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I

Universidade Federal do Ceará

DIMENSIONAMENTO DASCONTRIBUIÇÕES LEXICOGRÁFICAS

DO PORTUGUÊS DO CEARÁ

Resumo

Constitui o presente artigo uma resenha ana-lítica dos principais levantamentos vocabulares le-vados a efeito por autores cearenses a partir da se-gunda metade do século passado até aos nossos dias.

Os trabalhos resenhados apresentam, na-turalmente, diferenças de nível, compreendendo,desde simples glossários ap endiculares ouaposições de notas, até copiosos vocabulários oudicionários. Faz-se, por fim, breve referência aofuturo Atlas Lingüístico do Estado do Ceará -ALECE - em fase final de composição.

Palavras-chave: glossário; vocabulário; dicio-nário; léxico.

Abstract

This paper intends to be a faithful analyticaccount of the chief le xical raising s made bycearense authors about regional speech words fromlhe first half of the mineteentli century to the presentlime. The included works reported are, of course, ofunequal levei, since simple appendicular vocabu-laries or short glossaries till large vocabularies ordictionaries or short glossaries till large vocabu-faries or dictionaries. A slight reference too is madeto lhe fu ture Linguistic Atlas of Ceara State - ALECEin the last stage of composition.

Keywords: glossary; vocabulry; dictionary; lexicon.

Desde muito cedo revelou-se atenta entre osestudiosos e homens de letras do Ceará a consciên-ia das peculiaridades lingüísticas que conferem ao

ecúmeno cearense os traços diferenciais do seu re-pertório lexical.

Com efeito, já a partir de Juvenal Galeno, po-eta de veia popular, com quem se inicia a literaturacearense propriamente dita, vamos encontrar a pre-ocupação com o registro dos nossos regionalismoslexicais, traduzida na aposição de notas ou glossári-os apendiculares, como forma de assegurar a inte-gral compreensão das suas produções de caráternativista ou de cunho marcadamente telúrico.

Procuraremos, nesta breve comunicação, re-senhar os produtos dessa metodologia, culminando

com a etapa das coletas mais abrangentes, represen-tadas pelos Dicionários ou Vocabulários regionaisde Florival Seraine (1958), Raimundo Girão (1967)e Tomé Cabral (Ia edição, 1972; 2a edição, 1982).

1. A primeira resenha constante da nossa exposiçãodata de 1865 e consiste num total de 215 notasapensas às Lendas e Canções Populares de JuvenalGaleno, 190 das quais são de natureza lexicográfica,isto é, destinam-se ao esclarecimento da significa-ção de termos regionais ainda não inscritos nos di-cionários gerais da língua até por aquela altura.

2. A seguir, por ordem cronológica, mencionamos otexto de José de Alencar, O Nosso Cancioneiro, cujoestabelecimento foi feito pela primeira vez em 1960,pela Editora Aguilar. Servimo-nos, para esta resenha,da edição preparada pela Professora cearense MariaEurides Pitombeira, publicada pela PONTES EDITO-RES, de Campinas - São Paulo, em 1993.Nesse texto, José de Alencar, sempre atento e atila-do com relação aos problemas de ordem metalin-güística, tece comentários e aventa sugestões sobrea origem e significação de termos expressivos danossa realidade regional cearense e nordestina, taiscomo: barbatão, famanaz, famaraz, oirama, poei-rama, espácio, aboiar, rabicho (adj.), bicó (grafadobiquó), tropelão, todos de cunho popular e relati-vos ao universo rural da época batizada de "civili-zação do couro" por outro cearense ilustre e defama nacional, o historiador maranguapense JoãoCapistrano de Abreu.

3. No ano de 1878, sai a lume o romance de costu-mes cearenses Luizinha, da autoria de Araripe Júnior,incisivamente marcado pela linguagem regional, re-alizando com notória fortuna a conjunção artísticade fundo e forma de par com a simbiose lingüísticadas palavras e coisas preconizada pela escola das"Wõrter und Sachen", de inspiração germânica.

Ressalvando o particularismo da linguagemprovinciana de que usava na feitura do seu romance,assim se refere o Autor, ao apresentar as suas "No-tas aos Capítulos", em número de 84: "Usamos notexto deste trabalho expressões e frases acaso des-conhecidas a pessoas que nunca estiveram em pro-

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víncias do norte, e que são peculiares à linguagemempregada pelo povo que habita aquelas regiões. Paramelhor inteligência dos diálogos, registramos aquias mais notáveis com a respectiva significação."

4. O ano de 1887 assinala o aparecimento do Voca-bulário Indígena em uso na Província do Ceará, dePaulino Nogueira Borges da Fonseca, operoso ho-mem de letras e desembargador, responsável porextenso elenco de colaborações na Revista do Insti-tuto do Ceará de 1869 a 1905, três anos antes do seufalecimento em 15 de junho de 1908.O Vocabulário Indígena, de Paulino Nogueira, é oprimeiro trabalho lexicográfico de fôlego, levado acabo no Ceará. .Foi publicado na Revista Trimestraldo Instituto do Ceará, Ano I, 4° Trimestre de 1877,p. 209-432. Consta de 575 verbetes de desenvolvi-mento amplo, alguns dos quais estendendo-se porvárias páginas. Desse total, 113 são registros de no-mes próprios, a maioria topônimos, outros designa-ções de acidentes geográficos como rios, riachos,lagoas, serras, serrotes, etc.

5. Do ano de 1911, da autoria de João Brígido, jor-nalista e historiador, nascido em São João da Barra-Rio de Janeiro, mas radicado no Ceará desde a in-fância, possuímos um interessante trabalho, inti-tulado Glossário Cearense: Expressões, corruptela,gíria e tupi; accepções e phrases populares. Trata-sede um elenco de 422 verbetes, sucintamente defini-dos, dividido em duas partes. A primeira, com 388itens, ordenados de A a Z, e a segunda, um suple-mento designado APPENDICE, em que são acres-centados mais 38 itens, obedecendo ao mesmo cri-tério de definições, reduzidas quase à pura aposiçãode sinônimos.

Remata-se o referido Glossário com um"Nota Bene", em que adverte o Autor: - "Excluímostodos os termos populares que já forão apanhadospor Constancio, Lacerda e Aulete. Observamos queo populacho sempre pronuncia o 1! por Q, o ipor l:< eemprega sempre o x, nunca o ch.

6. 1912 é o ano da publicação de Terra de Sol, livro deestréia de Gustavo Barroso, obra emblemática da cul-tura cearense e que representa um marco miliário nãosó da nossa literatura, stricto sensu, mas também daprópria sociologia nordestina, ao lado de Heróis eBandidos (1917) e de Almas de Lama l:< Aço (1930).

Do ponto de vista lingüístico, desejamosacentuar a importância do materiallexicográfico iné-dito recolhido pelo Autor ao descrever a Natureza l:<Costumes do Norte, subtítulo do seu famoso estudode Sociologia sertaneja.

Ressaltemos que até à 5' edição, inclusive, oAutor se deu ao trabalho de sotopor ao seu texto, aolongo das suas 272 páginas (estou-me louvando na 3"edição, de 1930) notas explicativas ou definições su-cintas, totalizando um contingente de 108 verbetes, amaioria dos quais, com o tempo, se foram inscreven-do no registro dos dicionários gerais da língua.

Não há dúvida de que inúmeros vocábulosda língua portuguesa do Brasil devem a sua cartade cidade ao escri tor cearense a cuja obra es-tamos aludindo.

Abramos o Dicionário Brasileiro da LínguaPortuguêsa, de Macedo Soares, edição de 1954, noverbete "Quandu", acepção n° 2: Nome que no Cea-rá se dá ás palmeiras carnaúbas pouco desenvolvi-das. Cf. Terra de Sol, A(fonso) Taunay, Léxico deLacunas. No verbete "Pixuna" s.m., lê-se: Nomevulgar de um rato selvagem do Ceará. Cf. GustavoBarroso, Terra de Sol, p. 4. Leiamos a definição de"Mocozal"do chamado Dicionário Aurélio: "N.E.Lugar onde se vêem altas paredes de rochas cheiasde buracos, nos quais vivem mocós." Trata-se clara-mente de uma definição retrabalhada sobre a nota deGustavo Barroso na página 40 (3" edição) in verbis:"Altas paredes de rocha, esburacadas, onde habitammocós, que são uma espécie de preá".

Acrescente-se, a propósito, que grandeparte desse novo repertório lexical nordestino oucearense, já começara a ser lexicografado, por voltade 1938, pelos co-autores do Pequeno DicionárioBrasileiro da Língua Portuguesa, Hildebrando deLima e Gustavo Barroso, os dois, nordestinos,Hildebrando de Alagoas e Gustavo Barroso do Ceará,com revisão de mais dois nordestinos, Manuel Ban-deira, pernambucano e José Batista da Luz, cearense.

Digamos, a bem da verdade, que este dicio-nário, de matriz essencialmente nordestina, foi oembrião fecundo, e talvez muito mais que embrião,daquilo que veio a se tornar, em nossos dias, o maiscelebrado dos modernos dicionários da língua por-tuguesa, o Novo Dicionário da Língua Portuguesa,de Aurélio Buarque de Holanda Ferreira, outro nor-destino de Alagoas.

7. 1913: É dada à luz a obra poética de RodolfoTeófilo, Lira Rústica, com a paráfrase parentética"Cenas da Vida Sertaneja", publicada em Lisboa pelaTypographia da "A Editora Limitada".

Fica mais uma vez evidenciada a moti vaçãoda estratégia adotada pelos nossos autores regionaispara salvaguardar a inteireza da compreensão da suamensagem. Como as egurar a plena inteligibilidadeda sua poesia ertaneja, traduzida pelo expoente dotítulo Lira Rústica e reafirmada pela expressão subs-crita no parênte e "Cenas da vida sertaneja"? E nocaso presente om a agravante de ser a obra editadaem Portugal.

Ju tifi a- e. portanto, o recurso maisuma vez adot o: anexação de um Glossárioapendi ular. composto de 143 verbetes de cons-tituição medi men e de envolvida e definiçõesbem elabor

Tatu e Mané Xiquexique, otld:erCl:C-;C. bano ao escritor paulista

m rupês, caricaturava oorno protótipo do habi-ma generalização exal-

tada que obscurecia a verdadeira natureza do proble-ma da miséria que reduz o homem de qualquer latitu-de a um "urupê de pau podre que vegeta no sombrioda mata"ou a um farrapo humano destituído da suaondição humana.

Tomando a defesa do homem pobre do inte-nor nordestino, do caboclo das zonas rurais do Nor-de te, procura o criador de Mané Xiquexique reve-lar entre nós uma outra realidade psíquica, capaz defazer-nos acreditar na existência de outra latitudemoral nas figuras do Mané lavrador, do Mané vaquei-ro. do Mané jangadeiro e de tantos outros surpreen-dentes Manés a constituir uma positiva geografiahumana deste outro lado do Brasil.

Mas o principal para o nosso intento é acen-tuar a conformação do fundo e da' forma, a adaptaçãoda linguagem à mensagem, numa palavra, o empregodos regionalismos expressivos que caracterizam aobra como a tradução fiel da maneira de pensar e agirdos seus personagens-tipos.

E mais uma vez, para garantir uma bem su-edida comunicação aos leitores de outras latitudes

geográficas, políticas ou culturais, do imenso uni-verso da língua portuguesa, apelou o Autor para oexpediente consuetudinário: apôs ao seu ensaio umGlossário dos nossos termos regionais, como recur-so capaz de assegurar com plenitude a fidelidade doeu discurso apologético.

Constava o referido Glossário, em I" edi-ção, de 165 verbetes, reduzido na última (edição), a3", de 1969, a 43 apenas. Razão pela qual assim nosadverte o seu editor: "Do glossário organizado peloAutor foram excluídos os têrmos e expressões deuso corrente nos dias atuais e os catalogados nos di-cionários.

Na realidade, a comprovar a repercussão daobra, em breve tempo já se disseminava pelos dicio-nários da língua a consignação de termos cearensesou nordestinos chacelados pela abonação de ManéXiquexique de I1defonso Albano.

Como acabamos de ver, a obra data de 1919,e já em 1923, o Novo Vocabulário Nacional, deCarlos Teschauer, editado no Rio Grande do Sul,registrava inúmeros verbetes com a indicação danovíssima fonte objeto destes nossos comentári-os. Somente na letra A, deparamos: Aboio, açudebadejo, adjitorar, afuleimado, aluá, amucambado,animal sem fogo, aparro, aracambuz, arisco (s.m.),arrastar (= derrubar o boi), arrocho (da linguagemdos seringueiros), assuntar, aturar na vivença, ave-maria! E por aí além ...

9. De 1921 é o interessante opúsculo do ProfessorJosé Gonçalves Dias Sobreira intitulado Curiosida-des e Factos Notáveis do Ceará (128 páginas nume-radas), editado no Rio de Janeiro pela TypographiaDesembargador Lima Drummond. Quanto ao autor,trata-se de um famoso professor primário e telegra-fista, nascido no Crato, que cursou o seminário daPrainha, em Fortaleza, até a altura dos estudos teo-lógicos. É autor de várias obras didáticas, inclusive

de uma Simplificação da Grammatica Portugueza,de 1885, aprovada pela Secretaria da Instrução PÚ-blica do Ceará e de uma Geographia Especial doCeará, adotadas para servirem de compêndio pelasescolas do Estado.

Quanto ao seu opúsculo, acima referido, pu-demos anotar alguns registros significativos de in-teresse para a abonação do vocabulário regional, taiscomo: oró, designação de uma leguminosa rasteira,que ele identifica com o jericó, embora se trate deduas espécies botânicas diferentes; pombal eavoante, dois itens que apresentam uma referênciacruzada. Com relação ao termo avoante, substitutivoeufêmico de pomba ou pomba-de-bando (era as-sim que se costumava chamá-Ias), traz-nos o Autoresta curiosa observação: "Na grande seca de 1845,a Câmara Municipal de Quixeramobim, vendo que onome dessas aves não lhes soava bem entendeu dereunir-se em sessão especial, e determinou, sobpena de prisão, que dali em diante fossem chama-das ... avoantes, nome pelo qual são elas hoje conhe-cidas, em todo (o) Ceará."

Seria interessante averiguar a veracidadedesta informação para estabelecer com precisão acronologia vocabular deste termo, cujo primeiroregistro, por nós colhido, encontra-se na obra deRodolfo Teófilo, História da Seca do Ceará, de1883, e já constitui uma retrodatação do Dicioná-rio Etimológico Nova Fronteira de A. G. Cunha,que lhe assinala o século XX como data de pri-meira ocorrência.

Prossigamos, no entanto, com a relação dosnossos itens regionais inseridos pelo Autor: gota-serena, p. 35; casa de oração, p. 41; cabeça d'água,p. 52; cachaci, p. 64 - termo até hoje não apanhadopelos lexicógrafos e nitidamente cunhado por ana-logia com cajuí e cuja definição nos fornece o au-tor no seguinte lanço: "Num Sábado os empregadostendo recolhido aos depósitos toda a aguardentedestilada, deixaram um vaso ao pé do alambique,operando o resto da destilação, a que chamamcachaci ou aguardente fraca." E ainda: ranço, p. 68,na acepção de travo ou travo r acre de certas frutasverdes, especialmente do caju. No Rio de Janeiro,por exemplo, se diz cica e não ranço do caju. Ob-servamos, en passant, que o benemérito ToméCabral, ao consignar o termo com a exata significa-ção que tem entre nós, oferece como abonação oseguinte exemplo do Prof. J.G.Dias Sobreira: "Nãotem (se, o cajuí) o ranço do caju comum; é, ao con-trário, bastante doce e saboroso." Ocorre, porém,que em Tomé Cabral, a citação, que vem entre as-pas, além de não exibir a autoria do exemplo, se apre-senta bastante corrompida. Ali se lê: "O caju nãotem o ranço do caju comum; é, ao contrário, bastan-te doce e saboroso." Isto, na 2" edição, pois na 1"não se encontra registrado o termo. Merecem aindacitados os vocábulos: banda-forra, p. 82; serrota, p.92; caretas (os -), p. 124 e aluá, p. 128.

10. Neste mesmo ano de 1921 inicia-se a seqüênciadas exitosas obras regionais de Leonardo Mota que

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por mais de tO anos se empenhou na investigação danossa cultura popular, do nosso folclore, da nossaparemiologia e da nossa linguagem regional, estudan-do-a, anotando-a e divulgando-a, não só em livros eartigos em revistas e jornais da terra, mas também empalestras e conferências pelo Brasil afora, merecen-do o honroso epíteto de caixeiro-viajante da culturapopular cearense, ou embaixador dos sertões.

A primeira das suas reveladoras produções foiCantadores (Poesia e Linguagem do Sertão Cea-rense) , de retumbante êxito editorial no Rio de Ja-neiro, com tiragem de 10.000 exemplares, em pou-co tempo esgotada pelo público brasileiro.

Seguindo mais uma vez o procedimento ha-bitual dos seus predecessores, anexa LeonardoMoia, ao seu livro de estréia um alentado Elucidáriode 733 verbetes, composto de lexias simples, com-postas e complexas, cuja finalidade assinala na ad-vertência de que faz preceder o seu rico repertó-rio: "Não foi intenção minha contribuir para a for-mação de um dicionário cacoépico, mas apenas lem-brar, com abundância de exemplos, o 'dialetocearense', ou 'fixar algum aspecto da dialetaçãoportuguesa no Ceará' - como talvez preferisse dizê-10 o Sr. Amadeu Amara\."

Tal qual acontecera com Mané Xiquexique,dois anos após a publicação da obra, já se transcre-vem nas páginas dos dicionários exemplos de mo-dismos cearenses recolhidos e divulgados por Leo-nardo Mota. Sirvam-nos de prova: Abuso, na acepçãode aborrecimento e abusar, igual a enjoar; a lexiaagüentar tempo, significando: ser capaz de enfrentarsérias dificuldades; apariado, curruptela de "apare-lhado", arranjado, quase rico; arremediado, remedi-ado; arranjado, quase rico; arremediado, remediado;arrepunar, repugnar, para nos atermos unicamente àletra A.

De 1925 é o aparecimento de Violeiros doNorte, a que o Autor, socorrendo-se da mesmametodologia, apendiculou um novo glossário sob adenominação de Modismos e Adagiário, constituí-do de 552 verbetes ou itens em que avulta a presençadas lexias compostas e complexas, preanunciadorada sua futura obra paremiológica.

Como prova de seu aproveitamentolexicográfico apontamos a sua inserção na biblio-grafia referencial do novo Dicionário da Língua Por-tuguesa, de Aurélio Buarque de Holanda Ferreira, aolado de A "Padaria Espiritual", Cantadores, No Tem-llli de Lampião e Sertão Alegre.

Em 1928, é dado à estampa Sertão Alegre, namesma linha de pesquisa e divulgaçào das palavras ecoisas do Ceará, pondo sempre em alto relevo a "gaiaciência" dos nossos violeiros e poetas populares. Nãofugindo ao esquema das obras anteriores, encerra-se o livro com extenso rol constitutivo do apêndiceintitulado: Linguagem Popular, que totaliza o mon-tante de 716 verbetes, em que predominam as lexiascompostas.

Com o livro No Tempo de Lampião, de 1930,fecha-se o ciclo das obras de pesquisa e registro das

nossas peculiaridade regionais levadas a cabo peloilustre cearense, filho de Pedra Branca, "no coraçãogeográfico do Ceará". Remata o trabalho final donosso Autor um elenco de 86 verbetes, intitulado"Apelidos Sertanejos", constituído integralmente delexias compostas, algumas dos quais mereceram ahonra do registro lexicográfico, como: mão de gen-gibre, venta de bezerro novo, cara de bolacha doce,olho de vaca laçada, venta de telha emborcada, todasde notável precisão icástica e, por isso mesmo, con-sideradas dignas de consignação por parte do Dicio-nário AURÉLIO, que as inscreve com a indicaçãodiatópica CE, i.e., privativa ou característica do Ce-ará. Porém, ainda não se exaure aqui, de todo, a con-tribuição lexicográfica de Leonardo Mota, se con-siderarmos o estatuto de item lexical conferido hojepela Lingüística moderna às configurações fixas re-presentadas pelos espécimes parerniológicos, a sa-ber, os adágios, os provérbios, as máximas. osanexins, os ditos e outras modalidades de "discursorepetido", como os denomina Coseriu, em oposiçàoà elaboração lingüística realizada pela técnica livrede composição discursiva.

Nessa conformidade, tem pertinência acres-centar aqui a obra paremiológica do folcloristacearense, intitulada Adagiário Brasileiro, de publi-cação póstuma, que reúne milhares de provérbios,ditados, parêmias, expressões idiomáticas, colo-quialismos e modismos regionais, como mais umtítulo representativo da sua atividade no campo dalexicografia cearense.

E como temos procedido em todo o decor-rer desta exposição, vamos, uma vez mais, assinalar.a título de encarecimento do valor do trabalho cita-do, a sua repercussão em outras obras, como atesta-do da sua importância no universo das produçõeslexicográficas. Com efeito o reconhecimento dovalor documental da obra do nosso ilustreconterrâneo comprova-se pela inclusão do seu nomeno índice de autores que compõem o elenco biblio-gráfico do Dicionário de Sentenças Gregas e Lati-nas, de Renzo Tosi, um dos maiores e mais autoriza-dos repositórios da paremiologia clássica produzi-dos na atualidade. A obra foi editada no Brasil pelaMartins Fontes, com tradução de Ivone CastilhoBenedetti.

11. Chegamos ao ano de 1931, em que se assinala apublicação de Português da Europa e Português daAmérica, da autoria de Clóvis Monteiro glóriafilológica do Brasil e do Ceará, ao lado dos nomesigualmente gloriosos de Heráclito Graça e de FaustoBarreto, expoentes máximos, à sua época, da com-petência e da dedicação no campo dos estudos dalíngua portuguesa.

Desta primeira obra de Clóvis Monteiro que-remos acentuar, relativamente a esta nossa partici-pação, a importância do capítulo IV: Os nomes co-muns, de procedência indígena. mais correntes noNorte do Brasil. Soma 212 verbetes a resenhavocabular estudada pelo filólogo cearense, destacan-

do-se particularmente alguns que apresentam senti-do especial, ou revestem forma distinta na geografialingüística do Ceará. São eles: Biboca - cuja signifi-cação genérica é "buraco, escavação feita no terrenopelas enxurradas, mas que, no Ceará, segundo o re-paro do Autor, significa "morada humilde, casebre."Em seguida apresenta a etimologia indígena da pala-vra: yby . terra, boca, fenda, rasgão; Cará - A propó-sito da variante Acará informa: não é corrente noCeará; Cuité ou Coité - Esclarece que "no Ceará é acúia polida e pintada." A restrição é pertinente, por-quanto, nas demais regiões do Brasil o termo é sinô-nimo de "cuieira", que é o nome da planta produtoradas cuias; Imbuá - Considera corruptela de ambuá edefine-a: Nome dado, no Ceará, a um miriápodequilognata (sic), que tem a particularidade de enros-car-se e ficar imóvel, por algum tempo, quando selhe toca. Definição perfeita que, infelizmente, nãofoi reproduzida pelos dicionários e que descreve comperfeição esse tipo de centopéia; Tapioca - Particu-lariza a significação do termo entre nós, anotando:"No Ceará, espécie de beiju feito dessa massa (i.e.de mandioca); Umari - Planta legumisosa (Geofroyaspinosa). (...) Entre o povo, no Ceará, também se dizmanzeira.

No ano da graça de 1933 registra-se o famo-so concurso para a cátedra do Colégio Pedro Il, emque Clóvis Monteiro comete a ousadia de apresentara julgamento uma tese em que procura estudar um"COI'PUS" representativo da linguagem popular doNordeste, para desagrado e conseqüente atitude deimpugnação e veemente manifestação de hostilida-de por parte de um dos integrantes da banca exami-nadora, o celebrado mestre José Oiticica, de tempe-ramento ouriçado, a quem Clóvis Monteiro teria devencer e convencer de que o tema do seu estudo eratambém merecedor da atenção despreconceituosados verdadeiros estudiosos da ciência da linguagem.

Na verdade, A Linguagem dos Cantadores,fruto da análise serena e competente do materialbateado pela atividade incansável de LeonardoMota, veio fortalecer o respeito devido aos estudosdialetais no Brasil, cujos primeiros passos haviamsido auspiciosamente dados com a bem sucedidaestréia representada, alguns anos antes, pelo notá-vel ensaio de Amadeu Amaral, O Dialeto Caipira,dado à luz em 1920.

Para o nosso objetivo estrito, levamos emconsideração o teor do capítulo intitulado "À mar-gem do Vocabulário", composto de 50 verbetes cons-tituídos pelas formas e expressões que representamaspectos marginais em relação ao "uso literário doBrasil e de Portugal". Ou mais precisamente, comoacentua o Autor da obra: "o que se me antolha pecu-liar ao português falado no nordeste."

Mencionemos ainda, da produção de ClóvisMonteiro, a sua obra de 1958, Fundamentos Clássi-cos do Português do Brasil, cujo capítulo V, deno-minado Apêndice, se constitui de um estudo sob arubrica "Regionalismos Lexicais" em que o Autorarrola 126 verbetes propiciadores de um estudo

contrastivo entre termos cearenses e sul-rio-grandenses de significação idêntica ou coincidente,algumas vezes com pequenas diferenças de formaou de aplicação.

Lembremos, a propósito, que as charqueadasdo Rio Grande do Sul resultaram de uma transu-mância de criadores de gado cearenses para aquelasplagas. Recordemos também que a conquista do Acrepelos cearenses foi comandada pelo gaúcho Pláci-do de Castro e que o Ceará já foi administrado porum filho dos pampas (Em 1888, era o Ceará gover-nado pelo senador Gaúcho Henrique d' Á vila - cf. L.Mota, Violeiros do Norte, 2. ed., p. 181)

12. Retomemos agora a 1934 para assinalar a pre-sença marcante de Martinz de Aguiar no que se re-fere ao estudo do vocabulário. Com efeito, data des-se ano a contribuição do filólogo cearense intituladaOs Sinais de Galvão, inserta na Revista do Institutodo Ceará, tomo XLVII, p. 29-37. Consta a referidacontribuição de uma seqüência de 16 itens em queestuda a nomenclatura popular das característicashipológicas, positivas ou negativas, ou seja, os fa-mosos sinais de Galvão.

Em Notas e Estudos de Português, de 1942,trata o saudoso mestre, em 11 dos 30 tópicos quecompõem o sumário da obra, de tecer considera-ções em torno de particularidades do léxico diale-tal cearense. Mereceram sua especial atenção ostermos: Parabenizar, cauã ou cõã, pezunho, aciolino,ensolarado, a locução corrio sem falta, milhar (s.f.),teimoso (s.m.) ou mané-teimoso equivalente ao ter-mo de origem chinesa "pussá", segundo o Mestre, eque não se encontra consignado por nenhum dicio-nário da língua, com tal acepção. Ao mané-teimosodo Ceará corresponde hoje a designação de joão-teimoso ou simplesmente teimoso (s.m.) e joão-paulino, dependendo da região do país. Trata aindados topônimos Russas, Juazeiro e Ceará.

E por fim, em Notas de Português de Filintoe Odorico, de 1955, volta o ilustre filólogo a inse-rir no seu trabalho referências especiais ao nossovocabulário popular. São 11 anotações pontuais emtorno dos itens: Pichano ou Bichano, patota oubatota, p. 94; capado (s.rn., p. 55); bisaco, p. 62;mangofar, p. 146; mascara (paroxítona), p. 169;bebemoração, p. 188; lubim, p. 189; calculo/me-dida calculada, p. 230; cloretilo, p. 354; babau(s.m.), p. 423.

13. Gostaríamos de citar também, imprimindo a estacitação, igualmente, um caráter de homenagem, aodistinto folclorista Ctarlos) Nery Camelo, o seuinteressante trabalho, Alma do Nordeste, fruto deextensa peregrinação por mais de 300 municípiosda região, taquigrafando a linguagem popular.

Encerra o livro um elenco de 31 verbeteselucidativos das nossas peculiaridades regionais.14. À margem da literatura propriamente dita ou dostextos paraliterários, houvemos por bem referir aqui

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nesta resenha dois trabalhos de natureza científicano campo da botânica.

O primeiro, de 1863, é de autoria de ThomazPompeo de Sousa Brasil. Trata-se do Capítulo 11, doseu monumental Ensaio Estatístico da Província doCeará, dedicado ao Reino Vegetal. Nesse capítulo, oAutor apresenta um estudo sobre cerca de 400 plan-tas da região nordestina, particularizando 225 espé-cimes de "plantas medicinais, de marcenaria, deconstrução naval e civil, de cordoaria, tinturaria,floríferas, alimentícias" que "nascem e crescem es-pontaneamente, ou são facilmente aclimatadas nestaprovíncia", segundo suas próprias palavras. Cumpreassinalar que inúmeros itens que integram o referi-do elenco ainda não mereceram a contemplação dosdicionários ou vocabulários gerais da língua.

15. Noventa anos mais tarde, na esteira de TomásPompeu, o botânico e agrônomo cearense, Prof."Renato Braga, publica o seu notável dicionário dePlantas do Nordeste, especialmente do Ceará, Ia.edição, 1953 enriquecendo sobremaneira a lexi-cografia botânica da nossa terra e de toda a regiãonordestina.

Vale ressaltar, de maneira especial, a perma-nente atenção dada pelo Autor às denominações po-pulares dos espécimes estudados e a sua preocupa-ção constante com a onomasiologia diatópica, ofe-recendo as variantes designativas das plantas nos di-versos locais por onde se extende o seu habitat. Sir-va-nos de exemplo, o que nos informa a respeito daplanta herbácea Canudo: "Cresce em toda a Américatropical. Da Amazônia ao Espírito Santo, Minas Ge-rais e Mato Grosso. Mata--cabra e Canudo-de-la-glli! são outras denominações cearenses desta plan-ta. Algodão-bravo, no Pará; Algodão-do-pantanal,em Mato Grosso.

Consta o aludido Dicionário de 1433 lemas,devendo-se considerar, como acabamos de enfatizar,a amplificação de itens lexicais, por meio da qual pro-cura o seu Autor dar-nos conta das designações alter-nativas de cunho popular ou de interesse diatópico.Alguns lemas chegam a apresentar até uma dezenadessas variantes sinonímicas. Para Viuvinha, v.g. o úl-timo verbete da obra, encontram-se anotados os se-guintes sinônimos populares: Capela-de-viúva, cho-rão-de-viúva, coroa-de-viúva, toucado-de -viúva,cipó-azul, flor-azul, flor-de-são-rniguel, flor-de-viúva, grinalda-de-viúva, toucado e cinamomo.

Chegamos, finalmente, à etapa de maturaçãoda consciência da nossa identidade lingüística, emcuja decorrência foram bateados e explorados osnossos grandes e pequenos textos, anteriormentecomentados e resenhados, com vista à elaboraçãoexaustiva do nosso léxico regional.

16. O reconhecimento dessa necessidade se confi-gura pela primeira vez na obra pioneira de FlorivalSeraine, de 1958, o seu prestantíssimo Dicionáriode Termos Populares (Registrados no Ceará), cujaNota Preliminar confirma a nossa assertiva: "As

obras de que mais nos servimos foram Cantadores,Sertão Alegre, Cancioneiro do Norte (corrija-se:Violeiros do Norte), No Tempo de Lampião, da au-toria de Leonardo Mota; D. Guidinha do Poço, deOliveira Paiva; Terra de Sol e Ao Som da Viola, deGustavo Barroso; (...) Plantas do Nordeste, especi-almente do Ceará, da lavra de Renato Braga, etc."

Deixamos de incluir na nossa resenha a re-ferência ao Glossário de D. Guidinha do Poço, porter sido este organizado tardiamente, dadas as pe-ripécias que envolveram a publicação póstuma dofamoso romance de Oliveira Paiva. O referido ro-mance, como se sabe, foi escrito por volta de 1892,tendo sido dado à estampa somente em 1952. OGlossário que o acompanha foi organizado porAmérico Facó, e consta de 516 verbetes ampla-mente desenvolvidos.

O Dicionário de Florival Seraine, na Ia edi-ção, consta de 4524 verbetes, muitos dos quais comsubentradas de termos compostos ou expressõesfraseológicas que concorrem, evidentemente, parauma apreciável amplificação dos itens lexicais com-putados apenas pelo lema ou entrada principal.

Em 1991, em 2a edição, revista, ampliada emelhorada pelo Autor, como se lê na respectiva fo-lha de rosto, reaparece a obra com a informação pres-tada pela Nota Preliminar de que "Na presente tira-gem deste livro ocorre o averbamento de inúmerostermos que não constam da Ia edição, bem assim, oacréscimo de algumas definições e modos expres-sivos a verbetes que já aí se encontravam.

A maior novidade, porém, introduzida peloAutor foi a inclusão de pequenos textos exern-plificativos do lema definido, grafado em transcri-ção fonética própria, seguindo o que talvez se pu-desse chamar de "método fonotípico", segundo secostumava proceder por volta de fins do século pas-sado e inícios deste, antes da invenção e aplicaçãodo Alfabético Fonético Internacional.

Não creio que tenha sido feliz esta inovaçãoacrescida ao trabalho lexicográfico do nossodicionarista.

Com respeito às expressões fraseológicasapresentadas no corpo dos verbetes, gostaria de cha-mar a atenção para o fato de que a grande maioria co-incide quase perfeitamente na forma e na definiçãocom as que foram inventariadas por Antenor Nascen-tes no seu "corpus" constitutivo do Tesouro daFraseologia Brasileira, cuja Ia edição data de 1944.

17. A Florival Seraine segue-se Raimundo Girão,grande polígrafo cearense, que nos deu em 1967, oseu prestimoso Vocabulário popular cearense, cons-tituído de 3065 verbetes.

Trata-se de obra bastante diferente da de seuantecessor, tanto na orientação como na execução.Descarta a inclusão de termos pertinentes à flora e àfauna, fortemente representados no Dicionário deFlorival, só os admitindo nos casos em que se te-nham convertido em expressão derivada, distancia-dos do significado próprio original.

Adota a prática de abonações, citando, comprecisão, autor, obra, página e edição, privilegiandoos grandes textos representativos da literatura regio-nal, de que já fizemos reiterada menção. Fornece ain-da a etimologia da maioria dos termos inventariados,como último elemento de composição dos verbetes.

18. Chegamos, por fim, a 1972 com a obra mais alen-tada da lexicografia cearense: O Dicionário de Ter-mos e Expressões Populares, de Tomé Cabral, gran-de benemérito dos estudos da linguagem popular doCeará, no campo da pesquisa dialetológica.

Mesmo não sendo possuidor de uma forma-ção lingüística especializada, conseguiu realizar umaobra magistral, dotando a nossa bibliografialexicográfica do mais importante e mais abrangentetrabalho de coleta vocabular até hoje realizado noBrasil. A primeira edição da obra se compõe de umrepertório de 10.876 verbetes que incluem acategorização gramatical do termo, a definição, for-mas variantes e, na grande maioria dos casos, abona-ção precisa e fiel, para cuja consulta nos fornece ricabibliografia de apoio, composta de 147 títulos, re-duzidos, para comodidade dos consulentes, a um sis-tema de siglas trilíteras (ou quadrilíteras, em algunspouquíssimos casos).

Dez anos depois da I" edição, ressurge a obraem 1982, em 2" edição, com o título Novo Dicioná-rio de Termos e Expressões Populares, com plenajustificativa para o acréscimo do adjetivo Novo.

Na verdade, reaparece o dicionário locupleta-do com mais cerca de 8.000 verbetes, enriquecendo-se também a bibliografia com mais 178 novos títulos.

Outro dado importante que veio contribuirpara a configuração do novo perfil do Dicionário foia adjunção de material abonatório extraído da litera-tura de cordel, em referência à qual organizou tam-bém o Autor uma bem cuidada bibliografia quetotaliza 292 exemplares de livretos de cordel, repre-sentados, para efeito de consulta, por um cômodosistema de siglas lí~ero-numéricas, à semelhança doque adotara para a I" edição da obra.

Epílogo

Queremos, finalmente, para concluir a nossaresenha, dando plena conta e satisfação do que anun-ciamos no nosso resumo, mencionar dois trabalho,representativos da nova metodologia de pesquisa,implantada com o advento do ensino da Lingüísticanos cursos de letras das Universidades brasileiras.

O primeiro, de pequeno tomo, constitutivo deuma Dissertação de Mestrado, é da autoria do Prof.Antônio Luciano Pontes, e intitula-se O Léxico daCultura e Insdustrialização do Caju em Pacajus-CE.Trata-se de trabalho realizado sob a orientação daOra. Maria Auxiliadora Bezerra, do Centro de Ciên-cias Humanas, Letras e Artes da Universidade daParaíba, no ano de 1985.

O produto final, em termos de material lexi-cográfico, materializou-se na elaboração de um glos-

sário constituído pelo total de 335 termos referen-tes ao campo e subcampos lexicais objeto da pes-quisa projetada. Seria de desejar que trabalhos se-melhantes continuassem a ser feitos em outrasáreas de atividades características da vida econômi-ca e social do Estado, v.g., a cultura da carnaúba, doalgodão, da oiticica, a exploração da pesca da lagos-ta e de tantos outros aspectos do nosso universocultural ainda não abordados, ou não tematizados demaneira plenamente satisfatória.

O segundo trabalho, este de grande enverga-dura, é o Atlas Lingüístico do Estado do Ceará, pro-jetado e elaborado por uma equipe de pesquisado-res do Núcleo de Pesquisa Lingüística do Departa-mento de Letras Vernáculas da UFC - NUPEL - eque, ao fim de doze anos de paciente dedicação dosseus colaboradores bem como do meritório patro-cínio de órgãos e entidades comprometidos, encon-tra-se hoje em fase final de elaboração.

Com efeito, projetado, em última delibera-ção, para ser editado em três volumes pela Impren-sa Universitária do Ceará, estamos procedendo àrevisão do último volume da obra, constituído peloGlossário, seguindo a sistemática adotada pelos de-mais Atlas Lingüísticos.

Queremos ressaltar que o nosso Glossárioserá o mais rico dos que até hoje se fizeram comoexpressão demonstrativa dos diversos "corpora"lexicais levantados pelas obras congêneres publi-cadas no Brasil. Totaliza 936 verbetes que instru-mentalizam os seguintes dados informativos: (1) Ainscrição do lema; (2) A transcrição fonética; (3) Acategorização gramatical; (4) O número do quesito,que remete ao questionário utilizado para elicitaçãodas respostas; (5) O número da carta lexical e dacarta fonética; (6) A classificação dos informantes,identificados como informante Q, a saber, analfabeto,e informante 1, igual a informante alfabetizado.

Defendemos a tese de que os Atlas Lin-güísticos, pela fidedignidade das informaçõestraduzidas no registro dos dados carto.gráficos, de-vem funcionar como legítimas fontes subsidiáriasda lexicografia, razão pela qual incluímos nesta re-senha das colaborações lexicográficas do Portuguêsdo Ceará o nosso ansiosamente esperado ATLASLINGÜÍSTICO DO ESTÁDO DO CEARÁ, que ha-verá de perfilar-se como um marco histórico dosestudos lingüísticos em nossa terra.

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