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  • Poucos foram os fragmentos de Demcrito que sobreviveram. Um deles famoso por ter sido citado com frequncia por crticos posteriores da sua teoria atmica. Numa passagem dos seus escritos, apresenta-se o Intelecto numa espcie de concurso dialtico com os Sentidos. Intelecto. Dizem que temos cor, que temos o doce, que temos o amargo, na verdade temos apenas tomos e o vazio. Sentidos. Pobre Intelecto, esperas derrotar-nos quando em ns que vens buscar as tuas provas? A tua vitria a tua derrota. (Fragmento D125) O mundo dos tomos e o vazio so incolores, frios, sem qualidades. Assim tem de ser. No entanto, todas as provas da sua existncia negam tal fato. Que tipo de loucura esta? cincia. pensar no mundo maneira dos gregos. A intuio de Demcrito de que na base de todas as coisas materiais no existe nada alm de tomos e do vazio acabou por ser confirmada triunfalmente. Ao mesmo tempo, tambm indubitvel que a base do nosso pensamento a informao que nos transmitida pelos sentidos. A tenso mental provocada por esta antinomia, tal como o filsofo alemo Immanuel Kant (1724-1804) lhe chamou, talvez a fonte de muita da nossa energia intelectual. Quais foram os princpios mais importantes do atomismo de Demcrito? A maioria era espantosamente moderna. Primeiro, os tomos eram pequenos ao ponto de serem invisveis. Eram todos do mesmo material, ou natureza, mas havia um sem-fim de formas e tamanhos diferentes. Embora impermeveis (Demcrito no sabia que os tomos podiam ser divididos), interagiam uns com os outros, agregando-se e aderindo, a fim de produzir a grande variedade de

  • corpos que vemos. O espao exterior aos tomos era vazio, um conceito que a grande maioria dos contemporneos de Demcrito no conseguia aceitar. Segundo, os tomos estavam em movimento constante, em todas as direes, atravs do espao vazio. No espao vazio no h em cima ou embaixo, frente ou atrs, disse Demcrito. Assim, em termos modernos o espao vazio era isotrpico, um conceito sofisticado. Terceiro, o movimento contnuo dos tomos era inerente. Possuam o que chamaramos massa de inrcia. Alm de ser mais um conceito intelectual espantoso, a noo de que os tomos se moviam ininterruptamente sem que fossem empurrados no era aceitvel para Aristteles, nem para outros. Apenas os corpos celestes, pensava Aristteles, se movem por si prprios, pois eram divinos. A recusa de Aristteles e de seus seguidores influentes em aceitar a lei da inrcia foi durante 2.000 anos um obstculo ao desenvolvimento da Fsica. Quarto, o peso ou gravidade no era uma propriedade dos tomos, nem sequer dos agregados resultantes. Aqui, Demcrito enganou-se redondamente. Ainda no se chegou a acordo sobre se Demcrito estava certo ou errado no que diz respeito


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