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Direito Civil

SEÇÃO 6

SUA PETIÇÃO

Seção 6

Direito Civil

Sua causa!

Prezado aluno, iniciamos agora a nossa última peça processual deste curso! Certamente, a peça processual envolverá uma série de cuidados dos Doutores, pois possui normas e exigências que se encontram em legislações variadas, o que exigirá um cuidado maior em sua redação. Os recursos cabíveis às instâncias superiores são, sem dúvida alguma, os mais complexos do Direito Processual Civil, mas certamente vamos conseguir elaborá-los. Certamente, será uma desafi adora tarefa para os nobres causídicos! Vamos começar?

Após a interposição do recurso de apelação por parte da empresa Viação Meteoro Ltda. e também pela empresa Caipira Hortaliças Ltda., o r. juízo determinou a apresentação de contrarrazões de apelação, pelo prazo de 15 (quinze) dias. Ambas as partes apresentaram a resposta ao Recurso de Apelação. O Tribunal de Justiça de São Paulo deu provimento parcial ao Recurso de Apelação, para julgar a impugnação ao valor da causa, bem como para alterar a distribuição do percentual de culpa da Ré no evento, reduzindo-o para 20%, ao invés dos 40% anteriores. No entanto, quanto aos honorários de sucumbência, negou provimento ao recurso, ao fundamento de que, na época do ajuizamento, a regra da compensação de honorários era a vigente, e deveria ser respeitada a súmula 306 do STJ. Segue abaixo a ementa:

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NPJ - NÚCLEO DE PRÁTICA JURÍDICA

DIREITO CIVIL - SUA PETIÇÃO - SEÇÃO 6

EMENTA: INDENIZAÇÃO POR DANOS MATERIAIS E DANOS EMERGENTES. PRELIMINAR. ACOLHIMENTO PARA JULGAMENTO IMEDIATO. INTELIGÊNCIA DO ART. 1.009, PARÁGRAFO 3, DO CPC/2.015. ACIDENTE DE TRÂNSITO – CULPA CONCORRENTE, COM PREPONDERÂNCIA DA EMPRESA AUTORA/RECONVINDA – REDISTRIBUIÇÃO DAS CONDENAÇÕES E DA SUCUMBÊNCIA. – COMPENSAÇÃO DE HONORÁRIOS – APLICAÇÃO DA SÚMULA 306 DO STJ. RECURSO PARCIALMENTE PROVIDO.

1- Considerando o disposto no art. 1.013, PARÁGRAFO 3, INCISO III, o Tribunal pode julgar questões não decididas em primeira instância. Estando o valor da causa em desacordo com o art. 292, inciso V, do CPC.

2- As provas nos autos indicam que a culpa preponderante no acidente de trânsito foi do veículo da Autora, motivo pelo qual deve haver a redistribuição da responsabilidade civil pelo acidente para 80% para a Autora/Reconvinda e 20% para a Ré/Reconvinte. Inteligência dos arts. 944 e 945, do Código Civil Brasileiro.

3- Considerando que o Superior Tribunal de Justiça não revogou o disposto na Súmula 306, os Tribunais de Justiça devem respeitá-la, motivo pelo qual devem os honorários de advogado ser compensados.

Recurso Parcialmente provido.

APELAÇÃO DA AUTORA:

4- Partindo do pressuposto de que o recurso da Ré/Reconvinte foi provido parcialmente, para alterar a distribuição da responsabilidade civil sobre o evento, resta prejudicado o apelo, negando-se provimento ao recurso.

5- Deve ser mantida a improcedência do pedido com relação ao pagamento dos danos sofridos com fornecedores e

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locador, pois constituir-se-ia em um bis in idem com os lucros cessantes.(TJSP, Apel. Civ. 123432-12. Rel. Desembargador Carlos Chagas, julgamento em 22 de novembro de 2.017).

Na parte dispositiva do Acórdão, constou o seguinte:

“Face ao exposto, DOU PROVIMENTO PARCIAL ao Recurso de Apelação, para reformar a decisão de 1º grau, no sentido de, preliminarmente, acolher a impugnação ao valor da causa para adequar o montante do valor para 75.000,00 (setenta e cinco mil reais), devendo a Autora ser condenada ao pagamento das custas processuais complementares. No mérito Recursal, DOU PROVIMENTO PARCIAL redistribuir a responsabilidade pelo acidente de trânsito noticiado nos autos, condenando a Autora/Reconvinda ao pagamento do montante de R$ 17.600,00 (dezessete mil e seiscentos reais), correspondente a 80% do valor pleiteado na reconvenção, e a Ré/Reconvinte condenada ao pagamento do montante de R$ 13.000,00, sendo R$ 7.000,00 relativos aos danos materiais com o conserto do veículo e R$ 6.000,00 (seis mil reais), referentes aos lucros cessantes, correspondente a 20% do valor pleiteado na reconvenção. As custas e honorários, fixadas em 1º grau, devem ser distribuídas na mesma proporção da vitória e derrota das partes, devendo os honorários de sucumbência serem compensados, nos moldes da súmula 306, do STJ, posto que não foi revogada por aquele Colendo Tribunal.

A decisão foi publicada em 26 de novembro de 2.018.

A Viação Meteoro apresentou, tempestivamente, os Embargos de Declaração, alegando omissão com o propósito de prquestionar o dispositivo relacionado à culpa concorrente (arts. 944 e 945 do Código Civil), aduzindo que o caso seria de culpa exclusiva da Autora. A embargante alega ainda omissão em relação à necessidade de aplicação do artigo 85, parágrafo 14, do CPC/2015, no que diz respeito à compensação dos honorários advocatícios, bem como de negativa de vigência

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aos artigos 86, parágrafo único, do CPC/2.015, no que tange à distribuição dos honorários advocatícios e custas processuais, que aduzem ser responsabilidade total da parte quando há sucumbência mínima, bem como a negativa de vigência com relação ao artigo 85, parágrafo 11, do Código de Processo Civil de 2.015 que aduz pela necessidade de acréscimo de honorários de advogado, em razão do trabalho adicional do procurador.

Contudo, o Tribunal de Justiça rejeitou os Embargos de Declaração aos fundamentos ementados abaixo:

“EMBARGOS DE DECLARAÇÃO – ALEGAÇÃO DE OMISSÕES – MERO INCONFORMISMO DA PARTE. O Tribunal não é obrigado a responder a todos os fundamentos alegados pelas partes, especialmente, quando as questões foram todas decididas no julgado. Embargos de Declaração Improvidos.”

A decisão foi publicada no diário Oficial de Justiça do dia 18/12/2018, terça feira, ressaltando que o judiciário entra em recesso nos dias 20/12/2018 a 06/01/2019.

Portanto, a partir dos julgados, como advogado da causa, você deve manejar o recurso cabível contra a decisão, em defesa do interesse do cliente Viação Meteoro Ltda.

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Fundamentando!

Caro aluno, vamos agora adentrar na redação de nossa última peça processual, que trata de providência judicial a ser tomada nas instâncias excepcionais.

O duplo grau de jurisdição proporciona acesso à instância revisora em 2ª instância, por meio dos recursos que proporcionam a revisão da matéria fática e de direito.

Contudo, no caso dos Tribunais superiores, abre-se a oportunidade para análise apenas de questões de direito, cujo objetivo é distinto das discussões tratadas em primeiro e segundo graus.

O interesse do julgamento nos Tribunais Superiores vai muito além de decidir uma lide que envolve as partes. Na verdade,os recursos para os tribunais superiores tem por objetivo a harmonização da interpretação em relação à Constituição e Legislação Federal

Quanto ao Recurso Especial, nesse sentido, VALLADÃO (2.016, pg. 117), “o papel do recurso especial é o de levar ao STJ temas relevantes de cunho jurídico e em torno de normas federais, cuja apreciação atingirá, apenas por consequência, as partes envolvidas no litígio. Com efeito, trata-se de recurso que objetiva preservar a unidade e a autoridade do direito federal infraconstitucional, tendo em mira o interesse público que daí decorre.” (VALLADÃO, Luiz Fernando. Recursos e Procedimentos nos Tribunais no Novo Código de Processo Civil. Belo Horizonte: Del Rey, 2.016, pg. 117).

No que tange ao Recurso Extraordinário, o mesmo autor (2.016, pg. 131) afi rma que o recurso extraordinário “tem a fi nalidade de manter a autoridade e unidade do direito federal. Só que, no caso do recurso extraordinário, protege-se a unidade da Constituição Federal.” (VALLADÃO, Luiz Fernando. Recursos e Procedimentos nos Tribunais no Novo Código de Processo Civil. Belo Horizonte: Del Rey, 2.016, pg.131).

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Os Tribunais Superiores do país, o Superior Tribunal de Justiça e o Supremo Tribunal Federal exercem, respectivamente, os papéis de guardiões das leis federais e uniformização de jurisprudência e da Constituição Federal.

Cabe ao Superior Tribunal de Justiça (STJ) harmonizar as interpretações sobre as leis federais, buscando uma unidade de interpretação e segurança jurídica aos jurisdicionados, seja quando analisa a negativa de vigência e contrariedade às leis federais, seja com relação à interpretação de situações fáticas entre tribunais da federação.

Por outra senda, o Supremo Tribunal Federal (STF), através da apreciação do Recurso Extraordinário, resguarda decisões proferidas com ofensa direta à Constituição Federal.

Hipóteses de cabimento dos recursos especial e extraordinário

A Constituição Federal, em seu artigo 105, inciso III, trata das hipóteses de cabimento do recurso especial, a saber:

Título: Hipóteses de cabimento do Recurso Especial.

HIPÓTESES DE CABIMENTO DO

RECURSO ESPECIAL DE CAUSAS DECIDIDAS

EM ÚNICA OU ÚLTIMA INSTANCIA

POR TRIBUNAIS DE JUSTIÇA OU

TRIBUNAIS REGIONAIS FEDERAIS

Decisão recorrida contrariar tratado ou lei federal, ou

negar-lhes vigência

Decisão recorrida julgar válido ato de governo local

contestado em face de lei federal

Decisão recorrida der à lei federal interpretação divergente

da que lhe haja atribuído outro tribunal

Fonte: Elaborada pelo Autor.

Inicialmente, é importante distinguir negativa de vigência de contrariedade à lei federal.

Como aponta DIDIER JR., o termo contrariar teria uma abrangência maior que o de negativa de vigência. Para o referido autor, contrariar supõe“ toda e qualquer forma de ofensa ao texto legal, quer deixando de aplica-lo às hipóteses que a ele devem subsumir-se, quer aplicando-o de forma errônea, ou,

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PONTO DE ATENÇÃO: No caso, a palavra “lei federal”,

disposta no texto constitucional, abrange: a) lei

complementar federal b) lei ordinária federal c) lei delegada

federal d) decreto-lei federal e) medida provisória federal

f) decreto autônomo federal.

Portanto, não cabe recurso especial contra dispositivos

de regimento interno de tribunal, resoluções, instruções

normativas, circular, decreto legislativo ou parecer

normativo. (DIDIER, Fredie. Curso de Direito Processual

Civil, vol. 3, 13ª ed. Salvador: Ed. JusPodivm, 2016, pg. 345).

ainda, interpretando-o de modo não adequado”. Com relação à negativa de vigência, seria a ausência de aplicação de um dispositivo legal adequado à situação, negada pelo juízo a quo. (DIDIER JR, Fredie Didier. Curso de Direito Processual Civil, vol. III,13ª edição. Salvador: Ed. Jus Podivm, 2016, pg. 343).

A forma de demonstração será tratada adiante.

Quanto à ofensa de lei federal por ato de governo local, deve haver demonstração de um contraste entre a norma do governo local e a lei federal. Como aduz DIDIER Jr. (2.016, pg. 346), esse ato administrativo, julgado válido pelo tribunal de origem, afronta a lei federal, momento em que o Superior Tribunal de Justiça é chamado a se manifestar a respeito.

Por fim, com relação à divergência entre decisões de tribunais distintos da federação, deve haver a demonstração de que, em um mesmo contexto fático ou jurídico, as interpretações dadas por tribunais distintos foram diferentes, pelo que o Superior Tribunal de Justiça tem o papel de definir qual é a melhor interpretação da lei federal.

Conforme preceitua o art. 1.030, parágrafo primeiro, do Código de Processo Civil, “quando o recurso fundar-se em dissídio jurisprudencial, o recorrente fará a prova da divergência com

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a certidão, cópia ou citação do repositório de jurisprudência, oficial ou credenciado, inclusive em mídia eletrônica, em que houver sido publicado o acórdão divergente, ou ainda com a reprodução de julgado disponível na rede mundial de computadores, com indicação da respectiva fonte, devendo-se, em qualquer caso, mencionar as circunstâncias que identifiquem ou assemelhem os casos confrontados.” (BRASIL, 2015).

Portanto, não basta a transcrição da ementa. Deve-se primeiro descrever, utilizando trechos dos relatórios do acórdão recorrido e do acórdão utilizado como paradigma, para demonstrar a semelhança do contexto fático dos acórdãos. Outra questão importante: O julgado deve ser recente, e manifestar o entendimento atualizado do tribunal. Se for juntado julgado antigo e superado, o recurso pode não ser conhecido.

Quanto à questão do dissídio jurisprudencial, é interessante abordar também se há necessidade de se invocar a ofensa a dispositivo legal, e utilizar o dissídio relacionado à alegação de ofensa ao artigo de lei federal. Conforme DIDIER JR (op cit, pg. 349), o dissídio jurisprudencial pode ser analisado isoladamente, independentemente de alegação de ofensa a dispositivo legal ou em caso de não conhecimento do recurso por ofensa ou negativa de vigência ao dispositivo legal, pois, do contrário, seria esvaziado o conteúdo do comando constitucional previsto na alínea c.

A seguir,deve-se destacar os trechos dos acórdãos, demonstrando a interpretação divergente dos Tribunais da Federação. Após essa demonstração, você deve argumentar no sentido de que prevaleça o disposto no acórdão paradigma, do outro tribunal, para que o Superior Tribunal de Justiça decida qual deve prevalecer.

Com relação ao Recurso Extraordinário, o art. 102, inciso III, da Constituição Federal destaca as hipóteses de cabimento do Recurso Extraordinário, a saber:

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Título: Hipóteses de cabimento do Recurso Extraordinário

HIPÓTESES DE CABIMENTO DO

EXTRAORDINÁRIO DE CAUSAS DECIDIDAS

EM ÚNICA OU ÚLTIMA INSTANCIA

POR TRIBUNAIS DE JUSTIÇA OU

TRIBUNAIS REGIONAIS FEDERAIS

Decisão contrariar dispositivo da Constituição

Decisão declarar a inconstitucionalidade de tratado ou de

lei federal

Decisão julgar válida lei ou ato de governo local

contestado em face desta constituição

Decisão julgar válida lei local contestada em face da

lei federal

Fonte: Elaborada pelo Autor.

Quanto à contrariedade de dispositivo da constituição, deve esta ser direta, ou seja, deve violar literalmente o dispositivo constitucional, de forma direta e frontal, não cabendo, na hipótese, a legação de contrariedade de forma reflexa. Ou seja: não basta alegar ofensa ao princípio da legalidade, citando norma infraconstitucional como violada.

A novidade introduzida pelo CPC de 2.015, consagrando os princípios da cooperação e primazia de decisão de mérito, consiste na possibilidade do Relator do recurso, entendo haver questão infraconstitucional, poder converter o Recurso Extraordinário em Recurso Especial, a teor do art. 1.030, do Código de Processo Civil.

A segunda hipótese trata do controle de constitucionalidade difuso. Se uma decisão de tribunal superior considerar inconstitucional uma lei ou tratado ou tratado de lei federal, pode o Supremo

PONTO DE ATENÇÃO: Nesse sentido, o STF dispõe na

súmula 636, do Supremo Tribunal Federal: “Não cabe

recurso extraordinário por contrariedade ao princípio

constitucional da legalidade, quando a sua verificação

pressuponha rever a interpretação dada a normas

infraconstitucionais pela decisão recorrida.”

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Tribunal Federal ser instado a apreciar a inconstitucionalidade apontada naquele caso concreto, através da interposição do Recurso Extraordinário.

A terceira hipótese trata dadecisão recorrida ter considerado válido ato de governo local, contestado em face da constituição. Essa hipótese é semelhante ao que dissemos a respeito do recurso especial, mas o ato administrativo local considerado válido ofende a constituição federal, o que desafia recurso extraordinário para análise do Supremo Tribunal Federal.

Por fim, a última hipótese abrange a validade da lei local, considerada na decisão recorrida, que ofenda dispositivos da lei federal.

FORMA DOS RECURSOS ESPECIAL E EXTRAORDINÁRIO

Prazo de Interposição

Consoante dispõe o art. 1.003, parágrafo 5, do Código de Processo Civil de 2.015, os Recursos Especial e Extraordinário devem ser interpostos no prazo de 15 (quinze) dias, contados da decisão que se busca questionar com o recurso.

Deve-se também registrar o recesso no Tribunal, conforme o disposto na lei complementar 5.010/1966, Lei Complementar de Organização da Justiça Federal, que prevê recesso entre os dias 20 de dezembro a 6 de janeiro, bem como o disposto na Resolução n. 8, do conselho Nacional de Justiça (disponível em: Resolução 8/2005 CNJ), também utilizado nos Tribunais Regionais Estaduais por força de Resoluções, que são editadas anualmente.

Local de interposição e direcionamento dos Recursos Especial e Extraordinário

Conforme dispõe o art. 1.029, do Código de Processo Civil, o Recurso Especial e o Extraordinário deverão ser interpostos perante o presidente ou vice-presidente do tribunal recorrido. Caso a parte opte por interpor ambos os recursos, devem esses ser apresentados por peças distintas. Portanto, no momento de elaborar a peça processual, deve ser verificado o Regimento Interno do Tribunal de Justiça responsável pela decisão, no sentido de aferir a quem deve ser dirigido o Recurso.

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No caso do Tribunal de Justiça de São Paulo, vide o regimento interno do Tribunal de Justiça, no link a seguir: Regimento Interno do TJSP.

Portanto, a peça de interposição deve ser dirigida ao Presidente ou Vice Presidente do Tribunal, conforme o regimento interno.

Peça de interposição.

A peça de interposição deve conter o nome das partes, a espécie recursal anteriormente interposta, o número do recurso, a comunicação da interposição do recurso, a hipótese prevista em lei adotada, o requerimento de juntada do comprovante de pagamento das custas processuais, data, assinatura do advogado e OAB.

Preparo dos Recursos

Os Recursos Extraordinário e Especial estão sujeitos a preparo, conforme o disposto no art. 1.007, do Código de Processo Civil. Nesse ponto, deve a parte atentar para a possibilidade de existência de duas guias de preparo: a paga no Tribunal de Justiça local (correspondente, normalmente, ao juízo de admissibilidade) e aquela relativa ao Superior Tribunal de Justiça, através de GRU (Guia de Recolhimento da União), que pode ser obtida no site www.stj.jus.br). A exigência de preparo quanto ao Recurso Especial encontra-se disposta no art. 7, da lei 11.636/2007 e regulamentada por resolução interna. No caso do Supremo Tribunal Federal,as custas decorrem da resolução nº 491/2012.

Deve-se também atentar para a necessidade ou não do pagamento do porte de retorno. Quando os autos forem físicos, ou seja, não sejam remetidos pelo Tribunal de Origem na forma eletrônica, deverá ser pago o porte de retorno. Outra questão interessante, diz respeito aos casos de litisconsórcio. Se houver vários Autores em litisconsórcio e o recurso for interposto em nome de todos,deve-se pagar custas em relação a apenas um recurso. Se houver mais recursos distintos, cada um deverá ser acompanhado do preparo.

O recolhimento do preparo deve ser mencionado na petição de interposição do recurso.

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Conteúdos

dos Recursos

Especial e

Extraordinário

Exposição do fato e do direito.

A demonstração do cabimento do recurso interposto

As razões do pedido de reforma ou de invalidação da decisão recorrida.

Cumpre chamar a atenção que, priorizando o exame do mérito, o Código de Processo Civil de 2.015 assegura, caso haja um equívoco na realização do preparo quanto ao valor ou preenchimento da guia, que a parte possa regularizar o vício, sob pena de negativa de seguimento do recurso.

No caso da parte apresentar o recurso sem o recolhimento do preparo, com o mesmo propósito, o Código de Processo Civil de 2015 oportuniza a regularização, com o pagamento em dobro das taxas recursais pertinentes, sob pena de não conhecimento.

Conteúdo dos Recursos

O art. 1.029, do Código de Processo Civil de 2.015, aduz que os recursos especial e/ou extraordinário deve (m) conter:

Título: Conteúdos dos Recursos Especial e Extraordinário

Fonte: Elaborada pelo Autor.

Na exposição do fato e do direito, vocês deverão apresentar um breve histórico de ocorrências do processo, relacionando as decisões e situações relevantes para o objeto do recurso a ser apresentado. As decisões devem ser expostas, indicando quais providências foram tomadas. Nessa exposição dos fatos, deve-se identificar o direito tido como violado, em cumprimento ao pressuposto específico de Matéria Jurídica de Direito, que será detalhada abaixo. Deve-se também identificar se qual(is) a(s) hipótese(s) de cabimento do recurso a parte pretende demonstrar nos autos.

No tópico de cabimento do recurso, devem ser demonstrados, tópico por tópico, o preenchimento dos pressupostos específicos

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do recurso pertinente, tal como falaremos nos tópicos de pressupostos específicos de interposição do Recurso.

Nas razões para o pedido de reforma da decisão devem ser apresentadas as argumentações no sentido de demonstrar o dispositivo legal, com a sua correta interpretação doutrinária e jurisprudencial, dando-se preferência a decisões já proferidas pelo Superior Tribunal de Justiça quanto à matéria. Em seguida, deverá haver demonstração (com reprodução de trechos da decisão), que o Tribunal de Justiça deu ao dispositivo legal interpretação diversa, ou negou a sua aplicabilidade no caso concreto. Devem ser respeitados os cuidados que serão relatados no tópico de pressupostos específicos

Por fim, deve haver a realização dos pedidos e requerimentos.

O requerimento a ser apresentado na peça de Recurso Extraordinário consiste em intimar o Recorrido para, se quiser, apresentar contrarrazões no prazo legal.

O pedido de reforma da decisão consiste em requerer o provimento do recurso, para reconhecer a violação ou negativa de vigência ao dispositivo de lei federal ou o constitucional, conforme for o caso, para reformar ou cassar a decisão, buscando o resultado almejado pelo seu cliente.

Pode também haver pedido de efeito suspensivo do Recurso e, até mesmo, de antecipação da tutela recursal, conforme admitem alguns autores.

Pressupostos específicos de admissibilidade do Recurso Especial

Além das hipóteses de cabimento, por se tratar de recurso com restrições de conhecimento e para propósitos específicos, quais sejam, o de resguardar a lei federal, interpretação e a Constituição Federal. Vamos agora tratar dos pressupostos específicos de admissibilidade do Recurso Especial.

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Título: Pressupostos Específicos do Recurso Especial

Fonte: Elaborada pelo Autor.

Quanto à matéria jurídica de direito, o Recurso Especial se presta a discutir apenas questões de direito, ou seja, se houve negativa de vigência do dispositivo legal ou interpretação equivocada de seu conteúdo. O Recurso Especial não se presta a rediscutir questões fáticas ou de provas apresentadas no processo, bem como de interpretação de cláusulas contratuais. Tais preceitos decorrem do disposto nas súmulas 5 e 7, do Superior Tribunal de Justiça.

Pressupostos

especifícos

do recurso

Especial

Matéria jurídica de direito.

Prequestionamento.

Esgotamento das instâncias ordinárias.

PONTO DE ATENÇÃO

Súmula 5 STJ: “A simples interpretação contratual não

enseja recurso especial.”

Súmula 7 STJ: “A pretensão de simples reexame de prova

não enseja recurso especial.”

Contudo, DIDIER JR. chama a atenção para a possibilidade de interpor Recursos para discutir a aplicação do direito probatório. Como exemplo, em um caso em que há prova nos autos e o Tribunal afirma que, não obstante a prova estar juntada aos autos, o tribunal retira o valor da prova para condenar a parte ao pagamento. Neste caso, seria possível analisar a questão de direito quanto à validade da prova. O mesmo autor chama a atenção para o fato de que o Superior Tribunal de Justiça, nas súmulas 247 e 299, analisou exatamente o valor probante, e não as cláusulas dos

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contratos ou da prova relacionada ao título de crédito. (DIDIER JR., Freddie. Curso de Direito Processual Civil. Vol. 3 13ª edição. Salvador: Ed. Juspodivm, pgs. 308 e 309).

Na redação da peça processual, não basta apenas citar o dispositivo violado. Deve haver a exposição de demonstração da negativa de vigência ou contrariedade de interpretação, confrontando com o entendimento do Tribunal prolator do acórdão, indicando qual deve ser considerada como correta pelo Superior Tribunal de Justiça. Cumpre salientar também que não cabe alegação de violação de súmula do Superior Tribunal de Justiça. As súmulas representam a consolidação da jurisprudência a respeito de um tema. Portanto, se você pretende questionar a matéria tratada da súmula, recomenda-se que você verifique os acórdãos que deram origem à súmula para fazer a alegação de ofensa ou negativa de vigência ao dispositivo!

O prequestionamento consiste na necessidade de que o Tribunal responsável pelo julgamento tenha se manifestado em relação ao dispositivo legal cuja violação é apontada pela parte. O Superior Tribunal de Justiça não pode se manifestar sobre a ofensa de dispositivo ao qual o Tribunal local não teve a oportunidade de se manifestar a respeito.

PONTO DE ATENÇÃO

Súmula 211 STJ: “Inadmissível o recurso especial quanto

à questão que, a despeito da oposição de embargos

declaratórios, não foi apreciada pelo tribunal a quo”.

Nesse ínterim, o Código de Processo Civil, buscando a primazia do mérito e evitando o que os autores chamam de “jurisprudência defensiva dos Tribunais Superiores”, inseriu a possibilidade de admissibilidade do prequestionamento implícito. Considerando o disposto no art. 1.025, do Código de Processo Civil, caso a parte interponha o recurso de Embargos Declaratórios com o objetivo de prequestionar os artigos violados pelo acórdão e o Tribunal negue se manifestar, será considerado como prequestionados os

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dispositivos legais. Isso evita que haja a necessidade de alegação de violação dos dispositivos sobre a omissão nos Embargos Declaratórios para posterior análise do mérito recursal, como ocorrida no Código de Processo Civil. Portanto, possivelmente, haverá revisão da súmula 211, para adequá-la ao disposto no art. 1.025, do CPC.

É importante, na peça processual, que seja inserido um tópico de comprovação da ocorrência do prequestionamento, indicando, se for o caso, trecho ou parte do acórdão em que foi falado a respeito do dispositivo a que se busca demonstrar a violação ou contrariedade.

Por fim, o esgotamento das instâncias ordinárias é um pressuposto específico. Portanto, só cabe Recurso Especial, caso todos os recursos possíveis tenham sido interpostos.

Pressupostos específicos de admissibilidade do Recurso Extraordinário

O Recurso Extraordinário possui também os seus pressupostos específicos, a saber:

Título: Pressupostos Específicos do Recurso Extraordinário

Fonte: Elaborada pelo Autor.

Quanto à alegação de matéria jurídica, nos reportamos ao alegado quanto ao Recurso Especial. Nesse sentido, a súmula 279, do Supremo Tribunal Federal.

PRESSUPOSTOS ESPECÍFICOS DO RECURSO

EXTRAORDINÁRIO

Matéria Jurídica

Repercussão Geral

Prequestionamento

Esgotamento das instâncias ordinárias

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PONTO DE ATENÇÃO

Súmula 279- Para simples reexame de prova não cabe

recurso extraordinário.

Súmula 454- Simples interpretação de cláusulas contratuais

não dá lugar a recurso extraordinário.

Na peça processual, deve ser demonstrada a questão de direito que violou a Constituição Federal de forma frontal.

A peça deve destacar o dispositivo legal violado, bem como do confronto entre a decisão que violou o artigo da Constituição Federal. Atenção! Não basta indicar o dispositivo constitucional, a parte deve transcrever a parte da decisão, bem como demonstrar com argumentos jurídicos que a Constituição Federal foi violada!

O requisito exclusivo do Recurso Extraordinário é a Repercussão Geral. O requisito da Repercussão Geral, inserido na Constituição Federal no art. 102, parágrafo 3, do art. 102, da Constituição Federal e no Código de Processo Civil, no art. 1.035, parágrafo 2, diz respeito a uma prévia análise por parte do Tribunal se a questão tratada no recurso extraordinário possui relevância à coletividade, ou seja, que a Repercussão do caso supere o mero interesse individual das partes do litígio. Portanto, para tal demonstração, deve ser realizada à luz do parágrafo terceiro, do art. 1.035, do Código de Processo Civil de 2.015.

O referido dispositivo aduz que considera ter ocorrido repercussão geral, quando o acórdão que é impugnado pelo Recurso contrarie súmula ou jurisprudência dominante do Supremo Tribunal Federal, ou quando o acórdão reconheça a existência de inconstitucionalidade de lei federal ou de tratado, por controle difuso de constitucionalidade.

Portanto, somente quando reconhecidas essas situações que o Recurso poderá ser conhecido.

O inciso II do mesmo dispositivo, que dizia respeito ao julgamento de casos repetitivos, foi revogado pela lei 13.256/2016.

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Interessante comentar que a análise da Repercussão Geral não pertence ao Presidente ou Vice-Presidente do Supremo Tribunal, mas sim do plenário. A tese de se reconhecer ou não a repercussão geral deve ser analisada pelo Plenário, e possui um quórum de 2/3 para considerar que não é caso de repercussão geral.

Assim, como observou DIDIER JR. (2.016, pg. 363), a tendência maior é considerar a repercussão geral, dado o quórum qualificado para negá-la. (DIDIER JR., Fredie. Curso de Direito Processual Civil, vol. 3. 13 ed. Salvador: Ed. JusPodivm, pg. 363).

Portanto, na peça processual de Recurso Extraordinário, deve ser inserido um tópico específico que comprova o preenchimento do requisito de repercussão geral.

Por fim, o esgotamento das instâncias ordinárias também é um requisito do Recurso Extraordinário. Se houver a previsão de outro recurso cabível (à exceção dos Embargos Declaratórios), o Recurso Extraordinário não pode ser interposto, sob pena de inadmissão. Essa é a disposição da súmula 281, do Supremo Tribunal Federal:

PONTO DE ATENÇÃO

Súmula 281 – “É inadmissível recurso extraordinário,

quando couber, na justiça de origem, recurso ordinário da

decisão impugnada.”

Assim, é interessante, antes de adentrar o mérito do recurso, inserir um tópico de esgotamento das instâncias ordinárias, como forma de preenchimento do requisito.

Com relação ao prequestionamento, valem também as mesmas lições trazidas para o Recurso Especial. Vale destacar que a suscitação de ofensa à Constituição deve ter sido ventilada durante o processo até a fase recursal.

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PONTO DE ATENÇÃO

Súmula 356 STF- “Ponto omisso da decisão, sobre o qual

não foram opostos embargos declaratórios, não pode

ser objeto de recurso extraordinário, por faltar o requisito

do prequestionamento.”

Vale também para o Recurso Extraordinário o disposto no art. 1.025, do Código de Processo Civil de 2.015, no sentido de que, se a parte buscar prequestionar a matéria em sede de Embargos de Declaração e o Tribunal rejeitá-lo, considera-se como realizado o prequestionamento implícito. Possivelmente, a Súmula 356, do Supremo Tribunal Federal.

Interposição “simultânea” de recursos especial e extraordinário e a fungibilidade trazida pelo CPC de 2.015.

Questão interessante de ordem prática, consiste em ponderar a situação em que são cabíveis os dois recursos excepcionais dispostos na Constituição. As indagações seriam se os recursos devem ser protocolizados simultaneamente, ou seja, na mesma data, e se haverá a necessidade de interposição do recurso extraordinário se o fundamento constitucional utilizado não for autônomo.

Quanto à primeira indagação, DIDIER JR. (2.016, pg. 337) argumenta que, embora o art. 1.031 mencione a interposição conjunta dos recursos, em momento algum exigiu o requisito de simultaneidade. Portanto, pode ser interposto um recurso no décimo dia e o outro no décimo quinto dia, por exemplo. ((DIDIER JR., Fredie. Curso de Direito Processual Civil, vol. 3 13ª ed. Salvador: Ed. JusPodivm, pg. 337).

Em relação à segunda indagação, o mesmo autor afirma que, se o fundamento constitucional não for autônomo, bastaria a interposição do Recurso Especial (ob. cit, pg. 335). Contudo, se os fundamentos constitucional e de lei federal forem autônomos, ou seja, de motivo distinto, devem ser interpostos ambos os recursos, sob pena da incidência das súmulas 126 do STJ e 283, do STF.

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PONTO DE ATENÇÃO

Súmula 126 STJ- “É inadmissível recurso especial,

quando o acórdão recorrido assenta em fundamentos

constitucional e infraconstitucional, qualquer deles

suficiente, por si só, de mantê-lo, e a parte vencida não

manifesta recurso extraordinário.”

Súmula 283 STF: - “É inadmissível o recurso extraordinário,

quando a decisão recorrida assenta em mais de um fundamento

suficiente e o recurso não abrange qualquer deles”.

No que tange a esse assunto, o Código de Processo Civil de 2.015, nos artigos 1.032 e 1.033 flexibilizou tal regra, ao proporcionar a hipótese de que a matéria de fundo constitucional em recurso especial ou a de infringência de lei federal em recurso extraordinário possam ser conhecidas ao assunto da fungibilidade dos recursos, o Código de Processo Civil de 2.015.

Assim, se o relator do Superior Tribunal de Justiça entender pela presença de questão constitucional, deve conceder prazo de 15 (quinze) dias, para que o recorrente demonstre a repercussão geral, que é pressuposto específico para o Recurso Extraordinário, como já estudamos anteriormente.

Por outro lado, se houver fundamento de ofensa a lei federal mencionado em Recurso Extraordinário, pelo fato da ofensa à Constituição ter sido reflexa (indireta), o Relator do Recurso determinará a sua remessa ao Superior Tribunal de Justiça, para que o Recurso seja julgado como Recurso Especial.

Nesse ponto, o objetivo da modificação é o de proporcionar a primazia da decisão de mérito, sem impedir a prestação jurisdicional por questões formais, sendo, pois, digna de aplausos.

Flexibilização – Possibilidade de correção ou desconsideração de defeitos e vícios – Primazia do mérito.

Outro ponto digno de aplausos, introduzido pelo Código de Processo Civil de 2.015, no art. 1.029, parágrafo 3, diz respeito à

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possibilidade de se desconsiderar vícios formais do recurso, desde que estes sejam tempestivos e que os vícios não sejam graves.

A doutrina aponta que alguns vícios insanáveis não poderiam ser objeto de correção, tais como prequestionamento, ilegitimidade recursal, por exemplo. Por outro lado, seriam passíveis de correção a correção do pagamento de custas, a representação processual, assinatura de advogado no recurso, entre outros.

EFEITOS DO RECURSO ESPECIAL

A teor do art. 995, do Código de Processo Civil de 2.015, os Recursos especiais possuem, em regra, apenas o efeito devolutivo, qual seja, o de submeter às instâncias Extraordinárias a análise dos pressupostos e das hipóteses já estudadas alhures.

Contudo, o Código de Processo Civil de 2.015 acrescentou a possibilidade de pedido de concessão de efeito suspensivo, nos moldes do art. 1.029, parágrafo 5, desde que previstos os requisitos dispostos no art. 995, do mesmo diploma legal, a saber: dano grave de difícil reparação e probabilidade de provimento do recurso. (VALLADÃO, Luiz Fernando. Recursos e Procedimentos nos Tribunais no Novo Código de Processo Civil. Belo Horizonte: Del Rey, 2.016, pg. 127).

O mesmo autor defende ainda a existência do efeito translativo, a teor do art. 485, parágrafo 3, do Código de Processo Civil de 2.015, aduzindo poder o Relator conhecer de ofício matérias dispostas nos incisos IV, V, VI e IX, enquanto não ocorrer o trânsito em julgado. Portanto, matérias envolvendo a legitimidade das partes e interesse processual, litispendência, perempção, coisa julgada e intransmissibilidade do direito no caso de morte da parte, tais questões podem ser conhecidas de ofício.

Por fim, pode-se também requerer a antecipação de tutela recursal, em casos específicos e excepcionais. A propósito, cita-se o precedente disposto no AgRG na MC 21273, rel. Min. Gilsonn Dipp, j. 25/09/2013 e AgRg na MC 10.553/RJ, rel. Min. Teori Albino Zavascki, j. 3/11/2005. No Supremo Tribunal, vide AC 1550/RO, rel. Min. Gilmar Mendes, j. 6/2/2007 e AC 3298, AGR/PB, rel. Min. Teori Zavascki, j. em 24/04/2013.

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DAS MATÉRIAS TRATADAS NO RECURSO.

Resolvidas as questões processuais, adentraremos agora nas questões do mérito recursal. A primeira decisão a ser tomada, consiste se será necessário, no caso, a interposição do Recurso Extraordinário, Recurso Especial ou de ambos.

Definido o cabimento dos recursos, a primeira verificação consiste em verificar quais as questões o seu cliente foi sucumbente, que dizem respeito apenas à matéria de direito? As questões envolvendo as provas, bem como da necessidade de análise dos fatos, já não podem mais ser apreciadas na instância extraordinária, como exposto acima.

O Recurso Especial deve tratar de questões de direito, ventiladas no acórdão a que se busca recorrer. Nesse norte, deve-se localizar em quais matérias de direito foram tratadas na apelação e que restaram sucumbentes.

No seu caso, as questões em que a Viação Meteoro Restou sucumbente dizem respeito aos 20% da culpa concorrente, que resultou no pagamento desse percentual nos danos sofridos pela Autora/Recorrida, da questão quanto à sucumbência mínima da Viação Meteoro na demanda, o que poderia indicar a sucumbência total no caso em exame quanto aos honorários e custas processuais, da questão do acréscimo de honorários pela fase recursal, bem como a questão envolvendo a compensação de honorários.

Importante observar, também, se pode haver o questionamento quanto à distribuição da condenação de custas processuais e honorários advocatícios está condizente com o resultado da demanda. É necessário considerar ainda a questão da possibilidade ou não da compensação dos honorários advocatícios de sucumbência, questões essas que podem ser verificadas nos arts. 82 e seguintes, do Código de Processo Civil. Deve ser analisado se há necessidade de reanálise de matéria probatória para verificar a distribuição da sucumbência.

Por fim, uma questão afirmada e não considerada no julgado, diz respeito à possibilidade de acréscimo de verba sucumbencial, a

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teor do art. 85, parágrafo 11, do Código de Processo Civil, pelo trabalho desempenhado no recurso, bem como a questão de compensação dos honorários, disposta no parágrafo 14, do art. 85 do CPC/2015, situação essa que foi alegada nos Embargos de Declaração, mas não foi acolhida pelo juízo. Atenção! É sempre importante verificar se a situação envolve reanálise de prova!

PRIMEIRA FASE!

1- João Carlos interpôs Recurso Especial perante o Tribunal de Justiça de Minas Gerais, alegando ofensa ao artigo 9, do Código de Processo Civil, no que tange à ausência de abertura de vista para manifestação sobre um documento novo juntado no processo, que influenciou no julgamento da demanda, bem como de ofensa ao princípio da ampla defesa, ao fundamento de que a ausência de oportunidade de manifestação nos autos ofendeu o disposto na Constituição Federal.

Neste caso, recebido o Recurso Especial, o Relator:

A) Deve negar seguimento ao Recurso Especial, pois não foi interposto Recurso Extraordinário a respeito do tema.

B) Deve receber o Recurso Especial e ignorar a alegação Constitucional.

C) Deve receber o Recurso Especial e, considerando que a alegação de violação ao princípio da ampla defesa e da lei federal tem um mesmo fundamento, deve dar seguimento ao Recurso Especial sem a necessidade de julgamento deste como recurso extraordinário.

D) Deve receber o Recurso Especial e, considerando que a alegação de violação ao princípio da ampla defesa e da lei federal tem um mesmo fundamento, abrir vista ao recorrente para apontar a repercussão geral do caso, para processá-lo como recurso extraordinário.

E) Deve negar seguimento ao Recurso Especial, pois era cabível o Recurso Extraordinário.

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RESPOSTA CORRETA: Letra C, tendo em vista o disposto no art. 1.032, parágrafo único, do CPC. Contudo, como a questão ventilada foi apenas uma decorrência do fundamento da lei federal, não haverá necessidade de interposição do Recurso Extraordinário.

A letra a está incorreta, tendo em vista o disposto no art. 1.032, parágrafo único.

A letra b está incorreta, pois o Relator não pode ignorar a alegação constitucional, em face do mesmo dispositivo legal.

A letra d está incorreta pois havia questão de lei federal em discussão, motivo pelo qual não há que se falar em negativa de seguimento do Recurso Especial.

2- “o fato de a questão da legitimidade passiva não ter sido alvo de prequestionamento não impede que esta Corte Superior trate do ponto. “(AgRg no REsp 900449/RJ, Min. Mauro Campbell Marques, j. 23/06/2009).

Sobre o julgado acima, podemos dizer que esta diz respeito ao:

A) Efeito suspensivo do Recurso Especial.

B) Efeito translativo do Recurso Especial.

C) Efeito devolutivo do Recurso Especial.

D) Antecipação de tutela no Recurso Especial.

E) Supressão de instância no Recurso Especial.

RESPOSTA CORRETA: Letra b, efeito translativo do Recurso Especial, tendo em vista que o Tribunal poderá, de ofício, suscitar questões que poderia fazer até o trânsito em julgado, a teor do art. 485, parágrafo 3, do Código de Processo Civil de 2.015.

A alternativa A está incorreta, tendo em vista que o enunciado diz respeito a uma situação conhecida pelo Tribunal de ofício, que nada tem a ver com o efeito suspensivo.

Por outro lado, a alternativa C está incorreta, notadamente porquê o efeito devolutivo está presente em todos os recursos, e o enunciado não está de acordo com esse efeito.

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A alternativa D está incorreta, pois a antecipação de tutela é um provimento recursal, e não um efeito do recurso.

A alternativa E também está incorreta, tendo em vista que o efeito translativo não signifi ca supressão de instância, mas sim uma possibilidade de apreciação de ofício de matérias que poderiam ser dirimidas pelo juízo a qualquer momento e grau de jurisdição.

Vamos peticionar!

Prezados alunos, vamos agora pensar sobre a peça processual!

Após a leitura da situação problema narrada, na parte que o seu cliente Viação Meteoro restou sucumbente, os dispositivos cuja violação foi alegada eram de lei federal ou constitucional? Qual será o recurso cabível? O recurso deve ser endereçado para qual juízo? Qual é a composição do Recurso?

A seguir, você deve realizar uma narrativa do trâmite processual, destacando a decisão que se deseja recorrer e quais matérias serão objeto do recurso. Não se esqueça de que só são admitidas matérias de direito!

Outra questão consiste em identifi car qual hipótese de cabimento do recurso você utilizará? Deve-se também verifi car: os pressupostos recursais específi cos do recurso foram preenchidos? Em caso afi rmativo, é importante lançar tópicos demonstrando o seu preenchimento, verifi car o preenchimento dos pressupostos recursais e apresentar.

Na parte das razões para a reforma da decisão, deixe claro o dispositivo, a sua interpretação e a demonstração, de preferência, com trechos, para indicar qual dispositivo foi violado, ok?

Por fi m, não deixe de fazer o requerimento e os pedidos, verifi cando se é o caso de requerimento de efeito suspensivo. Lembre-se de inserir advogado e número de OAB, mas, no Exame de Ordem, você não pode se identifi car, ok?

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