CÂMARA DOS DEPUTADOS
DEPARTAMENTO DE TAQUIGRAFIA, REVISÃO E REDAÇÃO
NÚCLEO DE REVISÃO DE COMISSÕES
TEXTO COM REDAÇÃO FINAL
COMISSÃO DE DEFESA DO CONSUMIDOR, MEIO AMBIENTE E MINORIASEVENTO: Audiência pública N°: 1.129/01 DATA: 16/10/2001INÍCIO: 14:28 TÉRMINO: 17:18 DURAÇÃO: 2:50TEMPO DE GRAVAÇÃO: 2:56 PÁGINAS: 71 QUARTOS: 36REVISÃO: LIZ, ROBINSON, CONCEIÇÃO, ELIANA, WALDECÍRIA, CÁSSIA REGINA, TATIANASUPERVISÃO: MÁRCIA, MARIA LUÍZA, NEUSINHACONCATENAÇÃO: JOEL
DEPOENTE/CONVIDADO - QUALIFICAÇÃO
LUIZ CARLOS MARTINS - Diretor de Assuntos Corporativos da Goodyear do Brasil.MARCOS AURÉLIO LIMA DE OLIVEIRA - Chefe da Divisão de Programas de Avaliação daConformidade da Diretoria de Credenciamento e Qualidade do Instituto Nacional de Metrologia,Normatização e Qualidade Industrial — INMETRO.GERARDO TOMMASINI - Presidente da Associação Nacional da Indústria de Pneumáticos —ANIP.AMARILDO BAESSO - Coordenador-Geral de Supervisão e Controle do Departamento deProteção e Defesa do Consumidor do Ministério da Justiça.JAILTON DE JESUS SILVA - Coordenador da Associação Nacional das Vítimas de Montadorase Concessionárias Automobilísticas — ANVEMCA.
SUMÁRIO: Discussão acerca da qualidade do pneu Wrangler 215/80, produzido pela empresaGoodyear.
OBSERVAÇÕES
Há intervenções inaudíveis.Há termo ininteligível.Há oradores não identificados.
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A SRA. PRESIDENTA (Deputada Ana Catarina) - Declaro aberta a presente
reunião de audiência pública para discussão sobre a qualidade do pneu Wrangler
215/80, R-16, produzido pela empresa Goodyear.
Convido para tomarem assento à mesa dos trabalhos o Sr. Luiz Carlos
Martins, Diretor de Assuntos Corporativos da Goodyear do Brasil; o Sr. Marcos
Aurélio Lima de Oliveira, Chefe da Divisão de Programas de Avaliação da
Conformidade da Diretoria de Credenciamento e Qualidade, representando o Sr.
Armando Mariante Carvalho, Presidente do INMETRO — Instituto Nacional de
Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial; o Sr. Gerardo Tommasini,
Presidente da ANIP — Associação Nacional da Indústria de Pneumáticos; o Sr.
Amarildo Baesso, Coordenador-Geral de Supervisão e Controle, representando o Sr.
Roberto Freitas Filho, Diretor do Departamento de Proteção e Defesa do
Consumidor do Ministério da Justiça; e o Sr. Jailton de Jesus Silva, Coordenador da
Associação Nacional das Vítimas de Montadoras e Concessionárias
Automobilísticas.
Esclareço que também foram convidados os Srs. Rodolfo Rizzotto, Diretor da
Revista das Estradas, que alegou compromisso inadiável; Guilherme Ari Plonski,
Superintendente do Instituto de Pesquisas Tecnológicas, que encaminhou
correspondência alegando que aquele instituto ainda não dispõe de informações
suficientes para emitir opinião a respeito do assunto; e Edgar Moreira da Silva,
Promotor de Justiça do Consumidor do Estado de São Paulo, que comunicou sua
ausência em virtude de audiências nos processos e procedimentos daquela
Promotoria de Justiça anteriormente agendadas.
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Concederei inicialmente a palavra aos expositores por 10 minutos; em
seguida, farão uso da palavra os Deputados Salatiel Carvalho e Luciano Pizzatto,
que requereram esta audiência e, posteriormente, pelo prazo de 3 minutos, os
Parlamentares previamente inscritos, sempre facultadas, em qualquer caso, a
réplica e a tréplica. A lista de inscrição encontra-se à disposição dos Parlamentares
com servidor desta Comissão.
Feitas essas considerações iniciais, passo a palavra ao Sr. Luiz Carlos
Martins, Diretor de Assuntos Corporativos da Goodyear do Brasil.
O SR. LUIZ CARLOS MARTINS - Obrigado, Sra. Presidenta. Atendendo ao
convite desta Comissão, estou aqui hoje à inteira disposição de V.Exas. para prestar
esclarecimentos a respeito do produto em pauta nesta audiência.
A Goodyear está no Brasil há 83 anos. Hoje tem sede na cidade de São Paulo
e em Americana. Somos uma empresa com 4 mil e 200 funcionários, e nossos
principais produtos são todos os tipos de pneumáticos. Aproximadamente 20%
dessa produção são direcionados à indústria automobilística, 40% vão para o
mercado de reposição e 40% são exportados a cerca de 90 países do mundo.
Estamos, assim, à inteira disposição dos senhores e da Sra. Presidenta.
Obrigado.
A SRA. PRESIDENTA (Deputada Ana Catarina) - Concedo a palavra ao Sr.
Marcos Aurélio Lima de Oliveira.
O SR. MARCOS AURÉLIO LIMA DE OLIVEIRA - Boa tarde, senhoras e
senhores. Gostaria de agradecer, mais uma vez, a oportunidade de estarmos aqui
para tentar esclarecer alguns pontos que possam mostrar ao segmento e à
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sociedade algumas necessidades na questão da segurança e na questão da
qualidade dos produtos, hoje, que circulam no mercado nacional.
Em primeiro lugar, vou comentar algumas questões relacionadas ao tema
proposto nesta audiência. Na oportunidade em que ocorreu o acidente, no ano de
1995, gostaria de ressaltar que ainda não existia regulamento técnico de qualidade
— termo empregado no sistema brasileiro de certificação, sistema esse gerido pelo
Instituto Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial — INMETRO,
que tivesse intervenções no mercado nacional. O que significa dizer esse
regulamento? O que significa dizer essas intervenções? Ou seja, o Estado brasileiro,
através do INMETRO, tem um controle devidamente estabelecido e esclarecido, com
uma sistemática, em que fazem parte dessa sistemática, dessa infra-estrutura,
organismos de certificações credenciados pelo INMETRO. E esses organismos
avaliam se um determinado tipo de produto, no caso, aqui, um pneu novo, de uso de
automóvel, caminhão ou ônibus, atende aos requisitos essenciais.
No momento do acidente, do fato ocorrido, não existia, ainda, intervenção por
parte do INMETRO, por quê? Porque isso se deu um ano depois, ou seja, em 1996,
quando entrou em vigor este regulamento que estou mostrando aos senhores.
Neste primeiro momento, deixo esse ponto aos senhores, e estou aqui para
dirimir qualquer dúvida que, porventura, surja.
A SRA. PRESIDENTA (Deputada Ana Catarina) - Concedo a palavra ao Sr.
Gerardo Tommasini.
O SR. GERARDO TOMMASINI - Eu gostaria de identificar, inicialmente, as
entidades que represento: a ANIP — Associação Nacional da Indústria de
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Pneumáticos, entidade de classe fundada em 1960, e o SINPEC — Sindicato
Nacional da Indústria de Pneumáticos, fundado em 1959.
Além das quatro fábricas de pneus, conhecidas em âmbito mundial, a ANIP
reúne, também, outras empresas de produtos diversificados, em um total de 16,
localizadas em cinco Estados da Federação, que são: Rio Grande do Sul, São
Paulo, Rio de Janeiro, Paraná e Bahia e mais 14 Municípios.
Apenas para que os presentes possam localizar a atividade da indústria que
representamos, temos 20 mil empregos diretos e, se considerarmos a cadeia
produtiva de fornecimentos e a cadeia de distribuição, chegamos a mais de 100 mil
empregos indiretos. Por fim, se juntarmos a isso a enorme cadeia da produção da
borracha natural, que, em 85% do seu total, é absorvida pela indústria de pneus,
chegamos perto de 400 mil empregos indiretos.
O faturamento dessas empresas — somente as quatro de pneus — supera
4,5 bilhões de reais, com um tributo direto, somente em termos de IPI e ICMS, de
1,2 bilhões de reais, e com 33,6% de exportação, proporcionando uma divisa de 520
milhões de dólares, isso no ano de 2000.
É preciso acrescentar, talvez seja interessante aos presentes e à Mesa, que o
mercado brasileiro é extremamente importante em termos de pneus, em particular
aquele de pneus de caminhão e de ônibus. Esse mercado para pneus de caminhão
e ônibus pode ser considerado entre os cinco mais importantes do mundo. Por esse
motivo, aqui no Brasil estão presentes os mais importantes fabricantes de pneus do
mundo.
Outro fato relevante e interessante é saber que a indústria de pneus utiliza
matéria-prima totalmente nacional, com exceção da borracha natural. Utiliza-se
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aproximadamente 160 mil toneladas por ano de borracha natural, das quais 80 mil
são nacionais e o resto é importado. Essa é a única matéria-prima importada; o resto
é totalmente fabricado aqui.
Sra. Presidenta, em relação ao assunto específico objeto desta audiência,
tomei conhecimento deste caso dos pneus 2157016 da Goodyear por meio de ampla
reportagem feita pelo Correio Braziliense, em dois dias consecutivos. Aliás, quando
o repórter do jornal me entrevistou, sequer me foi dado saber a que ele se referia.
Pensei, quando ele me telefonou, que se tratasse de matéria relativa à manutenção
dos pneumáticos, por isso, falou-se muito em calibragem, em condições de
estradas, etc.; não sabia deste dado.
De qualquer forma, reafirmo aqui o que disse a ele na oportunidade. Como
associação que reúne todas essas indústrias, afirmamos e reafirmamos que a
qualidade produzida no Brasil dos pneus nacionais é qualidade de âmbito
internacional. Prova disso é que nossas exportações vão quase para 100 países do
mundo, sendo o mais importante os Estados Unidos da América do Norte. Muito se
falou a respeito disso, mas podemos dizer, afirmar e reafirmar que a qualidade dos
pneus que vão para fora é idêntica à qualidade dos pneus que se vendem aqui no
País.
Entre os mais importantes fabricantes de pneus existentes aqui não poderia
deixar de citar a Goodyear. No caso de exportação, no ano de 2000 e 1999, a
Goodyear foi sem dúvida alguma a primeira exportadora do País, segundo dados em
nosso poder, e chegou perto de 45% do total exportado.
Sempre falando em termos de qualidade, que talvez possa ajudar não só os
membros da Mesa, mas a própria Presidência, gostaria de repetir que a tecnologia
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usada aqui é absolutamente de Primeiro Mundo; a técnica, o maquinário aqui
instalado é dos mais atualizados. Isso se deve aos ingentes investimentos que a
indústria de pneus tem feito sempre, em qualquer circunstância.
O Luiz Carlos falou que a Goodyear está aqui há 80 anos. Todas as outras
indústrias estão aqui no mínimo há 75 anos. Durante esse período, com sol, com
chuva, com ditadura e com democracia, sempre se fez investimentos, em qualquer
circunstância. Militei 41 anos na ativa, na parte de pneus, e devo dizer que nunca
esse pessoal deixou de investir, nunca esperou oportunidade melhor; sempre
investiu na baixa e na alta, por isso hoje temos esse tipo de qualidade.
Com relação ao caso da Goodyear para o qual fomos convocados, posso
dizer que dele tomei conhecimento tão-somente pela reportagem do Correio
Braziliense. E nada mais, por enquanto.
A SRA. PRESIDENTA (Deputada Ana Catarina) - Concedo a palavra ao Sr.
Amarildo Baesso, Coordenador-Geral de Supervisão e Controle, do Departamento
de Proteção e Defesa do Consumidor do Ministério da Justiça.
O SR. AMARILDO BAESSO - Boa tarde a todos. Estou aqui representando o
Dr. Roberto Freitas Filho, nosso Diretor, que está em viagem ao exterior.
Gostaria de fazer relato relativamente breve sobre as providências tomadas
pelo Departamento de Proteção e Defesa do Consumidor no que diz respeito aos
pneus Goodyear.
Como é de conhecimento público, o jornal Correio Braziliense, no dia 31 de
julho deste ano, fez circular matéria bastante ampla a respeito de supostos
problemas com tipo específico de pneu fabricado e comercializado pela Goodyear, o
pneu modelo Wrangler 215/80 R-16. Dizia a reportagem que, da quantidade de
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reclamações apresentadas à Goodyear, entre os anos de 1988 e 1995, 1,5%
correspondiam a esse modelo de pneu fabricado pela Goodyear durante esses
anos. Havia ainda um depoimento — se não me engano, do Presidente ou de
alguém da ANIP, da Associação Nacional das Indústrias de Pneumáticos — dizendo
que a média histórica correspondia a aproximadamente 0,5%. Além disso, a matéria
do jornal dizia também que alguns acidentes ocorreram devido a esses defeitos
apresentados pelos pneus da Goodyear, sendo que em alguns casos houve vítimas
fatais, citando em especial o caso da Sra. Marisa Solino Floriz Costa. Em outros
casos, os ocupantes dos veículos sofreram lesões graves. Cita dois casos em
especial. Um, o do Sr. Sérgio Marcondes, que, segundo a reportagem, após
acidente provocado por falha em um desses pneus, ficou tetraplégico. O outro, o do
Sr. Sérgio Sessa Stamato, que, segundo a reportagem do jornal, ficou cego após o
acidente.
Com base nessas informações que chegaram ao Departamento de Proteção
e Defesa do Consumidor, por intermédio de nosso clipping diário, e baseado
principalmente no art. 10 do Código de Defesa do Consumidor — o qual determina
que, quando um fornecedor tem conhecimento de que um produto comercializado no
mercado de consumo apresenta algum tipo de periculosidade ou risco à segurança
do consumidor, deve comunicar aos consumidores e às autoridades —, o DPDC
tomou a iniciativa de, de ofício, instaurar investigação preliminar e notificou a
empresa Goodyear a prestar esclarecimentos a respeito da reportagem do jornal.
Concedemos 10 dias de prazo à Goodyear para que desse sua resposta, mas
tal empresa solicitou mais 5, pedido que foi deferido. Então, após 15 dias, a
Goodyear apresentou suas explicações ao Departamento de Proteção e Defesa do
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Consumidor, confirmando primeiramente que os números apresentados pelo jornal
Correio Braziliense estavam corretos sobre o total de pneus daquele modelo
fabricados durante o período citado, entre 1988 a 1995, ou seja, aproximadamente 1
milhão de pneus, ou 999 mil pneus. Relativamente a esses 999 mil pneus, havia
cerca de 15 mil reclamações, as quais não se referiam exclusivamente à soltura de
banda de rodagem ou estouro de pneu, mas eram reclamações em geral. Segundo
a reportagem do Correio Braziliense, os pneus foram fabricados entre 1988 e 1995,
mas a Goodyear informa que esses pneus ainda são fabricados, com algumas
mudanças, com algumas melhorias tecnológicas.
Por outro lado, a empresa não admitiu que exista algum defeito inerente ao
produto, mas que, se problemas ocorreram, podem ter sido derivados principalmente
do seu uso inadequado, e aí cita uma gama de possibilidades; e, em segundo lugar,
afirma que pode ter havido uma mudança tecnológica dos automóveis, a qual pode
ter tornado o pneu inadequado.
Perguntamos também à Goodyear se havia algum processo judicial relativo a
problema com pneus e ela nos esclareceu que existem hoje 4 processos em
andamento, um deles tramitando na 37ª Vara Cível de São Paulo, cujo autor é o Sr.
Gerson Floriz Costa, esposo da Sra. Marisa, segundo a reportagem do jornal; outro
processo está tramitando na 10º Vara Cível de Campinas, também em São Paulo, e
seu autor é o Sr. Pedro Hipólito Pujadas; um terceiro processo na 3ª Vara Cível de
Araraquara, também no interior do Estado de São Paulo, cujo autor é o Sr. Antônio
Carlos Zácaro; e um quarto no Juizado Especial Cível de Taubaté, também em São
Paulo, cujo autor é o Sr. José Mateus Pena. Afirma a Goodyear que esse último é
relacionado a um pneu produzido na Venezuela, e não no Brasil.
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Com essas informações, o DPDC enviou ofício a todos os órgãos do Poder
Judiciário para que enviassem cópias integrais dos autos, inclusive porque temos a
informação pela própria reportagem do jornal Correio Braziliense de que, no
processo que tramita na 37ª Vara Cível de São Paulo, consta cópia integral do laudo
feito pelo Instituto de Pesquisas Tecnológicas da USP, concluindo que o problema
da soltura da banda de rodagem, no caso do acidente do Sr. Gerson, de que trata o
processo, há grande probabilidade de que tenha ocorrido por falha de fabricação do
pneu.
Estamos, até o momento, aguardando as respostas desses órgãos do Poder
Judiciário. Nenhuma dessas cópias foram ainda remetidas ao DPDC para que, a
partir daí, façamos uma análise conclusiva da investigação preliminar.
Nesse meio tempo, após notificação da empresa e envio dos ofícios aos
órgãos do Judiciário, o DPDC recebeu em audiência, na pessoa do Dr. Roberto
Fritz, nosso Diretor, e do Dr. Aborea, nosso coordenador jurídico, o Sr. Gerson
Floriz, um dos autores de processo contra a Goodyear e citado na reportagem do
jornal Correio Braziliense.
Na oportunidade, o Dr. Gerson explicou ao Departamento como ocorreu seu
acidente, as causas possíveis e as providências tomadas por ele, e pediu que fosse
anexado no procedimento administrativo cópia de um documento da própria
Goodyear em que supostamente ficam comprovados os números apresentados pelo
jornal Correio Braziliense e uma cópia do termo de abertura de um inquérito civil
público, iniciado pelo Ministério Público do Estado de São Paulo.
Neste momento, estamos buscando elementos, fazendo uma série de
pesquisas — a minha Coordenação, especificamente, que é voltada aos estudos e
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pesquisas, para instrução inicial desses procedimentos administrativos —, que
possibilitem fazer uma análise bastante objetiva da investigação preliminar e sugerir
ao Diretor a abertura de um processo administrativo ou outra ação por parte do
DPDC.
Encerro esta exposição inicial colocando-me à disposição para outros
esclarecimentos que se fizerem necessários.
A SRA. PRESIDENTA (Deputada Ana Catarina) - Antes de passar a palavra
ao Sr. Jailton de Jesus Silva, concederei a palavra ao Sr. Gerardo Tommasini,
porque foi citado. Peço que seja breve, para continuarmos com o Sr. Jailton.
O SR. GERARDO TOMMASINI - Quero somente esclarecer a respeito de
observações feitas pelo seu marido. Ele citou uma reclamação apontada pelo jornal
Correio Braziliense de porcentagem inferior a 0,5%. Em primeiro lugar, não existe
nenhum tipo de estatística nesse sentido. Cada fabricante obviamente tem sua
estatística. Historicamente, pela vivência que temos, podemos dizer que pneu de
automóvel tem incidência — ou tinha, porque as coisas melhoram a cada ano que
passa —, de todas as medidas, até 0,5%. Agora, o repórter não citou outra
informação que lhe dei; ele somente puxou esse número. Disse a ele que pneu de
caminhão, devido ao seu tipo de trabalho, às suas condições de emprego muito
mais severas em termos de peso, de geração de calor e hoje também de velocidade,
o índice de reclamação, do qual me lembrava na época em que eu estava na ativa,
mas que provavelmente só pode ter diminuído e não aumentado, era acima de 1%.
Então, pneu de automóvel pode ser 0,5%, mas pneu de caminhão é acima de 1%.
Inclusive ele me perguntou: “E pneu de caminhonete?” Olha a coincidência, é
exatamente da família à qual se refere esta audiência. Respondi — e ele não disse
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isso aqui — que o pneu de caminhonete assemelha-se muito mais ao pneu de
caminhão, em termos estatísticos, portanto, muito mais perto de 1% do que perto do
0,5%, de automóveis
Era apenas um esclarecimento que tinha a fazer para o conhecimento de
todos.
Muito obrigado, Sra. Presidenta.
A SRA. PRESIDENTA (Deputada Ana Catarina) - Sr. Jailton de Jesus Silva,
Coordenador-Geral da Associação Nacional das Vítimas de Montadoras e
Concessionárias Automobilísticas.
O SR. JAILTON DE JESUS SILVA - Deputada Ana Catarina, Presidenta da
Comissão de Defesa do Consumidor, Meio Ambiente e Minorias, senhoras e
senhores, boa tarde. Inicialmente, agradeço o convite para participar desta reunião;
cumprimento os Srs. Deputados Salatiel Carvalho e Luciano Pizzatto por nos
conceder a oportunidade de apresentar nossa opinião quanto ao assunto de hoje.
Esse assunto está voltado à segurança veicular, o qual tem sido objeto de estudos
constantes por parte dos trabalhos da ANVEMCA, entidade a ser constituída para
caminhar principalmente junto aos órgãos que defendem a vida e a segurança.
Neste momento, peço a atenção de todos para o texto que lerei a seguir:
Você pensa em pneus? É natural. Ninguém pensa
em pneus. Claro, afinal, você compra um carro pelo seu
modelo, motor, cor, mas nunca escolhe o pneu que o
equipa. E por quê? Talvez porque ninguém imagine a
importância desse item. Mas você está certo. Você não
tem que se preocupar com os pneus — conforme se
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afirma no site da Goodyear —, a Goodyear se preocupa
por você.
Bom, se isso fosse verdade... Mas, infelizmente, estamos aqui hoje para
discutir a questão dos pneus modelo Wrangler.
Conforme nos informou o Sr. Luiz Carlos Martins, a Goodyear destina 20%
dos seus produtos para a indústria automotiva; 40% para reposição e 40% para
exportação. Certamente, a exportação atende a legislação dos países aos quais vão
esses pneus. Deixo aqui uma pergunta: 40% do mercado pertence à Goodyear, o
maior mercado, e existe grande preocupação em relação a um estudo aprofundado
sobre o fato de o setor de reposição ter conhecimento e informar o consumidor de
que existem vários tipos de pneus; pneus para estrada de terra, para asfalto, etc.
Sobre o caso que está sendo discutido, deu-nos a entender o Sr. Gerardo
Tommasini, e acredito que ninguém deu outra interpretação — desculpe-me o Sr.
Gerardo Tommasini —, que o jornal Correio Braziliense se utilizou de má-fé
quando entrou em contato com a ANIP. Será que um jornal, quando entra em
contato com qualquer pessoa ou com um representante de uma montadora, tem que
abrir tudo para que a pessoa ou o diretor da empresa se prepare? Acho que não. A
questão tem de ser levada às claras. Não creio ter havido má-fé por parte do
jornalista.
A ANIP afirmou ainda há pouco que só tomou conhecimento do problema
devido à matéria, à entrevista do repórter. Acredito que uma empresa, a partir do
momento em que toma ciência do primeiro caso de algum problema, seja através de
um consumidor, seja através de um diretor de reposição, deve imediatamente fazer
um estudo sobre o que está acontecendo.
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Vejam os senhores: “23 de setembro de 2000. Desgastes nos pneus”. Vou
preservar o nome da empresa, porque estamos falando em qualidade de pneus e
também não sei qual a marca do veículo. “Estou surpreso com o forte desgaste
apresentado nos pneus do meu veículo x. Ele está com 25 mil quilômetros, vem
soltando escamas e até pequenos pedaços. É possível notar rachaduras. Em
contato com duas revendas de pneus, soube que isso se deve ao fato de eles não
terem sido adaptados para o clima do Brasil.” Temos aqui o nome da pessoa que
enviou correspondência para a seção Cartas, do jornal O Estado de S. Paulo.
Resposta: a empresa diz que a garantia dos pneus é concedida pelo fabricante. A
montadora afirma que o cliente contatou a Continental, que se colocou à disposição
para fazer avaliação. Réplica: Que a autorizada Mapel trocou cinco pneus, mas a
Continental não teria enviado perito algum. Vejam, para acontecer isso é preciso
pelo menos duas semanas.
Pergunto a V.Exas.: essa empresa já está fazendo estudos sobre o
problema? Quantos casos precisam acontecer para que um produto seja passível de
recall?
O Sr. Amarildo Baesso citou o art. 10. Existe o art. 64, que trata de crime na
relação de consumo.
Excelências, será que essas penas não estão sendo brandas? Um recall
chega a custar milhões. Será que seria gasto o mesmo valor em multas? Não seria
melhor fazer um recall silencioso? Inclusive a Goodyear está realizando recall,
recentemente dotado como recall branco pelo PROCON. Aí, então, está o perigo: a
empresa sabe e, muitas vezes, até comunica seu revendedor, mas eles não estão
preparados para informar o fato ao consumidor.
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Sra. Presidenta, era o que tinha a dizer.
A SRA. PRESIDENTA (Deputada Ana Catarina) - Dando prosseguimento aos
trabalhos, concedo a palavra ao nobre Deputado Salatiel Carvalho.
O SR. DEPUTADO SALATIEL CARVALHO - Sra. Presidenta, Deputada Ana
Catarina; caros colegas Deputados; senhores integrantes da Mesa; Sr. Luiz Carlos
Martins, Diretor de Assuntos Corporativos da Goodyear do Brasil; Sr. Marcos Aurélio
Lima de Oliveira, Chefe da Divisão de Programas de Avaliação da Conformidade da
Diretoria de Credenciamento e Qualidade, representante do Sr. Armando Mariante
Carvalho, Presidente do INMETRO; Dr. Gerardo Tommasini, da ANIP; Dr. Amarildo
Baesso, representante do Dr. Roberto Freitas Filho, Diretor do Departamento de
Proteção e Defesa do Consumidor, do Ministério da Justiça; Sr. Jailton de Jesus
Silva, Coordenador da Associação Nacional das Vítimas de Montadoras e
Concessionárias Automobilísticas.
A realização desta audiência pública é conseqüência natural de uma
sucessão de fatos da maior gravidade. Os acontecimentos no Brasil estão dentro de
um contexto mais amplo de acontecimentos rigorosamente semelhantes aos
ocorridos em outras partes do mundo.
Cito o caso dos Estados Unidos, onde, recentemente, não por iniciativa dos
fabricantes, mas por pressão de organizações de defesa dos consumidores e da
imprensa americana, os fabricantes de pneus tiveram de vir a público fazer o recall,
substituindo — não milhares — milhões de pneus. Particularmente estava em visita
aos Estados Unidos quando aconteceu toda essa movimentação. A realização
desse recall não estava sendo feita naquele país na época apropriada. A própria lei
brasileira estabelece que, sob a menor suspeita de defeito, deve ser feito
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imediatamente o recall. É o que reza o Código de Defesa do Consumidor. O
Ministério da Justiça, onde fica o DPDC, órgão responsável pela defesa do
Consumidor, deve ser informado e o fabricante deve tomar sobre si a
responsabilidade da imediata realização de recall. Estou falando de caso
semelhante verificado nos Estados Unidos.
No Japão, o governo descobriu, dezoito anos depois, omissão de recall
praticada pela empresa Mitsubish, que durante esse período tentou escamotear a
realidade dos fatos. Terminou havendo o recall.
Estamos falando de Primeiro Mundo, de tecnologia avançada, onde
fabricantes tentaram mascarar ou omitir — e omitiram — a realização de recall,
conforme exige a lei de qualquer país civilizado.
Conforme foi relatado, estamos diante de acidente não menos grave que
envolve pneus, com vítimas fatais.
Aproveito para parabenizar pelo menos um órgão da imprensa brasileira, o
Correio Braziliense, que tem sido exaustivo nesse assunto. A realização desta
audiência pública é exatamente em função das revelações trazidas a público pelo
Correio Braziliense em reportagens sucessivas, longas, dando inclusive a palavra
aos acusados, no caso a Goodyear. Vou ler trecho de matéria do jornal intitulada
“Silêncio na Goodyear”. Diz a reportagem do dia 31 de julho:
Desde 16 de julho, o Correio tenta falar com a
direção da Goodyear. Na terça 17, a assessoria de
imprensa informa que o Diretor de Assuntos Corporativos,
Luiz Carlos Martins, atenderia a reportagem. Na quarta
18, disse que ele estava no Nordeste e voltaria na sexta
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20. Nesse dia, o Diretor não havia retornado. Na segunda-
feira 23, a reportagem enviou um e-mail a Martins, mas
não obteve resposta. Na quarta 25, conversou com a
secretária de Martins. A posição oficial da empresa é de
que seu porta-voz está de férias até o dia 8 de agosto,
resumiu a secretária.
Sra. Presidenta, somente no dia 16 de agosto a Goodyear manifesta-se.
Portanto, 15 dias após a publicação da matéria. A resposta da empresa é
exatamente acusar o consumidor, dizendo que ele é o responsável por tudo, pois
que usou inadequadamente o pneu.
Mais grave é que a Goodyear não somente se omite — e se omite para a
imprensa, que representa os interesses da sociedade e quer esclarecer o
consumidor —, mas mente perante as autoridades do Governo brasileiro.
Em resposta ao questionário do Departamento de Proteção e Defesa do
Consumidor, com relação ao quantitativo de reclamações, diz: “A Goodyear do Brasil
confirma a informação constante na reportagem anexa, que, das 999.175 unidades
do pneu modelo 215/80, aro 16, comercializados no Brasil, foram registradas 14.986
queixas.” Resposta da Goodyear: “Confirmamos o número de queixas em geral, e
não especificamente sobre estouros.” Essa é a mentira da Goodyear.
Em carta datada de 8 de maio de 1996, dirigida ao perito responsável pelos
levantamentos sobre acidente ocorrido no início de 1995, que vitimou esposa de
funcionário público de Brasília, a Goodyear diz ao DPDC que as 15 mil reclamações
são generalizadas. Mas vejam o que diz a carta da Goodyear, assinada pelo diretor
de vendas: “Atendendo sua solicitação formulada na remessa efetuada em 2 de
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maio, aqui compareceram os senhores peritos participantes dos trabalhos de perícia
que estão sendo efetuados no processo referido... Efetuamos levantamento das
reclamações atendidas por soltura de banda de rodagem...”
Esse é exatamente o motivo do acidente ocorrido em 1995 a que nos
referimos e de outro acidente envolvendo fazendeiro do interior de São Paulo, que
ficou cego, e um parente seu, que ficou tetraplégico: soltura da banda de rodagem.
A Goodyear apresenta dados ano a ano, de 1988 a 1995. Em 1988, foram
registradas 523 reclamações. De 1989 a 1992, o pique de reclamações em relação
ao número de pneus produzidos foi de 2,25%, apesar de em sua declaração o Dr.
Tommasini ter estabelecido aproximadamente 0,5%. Em países civilizados, itens de
segurança não podem ter índice de falha acima de 0,01%. Entretanto, de 1988 a
1992, segundo a própria Goodyear, o número de reclamações de soltura de banda
de rodagem foi de 14.980.
Sra. Presidenta, também gostaria de ler algumas conclusões da perícia. Diz o
laudo da Secretaria de Segurança Pública de São Paulo: “A banda de rodagem do
pneu desprendeu-se” — ou seja, é o mesmo fato mencionado na carta da Goodyear,
segundo a qual foram registradas 14.980 reclamações, e essa mesma consideração
está no laudo do Instituto de Criminalística. “Em seguida, houve uma rápida
despressurização do pneu e o veículo perdeu o controle, causando acidente fatal.”
Outro documento de averiguação, ainda do Instituto de Criminalística,
revendo anotações — inclusive existem aqui no laudo fotografias que mostram
claramente toda a banda do pneu que se desprendeu de sua estrutura: “Do exposto,
este perito signatário conclui que o rompimento e desinflagem não se deram por má
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conservação.” Portanto, a colocação da culpa sobre o usuário pela Goodyear cai por
terra. Quem está dizendo é o próprio laudo do Instituto de Criminalística.
Sra. Presidenta, há ainda outra informação extraída agora do laudo do
renomado Instituto de Pesquisas Tecnológicas da Universidade de São Paulo,
completamente insuspeito. Nesse laudo encontramos o seguinte: primeiro, da
inspeção visual, banda de rodagem. Mesmo assunto constante da carta da
Goodyear. Diz aquele instituto: “A quase totalidade da banda de rodagem havia
desprendido do pneu” — isso no caso do acidente com a vítima aqui de Brasília —,
“restando apenas uma pequena porção com cerca de 15 centímetros de
comprimento.” Todas as figuras estão aqui no laudo. O exame revelou que um
descolamento ocorreu entre as duas lonas de aço que compõem a carcaça na
região de rodagem.
A análise do IPT ainda diz o seguinte: “O aspecto esgarçado dos fios
metálicos que compunham as lonas deve ser creditado ao estouro do pneu, pois a
forma do esgarçamento é característica de efeitos de ruptura por tração. Neste caso,
a única explicação seria o estiramento dos fios causado pela falta de proteção que
deveria ser fornecida pelas camadas externas do pneu, camada de borracha e uma
das lonas de aço e parte da outra — evidentemente, após a perda da banda, essas
camadas deixaram existir, a banda é a proteção superficial do pneu. Como essas
camadas deixaram de existir após a perda banda de rodagem — onde incidem as 14
mil reclamações —, a estrutura entrou em colapso culminando com o estouro.”
Diz ainda o laudo do IPT: “O descolamento da banda de rodagem
normalmente está associado a falhas ocorridas durante a fase de fabricação do
pneu. Essas falhas podem ter várias origens, dentre as quais podem ser
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enumeradas: falhas no projeto do pneu, má qualidade das matérias-primas, falha no
processo, falhas humanas e/ou equipamentos.” Agora, Sra. Presidenta, mais grave
ainda. Palavras do IPT: “Não foram encontrados, no caso daquele acidente fatal,
indícios de ação externa sobre o pneu que pudessem ter concorrido para os danos
verificados.” Mais uma vez cai por terra a falácia irresponsável da Goodyear de
querer colocar a culpa no consumidor.
Conclusão do IPT: “Com base nos itens 3 e 4, é nosso parecer que a causa
mais provável para descolamento da banda de rodagem junto com uma lona de aço
e conseqüente estouro do pneu teria sido uma falha de fabricação.”
(Intervenção inaudível.)
O SR. DEPUTADO SALATIEL CARVALHO - V.Exa. terá oportunidade de se
pronunciar. Então, esta é a conclusão do IPT.
E mais, Sra. Presidenta. Há no laudo do IPT pergunta mais objetiva que diz o
seguinte: “Pelo exame do pneu, pode ser detectado se o estouro decorreu de defeito
de fabricação?” Na hipótese afirmativa, qual teria sido esse defeito? O próprio IPT
responde que, de acordo com a análise efetuada, o estouro do pneu ocorreu após o
descolamento da banda de rodagem, junto com uma das lonas de aço.
Descolamento este ocasionado por defeito de fabricação — aqui é taxativo —, pois
não foram encontradas evidências de ação externa.
Então, se o DPDC tinha alguma dúvida, não tem mais. Está claro, a não ser
que ele queira consultar outro instituto — o INMETRO, quem sabe —, ou outra
esfera de tecnologia ou instituto de excelência científica para tirar suas conclusões.
Sra. Presidenta, estamos diante de fatos da maior gravidade. Num país
desenvolvido como os Estados Unidos foi realizado o recall. Chama-nos a atenção
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não só esse silêncio da Goodyear, essa demora em dar resposta, por intermédio da
imprensa, depois de tantos anos, mas também a forma como ela conduziu o
fechamento dos acordos, principalmente com o caso do Sr. Stamato, que ficou cego
de um olho, e de seu genro, então com 32 anos, que ficou tetraplégico.
Após essas considerações, quero fazer algumas perguntas ao representante
da Goodyear. A Goodyear confirma a existência dos casos fatais? Qual o número
dos processos e onde se encontram, mesmo arquivados? Por que a Goodyear fez
acordo antes de obter sentença judicial? Por que a Goodyear, em uma das cláusulas
do acordo, exige sigilo? Teríamos ainda perguntas para fazer ao representante do
Ministério Público. Como S.Sa. está ausente, esperamos fazê-las em reunião
posterior.
Segundo a Associação Nacional da Indústria de Pneumáticos — ANIP, a
fabricação de pneus no Brasil possui uma média histórica de defeitos comprovados
de 0,5% para carro de passeio. O Dr. Tommasini já prestou explicações. Na
verdade, no caso da Goodyear, nos anos de 1990 e 1991, o índice chegou a 3,16%.
Não seria o caso de comunicar às autoridade? E em 1991 já estava em vigor, no
Brasil, o Código de Defesa do Consumidor, que estabelece com clareza que
qualquer suspeita de defeito em fabricação deve ser comunicada imediatamente às
autoridades. Naquele ano houve 4.529 reclamações de soltura de banda de
rodagem em 900 mil pneus fabricados.
Em um ano o índice é de 3,16%, e a empresa não faz nada. Em 1992,
acontece um acidente, a empresa tenta composição com as vítimas e daí para frente
silencia. Nos Estados Unidos, onde houve também recall, a empresa tenta
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escamotear a verdade, inclusive negando ao DPDC o que já havia escrito numa
carta.
Vou passar ao DPDC cópia dessa carta, porque aqui está a prova de que os
senhores foram enganados, de que a Goodyear mentiu para os senhores e para a
sociedade brasileira.
Sra. Presidente, precisamos saber com clareza o que a Goodyear tem a dizer
sobre o assunto. Como a empresa explica o teor dessa carta, depois que os fatos
vieram a público? Talvez ela tenha pensado que a carta ficaria escondida nos
escaninhos de um grande e longo processo.
O laudo do IPT foi claro, taxativo: é defeito de fabricação, sim. A Goodyear
contestou esse laudo? Tem cópia da contestação do laudo do IPT? Se houve
contestação, qual a alegação técnica? Nas reportagens do Correio Braziliense não
há nenhuma alegação sobre o conteúdo técnico da contestação.
Faço a seguinte pergunta ao representante do INMETRO: qual o critério
utilizado pelo INMETRO para fornecer certificação exigida para fabricação de pneu
no Brasil? O INMETRO tinha conhecimento desses percentuais, visto que essa
denúncia já está na imprensa desde julho? Qual o comentário do INMETRO sobre o
índice de 3,16% de reclamações sobre a mesma causa?
A Goodyear também informa que esse pneu continua sendo usado e vendido,
mas diz também que foram feitas modificações na sua estrutura. Qual a razão para
tais modificações? Que mudanças técnicas foram feitas? A Goodyear sabe informar
se continuaram havendo reclamações com relação à soltura da banda de rodagem?
Sra. Presidenta, o DPDC encaminhou ofícios aos tribunais em que se
encontram os processos apresentados pela Goodyear, no dia 31 de agosto do
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corrente ano, solicitando aos juizes cópia de todos eles. Gostaria de saber se essas
cópias já chegaram, em que fase se encontra cada um dos processos e quais foram
as últimas providências tomadas pelo DPDC.
Obrigado.
A SRA. PRESIDENTA (Deputada Ana Catarina) - Concedo a palavra ao
Deputado Luciano Pizzatto.
O SR. DEPUTADO CELSO RUSSOMANNO - Deputado Luciano Pizzatto,
antes de V.Exa. usar a palavra, gostaria de fazer um comentário. Não vou citar o
nome da empresa.
Em visita a outro fabricante de pneus — isso pode inclusive ser usado depois
pelo DPDC; por enquanto reservo-me o direito de não citar nomes —, que faz parte
da Associação Nacional da Indústria de Pneumáticos, da qual o Dr. Gerardo
Tommasini é presidente, ele me disse textualmente que não entendia como a
Goodyear conseguia praticar preços em pneus. Eles é que faziam todos os
levantamentos de custos e não conseguiam chegar aos preços que a Goodyear
tinha. Depois dessa denúncia e do acorrido com esses pneus especificamente é que
eles vieram compreender que a qualidade do material empregado não era boa.
Sou testemunha desse relato. Se necessário, revelarei seu nome. Havia outra
pessoa presente, que também pode depor sobre a veracidade dos fatos. Eles
disseram que testavam, faziam cálculos e mais cálculos para chegar aos preços que
a Goodyear oferecia, em relação a esse pneu, e não conseguiam entender como ela
conseguia isso. Depois ocorreram todos esses fatos. Esse depoimento foi prestado
em um almoço na própria indústria.
Obrigado.
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O SR. DEPUTADO LUCIANO PIZZATTO - Sra. Presidenta, Srs. Deputados,
essa questão de pneus é muito interessante. Conheço o Gerardo Tommasini há
muitos anos. Parece-me que está sendo editado livro chamado “Guerra dos Pneus”
— você e eu seremos, com certeza, parte integrante; talvez em posições diferentes,
em alguns momentos.
Temos realizado palestras, aulas técnicas com o INMETRO, com o IPT,
visitado fábricas. Todos falavam em profil, banda, ângulo, uma série de coisas que
talvez não tenhamos sequer imaginado.
Todo aquele processo da famosa guerra dos pneus resultou em avanço para
a sociedade brasileira, mas gerou processo extremamente interessante.
Depois tivemos a intempestiva CPI da Borracha, de que fui Relator —
aconteceu sete ou oito anos depois do fato. Todos diziam que aquela CPI seria
apenas para ganhar tempo, mas teve seu relatório aprovado, e conseguimos levá-la
até o fim.
Sra. Presidenta, hoje estou me limitando a analisar esse processo com a
Goodyear pela ótica da existência ou não da necessidade de um recall e da postura
adotada ou não pela Goodyear, e não em função de todo esse histórico que tivemos,
com bons e maus momentos, mas que nos permitiu ter o mínimo de bagagem para
talvez entendermos — não como especialista; somos generalista — o que estamos
discutindo.
Na verdade, não fui autor do requerimento. Apenas atendi ao pedido da
Presidência. Mas quero dizer que devemos aproveitar este momento e fazer ampla
avaliação sobre a qualidade dos pneus no Brasil, especialmente porque são poucas
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empresas. Talvez estejamos frente a um equívoco da Goodyear sobre a
sensibilidade do consumidor brasileiro e do Congresso Nacional.
Não quero dizer que houve má-fé ou má vontade. Mas, no mínimo, houve
desconsideração sobre o nível político da sociedade brasileira, em relação ao
consumidor.
Para tecer esse comentário, baseio-me em um documento formal da
Goodyear, entregue ao DPDC no dia 22 de agosto de 2001, assinado pelo Dr. Luiz
Carlos Martins. Com todo respeito, teria tomado mais cuidado ao responder a esse
documento. Ou ele é peça exclusivamente feita por um advogado, que quer
responder tudo sem dizer absolutamente nada — e essa é a função do advogado da
empresa; perdoem-me os outros advogados presentes —, ou é peça de alguém que
acha que ninguém vai lê-lo, porque a leitura de uma reposta deve ser feita à luz de
outros documentos.
Gostaria de tentar demonstrar aqui por que penso que essa resposta, no
mínimo, é uma desconsideração.
V.Sa. teria o manual do pneu 215/80, aro 16, nas suas mãos? Deve ter,
porque veio até aqui defendê-lo. Gostaria de ler o manual distribuído em 1989, 1990,
1991, 1992, que V.Sa. obviamente não terá. Mas o leremos em momento oportuno.
(Intervenção inaudível.)
O SR. DEPUTADO LUCIANO PIZZATTO - Dos produtos (ininteligível). Esse
é o atual. Agora, já passamos por todas as dificuldades que V.Sas. viveram, por
todos os avanços tecnológicos, por todas as dificuldades de recall. E aqui está
claro, item 2 da pergunta: que tipo de veículo pode usar os pneus? Não entendo
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bem de veículos. V.Sa poderia me dizer quais veículos não podem utilizar esses
pneus, como bem respondeu no item 2?
(Intervenção inaudível.)
O SR. DEPUTADO LUCIANO PIZZATTO - Não, pergunto apenas se está
escrito. V.Sa. pode responder depois.
O SR. LUIZ CARLOS MARTINS - Não necessariamente.
O SR. DEPUTADO LUCIANO PIZZATTO - Não necessariamente. V.Sa. é
advogado?
O SR. LUIZ CARLOS MARTINS - Não.
O SR. DEPUTADO LUCIANO PIZZATTO - Não necessariamente.
O SR. LUIZ CARLOS MARTINS - Tenho a formação...
O SR. DEPUTADO LUCIANO PIZZATTO - Quero apenas registrar que a
única defesa possível para a Goodyear, à luz do Código de Direito do Consumidor,
era ter informado ao consumidor que esse produto não serve para determinados
veículos. Não há mal nenhum nisso. É absolutamente normal. Só que nem isso a
Goodyear fez. Não fez em 1989, em 1990, em 1991, em 1992, nem em 2001. Isso
não é proteção ao consumidor. Por quê? Está escrito aqui que seus engenheiros
descobriram que, por características do brasileiro, esse produto é aplicado em
algumas caminhonetes e pode ocasionar problemas, porque elas estão
inadequadas, segundo opinião da Goodyear. Não concordo com isso; engenheiros
de IPT, também não; mas a Goodyear tem direito a essa opinião. Sendo assim, a
empresa teria de colocar um alerta, no mínimo chamar a atenção para o fato.
Sei que é chato ficarmos falando e V.Sa. não poder se defender. A não ser
que a Presidenta queira permitir um rápido esclarecimento.
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(Intervenção inaudível.)
O SR. DEPUTADO LUCIANO PIZZATTO - Veja bem, estou usando sua
informação e seu manual. Não estou usando recorte de jornal — e respeito os
jornalistas, pois eles fizeram um belo trabalho. Só estou dizendo que aqui não existe
nenhum alerta sobre o uso: atenção, não use para produtos...
Seria importante V.Sa. prestar alguns esclarecimentos.
Essa é apenas a primeira falha. Em conseqüência disso, já que não consta do
manual — portanto o consumidor não foi atendido, como determina a lei que trata do
direito do consumidor, art. 12 —, foi perguntado de maneira muito clara quando
foram feitas mudanças tecnológicas pela Goodyear. V.Sa. saberia informar em que
ano, para seguir minha linha de raciocínio?
O SR. LUIZ CARLOS MARTINS - Em 1992.
O SR. DEPUTADO LUCIANO PIZZATTO - Em 1992. Olhem que milagre da
estatística! Quando foram feitas mudanças tecnológicas, o índice de 3,2%, de 1991,
e o índice superior a 2,5%, de 1992, chegaram quase a zero; na verdade, a
0,0003%. Parabéns! Fruto do esforço da Goodyear, que diz não ter havido problema
no ano anterior. Fez mudanças tecnológicas, provou estatisticamente que as
mudanças deram certo, e não admite que antes havia problemas.
Compreendo que talvez 0,5% tenha sido força de expressão do Dr. Gerardo
Tommasini. Daí S.Sa. diz que pode ser um, mas seu índice era três. Na verdade seu
índice não era três, Dr. Luiz Carlos. Sabe por quê? Da produção de 160 mil pneus,
em 1989 e 1992, V.Sa. excluiu os exportados? Não.
(Intervenção inaudível.)
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O SR. DEPUTADO LUCIANO PIZZATTO - Nenhuma. Mas houve, porque
qualquer índice de exportação que V.Sa. jogue aqui só vai prejudicar seu percentual.
Vejam, 2,4% na média, 3,16% de pico — isso era no mínimo indicativo de que essa
empresa deveria ter feito imediatamente um comunicado público. No mínimo,
publicação em jornal.
Sobre a carta de 8 de maio de 1996, levando em consideração sua resposta
do dia 22 de agosto de 2001, agora esclarecida, porque V.Sa. não respondeu ao
DPDC — eles perguntaram quando, mas não foi dito —, na época em que foram
feitas alterações tecnológicas e houve a queda de cerca de 4 mil reclamações, para
19, é evidente que V.Sas. resolveram o problema.
(Intervenção inaudível.)
O SR. DEPUTADO LUCIANO PIZZATTO - Não, V.Sa. sem dúvida dará...
No meu modo de entender, na minha ingenuidade de consumidor, se alguém
responde que tomou uma medida, fez avanços tecnológicos e estatisticamente
provou que os avanços deram certo, está demonstrando decisão correta, mas está
confessando que havia problema antes. Está aqui: fiz a mudança, reduzi de 4 mil
para menos de vinte casos. Desculpem-me, 4 mil casos comunicados, porque eu,
por exemplo, tive uma caminhonete — não sei se o pneu era Goodyear — com
problema idêntico. Estourou a banda, fui parar no barranco e, lógico, não reclamei.
Simplesmente troquei o pneu. Essa é a média do brasileiro. Quem reclama está fora
da média. Agora, é gravíssimo que o seu manual não dê as indicações de risco, se
for mal utilizado. Creio que nem isso está escrito no manual. É isso que o cidadão
recebe .
(Intervenção inaudível.)
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O SR. DEPUTADO LUCIANO PIZZATTO - Não só isso. Tem o certificado de
garantia. Mas creio que lá também não consta quais veículos não podem utilizar
esse pneu. Mas os senhores elaboraram boletim técnico sobre os problemas?
Obrigatoriamente, se fizeram avanços, haverá boletim técnico. O senhor tem cópia
do boletim técnico para os seus revendedores? Se houve reclamações e os
senhores promoveram mudanças, deveriam ter comunicado nos boletins técnicos,
que são os manuais que os revendedores têm a respeito dos produtos que vendem.
É lei.
Os senhores emitiram comunicado para dizer quais foram as alterações que o
pneu modelo Wrangler sofreu? O boletim deve ser alterado para informar qual a
composição da borracha, o tipo de colagem, o ângulo e outras mudanças. Foi feito
isso? O material foi mandado para os revendedores qualificados?
O SR. LUIZ CARLOS MARTINS - Quando era o caso, sim, Deputado. Não as
tenho aqui, não sei quais especificamente, mas, se necessário...
O SR. DEPUTADO LUCIANO PIZZATTO - Alerto que consultamos os
revendedores e, se o boletim técnico foi mandado — o senhor está afirmando isso
—, eles não foram qualificados. Se receberam, ninguém da Goodyear tomou o
cuidado de dar treinamento específico aos revendedores para que enfrentassem os
consumidores, no bom sentido, e explicassem por que não houve treinamento na
sua rede de revendedores. O que houve, no máximo, foi a emissão do boletim
técnico, mas o senhor pode responder isso depois.
Há outro aspecto: percentual de qualidade. Pergunto ao representante do
INMETRO se existe norma brasileira estabelecendo qual o percentual de
reclamações por defeito de fábrica ou de fabricação aceitável para pneus. O Sr.
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Gerardo Tommasini, coitado, não determina normas; emite no máximo sua opinião.
Não existe? A Goodyear sabe se existe norma nos Estados Unidos?
A SRA. PRESIDENTA (Deputada Ana Catarina) - Há alguma norma
internacional?
O SR. DEPUTADO LUCIANO PIZZATTO - Não. Indago o seguinte: qual o
percentual de reclamações que os senhores têm em relação aos pneus da
Goodyear vendidos no mercado norte-americano? Gostaria de saber no mercado
norte-americano, porque precisamos ter referência, senão poderemos dizer uma
besteira, Sra. Presidenta.
Tenho certeza de que — a ANIP falou n vezes do orgulho da qualidade da
produção de pneus brasileiros — o índice de 3% fecharia a minha fábrica de
compensado. O meu compensado não é de grande qualidade, porque produzo
compensado de embalagem.
No período considerado, o pico atingiu 3,16%, no ano de 1991.
O SR. LUIZ CARLOS MARTINS - Três por cento de...
O SR. DEPUTADO LUCIANO PIZZATTO - Reclamações atendidas.
O SR. LUIZ CARLOS MARTINS - Reclamações.
O SR. DEPUTADO LUCIANO PIZZATTO - Atendidas. Existem milhares não
atendidas. Mas seria bom sabermos qual o índice de reclamação em outros países.
Gostaria de saber também sobre a durabilidade dos pneus. As mudanças
realizadas em 1992 e 1993 envolveram a durabilidade do pneu — ou seja, o tempo
de rodagem dos pneus — ou não? Ou simplesmente envolveram aspectos de
segurança?
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Em depoimento, o antecessor do Sr. Gerardo Tommasini proferiu declaração
que me marcou profundamente. Tenho as notas taquigráficas. S.Sa. disse que, no
Brasil, investem em qualidade, ao passo que em vários países do mundo
estabelecem 20% de margem na capacidade de carga dos pneus como tolerância.
No caso brasileiro, como sabem que os caminhoneiros levam um pouco mais de
carga, a margem é de 100%. Considerei a declaração ótima e, ao mesmo tempo,
péssima, porque estimulava a destruição das estradas brasileiras.
Guardei a informação profundamente, porque considerei que levaria muitos
anos para assimilá-la e entender se foi boa ou ruim. Até hoje, confesso, penso sobre
o assunto, mas continuo na dúvida.
Indago, portanto, sobre a durabilidade e a capacidade de sobrecarga dos
pneus modelo Wrangler, em relação ao eventual — está na sua tabela — veículo
que vai utilizá-lo, e qual a sua resistência em relação ao peso. A grande justificativa
dos seus técnicos, respondendo à notificação do DPDC, é que equipamentos
adicionais usados nos veículos brasileiros — é mania do brasileiro pendurar
algumas coisinhas — gerariam sobrepeso, o que ocasionaria acidentes.
Qual é o cálculo a respeito do que se pode pôr em cima da caminhonete? Por
exemplo, uma nova cabine mais pesada do que a tara dela com carga. Há mais os
“x” por cento que o pneu obrigatoriamente deve suportar. Não sei se a porcentagem
do pneu Goodyear é de 15%, 20%, 30% ou 100%, além do que suporta. Realmente,
não há cálculo que me permita aceitar a explicação, a não ser que haja laudo
demonstrando qual é o peso normal, o peso com carga, o peso adicional, o que
acarreta adicionar uma cabine de fibra de vidro etc. Enfim, qual é a capacidade
adicional de carga indicada?
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Sr. Presidente, apesar do horário, farei várias perguntas, em especial sobre o
recall silencioso, o chamado recall branco.
Solicito que V.Sa. objetivamente esclareça se a Goodyear realizou ou não o
recall branco para alguns consumidores e se efetuou acordos sigilosos no Brasil.
(Intervenção inaudível.)
O SR. DEPUTADO LUCIANO PIZZATTO - De forma alguma. Nos Estados
Unidos fez?
(Intervenção inaudível.)
O SR. DEPUTADO LUCIANO PIZZATTO - Então, a informação do New York
Times foi mentirosa?
(Intervenção inaudível.)
O SR. DEPUTADO LUCIANO PIZZATTO - Mas não fez?
(Intervenção inaudível.)
O SR. DEPUTADO LUCIANO PIZZATTO - Vou parar por aqui, Sra.
Presidenta. O Presidente do INMETRO disse haver norma sobre qualidade de
pneus, que estava sob consulta pública. Ela foi publicada?
O SR. LUIZ CARLOS MARTINS - O regulamento a que V.Exa. se refere trata
de pneus reformados, não de pneus novos. O dispositivo sobre pneus novos está
regulamentado desde 1996. Entrou em vigor a partir de 1997. O que foi aprovado
recentemente e estava em consulta pública foi a norma sobre pneus reformados.
O SR. DEPUTADO LUCIANO PIZZATTO - Reformados. Está bom.
Concluo dizendo ao DPDC que tenho grande tendência a acreditar que
realmente houve falha da Goodyear. Estaticamente, somos induzidos a isso. A
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resposta da Goodyear inclui medidas corretas adotadas em determinado ano.
Conseqüentemente, havia algum problema.
Apóio totalmente o Departamento de Proteção e Defesa do Consumidor.
Independentemente da época em que ocorreram os problemas, sigam em frente.
Também acredito que o tema “qualidade do pneu” deva ser melhor compreendido e
estudado por esta Comissão. Contamos com o apoio do INMETRO; da Associação
Nacional das Vítimas de Montadoras e Concessionárias Automobilísticas,
representada pelo Sr. Jailton; do DPDC; da ANIP; e também de empresas como a
Goodyear.
Espero que as empresas tratem o consumidor não mais através da relação
jurídica, mas, sim, de parceria, porque é o grande objetivo do Código de Defesa do
Consumidor.
Ao observar os documentos, não percebi isso até o momento. Só me baseei
nos documentos, inclusive no seu. Não utilizei na minha argumentação nenhuma
outra informação. Sei qual será sua linha de defesa. Alerto: o que fica para o
cidadão brasileiro é o primeiro contato.
No Brasil, estamos tentando superar os contratos com letras pequeninas, que
explicam os benefícios que não podem ser usados e geralmente são lidos na frente
do juiz. Se existe algum problema, aconselho os senhores a explicitarem no Código.
É o instrumento que o consumidor consulta na hora de comprar.
Muito obrigado, Sra. Presidenta.
A SRA. PRESIDENTA (Deputada Ana Catarina) - Passaremos a palavra aos
expositores, para darem as devidas explicações.
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Com a palavra o Sr. Luiz Carlos Martins, Diretor de Assuntos Corporativos da
Goodyear do Brasil.
O SR. LUIZ CARLOS MARTINS - Obrigado, Sra. Presidenta, Sras. e Srs.
Deputados.
Todas as explicações publicadas ou dadas em nossas respostas até agora,
quer seja por organização das idéias, quer seja por qualquer outro fato, jamais
tiveram a intenção de dizer que nossos clientes eram ou são os culpados por
qualquer das conseqüências discutidas aqui. Jamais passou pela nossa cabeça ou
foi nossa intenção nos defendermos. Não acreditamos que estamos fazendo isso
agora. Mas sou obrigado, como representante da Goodyear, a defender a imagem
da empresa.
A empresa, há oitenta anos, cumpre todos e quaisquer quesitos legais, éticos
e de bons costumes nas relações com clientes, mesmo porque é até questão de
inocência não agir assim. Quem faz o julgamento da empresa são os clientes.
Portanto, se transpareceu dessa forma, pedimos desculpas, mas de maneira alguma
dissemos isso, ou pelo menos pretendemos dizê-lo.
Em segundo lugar, produzimos pneus no mundo inteiro. Somos 100 mil
pessoas fazendo pneus na maioria dos países do mundo. Existe, então,
simplesmente uma só tecnologia, até por economia. Obviamente, a empresa está
aberta a quem, entre os presentes, quiser se certificar dessa realidade. Aliás, o
Deputado Salatiel Carvalho já teve essa oportunidade. Não temos condições de
fabricar um pneu com qualidade para exportar e outro com qualidade diferente para
o mercado local. Insisto: nossa empresa está de portas abertas para aqueles que
tiverem curiosidade sobre o assunto e quiserem se certificar da realidade.
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Não há como adotar duas linha de produção e ainda ser economicamente
viável. Portanto, é muito mais econômico, até por questão de inteligência, fazer o
produto com um só tipo de qualidade.
Por isso, quando afirmamos — e os Deputados mencionaram a questão de
mercados mais evoluídos, que exigem mais qualidade — que exportamos para mais
de noventa países do mundo, estamos querendo dizer que exportamos para os
Estados Unidos, para a Europa, para o Japão produtos fabricados nas nossas duas
fábricas: uma localizada em Americana e outra em Belenzinho, São Paulo. Os
funcionários são operadores brasileiros com competência internacional. O nosso
índice de qualidade nos dias atuais — e falo da operação brasileira, porque não
disponho de dados relativos à operação americana — é, em geral, de 99,8%.
Sou obrigado a fazer essas observações iniciais, para que não tenhamos —
sei que não é intenção de ninguém — a idéia de que estamos falando de empresa
que mente ou é antiética. Desculpe-me, Deputado. Não é a realidade. Falo isso com
a experiência de quem está há trinta anos na empresa; e podemos, obviamente, ter
interpretações...
O SR. DEPUTADO SALATIEL CARVALHO - Sr. Presidente, peço a palavra
pela ordem.
Para melhor ordenar os trabalhos e por economia de tempo dos expositores e
também dos Parlamentares — não sei se o representante da Goodyear anotou as
perguntas que foram feitas por mim, que fui o primeiro a perguntar —, sugiro que o
orador vá direto ao assunto, respondendo, item por item, a respeito do que lhe foi
perguntado. Assim aproveitaremos melhor o tempo. Se S.Sa. não anotou as
perguntas, posso repeti-las.
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O SR. PRESIDENTE (Deputado Luciano Pizzatto) - Entendo, Excelência. Só
não posso alterar a linha de uso do tempo do orador. O Sr. Luiz Carlos Martins está
usando o tempo para ponderar, mas peço, por gentileza, que seja mais objetivo;
inclusive porque teremos Ordem do Dia daqui a alguns minutos. A reunião à tarde é
muito ruim para nós, por causa da Ordem do Dia.
Peço desculpas ao Sr. Luiz Carlos Martins, mas compreendo a preocupação
do Deputado Salatiel Carvalho.
O SR. LUIZ CARLOS MARTINS - Serei objetivo. Não tínhamos hoje por
objetivo, Deputado, mencionar o caso levantado aqui, que se encontra sub judice.
Aliás, respondendo a uma de suas perguntas, nós não tocamos no assunto, quando
da reportagem do Correio Braziliense, justamente para não falar sobre um caso
que está em julgamento na Justiça brasileira. Vou dizer apenas o que temos para
comunicar a respeito do caso. O acidente ocorrido em janeiro de 1995, envolvendo o
pneu modelo Wrangler R-10, R-15, produzido em maio de 1991, com mais de 60 mil
quilômetros rodados, está em julgamento na 30ª Vara Cível de São Paulo.
Segundo análise de nossos técnicos, o problema não foi causado por defeito
de fabricação e sim por impacto. Se me recordo, V.Exa. teria dito que a conclusão
do IPT é de que o laudo não era conclusivo; ou seja, a causa mais provável...
O SR. DEPUTADO SALATIEL CARVALHO - Sr. Presidente, só para
esclarecer melhor, gostaria, já diante da afirmativa do Dr. Luiz Carlos, de perguntar
sobre o laudo técnico que comprova a causa do acidente por impacto. Há
comprovação?
O SR. LUIZ CARLOS MARTINS - Existe, obviamente, laudo do nosso perito,
que está em juízo, anexado ao processo, Deputado. Assim como o laudo do IPT.
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O SR. DEPUTADO SALATIEL CARVALHO - Mas V.Sa. afirma que a
Goodyear tem laudo que comprova que o acidente foi provocado por impacto?
O SR. LUIZ CARLOS MARTINS - Ela tem laudo com a análise de um técnico
de pneus, nomeado como perito do processo.
O SR. DEPUTADO SALATIEL CARVALHO - Esse documento está nos
autos?
O SR. LUIZ CARLOS MARTINS - Está nos autos.
O SR. DEPUTADO SALATIEL CARVALHO - Só uma informação, porque a
Comissão vai pedir posteriormente.
O SR. LUIZ CARLOS MARTINS - Isso está nos autos. Aliás, Deputado, tenho
cópia aqui, se V.Exa. quiser.
O SR. DEPUTADO SALATIEL CARVALHO - Se puder deixar, agradeço.
O SR. LUIZ CARLOS MARTINS - Com prazer.
O SR. DEPUTADO MILTON BARBOSA - Sr. Presidente, sendo assim, o Dr.
Luiz Carlos Martins não pode dizer que o Deputado Salatiel está errado.
O SR. LUIZ CARLOS MARTINS - Desculpem-me, não faria isso. Eu não
estou dizendo isso.
O SR. DEPUTADO MILTON BARBOSA - O Deputado Salatiel Carvalho
expôs aqui o laudo do IDPT.
O SR. LUIZ CARLOS MARTINS - Do IPT.
O SR. DEPUTADO MILTON BARBOSA - E afirma que ocorreu o problema
por causa do pneu.
O SR. LUIZ CARLOS MARTINS - Defeito de fabricação.
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O SR. DEPUTADO MILTON BARBOSA - Defeito de fabricação. E V.Sa. diz
que não há essa comprovação, que consta dos autos.
O SR. LUIZ CARLOS MARTINS - Não, Excelência. Quero apenas fazer um
esclarecimento. O laudo que o nobre Deputado Salatiel Carvalho leu é do IPT e do
perito oficial indicado pelo juiz. Esse laudo indica que não havia indícios. Duvido que
o da Goodyear diga conclusivamente alguma coisa que indique que...
O SR. DEPUTADO SALATIEL CARVALHO - Não, quero apenas ressaltar
que esse laudo é bem claro e diz que não há nenhum...
(Não identificado) - Causa externa.
(Não identificado) - Causa externa.
(Não identificado) - ...nenhuma indicação de causa externa.
(Não identificado) - E a Goodyear afirmou o contrário.
O SR. DEPUTADO SALATIEL CARVALHO - O que o Dr. Luiz Carlos Martins
está dizendo é que a Goodyear, em sua defesa, em laudo feito pelos seus peritos,
indica que houve causa externa. Mas temos de ler o laudo deles para saber o que
está acontecendo.
(Não identificado) - É exatamente isso.
(Não identificado) - Claro.
(Não identificado) - É lógico que se está falando do laudo produzido pela
Goodyear, o que faz parte da estratégia de defesa.
(Não identificado) - Claro, exatamente.
(Não identificado) - Deputado, V.Exa. poderia ser gentil e...
(Não identificado) - Pois não.
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(Não identificado) - Eu havia perguntado por que a Goodyear fez o acordo
sem haver sentença judicial, no caso do acidente ocorrido.
O SR. LUIZ CARLOS MARTINS - À época, muito se falou a respeito das
quase 14.900 queixas. Perdoe, Excelência, minha intervenção, mas apenas
pequeno número dessas queixas se referia ao estouro.
(Não identificado) - Permita-me V.Sa. ler a carta da Goodyear. Quero
apenas que V.Sa. confirme se a carta é autêntica, se a Goodyear assume a
responsabilidade dessa informação.
A carta da Goodyear, dirigida ao perito, diz que foi efetuado levantamento das
reclamações atendidas por soltura de banda de rodagem. Os casos verificados de
estouro foram conseqüência desse evento, ou seja, da soltura de banda de
rodagem.
Então, a informação que a Goodyear está dando aqui para o perito é que as
14.900 reclamações foram por soltura de banda de rodagem. V.Sa. confirma a
autenticidade dessa carta?
O SR. LUIZ CARLOS MARTINS - Confirmo. Essa carta é autêntica.
(Não identificado) - A informação é verdadeira?
O SR. LUIZ CARLOS MARTINS - Sim. Estouros de pneumáticos não
acontecem unicamente por soltura de banda de rodagem. Além do que, só
explicando a V.Exas., a soltura de banda de rodagem pode ter grande causas.
(Não identificado) - V.Sa. quer dizer que não é somente por defeito de
fabricação...
O SR. LUIZ CARLOS MARTINS - Não, obviamente.
(Não identificado) - Ou nem é defeito de fabricação?
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O SR. LUIZ CARLOS MARTINS - Não necessariamente.
(Não identificado) - V.Sa. elimina completamente a hipótese de defeito de
fabricação?
O SR. LUIZ CARLOS MARTINS - Não estou dizendo isso a V.Exa. Estou
dizendo que a soltura...
(Não identificado) - Para esclarecer melhor, Sra. Presidenta, no meu
entender de leigo — gostaria que V.Exa. e o Dr. Gerardo Tommasini, experiente na
área, me ajudassem, porque sou leigo no assunto; estou tomando informações a
partir do que a própria Goodyear diz —, soltura de banda de rodagem é desmanche
do pneu, porque a banda de rodagem é a proteção superficial mais externa do pneu.
Se essa banda de rodagem se solta, descola-se, desprende-se, é desmonte do
pneu.
V.Sas. estão dizendo aqui que houve, em 999 mil pneus fabricados, 14.980
reclamações de soltura de banda de rodagem. São V.Sas. que estão dizendo. Então
isso, para mim, é desmonte do pneu. Evidentemente, nem todos os pneus que
tiveram soltura de banda estouraram. Mas o estouro veio e, conseqüentemente, o
acidente. Inclusive, no caso do acidente com vítima, de Brasília, tenho fotos do
processo. Não há apenas pneu completamente no aço, como há a banda de
rodagem completamente desprendida. O veículo saiu da estrada, causando essa
morte.
É importante para a Comissão que V.Sa. confirme a autenticidade dessa
carta, uma vez que já reconhece que a informação é verdadeira.
O SR. LUIZ CARLOS MARTINS - Claro. A única coisa que estou tentando
clarear, para que possamos chegar à conclusão mais adequada possível, é que o
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estouro de pneu... Aliás, nem todos os casos são de estouro de pneus, nem toda
soltura de banda de rodagem também causa estouro. A interpretação dos dados
estatísticos não é algo direto. Deixe-me apenas completar minha idéia. À época, de
1988 a 1995, fizemos evolução tecnológica desse produto. A carta pode levar a
várias interpretações, não está bem formulada. As 523 queixas não ocorreram em
1998, mas em 1981. Essas, especificamente, que V.Exa. tem em mão, ocorreram
numa média de três anos após a produção do pneu. No caso específico de que
estamos falando, eram 63 mil quilômetros rodados.
O SR. DEPUTADO SALATIEL CARVALHO - As reclamações ditas pela
Goodyear não são referentes ao ano de 1988?
O SR. LUIZ CARLOS MARTINS - Na realidade são referentes à produção de
1988, mas as queixas não ocorreram nesse mesmo ano. É lógico que, se faço pneu
hoje, não tenho a reclamação amanhã, a não ser que haja problema grave e
estrutural, o que não existia em nosso produto.
O SR. DEPUTADO SALATIEL CARVALHO - E como V.Sa. explica o fato de
a Goodyear apontar, numa coluna, a produção, e na outra, reclamações e o ano?
O SR. LUIZ CARLOS MARTINS - Não consigo explicar-lhe exatamente a
razão por que...
O SR. DEPUTADO SALATIEL CARVALHO - V.Sa. não consegue explicar
uma carta da sua própria empresa?
O SR. LUIZ CARLOS MARTINS - Não, veja bem. Em relação a essa carta,
obviamente não posso, mas tenho documentos que provam...
O SR. DEPUTADO SALATIEL CARVALHO - Ou V.Sa. quer dizer que a carta
da sua empresa está errada?
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O SR. LUIZ CARLOS MARTINS - Não; errada, não. Creio que ela esteja
colocada de forma...
O SR. DEPUTADO SALATIEL CARVALHO - Mal formulada?
O SR. LUIZ CARLOS MARTINS - ...que leva a essa interpretação. O que se
quis dizer na carta foi que as 523 reclamações são referentes à produção de 1988 e
não ocorreram no próprio ano. Elas ocorreram depois de 1991, nesse caso
específico. É um pouco diferente. E a Goodyear dispõe, obviamente, desses dados,
para comprovar o que estou falando.
O SR. DEPUTADO SALATIEL CARVALHO - Encerrando a compreensão
dessa carta, então V.Sa. confirma que as 14.980 reclamações foram referentes à
soltura da banda de rolagem?
O SR. LUIZ CARLOS MARTINS - Claro.
O SR. DEPUTADO SALATIEL CARVALHO - Obrigado. Ou seja, a
informação dada ao DPDC agora está incorreta.
O SR. LUIZ CARLOS MARTINS - Não consigo juntar as duas coisas.
O SR. DEPUTADO SALATIEL CARVALHO - Posso ler para V.Sa. o que a
Goodyear respondeu ao DPDC. Primeiro: “Confirmamos o número de queixas em
geral e não especificamente sobre estouros".
O SR. LUIZ CARLOS MARTINS - Exatamente.
O SR. DEPUTADO SALATIEL CARVALHO - Prosseguindo: esses números
referem-se ao total de reclamações atendidas em todo o território nacional, incluindo
toda a rede de revendedores. Certamente não significa dizer que foram atendidas
por terem se caracterizado como defeito de fabricação. Isso inclui também
atendimentos por política comercial. Não é o que está dito na carta. A carta diz que
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as 14.980 reclamações foram por soltura de bandagem, o que V.Sa. acaba de
confirmar.
O SR. LUIZ CARLOS MARTINS - Sim, sem dúvida.
O SR. DEPUTADO SALATIEL CARVALHO - Então, a resposta ao DPDC
está diferente do que a Goodyear diz na carta de 1996. Por isso, até pedindo
desculpas a V.Sa. pela veemência da minha argumentação, não quero dizer que foi
uma mentira, mas uma omissão, e houve respostas diferentes. Não se trata de
interpretação. O DPDC agora tem essa carta também. O DPDC tem o processo em
mão e vai fazer o seu julgamento. Na minha visão, a resposta ao perito, em 1996, e
a resposta ao DPDC são coisas diferentes. Pela leitura da resposta ao DPDC, é
possível entender que essas 14.980 reclamações foram de toda ordem, seja por
uma falha, seja por um corte no pneu. No entanto, a carta de 8 de maio de 1996 é
bem específica e deixa claro, como V.Sa. já confirmou, que as 14.980 reclamações
aconteceram por soltura de banda de rodagem, que significa desmanche do pneu.
O SR. LUIZ CARLOS MARTINS - Deputado, em relação à nossa resposta ao
DPDC, se tivéssemos de fazê-la novamente, seria como essa, porque, na
realidade...
O SR. DEPUTADO SALATIEL CARVALHO - Como a carta de 1996?
O SR. LUIZ CARLOS MARTINS - Não, não. Como a resposta que demos
para ele, porque, na realidade, o que...
O SR. DEPUTADO SALATIEL CARVALHO - E qual a explicação de V.Sa.
em relação à diferença de conteúdo? Eu não sei, mas talvez o Sr. Amarildo Baesso
possa esclarecer o objetivo do DPDC com essa quinta pergunta. Seria possível?
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O SR. AMARILDO BAESSO - Como a reportagem do jornal Correio
Braziliense se referia a acidentes por soltura de banda de rodagem e,
conseqüentemente, em todos os casos, a estouro do pneu, o objetivo era
exatamente averiguar os números relativos a essas ocorrências.
O SR. LUIZ CARLOS MARTINS - A única coisa que deve ficar clara nessa
resposta é a seguinte: nós confirmamos as reclamações havidas para o DPDC,
como estamos confirmando aqui. Gostaríamos de deixar claro, assim como ficou
muito claro na reportagem, que, na realidade, não é por estouro, porque são
circunstâncias diferentes. Muito embora o Deputado fale de soltura da banda de
rodagem, quando há o desmanche do pneu e grande probabilidade de estouro,
trata-se de circunstâncias e defeitos diferentes, ambos de forma alguma aceitáveis.
Mas a soltura de banda de rodagem tem características e causas diferentes de
estouro de pneu. É só para deixar esta questão clara. Nós não estamos de forma
alguma...
O SR. DEPUTADO SALATIEL CARVALHO - Deixo bem claro também que o
estouro, nos casos verificados, foi conseqüência da soltura. Foi uma conseqüência.
O SR. LUIZ CARLOS MARTINS - É possível.
O SR. DEPUTADO SALATIEL CARVALHO - É possível, não. Está
comprovado.
O SR. DEPUTADO LUCIANO PIZZATTO - Deputado Salatiel Carvalho,
permite-me V.Exa. um aparte? Quero alertar o Sr. Luiz Carlos Martins para o fato de
que realmente esse documento anterior é claro e objetivo. Existiram tantas mil
reclamações em função da soltura de banda de rodagem. A resposta dada no
momento — perdoe-me S.Sa —, não diz nada. Ela diz que “confirmamos em geral,
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mas não especificamente”. E, no final, o que é grave, diz: “Isto inclui...” — entendo
como “isto” os números — “... também atendimentos por política comercial”. Aqui, fui
induzido a entender que, dentro das 14.986 queixas, existiam eventualmente
problemas de estouro, de banda etc., e de atendimento de política comercial. E não
é esse o fato. O fato que está ali, atestado e assinado judicialmente pelos senhores,
é que as 14.986 queixas foram por problemas de soltura de banda.
O SR. LUIZ CARLOS MARTINS - E não necessariamente por estouro.
O SR. DEPUTADO SALATIEL CARVALHO - Mas o estouro foi causado.
O SR. DEPUTADO LUCIANO PIZZATTO - Vou entender a subjetividade do
estouro, mas não por política comercial, porque alguém ligou para dizer: “Olha,
estou reclamando porque o meu pneu, parece-me que a cor...” No mínimo, essa
justificativa é infeliz à luz do outro documento. Se não houvesse o outro documento,
até entenderia o que foi dito, como maneira de explicar a situação. Agora, existe um
documento claro, curto, objetivo, direto, até cartesiano.
O SR. LUIZ CARLOS MARTINS - Olha, Deputado, o fato de termos recebido
esse número de reclamações, que fugia completamente àquilo que tínhamos como
histórico, obviamente chamou a atenção da companhia. E a política comercial que
passamos a adotar — e foi o que tivemos intenção de relatar nessa carta — foi a de
atender aos clientes nesse processo. Portanto, nós atendemos a essas
reclamações. Por essa razão...
(Intervenção inaudível.)
O SR. DEPUTADO SALATIEL CARVALHO - Passando para outra pergunta
que eu fiz...
O SR. LUIZ CARLOS MARTINS - O senhor me permite completar?
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O SR. DEPUTADO SALATIEL CARVALHO - Pois não.
O SR. LUIZ CARLOS MARTINS - Essa foi a razão de termos atendido tantas
reclamações, e houve um custo para a empresa, porque estávamos próximos ao
nosso cliente. Ao mesmo tempo — e é importante deixar isso claro —, um grupo de
engenheiros e técnicos desenvolveu exaustivo estudo do produto e não foi
encontrada nenhuma irregularidade do ponto de vista estrutural. Estruturalmente, o
produto estava desenhado e produzido com matérias-primas de acordo com as
especificações. Inclusive, era um produto homologado pelas montadoras. Todos
sabemos como um pneu é homologado pela montadora: levamos o pneu para a
montadora, onde ele é encaminhado para os campos de prova, engenheiros o
submetem exaustivamente a testes até o momento em que consideram que o
produto atende às especificações técnicas para as quais foi solicitado.
Tudo isso aconteceu com esse produto. O que acontecia, então? O grupo de
engenheiros se perguntava por que o número de queixas acima do normal. Quando
disse isso a um jornal, saiu como se quiséssemos culpar o consumidor. De forma
alguma. O consumidor é nossa razão de existir. O que dissemos foi que a única
razão encontrada pelo grupo de especialistas é que havia no mercado, naquele
momento, uma evolução dos veículos tipo caminhonete — pick-up, van, 4X4 etc. —
quanto às suas características de desempenho, velocidade e peso de forma geral, e
essas evoluções tecnológicas requeriam, por outro lado, evolução tecnológica do
produto.
Veja bem, Deputado, estou tentando ser o mais claro possível para os
senhores, para que possamos concluir...
O SR. DEPUTADO SALATIEL CARVALHO - V.Sa. está sendo muito claro.
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O SR. LUIZ CARLOS MARTINS - ...não há, de forma alguma, insistimos,
pelas análises técnicas — estamos falando de 100 anos de tecnologia —, conclusão
de defeito estrutural. Obviamente, fazemos milhões de pneus e sabemos que
ocorrem incidentes na produção. Disso, não há dúvida. Não há quem no mundo
fabrique milhões de produtos, e nenhum deles, por um incidente... Estou falando de
defeito estrutural de um produto que é maldito, amaldiçoado...
O SR. DEPUTADO SALATIEL CARVALHO - V.Sa. me pediu que formulasse
novamente as perguntas, já passando para a pergunta seguinte...
O SR. DEPUTADO LUCIANO PIZZATTO - Deputado, no mínimo houve uma
dicotomia tecnológica, ou seja, um avanço tecnológico do mercado que a Goodyear,
nesse produto, não conseguiu acompanhar, chegou um pouco tarde.
O SR. LUIZ CARLOS MARTINS - Não. Olha, veja bem, quando...
O SR. DEPUTADO LUCIANO PIZZATTO - É o não-avanço tecnológico, não
é o produto, mas parte dele, porque o produto é o veículo como um todo...
O SR. LUIZ CARLOS MARTINS - Sem dúvida.
O SR. DEPUTADO LUCIANO PIZZATTO - ...ninguém anda deitado dentro de
um pneu. Quando uma empresa é parte substancial e de segurança de um produto,
e não considera sua evolução tecnológica, isso também é um crime contra o direito
do consumidor. Digo isso apenas para alertá-lo — e este é o motivo da discussão
está se realizando nesta Comissão. Talvez não tenha havido um problema de
qualidade, mas, no mínimo, houve uma disfunção entre o nível tecnológico do
produto fabricado pelos senhores e a sua destinação, que eram os novos veículos
no mercado brasileiro. É importante a Goodyear pensar sobre isso no momento da
discussão com o DPDC.
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O SR. LUIZ CARLOS MARTINS - Deputado, só queria lembrar a data. Na
realidade, as reclamações se iniciaram em 1991, não em 1988, e a mudança
ocorreu em março de 1992. No âmbito de análise de estrutura e de pesquisas,
entendo que houve pronta resposta no sentido de buscar o aprimoramento
tecnológico.
(Não identificado) - Foram quatro anos: 1989, 1990, 1991 e 1992.
O SR. DEPUTADO SALATIEL CARVALHO - Repetindo a pergunta, o que
mais interessa à Comissão de Defesa do Consumidor é a aplicação do Código de
Defesa do Consumidor, que é muito claro com relação à responsabilidade da
informação dos riscos ao consumidor. Diz o art. 12:
Art. 12. O fabricante, o produtor, o construtor,
nacional ou estrangeiro, e o importador respondem,
independentemente da existência de culpa, pela
reparação dos danos causados aos consumidores por
defeitos decorrentes de projeto, fabricação, construção,
montagem, fórmulas, manipulação, apresentação ou
acondicionamento de seus produtos, bem como por
informações insuficientes ou inadequadas sobre sua
utilização e riscos.
Quero situar a continuação da audiência pública exatamente sobre esse
aspecto. A Goodyear reconheceu a veracidade dessas informações, que não
alteram em nada se são de 1991, 1992, ou se são relativas à produção de 1988,
1989. O importante são as informações. Pois bem. Em relação a 1990, primeiro ano
de vigência do Código de Defesa do Consumidor, entre 165 mil unidades de pneus
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produzidas, foram registradas 4.712 reclamações. Em 1991, quando o Código já
estava em vigor, foi produzido menor número de pneus, 143.103 unidades, e
registradas 4.529 reclamações. De acordo com o que estabelece o Código de
Defesa do Consumidor, com esse número, que representa 3,16%, a atitude correta
da Goodyear não seria aprofundar pesquisas e modificar o produto silenciosamente,
mas comunicar o fato imediatamente ao Departamento de Proteção e Defesa do
Consumidor? Pergunto: a Goodyear fez essa comunicação, diante desse índice?
O SR. LUIZ CARLOS MARTINS - Não fez a comunicação porque não vimos
razões para tanto.
O SR. DEPUTADO SALATIEL CARVALHO - V.Sa. não via razão? V.Sa.
afirmou que foram registradas 4.529 reclamações de soltura de banda de rodagem e
acabou de dizer que pode ter havido defeito de fabricação. Quero alertá-lo para o
fato de que esta audiência pública não esgota o assunto, que é muito grave. O que
V.Sa. diz perante a Câmara dos Deputados terá de ser comprovado posteriormente.
Sra. Presidenta, precisamos apresentar proposta de fiscalização e controle
sobre essa questão, instrumento constitucional e regimental, a fim de procedermos à
necessária investigação. As respostas não são absolutamente convincentes,
inclusive diante de laudos periciais de universidade como a USP.
A Goodyear afirma, por intermédio de seu representante, ter sido
desnecessária a comunicação do fato, quando em 1991 já havia lei sobre o assunto.
O art. 12 do Código de Defesa do Consumidor diz inclusive “independentemente de
culpa”, ou seja, mesmo que a empresa acreditasse que não tinha culpa, ela
constatou e já vinha constatando o fato, pois desde 1988 quase 15 mil reclamações
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haviam sido feitas. V.Sa. afirma que a Goodyear não entendeu necessário
comunicar o fato ao Ministério da Justiça? Isso é um absurdo!
O SR. LUIZ CARLOS MARTINS - Deputado, não temos nenhuma dúvida
quanto a observação de V.Exa. acerca das comprovações
Também não temos dúvida alguma de que esse assunto merece longa
discussão, uma vez que vai oferecer oportunidade a todos os envolvidos de
mostrarem as várias facetas do tema.
Quando digo a V.Exa. que não vimos necessidade de fazer recall, o que
estaria...
O SR. DEPUTADO SALATIEL CARVALHO - Mencionei “comunicação”, não
cheguei ao recall ainda.
O SR. LUIZ CARLOS MARTINS - Quanto à comunicação...
O SR. DEPUTADO SALATIEL CARVALHO - V.Sa. estava se reportando ao
recall.
O SR. LUIZ CARLOS MARTINS - Sim, referi-me ao recall, porque nas
análises técnicas que fizemos, não por desrespeito ao mercado, obviamente, não se
demonstrava a existência de nenhum defeito ou anomalia de fabricação.
O SR. DEPUTADO SALATIEL CARVALHO - Ou seja, V.Sa. disse que a
análise técnica elimina erro de fabricação?
O SR. LUIZ CARLOS MARTINS - Não, não exaure o processo, Deputado.
Quero apenas dizer a V.Exa que nossos clientes foram, à época, como são
hoje e como sempre foram, informados, por meio de diversas ações — e posso lhe
comprovar isso — e de forma contínua, sobre os cuidados necessários com os
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pneus e as possíveis conseqüências quando esses cuidados não são tomados.
Desculpe-me, Deputado, mas estou dizendo o que estamos fazendo.
Portanto, é necessário que fique claro que, se estamos procurando a defesa
do consumidor, se estamos procurando relação de honestidade, séria e clara, com
os consumidores, é importante que se tornem claras certas coisas. Pneumático não
é produto indestrutível. Pneus são feitos de materiais destrutíveis.
O SR. DEPUTADO SALATIEL CARVALHO - V.Sa., por favor, respeite esta
Comissão. Não estamos falando isso, não vai passar pela cabeça de nenhum
Parlamentar essa afirmação. V.Sa. está zombando da inteligência dos
Parlamentares, desculpe-me. Estamos falando de dados fornecidos pela Goodyear.
Vou ler mais uma vez para que V.Sa. tome conhecimento.
A Goodyear disse que houve 14.980 reclamações de soltura da banda de
rodagem, seja por impacto, seja pela má qualidade das estradas brasileiras, seja por
excesso de peso, seja por defeito de fabricação, o que V.Sa. não exime. Portanto,
por favor, respeite a inteligência dos Parlamentares.
A SRA. PRESIDENTA (Deputada Ana Catarina) - Tem a palavra o Sr. Jailton
de Jesus Silva.
O SR. JAILTON DE JESUS SILVA - Senhores, gostaria de deixar claro que a
autoridade máxima nesse assunto — e reporto-me ao primeiro caso, em que uma
pessoa ficou cega, outra, tetraplégica — não são os órgãos que trabalharam, como
o IPT, mas o perito judicial que trabalhou 24 anos na própria Goodyear. A empresa
não deve ter nada que desabone esse cidadão, que é, repito, a autoridade máxima.
Era o que tinha a dizer.
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A SRA. PRESIDENTA (Deputada Ana Catarina) - Concedo a palavra ao
Deputado Celso Russomanno.
O SR. DEPUTADO CELSO RUSSOMANNO - Sra. Presidenta, Sras. e Srs.
Deputados, membros da Mesa, essa questão é bem mais ampla. Gostaria de saber
do Dr. Luiz Carlos Martins se nos Estados Unidos foi feito recall. (Pausa.) Não foi
feito.
O Dr. Willian Powers fez palestra na Comissão de Defesa do Consumidor
sobre recall nos Estados Unidos. S.Sa. é Diretor da Faculdade de Direito da
Universidade do Texas e autoridade nos Estados Unidos em relação ao recall. Ele
comentou aqui o assunto da Goodyear. Aliás, vou pedir à Secretaria da Comissão
que levante os seus comentários a respeito disso. Ele, inclusive, pontuou a questão
dos pneus naquele país e as providências lá tomadas em relação à Goodyear e ao
comportamento da empresa.
Minha preocupação diz respeito à forma com que o DPDC vai conduzir a
questão. Sou o maior defensor do DPDC, mas não posso deixar de chamar a
atenção dessa instituição por não ter tomado, de ofício, antes das publicações, já na
época em que estavam sendo feitas as denúncias relativas aos pneus e aos
problemas que estavam vivendo os americanos, as devidas providências, pois isso é
dever do DPDC. Considero tardia a ação do Departamento em relação ao caso,
visto que, se algo tivesse sido feito, hoje esta Comissão não estaria discutindo o
assunto. Contudo, é dever nosso, Sra. Presidenta, fiscalizar o DPDC.
Portanto, como bem ponderou o Deputado Salatiel Carvalho — sob cuja
Presidência esta Comissão muito trabalhou, S.Exa. foi um grande Presidente desta
Comissão —, devemos votar proposta de fiscalização e controle não visando à
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Goodyear, mas ao DPDC. Vamos fiscalizar os atos da DPDC em relação ao caso,
porque sua ação foi tardia. Se existe obrigação ou não de fazer recall, o DPDC já
deveria ter analisado há muito tempo. E não estaríamos aqui, gastando o tempo da
Comissão.
No entanto, como é função do Legislativo, além de legislar, fiscalizar os atos
do Executivo e seus procedimentos, não existe momento melhor para que se tome a
outra providência — como fará a Deputada Ana Catarina — e a submeta à
consideração dos membros da Comissão. Independentemente disso, também
devemos apresentar proposta de fiscalização e controle e votá-la, a fim de
fiscalizarmos os atos do DPDC nessa questão do começo ao fim. Essa é a função
da Comissão.
O Dr. Amarildo acaba de me informar que só está no DPDC há um ano,
pouco tempo, portanto. Estou conhecendo S.Sa. agora. Contudo, repito, muito antes
de sua chegada ao DPDC, o Departamento já deveria ter tomado providências.
Temos de apurar o fato, pois estamos falando de vidas humanas.
Não tenho nada contra a Goodyear. Já tive posições antagônicas em relação
a pneus no Brasil. Em determinada época, quando presidi esta Comissão, proferi
voto de minerva quando se estabeleceu a necessidade de certificado de garantia
desse produto, na forma como estabelecia o Código. Travamos batalha em defesa
do cidadão como um todo, inclusive do próprio funcionário da Goodyear ou de
qualquer outra companhia fabricante de pneu, porque é obrigação de todos nós,
independentemente de estarmos na Comissão de Defesa do Consumidor ou não,
preservar a vida humana.
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As empresas fizeram o certificado conforme a Comissão de Defesa do
Consumidor havia indicado. Inclusive, foi o Dr. Gerardo Tommasini que submeteu a
esta Comissão o texto do certificado, aliás, muito bem feito. Espero que ainda
estejam sendo distribuídos — estou mostrando aqui o da Goodyear, se não me
engano — ao consumidor, como estabelecido à época. Não tenho nada contra a
empresa. A questão é que o recall serve única e exclusivamente para proteger a
saúde, a integridade, a segurança e a vida do consumidor; não há outro motivo.
Contudo, tenho certeza absoluta de que o recall custa muito caro para as
empresas e de que o prejuízo é imenso. No entanto, não estamos falando de
prejuízos financeiros, mas de vidas. E, quando falamos de vidas, só quem passou
por grave situação pode entender. Perdi minha mulher em virtude de má prestação
de serviço e senti na pele o que isso significa. Procurem sentir o que as vítimas
estão passando.
A questão não é apenas financeira, é muito mais ampla do que isso. Até
porque a vida dos parentes dos diretores responsáveis pela empresa também corre
risco, seja pela má qualidade de um pneu da Goodyear, seja pela má qualidade de
uma peça do veículo. Qualquer coisa assim pode ceifar a vida de alguém. Essa é a
questão primordial e o que devemos discutir.
Agora, com todos esses dados que o Deputado Salatiel Carvalho levantou,
há vasta documentação. O DPDC pode solicitar — isso está previsto no Código de
Defesa do Consumidor, portanto, tem amparo legal —, à Justiça, mesmo que o
processo tenha sido sigiloso, dados para formulação de sua posição e de suas
determinações.
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O Dr. Amarildo Baesso está presente e, de ofício, deve solicitar toda
documentação necessária relativa aos processos em andamento para que o DPDC
tenha conhecimento e possa decidir. E nós, Sra. Presidenta, devemos fiscalizar e
não ficarmos só falando. Esta Comissão não é de falar, mas de agir. Por isso,
devemos fiscalizar para agir em relação a esse assunto.
Obrigado.
O SR. DEPUTADO SALATIEL CARVALHO - Presidenta, fiz uma pergunta ao
INMETRO e gostaria de ouvir a resposta.
A SRA. PRESIDENTA (Deputada Ana Catarina) - Com a palavra o Sr.
Marcos Aurélio Lima de Oliveira.
O SR. MARCOS AURÉLIO LIMA DE OLIVEIRA - Antes de responder a
pergunta, quero deixar claro que o processo de certificação, o processo de
regulamentação de determinado produto, como o pneu, é dinâmico. Sempre que
possível estamos aprimorando.
No caso específico dos pneus, a primeira portaria que estabeleceu requisitos
para pneus novos a serem comercializados data de janeiro de 1997. No ano
seguinte, elaboramos outra portaria para melhorar cada vez mais e estarmos de
acordo com o exigido no mercado brasileiro e focado nos requisitos internacionais.
Não só pneus, mas todos os produtos sob a guarda do Sistema Brasileiro de
Certificação, do qual o INMETRO é gestor, estão focados nos requisitos
internacionais. No ano passado, baixamos mais uma portaria estabelecendo outros
requisitos para pneus novos.
Quanto a sua pergunta, quais os critérios exigidos para certificação,
basicamente, segundo a atual portaria, são três: requisitos técnicos de qualidade, de
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segurança e de método de ensaio, para que possamos verificar inclusive o
desempenho dos pneus produzidos tanto no Brasil como no mercado internacional.
Outra informação interessante: hoje, no Brasil, se não me falhe a memória,
temos 42 empresas certificadas, entre elas seis ou sete nacionais e as restantes
estrangeiras. Todas elas, tanto as nacionais quanto as estrangeiras, passam pelo
mesmo processo de avaliação da conformidade. Há imparcialidade.
Com relação à segunda pergunta, se tínhamos conhecimento desse caso
específico, respondo que não tínhamos à época do acidente, até porque nossa
portaria, como comentei, foi aprovada em 1996, exatamente um ano após o
acidente. Todavia, no INMETRO há procedimento de tratamento de reclamação.
Mesmo que esse produto seja regulamentado, só pode ser comercializado no Brasil
o pneu devidamente certificado no âmbito do nosso sistema.
O que acontece nesse processo? Temos mecanismos de fiscalização no
Brasil inteiro. Então, se encontrados no mercado produtos que, porventura, não
estejam de acordo com nossa portaria, estes são recolhidos e, conseqüentemente,
ficam sujeitos a todas as ações legais possíveis no nosso sistema.
Para terminar, o senhor perguntou se a Goodyear continua vendendo ou se
houve reclamações. Ratifico que só podem ser comercializados no Brasil pneus
devidamente certificados. Quando comercializado esse tipo de pneu, não existia a
portaria, e, portanto, o produto deveria atender, conforme V.Exa. comentou, ao
Código de Defesa do Consumidor. Naquela ocasião não tínhamos regulamentação.
Hoje, além de ele atender ao Código de Defesa do Consumidor, tem de atender as
nossas portarias.
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A SRA. PRESIDENTA (Deputada Ana Catarina) - Com a palavra o Sr.
Gerardo Tommasini.
O SR. GERARDO TOMMASINI - Quero fazer apenas algumas observações
no intuito de esclarecer certos pontos.
O Sr. Jailton de Jesus Silva disse que dei a entender que o jornalista, autor da
reportagem do Correio Braziliense, teria insinuado que ele estaria agindo de má-fé.
Quero deixar bem claro que não disse isso, provavelmente houve erro de
interpretação das minhas palavras. Considero o Correio Braziliense o melhor jornal
de Brasília e um dos melhores deste País.
Segundo, eu não sabia, assim como o Sr. Marco Aurélio do INMETRO, do
caso da Goodyear. Estou na Presidência da ANIP e do SINPEC desde 1995 e,
repito, não sabia. Parece-me que o INMETRO também não sabia. Então, éramos
muitos a não saber.
Ouvi, com inusitado interesse, porque são Parlamentares que muito estimo,
admiro e aprecio, as considerações do Deputado Salatiel Carvalho, do Deputado
Celso Russomanno e do querido amigo Deputado Luciano Pizzatto, que não está
mais presente. Quero dizer que as aceito inteiramente, porém, reservo-me o direito
de não concordar sobre muitos pontos. Aliás, isso pode ser assunto de conversa
entre nós quando os senhores quiserem.
Finalmente, embora não conheça todos os detalhes que envolveram esse
caso, nesse mesmo período, de 1987 até hoje, a Goodyear produziu cerca de 900
mil pneus e teve retorno, não sei se queixas, de 14 mil. No mesmo período, a
indústria nacional de fabricou mais de 200 milhões de pneus. Senhores, 200 milhões
de pneus, dos quais pelos menos 60 milhões foram obra da Goodyear!
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Sem dúvida é louvável, maravilhosa, a atitude da Comissão. Tratou-se de
acidente extremamente lamentável, ainda mais porque houve vítimas. Porém,
atenção, mais de 200 milhões de pneus são o atestado de que, graças a Deus, a
indústria nacional de pneumáticos não fica atrás da de ninguém.
Não vamos fazer julgamentos apressados. Temos qualidade excelsa,
excepcional. Na minha opinião esse é um caso pontual, inclusive está sub judice.
Era isso, Sr. Presidente.
O SR. DEPUTADO SALATIEL CARVALHO - Sra. Presidenta, estamos nos
aproximando do horário da Ordem do Dia. Todavia, quero deixar bem claro, em
primeiro lugar, que as respostas da Goodyear estão no mesmo patamar das
explicações dadas anteriormente à imprensa, das respostas ao DPDC.
Portanto, do ponto de vista de esclarecer e de convencer, a Goodyear não
avançou nada, pelo contrário, até regrediu. No momento em que o Presidente da
Associação, Dr. Gerardo Tommasini, desde 1995 vem a público dizer que não
conhecia o caso Goodyear, há problema gravíssimo. Mas quero fazer um reparo:
S.Sa. está se referindo à produção total dos pneumáticos. A nós interessa investigar
os casos desse tipo de pneu. Não tem nada a ver com os milhões de outros pneus
produzidos no Brasil. É uma honra saber que nossa indústria é competitiva e capaz.
Todavia, houve grave falha, e é sobre essa falha que estamos nos deparando com
índices absolutamente fora do normal.
Então, Sra. Presidenta, deixo bem claro, inclusive a partir da informação da
Goodyear, que em 1992 foram introduzidas modificações tecnológicas. Vejam as
estatísticas da empresa: em 1989, houve 2.856 reclamações; em 1990, 4.712
reclamações; em 1991, 4.529 reclamações; em 1992, 2.197 reclamações. Quando
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foram introduzidas modificações tecnológicas, as reclamações, que estavam na
casa dos milhares, caíram para 59 unidades, depois para 19 e, em seguida, para
apenas três. Isso demonstra claramente que houve mudança no processo de
fabricação e não que, de 1992 em diante, as estradas brasileiras ficaram
maravilhosas e sem buracos, ou que todos deixaram de usar peso nos carros. Aliás,
qualquer produto deve ter limite de sobrecarga. Isso é natural em qualquer tipo de
produto. Não se fabrica pneus apenas para que ofereçam segurança nas condições
normais de uso. Pelo contrário, eles têm de passar por teste de resistência e
responder a esforço acima do normal exigido.
Então, conforme afirmou o representante da própria Goodyear, em 1992, as
modificações se deram no processo de fabricação. Portanto, é contraditório a
empresa dizer que seus peritos não encontraram nenhuma falha de fabricação,
quando, no momento em que se introduz a mudança no processo tecnológico, as
reclamações saem da casa dos milhares para a das unidades.
Estarei apresentando requerimento a esta Comissão para que haja
fiscalização e controle.
A SRA. PRESIDENTA (Deputada Ana Catarina) - Com a palavra o Sr. Jailton
de Jesus da Silva.
O SR. DEPUTADO CELSO RUSSOMANNO - Sra. Presidenta, gostaria
apenas de fazer um comentário sobre o que disse o Dr. Gerardo Tommasini.
Nesta Comissão, por diversas vezes, discutimos a qualidade do pneu
fabricado no Brasil, e ficou bastante claro ser esse produto de boa qualidade.
Discutimos também a durabilidade do pneu brasileiro em comparação ao fabricado
pelas mesmas empresas no exterior. E concluímos que os pneus fabricados em
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outros países duravam muito mais do que os nossos. Isso foi motivo de discussão
nesta Comissão. Por outro lado, embora continue dizendo que os pneus brasileiros
têm qualidade, não quero dizer que não possa ter havido falha de especificação num
modelo de pneu.
Muito obrigado.
A SRA. PRESIDENTA (Deputada Ana Catarina) - Com a palavra o Sr. Jailton.
O SR. JAILTON DE JESUS SILVA - Muito se falou aqui que o caso está sub
judice. Houve acordo. Não é porque o caso está sub judice que não pode haver
acordo. Não estamos falando em acordo. O fato é que se trata de assunto difuso e
coletivo. Tem de ser discutido. Para isso, existe a Câmara dos Deputados — esta
Comissão. E não se trata apenas de um caso, mas de quase 15 mil.
Outra coisa muito importante: não sei se V.Exas. repararam, mas chegou a
ser afirmado ou cogitado, pelo menos na carta enviada ao DPDC pela própria
Goodyear, que havia possibilidade de defeito no automóvel. O ônus da prova, nesse
caso, cabe à Goodyear. É muito importante esse fato.
A SRA. PRESIDENTA (Deputada Ana Catarina) - Com a palavra o Sr.
Amarildo Baesso.
O SR. AMARILDO BAESSO - Gostaria de fazer algumas considerações a
respeito das provocações feitas ao DPDC, algumas mais diretas, outras nem tanto.
Começo pelo Deputado Celso Russomanno.
O SR. DEPUTADO CELSO RUSSOMANNO - Não é provocação.
O SR. AMARILDO BAESSO - Desculpe, quando disse “provocação” não foi
no sentido pessoal.
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Além de ser uma das prerrogativas do Poder Legislativo fiscalizar o Poder
Executivo — e a considero das mais importantes deste Poder —, ressalto que para o
DPDC essa fiscalização é extremamente importante. A administração atual do órgão
tem procurado trabalhar tendo em vista essa possibilidade, tanto que procuramos
sempre nos antecipar às dúvidas, sugestões e provocações — no bom sentido —
desta Comissão, respondendo aos seus requerimentos, abrindo os procedimentos
administrativos provocados por ela e estando presente a todas as suas convocações
para audiências públicas.
Não posso afirmar que a Direção anterior do DPDC tinha conhecimento desse
processo. O que sei é que a primeira vez que a atual Direção soube deste caso foi
por meio de matéria do jornal Correio Braziliense, e, aí, de ofício, abrimos o
procedimento administrativo e notificamos a empresa automaticamente. A
reportagem foi veiculada no final de julho; já no dia 8 de agosto, estávamos com o
procedimento administrativo aberto e a empresa notificada.
Quanto às ações futuras do DPDC em relação a esse procedimento, a
participação do Departamento nesta audiência é de fundamental importância. Há
uma série de questões que temos dificuldades de esclarecer, porque temos de
aguardar a resposta do ofício. No caso do Poder Judiciário, respostas como essa,
muitas vezes, ultrapassam sessenta dias. Demoram muito para chegar, e não
podemos estipular prazos para o Poder Judiciário. Só para se ter uma idéia,
oficiamos a todos os fóruns e varas cíveis, onde tramita o processo, e até o
momento não recebemos nenhuma resposta. No entanto, temos grande
preocupação em analisar os procedimentos.
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O SR. DEPUTADO CELSO RUSSOMANNO - A Comissão vai ajudar a
acelerar a chegada dos processos ao DPDC.
O SR. AMARILDO BAESSO - O DPDC considera esta Comissão um dos
seus principais parceiros. Inclusive, peguei com o Deputado Salatiel Carvalho o
laudo do IPT e a carta da Goodyear.
Passo agora às perguntas formuladas pela Sr. Jailton de Jesus Silva. S.Sa.
perguntou primeiramente quantos casos precisam acontecer para que o produto seja
passível de recall. Não existe norma específica que determine isso. Basta que a
empresa detecte um problema importante. Não acredito que possa existir norma
nesse sentido — inclusive é a visão do DPDC —, porque esse procedimento varia
de produto para produto, de serviço para serviço. Não se pode comparar uma falha
numa caneta que deixou de escrever com outra que fatalmente provocará acidentes
e morte de pessoas. Então, não existe determinação de número.
A segunda questão: por que citar o art. 10 e não o art. 64? Evidentemente
não só o art. 64, que tem previsão criminal, mas também uma série de outras
implicações administrativas e criminais. As administrativas, inclusive, são de
competência do DPDC averiguar e aplicar penalidades. Mas só podemos discutir os
outros artigos que são desdobramentos do art. 10. Quero dizer o seguinte: a partir
do momento em que houver constatação técnica de que o problema existiu,
logicamente os desdobramentos vão acontecer.
Estamos, neste momento, levantando elementos para comprovar ou não a
existência do problema. As considerações hoje feitas nesta Casa serão
fundamentais para a análise do DPDC.
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A SRA. PRESIDENTA (Deputada Ana Catarina) - Esta Presidência gostaria
de fazer algumas considerações.
Em primeiro lugar, nenhum de nós está satisfeito, porque nada foi
esclarecido. O problema continua como há cinco anos. Convém salientar que o pneu
é fundamental para a segurança do transporte e sua fabricação deve ser efetuada
sob rígidos controles.
Gostaria de perguntar ao representante do INMETRO se esses pneus
obtiveram o certificado do Instituto e qual foi o critério adotado para analisá-lo.
O SR. MARCOS AURÉLIO LIMA DE OLIVEIRA - Sra. Presidenta, na ocasião
do acidente, não se exigia que os pneus a serem comercializados tivessem
certificado do INMETRO. Assim, não houve intervenção por parte do Instituto.
A SRA. PRESIDENTA (Deputada Ana Catarina) - Sim, mas anos se
passaram e houve mais ou menos 14 mil reclamações de casos, de vítimas, nesse
período. Diante de tantas notícias e questionamentos, por que o INMETRO não
tomou alguma providência com relação ao certificado?
O SR. MARCOS AURÉLIO LIMA DE OLIVEIRA - Só para fazer um histórico,
Sra. Presidenta, casos como esses, que causavam impacto na saúde e na
segurança do consumidor, ou seja, do condutor e do passageiro do veículo, levaram
o INMETRO a estabelecer critérios mínimos de segurança, qualidade e de
metodologia de ensaio. Além disso, naquela ocasião, estava havendo muita
importação de pneus e foi necessário fazer várias exigências, pois poderiam estar
sendo colocados no mercado nacional produtos de qualidade muito baixa.
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Três pontos fundamentais nortearam a regulamentação em 1996: segurança,
exportação e proteção do mercado interno com relação aos produtos que vinham do
exterior sem o menor controle, sem o menor critério de segurança.
A SRA. PRESIDENTA (Deputada Ana Catarina) - Mas, em relação a este
produto, especificamente, qual foi a providência tomada pelo INMETRO nesses
cinco anos?
O SR. MARCOS AURÉLIO LIMA DE OLIVEIRA - O INMETRO não fez
nenhuma intervenção na fabricação ou na comercialização dos pneus. Isso só foi
feito a partir de janeiro de 1997. E só tomamos conhecimento das reclamações e do
acidente por meio dos jornais. Fomos procurados pelo Correio Braziliense e
manifestamos o nosso posicionamento. Mas, na condição de órgão gestor do Estado
brasileiro nessa matéria, por força da portaria que estabelecia os critérios, não
poderíamos fazer nada na ocasião.
A SRA. PRESIDENTA (Deputada Ana Catarina) - Então, os pneus foram
fabricados, postos à venda, houve reclamação sobre eles, a imprensa divulgou
amplamente, e nenhuma providência foi tomada pelo INMETRO?
O SR. MARCOS AURÉLIO LIMA DE OLIVEIRA - V.Exa...
A SRA. PRESIDENTA (Deputada Ana Catarina) - Eu estou perguntando: sim
ou não?
O SR. MARCOS AURÉLIO LIMA DE OLIVEIRA - Somente a partir de janeiro
de 1997, não só esta linha de produtos sobre a qual recai a reclamação, mas todas,
sem exceção, passaram a ser obrigadas a ter o certificado do Sistema Brasileiro de
Certificação.
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A SRA. PRESIDENTA (Deputada Ana Catarina) - Não se trata de
reclamação. É a constatação de que, durante todo esse período, o INMETRO não
tomou providência alguma sobre o caso. Como o INMETRO, por questão de
responsabilidade, deixou que esses pneus continuassem naquela situação? Não
deu nenhuma satisfação alguma às pessoas que fizeram as reclamações?
Eu gostaria também de obter algumas informações relativas ao questionário
feito pelo DPDC à Goodyear. A própria empresa afirma que existiam quatro
processos contra ela. E esse órgão encaminhou ofício aos tribunais, que constam
em processos apresentados pela Goodyear em 31 de agosto do corrente.
O Sr. Luiz Carlos Martins, que está representando a empresa, poderá
responder. Eu quero saber em que se basearam para responder a esses
questionamentos.
O SR. MARCOS AURÉLIO LIMA DE OLIVEIRA - Os questionamentos
relativos ao Poder Judiciário ou à Goodyear?
A SRA. PRESIDENTA (Deputada Ana Catarina) - À Goodyear. Foi feito um
questionário pelo DPDC, e a resposta esclarece que a pena existe em quatro
processos. Essa informação é incorreta. Queremos, então, saber os critérios do tal
questionário, se seu conteúdo poderia vir a público ou de que maneira poderíamos
tomar conhecimento a seu respeito. Queremos saber que critério o Dr. Roberto
Freitas usou e como é este questionário, porque não está conferindo com a
realidade.
O SR. MARCOS AURÉLIO LIMA DE OLIVEIRA - Em relação ao questionário
feito à empresa Goodyear, tínhamos dois objetivos bastante claros. Primeiro,
detectar se o problema realmente existiu. Segundo, em caso de existência, se a
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empresa cumpriu as determinações do Código do Consumidor, principalmente
quanto às a informações ao consumidor e às autoridades.
A empresa deu as respostas. Nós enviamos o questionário a esta Comissão,
por solicitação do Deputado Salatiel Carvalho. Ele é público. Todos os processos
são públicos, a não ser aqueles para os quais foi determinado sigilo.
A SRA. PRESIDENTA (Deputada Ana Catarina) - A Goodyear apresentou
respostas informando que existiam apenas quatro processos.
O SR. MARCOS AURÉLIO LIMA DE OLIVEIRA - Estamos confiando na
veracidade da informação prestada pela empresa. A partir dessa informação,
estamos pedindo aos tribunais cópias integrais de todos os processos. A partir disso,
vamos poder averiguar se as informações prestadas pela empresa ao DPCD são
verdadeiras, ou pelo menos se combinam com as apresentadas aos tribunais.
O SR. DEPUTADO SALATIEL CARVALHO - Sra. Presidenta, antes de o Dr.
Luiz Carlos falar — e esta é minha última intervenção —, eu gostaria de perguntar
se V.Sa. conhece o engenheiro Wanderley César Matilde? Já ouviu falar nele?
O SR. LUIZ CARLOS MARTINS - Não o conheço, mas já ouvi falar.
O SR. DEPUTADO SALATIEL CARVALHO - V.Sa. poderia dizer à Comissão
há quanto tempo V.Sa. faz parte do corpo funcional da Goodyear?
O SR. LUIZ CARLOS MARTINS - Trabalho na Goodyear desde o dia 2 de
junho de 1972.
O SR. DEPUTADO SALATIEL CARVALHO - Portanto, V.Sa. tem 29 anos
nessa empresa. V.Sa. poderia informar se o engenheiro Wanderley César Matilde
pertenceu aos quadros da Goodyear?
O SR. LUIZ CARLOS MARTINS - Sim, mas não o conheci pessoalmente.
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O SR. DEPUTADO SALATIEL CARVALHO - Sra. Presidenta, o Sr.
Wanderley César Matilde é o perito que fez todos os trabalhos a pedido da Justiça.
E S.Sa. foi funcionário, foi engenheiro químico da Goodyear durante 30 anos.
Repito: prestou serviços à própria Goodyear durante 30 anos e, portanto, deve
conhecer profundamente seu processo de fabricação. Na verdade, trabalhou durante
24 anos na Goodyear e oito anos na Firestone. Isso quer dizer que ele tem 32 anos
na indústria pneumática. E ele atuou no processo; foi o especialista indicado pela
Justiça. E uma das observações que o perito faz — ex-funcionário da Goodyear,
onde trabalhou por 24 anos — é que uma provável causa do defeito se dá no
processo de fabricação. E isso não é negado pelo Dr. Luiz Carlos Martins. Diz o
perito: “A escolha incorreta dos compostos do pneu — portanto, no processo de
fabricação — pode ser uma das causas”. E elenca ainda: “Além da borracha,
antioxidantes, óleo, enxofre e diversas outras substâncias entram na complexa
receita de fabricação. É possível que o uso de um composto errado tenha causado o
problema”. É o que afirma o especialista, que tem 24 anos de Goodyear, repito.
O quadro que considero mais revelador é a estatística fornecida pela própria
Goodyear.
O SR. MARCOS AURÉLIO LIMA DE OLIVEIRA - Sra. Presidenta, peço a
palavra.
A SRA. PRESIDENTA (Deputada Ana Catarina) - Com a palavra o Sr.
Marcos Aurélio Lima de Oliveira.
O SR. MARCOS AURÉLIO LIMA DE OLIVEIRA - Só para esclarecer a não-
intervenção do INMETRO ao longo desse processo, que dura cinco ou seis anos.
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A SRA. PRESIDENTA (Deputada Ana Catarina) - Seria de se esperar que o
Instituto interviesse — não é? — pela lógica, pelo bom senso, pelo discernimento.
O SR. MARCOS AURÉLIO LIMA DE OLIVEIRA - Sim. Está certo,
independentemente da regulamentação que só entrou em vigor a partir de 1997.
Mas o fato é que só soubemos desse acidente recentemente, por intermédio da
publicação da matéria. Ou seja, a divulgação pública do caso é recente. Por outro
lado, o INMETRO, ao longo desse tempo todo, não foi solicitado, não foi chamado
para fazer qualquer tipo de laudo ou de contestação, ou para verificar se o pneu
poderia ou não estar de acordo com determinados requisitos ou normas.
Um dos motivos que não nos levou a fazer nenhuma avaliação desse pneu é
que não fomos, em nenhum momento, chamados para isso.
O SR. LUIZ CARLOS MARTINS - Sra. Presidenta, peço a palavra.
A SRA. PRESIDENTA (Deputada Ana Catarina) - Tem a palavra o Sr. Luiz
Carlos Martins.
O SR. LUIZ CARLOS MARTINS - Obrigado. Apenas para tentar esclarecer.
Nobre Deputado, nem de longe a nossa intenção é de zombaria, por favor! O que eu
ia dizer é que há muito pouca preocupação com esse produto. Na realidade, é
importante a observação de que o pneu não é feito de materiais indestrutíveis.
Então, a forma como ele é utilizado deve ser levada em consideração — e esse tipo
de informação nós a fizemos de várias formas aos nossos clientes.
Toda a nossa rede de revendedores é, sim, treinada exaustivamente, e ela dá
todas as indicações sobre adequação de produtos.
Foi dito que o processo de certificação do INMETRO começou a partir de
janeiro de 1997, mas o próprio representante do INMETRO sabe muito bem que,
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muito antes desses acontecimentos, nossos produtos têm certificações
internacionais, como o DOT, dos Estados Unidos; o EC da Europa, que, se não são
iguais, pelo menos são semelhantes ao que existe hoje no INMETRO. E todos esses
produtos já tinham os outros certificados quando o INMETRO não exigia nenhum —
graças a Deus! Todos os pneus tinham certificado, inclusive o tipo em questão, e ele
sabe disso. Aliás, na época era o que todos reconhecíamos como certificação da
qualidade dos produtos. Isso só para ficar esclarecido.
Finalmente, para concluir. V.Exa. afirma que eu admito os defeitos no
processo de fabricação. Sem sombra de dúvida, eu disse que nós admitimos a
existência de problemas acidentais relativos a defeitos de fabricação. Esses existem
não só na Goodyear, mas em todas as empresas do mundo. O que não existia, no
caso, era defeito estrutural do produto que o caracterizasse como produto
defeituoso. Não estou dizendo que é...
O SR. DEPUTADO SALATIEL CARVALHO - Sra. Presidenta, precisamos ter
cuidado no encerramento dessa audiência pública, porque a afirmação do Dr. Luiz
Carlos Martins o põe numa posição absolutamente contraditória. Esta reunião está
sendo gravada, e S.Sa. afirmou perante os Parlamentares que não eliminava o risco
de fabricação desses produtos.
O SR. LUIZ CARLOS MARTINS - Claro.
O SR. DEPUTADO SALATIEL CARVALHO - E agora V.Sa. acaba de dizer
que nesse caso não existe...
O SR. LUIZ CARLOS MARTINS - Não, não, não.
O SR. DEPUTADO SALATIEL CARVALHO - ...nenhuma possibilidade de
defesa de fabricação.
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O SR. LUIZ CARLOS MARTINS - Deputado, vou repetir...
O SR. DEPUTADO SALATIEL CARVALHO - Ou então não estou
entendendo direito.
O SR. LUIZ CARLOS MARTINS - Não, não. V.Exa. não está entendendo. O
que estou dizendo é o seguinte: não estou eliminando a possibilidade de existir
defeito nos produtos relativos às 14.986 queixas feitas. O que estou dizendo é que,
diferentemente de um problema estrutural do produto, ou seja, se o produto nasce
com defeito, ele está fadado a ser eliminado por qualquer razão. Entre os milhares
que são fabricados, 10, 14, 20, ou quantos sejam, estão sujeitos a problemas
incidentais, ou seja, a defeitos que podem ocorrer. Na hora em que está sendo feito
— obviamente vou entrar num aspecto técnico —, coloca-se material sobre material.
E pode cair um elemento estranho, uma partícula qualquer ali, e aquele pneu sair
defeituoso. É o que estou dizendo. Não há contradição. Se houve, aparentemente,
por favor, entenda dessa forma.
O SR. DEPUTADO SALATIEL CARVALHO - Então, V.Sa., volta a
reconhecer que há possibilidade de, no caso do Wrangler SR 215/80 R-16, ter
havido defeito de fabricação?
O SR. LUIZ CARLOS MARTINS - Não só ele, mas qualquer produto feito aos
milhares.
O SR. DEPUTADO SALATIEL CARVALHO - Não me interessam os outros
produtos, interessa-me agora o que estamos investigando. Interessa a esta
Comissão e ao povo brasileiro...
O SR. LUIZ CARLOS MARTINS - Claro.
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O SR. DEPUTADO SALATIEL CARVALHO - ...porque as 14.986
reclamações são sobre o pneu Wrangler SR 215/80 R-16.
O SR. LUIZ CARLOS MARTINS - Sem dúvida.
O SR. DEPUTADO SALATIEL CARVALHO - Isso é importante, Sra.
Presidenta: o representante da Goodyear assume que pode haver falha no processo
de fabricação.
A SRA. PRESIDENTA (Deputada Ana Catarina) - Esta Comissão está muito
interessada no resultado deste trabalho, que tem demorando demais. Esse assunto
já vem rendendo há mais de cinco anos. Então, diante dessas informações
contraditórias, amanhã, na nossa reunião deliberativa, incluiremos na pauta
requerimento que assinarei, na condição de Presidenta e de Deputada, assim
também o farão o Deputado Celso Russomanno e outros Parlamentares, ao
Ministério da Justiça, solicitando todas as providências cabíveis à luz do Código de
Defesa do Consumidor, no processo referente à empresa Goodyear, que tramita no
Departamento de Proteção e Defesa do Consumidor — DPDC.
Faremos, portanto, um requerimento com o seguinte teor:
Sr. Presidente, nos termos do art. 113, inciso I, e §
1º, do Regimento Interno da Câmara dos Deputados,
requeremos a V.Exa. seja encaminhado ao Poder
Executivo indicação da Comissão de Defesa do
Consumidor, Meio Ambiente e Minorias, solicitando todas
as providências cabíveis, à luz do Código de Defesa do
Consumidor, no processo referente à empresa Goodyear,
que tramita no Departamento de Proteção e Defesa do
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Consumidor, tendo em vista os debates produzidos pela
audiência pública realizada por esta Comissão, na data de
hoje, sobre a qualidade do pneu, modelo Wrangler 215/80
R-16, produzido pela empresa Goodyear.
O SR. DEPUTADO SALATIEL CARVALHO - Sra. Presidenta, eu não só
subscrevo a indicação encabeçada por V.Exa., muito justa, como também gostaria
de deixar bem claro que as conclusões desta audiência são tão transparentes, são
tão evidentes, que V.Exa. toma essa decisão sem que sequer haja necessidade de
fazermos relatório desta audiência pública. Fica absolutamente comprovada a
necessidade de aprofundarmos a investigação, e, para isso, acredito no concurso
tanto do INMETRO quanto do DPDC, que nunca nos faltou. Pelo menos na minha
gestão como Presidente desta Comissão, o Dr. Roberto foi absolutamente solidário
e transparente em todas as ocasiões em que foi solicitado. Estaremos preparados
para dar a resposta sobre esse caso à sociedade brasileira. E o ponto central, a
grande interrogação para a qual agora está voltada esta Comissão, o Ministério da
Justiça, o INMETRO, outros órgãos do Governo e o Poder Judiciário, é uma só:
houve ou não omissão em relação ao recall? Essa é a questão fundamental.
A SRA. PRESIDENTA (Deputada Ana Catarina) - Não mais havendo quem
queira fazer uso da palavra, vou encerrar esta reunião. Antes, porém, agradeço aos
expositores e demais convidados a presença.
Informo aos Srs. Deputados membros desta Comissão que no dia 17 de
outubro, amanhã, teremos reunião deliberativa para apreciação das proposições de
plenário.
Declaro encerrada a presente reunião.