Transcript

GillesDeleuze -CONVERSAOES Traduo Peter PlPelbart editora34 Por que reunir textos de entrevistas que se estendem por quasevinte anos?Certas conversaes duramtanto tempo, que no sabemos mais se aindafazemparre da guerraou j da paz.t verdade que afilosofia inseparvel de umacle-ra contra apoca,mas tambmdeumaserenidade que ela nos assegura. Contudo, a fi losofiano uma Potncia.As re-ligies, os Estados, o capitalismo, a cincia, odireito, aopi-nio, a televiso so potncias, mas no afilosofia.A filoso-fiapode ter grandes batalhas interiores (idealismo - realis-mo, etc.),massobatalhasrisveis.No sendoumapotn-cia, afi losofianopode empreenderumabatalha contra as porncias; cm compensao, trava contra elas uma guerra sem batalha, uma guerrade guerrilha.:io podefalar com elas, nadatem alhes dizer,nadaa comunicar, e apenas mantm conversaes.Como aspotnciasn:io secontcnrnmcmser exteriores, mas tambmpassampor cada um de ns, cada um de ns que, graas filosofia, encontra-se incesantemente em conversaes e emguerri lhaconsigomesmo. GillesDeleuze TRANS 6565490 04 7 llU]]U]UlllJti UUIJIJlleditora 34 "Um pouco depossvel,seno eusufo-co ... " Com estas palavras, Gilles Deleuze de-finiuo que teria levado Michel Foucault, na ltima faseda sua obra e vida, a selanar de formato inesperadadescobertadospro-cessos desubjetivao. Um grande pensador precisado inesperado como do ar, para res-pirar e viver; o pensamento esclarece Deleuze, jamais foiquesto de teoria, mas devida. A obra de Gilles Deleuze pode ser coloca-da por inteiro sob o signo destes comentrios. Na sua prpriabuscado inesperado eleno parou desurpreender: os filsofos,pela ma-neira audaciosa com que amou e usou os gran-desnomesda tradio (Espinosa, Nietzsche, Bergson); os no filsofos, pelo vigor de seus conceitos prediletos (diferena, multiplicida-de, acontecimento); os psicanalistas, pela irre-verncia com que forjou (em associao com Guattari) a concepo de um inconsciente pro-dutivo; os artistas, pela originalidade com que cruzou apintura, a literatura, o cinema ... Mas em que consiste, afinal, a fora secreta de Gilles Deleuze? Talvez no modo pelo qual enfrentou a questo: o que pode o pensamento contra todas asforasque, ao nos atravessa-rem,nos queremfracos,tristes,servose to-los? Deleuze no cessou de dar a essa pergunta inquietanteumarespostaalegre:criar.Sua obraumaprodigiosa criao erenovao de conceitos, e o conceito, apesar de sua irre-levncia no comrcio do mundo, nada tem de inocente. Inspiranovas maneiras dever, ou-vir e sentir - portanto, de viver. Assim, a filo-sofia nunca abstrata: inventa e implicaum estilo de vida, uma maneira de viver, uma ti-ca; ou, mais radicalmente, uma esttica, est-tica da existncia ou arte de si mesmo. A vida como obra de arte, o filsfo como grande es-tilista do agora. Este volume, que rene entrevistas conce-didas ao longodos ltimos vinte anos, alm de cartas e ensaios recentes sobre poltica, li-16 5 9 4 3 10 6 15 213 118 712 141 EsTELIVRO FOI COMPOSTOEM SABON PELABRACHER &M ALTA,COMFOTOLITOS DOBUREAU 34EIMPRESSO PELA P ROL E DITO-RA GRFICA EMPAPEL P LEN SOFT80 GM2 DA CIA. SuzANO DE PAPEL E C ELULOSE PARAA E DITORA 34, EMMARO DE 2008. teratura e televiso,formaumbelo guiain-trodutrio ao pensamento de Deleuze_ Aces-svel, denso e abrangente, nele o leitor encon-trar a coerncia deumpercurso, mas igual-mente os saltos e crises que Deleuze tanto va-loriza no trajeto deumpensador. Muitomaisdo quesumaintroduo, porm,estamosdiantedeum exercciodo pensamento tomado "ao vivo", com suas ace-leraes bruscas, associaes inusitadas, len-tides,vertigens.Todo ocontrrio deuma impassvel"reflexo sobre" o mundo, seja a partir deuma razo idealizada,deumbom senso ou deum consenso qualquer. Quando fala de psicanlise, de cinema, de filosofia, de poltica, de mdia ou at de espor-tes, Deleuze o faz desde uma visceralidade do pensamento. E nos introduz, no a mundanas conversas desalo, com"opinies"e"con-fisses ntimas"(embora haja referncias sa-borosassobrepaixo eamizade,Foucault, Guattari, maio de 68), mas a negociaes vi-vas, verdadeiras conversaes de paz em meio a guerras surdas (d o ttulo do livro), onde acriao filosficadesafiaaimbecilidade e indigncia a que nos querem ver reduzidos os dipos, os Estados, a mdia, o capitalismo, os sacerdcios, etc. Quando um pensador sai de sua clandesti-nidade especulativa e sepeafalar, preci-so saber que sua voz soar mais rouca e cus-tica do que em suas construes sistemticas, mastambm mais serena, mais trgica, mais alegre. essavozqueaquitemosoprivil-gio de ouvir deperto,num exerccio derara beleza, que nosfazflagraropossvel e o in-tolervel a partir de um pensamento pleno de humor e jamais divorciado davida .. Peter PlPelbart coleo TRANS GillesDeleuze CONVERSAES 1972-1990 Traduo PeterP/Pelbart editora34