ISSN 2176-1396
CONTRIBUIÇÕES DA EQUOTERAPIA PARA O PROCESSO DE
ENSINO E APRENDIZAGEM DOS PRATICANTES COM SINDROME
DE ASPERGER
Bruna Nogueira Pereira1 – UFRRJ
Giovani de Castro Lopes 2 – UFRRJ
Jéssica Barbosa de Figueiredo3 – UFRRJ
Grupo de Trabalho – Diversidade e Inclusão
Agência Financiadora: CAPES
Resumo
A equoterapia é um tratamento terapêutico realizado, através de atividades equestres e de
equitação, por intermédio da interdisciplinaridade da equipe profissional que auxilia no
desenvolvimento dos praticantes, como, por exemplo, pessoas com deficiência ou com
necessidades especiais. Inseridos na equipe multidisciplinar estão os profissionais da
educação, tais como pedagogos que são responsáveis pelas metodologias didáticos
pedagógicas, adequando a faixa etária ou fase escolar da criança, em conjunto com os
professores de educação física que lidam, principalmente com o aspecto psicomotor, a fim de
promover e estimular a consciência corporal, coordenação motora, percepção espaço
temporal, equilíbrio, força e outras habilidades. O objetivo dessa pesquisa foi investigar e
identificar as contribuições da equoterapia, enquanto intervenção terapêutica, no
desenvolvimento do processo de ensino aprendizagem das crianças praticantes com o
Transtorno do Espectro do Autismo (TEA), especialmente a síndrome de Asperger. O
processo metodológico realizado, durante um ano letivo escolar, foi através de uma pesquisa
ação combinado a uma coleta de dados por recurso audiovisuais, questionário para os pais ou
responsáveis e relatórios dos profissionais da equipe do Projeto de Equoterapia da
Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro – UFRRJ, localizado em Seropédica/RJ, que
realizavam a terapia com aproximadamente três crianças, entre cinco a oito anos, que
possuíam a síndrome de Asperger, unido ao colégio dos praticantes, CAIC Paulo Dacorso
Filho. Observa-se, através dos resultados obtidos, que a prática da equoterapia contribui, de
maneira significativa, no desenvolvimento das habilidades motoras e, também, nos aspectos
psicossociais como a autoestima e a autoconfiança a propiciar a interação social e melhorias
na qualidade de vida da criança com síndrome de Asperger. Em evidência, coloca-se o papel
dos profissionais da educação na equipe multidisciplinar pois colabora com iniciativas de
1Graduanda em Educação Física pela UFRRJ, Integrante do GPEFEA- Grupo de Pesquisa em Educação Física e
Esportes Adaptados, Bolsista PIBID/CAPES. E-mail: [email protected] 2Graduando em Educação Física pela UFRRJ, Bolsista PIBID/CAPES.E-mail: [email protected] 3Graduanda em Educação Físca pela UFRRJ, Bolsista PIBID/CAPES. E-mail: [email protected]
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ensino ou reforço da aprendizagem para o aluno, tornando a equoterapia um método
complementar para êxito no processo educacional.
Palavras-chave: Educação. Equipe Multidisciplinar. Equoterapia. Síndrome de Asperger.
Introdução
A Equoterapia é um método terapêutico e educacional que utiliza o cavalo, como um
agente colaborador, dentro de uma abordagem interdisciplinar, nas áreas da equitação, saúde e
educação, a fim de promover o desenvolvimento das pessoas com deficiência ou das pessoas
com necessidades especiais. A Equoterapia é reconhecida pelo conselho Regional de
medicina como uma prática terapêutica pela resolução 348/2008 e é regulamentada pela
ANDE-BRASIL - Associação Nacional de Equoterapia.
A prática equoterápica é citada desde Hipócrates (458 a 377 a.C) que comenta a
prática de atividades equestres traz benefícios para saúde e preservação do corpo humano
contra doenças e para tratamento de distúrbios do sono como, por exemplo, a insônia. Por isso
é recomendada para pessoas com distúrbios motores/ sensoriais, problemas ortopédicos,
problemas de comportamento e distúrbios de aprendizagem, além de síndromes e transtornos
do desenvolvimento. Diante da relevância da prática equoterápica tornou- se propicio
conduzir essa prática para o ambiente escolar, a fim de ser utilizada como método
complementar para auxiliar no processo de aprendizagem dos praticantes de equoterapia.
O presente trabalho possibilita a reflexão sobre a proposta pedagógica que considera
as contribuições da equoterapia, atividade que utiliza o cavalo como agente terapêutico no
contexto biopsicossocial dos praticantes de equoterapia, principalmente no âmbito
educacional para as crianças com deficiência ou com necessidades especiais, a fim de
beneficiar a qualidade de vida dos envolvidos.
A Equoterapia
Histórico e Definição
O uso do cavalo como instrumento terapêutico não é uma descoberta recente, desde
Hipócrates de Ló que aconselhava a equitação para o tratamento da insônia, e
também Asclepíades, da Prúscia (124-40 a.C.), que recomendou o uso do cavalo a
pacientes epilépticos e paralíticos. Galeno (130-199 d.C.) usou a equitação como
forma de fazer com que seus pacientes se decidissem com mais rapidez.
(MARTINEZ, 2005, p.19)
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A partir desta afirmação, observamos que a terapia através do cavalo é uma prática
que vem sendo utilizada ao longo dos anos e demonstra sua eficiência através dos benefícios
encontrados. A equoterapia é, portanto, a prática de atividades equestres e equitação, com fins
para saúde e/ou educação.
A palavra EQUOTERAPIA foi criada pela Ande-Brasil, para caracterizar todas as
práticas que utilizam o cavalo, com técnicas de equitação e atividades eqüestres,
objetivando a reabilitação e/ou educação de pessoas com deficiências ou
necessidades especiais. Foi criada com três intenções: a primeira homenagear nossa língua mãe, adotando o radical EQUO [...], a segunda em homenagear o pai da
medicina ocidental, o Grego Hipócrates [...] e a terceira foi estratégica: quem
utilizasse a palavra EQUOTERAPIA, [...] estaria engajado nos princípios e normas
que norteiam a prática no Brasil. (BRASIL, ANDE 2011. p.8)
Ao possuir autorização e indicação médica para realização da prática equoterápica, o
indivíduo inicia as sessões terapêuticas e passa a ser chamado de Praticante de Equoterapia.
“O Praticante de equoterapia é o termo utilizado para designar a pessoa com deficiência e/ou
com necessidades especiais quando em atividades equoterápicas. Nesta atividade, o sujeito do
processo participa de sua reabilitação, na medida em que interage com o seu cavalo.”
(BRASIL, ANDE 2011. p.9)
Os programas básicos da equoterapia são Hipoterapia, a Educação/Reeducação, o Pré
esportivo e a Prática esportiva paraequestre. Deve-se dar atenção a programação de sessões
equoterápicas, com o intuito de personalizar a terapia ao praticante e considerar as limitações
do indivíduo na organização das atividades, porém a estimular suas potencialidades.
O Cavalo
A equoterapia é a terapia que utiliza o cavalo como agente cinesioterapêutico, pois
através de sua montaria ocorre o movimento tridimensional, ou seja, o praticante se encontra
no centro de gravidade do cavalo e sofre alterações que movimentam seu corpo em diferentes
eixos.
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Figura 1 - O movimento nos três eixos.
Fonte: (TAUFFKIRCHEN, 1998, p. 38 por SILVA & GRUBITS, 2004)
[...] o cavalo tem nas ondulações vertebrais a origem dos seus movimentos, gerando uma posição corporal que provoca a perda de equilíbrio, retomado pelo
deslocamento dos seus membros, que por sua vez dão nova disposição à coluna
vertebral, e assim sucessivamente, criando uma relação de causa e efeito entre o
centro de gravidade, a inflexão da coluna e os deslocamentos dos membros. [...] Nos
deslocamentos, o cavaleiro tem a necessidade permanente de ajustar seu centro de
gravidade em harmonia com o centro de gravidade do cavalo, oscilando no sentido
lateral, no avanço de cada membro, e no sentido anteroposterior, na distensão dos
posteriores e no pouso dos anteriores. (SEVERO, 2010. p.115)
Porém a metodologia da Equoterapia não envolve somente o ato de montá-lo, mas
também estabelecer uma relação de afetividade e proporcionar a aproximação através dos
cuidados gerais com o animal.
O cavalo necessita de afeto para estabelecer uma relação, assim como o praticante. Essa relação aparecerá um dia, mas não sabemos se foi o cavalo ou o praticante
quem estabeleceu primeiro. Será positiva quando o prazer de um for igual ao prazer
do outro. (LERMONTOV, 2004, p.100)
Os profissionais da Educação na Equipe Terapêutica Multidisciplinar
O Pedagogo na Equoterapia
Os pedagogos lidam com as metodologias didáticas pedagógicas, adequando a faixa
etária ou fase escolar da criança.
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O papel do pedagogo e/ou psicopedagogo é o de criar situações que encaminhem a pessoa à utilização dos recursos disponíveis durante as sessões de equoterapia para
as atividades escolares, objetivando trabalhar as dificuldades resultantes do processo
ensino-aprendizagem, a assimilação, concentração e atenção. O próprio movimento
proporcionado pelo cavalo favorece a integração dos hemisférios cerebrais. (UZUN,
2005, p.43)
O Professor de Educação Física na Equoterapia
Os docentes de educação física são responsáveis por promover e estimular a força,
coordenação motora, percepção espaço temporal, equilíbrio e outras habilidades
psicomotoras, além dos com estímulos cognitivos por meios sensitivos ou corporais.
O recurso mais apropriado é a cinesioterapia por meio de exercícios passivos, ativo-
assistidos e ativo livres, de acordo com o propósito em questão. A cinesioterapia, ou
seja, terapêutica pelo movimento pode ser realizada pela estimulação auditiva, olfativa, gustativa, tátil, proprioceptiva e cinestésica, visando a desenvolver a
consciência corporal, a coordenação motora, o equilíbrio, a correção postural, a
marcha e a orientação no espaço. (SILVA & GRUBITS, 2004)
Além de ensinar através do movimento, o professor de educação física auxilia, nas
sessões equoterápicas, na organização de eventos e atividades lúdicas para recreação.
Ambos os profissionais da educação, devem vincular as metodologias utilizadas
durante a prática equoterápica aos objetivos educacionais propostos nos planos políticos
pedagógicos a fim de almejar o sucesso dos alunos envolvidos. Esta afirmação está de acordo
com os princípios e finalidades da Educação Inclusiva.
A Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva tem
como objetivo assegurar a inclusão escolar de alunos com deficiência, transtornos
globais do desenvolvimento e altas habilidades/superdotação[…] Nestes casos e outros, que implicam em transtornos funcionais específicos, a educação especial
atua de forma articulada com o ensino comum, orientando para o atendimento às
necessidades educacionais especiais desses alunos. Consideram-se alunos com
deficiência àqueles que têm impedimentos de longo prazo, de natureza física,
mental, intelectual ou sensorial, que em interação com diversas barreiras podem ter
restringida sua participação plena e efetiva na escola e na sociedade. Os alunos com
transtornos globais do desenvolvimento são aqueles que apresentam alterações
qualitativas das interações sociais recíprocas e na comunicação, um repertório de
interesses e atividades restrito, estereotipado e repetitivo. Incluem-se nesse grupo
alunos com autismo, síndromes do espectro do autismo e psicose infantil.
(BRASIL,2008, p.14-15)
Em evidência, aborda-se o trabalho inclusivo com a pessoa com autismo:
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Nas crianças com autismo, os objetivos das intervenções educacionais dependerão, em grande medida, do grau de comprometimento presente. Nos pacientes com
prejuízos cognitivos importantes, os esforços deverão se dirigir, de forma mais
específica, para a tentativa de aumentar a comunicação e as interações sociais, para a
redução das alterações comportamentais (estereotipias, hiperatividade, etc.), para a
maximização do aprendizado, e para a independência nas atividades de vida diária.
(Schwartzmann, 2003, p.105)
A Síndrome de Asperger
Definição e características
A Síndrome de Asperger foi descrita no ano de 1944 por um médico pediatra de
Viena chamado Hans Asperger. No início de seus estudos ele nomeou a “doença”
como uma psicopatia autística. Seu trabalho ficou restrito à língua alemã por muito tempo. (ORRÚ, 2010, p.1.)
A Síndrome de Asperger se caracteriza por ser um transtorno do desenvolvimento
caracterizado pelos mesmos tipos de alterações nos processos de interação social e
comportamental presentes no autismo clássico e se diferencia pelo fato de que não demonstra
retardo ou deficiência de linguagem ou do desenvolvimento cognitivo.
A Síndrome de Asperger: difere do autismo clássico, principalmente por não ocorrer retardo mental, atraso cognitivo e considerável prejuízo na linguagem. [...]
Desenvolve interesses particulares em campos complexos, rígidos e impermeáveis a
novas idéias. (CUNHA, 2010, p.21)
O CID 10 conceitua a síndrome a seguir:
É um transtorno de validade nosológica incerta, caracterizado por uma alteração qualitativa das interações sociais recíprocas, semelhante à observada no autismo,
com um repertório de interesses e atividades restrito, estereotipado e repetitivo. [...]
Os sujeitos que apresentam este transtorno são em geral muito desajeitados. As
anomalias persistem frequentemente na adolescência e idade adulta. (CID 10, 1995,
p. 84)
A quinta edição do manual de diagnóstico da Associação Americana de Psiquiatria
(DSM-5) em 2013, passa a classificar a Síndrome de Asperger como um tipo do TEA
(Transtorno do Espectro Autista).
Objetivos
O objetivo do presente artigo é investigar e identificar as contribuições da equoterapia,
enquanto uma forma de intervenção terapêutica, no desenvolvimento do processo de ensino e
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aprendizagem das crianças praticantes com o Transtorno do Espectro do Autismo (TEA), em
especial a síndrome de Asperger.
Metodologia e Análise dos dados
Característica da Pesquisa
Foi realizada uma pesquisa exploratória, com delineamento de pesquisa ação, com
análise qualitativa dos resultados apresentados. A seguir o conceito sobre a pesquisa ação:
[…] é um tipo de pesquisa social com base empírica que é concebida e realizada em
estreita associação com uma ação ou com a resolução de um problema coletivo e no
qual os pesquisadores e os participantes representativos da situação ou do problema
estão envolvidos do modo cooperativo ou participativo. (THIOLLENT, 1985 citado por GIL, 2008)
A coleta de dados foi realizada por meio dos relatórios, fotos e filmagens da equipe
multidisciplinar da equoterapia, como os psicólogos, psicopedagogos, pedagogos, professores
da educação, mediadores e auxiliares da terapia, além do processo de avaliação dos demais
profissionais da educação: professores e estagiários, sobre o comportamento e linguagem,
tanto verbal quanto não verbal, e desenvolvimento no processo de aprendizagem dos
praticantes e entrevistas com pais ou responsáveis.
População e Amostra
Este estudo foi realizado com o projeto equoterápico intitulado Equoterapia
Educacional, da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro – UFRRJ da cidade de
Seropédica – RJ. O trabalho foi aprovado e conduzido de acordo com as normas do Comitê de
Ética e Pesquisa desta mesma Universidade, mediante termo de consentimento livre e
esclarecido assinado pelos responsáveis legais pelos indivíduos que participaram da pesquisa.
Foram avaliados três indivíduos com Síndrome de Asperger, sendo dois do gênero masculino
e um do gênero feminino, na faixa etária entre cinco a oito anos de idade e alunos do Centro
de Atenção Integral à Criança - CAIC Paulo Dacorso Filho, também localizado no município
de Seropédica – RJ. O projeto iniciou no mês de abril do ano de 2014 e foi acompanhado até
o mês de julho de 2015, sendo composto por um ano letivo e dois bimestres escolares.
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Os critérios de inclusão na pesquisa foram: Os pacientes com diagnóstico de TEA, em
que o responsável autorizou a participação na pesquisa após assinar o Termo de
Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), com laudo médico para a realização da
Equoterapia e participante no projeto Equoterapia da UFRRJ. Foi excluído do estudo quem
não tinha o diagnóstico de TEA, mesmo que esteja fazendo a Equoterapia, alunos com a
síndrome, porém que não realizam a terapia e/ou não aceite a participação na pesquisa.
A equipe multidisciplinar do Projeto Equoterapia é composta por seis zootecnistas,
dois instrutores de equitação, três médicos veterinários, duas psicólogas, três pedagogas, dois
professores de educação física e sete monitores estudantes de graduação de educação física e
bolsistas PIBID/CAPES. Para a terapia equestre eram disponíveis quatro cavalos, da raça
manga larga marchador. A sessão da equoterapia possuía o tempo estimado de cinquenta
minutos de duração, uma vez por semana, sendo que o praticante permanece sobre o cavalo
por cerca trinta minutos.
Resultados e Discussões
Os programas de equoterapia utilizados pela equipe multidisciplinar durante o tempo
da pesquisa foram a hipoterapia ou a educação/reeducação, que incluem atividades de
socialização, exercícios de alongamento dos membros inferiores e superiores com atividades
psicomotoras no solo e no cavalo, montaria em circuitos psicomotores e montaria com
acompanhamento de um mediador, um auxiliar guia e um auxiliar lateral.
As sessões eram realizadas em ambiente aberto. O espaço físico, também chamado de
picadeiro, possuía dois tipos de solo: gramado ou cimentado. O espaço utilizado fazia parte do
espaço escolar, de maneira a facilitar o acesso aos pais ou responsáveis levarem seus filhos
fora horário de aula. Durante a terapia montada, os cavalos eram conduzidos entre os dois
tipos de solo devido à adequação do planejamento a prática e as necessidades do praticante.
É interessante ressaltar também a importância de o terreno possuir um solo macio,
ou seja, deve ser um terreno com solo de areia, serragem, grama ou terra fofa, para
suavizar as batidas das patas do animal ao solo, fazendo com que o impacto causado no praticante seja de menor intensidade. (LERMONTOV, 2004, p.76)
Em todas as sessões equoterápicas houve registro fotográfico e por vídeo, além de que
ao final das sessões o trabalho desenvolvido era relatado em formulários que continha: Os
nomes do praticante e do cavalo, nome do mediador que o atendeu, desenvolvimento da
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sessão, alterações ou progressos do praticante em relação à última sessão, materiais utilizados
e observações. Essa avaliação permitia debates sobre as futuras práticas equoterápicas e a
visualização novos métodos pedagógicos para intervenção.
Por serem utilizados nas sessões mediadores, auxiliares guias, auxiliares laterais
devido aos programas escolhidos, estes profissionais passavam por constantes atualizações e
treinamentos sobre os métodos de atividades ou cuidados e segurança para retirada da criança
praticante em situações de risco.
Ao iniciar as sessões equoterápicas, eram realizadas rodas de inclusão com a
finalidade de estimular a interação através de atividades lúdicas que oportunizam o
desenvolvimento social dos alunos. As atividades foram realizadas em um tapete colorido e
atrativo para as crianças e estavam divididas em dois suportes psicopedagógicos: O primeiro
era constituído de jogos, desenhos para colorir e/ou quebra cabeças, geralmente com imagens
de cavalos, para o estímulo das funções cognitivas ou estimular os sentidos e o segundo era
constituído por reforço da aprendizagem escolar adequado a série de cada aluno. Algumas
temáticas trabalhadas neste último segmento descrito eram o apoio pedagógico ao ensino da
matemática, da alfabetização e do letramento.
Os alongamentos foram compostos por auto alongamento ao final da roda inclusiva e
alongamento dos membros superiores e inferiores sobre o cavalo. Os exercícios com o
praticante montado no cavalo eram realizados, a partir de um circuito montado, com a
utilização de materiais como, por exemplo, cones, bolas e bambolês. As atividades realizadas
exigiam movimentos de rotação do tronco com braços abduzidos (Usando o método lúdico, o
mediador indicava “Imite um avião!”), flexão do tronco (Usando o método lúdico, o mediador
indicava “Abrace seu amigo cavalo”), entre outros.
Os circuitos para o aspecto motor eram individuais, a fim de buscar o perfil de cada
criança e assim trabalhar, especificamente, o praticante com suas preferências e as
necessidades de acordo com a síndrome. Observa-se o desenvolvimento corporal dos
praticantes e constata-se a afirmação sobre os objetivos da equoterapia:
Melhora o equilíbrio e a postura, rompendo o esquema patológico por ter o alinhamento cabeça-tronco; Desenvolve a coordenação motora de movimentos entre
troncos, membros e visão, assim como a dissociação de cintura pélvica e escapular;
estimula a sensibilidade tátil, visual, auditiva e olfativa pelo ambiente e pelo uso do
cavalo; promove a organização e a consciência do corpo, ocorrem o automatismo
postural e a orientação espacial; desenvolve a modulação tônica e estimula a força
muscular, sendo que a regulação tônus causa um relaxamento do estado de
contração; [...]; oferece sensações de ritmo; [...]. (MARTINEZ, 2005. p.36)
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Figura 2 - Roda Inclusiva no início das sessões equoterápicas.
Fonte: Os autores.
Figura 3 - Prática Equoterápica: Alongamentos no cavalo.
Fonte: Os Autores.
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Figura 4 - Prática Equoterápica: Alongamentos no cavalo.
Fonte: Os autores.
Figura 5 - Prática Equoterápica: Alongamentos no cavalo.
Fonte: Os autores.
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Figura 6 - Atividades pedagógicas de reforço escolar ou trabalho do aspecto cognitivo.
Fonte: Os autores
Considerações Finais
Este estudo observou desde anteriormente o início das práticas equoterápicas, a
presença dos membros da escola, incluindo a direção, coordenação e professores, que
apoiavam o projeto, a fim de formar um elo que contribuiu para a realização das sessões como
a disponibilização de espaço e materiais.
Através dos resultados obtidos por meio da coleta de dados através dos recursos
audiovisuais, questionários com os pais ou responsáveis e relatórios da equipe
multidisciplinar, pode-se concluir que ocorreu o desenvolvimento dos aspectos psicomotores
e sociais, a fim de considerar melhorias significativas na socialização dos praticantes quanto à
elevação da autoestima e autoconfiança, contribuindo para diminuição nas características da
síndrome investigada.
É evidente o efeito da prática equoterápica como terapia psicomotora pelos benefícios
demonstrados, ao longo do ano letivo, nas sessões equoterápicas como, por exemplo, o
desenvolvimento da coordenação motora – grossa e fina, da lateralidade, equilíbrio, controle
postural, entre outras, mas principalmente a consciência corpórea, estimulando a
autopercepção do praticante para considerar suas limitações individuais, porém buscar suas
potencialidades futuras. São notáveis, também, as benfeitorias quanto à socialização das
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crianças no âmbito escolar, quanto também na aprendizagem observados através das
melhorias nas avaliações escolares.
Ao observar os recursos pedagógicos utilizados, nota-se o evidente interesse infantil
pela maior parte dos assuntos abordados durante os intervalos das atividades sobre cavalo,
devido ao aspecto afetivo ligado ao animal e o conforto no local e com profissionais da
terapia, que através da ludicidade, auxiliavam o aluno no convívio e desempenho escolar. Em
evidência, observa-se a expectativa e atenção dedicada aos jogos ou brincadeiras por causa
das devidas lembranças ao, agente colaborador da terapia, cavalo a fim de estabelecer a
proximidade do animal com o praticante, mesmo que não esteja montado.
É interessante ressaltar a utilização do agente cavalo na equoterapia, pois este deixa de
ser um instrumento para tornar-se um participante colaborador como, por exemplo, os
praticantes o consideram um “amigo” e nutrem uma relação de afeto com animal, esta
situação motiva a continuação no processo terapêutico e evita alunos faltosos.
A formação continuada dos profissionais da equipe multidisciplinar é fundamental,
principalmente dos mediadores, auxiliares guia e auxiliares laterais por questão de segurança
ao praticante. Em evidência, coloca-se o papel dos profissionais da educação na equipe
multidisciplinar, pois colabora com iniciativas de ensino ou reforço da aprendizagem para o
aluno, tornando a equoterapia um método complementar para êxito no processo educacional.
A proposta da educação inclusiva é de extremamente importante constituindo, assim, a
base para uma sociedade sem preconceitos e de integradora, valorizando as diferenças. A
oportunidade de modificações na matriz curricular escolar proporciona melhores condições
para atender os alunos com deficiência, necessidades especiais ou transtornos de
desenvolvimento, como no caso do transtorno do espectro autista para efetivar os processos
de ensino aprendizagem da criança.
O presente estudo possibilita o estímulo a pesquisas posteriores de modo a instigar os
profissionais da área a pesquisar sobre a interação escolar e os métodos de
interdisciplinaridade e inclusão no cotidiano escolar.
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