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CRIAÇÃO DE EMPREGO NA ÁFRICA SUBSAARIANA

EMPREENDEDORES. GOVERNOS. INOVAÇÃO.

EM PARCERIA COM:

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ÍNDICE

INTRODUÇÃO DA DJEMBE COMMUNICATIONS ................................................................................2

INTRODUÇÃO DA FORBES INSIGHTS .....................................................................................................3

PRINCIPAIS RESULTADOS SOBRE A REGIÃO SUBSAARIANA ................................................... 4

PRINCIPAIS RESULTADOS DE CADA PAÍS ............................................................................................5

FOCO NA ÁFRICA SUBSAARIANA ...........................................................................................................7

FOCO EM ANGOLA ......................................................................................................................................... 15

FOCO NO GANA ...............................................................................................................................................21

FOCO EM MOÇAMBIQUE ............................................................................................................................ 27

FOCO NA NIGÉRIA ........................................................................................................................................33

RECOMENDAÇÕES .........................................................................................................................................39

AGRADECIMENTOS ...................................................................................................................................... 40

METODOLOGIA .............................................................................................................................................. 40

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INTRODUÇÃO“Criação de Emprego na África Subsaariana: Empreendedores. Governos.

Inovação” é o retrato de um quadro que aborda os problemas económicos

mais importantes da região. Fá-lo na perspectiva daqueles cujo património

mais depende de tais problemas — a população jovem da África Subsaariana.

Por forma a medir o pulso às perspectivas sobre o estado da economia, aos impulsionadores da criação de emprego e desenvolvimento, ao papel do governo e do empreendedorismo e ainda à inovação,

a Forbes Insights, o grupo de pensadores da Forbes Media, em conjunto com a Djembe Communications, a agência de consultoria em comunicações pioneira em África, inquiriu 4 mil jovens (com idades entre os 16 e os 40 anos) oriundos de Angola, Gana, Moçambique e Nigéria. Os princípios estatísticos do relatório são baseados nos resultados do inquérito, apresentados quer de um modo agregado para a região subsaariana, quer individualmente para cada país.

Como revela o título do relatório, os resultados do inquérito apontam para a criação de emprego sustentável como sendo um assunto de extrema importância no futuro da região, de acordo com os jovens subsaarianos. Em relação a estes resultados, torna-se imperativo desenvolver uma melhor compreensão das percepções que esta importante camada demográfica mantém relativamente ao papel dos empreendedores na geração de oportunidades de emprego e em como os governos deveriam criar e regular um ambiente que impulsionasse o empreendedorismo. Em resumo, é essencial ouvir as vozes desta importante camada demográfica.

Por isso, a análise e os comentários do relatório provêem principalmente dos que estão no centro da criação de emprego sustentável — jovens empreendedores a iniciar carreira e a gerir actividades de negócio nos países abrangidos pelo inquérito. O relatório debate o valor dos empreendedores, os desafios e oportunidades inerentes ao empreendedorismo na África Subsaariana e junta perspectivas aprofundadas de cada um dos mercados inquiridos.

Esta abordagem reflecte a filosofia da Forbes, que está há quase um século a acompanhar empreendedores de todo o mundo e, ao deixar as suas vozes serem ouvidas, a ajudar a criar sociedades civis empreendedoras. As análises contidas no relatório são enriquecidas pelos comentários dos redactores de empreendedorismo internacional da Forbes, que nos dão a sua perspectiva única e global, bem como por uma pesquisa prévia feita pela Forbes Insights sobre o empreendedorismo em África e no ultramar. Esta abordagem permite-nos colocar o empreendedorismo africano perante um contexto global, respeitando ao mesmo tempo as suas características locais únicas.

São inúmeros, mas os obstáculos encontrados e as soluções oferecidas pelos empreendedores na África Subsaariana são especialmente notáveis. O empreendedorismo é uma componente vital para a inovação e a criação

de uma economia doméstica auto-sustentável. São os jovens empresários líderes que irão criar soluções africanas para desafios africanos: gerando emprego, impulsionando a mobilidade social e trazendo mais-valia à economia regional. Por estes motivos, a Djembe Communications procurou juntar-se à Forbes Insights, os cérebros da Forbes Media, numa parceria que pretende obter uma percepção profunda sobre o que os jovens da África Subsaariana realmente pensam em relação ao papel dos empreendedores para moldar o futuro do continente.

A Forbes Insights tem capacidades de pesquisa incomparáveis e um conhecimento profundo dos problemas de África. A Forbes esteve bastante centrada nos inovadores africanos nos últimos anos e isso possibilitou-nos criar uma parceria com uma organização capaz de ir ao cerne dos problemas. Os resultados do relatório mostram que as indústrias estão a inspirar a inovação. O relatório revela ainda o que pensam os jovens empreendedores sobre as políticas públicas, a corrupção, a transparência e o acesso ao capital. A Djembe tem esperança que este relatório sirva como fonte útil de informação e um estímulo para o debate e a acção positiva. Os empreendedores são a chave para a diversificação económica e para o desenvolvimento do sector das pequenas e médias empresas, para que seja forte e duradouro. A Djembe Communications está confiante de que este relatório e os seus resultados irão ajudar todos os que estão a torcer pelo sucesso de África e ajudar as pessoas que desempenham os papéis centrais a vencer.

PREÂMBULODepois de ter trabalhado vários anos com organizações dos sectores privado,

público e governamental em África, a Djembe Communications tem agora

um entendimento profundo em relação aos desafios e às oportunidades de

negócio em África.

São os jovens empresários líderes

que irão criar soluções africanas

para desafios africanos: gerando

emprego, impulsionando a

mobilidade social e trazendo

mais-valia à economia regional.

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PRINCIPAIS RESULTADOS DE CADA PAÍS

ANGOLA

Entre os países subsaarianos que fizeram parte do inquérito da Forbes Insights/Djembe Communications, Angola destaca-se por ter de longe o maior número de respostas a referir a educação como o factor essencial para a criação de emprego jovem. Com a criação de emprego a ser o tema mais importante para o futuro do país (44%), a educação lidera a lista dos principais impulsionadores de criação de emprego jovem nos próximos cinco anos (48%), sendo que a indústria também irá criar a maior parte do emprego jovem nos próximos cinco anos (40%). Entre os países inquiridos, Angola apresenta a maior percentagem de pessoas (49%) que diz preferir trabalhar para uma organização a iniciar o próprio negócio. (pág. 15.)

GANA

A criação de emprego é, sem dúvida, o tema mais importante para o futuro do país de acordo com 50% dos inquiridos, o que é consistente com a adopção do governo ganês da Política Nacional de Emprego, num esforço de impulsionar oportunidades e de ir ao encontro das exigências da mão-de-obra crescente. A tecnologia é o principal impulsionador para a criação de emprego jovem nos próximos cinco anos (44%) e as entrevistas com os empreendedores revelaram que estão mais focados na inovação do que os empreendedores de outros países também questionados para este relatório. Os inquiridos do Gana têm uma perspectiva bastante positiva em relação aos empreendedores ganeses, com apenas 13% a dizer que os negócios foram conduzidos de um modo desonesto e uma grande maioria das pessoas (85%) a preferir iniciar o seu próprio negócio do que a trabalhar para uma organização já existente. (pág. 21.)

MOÇAMBIQUE

As nações do sul de África espelham os resultados obtidos nesta região, com a criação de emprego jovem a ser o tema mais importante para o futuro (50%); os empreendedores são vistos como os principais impulsionadores para a criação de emprego jovem nos próximos cinco anos (39%). O sector dos recursos naturais tem um papel ainda mais importante no futuro do país, de acordo com as respostas ao inquérito. Há a esperança de que este sector crie a maior parte do emprego jovem nos próximos cinco anos (49%) e de que crie também o maior número de empreendedores nos próximos cinco anos (50%), sendo também considerado o principal impulsionador do empreendedorismo (38%). A prova que atesta a importancia do empreendedorismo na criação de emprego jovem, é o facto de a maioria dos inquiridos (66%) responder que prefere iniciar o seu próprio negócio do que trabalhar para uma organização, ao mesmo tempo que as atitudes em relação aos empreendedores são muito positivas. (pág. 27.)

Continua na página 6

PRINCIPAIS RESULTADOS SOBRE A REGIÃO SUBSAARIANA

A criação de emprego é o tema mais importante para o futuro da região subsaariana, com a maior parte dos inquiridos (48%) a referirem-no. A criação de emprego precede outros assuntos importantes, como o fim da corrupção, a saúde e o saneamento ou a estabilidade política.

Para a população jovem, os empreendedores estão entre os principais impulsionadores da criação de emprego (36%), mas a tecnologia e a educação têm igual importância para a criação de emprego. Quando questionados sobre o modo como os empreendedores podem desenvolver a economia, a maioria dos que responderam ao inquérito (59%) têm esperança de que os empreendedores dêem um avanço à economia criando emprego.

A corrupção e a falta de transparência nos negócios são as principais barreiras ao empreendedorismo de acordo com 45% das respostas do inquérito, seguidas da falta de acesso ao capital e financiamento (35%).

A agricultura e os recursos naturais são os sectores que, nos próximos cinco anos, irão criar a maioria dos empregos, de acordo com 43% e 35% dos inquiridos, respectivamente. O inquérito separou os recursos naturais extractivos da agricultura, devido às diferentes dinâmicas e problemas do sector.

• O sector de recursos naturais é visto como o principal catalisador para empreendedores (37%), graças aos reinvestimentos estratégicos em curso que deverão gerar empreendedorismo.

• A agricultura é o sector que, graças ao seu potencial inexplorado para ganhos de produtividade e criação de produtos de valor acrescentado, irá gerar o maior número de empreendedores nos próximos cinco anos, de acordo com 43% dos inquiridos.

As sociedades subsaarianas têm perspectivas bastante positivas relativamente aos empreendedores, com a maioria (56%) a contar com eles para a criação de empregos e a acreditar que trabalharam imenso para chegar onde chegaram (56%). Uma maioria significativa dos inquiridos (72%) prefere iniciar a sua própria actividade a trabalhar para uma organização já existente.

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FOCO NA ÁFRICA SUBSAARIANACRIAÇÃO DE EMPREGO É O TEMA PRIORITÁRIO

Figura 1. Os temas prioritários do futuro

Criação de emprego jovem 48%

Erradicação da corrupção 40%

Crescimento económico 30%

Saúde e saneamento 30%

Estabilidade política/paz 24%

Figura 2. Como podem os empreendedores ajudar a economia a desenvolver-se

Criar/oferecer emprego 59%

Aumentar a importância da inovação/criatividade 39%

Introduzir produtos/serviços inovadores 38%

Tornar-se uma máquina de crescimento económico 38%

Introduzir novos estilos de gestão/trabalho 35%

Sendo o continente demograficamente mais jovem, em que metade da população com idade inferior a 25 anos está desempregada, muito mais em termos absolutos do que noutras partes do mundo, a criação de

emprego para a geração jovem é sem dúvida o tema mais premente do futuro, de acordo com 48% das respostas(fig. 1).

De acordo com o inquérito da Forbes/Djembe, os empreendedores são vistos como uma fonte de criação de emprego, com a maioria dos inquiridos (59%) a afirmar que deposita muitas esperanças nos empreendedores dos seus países. (fig. 2)

A importância da capacidade dos empreendedores para contribuir proactivamente para o crescimento da economia nacional não pode ser sobrestimada, isto se considerarmos que as próprias nações apenas adquiriram independência dos colonizadores há poucas décadas — em graus variados — e viveram conflitos pós-independência que deixaram a região política e economicamente insustentável durante anos.

O seu impacto tem ainda mais destaque se considerarmos os empreendedores subsaarianos que operam em mercados dominados por sectores de recursos naturais potentes e por empresas multinacionais em boas condições financeiras e que são forçados a contentarem-se com um fornecimento escasso de electricidade, problemas de infra-estruturas, falta de mão-de-obra especializada e um acesso a capital reduzido, apenas para nomear alguns dos desafios.

NIGÉRIA

A Nigéria destaca-se entre os países subsaarianos que participaram no inquérito, na medida que esta nação da África Ocidental apresenta a maior percentagem de população jovem a querer tornar-se empreendedora (86%). Os empreendedores nigerianos também são vistos de um modo positivo pelos seus compatriotas, com apenas 13% dos jovens a suspeitar de alguma desonestidade por parte dos empreendedores e 63% a expressar admiração por eles. Como acontece noutros países subsaarianos, os empreendedores são vistos como os principais impulsionadores para a criação de emprego (40%). Contudo, também há expectativas de seja o governo a criar a maior parte do emprego nos próximos cinco anos, de acordo com 56% dos inquiridos. Eliminar a corrupção continua a ser um assunto significativo na Nigéria – mais do que noutros países inquiridos para este relatório – sendo entendida como a barreira principal ao empreendedorismo (47%), mas também como o assunto mais premente para o futuro do país (53%). (pág. 33).

Continuação da página 5

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“Tivemos um crescimento económico acentuado, mas isso não se traduziu em emprego. Precisamos de ter mais empreendedores a criar empregos. Precisamos que o governo providencie as bases para que possamos criar esses empregos para nós mesmos”, disse o empreendedor angolano de tecnologia Reuben Mendes.

“O crescimento inclusivo é particularmente importante para a Nigéria”, afirmou o economista nigeriano Soji Akinyele. “Mesmo que sejamos uma das economias nigeriano comum crescimento mais rápido na África Subsaariana, o desafio não se generalizou para o nigeriano da classe média. Não sentimos o impacto em termos do nosso património social ou da melhoria na qualidade de vida. O governo é quem faz a roda da economia girar. Mas no caso da Nigéria, é o empreendedorismo que cria os empregos e dá poder às pessoas e, ao fazê-lo, cria património económico.”

Do mesmo modo, e reconhecendo a necessidade de empreendedores orientados para a criação de emprego sustentável, a Fundação Tony Elumelu para Programas de Empreendedorismo (TEEP) foi fundada com base e promove a ideia de uma “filosofia de inclusão económica do capitalismo africano, baseada na crença de que um sector privado vibrante e orientado é a chave para abrir o potencial económico e social de África.”

Além dos empreendedores, a tecnologia foi citada como sendo um impulsionador na criação de emprego pelos inquiridos. Enquanto a tecnologia serve de pilar aos negócios em todo o mundo, na África Subsaariana, onde os sistemas financeiros tradicionais e as redes de distribuição ainda não estão completamente desenvolvidas, a tecnologia tem um papel mais proeminente.

Kofi Dadzie, co-fundador e Director Executivo da Rancard, uma agência de tecnologia de publicidade móvel sediada no Gana, vê a tecnologia como um impulsionador de outros sectores industriais e de pequenas empresas. Os telemóveis irão permitir às pessoas participar num sistema financeiro à medida que serão capazes de fazer e receber pagamentos, aceder e receber crédito, ter um histórico de registos e, principalmente, ganharem a confiança dos credores, de acordo com Dadzie (pág. 22). Ao tornar os processos de outras indústrias mais simples, tais como instituições bancárias, por exemplo, a tecnologia, enquanto sector, irá criar empregos através do seu efeito multiplicador.

Mais importante ainda é talvez o facto de a tecnologia ser vista como um equalizador socioeconómico. Tradicionalmente, a proveniência de uma família importante ou as conexões políticas davam às pessoas uma vantagem competitiva, mas o papel da tecnologia equilibra o jogo, uma vez que se rege por regras do mercado livre. “Até poderia ser literalmente o Presidente

do país a criar um produto para a internet. Mas não iria conseguir fazer com que as pessoas usassem esse produto”, disse o empreendedor nigeriano Jason Njoku (pág. 34). Como resultado da natureza harmoniosa da tecnologia, a primeira geração de empreendedores internautas chegou sozinha ao topo, e não por herança familiar ou através de uma rede de contactos na política.

Uma vez que a tecnologia e a inovação estão inter-relacionadas, os empreendedores subsaarianos estão cientes de que a falta de inovação influencia o acesso à tecnologia. O resultado é que muitos empreendedores gastam uma boa fatia do capital necessário a importar ou a copiar os bens e serviços ocidentais que muitas vezes não são compatíveis nem necessários nos mercados locais.

Os empreendedores subsaarianos sublinham a importância de se desenvolver soluções tecnológicas locais como sendo a única forma de se criar produtos de valor acrescentado e de expandir as suas empresas de uma maneira inteligente e sistemática. De acordo com a pesquisa da Forbes Insights1, expandir mundialmente as empresas e criar marcas originais são feitos que conquistam a admiração dos mercados locais por empreendedores de economias de mercados emergentes.

“As PME são a espinha dorsal do desenvolvimento económico, visto gerarem emprego, criarem concorrência e estimularem a inovação”, disse Jean-Claude Bastos de Morais, fundador da Fundação Africana para a Inovação. “O continente tem muitos empreendedores e inovadores que estão na linha da frente em termos de desenvolvimento de produtos e soluções que satisfazem os desafios específicos do mercado africano, mas o seu potencial é extremamente prejudicado pela falta de um ecossistema de inovação. Os principais influenciadores africanos têm de colaborar no desenvolvimento de ecossistemas de inovação, que abranjam tanto o ecossistema de educação, como o de negócios. Se quisermos alavancar o empreendedorismo – os empregos de que a África precisa para os seus jovens – é necessário que este tipo de apoio, intelectual ou financeiro, surja de dentro da própria África.”

A educação, um pilar central para a criação de emprego, veio ao de cima durante as conversas entre os empreendedores no contexto da evidente lacuna de talentos nos mercados locais. A falta de competências da população local é um grande obstáculo para os empreendedores angolanos, de acordo com Tchiloia Lara, uma empreendedora angolana. “É muito difícil criar projectos localmente, desde a concepção à distribuição, e manter os padrões de qualidade elevados que nos iriam permitir competir com produções internacionais” (pág. 16).

Empreendedores são um dos mais importantes factores na criação de emprego“Os jovens empreendedores e os que eles inspiram são o sangue fresco que fará África levantar-se”, citando o empreendedor nigeriano Tony Elumelu. Os empreendedores são vistos como os principais impulsionadores da criação de emprego jovem, de acordo com o inquérito da Forbes Insights/Djembe. Igualmente importante para a criação de emprego ao longo da região, variando ligeiramente de país para país, é a tecnologia e a educação. No geral, 36%, ou a maior percentagem dos inquiridos pela Forbes Insights/Djembe, apontou os empreendedores, a tecnologia e a educação como os principais impulsionadores para a criação de emprego.(fig. 3)

André Almeida Santos, principal economista para países no Banco Africano de Desenvolvimento, explicou a importância do empreendedorismo orientado para o crescimento de emprego, sugerindo que “O crescimento económico de Moçambique tem sido conduzido principalmente pelo investimento estrangeiro em projectos com grande capital, mas limitados no que diz respeito à criação de emprego. Hoje, o desafio principal em Moçambique é diversificar a economia numa direcção diferente deste tipo de desenvolvimentos e ser capaz de traduzir o crescimento económico num modelo mais inclusivo. Para alcançar este objectivo, o país precisa de diversificar o seu tecido de produção e o desenvolvimento das PME é uma peça central na diversificação.”

Nos mesmos moldes, no Gana, “o crescimento de emprego deixou para trás o crescimento económico, o crescimento de emprego deixou para trás o crescimento de mão-de-obra”, disse Nanette Derby, especialista do sector privado no Banco Africano de Desenvolvimento. “O sector privado encontra-se neste momento sobrecarregado e o empreendedorismo tem de ser uma das chaves impulsionadoras da criação de emprego no Gana”

Figura 3. Principais impulsionadores da criação de emprego para a população jovem

Empreendedorismo/PME 36%

Tecnologia 36%

Educação/educadores 36%

Governo/políticas e programas 28%

Inovação 23%

“As pessoas com maior influência em África sentem a necessidade de colaborar no desenvolvimento da inovação de ecos-sistemas capazes de acompanhar lado a

lado a educação e os negócios.”

Jean-Claude Bastos de Morais Fundador,

Fundação Africana para a Inovação

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o empreendedorismo sejam eliminados — dois dos temas prioritários são a erradicação da corrupção e a melhoria do acesso ao capital e financiamento para os empreendedores. (fig. 5)

A corrupção está no topo dos obstáculos aos negócios no inquérito da Forbes Insights/Djembe Communications, tendo sido citada em 45% das respostas. De facto, na Nigéria eliminar a corrupção é visto como o tema isolado mais importante para o futuro do país (53%). As consequências da corrupção são imensas — impede a democracia, corrói as instituições do estado e estanca o crescimento económico. Não é necessário dizer que a sua existência danifica gravemente o potencial para o surgimento de empreendedores, como confirmado na pesquisa da Forbes Insights, que revelou que a falta de transparência nos negócios é o desafio principal para os empreendedores na Ásia, África e Médio Oriente.

A falta de acesso ao capital e a sistemas financeiros e bancários com um bom funcionamento são também obstáculos partilhados pelos empreendedores no continente. Enquanto parte da solução está na criação

de regulações sólidas, é igualmente essencial criar um ambiente e incentivos para tipos alternativos de financiamento, tais como business angels, o capital privado ou o capital de risco.

Recursos naturais e agricultura De acordo com os inquiridos, os sectores onde será criada a maioria dos empregos são a agricultura e os recursos naturais (fig. 6). A agricultura e as actividades agrícolas estão cotadas como os dois principais sectores para a criação da maioria dos empregos nos próximos cinco anos em todos os países que participaram no inquérito. No entanto, como salientou Santos, “O paradoxo da criação de emprego na agricultura é que uma boa parte da população já trabalha na agricultura.”

Segundo Santos, em todos os países abrangidos por este relatório, percentagens significativas da população (de 40% a 70%) estão empregues no sector agrícola — a maior parte sem contractos. Os economistas e os empreendedores concordam que o sector poderia ser expandido grandemente através de políticas de

Figura 6. Sectores que irão criar a maioria do emprego jovem nos próximos cinco anos

Agricultura e actividade agrícola 43%

Recursos naturais (p. ex.: petróleo e gás, ouro, madeira) 35%

Tecnologia/telecomunicações 33%

Educação 28%

Construção de infra-estruturas 21%

Saúde 21%

Empreendedores de toda a região reflectiram sobre os seus comentários e a falta de competência nos mercados surgiu como a principal barreira ao crescimento económico e à inovação. Entre os países abrangidos por este relatório, os desafios relacionados com a educação e a falta de trabalho especializado são mais visíveis em Angola (pág. 15).

O papel do governo Os governos subsaarianos têm um papel essencial no estímulo da criação de emprego e no empreendedorismo nos seus países — talvez mais até do que outras regiões no mundo. A pesquisa da Forbes Insights demonstra que, ao contrário das economias maduras, onde o sector privado é mais feliz quando o governo não interfere, os empreendedores nas economias em desenvolvimento tendem a ter uma visão mais positiva em relação à participação do governo.

Conversas com empreendedores subsaarianos e economistas confirmam as expectativas elevadas no papel que o governo tem a desempenhar no sector privado. De facto, acreditam que não existe substituto para os líderes locais atribuírem poder aos empreendedores locais, e, como disse Dadzie à Forbes Insights: “A liderança certa irá alimentar os empreendedores ao criar políticas que encorajem sistemas de financiamento a disponibilizar capital e a providenciar educação — da mesma maneira que os pais têm paciência e persistência para investir e cultivar

a educação dos seus filhos, dar-lhes um tecto e torná-los adultos bem-sucedidos.” (pág. 26)

Para ser mais claro, os empreendedores não estão à procura de governos paternalistas que os deixem usar os fundos do estado para simplesmente criarem emprego (algo que tem sido muito difícil, uma vez que os cofres de alguns governos não estão tão cheios devido à queda dos preços do petróleo). Pelo que Derby chama a atenção, “o governo tem um papel a desempenhar na construção de um ecossistema económico que promova o empreendedorismo e a criação de emprego”. Pelo contrário, é a invocação do estímulo para a criação de emprego através do incentivo das receitas geradas a partir dos recursos naturais, de uma maneira responsável e sustentável, para que se possa oferecer soluções de longo prazo ao país.

Os economistas, os empreendedores e os inquiridos pela Forbes Insights/Djembe concordam que apesar de necessário, este processo de diversificação será definitivamente longo e contínuo. Segundo o inquérito, nos próximos cinco anos, o sector público irá continuar a ser o principal criador de emprego (fig. 4).

Estímulo ao empreendedorismo Qualquer governo que esteja empenhado em promover a criação de emprego sustentável tem de estimular o empreendedorismo. Para que tal aconteça, é vital que o governo dê passos realistas e credíveis de modo que alguns dos principais obstáculos que têm impedido

Figura 4. Que entidades irão criar a maior parte do emprego jovem nos próximos cinco anos?

Sector governamental/público/social 53%

Empresários/empreendedores 43%

Grandes grupos/grupos internacionais 32%

Figura 5. Quais as barreiras principais ao empreendedorismo no nosso país?

Corrupção/falta de transparência nos negócios 45%

Sem acesso a capital/sistema financeiro 35%

Burocracia/políticas governamentais 29%

Sistema de educação inadequado/competências insuficientes 27%

Falta de negócios/infra-estruturas tecnológicas 25%

1 “Emerging Markets: Joining the Global Ranks of Wealth Creators—Africa, Central & Eastern Europe, Middle East,” por Kasia Moreno, Forbes Insights, 2013

2 “Creating Wealth, A Survey of Entrepreneurs Worldwide: Their Insights. Their Challenges. Their Needs,” por Kasia Moreno, Forbes Insights, 2015

3 “Creating Wealth, A Survey of Entrepreneurs Worldwide: Their Insights. Their Challenges. Their Needs,” por Kasia Moreno. Forbes Insights, 2015

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Shaun Cawood, que descreveu a agricultura moçambicana como sendo um “gigante adormecido com um enorme potencial por explorar”, deu início a um negócio de processamento de alimentos para fornecer legumes a agências de catering que servem as minas na área do Tete em Moçambique. Ele é um exemplo perfeito da combinação da propagação dos sectores de recursos naturais e o desenvolvimento do sector agrícola.

Cawood, que fala dos seus negócios em termos de refeições servidas, fornece actualmente empresas, alimentando entre 10 mil e 15 mil pessoas por dia, e afirma que se estima que a região do Tete venha a ter um crescimento de cerca de 30 mil refeições por dia nos próximos anos. É importante realçar que, no início, Cawood importava 90% dos seus produtos, mas conseguiu pôr esta parcela de reserva, de maneira que a maioria dos seus produtos são agora produzidos localmente. “O nosso é um modelo de negócio inclusivo, ao serviço das minas e apoiando os agricultores locais”, disse ele.

Atitudes sociais No geral, os africanos da região subsaariana têm uma visão positiva dos empreendedores e do empreendedorismo. É um indicador positivo ver que os empreendedores subsaarianos se tornaram respeitados por aquilo que alcançaram e pelo papel que desempenham no desenvolvimento económico. A maioria dos inquiridos tem uma visão positiva dos empreendedores, com 56% das respostas a contar com os empreendedores para criarem emprego, e um número igual de respostas expressando a sua admiração pelo seu empenho num trabalho difícil. (fig. 9)

reforma e um aumento na capacidade. Hoje em dia, os sectores agrícolas no continente estão a sofrer de subdesenvolvimento, subinvestimento e falta de tecnologia.

Em Angola, a agricultura conta actualmente apenas para 11% do PIB e 70% do total de emprego e o país nem sequer é auto-suficiente em muitas das comodidades básicas em termos de alimentação. “Se eu tivesse um milhão de dólares, iria olhar para a agricultura e as actividades agrícolas com interesse”, disse Luís Leitão, Director Executivo da Forbes Angola (pág. 18). “A actividade agrícola vai ser a coisa mais importante em Angola nos próximos tempos”, concorda Mendes. “O sector agrícola ainda tem muito espaço para se desenvolver”, afirma o ganês Dadzie. (pág. 25)

O empreendedor moçambicano Prakash Ratital partilha o sentimento, alegando que a “produtividade agrícola, actualmente muito baixa em Moçambique, precisa de ser desenvolvida, porque este é o único sector que oferece e pode continuar a oferecer empregos à maioria (mais de 70%) da população. O foco na agricultura não deveria ser negligenciado,

como tem acontecido em muitos países africanos, onde as prioridades e os investimentos se concentram na indústria do petróleo e do gás, no minério e infra-estruturas, bem como em investimentos não-produtivos. Por esse motivo, a população jovem abandona as áreas rurais à procura de uma vida melhor nas cidades, aumentando assim a pressão da fraca infra-estrutura social nos centros urbanos.” (pág. 29)

O “efeito de propagação”Há uma grande necessidade — e expectativa — de um efeito de propagação de indústrias relacionadas com recursos naturais e sectores agrícolas, que até ao momento ajudaram muito pouca gente. O efeito multiplicador — todos os serviços necessários às grandes empresas nas indústrias extractivas — deveria ter um impacto positivo nas pequenas empresas. De facto, a maior percentagem das respostas obtidas no inquérito (37%) citou os reinvestimentos estratégicos nos recursos naturais como o principal impulsionador do empreendedorismo e em segundo lugar como o sector responsável pela criação da maioria dos empreendedores (36%) (fig. 7 e 8). A agricultura foi o sector mais citado (43%) para a criação da maioria dos empreendedores nos próximos cinco anos, devido ao seu inexplorado potencial para o aumento da produtividade e a necessidade de se criarem produtos de valor acrescentado.

A gestão responsável e sustentável de rendimentos gerados a partir do sector dos recursos naturais, como o reinvestimento estratégico, é imperativa para que se possa assegurar que as comodidades exaustivas são convertidas em prospectos de longo prazo, tais como a educação, a construção de capacidade e a criação de emprego.

Figura 7. Principais impulsionadores do empreendedorismo

Reinvestimento nos recursos naturais 37%

Apoio/políticas governamentais 27%

Acesso ao capital/financiamento 24%

Somos muito empreendedores/criativos por natureza 23%

Conhecimento prático empresarial e tradição empresarial 22%

Uma rede bem estabelecida de organizações de apoio aos empreendedores 22%

Sistema educativo forte 22%

Figura 8. Indústrias que irão criar a maioria dos empreendedores nos próximos cinco anos

Agricultura e actividade agrícola 43%

Recursos naturais (p. ex.: petróleo e gás, ouro, madeira) 36%

Tecnologia/telecomunicações 33%

Educação 28%

Manufacturação 21%

Hoje em dia, os sectores agrícolas

no continente estão a sofrer de

subdesenvolvimento,

subinvestimento e falta de

tecnologia.

Shaun Cawood iniciou uma empresa de

processamento alimentar para fornecer

vegetais a empresas de catering ao serviço das

minas na zona do Tete em Moçambique.

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14 | CRIAÇÃO DE EMPREGO NA ÁFRICA SUBSAARIANA COPYRIGHT © 2015 FORBES INSIGHTS | 15

A empreendedora Tchiloia Lara encarna de muitas

maneiras as lutas que o seu país travou durante décadas e

a possibilidade de um futuro melhor. Nasceu na década de

80 e durante muito tempo só conheceu a guerra. “Foi só

quando a paz foi declarada que fomos capazes de sonhar

com um contributo para a nossa sociedade. Pensámos

que não havia limites”, contou ela.

FOCO EM ANGOLAGERAR EMPREGOS COM A PAZ

Lara e outros dois parceiros, também da década de 80, fundaram a Geração 80, uma empresa de produção de vídeo. “O nome encarna a experiência de vida após a independência. A nossa geração faz parte do surgimento da uma nova Angola”, afirmou.

Agora que Angola está a entrar na sua segunda década de paz, Lara já compreende melhor os desafios que fazem face à sua empresa e ao seu país. “Começamos a ver que há limites. É necessário haver uma melhor planificação e mais investimento nas infra-estruturas básicas para que possamos ser bem-sucedidos”, afirmou.

No centro do futuro de Angola está a criação de emprego para as gerações jovens (fig. 11). O desemprego atingiu uma média de 27% desde 2007. O principal motivo é o facto de o país depender do petróleo, que representa 40% da produção económica e 70% das receitas do governo, de acordo com o Fundo Monetário Internacional. “A indispensável indústria petrolífera emprega apenas 1% de trabalhadores angolanos”, segundo o “African Economic Outlook (Angola 2014)”

Há uma minoria que aponta para as conexões políticas (38%) e a condução desonesta de negócios (19%), mas para a maioria, estes infortúnios devem ser atenuados por políticas governamentais, tais como regras mais rígidas para eliminar a corrupção e a criação de um sistema regulatório mais amigável e transparente para os negócios.

Estas atitudes positivas em relação aos empreendedores são encorajadoras numa região que sofre com alguns dos magnatas clássicos dos mercados emergentes relacionados com negócios obscuros, desigualdade salarial e corrupção. A pesquisa da Forbes Insights revela uma disparidade de atitudes em relação à criação de riqueza em mercados maduros por oposição aos mercados emergentes. Numa escala de 1 a 10, sendo 10 a nota mais positiva, o painel de riqueza da Forbes avaliou os mercados maduros em 6,3 e os mercados emergentes, como África, em 4,1. Nesta cotação, África bateu o recorde ao lado do Médio Oriente e a Europa Central e Oriental.

Os dois pontos de diferença entre os mercados maduros e emergentes são mínimos e representam uma saída positiva para os mercados emergentes cujos empreendedores operam em condições mais desvantajosas em comparação com os seus concorrentes em economias desenvolvidas. Os mercados emergentes ainda estão a construir instituições de regulação

adoptando práticas de negócio e sistemas políticos sólidos usufruídos pelos mercados maduros durante algum tempo.

Apesar dos desafios, a maior parte das respostas ao inquérito da Forbes Insights/Djembe indica uma preferência pela criação da própria empresa (72%) a trabalhar para uma organização já existente (28%) (fig. 10). Claro que é preciso notar que, em alguns casos, o desejo de iniciar um negócio veio da pura necessidade, como a falta de emprego e educação inadequada.

No entanto, como demonstra a cobertura mundial da Forbes em relação aos empreendedores, é a paixão que normalmente guia os empreendedores. Não é diferente na África Subsaariana. “Sempre criei as coisas de um modo apaixonado e gosto de passar o dia todo a trabalhar as minhas ideias, por isso resolvi iniciar a minha própria empresa”, afirma Mendes. Os empreendedores também são guiados pelos desafios que encontram nos seus países e pelo desejo de encontrar soluções originais para esses problemas. Alguns têm a meta de fazer crescer os seus negócios e ajudar a trazer prosperidade às suas comunidades, à semelhança da Microsoft que criou novos empregos e micro-indústrias para ajudar Seattle a crescer. Se por um lado é inspiradora a comparação com a Microsoft, por outro lado, essa comparação nem sempre é tão descabida e subestima o potencial e as ambições dos empreendedores.

Figura 10. Tipo de emprego preferido

Prefere trabalhar para uma organização 28%

Prefere iniciar uma empresa 72%

Figura 11. Os temas prioritários do futuro

Criação de emprego jovem 44%

Saúde e saneamento 38%

Erradicação da corrupção 36%

Construir uma sociedade democrática 27%

Crescimento económico 25%

4 “Emerging Markets: Joining the Global Ranks of Wealth Creators—Africa, Central & Eastern Europe, Middle East,” por Kasia Moreno, Forbes Insights, 2013

Figura 9. Opinião sobre empreendedores de sucesso

Conto com os empreendedores para criarem emprego 56%

Acho que trabalharam muito para conseguirem o que têm 56%

Admiro a sua coragem e persistência 53%

Acho que deveriam dar mais retornos à sociedade 43%

Acho que usaram as suas redes de contactos e privilégios para construírem os seus negócios 38%

Acho que não fizeram lucros de uma forma honesta 19%

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O poder da educaçãoEntre os países subsaarianos que fizeram parte do inquérito da Forbes Insights/Djembe Communications, Angola destaca-se por ter de longe o maior número de respostas que citam a educação como sendo crucial para a criação de emprego jovem. A educação lidera a lista dos principais impulsionadores de criação de emprego jovem nos próximos cinco anos e também é vista como o sector que mais irá criar emprego para os jovens e a maior parte dos empreendedores nos próximos cinco anos (fig. 12, 13 e 14). A principal contribuição para o empreendedorismo passa por fornecer competências que poderão levar à criação de negócios de valor acrescentado ou providenciar empregados altamente qualificados aos empreendedores.

Apesar de o país estar a reconstruir as infra-estruturas de educação desde a cessação do conflito, ainda há uma falta de professores formados em todo o país, as infra-estruturas das escolas estão subdesenvolvidas e em muitas das regiões a educação não é uma prioridade para os

pais. “As fraquezas no sector da educação mostram que é necessário começar do início, pela qualidade para a educação primária, ao mesmo tempo que se desenvolve o ensino técnico-profissional e se aumenta a credibilidade da educação superior”, disse Luís Leitão, Director Executivo da Forbes Angola.

Um sinal positivo é que Angola viu muitos colégios internacionais, escolas e universidades a abrirem cursos e oficinas de trabalho em todo o país, incluindo o Colégio Angolano de Talatona, que tem uma parceria com a Universidade de Cambridge, segundo Luís Leitão. Erika Acosta, Gestora da Djembe Communications em Angola nota que “nos últimos anos o estado da educação em Angola assistiu a algumas melhorias como resultado da colaboração do sector público e privado e a adopção de iniciativas como Educação para Todos. Os angolanos estão a reconhecer o valor da educação e a perceber como os avanços no conhecimento e nas competências técnicas os tornam mais competitivos no mercado de trabalho.”

Por o número de pessoas formadas e competentes ser muito inferior ao necessário, muitas empresas a funcionar em Angola dependem de expatriados. Claro que ter um grande nível de empresas estrangeiras e expatriados é uma fase natural no desenvolvimento económico. As empresas trazem o seu know-how e, com efeito, ajudam a fixar as infra-estruturas das indústrias modernas em áreas como a extracção de recursos naturais, bancos ou telecomunicações. Também é comum, no início, os expatriados ocuparem cargos de chefia e posições de decisão, mas espera-se que, com o passar do tempo, os locais possam assumir estas funções.

Figura 12. Principais impulsionadores da criação de emprego jovem nos próximos cinco anos (Top 5)

Educação/educadores 48%

Tecnologia 33%

Empreendedorismo/PME 31%

Inovação 27%

Políticas e programas governamentais 22%

Figura 13. Indústrias/sectores que irão criar a maioria do emprego jovem nos próximos cinco anos

Educação 40%

Agricultura e actividade agrícola 34%

Saúde 33%

Recursos naturais 33%

Tecnologia/telecomunicações 29%

Figura 14. Indústrias/sectores que irão criar o maior número de empreendedores nos próximos cinco anos

Educação 38%

Agricultura e actividade agrícola 37%

Recursos naturais 35%

Saúde 33%

Tecnologia/telecomunicações 30%

Angola destaca-se por ter o maior

número de inquiridos a citar a

educação como sendo crucial para

a criação de emprego jovem.

“É muito difícil criar projectos localmente desde a concepção à distribuição e manter, em simultâneo,

o padrão de alta qualidade que nos permitirá competir com produções internacionais.”

Tchiloia Lara

Co-fundadora, Geração 80

Em Angola, devido à falta de competências, são exactamente as posições de gestão e de nível médio em muitas indústrias que acabam muitas vezes por ser ocupadas por estrangeiros. No sector dos recursos naturais, há necessidade de empregar pessoas que saibam trabalhar em minas, soldar, pôr uma sonda a funcionar, analisar os produtos, cortar pedras e operar máquinas, assim como também são necessárias pessoas que saibam conduzir negócios de alto nível e que ocupem posições de gestão e direcção, agora nas mãos de expatriados, de acordo com Jeannine Scott, Presidente da Câmara de Comércio dos EUA-Angola.

É por os angolanos terem uma falha muito grande em conhecimento tecnológico que Angola se tornou na casa da mão-de-obra estrangeira, principalmente nos sectores do petróleo, do gás e financeiro. “Os angolanos estão a começar a perceber que, se conseguirem adquirir as competências certas, podem ter empregos tão bem pagos quanto os estrangeiros”, disse Leitão.

A falta de competências da população local é o principal obstáculo para os empreendedores angolanos. Lara continua: “É muito difícil criar projectos locais, desde a concepção à distribuição e manter o padrão de qualidade elevado que nos permitirá competir com as produções internacionais.”

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Incapazes de encontrar competências e conhecimento em casa, os empreendedores angolanos pediram muitas vezes à Câmara de Comércio dos EUA-Angola para os ajudar a procurar parceiros com capacidades contou Scott. Entre os seus projectos esteve a preocupação de ajudar os fruticultores angolanos que solicitaram apoio com tecnologias de conservação e de expedição, fazendeiros que queriam aprender com a experiência agrícola do Texas e empreendedores que precisavam de parceiros tecnológicos para construírem uma empresa de limpeza de tanques de petróleo.

Recursos naturais extractivos e agricultura Os recursos naturais são o sector tido como principal impulsionador para a criação de empreendedorismo (fig. 15). Gerido principalmente por empresas internacionais gigantes, o sector do petróleo e do gás oferece oportunidades em negócios secundários à volta da indústria de recursos naturais para as empresas angolanas. Esta miríade de negócios secundários inclui o catering, imobiliária, retalho, aluguer automóvel e restauração. Um dos membros da Câmara de Comércio dos EUA-Angola, por exemplo, gere uma escola de mergulho que treina mergulhadores para servir plataformas petrolíferas subaquáticas.

A agricultura tem estado entre os principais impulsionadores de crescimento, depois de o crescimento de Angola ter abrandado para 4,5% em 2014 devido à queda dos preços de petróleo. A agricultura deveria ser uma prioridade para o governo e para o sector privado, de acordo com Luís Leitão. Com um solo altamente qualificado e um bom fornecimento de água, o potencial é enorme. Actualmente, a agricultura conta apenas para 11% do PIB e 70% da totalidade de emprego e o país não é auto-suficiente em muitos dos grupos alimentares básicos.

A condução do empreendedorismo e o papel do governo Os angolanos destacam-se entre as populações subsaarianas inquiridas pela Forbes Insights, na medida que preferem iniciar o seu próprio negócio do que trabalhar por conta de outrem. Cerca de metade dos angolanos gostaria de iniciar a sua própria empresa, comparando com 80% de inquiridos oriundos de outros países subsaarianos. À semelhança da população jovem noutros países inquiridos para este relatório, os angolanos vêem o governo a criar a maioria dos empregos nos próximos cinco anos (fig. 16).

Figura 18. Barreiras principais ao empreendedorismo

Corrupção/falta de transparência nos negócios 42%

Sistema de educação inadequado/competências insuficientes 32%

Estado da nossa economia/falta de diversificação 26%

Sem acesso a capital/sistema financeiro 26%

Burocracia/políticas governamentais 25%

Figura 16. Entidades que irão criar a maioria do emprego jovem nos próximos cinco anos

Sector governamental/público/social 54%

Grandes corporações nacionais/domésticas 36%

Empresários/empreendedores 35%

Grandes corporações internacionais/estrangeiras 31%

Pequenas e médias empresas 23%

Figura 17. Tipo de emprego preferido

Prefere trabalhar para uma organização 49%

Prefere iniciar o seu próprio negócio 51%

Figura 15. Principais impulsionadores do empreendedorismo

Reinvestimento nos recursos naturais 34%

Uma rede bem estabelecida de organizações de ajuda aos empreendedores 23%

Somos muito empreendedores/criativos por natureza 23%

Apoio/políticas governamentais 22%

A nossa sociedade dá valor aos empreendedores 21%

Os jovens angolanos desejam trabalhar para grandes organizações porque, nos últimos cinco anos, viram muitos trabalhadores estrangeiros especializados a conseguirem trabalho em grandes empresas e a entrarem muito rapidamente no comboio económico que os colocou bem financeiramente. “Mas não existem muitos empresários que tenham crescido às suas próprias custas que possam motivar os mais jovens”, disse Leitão. E isso justifica a perspectiva dos jovens que preferem ter um emprego numa empresa grande do que construir o seu próprio negócio.

As expectativas elevadas em relação ao governo enquanto gerador de emprego são típicas de economias em desenvolvimento, onde as pessoas se acomodaram muitas vezes aos sistemas económicos em que os governos desempenham um papel paternalista. Os cargos públicos também tendem a ser mais seguros e mais fáceis para se fazer carreira. No entanto, apesar das esperanças dos angolanos, o governo pode não estar na posição de gastar mais dinheiro criando mais trabalho, de acordo com Leitão. Pelo contrário, irá impulsionar uma reestruturação do sector público, dada a posição proeminente que os recursos humanos já ocupam no orçamento de estado, o que se tornou mais visível com a queda dos preços do petróleo, acrescentou ele.

Seguindo o novo orçamento de austeridade, “o governo reduziu duas vezes as subvenções aos combustíveis — estão previstos ainda mais cortes em

subvenções — e congelou a contratação no sector público até ao final de 2015... Corre-se o risco de ao se introduzirem medidas de austeridade tão agressivas — principalmente na área de despesas de capital — se estar a criar problemas de longo prazo para a economia e a abrandar as tentativas necessárias para a diversificação. Por isso, o governo mantém-se, neste momento, manifestamente empenhado numa agenda política ambiciosa, criada para promover um crescimento mais estável e inclusivo e para a criação oficial de emprego, bem como em programas sociais e de infra-estruturas importantes”, de acordo com o Banco Mundial.

Lara define os papéis do governo e diz o sector privado deveria actuar no futuro da economia angolana do seguinte modo: “O investimento público vai continuar a ter um papel no crescimento económico, funcionando como uma alavanca. Mas o motor será o sector privado.”

A vida de um empreendedorSer empreendedor em Angola apresenta os seus próprios desafios. Continuam a existir obstáculos significativos e a sociedade angolana coloca grandes expectativas nos empreendedores para a criação de emprego. A boa notícia é que há mais jovens angolanos que vêm os empreendedores de um modo mais positivo. (fig. 18, 19 e 20)

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“Se queremos construir foguetões, vamos construir

foguetões”, disse recentemente o empreendedor ganês

Chris Bishop, editor da Forbes Africa. Muito ambicioso,

talvez, mas definitivamente o raciocínio perfeito para o

sucesso.

FOCO NO GANAUM CENTRO DE PRODUÇÃO TECNOLÓGICA

Tal como noutros países subsaarianos, a criação de emprego jovem é vista como algo de extrema importância no futuro do país. No entanto, a abordagem da geração de emprego é progressiva, uma vez que é baseada na tecnologia e na inovação, sendo que a tecnologia funciona como o combustível dos outros sectores industriais. E

apesar de o governo ter um papel importante na criação de emprego, os ganeses colocaram as pequenas e médias empresas à frente do governo na geração de novos postos de trabalho. (fig. 22)

Figura 21. Os temas prioritários para o futuro do país

Criação de emprego jovem 50%

Crescimento económico 34%

Saúde e saneamento 34%

Erradicação da corrupção 30%

Estabilidade financeira/consolidação da unidade monetária 23%

A empresa de Lara, Geração 80, produz vídeos para corporações e projectos artísticos também. “Queremos ser capazes de sobreviver no negócio e ainda assim inspirar pessoas com a nossa arte”, disse ela. Mas surgem impedimentos devido à falta de promotores de conteúdo local e de redes de distribuição. Lara gostaria também de ver a lei a obrigar os canais de televisão a comprarem algum do conteúdo a produtoras independentes, como é o caso da sua empresa.

Além dos problemas específicos desta indústria, a Geração 80 tem de lutar com os mesmos desafios que todos os outros empresários em Angola. Para além dos

grandes problemas, como os atrasos na burocracia, lacunas de talentos e falta de acesso ao capital, Lara gostava de ver uma melhoria em quantidade e qualidade dos serviços de apoio às pequenas empresas, tais como gestão de TI, finanças, comunicação, marketing e capacidades de gestão.

Graças ao seu trabalho árduo, sente que os angolanos lhe dão valor e acredita que isso faz a diferença “veres os teus a ter êxito”. As dificuldades não a detêm. “Quando ainda há tanto por fazer, não há necessidade de nos sentirmos desencorajados”, afirma. “Quando há dificuldades, também há oportunidades.”

Figura 19. Papel dos empreendedores no avanço da economia

Criar/oferecer empregos 55%

Crescimento económico 43%

Aumento da importância da inovação/criatividade 41%

Diversificar a economia 39%

Introduzir novos estilos de gestão/trabalho 38%

Figura 20. Opinião sobre empreendedores de sucesso

Conto com os empreendedores para criarem emprego 60%

Admiro a sua coragem e persistência 61%

Acho que trabalharam muito para o que têm 50%

Acho que deveriam dar mais retornos à sociedade 44%

Acho que usaram as suas redes de contactos ou privilégios para construírem os seus negócios 41%

Não me parece que tenham feito lucros de uma forma honesta 29%

Figura 22. Principais impulsionadores da criação de emprego jovem nos próximos cinco anos

Tecnologia 44%

Educação/educadores 35%

Empreendedorismo/PME 33%

Governo/políticas e programas 31%

Investimento estrangeiro 23%

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Se por um lado, são os líderes que precisam de criar um ambiente para os empreendedores inovarem, por outro, cabe aos empreendedores apresentar ideias criativas. Anne Nutsuklo, co-fundadora do Nandimobile, uma empresa de software cujo principal negócio é impulsionar o uso dos telemóveis para comunicações empresariais entre os clientes, acredita que o que o Gana precisa é de mais criatividade. É a única forma de criar produtos de valor acrescentado e fazer crescer as empresas. “Não temos muitos empreendedores que apareçam com as suas próprias ideias. A maioria está apenas a copiar e o resultado é que se mantêm numa pequena escala.” Acredita que os empreendedores deveriam procurar formas de resolver os problemas dos ganeses com soluções ganesas em vez de importarem produtos que muitas vezes nem se enquadram ao local, nem às necessidades.

É um raciocínio progressivo sobre a necessidade de inovação, como o de Nutsuklo, que se reflecte no posicionamento global relativamente alto do Gana em termos de inovação. O país ainda tem um caminho longo a percorrer no que se refere à inovação. Está no 96.º lugar entre 143 países no Índice Global de Inovação

2014 (o terceiro maior país africano, a seguir à África do Sul e ao Uganda).

A própria Nutsuklo tem planos ambiciosos para a sua empresa. “Para construirmos uma grande empresa, precisamos de expandir para outros países africanos”, disse ela. “Temos a esperança de conseguir alargar os nossos serviços a outros países. Também gostaríamos de trazer para o mercado produtos únicos.”

Raindolf Owusu, um dos empreendedores na lista da Forbes Africa “30 Under 30” (os 30 mais promissores empreendedores com idade inferior a 30 anos), concordou. Apelidado de Mark Zuckerberg do Accra pela Forbes Africa, Owusu é o fundador da Oasis Websoft, aclamado por ser o criador do primeiro browser africano. “Acredito que o software pode resolver muitos problemas em África. Os nossos problemas no continente são diferentes e o software já existente no estrangeiro não foi construído para satisfazer o nosso ambiente. Por isso, decidi montar uma empresa para colmatar esta necessidade e desenvolver software criado em solo nacional”, disse ele à Forbes Africa.

A sua história única é, em parte, o motivo por trás deste pensamento progressista, de acordo com Bishop, da Forbes Africa. O Gana foi o primeiro dos países subsaarianos inquiridos a tornar-se independente e foi o que sofreu menos impactos resultantes de conflitos. As reformas do mercado livre introduzidas em 1990 colocaram o país no caminho do crescimento económico.

Kofi Dadzie é co-fundador e Director Executivo da Rancard, uma empresa que faz a conexão das marcas líderes mundiais com as audiências móveis mais relevantes a um custo mínimo por cada assinatura.

Dadzie vê a tecnologia como um impulsionador de outros sectores industriais e de pequenas empresas. Os telemóveis irão permitir às pessoas participar no sistema financeiro à medida que se tornarão capazes de fazer e receber pagamentos, aceder e receber crédito, ter um histórico de registos e, principalmente, ganhar a confiança dos credores. Por sua vez, tal irá permitir que as pequenas empresas se tornem mais acessíveis aos consumidores e que sejam capazes de receber os seus

pagamentos. África ultrapassou as economias ocidentais ao dar preferência à mobilidade em detrimento do trabalho à secretária. Por isso, a sua actividade empresarial precisa de desenvolver os seus próprios modelos de acção para que sejam diferentes dos dos outros países ocidentais.

A necessidade de se criar novos modelos vai para além do uso da tecnologia. E também vai para além do que os empreendedores conseguem obter para si próprios. É preciso que os governos preparem o terreno.

“Há uma estrutura económica a emergir que leva a formações económicas nunca antes vistas no modelo tradicional do Ocidente, o que para mim é magia”, afirmou Dadzie. “Precisamos de líderes que possam determinar as políticas correctas, de modo a permitir que as inovações vejam a luz do dia. O crescimento do emprego virá de uma expansão económica em que os cidadãos com mais poder poderão aceder e criar as suas próprias oportunidades, mais direccionadas para a natureza dos nossos mercados.”

Figura 24. Papel dos empreendedores no avanço da economia

Criar/oferecer empregos 62%

Introduzir produtos/serviços inovadores 37%

Aumento da importância da inovação/criatividade 35%

Redução da confiança nos programas/criação de emprego pelo governo 35%

Tornarem-se mentores/modelos para a população jovem 33%

Figura 23. Entidades que irão criar a maior parte do emprego jovem nos próximos cinco anos

Empresários/empreendedores 53%

Sector governamental/público/social 51%

Grandes corporações internacionais/estrangeiras 32%

Pequenas e médias empresas 31%

Start-ups 28%

“Há uma estrutura económica a emergir que leva a formações económicas nunca antes vistas no modelo tradicional do

Ocidente, o que para mim é magia.”

Kofi Dadzie Co-fundador e Director Executivo,

Rancard

“Os empreendedores deveriam procurar formas de resolver os problemas ganeses com soluções ganesas.”

Anne Nutsuklo

Co-fundadora, Nandimobile

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Assim, cita principalmente a boa liderança e a atribuição de poder às pessoas por meio da educação como os factores mais importantes para o futuro do Gana. “Será necessário usar a liderança política e a liderança social, como a igreja ou as lojas, para desenvolver o nosso capital humano”, disse Dadzie.

Modernizar a agricultura No Gana, à semelhança do que acontece nos outros países subsaarianos inquiridos para este relatório, os recursos naturais e a actividade agrícola são vistos como os principais criadores de empreendedores e emprego (fig. 25 e 26). A taxa de desemprego relativamente baixa do Gana beneficiou dos postos de trabalho que foram criados em todo o país, principalmente na agricultura, de acordo com o “African Economic Outlook 2015”. Apesar de a agricultura equivaler a um quinto do PIB do país, continua a ser o sustentáculo da economia em termos de produção de colheitas e de emprego, ocupando uma parcela da mão-de-obra total estimada em 40%.

Tradicionalmente, o cacau é a plantação mais importante, sendo responsável por cerca de 20% das exportações, apesar de o sector ter sido afectado

com a descida dos seus preços. Por isso, é cada vez mais importante aumentar o valor acrescentado das exportações de cacau. Os programas actuais têm como objectivo exportar pelo menos 50% da produção total em cacau processado. “O sector agrícola ainda tem muito espaço para se desenvolver”, disse Dadzie.

Kweku Agyei Hackson, artista e empreendedor, iniciou uma empresa para o cultivo de vegetais, a Re-layed Agro. Hackson acredita que a actividade agrícola está a sofrer de uma falta generalizada de fundos disponibilizados aos agricultores e aborda este problema de um modo empreendedor. O seu perfil no LinkedIn tem uma área de vendas onde os investidores podem investir directamente na sua quinta.

Quando comparado com outros países subsaarianos, o Gana tem a menor percentagem de população a trabalhar na agricultura, podendo este número vir a descer mais ainda quando o sector se modernizar.

Desafios e atitudesO Banco Mundial avaliou o Gana como o 70.º entre 189 países em termos de facilidade de fazer negócios. O Gana está na quarta posição na áfrica subsaariana, a seguir às Maurícias, à Africa do Sul e ao Ruanda.

Lacuna de talentosDepois da tecnologia, os inquiridos votaram na educação e nos educadores como o segundo mais importante impulsionador da criação de emprego no Gana. “Nos anos 90, uma boa parte das políticas de educação passaram por uma reforma e focaram-se nos princípios fundamentais dos Objectivos de Desenvolvimento do Milénio [Nações Unidas]”, de acordo com Learning to Compete5. O resultado foi que o país tem hoje uma taxa de conclusão do ensino básico de 85% e de 65% do segundo e terceiros ciclos.

Os empreendedores com quem a Forbes Insights conversou para realizar este relatório encontram estas lacunas de talentos diariamente. De facto, ambos beneficiaram de uma educação ocidental. Dadzie tem uma licenciatura em engenharia computacional que obteve na Vanderbilt University, no Tennessee, EUA, e antes de ser co-fundador da Rancard, trabalhou para uma série de empresas nos EUA, incluindo a Dell e a Whirlpool. Nutsuklo conseguiu um financiamento do MEST (Meltwater Entrepreneurial School of

Technology), um programa de incubadoras, apoiado por uma fundação de São Francisco, EUA, que oferece formação e investimento a empreendedores africanos.

A falta de talentos fez aumentar as despesas das empresas. Ou as start-ups gastam imenso dinheiro a contratar empregados qualificados, que estão a trabalhar em grandes empresas por um bom salário, ou financiam formações internas para promover talentos. Tal como noutros países subsaarianos, os melhores empregos no sector do petróleo ou nas actividades relacionadas vão para os estrangeiros devido à falta de trabalhadores locais com as competências necessárias, considera Nutsuklo.

“O nosso maior desafio actual é sermos capazes de contratar pessoas dos mercados onde actuamos, como o Gana, Nigéria ou Quénia, porque as competências necessárias à indústria do software não estão, neste momento, disponíveis”, diz Dadzie. “É um enorme desafio formar uma equipa. Não é como trabalhar no Sillicon Valley.”

Figura 25. Indústrias/sectores que irão criar a maior parte do emprego jovem nos próximos cinco anos

Agricultura e actividade agrícola 45%

Tecnologia/telecomunicações 40%

Manufacturação 30%

Educação 29%

Recursos naturais 28%

Figura 27. Principais impulsionadores do empreendedorismo

Reinvestimentos nos recursos naturais 37%

Apoio/políticas governamentais 29%

Sistema educativo forte 28%

Acesso ao capital/financiamento 28%

Uma rede bem estabelecida de organizações de ajuda aos empreendedores 21%

Figura 26. Indústrias/sectores que irão criar o maior número de empreendedores nos próximos cinco

anos

Agricultura e actividade agrícola 40%

Tecnologia/telecomunicações 39%

Manufacturação 32%

Educação 29%

Recursos naturais 28%

Kweku Agyei Hackson, artista e empreendedor,

iniciou uma empresa para o cultivo de vegetais, a

Re-layed. Hackson acredita que a actividade

agrícola sofre por não ter financiamento

disponível para os agricultores.

5 Learning to Compete (L2C) é um programa de investigação colaborativa da Africa Growth Initiative at Brookings (AGI), do African Development Bank (AfDB) e do United Nations University World Institute for Development Economics Research (UNU-WIDER) para o desenvolvimento industrial em África.

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“Para o futuro do nosso país, o que importa mais neste

momento é haver um crescimento económico sustentável,

uma vasta distribuição salarial promovida de uma maneira

inclusiva e a criação de mais de 400 mil jovens todos

os anos”, disse Prakash Ratilal, fundador da instituição

bancária Mozambique Capitais, que tem mais de 400

stakeholders. Esta empresa moçambicana tem uma

participação de 51% no Moza Banco, o quarto maior banco

de Moçambique.

FOCO EM MOÇAMBIQUE EMPREGO JOVEM

É fácil de entender porque é que a criação de emprego é o assunto mais importante nas cabeças dos jovens inquiridos pela Forbes Insights (fig. 31). O sector privado cria menos de 18 mil novos postos de trabalho por ano. A economia moçambicana depende dos megaprojectos nas indústrias de alumínio e extractivas e dos

sectores energéticos. A sua natureza de capital intensivo não gera emprego suficiente para providenciar oportunidades satisfatórias para o crescimento rápido da população jovem. De facto, em 2010, a totalidade dos megaprojectos gerou 3 800 postos de trabalho directos, de acordo com o “African Economic Outlook 2015”

Figura 31. Os temas prioritários para o futuro do país

Criação de emprego jovem 50%

Erradicação da corrupção 39%

Estabilidade política/paz 34%

Saúde e saneamento 32%

Crescimento económico 27%

Figura 29. Opinião sobre os empreendedores de sucesso

Acho que trabalharam muito para conseguirem o que têm 63%

Admiro a sua coragem e persistência 56%

Conto com os empreendedores para criarem emprego 51%

Acho que deveriam dar mais retornos à sociedade 44%

Acho que usaram as suas redes de contactos e privilégios 34%

Acho que não fizeram lucros de uma forma honesta 13%

Figura 30. Tipo de emprego preferido

Prefere trabalhar para uma organização 15%

Prefere iniciar uma empresa 85%

No entanto, como podemos ver, alguns empreendedores têm as suas dúvidas. “Acho que as avaliações são um espelho verdadeiro da forma de actuar das grandes multinacionais”, disse Nutsuklo. “Se és uma start-up com uma ideia de negócio, as opções de financiamento são praticamente inexistentes”. Há poucas redes internas de investidores e os financiamentos provenientes do exterior não são fáceis de obter, pois muitos investidores não estão familiarizados com o mercado e investir no Gana é considerado um risco elevado.

Outros desafios, de acordo com Nutsuklo, são a inflação e as flutuações da moeda corrente, o que causa problemas às empresas tecnológicas que têm de pagar pelas importações em dólares, mas cobram aos consumidores na moeda local, em cedis. Além do mais,

o sistema de impostos não é favorável às start-ups. Consequentemente, falando como empreendedora, Nutsuklo avaliaria o seu país com um 7 em 10 no que se refere à escala de facilidade de se fazer negócios.

Dadzie associa o ambiente para os empreendedores ao papel de liderança do país: “O progresso está ligado à liderança. A liderança certa irá alimentar os empreendedores ao criar políticas que encorajem os sistemas de financiamento a disponibilizar capital e a providenciar educação — da mesma maneira que os pais têm paciência e persistência para investir e dar educação aos seus filhos, é preciso dar-lhes um tecto e torná-los adultos bem-sucedidos. Não há substituto possível à transmissão de poder pelos líderes locais aos empreendedores locais”

Figura 28. Principais barreiras ao empreendedorismo

Corrupção/falta de transparência nos negócios 40%

Sem acesso a capital/sistema financeiro 40%

Burocracia/políticas governamentais 29%

Falta de negócios/infra-estruturas tecnológicas 28%

Sistema de educação inadequado/competências insuficientes 26%

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28 | CRIAÇÃO DE EMPREGO NA ÁFRICA SUBSAARIANA COPYRIGHT © 2015 FORBES INSIGHTS | 29

no mundo em 2017.” Há uma falta constante de infra-estruturas,

incluindo de transporte, que impede o funcionamento do sector dos recursos naturais. Chris Bishop da Forbes Africa vê a parceria da CFM, a companhia moçambicana de comboios e portos, com investidores privados, na tentativa de se construírem linhas férreas para o transporte de carvão, como um bom sinal. Também ressalta o crescimento económico no noroeste da região, graças ao efeito multiplicador económico do minério de carvão. “Costumava ser uma das zonas mais degradadas do país. Hoje, há voos diários e há estradas

a serem construídas”, disse ele. Kussema é uma pequena empresa que beneficia

do efeito multiplicador resultante do boom nos recursos naturais. Mpfumo está, oportunamente, a expandir a sua empresa para ser fornecedora de serviços às indústrias florescentes e está actualmente a distribuir uniformes, serviços de limpeza e catering a trabalhadores no sector dos recursos naturais.

O sector da agricultura, que emprega 70% da população, tem uma falta de dinamismo económico, embora apresente um crescimento de mais de 4%. Devido ao seu tamanho, é um sector crucial para a criação de emprego e o que é necessário é a transformação de pequenos campos de agricultura de subsistência em modernas máquinas de fazer dinheiro com valor acrescentado.

Alcançar produtividade na agricultura requer conhecimento, pesquisa e recursos. “Precisa de ser desenvolvido, porque é o único sector que pode oferecer empregos à maioria da população”, disse Ratilal. “A agricultura não deveria ser negligenciada, como tem acontecido em muitos países africanos onde nos concentramos na indústria do petróleo e do gás e a maioria da população é pobre”

Consequentemente, as vantagens do crescimento de Moçambique ainda não chegaram a uma grande faixa da população. “É crucial combinar o sector público e o sector privado de Moçambique para o crescimento económico. Actualmente, o sector privado ainda não participa adequadamente nos megaprojectos. O sector privado em Moçambique representa a primeira geração de empresários. No geral, os moçambicanos não possuem o capital inicial nem o conhecimento para produzirem e competirem com bens e serviços internacionais de alta qualidade que possam fornecer aos megaprojectos do país.

Combinar os megaprojectos com as pequenas e médias empresas e associar as comunidades locais e o capital privado a empresas estrangeiras deveria contribuir para o processo de promoção do crescimento sustentável”, disse Ratilal.

Os resultados do inquérito da Forbes Insights sobre Moçambique revelaram que a população jovem concorda que o governo e os empreendedores são essenciais para a criação de emprego (fig. 32 e 33). Neste sentido, os resultados do inquérito são muito semelhantes aos resultados de Angola. Outra semelhança é que os inquiridos em Moçambique também dão uma avaliação elevada à educação em termos de importância para a criação de emprego, apesar de a uma escala menor em comparação com Angola.

Tal como em Angola, a educação – embora alguns esforços recentes do governo para introduzir reformas – continua a ser um desafio. Os recursos humanos são uma área difícil para os empreendedores, segundo Dita Mpfumo, fundadora de uma empresa de catering e eventos chamada Kussema. “Não temos pessoas qualificadas, de maneira que acabamos a fazer o trabalho de todos”, disse ela. Pequenas empresas, como a Kussema, que emprega 14 pessoas, têm custos adicionais relacionados com o recrutamento. Ou pagam o mesmo que as grandes empresas com grandes fundos de maneio pagam por empregados bem qualificados ou têm de fazer formações internas extensivas.

Recursos naturaisNos países subsaarianos, os recursos naturais são vistos como um impulsionador significativo de emprego e empreendedorismo. De acordo com os especialistas, Moçambique alberga uma jazida de gás com as terceiras maiores reservas recuperáveis do mundo, existentes numa offshore descoberta na Baía de Rovuma em 2010. Impulsionada por investimento directo estrangeiro, a jazida de gás está a ser desenvolvida e poderia fazer de Moçambique um dos maiores produtores de gás natural liquefeito no mundo.

Além do mais, “as extensas reservas de carvão e o potencial significativo de haver mais depósitos de minério em Moçambique colocam o país numa posição promissora podendo vir a ter uma das mais importantes histórias de crescimento no sector global de minério dos últimos tempos”, segundo a KPMG International. “Moçambique está pronto para receber enormes pedidos de carvão da China e da Índia e poderia bem tornar-se num dos 10 maiores exportadores de carvão

Figura 32. Principais impulsionadores da criação de emprego jovem nos próximos cinco anos

Empreendedorismo/PME 39%

Educação/educadores 38%

Tecnologia 30%

Inovação 28%

A comunidade de negócios 26%

Figura 33. Entidades que irão criar a maior parte do emprego jovem nos próximos cinco anos

Sector governamental/público/social 51%

Empresários/empreendedores 33%

Grandes grupos nacionais/domésticos 33%

Grandes grupos internacionais/estrangeiros 33%

Pequenas e médias empresas 29%

Moçambique aloja uma jazida de

gás com as terceiras maiores

reservas recuperáveis do mundo,

uma offshore descoberta na Baía

de Rovuma em 2010.

“Combinar megaprojectos com pequenas e médias empresas e associar comuni-dades locais com o capital privado de

empresas estrangeiras deveria contribuir para o crescimento sustentável”

Prakash Ratilal

Fundador, Moçambique Capitais

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Em alguns países, a riqueza dos recursos naturais cria aquilo a que comummente se dá o nome de maldição de recursos: estas nações dependem das indústrias extractivas em detrimento do desenvolvimento de outras partes de valor acrescentado da economia, que não estão tão proximamente ligadas aos preços das mercadorias. “Os recursos são uma maldição para Moçambique?”, perguntou Bishop. “Cabe aos moçambicanos lutar com as empresas petrolíferas pelo melhor negócio possível, de modo que possam beneficiar dos seus recursos naturais.”

Impulso empreendedorMoçambique tornou-se independente numa altura em que algumas nações pós-coloniais procuravam aliar-se ao bloco soviético, passando a ser um estado controlado por uma economia marxista. Com o passar do tempo, esta decisão resultou em longas filas para abastecer combustível, na escassez de produtos básicos e numa longa guerra civil. Eventualmente, o país implementou algumas reformas económicas que levaram a uma economia de mercado livre, mais ou menos por altura da queda do Muro de Berlim.

Figura 37. Tipo de emprego preferido

Prefiro trabalhar para uma organização 35%

Prefiro iniciar o meu próprio negócio 66%

Figura 34. Indústrias/sectores que irão criar a maior parte do emprego jovem nos próximos cinco anos

Recursos naturais 49%

Agricultura e actividade agrícola 39%

Construção de infra-estruturas 29%

Educação 29%

Saúde 24%

Figura 35. Indústrias/sectores que irão criar o maior número de empreendedores nos próximos cinco

anos

Recursos naturais 50%

Agricultura e actividade agrícola 39%

Turismo e transportes 28%

Tecnologia/telecomunicações 26%

Educação 24%

Figura 36. Principais impulsionadores do empreendedorismo no seu país

Reinvestimentos nos recursos naturais 38%

Apoio/políticas governamentais 26%

Transparência nos negócios/facilidade em fazer negócios 25%

Acesso ao capital/financiamento 23%

Conhecimento prático empresarial e tradição empresarial 23%

“Não temos pessoas qualificadas, de maneira que acabamos por fazer o trabalho de todos.”

Dita Mpfumo

Fundadora, Kussema

Apesar de não estarem tão entusiasmados em relação aos empreendedores como os seus pares no Gana ou na Nigéria, os moçambicanos com idades inferiores a 40 anos mostraram uma atitude positiva relativamente aos empreendedores e preferem iniciar o seu próprio negócio a terem de trabalhar para uma organização (fig. 37). “Em Moçambique”, afirma o gestor de país da Djembe Communications, Victor Nhatitima, “assistimos a um certo nível de pragmatismo que gera empreendedorismo, já que a falta de emprego obrigou as pessoas a serem mais imaginativas e engenhosas. Além do mais, os grandes investimentos nas infra-estruturas nacionais dos últimos anos também fizeram aumentar a capacidade logística para que os negócios prosperem.”

Se, por um lado, ainda existe um sentimento de que “o governo nos tem de ajudar, tem de abrir as portas para mais emprego”, de acordo com Bishop, por outro lado “os cofres do governo nos países africanos estão a secar muito rapidamente e não são suficientes para satisfazer as necessidades de toda a população”. Logo, a assistência do governo deveria ser feita a partir de políticas inteligentes e de investimentos, com os empreendedores na linha da frente.

Ratilal disse que o papel do governo em apoiar os empreendedores é um assunto complicado. “Trata-se de perceber de que modo é que o governo pode apoiar o sector privado para que possamos tornar-nos competitivos. As pequenas empresas locais

não conseguem competir com as grandes empresas internacionais que funcionam em grande escala”, disse ele. As PME locais desempenham papéis desiguais no mercado: é o caso das empresas frágeis por oposição às empresas fortes. Ratilal acredita que o governo, tal como a sociedade moçambicana, tem de reconhecer o papel fundamental do sector privado na criação de riqueza, gerando emprego e salário. O governo tem um papel pivô no apoio das pequenas e médias empresas (PME) locais, pelo menos na sua fase inicial. As empresas estrangeiras também deveriam participar no processo de desenvolvimento. Um ambiente positivo para o desenvolvimento de negócios e estabilidade permitem melhores resultados económicos para todos, de acordo com Ratilal.

Os empreendedores moçambicanos entrevistados para este relatório adoptaram cedo um espírito empreendedor. Ratilal começou a aprender a profissão do pai quando tinha cinco anos. “O meu pai ensinou-me que para eu ter uma bola, tenho de vender 10 bolas”, recordou. “Mais tarde, ainda na escola, compreendi o significado de 10%”. Assim, Ratilal conclui dizendo que “o empreendedorismo não é só uma questão de dinheiro ou fácil acesso a crédito. É preciso coragem, conhecimento e entendimento do mercado e a cadeia de valores não pode faltar. E mais do que tudo, a vontade de transformar e de levar as coisas avante são factores determinantes para o sucesso”

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32 | CRIAÇÃO DE EMPREGO NA ÁFRICA SUBSAARIANA COPYRIGHT © 2015 FORBES INSIGHTS | 33

A Nigéria destaca-se entre os países subsaarianos

abrangidos pelo inquérito da Forbes Insights, na medida

que tem o maior número de jovens a querer tornar-se

empreendedores. Os empreendedores nigerianos

também são vistos de um modo positivo pelos seus

compatriotas, com apenas 13% dos jovens a suspeitar de

alguma desonestidade por parte dos empreendedores.

Tal como noutros países subsaarianos, também se espera

dos empreendedores que criem emprego (fig. 41, 42 e

43).

FOCO NA NIGÉRIA O SONHO NIGERIANO

Figura 41. Tipo de emprego preferido

Prefiro trabalhar para uma organização 14%

Prefiro iniciar o meu próprio negócio 86%

Mpfumo acredita que o impulso empreendedor é uma coisa com que se nasce. Mesmo quando frequentava o colégio, na África do sul, vendia coisas e lavava carros e sonhava em vir a tornar-se dona do seu próprio negócio. “Foi um talento que Deus me deu”, conta.

Um dos desafios que os empreendedores moçambicanos têm de enfrentar é o funcionamento da novidade que é o mercado livre. O capital é um problema, em parte porque o sector privado moçambicano ainda está na sua primeira geração e

também porque não houve nenhuma acumulação de riqueza dos pais para os filhos.

Uma coisa é certa: o país está no caminho certo e agora precisa de políticas inteligentes para garantir que se progrida para um crescimento económico geral. A Forbes Africa escreveu que “há 40 anos Moçambique era só liberdade e acenar com a bandeira marxista. Agora, é necessário criar emprego, bombear o gás para fora e procurar rubis”. E, possivelmente, dar poder ao sector privado.

Figura 39. Papel dos empreendedores no avanço da economia

Criar/oferecer empregos 58%

Aumentar a importância da inovação/criatividade 44%

Introduzir novos estilos de gestão/trabalho 43%

Introduzir produtos/serviços inovadores 40%

Tornarem-se uma máquina de crescimento económico 38%

Figura 40. Opinião sobre empreendedores de sucesso

Conto com os empreendedores para criar emprego 62%

Acho que trabalharam muito para conseguirem o que têm 51%

Admiro a sua coragem e persistência 42%

Acho que usaram as suas redes de contacto ou privilégios 42%

Acho que deveriam dar mais retornos à sociedade 39%

Acho que deveriam dar mais retornos à sociedade 21%

Figura 42. Opinião sobre empreendedores de sucesso

Admiro a sua coragem e persistência 63%

Acho que trabalharam muito para conseguirem o que têm 62%

Conto com os empreendedores para criar emprego 49%

Acho que deveriam dar mais retornos à sociedade 44%

Acho que usaram as suas redes de contacto para construir os seus negócios 34%

Não me parece que tenham feito lucros de uma forma honesta 13%

Figura 38. Barreiras principais ao empreendedorismo

Corrupção/falta de transparência nos negócios 50%

Sem acesso a capital/sistema financeiro 32%

Burocracia/políticas governamentais 30%

Sistema de educação inadequado/competências insuficientes 29%

Falta de negócios/infra-estruturas tecnológicas 24%

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34 | CRIAÇÃO DE EMPREGO NA ÁFRICA SUBSAARIANA COPYRIGHT © 2015 FORBES INSIGHTS | 35

Figura 44. Barreiras principais ao empreendedorismo

Corrupção/falta de transparência nos negócios 47%

Sem acesso a capital/sistema financeiro 43%

Burocracia/políticas governamentais 33%

Estado da nossa economia/falta de diversificação 31%

Falta de negócios/infra-estruturas tecnológicas 27%

O gestor de país da Djembe Communications na Nigéria, Onome Okwah, afirma que “Hoje em dia, os nigerianos apreciam os empreendedores por serem os impulsionadores da nova

economia e os indicadores de uma mudança positiva que os afasta da dependência do sector petrolífero. Há tantos bons exemplos de PME bem-sucedidas em várias indústrias, desde a Konga à Globacom, bancos a aumentar a sua proeminência, como o GtBank e o UBA, para além da Resourcery e do Computer Warehouse Group, que estão a abrir caminho na área dos sistemas integrados”

Os empreendedores são os que “dão vida à Nigéria e a África”, para citar Tony Elumelu. Apesar de Jason Njoku, fundador da empresa internauta iROKO, apreciar a admiração dos nigerianos pelos empreendedores, às vezes questiona-se sobre o sistema de valores que está na sua base. “Uma coisa que realmente me preocupa é que os nigerianos dão mais valor à actual percepção de riqueza do que à história de como o empreendedor chegou lá”, disse ele.

Enquanto uma boa parte dos nigerianos não quer trabalhar por conta de outrem, nem todos têm a consciência da quantidade incrível de determinação e saber que é preciso para se chegar a ser um empreendedor, afirmou Mfonobong Nsehe, um colaborador da Forbes e criador da lista da Forbes dos africanos mais ricos. Aponta para a importância da assistência por parte de organizações, como a Tony Elumelu Foundation Entrepreneurship Programme, que tem por base a crença de que quer o empreendedorismo, quer as competências empresariais podem ser ensinadas e aprendidas. A fundação oferece um programa de 12 semanas para equipar as start-ups com as competências básicas necessárias para lançar e gerir os seus negócios, disponibilizando também financiamento inicial.

Njoku tem uma mensagem para os aspirantes a empreendedores: “Vai ser difícil. Não há atalhos. É preciso merecer. É preciso merecer o direito de ser um empreendedor de sucesso.”

Figura 45. Os assuntos mais importantes para o futuro do país

Erradicação da corrupção 53%

Criação de emprego para a geração mais jovem 50%

Crescimento económico 33%

Estabilidade política/paz 24%

Reforma/diversificação económica 17%

“Uma coisa que realmente me preocupa é que os nigerianos dão mais valor à actual percepção de riqueza do que à história de como o empreendedor chegou lá.”

Jason Njoku

Fundador, iROKO Partners

Tornar o sonho realidade De facto, os nigerianos enfrentam sérios obstáculos. O principal é a corrupção e a falta de transparência nos negócios, que também acabam por ser os principais problemas para o futuro do país. A Nigéria é realmente o único entre os países subsaarianos que participaram no inquérito que não considera a criação de emprego um tema de elevada importância para o futuro do país, dando destaque à necessidade premente de se erradicar a corrupção (fig. 44 e 45).

“Os nigerianos são um povo único, na medida que serão capazes de sair de todos estes desafios, todos os dias,

porque não há mais alternativa senão inovar.”

Michael Akindele

Co-fundador, SOLO Phone

Figura 43. Papel dos empreendedores no avanço da economia

Criar/oferecer empregos 59%

Introduzir produtos/serviços inovadores 38%

Aumentar a importância da inovação/criatividade 37%

Tornarem-se uma máquina de crescimento económico 37%

Redução da confiança nos programas/criação de emprego do governo 34%

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36 | CRIAÇÃO DE EMPREGO NA ÁFRICA SUBSAARIANA COPYRIGHT © 2015 FORBES INSIGHTS | 37

Muitos nigerianos têm a esperança de que com a entrada do novo Presidente da Nigéria, Muhammadu Buhari — que tem reputação de não tolerar a corrupção — os custos ilegais provindos de práticas corruptas venham a ser erradicados. Contudo, há um entendimento de que será uma batalha difícil, tendo em conta o facto de a corrupção estar tão enraizada no sistema que se tornou culturalmente aceitável.

Outro grande desafio enfrentado pelos empreendedores na Nigéria é o custo do capital. Não é anormal ver bancos na Nigéria a garantir facilidades de empréstimo a empreendedores de pequena escala, com taxas de interesse monstruosamente altas, de 20% ou 30%. Além disso, há um défice nas infra-estruturas. Os nigerianos ainda estão a lutar por um sistema de fornecimento de electricidade estável e, por isso, muitos empreendedores dependem em grande medida da importação de geradores que funcionam a combustível e a gás, o que acresce ao fardo financeiro.

A falta de infra-estruturas específicas da indústria, bem como o seu uso por potenciais clientes impede a criação de certos modelos de negócio. Njoku, cuja empresa iROKO disponibiliza filmes e espectáculos em streaming, tem mesmo muitos conteúdos populares. No entanto, a empresa luta com desafios de pagamentos adicionais, uma vez que a maioria das pessoas não tem uma conta bancária.

Michael Akindele, co-fundador da SOLO Phone, uma empresa de dispositivos móveis e de conteúdos digitais baseados na experiência, está a mudar o modo como consumidores muito susceptíveis aos preços conseguem aceder a conteúdos. Com cerca de 5 milhões de nigerianos a ter TV por cabo e cerca de 100 milhões a ter telemóveis, o Smartphone da SOLO, que custa 150 dólares e vem com até 20 milhões de músicas gratuitas, pode bem ser a solução.

Na cabeça de Akindele, os desafios do mercado nigeriano são oportunidades de inovação. Ele acredita que os nigerianos estão mais do que prontos para o desafio: “Os nigerianos são um povo único na medida que são capazes de sair de todos estes desafios, todos os dias, porque não há mais alternativa senão inovar”, disse ele.

Parceria entre o público e o privado À semelhança dos outros países subsaarianos, os nigerianos revelaram uma discrepância no seu entendimento do papel dos empreendedores e do governo na criação de emprego. Apesar de um grande grupo de inquiridos ver os empreendedores e as pequenas empresas como os impulsionadores da criação de emprego nos próximos cinco anos, sendo ao mesmo tempo um país que tem visão para o empreendedorismo, a questão isolada mais citada foi que será o governo a criar a maior parte dos novos postos de trabalho (fig. 47).

Figura 46. Principais impulsionadores da criação de emprego jovem nos próximos cinco anos

Empreendedorismo/PME 40%

Tecnologia 39%

Governo/políticas e programas 37%

Reforma económica 27%

Educação/educadores 24%

Figura 47. Entidades que irão criar a maior parte do emprego jovem nos próximos cinco anos

Sector governamental/público/social 56%

Empresários/empreendedores 51%

Pequenas e médias empresas 36%

Grandes corporações internacionais/estrangeiras 34%

Start-ups 27%

A chave para acabar com esta discrepância está no entendimento das perspectivas locais em relação aos papéis dos sectores público-privados na criação de emprego na África Subsaariana. Os empreendedores e a tecnologia são vistos como os principais impulsionadores na criação de emprego. Muitos jovens nigerianos assistiram e ouviram falar de histórias de sucesso de jovens empreendedores tecnológicos como Mark Zuckerberg (co-fundador do Facebook) e Brian Chesky (co-fundador da Airbnb), entre outros, que construíram fortunas em empreendimentos tecnológicos do mesmo género, o que os faz acreditar que uma onda tecnológica irá atravessar África e trazer fortunas. “É o sonho nigeriano”, disse Nsehe.

Um dos benefícios da tecnologia é que está a criar empregos de valor acrescentado muito bem pagos, na maioria para jovens, de acordo com Njoku. Ele também vê a Internet como uma ferramenta equalizadora e forte para a democratização dos negócios na Nigéria. Embora seja fácil para os que têm nome e uma rede de contactos tornarem-se bem-sucedidos nos negócios, na Nigéria, estes tipos antiquados de conexões não se aplicam ao consumidor de Internet.

Enquanto os empreendedores serão os

impulsionadores, o governo será o possibilitador. “O papel do governo é assegurar que os empreendedores tenham um ambiente que os possibilite gerar negócios sem que se tenham de render à corrupção e também para ajudar os empreendedores com o acesso ao capital”, disse Nsehe.

O governo anterior desenvolveu o YES – Youth Entrepreneurship Scheme – que garante aos jovens empreendedores ideias brilhantes e planos concretos de negócio com mais de 50 mil dólares para o lançamento de novas empresas. As necessidades actuais do governo de continuar a investir em programas semelhantes. “As necessidades do governo de melhorar as infra-estruturas e também de introduzir o empreendedorismo no currículo das escolas nigerianas – desde o liceu à universidade”, de acordo com Nsehe.

Akindele concorda, afirmando: “acredito piamente nas empresas na medida que as soluções para os nossos desafios devem ser impulsionadas quer pelo sector público quer pelo privado.”

O potencial da agricultura Em termos de indústrias e sectores, o sector dos recursos naturais e da agricultura serão os principais

Figura 48. Principais impulsionadores do empreendedorismo

Reinvestimentos nos recursos naturais 38%

Apoio/políticas governamentais 31%

Somos muito empreendedores/criativos por natureza 28%

Acesso ao capital/financiamento 27%

Conhecimento prático e tradição empresarial 22%

Figura 49. Indústrias/sectores que irão criar a maior parte do emprego jovem nos próximos cinco anos

Agricultura e actividade agrícola 57%

Tecnologia/telecomunicações 43%

Manufacturação 34%

Recursos naturais 32%

Construção de infra-estruturas 16%

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38 | CRIAÇÃO DE EMPREGO NA ÁFRICA SUBSAARIANA COPYRIGHT © 2015 FORBES INSIGHTS | 39

impulsionadores do empreendedorismo e criarão a maior parte dos empregos e empreendedores nos próximos cinco anos (fig. 48, 49 e 50).

Na verdade, a agricultura continua a ser um dos principais impulsionadores do crescimento económico no sector não-petrolífero. A agricultura emprega cerca de 70% da mão-de-obra, a maior parte sem contratos e uma grande porção é pobre. “Acrescentar valor aos produtos comercializáveis da agricultura tornará possível a criação de mais emprego através da integração com outros sectores da economia, aumentar as receitas da exportação, motivar o salário dos mais pobres e reduzir a incidência de pobreza”, de acordo com o “African Economic Outlook 2015.”

Acrescentar valor à exportação de produtos primários, que é o pilar da Agenda de Transformação Agrícola, poderia ajudar a Nigéria a subir a sua cadeia de valor em direcção à industrialização e providenciar oportunidades de trazer progressivamente o grande sector informal para a economia formal, tornando assim o crescimento mais inclusivo e oferecendo um elevado potencial para a criação de emprego, o aumento dos salários e a redução da pobreza, de acordo com o “African Economic Outlook 2015”

Simbo Adeeko é uma jovem empreendedora nigeriana que entrou para a actividade agrícola em parte devido à sua promoção pelo governo. “As pessoas jovens como eu estão a voltar-se para a agricultura. De maneira que a dinâmica e a demografia que tradicionalmente se viveu na agricultura está a dar uma reviravolta na Nigéria”, diz. A sua empresa, Shihor Internactional, cultiva mandioca e outras mercadorias comercializáveis como o trigo mourisco e cereais. Também está agora a trabalhar numa plataforma tecnológica para comercializar os produtos agrícolas.

Enquanto o sector dos recursos naturais oferece oportunidades de crescimento, a Nigéria, com o seu espírito empreendedor, tem capital humano suficiente para evitar cair no “paradoxo do muito” e seguir países e regiões com uma abundância em recursos naturais, mas com um crescimento económico pobre. O próximo passo é aproveitar este espírito através de parcerias público-privadas para ajudar o país a crescer e a diversificar-se.

Este relatório revela que os empreendedores têm um papel especialmente importante na África Subsaariana, ao criarem emprego e estimularem a competição e a inova-ção. Também nos deu a conhecer que os

empreendedores africanos – e a própria África por defeito – estão a ficar para trás devido a uma série de constrições e impedimentos que precisam de ser enfrentados. Enquanto impulsionador-chave para o crescimento do emprego, o governo e todos os outros

stakeholders têm de fazer tudo o que puderem para apoiar os empreendedores a motivar o crescimento da economia. Assim, a secção seguinte apresenta uma série de recomendações que, se adoptadas, irão for-mar as bases para um panorama empreendedor e próspero. O destinatário primário é obviamente o governo e os políticos em África, mas as ideias apre-sentadas também são relevantes paras as instituições de educação, as empresas privadas, as ONG e os próprios empreendedores.

RECOMENDAÇÕESFigura 50. Indústrias/sectores que irão criar o maior número de empreendedores nos próximos cinco

anos

Agricultura e actividade agrícola 58%

Tecnologia/telecomunicações 39%

Manufacturação 38%

Recursos naturais 31%

Educação 20%

Verbalizar o reconhecimento do papel especial que os empreendedores e as PME têm ao impulsionarem a economia nacional para a criação de emprego e afirmar o seu empenho em proteger os seus interesses, através da adopção de políticas que irão motivar o ambiente propício para se formarem novas empresas.

Promover programas educacionais técnicos e vocacionais para o terceiro ciclo que providenciem programas com componentes de formação prática em áreas-chave do conhecimento relacionadas com a gestão empresarial, programação, engenharia, design, desenvolvimento de websites, codificação, experiência do utilizador (UX), além de pós-graduações de assistência à colocação no mundo profissional.

Estabelecer incubadoras que irão oferecer facilidades acessíveis em termos de custo, infra-estruturas tecnológicas, acesso a recursos optimizados e a talentos para fomentar os empreendedores e as suas PME a começarem a ganhar forma.

Encorajar empresas tecnológicas já existentes a iniciar cursos de formação e programas de ensino para as start-ups, de modo a haver uma transferência de conhecimento e capacidade de construção nos tópicos mais relevantes, e também melhores práticas para possibilitar o desenvolvimento empresarial.

Reduzir impostos marginais para as novas empresas o que, por um lado, irá incentivar os empreendedores e, por outro, enviar uma mensagem clara de que os políticos estão empenhados em motivar o desenvolvimento sólido das PME de uma maneira prática e sustentável.

Facilitar o envolvimento do sector público e privado de modo que haja um compromisso de financiamento das start-ups a partir de empresas já existentes como parte do seu compromisso RSE — Responsabilidade Social das Empresas.

Apoiar os esforços das organizações não lucrativas em providenciar formação para empreendedores e formação prática às comunidades rurais.

Lançar programas governamentais para assegurar às PME pré-qualificadas o recurso a capital de empréstimo com interesses baixos, de modo a incentivar potenciais empreendedores e a minimizar os riscos pessoais.

Proteger os bancos e outros credores com garantias contra a perda do investimento nas PME através da criação de S.A., de uma sociedade-mãe, ou de um veículo de titularização.

Criar pequenos centros de desenvolvimento empresarial independentes e dedicados com ferramentas e recursos de modo a oferecer às PME serviços de consultoria empresarial, contactos e acesso a redes, e apoio legal para construírem as suas empresas com base no reconhecimento do papel que desempenham ao impulsionarem a economia nacional.

“As pessoas jovens como eu estão a voltar-se para a agricul-tura. Por isso, a dinâmica e a demografia que tradicionalmente se viveu na agricultura está a dar uma reviravolta na Nigéria.”

Simbo Adeeko

Fundadora, Shihor International

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METODOLOGIAOs dados deste relatório têm por base um inquérito feito a 4 mil indivíduos com idades compreendidas entre os 16 e os 40 anos, da Nigéria, Gana, Angola e Moçambique. Os inquiridos são representativos de todos os níveis de educação, sendo o maior grupo constituído por estudantes universitários (28%) e estudantes do secundário (26%). Provêm de todos os níveis socioeconómicos. O último grupo (41%) define-se a si mesmo como classe média. Cerca de dois terços dos inquiridos são do sexo masculino e um terço do sexo feminino.

Os números nos gráficos e tabelas podem não somar a 100%. Em alguns casos deve-se ao facto de os inquiridos poderem optar por mais do que uma resposta. Em outros casos, deve-se ao arredondamento.

SOBRE A DJEMBE COMMUNICATIONS O nome tem origem num batuque oriundo da África Ocidental. A Djembe Communications é uma agência de consultoria independente, pioneira no ramo em toda a África, cuja missão é tornar-se a parceira de eleição para a comunicação na África Subsaariana, combinando um know-how global com as competências do mercado local e soluções adaptadas e, assim, entregar os melhores serviços de consultoria aos seus clientes.

A Djembe combina uma rede internacional organicamente desenvolvida com o mercado local e está presente em Angola, Moçambique, Nigéria, Suíça, Reino Unido, Emirados Árabes Unidos e EUA. A contínua expansão da Consultora apoia-se no sucesso extraordinário que alcançou em apenas um ano e meio, providenciando as indústrias líderes de competências reconhecidas. Na primeira metade de 2015, a Djembe recebeu o prémio de Excelência na PRSA Silver Anvil Award, graças ao Programa de Gestão de Reputação da Consultora para o Fundo Soberano de Angola (FSDEA). A Djembe também foi finalista no Holmes Report EMEA como Nova Empresa do Ano, SABRE Awards EMEA Gold e IPRA Golden World Awards, fazendo de 2015 um ano de expansão para a consultora jovem pan-africana. www.djembecommunications.com

SOBRE A DJEMBE INSIGHTS A Djembe Insights é a mais recente plataforma de pesquisa on-line que permite entregar soluções orientadas, baseadas em perspectivas rigorosas do mercado, a clientes e stakeholders de toda a África Subsaariana e ultramar.

O extenso foco do trabalho da Djembe é apoiar as necessidades de comunicação dos seus clientes nos sectores-chave de crescimento em África, pois para a Djembe é vital tomar as rédeas dos desenvolvimentos essenciais em todo o continente. Através de um trabalho em parceria com as melhores autoridades de pesquisa mundiais, a Djembe Insights irá emitir relatórios de pesquisa anuais de alta qualidade sobre as tendências mais prementes e os desenvolvimentos com maior impacto no crescimento socioeconómico em África. www.djembeinsights.com

AGRADECIMENTOSA Forbes Insights e a Djembe Communications gostariam de agradecer aos seguintes empresários e especialis-tas pelo seu tempo e conhecimento:

Simbo Adeeko, Fundadora e Directora Executiva, Shihor International Limited, Nigéria

Michael Akindele, Co-fundador e Director, SOLO Phone, Nigéria

Akin-Olusoji Akinyele, Gestor Responsável e de Investigação, Infomineo, Nigéria

Chris Bishop, Gestor de Redacção, Forbes Africa

Shaun Cawood, Director Executivo e Fundador, CB Farm Fresh, Moçambique

Kofi Dadzie, Co-fundador e Director Executivo, Rancard, Gana

Nanette Derby, especialista do sector privado no Banco Africano de Desenvolvimento, Gana

Kerry Dolan, Gestor-Assistente de Redacção, Forbes

Kweku Agyei Hackson, Director Executivo da Re-layed Agro, Gana

Tchiloia Lara, Co-founder of Geracao 80, Angola

Luis Leitão, Director Executivo, Forbes Angola

Reuben Mendes, Fundador e Director Executivo da Imbondeiro IT, Angola

Jean-Claude Bastos de Morais, Fundador, Fundação Africana para a Inovação, Angola

Dita Mpfumo, Fundadora e Directora-Gerente, Kussema Lda, Moçambique

Jason Njoku, Co-fundador e Director Executivo, iRoko Partners, Nigéria

Mfonobong Nsehe, Colaborador de Redacção, Forbes

Anne Nutsuklo, Co-fundadora e Directora Executiva, Nandimobile Ltd., Gana

Prakash Ratilal, Fundador e Presidente do Moza Banco, SA e da Moçambique Capitais, SA, Moçambique

André Almeida Santos, Economista Principal para Países, Banco Africano de Desenvolvimento, Moçambique

Jeannine Scott, Presidente, Câmara do Comércio EUA-Angola

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SOBRE A FORBES INSIGHTS

A Forbes Insights é o departamento de pesquisa estratégica e troca de ideias-chave da Forbes Media, editora da revista Forbes e Forbes.com. O conjunto da sua presença nos media chega, mensalmente, a quase 75 milhões de responsáveis por decisões de negócios em todo o mundo. A Forbes Insights beneficia da sua própria base de dados de executivos seniores na comunidade Forbes, realizando pesquisas sobre uma série de tópicos de interesse para executivos de topo, profissionais de marketing seniores, proprietários de pequenas empresas e para todos os que procuram uma perspectiva aprofundada sobre temas e tendências em volta da criação e gestão de riqueza.

499 Washington Blvd., Jersey City, NJ 07310 | 212.366.8890 | www.forbes.com/forbesinsights

FORBES INSIGHTS

Bruce Rogers Chefe Responsável Insights

Erika Maguire Gestora de Projectos

EDITORIAL

Kasia Wandycz Moreno, Director e Repórter-Autor Hugo S. Moreno, Director Iga Motylska, Repórter Kari Pagnano, Designer

INVESTIGAÇÃO

Ross Gagnon, Director Kimberly Kurata, Analista de Investigação

VENDAS

América do Norte Brian McLeod, Director Comercial Matthew Muszala, Gestor William Thompson, Gestor

Europa Charles Yardley, Director-Gerente

Médio Oriente/Ásia/Pacífico Serene Lee, Directora Executiva


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