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A474a Alves, Silvio Dutra Conversão e santificação do subconsciente / Silvio Dutra Alves. – Rio de Janeiro, 2017. 92p.; 14,8x21cm

1. Teologia. 2. Vida Cristã. 3. Conversão. 4. Santificação. I. Título.

CDD 230.227

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O sangue de Jesus nos justificou do pecado,

mas dependemos do lavar renovador diário do

Espírito Santo, uma vez que fomos submetidos

ao seu lavar regenerador na conversão.

Como temos ainda um velho homem habitando

em nós, que muitas vezes se levanta numa

ousadia não santa, que é na verdade um espírito

de independência orgulhoso, obstinado,

desobediente, presunçoso; ele somente pode

ser quebrado pelas humilhações que nos são

impostas pelas provações que Deus reserva

para nós, às quais Tiago chama de tentações,

porque na verdade, configuram uma parte das

diversas provações que nos são administradas

pelo Senhor em Sua infinita sabedoria, para que

aprendamos a ser mansos, quietos, humildes e

desconfiados de nossas próprias habilidades,

especialmente no que se refere às coisas que

são espirituais, celestiais e divinas.

Pensamos ter o que não temos.

Pensamos ser o que não somos.

E, quando pensávamos estar atingindo os

arcanos da santidade celestial, como sendo

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arrebatados ao terceiro céu, julgando

incorretamente, que enquanto no corpo seria

possível manter permanentemente um grau

elevadíssimo de santificação, veio o espinho na

carne, um mensageiro de Satanás para nos

esbofetear, para o nosso próprio bem, de

maneira a não ficarmos ensoberbecidos com a

obra de santificação que o Espírito Santo tem

produzido em nossas vidas.

Isto pode vir na forma de pensamentos de

derrota, de pensamentos vexatórios, ou de

reações não cristãs; então conhecemos pela

graça de Deus, que não somos ainda os anjos

que seremos no céu, e desta forma podemos ser

mais úteis em Suas mãos para interceder pelos

pecadores, lhes pregar e ensinar o evangelho de

Cristo com humildade e mansidão.

Convém que se diga, que tanto nos

pensamentos ou nos sonhos involuntários que

temos e sejam pecaminosos, no entanto no caso

dos crentes não os tornam em nenhuma

condição, culpados diante de Deus, porque de

tudo isso foram absolvidos por meio do

sacrifício de Jesus.

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Os pensamentos voluntários pecaminosos

podem seguramente impedir a comunhão com

Deus; o que não é o caso dos pensamentos

involuntários e sonhos pecaminosos.

Não cremos que seja dado ao diabo livre acesso

ao nosso subconsciente enquanto dormimos,

gerando sonhos e pesadelos que ofendam a

justiça e a santidade de Deus. Mas, não é

desconhecido que os demônios podem insuflar

pensamentos pecaminosos quando não os

desejamos, em estado consciente, e neste caso

não são postos em nossa conta, de modo que

cheguem a atrapalhar a comunhão com Deus.

Esta guerra é complexa, e a maioria dos crentes

não têm sequer conhecimento das muitas

estratégias envolvidas na batalha espiritual que

ocorre em seu próprio espírito, alma e corpo, os

quais, a propósito devem ser inteiramente

santificados.

Assim, muitos se sentem condenados e

culpados por sentimentos e pensamentos a que

não deram origem, senão por sugestão maligna

do Inimigo de suas almas, importando que

continuassem, uma vez repreendidos tais

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sentimentos e pensamentos, em comunhão com

o Senhor na realização dos deveres que lhes são

ordenados, na prática do bem.

Nisto se aprende também a não se confiar em si

mesmo, mas na graça de Jesus e Sua obra de

justificação pelo sangue derramado na cruz.

Quanto a pensamentos voluntários

pecaminosos, estes devem ser confessados e

insistir em oração até que se seja libertado

deles, não importando quantas vezes sejam

necessárias para se orar por libertação. Isto

também se aplica aos pensamentos

pecaminosos involuntários, que não sejam de

origem satânica, mas em muitos casos,

decorrentes de práticas pecaminosas passadas

que vez por outra surgem na mente, e há grande

dificuldade de serem evitadas, pois como

dissemos, eles surgem sem terem sido

invocados ou desejados de forma consciente.

Deus, em Sua grande misericórdia e amor

possui um controle total sobre os pensamentos,

sonhos e reações do subconsciente que nos

aterrorizam, e sobre os quais não temos

qualquer controle próprio para evitá-los.

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Devemos confiar inteiramente nEle e na Sua

graça, para que no tempo oportuno recebamos

alívio e descanso destas provações, que como

quaisquer outras sempre chegam a um fim,

ainda que seja por um determinado período,

pois está na soberania do Senhor, se

necessitaremos ou não ser ainda submetidos no

futuro, a novas provações do mesmo caráter.

Em todo o caso, se permanecermos fiéis ao

Senhor e à Sua vontade de modo consciente,

tudo estará agindo para o nosso próprio bem, e

todas as provações vencidas por meio da fé em

Jesus somente contribuirão para aperfeiçoar a

nossa fé, e nos amadurecer espiritualmente

fazendo com que aprendamos a perseverança,

a experiência e a esperança.

Em todas estas tribulações da alma ou do

espírito temos motivo de nos gloriarmos nelas

e no Senhor, porque estas cruzes estão nos

ensinando a conhecer a excessiva malignidade

do pecado, a valorizarmos a santidade do

Senhor e a ansiarmos por ela.

Queremos ser revestidos do que é imortal, a

ponto de desejar deixar o nosso tabernáculo

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terreno, para que sejamos inteiramente

absorvidos pela vida que está escondida em

Cristo Jesus.

Enquanto no corpo gememos, mas vem a hora

em que já não haverá mais lágrima, gemido e

clamor, porque assim como Ele,

também seremos, a saber, inteiramente santos.

Apesar da plenitude da perfeição da santificação

ser alcançada somente no porvir, entretanto é

imperioso que se busque a perfeição

(maturidade) da santificação do homem total.

Quando a Bíblia se refere ao homem total

(espírito, alma e corpo), aí também está incluído

o subconsciente, que portanto também deve ser

santificado progressivamente pelo poder do

Espírito Santo de Deus, à medida que crescemos

e somos fortalecidos no homem interior,

mediante a prática da Palavra de Deus, cujos

preceitos vão sendo implantados mais e mais

em nosso ser, à medida da nossa consagração.

“E o mesmo Deus de paz vos santifique em tudo;

e todo o vosso espírito, e alma, e corpo, sejam

plenamente conservados irrepreensíveis para a

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vinda de nosso Senhor Jesus Cristo.” (1

Tessalonicenses 5.23)

Antes de tudo deve ser entendido, que a

conversão e santificação operadas pelo Espírito

Santo, por meio da fé em Jesus Cristo abrangem

o homem total (corpo, alma e espírito,

incluindo-se o subconsciente).

Na conversão a Cristo, indubitavelmente, o

subconsciente e o consciente regenerados e

renovados, por meio do poder do Espírito Santo

permanecem debaixo do Seu poder e controle

de maneira efetiva e eficaz, mas isto é somente

realizado quando andamos no Espírito.

Se antes da conversão, tanto o consciente

quanto o inconsciente eram governados pela

natureza pecaminosa não regenerada pelo

Espírito Santo, exercendo completo domínio

sobre a vontade, os pensamentos, os afetos e as

ações, a partir da conversão a graça passa a

reinar onde antes reinava o pecado como senhor

absoluto, e então todo um conflito passa a ser

estabelecido no interior do crente, entre o que

a Bíblia chama de velha criatura ou velho

homem, e a nova criatura ou novo homem.

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Como a antiga natureza permanece no crente

mesmo depois da conversão em que recebe

uma nova natureza, é-lhe ordenado que pela

consagração ao Senhor, se despoje progressiva

e continuamente do velho homem, e de igual

modo se revista do novo.

Assim, onde um deve crescer e aumentar, o

outro deve enfraquecer e diminuir.

Todavia, não se trata de haver duas

personalidades no crente, quando se fala em

velho e novo homem habitando nele, mas de

duas influências distintas operando na mesma

pessoa, sendo que uma está sujeita à ação

cooperativa com a graça de Deus (nova), e a

outra se lhe opõe (velha).

Esta influência, tanto do velho homem, quanto

do novo se encontram atuando em todas as

partes do corpo, da alma e do espírito, e em

todas as suas faculdades: afetos, vontade,

razão, pensamentos, o consciente, e

subconsciente, os quais são faculdades da alma;

em todos os membros do corpo; e nas

faculdades do espírito sobre o qual atuam as

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obras da carne (velho homem) ou o fruto do

Espírito (novo homem).

Podemos identificar isto de modo prático, pelas

manifestações tanto do nosso consciente,

quanto do nosso subconsciente.

Quando o crente se encontra em estado de

vigília, estando com suas faculdades bem

despertadas para a vontade de Deus e

sujeitadas à operação do Espírito Santo, ele

pode e deve vencer as investidas pecaminosas

do subconsciente, sobretudo em pensamentos

e imaginações pecaminosos. Há, portanto o que

se pode chamar de vitória do espírito sobre a

carne, ou seja, do homem espiritual sobre o

homem carnal.

Mas, quando há o estado de inconsciência,

especialmente durante o sono pode-se ainda

observar, quando se desperta e se sonhou, que

ainda havia uma manifestação da nova criatura

(sem um controle consciente, evidentemente),

pela presença de sonhos que podemos chamar

de abençoados, em que agimos conforme a

vontade de Deus em nossas ações e reações.

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Estes sonhos santificados, embora totalmente

fora do nosso próprio controle consciente

comprovam a existência de uma ação e controle

do Espírito Santo em nossa natureza

regenerada, porque onde abundou o pecado a

graça de Cristo está destinada a reinar em seu

lugar. Comprova-se assim, até mesmo pelos

sonhos que tivemos, nos quais agimos segundo

a vontade de Deus, parcial ou totalmente, que

tivemos de fato um encontro pessoal com

Cristo, porque Ele exerce domínio sobre o

homem total quando nos convertemos.

Agora, para fins diversos e entre estes, para nos

manter humildes e conhecedores que de fato

habita em nós uma natureza corrompida, da

qual seremos totalmente despojados somente

depois da morte do corpo, Deus permite que

tenhamos tanto em estado de vigília, quanto

durante o sono, ações e reações pecaminosas,

sobre as quais não há em nós qualquer poder

para que possam ser vencidas, especialmente

aquelas que se referem a pensamentos

pecaminosos.

Nada podemos fazer além de evitar as fontes de

tentação e orar a Deus para que nos purifique

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de tais pensamentos, ações e reações, e que nos

leve a pensar somente naquilo que é santo, bom

e de boa fama, e a agir e a reagir somente do

modo que Lhe seja agradável.

Se há, como temos visto esta ação da graça de

Cristo pelas operações do Espírito Santo em

todo o homem exterior e interior do crente, não

cremos que seria apropriado então, chamar o

subconsciente de velho homem, e o consciente

do crente de novo homem, porque o pecado

pode se manifestar ainda, tanto no consciente

quanto no inconsciente, de modo que não é o

subconsciente propriamente dito que é

pecaminoso, mas a influência da natureza

decaída que nele opera.

A guerra da carne contra o Espírito e do Espírito

contra a carne há de se estender, conforme

afirma a Bíblia, enquanto estivermos aqui

embaixo habitando neste corpo mortal.

E se nada podemos fazer no que tange a impedir

o surgimento de pensamentos que brotam

involuntariamente em nós, ou sonhos que

perturbam a nossa paz, todavia podemos, em

relação aos pensamentos, quando em estado

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consciente, rejeitá-los, repreendê-los, elevar

orações em busca de libertação ao Senhor, e

ocupar a mente com a Palavra de Deus em

exercícios que nos levem a nada termos em nós,

que venha dificultar a cultivar um coração que

não nos condene.

Em todo o caso devemos lembrar, que o sangue

de Jesus Cristo nos purifica de todo o pecado

quando os confessamos, sejam eles até mesmo

em pensamentos, podendo assim confiar

inteiramente que Ele é fiel e justo para nos

perdoar os pecados e nos purificar de toda

injustiça.

Além disso, devemos lembrar sempre que não

temos um coração puro por sermos impecáveis,

mas por levar o pecado a sério e resistir

bravamente a ele por meio da fé no sangue de

Jesus.

Assim, enquanto gememos pelos pensamentos

ou sonhos pecaminosos que nos levam a clamar

por libertação, devemos sempre ter em conta

que não deixamos de ser aceitáveis a Deus em

razão das fraquezas que nos rodeiam, e das

lutas que temos contra as investidas da carne.

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Por isso nosso Senhor Jesus Cristo nos alertou,

que apesar de o espírito estar sempre pronto

para nos dar a vitória, a nossa carne é fraca, e

devemos exercer fé e confiança na Sua vitória

sobre a carne, nos momentos em que nos

encontramos enfraquecidos.

É de fato maravilhoso experimentar a força

operante do Seu poder se manifestando em

nossa fraqueza, assim como sucedeu na

experiência do apóstolo Paulo em relação ao

espinho na carne que o levava a ser humilhado,

a ponto de dizer que tinha prazer nas fraquezas

por amor de Cristo, uma vez que quando era

fraco, então era fortalecido pela graça do

Senhor.

O poder é do Senhor e não nosso.

A graça é do Senhor e não nossa.

Os méritos da nossa conversão, justificação,

regeneração e santificação Lhe pertencem e não

a nós.

Toda a plenitude está nEle e não em nós.

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Estamos engatinhando em busca de

crescimento espiritual e revestimento desta

plenitude, com a qual Ele está pronto a nos

conceder todas as coisas que nos são

necessárias para andarmos de modo agradável

a Deus.

Pensamentos vãos e pecaminosos que não

desejamos ter, sonhos e pesadelos que de igual

forma abominamos, e toda sorte de luta que

tenhamos que travar contra a carne glorificam o

nome do Senhor, quando perseveramos em

buscar a santificação a par de tudo o que possa

nos abater e afligir.

Nessas coisas estamos aprendendo a andar por

fé e não por vista. A andar pelos triunfos do

Senhor e não pelas nossos. A confiar

inteiramente na Sua graça e justiça e não em nós

mesmos.

Por isso somos ordenados a correr nossa

carreira olhando não para as nossas

possiblidades, mas para o Autor e consumador

da nossa fé.

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Para refletirmos um pouco mais sobre estas

afirmações, apresentamos a seguir alguns

pensamentos de Stanley Jones, destacados do

décimo quarto capítulo do seu livro intitulado

“Conversão”:

Quão profundamente esse instilar da "natureza

divina" atinge? Que vai até o consciente, nós

sabemos.

Alcança também o subconsciente? Poderemos

ter novamente subconsciente?

A questão mais importante para a teologia é:

pode o subconsciente ser redimido?

Porque a psicologia nos fala que somos

grandemente limitados pelo subconsciente. O

Dr. Arnold A. Hutschnecker coloca a questão

dessa forma: "Ele (Freud) mostrou como a razão

muitas vezes segue docilmente, apressando-se

com explicações e justificações - chamaríamos

de racionalizações - os atos e as opiniões

determinadas sobre a esfera do subconsciente".

O Dr. Menninger mais adiante declara: "Muitos

que sofrem de conflitos emocionais aceitariam

de boa vontade, avidamente até, colocar-se no

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altar da mesa de operação e sacrificar uma parte

de seu corpo aos terríveis complexos de culpa

que inconscientemente o dominavam".

O diretor do Hospital de Senhoras da

Universidade de Tübingen diz:

"Sua enfermidade é um conflito psíquico

navegando sob a bandeira ginecológica". Esse

conflito situa-se grandemente no

subconsciente.

O Dr. Hutschnecker logo adiante declara:

"Manifeste-se o achaque em fadiga, insônia,

indigestão, colite, prisão de ventre, diarreia, ou

alergia de uma ou outra espécie; em geral, atrás

disso tudo repousa a ansiedade". A sede dessa

ansiedade está no subconsciente. Essa

ansiedade no subconsciente produz tensão na

pessoa toda.

Em tensões prolongadas o corpo se mantém

num constante estado de mobilização. As

reservas de energia se consomem

ininterruptamente, as tensões se sustêm

impiedosamente, e órgãos como o coração e os

que se envolvem em processos químicos

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complexos são levados à sua máxima

capacidade, sem pausa. Em tensões

prolongadas disparamos um motor de alta

potência à velocidade extrema - em ponto

morto, queimamos combustível e nos

consumimos, mas não vamos a parte alguma.

Eis o efeito destrutivo das tensões prolongadas.

A sede dessa "tensão" é um subconsciente

perturbado.

Pela conversão da consciência se recebe um

novo sentido de purificação, nova lealdade,

novo amor. Esse instilar é tão real, tão

agradável, tão decisivo para a conduta, que o

convertido pensa que a batalha terminou, que a

vida agora é apenas uma jubilosa canção de

vitória. Em geral, esses dias de lua de mel

chegam ao fim dentro de um ano.

Os impulsos do subconsciente, que têm estado

sufocados no fundo, aparentemente aturdidos

em insensibilidade pelo instilar dessa nova,

diferente, e autoritária vida na mente

consciente, começam agora a reafirmar-se.

Gênios, temperamentos, e temores que

julgávamos destruídos para sempre erguem

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suas cabeças dos abrigos contra a tempestade

do subconsciente, e lutam entre seguir o

consciente ou o subconsciente. Paulo chama-a

de guerra entre o "espírito" e a "carne". Goethe

assim se expressa:

Duas almas, ai! ai! se aninham em meu peito,

e aí lutam

por um reino indivisível.

Muitos presumem que o empate é o melhor que

a fé cristã oferece; por isso se acomodam à

condição de se neutralizarem nesse conflito

inevitável. O sétimo capítulo da epístola aos

Romanos é sua fuga e desculpa - Paulo tinha

esse conflito, por que não teremos nós?

Se o sétimo capítulo aos Romanos fosse o único

Evangelho que Paulo tivesse para pregar, nunca

mais teríamos ouvido falar dele. Mas o sétimo

aos Romanos é pré-cristão - um homem sob a

lei lutando com o pecado em seu subconsciente,

sem os recursos de Cristo à sua disposição.

Retrata a experiência do mundo todo sem

Cristo. A fé cristã oferece uma saída para esse

dilema?

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Ela só o fará, se conseguir a conversão do

subconsciente, e isso ela faz justamente. A área

de trabalho do Espírito Santo está em grande

parte, se não inteiramente, no subconsciente.

Quem criou o subconsciente fez planos para a

sua redenção, sua conversão, sua santificação.

Que espécie de Criador seria Ele, se criando o

subconsciente, não proporcionasse sua

redenção no caso do mal invadi-lo?

E o mal o invadiu. O anelo do ser transformou-

se em egoísmo; o impulso do sexo se tornou

sexualismo; o instinto gregário transformou-se

em subserviência às massas - fazendo da pessoa

uma dominada pelas massas.

Tudo isso com o nosso consentimento. Um

cavalo de Troia se introduziu em nosso

subconsciente e em momentos de crise seus

habitantes escondidos saltam e assumem o

comando de ações e reações. Uma guerra civil

resulta entre a mente consciente convertida e a

subconsciente não convertida. Uma mulher

assim expressa o fato: "Sou a pior personalidade

do mundo. Dou pontapés nas pessoas, nas

canelas, e sou a primeira a fazê-lo". Obviamente

em sua mente consciente repugnava-lhe ser "a

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pior personalidade do mundo", contudo em seu

subconsciente ela era o que lhe causava nojo.

Uma garotinha de quatro anos num lar

missionário levantava-se sempre da mesa e ia

para a outra sala, enquanto sua irmã mais velha

lia as passagens da Bíblia. Por quê?

Ela sempre queria fazer o que a irmã mais velha

fazia, e quando não podia ler como a irmã,

retirava-se da situação e fugia. Frequentemente

a vontade de fugir, de escapar, a vontade de

fracassar reside no subconsciente, e fugimos

em vez de enfrentar as situações desagradáveis.

A menos que o subconsciente possa ser

purificado, convertido e consagrado aos novos

objetivos, a pessoa com um subconsciente não

convertido está quase vinculada a ser meia

pessoa, com meio rendimento.

É, portanto boa nova saber que o trabalho do

Espírito Santo se destina a converter o

subconsciente, especialmente para o converter.

"O Espírito da verdade... habita convosco e

estará em vós". Ele passa de "com" para "em".

Ele não pode nos redimir do exterior. Essa é

uma tarefa do interior. Nenhuma exortação ou

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repetição de conselhos piedosos do exterior

pode tocar tais profundezas interiores. Força

dinâmica, redentora deve mover no íntimo e

assumir a direção desses impulsos, com o nosso

consentimento, purificá-los e controlá-los. Essa

Força redentora é o Espírito Santo.

Antes do Pentecoste o Espírito Santo estava

"com" os discípulos, mas não "em"; neles. Eis

porque vemos se erguerem à superfície, sinais

do subconsciente não convertido:

1) Egoísmo obstinado: disputavam os primeiros

lugares;

2) Justiça própria: "Ainda que venhas a ser um

tropeço para todos, nunca o serás para mim";

3) Ressentimentos: “Queres que mandemos

descer fogo do céu para os consumir?";

4) Falta de poder espiritual: "Por que motivo não

pudemos nós expulsá-lo!";

5) Crítica: Para que este desperdício?";

6) Intolerância de grupo: "Nós lho proibimos,

porque não seguia conosco";

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7) Preconceito racial: "Despede-a, pois vem

clamando atrás de nós";

8) Avidez egoísta: "Eis que nós tudo deixamos e

te seguimos... que será de nós?";

9) Aversão por autossacrifício: "Tem compaixão

de ti, Senhor; isso de modo algum te

acontecerá";

10) Medo: "Trancadas as portas da casa... com

medo".

Assim como as borbulhas surgem à superfície

do lago vindas do lodo no fundo, mostrando

que há podridão ali, assim essas dez borbulhas

se ergueram do subconsciente dos discípulos e

revelaram que este não havia ainda sido

redimido; havia podridão ainda operando nas

profundidades. Todas essas coisas

desapareceram quando o Espírito Santo operou

no interior e assumiu a direção.

As mesmas coisas se manifestaram entre os

cristãos primitivos. Eram cristãos de mentes

conscientes, convertidas, mas Paulo podia

dizer: “Temo, pois, que, indo ter convosco, não

vos encontre na forma em que vos quero; e que

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também vós me acheis diferente do que

esperáveis, e que haja entre vós contendas,

invejas, iras porfias, detrações, intrigas, orgulho

e tumultos" - 2 Cor 12.20.

Entre as sete coisas, bem no meio está "porfias",

a insubmissão do ser. Sempre está no centro de

um subconsciente não convertido. O ser

insubmisso era a raiz, e a "contenda", o fruto.

Um era a causa e o outro o efeito.

Nós racionalizamos essas atitudes e atos

errados, mas no fundo são as mesmas

manifestações de um subconsciente não

convertido. Uma garotinha disse: "Mamãe,

quando a coisa é comigo, é o mau gênio, mas

quando é com a senhora, são os nervos".

Em ambos os casos agia o subconsciente não

convertido. Um pastor assim definiu: "As

pessoas que vivem para si mesmas estão

constantemente com a sensibilidade ferida".

Esta sensibilidade é o aflorar de um

subconsciente não convertido.

Quando o Espírito Santo desceu e assumiu a

direção da vida dos discípulos, cada um dos dez

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frutos repulsivos do subconsciente inconvertido

desapareceram. Em vez de avidez egoísta houve

autoentrega; autorretidão foi substituída por

profunda humildade baseada na graça; os

ressentimentos se dissolveram; a falta de poder

espiritual se transformou em suficiência

espiritual; a crítica deu lugar à apreciação;

fanatismo de grupo se tornou cooperação do

grupo; preconceito racial se transformou em

fraternidade humana; cobiça egoísta se

transformou na mais surpreendente explosão

de caridade de que o mundo jamais ouviu falar;

a aversão ao autossacrifício se transformou em

autossacrifício que nunca foi igualado; o medo

se transformou em coragem que com alegria

segue o caminho da perseguição e da morte.

Tudo isso se fez com desembaraço, não porque

os discípulos o estivessem fazendo, mas porque

estavam permitindo que o Espírito Santo dentro

deles o fizesse. Isso soa trivial, mas é a mais

importante diferença no mundo, do motivo e da

dinâmica humanas para a conduta. Pois isso

reduz ao subconsciente a base de nosso viver,

aonde podemos fazer as coisas ou não fazê-las.

Se o Espírito Santo pode assumir o comando do

subconsciente, com o nosso consentimento e

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cooperação; então nós temos o altíssimo Poder

operando no alicerce de nossas vidas, podemos

realizar qualquer coisa que devemos realizar, ir

a qualquer lugar onde devemos ir, e ser aquilo

que devemos ser. A vida é suprida de

fundamento suficiente.

Sem esse fundamento tateamos

desajeitadamente a vida. Há o que é conhecido

como "casa de força". Está sua casa suprida de

energia suficiente, para fazer trabalhar todas as

coisas de que precisa, para empregar em um

viver adequado?

Se não, então você está constantemente

queimando fusíveis quando uma carga muito

pesada é lançada na "casa de força". Isso ocorre

em nossas vidas.

Quando exigências muito pesadas se lançam

sobre nossa "energia pessoal", nós queimamos

o fusível, "com os nervos à flor da pele",

dizemos. É um sinal de frustração, de

insuficiência para enfrentar as exigências da

vida. Não somos maus, somos apenas

insuficientes. Nada há no subconsciente a não

ser nossos acionamentos básicos, somente

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controlados pela mente consciente que os

reprime. Isso quer dizer que há uma tensão

básica entre o consciente e o subconsciente -

somos basicamente tensos.

Paulo assim se expressa:

"Porque a carne milita contra o Espírito, e o

Espírito contra a carne, porque são opostos

entre si; para que não façais o que porventura

seja do vosso querer" (Gál 5.17).

Eis que as mentes consciente e subconsciente

estão sob um único controle e uma única

redenção - o Espírito Santo. Você se torna uma

personalidade unida.

Que o Espírito Santo consagra esses impulsos

não somente de início, mas continua a

consagrá-los, é algo mais uma parte das boas

novas. Ele é o Espírito de consagração, "pelo

Espírito eterno, a si mesmo se ofereceu sem

mácula a Deus", Hebreus 9.14.

O eterno Espírito era o poder por trás da oferta

de Cristo sobre a cruz. Ele conserva

eternamente nossas forças e impulsos

consagrados desde que o consintamos. Não há

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necessidade de nos erguermos nervosos e

tensos junto ao altar da consagração para

conservar as energias e anelos "diante do altar".

O Espírito Santo realiza a consagração; isso

abate a tensão de ansiedade interior. Abandone-

se e deixe Deus, o Espírito Santo, tomar a

direção das profundezas centrais de seu ser, o

subconsciente. Assim poderá abandonar nEle o

peso total, e realmente se relaxar.

Eis que seus sonhos, que são os afloramentos

do subconsciente se transformam em sonhos

cristãos. A psiquiatria pagã não tem noção do

controle do subconsciente pelo Espírito Santo,

portanto nenhuma noção de um sonho cristão.

Quando um cristão inteiramente submisso a

Deus sonhou que alguém lhe havia feito o pior

que se possa fazer contra o próximo, e, ainda

em sonhos, apossou-se do inimigo pela

garganta com ambas as mãos e disse: "Poderia

sufocá-lo até a morte, mas eu o perdoo", um

psiquiatra pagão, em vez de ver nisso o sonho

de um cristão verdadeiro diante da reação ao

mal, deu uma interpretação fantasticamente

pagã ao sonho.

Isso me leva a declarar que nossas reações se

tornam cristãs quando o Espírito Santo controla

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o subconsciente. A mente consciente determina

as ações, nosso subconsciente determina as

reações. E as reações são tão importantes

quanto às ações.

Muitos cristãos são cristãos em suas ações; não

mentem, não roubam, não cometem adultério,

não se embebedam, porém reagem mal ao que

lhes sucede, posto que reagem com rancor, mau

gênio, autopiedade, ciúmes e inveja. Se ações

impróprias deixam a pessoa desolada, e deixam

mesmo, então as reações impróprias deixam a

pessoa igualmente desolada.

Casos de reações impróprias podem ser

retratados assim: "Vejam o que me fizeram".

"Vejam o que me aconteceu". Quer a reação

imprópria tenha uma causa ou não, os

resultados são os mesmos; uma personalidade

desolada. Agora, quando as profundezas são

dominadas pelo Espírito Santo, então as reações

são cristãs.

Em um de meus livros contei a história da

reação de uma mulher à morte do marido.

Aceitou-a sem uma lágrima. Não era uma reação

fortuita, uma aberração moral, era uma atitude

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inalterável. Ela conta a mesma vitória por

ocasião da morte de seu pai: "Meu pai estava

sofrendo de câncer de pulmão. Cheguei lá às 13

horas e ele morreu às 19h15. Fui grata a Deus

por ter chegado a tempo, pois minha madrasta

realmente precisava de mim. O quarto estava

cheio de gente, e eu sabia que não havia um

ministro presente, então eu mesma dirigi a

prece. Envolvi minha madrasta com meu braço

e agradeci a Jesus em voz alta pela vida de papai

e pela sua nova vida na glória. Disse que nós

entregávamos sua vida nas mãos de Jesus e que

afinal ele alcançava a Terra Prometida!

Pedi a Jesus que confortasse e ajudasse a

mamãe a viver sem a presença física do papai

em sua vida e que todos naquele quarto

amassem a Jesus mais do que a própria vida,

porque Ele é a Vida. Parece que minha prece

ajudou a todos. Fiquei tão feliz, porque papai

estava salvo e por saber que na verdade, ele

tinha atravessado a Grande Linha Divisória.

Tinha vontade de gritar: Aleluia, Jesus é Senhor!

Mas, por amor a eles deixei que meu semblante

refulgisse a vitória, cuja alegria minha alma mal

podia conter!"

32

Eis aqui a reação à morte do marido e do pai -

reação idêntica de alegria! Isso não poderia

manifestar-se, a não ser através de um

subconsciente convertido. Os Evangelhos

relatam que Jesus: "Na mesma hora ele (Jesus)

regozijou-se no Espírito Santo".

Quando você não pode regozijar-se diante das

circunstâncias, das coisas que ocorrem à sua

volta e em si mesmo, você pode regozijar-se

sempre no Espírito Santo. Ele habita nas

profundezas do subconsciente e é sempre

manancial de alegria. "Habitará convosco para

sempre", a única constante no meio de um

mundo de incertezas e mudanças.

O Espírito Santo faz três coisas; Ele purifica e

consagra os impulsos do subconsciente,

harmoniza o íntimo, e nos ajuda a reagir às

coisas que nos ocorrem de maneira cristã.

A soma total disso significa que agora há poder

em nossas vidas, e não somos impelidos de um

lado para outro pelas circunstâncias. Sabemos

onde queremos ir, temos poder para nos mover

em direção ao alvo. Retiramo-nos do capítulo

sete de Romanos para o oitavo: "A lei do Espírito

33

da vida em Cristo Jesus te livrou da lei do

pecado e da morte".

Esta lei sublime do "Espírito da vida em Cristo

Jesus" cancelou a lei inferior do pecado e da

morte. Assim como um pássaro em voo tira

vantagens da lei de elasticidade do ar, e desse

modo se ergue acima da lei da gravidade, assim

nós vivemos por essa sublime lei que sobrepuja

a lei do pecado e da morte.

Citei Freud ao dizer: "Forças de trevas, de

insensibilidade e de carência de amor

determinam o destino da humanidade". Ele

descobriu o subconsciente e caiu em seu

fatalismo. Cristo fez o subconsciente ("Todas as

coisas foram feitas por intermédio dEle") e

supriu o meio para a sua restauração; supriu

nada menos do que o Espírito Santo, o Espírito

da Criação e o Espírito da Recriação, para

habitar em nós e nos restaurar, não por

mandamentos e exortações, mas pela

companhia e experiência. É operante, porque

Ele opera do interior.

A doutora Henrietta Mears tem sido aproveitada

poderosamente em ajudar a mocidade a seguir

34

nova vida. Ela nos conta o segredo. Era uma

cristã, mas sentia necessidade de poder. Disse

a Deus: "Senhor, tudo abandonei por Ti e a

ninguém mais me apego. Quero que meu corpo

todo seja apresentado a Ti como sacrifício vivo,

cheio até a plenitude do poder do Espírito

Santo".

Então no íntimo de seu coração lhe veio esse

verso: "Quanto mais vosso Pai que está nos céus

dará o Espírito Santo aos que lho pedirem".

Nesse exato minuto ela entendeu que tudo fora

ajustado. Disse: "Obrigada Senhor. Aceito pela

fé o encher-me do Espírito e Seu poder, do

mesmo modo como aceitei a Cristo, meu

Salvador". O Espírito Santo moveu as

profundezas de seu ser, e operou no

subconsciente.

Sentei-me numa estreita garganta no alto de

uma montanha num dia de manhã. À medida

que o dia ia surgindo, o sol inundava o cume da

montanha, mas a garganta mais abaixo estava

coberta de sombras e neblinas, porém à medida

que o dia chegava ao meio, a luz do sol desceu

das colinas e invadiu as profundezas da

garganta também.

35

Com a conversão da mente consciente o dia

começa a romper, a luz se encontra no alto da

mente consciente, mas ainda há os abismos; o

subconsciente, que estão ocultos pela neblina e

treva. Então constatamos as cortinas da neblina

e das trevas do subconsciente e convidamos a

luz, para que invada os abismos. E isso se dá.

"Se teu olho for simples", se tua personalidade

estiver sob o controle do Espírito Santo, "todo o

teu corpo será luminoso" (Mt 6.22); a

personalidade se ilumina com Ele sem nenhuma

sombra ou escuridão. E assim, você está

realmente redimido, realmente convertido.

Até aqui as palavras de Stanely Jones.

Como vimos, Stanley Jones interpreta a

experiência narrada pelo apóstolo Paulo no

sétimo capítulo da epístola aos Romanos, como

sendo a de uma pessoa ainda não convertida.

Todavia, não é esta a interpretação da maioria

dos intérpretes da Bíblia, com os quais

concordamos quando afirmam que ali, se

descreve a própria luta do apóstolo e a de todos

os crentes em Jesus Cristo, uma vez que nunca

somos livrados completamente deste corpo de

36

morte enquanto neste mundo, embora já ter

sido decretada a vitória do Senhor sobre ele na

cruz do Calvário, de modo que agora somos

chamados a nos despojar dele em nossa

caminhada cristã.

Como falamos nas páginas iniciais de nosso

livro, não há algo como uma vida impecável por

parte de qualquer crente, senão avanços

maiores em santificação, sem no entanto, levá-

los à perfeição espiritual, com o que o próprio

apóstolo Paulo concorda e afirma em relação a

si mesmo na epístola aos Filipenses.

Estamos destinados por Deus a ser como os

anjos, e devemos procurar viver como eles

(santificados, purificados) enquanto vivemos

neste mundo, mas por maiores que sejam os

nossos progressos neste sentido, muito do que

se vê em nós são desejos, aspirações, exercícios

e busca de uma maior santificação, sem que

jamais venhamos alcançá-la em sua plenitude,

sem ter em nós qualquer pecado em forma de

pensamento, ação, reação, palavras ou omissão.

Na verdade, o próprio Deus para fins

proveitosos e edificantes permite que sejamos

37

enfraquecidos, e falhemos em ocasiões

apropriadas e oportunas por Ele determinadas

para que aprendamos que não habita de fato

qualquer bem em nós, que provenha de nós

mesmos, de nossa capacidade e poder, de modo

que entendamos que sem Cristo nada podemos

fazer.

Somos assim trazidos na humildade que nos

convém ter. Aprendemos a ficar calados e a não

nos precipitarmos em exibir nossos dons, ainda

que tenham sido recebidos de um modo

especial da parte do Senhor.

É muito conveniente que haja no verdadeiro

santo, o pensamento de que ele é o principal

dos pecadores, assim como havia em Paulo.

Mas, como seríamos convencidos disso de fato

e em verdade, caso não falhássemos apesar de

todo empenho da nossa vontade para não falhar

e nos apresentarmos santos e inculpáveis

perante o Senhor?

De modo que o apóstolo Tiago afirma, que

devemos ter por motivo de toda a alegria o

cairmos em várias tentações, e não há aqui

38

qualquer contradição com o ensino de Jesus,

que nos ordena a orar para que não sejamos

conduzidos a tentações e a sermos livrados do

mal, em sua oração dominical.

Um coisa é cair em tentações pecaminosas por

falta de vigilância espiritual, falta de zelo para

com o Senhor, ou falta de cuidado com a

santificação da vida, e outra muito diferente é

fracassar quando vigiávamos, lutávamos,

orávamos, buscávamos ao Senhor e Sua vontade

de todo o nosso coração, em obediência à Sua

Palavra, e ainda assim, Ele permitiu que

fracassássemos, como ocorreu no caso de Pedro

que negou a Jesus, tendo até mesmo o Senhor

predito que o faria, uma vez que mesmo tendo

intercedido por ele, Pedro caiu, mas não para

uma queda final, em razão da intercessão de

Jesus por ele; e cremos que aquela provação foi

o principal fator contribuinte para curá-lo de sua

autoconfiança e autojustiça.

O Pedro que pensava não ser necessário que

Jesus lhe lavasse os pés, agora estava

voluntariamente não apenas deixando que os

lavasse, mas sabendo conscientemente o

quanto era dependente daquela purificação que

39

somente o Senhor pode realizar, para que

continuasse sendo aceitável a Deus.

O sangue de Jesus nos justificou do pecado,

mas dependemos do lavar renovador diário do

Espírito Santo, uma vez que fomos submetidos

ao seu lavar regenerador na conversão.

Como temos ainda um velho homem habitando

em nós, que muitas vezes se levanta numa

ousadia não santa, que é na verdade um espirito

de independência, orgulhoso, obstinado,

desobediente, presunçoso; ele somente pode

ser quebrado pelas humilhações que nos são

impostas pelas provações que Deus reserva

para nós. Tiago as chama de tentações, porque

na verdade configuram uma parte das diversas

provações que nos são administradas pelo

Senhor em Sua infinita sabedoria, para que

aprendamos a ser mansos, quietos, humildes e

desconfiados de nossas próprias habilidades,

especialmente no que se refere às coisas que

são espirituais, celestiais e divinas.

Pensamos ter o que não temos.

Pensamos ser o que não somos.

40

E quando pensávamos estar atingindo os

arcanos da santidade celestial, como sendo

arrebatados ao terceiro céu, e julgando

incorretamente, que enquanto no corpo seria

possível manter permanentemente um grau

elevadíssimo de santificação, veio o espinho na

carne, um mensageiro de Satanás para nos

esbofetear, para o nosso próprio bem, de

maneira a não ficarmos ensoberbecidos com a

obra de santificação que o Espírito Santo tem

produzido em nossas vidas.

Isto pode vir na forma de pensamentos de

derrota, de pensamentos vexatórios, de reações

não cristãs, e então conhecemos, pela graça de

Deus, que não somos ainda os anjos que

seremos no céu, e desta forma podemos ser

mais úteis em Suas mãos para interceder pelos

pecadores e lhes pregar e ensinar o evangelho

de Cristo com humildade e mansidão.

Convém que se diga que tanto nos pensamentos

ou nos sonhos involuntários que temos e que

sejam pecaminosos, estes não os tornam no

entanto, no caso dos crentes, em nenhuma

condição culpados diante de Deus, porque de

41

tudo isso foram absolvidos por meio do

sacrifício de Jesus.

Os pensamentos voluntários pecaminosos

podem seguramente impedir a comunhão com

Deus; o que não é o caso dos pensamentos

involuntários e sonhos pecaminosos.

Não cremos que seja dado ao diabo livre acesso

ao nosso subconsciente enquanto dormimos,

gerando sonhos e pesadelos que ofendam a

justiça e a santidade de Deus. Mas, não é

desconhecido que os demônios podem insuflar

pensamentos pecaminosos quando não os

desejamos, e em estado consciente; e neste

caso não são postos em nossa conta de modo

que cheguem a atrapalhar a comunhão com

Deus.

Esta guerra é complexa e a maioria dos crentes

não têm sequer conhecimento das muitas

estratégias envolvidas na batalha espiritual que

ocorre em seu próprio espírito, alma e corpo, os

quais a propósito, devem ser inteiramente

santificados.

42

Assim, muitos se sentem condenados e

culpados por sentimentos e pensamentos a que

não deram origem, senão por sugestão maligna

do Inimigo de suas almas, importando que

continuassem, uma vez repreendidos tais

sentimentos e pensamentos, em sua comunhão

com o Senhor na realização dos deveres que

lhes são ordenados, na prática do bem.

Nisto se aprende também a não confiar em si

mesmo, mas na graça de Jesus e Sua obra de

justificação pelo sangue derramado na cruz.

Quanto a pensamentos voluntários

pecaminosos, estes devem ser confessados e se

insistir em oração até que se seja libertado

deles, não importando quantas vezes sejam

necessárias para se orar por libertação. Isto

também se aplica aos pensamentos

pecaminosos involuntários, que não sejam de

origem satânica, mas em muitos casos,

decorrentes de práticas pecaminosas passadas

que vez por outra surgem na mente e há grande

dificuldade de serem evitadas, pois como

dissemos, eles surgem sem terem sido

invocados ou desejados de forma consciente.

43

Deus, em Sua grande misericórdia e amor,

possui um controle total sobre os pensamentos,

sonhos e reações do subconsciente que nos

aterrorizam, e sobre os quais não temos

qualquer controle próprio para evitá-los.

Devemos confiar inteiramente nEle e na Sua

graça, para que no tempo oportuno recebamos

alívio e descanso destas provações, que como

quaisquer outras sempre chegam a um fim,

ainda que seja por um determinado período,

pois está na soberania do Senhor se

necessitaremos ou não ser ainda submetidos no

futuro a novas provações do mesmo caráter.

Em todo o caso, se permanecermos fiéis ao

Senhor e à Sua vontade de modo consciente,

tudo estará agindo para o nosso próprio bem, e

todas as provações vencidas por meio da fé em

Jesus somente contribuirão para aperfeiçoar a

nossa fé, e nos amadurecer espiritualmente

fazendo com que aprendamos a perseverança,

a experiência e a esperança.

Em todas estas tribulações da alma ou do

espírito temos motivo de nos gloriarmos nelas

e no Senhor, porque estas cruzes estão nos

ensinando a conhecer a excessiva malignidade

44

do pecado, a valorizarmos a santidade do

Senhor e a ansiarmos por ela.

Queremos ser revestidos do que é imortal, a

ponto de desejar deixar o nosso tabernáculo

terreno, para que sejamos inteiramente

absorvidos pela vida que está escondida em

Cristo Jesus.

Enquanto no corpo gememos, mas vem a hora

em que já não haverá mais lágrima, gemido e

clamor, porque assim como Ele também

seremos, a saber, inteiramente santos.

Apesar da plenitude da perfeição da santificação

ser alcançada somente no porvir, entretanto, é

imperioso que se busque a perfeição

(maturidade) da santificação do homem total,

pois quando a Bíblia se refere ao homem total

(espírito, alma e corpo), aí também está incluído

o subconsciente, que também deve ser

santificado progressivamente pelo poder do

Espírito Santo de Deus, à medida que crescemos

e somos fortalecidos no homem interior,

mediante a prática da Palavra de Deus, cujos

preceitos vão sendo implantados mais e mais

em nosso ser à medida da nossa consagração.

45

“E o mesmo Deus de paz vos santifique em tudo;

e todo o vosso espírito, e alma, e corpo, sejam

plenamente conservados irrepreensíveis para a

vinda de nosso Senhor Jesus Cristo.” (1

Tessalonicenses 5.23)

Isto tem a ver com bebermos mais e mais da

plenitude que está em nosso Senhor Jesus

Cristo.

Todos os que são chamados para serem filhos

de Deus são criados em Cristo Jesus, para serem

tomados de toda a plenitude de Deus.

É no próprio Cristo que o Pai fez habitar toda

esta plenitude com a qual convém que sejamos

revestidos; a plenitude da Sua própria pessoa

divina e Suas virtudes espirituais.

Os filhos de Deus são, portanto vocacionados

para atingirem a referida plenitude, plenitude

esta que conforme está amplamente citado na

Escrituras, é a plenitude do próprio Cristo que é

comunicada a eles pela fé e progresso em

santificação.

“Pois todos nós recebemos da sua plenitude, e

graça sobre graça.” (João 1.16)

46

“17 Ele é antes de todas as coisas, e nele

subsistem todas as coisas;

18 também ele é a cabeça do corpo, da igreja; é

o princípio, o primogênito dentre os mortos,

para que em tudo tenha a preeminência,

19 porque aprouve a Deus que nele habitasse

toda a plenitude,” (Col 1.17-19)

“8 Tendo cuidado para que ninguém vos faça

presa sua, por meio de filosofias e vãs sutilezas,

segundo a tradição dos homens, segundo os

rudimentos do mundo, e não segundo Cristo;

9 porque nele habita corporalmente toda a

plenitude da divindade,

10 e tendes a vossa plenitude nele, que é a

cabeça de todo principado e potestade,”

(Colossenses 2.8-10)

Tendo visto que há uma plenitude que todos os

crentes devem alcançar, há então um modo de

ela ser alcançada, e isto é também ensinado a

nós na Palavra de Deus.

47

“14 Por esta razão dobro os meus joelhos

perante o Pai,

15 do qual toda família nos céus e na terra toma

o nome,

16 para que, segundo as riquezas da sua glória,

vos conceda que sejais robustecidos com poder

pelo seu Espírito no homem interior;

17 que Cristo habite pela fé nos vossos

corações, a fim de que, estando arraigados e

fundados em amor,

18 possais compreender, com todos os santos,

qual seja a largura, e o comprimento, e a altura,

e a profundidade,

19 e conhecer o amor de Cristo, que excede

todo o entendimento, para que sejais cheios até

a inteira plenitude de Deus.” (Efésios 3.14-19)

Há uma plenitude a ser buscada e atingida, e no

texto retrocitado podemos verificar que há

necessidade de oração pedindo-a a Deus, o que

deve ser lembrado e não ser feito de forma

genérica como, por exemplo, com as seguintes

palavras “Oh Deus dá-me a tua plenitude”, pois

48

é importante que saibamos o que não somente

significa esta plenitude, como também o que

importa fazermos para alcançá-la.

Veremos adiante que para este propósito, os

apóstolos nos foram dados por Deus (que

mortos ainda nos falam através de seus escritos

na Bíblia), bem como profetas, pastores,

mestres, e evangelistas, para nos ensinarem o

modo de fazer Sua santa vontade, de maneira

que o apóstolo fala de uma “plenitude do

entendimento” para o pleno conhecimento de

Cristo. (Col 2.2), pois é nEle mesmo que se

encontram escondidos todos os tesouros da

sabedoria e da ciência que importa sejam

comunicados a nós.

Daí, que a forma de ser buscada a plenitude de

Cristo em oração seria melhor expressada,

como por exemplo, com as seguintes palavras:

“Oh Deus, dá-me a plenitude de Cristo,

mostrando-me em que devo mudar, em que

devo permitir o trabalho do Espírito Santo, para

que haja em mim a plenitude das virtudes de

Cristo, tendo mortificadas todas as áreas que

em minha vida são ocupadas por hábitos

nocivos ou pecaminosos. Renova e purifica a

49

minha mente para que pense somente no que

for puro e louvável. Não permita Senhor, que eu

me acomode a algum progresso já obtido em

santificação, pois sei que sempre haverá a

necessidade de um maior avanço de purificação

em áreas do meu ser que estão ocultas ao meu

entendimento, e também que há a necessidade

de uma manutenção do que foi alcançado por

uma constante renovação da operação da Sua

graça em meu viver.”

“1 Pois quero que saibais quão grande luta

tenho por vós, e pelos que estão em Laodiceia,

e por quantos não viram a minha pessoa;

2 para que os seus corações sejam animados,

estando unidos em amor, e enriquecidos da

plenitude do entendimento para o pleno

conhecimento do mistério de Deus - Cristo,

3 no qual estão escondidos todos os tesouros

da sabedoria e da ciência.” (Colossenses 2.1-3)

Este conhecimento de Cristo não é nocional, por

se ouvir falar de, mas experimental, por ser

experimentado e incorporado à nossa própria

experiência de vida.

50

“Tu me farás conhecer a vereda da vida; na tua

presença há plenitude de alegria; à tua mão

direita há delícias perpetuamente.” (Salmo

16.11)

A plenitude de alegria espiritual e deleite no

Senhor, a que se refere o salmista são operados

por Deus, mas devemos orar para tal propósito,

como também buscarmos a nossa

transformação pessoal e cooperarmos com o

trabalho de Deus através de uma mente e

vontade renovadas, que queiram e

suportem o trabalho do fogo do ourives que

arrancará as nossas escórias e nos tornará o

metal precioso e puro que é habilitado para

receber as joias de Cristo.

O apóstolo Paulo, com tantos outros servos de

Deus alcançaram a referida plenitude e tiveram

assim,S autoridade para a recomendarem a

outros, conforme é da vontade de Deus.

“E bem sei que, quando for visitar-vos, chegarei

na plenitude da bênção de Cristo” (Rom 15.29)

Mas, ninguém se iluda pensando que esta

plenitude pode ser alcançada sem muitas

51

batalhas espirituais, especialmente contra a

nossa própria natureza decaída, pois há

diversas áreas em nosso ser nas quais não

permitimos que o Espírito de Deus faça o Seu

trabalho de renovação e purificação. Nosso

apego obstinado a hábitos ruinosos, mau

temperamento, e mesmo a pecados é um

grande fator impeditivo de sermos tomados de

toda a plenitude de Cristo, tendo todas as áreas

de nossas vidas tomadas por ela, incluindo-se

aí, até mesmo os nossos pensamentos.

Somos dirigidos pelo Espírito Santo à medida

que lhe entregamos a direção de todas as partes

de nossas vidas.

Convicções arraigadas do que seja certo ou

errado que não correspondam à verdade

conforme se encontra em Cristo são também,

um grande fator impeditivo para o trabalho de

transformação e renovação do Espírito para nos

conduzir à plenitude de Deus.

Devemos estar sempre conscientizados que

fomos criados por Deus para que Cristo

habitasse e fosse Senhor de cada parte de

52

nossos sentimentos, emoções, vontade,

pensamentos e ações.

Devemos dar-Lhe boa acolhida para que Ele

entre em todos os cômodos de nossa casa

espiritual, e ali possa habitar e comandar

segundo o Seu bem querer. E, se algum cômodo

estiver sujo, que peçamos ao Espírito Santo que

passe ali a vassoura celestial para que Cristo

possa ter uma recepção digna de Sua Pessoa

santíssima.

Um bom modo de permitir este trabalho

espiritual é se sujeitando ao ensino daqueles

que Deus levantou para tal propósito, pois

nunca estamos impedidos de receber essa

instrução, porque ainda que não houvesse em

nossos dias, pessoas qualificadas e santificadas

na Igreja para nos ensinarem, temos o

testemunho de muitos servos de Deus do

passado, que embora já tenham morrido, nos

falam através dos seus escritos.

“11 E ele deu uns como apóstolos, e outros

como profetas, e outros como evangelistas, e

outros como pastores e mestres,

53

12 tendo em vista o aperfeiçoamento dos

santos, para a obra do ministério, para

edificação do corpo de Cristo;

13 até que todos cheguemos à unidade da fé e

do pleno conhecimento do Filho de Deus, ao

estado de homem feito, à medida da estatura da

plenitude de Cristo;

14 para que não mais sejamos meninos,

inconstantes, levados ao redor por todo vento

de doutrina, pela fraudulência dos homens, pela

astúcia tendente à maquinação do erro;

15 antes, seguindo a verdade em amor,

cresçamos em tudo naquele que é a cabeça,

Cristo,

16 do qual o corpo inteiro bem ajustado, e

ligado pelo auxílio de todas as juntas, segundo

a justa operação de cada parte, efetua o seu

crescimento para edificação de si mesmo em

amor.” (Efésios 4.11-16)

Vemos assim que a plenitude de Cristo é

evidenciada pelo nosso crescimento no amor, o

qual cresce na mesma medida em que

crescemos na verdade, que é a Palavra de Deus.

54

Há uma altura, uma profundidade, um

comprimento e uma largura na plenitude de

Cristo, que sendo infinitos demandam um

crescimento constante na fé, no amor, na

bondade, na longanimidade, na mansidão, na

força, na coragem, na paz, na alegria, no

domínio próprio, e onde houver a plenitude

destas graças não haverá espaço para o ódio, a

maldade, a impiedade, a ira, a fraqueza, a

covardia, a ansiedade, a autocomiseração, a

intemperança, a ingratidão e tudo aquilo que é

contrário à Pessoa e vontade de Cristo.

Deus quer habitar em todas as partes do nosso

ser, e para isto fez a provisão necessária em

Cristo, em quem podemos achar tudo o que

precisamos, porque Ele possui toda a plenitude

para encher todos os nossos espaços vazios ou

ocupados por coisas que devem ser eliminadas

para que Cristo possa ali reinar pela graça.

Estes espaços vazios em nosso ser se

encontram também em nosso subconsciente,

pois até mesmo ele necessita ser aperfeiçoado

pela graça de Deus; e de igual modo demanda

também a obra sobrenatural da purificação,

pela remoção de padrões e hábitos mentais

55

pecaminosos que atuam no subconsciente, de

modo a serem substituídos pelos relativos às

virtudes de Jesus Cristo.

Este é um trabalho para o tempo, e desta forma

exige disciplina, paciência e perseverança em

meio à terrível luta espiritual que é travada em

nosso interior, pela qual poderíamos ficar

frustrados ou desanimados por eventuais ou

constantes fracassos. Mas, à medida que

alcançamos uma melhor consciência

fundamentada na fé, na Pessoa e obra de nosso

Senhor Jesus Cristo, aprendemos a olhar

somente para Ele, a fim de prosseguirmos no

combate espiritual até a vitória, sem olhar para

nós mesmos, e não permitindo que uma má

consciência ou o diabo nos acusem, pois

firmados na fé sabemos que ninguém pode

mais intentar acusação contra nós, e já não

somos mais condenados por Deus, porque

fomos justificados e reconciliados com Ele por

meio de nosso Senhor Jesus Cristo.

Enquanto estivermos buscando fazer a vontade

de Deus encontraremos em nós, apesar de

todos os possíveis fracassos, que somos

agradáveis a Ele, porque ainda que sujeitos à

56

ação da carne, o nosso prazer está inteiramente

na Sua lei; detestamos o pecado, sofremos por

causa dEle, e tudo em nós, é como foi a própria

experiência do apóstolo Paulo, que apesar de

fazer por vezes o mal que não queria, havia

permanentemente nele o desejo de fazer o bem,

que é segundo a vontade de Deus.

Assim também somos nós. Não queremos o

mal, senão o bem. Queremos o mover do

Espírito Santo e não o do pecado. Então, se o

pecado que guerreia em nossos membros

consegue obter vantagens em algumas batalhas

ocasionais, todavia a vitória na guerra é nossa

por meio dAquele que nos amou e se entregou

por nós, de modo que não somos apenas

vencedores, porém mais do que vencedores por

meio de Cristo Jesus.

Essas provações que parecem ser contra nós, na

verdade estão contribuindo para o nosso

aperfeiçoamento, de modo a estarmos mais

vinculados ao Senhor e a confiar inteiramente

nEle, pois veremos e experimentaremos a

eficácia da Sua plenitude e graça operando, e

nos conduzindo em triunfo, ao constatarmos

que de glória em glória, de fé em fé, e de graça

57

sobre graça somos transformados

progressivamente à Sua própria semelhança.

Evidentemente, este trabalho de

aperfeiçoamento da santificação não poderia

deixar de fora o nosso subconsciente, porque

faz parte de nós, por assim dizer, é parte do que

somos, e é por isso que vemos Davi orando para

que Deus sondasse seu coração para que fosse

conduzido por Ele, nas veredas da justiça e do

caminho eterno.

A razão disso é que não conhecemos muitas

coisas a respeito de nós mesmos, de como o

velho homem do qual devemos nos despojar, se

encontra arraigado em nosso homem interior, e

em muitos aspectos ainda ditando muito do

nosso comportamento em atitudes e reações,

que até então nos eram desconhecidas a nível

consciente.

As nossas decadências nas graças se processam

de modo imperceptível ao nosso entendimento,

nem tanto por nos recusarmos a conhecer o que

somos de fato, mas por estar realmente vedado

ao nosso conhecimento. Por assim dizer, somos

o que não sabemos que somos.

58

Então há necessidade deste trabalho das

provações, das humilhações, dos sonhos

pecaminosos, para que sejamos alertados

quanto à posição em que nossa mente mais

interior se encontra de fato; se na santidade de

Cristo, ou naquilo que é carnal e mundano.

Qual é o remédio para isto, senão uma maior

consagração ao Senhor e um maior uso dos

meios da graça que Ele estabeleceu para que

sejamos espiritualmente saudáveis?.

Provavelmente haverá em paralelo, hábitos que

até mesmo considerávamos inocentes e terão

que ser abandonados, por se constituírem em

pesos ou pecados que são fatores impeditivos

para uma maior santificação.

Em todas estas decadências e fraquezas somos

chamados pelo Senhor para despertarmos do

sono em que nos encontramos e a nos

dedicarmos mais às coisas que são realmente

espirituais, celestiais e divinas.

Quanto a estas decadência e o modo de nos

recuperarmos delas, estamos apresentando a

seguir um artigo escrito por Octavius Winslow,

que tivemos a honra de traduzir e adaptar,

59

intitulado A Recaída e Recuperação da Nova

Natureza:

"Desvia de mim o teu olhar, para que eu tome

alento, antes que me vá e não exista mais."

(Salmo 39:13)

Nosso bendito Senhor, nessas palavras notáveis

dirigidas a Seu errado apóstolo: "Quando vos

converteres, fortalece a teus irmãos",

desdobrou um dos mais autênticos e tristes,

senão o mais difícil capítulo da história do

crente. Pedro, a quem a exortação foi dirigida,

já era um homem convertido e gracioso. Ele

havia caído profundamente, mas não havia

caído do princípio e posse da graça. Isso, ele

nunca poderia perder total e definitivamente. E,

no entanto o Senhor fala de sua conversão:

"Quando você se CONVERTER". O estado real do

discípulo explicará imediatamente o significado

das palavras do Senhor.

Pedro tinha se afastado. Ele tinha caído; não do

princípio e da posse, mas da profissão e do

poder da graça. Ao negar seu Senhor e Mestre,

ele tinha pecado e recaído terrivelmente; as

60

mechas de sua força espiritual foram rasgadas,

e ele estava impotente nas mãos de seu inimigo.

Jesus veio em seu socorro, inclinando sobre ele

um olhar de amor que perdoava, em um

momento dissolveu seu coração em penitência,

dirigindo-lhe essas palavras memoráveis :

"Quando você se converter, fortaleça seus

irmãos".

Em outras palavras; "Quando você for

restaurado de seu desvio, recuperado de seu

erro, resgatado de sua queda como uma

evidência, e fruto e reconhecimento de sua

recuperação, fortaleça seus irmãos; seus irmãos

que por fraqueza de fé, pequenez da graça e de

muitas enfermidades são passíveis de cair pela

força de uma mesma tentação." Devemos

compreender então, pela reconversão do crente,

a sua restauração daqueles lapsos espirituais,

aos quais, mais ou menos, todo o povo do

Senhor está sujeito, àquele saudável e robusto

estado de graça do qual sua alma havia

declinado .

A experiência do salmista, que sugere o assunto

do presente capítulo harmoniza em suas

61

características essenciais, com a de todo o povo

de Deus.

Davi estava agora, a partir de um leito de

enfermidade, fazendo um exame solene e

próximo da eternidade. Antecipando sua

partida, ele despertou para a tarefa de

autoexaminar-se. O resultado desse escrutínio

foi a surpreendente descoberta da declinação de

sua alma; a perda da vitalidade espiritual e da

força. Daí sua oração; "Desvia de mim o teu

olhar, para que eu tome alento, antes que me vá

e não exista mais."

Quanto há nesse lapso espiritual de graça, ao

qual a condição de muitos crentes corresponde!

Nada é tão suscetível à flutuação, nada mais

sensível à mudança, como a natureza renovada

do crente. A convicção da perda espiritual, a que

este gigante em graça foi despertado em vista

de sua partida descreve o estado em que muitos

imperceptivelmente declinam, desconfiam de

sua existência, e não estão conscientes de sua

perda, até que a carga solene seja ouvida: "Põe

a tua casa em ordem, porque morrerás e não

viverás.”

62

Consideremos brevemente alguns dos lapsos

espirituais aos quais a nova natureza da alma

está exposta, e os meios de recuperação.

É um estado melancólico assim retratado,

testemunhar um homem de Deus caído, um

crente desmaiado, um concorrente robusto para

o grande prêmio reconhecendo-se assim na

decadência da espiritualidade, quando estava

prestes a terminar sua carreira e alcançar o alvo.

A nova criatura é uma natureza divina, mas não

deificada; é de Deus, mas não é Deus. Ela habita

num corpo de pecado e morte, e é exposta a

todas as influências hostis que brotam da

natureza caída e corrupta no meio da qual

habita. Assim como o barômetro é desce ou se

eleva por influências atmosféricas, ou como a

bússola é perturbada pela proximidade de

objetos que naturalmente afetam sua

regularidade, assim o novo homem está

constantemente exposto à deterioração das

influências opostas e prejudiciais que brotam de

nossos corpos caídos e corruptos por natureza.

As depressões da nova natureza surgem, não de

qualquer defeito essencial nessa natureza,

porque é incorruptível, mas do pecado que

63

habita em nós. Assim, é que o crente perde

força.

“Que eu possa recuperar forças”. O mais forte

pode tornar-se fraco, sim, fraco como o mais

fraco, quando ao pecado é permitido por um

momento ter a ascendência. Mas, quando

consciente da debilidade de nossa própria força

nativa, da falibilidade de nossa própria

sabedoria, do vazio, da pobreza e do nada de

nossa alma; quando conhecidos e assim

desmamados de nós, então somos fortes no

Senhor e no poder de Sua força; fortes e

poderosos em Jeová. Este foi o testemunho de

Paulo: "Quando sou fraco, então sou forte."

Mas vamos considerar; em que esta perda de

força espiritual é mais visível?

Onde é que o filho de Deus é mais sensível,

especialmente quando tem uma visão próxima

da morte, da eternidade, e da fraqueza da alma?

Com respeito ao princípio e à ação da FÉ, esta

deterioração do vigor pode ser visível. Como a

fé é a "graça pai" de todas as graças cristãs, a

raiz de todos os frutos do Espírito, a base de

64

todas as ações sagradas da alma, será

imediatamente percebido que qualquer

decadência, enfraquecimento ou dormência

desta preciosa graça deve paralisar, em certa

medida todo o cristianismo da alma.

Quando a fé cai, todas as fontes da alma estão

abatidas; quando a fé sobe, a alma sobe como

com asas de águia. Pedro pisou as ondas que

quebravam virilmente, enquanto o olho de sua

fé repousava sobre Jesus, seu Autor e Objeto.

Mas, quando os ventos aumentavam em força,

e o mar se tornava mais furioso, ele desviava

seu olhar de Jesus para a tormenta, e sua fé

falhando, começou a afundar - "Senhor, salva-

me ou eu perecerei!"

E quão enfraquecedor é para a fé tirarmos nosso

olhar de Jesus e o voltarmos para nossos

pecados e fraquezas; para nossas provações,

dificuldades e perigos!

No momento em que a "fé" forma uma aliança

com o "sentido", ela cai. Um corpo sadio

acorrentado a um corpo doente seria, em pouco

tempo, enfermado. Um corpo vivo preso a um

corpo morto logo morreria.

65

Agora, a fé em si mesma é um princípio divino,

saudável e vigoroso.

Deixado aos seus próprios atos, descansando

simplesmente na Palavra de Deus, olhando

apenas para o Senhor Jesus, e lidando

principalmente com o invisível, ele alcançará

maravilhas. Vai vencer o mundo; desviará os

estratagemas de Satanás; vai amortecer o poder

do pecado; pisará firmemente as águas

quebradas da provação, bem como fará e

sofrerá toda a vontade de Deus.

Que grandes coisas este princípio divino operou

nos homens dignos do passado! "Pela fé estas

pessoas derrubaram reinos, governaram com

justiça e receberam o que Deus lhes havia

prometido; fecharam a boca dos leões,

extinguiram as chamas do fogo e escaparam à

morte pelo fio da espada.

As mulheres receberam pela ressurreição os

seus mortos; uns foram torturados, não

aceitando o seu livramento, para alcançarem

uma melhor ressurreição."

66

Com tal imagem diante de nós, como é triste o

pensamento que nossa fé deve sempre sofrer a

fraqueza ou a deterioração! E, no entanto o

crente pode descobrir o declínio da força da fé

em sua alma, apenas na hora em que ele precisa

mais do que nunca de toda a força e poder desta

graça maravilhosa!

Minha alma, a tua fé é fraca, e o teu coração

treme?

Você está olhando as ondas quebrando abaixo

de você, e as nuvens escuras acima?

Agora é a quarta vigília da noite, e Jesus não

vem a você?

Os recursos estão se estreitando, precisam ser

pressionados, as dificuldades se acumulam e

seu coração está morrendo dentro de você? Não

tenha medo! Aquele que percorreu as ondas

límpidas com Pedro, gentilmente lhe disse: "Ó

homem de pouca fé, por que duvidaste?"

Então estendeu Sua mão e o pegou, Ele está ao

seu lado e não permitirá que você afunde e

pereça debaixo destas águas. Espera em Deus,

67

porque ainda louvarás Aquele que é a saúde do

teu rosto, e o teu Deus.

Também pode haver perda de força no AMOR da

natureza renovada.

O amor a Deus do coração mudado é um

sentimento tão puro, sobrenatural e divino; um

sentimento tão espiritualmente sensível, que

logo é afetado por qualquer mudança na

atmosfera moral pela qual está cercado. Com

que rapidez e facilidade pode ser ferido,

esfriado e prejudicado! Os cuidados sempre

prementes desta vida, a ascendência indevida

da criatura, o cativeiro dos objetos sensuais, e

o poder insidioso do mundo afetarão

seriamente a pureza, simplicidade e intensidade

de nosso amor ao Senhor.

“Você me ama mais do que estes?”

É uma pergunta que precisamos que o Senhor

nos faça em cada ocasião. Quão

condescendente é Sua graça, para ser colocada

em competição com os objetos do sentido! Mais

do que estas reivindicações da criatura, mais do

que estas honras e riquezas mundanas, mais do

68

que estas comodidades domésticas, mais do

que pai ou filho, irmão, irmã, amigo ou país.

“Você me ama individualmente, supremamente,

acima de tudo, e mesmo entre dez mil

pretendentes para o seu coração?"

Oh, abençoados aqueles que da profundidade

de sua sinceridade podem responder: "Senhor,

Tu sabes todas as coisas, Tu sabes que te amo!"

No entanto, quando a vida se aproxima do fim,

quando objetos humanos de amor e de

interesse da criatura estão perdendo seu poder

e domínio, e a alma olha além do presente para

o futuro solene e misterioso, quantos filhos de

Deus encontram razão para exclamar: "Poupem-

me, para que eu possa recuperar as forças!"

O amor perdeu seu poder; sua força é

prejudicada, seu brilho é sombreado, sua

ligação com Cristo é enfraquecida, e a alma

começa a duvidar de todo passado, como de

toda experiência presente de sua existência.

Mas, graças a Deus, o princípio do amor a Cristo

nunca pode perecer completamente. É uma

parte da nova natureza, nasce na alma quando

ela nasce de novo, e só pode perecer com a

69

destruição da alma resgatada, renovada e salva;

isso nunca pode ocorrer!

Observe então a diminuição do seu amor, para

que quando estiver prestes a voar para um

mundo onde tudo é amor, você descubra como

o vigor desta graça do Espírito está prejudicado.

Colocando a cabeça no colo de uma criatura,

deleitando-se demasiadamente nela, seja ela o

mundo, seja um pessoa, ou seja o que for, você

desperta para a surpreendente descoberta,

quando infelizmente os bloqueios de sua força

foram cortados, e com quão pouco desta graça

celestial você está prestes a entrar no céu, e

encontrar-se com Aquele cujo amor a você

nunca vacilou, esfriou ou mudou. "Poupe-me,

para que eu possa recuperar a força."

Com que frequência também, ocorreu na

experiência do filho de Deus, que na hora em

que a ESPERANÇA da glória estava prestes a

entrar em sua plena realização, seu sol estava

se pondo em meio a nuvens escuras!

"Onde está agora a minha esperança?

70

Minha esperança no Senhor pereceu!" É a

exclamação triste do cristão que está partindo.

Oh, triste e melancólica descoberta! Mas é

verdade que a esperança cristã, a boa

esperança, pela graça acendeu-se no coração

renovado pelo "Deus da esperança"; esperança

depositada em Cristo e entrelaçada com Sua

cruz, esperança que como uma estrela brilhante

derramou seus raios de prata sobre muitos

mares tempestuosos, a esperança que

sustentou a alma em muitas épocas de tristeza

e escuridão, desânimo e desespero; esperança

que esperava a glória vindoura e viver para

sempre com o Senhor - será possível que aquela

esperança, por mais fraca que seja sua força, ou

diminuto o seu brilho, ou obscurecida sua visão,

perecerá?

Nunca! Não, nunca!

Há esperança em seu fim, ó crente em Jesus; por

mais fraca que seja a esperança, não o

envergonhará, e quando todas as outras

esperanças por mais afeiçoadas e brilhantes

que sejam definham e expiram, o Espírito de

Deus acenderá essa fraca faísca, e novamente

sua chama arderá brilhantemente e derramará

71

sua radiação sobre o caminho ascendente do

espírito que parte. E, naquela hora solene,

quando o coração e a carne estão falhando, você

pode achar necessário fazer a oração de Davi,

"Poupem-me, para que eu possa recuperar a

força".

Estude para manter viva sua esperança; sua

lâmpada alimentada diariamente e

brilhantemente queimando. "Ora o Deus de

esperança vos encha de todo o gozo e paz em

crença, para que abundeis em esperança pela

virtude do Espírito Santo."

E assim, também no que diz respeito às

EVIDÊNCIAS, estas podem tornar-se escuras

quando somente as mais fortes evidências iriam

satisfazer as necessidades do caso solene.

Evidências de conversão e de segurança, que em

meio à prosperidade da saúde e do auge da

vida, da excitação da atividade religiosa e da

influência do cerimonial religioso pacificaram a

consciência e tranquilizaram os sentimentos

são insuficientes, quando a alma está prestes a

aparecer diante de Deus.

72

Procurando por evidências de salvação, muitos

filhos de Deus descobriram pela primeira vez,

sua perda de força espiritual. Uma a uma falhou,

e ele é obrigado a fechar seu curso cristão como

ele começou, ao olhar como um pobre, vazio,

perdido pecador para o Senhor Jesus, apegando-

se a essa grande e preciosa promessa do

Salvador, como a última e única tábua que

poderia sustentá-lo; "Aquele que vem a mim, de

modo nenhum o lançarei fora".

Ele agora aprendeu o que os livros e os sermões

não lhe ensinaram antes, que a grande

evidência de nossa salvação é uma fé direta e

simples no Senhor Jesus Cristo, que não é em

olhar para nós mesmos, ou em procurar dentro

de nós por evidências que podemos dizer com

humilde segurança: "Eu sei em quem tenho

crido"; mas em olhar para fora de nós mesmos,

para o Senhor Jesus Cristo, o Salvador dos

pecadores, mesmo do principal deles.

Tal tem sido a experiência de alguns dos santos

mais santificados, cuja piedade e trabalhos têm

adornado a Igreja ou abençoado o mundo.

Procurando naquele momento solene as

evidências de salvação, quantos crentes

73

retomaram a linguagem do salmista: "Poupe-

me, para que eu possa recuperar a força".

A VIDA ESPIRITUAL da alma renovada está

igualmente exposta a essa perda de vitalidade e

vigor. Um espírito de sonolência há muito

existente e profundo pode envolver o crente, do

qual ele quase não está consciente.

Ele sabe que tem vida em sua alma, mas não tem

consciência de quão deprimida está sua

vitalidade, quão baixas são suas fontes. Muita

coisa passou pela vida que não era uma

evidência real de sua existência. Os despertares

periódicos, a ação espasmódica, a atividade

religiosa e a excitação forneceram para o

tempo, a ausência daquele santo retiro,

meditação devota, autoexame, oração secreta,

proximidade, vigilância e santidade na

caminhada que formavam as únicas e seguras

autênticas evidências da vida de Deus na alma.

Mas agora, que o espírito está prestes a entrar

no mundo eterno, a descoberta solene é feita;

"Quão baixas são as fontes da vida em minha

alma! Quão fraco, quase imperceptível é o seu

pulso! Oh que eu possa recuperar as forças".

74

Mas não precisamos multiplicar esses variados

lapsos de graça na alma do crente. Quando

existe o elemento de declínio espiritual e

decadência em qualquer parte da natureza

renovada, o todo é afetado mais ou menos

simultaneamente. O declínio de uma graça dará

a cada uma das demais a fraqueza e a

languidez. Nossa verdadeira sabedoria é

observar o primeiro início da declinação e, no

momento em que é descoberta, buscar o

remédio e aplicá-lo.

Uma das ideias mais solenes e afetuosas do

nosso assunto é que esta decadência de que

falamos é sempre secreta, despercebida e

insuspeitada. Na linguagem gráfica do profeta,

"os cabelos grisalhos estão aqui e ali sobre ele,

mas ele não sabe" (Os 7: 9).

A velhice rouba e nós somos insensíveis à sua

invasão. O cabelo é prateado, o olho perde seu

brilho, os membros sua elasticidade, a memória

seu vigor, e ainda não tomamos nenhum

pensamento a tempo. Na verdade, nos

esforçamos para banir de nossa mente a

convicção de que a "velhice" está realmente

avançando. Assim é com a decadência da graça.

75

Ela continua devagar, imperceptivelmente e

insuspeita, mas com certeza. A força espiritual

torna-se enfraquecida, o olho da fé obscurecido,

o objeto divino e precioso torna-se distante, a

mão da fé sobre Jesus enfraquece, a ação

espiritual do coração torna-se lânguida, a alma

perde seu entusiasmo e prazer pelas coisas

divinas; pela comunhão com Deus e com os

santos, pelos meios públicos da graça e por um

ministério espiritual prático, exaltando a Cristo.

"Cabelos grisalhos estão aqui e ali sobre ele,

mas ele não sabe."

Nem deseja conhecê-lo. É uma evidência

inconfundível desse estado de decadência da

graça; a relutância do coração em conhecer seu

estado real diante de Deus. Assim como alguns

indivíduos apagariam cada nova marca de anos

de crescimento e se encolheriam de cada triste

lembrança ao aproximar-se da senilidade, como

se a ignorância do fato prendesse a marcha do

tempo, e cada evidência de seus estragos

obliterados recuperaria a primavera, a maré de

juventude!

Assim a alma, perdendo sua vitalidade e vigor

espiritual ama não ser lembrada de sua perda,

76

declinação e decadência espirituais, mas se

contenta em viver na sua mornidão, não

fazendo nenhum esforço para fortalecer as

coisas que permanecem, que estão prontas para

morrer até que, como Davi, a oração seja

arrancada do lábio trêmulo: "Poupe-me, para

que eu possa recuperar a força, antes de ir e não

ser mais".

Infelizmente! Que o filho de Deus deve perder

sua força de alma, não só para arrumar

desculpas para sua sonolência, mas até mesmo

para exclamar: "Um pouco mais de sono, e um

pouco mais de sono". Tal foi o caso da Igreja em

Cantares; "Eu durmo, mas meu coração acorda."

Que contentamento estava ali com seu estado

de sono! E então, na abordagem de Cristo:

"Abre-me, minha irmã, meu amor, minha

pomba, minha imaculada, porque a minha

cabeça está cheia de orvalho, os meus cabelos

com as gotas da noite", ela responde, “Já despi

a minha roupa; como a tornarei a vestir? Já lavei

os meus pés, como os tornarei a sujar?” (Cant 5.

2, 3)

Ela não estava apenas em um estado de

sonolência, era um estado de coração separado

77

de seu Senhor, mas estava satisfeita em ser

assim, e formulou desculpas para se justificar

de sua continuação naquele estado.

Distintamente reconheceu a voz de seu Amado.

Bem, ela sabia que era Ele quem tão gentilmente

batia à sua porta, enquanto, com uma

irresistível ternura, as palavras de derretimento

do coração caíam sobre seu ouvido ainda

atônito, "Minha cabeça está cheia de orvalho e

meus cabelos com a gotas da noite"; e ainda

assim ela amava o leito de preguiça muito bem,

para se levantar e receber seu Amado.

Oh, que pecado era isso! Foi pecado sobre

pecado. Houve primeiro o que levou à sua

condição de preguiçosa; então houve o do seu

retorno, a saber, o contentamento com seu

estado, e então o pecado coroando todos os

demais; as desculpas com que ela repeliu o

apelo amoroso e terno daquele que a amava, e

a quem também ainda amava.

Em tudo isso, não vemos a nós mesmos? Eis que

a natureza renovada pode declinar para um

baixo estado de graça! Veja como o coração

amoroso pode se afastar do Senhor! Veja que

78

desculpas, até um santo de Deus pode moldar

por seus pecados!

Mas que paciente Jesus! Contemple um quadro

e depois o outro, e marque o contraste! O santo

rejeitado; mas ainda amoroso, apegado,

cortejando o Salvador! Não há dormência do

amor de Cristo para com Seus santos, nem

negação deles, nem indiferença às suas

circunstâncias. Eles podem esquecer que são

Seus filhos, porém Deus nunca se esquece que

é seu Pai. Ouça a Sua linguagem tocante e

assombrosa; "Voltai, filhos rebeldes, diz o

Senhor, porque sou casado convosco." (Jeremias

3:14).

Pode haver além disso, como acabamos de

assinalar, as estações de vagueamento ou

depressão espiritual na experiência do cristão,

quando ele pode perder de vista sua adoção,

afundar o caráter de filho naquele de escravo, e

de herdeiro para servo, mas Deus nunca

esquece que eles ainda são filhos, e Ele ainda é

um Pai. Quão terno e irresistível é o convite,

"Volta para mim!" E novamente; "Eu disse depois

que ela fez todas estas coisas, Volta para mim."

Uma vez mais; "Volta, ó rebelde Israel, diz o

79

Senhor, e eu não farei cair sobre ti a minha ira,

porque sou misericordioso, diz o Senhor, e não

vou guardar a ira para sempre."

Filho de Deus! Consciente da partida,

lamentando dolorosamente sua triste

declinação, derramando lágrimas de amargo

pesar sobre suas rebeliões voluntárias e

agravadas, poderás resistir ao gracioso convite

do Deus de quem vagueaste?

"Volta para mim, para mim, a quem tens

rejeitado, contra cuja graça pecaste, cujo amor

desprezaste, cujo espírito afligiste."

“Retorna a mim, quem curará as suas rebeliões,

amá-lo-á livremente e não mais se lembrará das

tuas transgressões, mas da minha graça, da

minha bondade e da minha misericórdia; como

poderei afastá-lo, porque a minha compaixão e

o meu amor perdoador se acenderão em mim!

Mil vezes mais, ainda, volta para mim."

Pode ser apropriado nesta parte, agrupar

algumas das CAUSAS que tendem a produzir

essa fraqueza espiritual, aquela declinação da

alma que tantos cristãos descobrem e

80

deploram, quando à véspera de entrar no

mundo eterno. A vida de Deus na alma renovada

é tão santa e divinamente sensível, que não há

praticamente uma parte da qual não possa ser

seriamente afetada.

O MUNDO é um grande ladrão de força

espiritual. É impossível não entrar muito nisso,

mesmo quando o dever legal nos convoca, e não

estamos conscientes de sua influência

deteriorante. Quanto mais é este o caso, quando

voluntária e desnecessariamente nos expomos

a suas armadilhas! Oh, como este mundo corrói

como um câncer a espiritualidade de tantos!

Não podemos unir o cristianismo e o mundo;

andar com Jesus e estar associados com o

mundo, os prazeres da religião e os prazeres do

mundo, a força da conformidade forte e

pecaminosa com o espírito, a roupagem, os

prazeres e as gerações do mundo. O mundo

ímpio é a grande Dalila da Igreja de Deus. A

aliança com ela em qualquer forma seduzirá a

vida espiritual, e exporá a liberdade e o poder

da Igreja nas mãos dos incircuncisos filisteus,

que só zombarão da vítima que têm enredado e

se alegrado com a fraqueza e a desfiguração

que causaram.

81

Santo de Deus, você não pode ser forte para

trabalhar, habilidoso para lutar, poderoso para

testemunhar de Cristo e Sua verdade, se você

está se entregando a hábitos mundanos ou

recreações inconsistentes com o seu chamado

celestial. Não vos maravilheis de que sois fracos

na fé, na oração, no combate da fé, e que

apressais-vos à hora solene da vossa partida,

desprovidos de vossa salvação, e com uma

perspectiva tenebrosa e falsa de que esta

partida será serena.

Existem outras causas igualmente potentes de

decaimento espiritual, que temos apenas

espaço para agrupar. As visões superficiais do

pecado, as corrupções não mortificadas, as

afeições não santificadas, a indulgência dos

medos incrédulos e das dúvidas especulativas,

a diminuição dos meios da graça, o hábito de

meramente racionalizar e não de crer em

relação à verdade divina, o ministério

inesgotável residindo em uma terra onde não

existem fontes evangélicas vivas, agindo como

homem e não totalmente como para o Senhor,

reservas na obediência infantil, um espírito de

leviandade e humor impróprio ao caráter santo,

um profano ao lidar com a Palavra de Deus, um

82

espírito faltoso e implacável, uma tendência

para olhar mais para as dificuldades do que para

os encorajamentos do caminho, mais para as

provações do que para as promessas, mais para

as evidências do que para a cruz de Jesus, mais

para si mesmo do que para Cristo; todos estes,

sozinhos ou unidos irão minar a força da alma.

E, quando o último inimigo se aproximar, em

vez do grito vitorioso dos poderosos, se ouvirá

a oração lamentosa dos fracos: "Poupe-me para

que eu possa recuperar a força, antes que eu vá,

e não seja mais!"

Consciente da recaída espiritual procure

instantânea e sinceramente, uma reconversão

de sua alma! Deixe sua oração ser; "Restaura-me

a alegria da tua salvação". Sem ignorar sua

experiência passada, não negando a graça

regeneradora e renovadora de Deus em sua

alma, porém regresse a Cristo e recomece desde

o princípio. Venha como você veio primeiro; um

pecador pobre e vazio para o Salvador. Seu

primeiro amor perdido, você pode ganhá-lo de

volta por um renovado batismo do Espírito

Santo, por uma nova tomada de Jesus. E lembre-

se de que, um fim de sua reconversão é para

fortalecer seus irmãos fracos, advertir os que

83

pecam, elevar aqueles que caíram e

reconquistar aqueles que erraram o caminho,

andando sempre humildemente com Deus. (Sl

51:12, 13).

Mas, muitas vezes é reservado para a hora

solene da morte a descoberta pelo crente, da

triste diminuição e perda de força espiritual. É

nesta crise terrível que muitos dos santos, pela

primeira vez despertam para o conhecimento de

sua decadência espiritual. Em seguida, eles

descobrem os "cabelos grisalhos" sobre eles em

espessura surpreendente.

Na batalha com o último inimigo acham a

espada enferrujada em sua bainha, e a

"armadura de Deus" se tornou solta e mal

ajustada. Então eles oram: "Senhor, ainda um

pouco mais me poupe, para que eu possa

renovar minhas forças, examinar minha

esperança, recuperar minhas evidências e

experimentar mais uma vez uma manifestação

renovada de Seu amor para a minha alma!"

Esta foi claramente a experiência tanto de Davi,

como de Ezequias, e também pode ser a nossa.

A oração feita, embora como com a respiração

84

ofegante é ouvida e respondida; e graça divina,

força, e esperança são dadas para a hora da

morte. Agora, a alma que parte renovando sua

força espiritual como a águia, eleva suas asas

para o céu. Oh, que maravilhosa mudança

testemunhamos naquela hora!

Vimos a vida espiritual que palpitava tão

fracamente, a graça divina enfraquecida, o amor

santo que batia tão languidamente, a esperança

cristã que brilhava tão fracamente, agora

emergindo como de um sepultamento longo e

escuro, revestidos de toda a flor e vigor de um

de recém-nascido pelo Criador. A petição

enviada do labirinto da morte foi lavada no

sangue, perfumada com os méritos e

apresentada pela intercessão do grande Sumo

Sacerdote, e aceita por Deus.

A força foi dada, o inimigo foi vencido, e com o

grito do vencedor; "Ó morte, onde está o teu

aguilhão? Ó sepultura, onde está a tua vitória?"

Despertando os ecos do vale solitário da morte,

a renovada alma resgatada voou em sua fuga

para o céu.

"Quando a morte está próxima,

85

E seu coração se encolhe de medo

E seus membros falham,

Então levante seu coração e ore

A Cristo, que suaviza o caminho

Através do vale escuro.

A morte vem te libertar;

Oh, conheça-a alegremente,

Como seu melhor amigo;

E todos os teus medos cessarão,

E na paz eterna

Suas tristezas chegam ao fim! "

Até aqui as palavras de Octavius Winslow

Quanto podemos vislumbrar neste texto, a

participação ativa do subconsciente na

experiência da vida cristã. Quantas coisas que

existem em nós e que nos são desconhecidas, e

deveriam nos conduzir a confiar mais no poder

86

transformador e preservador do Senhor. Confiar

mais na Sua salvação, que é inteiramente pela

graça e mediante a fé, até porque há todo este

conjunto de limitações que existem em nosso

ser, e muitas delas que são relacionadas ao

mundo que é insondável para nós, de nosso

subconsciente, mas o qual não é de modo

algum insondável ou não possível de ser

controlado pelo Deus todo poderoso, que nos

visitou com uma salvação completa, e está

operando em todas as áreas do nosso ser mais

interior.

A garantia da nossa santificação, inclusive a do

nosso subconsciente, está em que o nosso velho

homem foi crucificado com Cristo (Rom 6.6).

Veja que a antiga natureza que herdamos de

Adão, a qual é chamada na Bíblia de carne ou

velho homem foi crucificada no crente, porque

é considerado como participante da crucificação

de Cristo. O velho homem recebeu a sentença

de morte, e paralelamente o crente recebe uma

nova natureza criada por Deus, em justiça e

santidade pela habitação do Espírito Santo. Esta

não pode morrer, ao contrário, cresce

87

progressivamente rumo à perfeição do próprio

Deus.

Daí, ao se referir ao seu velho homem, o

apóstolo afirma que está crucificado com Cristo

(Gál 2.20).

Deus vê o velho homem no crente, enquanto ele

está neste mundo pregado à cruz, e ali o velho

homem está morrendo gradativamente pela

operação do Espírito Santo, até que venha a ser

inteiramente destruído por ocasião da morte do

corpo do crente. Mas, mesmo neste mundo, à

medida que progride o trabalho da graça, o

velho homem vai sendo minado em força, e

assim vai sendo paulatinamente enfraquecido,

enquanto o novo homem se torna mais

fortalecido.

Estas duas naturezas que habitam no crente são

designadas por velho e novo homem, porque se

referem ao homem total (corpo, alma e espírito)

pois atuam sobre todas as partes constitutivas

do ser do convertido, cada uma de per si,

tentando estabelecer o domínio sobre suas

faculdades.

88

Como há esta presença do velho homem no

crente, a fidelidade a Deus deve ser

demonstrada em sua aplicação em se despojar

da velha natureza, pelo esforço em santificação,

pois quanto mais se devotar a Deus, mais Ele

enfraquecerá a atuação do velho homem sobre

nós.

É neste sentido que nosso Senhor afirma, que

são bem-aventurados os que choram,

especialmente por causa do pecado em todas as

suas formas, aspirando por serem livrados dele.

É por sermos tornados sensíveis aos danos e

dores produzidos pelos pecados que em nós

operam, que podemos atribuir cada vez mais

valor ao sacrifício que Jesus fez por nós,

carregando todos os nossos pecados em seu

próprio corpo, para trazer sobre eles a sentença

de morte e sua execução na cruz.

Não é, portanto algo estranho para o crente, o

fato de ter uma vida crucificada para o mundo.

Ao contrário, é o cumprimento do próprio

propósito divino fazê-lo, pois quando morreu na

cruz, aos olhos de Deus, o nosso velho homem

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estava com Cristo, vendo-o ser ali também

crucificado juntamente com Seu Filho amado.

Assim, a crucificação do velho homem e do

corpo do pecado depende inteiramente da

nossa união com Cristo pela fé.

A Santa Ceia foi designada para selar e

fortalecer esta união do crente com Cristo,

identificando-se com Ele na Sua morte.

Somos assim, inteiramente dependentes da

obra de salvação de Jesus e Suas presentes

operações graciosas, para que possamos ser

despojados das obras da carne que operam em

nossos membros. É pela incrementação da

nossa comunhão com Ele, que somos

santificados e habilitados a ter vitória sobre as

ações do velho homem em todas as áreas do

nosso ser; quer na parte consciente ou

inconsciente, pois de uma fonte feita boa não

pode fluir continuamente alguma coisa má; quer

em pensamentos ou ações, voluntários ou

involuntários.

E, quando estes se levantam, é para que sejam

resistidos por nós sujeitando-nos à graça de

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Deus. Somos assim exercitados no hábito da

mortificação do pecado, com vistas à

santificação. Esta é uma das principais razões

destes filisteus permanecerem ainda na terra de

Canaã, depois que o Senhor decretou a nossa

posse dela, a saber, exatamente para o

propósito de sermos provados e aperfeiçoados

em nossa fé e fidelidade a Ele e à Sua Palavra.

Vemos alguma operação do velho homem em

nós, ainda que seja no subconsciente; o que

devemos então fazer?

Depor as armas espirituais?

Parar na carreira que nos foi proposta?

Não. É justamente nestas horas que mais

devemos colocar a nossa fé no sangue de Jesus

e no poder de Deus em operação, crendo e

sabendo que aquele que nos purificou de todo

o pecado continuará a fazê-lo até que sejamos

admitidos à perfeição do céu.

Estes exercícios devem ser continuados em

maior ou menor grau, conforme nossa

necessidade de crescimento espiritual

contemplada por Deus, pois o velho homem,

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apesar de estar nos crentes em estado de morte,

todavia não está absolutamente morto. É

crucificado com Cristo. Pode mover-se e agitar-

se neles, e empreender lutas veementes, mas

independentemente de quaisquer esforços que

ele faça, está na cruz, de onde não descerá até

que dê seu último suspiro.

É em razão da presença do velho homem que o

crente tem uma luta permanente e dolorosa em

seu interior, a qual foi designada por Deus, para

aprender, sobretudo humilhação, mansidão e

dependência dEle. A extensão desta luta é de tal

ordem, que se estabelece até mesmo em áreas

sobre as quais o crente não possui qualquer

controle, como por exemplo o seu próprio

subconsciente, de modo que não lhe resta a

alternativa, senão de resistir ao mal e sujeitar-

se a Deus, porque somente Ele pode operar em

nós tanto o querer quanto o realizar.

Quando somos ordenados por Jesus à

autonegação, esta inclui tudo o que se encontra

no subconsciente, e como poderíamos negar o

que não conhecemos, senão por confiar

inteiramente ao Senhor o completo acesso às

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áreas mais ocultas do nosso ser, pois somente

Ele pode conhecê-las e dominá-las.

Se esta morte do velho homem é prolongada,

pois é uma morte de cruz, isto nos impõe

paciência no trabalho do seu despojamento, e

completa determinação em perseverarmos a

que custo for, pois Deus tem o total controle e

administração das nossas provações.

Esta paciência e perseverança também são

exigidas, porque ainda que o velho homem

possa ser enfraquecido por um correspondente

fortalecimento de nossas graças, ele poderá

recuperar a força na medida em que nossas

graças enfraqueçam, depreendendo-se assim, a

necessidade de renovadas batalhas espirituais

para ser novamente subjugado.