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SEÇÃO 5

SUA PETIÇÃO

Direito Constitucional

Sua causa!

Seção 5

Direito Constitucional

Olá, aluno! Vamos dar início à Seção 5 do nosso NPJ de Direito Constitucional. Preparado?

Na Seção passada, José Afonso, em mais um dia de estágio na Defensoria Pública do Estado, deparou-se com o caso suscitado pela Associação dos Moradores Unidos de Caicó a respeito da preservação da ruína Colosseu, patrimônio histórico e cultural da cidade de Caicó. A Associação narrou a falta de cuidados da empresa responsável pela administração do local, o que gerou danos graves ao patrimônio.

Diante da situação, foi ajuizada pela Associação uma Ação Civil Pública contra a empresa privada GUARARAPES, responsável pela manutenção e administração do local, e contra a Prefeitura Municipal de Caicó, que mantém contrato público com a empresa para a preservação do local. A Ação objetivou a reparação dos danos causados à ruína Colosseu, pela falta de preservação e cuidados de manutenção do local.

Muito bem. Após o ajuizamento a ação seguiu seu trâmite normal. Foi ouvido o representante do Ministério Público, o qual exarou parecer favorável a Associação pugnando pela condenação das requeridas à reparação de danos e à obrigação de fazer. Entretanto, o juiz da causa extinguiu a ação sem resolução de mérito, por entender que as partes que ocupam o polo passivo da ação são ilegítimas. A sentença foi publicada no dia

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NPJ - NÚCLEO DE PRÁTICA JURÍDICA

DIREITO CONSTITUCIONAL - SUA PETIÇÃO - SEÇÃO 5

10/11/2017, com fundamento na repartição de responsabilidade entre os entes federativos prevista na Constituição Federal. O Juiz, sem julgar o mérito da demanda, extinguiu o processo por entender que as partes alocadas no polo passivo não possuíam legitimidade, aduzindo que a matéria é de competência comum da União, Estados e Municípios, por isso, os três entes, União, Estado do Ceará e Município de Caicó deveriam estar no polo passivo da demanda. Fundamentou a decisão no art. 23, incisos III e IV, da Constituição Federal.

A Associação está inconformada com a decisão. Para saber o que pode ser feito, qual o meio judicial de reformar a sentença, o Sr. Justino, presidente da Associação, procura novamente a Defensoria Pública e é atendido por nosso personagem, José Afonso, o qual, imediatamente repassa o caso ao defensor público responsável que explica detalhadamente ao Sr. Justino quais os próximos passos a serem dados no processo, como a Defensoria Pública irá apelar ao Tribunal de Justiça do Estado pela reforma da sentença de primeiro grau, explicando qual o único recurso cabível contra a sentença para este fim, e a fundamentação a ser utilizada.

Agora é com você, advogado! Diante da situação narrada, utilizando todo o conhecimento que você possui, verifique através de que recurso é possível apelar pela reforma da sentença ao Tribunal de Justiça, ou seja, qual o recurso cabível contra a sentença proferida pelo Juiz da Vara Cível da Comarca de Caicó na referida Ação Cível Pública. Elabore a sua peça utilizando a fundamentação jurídica adequada para pleitear a reforma da decisão. Fique atento ao prazo recursal! Mãos à obra!

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Fundamentando!

DA REPARTIÇÃO CONSTITUCIONAL DE COMPETÊNCIAS

O Brasil, pela Constituição Federal de 1988, adotou como forma de organização do Estado o Federalismo, o que signifi ca que a organização do Estado é descentralizada, dividida, tanto política como administrativamente, entre os entes da Federação, que são: União, Estados, Distrito Federal e Municípios.

A fi m de garantir a efi cácia do sistema federalista, tendo em vista que em um mesmo território irá incidir mais de uma ordem jurídica, a Constituição Federal traz em seu texto a repartição de competências entre os entes federados. A repartição de competências consiste na atribuição, pela Constituição Federal, a cada ordenamento de uma matéria que lhe seja própria (MENDES, Gilmar Ferreira. Curso de Direito Constitucional. 12º ed. ver e atual. São Paulo: Saraiva, 2017) .

O princípio norteador da repartição constitucional de competências entre os entes federativos é o da predominância do interesse, o que faz com que a regra geral seja: à União pertencem as questões de interesse geral, aos Estados às questões de interesse regional e aos Municípios as de interesse local.

A competência dos entes federativos pode ser:

• COMPETÊNCIA MATERIAL: também chamada de competência executiva ou administrativa, refere-se à prática de atos políticos e administrativos, ao exercício dos atos de governo e a prestação de serviços públicos.

• COMPETÊNCIA LEGISLATIVA: refere-se à elaboração de leis em sentido amplo, ou seja, à prática de ato legislativo.

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Por sua vez, a competência material se subdivide em:

• EXCLUSIVA: quando pertence a um único ente federativo, sem a possibilidade de delegação.

• COMUM: quando é possível que seja exercida por mais de um ente federativo, sem que esse exercício exclua a competência dos demais entes, ou seja, há a possibilidade de uma atuação conjunta.

E a legislativa se subdivide em:

• PRIVATIVA: é atribuída a um ente federativo determinado, mas pode por ele ser delegada a outro.

• CONCORRENTE: é atribuída concomitantemente a mais de um ente federativo.

• SUPLEMENTAR: cabe a um ente estabelecer as regras gerais, e a outro complementar essas regras.

Não há outra forma de estudar a repartição constitucional de competência que não seja analisando os dispositivos da própria Constituição. A distribuição da matéria não está feita de uma forma sistemática no texto constitucional, o que dificulta um pouco a assimilação. Por isso, sistematizamos o assunto de forma que fique mais claro para você, aluno. Veja:

• COMPETÊNCIA MATERIAL EXCLUSIVA DA UNIÃO:

As hipóteses de competência material exclusiva da União estão previstas no art. 21 da Constituição Federal. Nas hipóteses elencadas no referido artigo, não se admite a delegação para outros entes federativos, por isso se diz que são de competência exclusiva da União.

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Em resumo, de acordo com o dispositivo, questões ligadas às relações internacionais com estados estrangeiros, defesa nacional, produção de armas, emissão de moedas, elaboração de planos de ordenação de território e desenvolvimento econômico são de competência exclusiva da União.

A exploração de serviços de telecomunicações, correios, radiofusão, energia elétrica, navegação aérea, marítima e fluvial, bem como a ferroviária, seja diretamente ou através de concessão, autorização ou permissão, também são de competência exclusiva da União. Ainda cabe exclusivamente à União a organização e manutenção do Poder Judiciário, Ministério Público do Distrito Federal e territórios e a Defensoria Pública dos Territórios; da Polícia Civil, Militar e Corpo de Bombeiros.

• COMPETÊNCIA MATERIAL COMUM DA UNIÃO, ESTADOS, DISTRITO FEDERAL E MUNICÍPIOS:

As hipóteses de competência material comum, que podem ser exercidas tanto pela União como pelos Estados, Distrito Federal e Municípios, estão previstas no art. 23 da Constituição Federal. De acordo com o referido artigo, compete a todos os entes federativos, basicamente: zelar pela guarda da Constituição, das leis e instituições democráticas, conservar o patrimônio público; cuidar e prestar assistência pública a saúde; proteger as pessoas portadoras de deficiência, documentos, obras e outros bens de valor histórico, artístico e cultural; proporcionar meios de acesso à cultura, educação, ciência e tecnologia; proteger o meio ambiente e combater a poluição em todas as suas formas, dentre outras hipóteses que não estejam previstas na Constituição como de competência exclusiva da União.

Portanto, a distribuição de competência material entre os entes federativos está feita nos artigos 21 e 23 da Constituição, conforme o quadro comparativo abaixo:

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Quadro comparativo sobre Competência Material

Fonte: Elaborada pela autora.

Para ilustrar, aluno, vamos ver conhecer um julgado do STF sobre a competência material exclusiva da União?

O Estado do Rio Grande do Norte possui uma Lei Orgânica dos Procurados do Estado, a Lei Complementar 240/2002. Muito bem, a referida lei, em seu art. 88, previu a concessão de porte de arma ao Procurados Geral do estado independente de qualquer ato formal de licença ou autorização. Em face disso, o Procurador Geral da República propôs ação direta de inconstitucionalidade perante o STF, alegando que referida norma feria dispositivos da Constituição Federal.

À primeira vista, pode parecer um caso de violação às regras de repartição de competência legislativa, não é mesmo? Mas não, aluno. O STF entendeu que o referido dispositivo da Lei estadual é inconstitucional, em face da interpretação extensiva do art. 21, VI, segundo a qual a competência privativa da União, para “autorizar e fiscalizar a produção e o comércio de material bélico”, também engloba outros aspectos inerentes ao material bélico, como sua circulação em território nacional. Logo, asseverou que regulamentações atinentes ao registro e ao porte de arma também são de competência privativa da União, por ter direta relação com a competência de “autorizar e fiscalizar a produção e o comércio de material bélico” – e não apenas por tratar de matéria penal, cuja competência também é privativa da União (art. 22, I, da CF).

Assim, consignou que compete privativamente à União, e não aos Estados, determinar os casos excepcionais em que o porte

COMPETÊNCIA MATERIALART. 21 DA CF/88 ART. 23 DA CF/88

EXCLUSIVA – INDELEGÁVEL,

SOMENTE A UNIÃO EXERCE.

COMUM – TODOS OS

ENTES FEDERATIVOS PODEM

EXERCER.

HIPÓTESES TAXATIVASHIPÓTESES

EXEMPLIFICATIVAS

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de arma de fogo não configura ilícito penal, matéria prevista no art. 6º da Lei 10.826/2003 (Estatuto do Desarmamento), declarando a inconstitucionalidade do dispositivo em análise. (ADI 2.729, voto do rel. p/ o ac. min. Gilmar Mendes, j. 19-6-2013, P, DJE de 12-2-2014).

Vê-se então, aluno, que, por vezes, a distribuição da competência material também irá influenciar na competência legislativa, certo? Sobretudo, naqueles casos não previstos expressamente no texto constitucional. Dessa forma, são temas que estão interligados.

• COMPETÊNCIA LEGISLATIVA PRIVATIVA DA UNIÃO:

As matérias de competência legislativa privativa da União estão contidas no art. 22 da Constituição Federal, são elas matérias de interesse geral, nacional. O parágrafo único do referido artigo prevê a possibilidade de delegação da competência aos Estados, por isso trata-se de competência privativa e não exclusiva.

• COMPETÊNCIA LEGISLATIVA CONCORRENTE DA UNIÃO, ESTADOS E DISTRITO FEDERAL:

As matérias de competência legislativa concorrente, atribuídas concomitantemente à União, aos Estados e ao Distrito Federal, estão previstas no art. 24 da Constituição Federal. Compete à União estabelecer normas gerais, cabendo aos Estados e Distrito Federal a edição de normas complementares que atendam às suas peculiaridades.

Não havendo lei federal que disponha sobre as normas gerais, ou seja, quando a União não exercer a sua competência, a competência dos Estados será plena (art.24, §3º), não restará prejudicada ante a inércia da União. Entretanto, na superveniência de lei federal, a lei estadual será suspensa naquilo que lhe for contrária.

Por exemplo, a União, os Estados e o Distrito Federal possuem competência legislativa concorrente para ditar normas sobre

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produção e consumo, conforme o art. 24, V da Constituição Federal. O Estado de Minas Gerais, valendo-se da sua competência constitucional, editou a lei 14.507/2002, estabelecendo normas para a venda de títulos de capitalização e similares no Estado. Referida Lei foi julgada inconstitucional pelo STF, que entendeu que a mesma estabelece norma contrária às normas gerais editadas pela União, no caso o Código de Defesa do Consumidor. (ADI 2905/MG. Rel. Min. Marco Aurélio, j. 16.11.2016. Pleno). Tal julgamento teve como base o fato de que o Estado, no exercício da competência legislativa concorrente, somente pode editar normas para adaptar a legislação federal à realidade local, sem, entretanto, interferir na competência geral da União, bem como contrariar as regras já editadas por ela.

No presente caso, a legislação do Estado de Minas Gerais somente seria constitucional se houvesse a inércia da União, se não existissem normas gerais editadas pela União regulando as relações de consumo, no caso o Código do Consumidor. Uma vez existente, a legislação estadual não pode contrariá-lo sob pena de inconstitucionalidade, como ocorreu no presente caso. Compreendido, aluno?

COMPETÊNCIA LEGISLATIVAART. 22 DA CF/88 ART. 24 DA CF/88

PRIVATIVA DA UNIÃO

CONCORRENTE ENTRE

UNIÃO, ESTADOS E

DISTRITO FEDERALPODE SER DELEGADA

POR MEIO DE LEI

COMPLEMENTAR

UNIÃO EDITA NORMAS

GERAIS E ESTADOS NORMAS

COMPLEMENTARES

Quadro comparativo sobre Competência Legislativa

Fonte: Elaborado pela autora.

• COMPETÊNCIA EXPRESSA DOS MUNICÍPIOS (LEGISLATIVA E MATERIAL):

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Além da competência material comum prevista no art. 23 da CF/88, os municípios possuem algumas competências específicas baseadas no interesse local, as quais estão enumeradas no art. 30 da Constituição Federal. O dispositivo se refere à competência legislativa do município como único ente competente para, por exemplo, legislar sobre assuntos de interesse local, e suplementar a legislação federal e estadual no que couber. Por óbvio, as leis editadas pelo município não podem contrariar as regras instituídas pela União e Estados, e devem apenas se referir a aspectos locais, jamais podendo estabelecer regras gerais.

Além disso, o Município também possui competência material para manter, com a cooperação técnica e financeira da União e do Estado, programas de educação infantil e de ensino fundamental; prestar, com a cooperação técnica e financeira da União e do Estado, serviços de atendimento à saúde da população; promover, no que couber, adequado ordenamento territorial, mediante planejamento e controle do uso, do parcelamento e da ocupação do solo urbano e promover a proteção do patrimônio histórico-cultural local, observada a legislação e a ação fiscalizadora federal e estadual.

Portanto, o que irá definir a competência do Município é a preponderância do interesse local. Sobre o assunto o STF já se manifestou em diversas situações, quer ver? Por exemplo, o STF firmou entendimento no sentido de afirmar a competência do município para legislar sobre a questão sucessória dos cargos de prefeito e vice por ser matéria de interesse local (ADI 3549-5, DJ 31.10.2007, rel. Min. Cármen Lúcia), também reconheceu que matérias relativas à instalação de portas eletrônicas e câmaras filmadoras em estabelecimentos bancários são de interesse local, admitindo a competência do Município para legislar sobre o assunto (AgRg 347717-0, rel. Min. Celso de Mello, DJ 05.08.05; AgRg 491420-2).

DA REPARTIÇÃO DE COMPETÊNCIAS EM MATÉRIA DE PROTEÇÃO DO PATRIMÔNIO HISTÓRICO E CULTURAL

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Quando se analisa o art. 23 da Constituição Federal que traz as hipóteses de competência material comum da União, Estados, Distrito Federal e Municípios, no inciso III se lê “III - proteger os documentos, as obras e outros bens de valor histórico, artístico e cultural, os monumentos, as paisagens naturais notáveis e os sítios arqueológicos”, e no inciso IV “impedir a evasão, a destruição e a descaracterização de obras de arte e de outros bens de valor histórico, artístico ou cultural”. (BRASIL, 1988). Logo, percebe-se que o constituinte, ao incluir a proteção dos bens de valor histórico e cultural no referido dispositivo, não determinou um único ente competente para tanto, mas atribuiu essa competência a todos eles.

Como estudamos, a competência material concorrente significa que o seu exercício pode ser feito por mais de um ente federativo ao mesmo tempo, que a competência de um não exclui a de outro, permitindo assim uma atuação conjunta. Sendo assim, pode-se inferir que a proteção do patrimônio histórico e cultural é uma responsabilidade de todos os entes federativos, de acordo com o que dispõe a Constituição.

Entretanto, o art. 30 da Constituição Federal, ao enumerar as competências específicas dos municípios em seu inciso IX, atribui ao ente municipal a competência para promove a proteção do patrimônio histórico-cultural local. Sendo assim, o que se extrai do texto constitucional é que o exercício da competência de um ente não exclui a competência de outro no que tange a proteção do patrimônio histórico e cultural. Todavia, quando se tratar de um patrimônio local, a competência do município merece destaque.

SISTEMA RECURSAL NO PROCESSO COLETIVO

No Brasil não há uma unificação das leis referentes ao processo coletivo, o mesmo é regulado por leis esparsas como a lei da ação popular (Lei nº 4.717/65), a lei do mandado de segurança coletivo (Lei nº 12.016/09), a lei da ação civil pública (Lei nº

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7.347/85), o Código de Defesa do Consumidor (Lei nº 8.078/90) e outras.

ATENÇÃO! Apesar de ainda não aprovado, é importante que você saiba da existência de projeto de lei que prevê a sistematização de um Código de Processo Coletivo, projeto de autoria da Professora Ada Pellegrini Grinover, em conjunto com outros membros do Instituto Brasileiro de Direito Processual, que traz uma unificação no trâmite das ações coletivas, especificando os princípios que as norteiam. A aprovação do referido projeto, quando ocorrer, significará um grande avanço na legislação brasileira e uma dinamização do processo civil, contribuindo inclusive para a celeridade da prestação jurisdicional, vez que tal projeto prevê a ampliação do rol de legitimados ativos para a propositura das ações coletivas, facilita e dá preferência ao processo de execução coletiva.

Como não há, ainda, um código de processo coletivo, cada lei disciplina como se dá a tramitação das ações coletivas. Em regra, elas direcionam para a aplicação subsidiária do Código de Processo Civil (art. 7º da Lei nº 4.717/65; art. 19 da Lei nº 7.347/85 e art. 90 da Lei nº 8.078/90), e estipulam algumas outras regras peculiares que não podem ser contrariadas. No que tange ao sistema recursal, não havendo previsão expressa na lei específica, como é o caso do Mandado de Segurança, aplicam-se as disposições gerais do Código de Processo Civil.

Os recursos, no Código de Processo Civil estão previstos no Título II, arts. 994 a 1.044. De acordo com o art. 994, no processo civil brasileiro, são possíveis os seguintes recursos: apelação, agravo de instrumento, embargos de declaração, recurso ordinário, recurso especial, recurso extraordinário, agravo em recurso especial ou extraordinário e embargos de divergência. São esses, portanto, os recursos aplicáveis ao processo coletivo e suas respectivas ações.

DOS RECURSOS CABÍVEIS CONTRA SENTENÇA E DECISÕES INTERLOCUTÓRIAS JURISDIÇÃO NO PROCESSO COLETIVO

Muito bem. Contra as decisões proferidas pelo juízo de primeira instância, pode-se manejar três tipos de recurso: apelação,

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embargos de declaração e agravo de instrumento.

• AGRAVO DE INSTRUMENTO: está previsto no art. 1015 do CPC, é dirigido ao Tribunal competente para julgamento, possui prazo de 15 dias para a interposição (art. 1.003, §3º do CPC) e é cabível contra decisões interlocutórias (decisões não terminativas) que versem sobre tutelas provisórias; mérito do processo; rejeição da alegação de convenção de arbitragem, incidente de desconsideração da personalidade jurídica, rejeição do pedido de gratuidade da justiça ou acolhimento do pedido de sua revogação, exibição ou posse de documento ou coisa; exclusão de litisconsorte; rejeição do pedido de limitação do litisconsórcio; admissão ou inadmissão de intervenção de terceiros; concessão, modificação ou revogação do efeito suspensivo aos embargos à execução; redistribuição do ônus da prova; decisões interlocutórias proferidas na fase de liquidação de sentença ou de cumprimento de sentença, no processo de execução e no processo de inventário. Deve observar os requisitos formais dos arts. 1.016 e 1.017 do CPC e seguido do comprovante de recolhimento do preparo, na forma do art. 1.007 e art. 1.017, §1º do mesmo diploma.

• APELAÇÃO: está prevista no art. 1.009 do CPCP. Cabe contra as sentenças resolutivas do mérito, ou não. Ou seja, quando se estiver diante de uma decisão de primeiro grau e não for uma decisão interlocutória, nem for o caso de sanar vício de omissão, obscuridade, contradição ou erro material, será cabível o recurso de apelação. A apelação é composta por duas petições, uma de interposição dirigida ao juízo de primeiro grau, ou seja, aquela que proferiu a decisão recorrida, o qual encaminhará o recurso ao Tribunal competente para julgamento. Anexas devem ir as razões recursais, ou razões da apelação, onde deverá restar fundamentado o pedido de reforma com a devida exposição dos fatos, resumo da decisão impugnada, o que se pretende reformar e o direito que fundamenta o pedido, na forma do art. 1.010 do CPC. Há ainda a necessidade de recolhimento do preparo recursal, das custas necessárias para o processamento do recurso, o qual

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deve ser demonstrado mediante juntada no comprovante de pagamento na petição, eis que é um dos requisitos de admissibilidade do recurso, conforme o art. 1007 do CPC. O prazo para a interposição da apelação é de 15 dias (art. 1.003, §3º do CPC) . Em regra, possui efeito suspensivo, com exceção de algumas hipóteses previstas em lei e no §1º do art. 1.012 do CPC. ATENÇÃO! Nas ações coletivas, a apelação também possui efeito suspensivo, conforme o art. 14 da Lei nº 7.347/85 e art. 19 da Lei nº 4.717/65.

• EMBARGOS DE DECLARAÇÃO: Está previsto no art. 1022 do CPC. Possui prazo de 5 dias para oposição e são cabíveis contra qualquer decisão que contenha omissão, obscuridade, contradição ou erro material. Os embargos são dirigidos ao juiz que proferiu a decisão com a indicação do vício. Não possuem efeito suspensivo e interrompem a contagem de prazo para a interposição de recurso. Ao contrário dos outros recursos, não se sujeitam a preparo conforme previsão expressa do art. 1.023 do CPC.

Pronto, aluno! Após essa revisão você já possui os elementos necessários para trabalhar e elabora a peça processual cabível na situação que lhe foi apresentada. Pode começar!

PRIMEIRA FASE!

QUESTÃO 01

Sobre a repartição constitucional de competências, leia e analise os itens abaixo:

I – A competência legislativa da União é exclusiva, não podendo ser delegada.

II – A União, os Estados e o Distrito Federal possuem

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competência legislativa comum para legislar sobre a proteção ao patrimônio histórico.

III – A União possui competência material exclusiva para proteger o meio ambiente e impedir a destruição de bens de valor histórico-cultural.

Após analisar os itens acima, identifique quais possuem afirmações verdadeiras e assinale a alternativa abaixo que contém somente estes itens:

A) I.

B) II, III.

C) I, II, III.

D) II.

E) I, III.

ALTERNATIVA CERTA: D

RESPOSTA COMENTADA: A competência material da União é exclusiva, ou seja, não pode ser delegada, mas a competência legislativa é privativa, ou seja, é originária sua, mas pode por ela ser delegada a outro ente. A competência para legislar sobre a proteção do patrimônio histórico cultural é concorrente entre a União, os Estados e o Distrito Federal, bem como a competência material para proteger o meio ambiente e impedir a destruição de bens de valor histórico cultural é comum a União, Estados, Distrito Federal e Municípios.

QUESTÃO 02

No Brasil não há uma unificação das leis referentes ao processo coletivo, o mesmo é regulado por leis esparsas como a lei da ação popular (Lei nº 4.717/65), a lei do mandado de segurança coletivo (Lei nº 12.016/09), a lei da ação civil pública (Lei nº 7.347/85), o Código de Defesa do Consumidor (Lei nº 8.078/90) e outras.

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Sobre o sistema recursal no processo coletivo, assinale a alternativa correta:

A) O Código de Processo Civil não se aplica ao processo coletivo.

B) A leis esparsas que tratam das ações coletivas não admitem a apelação como recurso.

C) No código de processo coletivo todos os recursos possuem efeito suspensivo.

D) Ao processo coletivo aplica-se subsidiariamente o Código de Processo Civil.

E) No processo coletivo o único recurso cabível é o recurso ordinário.

ALTERNATIVA CORRETA: D

RESPOSTA COMENTADA: O Brasil não possui uma codifi cação unifi cada para o processo coletivo, sendo o mesmo tratado através de leis esparsas específi cas, em especial o Código de Defesa do consumidor e as leis da ação civil pública, ação popular e mandado de segurança coletivo. Tais leis trazem algumas peculiaridades às referidas ações, entretanto recomendam a aplicação subsidiária do Código de Processo Civil naquilo que não lhe for contrário.

Vamos peticionar!

Aluno, pode acreditar que você está preparado para a prática, vamos seguir sem receio! Aqui vamos lhe dar o passo a passo para você solucionar o caso proposto no “Sua Causa” e elaborar corretamente a peça processual exigida, ok?

Muito bem. O primeiro passo é a identifi cação da peça processual a ser elaborada, pela descrição do caso você já

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sabe que se trata de um recurso, correto? Você deve então, antes de mais, verificar que tipo de decisão será impugnada: é uma sentença ou uma decisão interlocutória? A partir daí você já elimina algumas peças. Identificado o tipo da decisão recorrida, veja o que se pretende impugnar: há algum vício formal, obscuridade ou contradição? Se não, só lhe resta uma alternativa de recurso, não é mesmo? Pronto, identificada a peça vamos a sua construção.

Como em qualquer outro recurso, você precisa primeiro observar qual o prazo para a interposição, pois a tempestividade é um dos requisitos formais de admissibilidade do recurso e precisa ser demonstrado o seu preenchimento. Quanto a isso, observe se o mesmo segue a regra geral de 15 dias prevista no CPC, ou se há algum prazo específico para a sua interposição.

Ademais, observe como deve ser estruturada a sua peça: ela consiste em uma petição única, ou há uma petição de interposição e uma com as razões recursais? Se sim, a quem cada uma delas deve ser dirigida? As petições devem ser endereçadas a quem irá apreciá-la. Ademais, você deve estar atento a fundamentação jurídica necessária para reverter a decisão, bem como ao pedido a ser formulado, ok? Mãos à obra!

Aluno, você está pronto para elaborar o que lhe foi solicitado no “Sua Causa”, fique tranquilo e vá com calma e atenção. Lembre-se que você estará atuando como advogado da Associação, em defesa de direito difuso da população do município de Caicó.

Procure identificar qual a ação coletiva que pode ser proposta por Associação, ou seja, em que esta pode figurar no polo ativo da demanda. Veja ainda quais os requisitos legais para que reste configurada a legitimidade ativa da ação, você deve deixá-los demonstrados de forma expressa em sua peça. Atente também para o local em que a ação será ajuizada, o foro competente será o do local onde o patrimônio público que a ação visa proteger está situado.

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Você viu ainda que cada ação coletiva possui suas hipóteses de cabimento, logo, identificado que o objeto da ação será a proteção de patrimônio histórico e cultural, você deverá fazer o enquadramento legal do objeto na hipótese legal da respectiva lei que regulamenta a ação a ser proposta, demonstrando para o juiz que irá julgar a sua petição que a você propôs a peça processual correta.

Não se esqueça de fazer uma robusta exposição dos fatos, e também de deixar expressa a fundamentação legal da peça e dos pedidos, obedeça também os requisitos formais das ações coletivas, lembrando de verificar se há a necessidade de notificação do Ministério Público e se deve haver o recolhimento de custas e emolumentos. Por fim, não se esqueça de atribuir valor à causa, seguindo minimamente uma correspondência com o valor econômico que se busca resguardar na ação, datá-la e assiná-la. Dito isso, vamos à prática!

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