Controladoria-Geral da UniãoOuvidoria-Geral da União
PARECER
Referência: 18600.005236/2013-61
Assunto: Recurso contra decisão denegatória ao pedido de acesso à informação.
Restrição deacesso:
Não há restrições.
Ementa: Parecer jurídico – Dispositivo expresso da LAI. Informação incompleta –
Informação já disponibilizada. Informação privada. Informação sigilosa –
Conhecido e Provido.
Órgão ouentidade
recorrido (a):
Banco Central do Brasil (BACEN).
Recorrente: R. S. C.
Senhor Ouvidor-Geral da União,
1. O presente parecer trata de solicitação de acesso à informação pública, com base na Lei nº
12.527/2011, conforme resumo descritivo abaixo apresentado:
RELATÓRIO Data Teor
Pedido08/12/201
3
Solicitação de cópias dos seguintes documentos: nota jurídica PGBC
3417/2011, nota jurídica 2463/2012, nota jurídica 5426/2013 e
despacho 10513/2013 – BCB/PGBC, os quais sustentaram a
atualização do MSP nº 751 do Banco Central do Brasil.
Resposta Inicial 26/12/20
13
Pedido de acesso à informação negado, com base no artigo 22 da lei
12527/11, combinado com o artigo 7°, II, da lei 8.906/94, pois,
segundo o recorrido, as manifestações jurídicas exaradas pela
Procuradoria-Geral do Banco Central (PGBC) estão protegidas pelo
sigilo profissional do advogado, uma vez que os procuradores do
Banco Central se sujeitam ao regime da Lei n° 8.906, de 19
94, por força do § 1º do art. 3º do referido diploma legal, o que
21
significa que a relação entre a PGBC e seu cliente (o Banco Central do
Brasil) se encontra legalmente protegida pelo Estatuto da Advocacia.
Assim, para o órgão recorrido, não haveria obrigação legal para que se
forneça, a terceiros, manifestações jurídicas exaradas pela PGBC.
Recurso à
Autoridade Superior
27/12/20
13
O cidadão sustenta que o documento solicitado serviu de
base para um ato administrativo, passando assim a compô-
lo, segundo o art. 50, § 1º, da lei 9784/99, o que o tornaria
público. A seguir, afirma que a relação de sigilo
profissional arguida pelo recorrente e que protege a
informação desejada não se aplicaria a ele, tendo em vista
que esta relação somente é válida nas relações entre o
BACEN e a sua Procuradoria e não entre ele e o Banco e
que o seu pedido foi endereçado ao BACEN e não a sua
Procuradoria. O cidadão, argui, ainda, que uma decisão
judicial jamais poderia se sustentar em parecer que não
estivesse acessível nos autos. Por fim, registra que não
recebeu cópia da decisão com a identificação da autoridade
que indeferiu seu pedido, o que dificultaria a identificação
da autoridade hierarquicamente superior àquela que o
indeferiu. Resposta do Recurso
à Autoridade
Superior
03/01/20
14
Recurso parcialmente provido. Recurso respondido pelo
Procurador-Geral do BACEN, que decidiu franquear ao
recorrente, por meio de anexos no sistema e-sic, o acesso
aos seguintes documentos: nota jurídica PGBC 5426/2013
e despacho 10513/20130-BCB/PGBC, por entender que, no
presente caso, estes não trazem informação sensível ou
estratégica em relação à atuação da Autarquia, além de
tratarem de assunto de amplo interesse dos servidores do
Banco Central, apesar de manter o entendimento de que as
manifestações jurídicas proferidas pela Procuradoria-Geral
do Banco Central (PGBC) estão protegidas pelo sigilo
profissional, com fundamento no art. 22 da Lei n° 12.527,
de 2011, combinado com o art. 3º, § 1º, e o art. 7º, II, da
Lei n° 8.906, de 1994. No entanto, em relação às notas
22
jurídicas PGBC 3417/2011 e PGBC 2463/2012, o
Procurador-Geral entendeu que as aludidas manifestações
estão acobertadas pelo direito à intimidade (eis que trata de
consulta formulada por pensionista que pretende contrair
matrimônio) e pelo sigilo profissional (cuida de exame
jurídico realizado em função de questionamentos
formulados pela Ouvidoria do Banco Central do Brasil
sobre a LAI), respectivamente.
Recurso à
Autoridade Máxima
03/01/20
14
O recorrente, insatisfeito com a decisão do Procurador-
Geral do BACEN, decidiu recorrer à autoridade máxima da
autarquia com base nos mesmos argumentos aludidos nas
suas manifestações anteriores.Resposta do Recurso
à Autoridade
Máxima
09/01/20
14
Foi negado provimento ao recurso de 2ª instância. Segun-
do a autoridade recorrida, o recorrente não trouxe argumen-
tos novos em relação ao recurso em primeira instância, li-
mitando-se a repetir parte do pedido original. Em relação
ao pedido de informação sobre a nota jurídica PGBC
3417/2011, o órgão recorrido reafirma que se trata de docu-
mento protegido por sigilo, em função de conter informa-
ções pessoais de terceira pessoa, a qual não consta ter auto-
rizado o requerente a obtê-la. Utiliza como base jurídica os
incisos I e II, § 1°, do art. 31 da lei 12.527/11, combinados
com os incisos I e II do art. 55, do decreto 7.724/2012. No
referente à nota jurídica PGBC 2463/2012, o recorrido rei-
tera a negativa de pedido de acesso, tendo em vista que a
informação nela contida seria protegida por sigilo profissi-
onal, no caso, a relação entre advogado e cliente, amparado
legalmente pelo art. 22 da lei 12.527/2011, combinado com
o art. 3°, § 1° e o art. 7°, II, da lei 8.906/94. O recorrido,
ainda, de acordo com o art. 37 do regimento interno do
Banco Central, reitera que cabe ao seu Procurador-Geral
mitigar, se assim o quiser, o sigilo sobre informações sensí-
veis ou estratégicas que se refiram às atividades jurídicas
23
do órgão, em prol da transparência tutelada pela lei
12.527/12. Por fim, o recorrido salienta que o recorrente
atua de forma impertinente no que se refere aos pedidos de
acesso à informação - inclusive, já tendo sido comunicado
por autoridade da autarquia sobre o fato - pois seriam mo-
tivados por “ressentimentos funcionais”, em razão de pedi-
do de licença outrora negado pelo recorrido, e que o recor-
rente, por isso, atuaria com abuso de direito.
Recurso à CGU12/01/20
14
O recorrente reafirma os mesmos argumentos utilizados
nos recursos anteriores. Delibera, ainda, que não
apresentou novos argumentos no recurso de segunda
instancia, porque este se tratava de recurso hierárquico e,
dessa forma, não precisaria de fatos novos e, ademais, que
caberia à autoridade superior a análise de todo o seu teor.
Salienta, ainda, o seu protesto pelo fato de que a autoridade
que proferiu a decisão do recurso em primeira instância, ou
seja, o Procurador-Geral do BACEN, tenha sido a mesma
que proferiu a decisão em segunda instância.
Informações
Adicionais
22/04/201
4
Foi feito pedido de esclarecimentos adicionais desta CGU
junto à Procuradoria do Banco Central para se compreen-
der melhor a natureza da informação solicitada, para o qual
tivemos os seguintes esclarecimentos:
• A Nota-Jurídica PGBC-3417/2011 cuidou especi-
ficamente de requerimento formulado por uma pen-
sionista de ex-servidor do Banco Central, que gos-
taria de saber se um novo matrimônio repercutiria
em sua condição de beneficiária de pensão. Vê-se,
portanto, que, além de conter informações pessoais,
a referida manifestação jurídica cuidou de situação
pontual e específica de determinado indivíduo, não
cabendo, assim, conceder a qualquer do povo amplo
acesso a esse documento, por se tratar de matéria
protegida pelo direito à intimidade constitucional-
mente protegido.24
• Quanto à Nota Jurídica PGBC-2463/2012, tem-se
que ela serviu de fundamento não para um ato ad-
ministrativo isolado, mas para orientar a atuação
das unidades do Banco Central, especialmente o
Departamento de Atendimento Institucional, na ela-
boração de respostas aos cidadãos em demandas
fundadas na Lei de Acesso à Informação (LAI),
particularmente quanto ao cumprimento de formali-
dade prevista na lei (indicação de possibilidade de
recurso e eventual indicação da autoridade ad
quem). Trata-se de manifestação expedida pela Pro-
curadoria-Geral do Banco Central (PGBC) no exer-
cício de atividade privativa de advogado, com vis-
tas ao assessoramento jurídico da Ouvidoria e de
outras unidades internas, de modo que a negativa de
acesso se deu com fundamento no sigilo profissio-
nal do advogado, previsto no art. 7º, inciso II, da
Lei n° 8.906, de 1994, situação que se enquadra
exatamente na ressalva contida no art. 22 da Lei de
Acesso à Informação. Em outras palavras, tendo em
vista que a aludida nota-jurídica é de mero consumo
interno, produto da relação existente entre a PGBC
e seu cliente (Banco Central), o Procurador-Geral,
no uso de sua atribuição de exercer a direção geral
da atividade jurídica no âmbito da Autarquia (art.
37, inciso I, do Regimento Interno do Banco Cen-
tral), entendeu pela incidência ao caso do sigilo le-
gal em referência. Assim, a PGBC considera que
manifestações jurídicas que, de alguma maneira,
orientem a atuação do Banco Central do Brasil de-
vem ser protegidas para os fins da LAI, uma vez
que podem servir de subsídio para possíveis deman-
das judiciais intentadas contra a Autarquia.
25
Processo de
mediação.
09/05/201
4
13/06/201
4
27/06/201
4
Foram ainda realizadas três reuniões na sede da Ouvidoria-
Geral da União entre representantes deste órgão e do Banco
Central do Brasil para se tentar alcançar um consenso sobre
a possibilidade de entrega da informação solicitada ao cida-
dão. No entanto, apesar dos esclarecimentos feitos pelas
autoridades do Bacen, os quais foram formalizados em do-
cumentos enviados a esta CGU e ao cidadão, não foi possí-
vel chegar a uma solução acordada sobre o franqueamento
dos documentos em análise.
É o relatório.
Análise
2. Registre-se que o Recurso foi apresentado à CGU de forma tempestiva e recebido na esteira
do disposto no caput e §1º do art. 16 da Lei nº 12.527/2011, bem como em respeito ao prazo de 10
(dez) dias previsto no art. 23 do Decreto nº 7724/2012, in verbi:
Lei nº 12.527/2011
Art. 16. Negado o acesso a informação pelos órgãos ou entidades do Poder
Executivo Federal, o requerente poderá recorrer à Controladoria-Geral da
União, que deliberará no prazo de 5 (cinco) dias se:
(...)
§ 1o O recurso previsto neste artigo somente poderá ser dirigido à Controladoria
Geral da União depois de submetido à apreciação de pelo menos uma autoridade
hierarquicamente superior àquela que exarou a decisão impugnada, que deliberará
no prazo de 5 (cinco) dias.
Decreto nº 7724/2012
Art. 23. Desprovido o recurso de que trata o parágrafo único do art. 21 ou
infrutífera a reclamação de que trata o art. 22, poderá o requerente apresentar
recurso no prazo de dez dias, contado da ciência da decisão, à Controladoria-
Geral da União, que deverá se manifestar no prazo de cinco dias, contado do
recebimento do recurso.
26
3. Quanto ao cumprimento do art. 21 do Decreto n.º 7.724/2012, observa-se que o Banco
Central do Brasil informou ao recorrente, em resposta ao pedido de acesso, que este poderia, caso
desejasse, apresentar recurso perante o Procurador-Geral do órgão, no prazo de dez dias. Também o
informou, após ter sido negado o seu recurso em primeira instância, que poderia recorrer da decisão
denegatória perante o Presidente do Banco Central do Brasil, no prazo de 10 dias. Por fim, o órgão
recorrido informou ao cidadão, após negar-lhe pedido de acesso em segunda instância, que poderia
recorrer perante esta Controladoria-Geral da União, no prazo de 10 dias, respeitando-se, dessa
maneira, o trâmite legal exigido.
4. Durante a fase de instrução deste processo, a Controladoria-Geral da União procurou mediar
o conflito entre o Banco Central e o cidadão, por meio de três reuniões de mediação entre
representantes da Ouvidoria-Geral da União e da autarquia federal. Após a primeira reunião, a
Ouvidoria do Banco Central enviou ao cidadão extrato com o resumo de ambos os documentos em
análise. No entanto, este gesto foi considerado insuficiente, tanto pelo cidadão quanto por esta
CGU. Em resposta, o cidadão enviou à esta CGU cópia do MSP n° 752, em que as notas jurídicas
PGBC-3417/2011 e PGBC-2463/2012 aparecem como fundamento para a confecção do
manual supramencionado, conforme excerto do documento abaixo:
“ Base Legal e Regulamentar: Constituição Federal; Lei nº 8.112, de 11 de
dezembro de 1990; Lei nº 9.784, de 29 de janeiro de 1999; Regimento Interno do
Banco Central do Brasil; Nota-Jurídica PGBC-2463/2012; Nota-Jurídica PGBC-
3417/2011; Nota Técnica nº 135/2013/CGNOR/DENOP/SEGEP/MP.
PE 46742.”
5. Desta maneira, houve uma segunda reunião de mediação em que as autoridades do Banco
Central afirmaram que as referidas notas jurídicas foram incluídas como base legal para a confecção
do MSP n° 752 por um erro administrativo e que ambos os documentos não se referiam ao direito
de petição do servidor do Bacen, assunto tratado pelo Manual. Em uma segunda nota expedida ao
requerente, a Ouvidoria do Banco Central procurou esclarecer o seguinte acerca dos documentos:
“Em atenção a sua última mensagem, datada de 19 de maio de 2014,
dirigida em resposta aos esclarecimentos adicionais prestados por
esta Ouvidoria, para melhor instrução do processo decisório a cargo
da Controladoria-Geral da União (CGU), informo que suas conside-
27
rações foram repassadas às áreas técnica e jurídica do BCB, tendo-se
verificado equívoco na indicação da fundamentação das Atualiza-
ções MSP nº 751 e 752, em razão de inadvertida menção às Notas
Jurídicas PGBC 3417/2011 e 2463/2012.
Com efeito, a primeira manifestação trata de "consulta" encaminhada
por pensionista de ex-servidor e a segunda buscou dirimir dúvidas da
Ouvidoria sobre a aplicação da LAI - como já informado anterior-
mente por extrato -, de modo que os dois pronunciamentos legais
não se prestam a fundamentar norma interna da Autarquia relativa
ao direito de petição de servidor público previsto na Lei n° 8.112, de
11 de dezembro de 1990.
Por esse motivo, o Departamento de Gestão de Pessoas divulgou a to-
dos os servidores no último dia 20 de junho a Atualização MSP nº
763, noticiando a "exclusão de referência a manifestações jurídicas
que não guardam pertinência com o texto do capítulo e da inclusão
de manifestações jurídicas conexas à sua matéria".
As manifestações incluídas como fundamentação jurídica para o ca-
pítulo do MSP são o Despacho 10513/2013-BCB/PGBC e a Nota Ju-
rídica 5426/2013-BCB/PGBC, que já lhe foram remetidas com a deci-
são do recurso de segunda instância.
Desse modo, considerando que seu pedido limitou-se às manifesta-
ções da Procuradoria-Geral que deram/dão sustentação jurídica ao
capítulo do MSP atinente ao direito de petição de servidores, o Ban-
co Central entende que lhes foram prestadas todas as informações
disponíveis e entregues os documentos pertinentes” (grifo meu).
6. Percebe-se que ao excluir a menção às notas jurídicas PGBC 3417/2011 e PGBC 2463/2012
como fundamentos legais para a confecção do MSP n° 751 e n° 752, por meio da atualização MSP
n° 763 do último dia 20 de Junho, as autoridades do Banco Central entendem que o requerente
perde o objeto da sua lide, uma vez que ele teria motivado o seu pedido inicial apenas à obtenção
dos documentos que embasaram a atualização do MSP n° 751. Assim, como as notas jurídicas em
epígrafe deixaram de fundamentar a atualização do manual e como os documentos que o lastrearam
já foram entregues, se extinguiria o objeto da ação por fator superveniente.
28
7. No entanto, acredito que a posição do Banco Central não se coaduna com a melhor
interpretação da legislação de acesso à informação. Primeiramente, porque resta claro que tanto a
nota jurídica PGBC 3417/2011 como a nota jurídica PGBC 2463/2012 foram elencadas pelo
próprio banco como documentos que fundamentam a elaboração de um ato administrativo. A
correção posterior, feita somente durante a instrução do processo por esta CGU, depois do pedido
de acesso do solicitante, não obsta a sua análise por esta Casa. Em segundo lugar, porque a Lei n°
12.527/11 é muito clara ao afirmar que o solicitante não precisa motivar o pedido de acesso. Basta a
ele que seu pedido não seja genérico ou desarrazoado.
8. Portanto, de forma alguma o pedido de acesso precisa ser motivado. O cidadão, ademais, foi
bem específico em seu pedido ao solicitar o acesso aos seguintes documentos: nota jurídica PGBC
3417/2011, nota jurídica 2463/2012, nota jurídica 5426/2013 e despacho 10513/2013 –
BCB/PGBC. A análise do pedido independe da motivação destarte. Nesse sentido, observe-se a
legislação de acesso à informação:
Lei n° 12.527/11.
Art. 10. Qualquer interessado poderá apresentar pedido de acesso a
informações aos órgãos e entidades referidos no art. 1o desta Lei, por
qualquer meio legítimo, devendo o pedido conter a identificação do
requerente e a especificação da informação requerida.
§ 3o São vedadas quaisquer exigências relativas aos motivos deter-
minantes da solicitação de informações de interesse público (grifo
meu).
Decreto n° 7.724/12
Art. 20. O acesso a documento preparatório ou informação nele conti-
da, utilizados como fundamento de tomada de decisão ou de ato admi-
nistrativo, será assegurado a partir da edição do ato ou decisão.
9. Dessa forma, opino pelo conhecimento do referido recurso, por ser tempestivo, por cum-
prir todos os requisitos de admissibilidade e por se tratar de análise de documentos existentes e es-
pecíficos. Passa-se, então, à análise do mérito.
29
10. Verificou-se que o pedido inicial de informação referente aos documentos despacho
10513/2013-BCB/PGBC, nota jurídica PGBC 5426/2013, nota jurídica PGBC 3417/2011 e nota
jurídica PGBC 2463/2012 foi negado com base na seguinte argumentação:
“as manifestações jurídicas exaradas pela Procuradoria-Geral do Banco Central
(PGBC) estão protegidas pelo sigilo profissional do advogado, uma vez que os
procuradores do Banco Central se sujeitam ao regime da Lei n° 8.906, de 1994, por
força do § 1º do art. 3º do referido diploma legal, o que significa que a relação
entre a PGBC e seu cliente (o Banco Central do Brasil) se encontra legalmente
protegida pelo Estatuto da Advocacia. Assim, não há obrigação legal a que se
forneça, a terceiros, manifestações jurídicas exaradas pela PGBC.”
11. No recurso em primeira instância, que não inovou o objeto do pedido inicial, acredito que
houve perda de objeto por fato superveniente em relação a dois documentos demandados pelo
cidadão, o despacho 10513/2013-BCB/PGBC e a nota jurídica PGBC 5426/2013, visto que estes
tiveram o acesso franqueado pelo próprio Procurador-Geral do Banco Central, por entender que
estes documentos referem-se a toda a coletividade dos servidores da autarquia. A perda de objeto,
neste caso, possui respaldo legal no artigo 52 da Lei n° 9.784/99, Lei Geral do Processo
Administrativo, a seguir:
Art. 52. O órgão competente poderá declarar extinto o processo quando exaurida
sua finalidade ou o objeto da decisão se tornar impossível, inútil ou prejudicado
por fato superveniente. (Grifo meu).
12. No entanto, verificou-se que o Procurador-Geral manteve a decisão da autoridade que negou
o pedido inicial de acesso, em relação aos seguintes documentos: nota jurídica PGBC 3417/2011 e
nota jurídica PGBC 2463/2012, por entender que:
“as aludidas manifestações estão acobertadas pelo direito à intimidade (eis que
trata de consulta formulada por pensionista que pretende contrair matrimônio) e
pelo sigilo profissional (cuida de exame jurídico realizado em função de
questionamentos formulados pela Ouvidoria do Banco Central do Brasil sobre a
LAI)”.
210
13. O recurso em segunda instância foi respondido pela autoridade máxima do órgão, o
Presidente do Banco Central, que decidiu fundamentado pela nota jurídica 53/2014-BCB/PGBC
pela manutenção da decisão proferida em primeira instância. Em relação ao documento nota
jurídica 3417/20011, o recorrido entendeu que se trata de informação protegida por sigilo que tem
como escopo a proteção da intimidade de terceira pessoa. Para isso, utilizou-se da seguinte base
legal:
Lei 12.527/11. Art. 31. O tratamento das informações pessoais deve ser feito de
forma transparente e com respeito à intimidade, vida privada, honra e imagem das
pessoas, bem como às liberdades e garantias individuais.
§ 1o As informações pessoais, a que se refere este artigo, relativas à intimidade,
vida privada, honra e imagem:
I - terão seu acesso restrito, independentemente de classificação de sigilo e pelo
prazo máximo de 100 (cem) anos a contar da sua data de produção, a agentes pú-
blicos legalmente autorizados e à pessoa a que elas se referirem; e
II - poderão ter autorizada sua divulgação ou acesso por terceiros diante de previ-
são legal ou consentimento expresso da pessoa a que elas se referirem.
Decreto 7.724/12. Art. 55. As informações pessoais relativas à intimidade, vida pri-
vada, honra e imagem detidas pelos órgãos e entidades:
I - terão acesso restrito aos agentes públicos legalmente autorizados e a pessoa a que
se referirem, independentemente de classificação de sigilo, pelo prazo máximo de cem
anos a contar da data de sua produção; e
II - poderão ter sua divulgação ou acesso por terceiros autorizados por previsão legal
ou consentimento expresso da pessoa a que se referirem.
Parágrafo único. Caso o titular das informações pessoais esteja morto ou ausente, os
direitos de que trata este artigo assistem ao cônjuge ou companheiro, aos descenden-
tes ou ascendentes, conforme o disposto no parágrafo único do art. 20 da Lei
n o 10.406, de 10 de janeiro de 2002 , e na Lei n o 9.278, de 10 de maio de 1996 .
14. Ainda, de acordo com o recorrido, não há qualquer documentação que autorize o recorrente a
acessar o conteúdo da informação pretensamente sigilosa, como determina o parágrafo único do art.
55 do Decreto n° 7.724/12. No que se refere ao documento nota jurídica PGBC 3417/2011, acredito
que o recorrido esteja bem embasado para negar o pedido de acesso ao cidadão do teor completo do
documento, pois se a aludida nota jurídica não traz informações de interesse geral e apenas se refere
ao pedido de uma pensionista de ex-servidor, o agente público que franqueasse a terceira pessoa não
autorizada o acesso completo à documentação estaria agindo em desrespeito à lei de acesso, poden-
do incorrer em improbidade administrativa. É o que estabelecem o artigo 32, inciso IV, § 2° da Lei
211
n° 12.527/11 (lei de acesso à informação) e o artigo 65, inciso IV, § 2° do Decreto n° 7.724/12,
transcritos, a seguir:
Lei 12.527/11. Art. 32. Constituem condutas ilícitas que ensejam responsabilidade do
agente público ou militar:
IV - divulgar ou permitir a divulgação ou acessar ou permitir acesso indevido à infor-
mação sigilosa ou informação pessoal;
§ 2o Pelas condutas descritas no caput, poderá o militar ou agente público responder,
também, por improbidade administrativa, conforme o disposto nas Leis n os 1.079, de 10
de abril de 1950, e 8.429, de 2 de junho de 1992.
Decreto 7724/12 Art. 65. Constituem condutas ilícitas que ensejam responsabilidade do
agente público ou militar:
IV - divulgar, permitir a divulgação, acessar ou permitir acesso indevido a informação
classificada em grau de sigilo ou a informação pessoal;
§ 2o Pelas condutas descritas no caput, poderá o militar ou agente público responder,
também, por improbidade administrativa, conforme o disposto nas Leis n o 1.079, de 10 de
abril de 1950, e n o 8.429, de 2 de junho de 1992.
15. O pedido de acesso à informação que trata de informação íntima e pessoal de terceira pessoa
somente poderia ser concedido por agente público, sem a necessidade de autorização que demonstras-
se o consentimento da pessoa à qual se refere a informação, nos seguintes casos contidos na Lei n°
12.527/11 e no Decreto n° 7.724/12:
Lei 12.527/11. Art. 31. O tratamento das informações pessoais deve ser feito de forma
transparente e com respeito à intimidade, vida privada, honra e imagem das pessoas,
bem como às liberdades e garantias individuais.
II - poderão ter autorizada sua divulgação ou acesso por terceiros diante de previsão
legal ou consentimento expresso da pessoa a que elas se referirem.
§ 3o O consentimento referido no inciso II do § 1o não será exigido quando as informa-
ções forem necessárias:
I - à prevenção e diagnóstico médico, quando a pessoa estiver física ou legalmente in-
capaz, e para utilização única e exclusivamente para o tratamento médico;
II - à realização de estatísticas e pesquisas científicas de evidente interesse público ou
geral, previstos em lei, sendo vedada a identificação da pessoa a que as informações se
referirem;
III - ao cumprimento de ordem judicial;
IV - à defesa de direitos humanos; ou
V - à proteção do interesse público e geral preponderante.
Decreto 7.724/12. Art. 55. As informações pessoais relativas à intimidade, vida privada,
honra e imagem detidas pelos órgãos e entidades:
212
II - poderão ter sua divulgação ou acesso por terceiros autorizados por previsão legal ou
consentimento expresso da pessoa a que se referirem.
Art. 57. O consentimento referido no inciso II do caput do art. 55 não será exigido quan-
do o acesso à informação pessoal for necessário:
I - à prevenção e diagnóstico médico, quando a pessoa estiver física ou legalmente inca-
paz, e para utilização exclusivamente para o tratamento médico;
II - à realização de estatísticas e pesquisas científicas de evidente interesse público ou ge-
ral, previstos em lei, vedada a identificação da pessoa a que a informação se referir;
III - ao cumprimento de decisão judicial;
IV - à defesa de direitos humanos de terceiros; ou
V - à proteção do interesse público geral e preponderante.
16. No entanto, a própria Lei de Acesso à Informação, no ânimo de tornar o sigilo absoluto a do-
cumentos públicos um procedimento excepcional, e transformando o princípio da transparência, dessa
maneira, em regra, prevê dispositivo que mitiga o obscurantismo legal:
Lei n° 12.537/11
Art. 7o O acesso à informação de que trata esta Lei compreende, entre
outros, os direitos de obter:
§ 2o Quando não for autorizado acesso integral à informação por ser ela
parcialmente sigilosa, é assegurado o acesso à parte não sigilosa por
meio de certidão, extrato ou cópia com ocultação da parte sob sigilo.
17. Portanto, vê-se que mesmo a informação que contenha dados sobre a vida íntima de outro ci-
dadão pode ser acessada ao público em geral, desde que sejam resguardados os dados que identifi-
quem a terceira pessoa envolvida. A mesma Lei de Acesso à informação preceitua o seguinte:
Art. 3o Os procedimentos previstos nesta Lei destinam-se a assegurar o
direito fundamental de acesso à informação e devem ser executados em
conformidade com os princípios básicos da administração pública e com
as seguintes diretrizes:
I - observância da publicidade como preceito geral e do sigilo como ex-
ceção;
II - divulgação de informações de interesse público, independentemente
de solicitações;
III - utilização de meios de comunicação viabilizados pela tecnologia da
informação;
213
IV - fomento ao desenvolvimento da cultura de transparência na admi-
nistração pública;
V - desenvolvimento do controle social da administração pública.
18. Diante do exposto, percebe-se que no pedido inicial e nos recursos interpostos, o recorrente
não cumpriu nenhum dos requisitos que autorizem o recorrido a lhe permitir o acesso completo
à nota jurídica PGBC 3417/11. No entanto, acredito que o Banco Central do Brasil deva permi-
tir ao cidadão o acesso à parte não sigilosa do referido documento, conforme a legislação, sendo
feito o ocultamento das informações que possam identificar tanto a pensionista quanto o ex-ser-
vidor aos quais se refere a nota jurídica em epígrafe.
19. Em relação à nota jurídica PGBC 2463/2012, utilizou-se como base legal para a decisão o
art. 22 da Lei n° 12.527/11 (lei de acesso à informação), combinado com o art. 3°, § 1° e o art. 7°, II
da Lei n° 8.906/ 94 (Estatuto do advogado), reproduzidos a seguir:
Lei 12.527/11. Art. 22. O disposto nesta Lei não exclui as demais hipóteses legais de si-
gilo e de segredo de justiça nem as hipóteses de segredo industrial decorrentes da ex-
ploração direta de atividade econômica pelo Estado ou por pessoa física ou entidade
privada que tenha qualquer vínculo com o poder público.
Lei 8906/94. Art. 3º O exercício da atividade de advocacia no território brasileiro e a
denominação de advogado são privativos dos inscritos na Ordem dos Advogados do
Brasil (OAB)
§ 1º Exercem atividade de advocacia, sujeitando-se ao regime desta lei, além do regime
próprio a que se subordinem, os integrantes da Advocacia-Geral da União, da Procu-
radoria da Fazenda Nacional, da Defensoria Pública e das Procuradorias e Consulto-
rias Jurídicas dos Estados, do Distrito Federal, dos Municípios e das respectivas enti -
dades de administração indireta e fundacional.
Art. 7º São direitos do advogado:
II – a inviolabilidade de seu escritório ou local de trabalho, bem como de seus instru-
mentos de trabalho, de sua correspondência escrita, eletrônica, telefônica e telemática,
desde que relativas ao exercício da advocacia; (Redação dada pela Lei nº 11.767, de
2008.
20. Utilizou-se, ainda, o Regimento Interno do Banco Central do Brasil, em seu artigo 37, inciso
I, para esclarecer que cabe ao Procurador-Geral o dever de exercer a direção geral da atividade jurí-
dica no âmbito do órgão, o que o coloca em uma perspectiva central para avaliar quais são as infor-
mações sensíveis ou estratégicas em relação às atividades jurídicas da autarquia. Assim, ele possui a
capacidade e a competência para decidir se deve mitigar ou não informações que ele julgue de inte-
resse geral.
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21. Em relação ao documento nota jurídica PGBC 2463/2012, deve-se fazer algumas considera-
ções sobre a natureza da negativa do pedido de acesso. O Banco Central afirma que as manifestações
exaradas pela sua Procuradoria estão protegidas por sigilo profissional, o qual está amparado legal-
mente pelo Estatuto da Advocacia, que em seus normativos exprime o entendimento de que as Procu-
radorias e as Consultorias jurídicas das entidades da administração indireta exercem atividade advoca-
tícia. Por isso, a PGBC estaria amparada pelo dispositivo da mesma lei que veda o acesso de terceiros
aos seus documentos, em função da “inviolabilidade de seu escritório ou local de trabalho, bem
como os instrumentos de trabalho” de seus procuradores. Esta justificativa estaria, dessa forma, am-
parada pela Lei n° 12.527/11 e pelo Decreto n° 7.724/12, que protegem informações de caráter sigilo-
so prescritos em legislação específica.
22. A Instituição, ademais, afirma que cabe apenas ao Procurador-Geral do órgão avaliar a sensi-
bilidade das informações manipuladas por seus subordinados, decidindo, assim, se estas podem ou
não ser franqueadas ao público. Dessa forma, a argumentação central do recorrido para negar o
acesso à informação solicitada centra-se na relação de sigilo profissional existente entre a dire-
ção do órgão e seus advogados públicos.
23. Deve-se frisar, no entanto, que não se pretende questionar a inviolabilidade do exercício
da advocacia, conquista das sociedades democráticas; mas, pretende-se avaliar, neste caso concreto e
sob a luz da legislação de acesso à informação, o acesso dos cidadãos aos documentos públicos de seu
interesse, mesmo aqueles produzidos pelos órgãos jurídicos das entidades estatais.
24. Dessa maneira, ao analisar o regimento interno do Banco Central do Brasil, percebe-se que a
sua Procuradoria faz parte da estrutura organizacional do órgão. É o que diz o seu artigo 4°, III, 1.2:
“Art. 4º O Banco Central tem a seguinte estrutura:
III - Unidades Centrais:
1.2. Procuradoria-Geral do Banco Central (PGBC)”.
25. Verifica-se, dessa forma, que os profissionais da Procuradoria da referida autarquia estão su-
jeitos a regime jurídico público, disciplinado pela Lei n° 8.112/1990, quando exercem atividade ad-
vocatícia dentro da estrutura do Banco Central. Atuando, portanto, como servidores públicos:
Art. 2o Para os efeitos desta Lei, servidor é a pessoa legalmente
investida em cargo público.
Art. 3o Cargo público é o conjunto de atribuições e responsabilidades
previstas na estrutura organizacional que devem ser cometidas a um
servidor (grifo meu).
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26. Por conseguinte, a Lei n° 8.708/1990 (Código de Defesa do Consumidor), que faz parte do
marco normativo de acesso à informação, no seu § 2°, do artigo 3°, institui que:
“ § 2° Serviço é qualquer atividade fornecida no mercado de consumo,
mediante remuneração, inclusive as de natureza bancária, financeira, de
crédito e securitária, salvo as decorrentes das relações de caráter
trabalhista.”
27. Assim, não é correto afirmar que a Procuradoria de um órgão público, que é parte da sua
estrutura organizativa e cujos servidores são remunerados com base em legislação específica, exerça
uma relação que se baseie na simples prestação de serviços a seu empregador. A relação aqui é
empregatícia, lastreada em regime jurídico público. Por conseguinte, a Procuradoria do Banco
Central do Brasil está sujeita aos seguintes preceitos constitucionais:
“Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer
natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no
País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à
segurança e à propriedade, nos termos seguintes:
XXXIII - todos têm direito a receber dos órgãos públicos informações
de seu interesse particular, ou de interesse coletivo ou geral, que serão
prestadas no prazo da lei, sob pena de responsabilidade, ressalvadas
aquelas cujo sigilo seja imprescindível à segurança da sociedade e do
Estado; (Vide Lei nº 12.527, de 2011)
Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos
Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios
obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade,
publicidade e eficiência e, também, ao seguinte: (Redação dada pela
Emenda Constitucional nº 19, de 1998).”
§ 3º A lei disciplinará as formas de participação do usuário na
administração pública direta e indireta, regulando especialmente:
II - o acesso dos usuários a registros administrativos e a informações
sobre atos de governo, observado o disposto no art. 5º, X e XXXIII.”
28. A Lei n° 12.527/11, percebe-se, foi criada para dar vazão aos preceitos constitucionais acima
elencados, garantindo, assim, a maior transparência e o ativo controle social pelos cidadãos das
atividades dos poderes estatais constituídos. A lei de acesso à informação também se preocupou em
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garantir o sigilo de informações sensíveis, seja para proteger a intimidade das pessoas seja para
defender os interesses da própria sociedade, ao proteger informações estatais de caráter estratégico.
Porém, a lei é bastante clara ao determinar que o sigilo é uma exceção e não a regra:
“Art. 3o Os procedimentos previstos nesta Lei destinam-se a assegurar o
direito fundamental de acesso à informação e devem ser executados em
conformidade com os princípios básicos da administração pública e
com as seguintes diretrizes:
I - observância da publicidade como preceito geral e do sigilo como
exceção”
29. Deve-se, ainda, verificar o inciso II, do parágrafo único, do artigo 1° e o artigo 7°, § 3° da lei
de acesso:
“Art. 1o Esta Lei dispõe sobre os procedimentos a serem observados pela União, Esta-
dos, Distrito Federal e Municípios, com o fim de garantir o acesso a informações pre-
visto no inciso XXXIII do art. 5 o , no inciso II do § 3º do art. 37 e no § 2º do art. 216 da
Constituição Federal.
Parágrafo único. Subordinam-se ao regime desta Lei:
II - as autarquias, as fundações públicas, as empresas públicas, as sociedades de eco-
nomia mista e demais entidades controladas direta ou indiretamente pela União, Esta-
dos, Distrito Federal e Municípios.
Art. 7o O acesso à informação de que trata esta Lei compreende, entre
outros, os direitos de obter:
§ 3o O direito de acesso aos documentos ou às informações neles conti-
das utilizados como fundamento da tomada de decisão e do ato adminis-
trativo será assegurado com a edição do ato decisório respectivo”.
30. Portanto, o Banco Central do Brasil é sujeito passivo da referida lei e está obrigado a respei-
tar os seus preceitos. Da mesma maneira, por fazer parte da estrutura organizacional do órgão, a
Procuradoria do banco público encontra-se, também, obrigada a seguir a legislação de acesso. Acre-
dito que uma informação que visa a orientar a atuação das unidades do Banco Central, especialmen-
te o Departamento de Atendimento Institucional, na elaboração de respostas aos cidadãos em de-
mandas fundadas na Lei de Acesso à Informação (LAI), particularmente quanto ao cumprimento de
formalidade prevista na lei (indicação de possibilidade de recurso e eventual indicação da autorida-
de ad quem) não configura risco ou produz qualquer dano potencial à atuação do órgão, visto
que não pode ser considerada uma informação sensível ou de caráter estratégico.
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31. Por conseguinte, o próprio banco deveria, por meio de ações de transparência ativa, definir
critérios ou, até mesmo, classificar informações que considere sensíveis. Dessa forma, tornaria mais
claro para a sociedade que tipo de informações possui natureza pública ou quais, mesmo possuindo
essa natureza, mas, que em função do seu caráter estratégico, não podem ter seu acesso liberado
para o público, em geral.
32. Portanto, como no caso concreto não se encontrou nenhuma excludente que mitigasse o
acesso pelo cidadão à informação, por entender que aqui não cabe acusar quebra de sigilo
profissional de advogado e em função de a informação não envolver questão sensível ou de ca-
ráter estratégico, recomendo que o Banco Central permita o acesso da nota jurídica PGBC
2463/2012 ao cidadão.
33. Deve-se, ademais, ressaltar que a lei de acesso à informação é instrumento de fundamental
importância para garantir maior acesso da sociedade às informações públicas de caráter geral, tor-
nando, assim, o Estado brasileiro mais transparente em suas ações e passível de controle pela socie-
dade. Por este motivo, a destacada lei não deve ser utilizada de forma desleal pelo cidadão, com o
fito de apenas atrapalhar o andamento normal do órgão solicitado. Por isso, é importante ressaltar
que são deveres do administrado, segundo a lei 9.784/99:
“Art. 4o São deveres do administrado perante a Administração, sem pre-juízo de outros previstos em ato normativo:I - expor os fatos conforme a verdade;II - proceder com lealdade, urbanidade e boa-fé;III - não agir de modo temerário;IV - prestar as informações que lhe forem solicitadas e colaborar para oesclarecimento dos fatos”.
Conclusão
34. De todo o exposto, opina-se pela perda de objeto, em relação ao despacho 10513/2013-
BCB/PGBC e à nota jurídica PGBC 5426/2013, uma vez que já foram disponibilizadas ao cidadão
pelo próprio recorrido; pelo conhecimento e pelo provimento do recurso interposto, sendo conce-
dido ao cidadão acesso às partes não sigilosas da nota jurídica PGBC 3417/11, por entender que
este acesso está em conformidade com Lei n° 12.527/11. Ademais, insta-se que o Banco Central do
Brasil providencie o acesso do cidadão ao teor completo da nota jurídica PGBC 2463/2012, por
entender que este documento não cobre as hipóteses de sigilo elencadas na Lei n° 12.527/2011.
JORGE ANDRÉ FERREIRA FONTELLES DE LIMA218
Analista de Finanças e Controle
D E C I S Ã O
No exercício das atribuições a mim conferidas pela Portaria n. 1.567 da
Controladoria-Geral da União, de 22 de agosto de 2013, adoto, como fundamento deste ato, o
parecer acima, para decidir pelo provimento do recurso interposto, nos termos do art. 23 do
referido Decreto, no âmbito do pedido de informação nº 18600.005236/2013-61, direcionado ao
Banco Central do Brasil, para que este, no prazo de dez dias, providencie o acesso integral à nota
jurídica PGBC 2463/2012 e o acesso à nota jurídica PGBC 3417/2011, devendo ser ocultados os
nomes do ex-servidor do Banco Central do Brasil e da pensionista mencionados no texto do
documento.
JOSE EDUARDO ELIAS ROMÃOOuvidor-Geral da União.
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PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICAControladoria-Geral da União
Folha de Assinaturas
Referência: PROCESSO nº 18600.005236/2013-61
Documento: PARECER nº 2895 de 15/07/2014
Assunto: Recurso contra decisão denegatória ao pedido de acesso à informação.
Ouvidor
Assinado Digitalmente em 15/07/2014
JOSE EDUARDO ELIAS ROMAO
Signatário(s):
Este despacho foi expedido eletronicamente pelo SGI. O código para verificação da autenticidade deste
documento é: c1a514bb_8d16e76aa845a23
PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICACONTROLADORIA-GERAL DA UNIÃO
DESPACHO DE CONFIRMAÇÃO
No exercício da competência atribuída à CGU pelo §2º do art.
16 da Lei 12.527, de 18 de novembro de 2011, e pelo §2º do art. 23 do Decreto
7.724, de 16 de maio de 2012, e com fundamento no inciso I do art. 2º da
Portaria CGU 1.567, de 22 de agosto de 2013, confirmo a decisão proferida
pelo Sr. Ouvidor-Geral da União- Substituto com fundamento no Parecer
nº , a fim de decidir pelo provimento do recurso interposto em face do
Banco Central do Brasil, no âmbito do pedido de informação
nº18600.005236/2013-61.
O Banco Central do Brasil deverá conceder o acesso do cidadão
Ricardo de Sales Caldeira, no prazo de dez dias, a contar da publicação desta
decisão, à nota jurídica PGBC 2463/2012 e o acesso apenas ao conteúdo não
sigiloso da nota jurídica PGBC 3417/2011, devendo ser ocultados os nomes do
ex-servidor do Banco Central do Brasil e da pensionista mencionados no texto
do documento.
Brasília, 03 de Julho de 2014.
Jorge Hage SobrinhoMINISTRO DE ESTADO CHEFE DA CONTROLADORIA-GERAL DA UNIÃO