde-se observar pelas declarações que as discussões sobre
o parque não mais se apresentavam em um discurso ambientalista, mas político-
partidário formado entre petistas e pefelistas, onde o IBAMA representava o partido
dos trabalhadores (PT).
[...] o governador mostra desconhecer que o que está na agenda do mundo moderno é o desenvolvimento sustentável. A preservação dos recursos naturais passou a ser uma premissa fundamental em qualquer modelo de desenvolvimento (Márcio Macedo, IBAMA DIZ QUE RESERVA NÃO VAI PREJUDICAR CERÂMICAS, 2005, p. B-12).
Neste momento surge um grupo que durante a primeira fase da
institucionalização do Parque Nacional Serra de Itabaiana não havia sido citado
pelos jornais e tampouco se pronunciado, sendo composto pelos donos de
cerâmicas e olarias de Itabaiana.
A partir da segunda fase este grupo passou a chamar a atenção da mídia
sergipana, uma vez que o governo do Estado da época alarmava quanto à questão
do desemprego. E as manchetes passaram a anunciar: “Olaria terá que sair da Serra
de Itabaiana” (Leonardo Zanelli, OLARIA..., 2005, p. B-3).
De acordo com os jornais as cerâmicas estavam instaladas na região desde
muito tempo e que a comunidade teria crescido ao redor delas. Nisto, a fumaça e
fuligem provocadas pela fabricação dos blocos passaram a prejudicar os moradores
(Figura 5). E assim que o parque foi criado, o IBAMA passou a controlar o uso e a
exploração da área do entorno dessa UC (Leonardo Zanelli, OLARIA..., 2005).
71 MORALES, S. P. D. Conflitos ambientais em Unidades de Conservação: uma abordagem sobre as relações de poder no Parque Nacional Serra de Itabaiana/SE, Brasil, 2011.
Figura 5 - Forno à lenha utilizado em olarias Fonte: Imagem capturada pela autora, 2010.
Ainda de acordo com o jornal, no perímetro do parque só existia uma
cerâmica, que seria desativada e o seu proprietário indenizado (Leonardo Zanelli,
OLARIA..., 2005). Nesta mesma matéria, o presidente da Associação de Ceramistas
de Itabaiana e vice-presidente do Sindicato de Ceramistas do Estado de Sergipe,
Augusto César Santos foi citado.
A analista ambiental do IBAMA, Valdineide Santana foi citada na matéria
esclarecendo que o órgão não proibiria “as atividades e a ocupação do entorno”,
mas que faria o controle de acordo com as normas ambientais e que o parque não
prejudicaria a atividade ceramista. “A legislação ampara a preservação e o uso
comercial. O IBAMA não quer conflito e vai dar atenção para retirar a licença e
regularizar a atividade” (Leonardo Zanelli, OLARIA..., 2005, B-3).
A mesma afirmava que desde 1989 a extração de materiais dentro do
parque já era proibida, por isso o objetivo seria o da “educação ambiental, o estudo,
a preservação e o ecoturismo” (Leonardo Zanelli, OLARIA..., 2005, B-3).
Segundo o mesmo jornal de 23 e 24 de outubro de 2005, o MPE realizou
uma audiência com empresários do setor. O Promotor do Ministério Público Estadual
em Itabaiana, Marcel Peres de Oliveira, que na época tinha acabado de entrar na
promotoria daquela região, afirmou que a maioria das cerâmicas estava sem licença
72 MORALES, S. P. D. Conflitos ambientais em Unidades de Conservação: uma abordagem sobre as relações de poder no Parque Nacional Serra de Itabaiana/SE, Brasil, 2011.
da Administração Estadual do Meio Ambiente - ADEMA. Dentre os problemas
observados por ele, estava a ausência do uso de filtros nas chaminés das
cerâmicas. Ainda de acordo com o jornal, o MPE estava mapeando todas as
cerâmicas e olarias do município. Na época a associação de ceramistas ficou de
levar uma lista de todas as cerâmicas e olarias que, até então, atuavam no
município.
De acordo com a entidade existiam 17 empresas funcionando em Itabaiana.
Das dezessete, quatro estavam regularizadas; outras oito já haviam iniciado o
processo junto à ADEMA e ao DNPM – Departamento Nacional de Produção
Mineral; outras três fariam a regularização até inicio do próximo ano, ou seja, em
2006; e as duas restantes não se pronunciaram.
Diversas foram às matérias publicadas sobre o desemprego em Itabaiana e
a crise nas fábricas de cerâmicas e olarias.
A criação do Parque Nacional da Serra de Itabaiana vai gerar 46 mil desempregos na região agreste do Estado. A conclusão foi feita durante reunião realizada por representantes de cerâmicas da região com o governador João Alves Filho [...] (PARQUE PREOCUPA GOVERNO E CERAMISTAS DE ITABAIANA, 2005, p. Política.).
Apesar da classe empresarial ceramista ter sido inserida nas discussões
sobre as consequências que o parque levaria ao setor industrial de Itabaiana, é
notório que sua participação foi marcada por pouca capacidade de intervenção no
momento da implantação do Parque. Tal afirmativa se faz pela análise das seguintes
publicações jornalísticas:
E o deputado federal José Carlos Machado (PFL) é um dos fortes opositores do recém criado Parque Nacional Serra de Itabaiana, que, segundo lhe disseram, vai provocar mais de 40 mil desempregos (ECOLOGIA, 2005a, p. A.). O deputado estadual Arnaldo Bispo (PMDB) copiou o discurso do aliado e deputado federal José Carlos Machado (PFL) ao condenar o Parque Nacional Serra de Itabaiana por entender que os ceramistas e outros profissionais que dependem do solo retirado da serra correm risco de desemprego e falência (...) (PARQUE DIVIDE POLÍTICOS E ECOLOGISTAS SERGIPANOS, 2005, p. Política.). Numa discussão contundente com o secretário de Estado da Infra-estrutura Luiz Durval, numa emissora de rádio local, o gerente do IBAMA em Sergipe, Marcio Macedo, acabou confirmando os temores do governo estadual: a instalação do futuro Parque Nacional de Itabaiana pela instituição pode provocar demissões (PARQUE DE ITABAIANA VAI GERAR DESEMPREGO, 2005, p. B-5.).
73 MORALES, S. P. D. Conflitos ambientais em Unidades de Conservação: uma abordagem sobre as relações de poder no Parque Nacional Serra de Itabaiana/SE, Brasil, 2011.
O Parque Nacional Serra de Itabaiana durante todo o ano de 2005 e 2007 foi
notícia nos jornais e, sempre, em seu bojo o enfoque político-partidário. Fosse por
um teor mais irônico “[...] na Amazônia a mata é destruída pela moto serra.Aqui em
Sergipe é o Machado quem deseja o fim da Serra de Itabaiana” (ECOLOGIA, 2005b,
p. A), ou acusatório:
Diversas instituições garantiram que não era preciso mais dois mil hectares, mas o IBAMA foi contrário a essas ponderações e aprovou o projeto com 10 mil hectares, acabando com o parque ceramista sergipano, concentrado na região, responsável por mais de 25 mil empregos. Não sou e nunca fui contrário a criação de áreas de preservação, mas o problema aqui são os interesses que estão por trás dessas iniciativas (João Alves Filho, JOÃO..., 2006, nr. 10.178).
Nesta notícia o governador João Alves Filho acusava o IBAMA de retaliação
ao inviabilizar o projeto Nova Califórnia do governo do Estado. Ainda segundo o
governador a criação foi um interesse político ideológico do PT e condenou o órgão.
A homologia do campo político então passou a interferir no campo socioambiental da
Serra de Itabaiana.
As diversas manchetes mostravam como a institucionalização estava se
repercutindo no Estado: “Desemprego na Serra de Itabaiana”; “Criação do Parque
está sendo um fantasma na vida dos trabalhadores na região do agreste”; “Projeto
do Governo Federal vai gerar 46 mil desempregos em Sergipe” (DESEMPREGO...,
2005, p. A-5). “Machado trata sobre Parque Nacional” (MACHADO..., 2006, p. C-4).
Depois das intensas críticas entre partidos, uma audiência foi marcada com
o superintendente do IBAMA em Sergipe, Márcio Macedo e o deputado federal José
Carlos Machado para discutir a questão da implantação do Parque Nacional Serra
de Itabaiana. O encontro foi considerado positivo por ambas as partes, onde se
noticiou que o deputado Machado haveria deixado a audiência convencido de que a
criação do Parque não iria desempregar cerca de 46 mil pessoas como foi noticiado.
“É um alarde a questão dos 46 mil desempregos”, disse Machado. “Nenhuma família
vai deixar o local sem o dinheiro da desapropriação”, disse Márcio Macêdo. Mas, por
ser partidariamente oposição do governo federal, o deputado José Carlos Machado
voltou em sua declaração ao negar que o superintendente do IBAMA, Márcio
Macedo e a analista ambiental do IBAMA, Valdineide Santana tivessem respondido
todos os questionamentos relativos ao Parque:
74 MORALES, S. P. D. Conflitos ambientais em Unidades de Conservação: uma abordagem sobre as relações de poder no Parque Nacional Serra de Itabaiana/SE, Brasil, 2011.
Não nego que o encontro que tive com o gerente do IBAMA foi esclarecedor e que fiquei mais tranqüilo, mas tanto ele quanto a diretora do Parque Valdineide Souza, responderam muito pouco sobre questões fundamentais. Por exemplo, eles ainda não sabem quantas pequenas propriedades vão ser desapropriadas, nem o número de ceramistas que poderão perder o emprego por conta da implantação do Parque (José Carlos Machado, MACHADO..., 2006, p. Política).
Em contrapartida à declaração do deputado federal pefelista, o
superintendente do IBAMA e militante petista, Márcio Macedo retrucou que se o
mesmo estivesse preocupado com o Parque deveria apresentar uma emenda para
ajudar na indenização das famílias que terão que deixar a área. O superintendente
afirmou ainda que o deputado possuísse força política para mobilizar os
parlamentares da bancada a conseguir mais emenda (SERRA, 2006).
Sobre as séries de polêmicas geradas envolta da criação do Parque
Nacional Serra de Itabaiana, referente à retaliação do projeto Nova Califórnia; 46 mil
desempregadas em Itabaiana e fechamento das cerâmicas e olarias, o secretário de
Estado da Infraestrutura, Luiz Durval, numa emissora de rádio local, disse que o
superintendente do IBAMA em Sergipe, Márcio Macêdo, teria confirmado os temores
do governo estadual de que a instalação do novo Parque Nacional de Sergipe
poderia provocar demissões. Este ainda acrescentou que em sua opinião não se
podia pensar em preservar a natureza sem ouvir as partes envolvidas: “Ouvir as
partes, na minha concepção, não é fazer uma formalidade de opinião pública. Ouvir
é discutir” (GERENTE..., 2005, p. A-4).
5.3.3 O papel das organizações ambientais não-gover namentais e instituições
superiores de ensino no processo de criação do parq ue
Durante o processo de discussão que envolveu o momento da
institucionalização do Parque Nacional Serra de Itabaiana mediante a pesquisa nos
jornais de 2003 a 2007, duas ONGs foram citadas, a MOPEC - Movimento Popular
Ecológico de Sergipe – MOPEC e a Sociedade SEMEAR.
A MOPEC foi representada pelo seu coordenador, Lizaldo Vieira, que fez um
balanço das conquistas ambientais em 2005, apontando como ponto positivo a
75 MORALES, S. P. D. Conflitos ambientais em Unidades de Conservação: uma abordagem sobre as relações de poder no Parque Nacional Serra de Itabaiana/SE, Brasil, 2011.
criação do Parque Nacional Serra de Itabaiana e como ponto negativo a indefinição
de uma política de meio ambiente no país.
Com um discurso militante ambientalista, Lizaldo Vieira, disse que a criação
do Parque Nacional foi fruto da luta de 26 anos de alguns ambientalistas. O mesmo
ressaltou a importância da universidade no processo de políticas ambientalistas em
Itabaiana, já que com a chegada do Campus da Universidade Federal de Sergipe –
UFS, na região, o número de pesquisas científicas aumentariam. De acordo com o
militante, tanto o governo federal, como estadual e municipal possuem a
responsabilidade de assegurar mais reservas naturais. Contudo, ressaltou a falta de
interesse por parte dos governantes em investir na política ambiental. Para Lizaldo
Vieira, as políticas ambientais são tratadas pela sociedade de forma omissa, uma
vez que não cobram dos gestores.
Geralmente ela fica a mercê dos projetos, mas não tem na consciência a valorização do meio ambiente. Dessa maneira, termina contribuindo para que nada seja feito em defesa do meio ambiente. Até porque poucas pessoas à frente de entidades ambientais estão pregando no deserto, enquanto que a maioria defende a política de destruição, mesmo sabendo que todos dependem do meio ambiente. (...). Se não houver iniciativas imediatamente daqui a algum tempo o caos será bem maior. Já estão acontecendo problemas de falta de água em alguns bairros de Aracaju nos fins de semana (Lizaldo Vieira, EM DEFESA..., 2006, p. A-8.).
Assim como o coordenador do MOPEC, a diretora de Meio Ambiente da
Sociedade SEMEAR, bióloga Danielle Rodrigues Dutra também tratou das políticas
ambientais. Segundo a diretora, as políticas adotadas pelos governos municipais e
estaduais não são funcionais no Estado. “Não há política pública para educação
ambiental, seja na esfera hídrica ou florestal”. Ainda de acordo com a bióloga, as
Organizações Não governamentais (Ong’s) em Sergipe, forçam a implementação de
políticas públicas ambientais. Porém, as Ong’s vivem em situação difícil, uma vez
que sobrevivem da captação de recursos para projetos e contratação de pessoas
especializadas (ÁREAS..., 2006).
Outra representação que compõe o campo socioambiental do Parque Nacional
Serra de Itabaiana, pouco citado nos jornais, nesta segunda fase, foram às
universidades. A instituição de ensino somente é vista em duas matérias produzidas
pelo jornal Correio de Sergipe das datas, 02 e 03 de outubro de 2005 e 10 de outubro
de 2006.
76 MORALES, S. P. D. Conflitos ambientais em Unidades de Conservação: uma abordagem sobre as relações de poder no Parque Nacional Serra de Itabaiana/SE, Brasil, 2011.
Nelas mostra a participação da universidade no fornecimento de estudos
científicos, que serviram de embasamento para os discursos dos formadores de
políticas públicas ambientais do Estado de Sergipe fundamentar a importância da
criação do Parque Nacional Serra de Itabaiana.
Estudos científicos realizados sob a coordenação da Universidade Federal de Sergipe indicam uma composição faunística com a presença de espécies endêmicas e ameaçadas de extinção. No Estudo foram registradas 16 espécies de serpentes, 24 de anfíbios e 123 de aves, sendo que destas últimas, três são restritas da mata atlântica e uma endêmica na caatinga. Além disso, na região da Serra Comprida existem registros da ocorrência do macaco-prego-do-peito-amarelo, espécie de primata criticamente ameaçada de extinção (SERRA DE ITABAIANA: PRIMEIRO PARQUE NACIONAL DE SERGIPE, 2005, p. A-6.). A partir das 9h de hoje, a UFS (Universidade Federal de Sergipe) e o IBAMA/SE (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Renováveis em Sergipe) assinam acordo de cooperação técnico-científico para unidades de conservação. [...] Na ocasião será lançado o livro “Parque Nacional Serra de Itabaiana: levantamento da Biota” (FUTUROS..., 2006, p. A-11). Este é o primeiro acordo que a unidade de Itabaiana assina com uma instituição. O convênio traz uma contribuição no que se refere à preservação das unidades de conservação. Além disso, o IBAMA, como órgão técnico, vai disponibilizar seus técnicos para que todo amadurecimento desta unidade, como Parque Nacional, se dê num processo técnico bem estruturado, com acompanhamento e orientação (Francisco Sandro Rodrigues Holanda, FUTUROS..., 2006, p. A-11).
Mesmo não sendo relativamente citada nos jornais a universidade, possuiu
grande força mobilizadora junto à comunidade, fazendo com que a comunidade
incorporasse o seu discurso ambientalista de preservação e conservação do
ecossistema local. Se por um lado sua condição no processo foi de dominância, por
outro foi de dominada, quando sua participação, por meio dos estudos científicos
realizados na Serra e no seu entorno, serviu para legitimar o discurso dos atores da
esfera político-partidária de que a criação do Parque Nacional era a melhor opção
para a Serra, comunidade local e Sergipe.
Ainda quanto à percepção da universidade no campo de força possuir a
condição de dominada pela força política, a afirmativa poderia ser questionada pela
parte dominada ao tomar consciência de sua posição dentro do campo, aderindo um
discurso de defesa. A defesa poderia estar respaldada nas considerações de que os
estudos científicos produzidos pela instituição embasaram a importância da criação
do parque e foi fator importante para sua implantação, ou seja, teve influência sobre
77 MORALES, S. P. D. Conflitos ambientais em Unidades de Conservação: uma abordagem sobre as relações de poder no Parque Nacional Serra de Itabaiana/SE, Brasil, 2011.
o poder político. Pela dinâmica das relações de poder esta defesa não possui
respaldo, já que o jogo é vencido quando o interesse que move o agente é
conquistado. Dessa forma, o interesse da universidade em preservar e conservar o
ecossistema da região não foi conquistado, uma vez que sem plano de manejo a
situação permanece a mesma, em contra partida o interesse político em criar uma
Unidade de Conservação pelo foco do prestígio político-partidário na região foi
conquistado. Por isso, que se considera a posição de dominância do poder político
sobre a universidade, uma vez que este, pelas suas estratégias, induziu aos agentes
da universidade a lutar pelos interesses que o motivaram a entrar no jogo
(BOURDIEU, 2007b).
CAPÍTULO 6:
REPRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS PRINCIPAIS ATORES SOCIAIS
ENVOLVIDOS NO PROCESSO DE INSTITUCIONALIZAÇÃO DO PARQUE NACIONAL SERRA DE ITABAIANA/SE.
79 MORALES, S. P. D. Conflitos ambientais em Unidades de Conservação: uma abordagem sobre as relações de poder no Parque Nacional Serra de Itabaiana/SE, Brasil, 2011.
6 REPRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS PRINCIPAIS ATORES SOC IAIS
ENVOLVIDOS NO PROCESSO DE INSTITUCIONALIZAÇÃO DO PA RQUE
NACIONAL SERRA DE ITABAIANA/SE
Este capítulo reservar-se à análise da participação dos atores sociais
envolvidos no processo de institucionalização do PARNASI. Assim, foram aplicadas
entrevistas com: dois analistas ambientais do órgão público-IBAMA/SE; o líder
comunitário e presidente da Associação de Moradores do Rio das Pedras; o
presidente da Associação de Ceramistas de Itabaiana e vice-presidente do Sindicato
de Ceramistas do Estado de Sergipe; a prefeita municipal de Itabaiana; o gerente de
uma cerâmica no povoado Rio das Pedras em Itabaiana e uma pesquisadora e
professora da Universidade Federal de Sergipe.
Para auxiliar esta etapa a pesquisa também analisou os itinerários dos
atores sociais nas mais diversas esferas coletados por meio de questionário. Assim,
considerou a posição social ocupada na institucionalização do PARNASI (origem
social, volume global de capital e redes sociais) e os posicionamentos assumidos
pelos atores sociais (Quadro 1).
Quadro 1 - Itinerário dos atores sociais envolvidos na criação do PARNASI (2005-
2007)
ENTREVISTADOS ORIGEM SOCIAL RECURSO ACUMULADO ORIGEM DA REMUNERAÇÃO PROFISSÃO POSIÇÃO NA
CARREIRA ESCOLARIDADE
Valdineide Barbosa de SANTANA
Classe média c/algum
patrimônio
Escolar, militante,social
Funcionário público
Analista ambiental Estável Pós-graduação
Marleno COSTA
Classe média c/ algum
patrimônio
Escolar, militante,social
Funcionário público
Analista Ambiental Estável Pós-graduação
Maria MENDONÇA
Família de políticos c/ patrimônio
Escolar, militante, social e simbólico Cargo político
Prefeita municipal de Itabaiana
Ascendente (forte) Graduação
Laura Jane GOMES
Classe média c/ algum
patrimônio Escolar,militante social Funcionário
público Professora
universitária Estável Pós-
graduação
Augusto CÉSAR Classemédia c/
patrimônio Econômico, social e
militante Comércio Empresário Estável Graduação
José CARLOS Classe média c/
algum patrimônio
Econômico e social Comércio Gerente Administrativo
Estável Técnico
Verenilson MESQUITA
Trabalhador c/ pouco
patrimônio Militante Comércio Autônomo Irregular
1º Grau completo
Fonte: Dados coletados em entrevistas, 2010.
80 MORALES, S. P. D. Conflitos ambientais em Unidades de Conservação: uma abordagem sobre as relações de poder no Parque Nacional Serra de Itabaiana/SE, Brasil, 2011.
Com base no estudo sobre o itinerário e, consecutivamente, reconstrução
das trajetórias de vida dos entrevistados, pôde-se observar que as práticas não
nascem ou agem ao acaso e que a utilização dos recursos escolares e intelectuais
entre os atores sociais do poder local, órgão ambiental e instituição de ensino foram
presentes, lhes conferindo um reconhecimento político e intelectual como portadores
dos saberes. Estes resultados mostraram que o indivíduo politizado tende a melhor
se articular em diferentes esferas de atuação.
Ainda foi possível verificar que ao aplicar a entrevista com os analistas
ambientais o resultado mostrou um envolvimento relacionado à modalidade de
profissional militante com forte utilização dos recursos escolares na articulação e
intervenção política. Essa participação apareceu de duas formas: engajamento e
militância.
Através dos relatos dos analistas, entende-se que o envolvimento deles no
processo de criação do PARNASI esteve relacionado ao que se chama de uma
participação pela ação voluntária que “toma parte” no jogo. Sobre este fenômeno,
Gaglietti (2003) diz que a participação envolve um campo que “vai de uma simples
atitude até a ação ou, mais além, até o resultado desta”. No caso dos atores sociais
da estrutura burocrática da administração pública, o engajamentos e fez no próprio
serviço profissional:
[...] eu me envolvi como funcionária do governo federal lotada no IBAMA, primeiro para implantar a estação ecológica ou consolidar o processo de criação, depois me envolvi como estudante do mestrado, como pesquisadora, para aprofundar esses estudos e dar contribuição ao governo federal à instituição pública que era encontrar uma alternativa mais adequada para aquela realidade e depois, como funcionária também do IBAMA, para encaminhar todo o processo de criação da unidade e dessa vez para a criação do parque. [...] eu trabalho com isso desde 1987 e nunca mudei, nunca, e vou morrer trabalhando com UC’s e espero um dia morrer dentro de uma Unidade de Conservação [...] (Ator Social SANTANA, 2010). Eu trabalho na área há 20 anos. Comecei trabalhando no IBAMA jána região da Serra de Itabaiana. E lá já havia um processo de criação de uma Unidade de Conservação na área, que era o projeto de instalação de uma ESEC que é Estação Ecológica. Então, meu envolvimento foi natural pelo fato de já ser um servidor do IBAMA e trabalhar na área de conservação, inicialmente proposta, que era a ESEC (Ator Social COSTA, 2010).
De acordo Gaglietti (2003) as forças políticas orientam o agente dentro do
campo de trabalho para a participação nas atividades políticas e militantes, por este
representar um espaço privilegiado de expressão dos conflitos sociais e políticos.
81 MORALES, S. P. D. Conflitos ambientais em Unidades de Conservação: uma abordagem sobre as relações de poder no Parque Nacional Serra de Itabaiana/SE, Brasil, 2011.
Outro caso que também verificou a militância ambientalista no serviço
profissional foi o da pesquisadora e professora da Universidade Federal de Sergipe:
Bom, eu tenho 7 anos em Sergipe e de parque tenho 5 anos. Logo que eu vim trabalhar aqui, conheci o pessoal do IBAMA em outros projetos de educação ambiental e de reflorestamento. Então, eu conheci a Valdineide, coordenadora-chefe da unidade na época, que me convidou para participar dos estudos da criação do parque na época. Daí eu me envolvi desde o inicio por conta da Valdineide [...] (Ator Social GOMES, 2010).
Ainda de acordo com Gaglietti (2003) a participação pela analise
bourdieuniana não se deve somente aos profissionais da política, mas também aos
leigos. A distinção entre leigos e profissionais estaria no volume global de capital.
Diante desta conceituação cabe aqui citar outro agente que esteve inserido
no processo de institucionalização do Parque Nacional Serra de Itabaiana,
Verenilson Mesquita, líder comunitário e presidente da Associação de Moradores do
Rio das Pedras, mais conhecido como “Seu Nissinho”.
Eu fui líder comunitário, presidente da associação, a gente ia para todas as reuniões, íamos para as audiências públicas, a gente participou de várias reuniões, inclusive com Márcio Macedo que era o superintendente do IBAMA na época [...] (Ator Social MESQUITA, 2010).
Este agente ao contrário dos outros entrevistados que englobam o campo
burocrático e acadêmico, não é possuidor de capital escolar e nem econômico, mas
de outro capital, o militante. Seu envolvimento no processo de institucionalização do
PARNASI ocorreu mediante o seu acesso ao saber local e sua representatividade
frente à comunidade.
Ao contrário dos analistas ambientais e da pesquisadora da UFS, Verenilson
Mesquita não possui a forte influência escolar no seu engajamento, uma vez que
investiu tardiamente neste recurso. O caso de “Seu Nissinho” mostra uma carreira
militante com vistas na retribuição desta, pelo chamado sistema de gratificação
(CORADINI, 2002). Como já mencionado, existe dentro do estudo de participação,
engajamento e militância indivíduos que militam dentro de sua profissão, onde o
capital escolar lhe rende reconhecimento, e existem outros que entram na militância
sem capital escolar e, através da sua atuação, acabam investindo na escolarização
com vistas ao reconhecimento.
82 MORALES, S. P. D. Conflitos ambientais em Unidades de Conservação: uma abordagem sobre as relações de poder no Parque Nacional Serra de Itabaiana/SE, Brasil, 2011.
Gaglietti (2003) acrescenta que o fator mais decisivo para o engajamento
está na posição social do militante, mediante a construção do volume de capital e
pelas relações entre as estruturas de capital.
No primeiro caso, do profissional militante, estão os analistas ambientais do
IBAMA e a pesquisadora da UFS, ambos possuidores do capital escolar, e no
segundo caso, está inserido o líder comunitário e presidente da associação de
moradores do Rio das Pedras, Verenilson Mesquita, que por meio da militância
buscou obter o reconhecimento pelo capital escolar, mesmo que tardiamente, aos 41
anos.
Contudo, o campo de forças não está submetido ao tempo do individuo se
adaptar às condições de disputa, o jogo possui regras próprias, onde existem duas
classes, a de dominados e de dominantes; e esta posição se faz mediante o peso do
volume global de capital e suas relações entre as estruturas de capital (BOURDIEU,
2007b).
Assim, a participação de “Seu Nissinho” se deu de forma passiva, através da
violência simbólica, que não se fez sentir pelo agente no campo de força.
[...] a gente cobrou dos nossos governantes, a gente também sempre teve reuniões com o ministério público. E o que eles passavam para a gente, a gente acatava tudo, porque a gente acreditava que era para o bem da comunidade (Ator Social MESQUITA, 2010).
Ainda sobre o envolvimento dos agentes neste processo de criação, o
depoimento da prefeita de Itabaiana, na época, Maria Mendonça, enquanto
representante do poder local, mostra que seu envolvimento esteve relacionado ao
interesse político-partidário, lhe conferindo mover estratégias e articulações na busca
pela transformação da Estação Ecológica Serra de Itabaiana em Parque Nacional
Serra de Itabaiana.
O Parque foi um sonho de todos os itabaianenses, foi uma junção de forças que levaram a uma decisão do nosso Presidente Lula em transformar a Serra de Itabaiana num Parque Nacional, graças a Deus que nós conseguimos, com muita luta, nós conquistamos esse sonho. [...] Na outra superintendência, demonstrou que era muito difícil [...] quase impossível, que era um sonho que não tinha como se realizar e aí Márcio chegou. Márcio então, que determinou, montou na equipe dele, convidou Marleno e Val, para uma reunião, nós participamos dessa reunião e nessa reunião se pensou, em toda, montagem de um projeto para levar para Brasília para que fosse analisado lá e esse projeto foi analisado, foi
83 MORALES, S. P. D. Conflitos ambientais em Unidades de Conservação: uma abordagem sobre as relações de poder no Parque Nacional Serra de Itabaiana/SE, Brasil, 2011.
aprovado e o presidente Lula fez a transformação em Parque Nacional (Ator Social MENDONÇA, 2010).
Durante a entrevista realizada com os atores sociais envolvidos na criação
do PARNASI verificou que um agente possuía consciência de sua posição dentro do
campo de forças, atrelando a implantação do parque a um processo decisório que
teria vindo de cima para baixo. Além disso, afirmava que o processo da
institucionalização do PARNASI teria sido marcado por interesses político-
partidários.
Foi uma coisa que veio de cima para baixo. O pessoal fez uma demarcação da área anterior ao decreto, fizeram o projeto, encaminharam e foi promulgado o decreto. [...] Nós marcamos uma reunião com o governador da época e ele disse abertamente que não podia fazer nada porque era órgão federal, e pelo contrário, se ele se metesse ficaria pior. [...] Vi que era uma questão política, briga política. A opinião que um tinha o outro era contrário. Lógico que o governador ficou ao nosso favor achou também que era um absurdo a extensão do parque, até algumas pessoas do IBAMA acharam que era demasiado, mas já estava criado, demarcado. [...] as resoluções das questões ambientais se resolvem com muita dificuldade, porque as políticas públicas são mais políticas partidárias, que se sobrepõem às políticas públicas de um modo geral (Ator Social SANTOS, 2010).
De acordo com Augusto César Santos, as informações sobre a criação do
Parque teriam chegado por intermédio de um colega dono de cerâmica. Após, a
notícia de criação relatou que teria procurado o IBAMA:
Nós procuramos o IBAMA na época, onde o superintendente era Márcio Macedo, que disse que o parque já estava criado e que a gente não se preocupasse porque haveria o plano de manejo e que seria implantado em cinco anos, inclusive, já acabou os cinco anos e o plano de manejo não foi implantado e, quem estivesse dentro do parque iria sair e seria indenizado. Quem estava ao redor do parque teria de se adequar ao plano de manejo, que não existe, não foi implantado. Então, não anda e nem desanda.
Além de Augusto César, a pesquisa ouviu mais uma pessoa, o gerente de
uma cerâmica no povoado Rio das Pedras em Itabaiana. No relato, destaca-se a
falta de diálogo no processo de criação por parte do poder local e órgãos ambientais.
[...] eu nunca participei de nenhuma reunião, nenhuma discussão. [...] Acredito que isso tenha sido uma discussão entre as entidades de meio ambiente do Estado, a própria ADEMA, com o IBAMA, para a criação desse parque que só veio beneficiar (Ator Social SILVA, 2010).
Cabe registrar, ainda, que a pesquisa tentou localizar representantes de
Ong’s que estivessem inseridos no processo de criação do Parque Nacional Serra
84 MORALES, S. P. D. Conflitos ambientais em Unidades de Conservação: uma abordagem sobre as relações de poder no Parque Nacional Serra de Itabaiana/SE, Brasil, 2011.
de Itabaiana, mas não obteve êxito quanto a isso. Mesmo, assim pôde registrar sua
participação, através das pesquisas em jornais.
Ressalta-se que todos os entrevistados afirmaram que o Parque Nacional
Serra de Itabaiana foi a melhor resolução para a preservação e conservação daquele
ecossistema.
Somente foram questionadas a forma através da qual o processo de criação
foi conduzido; o envolvimento de brigas políticas nas resoluções de políticas públicas
ambientais no Estado; a extensão do Parque Nacional; e a consolidação do parque,
através do plano de manejo.
6.1 A INSTITUCIONALIZAÇÃO DO PARNASI NA ÓTICA DOS ATORES SOCIAIS
Para melhor contextualizar o momento da institucionalização do Parque
Nacional Serra de Itabaiana foi considerada nesta parte da dissertação a percepção
dos atores sociais envolvidos diretamente neste processo.
Assim, os primeiros atores sociais que relataram suas percepções foram os
analistas ambientais do IBAMA, Marleno Costa e Valdineide Barbosa de Santana.
De acordo com eles o Parque Nacional foi institucionalizado de forma pacífica e
democrática. Para eles, o Parque Nacional ocorreu, exatamente, como determina o
Sistema Nacional de Unidade de Conservação (SNUC). E a decisão da categoria de
Parque Nacional teria sido respaldada nos estudos técnicos da biota, do meio físico
e do meio socioeconômico e da percepção dos moradores e dos diversos usuários
da Serra sobre a proposta de consolidação da Unidade de Conservação.
[...] o que prevaleceu na decisão da mudança de Estação Ecológica para o Parque Nacional foram as características, a vocação e a especificidade da área ao longo do tempo, inclusive, por isso que a vocação da área, especialmente da Serra de Itabaiana, ela é de uso público, existe uma demanda muito grande de pessoas que buscam a área para diversas atividades na área de pesquisa de educação ambiental [...] então a criação de uma Unidade de Conservação mais restrita do que a estação ecológica inviabilizaria esta possibilidade de uso com a finalidade como estudo, lazer e turismo. Então, a mudança de categoria esteve diretamente associada à necessidade de criar uma Unidade de Conservação que permitisse além dos objetivos principais que é de proteção e conservação dos ecossistemas do lugar, agregar a possibilidade de uso com outras finalidades como lazer e turismo (Ator Social COSTA, 2010).
85 MORALES, S. P. D. Conflitos ambientais em Unidades de Conservação: uma abordagem sobre as relações de poder no Parque Nacional Serra de Itabaiana/SE, Brasil, 2011.
O estudo da biota foi realizado pela Universidade Federal de Sergipe, com o prof. Adauto Ribeiro e prof. Celso Morato [...] na parte sócio-econômica a profª Laura Jane deu sua contribuição. Depois disso, de tudo pronto, foi à Brasília e marcou-se a consulta pública. Na consulta a gente apresentou a proposta e recebeu as sugestões. Nessas sugestões, uma coisa que é interessante lembrar é que na proposta de criação da unidade, o seu polígono foi ampliado, [...] estava previsto no estudo a incorporação da Serra de Itabaiana e Serra Comprida, no parque e na consulta pública, foi sugerido pelo Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Sergipe, incorporar as nascentes do rio Poxim que estão na serra do Cajueiro [...] (Ator Social SANTANA, 2010).
De acordo com Marleno Costa, a área já possuía predisposição para que
fosse criada uma Unidade de Conservação:
A área já é conhecida com essa predisposição de criação de Unidade de Conservação porque o projeto inicial é de 1983 a 1989, um projeto iniciado pela antiga SEMA que era a Secretaria de Meio Ambiente do Estado. Então, o projeto de criação de uma Unidade de Conservação na área é bastante antigo. De lá até a criação do parque são 25 anos. Durante 25 anos o governo do Estado e depois o IBAMA, a partir de 90, já trabalhavam na área com essa perspectiva de criar uma Unidade de Conservação, então isso já acontecia.
Para os analistas, a criação do Parque Nacional foi a concretização de um
projeto inicial de muitos anos. O processo de institucionalização não foi para eles
uma decisão imposta, vinda de Brasília, mas construída com a participação de todos
os envolvidos para levantar alternativas:
[...] o parque foi uma proposta construída, tendo a participação das pessoas para chegar a essa alternativa, não foi uma proposta que veio de Brasília, não foi uma coisa de cima para baixo [...] Nós trabalhamos bastante com o SNUC para facilitar a escolha da categoria que seria mais adequada para aquela realidade. Eu acho que demos a oportunidade para que as pessoas pudessem dar as suas sugestões, apontassem uma sugestão para aquela realidade. [...] Nesse processo de criação, o IBAMA foi fundamental (Ator Social SANTANA, 2010).
Sobre a força decisória na implantação do Parque Nacional em Itabaiana, a
analista atribuiu a soma dos diversos atores sociais entre representantes do poder
local, do órgão do Estado, da universidade e da comunidade local:
O IBAMA; o Ministério do Meio Ambiente; as duas prefeituras de Areia Branca e de Itabaiana foram decisivas, pois fizeram uma aliança para apoiar a criação do parque; a câmara de vereadores dos 2 municípios e as associações comunitárias de lá da região da Serra. E na parte técnica e científica foi fundamental a participação da universidade Federal de Sergipe, sem a universidade o processo não teria sido tão ágil, o estudo não teria sido daquela forma utilizando só recursos públicos, nós não pagamos para uma empresa fazer o estudo, então foi feito mesmo com o
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potencial que nós temos em Sergipe, com a disponibilidade dos nossos pesquisadores, com a participação dos alunos (Ator Social SANTANA, 2010).
Para os agentes a relação que mantiveram com a comunidade foi harmônica
e democrática, firmada no respeito. Tal relação lhes conferiu receber ajuda de vários
setores.
Durante os relatos orais dos analistas ambientais uma esfera em particular
bastante citada no processo de implantação foi a acadêmica. Para eles a
participação da universidade foi fundamental, uma vez que seus estudos
possibilitaram que a categoria da Unidade de Conservação fosse escolhida como
Parque Nacional.
A universidade foi representada pelo relato oral da professora e
pesquisadora, Laura Jane Gomes, que participou na época do processo de criação
do PARNASI. De acordo com a pesquisadora, a universidade participou do processo
como promotora de pesquisas científicas realizadas na região. Assim, como os
analistas ambientais, a pesquisadora, enquanto representante da universidade,
acredita que a criação do parque deveria de fato ocorrer, uma vez que estudos
técnicos demonstraram a necessidade de uma categoria de Unidade de
Conservação que inserisse a comunidade na realidade da Serra de Itabaiana.
Contudo, aparece em seu relato oral forte descontentamento com os rumos que o
Parque Nacional Serra de Itabaiana tomou.
Acreditei na categoria de Parque Nacional, pois este modelo geraria menos conflitos devido às ocupações que lá existiam, mas em nada adianta criar sem gerenciar. Em minha opinião o Parque Nacional Serra de Itabaiana não possui um gerenciamento eficiente e eficaz. O parque está abandonado. Para mim é melhor não criar do que deixar abandonado (Ator Social GOMES, 2010).
A professora e pesquisadora avalia negativamente a política de criação de
Unidade de Conservação no Estado sem gerenciamento.
Bom, hoje, a atuação para criação de Unidades de Conservação está mais ampla, mas considero que estão criando muita unidade em áreas que,em minha opinião, não é prioritária para conservação. E outros são louváveis, mas ainda que o critério político tenha sido superior ao critério ambiental. Tem mais áreas importantes em Sergipe que deveria ter virado Unidade de Conservação, como a Serra da Miaba do que a Mata do Junco. Então, eu vejo que a atuação é mais política. Não existe um critério técnico ecológico que levasse de fato se está ou não conservando a biodiversidade. Daí alguns técnicos acabam agindo assim: “Ah, então se é assim vamos criar Unidades de Conservação onde o político quer e não onde deveria ser,
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mas pelo menos estamos criando uma Unidade de Conservação”. Eu não concordo com isso. Acho que deveria ter uma discussão mais profunda para de fato criar uma Unidade de Conservação em Sergipe (Ator social, GOMES, 2010).
Apesar de olhar de maneira mais critica a política de criação de Unidades de
Conservação, a pesquisadora acredita que a implantação do parque foi importante,
contudo, sua consolidação ainda não está efetivada por falta de gerenciamento e
interesse político.
Em relação à falta de consolidação, Maria Mendonça, prefeita de Itabaiana
durante o processo de institucionalização do parque, confirma a declaração da
pesquisadora quanto à falta de efetivação, mas se absteve de atribuir a
responsabilidade pela atual situação da Unidade de Conservação:
O que eu acho é o que já ouvi dos superintendentes, que ouvi dos técnicos, que isso é um processo lento e gradativo e que não é num piscar de olhos que vai se obter todo esse resultado, mas gradativamente. Eu acho até que para as nossas futuras gerações isso é muito importante. Foi dado o primeiro passo e agora estão num processo de encaminhamento do processo de cada área. [...] Todas aquelas pessoas que residem ali, são proprietários ali no entorno, elas têm aquilo ali como a vida delas, ali construíram família e não é assim de repente que se pode dizer vá embora, não pode ser assim [...] Então, por conta disso, essas indenizações é um processo muito demorado, porque é um montante de recursos muito alto, mas o presidente autorizou isso, agora todo processo tem ser concluído. Eu não sei, hoje, ao certo, como se encontra. Soube que estava encontrando uma série de barreiras, mas isso vai acontecer, eu não tenho dúvidas (Ator Social MENDONÇA, 2010).
A prefeita e hoje deputada Estadual, quando questionada sobre sua
participação para essa consolidação informou que não lhe cabia resolver, já que sua
função no parque teria se encerrado.
Hoje ela não pertence mais a gente, transformou-se em Parque, agora são os meios legais, os donos dos terrenos com o IBAMA, e o IBAMA com o órgão Federal, que vai dar todo um suporte (Ator Social MENDONÇA, 2010).
Na posição de representante do poder local, relatou que a criação do parque
foi importante para todos no município.
O Parque foi um sonho de todos os itabaianenses. Foi uma junção de forças que levaram a uma decisão do nosso presidente Lula em transformar a Serra de Itabaiana num Parque Nacional. Graças a Deus, que nós conseguimos, com muita luta, nós conquistamos esse sonho. Eu
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acho que a Serra transformada em Parque Nacional, ela vai ser muito mais bem cuidada do que como estava. Até que todos sejam indenizados e que este processo passe, não acontece num toque de mágica, mas eu tenho certeza que só o decreto de transformação do Parque Nacional já mudou muita coisa e isso é muito bom, muito importante, o nosso ambiente preservado, nós vamos ter o nosso oxigênio, toda a nossa condição de qualidade de vida na nossa área (Ator Social MENDONÇA, 2010).
Apesar do processo de institucionalização do PARNASI não ter sido
consolidado, o líder comunitário do Rio das Pedras, o “Seu Nissinho”, diz só ver
pontos positivos:
Não vejo nenhum ponto negativo. O Parque Nacional é muito importante, primeiro para preservar nosso meio ambiente que estava se acabando. Tinha um passeio todos os anos, muita gente vai e ainda sobe a serra no dia 1 de novembro e muita gente tocava fogo quando descia e biritava no retorno, tocando fogo na vegetação. A maior parte da vegetação estava seca, tinha mais mata na nascente de rio e aí destruía e hoje não está acontecendo isso (Ator Social MESQUITA, 2010).
Apesar de declarar que não houve ponto negativo, nota-se outra perspectiva
quando o entrevistado é questionado se houve mudança efetiva com o Parque
Nacional. “Para mim não houve mudança não, ficou do mesmo jeito, porque não veio
o que eles disseram que vinha que é o plano de manejo” (Ator Social MESQUITA,
2010).
Ainda quando questionado sobre qual representação prevaleceu no
processo decisório da implantação do parque, Verenilson Mesquita atribuiu ao
governo Federal, por meio do IBAMA: “acho que ao pessoal do governo Federal. O
IBAMA achou que devia preservar. A preservação não só da Serra, mas inclui
também a Serra Comprida, Serra da Miaba e tem outra serra [...].
Outros atores entrevistados nesta etapa da pesquisa foram: Augusto César
Santos, representante de cerâmica e olarias, e o gerente administrativo da cerâmica
Santo Antônio (Noel), Luiz Carlos Silva.
Com base nas respostas cedidas à pesquisa pelos atores sociais que
trabalham no ramo da cerâmica, percebe-se um nível de conhecimento mais
aprofundado nas questões ambientais e nas políticas públicas ambientais, que o
líder comunitário do Rio das Pedras, Verenilson Mesquita, devido ao capital escolar
e cultural que eles acumularam em sua trajetória de vida. Ainda, estes dois
entrevistados compartilham de opiniões semelhantes quanto ao processo de
89 MORALES, S. P. D. Conflitos ambientais em Unidades de Conservação: uma abordagem sobre as relações de poder no Parque Nacional Serra de Itabaiana/SE, Brasil, 2011.
institucionalização do PARNASI.
Para eles, não houve discussão com a comunidade, nem tampouco
mudança significativa para a região com a criação do PARNASI:
Faltou discutir com a comunidade e dizer o que seria o parque. As pessoas ficaram no inicio com temor, na realidade não sabiam e não sabem. Não implantou o manejo e está correndo tudo do jeito que era antes. Não mudou nada, as pessoas ainda continuam entrando na reserva e acampando, fazendo fogueira, cortando árvores, matando animais, provocando incêndio. Se implantado realmente o plano de manejo muitas atividades vão ter de se adequar. Não será só a nossa (Ator Social SANTOS, 2010).
O ceramista atribuiu a falta de consolidação às ambições ambientalistas:
Na realidade eu acho que houve uma ambição grande dos ambientalistas de criar um parque grande demais. Não tem recursos e não indenizou ninguém e também todo mundo continua no mesmo lugar, todo mundo está do mesmo jeito. Está como se nada existisse (Ator Social SANTOS, 2010).
Nesta parte da pesquisa observou-se que a criação do Parque Nacional
Serra de Itabaiana foi compreendido por todos os atores sociais entrevistados como
necessário não somente para o meio ambiente, mas para a comunidade local.
Contudo, percebe-se um descontentamento referente à condução do
processo de discussão, especificamente, pelos representantes ceramistas, e quanto
à consolidação do parque pelos pesquisadores, ceramistas e moradores.
6.2 DOS BENS SIMBÓLICOS AO DISCURSO HEGEMÔNICO
A discussão que se fará neste item sobre o campo político pretende analisar
as produções de ideologias política nas representações do discurso fazendo um
paralelo com as práticas do campo socioambiental ao qual a institucionalização do
PARNASI esteve envolvida e saber quais as posições definidas pela distribuição de
poderes ou espécies de capital dentro deste campo socioambiental. A importância
deste capítulo está no entender que o discurso político é uma expressão que ocorre
entre os agentes dentro do campo político ou campo de lutas.
Todo campo político é formado por agentes detentores de poder, de uma
ideologia e de uma crença. De acordo com Bourdieu (1997) o homem político tende
90 MORALES, S. P. D. Conflitos ambientais em Unidades de Conservação: uma abordagem sobre as relações de poder no Parque Nacional Serra de Itabaiana/SE, Brasil, 2011.
a ser levado a investir no jogo por um interesse motivador chamado de illusion.Neste
sentido Silva (2005) coloca que quando o político luta por alguma causa o faz pelo
poder ou com o poder. Ainda segundo ele é por meio da ideologia que os homens
constroem escolas, hospitais, mas também realizam atrocidades. Para Silva (2005) a
mesma ideologia que constrói é a mesma que desconstrói. Inevitavelmente, a
ideologia toma parte nas discussões sobre o campo político.
A ideologia e suas formas de reprodução devem ser entendidas aqui pela
visão de Bourdieu como “sistemas ideológicos”, “sistemas simbólicos”,
“representações do mundo social”, “visões de mundo”, “discursos”; “história
reificada”, deixando de lado as noções defendidas por Tracy ou Napoleão (SILVA,
2005).
Silva (2005) coloca que Bourdieu em sua noção de ideologia adota duas
singularidades, a das ideias e a das representações, interiorizadas na noção de
habitus. Este habitus funcionaria como uma mediação entre estrutura e prática. Silva
(2005) acrescenta que segundo o sociólogo Bourdieu os habitus possibilitariam a
elaboração de estratégias pelos atores sociais. Para Bourdieu (SILVA, 2005) o
habitus é o produto de toda experiência biográfica.
Assim, considerando que a produção ideológica para Bourdieu relaciona-se
a ideia e representação e que estas são construídas dentro da noção de habitus e
este por sua vez é produto da trajetória social dos agentes dentro de determinado
campo, pode-se dizer que os discursos que prevaleceram na institucionalização do
PARNASI foram orientados pelas ações dos indivíduos ao longo de suas
experiências biográficas. O discurso político enquanto ideologia seria a história
acumulada ao longo dos anos nas coisas (SILVA, 2005).
Aos indivíduos as experiências lhe rendem saber, pensar e agir dentro do
jogo, possibilitando prever as jogadas. As ações mobilizatórias poderiam ser
entendidas como mecanismos estratégicos de convencimento para adesão a
determinada ideologia.
Acredita-se que percorrendo a linha de pensamento de que o discurso
enquanto ideologia representa a visão de mundo do agente é possível entender as
representações políticas do PARNASI e os discursos que ali prevaleceram.
91 MORALES, S. P. D. Conflitos ambientais em Unidades de Conservação: uma abordagem sobre as relações de poder no Parque Nacional Serra de Itabaiana/SE, Brasil, 2011.
Assim, esta parte do trabalho seguiu os conceitos fundamentais de
Bourdieue outros autores, sempre intercalando com os depoimentos dos
entrevistados e citações dos jornais. Primeiramente, é preciso fazer conhecer as
formas de atuação política. De acordo com Reis (2008, p.1), existem três tipos de
atuação:
[...] no que diz respeito às formas de atuação, destacam-se os tipos de intervenção “propriamente política”, quer dizer aquelas que são reconhecidamente conduzidas por dirigentes políticos e segundo as lógicas do espaço de concorrência política; as intervenções como forma de mobilização coletiva, ou seja, aquelas utilizadas por movimentos sociais, categoriais, contestatórios, sindicais e organizações variadas etc. com vistas a modificar um determinado estado de coisas; e uma modalidade de intervenção que se desenvolve a princípio distante do jogo político direto e é relacionada à formulação de interpretação sobre a “realidade” e, sempre que possível, à prescrição de alternativas para o seu “aprimoramento”.
Neste sentido, a institucionalização do Parque Nacional Serra de Itabaiana
deve ser compreendido como uma forma de atuação política. A política ambiental de
implementação de Unidades de Conservação é o resultado das intervenções
políticas. Sabe-se que todo campo político possui lutas simbólicas, posições distintas
e interesses distintos. Toda ação política requer o domínio da articulação política,
seja pela legitimidade das redes sociais, competência técnica ou por um prestígio já
conquistado nas lutas simbólicas.
A criação do Parque Nacional Serra de Itabaiana só foi possível mediante
uma forte articulação político-partidária. O empenho de instituições detentoras do
saber por si só não levariam a concretizar a mudança de escolha de Estação
Ecológica para Parque Nacional, mas o interesse político-partidário em conquistar
esta mudança sim foi decisivo para aquela realidade. Através da fala da analista
ambiental do IBAMA, Valdineide Barbosa de Santana é possível sentir a força da
ação política no quesito concretizar:
Você tem que ter capacidade técnica, poder de liderança, recursos financeiros, participação da sociedade e saber aplicar bem os procedimentos da legislação. Você tem que trabalhar com todos esses aspectos, mas nem sempre só ter conhecimento técnico vai garantir que você faça uma boa gestão na área de meio ambiente. É preciso ter todo esse aparato e ter também uma articulação política. Então às vezes a gente não consegue somente com o suporte técnico, é preciso ter uma articulação política, daí entra também a política institucional e interinstitucional para que essas políticas públicas entrem em atividade (Ator Social SANTANA, 2010).
92 MORALES, S. P. D. Conflitos ambientais em Unidades de Conservação: uma abordagem sobre as relações de poder no Parque Nacional Serra de Itabaiana/SE, Brasil, 2011.
Os agentes político-partidários motivados por um interesse procuraram fazer
com que estes fossem realizados usando de recursos sociais e simbólicos. Na
publicação jornalística do Jornal da Cidade de 24 de novembro de 2004, nº 9.720, p.
A, a então prefeita de Itabaiana, Maria Mendonça utiliza do seu recurso social e
simbólico para mobilizar políticos para junto com ela lutarem pela criação do Parque
Nacional Serra de Itabaiana:
Em discurso na tribuna da Assembléia a deputada estadual Maria Mendonça pediu que o prefeito de Aracaju, Marcelo Déda (PT), agende uma audiência com o presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para assinar o decreto que transforma a Serra de Itabaiana em Parque Nacional (PARQUE I; PARQUE II, 2004, p. A).
Sobre o discurso proferido por Maria Mendonça, segundo Bourdieu este só
foi legitimado, pois os ouvintes levaram em consideração o prestígio social de quem
estava reproduzindo-o. Assim, se fosse um agente de outra esfera este correria o
risco de não ser legitimado.
O que faz o poder das palavras e das palavras de ordem, poder de manter a ordem ou de subverter, é a crença na legitimidade das palavras e daquele que as pronuncia, crença cuja produção não é da competência das palavras (BOURDIEU, 2007b, p. 15).
O discurso político para a criação do Parque Nacional Serra de Itabaiana foi
hegemônico devido ao efeito da “autoridade simbólica enquanto poder socialmente
reconhecido de impor uma certa visão do mundo social, ou seja, das divisões do
mundo social” (BOURDIEU, 1998, p. 82).
A linguagem autorizada dos agentes político-partidários do PARNASI não foi
legitimada somente pelo poder das palavras, mas pelo poder de quem a
pronunciava. O agente que é legitimado possui um volume global de capital, dentre
eles o simbólico, que o distingue dos demais. Assim, o porta-voz autorizado no
contexto da criação do PARNASI, pode ser representado por um agente superior aos
outros agentes, mesmo que tenham participado das articulações político-partidárias
de implementação de Unidades de Conservação. O perfil desse porta-voz é
confirmado por Pierre Bourdieu (1998, p.89):
O porta-voz autorizado consegue agir com palavras em relação a outros agentes e, por meio de seu trabalho, agir sobre as próprias coisas, na medida em que sua fala concentra o capital simbólico acumulado pelo grupo que lhe conferiu o mandato e do qual ele é, por assim dizer, o procurador.
93 MORALES, S. P. D. Conflitos ambientais em Unidades de Conservação: uma abordagem sobre as relações de poder no Parque Nacional Serra de Itabaiana/SE, Brasil, 2011.
Neste sentido, pode-se entender que o discurso hegemônico, ou seja, que
prevaleceu na criação do PARNASI esteve na figura do superintendente do IBAMA,
Márcio Macedo, sendo representado como o porta-voz autorizado mediante ao
reconhecimento dos agentes inseridos no campo socioambiental do PARNASI.
“Marcio foi uma figura determinante. Ele, com toda determinação se dispôs a nos
ajudar [...]” (Ator social MENDONÇA, 2010).
Assim, entende-se nesta análise sobre o discurso que sua propriedade está
na criação do PARNASI; a propriedade de quem pronuncia é representada por
Márcio Macedo e a instituição que o autoriza a pronunciá-lo é o IBAMA.
Bourdieu (1998) ainda coloca que a autoridade do discurso reside não na
compreensão deste, mas no seu reconhecimento e isto dependerá de sua eficácia
simbólica:
A eficácia simbólica das palavras se exerce apenas na medida em que a pessoa-alvo reconhece quem a exerce como podendo exercê-la de direito, ou então, o que dá no mesmo, quando se esquece de si mesma ou se ignora, sujeitando-se a tal eficácia, como se estivesse contribuindo para fundá-la por conta do reconhecimento que lhe concede (BOURDIEU, 1998, p. 95).
O discurso legítimo apesar de estar exercendo sua influência sobre a
pessoa-alvo mostra-se como se não estivesse ali. Dessa forma, tem-se a dominação
e reconhecimento da linguagem discursiva por quem a ouve (BOURDIEU, 1998).
A criação do parque, segundo Macedo, é fruto do esforço da nova gestão do IBAMA, que com as suas insistentes investidas conquistou a vitória 26 anos depois que esse projeto foi encaminhado a Brasília. O gerente do IBAMA destacou a importância do apoio recebido pelos prefeitos Maria Mendonça, de Itabaiana, e Ascendino Souza, de Areia Branca (CRIADO..., 2005, A-6).
Assim, o discurso por vezes oculta seus reais interesses, tomando uma
causa para justificar outra.
O gerente executivo do IBAMA em Sergipe, Márcio Macedo, explicou que a categoria Estação Ecológica não seria ideal para a Serra, porque as chamadas ESEC são Unidades de Conservação fechadas à visitação pública, voltadas exclusivamente à pesquisa científica. Já o Parque Nacional prevê a concretização do ecoturismo, desde que respeitadas as exigências em prol da preservação dos recursos naturais. Diante desse argumento, é lógico que a proposta foi aceita (PARQUE NACIONAL I; PARQUE NACIONAL II; PARQUE NACIONAL III, 2004, p. C-4).
94 MORALES, S. P. D. Conflitos ambientais em Unidades de Conservação: uma abordagem sobre as relações de poder no Parque Nacional Serra de Itabaiana/SE, Brasil, 2011.
No caso da criação do Parque Nacional Serra de Itabaiana o discurso
legitimado possuía um interesse político-partidário, mas foi entendido como um
discurso ambientalista, sendo aceito pelos participantes:
É um sonho dos sergipanos que se concretizou, mostrando o empenho do presidente Lula, que tem um carinho todo especial por Sergipe (Marcio Macedo, CRIADO..., 2005, p. A-6).
O projeto original foi encaminhado ao governo federal em 1979 e somente agora, no governo do presidente Lula, obteve a aprovação, uma iniciativa que vai nos garantir a preservação da flora e fauna e das nascentes de rios como o Jacarecica, Poxim e Cotinguiba, entre outros pequenos riachos. [...] O presidente, cinco dias após receber o projeto, o assinou e publicou (Marcio Macedo, CRIADO..., 2005, p. A-6).
Dessa forma, o discurso que prevaleceu na criação do PARNASI foi
duplamente magistral, pois foi professado no tom de evidência e esteve relacionado
à autoridade universitária e política respaldada no volume de capital global, uma vez
que Marcio Macedo possuía a retórica de ambientalista da linha do desenvolvimento
sustentável e de militante petista.
CAPÍTULO 7:
CONSIDERAÇÕES FINAIS
96 MORALES, S. P. D. Conflitos ambientais em Unidades de Conservação: uma abordagem sobre as relações de poder no Parque Nacional Serra de Itabaiana/SE, Brasil, 2011.
7 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A institucionalização do Parque Nacional Serra de Itabaiana foi resultado de
uma articulação política. Sua força interventora recai sobre um grupo de agentes que
conquistaram suas posições em diversos meios sociais pela acumulação e ativação
dos recursos militantes e intelectuais indissociáveis. Entende-se que a Serra de
Itabaiana foi marcada por lutas, interesses político-partidários e falta de engajamento
e participação política da população local.
Tendo em vista tamanha complexidade e necessidade daquele espaço
social ser compreendido, o presente estudo de forma pioneira pôde reconstruir nos
moldes das relações de poder o momento da institucionalização do Parque Nacional
Serra de Itabaiana e as representações e discursos que prevaleceram na
implantação da Unidade de Conservação naquela região.
Para isso, a pesquisa adotou o caráter subjetivo das ciências humanas e
sociais ao ampliar suas análises acerca da temática, construindo suas reflexões no
estudo da prática e representação social, e traçando um paralelo entre a
problemática ambiental, a ação política e as relações de poder existentes nos
conflitos socioambientais.
Assim, a pesquisa embasou suas análises nas bibliografias sobre a lógica do
desenvolvimento sustentável, as reproduções e práticas da sociedade industrial,
políticas públicas ambientais, reservando para o entendimento dos conflitos
ambientais em Unidades de Conservação a ótica do campo de força, tomando os
estudos bourdieunianos da estrutura de campo, habitus, poder e capital.
Através de uma abordagem sociológica da prática, da reflexão, da
dominação e da representação social, do sociólogo francês, Pierre Bourdieu, discutiu
o espaço social e sua composição de grupos e competição simbólica pelas formas
de dominação. Já a pesquisa documental em jornais possibilitou revelar os
interesses e as bases discursivas em que a criação foi alicerçada. Os atores sociais
tiveram voz na pesquisa, por meio dos recortes em jornais, onde seus depoimentos
concedidos à imprensa local levaram a constatar suas posições frente ao campo de
disputa.
97 MORALES, S. P. D. Conflitos ambientais em Unidades de Conservação: uma abordagem sobre as relações de poder no Parque Nacional Serra de Itabaiana/SE, Brasil, 2011.
É necessário considerar que se os jornais levaram a conhecer os atores
sociais envolvidos na criação do PARNASI e o contexto ao qual estavam inseridos,
os relatos orais concedidos por eles à pesquisa, possibilitaram traçar perfis através
das trajetórias militantes. Ainda, suas visões de mundo direcionaram a descoberta de
interesses passados - implantação de um parque -; interesses presentes -
implementação de plano de manejo - e interesses futuros - ganhos para o meio
ambiente, município de Itabaiana e comunidade local.
Quanto aos objetivos e questionamentos desta pesquisa a análise dos dados
possibilitou concluir que as relações de poder presentes na criação do PARNASI
moveram-se pelas lutas simbólicas travadas dentro do campo entre duas classes
distintas de jogadores dominantes e dominados por um bem comum. A pesquisa
ainda verificou que o indivíduo politizado se articula melhor e em diferentes esferas
de atuação. Dessa forma, os agentes do poder local e órgão ambiental do IBAMA/SE
possuíram maior capacidade de articulação e intervenção.
Foi possível também constatar que o recurso acumulado utilizado pelos
agentes foi o escolar, militante, social e simbólico. Tal competência técnica foi
verificada por meio da aplicação de questionários observando a origem social,
recursos acumulados, origem de remuneração, profissão, posição na carreira e
escolaridade. Quanto ao discurso que prevaleceu na criação do PARNASI, este não
foi legitimado somente pelo poder das palavras, mas pelo poder de quem o
pronunciou. Assim, o porta-voz autorizado no contexto da criação do PARNASI foi o
superintendente do IBAMA/SE, Márcio Macedo que pelo volume global de capital se
distinguiu dos demais atores sociais.
Com base nos relatos e publicações jornalísticas acerca da criação de UC’s,
o grande problema deste tipo de política ambiental é a ausência de medidas que
possam efetivar e consolidar estas unidades. O Parque Nacional Serra de Itabaiana
pode ser considerado como consequência desse tipo de política pública. Existe por
parte dos governantes o interesse em criar Unidades de Conservação e áreas
protegidas, mas sua consolidação através de planos de manejo ainda não é
prioridade para muitos.
Enfim, o conjunto dessas informações permite-nos entender o Parque
Nacional Serra de Itabaiana/SE como uma iniciativa de política ambiental que
98 MORALES, S. P. D. Conflitos ambientais em Unidades de Conservação: uma abordagem sobre as relações de poder no Parque Nacional Serra de Itabaiana/SE, Brasil, 2011.
possibilitou uma preservação, precária, do seu patrimônio natural, devido às práticas
e usos que continuam a ocorrer, lembrando à antiga Estação Ecológica Serra de
Itabaiana-SE.
Contudo, é somente através dessa mesma política pública ambiental, que
será possível alcançar um equilíbrio entre os diversos atores e suas relações com o
mundo, pela mediação de conflitos, mesmo que se deixe revelar a existência de um
campo burocrático complexo, no qual a exigência é saber jogar o jogo, onde o bom
jogador não somente deve conhecer as jogadas, mas também prevê-las.
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ANEXO A REGISTROS FOTOGRÁFICOS DO ACERVO JORNALÍSTICO REFERENTE AO PARQUE NACIONAL SERRA DE ITABAIANA ENTRE OS ANOS DE 2003-2007.
JORNAL DA CIDADE DATA: 05.06.2004
Foto: Morales (2011)
107 MORALES, S. P. D. Conflitos ambientais em Unidades de Conservação: uma abordagem sobre as relações de poder no Parque Nacional Serra de Itabaiana/SE, Brasil, 2011.
ANEXO A REGISTROS FOTOGRÁFICOS DO ACERVO JORNALÍSTICO REFERENTE AO PARQUE NACIONAL SERRA DE ITABAIANA ENTRE OS ANOS DE 2003-2007.
JORNAL DA CIDADE DATA: 28.10.2004
Foto: Morales (2011)
108 MORALES, S. P. D. Conflitos ambientais em Unidades de Conservação: uma abordagem sobre as relações de poder no Parque Nacional Serra de Itabaiana/SE, Brasil, 2011.
ANEXO A REGISTROS FOTOGRÁFICOS DO ACERVO JORNALÍSTICO REFERENTE AO PARQUE NACIONAL SERRA DE ITABAIANA ENTRE OS ANOS DE 2003-2007.
JORNAL DA CIDADE DATA: 12.11.2004
Foto: Morales (2011)
109 MORALES, S. P. D. Conflitos ambientais em Unidades de Conservação: uma abordagem sobre as relações de poder no Parque Nacional Serra de Itabaiana/SE, Brasil, 2011.
ANEXO A REGISTROS FOTOGRÁFICOS DO ACERVO JORNALÍSTICO REFERENTE AO PARQUE NACIONAL SERRA DE ITABAIANA ENTRE OS ANOS DE 2003-2007.
JORNAL DA CIDADE DATA: 20.11.2004
Foto: Morales (2011)
110 MORALES, S. P. D. Conflitos ambientais em Unidades de Conservação: uma abordagem sobre as relações de poder no Parque Nacional Serra de Itabaiana/SE, Brasil, 2011.
ANEXO A REGISTROS FOTOGRÁFICOS DO ACERVO JORNALÍSTICO REFERENTE AO PARQUE NACIONAL SERRA DE ITABAIANA ENTRE OS ANOS DE 2003-2007.
JORNAL DA CIDADE DATA: 23.11.2004
Foto: Morales (2011)
111 MORALES, S. P. D. Conflitos ambientais em Unidades de Conservação: uma abordagem sobre as relações de poder no Parque Nacional Serra de Itabaiana/SE, Brasil, 2011.
ANEXO A REGISTROS FOTOGRÁFICOS DO ACERVO JORNALÍSTICO REFERENTE AO PARQUE NACIONAL SERRA DE ITABAIANA ENTRE OS ANOS DE 2003-2007.
JORNAL DA CIDADE DATA: 24.11.2004
Foto: Morales (2011)
112 MORALES, S. P. D. Conflitos ambientais em Unidades de Conservação: uma abordagem sobre as relações de poder no Parque Nacional Serra de Itabaiana/SE, Brasil, 2011.
ANEXO A REGISTROS FOTOGRÁFICOS DO ACERVO JORNALÍSTICO REFERENTE AO PARQUE NACIONAL SERRA DE ITABAIANA ENTRE OS ANOS DE 2003-2007.
JORNAL DA CIDADE DATA: 30.11.2004
Foto: Morales (2011)
113 MORALES, S. P. D. Conflitos ambientais em Unidades de Conservação: uma abordagem sobre as relações de poder no Parque Nacional Serra de Itabaiana/SE, Brasil, 2011.
ANEXO A REGISTROS FOTOGRÁFICOS DO ACERVO JORNALÍSTICO REFERENTE AO PARQUE NACIONAL SERRA DE ITABAIANA ENTRE OS ANOS DE 2003-2007.
JORNAL DA CIDADE DATA: 02.03.2005
Foto: Morales (2011)
114 MORALES, S. P. D. Conflitos ambientais em Unidades de Conservação: uma abordagem sobre as relações de poder no Parque Nacional Serra de Itabaiana/SE, Brasil, 2011.
ANEXO A REGISTROS FOTOGRÁFICOS DO ACERVO JORNALÍSTICO REFERENTE AO PARQUE NACIONAL SERRA DE ITABAIANA ENTRE OS ANOS DE 2003-2007.
JORNAL DA CIDADE DATA: 03.03.2005
Foto: Morales (2011)
115 MORALES, S. P. D. Conflitos ambientais em Unidades de Conservação: uma abordagem sobre as relações de poder no Parque Nacional Serra de Itabaiana/SE, Brasil, 2011.
ANEXO A REGISTROS FOTOGRÁFICOS DO ACERVO JORNALÍSTICO REFERENTE AO PARQUE NACIONAL SERRA DE ITABAIANA ENTRE OS ANOS DE 2003-2007.
JORNAL DA CIDADE DATA: 04.03.2005
Foto: Morales (2011)
116 MORALES, S. P. D. Conflitos ambientais em Unidades de Conservação: uma abordagem sobre as relações de poder no Parque Nacional Serra de Itabaiana/SE, Brasil, 2011.
ANEXO A REGISTROS FOTOGRÁFICOS DO ACERVO JORNALÍSTICO REFERENTE AO PARQUE NACIONAL SERRA DE ITABAIANA ENTRE OS ANOS DE 2003-2007.
JORNAL DA CIDADE DATA: 05.03.2005
Foto: Morales (2011)
117 MORALES, S. P. D. Conflitos ambientais em Unidades de Conservação: uma abordagem sobre as relações de poder no Parque Nacional Serra de Itabaiana/SE, Brasil, 2011.
ANEXO A REGISTROS FOTOGRÁFICOS DO ACERVO JORNALÍSTICO REFERENTE AO PARQUE NACIONAL SERRA DE ITABAIANA ENTRE OS ANOS DE 2003-2007.
JORNAL DA CIDADE DATA: 08.03.2005
Foto: Morales (2011)
118 MORALES, S. P. D. Conflitos ambientais em Unidades de Conservação: uma abordagem sobre as relações de poder no Parque Nacional Serra de Itabaiana/SE, Brasil, 2011.
ANEXO A REGISTROS FOTOGRÁFICOS DO ACERVO JORNALÍSTICO REFERENTE AO PARQUE NACIONAL SERRA DE ITABAIANA ENTRE OS ANOS DE 2003-2007.
JORNAL DA CIDADE DATA: 12.03.2005
Foto: Morales (2011)
119 MORALES, S. P. D. Conflitos ambientais em Unidades de Conservação: uma abordagem sobre as relações de poder no Parque Nacional Serra de Itabaiana/SE, Brasil, 2011.
ANEXO A REGISTROS FOTOGRÁFICOS DO ACERVO JORNALÍSTICO REFERENTE AO PARQUE NACIONAL SERRA DE ITABAIANA ENTRE OS ANOS DE 2003-2007.
JORNAL DA CIDADE DATA: 15.03.2005
Foto: Morales (2011)
120 MORALES, S. P. D. Conflitos ambientais em Unidades de Conservação: uma abordagem sobre as relações de poder no Parque Nacional Serra de Itabaiana/SE, Brasil, 2011.
ANEXO A REGISTROS FOTOGRÁFICOS DO ACERVO JORNALÍSTICO REFERENTE AO PARQUE NACIONAL SERRA DE ITABAIANA ENTRE OS ANOS DE 2003-2007.
JORNAL DA CIDADE DATA: 09.04.2005
Foto: Morales (2011)
121 MORALES, S. P. D. Conflitos ambientais em Unidades de Conservação: uma abordagem sobre as relações de poder no Parque Nacional Serra de Itabaiana/SE, Brasil, 2011.
ANEXO A REGISTROS FOTOGRÁFICOS DO ACERVO JORNALÍSTICO REFERENTE AO PARQUE NACIONAL SERRA DE ITABAIANA ENTRE OS ANOS DE 2003-2007.
JORNAL DA CIDADE DATA: 10 e 11.04.2005
Foto: Morales (2011)
122 MORALES, S. P. D. Conflitos ambientais em Unidades de Conservação: uma abordagem sobre as relações de poder no Parque Nacional Serra de Itabaiana/SE, Brasil, 2011.
ANEXO A REGISTROS FOTOGRÁFICOS DO ACERVO JORNALÍSTICO REFERENTE AO PARQUE NACIONAL SERRA DE ITABAIANA ENTRE OS ANOS DE 2003-2007.
JORNAL DA CIDADE DATA: 19.04.2005
Foto: Morales (2011)
123 MORALES, S. P. D. Conflitos ambientais em Unidades de Conservação: uma abordagem sobre as relações de poder no Parque Nacional Serra de Itabaiana/SE, Brasil, 2011.
ANEXO A REGISTROS FOTOGRÁFICOS DO ACERVO JORNALÍSTICO REFERENTE AO PARQUE NACIONAL SERRA DE ITABAIANA ENTRE OS ANOS DE 2003-2007.
JORNAL DA CIDADE DATA: 17.06.2005
Foto: Morales (2011)
124 MORALES, S. P. D. Conflitos ambientais em Unidades de Conservação: uma abordagem sobre as relações de poder no Parque Nacional Serra de Itabaiana/SE, Brasil, 2011.
ANEXO A REGISTROS FOTOGRÁFICOS DO ACERVO JORNALÍSTICO REFERENTE AO PARQUE NACIONAL SERRA DE ITABAIANA ENTRE OS ANOS DE 2003-2007.
JORNAL DA CIDADE DATA: 21.06.2005
Foto: Morales (2011)
125 MORALES, S. P. D. Conflitos ambientais em Unidades de Conservação: uma abordagem sobre as relações de poder no Parque Nacional Serra de Itabaiana/SE, Brasil, 2011.
ANEXO A REGISTROS FOTOGRÁFICOS DO ACERVO JORNALÍSTICO REFERENTE AO PARQUE NACIONAL SERRA DE ITABAIANA ENTRE OS ANOS DE 2003-2007.
JORNAL DA CIDADE DATA: 17 e 18. 07.2005
Foto: Morales (2011)
126 MORALES, S. P. D. Conflitos ambientais em Unidades de Conservação: uma abordagem sobre as relações de poder no Parque Nacional Serra de Itabaiana/SE, Brasil, 2011.
ANEXO A REGISTROS FOTOGRÁFICOS DO ACERVO JORNALÍSTICO REFERENTE AO PARQUE NACIONAL SERRA DE ITABAIANA ENTRE OS ANOS DE 2003-2007.
JORNAL DA CIDADE DATA: 12 e 13. 10.2005
Foto: Morales (2011)
127 MORALES, S. P. D. Conflitos ambientais em Unidades de Conservação: uma abordagem sobre as relações de poder no Parque Nacional Serra de Itabaiana/SE, Brasil, 2011.
ANEXO A REGISTROS FOTOGRÁFICOS DO ACERVO JORNALÍSTICO REFERENTE AO PARQUE NACIONAL SERRA DE ITABAIANA ENTRE OS ANOS DE 2003-2007.
JORNAL DA CIDADE DATA: 14. 10.2005
Foto: Morales (2011)
128 MORALES, S. P. D. Conflitos ambientais em Unidades de Conservação: uma abordagem sobre as relações de poder no Parque Nacional Serra de Itabaiana/SE, Brasil, 2011.
ANEXO A REGISTROS FOTOGRÁFICOS DO ACERVO JORNALÍSTICO REFERENTE AO PARQUE NACIONAL SERRA DE ITABAIANA ENTRE OS ANOS DE 2003-2007.
JORNAL DA CIDADE DATA: 23 e 24. 10.2005
Foto: Morales (2011)
129 MORALES, S. P. D. Conflitos ambientais em Unidades de Conservação: uma abordagem sobre as relações de poder no Parque Nacional Serra de Itabaiana/SE, Brasil, 2011.
ANEXO A REGISTROS FOTOGRÁFICOS DO ACERVO JORNALÍSTICO REFERENTE AO PARQUE NACIONAL SERRA DE ITABAIANA ENTRE OS ANOS DE 2003-2007.
JORNAL DA CIDADE DATA: 11 e 12.12.2005
Foto: Morales (2011)
130 MORALES, S. P. D. Conflitos ambientais em Unidades de Conservação: uma abordagem sobre as relações de poder no Parque Nacional Serra de Itabaiana/SE, Brasil, 2011.
ANEXO A REGISTROS FOTOGRÁFICOS DO ACERVO JORNALÍSTICO REFERENTE AO PARQUE NACIONAL SERRA DE ITABAIANA ENTRE OS ANOS DE 2003-2007.
JORNAL DA CIDADE DATA: 13.12.2005
Foto: Morales (2011)
131 MORALES, S. P. D. Conflitos ambientais em Unidades de Conservação: uma abordagem sobre as relações de poder no Parque Nacional Serra de Itabaiana/SE, Brasil, 2011.
ANEXO A REGISTROS FOTOGRÁFICOS DO ACERVO JORNALÍSTICO REFERENTE AO PARQUE NACIONAL SERRA DE ITABAIANA ENTRE OS ANOS DE 2003-2007.
JORNAL DA CIDADE DATA: 17.12.2005
Foto: Morales (2011)
132 MORALES, S. P. D. Conflitos ambientais em Unidades de Conservação: uma abordagem sobre as relações de poder no Parque Nacional Serra de Itabaiana/SE, Brasil, 2011.
ANEXO A REGISTROS FOTOGRÁFICOS DO ACERVO JORNALÍSTICO REFERENTE AO PARQUE NACIONAL SERRA DE ITABAIANA ENTRE OS ANOS DE 2003-2007.
JORNAL DA CIDADE DATA: 18 e 19.12.2005
Foto: Morales (2011)
133 MORALES, S. P. D. Conflitos ambientais em Unidades de Conservação: uma abordagem sobre as relações de poder no Parque Nacional Serra de Itabaiana/SE, Brasil, 2011.
ANEXO A REGISTROS FOTOGRÁFICOS DO ACERVO JORNALÍSTICO REFERENTE AO PARQUE NACIONAL SERRA DE ITABAIANA ENTRE OS ANOS DE 2003-2007.
JORNAL DA CIDADE DATA: 20.12.2005
Foto: Morales (2011)
134 MORALES, S. P. D. Conflitos ambientais em Unidades de Conservação: uma abordagem sobre as relações de poder no Parque Nacional Serra de Itabaiana/SE, Brasil, 2011.
ANEXO A REGISTROS FOTOGRÁFICOS DO ACERVO JORNALÍSTICO REFERENTE AO PARQUE NACIONAL SERRA DE ITABAIANA ENTRE OS ANOS DE 2003-2007.
JORNAL DA CIDADE DATA: 07.01.2006
Foto: Morales (2011)
135 MORALES, S. P. D. Conflitos ambientais em Unidades de Conservação: uma abordagem sobre as relações de poder no Parque Nacional Serra de Itabaiana/SE, Brasil, 2011.
ANEXO A REGISTROS FOTOGRÁFICOS DO ACERVO JORNALÍSTICO REFERENTE AO PARQUE NACIONAL SERRA DE ITABAIANA ENTRE OS ANOS DE 2003-2007.
JORNAL DA CIDADE DATA: 10.01.2006
Foto: Morales (2011)
136 MORALES, S. P. D. Conflitos ambientais em Unidades de Conservação: uma abordagem sobre as relações de poder no Parque Nacional Serra de Itabaiana/SE, Brasil, 2011.
ANEXO A REGISTROS FOTOGRÁFICOS DO ACERVO JORNALÍSTICO REFERENTE AO PARQUE NACIONAL SERRA DE ITABAIANA ENTRE OS ANOS DE 2003-2007.
JORNAL DA CIDADE DATA: 04.02.2006
Foto: Morales (2011)
137 MORALES, S. P. D. Conflitos ambientais em Unidades de Conservação: uma abordagem sobre as relações de poder no Parque Nacional Serra de Itabaiana/SE, Brasil, 2011.
ANEXO A REGISTROS FOTOGRÁFICOS DO ACERVO JORNALÍSTICO REFERENTE AO PARQUE NACIONAL SERRA DE ITABAIANA ENTRE OS ANOS DE 2003-2007.
JORNAL DA CIDADE DATA: 27.05.2006
Foto: Morales (2011)
138 MORALES, S. P. D. Conflitos ambientais em Unidades de Conservação: uma abordagem sobre as relações de poder no Parque Nacional Serra de Itabaiana/SE, Brasil, 2011.
ANEXO A REGISTROS FOTOGRÁFICOS DO ACERVO JORNALÍSTICO REFERENTE AO PARQUE NACIONAL SERRA DE ITABAIANA ENTRE OS ANOS DE 2003-2007.
JORNAL DA CIDADE DATA: 06.06.2006
Foto: Morales (2011)
139 MORALES, S. P. D. Conflitos ambientais em Unidades de Conservação: uma abordagem sobre as relações de poder no Parque Nacional Serra de Itabaiana/SE, Brasil, 2011.
ANEXO A REGISTROS FOTOGRÁFICOS DO ACERVO JORNALÍSTICO REFERENTE AO PARQUE NACIONAL SERRA DE ITABAIANA ENTRE OS ANOS DE 2003-2007.
JORNAL DA CIDADE DATA: 01.10.2006
Foto: Morales (2011)
140 MORALES, S. P. D. Conflitos ambientais em Unidades de Conservação: uma abordagem sobre as relações de poder no Parque Nacional Serra de Itabaiana/SE, Brasil, 2011.
ANEXO A REGISTROS FOTOGRÁFICOS DO ACERVO JORNALÍSTICO REFERENTE AO PARQUE NACIONAL SERRA DE ITABAIANA ENTRE OS ANOS DE 2003-2007.
JORNAL DA CIDADE DATA: 11.10.2006
Foto: Morales (2011)
141 MORALES, S. P. D. Conflitos ambientais em Unidades de Conservação: uma abordagem sobre as relações de poder no Parque Nacional Serra de Itabaiana/SE, Brasil, 2011.
ANEXO A REGISTROS FOTOGRÁFICOS DO ACERVO JORNALÍSTICO REFERENTE AO PARQUE NACIONAL SERRA DE ITABAIANA ENTRE OS ANOS DE 2003-2007.
JORNAL DA CIDADE DATA: 14.10.2006
Foto: Morales (2011)
142 MORALES, S. P. D. Conflitos ambientais em Unidades de Conservação: uma abordagem sobre as relações de poder no Parque Nacional Serra de Itabaiana/SE, Brasil, 2011.
ANEXO A REGISTROS FOTOGRÁFICOS DO ACERVO JORNALÍSTICO REFERENTE AO PARQUE NACIONAL SERRA DE ITABAIANA ENTRE OS ANOS DE 2003-2007.
JORNAL DA CIDADE DATA: 26.10.2006
Foto: Morales (2011)
143 MORALES, S. P. D. Conflitos ambientais em Unidades de Conservação: uma abordagem sobre as relações de poder no Parque Nacional Serra de Itabaiana/SE, Brasil, 2011.
ANEXO A REGISTROS FOTOGRÁFICOS DO ACERVO JORNALÍSTICO REFERENTE AO PARQUE NACIONAL SERRA DE ITABAIANA ENTRE OS ANOS DE 2003-2007.
JORNAL DA CIDADE DATA: 13.11.2007
Foto: Morales (2011)
144 MORALES, S. P. D. Conflitos ambientais em Unidades de Conservação: uma abordagem sobre as relações de poder no Parque Nacional Serra de Itabaiana/SE, Brasil, 2011.
ANEXO A REGISTROS FOTOGRÁFICOS DO ACERVO JORNALÍSTICO REFERENTE AO PARQUE NACIONAL SERRA DE ITABAIANA ENTRE OS ANOS DE 2003-2007.
JORNAL DA CIDADE DATA: 15.12.2007
Foto: Morales (2011)
145 MORALES, S. P. D. Conflitos ambientais em Unidades de Conservação: uma abordagem sobre as relações de poder no Parque Nacional Serra de Itabaiana/SE, Brasil, 2011.
ANEXO A REGISTROS FOTOGRÁFICOS DO ACERVO JORNALÍSTICO REFERENTE AO PARQUE NACIONAL SERRA DE ITABAIANA ENTRE OS ANOS DE 2003-2007.
CORREIO DE SERGIPE DATA: 09.09.2004
Foto: Morales (2011)
146 MORALES, S. P. D. Conflitos ambientais em Unidades de Conservação: uma abordagem sobre as relações de poder no Parque Nacional Serra de Itabaiana/SE, Brasil, 2011.
ANEXO A REGISTROS FOTOGRÁFICOS DO ACERVO JORNALÍSTICO REFERENTE AO PARQUE NACIONAL SERRA DE ITABAIANA ENTRE OS ANOS DE 2003-2007.
CORREIO DE SERGIPE DATA: 10.11.2004
Foto: Morales (2011)
147 MORALES, S. P. D. Conflitos ambientais em Unidades de Conservação: uma abordagem sobre as relações de poder no Parque Nacional Serra de Itabaiana/SE, Brasil, 2011.
ANEXO A REGISTROS FOTOGRÁFICOS DO ACERVO JORNALÍSTICO REFERENTE AO PARQUE NACIONAL SERRA DE ITABAIANA ENTRE OS ANOS DE 2003-2007.
CORREIO DE SERGIPE DATA: 13.11.2004
Foto: Morales (2011)
148 MORALES, S. P. D. Conflitos ambientais em Unidades de Conservação: uma abordagem sobre as relações de poder no Parque Nacional Serra de Itabaiana/SE, Brasil, 2011.
ANEXO A REGISTROS FOTOGRÁFICOS DO ACERVO JORNALÍSTICO REFERENTE AO PARQUE NACIONAL SERRA DE ITABAIANA ENTRE OS ANOS DE 2003-2007.
CORREIO DE SERGIPE DATA: 02.03.2005
Foto: Morales (2011)
149 MORALES, S. P. D. Conflitos ambientais em Unidades de Conservação: uma abordagem sobre as relações de poder no Parque Nacional Serra de Itabaiana/SE, Brasil, 2011.
ANEXO A REGISTROS FOTOGRÁFICOS DO ACERVO JORNALÍSTICO REFERENTE AO PARQUE NACIONAL SERRA DE ITABAIANA ENTRE OS ANOS DE 2003-2007.
CORREIO DE SERGIPE DATA: 03.03.2005
Foto: Morales (2011)
150 MORALES, S. P. D. Conflitos ambientais em Unidades de Conservação: uma abordagem sobre as relações de poder no Parque Nacional Serra de Itabaiana/SE, Brasil, 2011.
ANEXO A REGISTROS FOTOGRÁFICOS DO ACERVO JORNALÍSTICO REFERENTE AO PARQUE NACIONAL SERRA DE ITABAIANA ENTRE OS ANOS DE 2003-2007.
CORREIO DE SERGIPE DATA: 04.03.2005
Foto: Morales (2011)
151 MORALES, S. P. D. Conflitos ambientais em Unidades de Conservação: uma abordagem sobre as relações de poder no Parque Nacional Serra de Itabaiana/SE, Brasil, 2011.
ANEXO A REGISTROS FOTOGRÁFICOS DO ACERVO JORNALÍSTICO REFERENTE AO PARQUE NACIONAL SERRA DE ITABAIANA ENTRE OS ANOS DE 2003-2007.
CORREIO DE SERGIPE DATA: 09.04.2005
Foto: Morales (2011)
152 MORALES, S. P. D. Conflitos ambientais em Unidades de Conservação: uma abordagem sobre as relações de poder no Parque Nacional Serra de Itabaiana/SE, Brasil, 2011.
ANEXO A REGISTROS FOTOGRÁFICOS DO ACERVO JORNALÍSTICO REFERENTE AO PARQUE NACIONAL SERRA DE ITABAIANA ENTRE OS ANOS DE 2003-2007.
CORREIO DE SERGIPE DATA: 17 e 18.04.2005
Foto: Morales (2011)
153 MORALES, S. P. D. Conflitos ambientais em Unidades de Conservação: uma abordagem sobre as relações de poder no Parque Nacional Serra de Itabaiana/SE, Brasil, 2011.
ANEXO A REGISTROS FOTOGRÁFICOS DO ACERVO JORNALÍSTICO REFERENTE AO PARQUE NACIONAL SERRA DE ITABAIANA ENTRE OS ANOS DE 2003-2007.
CORREIO DE SERGIPE DATA: 19.04.2005
Foto: Morales (2011)
154 MORALES, S. P. D. Conflitos ambientais em Unidades de Conservação: uma abordagem sobre as relações de poder no Parque Nacional Serra de Itabaiana/SE, Brasil, 2011.
ANEXO A REGISTROS FOTOGRÁFICOS DO ACERVO JORNALÍSTICO REFERENTE AO PARQUE NACIONAL SERRA DE ITABAIANA ENTRE OS ANOS DE 2003-2007.
CORREIO DE SERGIPE DATA: 14.05.2005
Foto: Morales (2011)
155 MORALES, S. P. D. Conflitos ambientais em Unidades de Conservação: uma abordagem sobre as relações de poder no Parque Nacional Serra de Itabaiana/SE, Brasil, 2011.
ANEXO A REGISTROS FOTOGRÁFICOS DO ACERVO JORNALÍSTICO REFERENTE AO PARQUE NACIONAL SERRA DE ITABAIANA ENTRE OS ANOS DE 2003-2007.
CORREIO DE SERGIPE DATA: 17.06.2005
Foto: Morales (2011)
156 MORALES, S. P. D. Conflitos ambientais em Unidades de Conservação: uma abordagem sobre as relações de poder no Parque Nacional Serra de Itabaiana/SE, Brasil, 2011.
ANEXO A REGISTROS FOTOGRÁFICOS DO ACERVO JORNALÍSTICO REFERENTE AO PARQUE NACIONAL SERRA DE ITABAIANA ENTRE OS ANOS DE 2003-2007.
CORREIO DE SERGIPE DATA: 10 e 11.07.2005
Foto: Morales (2011)
157 MORALES, S. P. D. Conflitos ambientais em Unidades de Conservação: uma abordagem sobre as relações de poder no Parque Nacional Serra de Itabaiana/SE, Brasil, 2011.
ANEXO A REGISTROS FOTOGRÁFICOS DO ACERVO JORNALÍSTICO REFERENTE AO PARQUE NACIONAL SERRA DE ITABAIANA ENTRE OS ANOS DE 2003-2007.
CORREIO DE SERGIPE DATA: 15.09.2005
Foto: Morales (2011)
158 MORALES, S. P. D. Conflitos ambientais em Unidades de Conservação: uma abordagem sobre as relações de poder no Parque Nacional Serra de Itabaiana/SE, Brasil, 2011.
ANEXO A REGISTROS FOTOGRÁFICOS DO ACERVO JORNALÍSTICO REFERENTE AO PARQUE NACIONAL SERRA DE ITABAIANA ENTRE OS ANOS DE 2003-2007.
CORREIO DE SERGIPE DATA: 16.09.2005
Foto: Morales (2011)
159 MORALES, S. P. D. Conflitos ambientais em Unidades de Conservação: uma abordagem sobre as relações de poder no Parque Nacional Serra de Itabaiana/SE, Brasil, 2011.
ANEXO A REGISTROS FOTOGRÁFICOS DO ACERVO JORNALÍSTICO REFERENTE AO PARQUE NACIONAL SERRA DE ITABAIANA ENTRE OS ANOS DE 2003-2007.
CORREIO DE SERGIPE DATA: 17. 09.2005
Foto: Morales (2011)
160 MORALES, S. P. D. Conflitos ambientais em Unidades de Conservação: uma abordagem sobre as relações de poder no Parque Nacional Serra de Itabaiana/SE, Brasil, 2011.
ANEXO A REGISTROS FOTOGRÁFICOS DO ACERVO JORNALÍSTICO REFERENTE AO PARQUE NACIONAL SERRA DE ITABAIANA ENTRE OS ANOS DE 2003-2007.
CORREIO DE SERGIPE DATA: 02 e 03.10.2005
Foto: Morales (2011)
161 MORALES, S. P. D. Conflitos ambientais em Unidades de Conservação: uma abordagem sobre as relações de poder no Parque Nacional Serra de Itabaiana/SE, Brasil, 2011.
ANEXO A REGISTROS FOTOGRÁFICOS DO ACERVO JORNALÍSTICO REFERENTE AO PARQUE NACIONAL SERRA DE ITABAIANA ENTRE OS ANOS DE 2003-2007.
CORREIO DE SERGIPE DATA: 11 e 12.12.2005
Foto: Morales (2011)
162 MORALES, S. P. D. Conflitos ambientais em Unidades de Conservação: uma abordagem sobre as relações de poder no Parque Nacional Serra de Itabaiana/SE, Brasil, 2011.
ANEXO A REGISTROS FOTOGRÁFICOS DO ACERVO JORNALÍSTICO REFERENTE AO PARQUE NACIONAL SERRA DE ITABAIANA ENTRE OS ANOS DE 2003-2007.
CORREIO DE SERGIPE DATA: 18 e 19.12.2005
Foto: Morales (2011)
163 MORALES, S. P. D. Conflitos ambientais em Unidades de Conservação: uma abordagem sobre as relações de poder no Parque Nacional Serra de Itabaiana/SE, Brasil, 2011.
ANEXO A REGISTROS FOTOGRÁFICOS DO ACERVO JORNALÍSTICO REFERENTE AO PARQUE NACIONAL SERRA DE ITABAIANA ENTRE OS ANOS DE 2003-2007.
CORREIO DE SERGIPE DATA: 07.01.2006
Foto: Morales (2011)
164 MORALES, S. P. D. Conflitos ambientais em Unidades de Conservação: uma abordagem sobre as relações de poder no Parque Nacional Serra de Itabaiana/SE, Brasil, 2011.
ANEXO A REGISTROS FOTOGRÁFICOS DO ACERVO JORNALÍSTICO REFERENTE AO PARQUE NACIONAL SERRA DE ITABAIANA ENTRE OS ANOS DE 2003-2007.
CORREIO DE SERGIPE DATA: 22 e 23.10.2006