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Demonstração do Fluxo de Caixa - DFC

A DFC se preocupa com os valores que afetam as disponibilidades de uma empresa

Primeiro artigo sobre Demonstração de Fluxo de Caixa, segundo a nova legislação Brasileira.

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O regime de caixa DFC versus DOAR A estrutura da Demonstração do Fluxo de Caixa Atividades Operacionais Atividades de Investimentos Atividades de Financiamentos O modelo FAS 95

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Sem pensar muito, responda  a seguinte pergunta: no curto prazo, é mais importante para uma empresa ter boas margens de lucro ou dinheiro suficiente em suas contas bancárias para suprir suas necessidades financeiras? Acertou se escolheu a segunda opção. Lucro, necessariamente, não significa dinheiro em caixa, pois parte das vendas pode ter sido feita com pagamento a prazo. Então se faz necessário conhecer todas as saídas e entradas de dinheiro nas contas da empresa. Para isso, usa-se o fluxo de caixa.

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Everton Santos Vasconcelos. Demonstração do Fluxo de Caixa - DFC:A D

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O fluxo de caixa é uma ferramenta de grande importância, gerencialmente falando. Se estiver bem elaborado, auxiliará a direção da empresa a tomar melhores decisões no tocante aos recursos em suas contas bancárias.

A Demonstração de Fluxo de Caixa – objeto de estudo deste artigo – é   simplesmente um instrumento capaz de exibir  onde a companhia aplicou e de onde vieram seus recursos. Isso não nos leva a lembrar da Demonstração de Origem e Aplicação dos Recursos (DOAR)? Exatamente.

Veremos neste artigo o que vem a ser a Demonstração do Fluxo de Caixa e o porquê da não mais exigência da DOAR. Antes de começarmos, vamos entender o que é regime de caixa.

 

O regime de caixa

Num passado não muito distante, a economia brasileira se via às voltas com um grande monstro chamado de inflação. Este monstro, que ainda assusta muitos, obrigava nós contadores a nos valermos de uma série de indicadores e  indexadores para corrigirmos as distorções causadas nas demonstrações contábeis. Com o controle gradual da inflação, a partir de 1994, pudemos direcionar nossa atenção profissional, além das tarefas diárias, para um melhor planejamento financeiro.

O planejamento financeiro é simplesmente conhecermos nossas necessidades imediatas de recursos ou se poderemos aplicar algum excedente. O conceito  pode ser simples, mas a prática não o é. Onde conseguir as melhores taxas de juros nos empréstimos? Os recursos excedentes devem ser aplicados em renda fixa ou renda variável? Perguntas importantes que pedem respostas concisas.

Todo o ordenamento contábil brasileiro gira em torno do Regime de Competência.  Ou seja, despesas e receitas devem ser reconhecidas no período em que forem incorridas ou prestados os serviços ou ainda ocorrer venda de mercadorias. Até aqui não podemos nos opor a nada, é o que está escrito e é o que cumprimos rotineiramente. No entanto, como fica o caixa (disponibilidades) no Regime de Competência? Para responder, vamos observar o seguinte exemplo:

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Uma empresa “A” vende mercadorias para o comprador “Y”. O valor total da venda é $ 50.000. Destes, $ 25.000 são pagos à vista, sendo o restante pago a prazo em 5 parcelas de $ 5.000.

 

Desta forma:

 O Regime de Competência reconhece os $ 50.000 como entrada de recursos no período;

 O Regime de Caixa só reconhece os $ 25.000.

 

Do exposto conclui-se que o Regime de Caixa pode ser definido como as movimentações  de entrada (receitas de vendas pagas a vista, captação de recursos no meio bancário, captação de recursos juntos a sócios) bem como as de saída (pagamentos de despesas, investimentos etc.) nas disponibilidades de uma organização. É comum atualmente as empresas possuírem sistemas de processamento de dados que administrem  as datas de recebimento e pagamento, com diversos  períodos de previsão – em média, 30 dias.

Enquanto o fluxo de caixa, regido pelo Regime de Caixa, atende às necessidades gerenciais, o Regime de Competência contempla necessidades fiscais.

 

DFC versus DOAR

Não, o título não apresenta um clássico futebolístico do campeonato alemão. Vamos traçar as relações entre estes dois demonstrativos.

No apagar das luzes do ano de 2007, entrou em vigor a Lei n.º 11.638/07, que modifica alguns artigos da Lei 6.404/76 (a famosa Lei das S/As). Entre as principais mudanças mencionadas naquela Lei do final de 2007, está a adoção da Demonstração de Fluxo de Caixa em substituição à DOAR. O que teria levado o legislador brasileiro a

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propor tal mudança? Entre outros motivos, é , simplesmente, seguir uma tendência mundial ao usar DFC, importando-se  com outras informações nem sempre contidas na DOAR.  Nosso País era um dos poucos  que exigiam a publicação da DOAR. Então, qual a diferença básica  entre a DOAR e a DFC? Não tratam  das mesmas coisas, isto é,  onde  a empresa aplica ou resgata  recursos? Para responder  esta questão, é importante  lermos o que diz o FIPECAFI sobre o que é Capital Circulante Líquido:

“como sabemos, o Capital Circulante Líquido é representado pelo Ativo Circulante (Disponível, Contas a Receber, Investimentos Temporários, Estoques e Despesas Pagas Antecipadamente) menos o Passivo Circulante (Fornecedores, Contas a Pagar e outras exigibilidades do exercício seguinte)”.

Como podemos ver, a DOAR é muito mais voltada para o Regime de Competência do que o Regime de Caixa.  Para entender melhor, vejamos o esquema abaixo:

 

ATIVO PASSIVO

Ativo Circulante Passivo Circulante  Disponível 50.000  Fornecedores 80.000  Contas a Receber 150.000  Contas a pagar 25.000  Investimentos temporários 15.000TOTAL 105.000  Estoques 300.000 Capital Circulante Líquido $ 410.000

= 515.000 - 105.000 TOTAL 515.000

 

O esquema acima mostra que o Capital Circulante Líquido  é de $ 410.000. Hipoteticamente, a situação  financeira  da empresa seria ótima. No entanto, observamos que nem todas as rubricas do Ativo Circulante  representam recursos em caixa. Na verdade, o caixa da empresa é de somente $ 50.000, as outras rubricas levariam um tempo maior para se converterem em dinheiro. Então, concluímos que a DOAR é muito mais abrangente no que se refere à posição financeira de uma empresa, não se importando somente com o caixa.

Num mundo moderno os investidores buscam por empresas que possam lhes trazer ganhos num espaço de tempo cada vez menor. São vários os fatores que devem ser considerados, dentre eles:

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Capacidade de uma empresa honrar suas obrigações;

Estimativas futuras de recebimentos;

Capacidade de gerar bons dividendos a seus investidores.  

A avaliação dos itens acima fica clara na Demonstração do Fluxo de Caixa (DFC). O modelo de DFC usado no Brasil, e em boa parte do mundo, é o FAS 95, do FASB (Financial Accounting Standard Board), órgão filiado a SEC (Security Exchange Comission), a CVM dos EUA. Este modelo existe desde 1987.

Se a DOAR se prende às informações importantes ao regime de competência, a DFC se preocupa com os valores que afetam as disponibilidades de uma empresa, algo que interessa muito mais à administração e aos investidores, no curto prazo.

 

A estrutura da Demonstração do Fluxo de Caixa

Como dito a DFC empregada no Brasil seguirá o modelo FAS 95, do FASB. Este modelo é subdividido em Atividades Operacionais, Atividades de Investimentos e Atividades de Financiamentos. Analisando os valores lançados em cada um destes subgrupos, a DFC cumprirá sua finalidade, que é evidenciar  as entradas e saídas de dinheiro, demonstrando claramente sua utilização; fazer a reconciliação entre o resultado do exercício e o caixa gerado (consumido) pela empresa; além de informar todas as transações de investimento ou financiamento realizadas.

De posse destas informações básicas, vamos conhecer as características de cada um destes subgrupos:

 

DisponibilidadesO conceito aqui empregado é o mesmo usado no Balanço Patrimonial. Disponibilidades podem ser entendidas como o dinheiro parado no caixa ou investimentos de liquidez altíssima (também conhecidos como equivalentes-caixa).

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No quotidiano empresarial, para se proteger das oscilações do mercado, é comum as empresas aplicarem  sobras de caixa em investimentos que as façam manter seu poder aquisitivo. Então, são comuns os investimentos em CDBs/RDBs, em cadernetas de poupança, compra de títulos públicos etc. A este tipo de investimento, o FASB dá o nome de equivalentes-caixa. Estes investimentos não são permanentes, durando no máximo 90 dias  da data de aquisição.

Portanto, formam o grupo Disponibilidades:

Caixa;

Depósitos bancários a vista;

Aplicações de Alta Liquidez.

 

Atividades Operacionais

Neste grupo serão colocados os valores referentes às atividades-fim da empresa. Aqui encontraremos o valor recebido a vista dos clientes, pagamentos a fornecedores, pagamentos ao governo relativos a impostos e multas, recebimento de prêmios de seguros. Devido Às diferenças encontradas em cada empresa, este grupo deve ser muito bem analisado para que as informações nele contidas reflitam fielmente as atividades empresariais específicas.

Valores que comporão este grupo serão relativos às seguintes atividades:

Recebimentos operacionais:

De clientes, através de vendas a vista;

De clientes, através de vendas a prazo;

Rendimentos de aplicações financeiras, se esta for a atividade-fim da empresa;

Recebimento de Dividendos.

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Pagamentos operacionais:

Fornecedores de mercadorias ou matérias-primas;

Salários e encargos sociais;

Encargos financeiros;

Tributos.

 

Atividades de Investimentos

Este grupo tem uma relação intrínseca com o Ativo Permanente do Balanço Patrimonial. As atividades de Investimentos refletem todos os valores que uma organização aplica em bens para prover suas atividades operacionais. São exemplos de entradas e saídas deste grupo:

 

Entradas:

Venda de ativos imobilizados usados na produção ou prestação de serviços;

Recebimento de vendas de participações em outras empresas;

Resgates de investimentos permanentes.

 

Saídas:

Compra de ativo imobilizado;

Pagamento no ato de aquisição de participações em outras empresas;

Empréstimos concedidos.

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Atividades de Financiamentos

Uma empresa pode precisar de capital para um grande projeto ou simplesmente gerir suas atividades operacionais, capital este que pode estar indisponível. Então é comum que a direção da empresa recorra a empréstimos em entidades financeiras ou aceite a entrada de novos sócios – ou poderá emitir e negociar ações. Os valores, tais como estes mencionados, obtidos ou pagos a terceiros serão exibidos no grupo Atividades de Financiamentos.

Lembrete: o conceito de financiamento, neste caso, é diferente do amplamente usado no mercado. Comumente é chamada de financiamento a aquisição de um bem pago por terceiros, Na Demonstração do Fluxo de Caixa, este conceito abrange tanto os recursos obtidos de terceiros quanto os recursos próprios recebidos. São transações deste grupo:

Entradas:

Vendas de ações emitidas;

Empréstimos obtidos no mercado financeiro;

Valores referentes à entrada de novo sócio.

 

Saídas:

Pagamento de empréstimos bancários;

Saída de sócio da empresa;

Pagamento de dividendos.

 

O modelo FAS 95

Agora que já conhecemos os grupos que compõem a DFC, vamos conhecer o modelo FAS 95, de 1987. Quando o FASB o criou, o intuito era ter uma demonstração simples que pudesse ser usada por

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qualquer tipo de empresa, com pouquíssimas adaptações. Eis o modelo, supostamente preenchido:

 

 

Nome da empresa

DEMONSTRAÇÃO DO FLUXO DE CAIXA, em 30/03/200X8ATIVIDADES OPERACIONAIS Recebimentos operacionais XXXXXXX   Pagamentos operacionais (XXXXXXX) 

Caixa Líquido gerado (consumido) nas Atividades Operacionais XXXXXXXX

 ATIVIDADES DE INVESTIMENTOS Recebimento de venda de imobilizado XXXXXXX   Compra de  microcomputadores (XXXXXXX) 

Caixa líquido gerado (consumido) nas Atividades de Investimento XXXXXXX

  ATIVIDADES DE FINANCIAMENTO Recebimento de vendas de ações XXXXXXX   Pagamento de dividendos (XXXXXXX) Caixa líquido gerado (consumido) nas Atividades de Financiamentos

XXXXXXX

CAIXA LÍQUIDO DO PERÍODO XXXXXXXSALDO INICIAL DE DISPONIBILIDADES XXXXXXXSALDO FINAL DE DISPONIBILIDADES XXXXXXX

 

Existem algumas considerações a fazer, baseando-se nos pronunciamentos do FASB. Suscitam algumas dúvidas sobre determinados valores e suas classificações. Como podemos classificar juros pagos,  juros e dividendos recebidos? Iudícibus, em sua obra Manual de Contabilidade, diz haver um pronunciamento do FASB que recomenda classificar no grupo Atividades Operacionais, todos os valores que transitam pela DRE. Apesar disso, aquela mesma entidade  faculta a classificação de juros pagos, juros recebidos e dividendos recebidos  no grupo Atividades de Financiamento, pois tais contas guardarem em si a idéia de custo do financiamento ou remuneração do capital investido. Acesse mais em ContabilBR.com


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