DEFENSORIA PÚBLICA DA UNIÃO EM PERNAMBUCO4o OFíio REGIONAL
EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR DESEMBARGADOR FEDERAL PRESIDENTE DO
EGRÉGIO TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA QUINTA REGIÃO.
c,
PROCESSO No 0000494-69.2010.4.05.8201
APELAÇÃO CÍVEL (AC 551097-PB)2;
PAJ n.' 20 13/038-00940S
JOSÉ DE ARIMATEIA VIANA CORREIA, FABIANA BARROS DE CARVAýEHO
VIANA CORREIA, SAMUEL SOUSA CIRNE E LUCIANA BARROS DE CARVALHO ALEN"R,
devidamente qualificados nos autos do processo em epígrafe, representados pela Defensoria
Pública da União, por intermédio do Defensor Público signatário, vêm interpor, com fundamento
no art. 105, inciso 111, alínea "a", da Constituição da República Federativa do Brasil de 1 988. nos
arts. 541 e seguintes do Código de Processo Civil, o presente
: RECURSO ESPECÍL
contra o v. acórdão, que negou vigência ao artigo 44, inciso I da Lei Complementar n.'80/94 e
artigo 330 do CPC, com o escopo de uniformizar a questão de direito consubstanciada na nulidade
absoluta por impossibilidade de defesa por falta de remessa dos autos à Defensoria Pública antes
da prolação da sentença e cerceamento de defesa em face do indevido julgamento antecipado da
lide, requerendo o recebimento do mesmo e o posterior envio, juntamente com as razoes em anexo,
ao Egrégio Superior Tribunal de Justiça.
Termos em que pede e espera deficrimento.
Recife, 22 de fev eiro de 2013.
Rena re orres e Silva
DEFEN PÚBLICA FEDERAL
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EXCELENTÍSSIMOS SENHORES DOUTORES MINISTROS DO COLENDO SUPERIOR
TRIBUNAL DE JUSTIÇA.
Origem: PROCESSO NY 0000494-69.2010.4.05.8201 - Tribunal Regional Federal da 5' Região
Recorrentes: JOSÉ DE ARIMATEIA VIANA CORREIA, FABIANA BARROS DE CARVALHO VIANA
CORREIA, SAMUEL SOUSA CIRNE E LUCIANA BARROS DE CARVALHO ALENCAR
Recorrida: MPF o
RAZÕES DE RECURSO ESPECIAL
Pela Defensoria Pública da União
Eminente Ministro-Relator,
Lastreada na regra estabelecida no artigo 105, inciso 111, alínea "a", da
Constituição da República Federativa do Brasil, a DEFENSOR.IA PÚBLICA DA UNIÃO vem, C
prazo e na forma legal, interpor o presente Recurso Especial, com o objetivo de reformar acórdão
proferido pelo Tribunal Regional Federal da 5' Região, que, por unanimidade, negou provimento
à sua apelação.
L. DOS REQUISITOS DE ADMISSIBILIDADE
0 presente recurso preenche todos os requisitos intrínsecos e extrínsecos
para um juízo positivo de admi ssibil1idade, eis que a via eleita é adequada, o recurso tempestivo e
cabível com base no artigo 105, inciso III, alínea "a" da Constituição Federal, as partes legítimas e
interessadas, a matéria encontra-se devidamente prequestionada no v. acórdão hostilizado, o
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conflito analítico jurisprudencial faz-se extreme de qualquer dúvida e, por derradeiro, a regularidade
formal da petição em estreita observância à Lei ni.' 8.03 8/90.
Importante também apontar que o recorrente dispõe da prerrogativa de
contagem em dobro de todos os prazos, na exata dicção do artigo 44, inciso 1, da Lei Complementar
80/94 alterada pela LC 132/09, sendo o prazo de interposição, assim, de 30 (trinta) dias. Com efeito,
o termo a quo para a contagem do prazo para a interposição do presente deve ser considerado a data
da remessa dos autos à Defensoria Pública da União com a data de 15 de fevereiro de 2013. Dessa
forma, o termo final expirará, tão-somente em 16.03.13.
Dessa forma, não há como se negar a tempestividade da interposição do
presente recurso especial na presente data, bem como o preenchimento dos demais requisitos de
admissibilidade.
II. BREVE ESCOR,ÇO DA DEMAND SUBJACENTE
Trata-se de ação de improbidade administrativa ajuizada pelo MPF em face
dos recorrentes visando a sua condenação nos termos do art. 12, 1, da Lei 8.429/92, incluindo o
ressarcimento integral e solidário do dano material causado à União, no valor de R$ 4.634.576,00
(quatro milhões seiscentos e trinta e quatro mil quinhentos e setenta e seis reais).
Em seguida, às fis. 55/66, antes da triangularização da relação processual, o
juízo decretou a indisponibil1idade dos bens dos requeridos.
Os réus, José de Arimateia Viana, Fabiana Barros e Samuel Souza, foram
notificados a apresentar manifestação escrita à fi. 112, enquanto que a ré Luciana Barris foi
notificada à fi. 127. Todos apresentaram manifestação prévia às fls. 13 1-137.
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Às fis. 154-16 1, o juiz rejeitou a manifestação prévia, recebendo a petição
inicial, além de determinar a citação dos processados, o que foi devidamente cumprido às fi. 180 e
fi. 194.
A Defensoria Pública do Estado da Paraíbia requereu sua habilitação nos
autos à fi. 198, o que foi negado pelo juízo, que veio a reconsiderar seu posicionamento após
comprovação da renúncia do advogado anterior (Fls. 213).
.0Após, chamadas as partes a especificar a provas que pretendiam produzir,
entenderam o MPF e o INSS que já eram suficientes as provas documentais presentes nos autos,
enquanto que a defesa deixou escoar o prazo para manifestação.
Entendendo ser caso de julgamento antecipado da lide, o juiz proferiu
sentença às fls. 326 - 335, na qual condenou os réus em face da prática das condutas previstas nos
artigos 90, 10 e 11 da Lei n0'. 8429/92.
À fi. 355 foi chamada a Defensoria Pública da União a assumir a defesa dos
reus.
oInconformnados, os ora recorrentes interpuseram apelação, suscitando a
nulidade das intimações destinadas à Defensoria Pública, visto que desacompanhadas dos autos, a
ilegitimidade das provas que embasaram a presente ação, a nulidade do julgamento antecipado da
lide, dentre outros argumentos.
A Segunda Turma do Egrégio Tribunal Regional Federal da 5' Região
negou provimento ao recurso interposto, em decisão assim ementada:
EMENTA
PROCESSUAL CIVIL. IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA. SUBSTITUIÇÃO DO
PATRONO INOPORTUNA. RECONSIDERAÇÃO. REVELIA MANTIDA. JULGAMENTO
ANTECIPADO DA LIDE. PROVA EMPRESTADA. POSSIBILIDADE. PRINCÍPIO DA
COOPERAÇÃO. APELAÇÃO CONHECIDA MAS NÃO PROVIDA. 1. Hipótese de
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apelação contra sentença que julgou procedente, condenando os réus, ora apelantes, em
face da prática das condutas nos arts. 9", 10 e 11 da Lei n' 8.42 9/92, às sanções previstas
no art. 12 do mesmo diploma.2. O fato dos réus terem mudado de causídico nos autos não
pode, nem deve influenciar no reconhecimento da revelia, por ofensa ao princípio da
igualdade entre as partes, já que no momento do requerimento foi reconhecida a revelia,
que se deu por causa da ausência de apresentação de defesa no prazo legal, o que decorre
de prescrição legal. 3. Embora se reconheça que a ausência de remessa dos autos foi
inadequada, a jurisprudência tem entendido que, em consonância ao Princípio da
Instrumentalidade do Processo (o instrumentalismo a serviço do material e do
substancial), o rigor formal deve ser afastado, caso a fi nalidade do ato seja atingida e não
houver prejuízo a parte contrária.4. Poderia o Defensor Público requerer em qualquer
momento a remessa dos autos, desde quando foi intimado do ato processual
correspondente, afim de que lhe fossem enviados os volumes do processo e seus apensos, o
que não foi feito ou sequer cogitado. 5. Não se pode cogitar que agora em sede recurs aí,
venha a parte, que permaneceu inerte quanto à produção de provas, impugnar o
julgamento antecipado da lide, quando ela própria ocasionou a prolação da sentença
naquele momento processual ao se omitir quando instada a requerer a instrução que
entendesse devida. 6. "A jurisprudência do STJ encontra-se consolidada no sentido de que,
respeitado o contraditório e a ampla defesa, é possível a utilização de "prova emprestada"
devidamente autorizada na esfera criminal, como ocorreu na espécie". (MS 200901362351,
CELSO LIMONGJ1 (DESEMBARGADOR CONVOCADO DO TJ/SP), STJ - TE.RCEIRA
SEÇAO, DJE DA TA:01/02/201 1.) 7. E de se reconhecer a legitimidade e legalidade das
provas constantes nos autos, suficientes a embasar a condenação dos Recorrent es, que
apesar de recorrerem da sentença condenatória se omitem em impugnar direta e
substancialmente a tutela judicial proferida em seu desfavor. 8. O Magistrado não pode se
responsabilizar pela ocorrência da revelia, em função de constar nos autos a atuação da
representante judicial que já tinha se manifestado oportunam ente. O silêncio dos
interessados quando intimados para especificar as provas não poderia naquele inomento
ser considerado como desídia do representante judicial, mas Inera escolha dos réus, que se
submeteriam ao ónus processual correspondente. 9. Apelação conhecida mas não provida
Considerando a violação de dispositivos legais e com o escopo de
uniformizar a questão de direito, interpõe-se, então, o presente recurso especial.
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ILI DO PREQUESTIO9NAMENTO
No v. acórdão foi adentrado ao mérito da questão de direito, emitindo-se
juízo de valor no seguinte sentido:
VOTO.
1( ... )Alegou-se a nulidade das intimações, por não se ter procedido a remessa dos autos
com a referida intimação pessoal, por se tratar de processo longo e complexoq
reclamaria maior tempo de concentração.
Assim dispõe o art. 44, inciso 1, da LC 80/94:
Art. 44. São prerrogativas dos membros da Defensoria Pública da União:
1 -receber, inclusive quando necessário, mediante entrega dos autos com vista, intimação
pessoal em qualquer processo e grau de jurisdição ou instância administrativa, contando-se-
lhes em dobro todos os prazos; (Redação dada pela Lei Complementar n' 132, de 2009).
Embora se reconheça que a ausência de remessa dos autos foi inadequada, a jurisprudência
tem entendido que, em consonância ao Princípio da Instrumental idade do Processo (o
instrumental ismo a serviço do material e do substancial), o rigor formal deve ser afastado,
caso a finalidade do ato seja atingida e não houver prejufzo a parte contrária. Nesse sentido:
PROCESSUAL CIVIL. VIOLAÇÃO AO ART. 535 DO CPC. INEXISTÊNCIA.
EXECUÇÃO FISCAL. PRESCRIÇÃO INTERCORRENTE. ART. 40, § 40, DA LEI N.
6.830/80. AUSÊNCIA DE INTIMAÇÃO PREVIA DA FAZENDA PUBLICbAUSÊNCIA DE PREJUÍZO. NULIDADE SUPRIDA. PRINCíPIOS DA CELIDA
PROCESSUAL, INSTRUM-ENTALIDADE DAS FORMAS E PAS DES NULLITÉS
SANS GRIEF. PRECEDENTES. 1. Não havendo no acórdão omissão, contradição ou
obscuridade capaz de ensejar o acolhimento da medida integrativa, tal não é servil para
forçar a reforma do julgado nesta instância extraordinária. 2. Conforme asseverado pelo
Tribunal de origem, muito embora o juízo de primeiro grau não tenha intimado
previamente a exequente, não houve qualquer prejuízo para a Fazenda Pública na
hipótese. Dessa forma, em não havendo prejuízo demonstrado pela Fazenda Pública,
não há que se falar em nulidade da sentença, e nem, ainda, em cerceamento de defesa,
o que se faz em homenagem aos princípios da celeridade processual,
instru mentalidade das formas e pas des nuílités sans grief.
Precedentes. 3. Recurso especial não provido. (RESP 201001919438,
MAURO CAMPBELL MARQUES, STJ - SEGUNDA TURMA, DJE
DATA:03/02/201 lI.).
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Na especifica hipótese dos autos, não obstante a alegação de nulidade em função da
ausência da remessa dos autos, em qualquer momento a parte apelante demnonstrou ou
sequer suscitou o efetivo prejuízo por não ter recebido os autos da demanda, restringindo-se
a impugnar questões formais do processo deixando de impugnar até mesm-o o mnérito
propriamente dito.
Ademais, poderia o Defensor Público requerer em qualquer mnomento a rem-essa dos autos,
desde quando foi intimado do ato processual correspondente, a fim de que lhe fossem
enviados os volumes do processo e seus apensos, o que não foi feito ou sequer cogitado.
3. Julgamento antecipado da lide.
Inexiste ofensa ao contraditório ou ampla defesa, em função de cerceamento de defesa,
mediante o julgamento antecipado da lide.
Compulsando os autos, é possível observar que o Juiz intimou as partes para que
indicassem as provas que desejassem produzir, inexistindo qualquer menção dos
interessados neste sentido.
Pois bem, não se pode cogitar que agora em sede recursal, venha a parte, que permaneceu
inerte quanto à produção de provas, impugnar o julgamento antecipado da lide, quando ela
própria ocasionou a prolação da sentença naquele momento processual ao se omnitir quando
instada a requerer a instrução que entendesse devida.
Ademais, mais uma vez sequer foi aventado eventual prejuízo decorrente do julgamento
antecipado da lide, assim é o caso de mais uma vez rejeitar esta alegação recursal. ( ... )"
0 prequestionamento, na definição trazida pelos ilustres processualistas
Nelson Nery Junior e Rosa Maria de Andrade Nery em sua obra "Código de Processo Civil
Comentado e Legislação Processual Civil Extravagante em Vigor", consiste no seguinte (grifos não
originais):
"Prequestionamento. Conceito. Diz-se pre questionada a matéria quando o órgão julgador
haja adotado, entendimento explícito a respeito, incumbindo à parte sequiosa de ver a
controvérsia guindada à sede extraordinária instá-lo afazê-lo (STF, Ag 143242-0-SP, reI.
Min. Marco Aurélio, DJU 3.8.1993, p. 14445). " (Editora Revista dos Tribunais, 5" Edição.
p. 130). "
Neste diapasão, se pronunciou o Superior Tribunal de Justiça, verbis:
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"É pacífico o entendimento nesta egrégia Corte Superior de que o prequestionamento
ocorre "quando a causa tenha sido decidida à luz da legislação federal indicada, com
emissão de juízo de valor acerca dos respectivos dispositivos legais, interpretando-se sua
aplicação ou não ao caso concreto" (AgRg no REsp 264.21 0/PB, Re. Min. Eliana Calmon,
Di 10. 06.2002).
Ademais, existe jurisprudência consolidada no E. STJ, acerca da aceitação
do prequestionamento implícito, ou seja, basta que a questão de direito seja debatida e apreciada
Tribunal de Origem, sendo desnecessária a expressa citação dos dispositivos legais:
"A jurisprudência desta Corte tem admitido o prequestionamento implícito, deforma que,
apesar dos dispositivos tidos por violados não constarem do acórdão recorrido, se a
matéria controvertida foi debatida e apreciada no Tribunal de origem à luz da legislação
federal pertinente, tem-se como preenchido o requisito da admissibilidade__REs
799.939/MG, Rel. Ministro LUIZ FUX, PRIMEIRA TURMA, julgado em 26.06.2007, Di
.30.08.2007 p. 217)'-.
Assim, como o órgão julgador se pronunciou de formna explícita sobre a
suscitada questão de direito, em respeito ao entendimento já mencionado, está a matéria
devidamente prequestionada.o
I.DOS FUNDAMENTOS PARA A REFORMA DO V.ACÓDo
DO DIREITO. DO CERCEAMENTO DE DEFESA. DA VIOLA4ÇAO AO CONTRADITORIO.
No ponto, vamos esclarecer o que significa, de forma exata, o princípio do
contraditório, para depois, ressaltarmos como o mesmo influi neste caso concreto.
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A idéia do contraditório é antiga, segundo Rudolf Von Jhering, a relação
entre as partes deveria ser caracterizada pela igualdade jurídica: "devem combater-se com armas
iguais e devem-lhes ser distribuídas com igualdade a sombra e a luz" (A Evolução do Direito, pág.
307).
0 princípio do contraditório é constituído pelo binômio, informação e
possibilidade de manifestação. Para Aroldo Plínio Gonçalves, "o juiz tem o dever de informar e de
garantir que a informa ção seja dada, para que a parte querendo, possa intervir" (Técnica
Processual e Teoria do Processo, Aroldo Plínio Gonçalves, pág. 126).
Atualmente, o significado do contraditório não fica limitado à um mero
dizer e contradizer, incluindo também em seu conceito, a igualdade de tratamento consistente em
garantia de participação, em simétrica paridade. Vejamos a lição: "O contraditório não é o 'dizer' e
o 'contradizer' sobre a matéria controvertida, não é a discussão que se trava no processo sobre a
relação de direito material, não é a polêmica que se desenvolve em torno dos interesses divergentes
sobre o conteúdo do ato final. Essa será sua matéria, o seu conteúdo possível. O contraditório é a
igualdade de oportunidade no processo, é a igQual oportunidade de igual tratamento, que se funda
na liberdade de todos perante a lei. E essa igualdade de oportunidade que compõe a essência do
contraditório enquanto garantia de simétrica paridade de participação no processo (Técnica
Processual e Teoria do Processo, Aroldo Plínio Gonçalves, pág. 127). "
Ao disciplinar os poderes do juiz, no processo moderno, entendem os
doutos: "Com o Estado Social, intensifica-se a participação do Estado na vida das pes.soas e,
consequentemente, a participação do juiz no processo, que não deve mais apenas estar preocupado
com o cumprimento das "regras do jogo ", cabendo-lhe zelar por um "1processo justo ", capaz de
permitir:- 1) ajusta aplicação das normas de direito material; II) a adequada verificação dos fatos e
a participação das partes em um contraditório real e não somente formal; e III) a efetividade da
tutela dos direitos, com um maior zelo pela ordem no processo, com a repressão do litigante de ma-
fé, e com a determinação, a requerimento da parte, da tutela antecipatória, e da concessão, de
oficio, da tutela cautelar (Marinoni, Manual do Processo de Conhecimento, 5a ed., pág. 55)".Grifos
nossos.
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No caso em tela, a falta de intimação pessoal da DPU viola a garantia de
simétrica paridade de participação no processo, a paridade de armas, acarretando, portanto, nítido
cerceamento de defesa.
DA NEGATIVA DE VIGÊNCIA AO ARTIGO 44,1 IDA LEI COMPLEMENTAR N. 0 80/94.
Inicialmente, o v.acórdão, assim se pronunciou sobre a falta de intimap
pessoal com vista dos autos à Defensoria Pública:
VOTO. (..)"( ... )Alegou-se a nulidade das intimações, por não se ter procedido a remessa
dos autos com a referida intimação pessoal, por se tratar de processo longo e complexo que
reclamaria maior tempo de concentração.
Assim dispõe o art. 44, inciso 1, da LC 80/94:
Art. 44. São prerrogativas dos membros da Defensoria Pública da União:
1 -receber, inclusive quando necessário, mediante entrega dos autos com vista, intimação
pessoal em qualquer processo e grau de jurisdição ou instância administrativa, contando-se-
lhes em dobro todos os prazos; (Redação dada pela Lei Complementar n' 132, de 2009).
Embora se reconheça que a ausência de remessa dos autos foi inadequada, a jurisprudência
tem entendido que, em consonância ao Principio da Instrumental idade do Processooinstrumental ismo a serviço do material e do substancial), o rigor formal deve ser afasta
caso a finalidade do ato seja atingida e não houver prejuízo a parte contrária. (.
Diante do exposto, pode ser observar claramente que o acórdão ora recorrido
negou vigência ao artigo 44, inciso 1, da Lei Complementar ni.' 80/94. Senão vejamos.
Como se depreende dos autos, as intimações realizadas pelo juízo da 4a
Vara, apesar de se darem mediante intimação pessoal, não procederam à devida remessa dos autos
para que fosse oportunizada a vista. E o que se pode perceber a partir dos mandados de intimação
de fi. 204, 217, 323 e 340.
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Ora, o processo que se apresenta a análise é composto de dois volumes,
nove apensos, onde os quatro réus figuravam como assistidos da defensoria pública. Tais
condições revelam a complexidade da causa, que indu bitavelmnente requer tempo e
concentração para análise, demonstrando a necessidade que exige a LC80/90 para que se faça
a intimação mediante a remessa dos autos e configurando, de per si, o prejuízo decorrente da
ausência de remessa dos autos à Defensoria Pública, o que terminou por inviabilizar a defesa
plena dos réus.
Em verdade, o próprio juízo da 4a Vara Federal reconheceu a ineficácia de
intimação do defensor público sem a remessa dos autos, conforme se extrai do ponto 04 do
despacho de 354:
0 INSS requereu, ainda, às f. 348/349, que fosse certificado o trânsito da sentença de f.
326/336. Ocorre que a intimação do defensor público, realizada através do mandado
juntado à f. 340, foi ineficaz, tendo em vista que, nos termos do art. 44, 1. da lei
complementar ni. 80/94, as intimações dos defensores públicos devem ser pessoais,
mediante entrega d.os autos com vista.
Assim, flagrante o cerceamento de defesa ante a prolação de sentença sem
prévia remessa dos autos à DPU, o que constitui flagrante violação ao artigo 44, 1, da Lei
Complementar ni.' 80/94, in verbis:
"A rt. 44. São prerrogativas dos membros da Defensoria Pública da União:
1 - receber, inclusive quando necessário, mediante entrega dos autos com vista, intfimação
pessoal em qualquer processo e grau de jurisdição ou instância admninistrativa, contando-
se-lhes em dobro todos os prazos;
No caso em comento, como aduzido, a Defensoria Pública sequer teve
acesso aos autos antes da prolação da sentença, mostrando patente a ocorrência da nulidade de
todos os atos ocorridos desde então, inclusive da sentença e do acórdão.
Diante da questão, o ST já firmou entendimento no sentido de ocorrência
de nulidade dos atos processuais, diante da não observância da prerrogativa conferida ao Defensorwww.dpu.gov.br
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Público atuante no processo, de intimação pessoal dos atos processuais, conforme a seguir
demonstrado:
"ADMINISTRATIVO E PROCESSUAL CIVIL. CONCURSO PÚBLICO. DEFICIENTE
A UDITI VO. EXCLUSÃO DO BENEFICIO DA RESERVA DE VAGA. JULGAMENTO
ANTECIPADO DA LIDE. A USÊNCIA DE INTIMA ÇÃO PESSOAL DA DEFENSORIA
PÚBLICA PARA PRODUÇAO DE PROVAS. PREJUÍZO MANIFESTO DO AUTOR.
NULIDADE. PRECEDENTES.
1. A ausência de intimação pessoal da Defensoria Pública foi determinante paraC)improcedência do pedido, tendo em vista que o Autor, ora Agravado, viu obstaculizado o
seu direito à produção da perícia médica para aferir o grau de sua deficiência fisica, tanto
é que o Tribunal de origem, em grau de apelação, baseou-se única e exclusivamente na
certidão emitida pela Comissão Examinadora, que o considerou inapto para o exercício
do cargo almejado.
2. A iurisprudência desta Corte é pacírica no sentido de que o Defensor Público deve ser
intimado pessoalmente de todos os atos do processo, sob pena de nulidade.
3. Agravo regimental desprovido. "(A gRg no REsp 105 7240/DF, Rel. Ministra LA URITA
VA Z, Q UINTA TURMA, julgado em 2 1/10/2 008, DJe 17/11/2 008)
"TRIBUTAÁPIO. PROCESSUAL CIVIL. IPTU LANÇAMENTO NOTIFICADO PELO
RECEBIMENTO DO CARNÊ. DEFENSOR PÚBLICO. INTIMAÇÃO PESSOAL.
INOCORRÊNCIA. NULIDADE. RETORNO DOS A UTOS.
1. É prerrogativa da Defensoria Pública, consoante preconizado nos arts. 5", § 5", da L
Federal n.' 1.060/50 e 44, da Lei Complementar n.' 80/94, a realização da intimação
pessoal: "Art. 50:(..) (omissis) fi 51 Nos Estados onde a Assistência Judiciária seja
orcanizada e por eles mantida, o Defensor Público, ou quem exerca carzo equivalente.
será intimado pessoalm ente de todos os atos do processo, em ambas as Instâncias.
contando-se-lhes em dobro todos os Prazos. (Incluído pela Lei n' 7.871. de 1989) " "A rt.
44. São prerrojeativas dos membros da Defensoria Pública da União: I - receber
intimacão Pessoal em qualquer processo e jerau de lurisdicão. contando-se-lhse em dobro
todos os Prazos;( ..). 2. In casu, consoante consignado no próprio voto condutor dos
embargos de declaração (ls. 112 e 113), não houve a intimação pessoal do respectivo
membro da defensoria pública para manifestação sobre o recurso de apelação interposto
pela Municipalidade, o que configura nulidade absoluta, nos termos do art. 247 do CPC.
3. Recurso especial provido para determinar o retorno dos autos à Corte de origem, com
anulação dos atos posteriores à sentença, para regularização da intimação pessoal da
defensoria pública, oportunizando-se a apresentação de contra-razões à apelação."
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DEFENSORIA PÚBLICA DA UNIÃO EM PERNAMBUCO4o OFÍCIO REGIONAL
(REsp 1035 716/MS, Rei. Ministro LUIZ FUX, PRIMEIRA TURMA, julgado em
2 0/05/2008, DJe 1 9/06/2008)
"RECURSO ESPECIAL - AÇÃO DE INDENIZA ÇÃO - DEFENSORIA PÚBLICA -
INTIMA ÇÃO PESSOAL - OBRIGA TORIEDA DE - A USÊNCIA - PREJUÍZO À DEFESA -
REC URSO PROVIDO.
1 - A teor da jurisprudência desta Corte, o Defensor Público deve ser intinuído
pessoalmente de todos os atos do processo, sob pena de nulidade.
2 - Recurso conhecido e provido para, anulando o feito a partir da intimacão para a
producão de provas, determtinar a realizacão de nova intimacão da defellsoria pública da
união, desta vez. pessoalmente. "(REsp 808.41 1/PR, Rei. Ministro JORGE
SCARTEZZINI, QUARTA TURMA, julgado em 1 6/03/2006, DJ 10/04/2006 p. 22 7)
"DEFENSORIA PÚBLICA. INTIMAÇÃO PESSOAL. OBRIGA TORIEDA DE.
- 0 Defensor Público deve ser intimado pessoalmente de todos os atos do processo, sob
pena de nulidade. Recurso especial conhecido, em parte, e provido.'"
(REsp 442.435/MG, Rei. Ministro BARROS MONTEIRO, QUARTA TURMA, julgado em
20/02/2003, Di 05/05/2003 p. 307)
RECURSO ESPECIAL - DIREITO PROCESSUAL CIVIL - NEGATIVA DE PRESTAÇÃO
JURISDICIONAL - A USÊNCIA DE DEMONSTRAÇÃO - FUNDAMENTAÇÃO
DEFICIENTE - INCIDÊNCIA DA SÚMULA 284/STF - INTIMAÇÃO PESSOAL
DEFENSORIA PÚBLICA - PROTEGER E PRESERVAÇÃO A FUNÇÃO DO ORGÃO -
DEFESA DOS NECESSITADOS - DEFENSOR PÚBLICO - PRESENÇA - AUDIÊNCIA
DE INSTRUÇÃO E JULGAMENTO - ENTREGA DOS A UTOS COM VISTA -
NECESSIDADE - PRINCÍPIO CONSTITUCIONAL DA AMPLA DEFESA - RECURSO
ESPECIAL PARCIALMENTE CONHECIDO E, NESSA EXTENSÃO, PROVIDO.
I - A não explicitação precisa, por parte da recorrente, sobre a forma como teria sido
violado o dispositivo suscitado, no caso, o artigo 535, inciso IL, do Código de Processo
Civil, atrai a incidência do enunciado n. 284 da Súmula do STF.
II - O artigo 74 da Lei Complementar Estadual 35/2003, por compreender-se no conceito
de lei estadual, não pode dar ensejo a abertura desta Instáncia especial. Incide, na
espécie, por analogia o óbice da Súmula n. 280/STF.
III - A necessidade da intimacão pessoal da Defensoria Pública decorre de le-aislacão
específica que concede prerrogativas que visam facilitar o bom funcionamiento do ôrísão
no patrocínio dos interesses daqueles que não possuem recursos para constituir defensor
particular.
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IV - A finalidade da lei é proteger e preservar a Própria função exercida peI referido
árzão e, principalmente. resguardar aqueles que não têm condicões de contratar um
Defensor particular. Não se cuida. pois, de formalismo ou apeco exacerbado às formas.
mas. sim, de reconhecer e dar aplicabilidade à norma jurídica vigente e válida.
V - Nesse contexto, a despeito da presenca do Defensor Público, na audiência d
instrucão e julgamento, a intimacão pessoal da Defensoria Pública somente se
concretiza com a respectiva entrega dos autos com vista, em homenagem ao princípi
constitucional da ampla defesa.
VI - Recurso especial parcialm ente conhecido e, nessa extensão, provido.
(REsp 1 190865/MG, Rei. Ministro MASSAMI UYFJDA, TERCEIRA TURMA, julgado Q14/02/20 12, Die 01/03/20 12)
Acontece que, com a máxima vênia, o referido acórdão viola
consideravelmente o dispositivo legal ora mencionado. Esse dispositivo é objetivo, pois a sua
aplicabilidade não está condicionada a ocorrência de prejuízo a parte, inclusive, este é entendimento
consolidado pelo C. Superior Tribunal de Justiça, que interpreta tais dispositivos, conforme
jurisprudência colacionada anteriormente, que o Defensor Público deve ser intimado de todos os
atos processuais, com vista dos autos, sob pena de nulidade, não fazendo referência alguma ao
prejuízo causado a parte.
Outrossim, é evidente que a falta de defesa da parte pela ausência de
remessa dos autos à DPU antes da prolação de sentença, trouxe-lhe inegável prejuízo uma V
que a parte fica sem poder demonstrar seus argumentos ao magistrado de primeira instância.
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DA NEGATIVA DE VIGÊNCIA AO ARTIGO 330 e 331. U0O DO CÓDIGO DE PROCESSO
CIVIL.
No caso dos autos, o Tribunal Regional Federal da 5a Região concluiu pela
ausência de cerceamento de defesa por não terem sido indlicadas provas a produzir.
Segue abaixo trecho do voto que trata da questão:
"( ... ) Inexiste ofensa ao contraditório ou ampla defesa, em função de cerceamento de
defesa, mediante o julgamento antecipado da lide.
Compulsando os autos, é possível observar que o Juiz intimou as partes para que
indicassem as provas que desejassem produzir, inexistindo qualquer menção dos
interessados neste sentido.
Pois bem, não se pode cogitar que agora em sede recursal, venha a parte, que permaneceu
inerte quanto à produção de provas, impugnar o julgamnento antecipado da lide, quando ela
própria ocasionou a prolação da sentença naquele momento processual ao se omnitir quando
instada a requerer a instrução que entendesse devida. ( ... )"
Trata-se de interpretação que vai de encontro ao disposto nos arts. 330 e
331, §20 do Código de Processo Civil, devendo, portanto, ser reformada da decisão do Tribunal
Regional Federal da 5a Região.
No ordenamento pátrio, o art. 330 do CPC trata de delinear as hipóteses em
que se admite o uso do instituto, quais sejam:
Art. 330. 0 juiz conhecerá diretamente do pedido, pro feindo sentença:
1 - quando a questâ'o de mérito for unicamente de direito, ou, sendo de direito
e de fato, não houver necessidade de produzir prova em audiência;
Il - quando ocorrer a revelia (art. 3 19).
Quanto à revelia (11), essa só implica em julgamento antecipado da lide se
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ela produzir o efeito típico da confissão ficta, pois, assim, os fatos tornar-se-iam incontroversos,
dispensando a prova. Como no caso concreto a lide se trata de direitos indisponíveis, tal efeito não
foi atribuído à revelia (que ao ver da defesa é irregular, vide ponto anterior), razão pelo qual não foi
esse o fundamento do julgamento antecipado.
Inexistindo revelia, apenas é possível o julgamento antecipado da lide
quando não houver a necessidade de produção probatória, ou seja, quando o julgador se encontra
seguro dos elementos fáticos aos quais incidirá o direito pleiteado, ou quando se trata de quest
unicamente de direito.
Nesse sentido também dispõe o art. 33 1, §20 do CPC:
Art. 331.
§Ç 2': Se, por qualquer motivo, nio for obtida a concilia ção, o juiz fixará os
pontos contro vertidos, decidirá as questões processuais pen dentes e
determinará as provas a serem produzidas, designando audiência de
instruçâ'o e julgamento, se necessário.
De seu conteúdo, conclui-se que o legislador pode realizar o julgamento
antecipado da lide apenas em três situações: o
1 ) quando não for necessária a produção de provas;
2) quando a lide for unicamente de direito;
3) quando o réu for revel.
Quanto à hipótese prevista no item 1, cabe dizer que essa será apenas
possível quando não for mais necessário a produção de provas em audiência, ou seja, é dispensável
a oitiva de testemunhas, réus, peritos, para que o juiz possa chegar a uma conclusão sobre o mérito
da questão, bastando para o seu convencimento exclusivamente a prova documental. No entanto, tal
inciso não se aplica ao caso em questão.
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Em verdade, além da ilegitimidade das provas constante dos autos, há de se
observar que o juiz ao fundamentar o porquê do julgamento antecipado da lide o fez nos seguintes
termos:
"(..)Não havendo necessidade alguma de produção de provas oral ou pericial e não tendo
havido produção probatória a par da juntada de documentos, é caso de julgamnentoantecipado da lide, eis que a controvérsia de fato não demanda a designação de audiência.(fl. 329).(..) "
Em que pese tal posicionamento, ao fundamentar a condenação dos réus, foi
feito uso dos depoimentos prestados pelos réus ainda em fase policial. Vejamos os pontos IV a VI]
da sentença: "IV - Em seu interrogatório perante a autoridade policial, José de Arimalcia Viana
Correi descreve..." (fl. 329); "Em seu interrogatório, Fabiana Barros de Carvalho Viana ... " (11.
330); "Em seu interrogatório, Samuel Sousa Cirne..." (fl.330) e "Em seu interrogatório, Fabiana
Barros de Carvalho Viana..." (fl.330).
0 inquérito policial é procedimento que prescinde do contraditório e da
ampla defesa, devendo para que seja utilizado como prova em processo ser confirmado pelas
demais provas produzidas em juízo.
Há de se observar que não chega nem mesmo a ser tecnicamente correto
falar em interrogatório em fase pré-processual. Nesta etapa, o indiciado apenas emite declarações
perante a autoridade policial. Interrogatório, em verdade, é apenas o ato realizado em juízo, perante
autoridade judicial, acobertado pelas garantias decorrentes do devido processo legal.
Ao se utilizar de declarações emitidas quando da oitiva pela a autoridade
policial em sentença prolatada em julgamento antecipado do mérito, o juiz acabou por retirar da
parte a oportunidade de se retratar em juízo, ferindo de morte os princípios do contraditório e da
ampla defesa.
Assim, se quisesse o juízo fazer uso das declarações dos réus não abreviasse
o feito, deixando a lide seguir seu curso regular, designando data para audiência de instrução e
julgamento, oportunidade na qual poderiam os réus se pronunciar sobre os fatos.
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0 que se pode constar da conduta do douto julgador (corroborado pela
Corte Regional) é que ele agiu de maneira contraditória, primeiramente revelando que a causa já
estava madura o suficiente para ser julga antecipadamente, sem necessidade de oitiva de quem quer
que fosse, e, posteriormente, em sua sentença faz uso de declarações que não se submeteram ao
crivo do contraditório e da ampla defesa.
Atente-se que a possibilidade de abreviação do procedimento deve ser
utilizada com cautela e parcimônia, não podendo, em hipótese alguma, implicar em restrição ao
direito à prova, como ocorreu no caso concreto.o
Repise-se que os réus foram surpreendidos com a decisão que julgou
antecipadamente a lide, vez que em nenhum momento lhes foi comunicado da possibilidade de
abreviação do procedimento.
Portanto, há de se concluir que a sentença proferida violou o dever de
lealdade processual, a boa-fé objetiva, que orienta a relação entre os sujeitos processuais, e o
princípio da cooperação, devendo ser invalidada por ofensa à garantia do contraditório, em sua
dimensão de direito à prova.
No sentido do ora exposto posiciona-se a jurisprudência: Co
APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO ORDINÁRIA. JUÍZO SINGULAR QUE JULGOU A LIDE,
COM BASE EM LAUDOS PRODUZIDOS UNILATERALM ENTE, SEM O CRIVO DO
CONTRADITÓRIO. NECESSIDADE DE PRODUÇÃO DE PROVAS NOS AUTOS.
JULGAMENTO ANTECIPADO DA LIDE, SEM OPORTUNIDADE DE
PRODUÇÃO DE PROVAS. CERCEAMENTO DE DEFESA VERIFICADO.
VIOLAÇÃO AOS PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS DO CONTRADITÓRIO,
AMPLA DEFESA E DEVIDO PROCESSO LEGAL. SENTENÇA ANULADA.
ANALISE DO MÉRITO PREJUDICADA. RECURSO PROVIDO. (TJPR. 8382398 PR
838239-8. Relator(a): Des. Artagnan Serpa. Julgamento: 02/08/2012. órgão Julgador: 9,
Câmara Cível).
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(e-STJ Fl.466)D
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RECURSO APELAÇÃO - ACIDENTE DE VEÍCULO INDENIZAÇÃO.
Dilação probatória necessária. Provas imprescindíveis e relevantes a um deslinde justo da
demanda. Julgamento antecipado da lide sem possibilitar a instrução probatória.
Cerceamento do direito de defesa dos autores, com ofensa à ampla defesa e ao
contraditório, Constitucionalmente consagrados. Decisão anulada. Recurso provido.
(TJSP. APL 46050620108260077 SP 0004605-06.2010.8.26.0077. Relator(a): Des.
Marcondes D'Angelo. Julgamento:
29/08/20 12. órgão Julgador: 25' Câmara de Direito Privado. Publicação: 04/09/20 12).
Logo, indubitavelmente, o presente caso não se encaixa em nenhuma das
situações tipificadas, uma vez que o recorrente não foi revel e ainda haviam provas a serem
produzidas.
Destarte, flagrante a violação ao devido processo legal, principalmente
considerando que não foi oportunizada à parte a instrução probatória a esclarecer os fatos contra os
recorrentes imputados.
Deste modo, portanto, incabível o julgamento antecipado da lide no
presente caso, o que implica dizer que a sentença prolatada - e, por sua vez, o acórdão que a
ratificou -, ao não conferir o direito às partes de produzirem as provas necessárias ao deslinde
da questão, feriu o direito constitucional de ação e o devido processo legal, cerceando o
recorrente da possibilidade de provar suas alegações.
Ante todo o exposto, o decisum ao concluir que não se fazia necessária a
remessa dos autos à Defensoria Pública e corroborando o procedimento do magistrado a quo que
julgou antecipadamente a lide, nega vigência ao artigo 44, inciso 1, da Lei Complementar n.' 80/94
e aos artigos 330 e 331 do CPC, devendo este Egrégio Tribunal Superior anular o feito,
determinando o retomo dos autos ao Juízo de origem, para que seja realizada a instrução do
processo.
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V. DO PEDIDO0
Em face da argumentação acima expendida, requer a recorrente seja dado
provimento ao Recurso Especial interposto, reformando-se o venerando acórdão ora hostilizado,
para declarar a nulidade de todos os atos processuais que se seguiram à ausência de remessa dos
autos à DPU antes da prolação de sentença, sob pena de negativa de vigência ao artigo 44, inciso 1,
da Lei Complementar n.' 80/94 e aos artigos 330 e 331 do CPC, de acordo com entendimento
jurisprudencial já assentado nos Tribunais pátrios.o
Termos em que pede e espera deferimento.
Recife, 22 de fever o de 2013.
Renato e orres e Silva
DEFENS UBLICA FEDERAL
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