Campus “José Santilli Sobrinho”
Coordenadoria de Jornalismo
Denise Moreira Machado
O QUE É ISSO COMPANHEIRO? OS ESCANDALOS VERSUS A POPULARIDADE DE LULA
ASSIS
2009
Campus “José Santilli Sobrinho”
Coordenadoria de Jornalismo
Denise Moreira Machado
O QUE É ISSO COMPANHEIRO? OS ESCANDALOS VERSUS A POPULARIDADE DE LULA
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à comissão de avaliação do curso de Comunicação Social com habilitação em Jornalismo, do Instituto Municipal de Ensino superior de Assis - IMESA/FEMA como requisito parcial à obtenção do Certificado de Conclusão, sob a orientação da Profª. Ms. Maria Lídia de Maio Bignotto.
Linha de Pesquisa:
Ciências Sociais e Aplicadas
ASSIS
2009
Denise Moreira Machado
O QUE É ISSO COMPANHEIRO? OS ESCANDALOS VERSUS A
POPULARIDADE DE LULA
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à comissão de avaliação do curso de Comunicação Social com habilitação em Jornalismo, do Instituto Municipal de Ensino superior de Assis - IMESA/FEMA como requisito parcial à obtenção do Certificado de Conclusão.
Orientador: Profª. Ms. Maria Lídia de Maio Bignotto
Fundação Educacional do Município de Assis
Prof.ª Dra. Elizete Mello
Fundação Educacional do Município de Assis
Prof. Ms. David Valverde
Fundação Educacional do Município de Assis
ASSIS
2009
Aos que me amaram
E acreditaram em mim.
AGRADECIMENTOS
A Deus, por ter me dado a vida, por me criar a sua imagem e semelhança e
por me amparar em todos os momentos da vida.
A minha família, por todo amor ofertado durante toda a minha vida, pelas
lições e por todo o carinho.
A todas as pessoas que acreditaram em mim, que me incentivaram a
correr atrás dos meus objetivos e que sempre me apoiaram.
Aos meus amigos, por todas as experiências vividas, pelo companheirismo
e pelas alegrias compartilhadas.
As minhas grandes amigas Suélen, Ana Carolina, Valdinéia e Maísa, por
todos os momentos que vivemos juntas e que nada poderá apagar.
A toda minha turma de Jornalismo, que sempre me deu força para não
desistir dos meus sonhos. Obrigada pelo incentivo, pelas grandes amizades
e pela cumplicidade de todos.
As minhas amigas Aline, Conceição e Gleiciane, que se tornaram parte de
mim durante esses quatro anos, sendo responsáveis pelos meus mais
verdadeiros sorrisos e me compreendendo em todos os momentos.
A professora Maria Lídia, pela paciência e dedicação, pela calma e por
confiar sempre em mim.
Ao Jornal Folha da Estância e a Rádio Radiativa, por terem me dado as
primeiras oportunidades como profissional de jornalismo.
A todos que de alguma forma colaboraram para que eu concluísse minha
graduação em jornalismo.
“Quando olho para minha própria vida de retirante nordestino,
de menino que vendia amendoim e laranja no cais de Santos,
que se tornou torneiro mecânico e líder sindical, que um dia
fundou o Partido dos Trabalhadores e acreditou no que estava
fazendo, que agora assume o posto de supremo mandatário da
nação, vejo e sei, com toda a clareza e com toda a convicção,
que nós podemos muito mais.”
(Trecho do discurso de posse do primeiro mandato de Lula no Congresso, em janeiro de 2003)
MACHADO, Denise Moreira. O que é isso companheiro? Os escândalos versus a popularidade de lula. 2009. 100 f. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em
Comunicação Social). FEMA – Fundação Educacional do Município de Assis. Assis.
2009.
RESUMO
A trajetória do menino Lula, que passou por inúmeras dificuldades quando criança, com
a família, vivendo no agreste de Pernambuco, emociona. Sua história de luta e
superação, a vinda para a região centro-oeste em busca de melhores condições de vida, a
luta em beneficio dos outros e a liderança no sindicalismo transmitem a imagem de um
guerreiro, que orgulha milhares de brasileiros e acaba se tornando o presidente da
República. A partir daí sua história começa a mudar. Durante os anos 2005-2006 do
Primeiro Mandato de Lula, escândalos envolvendo homens de confiança de seu governo
trazem a tona a corrupção que existe na política brasileira e deixa marcas profundas no
governo Lula e no Partido dos Trabalhadores, considerado um partido diferente, nascido
do povo em beneficio do povo. Apesar dos escândalos de corrupção, o Presidente Lula
mantém sua popularidade e é reeleito em novembro de 2006, com o voto de cinqüenta e
oito milhões de brasileiros.
PALAVRAS-CHAVE: Lula; Presidente; Política; Popularidade.
MACHADO, Denise Moreira. What is this fellow? Scandals versus the popularity of Lula. 2009. 100 f. Concluied Course Work (Graduation in Social Comunication).
FEMA – Fundação Educacional do Município de Assis. Assis. 2009.
ABSTRACT
The trajectory of the boy Lula, who has gone through many difficulties as a child, with
family, living in the wild of Pernambuco, emotional. His story of struggle and
overcoming, coming to the Midwest in search of better living conditions, fighting for
the benefit of others and leadership in trade unionism convey the image of a warrior,
which boasts thousands of Brazilians and it ends up becoming president. Since then his
story begins to change. During the years 2005-2006 the first Lula administration,
scandals involving men trust their government to bring to light the corruption that exists
in Brazilian politics and leave deep scars in the Lula and the Workers Party, considered
a different party, born of people for the benefit of the people. Despite corruption
scandals, President Lula maintained its popularity and is reelected in November 2006,
with the vote of fifty-eight million Brazilians.
KEY-WORDS: Lula; President; Polítics; Popularity.
LISTA DE FIGURAS Figura 1 – Os Caras pintadas, em 1992 ................................................................. 18
Figura 2 – Principais Partidos políticos brasileiro .................................................. 36
Figura 3 – O índio ................................................................................................. 46
Figura 4 – As fases do presidente Lula .................................................................. 62
Figura 5 – A dança da pizza .................................................................................. 73
SUMÁRIO INTRODUÇÃO ..................................................................................... 12 CAPÍTULO I ......................................................................................... 17 1.A HISTÓRIA DA POLÍTICA NO BRASIL ............................................... 19 1.1. Períodos Históricos ....................................................................................... 20 1.1.1. Período Pré-Colonial .................................................................................. 20 1.1.2.Período Colonial ......................................................................................... 20 1.1.3. Invasões Estrangeiras ................................................................................. 22
1.1.4.Revoltas Coloniais ....................................................................................... 23 1.1.5.Império ....................................................................................................... 26 1.1.6.Liberalismo ................................................................................................. 27 1.1.7.República .................................................................................................... 29 1.2.O Sistema Político Brasileiro .......................................................................... 33
CAPÍTULO II ........................................................................................ 35 2.OS PARTIDOS POLÍTICOS BRASILEIROS ............................................ 37 2.1.Partidos no Império ....................................................................................... 37 2.2.Partidos na República Velha ........................................................................... 38 2.3.Partidos Ideológicos....................................................................................... 40 2.4.Os Partidos na República Redemocratizada – 1945-1965 ................................ 40 2.5.O Bipartidarismo no Regime Militar ............................................................... 42 2.6.O Multipartidarismo da Nova República ......................................................... 42 2.7.Atual Formação Partidária Brasileira .............................................................. 43
CAPÍTULO III ....................................................................................... 45 3.A IDENTIDADE BRASILEIRA .............................................................. 47 3.1.As raízes Culturais do Povo Brasileiro ............................................................. 47 3.1.1.O Índio e sua forma simples de viver ........................................................... 49 3.1.2.O Branco e sua influência no Brasil .............................................................. 52 3.1.3.O Negro: sua virilidade e força em nossas raízes .......................................... 53 3.1.4.O Processo Imigratório................................................................................ 57 3.1.5.O Processo de Miscigenação ....................................................................... 58 3.1.6.O processo migratório do nordestino para o Sudeste .................................. 59
CAPÍTULO IV ....................................................................................... 61 4.LULA: A OPÇÃO MAIS QUE O VOTO ................................................. 63 4.1.O Presidente do Povo .................................................................................... 63 4.2.Trajetória Política: de sindicalista a presidente ............................................... 65 4.3. A esperança em um partido diferente ........................................................... 67 4.4.Forma Populista de Governar ......................................................................... 68 4.5.Os Programas Sociais ..................................................................................... 68 4.5.1. O Fome Zero .............................................................................................. 69 4.5.2. O Bolsa Família .......................................................................................... 69 4.5.3. O ProUni .................................................................................................... 70 4.5.4. Farmácia Popular ....................................................................................... 71 CAPÍTULO V ......................................................................................................... 72
5.OS ESCÂNDALOS DURANTE OS ANOS 2005-2006 DO PRIMEIRO MANDATO DE LULA ............................................................................ 74 5.1.Esquema do Mensalão ................................................................................... 74 5.2.Máfia dos Sanguessugas ................................................................................ 75 5.3.Dólar na Cueca .............................................................................................. 75 5.4.CPI dos Correios ............................................................................................. 76 5.5.Quebra do Sigilo e o Ministro Palocci ............................................................. 77 5.6. Dança da pizza .............................................................................................. 78
6.CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................. 79 7.REFERÊNCIAS ................................................................................... 80
INTRODUÇÃO
O objetivo desta pesquisa é fazer uma análise da presidência de Luís Inácio Lula
da Silva, durante os anos de 2005-2006, em seu primeiro mandato. Neste período
ocorreram escândalos envolvendo homens de confiança de seu governo, tais como o
mensalão (esquema usado para a compra de votos de parlamentares), corrupção nas
estatais (foi criada a CPI dos Correios para investigações), quebra de sigilo telefônico
(envolvimento do ministro da Fazenda Antonio Palocci na quebra de sigilo ilegal do
caseiro Francenildo Costa Santos), entre outros.
Tratava-se de um período eleitoral e, apesar de todos os escândalos envolvendo
seu nome Lula candidatou-se a reeleição, sendo novamente eleito Presidente do Brasil
para o mandato de 2007 a 2010.
Pertencente a uma família de imigrantes nordestinos, nascido em Caetés, interior
de Pernambuco em 27 de outubro de 1945 Luís Inácio foi morar no interior paulista
quando tinha sete anos de idade, acompanhado por sua mãe e mais oito irmãos. Em um
bairro pobre do Guarujá (SP), Lula trabalhou como vendedor de alimentos nas ruas.
Quatro anos depois de ter se mudado para o Guarujá, a mãe de Lula, Dona
Lindu, separa-se de seu marido e parte com os filhos para a capital paulista.
Foi em São Paulo que o menino Lula conseguiu seu primeiro emprego,
exercendo então atividades como engraxate e office-boy. Aos 14 anos teve o primeiro
registro em sua carteira de trabalho. Trabalhou em um armazém, em uma fábrica de
parafusos e em uma metalúrgica, onde após um acidente teve o dedo mínimo da mão
esquerda decepado. Na época estava com 19 anos de idade.
Em 1969 Lula ingressou no sindicalismo e tornou-se conhecido por defender os
interesses dos trabalhadores. No ano de 1980, o sindicalista é preso, enquadrado na Lei
de Segurança Nacional (LSN), do Governo Federal, por promover e incentivar a
realização de greves nas categorias essenciais, proibidas na época pelo decreto de lei nº.
1632, de 04 de Agosto de 1978.
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Em 1982, Lula torna-se um dos fundadores do Partido dos Trabalhadores, o
PT, criado com o objetivo de chegar a uma parcela maior da sociedade levando as
idéias sindicais.
Em 1989, utilizando-se da condição de trabalhador, metalúrgico, um
brasileiro igual a todos os brasileiros, Lula se lança, pela primeira vez, como
candidato a Presidência da República. No entanto, é derrotado nas urnas por
Fernando Collor de Mello, do Partido Republicano Nacional (PRN).
Depois disso, foram mais duas tentativas frustradas de Lula em tornar-se
Presidente do Brasil, uma em 1994, outra em 1998, em ambas sendo derrotado por
Fernando Henrique Cardoso (FHC), do Partido da Social Democracia (PSDB).
Somente em 2002, aos 56 anos de idade, que o ex-operário e líder
sindicalista, tornou-se Presidente da República do Brasil. Trazia nas mãos a
representação da esperança do povo, que sonhava com um país melhor para viver.
Finalmente Lula havia chegado à presidência brasileira. Além disso, havia chegado
com um número recorde de votos, algo jamais visto no Brasil. Lula obteve 63% dos
votos válidos, o que equivale a 52,4 milhões de votos, de acordo com uma pesquisa
de boca-de-urna realizada pelo Instituto de Pesquisa Datafolha.
Em 2006, último ano do primeiro mandato de Lula como presidente, surgem
os escândalos políticos que assolaram o país e puseram em xeque as idéias prévias de
um governo do povo, o Lula, e de um partido que defendia os interesses do povo, o
PT.
O Partido dos Trabalhadores e, consequentemente o presidente Lula, que
sempre estiveram tão interligados, têm seus nomes envolvidos na máfia dos
sanguessugas, no esquema do mensalão, pagamento de propina, corrupção, entre
outros.
No mês de abril de 2006, o Ministério Público Federal divulga um relatório
acusando a cúpula do PT de formar uma sofisticada organização criminosa,
especializada em desviar dinheiro público e comprar apoio político a fim de garantir
a continuidade do poder do partido. O presidente Lula, diante de todas as denúncias
e, apesar de não ter o nome envolvido na denúncia da procuradoria geral, foi
cogitado como o maior beneficiário de tudo. Em sua defesa, alegou não saber nada
sobre o esquema de corrupção que acontecia diante de suas barbas, nos corredores do
governo.
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Apesar do desmembramento da teia de farsantes que ocupavam as cadeiras do
governo, mesmo com homens sendo investigados e esquemas sendo delatados, Lula
prosseguiu sua campanha a reeleição à Presidência.
Com um discurso buscando atingir as camadas mais carentes da sociedade
brasileira, de onde o Presidente havia saído, Lula afirmou veementemente que nunca
os mais pobres estiveram tão bem, nunca tiveram tantas oportunidades, nunca na
história do Brasil, a população mais carente teve acesso às políticas assistenciais,
grande marca de seu governo.
Lula deixou de lado os escândalos políticos que desmascararam a política
brasileira, se esquivou de questionamentos aos quais não teria resposta convincente
e, disputando com mais três candidatos, chegou ao segundo turno das eleições de
2006, com o candidato pelo PSDB, Geraldo Alckmin.
Aos que estavam cansados de ver o Brasil assolado pelos escândalos
políticos, era a esperança de que a cúpula petista fosse banida dos altos escalões
governamentais. Aos que se beneficiavam com a forma de governar do presidente
Lula, que deposita grande importância em Políticas Sociais como o Fome Zero, o
ProUni e outros, além da coincidente baixa na inflação e queda nos juros, a esses
restava o medo de que tudo acabasse e o ex-metalúrgico, o Presidente mais popular
que o país já teve, fosse demitido enfim, do cargo mais importante que já ocupou na
vida.
Medo que não durou muito tempo. Em novembro de 2006, o povo sai às ruas
para, mais uma vez, comemorar a vitória de Luís Inácio Lula da Silva como
Presidente da República. Mais uma vez, atingindo um número recorde de votos.
Cinqüenta e oito milhões de brasileiros confirmaram Lula como o Presidente do
Brasil.
O povo havia ignorado os escândalos, os roubos, a corrupção do partido que
deveria ser o maior representante do povo, já que dele havia surgido. O povo se
tornava cúmplice de Lula e a insistência da mídia em revelar todos os atos corruptos,
já não afetava mais ninguém.
Na tentativa de compreender o porquê de o povo ter colocado Lula
novamente no poder, não dando importância a toda a corrupção que manchava a
política brasileira, é que está sendo realizada a pesquisa.
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A sociedade brasileira vive um período de grande transformação em seu
cenário político. A candidatura de Luis Inácio Lula da Silva foi um grande exemplo
disso. O cargo de presidente brasileiro, até então, era ocupado pelos partidos
considerados de direita.
Pela primeira vez na história, tem-se de forma escrachada e aberta, acesso aos
maiores segredos envolvendo os homens do Governo.
A grande massa que luta tanto para sobreviver, que enfrenta as mazelas de
sua pobreza, que passa por privações e trabalha incessantemente para se manter viva,
se vê ainda a mercê da insegurança, da criminalidade, do sistema precário de saúde,
do analfabetismo proveniente da precariedade da educação, dos impostos que não
têm retorno as suas origens.
De repente a população brasileira já tão massacrada pelas injustiças de um
país em desenvolvimento, mas sem estrutura para oferecer muitas vezes, dignidade a
seu povo, é levada a decidir sobre algo tão complicado, tão difícil de ser
compreendido. O povo tem acesso explicitadamente a tudo o que ocorre entre os
corredores do Governo.
Diante do quadro apresentado acima, questiona-se: por que Lula é tão
querido? Por que apesar dos escândalos envolvendo seu nome, sua popularidade
sequer se abalou? Por que Lula foi eleito e reeleito com um número recorde de
votos?
Assim, este trabalho justifica-se por querer buscar respostas quanto a
maquilagem feita pela alta cúpula do PT e extensivamente ao Presidente Lula e que
garantiu a ele mais quatro anos como maior autoridade política no Brasil.
Este trabalho será dividido em cinco capítulos. No primeiro, será abordada a
história da política no Brasil, desde a chegada dos europeus ao nosso país. No
segundo capítulo, será feita uma explanação sobre os principais partidos políticos
brasileiros e sobre o inicio do sistema partidário. No capítulo três será abordada a
formação da identidade do povo brasileiro, que se deu a partir dos povos indígenas,
dos brancos e dos negros escravos. O quarto capítulo abordará a história de Lula,
desde a infância até a chegada a Presidência da República, assim como sua forma de
governar e, por fim, no quinto capítulo, serão abordados os escândalos de corrupção
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ocorridos nos anos 2005 e 2006 e que deram margem a este estudo, objetivando-se
entender como Lula consegue manter ainda hoje a sua popularidade.
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Capítulo I
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História Política
Figura 1:
(Fonte: <http://teoriadopikachu.files.wordpress.com/2009/10/collor.jpg, >, 2009)
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1. A história da política no Brasil
Desde o seu descobrimento, em 1500 com a chegada dos portugueses, O
Brasil passou por diversas transformações econômicas, sociais e principalmente,
políticas. Por ser um país naturalmente rico, o Brasil passou a ser cobiçado por
diversos outros países, visto como uma fonte de riquezas naturais.
Com a descoberta de que era possível chegar às Índias
contornando a África, o comércio de especiarias transformou-se em
importante fonte de riquezas para a economia portuguesa. Foi nessa
época, na virada do século XV para o século XVI, que ocorreu o
chamado “descobrimento do Brasil”. (COTRIM, 1999, p. 97).
Historicamente, tudo teve inicio a partir de 1500, com a chegada dos povos
portugueses. Até então, o Brasil era habitado por selvagens, que passaram a ser
chamados de indios e viviam em sintonia com a natureza. Retiravam apenas o
necessário para sua sobrevivência, não destruíam a natureza e não possuíam
ambições.
Quando os portugueses chegaram, se depararam com um clima quente,
terras produtivas e muitas riquezas naturais. Passaram dessa forma, a explorar
essas riquezas, assim como os selvagens que aqui viviam.
Dessa maneira, a política teve inicio em nosso país. O poder de barganha,
o trabalho, as negociações e transações internacionais. Produtos diversos passaram
a ser comercializados. O ouro foi descoberto nos estados de Minas Gerais, Mato
Grosso e Goiás. Cresceu a ambição dos colonizadores e de outros povos que já
habitavam o Brasil. Assim, tiveram início as revoltas. Capitanias Hereditárias,
Inconfidência Mineira, Revolta Praieira, Guerra do Paraguai e outras ilustram a
forma conturbada de um começo político nas terras brasileiras. Desde então,
houve avanços e conquistas e durante estes processos, a grande maioria lutou e
continua lutando pela distribuição da renda, concentrada ainda hoje, nas mãos da
minoria.
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1.1. Períodos Históricos
A história política brasileira pode ser dividida em alguns períodos históricos,
que deram vida à nossa atual forma de governar e ser governados. Ao
contextualizarmos a história nos deparamos com fatos inimagináveis e que nos levam
a entender a atual forma de política exercida no Brasil. O país passou por ocupações
estrangeiras, por resistência dos povos que habitavam este país, revoltas, derrotas e
pela exploração. O Brasil chegou mesmo a ser um império até que chegássemos ao
presidencialismo, que vigora nos dias atuais. Tudo isso pode ser melhor
compreendido, ao estudarmos estes períodos.
1.1.1.Período pré-colonial
Originalmente habitado por aproximadamente cinco milhões de ameríndios, o
território que hoje pertence ao Brasil, além do restante da América do Sul, já estava
dividido entre duas potências européias - Portugal e Espanha - antes mesmo de seu
descobrimento oficial.
O Tratado de Tordesilhas, assinado em 1494 entre o Reino de Portugal e o
recém formado Reino de Espanha, foi um importante acordo para a definição da
futura fronteira do Brasil, que dividia o continente de norte a sul, desde o atual estado
do Pará até a cidade de Laguna (Santa Catarina), sendo muito alterada
posteriormente, com a expansão portuguesa para o oeste.
Após as primeiras expedições, os enviados da Coroa portuguesa viram que no
Brasil não haveria o lucro fácil. A maior riqueza dessa terra era o pau-brasil, árvore
usada para extrair tinta corante para tecidos. O lucro gerado através desse negócio,
no entanto, era menor que o comércio de produtos africanos e asiáticos.
1.1.2.Período colonial
A colonização foi montada especificamente para a troca e operava sempre
pressupondo a existência de produção local nestas áreas com as quais mantinha
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negociações. No entanto, a colonização não realizou os propósitos mercantilistas que
impulsionaram as navegações.
Dessa forma a colonização apresentou grandes dificuldades na estrutura
econômica portuguesa que não estava preparada para enfrentar esse tipo de
problema.
Explorar a América para os portugueses era o mesmo que abrir uma empresa.
Era preciso atrair pessoas para povoar o continente americano.
Durante o século XVI o Brasil tornou-se o destino dos degredados. Era forte a
resistência à transplantação para uma terra que oferecia poucas perspectivas, além de
duras condições de trabalho e pouquíssimas possibilidades de enriquecimento. Essa
resistência era vencida pela promessa de uma retribuição alta do trabalho, caso
fossem deslocados trabalhadores assalariados para a terra desconhecida.
O descobridor oficial do Brasil foi Pedro Álvares Cabral, tendo avistado a
terra em 21 de abril e chegado à atual Porto Seguro (Bahia) em 22 de Abril de 1500.
A ocupação efetiva se deu a partir de 1532, com a fundação de vila de São Vicente,
por Martim Afonso de Sousa, donatário de duas capitanias, mas apenas a de São
Vicente prosperara, e mesmo assim, menos que a capitania da Nova Lusitânia
(Pernambuco). Todas as demais capitanias não prosperaram.
As terras eram muito extensas, e os donatários geralmente não
tinham dinheiro suficiente para explorá-las. Muitos donatários perderam
o interesse pelas capitanias, pois precisavam investir para produzir
(plantar e colher), e não acreditavam que o retorno financeiro
compensaria o trabalho e o capital empenhados. Alguns nem chegaram a
tomar posse de sua capitania. (COTRIM, 1999, p. 100).
Insatisfeito com as dificuldades enfrentadas, Dom João III decidiu criar um
governo central para corrigir os problemas sem abolir as capitanias. Foi enviado ao
Brasil Tomé de Sousa como primeiro governador-geral e no dia 29 de março de 1549
fundou a cidade de Salvador como capital do Brasil.
Ao longo do século XVI, foi-se ensaiando a escravidão, inicialmente a dos
indígenas (que não aceitaram a escravidão e foram massacrados aos milhares pelos
portugueses), e a partir das últimas décadas a do africano, pois já havia muitos
escravos negros em Portugal. Datam desse século as primeiras tentativas de
exploração do interior.
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Para os colonizadores, era mais vantajoso escravizar o africano.
Este, embarcado na África em um tumbeiro, chegava à América depois
de uma viagem tenebrosa que o dilacerando, física e psicologicamente, o
introduzia e amoldava no “ser escravo”. Escravizado em uma terra que
não conhecia, o africano era mais facilmente dominado. (MAESTRI
FILHO, 1984, p.17).
Promessas falsas. Interesses pessoais. O período colonial ilustra o início de
um cenário de dor e que ainda causa tristeza nos dias atuais. Ainda existe trabalho
escravo no Brasil. Ainda existe exploração. A elite continua fazendo promessas aos
menos favorecidos economicamente e que nunca serão cumpridas. Esse é o início da
política em nosso país e que pouco mudou até os dias atuais.
1.1.3.Invasões estrangeiras
O início da colonização portuguesa no território brasileiro foi a primeira
invasão estrangeira da história do país. Até então o Brasil era denominado pelos
nativos tupis como Pindorama, que significa "Terra das Palmeiras". A resposta
imediata às ocupações estrangeiras foi de longos embates, entre eles a Guerra dos
Bárbaros.
Houve ainda disputas com os franceses, que tentavam se implantar na
América pela pirataria e pelo comércio do Pau-Brasil, chegando a criar uma guerra
luso-francesa. Tudo isso culminou com a expulsão dos franceses trazidos por Nicolas
Durand de Villegagnon, que haviam construído o Forte Coligny no Rio de Janeiro,
estabelecendo-se dessa maneira, em definitivo, a hegemonia portuguesa.
A primeira riqueza explorada pelos europeus em terras brasileiras
foi o pau-brasil (Caesalpinia echinata), árvore então abundante no litoral
brasileiro, desde Pernambuco até Angra dos Reis. A árvore recebeu esse
nome porque o interior de seu tronco tinha cor de brasa. Os índios a
chamavam de ibirapitanga, que significa “madeira” (ibira) “vermelha”
(pitã). Da madeira do pau-brasil extraía-se uma substância corante,
utilizada para tingir tecidos – daí o interesse dos portugueses em
comercializá-la. (COTRIM, 1999, p. 108).
No século XVII se vê um grande desenvolvimento da agricultura, que usa a
mão-de-obra escrava de negros africanos, com culturas de tabaco e especialmente da
cana-de-açúcar na Bahia, Pernambuco, e mais tardiamente no Rio de Janeiro.
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As expedições chamadas de Entradas e Bandeiras dos paulistas descobriram o
ouro, pedras preciosas em Minas Gerais e ervas no sertão. As colônias nordestinas
foram ocupadas pelos holandeses em 1624 e entre 1630 e 1654, principalmente sob o
comando de Maurício de Nassau, sendo enfim expulsos após a batalha de Guararapes
de 1648.
Nessa época foi fundado o Quilombo dos Palmares, liderado por Zumbi,
guerreiro, que congregava milhares de negros fugidos dos engenhos de cana do
Nordeste brasileiro e alguns índios e brancos pobres ou indesejáveis.
No inicio, segundo Moura (1983, p. 45), Palmares tinha apenas pequenos
grupos que incursionavam pelas redondezas. No entanto passou a estruturar um
exército para garantir a segurança de um número tão considerável de pessoas e de um
território tão grande.
Seu exército, por isto, aumentou os seus efetivos
consideravelmente. Iniciaram a construção de fortificações, confiadas,
segundo informações, a um mouro que se encontrava com eles. O
exército era comandado pelo Ganga-Muiça e bem armado. Suas armas
eram arcos, flechas, lanças e armas de fogo, tomadas das expedições
punitivas, ou compradas dos elementos com os quais mantinham
intercâmbio. (MOURA, 1983, p. 45).
Este "submundo" foi finalmente destruído, não sem uma resistência heróica e
violenta, por bandeirantes portugueses comandados por Domingos Jorge Velho,
tendo seu líder, Zumbi dos Palmares, sido morto e decapitado.
Zumbi conseguiu escapar ao cerco, fugindo pela mata com um
pequeno grupo de companheiros. Dois anos depois, após muitas
perseguições, foi preso e morto, em 20 de novembro de 1695. Cortaram-
lhe a cabeça, que foi exposta em praça pública, na cidade do Recife.
(COTRIM, 1999, p. 126).
No século XVIII, ainda que a produção do açúcar não tenha perdido sua
importância, as atenções da Coroa Portuguesa se concentravam na região das Minas
Gerais onde se tinha descoberto o ouro. Os portugueses apoderaram-se de toneladas
de ouro brasileiro neste processo. Este, entretanto, esgota-se antes do fim do século.
1.1.4.Revoltas coloniais
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Desde o início da colonização portuguesa o Brasil foi palco de revoltas, da
resistência das nações indígenas à luta coletiva dos africanos escravizados por meio
da organização dos quilombos, representada principalmente pelo Quilombo dos
Palmares, que lidou com os ataques da metrópole desde sua fundação, em 1580, até
seu fim, com o assassinato de Zumbi.
No final do século XVII, a insatisfação dos colonos acarreta o surgimento dos
primeiros movimentos contra a Coroa Portuguesa. Parte dessas rebeliões foi gerada
por insatisfação econômica, como foi o caso da Revolta de Beckman, a Guerra dos
Mascates e a Guerra dos Emboabas, conflito este entre 1707 e 1709 que colocou em
oposição os bandeirantes paulistas e todos os demais exploradores, denominados por
aqueles de "emboabas", quanto à posse das Minas Gerais.
Os paulistas, descobridores do ouro de Minas Gerais, sentiam-se
no direito de explorá-lo com exclusividade. Entretanto, muitos
portugueses vindos da metrópole ou da própria colônia também queriam
apoderar-se das jazidas descobertas. A tensão cresceu quando os
portugueses passaram a controlar o abastecimento para a região das
minas. Ocorreram, então, violentos conflitos entre paulistas e
portugueses, que ficaram conhecidos como Guerra dos Emboabas.
(COTRIM, 1999, p. 151).
Dois movimentos, no entanto, ficaram marcados por terem a intenção de
proclamar a independência: a Inconfidência Mineira e a Conjuração Baiana.
A Inconfidência Mineira foi um movimento que partiu da elite de Minas
Gerais. Com a decadência da mineração na segunda metade do século XVIII, tornou-
se difícil pagar os impostos exigidos pela Coroa Portuguesa. Além do mais, o
governo português pretendia promulgar a derrama, um imposto que exigia que toda a
população, inclusive quem não fosse minerador, contribuísse com a arrecadação de
20% do valor do ouro retirado. Os colonos se revoltaram e passaram a conspirar
contra Portugal.
Os revoltosos pretendiam proclamar a independência em relação a
Portugal e usavam o lema “Liberdade, ainda que tardia”, inscrito na
bandeira do movimento. Os principais objetivos dos conspiradores eram:
proclamar a República; criar uma universidade em Vila Rica; e
incentivar a instalação de manufaturas em diversas regiões do Brasil.
(PILETTI, 2002, p.106)
25
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Em Vila Rica (atual Ouro Preto), participavam do grupo, entre outros, os
poetas Cláudio Manuel da Costa e Tomás Antônio Gonzaga, os coronéis Domingos
de Abreu Vieira e Francisco Antônio de Oliveira Lopes, o padre Rolim, o cônego
Luís Vieira da Silva, o minerador Inácio José de Alvarenga Peixoto e o alferes
Joaquim José da Silva Xavier, apelidado Tiradentes.
A conspiração pretendia eliminar a dominação portuguesa e criar um país
livre. A forma de governo escolhida foi o estabelecimento de uma República, a qual
foi inspirada nas idéias iluministas da França e da recente independência norte-
americana. Traídos por Joaquim Silvério dos Reis, que delatou os inconfidentes para
o governo, os líderes do movimento foram detidos e enviados para o Rio de Janeiro,
onde responderam pelo crime de inconfidência (falta de fidelidade ao rei), pelo qual
foram condenados.
Em 1792, Tiradentes, de mais baixa condição social, foi o único condenado à
morte por enforcamento. Sua cabeça foi cortada e levada para Vila Rica. O corpo foi
esquartejado e espalhado pelos caminhos de Minas Gerais. Era o cruel exemplo que
ficava para qualquer outra tentativa de questionar o poder de Portugal.
A execução de Tiradentes ocorreu no dia 21 de abril de 1792. Seu
corpo foi cortado em pedaços: a cabeça ficou em Vila Rica, e os
membros foram colocados em postes, na estrada que liga Minas Gerais
ao Rio de Janeiro. A casa em que morava foi destruída e sobre a terra
jogou-se sal, para que nem plantas ali crescessem. (PILETTI, 2002,
p.107)
A Conjuração Baiana foi um movimento que partiu da camada humilde da
sociedade da Bahia, com grande participação de negros, mulatos e alfaiates, por isso
também é conhecida como Revolta dos Alfaiates. Os revoltosos pregavam a
libertação dos escravos, a instauração de um governo igualitário (onde as pessoas
fossem promovidas de acordo com a capacidade e merecimento individuais), além da
instalação de uma República na Bahia.
Segundo Piletti (2002, p.107), a maioria da população reclamava da falta de
gêneros alimentícios e outros produtos essenciais, bem como de seus altos preços.
Além disso, os soldados queriam melhores salários.
Ao mesmo tempo, crescia o desejo de independência; os ideais de
liberdade, igualdade e fraternidade da Revolução Francesa propagavam-
se pelos diferentes setores da sociedade. As idéias revolucionárias eram
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discutidas em encontros secretos. Nesse contexto, destacou-se a
sociedade secreta chamada Cavaleiros da Luz. Nas reuniões dessa
sociedade planejava-se uma rebelião contra a dominação portuguesa.
(PILETTI, 2002, p.107).
Em 12 de Agosto de 1798, o movimento precipitou-se quando alguns de seus
membros, distribuindo os panfletos na porta das igrejas e colando-os nas esquinas da
cidade, alertaram as autoridades sobre suas idéias oposicionistas de manifestação
que, de pronto, reagiram, detendo-os. Tal como na Conjuração Mineira, interrogados,
acabaram delatando os demais envolvidos. Centenas de pessoas foram denunciadas -
militares, clérigos, funcionários públicos e pessoas de todas as classes sociais.
Destas, 49 foram detidas, a maioria tendo procurado abjurar a sua participação,
buscando demonstrar inocência. Mais de 30 foram presos e processados. Quatro
participantes foram condenados à forca e os restos de seus corpos foram espalhados
pela Bahia para assustar a população.
Avisados a tempo, muitos revoltosos, principalmente os que
pertenciam à sociedade secreta, conseguiram fugir. As forças do governo
prenderam 49 dos participantes da conjuração, entre os quais nove
escravos e três mulheres. (PILETTI, 2002, p. 108).
Os diferentes setores sociais queriam a liberdade, igualdade e fraternidade
idealizadas pela Revolução Francesa. Para tanto lutaram e muitas pessoas acabaram
pagando um preço muito alto, inclusive com a própria vida.
Constata-se então, que do ano de 1798 ao ano 2000, esta situação pouco
mudou. A população, em sua maioria carente ou pertencente a classe trabalhadora,
continua em busca de dias melhores. Como exemplo das ações do povo, podemos
citar a greve dos bancários que aconteceu recentemente, ou até mesmo a greve dos
Correios. O sistema de saúde brasileiro permite ainda que pessoas morram em filas
de hospitais e a educação em nosso país é uma das piores do mundo. Ainda hoje as
pessoas lutam por melhores condições de vida, pela diminuição da desigualdade
social, por melhores salários, por saúde, educação, alimentação e dignidade. Ainda
hoje as pessoas lutam e muitas continuam pagando um preço muito alto por isso.
1.1.5.Império
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Após a independência de Portugal em Sete de setembro de 1822, que resultou
no fim do "Brasil Colônia" (1500-1822), o Brasil torna-se uma monarquia
constitucional, período denominado "Brasil Império" (1822-1889). D. Pedro I retorna
a Portugal para assegurar que sua filha, princesa Isabel, assumisse o trono português.
Percebendo que tinha perdido a autoridade e todo o respeito da
população, D. Pedro I resolveu abdicar do trono, isto é, renunciar em
favor de seu filho, Pedro de Alcântara. Em 7 de abril de 1831, D. Pedro I
viajou para a Europa. (PILETTI, 2002, p. 133)
Após um período regencial, D. Pedro II, aos catorze anos de idade, é coroado
o segundo imperador do Brasil. A economia, que teve como base principal a
agricultura – tornando-se o café o principal produto exportado do Brasil durante o
reinado de Pedro II –, apresentou uma expansão muito grande. Nesse período, foi
construída uma ampla rede ferroviária. O Brasil foi o segundo país latino-americano
a implantar este tipo de transporte e, durante a Guerra do Paraguai (1864-1870), foi
possuidor da quarta maior marinha de guerra do mundo.
A mão-de-obra escrava, por pressão interna de oligarquias paulistas, mineiras
e fluminenses, manteve-se vigente até o ano de 1888, quando caiu na ilegalidade pela
Lei Áurea. Entretanto, havia-se encetado um gradual processo de decadência em
1850, ano do fim do tráfico negreiro, por pressão da Inglaterra, além de que o
Imperador era contra a escravidão.
No início de 1888, a escravidão havia sido erradicada em
municípios inteiros e, no entanto, a agricultura não se desorganizara, os
libertos trabalhavam, imigrantes chegavam aos milhares como uma feliz
solução para o problema da mão-de-obra. (QUEIRÓZ, 1982, p.81).
A partir de 1870, assistiu-se ao crescimento dos movimentos republicanos no
Brasil. A falta de mão-de-obra em conseqüência da libertação dos escravos foi
solucionada com a atração de centenas de milhares de imigrantes, em sua maioria
italianos e portugueses.
Em 1889, um golpe militar tirou o cargo de Primeiro Ministro de Afonso
Celso de Assis Figueiredo, o Visconde de Ouro Preto, e, por incentivo de
republicanos como Benjamin Constant Botelho Magalhães, o Marechal Deodoro da
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Fonseca proclamou a República e enviou ao exílio a Família Imperial. Diversos
fatores contribuíram para a queda da Monarquia, entre eles a insatisfação da elite
agrária com a abolição da escravatura, o descontentamento dos cafeicultores do
Oeste Paulista e dos militares, que almejavam mais poder, e as interferências do
Imperador em assuntos da Igreja. Não houve nenhuma participação popular na
proclamação da República. O povo brasileiro apoiava o Imperador e, para poupar
conflitos, não houve violência e a Família Imperial pôde exilar-se na Europa em
segurança.
O absolutismo durou cerca de dois séculos, entrando em crise no século
XVII. Com o fim desse sistema, o soberano (Rei) perde o poder sobre as relações
pessoais e econômicas e sobre as questões pessoais.
O Estado absoluto perde lugar às idéias liberalistas, em que a divisão dos três
poderes (executivo, legislativo e judiciário) e a valorização da opinião pública são
suas características mais marcantes.
1.1.6.Liberalismo
No sentido original, o termo liberalismo refere-se a uma filosofia política que
tenta limitar o poder político, defendendo e apoiando os direitos individuais. Tais
idéias surgiram com pensadores iluministas do século XVIII, entre eles John Locke e
Montesquieu, que tentaram estabelecer os limites do poder político ao afirmarem a
existência de direitos naturais e leis fundamentais de governo onde nem os reis
poderiam ultrapassar sob o risco de se transformarem em tiranos.
Tais pensamentos combinavam com a idéia de que a liberdade comercial iria
ser benéfica a todos, o que a levou a ser posteriormente associada com a defesa do
capitalismo. O liberalismo econômico pregava o fim da intervenção do Estado na
produção e na distribuição das riquezas, o fim das medidas protecionistas e dos
monopólios e defendia a livre concorrência entre as empresas. Foi defendido por
pensadores como Adam Smith, Malthus e David Ricardo.
No Brasil, as idéias liberais chegaram no início do século XIX, tendo maior
influência a partir da Independência de 1822.
Para Costa (1999), o liberalismo brasileiro só pode ser entendido com
referência à realidade brasileira. (www.histedbr.fae.unicamp.br)
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Os principais adeptos foram homens interessados na economia de
exportação e importação, muitos proprietários de grandes extensões de
terra e escravos. Ansiavam por manter as estruturas tradicionais de
produção, libertando-se do jugo de Portugal e ganhando espaço no livre-
comércio. Esta elite tencionava manter as estruturas sociais e
econômicas. Após a independência, os liberais tencionavam ampliar o
poder legislativo em detrimento do poder real. (COSTA, 1999.)
Durante o período Imperial tivemos a formação de dois grupos políticos
distintos no Brasil: liberais e conservadores. Os primeiros defendiam um sistema de
educação livre do controle religioso, uma legislação favorável à quebra do
monopólio da terra e favoreciam a descentralização das províncias e municípios. Os
conservadores opunham-se a essas idéias. Todo o período imperial foi marcado por
tensões e conciliações entre os dois grupos. “Vários conservadores passaram para o
lado liberal e como também vários liberais foram responsáveis por fundar o Partido
Republicano no final deste período”. (www.histedbr.fae.unicamp.br).
Os liberais brasileiros foram incapazes de realizar os ideais do
liberalismo, pois estes transcendiam a política. Nenhuma das reformas
que os liberais realizaram eliminou o conflito entre a retórica liberal e o
sistema de patronagem. As reformas defendiam apenas os seus interesses
comerciais e a manutenção da exploração do trabalho. (COSTA, 1999.)
O modelo liberal de exercício do poder ordenava que a autoridade da lei
haveria de substituir a autoridade soberana, o que de fato aconteceu.
Outra ordenação da justiça é a de que o Estado deveria limitar-se a aplicar as
leis, para regular as relações formais entre os indivíduos, porém sem abarcar a espera
privada a qual pertenciam, a espera de produção e distribuição de bens.
O liberalismo enfim transforma o Estado numa comunidade de direito. Tudo
se transforma em lei.
1.1.7.República
Dom Pedro II foi deposto em 15 de novembro de 1889 por um golpe militar
liderado pelo republicano Deodoro da Fonseca, que se tornou o primeiro presidente
de fato do país, através de ascensão militar. O país tornou-se a República dos Estados
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Unidos do Brasil. Entre 1889 e 1930, os Estados dominantes de São Paulo e Minas
Gerais alternaram o controle da Presidência, período conhecido como República do
café-com-leite, sendo a política externa deste período caracterizada pelo
isolacionismo, confirmado pela modesta participação do país na Primeira Guerra
Mundial (1914-1918), ao lado dos aliados.
Amorim de Ângelo (UOL Educação), explica que formalmente, a política do
café-com-leite teve início em 1898, no governo do paulista Manuel Ferraz de
Campos Salles, e encerrou-se em 1930, com a chegada de Getúlio Vargas ao poder.
“Da Proclamação da República, em 1889, até o início do governo Campos Sales, o
Brasil teve dois presidentes militares: os marechais Deodoro da Fonseca, que
governou o país até 1891, e Floriano Peixoto, que ocupou a Presidência até 1894”.
Durante esse período,
Durante os mais de 30 anos em que perdurou a política do café-
com-leite, o Brasil elegeu 11 presidentes da República, sendo seis
paulistas - incluindo Prudente de Moraes e Campos Salles - e três
mineiros. Dois vice-presidentes assumiram o posto do titular ao longo
desse período: o fluminense Nilo Peçanha, no lugar de Afonso Pena,
falecido em 1909; e o mineiro Delfim Moreira, substituindo o paulista
Rodrigues Alves, morto em 1918, antes mesmo de tomar posse naquele
que seria seu segundo mandato como presidente. (AMORIM DE
ANGELO, UOL Educação).
Após uma década marcada por movimentos militares e turbulência política
que prenunciaram a decadência do modelo de poder deste primeiro período
republicano; uma junta militar assumiu o controle em 1930, tendo Getúlio Vargas
tomado posse pouco depois e permanecido como governante ditatorial por quinze
anos (até 1945), período no qual o Brasil participou da Segunda Guerra Mundial
(1939-1945), novamente do lado aliado (União Soviética, Estados Unidos, Império
Britânico, China, Polônia e França).
Os 15 anos da Era Vargas foram intensos e cheios de realizações. Vargas
criou a Justiça do Trabalho (1939), instituiu o salário mínimo, a Consolidação das
Leis do Trabalho, também conhecida por CLT. Os direitos trabalhistas também são
frutos de seu governo: carteira profissional, semana de trabalho de 48 horas e as
férias remuneradas.
GV investiu muito na área de infra-estrutura, criando a Companhia
Siderúrgica Nacional (1940), a Vale do Rio Doce (1942), e a Hidrelétrica do Vale do
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São Francisco (1945). Em 1938, criou o IBGE (Instituto brasileiro de Geografia e
estatística). Saiu do governo em 1945, após um golpe militar.
(www.suapesquisa.com/vargas).
Com a volta da normalidade democrática em 1945, Vargas consegue ainda
ser reeleito em 1950 e permaneceu no cargo por quatro anos. Em agosto de 1954,
Vargas suicidou-se no Palácio do Catete com um tiro no peito. Deixou uma carta
testamento com uma frase que entrou para a história: "Deixo a vida para entrar na
História." Até hoje o suicídio de Vargas gera polêmicas. O que sabemos é que seus
últimos dias de governo foram marcados por forte pressão política por parte da
imprensa e dos militares. A situação econômica do país não era positiva, o que
gerava muito descontentamento entre a população.
Embora tenha sido um ditador e governado com medidas
controladoras e populistas, Vargas foi um presidente marcado pelo
investimento no Brasil. Além de criar obras de infra-estrutura e
desenvolver o parque industrial brasileiro, tomou medidas favoráveis aos
trabalhadores. Foi na área do trabalho que deixou sua marca registrada.
Sua política econômica gerou empregos no Brasil e suas medidas na área
do trabalho favoreceram os trabalhadores brasileiros.
(www.suapesquisa.com/vargas).
Com o suicídio de Getúlio Vargas, abriu-se um buraco no poder e também na
herança política, perseguida por seus simpatizantes e adversários. Para substituí-lo
tentaram lançar uma candidatura de “união nacional”, com a adesão de dois dos
maiores partidos políticos da época: o Partido Social Democrático (PSD) e a União
Democrática Nacional (UDN). Eles teriam um candidato único, que uniria a direita e
o centro e evitaria uma nova candidatura radical como era a “getulista”.
Esta idéia, porém, não se concretizou e, em 10 de Fevereiro de 1955, o PSD
homologou o nome de Juscelino Kubitschek como candidato à presidência da
República. JK sabia que precisava do apoio de uma base sólida e da aceitação
popular, assim como o PTB, partido de Vargas, que tinha João Goulart como
candidato à presidência. Após a homologação de JK como candidato do PSD, o PTB
selou acordo tendo João Goulart (Jango) concorrendo como vice-presidente.
Muitas foram as tentativas dos “anti-getulistas” para inviabilizar a campanha
JK-Jango, apoiada, inclusive, pelo Partido Comunista Brasileiro. A UDN era a
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principal rival dessa coligação, com intenções escancaradas de impedir a qualquer
custo a vitória de JK. Ainda assim,
Nas eleições ocorridas em três de Outubro de 1955, JK elegeu-se
com 36% dos votos válidos, contra 30% de Juarez Távora (UDN), 26%
de Ademar de Barros (PSP) e 8% de Plínio Salgado (PRP). Naquela
época, as eleições para presidente e vice não eram vinculadas, mas Jango
foi o melhor votado para vice, recebendo mais votos do que JK e pôde,
em 31 de Janeiro de 1956, sentar-se ao lado de seu companheiro de
chapa para governar o país. (www.brasilescola.com).
O mandato de Juscelino Kubitschek (1956-1961) foi marcado pela campanha
política cujo lema era "50 anos em 5" e foi um dos que mais contribuiu para que a
indústria nacional se desenvolvesse rapidamente.
Jânio Quadros foi eleito em 1960, no entanto, ao desentender-se com cúpula
dirigente da União Democrática Nacional (UDN), partido que o apoiava, acabou
renunciando e João Goulart, vice-presidente, tomou posse em seu lugar.
Os militares assumiram o controle do Brasil em um golpe de Estado em 1964
e permaneceram no poder até março de 1985, período este conhecido como anos de
chumbo, devido a ditadura que governava o país, quando caíram graças a lutas
políticas entre o regime e as elites brasileiras.
Em 1967 o nome do país foi alterado para República Federativa do Brasil. A
democracia foi restabelecida em 1988, quando a atual Constituição Federal foi
promulgada.
Fernando Collor de Mello foi verdadeiramente o primeiro presidente eleito
pelo voto popular após o regime militar. Político de articulação restrita, Collor tomou
posse da cadeira de Presidente da República em março de 1990.
Logo depois de sua posse, Collor criou um plano de recuperação
da economia arquitetado pela ministra Zélia Cardoso de Mello. O Plano
Collor previa uma série de medidas que injetariam recursos na economia
com a alta de impostos, a abertura dos mercados nacionais e a criação de
uma nova moeda (Cruzeiro). Entre outras medidas, o Plano Collor
também exigiu o confisco das poupanças, com valores superiores a 50
mil cruzeiros, durante um prazo de dezoito meses. (SOUZA,
www.brasilescola.com).
A recepção negativa do Plano Collor pelos setores médios e pelos pequenos
investidores seria apenas o começo de uma série de polêmicas que afundariam o
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governo. Além de não alcançar as metas previstas no plano econômico, Collor ainda
se envolveria em um enorme escândalo de corrupção. Seu próprio irmão, Pedro
Collor, o denunciou por práticas corruptas. Conhecido como Esquema PC, as
denúncias foram publicadas nos mesmos órgãos da imprensa que tinham dado apoio
à candidatura de Collor.
Uma crise política e econômica fez com que Collor fosse alvo de uma CPI
(Comissão Parlamentar de Inquérito) que conseguiu provar as irregularidades a ele
atribuídas. Além disso, Collor ainda foi pressionado por uma imensa campanha
estudantil que exigia o fim de seu mandato. Com seus rostos pintados de verde,
amarelo e preto, estudantes de diferentes cidades do país se mobilizaram no
movimento conhecido como “Caras Pintadas”.
Com o avanço das investigações e com as declarações favoráveis
ao afastamento do presidente - como as do então presidente do PT Luiz
Inácio Lula da Silva - sendo amplamente cobertas pela mídia, parcela de
jovens da classe média se mobilizou. A juventude começou a tomar as
ruas em agosto. A primeira manifestação aconteceu no dia 11, em uma
passeata marcada em frente ao Masp (Museu de Arte de São Paulo) que
reuniu cerca de 10 mil pessoas. (PREITE SOBRINHO, Folha Online,
2008).
Em setembro de 1992, o Congresso Nacional votou a favor do impeachment
de Collor, após uma seqüência de escândalos, descobertos pela mídia. O vice-
presidente, Itamar Franco, assumiu a Presidência da República.
Assistido pelo Ministro da Fazenda da época, Fernando Henrique Cardoso,
Itamar Franco implementou o Plano Real, pacote econômico que incluía uma nova
moeda indexada temporariamente ao dólar, o real. Nas eleições realizadas no dia três
de outubro de 1994, Fernando Henrique Cardoso tomou posse da Presidência, sendo
reeleito em 1998.
O Segundo tucanato desponta a anos-luz das nossas visões de
mudança apoiadas na fatalidade da modernização. Quem está à sua
frente vive agora o novo lance da fortuna: da que exige mais que a
conciliação e o administrador a inércia dos processos econômicos e
políticos. Reclama-se do Presidente o que lhe compete, não por sorte e
paciência, mas por engenho, e do seu tempo como desígnio. Não se lhe
permite mais o uso do poder como desfrute só do que pode um bom
governo, ou da sabedoria de tentar pouco e saber fazê-lo. É na vertente
do desassossego, e da prudência de quem recomeça, que lhe espera a
social-democracia, e o país possível. (MENDES, 1999, p.104).
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Quatro anos após a reeleição de FHC, Luiz Inácio Lula da Silva é eleito, pela
primeira vez, presidente do Brasil.
1.2.O sistema político brasileiro
Como se vê, no decorrer dos séculos, foi-se escrevendo a maneira de fazer
política no Brasil. Atualmente o voto é obrigatório a todas as pessoas que tenham
entre 18 e 70 anos de idade e as eleições acontecem há cada quatro anos, sendo este
período intercalado entre eleições presidenciais e eleições municipais.
O Brasil é uma república federativa presidencialista. República, porque o
Chefe de Estado é eletivo e temporário; federativa, pois os Estados são dotados de
autonomia política; presidencialista, porque ambas as funções de Chefe de Governo e
Chefe de Estado são exercidas pelo presidente.
Como vimos no liberalismo, o Poder de Estado é dividido entre órgãos
políticos distintos. A teoria dos três poderes foi desenvolvida por Charles de
Montesquieu em seu livro “O Espírito das Leis” (1748). Baseado na afirmação de
que “só o poder freia o poder”, o mesmo afirmava que para não haver abusos, era
necessário, por meios legais, dividir o Poder de Estado em Executivo, Legislativo e
Judiciário. No Brasil, esses são exercidos respectivamente, pelo Presidente da
República, Congresso Nacional e pelo Supremo Tribunal Federal (STF).
O Executivo possui a função de efetivar as leis. O presidente pode votar ou
sancionar leis criadas pelo Legislativo, editar medidas provisórias etc. O Legislativo
é responsável por idealizar as leis e julgar as propostas do presidente. O parlamento
brasileiro é bicameral, ou seja, é composto por duas “casas”: a Câmara dos
Deputados e o Senado. Qualquer projeto de lei deve primeiramente passar pela
Câmara e depois, se aprovado, pelo Senado. O Poder Judiciário deve interpretar as
leis e fiscalizar o seu cumprimento. O mesmo é composto por 11 juízes, escolhidos
pelo presidente e aprovados pelo Senado.
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Capítulo II
Partidos Brasileiros
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Figura 2: (Fonte: http://joaoarruda.com.br/ja/?m=20090926, 2009)
2. Os partidos políticos brasileiros
Pode-se afirmar que a estruturação dos partidos políticos é um fenômeno
recente no Brasil, cujas características das agremiações contemporâneas eram
inexistentes no século passado. “Partido (do latim pars = parte) tem o significado de
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unidade de uma parte do povo em torno de determinados princípios, anseios e
aspirações”. (GUIMARÃES, 1982, p.29).
É com a democratização dos sistemas representativos e o aumento
do número de eleitores que vão surgir os partidos contemporâneos. Estes
dois fenômenos conduzem, num primeiro passo, à criação de comitês
eleitorais aglutinadores das diversas tendências para, finalmente, chegar
à organização como partido. (GUIMARÃES, 1982, p.29).
A partir da crescente complexidade das sociedades modernas, os partidos
políticos se tornam necessários para dar consistência às lutas e aspirações populares,
representando o povo perante o estado.
A institucionalização política do Brasil começa praticamente após a
Constituição de 1824, imposta pelo Imperador D. Pedro I incorporando parte dos
princípios do projeto surgido na Assembléia Constituinte.
Assim, o Brasil começa a caminhar em direção a uma política adequada às
aspirações populares. Após a abdicação de D. Pedro I ao trono, surgem os primeiros
partidos políticos: restaurador, republicano e liberal.
2.1.Partidos no império
Passada a fase da independência, quando a facção dos exaltados, expressão
dos sentimentos nacionalistas, digladiou-se com a dos caramurus, que representavam
os interesses lusitanos ainda fortemente presentes, é somente após a queda do
imperador D.Pedro I, afastado pelo Golpe de sete de Abril de 1831, que os partidos
políticos assumem uma função institucional. Formaram-se as duas agremiações que
caracterizaram o Segundo Reinado, a dos Conservadores (saquaremas) e a dos
Liberais (luzias).
A oposição entre elas devia-se basicamente a visão que cada um tinha do
poder monárquico. Os conservadores propunham sempre um regime forte, com
autoridade concentrada no trono e pouca liberdade cedida às províncias. Os liberais,
por sua vez, inclinavam-se pelo fortalecimento do parlamento e pela maior
autonomia provincial. No que toca ao regime escravista, ambos eram pela sua
manutenção, distinguindo-se os liberais por entenderem a sua supressão conduzida
por um processo gradual que lavaria a abolição.
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O voto era rarefeito, hierárquico, baseado em critério censitário (Lei Saraiva,
1881), em eleições realizadas em dois turnos, com as assembléias paroquiais
escolhendo os eleitores das províncias e estes escolhendo os representantes da nação
e das províncias. O escasso conflito ideológico devia-se tanto a conservadores como
a liberais, pois pertenciam a mesma classe social, a dos proprietários, de bens e de
escravos. Havia, porém, maior simpatia pelos liberais entre os comerciantes, os
jornalistas, e a população urbana em geral. Esta desatenção pelas idéias, e pelas
paixões ideológicas em geral, é que de certo modo, explica que o primeiro programa
partidário só tenha sido redigido em 1864 (pelo efêmero Partido Progressista).
Atribui-se, igualmente, à Política da Conciliação implantada pelo Marques do
Paraná (de 1853-1868), como sendo a grande responsável pelo desinteresse dos
súditos habilitados no processo eleitoral. Visando evitar perigosas rachaduras entre
as classes proprietárias (como se deu com a revolta Praieira, de 1848), adotou-se a
estratégia do gabinete misto (conservador-liberal) para estabilizar o Segundo
Reinado.
A experiência imperial serviu para evidenciar que as questões
magnas do processo eleitoral consistem em: a) alistamento; b) processo
de votação e apuração; e, c) qualidade do juiz incumbido de presidir a
todo o processo. Essas questões somente viriam a encontrar solução
satisfatória muito recentemente, com a criação da Justiça Eleitoral e a
moralização do alistamento e da votação, no último caso em resultado,
sobretudo de cédula única. (GUIMARÃES, 1982, p. 55)
Começava dessa maneira, no período liberal, o sistema partidário que
predomina até os dias atuais.
2.2.Partidos na República Velha
Assinado por Quintino Bocaiúva, o Manifesto Republicano em Itú, São
Paulo, em três de dezembro de 1870, logo engendrou a fundação de um partido
republicano. Novamente a cidade de Itú serviu de palco para a realização da primeira
convenção republicana, a que criou o PRP (Partido Republicano Paulista). O local do
encontro foi o sobrado dos Almeida Prado, família ligada à cafeicultura, ocasião em
que João Tibiriça obteve a aprovação do programa republicano.
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Entretanto, o novo regime implantado a partir da Proclamação da República,
em 15 de novembro de 1889, devido a sua imposição militar, contou com escassa
presença de republicanos autênticos. A república foi obra de generais, não de
políticos civis. Mesmo assim, obedecendo ao espírito federativo tão reclamado,
surgiram partidos regionais (Partido Republicano Paulista, Partido Republicano
Mineiro, e assim por diante) que gradativamente desativaram as tentativas de
formação de agremiações nacionais (os Partidos Republicanos Federais/ Liberais e
Conservadores, que tinham ambição de agregar forças políticas no país inteiro, não
foram adiante).
O entendimento da maioria dos republicanos era o de que a
República correspondia ao governo de todo o povo. As divergências
tenderiam a acomodar-se dentro deste principio maior. Assis, a
Constituição de 91 limitou-se a assegurar à minoria o direito de fazer-se
representar. Esse principio não foi, entretanto objeto de regulamentação.
(GUIMARÃES, 1982, p.61).
Com a ascensão do coronelismo e suas práticas, as eleições passaram a
refletir o poder do caciquismo, sendo que a maioria delas resultava de manipulações
ou de arranjos prévios feitos entre os chefes políticos de cada estado. Como eram os
funcionários do governo que controlavam os procedimentos eleitorais e faziam a
contagem dos votos, em cada estado brasileiro uma máquina político-eleitoral -
composta pelo coronel, pelo cabo-eleitoral e pelo curral eleitoral - foi montada com a
função básica de garantir resultados satisfatórios ao grupo governante.
Esta prática feria o princípio básico do sistema republicano que se assenta no
princípio da rotatividade dos cargos e das funções, visto que as oposições estavam
impedidas, pelo processo eleitoral legal, de substituírem o grupo dominante. Daí
explodir a violência política (caso do Movimento Tenentista, de 1922-27, da
Revolução de 1923 no Rio Grande do Sul, ou o da Revolta da Princesa na Paraíba,
em 1928).
2.3.Partidos ideológicos
Aberto às paixões do século, o Brasil também acolheu as ideologias
extremistas antípodas que afloraram depois da Primeira Guerra Mundial, o
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comunismo e o fascismo. Em 1922, foi fundado o Partido Comunista Brasileiro
(PCB), vinculado à 3ª Internacional Comunista, com sede em Moscou e, em larga
parte, liderado por Luís Carlos Prestes. Dez anos depois, em 1932, foi a vez da
fundação da Ação Integralista Brasileira (ABI), inspirada no Movimento Fascista
italiano e no Movimento da Falange espanhola, comandada pelo chefe Plínio
Salgado.
Ambos os partidos, em momentos diferentes, tentaram depor o regime de
Getúlio Vargas por meio de um golpe. O PCB foi o principal articulador da frente
que se apoiou na ANL (Aliança Nacional Libertadora) e responsável pela fracassada
Intentona Comunista, de 27 de novembro de 1935, enquanto a Ação Integralista se
preocupou com o Palácio da Guanabara, em 12 de maio de 1938, para derrubar o
governo do Estado Novo que os excluíra do poder.
Colocados na ilegalidade pelo decreto de Dois de dezembro de 1937, somente
retornaram à vida política ao final da Segunda Guerra Mundial. O PCB ainda teve
uma pálida atuação no Governo Goulart (1961-64), e os ex-integralistas, acobertados
pela sigla do PRP (Partido da Representação Popular), fizeram sua última aparição
na ditadura do Presidente Médici (1969-1973).
2.4.Os partidos da república redemocratizada: 1945- 1965
Totalmente proibidos durante o Estado Novo (1937-1945), os partido
políticos somente foram novamente legalizados em 1945. É certo dizer que a vida
política brasileira entre 1945 e 1964 foi polarizada entre os partidos getulistas (PSD e
PTB) e o principal partido anti-getulista (a UDN). Por conseguinte, mesmo depois da
morte de Vargas, em 24 de agosto de 1954, a sua personalidade continuou pairando
sobre a sociedade brasileira por mais dez anos.
O PSD (Partido Social-Democrático) era fruto da composição entre velhas
oligarquias rurais e novas forças urbanas emergentes nos anos 30 e 40, sobretudo as
ligadas à máquina do Estado. Abrigou a face conservadora do getulismo, formada
por lideranças rurais e por altos funcionários estatais, enquanto que o PTB (Partido
Trabalhista Brasileiro), inspirado no Labor Party da Grã-Bretanha, agregava as
lideranças sindicais e os operários fabris em geral. O partido rival, a UDN (União
Democrática Nacional), liberal e antipopulista, congregava a burguesia e a classe
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média urbana, favorável ao capital estrangeiro e à iniciativa privada. Coube à UDN o
papel de ser a principal promotora das impugnações das vitórias eleitorais da
coligação PSD-PTB (1950, 1955), bem como a maior instigadora das tentativas de
golpes militares que se sucederam até a vitória em 1964.
A UDN em pouco tempo consolidou-se como partido de direita, sempre com
boa votação, elegendo congressistas, prefeitos e governadores, tendo dificuldades, no
entanto, nas campanhas à Presidência da República. “A única vez em que a UDN
saiu vitoriosa de um pleito presidencial foi em 1960, quando foi eleito Jânio
Quadros”. (RIDENTI, 1992, p. 61).
Acontece que Jânio era um líder populista, pouco fiel a
orientações partidárias, preferindo o contato direto e autoritário com as
massas que supostamente representava, e logo se desentendeu com a
cúpula dirigente da UDN, que lhe retirou o apoio parlamentar.
(RIDENTI, 1992, p. 61).
Jânio Quadros acabou renunciando e o vice-presidente, João Goulart, eleito
pela coligação PSD-PTB, tomou posse em seu lugar.
Até 1964, diversos partidos atuaram legalmente, como o Partido Democrata
Cristão (PDC), Partido Social Progressista (PSP), Partido Comunista do Brasil
(PCB), entre outros.
Com o golpe militar em 1964 foram preservados os partidos existentes,
tratando-se apenas de cassar os mandatos dos políticos considerados esquerdistas.
“Foram cassados mais de 50 deputados federais, cuja maioria vinha da ala esquerda
do PTB e de outros partidos menores” (RIDENTI, 1992, p. 65). Dessa forma:
O grosso da repressão golpista recaiu sobre os trabalhadores, que
esboçavam organizar-se com independência do jogo político das elites
que comandavam o país: em 1964 e 1965, mais de trezentos sindicatos
tiveram suas diretorias destituídas pelo governo, confederações de
empregados sofreram intervenção, conquistas trabalhistas foram
revogadas, o direito de greve foi praticamente extinto, sem contar as
inúmeras prisões e processos contra trabalhadores acusados de subversão
da ordem. (RIDENTI, 1992, p. 65).
Como veremos adiante, entre os trabalhadores presos nessa época, estava o
atual Presidente, Luiz Inácio Lula da Silva, acusado de incitação a desordem coletiva
por defender os direitos dos trabalhadores do ABC paulista.
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2.5. O bipartidarismo no regime militar
O governo mostrava que lhe era indispensável um Congresso Nacional em
que a maioria fosse aliada, visando manter a ordem e o desenvolvimento. A partir de
1965, com o Ato I-2, o regime militar somente permitiu a existência de duas
associações políticas nacionais, nenhuma delas podendo usar a palavra “partido”.
Criou-se então a ARENA (Aliança Renovadora Nacional), base de sustentação civil
do regime militar, formada majoritariamente pela UDN e egressos do PSD, e o MDB
(Movimento Democrático Brasileiro), com a função de fazer uma oposição bem-
comportada que fosse tolerável ao regime.
Da mesma forma que na República Velha recorria-se à Comissão de
Verificação dos Poderes do Congresso para afastar opositores inconvenientes, o
regime militar adotou o sistema de cassações de mandatos para livrar-se dos seus
adversários (foram 4.682 os que perderam seus direitos políticos). Juntaram-se na
ARENA lideranças conservadoras e fascistas, enquanto os liberais e os escassos
trabalhistas sobreviventes dos expurgos entraram para o MDB: situação de
congelamento que se prolongou por quase vinte anos.
Apesar da artificialidade inicial, o bipartidarismo consolidou-se,
continuou vigente por catorze anos, enquanto foi funcional para o
regime. Não obstante a insubordinação e a ruptura com o governo de
alguns líderes dos antigos partidos que haviam apoiado o golpe de 1964,
uma ampla maioria dos políticos da época conformou-se ao novo papel a
que fora relegada. (RIDENTI, 1992, p. 71).
Como se vê, o sistema bipartidário durou aproximadamente 20 anos.
Atualmente o Brasil tem cerca de 30 partidos, além dos que aguardam legalização.
2.6. O multipartidarismo da Nova República
A camisa-de-força em que a vida política brasileira foi contida na época do
regime militar, rompeu-se gradativamente a partir da vitória eleitoral da oposição em
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1974, forçando a política da “abertura lenta e gradual”, adotada pelo general-
presidente Ernesto Geisel, que passou obrigatoriamente pela retomada da liberdade
de organização partidária. A Campanha das Diretas-Já, de 1984, foi o último
momento em que houve um congraçamento geral das forças de oposição, fazendo
com que a partir dali cada agremiação buscasse seu rumo próprio.
No lugar da extinta ARENA, surgiram o PFL (Partido da Frente Liberal) e
PPB (Partido Popular Brasileiro), e de dentro do MDB emergiram o PMDB (Partido
do Movimento Democrático Brasileiro) o PSDB (Partido Social-Democrático
Brasileiro), o PTB (Partido Trabalhista Brasileiro), o PDT (Partido Democrático
Trabalhista), e o PT (Partido dos Trabalhadores), que ora elegeu o Presidente da
República. Numa típica reação ao sufocamento da vida partidária anterior, a nova lei
partidária entendeu dar direito de expressão partidária (o que não se revela em ganho
eleitoral), a todo e qualquer tipo de proposta que cumprisse com os quesitos mínimos
necessários à formação de um partido político. O resultado é que com a proliferação
dos partidos, ditos “nanicos”, ocorreu uma “poluição” do processo político,
afirmando os críticos desse multipartidarismo excessivo que a própria
governabilidade fica fragilizada pela existência de tantos partidos, havendo hoje no
Congresso cerca de 30 representações políticas legais.
De outro lado, os defensores da mais ampla e livre organização partidária
indicam que a complexidade e as desigualdades do Brasil ficam mais bem expostas
na multiplicidade e não na uniformidade partidária. Mesmo reconhecendo a
existência de apenas quatro ou cinco grandes correntes ideológicas (de esquerda, do
centro-esquerda, do centro-direita e da direita), que forma a totalidade do espectro
político nacional, entende-se que é melhor para o país manter o atual sistema de
representação do que tentar limitá-lo. Assim sacrifica-se a governabilidade em nome
da diversidade da representação.
2.7. Atual formação partidária brasileira
Oficialmente, os partidos políticos já existem no Brasil há mais de 160 anos.
Nenhum deles, porém, dos bem mais de 200 que surgiram nesse tempo todo, durou
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muito. Não existem partidos centenários no país, como é comum, por exemplo, nos
Estados Unidos, onde democratas (desde 1790) e republicanos (desde 1837)
alternam-se no poder. E o motivo disso, dessa precariedade partidária, da falta de
enraizamento histórico dos programas nas camadas sociais é a inconstância da vida
política brasileira.
Apesar da existência de tantos partidos, segundo Ridenti (1992, p.84), “a
sociedade brasileira tem sido considerada pelos analistas como despolitizada”.
Assim:
Seus cidadãos seriam na maioria desinteressados politicamente,
cada um tratando de cuidar de seus interesses particulares, deixando as
decisões políticas nas mãos de técnicos e políticos profissionais do
governo. O senso comum identifica a política com decisões
governamentais que vem prontas de cima para baixo, devendo ser
cumpridas independentemente de nossas vontades individuais.
(RIDENTI, 1992, p.84).
Atualmente 27 partidos compõem o cenário político brasileiro, sem contar os
que estão em processo de legalização e as agremiações sem registro. São eles:
PMDB, PTB, PDT, DEM, PC DO B, PSB, PSDB, PTC, PSC, PMN, PRP, PPS, PV,
PT DO B, PRTB, PP, PSTU, PCB, PHS, PSDC, PCO, PTN, PSL, PRB, PSOL, PR e
o PT, o Partido de Lula.
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Capítulo III
Identidade
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Figura 3:
(Fonte: http://images.google.com.br/indio, 2009)
3. A identidade brasileira
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A identidade é um conjunto de hábitos e costumes aceitos por um
determinado grupo. Dessa forma, ela pode ser vista a partir de uma comunidade local
ou mesmo a nível nacional.
Tentar definir a identidade dos brasileiros tem se mostrado uma difícil tarefa.
O que se consegue é mostrar a identidade através de uma linha ideológica, pois os
estudiosos seguem os próprios interesses pessoais ou grupais.
Até determinado ponto, a identidade está vinculada àquilo que é popular, que
é do gosto das pessoas. Antes da ascensão dos meios de comunicação esse processo
era mais difícil de acontecer, porém o século XX ficou marcado por grandes avanços
na área. A televisão, por exemplo, deixa de ser objeto de uma pequena parcela da
sociedade. Consequentemente os movimentos culturais se popularizaram e se
expandiram.
Dessa maneira, as distancias entre os Estados brasileiros tornaram-se curtas.
Os meios de comunicação conseguem propiciar certa homogeneidade na maneira de
ser das pessoas. A forma de vestir e falar, tudo sofre as influências da globalização.
Mas antes de tudo, faz-se necessário a análise de como é constituída a
geografia demográfica no Brasil.
3.1.As raízes culturais do povo brasileiro
O índio, o branco e o negro formam os pilares culturais do Brasil. Em
primeiro lugar estão os índios, pois eles já habitavam o país antes dos colonizadores
portugueses chegarem. Em seguida, vem a influencia marcante dos portugueses. Por
fim, tem-se a incisão dos negros africanos, trazidos para o Brasil com a finalidade de
serem utilizados como mão-de-obra escrava. Assim, “surgimos da confluência, do
entrechoque e do caldeamento do invasor português com índios silvícolas e
campineiros e com negros africanos” (RIBEIRO, 1995, p.19)
A formação do povo brasileiro se deu por um processo gradativo, com várias
miscigenações. Num primeiro estágio, a mestiçagem surgiu a partir do cruzamento
de culturas diferentes, como aconteceu entre a cultura portuguesa com a dos
indígenas, e posteriormente com a dos negros, gerando assim uma gama de mestiços.
Dessa forma, um novo povo surge.
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Novo porque surge como uma etnia nacional, diferenciada
culturalmente de suas matrizes formadoras, fortemente mestiçada,
dinamizada por uma cultura sincrética e singularizada pela redefinição
de traços culturais delas oriundos. Também novo porque se vê a si
mesmo e é visto como uma gente nova, um novo gênero humano
diferente de quantos existam. Povo novo, ainda, porque é um modelo de
estruturação societária, q eu inaugura uma forma singular de
organização sócio-economica, fundada num tipo renovado de escravismo
e numa servidão continuada no mercado nacional (RIBEIRO, 1995,
p.19).
Segundo Ribeiro (1995, p.20), os primeiros brasileiros, apesar de
extremamente ligados às suas raízes, ainda conseguiam ter uma vida que
diferenciava da vida dos portugueses de Portugal. Apesar das inúmeras formas de
agressão contra a cultura indígena, durante todo o período de colonização, e até
mesmo nos dias atuais, ainda há tribos indígenas que preservam suas origens. Mas de
uma maneira geral, a cultura indígena foi quase que toda subjugada pela luta dos
lusitanos.
Ainda na formação dos brasileiros podem-se identificar três pontos de
fundamental influência: o primeiro deles é o ecológico, que foi o responsável por
realizar uma adaptação regional; o segundo é o econômico, responsável por criar
formas diferentes de produção; e o terceiro é o processo imigratório.
Conseguiu-se no Brasil criar uma identidade cultural capaz de distinguir esse
povo de outros. Porém, há de se levar em consideração as controvérsias a respeito
dessa identificação e ao mesmo tempo dessa unidade cultural dos brasileiros.
Subjacente à uniformidade cultural brasileira, esconde-se uma
profunda distância social, gerada pelo tipo de estratificação que o próprio
processo de formação nacional produziu. O antagonismo classista que
corresponde a toda a estratificação social aqui exacerba para opor uma
estreitíssima camada privilegiada ao grosso da população, fazendo as
distâncias sociais ainda mais intransponíveis que as diferenças raciais
(RIBEIRO, 1995, p.23).
É esse tipo de organização sócio-econômica que foi o principal elemento de
distanciamento entre as pessoas que vivem no Brasil. Apesar de toda a unidade,
ainda assim há separações distintas. A desigualdade social no Brasil ainda é muito
grande nos dias atuais. Para Ribeiro (1995, p.24), o povo, em muitas ocasiões não
percebe os abismos sociais que os cercam e os separam de uma pequena parcela da
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sociedade que detém a maior parte das riquezas do país e se orgulha de suas origens,
chegando mesmo a esquecer as injustiças que lhes são impostas.
A síntese que se pode chegar é de que até na nobreza o Brasil é
um país de muitas faces, onde tudo parece se misturar e confundir numa
babel só. No entanto, há a permanência tácita das diferenças que são
sustentadas por violências estruturais capazes de combinar, no
inconciliável desfile carnavalesco, mendigos vestidos de reis (RIBEIRO,
1994, p.47).
A formação cultural brasileira se deu a partir de inúmeras lutas entre os
colonizadores e os nativos, mais tarde com os negros. Porém, os lusitanos sempre
tiveram vantagens sobre as outras duas raças. “Nessas lutas, índios foram dizimados
e negros foram chacinados aos milhões, sempre vencidos e integrados nos plantéis de
escravos” (RIBEIRO, 1995, P.25).
3.1.1.O índio e sua forma simples de viver
Quando os colonizadores chegaram à costa atlântica da América do Sul,
encontraram um povo parecido com o que vivia na Índia. Por isso a denominação de
índios. Porém, logo os recém-chegados ao novo continente perceberam que o povo
encontrado aqui não era indiano, mesmo assim o nome continuou.
Os nativos se dividiam em troncos lingüísticos, mas no Brasil, na época do
descobrimento, a maioria dos indígenas pertencia ao tronco lingüístico tupi. Ribeiro,
descreve os índios como um povo que estava num processo de evolução em suas
atividades agrícolas. Os nativos conseguiam, ainda no século XV, mostrar avanços
no setor. Um exemplo disso são as técnicas especificas que utilizavam para
transformar a mandioca, uma planta venenosa, em alimento.
Além da mandioca cultivavam o milho, a batata-doce, o cará, o
feijão, o amendoim, o tabaco, a abóbora, o urucu, o algodão, o carauá,
cuias e cabaças, as pimentas, o abacaxi, o mamão, a erva-mate, o
guaraná, entre muitas outras plantas. Inclusive dezenas de árvores
frutíferas, como o caju, o pequi etc. (RIBEIRO, 1995, p. 32).
Os índios não foram capazes de resistir ao longo dos séculos à invasão
portuguesa em suas terras. Eles provinham dos tupis, no entanto não mantinham uma
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unidade política perfeita, ou seja não conseguiam se organizar de modo mais amplo.
Assim, as aldeias estavam em constante luta umas com as outras. Outro ponto crucial
a favor dos lusitanos foi a baixa imunidade fisiológica dos índios. Enquanto os
portugueses já possuíam uma série de microorganismos que faziam parte de sua
composição genética, os indígenas mostravam-se em desvantagem nesse sentido.
As vistorias européias se deveram principalmente à condição
evolutiva mais alta das incipientes comunidades neobrasileiras, que lhes
permitia aglutinar em uma única entidade política servida por uma
cultura letrada e ativada por uma religião missionária, que influenciou
poderosamente as comunidades indígenas (RIBEIRO, 1995, p.49).
Devido ao confronto entre brancos e índios, o povo e a cultura indígena foram
pouco a pouco sumindo do cenário brasileiro. Nos dias atuais, a Fundação Nacional
do Índio (Funai), calcula que existam no Brasil apenas 400 mil índios, número
insignificante comparado com o total de quando os portugueses chegaram às terras
brasileiras.
A forma de se organizar dos índios, os rituais religiosos, o respeito pelos mais
velhos da tribo, o uso das ervas medicinais, tudo era novidade para o homem branco.
Assim que os europeus pisaram em solo brasileiro, se depararam com um
povo que sobrevivia da agricultura, e que mantinham uma relação de respeito com a
natureza. Seus objetos e utensílios, como facas, arcos, canoas, entre outros, eram
confeccionados a partir de matéria-prima encontrada nas proximidades de suas
aldeias.
Ao contrário foi a atitude dos portugueses, que vinham com a intenção de
explorar as riquezas contidas no solo brasileiro. Dessa forma, poderia se perguntar o
motivo que fez com que os índios, mesmo em maior número e tendo um apreço todo
especial pela natureza, deixarem os colonizadores devastarem suas terras. O que
aconteceu é que quando os brancos chegaram ao Brasil, procuraram domesticar os
indígenas.
Os índios perceberam a chegada do europeu como um
acontecimento espantoso, só assimilável em uma visão mítica do mundo.
Seriam gente de seu deus sol, o criador – Maíra – que vinha
milagrosamente sobre as ondas do mar grosso. Não havia como
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interpretar seus desígnios, tanto podiam ser ferozes como pacíficos,
espoliadores e doadores (RIBEIRO, 1995, p.42).
Segundo Ribeiro (1995, p.44), quando os brancos chegaram, os índios se
mostraram curiosos com aquele povo diferente que vinha do mar.
Na tentativa de conquistar os índios, o homem branco atraia sua atenção com
uma variedade de objetos, como favas, miçangas, entre outros. Com o tempo, esses
atrativos passaram a fazer parte da vida dos índios, tornaram-se parte do cotidiano
deles. Quando uma aldeia conseguia um desses objetos, a aldeia vizinha fazia até
mesmo guerra para conseguir tomá-lo.
Os europeus notaram que os índios eram pessoas boas. Não viam maldade,
andavam nus, eram gratos pelos frutos que a natureza lhes proporcionava. Mas os
recém-chegados provinham de uma cultura sofrida, ambiciosa, e viam nos nativos
um sério defeito: eram preguiçosos. Na verdade, o índio não era preguiçoso, mas
tinha uma forma de viver diferente dos colonizadores. Os indígenas não tinham
preocupações em acumular riquezas, viviam em comunidades onde repartiam tudo
em comum.
Aos olhos dos recém-chegados, aquela indiada louca, de encher
os olhos só pelo prazer devê-los, aos homens e às mulheres, com seus
corpos em flor,tinham um defeito capital: eram vadios, vivendo uma vida
inútil e sem prestança. Que é que produziam? Nada. Que é que
amealhavam? Nada. Viviam suas fúteis vidas fartas, como se neste
mundo só lhes coubesse viver (RIBEIRO, 1995, p.45).
Enquanto os nativos faziam da vida uma tranqüila fruição da existência, os
recém-chegados se mostravam afoitos e angustiados. Para os portugueses a vida era
uma sofrida obrigação. Apesar da incompreensão dos brancos, os índios tinham seus
trabalhos, mas não de maneira acentuada como acontecia entre os europeus. O
trabalho na tribo era dividido de acordo com o sexo e a idade.
As mulheres se encarregavam da preparação da comida, as crianças do
plantio e da colheita, os trabalhos mais exigentes eram de responsabilidade dos
homens, eram eles que tinham o dever de caçar, pescar, guerrear e, se necessário,
fazer derrubadas de árvores para ampliar sua rudimentar agricultura.
Inicialmente, o processo de colonização manteve um relacionamento
amigável, contudo sempre num sentido de exploração sobre os nativos. Assim:
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A instituição social que possibilitou a formação do povo
brasileiro foi o cunhadismo, velho uso indígena de incorporar estranhos à
comunidade. Consistia em lhes dar uma moça índia como esposa. Assim
que ele a assumisse, estabelecia, automaticamente, mil laços que o
aparentavam com todos os membros do grupo (RIBIERO, 1995, p.81).
Apesar de tudo, a relação entre o branco e o índio nunca foi plenamente
harmônica. Muitos indígenas ficaram infelizes e se entregaram à morte enquanto
outros se refugiaram mata adentro. “Os índios jamais estabeleceram uma paz estável
com o invasor, exigindo dele um esforço continuado, ao longo de décadas, para
dominar cada região” (RIBEIRO, 1995, p.33).
3.1.2.O branco e sua influência no Brasil
Diversos povos, principalmente os de origem portuguesa, entraram no
território brasileiro nos dois séculos após 1500. Portugal foi a nação que mais
exerceu influencia no Brasil. A idéia inicial que levou os europeus a desbravarem
novos territórios foi a expansão marítima. Os portugueses não desembarcaram no
Brasil com o intuito de morar aqui. “A idéia de povoar não ocorre inicialmente a
nenhum. É o comércio que os interessa, e daí o relativo desprezo por este território
primitivo e vazio que é a América” (PRADO JÚNIOR, 1989, p.23).
Quando os portugueses desembarcaram no Brasil, se depararam com um povo
sadio, desprovido de doenças. Os brancos, ao contrário, eram em sua maioria
infectados. “A branquitude trazia da cárie dental à bexiga, à coqueluxe, à tuberculose
e ao sarampo. Desencadeia-se ali, desde a primeira hora, uma guerra biológica
implacável” (RIBEIRO, 1995, p. 47).
Além de Portugal, pessoas de outras nações também desembarcaram no
Brasil, nos primeiros anos de atividades européias no país. Isso porque o critério para
a entrada nas terras brasileiras era pouco rígido.
Nos dois primeiros séculos de colonização, a política do Reino
com relação a admissão de estrangeiros no Brasil fora bastante liberal. O
critério português na seleção de colonos era antes religioso que nacional;
a condição de cristão – embora cristão fosse só considerado o católico –
bastava; a nacionalidade considerava-se secundária. Acreditava-se mais
na unidade de crença que de sangue (PRADO JÚNIOR, 1989, p.86).
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Desde a chegada dos brancos ao Brasil, a Igreja Católica esteve sempre por
perto. No entanto, nem sempre de maneira positiva. Juntamente com os interesses
comerciais dos europeus, a Igreja Católica subjugou a cultura dos nativos. “Quase
todas as ordens religiosas aceitaram, sem resistência, o papel de amansadores de
índios para a incorporação na forma de trabalho ou nas expedições armadas da
colônia” (RIBEIRO, 1995, p.54).
Entretanto, após perceber a crueldade com que eram tratados os indígenas, os
jesuítas começaram a se arrepender do que faziam, e tentaram praticar algo
semelhante ao que seus companheiros de ordem faziam nas terras paraguaias, ou
seja, um projeto de reconstrução social dos índios. Contudo, os evangelizadores
jesuítas não conseguiram atingir suas metas.
Depois de algumas décadas, os jesuitas reconheceram que, além de não conseguirem salvar as almas dos índios pelo evidente fracasso da
conversão – o que, de resto não era grave, porque o despertar da fé é
tarefa de Deus, não do missionário – também não salvaram suas vidas.
Ao contrário. Era evidente o despovoamento de toda a costa e, vistos os
fatos agora, não se pode deixar de reconhecer, também, que os próprios
jesuitas foram um dos principais fatores de extermínio (RIBEIRO, 1995,
p.55).
Ribeiro (1995, p.55) aponta para uma influencia devastadora que os jesuitas
tiveram na cultura indígena. Com seu modo de evangelizar retiravam a identidade
natural que os nativos possuíam, sobrando-lhes somente a opção de se submeterem
ao domínio português.
3.1.3.O negro: sua virilidade e força em nossas raízes
Os negros formaram durante um longo período da história do Brasil, o
segundo grupo de pessoas escravizadas. Os primeiros foram os indígenas. Porém os
nativos não se adaptaram aos novos modos de vida trazidos pelos colonizadores.
Os índios não se preocupavam tanto com o trabalho quanto os europeus e
eram acostumados com a vida tranqüila nas aldeias.
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Foi a partir da década de 1570 que a coroa portuguesa passou a incentivar a
escravidão de negros africanos. Nesse período a coroa procurou impedir a escravidão
indígena ao elaborar leis que privilegiava os nativos. Já no século XVI, os
portugueses tinham conhecimento das habilidades dos negros. Fausto (200, p.51),
descreve que muitos escravos provinham de culturas em que trabalhos com ferro e a
criação de gado eram usuais.
Os africanos foram trazidos do chamado “continente negro” para
o Brasil em um fluxo de intensidade variável. Os cálculos sobre o
número de pessoas transportadas como escravos variam muito. Estima-se
que entre 1550 e 1855 entraram pelos portos brasileiros 4 milhões de
escravos, na sua grande maioria jovens do sexo masculino” (FAUSTO,
2000, P.51).
Os negros escravos, também se mostravam indignados com a situação a que
eram submetidos. Da mesma forma que os índios se rebelavam os africanos também
tentavam, porém quase sempre sem resultados satisfatórios. Muitas tentativas de fuga
terminavam com a morte ou condenações brutais para inibir novas tentativas de
rebelião. O diferencial estava no fato de que o índio conhecia as matas, tinha certo
domínio da língua falada na região. Os negros, ao contrário, eram trazidos de
localidades diferentes justamente para impossibilitar diálogos entre os escravos.
Admitidas as várias formas de resistência, não podemos deixar de
reconhecer que, pelo menos até as últimas décadas do século XIX, os
escravos africanos ou afro-brasileiros não tiveram condições de
desorganizar o trabalho compulsório. Bem ou mal, viram-se obrigados a
se adaptar a ele. Dentre os vários fatores que limitaram as possibilidades
de rebeldia coletiva, lembremos que, ao contrário dos índios, os negros
eram desenraizados de seu meio, separados arbitrariamente, lançados em
levas sucessivas em território estranho (FAUSTO, 2000, p.52).
Houve inúmeras tentativas de ensinar o índio a falar o idioma português, mas
o oposto aconteceu em relação ao negro. Os brancos não tinham a menor intenção de
lhes ensinar a língua. Alia-se a isso o fato de que em relação ao índio a Igreja
sempre se manteve contrária a escravidão, mas não aos negros. A ordem beneditina,
por exemplo, esteve entre os grandes proprietários de escravos negros.
A cultura negra teve grande influencia na formação do povo brasileiro.
Aprenderam sozinhos o idioma português e inovaram hábitos, que são sentidos em
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menor ou maior intensidade em vários pontos do territórios nacional. Dessa forma os
negros,
Acabaram conseguindo aportuguesar o Brasil, além de influenciar
de múltiplas maneiras as áreas culturais onde mais se concentraram, que
foram no nordeste açucareiro e as zonas de mineração do centro do país.
Hoje, aquelas populações guardam uma flagrante feição africana na cor
da pele, nos grossos lábios e nos narigões fornidos, bem como em
cadencias e ritmos e nos sentimentos especiais de cor e de gosto
(RIBEIRO, 1995, p.115).
A substituição do escravo índio pelo negro foi sentida no bolso daqueles que
necessitavam de mão-de-obra em suas terras, afinal, um escravo africano era cinco
vezes mais caro que o indígena.
No que se refere à entrada de escravos no Brasil, a média era de cinco
homens para uma mulher, contudo, notou-se entre os negros uma alta incidência de
mulheres negras. As negras eram roubadas da África e trazidas na maioria das vezes
para satisfazer os desejos sexuais dos senhores e capatazes. Algumas delas atingiam
um preço de compra extremamente alto. Dessa forma, “produziram quantidades de
mulatas, que viveram melhores destinos nas casas-grandes. Algumas se converteram
em mucamas e até incorporaram às famílias, como amas de leite” (RIBEIRO, 1995,
p.163).
O sistema escravagista começou a tomar novos rumos a partir da
formalização da independência do Brasil, feita no dia sete de setembro de 1822, às
margens do Riacho Ipiranga, por Dom Pedro I. Isso aconteceu porque para
conseguir, de fato, a independência, os brasileiros necessitaram fazer um acordo
econômico com a Inglaterra. Nesse acordo os ingleses pediram o fim do tráfico de
escravos para o Brasil. Contudo, o fim desse sistema não era tão simples, pois havia
muitas lavouras de café e cana-de-açúcar que dependiam da mão-de-obra escrava.
Em 1826, a Inglaterra arrancou do Brasil um tratado pelo qual,
três anos após sua ratificação, seria declarado ilegal o tráfico de escravos
para o Brasil, de qualquer província. A Inglaterra se reservou ainda o
direito de inspecionar, em alto-mar, navios suspeitos de comércio ilegal.
O acordo entrou em vigor em março de 1827, devendo, pois ter eficácia
a partir de março de 1830 (FAUSTO, 2000, p.192).
Mesmo assim, o Brasil continuava a tratar as exigências com calmaria. O
tráfico de escravos, considerado ilegal, ainda acontecia. Até meados do século XIX a
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marinha inglesa apreendeu vários navios que tentavam trazer mais escravos para o
Brasil.
Uma das primeiras ações que buscava o fim da escravidão no Brasil foi a
criação da Lei do Ventre Livre, em 28 de setembro de 1871. Essa lei declarava livres
os filhos que nascessem das escravas no Brasil. No entanto, as crianças que
nascessem depois da Lei do Ventre Livre, ficariam sob responsabilidade dos
senhores e de suas mães até a idade de oito anos. Com essas medidas, tinha-se a
intenção de erradicar a escravidão em alguns anos, uma vez que não era mais
permitida a compra de escravos africanos fora do Brasil. “Na prática, a lei de 1871
produziu escassos efeitos. Poucos meninos foram entregues ao poder público e os
donos de escravos continuaram a usar seus serviços” (FAUSTO, 2000, p.218).
Na tentativa de esclarecer o fim da escravidão, em 28 de setembro de 1885 foi
aprovada a Lei dos Sexagenários. Com isso, todos os escravos acima de 60 anos
deveriam ser libertados. Entretanto, essa lei também não conseguiu atingir seus
objetivos. Os escravos com mais de 60 anos não sabiam fazer outra coisa senão
trabalhar como escravos.
Durante toda a década de 1880 houve um forte movimento abolicionista que
pressionou os políticos brasileiros. Assim, deu-se inicio a constantes fugas em massa,
desorganizando o trabalho nas fazendas. Nessa época (1880) já haviam sido criados
centros de proteção no meio das matas que serviam para negros refugiados, eram os
quilombos.
Em decorrência das pressões que eram impostas, a única medida viável era
declarar o fim da escravidão no Brasil. Mesmo assim, havia uma parcela de
fazendeiros que não concordavam para a efetivação abolicionista.
Diante da oposição dos liberais, o presidente do conselho, o
conservador João Alfredo, decidiu propor a Abolição sem restrições. A
iniciativa foi aprovada por grande maioria parlamentar, sendo
sancionada em 13 de maio de 1888 pela Princesa Isabel, que se
encontrava na regência do trono (FAUSTO, 2000, p.220).
Com a abolição da escravatura outro problema surgiu: o destino dos ex-
escravos. Fausto (2000, p.200), afirma que isso variou de acordo com a região do
país. “No nordeste, transformaram-se, em regra, em dependentes dos grandes
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proprietários. O Maranhão representou uma exceção, pois aí os libertos abandonaram
as fazendas e se instalaram em terras desocupadas pelos posseiros”.
Houve também após a escravatura a vinda de vários negros ex-escravos para
São Paulo e Rio de Janeiro, ou ainda em outros centros urbanos. Em um novo estilo
de vida, distante do campo, eles foram obrigados a viverem nas periferias das cidades
e se sujeitarem ao trabalho mal remunerado.
Devido a entrada de inúmeros negros no território brasileiro, eles
conseguiram ao longo dos anos influenciar a cultura local. A culinária, a música, a
dança e a religião africana se estabeleceram também no Brasil. Na gastronomia, por
exemplo, com os restos dos porcos consumidos pela casa-grande, os negros criaram a
feijoada, prato consumido até os dias atuais.
Quando os africanos chegaram ao Brasil, foram proibidos de exercerem sua
religião. Mesmo assim, conseguiram burlar a ideologia dominante, e se faziam passar
por cristãos. Em seus cultos, veneravam as imagens de santos católicos, quando na
verdade a veneração era destinada à seus próprios deuses. Dessas iniciativas surgiu,
por exemplo, o candomblé, hoje com adeptos de várias etnias, porém, ainda
predominantemente composto por negros.
3.1.4.O processo imigratório
Houve no Brasil forte influência de imigrantes vindos com o sonho de
condições de vida melhor. Além disso, outro motivo que trouxe os imigrantes para o
Brasil foi a escassez de mão-de-obra, já que a escravatura tinha chegado ao fim.
A retomada dos esforços para atrair imigrantes ocorreu a partir de
1871, coincidindo com a aprovação da Lei do Ventre Livre. A atração
dos imigrantes se fez através de companhias particulares, sem fins
lucrativos, cujos recursos provinham do Estado. Em 1884, foi aprovada
uma lei que indica bem o sentido da política de mão-de-obra do governo
provincial. Criou-se um imposto anual por escravo empregado na
agricultura, a ser pago em dobro quando se tratasse de escravo destinado
a outras ocupações. A renda seria usada para custear os serviços de
imigração (FAUSTO, 2000, p.206).
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Outro motivo que justificou a imigração foi a intenção de clarear os
brasileiros. Em meados de século XIX o total de brancos era relativamente inferior
comparado com o dos negros pardos juntos.
Sabe-se, no entanto, que até o inicio do século XIX o maior contingente de
imigrantes era de origem portuguesa e africana. Porém, é necessário lembrar que
desde a chegada dos portugueses, houve também no Brasil a presença de outros
imigrantes, todavia, em números reduzidos, sem atingir proporções de destaque no
cenário político e econômico.
A entrada de imigrantes de outras nacionalidades aconteceu mesmo de fato,
com maior incidência, a partir da abolição da escravatura no Brasil, entre 1885 a
1888.
Ribeiro (1995 (b), p.241), afirma que o número de imigrantes incorporados à
população brasileira é estimado em cinco milhões, e que grande parte desse montante
entrou no país a partir do século XIX. Os portugueses estão no topo dos imigrantes
seguidos pelos italianos. A respeito do povo brasileiro,
É composto, principalmente, por 1,7 milhões de imigrantes
portugueses, que se vieram juntar aos povoados dos primeiros séculos,
tornados dominantes pela multiplicação operada através do caldeamento,
com índios e negros. Seguem-se os italianos, com 1,6 milhão; os
espanhóis, com 700 mil; os alemães, com mais de 250 mil; os japoneses,
com cerca de 230 mil e outros contingentes menores, principalmente
eslavos, introduzidos no Brasil, sobretudo entre 1886 e 1930 (RIBEIRO,
1995, p.241).
As maiores concentrações de imigrantes se encontram ao sul do Brasil. Nota-
se a criação de povoados com características européias dominantemente brancas.
Mesmo assim a influência estrangeira não conseguiu superar a ideologia cultural que
já estava fixada no Brasil.
Quando começou a chegar em maiores contingentes, a população
nacional já era tão maciça numericamente e tão definida do ponto de
vista étnico, que pode iniciar a absorção cultural e racial do imigrante
sem grandes alterações no conjunto (RIBEIRO, 1995, p.242).
O conhecimento que os imigrantes trouxeram para o Brasil foi de suma
importância para que se desenvolvessem novas técnicas nos setores agrícolas e
industriais da economia, bem como novos hábitos culturais introduzidos no
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sincretismo cultural que já existia devido à junção da cultura indígena a outras
advindas do continente europeu.
3.1.5.O processo de miscigenação
Atualmente é quase impossível a existência de um povo extremamente puro.
Em quase todos, Há indícios de miscigenação. No Brasil, desde a chegada dos
portugueses, houve um intenso processo de mestiçagem. Inicialmente isso aconteceu
entre os Brancos europeus com os indígenas, e algum tempo depois com negros e
brancos, indios e negros O mameluco, primeira grupo de mestiços no Brasil é
resultado das relações entre brancos e índios. Os mamelucos são considerados por
alguns autores como o primeiro povo realmente brasileiro consciente.
O primeiro povo brasileiro consciente de si foi, talvez, o
mameluco, esse Brasil índio mestiço na carne e no espírito, que não
podendo identificar-se com os que foram seus ancestrais americanos -
que ele desprezava-, e sendo objeto de mofa dos reinóis e dos luso-
nativos, via-se condenado á pretensão de ser o que não eram e nem
existia: o brasileiro (RIBEIRO, 1995 , p.128).
Outro grupo que se formou no Brasil foi o dos mulatos, resultados da junção
de brancos com negros. Os mulatos e os mamelucos foram os principais responsáveis
por propagar a língua portuguesa por todo o Brasil. A partir de vindas dos negros
para Brasil, com o passar dos anos, houve o encontro dos negros com índios,
caracterizando-se num novo tipo de mestiço, ou seja, o cafuzo, esse possui
geralmente cabelos lisos e grossos. É possível encontrar no Brasil inúmeros tipos de
miscigenação, principalmente se levar em consideração a quantidade de povos
estrangeiros que entraram no território brasileiro durante os últimos séculos.
3.1.6.O processo migratório do nordestino para o Sudeste
A partir dos anos 90, principalmente, observa-se no Brasil uma tendência de
redirecionamento dos fluxos migratórios em função de novos pólos de atração e do
crescimento de atividades econômicas nas cidades de grande e médio porte e no
interior do país.
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Segundo Ângelo Tiago de Miranda, “há décadas prevalece no território
brasileiro o deslocamento populacional do Nordeste para o Sudeste, sendo que esse
fluxo migratório se dirige principalmente para o Estado de São Paulo”. (educacao.
uol.com. br/geografia/migracoes.jhtm).
De acordo com os números da Pnad (Pesquisa Nacional por Amostras de
Domicílios) de 2006, realizada pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística), 40% da população brasileira não vive no município onde nasceu. Além
disso, 16% da população não é natural do estado em que reside.
A região com mais migrantes é o Centro-Oeste, onde 35,8% da população é
proveniente de outros estados. A região Nordeste é a que apresenta menor número de
migrantes, com 7,6% da população originária de outras unidades da federação.
De acordo com os dados do IBGE, os deslocamentos populacionais no Brasil,
no período de 1995 a 2000, totalizaram mais de cinco milhões e 100 mil pessoas.
Cerca de 70% desse total é composto por deslocamentos ocorridos entre as
regiões brasileiras (migração inter-regional) e 35% no interior destas regiões
(migração intra-regional).
Luiz Inácio Lula da Silve faz parte desta população brasileira, que migrou do
agreste de Pernambuco, ainda criança, juntamente com a mãe e os irmãos, para se
fixar na região centro-oeste do país, em busca de melhores condições de vida.
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Capítulo IV
Lula
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Figura 4: (Fonte: http://softwarelivre.org/articles/0008/4184/lula.jpg, 2009)
4. Lula: A opção mais que o voto
A história de Lula virou até filme. “Lula, o filho do Brasil” será lançado
em 2010, em todos os paises da América do Sul. Custará R$ 16 milhões e é a
maior produção do cinema nacional. Adaptado do livro biográfico escrito por
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Denise Paraná e editado pela Fundação Perseu Abramo, em 2003, o filme dirigido
por Fábio Barreto, narra a história do menino pobre, nascido no nordeste e que
migrou para a região sudeste juntamente com sua família em busca de melhores
condições de vida e acabou se tornando líder sindicalista, perseguido pela ditadura
militar, ajudou a fundar o Partido dos Trabalhadores (PT) e se tornou o presidente
mais popular que o Brasil já teve.
Mendes (2002, p.22), ao falar sobre a chegada de Lula à presidência da
República, afirma que nesse período os adeptos ao Partido dos Trabalhadores não
debandam. “Ao contrário, cresce como uma difícil, mas perseverante tomada de
consciência de um eleitorado que parece agora ter saído do gueto dos 33% que
votam no partido diferente”. Dessa forma, Lula torna-se a opção mais que o voto.
A escolha por Lula não é a de uma mera preferência eleitoral da
hora. É a de uma opção por uma nova representatividade política do país
e pela chegada, aos poderes de decisão, de forças desligadas, de vez, das
clientelas e do trato intransitivo do poder, negociado pelas vantagens
estritas e imediatas de quem o exerça. O PT é o veio efetivo da
modernização política brasileira. E a realiza no momento em que a nossa
marginalização social já poderia ter desertado do caminho da
representação. (MENDES, 2002, p.22).
Para Mendes (2002, p.35), a queda dos preconceitos e das barreiras
estabeleceria o maior bloqueio à vitória do partido diferente. O país saiu dos 33%
do voto em Lula e arrebanhou novos aliados, frente à convicção cívica de
assumir-se o risco de afrontar a mudança.
4.1. O Presidente do povo
Até os cinco anos de idade, o homem que hoje governa o país, nunca tinha
ouvido rádio, visto uma bicicleta ou calçado um par de chinelos.
Lula só se mudou para São Paulo porque seu pai, quando sua mãe estava
grávida, fugiu para Santos com a prima dela. Sete anos depois, Eurídice Ferreira
de Melo, a dona Lindu, mãe de Lula, vendeu o pequeno sítio onde viviam, em
Caetés, no agreste de Pernambuco, se desfez dos poucos animais que tinham e
meteu-se num pau de arara, com os sete filhos, numa viagem que durou 13 dias.
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Na capital paulista, o menino Lula entrou pela primeira vez em um carro,
que levou dona Lindu e os filhos até Santos, ao encontro de Aristides Inácio da
Silva.
O pai de Lula dividia a semana entre as duas famílias e repartia entre os
filhos doses iguais de violência. Um dia Aristides espancou um dos filhos e
acabou agredindo também dona Lindu. Dessa forma aconteceu a separação do
casal.
Pelas ruas de Santos, Lula vendia lenha, laranja, tapioca e engraxava
sapatos. Sua mãe catava grãos de café caídos nas calçadas dos armazéns da cidade
para completar a renda.
A sorte da família começou a mudar quando um dos irmãos de Lula, o
Genival Inácio da Silva, que trabalhava como carregador de caixas de madeira em
um mercado, achou um pacote de dinheiro embrulhado em um jornal, embaixo de
um carrinho. Como o dono do dinheiro, que correspondia a 34 salários mínimos,
não apareceu, ele foi usado para quitar os cinco meses de aluguel atrasado e para
financiar a mudança da família para a Vila Carioca, em São Bernardo do Campo.
Apenas aos 15 anos a vida do atual presidente deixou de ser tão
sacrificada. Ele arrumou um emprego fixo em uma tinturaria, depois foi auxiliar
de escritório, operário em uma fábrica de parafusos e começou a estudar no Senai,
onde aprendeu o ofício de torneiro mecânico. Em 1960, virou metalúrgico. Aos 19
anos, sofreu um acidente e teve o dedo mínimo da mão esquerda decepado.
Praga no Brasil de 40 anos atrás, os acidentes de trabalho
vitimaram quatro dos cinco irmãos. O de Lula revela também a
assistência precária. “Fiquei esperando horas, até chegar seis da manhã e
o dono (da metalúrgica) me levar no médico”, conta. “No hospital, ele
olhou meu dedo (esmagado) e cortou o resto”. (SUASSUNA, 2009,
p.39).
Em 1971, Lula entrou em uma forte depressão que durou três anos e meio.
Tudo por causa da morte da primeira mulher, Lourdes, que morreu grávida de
nove meses, com hepatite. A militância sindical o retirou da depressão. Graças ao
sindicato, ele conheceu Marisa, sua atual esposa, que também era viúva. Lula
virou dessa forma, referência entre os operários do ABC e em 1978 derrubou os
antigos aliados sindicais, montou sua própria diretoria e a partir daí, começou a
sua luta como líder sindical.
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4.2. Trajetória política: de sindicalista a presidente
Foi em 1979, como presidente do sindicato dos metalúrgicos do ABC, em
São Paulo, que Lula ganhou, pela primeira vez, as páginas dos jornais e revistas e
virou notícia em todo o mundo. A frente daqueles operários, ele lutava por
melhores condições de vida. Logo após assumir a presidência do sindicato, Lula
liderou uma greve unificada da classe e se tornou um líder conhecido
nacionalmente. Começava aí sua caminhada rumo a presidência do Brasil.
O Lula Metalúrgico pichava gente da Arena e do MDB,
dispensava a ajuda de estudantes que se ofereciam para distribuir
panfletos a operários, acabrunhava-se com a intromissão de intelectuais
na atuação do sindicato, fazia restrições à ótica das pastorais operárias da
Igreja Católica, esculachava a conduta da chamada “grande imprensa”.
(http://www.geneton.com.br/archives/000236.html).
Apesar do grande sucesso que fez e continua fazendo como político,
naquela época, isso não fazia parte dos planos do presidente. Lula dizia que,
simplesmente, não tinha vocação política. Dava-se por satisfeito no exercício da
presidência do Sindicato dos Metalúrgicos.
Mesmo Assim, o envolvimento de Lula com o mundo político foi se
tornando cada vez maior e ele passou a ser sondado por diversas chapas, devido a
sua força no sindicato. Mas o líder sindicalista resistia aos convites para se engajar
em partidos políticos.
Não sou filiado a partido político algum. Não sou filiado à Arena,
não sou filiado ao MDB. Fui contra o bipartidarismo quando ele foi
instituído. Por uma questão pessoal, enquanto houver bipartidarismo, não
vou me filiar a partido político algum. Quem sabe, um dia, surja um
partido em que os trabalhadores tenham voz, onde os trabalhadores
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67
sejam maioria. Quando surgir esse partido, serei – não tenham dúvida –
um dos filiados. (http://www.geneton.com.br/archives/000236.html).
O partido diferente a que Lula se refere seria o Partido dos Trabalhadores
(PT), que ele ajudou a fundar, no inicio da década de 1980. Apareceu no cenário
político para ser uma grande força de oposição e representante dos trabalhadores e
das classes populares. De base socialista, o PT defendia a reforma agrária e a
justiça social.
Em 1989, Lula começou sua luta para chegar à Presidência concorrendo
pela primeira vez. Naquele ano, perdeu no 2º turno para Fernando Collor de
Mello. Em 1994 e em 1998 perdeu as eleições, sem chegar ao 2º turno, para
Fernando Henrique Cardoso.
Deprimido com a terceira derrota consecutiva, pensou em não
concorrer este ano, mas foi pressionado pelo partido, que não via em
Eduardo Suplicy condições para levar o PT ao Planalto.
(www.correiodopovo.com.br).
Lula acreditava que não poderia vencer o preconceito dos brasileiros
contra ele, um nordestino que completou apenas o quarto ano do primeiro grau e
trabalhou como metalúrgico. Mas a situação não estava tão ruim quanto Lula
acreditava,
Na cabeça dessas pessoas, cansadas e decepcionadas com tanta
injustiça e miséria, o PT começa a significar mais e mais, a esperança de
um Brasil diferente – mais humano, menos frio. A frase “o PT merece
uma chance, uma oportunidade”, era cada vez mais ouvida. Na verdade,
essas pessoas ainda não estavam inteiramente convencidas a votar no PT.
Mas, com certeza, já foram tocadas pela pontinha da estrela.
(MENDONÇA, 2001, p.262).
O preconceito foi vencido. Lula mudou o visual, passou a usar ternos
modernos assinados por estilistas famosos, fez tratamento dentário e cortes de
cabelo que favoreciam o penteado e se tornou bem diferente do metalúrgico de
1989. A partir de uma ampla campanha publicitária, com visual novo e com um
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número recorde de votos, Lula chega à cadeira presidencial em 2002, disputando
contra José Serra. Foram 52.793.364 votos, ou seja, 61,3% dos válidos.
4.3. A esperança em um partido diferente
A chegada de Lula a Presidência traduz o descontentamento de milhões de
brasileiros com a situação do país. Para Mendes,
O voto no PT é uma alavanca da diferença. Traduz, pela própria
modernidade que alcançou, um vetor inesperado dos cálculos
sempiternos e ao excesso do óbvio, ao que seja a permanência da
mesmice no ralo tempo histórico brasileiro. (2002, p.32).
Veterano em eleições, mas inexperiente na administração pública, o
presidente eleito apostou na sua lábia de sindicalista e negociador. Atraiu adeptos à
sua causa "da mudança do Brasil" de empresários tradicionais a intelectuais. Já
eleito, ampliou a convocação em torno de um pacto social.
(http://noticias.terra.com.br).
As principais metas do Presidente eleito foram o combate a fome e a geração
de renda em quatro anos de mandato.
Para Mendes (2002, p.265), a alternativa, ou seja, o Partido dos
Trabalhadores, aposenta o medo do velho elitismo brasileiro, em que os donatários
do poder representavam os grandes beneficiários de uma estrita rotação de
governantes.
O ano de 2002 traz, de forma inédita, exatamente pelo sofrimento
das derrotas anteriores do PT, e pela continuidade da esperança que ela
permitiu, a confiança que nasce da implacabilidade de uma memória
histórica, e da inteireza de um propósito que demonstra sua capacidade
de integrar o Brasil da exclusão e as forças afins que os refletem.
(MENDES, 2002, p.265).
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Mendes salienta ainda que “no pleito eleitoral do milênio, no país com 110
milhões de eleitores, pode-se ir às urnas, mais que para um voto, para se exercer uma
opção”. (2002, p.265).
Ao ganhar as eleições brasileiras, Lula diz a multidão que o Brasil votou para mudar
e afirma publicamente que a esperança venceu o medo.
4.4. A forma populista de governar
Lula se tornou presidente do Brasil e sua trajetória de vida fazia com que
diversas expectativas cercassem o seu governo. A curiosidade era se ele manteria
o modelo capitalista neoliberal adotado por Fernando Henrique. Seria a primeira
vez que um partido de esquerda tomaria o controle da nação.
No entanto, seu governo não se resumiu a essa simples mudança. Entre as
primeiras medidas tomadas, o Governo Lula anunciou um projeto social destinado
à melhoria da alimentação das populações menos favorecidas.
Esse seria um dos diversos programas sociais que marcariam o seu
governo. A ação assistencialista se justificava pela necessidade em sanar o
problema da concentração de renda que assolava o país.
A ação política de Lula conseguiu empreender um
desenvolvimento historicamente reclamado por diversos setores sociais.
No entanto, o crescimento econômico do Brasil não conseguiu se
desvencilhar de práticas econômicas semelhantes às dos governos
anteriores. (www.brasilescola.com).
O combate à inflação, a ampliação das exportações e a contenção de
despesas foram algumas das metas buscadas pelo governo.
4.5. Os programas sociais
Os programas sociais acabaram se tornando a principal marca do governo
Lula. Durante um discurso, no dia 23 de março de 2007, ao empossar três
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ministros logo após ser reeleito, o presidente falou sobre a importância da política
assistencialista adotada e, que segundo ele, deram força para que ele fosse
reeleito.
Milhões e milhões de almas brasileiras, mulheres e homens que
recebiam o benefício diretamente na sua casa, seja na agricultura
familiar, seja na política de urbanização de favela, seja do Bolsa Família,
muitas vezes não tinham sequer condições de ter acesso a jornais ou a
um jornal da televisão. Passaram a ser sujeitos da própria história e não
mais coadjuvante, que assistia de longe os formadores dizerem o que eles
tinham que fazer. Ele resolveu fazer pelas suas próprias mãos.
(www.agenciabrasil.gov.br).
Os programas sociais beneficiam ainda hoje, milhões de brasileiros.
Estudo divulgado em 2006 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
afirmou que as ações sociais atingiram 21,4% da população do país. Em 2004,
estes programas bateram o recorde histórico ao contemplar 50,3% das famílias
brasileiras que vivem em condições de miséria.
Podemos destacar alguns dos programas sociais de mais sucesso no
governo Lula.
4.5.1. O Fome Zero
O FOME ZERO é uma estratégia impulsionada pelo governo federal para
assegurar o direito humano à alimentação adequada às pessoas com dificuldades
de acesso aos alimentos. Tal estratégia se insere na promoção da segurança
alimentar e nutricional buscando a inclusão social e a conquista da cidadania da
população mais vulnerável à fome.
Por meio dos diversos Ministérios o governo federal articula políticas
sociais em estados e municípios e, com a participação da sociedade, com o
objetivo de implementar programas e ações que buscam superar a pobreza e as
desigualdades de acesso aos alimentos em quantidade e qualidade suficientes, de
forma digna, regular e sustentável. (http://www.fomezero.gov.br).
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4.5.2. O Bolsa Família
O Programa Bolsa Família (PBF) é um programa de transferência direta de
renda com condicionalidades, que beneficia famílias em situação de pobreza (com
renda mensal por pessoa de R$ 70 a R$ 140) e extrema pobreza (com renda
mensal por pessoa de até R$ 70), de acordo com a Lei 10.836, de 09 de janeiro de
2004 e o Decreto nº 5.209, de 17 de setembro de 2004.
O PBF integra a estratégia FOME ZERO, que tem o objetivo de assegurar
o direito humano à alimentação adequada, promovendo a segurança alimentar e
nutricional e contribuindo para a erradicação da extrema pobreza e para a
conquista da cidadania pela parcela da população mais vulnerável à fome.
(www.mds.gov.br/bolsafamilia/...bolsa_familia/o-que-e).
Somente com o Bolsa Família, o governo beneficiou 3,6 milhões
de domicílios em 2003, 6,5 milhões em 2004 e 8,7 milhões em 2005. A
meta é atingir 11,2 milhões de famílias em 2006. Os recursos públicos
investidos neste programa saltaram de R$ 3,4 bilhões em 2003 para R$
6,5 bilhões em 2005 - na mais volumosa transferência de recursos da
América Latina. Vinculado à obrigatoriedade do estudo, o Bolsa Família
já aponta indicadores positivos de melhoria na escolaridade, geração de
renda e diminuição da criminalidade. (BORGES, 2006).
O Bolsa Família enfim, é considerado o programa de maior sucesso
durante o governo Lula.
4.5.3. O ProUni
O Programa Universidade para Todos (ProUni) tem como finalidade a
concessão de bolsas de estudo integrais e parciais a estudantes de cursos de
graduação e seqüenciais de formação específica, em instituições privadas de
educação superior.
Criado pelo Governo Federal em 2004 e institucionalizado pela Lei nº
11.096, em 13 de janeiro de 2005, ele oferece, em contrapartida, isenção de alguns
tributos àquelas instituições de ensino que aderem ao Programa.
Dirigido aos estudantes egressos do ensino médio da rede pública ou da
rede particular na condição de bolsistas integrais, com renda per capita familiar
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máxima de três salários mínimos, o ProUni conta com um sistema de seleção
informatizado e impessoal, que confere transparência e segurança ao processo. Os
candidatos são selecionados pelas notas obtidas no ENEM - Exame Nacional do
Ensino Médio conjugando-se, desse modo, inclusão à qualidade e mérito dos
estudantes com melhores desempenhos acadêmicos. (http://prouni-
inscricao.mec.gov.br/PROUNI/Oprograma.shtm).
Desde que o programa foi criado, cerca de 430 mil estudantes já foram
beneficiados. Somente em 2005, mais de 90.000 estudantes foram contemplados
pelo Programa Universidade para Todos.
4.5.4. Farmácia Popular
O programa Farmácia Popular do Brasil foi criado em 2004 para ampliar o
acesso aos medicamentos essenciais. Por meio das unidades próprias, esses
produtos são dispensados a preço de custo ao cidadão.
No elenco da Farmácia Popular constam 107 itens para as doenças mais
comuns na população brasileira, dentre eles analgésicos, antihipertensivos,
medicamentos para diabetes, colesterol, gastrite entre outros, etc.
Hoje no país já são 521 unidades próprias em 405 municípios, que fazem
uma média de 950 mil atendimentos por mês. Todas são implantadas por meio de
uma parceria do Ministério da Saúde e da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), com
Estados e Municípios e instituições filantrópicas.
Desde o início até 2008, os investimentos no programa foram de R$ 325
milhões. (portal.saude.gov.br).
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Capítulo V
Escândalos
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Figura 5: (Fonte: http://image.ig.com.br/ultimosegundo/midias/0190001-0190500/190452.jpg,
2009).
5. Os escândalos durante os anos de 2005-2006 do primeiro
mandato de lula
As denúncias feitas em 2005 por Roberto Jefferson, presidente do PTB-RJ,
afirmando que o tesoureiro do PT, Delúbio Soares, pagava uma suposta mesada a
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deputados do Partido Progressista (PP) e Partido Liberal (PL), em troca de apoio,
causaram uma acentuada crise no governo Lula.
A crise no governo teve inicio em agosto de 2004. Um dos principais
homens de confiança do ministro José Dirceu (Casa Civil), Waldomiro Diniz, foi
exonerado do cargo de subchefe de Assuntos Parlamentares da Presidência da
República após denúncias, em fevereiro, de que negociava com bicheiros o
favorecimento em concorrências, em troca de propinas e contribuições para
campanhas eleitorais.
A partir daí começava uma gama de escândalos envolvendo o nome do
Partido dos Trabalhadores e o do presidente Lula.
5.1. Esquema do Mensalão
No dia 14 de junho de 2005, o Jornal Folha de S. Paulo, destaca a
repercussão do mensalão no exterior. Com a manchete “PT sabia sobre esquema
do mensalão, diz The New York Times", Vinicius Albuquerque, da Folha Online,
demonstra que o esquema do mensalão já não era mais segredo dentro do Partido
dos Trabalhadores.
O caso do "mensalão" - um esquema de pagamento de mesadas de
R$ 30 mil que, segundo o deputado federal e presidente nacional do
PTB, Roberto Jefferson, teriam sido pagas a parlamentares da base aliada
do governo pelo tesoureiro do PT, Delúbio Soares-, é o desdobramento
do que começou "como um escândalo comum de propina", e que tornou-
se "uma crise muito maior e potencialmente mais séria", diz reportagem
do jornal americano "The New York Times".(Folha Online, 2005).
A Folha Online destaca ainda uma declaração feita pelo presidente, em seu
programa quinzenal de rádio, "Café com o presidente", um dia antes da
publicação da reportagem, em que Lula afirmou ficar indignado com casos de
desvio de recursos públicos e disse que a investigação das denúncias não deixaria
"pedra sobre pedra".
5.2. Máfia dos Sanguessugas
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De acordo com uma reportagem publicada no Jornal O Globo, no dia 28 de
agosto de 2006, as irregularidades da máfia dos Sanguessugas seriam comandadas
por integrantes da família Trevisan Vedoin, dona da empresa Planam, com sede
em Cuiabá - MT. Os integrantes da quadrilha usariam empresas de fachada em
seu esquema para fraudar licitações em prefeituras em vários estados.
Eles procuravam representantes de municípios para convencê-los a
adquirir equipamentos para a área de saúde, principalmente ambulâncias. A
empresa Planam montava toda a licitação da prefeitura e se encarregava de
apresentar empresas de fachada para disputar as concorrências de cartas marcadas.
Para conseguir recursos para o esquema, a quadrilha entrava em contato
com assessores de deputados federais. Eram apresentadas emendas ao Orçamento
da União direcionadas aos municípios que a quadrilha tinha procurado. Com a
ajuda de servidores do Ministério da Saúde, eram assinados convênios da Pasta
com as prefeituras e os servidores envolvidos no esquema garantiam a liberação
do dinheiro.
Com o recurso liberado, propinas eram pagas a servidores públicos
federais e municipais e a assessores de deputados. Todos os equipamentos e
produtos comprados eram superfaturados e a diferença era distribuída entre os
integrantes do esquema. (oglobo.globo.com).
5.3 Dólar na cueca
Em Julho de 2005, José Adalberto Vieira da Silva, ao tentar embarcar em
um vôo de São Paulo - SP para Fortaleza - CE, foi preso carregando 100.000
dólares e 200.000 reais em espécie. Detalhe: boa parte do dinheiro estava
escondido nas vestimentas intimas.
Detido em flagrante por agentes da Polícia Federal e levado para a
delegacia do aeroporto, o homem disse que era agricultor e que o dinheiro era
fruto da venda de legumes efetuada na Ceagesp (Central de abastecimento de
frutas e hortaliças em São Paulo). Na verdade, Vieira da Silva é muito mais que
um simples agricultor.
Secretário de organização do Diretório Estadual do PT no Ceará, ele
também foi candidato a vereador pelo partido em 2000, na cidade de Aracati, e
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trabalha como assessor do deputado estadual José Nobre Guimarães (PT-CE).
Líder da bancada do PT na Assembléia Legislativa do Ceará, Guimarães é irmão
de José Genoíno, presidente nacional do PT.
Durante a abordagem, os policiais indagaram ao secretário de organização
do PT cearense sobre a quantia que ele carregava. Vieira da Silva disse que eram
80.000 reais. Na contagem, porém, os agentes da PF descobriram que a mala
escondia 200.000 reais. Perguntaram, então, ao petista se ele carregava mais
dinheiro no corpo. Mesmo diante da negativa, os agentes o revistaram.
Descobriram mais de 100.000 dólares ocultos sob sua cueca, embrulhados em
sacos plásticos. Vieira da Silva ainda carregava uma agenda e atas de reuniões do
PT. O assessor é filiado ao partido há pelo menos quinze anos e, há três,
trabalhava com o deputado Guimarães. O parlamentar disse não ter a menor idéia
do motivo pelo qual um funcionário que ganha cerca de 2.000 reais mensais
carregava uma quantia 220 vezes maior. (veja.abril.com.br).
5.4 CPI dos Correios
A CPI dos Correios foi criada em maio de 2005 com o objetivo específico
de investigar as denúncias de corrupção nas estatais, mais específicamente, nos
Correios. Seu foco, no entanto, foi deslocado pouco depois para a investigação da
existência do suposto "mensalão", o pagamento mensal a parlamentares da base
aliada pelo governo.
O estopim da crise surgiu com a revelação da uma fita de vídeo, que
mostra o ex-funcionário dos Correios Maurício Marinho negociando propina com
empresários interessados em participar de uma licitação. No vídeo, o funcionário
dos Correios dizia ter o respaldo do deputado federal Roberto Jefferson (PTB-RJ).
À época, os titulares da comissão defenderam a ampliação do foco das
investigações pela tese de que o dinheiro de corrupção das estatais seria a fonte
dos recursos do hipotético "mensalão".
Com a criação da CPI da Mensalão, a CPI dos Correios focou suas
investigações nos fornecedores de recursos e quer investigar os fundos de pensão
de estatais.
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Quase três meses depois, à CPI dos Correios coube o mérito de ajudar a
revelar o esquema de distribuição de recursos a parlamentares, teoricamente, para
bancar despesas de campanhas eleitorais, apelidado pela imprensa de
"valerioduto", devido ao nome de seu operador, o empresário Marcos Valério
Fernandes de Souza. (Folha Online).
5.5 Quebra do Sigilo Bancário e o Ministro Palocci
Em março de 2006, o então ministro da Fazenda, Antonio Palocci (PT-SP)
se envolveu em um dos maiores escândalos de corrupção do governo Lula. Ele foi
acusado pelo Ministério Público Federal de ser um dos responsáveis pela quebra
do sigilo bancário do caseiro Francenildo dos Santos Costa e de promover a
divulgação indevida desses dados.
Segundo o MPF, no dia 16 de março de 2006, data da violação do sigilo
bancário do caseiro, Palocci e o jornalista Marcelo Netto, ex-assessor de imprensa
do Ministério da Fazenda, “tiveram numerosos contatos entre si, o que não era
usual”, revelados pela quebra do sigilo telefônico de ambos e, posteriormente,
marcaram um encontro com o então presidente da Caixa, Jorge Mattoso, cientes
dos dados que ele teria sobre o caseiro. Tais dados foram divulgados pela revista
Época, no dia 17 de março.
O sigilo bancário de Francenildo foi violado após ele ter dado declarações
à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos Bingos dando conta de que
Palocci se encontrava com lobistas em uma mansão em área nobre da capital
federal, conhecida como República de Ribeirão Preto.
5.6 Dança da pizza
A deputada Ângela Guadagnin (PT-SP), ficou conhecida em 2006, após
protagonizar a "dancinha da pizza" durante a votação da cassação do deputado
João Magno (PT-MG).
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A deputada petista dançou no plenário assim que foi anunciada a
absolvição de João Magno.
Por 207 votos contra a cassação e 201 a favor (cinco votos em branco, três
votos nulos e 10 abstenções), Magno foi favorecido pelo baixo quórum. Ele é
acusado de ter recebido R$ 426 mil do chamado esquema "valerioduto" sem
prestar contas à Justiça Eleitoral.
Em entrevista à rádio CBN, a deputada disse que não pretendia agredir os
eleitores com sua manifestação de alegria e pediu desculpas às pessoas pela sua
atitude e afirmou que se sentiu à vontade, pois o plenário estava vazio. "Havia
meia dúzia de deputados e eu manifestei alegria por um amigo", disse ela.
(noticias.terra.com.br).
O jeito peculiar da deputada de demonstrar alegria por um amigo revoltou
a sociedade brasileira, que se sentiu pisoteada pela falta de respeito e pela
impunidade da corrupção política brasileira.
6. Considerações Finais
Ao encerrarmos este estudo, podemos concluir que Lula se beneficia de uma
estrutura econômica estável, de uma geração anestesiada pela incontável quantidade
de decepções políticas e fiel à crença de seu carisma como líder sem “igual” ou
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semelhante. Evidencia uma consideração nítida por um representante das massas,
que por se sentir impossibilitado de promover todas as mudanças que considera
importantes, precisa se render às estruturas corruptas de poder, não fazendo isso em
proveito próprio, mas sim pelos mais pobres.
A popularidade de Lula é pessoal e intransferível. Ele representa uma grande
parcela da sociedade brasileira, que vive em condições precárias de pobreza e miséria
e que busca sempre a sobrevivência. Lula é querido por sua história de luta e de
superação.
A maneira despojada de ser do presidente, sua despretensão com as regras de
etiqueta, suas origens humildes, sua trajetória como líder em defesa dos direitos
humanos. Todas essas características garantem grande parte da popularidade
conquistada por Lula.
No entanto, ao analisar todos os escândalos de corrupção envolvendo o seu
governo e ao estudar os programas sociais, conclui-se que o fato de Lula manter-se
tão popular deve ser atribuído a dois fatos primordiais: os programas sociais, sua
principal marca de governo; e os escândalos políticos que decorrem desde o ingresso
da política no Brasil.
O povo já não sustenta ilusões de políticas transparentes no Brasil e o
assistencialismo adotado por Lula traz soluções imediatas para problemas como a
pobreza e a fome. Embora, não haja qualquer perspectiva futura de melhora para os
beneficiários dos programas sociais, o imediatismo é capaz de ocultar qualquer falta
de esperança. O povo brasileiro vive para o hoje, por isso Lula é tão querido. Por isso
a corrupção é ignorada. Que importam os escândalos, os desvios, a corrupção. Tudo
isso sempre existiu. Hoje o povo tem um presidente que garante dinheiro fácil para
manter a comida na mesa. Ao povo, por ora, apenas isso importa.
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