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DIREITOPROCESSUAL PENAL

POLÍCIA FEDERALPreparatória – Delegado

Módulo II

Brasília

2008

A1-AP20112/8/2008

© 2008 Vestcon Editora Ltda.

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Direito Processual Penal

Título da obra: Polícia Federal – Preparatória – Delegado – Módulo II

Autor:Thiago André Pierobon de Ávila

DIRETORIA EXECUTIVANorma Suely A. P. Pimentel

DIREÇÃO DE PRODUÇÃOCláudia Alcântara Prego de Araújo

SUPERVISÃO DE PRODUÇÃOJulio Cesar Joveli

EDIÇÃO DE TEXTOCíntia Caroline da S. e SilvaGiselle Silva dos SantosReina Terra Amaral

CAPAMarcos Aurélio Pereira

EDITORAÇÃO ELETRÔNICAAntonio Gerardo Pereira

REVISÃOClaudia CostaFernanda GomesMarina DinizRaquel da Cruz

SEPN 509 Ed. Contag 3º andar CEP 70750-502 Brasília/DFSAC: 0800 600 4399 Tel.: (61) 3034 9576 Fax: (61) 3347 4399

www.vestcon.com.br

Publicação em 12/8/2008(A1-AP201)

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VALOR PROBATÓRIO DO INQUÉRITO POLICIAL

O inquérito policial é peça de informação para o órgão de acusação. O inquérito não contém prova, mas meros elementos de informação preliminar. A validade destas informações é dirigida a uma fase específi ca: respaldar o recebimento da acusação. Após o recebimento da acusação, deverão ser produzidas em juízo as provas, na presença do juiz e das partes, para que possam ser consideradas efetivamente como provas quando da prolação da sentença.

Estabelece o art. 155, caput, com a redação dada pela Lei n° 11.690/2008:

Art. 155. O juiz formará sua convicção pela livre apreciação da prova produzida em contraditório judicial, não podendo fundamentar sua deci-são exclusivamente nos elementos informativos colhidos na investigação, ressalvadas as provas cautelares, não repetíveis e antecipadas.

Conforme a jurisprudência do STF

ofende a garantia constitucional do contraditório fundar-se a condenação exclusivamente em testemunhos prestados no inquérito policial, sob o pretexto de não se haver provado, em juízo, que tivessem sido obtidos mediante coação1.

Portanto, é vedado ao juiz condenar exclusivamente com base nas informações produzidas na fase das investigações2. Todavia, caso haja informações do inquérito que sejam respaldadas por provas produzidas em juízo, o STF tem aceito a utilização destas informações preliminares com o conjunto probatório. Conferir:

EMENTA: 1. Habeas corpus fundamentado em reexame de provas. Im-possibilidade de análise profunda do contexto fático-probatório.2. Condenação baseada exclusivamente nas declarações colhidas em sede de inquérito policial. Inocorrência. Confi rmação em juízo dos depoimentos prestados.3. Validade de indícios como meio de prova (CPP, art. 239). Análise con-junta de todas as provas produzidas.

1 STF, RE 287658, 1ª T, 16.9.03, Pertence, DJ 10/3/2003.2 STF, HC 83864/DF, rel. Min° SEPÚLVEDA PERTENCE, j. 20/4/2004, Primeira Turma, DJ 21/5/2004, p. 43,

Ementário v. 2152-02, p. 303.

DIREITO PROCESSUAL PENALThiago André Pierobon de Ávila

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Não-conhecimento da ordem impetrada. Condenação mantida.(STF, HC 83348/SP, rel. Min. JOAQUIM BARBOSA, j. 21/10/2003, Pri-meira Turma, DJ 28/11/2003, p. 15, Ementário v. 2134-02, p. 292)

Aparentemente, este entendimento do STF é respaldado pela nova redação do art. 155, caput, pois este afi rma que o juiz não pode condenar “exclusivamente” com base nas informações contidas no inquérito, ou seja, a contrario sensu permite a interpretação de que não sendo exclusivamente (havendo outras provas judiciais que respaldem as informações preliminares), as informações do inquérito poderão ser utilizadas subsidiariamente para formação da convicção.

Como visto, o referido art. 155, caput, prevê a possibilidade de utilização das seguintes informações do inquérito policial como meio de prova em juízo: provas cautelares, não repetíveis e antecipadas. A doutrina considera como provas cautela-res, as provas técnicas, como, por exemplo, o laudo de exame cadavérico, laudo de lesões corporais, laudo de exame de local de crime, laudo de exame de confronto balístico e outros. Em verdade, a maioria das perícias feitas na fase inquisitorial adentra a ação penal na qualidade de “provas cautelares” e podem ser utilizados pelo magistrado para fundamentar sua condenação. Como exemplo de prova não repetível pode ser citado o depoimento de uma pessoa que vem a falecer após o ajuizamento da ação penal. Nesta situação, caso outra pessoa confi rme o teor do depoimento, poderá o termo de oitiva realizado na fase do inquérito policial ser utilizado como prova documental. As provas antecipadas não são propriamente a utilização de informações do inquérito, pois, nesta situação, haverá um incidente judicial de produção antecipada de prova, com participação da acusação e defesa, conforme permite o art. 225.

Portanto, é em relação à prova testemunhal que reside o ponto de controvérsia, não podendo as informações testemunhais contidas no inquérito ser utilizadas como prova para condenação, porque colhidas de forma inquisitória e sem contraditório. Necessariamente as testemunhas devem ser novamente ouvidas em juízo para que haja verdadeiramente “prova” em sentido estrito.

INSTAURAÇÃO DO INQUÉRITO POLICIAL E DESENVOLVIMENTO

De acordo com o professor Fernando Capez, as peças inaugurais do inquérito policial são:

– portaria: quando instaurado ex offi cio (ação penal pública incondiciona-da);

– requisição do Ministério Público ou da autoridade judiciária (ação penal pública condicionada – quando acompanhada de representação – e incon-dicionada);

– representação do ofendido ou de seu representante legal, ou requisição do Ministro da Justiça (ação penal pública condicionada);

– requerimento do ofendido ou de seu representante (ação penal privada);– auto de prisão em fl agrante (qualquer espécie de infração penal).

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A notícia do fato criminoso deverá ser encaminhada verbalmente ou por escrito, por qualquer do povo, à autoridade policial, que, verifi cando a sua procedência, determinará a abertura do inquérito policial. Nos casos em que se exige represen-tação, o inquérito não poderá ser iniciado sem ela. E nos crimes de ação privada, a autoridade policial só poderá instaurá-lo mediante requerimento de quem tem legitimidade para intentá-la.

A autoridade policial não tem disponibilidade sobre a instauração ou não do inquérito policial. Trata-se de um dever funcional que lhe impõe uma conduta positiva sempre que tiver conhecimento da prática da infração penal.

De qualquer modo, são de natureza discricionária as atribuições da autoridade policial, que pode escolher livremente, dentro dos limites legais, a forma de condução dos procedimentos de investigação. Não há, portanto, procedimento estabelecido previamente para sua condução.

Todavia, o código estabelece, no art. 6º, um roteiro a ser seguido pela auto-ridade policial. Assim, logo que tiver conhecimento da prática da infração penal, a autoridade policial deverá:

I – dirigir-se ao local, providenciando para que não se alterem o estado e conservação das coisas, até a chegada dos peritos criminais;

Em caso de acidente de trânsito, a autoridade policial ou agente policial que primeiro tomar conhecimento do fato poderá autorizar, independentemente de exa-me do local, a imediata remoção das pessoas que tenham sofrido lesão, bem como dos veículos nele envolvidos, se estiverem no leito da via pública e prejudicarem o tráfego (Lei nº 5.970/1973, art. 1º). Para tal autorização, bastará a lavratura de boletim de ocorrência.

II – apreender os objetos que tiverem relação com o fato, após liberados pelos peritos criminais;

Para tal apreensão, não é necessária autorização judicial. Tratando-se, todavia, de busca e apreensão domiciliar, a diligência deverá ser precedida de autorização judicial, nos termos do art. 5º, XI, da CF/1988.

Caso o agente seja condenado, é efeito da condenação a perda em favor da União, ressalvado o direito do lesado ou de terceiro de boa-fé, dos instrumentos do crime, desde que consistam em coisas cujo fabrico, alienação, uso, porte ou detenção constitua fato ilícito, nos termos do art. 91, alínea a, do CP.

III – colher todas as provas que servirem para o esclarecimento do fato e suas circunstân cias;IV – ouvir o ofendido;

Admite-se, inclusive, a condução coercitiva da vítima para ser ouvida, nos termos do art. 201, parágrafo único, do CPP.

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V – ouvir o indiciado, com observância, no que for aplicável, do disposto no Capítulo III do Título VII deste Livro, devendo o respectivo termo ser assinado por duas testemunhas que lhe tenham ouvido a leitura;

Indiciamento é a imputação a alguém, no inquérito policial, da prática de ilícito penal. Havendo uma convergência de indícios da autoria do crime para determinada pessoa, esta deverá ser indiciada pela autoridade policial, que concentrará suas investigações em relação àquele suspeito.

Deve haver o controle judicial sobre a legalidade do indiciamento, sob pena de constituir constrangimento ilegal. Nesse sentido:

O indiciamento de alguém, por suposta prática delituosa, somente se justifi cará, se e quando houver indícios mínimos, que, apoiados em base empírica idônea, possibilitem atribuir-se, ao mero suspeito, a autoria do fato criminoso.Se é inquestionável que o ato de indiciamento não pressupõe a necessária existência de um juízo de certeza quanto à autoria do fato delituoso, não é menos exato que esse ato formal, de competência exclusiva da autoridade policial, há de resultar, para legitimar-se, de um mínimo probatório que torne possível reconhecer que determinada pessoa teria praticado o ilícito penal.O indiciamento não pode, nem deve, constituir um ato de arbítrio do Estado, especialmente se se considerarem as graves implicações morais e jurídicas que derivam da formal adoção, no âmbito da investigação penal, dessa medida de Polícia Judiciária, qualquer que seja a condição social ou funcional do suspeito. Doutrina. Jurisprudência. (STF, Inq. nº 2.041/MG, rel. Min. Celso de Mello, DJU 6/10/2003)

Para seu interrogatório, poderá ocorrer a condução coercitiva do indiciado, por aplicação analógica do disposto no art. 260 do CPP. Todavia, o investigado possui o direito constitucional de permanecer em silêncio, sem que tal circunstância seja considerada em seu desfavor. Antigamente, o art. 186 dispunha que o silêncio do interrogado poderia ser considerado em seu desfavor; esse dispositivo, que já se considerava não recepcionado pela Constituição de 1988, teve expressamente sua redação alterada pela Lei nº 10.792/2003 para estabelecer que tal silêncio não poderá ser interpretado em prejuízo da própria defesa, assegurando o respeito ao privilégio contra auto-incriminação.

A Lei n° 11.719/2008, ao dar nova redação ao art. 405, § 1º, estabelece que o interrogatório do investigado, indiciado, ofendido e testemunhas, será feito preferen-cialmente em meio audiovisual ou outras técnicas de gravação. Esta norma aplica-se à fase das investigações. A disposição visa assegurar a lisura do procedimento (evitando-se argüições de tortura ou pressão indevida), bem como visa preservar a

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fi dedignidade da informação preliminar. Entendemos que caso todos os depoimentos sejam gravados, esta conduta será ela mesma uma prevenção à eventual prática de abusos, sendo de todo recomendável sua implementação.

Quanto à necessidade de curador ao indiciado menor, vide comentários abai-xo. O art. 21 determina que a autoridade policial poderá determinar a incomu-nicabilidade do indiciado quando o interesse da sociedade ou a conveniência da investigação o exigir, mediante despacho fundamentado. Segundo vários doutri-nadores, tal dispositivo não foi recepcionado pela atual Constituição, porque esta vedou a incomunicabilidade até mesmo na hipótese de estado de defesa, situação em que vários direitos individuais já sofrem restrição (CF/1988, art. 136, § 3º, IV). Portanto, se na situação de restrições não é admissível a incomunicabilidade, numa situação de normalidade com muito mais razões seria inadmissível. Nesse sentido: Tourinho, Mirabete e Capez. Em sentido contrário, admitindo como válido o dispositivo pelo princípio da proporcionalidade: Damásio e Vicente Gre-co. Em qualquer hipótese, ainda que se admita válida a incomunicabilidade, ela não se estenderá ao advogado do indiciado, nos termos do estatuto da OAB (Lei nº 8.906/1994, art. 7º, III).

VI – proceder a reconhecimento de pessoas e coisas e a acareações;VII – determinar, se for o caso, que se proceda a exame de corpo delito e a quaisquer outras perícias;

Sobre a realização de perícias, vide arts. 158 a 184 do CPP.

VIII – ordenar a identifi cação do indiciado pelo processo datiloscópico, se possível, e fazer juntar aos autos sua folha de antecedentes;

A Constituição Federal, em seu art. 5º, LVIII, dispõe que o civilmente identifi -cado não será submetido à identifi cação criminal, salvo nas hipóteses previstas em lei. Por identifi cação civil entende-se os documentos de identidade admitidos na legislação vigente (RG, carteira funcional e, atualmente, até a CNH). Identifi cação criminal é a identifi cação datiloscópica, ou seja, a colheita das impressões digitais para comparação perante o Instituto de Identifi cação. Segundo o STJ, a identifi cação criminal abrange tanto a identifi cação datilos cópica quanto a identifi cação fotográ-fi ca, não havendo ofensa ao direito à imagem da pessoa investigada.

O dispositivo constitucional possibilitou que lei ordinária estabelecesse exce-ções à regra constitucional, ou seja, hipóteses em que, mesmo havendo a identifi ca-ção civil, se poderá proceder à identifi cação criminal. Tais exceções estão previstas na Lei nº 10.054/2000, em seu art. 3º, e ocorrerão quando:

1) houver prática de delito de homicídio doloso, crimes contra o patrimônio praticados mediante violência ou grave ameaça (roubo, extorsão, extorsão mediante seqüestro, esbulho possessório), crime de receptação qualifi cada (no exercício de atividade comercial), crimes contra a liberdade sexual

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(estupro, atentado violento ao pudor e outros) ou crime de falsifi cação de documento público;

2) houver fundada suspeita de falsifi cação ou adulteração do documento de identidade;

3) o estado de conservação ou a distância temporal da expedição de documento apresentado impossibilite a completa identifi cação dos caracteres essen-ciais;

4) constar de registros policiais o uso de outros nomes ou deferentes qualifi -cações;

5) houver registro de extravio do documento de identidade;6) o indiciado ou acusado não comprovar, em 48 horas, sua identifi cação

civil.

Também a Lei do Crime Organizado estabeleceu que, sempre que uma pessoa esteja envolvida com a ação praticada por organizações criminosas, será realizada a identifi cação criminal independentemente da identifi cação civil (Lei nº 9.034/1995, art. 5º). Todavia, há decisão do STJ entendendo que esse dispositivo da Lei nº 9.034/1995 foi tacitamente revogado pela Lei nº 10.054/2000, que disciplinou o tema e não tratou desse caso3.

IX – averiguar a vida pregressa do indiciado, sob o ponto de vista indivi-dual, familiar e social, sua condição econômica, sua atitude e estado de ânimo antes e depois do crime e durante ele, e quaisquer outros elementos que contribuírem para a apreciação do seu temperamento e caráter.

As diligências elencadas no art. 6º são meramente exemplifi cativas. Por exemplo, em certos casos, a autoridade poderá determinar a reconstituição do fato delituoso com escopo de elucidar pontos que não estejam devidamente esclarecidos e apurados, à vista dos elementos indiciários colhidos.

NOVA MAIORIDADE CIVIL E SEUS REFLEXOS NO PROCESSO PENAL

Dispunha o art. 15 do CPP que, em se tratando de indiciado menor, a autoridade policial (e não a autoridade judicial) deveria nomear-lhe curador. Entendia-se que indiciado menor era aquele que estava entre os 18 e 21 anos de idade, no momento da realização do ato procedimental.

Cumpre analisar como fi ca a regência de tal matéria ante o advento do Novo Código Civil, que reduziu a capacidade civil para os 18 anos.

Dispunha o revogado Código Civil de 1916 que as pessoas naturais menores de 16 anos eram consideradas absolutamente incapazes, e os maiores de 16 anos e menores de 21 eram relativamente incapazes.

3 STJ, RHC nº 12.965-DF, rel. Min. Felix Fischer, julg. 7/10/2003, Inf./STJ nº 187.

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Como, no âmbito penal, a pessoa adquire a capacidade aos 18 anos, havia uma situação de transição durante a idade de 18 aos 21 anos incompletos, pois a pessoa já possuía capacidade penal, mas ainda era considerada incapaz perante o Direito Civil.

Assim, existiam várias disposições penais e processuais penais para tais situ-ações, tais como: necessidade de curador ao indiciado ou réu entre 18 e 21 anos incompletos; legitimação concorrente do representante legal da vítima durante essa idade, para a prática de diversos atos (oferecimento de queixa, renúncia ao direito de queixa, requerimento de diligências no inquérito, oposição ao perdão da vítima).

O Novo Código Civil (Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002, que entrou em vigor em 10 de janeiro de 2003) estabeleceu que se consideram relativamente inca-pazes as pessoas maiores de 16 anos e menores de 18 anos. Assim, o Novo Código reduziu a idade de aquisição da capacidade plena para os 18 anos, fazendo-a coincidir com a maioridade no âmbito penal. Destarte, cumpre perquirir se a alteração na maio ridade civil também trará refl exos no âmbito penal e processual penal.

A doutrina majoritária posicionou-se no sentido de que o Novo Código Civil efetivamente alterou as disposições do Código de Processo Penal que consideravam a pessoa entre 18 e 21 anos como carente de pleno discernimento, necessitando de curador (réu) ou representante legal (com legitimação concorrente com a vítima). Isso porque as disposições do CPP eram determinadas no sentido de compatibi-lizar o sistema processual com o regramento da vida civil da pessoa, dando uma maior proteção àquele que, segundo a lei civil, ainda não havia atingido a plena maturidade.

Todavia, com a alteração da maioridade civil para os 18 anos, as disposições que consideravam necessária curadoria ou representação à pessoa menor de 21 anos tornaram-se desnecessárias, estando, segundo o entendimento doutrinário majoritário, tacitamente derrogadas pelo Novo Código Civil. Isso porque o maior de 18 anos, hoje, pode praticar os atos da vida civil e proces suais livremente, sem necessidade de assistência ou representação.

No sentido do texto, entendendo que houve imediata derrogação tácita dos diversos artigos do CPP que estabeleciam necessidade de curador ao réu ou indi-ciado menor, ou que concediam legitimação concorrente ao representante legal da vítima maior de 18 anos e menor de 21 anos: Damásio de Jesus, Gianpaollo Poggio Smanio, Fernando Capez, Ricardo Cunha Cimenti, Victor Eduardo Rios Gonçalves, Vitor Frederico Kümpel, André Estefam Araújo Lima4, Arnaldo Siqueira de Lima5, Luiz Flávio Gomes6 e Fernando Fulgêncio Felicíssimo7.

4 Todos professores do Complexo Jurídico Damásio de Jesus. Vide: JESUS. Damásio de. Mesa de Ciências Crimi-nais – A nova maioridade civil: refl exos penais e processuais penais. São Paulo: Complexo Jurídico Damásio de Jesus, fev. 2003. Disponível em <www.damasio.com.br/novo/html/frame_artigos.htm>.

5 Aut. cit., “Alguns refl exos do novo código civil no âmbito penal”, apud Revista Jurídica Consulex, Ano VII, nº 146, 15/2/2003, p. 53-54.

6 Aut. cit., Maioridade Civil e as medidas do ECA. Disponível em <www.speretta.adv.br/pagina_indice.asp?iditem=1478>.

7 Aut. cti. A redução da maioridade civil e seus refl exos no sistema jurídico-penal; apud RT Fasc. Pen., ano 91, v. 804, out.2002, p. 461-467.

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Registre-se que existe entendimento doutrinário em sentido contrário, entendendo que, apesar de assistemático, o Código de Processo Penal, com a nova regulamen-tação civil, seria necessária legislação específi ca para a revogação dos dispositivos processuais, haja vista a dicotomia entre as esferas cível e penal, e a existência de regras específi cas na legislação criminal. Nesse sentido: Marcus Vinicius de Viveiros Dias8. Todavia, como dito, o primeiro entendimento tem prevalecido na doutrina, aguardando-se um pronunciamento defi nitivo por parte da jurisprudência.

Assim, todas as disposições do Código de Processo Penal que concediam legitimidade de atuação ao representante legal da vítima devem ser relidos se-gundo o entendimento de que este possui legitimidade apenas quando a vítima é menor de 18 anos ou possui alguma defi ciência mental que comprometa seu pleno desenvolvimento intelectual. Assim, necessitam de nova interpretação sistemática os arts. 14 e 38.

As disposições que expressamente reconheciam legitimidade ao representante da vítima quando esta fosse maior de 18 anos foram tacitamente ab-rogados pelo Novo Código Civil. Assim, estão revogados o art. 34, o parágrafo único do art. 50 e arts. 52 e 54.

As disposições que exigiam curador ao indiciado ou réu menor de 21 anos também foram ab-rogadas. Assim, os arts. 15, 194 e 262 foram revogados, e o art. 449 foi derrogado na parte em que exigia nomeação de curador ao menor de 21 anos. Também o art. 564, III, c, foi derrogado, pois não há mais nulidade pela ausência de curador durante o processo.

Nesse sentido, já decidiu o TJDFT:

Como o menor de 21 anos e maior de 18 não é mais relativamente incapaz, consoante os termos do novo Código Civil, podendo exercer todos os atos da vida civil, desapareceu a necessidade de curador, de modo que deve ser considerado o sistema harmônico do ordenamento jurídico empregando uma interpretação ab-rogante do dispositivo do Código de Processo Pe-nal que se refere à nomeação de curador ao menor de 21 anos de idade e maior de 18 (art. 15) na fase inquisitorial. (HBC nº 2003.002007263-7, 1ª Turma Criminal, rel. Des. Edson Alfredo Smaniotto, julg. 2/10/2003, DJU III 26/11/2003, p. 64)

Entendemos, todavia, que apenas na hipótese de réu incapaz por doença mental, ou desenvolvimento mental incompleto ou retardado, será necessária a nomeação de curador, nos termos do art. 149, § 2º, do CPP, haja vista que, nessa hipótese, a incapacidade não é decorrente de idade inferior aos 21 anos.

Contudo, existe entendimento de que o art. 279, III, que veda a atuação como perito criminal de analfabetos, não estaria revogado pelo Novo Código Civil, haja vista não tratarem de limitações relativas à incapacidade civil, mas apenas de um requisito para maior maturidade e experiência àqueles que vão prestar um serviço

8 Aut. cit. “Nova maioridade refl ete também no âmbito penal”, apud Revista Consultor Jurídico, nº 27, São Paulo, 9/1/2003. Disponível em <www.intelligentiajuridica.com.br/artigos/artigo5-oldjan2003.html>.

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à justiça criminal (nesse sentido: Damásio de Jesus, op. cit.). Registre-se que a Lei n° 11.689/2008, ao dar nova redação ao art. 436 do CPP, reduziu a idade necessária para ser jurado de 21 para 18 anos.

Como ainda não houve uma manifestação defi nitiva pelos Tribunais Superio-res quanto à matéria, mantivemos os comentários no texto original da obra, logo abaixo. Todavia, recomendamos, desde já, a adoção do novo posicionamento ora apresentado, segundo a communis opinio doctorum majoritária.

Finalmente, em relação aos refl exos da nova maioridade civil no direito penal (material), o entendimento majoritário é no sentido de que não houve qualquer in-fl uência em relação às disposições que, de alguma forma, privilegiavam o menor de 21 anos, por tratar-se de uma questão de política criminal punir de forma menos severa o jovem que recém adquiriu a capacidade penal. Assim, permanecem válidas a atenuante da menoridade prevista no art. 65, I, e a redução do prazo prescricional pela metade, prevista no art. 115, ambos do CP9.

Disciplina Antiga da Matéria

Como o tema ainda não foi plenamente sedimentado pelos tribunais superiores, segue abaixo a explanação relativa à disciplina antiga da matéria, quanto à neces-sidade de curador ao indiciado menor de 21 anos.

A função desse curador era auxiliar o indiciado em todos os atos de que este participa, dando-lhe um apoio moral nesse momento difícil de sua vida. Todavia, entendia-se que o curador não possuía direito de reperguntar o interrogado ou as testemunhas.

Não era necessário que o curador fosse parente do indiciado, ou mesmo que se tratasse de advogado. Todavia, segundo entendimento jurisprudencial, não podia ser curador o analfabeto, ou outro menor de 21 anos. Também se entendia que não poderia ser curador um funcionário sem imparcialidade para exercer a função (ex.: o agente de polícia que efetuou a prisão do indiciado). Contudo, esse último entendimento é controvertido.

A ausência de nomeação de curador ao indiciado menor não gerava a nulidade do inquérito policial, mesmo porque, como visto, o IP é apenas peça de informa-ção, e não processo. Todavia, a ausência do curador no auto de prisão em fl agrante anulava o auto como peça coercitiva, determinando o relaxamento da prisão. A au-sência do curador durante o interrogatório judicial era causa de nulidade relativa, ou seja, deveria ser oportunamente argüida, com prova do prejuízo, sob pena de convalidação10.

Essas disposições caíram no vazio, porquanto, como visto acima, não mais é neces sária a nomeação de curador ao indiciado menor, pela revogação tácita dos dispositivos que disciplinavam a matéria nesse sentido pelo Novo Código Civil (Lei nº 10.406/2002).

9 Nesse sentido: Damásio de Jesus e Arnaldo Siqueira de Lima, já citados. Em sentido contrário, entendendo já haver revogação dessas disposições: Fernando Fulgêncio Felicíssimo, op. cit..

10 Nesse sentido: STF, HC nº 74.176-SP, DJ 25/10/1996; do STJ: HC nº 17.884-SP, DJ 26/8/2002. Resp nº 493.835-RS rel. Min. Laurita Vaz, julgado em 16/9/2003.

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Ação Penal Pública Incondicionada

Dispõe a Constituição Federal, em seu art. 129, I, que compete privativamente ao Ministério Público promover a ação penal pública, na forma da lei. Assim, entendia-se que não fora recepcionado pela Constituição o procedimento judicialiforme das contravenções penais, previsto nos arts. 26 e 531 do CP para o antigo procedimento sumário. Este procedimento foi formalmente revogado com a reforma processual da Lei n° 11.719/2008, apesar desta lei não ter revogado formalmente o art. 26.

Esse procedimento judicialiforme (sumário) previa que a ação penal, nas contra-venções penais, poderia ser iniciada pelo auto de prisão em fl agrante da autoridade policial, ou de ofício pelo juiz ou delegado, mediante portaria, o que não mais pode ser admitido no sistema acusatório vigente pelo disposto no art. 129, I, da CF/1988. Apenas o Ministério Público pode dar início a ação penal pública, e o réu possui o direito subjetivo público de receber uma acusação formal, com fatos delimitados, para que possa exercer sua ampla defesa sobre tais fatos.

Conforme o dispositivo constitucional, a lei poderia limitar o exercício dessa atribuição do Ministério Público. As exceções são a ação penal privada subsidiária da pública (CF/1988, art. 5º, LIX; CPP, art. 29) e o recurso supletivo do ofendido (CPP, arts. 598 e 584, § 1º).

A ação penal pública incondicionada não impõe qualquer condição para que o órgão do Ministério Público tome iniciativa para a apuração do fato. Chegando ao seu conhecimento a ocorrência de algum crime, o Promotor Público, indepen-dentemente de qualquer “carta branca”, já denuncia o criminoso. Ex.: homicídio, furto, roubo etc. Independen temente, pois, da vontade do ofendido, que, mesmo que não queira ver seu agressor envolvido em processo, nada poderá fazer, pois o Estado não ouvirá as suas lamentações.

A ação pública condicionada, como o próprio nome indica, exige condições para que o Estado venha propor a competente ação criminal, que é a representação do próprio ofendido ou requisição do Ministério da Justiça.

A diferença básica entre esse tipo e a ação penal privada é que esta será proposta pelo próprio ofendido e aquela, pública condicionada, será proposta pelo Estado, mas com a prévia autorização do ofendido.

LIBERDADE PROVISÓRIA

É um instituto de processo penal segundo o qual o réu não é recolhido à prisão, ou é posto em liberdade, fi cando vinculado ou não a certas obrigações que o pren-dem ao processo e ao juízo, com o fi m de assegurar sua presença ao processo sem o sacrifício de sua prisão provisória. Ninguém pode ser preso quando a lei admite a liberdade provisória (CF, art. 5º, LXVI).

A liberdade provisória distingue-se do relaxamento da prisão em fl agrante, pois, nesse último caso, a liberdade é determinada em decorrência de um vício, nulidade, que torna inadmissível a manutenção da prisão.

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Espécies

Existem as seguintes espécies de liberdade provisória:1) Obrigatória. Nas infrações em que o agente se livra solto, ou seja, as infrações punidas

apenas com multa ou com pena privativa de liberdade não superior a três meses, a própria autoridade policial deve soltar de imediato o autor do fato, independentemente de fi ança. Nessas hipóteses, não existe nenhuma obri-gação especial do benefi ciado (vínculo). Tratando-se, todavia, de réu vadio ou reincidente em crime doloso, não se concede liberdade provisória (CPP, art. 321, caput).

Em relação aos crimes de menor potencial ofensivo, caso o agente assuma o compromisso de comparecer perante o Juizado Especial Criminal (Lei nº 9.099/1995, art. 69, parágrafo único), deverá ser liberado independen-temente de fi ança. Não se trata propriamente de concessão de liberdade provisória, mas de não-aplicação do instituto da prisão em flagrante. Após a Lei nº 10.259/2001, aplicável analogicamente na Justiça Estadual, consideram-se infrações de menor potencial ofensivo os crimes com pena máxima não superior a dois anos. A nova lei não exclui os crimes sujeitos a procedimento especial.

2) Permitida. Ocorre nas hipóteses em que não cabe a prisão preventiva. O juiz concede a

liberdade provisória, submetendo o autor do fato a determinadas condições (vínculo ao processo). Subdivide-se em liberdade provisória com fi ança e sem fi ança.

3) Vedada. Ocorre quando é cabível a prisão preventiva ou quando a lei expressamente

proíbe a concessão de liberdade provisória. Antigamente, constava do inciso II do art. 2º da Lei nº 8.072/1990 a proibição

de concessão de liberdade provisória pelos crimes hediondos e equiparados. De qualquer maneira, o STF já entendia que a denegação da liberdade provi-sória, mesmo aos crimes hediondos, deveria ocorrer com base na necessidade de manutenção da custódia cautelar, ou seja, deveriam estar presentes os requisitos da prisão preventiva para manutenção da prisão.

São crimes he diondos, cometidos de forma consumada ou tentada: homicí-dio praticado em atividade de grupo de extermínio, homicídio qualifi cado, latrocínio, extorsão seguida de morte ou mediante seqüestro, estupro, atentado violento ao pudor, epidemia com resultado morte, falsifi cação, corrupção, adulteração ou alteração de produto destinado a fi ns terapêuticos ou medicinais, e genocídio. Equiparam-se aos crimes hediondos: tráfi co de drogas (Lei nº 6.368/1976, arts. 12 e 13), terrorismo (sem tipifi cação legal) e tortura (com disciplina específi ca na Lei nº 9.455/1997, que admite a liberdade provisória). A permissão de liberdade provisória ao crime de tortura não se estende aos crimes hediondos (Súmula nº 698 do STF).

Todavia, a Lei nº 11.464/2007 revogou a proibição de concessão de li-berdade provisória constante do inciso II do art. 2º da Lei nº 8.072/1990,

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superando a discussão. Assim, o STF possui precedente no sentido de que, com o advento da Lei nº 11.464/2007, tornou-se possível a concessão de liberdade provisória pelos crimes hediondos ou equiparados, nas hipóte-ses em que ausentes os fundamentos previstos no art. 312 do CPP. (STF, HC nº 92.824/SC, rel. Min. Joaquim Barbosa, j. 18/12/2007, Informativo nº 493)

Também é proibida a liberdade provisória para os crimes praticados por orga-nizações criminosas (Lei nº 9.034/1995, art. 7º). O crime de porte ilegal de arma de fogo previsto no art. 14 da Lei nº 10.826/2003 (Estatuto do Desarmamento) é inafi ançável, e os crimes de posse ou porte de arma de fogo de uso restrito (art. 16), comércio ilegal de arma de fogo (art. 17) e tráfi co internacional de arma de fogo (art. 18) são insusceptíveis de liberdade provisória (cf. art. 21 da mesma Lei).

Antes da vigência da Lei nº 11.464/2007, o STF entendia que a proibição de liberdade provisória pelos crimes hediondos era constitucional. Assim, havia prece-dente no sentido de que, se o agente fora preso em fl agrante por homicídio simples, sendo-lhe concedida liberdade provisória, caso o Ministério Público ajuizasse denúncia por homicídio qualifi cado, sendo esta recebida pelo juiz, seria válido o restabelecimento da anterior prisão, pelo fato de que era incabível a concessão de liberdade provisória. (STF, HC nº 83.468/ES, rel. Min. Sepúlveda Pertence, j. 11 nov. 2003, Inf. nº 329). Entendia o STF que a proibição de liberdade provisória era conseqüência da inafi ançabilidade.

Registre-se que há entendimento doutrinário de que, na hipótese, seria incabível restabelecimento da prisão em fl agrante (pois, nesse momento, fl agrante não mais há). O que seria admissível seria a decretação de prisão preventiva (nesse sentido: Paulo Rangel).

De qualquer sorte, havia divergência entre esse entendimento antigo do STF e o posicionamento do STJ, que entendia que apenas era admissível a manutenção da prisão em fl agrante caso fosse hipótese de decretação da prisão preventiva, haja vista que o que legitima a prisão provisória é o periculum libertatis (cautelaridade). Após a revogação da proibição de liberdade provisória pelos crimes hediondos realizada pela Lei nº 11.464/2007, essas divergências estão superadas e a necessi-dade de verifi cação concreta da necessidade da prisão vale para todos os crimes. Entende-se que inclusive as disposições da Lei do Crime Organizado e Estatuto do Desarmamento devem se submeter a essa regra, ou seja, apenas se mantém a prisão em fl agrante se presentes os requisitos que autorizam a prisão preventiva.

Antigamente, determinava a Súmula nº 697 do STF que a vedação da liberdade provisória aos crimes hediondos não veda o relaxamento da prisão processual por excesso de prazo. A proibição de excesso de prazo, por óbvio, permanece em vigor.

MEDIDAS PROTETIVAS DE URGÊNCIA DA LEI MARIA DA PENHA

A Lei nº 11.340/2006 (Lei Maria da Penha) criou novos mecanismos de proteção às mulheres em situação de violência doméstica e familiar. Quando a mulher registra ocorrência em delegacia de polícia, deve ser apresentado à vítima um formulário de

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requerimento de medidas protetivas de urgência. Segundo a lei, a autoridade policial possui prazo de 48 horas para encaminhar o requerimento de medidas protetivas de urgência ao juiz, e este, ao receber, possui o prazo de 48 horas para decidir. A vista ao Ministério Público é dada após a decisão pelo juiz.

O art. 22 da lei prevê as medidas protetivas de urgência que obrigam ao agres-sor:

Art. 22. Constatada a prática de violência doméstica e familiar contra a mulher, nos termos desta Lei, o juiz poderá aplicar, de imediato, ao agres-sor, em conjunto ou separadamente, as seguintes medidas protetivas de urgência, entre outras:I – suspensão da posse ou restrição do porte de armas, com comunicação ao órgão competente, nos termos da Lei no 10.826, de 22 de dezembro de 2003;II – afastamento do lar, domicílio ou local de convivência com a ofendi-da;III – proibição de determinadas condutas, entre as quais:a) aproximação da ofendida, de seus familiares e das testemunhas, fi xando o limite mínimo de distância entre estes e o agressor;b) contato com a ofendida, seus familiares e testemunhas por qualquer meio de comunicação;c) freqüentação de determinados lugares a fi m de preservar a integridade física e psicológica da ofendida;IV – restrição ou suspensão de visitas aos dependentes menores, ouvida a equipe de atendimento multidisciplinar ou serviço similar;V – prestação de alimentos provisionais ou provisórios.

A natureza jurídica dessas medidas é híbrida, havendo medidas cíveis e outras criminais. As medidas previstas nos incisos IV e V é cível. Todavia, as medidas dos incisos I a III possuem inegável natureza criminal, pois destinam-se a proteger a integridade física da vítima (evitar a reiteração da conduta criminosa e proteção à integridade da principal testemunha do delito), mesmas circunstâncias que auto-rizariam a decretação da prisão preventiva.

Essas medidas protetivas de urgência são novas formas de medidas cautelares penais. São alternativas à tradicional bipolaridade do sistema cautelar penal, que conhece apenas dois extremos: prisão preventiva ou liberdade provisória. Agora, o juiz possui instrumentos mais efi cientes de evitar a reiteração da conduta crimi-nosa evitando a utilização da prisão que, sabidamente, é uma forma de extrema violência e que nem sempre é do desejo da vítima do crime que seja aplicada ao agressor, ante a relação familiar, e mesmo a necessidade de manutenção do em-prego do agressor para sustento dos fi lhos em comum. De qualquer modo, se o agressor violar a ordem judicial de afastamento do lar, proibição de aproximação e contato, poderá o juiz decretar sua prisão preventiva para assegurar a proteção à

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mulher, sem prejuízo de eventual responsabilização pelo crime de desobediência à ordem judicial.

A lei não regulamentou se as medidas protetivas podem ter duração para além do término do processo criminal. Caso se entenda que as medidas dos incisos I a III são exclusivamente criminais, o término do processo penal acarretará a auto-mática revogação das medidas cautelares penais. Todavia, caso se entenda que é possível conferir natureza cível a essas cautelares, seria possível atribuir duração para além do término do procedimento criminal. No sistema dos Estados Unidos, que inspirou a elaboração da lei, as restraining orders são medidas cíveis de proi-bição de aproximação concedidas independentemente do procedimento criminal. Normalmente, os confl itos familiares são mais bem solucionados com a proteção à vítima mediante medidas de proibição de aproximação, ao invés de ter apenas a punição criminal. Nesse sentido, uma interpretação que leve em conta a máxima efetividade à proteção aos direitos fundamentais das mulheres certamente deverá considerar que as medidas protetivas de urgência podem ser fi xadas com prazo determinado, que poderá durar para além do término do procedimento criminal. Nessa hipótese, após o deferimento limiar da medida, deverá o juiz intimar o réu da decisão e, não havendo impugnação ao pedido, este, automaticamente, deverá ser considerado defi nitivo até nova decisão judicial contrária. Daí a importância de as medidas serem fi xadas pelo juiz com prazo de validade. Há precedente do TJDFT entendendo que as medidas protetivas de urgência de proibição de aproximação possuem natureza cível e podem ter duração para além do processo criminal (TJDFT, 20070020072823HBC, Relatora Sandra de Santis, 1ª T. Crim., j. 12/7/2007, DJ 24/10/2007, p. 108).

Registre-se que o PL nº 4.208/2001, em tramitação na Câmara dos Depu tados, regulamenta novas formas de medidas cautelares penais alternativas à prisão pre-ventiva, como: prisão domiciliar, comparecimento periódico em juízo, proibição de aproximação de determinados lugares, proibição de contato com determinada pessoa, proibição de ausentar-se do país, recolhimento domiciliar no período notur-no, suspensão do exercício da função pública ou atividade econômica, internação provisória do inimputável e fi ança.

Registre-se que hoje já existem outras medidas protetivas previstas em leis especiais. O art. 294 prevê uma medida cautelar de suspensão provisória da habi-litação. Conferir:

Art. 294. Em qualquer fase da investigação ou da ação penal, havendo necessidade para a garantia da ordem pública, poderá o juiz, como medida cautelar, de ofício, ou a requerimento do Ministério Público ou ainda me-diante representação da autoridade policial, decretar, em decisão motivada, a suspensão da permissão ou da habilitação para dirigir veículo automotor, ou a proibição de sua obtenção.Parágrafo único. Da decisão que decretar a suspensão ou a medida cautelar, ou da que indeferir o requerimento do Ministério Público, caberá recurso em sentido estrito, sem efeito suspensivo.

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Da mesma forma, o parágrafo único do art. 69 da Lei n° 9.099/1995, introduzido pela Lei n° 10.455/2002, prevê a possibilidade de afastamento do lar em caso de violência doméstica (dispositivo ainda aplicável para as hipóteses de vítima homem, como, por exemplo, de criança ou idoso).

SISTEMAS DE APRECIAÇÃO DA PROVA

Sistema da Persuasão Racional

A regra no sistema de apreciação das provas é o livre convencimento ou a persuasão racional, nos termos do art. 155, caput, do CPP:

O juiz formará sua convicção pela livre apreciação da prova produzida em contraditório judicial, não podendo fundamentar sua decisão exclusiva-mente nos elementos informativos colhidos na investigação, ressalvadas as provas cautelares, não repetíveis e antecipadas.

Nesse sistema de apreciação, existem três regras:1) Não existe hierarquia entre as provas. Não existe uma prova mais valiosa

que outra. O juiz pode, inclusive, rejeitar a conclusão de um laudo pericial (CPP, art. 182), desde que considere as outras provas mais convincentes. Regra geral, não existe vinculação à necessidade de uma prova específi ca: os fatos podem ser provados por quaisquer meios de prova admissíveis em direito (perícia, testemunhas, documentos etc.). As provas inominadas (não previstas na lei) também são admissíveis.

2) O juiz deve decidir com base nas provas produzidas no processo. “O que não está nos autos não está no mundo”. Assim, as provas devem ser judicializadas, sendo vedado ao juiz decidir com base em conhecimentos fáticos pessoais (exemplo: o juiz “sabe” que o réu é pessoa de bem, que em determinado dia o réu não estava no lugar do crime).

3) O juiz deve decidir de forma fundamentada. O que dá legitimidade ao sis-tema da persuasão racional é a opção motivada do magistrado, revelando ao jurisdicionado e à sociedade que a decisão não é fruto de um capricho pessoal, mas de um raciocínio lógico quanto às provas constantes do proces-so. A ausência de fundamentação é causa de nulidade absoluta da decisão. Todavia, admite-se fundamentação sucinta.

Regra geral, as provas devem ser produzidas no curso do processo, na presença do juiz e das partes, para se assegurar a imediatidade entre o juiz natural da causa e o meio de prova, bem como assegurar a participação das partes na produção da prova. Assim, as informações constantes do inquérito policial não são prova, mas meros elementos de informação preliminar. Contudo, o referido art. 155, caput, prevê a possibilidade de utilização das seguintes informações do inquérito policial como meio de prova: provas cautelares, não repetíveis e antecipadas. A doutrina

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considera como provas cautelares, as provas técnicas, como, por exemplo, o laudo de exame cadavérico, laudo de lesões corporais, laudo de exame de local de crime, laudo de exame de confronto balístico e outros. Em verdade, a maioria das perícias feitas na fase inquisitorial adentra a ação penal na qualidade de “provas cautelares” e podem ser utilizados pelo magistrado para fundamentar sua condenação. Como exemplo de prova não repetível, pode ser citado o depoimento de uma pessoa que vem a falecer após o ajuizamento da ação penal. Nesta situação, caso outra pessoa confi rme o teor do depoimento, poderá o termo de oitiva realizado na fase do in-quérito policial ser utilizado como prova documental. As provas antecipadas são as produzidas em incidente específi co de produção antecipada de provas, conforme permite o art. 225.

Todavia, estas exceções previstas no art. 155, caput, não desnaturam o princípio da persuasão racional, pois as provas devem constar dos autos (considerando-se o inquérito como peça informativa inclusa nos autos).

Para que uma prova seja admissível, deve ser permitida, fundada, concludente e realizável. Cumprindo esses requisitos, a prova requerida pela parte deve ser autorizada pelo juízo. A negativa infundada de produção de prova é impugnável mediante correição parcial.

Esse princípio da persuasão racional é a regra geral no processo penal. Todavia, existem outros sistemas de apreciação da prova que, de forma excepcional, são admitidos. Vejamos:

ÔNUS DA PROVA

Provar os fatos não é uma obrigação ou dever, mas sim um ônus da parte, ou seja, caso não comprove o fato que lhe aproveita, não será benefi ciado.

No processo penal, a defesa processual é uma obrigação (necessária), mas a produção de provas é um ônus.

O ônus do fato constitutivo incumbe a quem o alegar. Como no processo pe-nal o réu é presumidamente inocente até prova em contrário, o ônus da prova da existência do fato criminoso, sua autoria pelo réu, e dos elementos subjetivos do tipo (dolo) ou normativos (culpa) pertence à acusação. Também as circunstâncias de aumento da pena.

Uma vez provado um fato constitutivo, o ônus do fato modifi cativo ou extintivo do direito incumbe à parte contrária. Assim, incumbe ao réu provar as causas de exclusão da ilicitude, culpabilidade e punibilidade, assim como as circunstâncias atenuantes da pena, causas de privilégio ou concessão de benefícios legais.

Regra geral, as provas devem ser produzidas a requerimento das partes, em razão do princípio da inércia do juiz e do sistema acusatório, que impõe o ônus da prova do fato criminoso à acusação. Todavia, como no processo penal estão em julgamento os bens jurídicos mais importantes do ser humano (liberdade e digni-dade), bem como há uma legítima expectativa social de efetividade da jurisdição penal para assegurar o direito fundamental de segurança da coletividade, vigora o princípio da busca da verdade no processo, ou seja, deve-se buscar sempre que

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possível o esclarecimento de como os fatos efetivamente ocorreram. Assim, o juiz penal possui, de forma excepcional, o poder de determinar a produção de provas, como prevê o art. 209 (oitiva de testemunhas referidas) ou o art. 234 (requisição ex offi cio de documentos). Tal diligência, contudo, é sempre supletiva à iniciativa das partes, de forma a preservar a imparcialidade do magistrado.

Sobre estes poderes de instrução suplementar do juiz, estabelece o art. 156:

Art. 156. A prova da alegação incumbirá a quem a fi zer, sendo, porém, facultado ao juiz de ofício: I – ordenar, mesmo antes de iniciada a ação penal, a produção antecipada de provas consideradas urgentes e relevantes, observando a necessidade, adequação e proporcionalidade da medida;II – determinar, no curso da instrução, ou antes de proferir sentença, a realização de diligências para dirimir dúvida sobre ponto relevante.

O inciso II reforça o comentário supracitado. Todavia, em nossa visão, o inciso I do art. 156, com a nova redação dada pela Lei n° 11.690/2008, é fl agrantemente inconstitucional, por violação ao sistema acusatório e o princípio da inércia. É que antes de iniciada a ação penal, não há ainda pretensão acusatória submetida ao juiz. Muitas vezes, ainda nem há um sujeito passivo individualizado, há mero suspeito. Caso o juiz determine de ofício a produção da prova antecipada, estará dando início de ofício a uma medida cautelar de produção antecipada de prova, ou seja, estará exercitando jurisdição sem ação; estará realizando atos de investigação, situação que o STF já declarou inconstitucional quando afi rmou a impossibilidade da investigação judicial contida na Lei n° 9.034/1995 (ADIn 1.570); bem como o juiz já estará adiantando a formação da opinio delicti, pois necessariamente o incidente de produção antecipada de provas, para ser prova efetivamente, deverá contar com a participação da defesa, devendo o juiz indicar quem fi gurará no pólo passivo desta cautelar. Em nosso entendimento, o juiz apenas poderá realizar o incidente de produção antecipada de provas mediante requerimento das partes (acusação ou defesa).

No recurso exclusivo da defesa, ou sem impugnação específi ca no recurso da acusação, é proibida a determinação, pelo tribunal, de produção ex offi cio de provas em desfavor da defesa, em razão da proibição da reformatio in pejus.

PROVA EMPRESTADA

Prova emprestada é aquela produzida em um processo e trasladada para produzir efeito como prova em outro processo.

É uma prova inominada (não prevista no CPP) que possui sempre a natureza de prova documental, independente do ato que tenha sido praticado no outro processo (perícia, testemunho).

Segundo a doutrina, tal prova possui os seguintes requisitos de admissibilidade:a) deve ter sido colhida entre as mesmas partes, em respeito ao princípio do

contraditório;

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b) devem ter sido respeitadas no processo anterior as formalidades legais (es-pecialmente o contraditório);

c) deve haver identidade do objeto de prova.

Segundo o STJ, considera-se prova ilícita a prova emprestada de outro processo do qual o réu não participou, portanto, não foi originalmente submetida ao contra-ditório (HC nº 14.216/RS, rel. Min. Vicente Jeal, DJU 12/11/2001).

A nulidade do processo anterior por incompetência absoluta impede a utilização de prova emprestada. Todavia, a nulidade do processo anterior por simples ausência de alegações fi nais não impede o empréstimo das provas nele produzidas.

Antigamente, entendia-se ser proibida a utilização de interceptação telefônica, regularmente autorizada em processo penal, para servir como prova em processo civil (e.g., separação judi cial), por expressa proibição da Constituição Federal de autorização dessa prova no cível.

Todavia, o STF possui predecente admitindo a validade de se transportar para o processo administrativo as interceptações telefônicas determinadas no bojo de processo penal. Nesse sentido, conferir precedente:

EMENTA: PROVA EMPRESTADA. Penal. Interceptação telefônica. Es-cuta ambiental. Autorização judicial e produção para fi m de investigação criminal. Suspeita de delitos cometidos por autoridades e agentes públicos. Dados obtidos em inquérito policial. Uso em procedimento administrativo disciplinar, contra outros servidores, cujos eventuais ilícitos administrati-vos teriam despontado à colheita dessa prova. Admissibilidade. Resposta afi rmativa à questão de ordem. Inteligência do art. 5º, inc. XII, da CF, e do art. 1º da Lei Federal nº 9.296/1996. Precedente. Voto vencido. Dados obti-dos em interceptação de comunicações telefônicas e em escutas ambientais, judicialmente autorizadas para produção de prova em investigação criminal ou em instrução processual penal, podem ser usados em procedimento ad-ministrativo disciplinar, contra a mesma ou as mesmas pessoas em relação às quais foram colhidos, ou contra outros servidores cujos supostos ilícitos teriam despontado à colheita dessa prova.(STF, Pleno, Questão de Ordem no Inquérito nº 2424/RJ, rel. Min. Cezar Pe-luso, j. 20/6/2007, DJU 23/8/2007, p. 55, Ementário v. 2286-01, p. 152.)

INTERROGATÓRIO

Interrogatório é o ato judicial no qual o juiz ouve o acusado sobre a imputação que contra ele é formulada.

Possui natureza mista: é tanto um meio de prova (lei), como também um meio de defesa (doutrina).

Trata-se de uma das expressões do direito de autodefesa do acusado (ou defesa material): direito de audiência, consistente no interrogatório, e direito de presença durante as audiências. A despeito de o interrogatório ser um ato processual neces-

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sário, não é imprescindível, já que, caso o réu seja validamente citado e deseje não comparecer à audiência de interrogatório, será julgado à revelia, sem que exista qualquer nulidade. Assim, pode-se concluir que a oportunidade de autodefesa é sempre imprescindível, mas seu exercício efetivo é uma faculdade do réu. Já o exercício da defesa técnica é sempre imprescindível, sob pena de nulidade (Súmula nº 523 do STF).

A Lei nº 10.792/2003 introduziu importantes alterações de cunho garantista da forma de realização do interrogatório, alterando a redação de todos os artigos do Capítulo III do Título VII (Do interrogatório do acusado).

A Lei n° 11.719/2008 também alterou o momento processual para realização do interrogatório. Antes, este era o primeiro ato do processo após o recebimento da denúncia e a citação. Agora, o interrogatório será realizado ao fi nal da instrução criminal, após a oitiva das testemunhas de acusação e defesa. A alteração busca privilegiar a ampla defesa, de forma que a autodefesa apenas se exerça após o pleno conhecimento das provas que possui contra si.

Características

Tradicionalmente, apontam-se as seguintes características do interrogatório:a) ato personalíssimo: apenas o réu, pessoalmente, pode ser interrogado;b) ato oral: após, deve ser reduzido a termo; não se admite que o interrogatório

venha pronto por escrito; todavia, também não é vedado que o réu traga apontamentos escritos para lembrar-se de pontos relevantes, prestando o interrogatório via oral;

c) ato não preclusivo (CPP, art. 196): caso não tenha sido realizado o inter-rogatório do réu ao início do processo, comparecendo este posteriormente deverá ser interrogado, sob pena de nulidade (CPP, art. 564, III, e). Inclusive em grau de recurso (STF). Pela nova redação do art. 196, dada pela Lei nº 10.792/2003, o reinterrogatório pode ser realizado pelo juiz de ofício ou a requerimento fundamentado de qualquer das partes.

Admite-se que o interrogatório seja realizado mediante carta precatória (STF), pois no processo penal não vige o princípio da identidade física do juiz.

Antigamente, entendia-se que o interrogatório era ato privativo do juiz, pois as partes (defensor ou MP) não podem formular reperguntas ao acusado (antiga redação do art. 187). Entendia o STF que não era essencial a presença de advogado ao ato, sendo que a doutrina sempre recomendava a sua presença. Da mesma forma, a doutrina majoritária entendia dispensável a presença do Ministério Público, já que este não poderia formular perguntas, a despeito de já existir posicionamento no sentido de que a presença do Ministério Público era obrigatória na qualidade de fi scal da correta execução do ato processual, para evitar ofensa aos direitos e garantias individuais, defendendo a ordem jurídica e protegendo o réu das possíveis investidas inquisitivas do juiz (v.g., coação ao réu para confi ssão)11.

11 Nesse sentido: RANGEL, Paulo. Direito Processual Penal. 7. ed. Rio de Janeiro: Lumen Iuris, 2003, p. 469.

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Todavia, a Lei nº 10.792/2003 introduziu importantes alterações nessa siste-mática.

Pela nova sistemática, é essencial que o interrogatório seja realizado na presença de seu defensor, constituído ou dativo. Ademais, o interrogatório não mais é ato privativo, pois, nos termos da nova redação do art. 188, o juiz, após proceder ao interrogatório, indagará das partes se restou algum fato para ser esclarecido, formu-lando reperguntas se entender pertinente. Como o dispositivo faz alusão às partes, entendemos que o Ministério Público, doravante, deve se fazer presente no ato do interrogatório. E, havendo previsão legal de participação do Ministério Público em ato processual, sua ausência causará a nulidade (relativa) do ato processual, porquanto dispõe o art. 129, I, da Constituição Federal ser atribuição do Parquet promover, privativamente, a ação penal pública, e promover signifi ca participar de todos os atos processuais. Aliás, há jurisprudência no sentido de que a ausência do Ministério Público à audiência de oitiva de testemunha é causa de nulidade, não a suprindo a nomeação de promotor ad hoc.

Da mesma forma, a nova lei estabeleceu que o juiz deve assegurar o direito de entrevista reservada do acusado com seu defensor, antes da realização do interro-gatório (CPP, art. 185, § 2º). Tal dispositivo mostra-se especialmente importante na hipótese de o réu não possuir defensor constituído e o juiz conceder-lhe defensor dativo no ato do interrogatório. Trata-se de exercício da ampla defesa, para que o réu seja orientado por seu advogado sobre como se portar na presença do juiz, e quais serão as prováveis perguntas. Como o interrogatório é exercício da autodefesa, o réu deve ter o direito de elaborar sua tese defensiva com o auxílio de seu patrono. Questão interessante é relativa à operacionalização dessa entrevista pessoal: se a escolta policial também deveria estar presente durante a entrevista, para evitar que o advogado forneça algum material para o réu preso.

Considerando que a Lei n° 11.719/2008 alterou o momento processual do inter-rogatório, transferindo do primeiro ato do processo para o último ato da instrução criminal, será possível que o acusado compareça à audiência de instrução sem nunca ter tido contato com seu advogado (apesar desta situação não ser recomendável, pois nessa hipótese haveria a apresentação da resposta à acusação sem qualquer contato com o réu). De qualquer sorte, caso, já na abertura da audiência, o réu ou seu defensor afi rmem que não tiveram contato um com o outro e solicitem o exercício deste direito à entrevista reservada, o correto será o juiz proporcionar à defesa a oportunidade, de forma que o advogado possa participar da instrução probatória já com conhecimento da versão dos fatos do réu, podendo promover a defesa de forma mais ampla e efi caz. Desta forma, se respeitará o princípio da ampla defesa e se dará maior efi cácia ao dispositivo do art. 185, § 2º.

Caso o acusado realize a delação de co-réu, estará funcionando, nesse ponto, como uma testemunha, devendo haver possibilidade de contraditório pelo co-réu delatado.

Interrogatório On Line

Grande controvérsia existe quanto à admissibilidade do interrogatório on line, ou virtual, ou à distância. Nessa espécie de interrogatório, normalmente realizado

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no caso de réu preso, o juiz está na sede do juízo e o réu, no estabelecimento pri-sional, ambos interligados por um sistema de videoconferência, e o juiz procede ao interrogatório pela via eletrônica.

O STJ possui precedente admitindo-o como válido, sem que haja uma de-monstração concreta de prejuízo para o acusado (RHC nº 6.272/SP, rel. Min. Felix Fischer, DJU 5/5/1997).

Todavia, forte corrente doutrinária tem se insurgido contra tal prática. Afi rma-se que o réu possui o direito de autodefesa, consistente no direito de entrevista pessoal com o magistrado. O interrogatório a distância impediria o juiz de ter um contato pleno com o acusado, ofendendo o princípio da ampla defesa. Ademais, caso o interrogatório fosse realizado com o réu no estabelecimento penitenciário, poderia o mesmo fi car a mercê de eventuais pressões psicológicas (não raras) de agentes penitenciários ou terceiros, diminuindo sua liberdade de expressão. Finalmente, argumenta-se que não poderia o defensor estar, ao mesmo tempo, ao lado do réu no estabelecimento prisional, dando-lhe um importante apoio moral, e ao lado do juiz, para eventuais questões de ordem. Segundo argumentam, a ausência de previsão legal para o interrogatório virtual e de uma disciplina específi ca impedem sua realização, a qual, se efetivada, confi guraria violação ao princípio da ampla defesa.

Contudo, alguns estados da Federação têm realizado essa experiência inova-dora, que, segundo seus defensores, agiliza a prestação jurisdicional e racionalizacustos. Cumpre aguardar se o legislador disciplinará o tema. Especifi camente em relação à nova disciplina do interrogatório implementada pela Lei nº 10.792/2003, ela não regulamentou o interrogatório virtual, mas estabeleceu que o interrogatório será, regra geral, realizado no estabelecimento prisional. Ou seja, juiz, auxiliares, defensor e Ministério Público deverão deslocar-se fi sicamente ao presídio para a realização do interrogatório.

Agora, a Lei n° 11.690/2008, que alterou o art. 217, passou a admitir a colheita de testemunho por videoconferência, na hipótese de a presença do réu causar cons-trangimento à testemunha ou ao ofendido.

Perguntas ao Ofendido

A vítima não é classifi cada como uma testemunha, e possui tratamento diferen-ciado. Determina o art. 201 que, sempre que possível, o ofendido será ouvido em juízo. O ofendido não presta compromisso de testemunha e, portanto, não responde pelo delito de falso testemunho. Apesar de ter interesse no processo (como na ação civil ex delicto), é possível o juiz considerar as informações prestadas pelo ofendido para fundamentar uma condenação.

Nos crimes contra os costumes, as palavras da vítima, se coesas e coerentes, merecem especial atenção, vez que tais delitos são costumeiramente cometidos na clandestinidade12. Também há entendimento neste sentido para os crimes contra o patrimônio.

12 STJ, HC 59746/RJ, Rel. Ministro GILSON DIPP, QUINTA TURMA, julgado em 17.10.2006, DJ 13.11.2006 p. 280.

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É admissível a condução coercitiva da vítima.A Lei n° 11.690/2008 introduziu a necessidade de intimação à vítima no

art. 201, §§ 2º e 3º. O ofendido deve ser comunicado dos atos processuais relativos ao ingresso e à saída do acusado da prisão, à designação de data para audiência e à sentença e respectivos acórdãos que a mantenham ou modifi que. Sua intimação pode ser realizada em seu endereço ou por meio eletrônico, a pedido do ofendido. Apesar de não estar expresso, entendemos que é admissível a comunicação por correspondência, pois até mesmo a comunicação por e-mail foi admitida. Esta possibilidade de comunicação já estava prevista na Lei n° 11.340/2006, art. 21 (Lei Maria da Penha), para as hipóteses de crimes praticados em situação de violência doméstica e familiar contra a mulher.

Antes da audiência, deve ser reservado espaço separado ao ofendido (art. 201, § 4º). A fi nalidade da disposição é evitar que o ofendido fi que constrangido ao dividir o assento, ao lado de fora da sala de audiências, com o réu ou suas testemu-nhas (normalmente familiares). A disposição depende de reformas que devem ser implementadas pelo Poder Judiciário, devendo o CNJ disciplinar a questão.

O juiz poderá encaminhar a vítima para atendimento multidisciplinar (§ 5º). Esta previsão também consta da Lei Maria da Penha, art. 23, I. É especialmente relevante este encaminhamento para as situações de violência doméstica (que também ocorrem na vara criminal contra crianças ou idosos, além da previsão da Lei Maria da Penha para o Juizado de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher).

O § 6º prevê medidas para o juiz preservar a intimidade da vítima, especialmente o segredo de justiça e outras medidas para evitar a exposição à mídia.

Segundo o novo procedimento ordinário introduzido pela Lei n° 11.719/2008, a vítima será a primeira a ser ouvida na audiência de instrução (art. 400 do CPP).

Procedimento de colheita do Testemunho

Caso a testemunha, devidamente intimada, não compareça à audiência de ins-trução, poderá o juiz determinar sua condução coercitiva (art. 218).

A Lei n° 11.690/2008, ao criar o parágrafo único do art. 210, estabeleceu que o Poder Judiciário deverá providenciar espaço reservado para assegurar a incomu-nicabilidade das testemunhas, antes de prestarem depoimento.

Antes de iniciar seu depoimento, caso a testemunha ou ofendido afi rmem que estão constrangidos com a presença do réu, o art. 217, caput, permite que a colheita do depoimento seja realizada por videoconferência. Nesta situação, não se retirará o réu da sala de audiências, apenas a testemunha ou o ofendido estarão em outro local. Se não houver estrutura de videoconferência, o juiz poderá determinar a retirada do réu da sala de audiências, constando-se da ata as razões da decisão.

Ao iniciar a colheita do testemunho, o juiz qualifi cará a testemunha e colherá seu compromisso (art. 203). As partes poderão contraditar a testemunha (art. 214).

A Lei n° 11.690/2008 alterou o procedimento de colheita dos testemunhos. Estabelece o novo art. 212:

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Art. 212. As perguntas serão formuladas pelas partes diretamente à tes-temunha, não admitindo o juiz aquelas que puderem induzir a resposta, não tiverem relação com a causa ou importarem na repetição de outra já respondida.Parágrafo único. Sobre os pontos não esclarecidos, o juiz poderá comple-mentar a inquirição.

Assim, as partes poderão formular perguntas diretamente às testemunhas (sis-tema de perguntas diretas). O juiz deverá controlar a pertinência e relevância da pergunta após sua formulação, bem como se há abuso de direito à prova mediante coação ou humilhação da testemunha, ou mediante perguntas tendenciosas. Também são admissíveis, apesar de não previstos, “impugnações” às perguntas pela parte adversa. A nova redação também alterou a ordem de formulação das perguntas, pois estabelece que primeiro as partes formularão suas perguntas às testemunhas e, depois, sobre os pontos não esclarecidos, o juiz poderá complementar a inquirição. Assim, a ordem de inquirição da testemunha será a seguinte: a parte que arrolou a testemunha e a parte contrária e depois o juiz. Esta alteração privilegia o sistema acusatório, reservando o juiz a uma posição de maior inércia e, portanto, de maior imparcialidade, pois o ônus de produzir a prova perante o juiz pertence às partes (que perguntam primeiro), podendo o juiz formular mais alguma pergunta adicio-nal, em nome do princípio da busca da verdade no processo, e exercendo um poder instrutório suplementar aos das partes.

A Lei n° 11.719/2008 alterou o art. 405, § 1º, estabelecendo que, “sempre que possível, o registro dos depoimentos do investigado, indiciado, ofendido e testemu-nhas será feito pelos meios ou recursos de gravação magnética, estenotipia, digital ou técnica similar, inclusive audiovisual, destinada a obter maior fi dedignidade das informações”.

O § 2º estabelece que “no caso de registro por meio audiovisual, será encami-nhado às partes cópia do registro original, sem necessidade de transcrição”. A fi -nalidade da disposição é assegurar maior fi dedignidade das informações e também a celeridade da audiência (com dispensa da transcrição), privilegiando-se a orali-dade, imediatidade entre juiz e meio de prova e concentração dos atos processuais. Registre-se que a nova disposição aplica-se também à fase das investigações, pois faz menção a investigado e indiciado. A gravação, no procedimento ordinário, é fa-cultativa (“sempre que possível”). Todavia, na instrução plenária no procedimento dos crimes dolosos contra a vida, o art. 475 estabelece que os depoimentos devam ser colhidos com sua respectiva gravação.

Caso haja transcrição do depoimento, este deverá obedecer ao disposto nos arts. 215 e 216.

CITAÇÃO

No Processo Penal, a citação é regra geral pessoal. Não pode ser citada outra pessoa que não seja o próprio réu. Assim, não se admite a citação na pessoa do

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representante legal, procurador com poderes especiais, preposto ou administrador do ausente. Caso o réu seja insano, deverá o ofi cial de justiça certifi car tal situação. No processo penal, não existe citação por correspondência.

Não descaracteriza a pessoalidade da citação o fato de ser admitida a citação por edital. Nessa espécie, fi cta, presume-se que ele, o réu, leu no edital a citação e que, portanto, não foi comunicada a um terceiro, mas, sim, ao réu.

Uma exceção parcial a esta regra da certeza da citação pessoal é a citação por hora certa, introduzida pela Lei n° 11.719/2008, ao dar nova redação ao art. 362. Neste caso, verifi cando o ofi cial de justiça que o réu se oculta para ser citado em três diligências, marcará horário para o dia seguinte com familiar ou vizinho do réu; no dia seguinte, não estando presente o réu, dá-lo-á por citado. Esta previsão consiste na vedação ao abuso de direito da defesa, presumindo-se na circunstância que o réu efetivamente tomou conhecimento da imputação.

A citação deve ser sempre determinada pelo juiz. Sua fi nalidade é a cientifi cação do réu da acusação contra si proposta, e o chamamento à defesa.

A ausência de citação gera nulidade absoluta. Todavia, segundo entendimento do STF, fi ca afastada a falta ou defeito de citação quando o réu comparece em juízo e é interrogado. Segundo a doutrina, o comparecimento deveria apenas sanar o vício da citação, devendo-se assegurar ao acusado, após a ciência da imputação, prazo razoável para que venha preparar sua defesa antes de ser interrogado, a não ser, obvia mente, que desde já ele afi rme que deseja ser interrogado, sem oposição de seu advogado.

Efeitos da Citação Válida

Diferentemente do processo civil, a citação válida no processo penal não torna prevento o juízo (que ocorre quando do conhecimento da infração – art. 83, CPP), não interrompe a prescrição (ocorre desde o recebimento) e não induz em litispen-dência (ocorre desde a propositura da ação).

No processo penal, a citação apenas angulariza a relação jurídico-processual, ou seja, faz com que o réu faça parte do processo, juntamente com o juiz e o autor.

Revelia

Não comparecendo o réu ao chamamento, será decretada a sua revelia (contu-mácia), que é a ausência injustifi cada de alguém que, convocado, não comparece ao chamamento judicial. Ocorre quando, na citação pessoal, o réu não comparece, ou quando no curso do processo é intimado para um ato processual e não comparece ou muda de endereço sem prévia comunicação. As conseqüências são de ordem processual, ou seja, o processo seguirá sem a necessidade de outras intimações pessoais ao acusado.

Antigamente, a revelia decorrente do não comparecimento ocorrida na ausência do réu à audiência de interrogatório era o primeiro ato do processo. Agora, com a reforma nos procedimento realizada pela Lei n° 11.719/2008, o primeiro ato do processo com a

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presença do réu será já a audiência una de instrução. Considerando que, ao ser citado, o réu já será intimado para esta audiência, caso ele não compareça à audiência de instrução haverá sua revelia. Se eventualmente ele comparecer à audiência e, por algum motivo houver necessidade de nova audiência para ouvir uma testemunha ausente, e o réu, devidamente intimado, não comparecer à nova audiência, haverá também a revelia.

No processo penal, não ocorre como no processo civil, em decorrência da revelia, a presunção de veracidade fática da acusação. A culpa do acusado deve ser provada; jamais poderá ser presumida. A conseqüência ao réu revel será a de que ele não mais será cientifi cado dos atos processuais praticados daí para frente, sendo elidida a sua revelia pelo comparecimento posterior em juízo.

Atualmente, existe revelia apenas quando o réu é citado pessoalmente (por ofi cial de justiça) ou no caso de citação por hora certa e não comparece ao processo. Tratando-se de citação por edital, caso o réu não compareça nem constitua defensor, deverá ser suspenso o processo, bem como o curso do prazo prescricional. Caso o réu constitua defensor, o processo prosseguirá com a participação deste.

Registre-se que mesmo que haja revelia, deverá o réu ser intimado da sentença condenatória, conforme determina o art. 392 (pessoalmente ou por edital) e em nome do princípio da ampla defesa.

Formas de Citação

A citação pode ser real ou fi cta.

Citação realEssa espécie de citação é a realizada na própria pessoa do réu, havendo certeza

de que este efetivamente tomou conhecimento da comunicação.Pode ser da seguinte espécie: por mandado, carta precatória, carta de ordem,

carta rogatória. Ainda existem regras especiais em relação à citação do militar e do funcionário público. Na nova disciplina da Lei nº 10.792/2003, a citação do réu preso será pessoal, e não mais por mera requisição.

Citação por mandadoMandado é uma ordem do juiz a ser cumprida pelo ofi cial de justiça, que pes-

soalmente leva a referida comunicação processual. Possui cabimento quando o réu se encontra em local certo, no território do juízo processante.

O mandado deve preencher os requisitos previstos na lei processual. Os requisi-tos intrínsecos estão previstos no art. 352 do CPP e são os seguintes: nome do juiz; nome do réu ou querelante, ou, sendo desconhecido, os seus sinais característicos; residência do réu, se conhecida; o fi m para que é feita a citação; o juízo e o lugar, dia e hora em que o réu deverá comparecer; subscrição do escrivão e rubrica do juiz. Não é requisito do mandado a menção do nome do membro do Ministério Público que subscreveu a denúncia. Segundo a Súmula nº 366 do STF: “Não é nula a citação por edital que indica o dispositivo da lei penal, embora não transcreva a denúncia ou queixa, ou não resuma os fatos em que se baseia”.

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Todavia, segundo entendimento doutrinário, a citação deve proporcionar não apenas o chamamento à defesa, mas a ciência da imputação. E, no processo penal, o réu não está se defendendo do artigo que lhe é imputado de violação, mas dos fatos cometidos. Tanto que o magistrado pode dar aos fatos nova defi nição jurídica por ocasião da sentença (emendatio libelli – art. 383, CPP). Destarte, seria necessária a comunicação, ainda que suscinta, dos fatos dos quais o réu está sendo acusado, mediante resumo da acusação ou cópia da denúncia. Contudo, conforme a citada Súmula nº 366 do STF, basta a indicação do dispositivo legal de que o réu está sendo acusado para que a citação seja válida.

São requisitos extrínsecos do mandado, previstos no art. 357 do CPP: leitura do mandado ao citando pelo ofi cial de justiça e entrega da contrafé, na qual se mencio narão o dia e hora da citação; a declaração do ofi cial, na certidão, da entrega da contrafé, e sua aceitação ou recusa. A contrafé é uma cópia do mandado e da acusa ção, que é entregue ao citando. Caso o citando se recuse a assinar o manda-do, o ofi cial consignará tal circunstância na certidão de citação e, mesmo assim, considerar-se-á validamente citado o réu, pois o ofi cial possui fé pública.

A citação pode ser realizada em qualquer dia e hora. Pode até mesmo ser realizada em outro endereço que não constante do mandado, caso o ofi cial tenha acesso a tal informação. Todavia, segundo entendimento jurisprudencial, não pode ser realizada a citação ao doente grave, aos noivos nos três primeiros dias de bodas, durante realiza-ção de culto religioso ou ao parente do morto nos sete dias seguintes ao falecimento. Também não é válida a citação sem um intervalo mínimo de 24 horas do interrogatório, para viabilizar o conhecimento da imputação e até mesmo a entrevista prévia com advogado. O direito de entrevista prévia com advogado está expressamente previsto no art. 185, § 2º, do CPP, na nova redação dada pela Lei nº 10.792/2003.

Citação por carta precatóriaEstando o réu no País em local certo, mas fora do juízo processante, deverá ser

citado por precatória. Trata-se de um pedido de colaboração entre dois juízes de mesmo grau de hierarquia. O juiz que solicita a diligência é chamado de juízo deprecante. O juiz que recebe o pedido é denominado juízo deprecado. Antes do cumprimento do pedido, o juiz deprecado deve lançar um despacho de “cumpra-se”, determinando que o ofi cial de seu juízo efetive a citação.

Caso o ofi cial de justiça certifi que que o réu não está naquela comarca, mas na jurisdição de outro juiz, o juiz deprecado deverá remeter os autos a esse novo juízo para a efetivação da diligência, desde que haja tempo para se fazer a citação. Trata-se da chamada carta precatória itinerante. Exemplo: empregado de circo.

Quando houver comprovada urgência, a precatória poderá ser enviada por telegrama.

Os requisitos da precatória vêm especifi cados no art. 354 do CPP.Dentro do Distrito Federal, não é necessária a utilização de carta precatória,

haja vista não ser o DF dividido em comarcas, mas apenas em re giões adminis-trativas.

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Citação por carta de ordemCarta de ordem é a determinação de realização de alguma diligência, oriunda de

um Tribunal para um juiz que lhe seja subordinado. Portanto, na hipótese de ação penal originária de Tribunal, caso o citando não resida na comarca sede do Tribunal, este deverá expedir uma carta de ordem para que o juiz da comarca onde o citando reside efetive a diligência.

Citação por carta rogatóriaA citação do réu, estando no estrangeiro, será feita por carta rogatória, via

Ministério da Justiça, que, pela via diplomática, a remeterá ao país onde se en-contra o réu, o mesmo se aplicando às citações que forem efetivadas em legações estrangeiras.

A diligência terá esse procedimento seja o crime afi ançável ou inafi ançável.

Citação do militarNão há mandado a ser cumprido por ofi cial, mas apenas um ofício endereçado

ao chefe do respectivo serviço (CPP, art. 358).Todavia, entende-se que, além da mera requisição de comparecimento, deve ser encaminhada a comunicação da acusação. Essa modalidade apenas é válida se o militar estiver na ativa; estando na reserva, será citado normalmente por mandado.

Caso o militar resida fora do território do juiz, deverá ser expedida carta pre-catória.

Citação do presoTratando-se de réu preso, dispunha o art. 360 do CPP que a citação se faria

mediante a requisição de sua apresentação ao juízo, no dia e hora designados. Na prática, o réu não recebia qualquer comunicação prévia da acusação contra si impu-tada, mas apenas era transportado fi sicamente por uma guarnição policial à presença do juiz. Entendia-se que essa modalidade de citação apenas era admissível caso o preso estivesse na mesma unidade da Federação que o juiz processante, pois, caso contrário, deveria o juiz expedir carta precatória.

Essa forma de citação foi abolida pela Lei nº 10.792/2003, que deu nova redação ao art. 360, estabelecendo que a citação do réu preso será pessoal. Assim, ainda que a citação seja realizada mediante ofício ao chefe da carceragem (diretor do estabele-cimento prisional), deverá o réu receber com antecedência a comunicação.

Entende-se que o preso deve tomar conhecimento da acusação com pelo menos 24 horas de antecedência de seu interrogatório (STJ).

Citação do funcionário públicoA citação ao funcionário público não é uma forma nova de citação. Deve

ser expedido um mandado ao funcionário público (citação normal), acrescido da necessidade de notifi cação ao chefe da repartição pública de que o funcionário deverá comparecer em determinado dia e hora ao interrogatório (CPP, art. 359). A justifi cativa é zelar pela continuidade do serviço público, propiciando ao chefe

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da repartição condições de diligenciar um substituto ao funcionário que deverá se ausentar.

Citação fi ctaAtualmente, há duas hipóteses de citação fi cta no processo penal: a citação por

hora certa e a citação por edital.

Citação por hora certaEsta espécie de citação foi introduzida pela Lei n° 11.719/2008, que deu nova

redação ao art. 362. Este novo artigo determina a aplicação das regras dos arts. 227 a 229 do CPC, na hipótese de o réu se ocultar à diligência. A alteração é bem vinda, pois em muitas situações o réu se ocultava para não ser citado e acabava benefi ciado com a citação por edital com posterior suspensão do processo prevista no art. 366.

Nesta hipótese de citação, caso o ofi cial de justiça vá três vezes à residência do réu, sem o encontrar, caso tenha suspeitas concretas de que o réu se oculta para não ser citado, deverá intimar qualquer pessoa da família, ou em sua falta qualquer vizinho, informando que no dia imediato, em horário designado, voltará para rea-lizar a citação do réu. No dia e hora designados, o ofi cial de justiça retornará e, se encontrar o réu, poderá realizar sua citação pessoal. Todavia, caso, novamente, o réu não esteja em casa, o ofi cial de justiça certifi cará novamente o motivo de sua ausência, deixará cópia da contrafé com pessoa da família ou vizinho, anotando-lhe o nome, e dará o réu por citado. O STJ admite, por exemplo, a entrega da contrafé ao porteiro13. Posteriormente, o escrivão encaminhará, ao réu, carta, telegrama ou radiograma, dando-lhe ciência das diligências. A ausência de encaminhamento desta correspondência pelo escrivão é causa de nulidade da citação por hora certa14.

Feito este procedimento, o réu será dado como citado. Caso não apresente a resposta à acusação no prazo legal, o juiz nomear-lhe-á defensor dativo e, se ele não comparecer à audiência de instrução designada, será declarado revel.

De qualquer sorte, comparecendo o acusado, será suprida qualquer eventual nulidade na citação por hora certa.

O art. 9º, II, do CPC, estabelece que o juiz dará curador especial ao réu revel citado por hora certa. Entendemos que a aplicação deste dispositivo é desnecessária no processo penal, pois sempre o réu deverá ser assistido por defensor técnico e, no caso do réu citado por hora certa que não comparece ao processo, este sempre deve receber um defensor dativo, que supre as vezes do curador especial com maior atuação.

Considerando que, no processo penal estão em jogo os valores mais caros ao ser humano, como o direito fundamental à liberdade, parece-nos que deve o juiz analisar com extremo cuidado se a situação fática efetivamente demonstra que o réu estava se furtando do ofi cial de justiça e se a comunicação deixada possibilita-

13 STJ, REsp 647.201/SP, Rel. Ministro CESAR ASFOR ROCHA, QUARTA TURMA, julgado em 5/10/2004, DJ 17/12/2004 p. 578.

14 STJ, REsp 687.115/GO, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA, julgado em 28/6/2007, DJ 1º/8/2007 p. 457.

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ria sua tomada de conhecimento do chamamento ao processo. Caso haja efetivas dúvidas sobre a situação, a dúvida deve benefi ciar a defesa. Por outro lado, estando comprovada a má-fé do réu em furtar-se à diligência, sabendo que estava sendo procurado pelo ofi cial de justiça, deverá ser aplicado o instituto da citação fi cta, presumindo-se que o réu tomou conhecimento da acusação. A citação por hora certa é uma forma de vedação ao abuso de direito.

Citação por editalTambém chamada de citação presumida, é adotada excepcionalmente como

meio de comunicação processual e somente será utilizada quando restar impos-sibilitada a citação real ou não for o caso de aplicação da citação por hora certa. É feita por intermédio de editais. Chama-se presumida pelo fato de haver uma presunção de que o réu procedeu à leitura do edital, não comportando alegação de que não o tenha lido.

Antigamente, havia quatro hipóteses de citação por edital: réu não localizado, réu incerto, réu em local inacessível e réu que se oculta. Agora, apenas há uma hipótese: réu não localizado. Como visto, esta última hipótese de ocultação gera a citação por hora certa. A situação de réu com identidade incerta é de mínima aplica-ção prática, pois o art. 41 exige a qualifi cação do acusado ou informações mínimas que permitam sua identifi cação. Assim, não é possível oferecer denúncia sem uma identifi cação mínima do réu. Por exemplo, não é possível oferecer denúncia contra a pessoa portadora de determinada impressão digital sem haver a menor idéia de quem seja o autor daquela impressão digital. Caso haja sinais característicos mínimos que permitam a individualização do réu e este não seja localizado, haverá a citação por edital. A situação de réu em local inacessível também se equipara à situação de réu não localizado, que admite a citação por edital. Dessa maneira, com a reforma, simplifi ca-se a lógica do procedimento.

Antes da determinação da citação por edital, devem ser realizadas as diligências possíveis para localizar o réu (v.g., notifi cação ao TRE, consulta à receita federal etc.). Atualmente, há difi culdades para que as concessionárias de telefonia, eletri-cidade, ou abastecimento de água prestem as informações, pois foram privatizadas e muitas não organizam seus dados de forma a estruturar um serviço de rápida consulta. Conferir decisão do STJ sobre o tema:

HABEAS CORPUS. APROPRIAÇÃO INDÉBITA DE CONTRIBUIÇÃO PREVIDENCIÁRIA. CITAÇÃO POR EDITAL. REVELIA. NULIDADE. NÃO ESGOTAMENTO DOS MEIOS PARA A LOCALIZAÇÃO DO ACUSADO. ORDEM CONCEDIDA.1 – Pacífi co o entendimento do Superior Tribunal de Justiça de que devem ser esgotadas as diligências possíveis para a localização do réu antes de se determinar a citação por edital.2 – Habeas corpus concedido para declarar a nulidade do processo a partir da citação por edital, inclusive.(HC 49.348/MG, Rel. Ministro PAULO GALLOTTI, SEXTA TURMA, julgado em 21/11/2006, DJ 20/8/2007 p. 307)

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Segundo a Súmula nº 351 do STF, é nula a citação por edital se o réu estiver preso na mesma unidade federativa em que o juiz exerce sua jurisdição.

O edital será publicado com prazo de 15 dias (art. 361). A contagem do prazo do edital é de direito processual, ou seja, exclui-se o dia da publicação, iniciando-se a contagem no primeiro dia útil subseqüente.

Os requisitos intrínsecos do edital vêm especifi cados no art. 365, caput, do CPP.

Os requisitos extrínsecos do edital constam do parágrafo único do art. 365, CPP. São os seguintes:

– Publicação: apenas no diário ofi cial, se houver na comarca. No CPP não se exige publicação em jornal de grande circulação na cidade, diferentemente da regra do CPC.

– Afi xação: na sede do juízo. Segundo o STJ, sua ausência dá causa a nulidade relativa.

– Certifi cação: pelo funcionário que afi xou o edital na sede do juízo; a publicação é comprovada mediante cópia do jornal ou certidão do escrivão.

Em nosso entendimento, após a reforma processual da Lei n° 11.719/2008, o juiz deverá citar o réu por edital para uma “audiência de comparecimento ao processo”. Isso porque não há em lógica em intimar por edital já designando a audiência de instrução e julgamento, para a qual deverá haver intimação de todas as testemunhas, já que, normalmente, nas citações por edital o réu não comparece ao chamamento. Também não é necessário intimar o réu para apresentar resposta à acusação, pois o art. 396, parágrafo único, dispõe expressamente que o prazo da resposta à acusa-ção em caso de citação por edital apenas se inicia após o comparecimento pessoal do acusado ou do defensor constituído. Assim, como não pode ser designada a audiência de instrução antes da resposta à acusação (que arrola as testemunhas de defesa), no edital deverá constar apenas a necessidade de comparecimento a juízo em dia e hora designados, observando-se entre a publicação e o dia designados o intervalo mínimo de 15 dias.

A suspensão do processo prevista no art. 366No caso de citação por edital de réu não localizado, considera-se citado o réu com

o transcurso do prazo de publicidade do edital, que é de 15 dias. Caso o réu não esteja presente à “audiência de comparecimento ao processo” nem contrate advogado para comparecer ao processo em seu nome, o juiz deverá suspender o processo e o curso do prazo prescricional (art. 366 do CPP, na redação da Lei nº 9.271/1996).

Caso o réu compareça ao processo, este prosseguirá nos termos do art. 394 e seguin-tes, conforme determina o art. 365, § 4º. Neste caso, o juiz deve dar nova oportunidade ao réu, para apresentar sua resposta à acusação, prevista no art. 396, já o intimando para a audiência de instrução designada.

Assim, não se decreta a revelia do réu quando este, citado por edital, não comparece nem constitui advogado. Para os crimes cometidos antes da vigência dessa Lei que alterou o art. 366 (17/6/1996), entendem o STF e o STJ que deve ser

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decretada a revelia, por considerar que a suspensão do prazo prescricional seria mais gravosa ao acusado, não podendo retroagir. Segundo entendimento doutrinário, o prazo da suspensão do processo será o mesmo do prazo prescricional. Dessa forma, ao término do período de suspensão correspondente ao prazo prescricional, o prazo prescricional efetivo voltaria a fl uir. Ex.: caso um delito prescreva em quatro anos, deveria ocorrer a suspensão do processo por quatro anos e, em seguida, continuaria a fl uir até completar os quatro anos, quando, fi nalmente, ocorreria a prescrição. A justifi cativa é que o processo não poderia fi car eternamente suspenso.

A suspensão da prescrição não é automática, devendo haver uma decisão judicial determinando-a explicitamente. O marco inicial para a suspensão da prescrição é a data da decisão judicial que a determina. O marco fi nal ocorre com a localização e citação pessoal do acusado, ou com o implemento do prazo máximo da suspensão (que, segundo o entendimento do STJ, é o mesmo do prazo prescricional).

Ver decisão do STJ sobre a suspensão do processo constante no art. 366 do CPP:

HABEAS CORPUS. PROCESSUAL PENAL. CRIME DE TRÂNSITO. CITAÇÃO EDITALÍCIA. RÉU QUE NÃO COMPARECEU À AUDI-ÊNCIA DE INTERROGATÓRIO. ART. 366 DO CPP. RETOMADA DO PRAZO PRESCRICIONAL E DO CURSO DO PROCESSO, UMA VEZ ULTRAPASSADO O LIMITE PREVISTO NO ART. 109 DO CÓDIGO PENAL. PRETENDIDA PERMANÊNCIA DA SUSPENSÃO DO PRO-CESSO. IMPOSSIBILIDADE. ORDEM DENEGADA.1. Conforme pacífi co magistério desta Corte, o período de suspensão do prazo prescricional, decorrente da aplicação do art. 366 do Código de Pro-cesso Penal, é regulado pela norma do art. 109 do Código Penal, observado o máximo da pena cominada para a infração penal.2. Por sua vez, “A suspensão do processo, prevista no art. 366 do CPP, com alteração da Lei nº 9.271/1996, só pode ser aplicada em conjunto a suspensão do prazo prescricional. Vedada, pois, a cisão” (RHC nº 17.751/MG, Rel. Min. Felix Fischer, Quinta Turma, DJ de 1º/8/2006).3. Ordem denegada. (STJ, HC nº 48.732/DF, Rel. Ministro Arnaldo Esteves Lima, Quinta Turma, julgado em 16/8/2007, DJ 1/10/2007 p. 303)

Todavia, o STF possui decisão isolada no sentido de que a suspensão do processo do art. 366 do CPP não se limita pelo máximo da prescrição, mas dura sem limite, em uma situação que se assemelharia a uma imprescritibilidade. Conferir:

A Turma deu provimento a recurso extraordinário interposto pelo Minis-tério Público do Estado do Rio Grande do Sul contra acórdão do Tribunal de Justiça local que mantivera decisão que, ao declarar a revelia do ora recorrido (CPP, art. 366), suspendera o curso do processo, mas limitara a suspensão do prazo prescricional ao da prescrição em abstrato do fato delituoso. Inicialmente, afastou-se a alegação de ofensa ao art. 97 da CF, no sentido de que a interpretação dada pela Corte a quo ao citado art. 366

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do CPP consubstanciar-se-ia em uma espécie de controle de constitucio-nalidade. Asseverou-se, no ponto, que no controle difuso, a interpretação que restringe a aplicação de uma norma a alguns casos, mantendo-a com relação a outros, não se identifi ca com a declaração de inconstitucionali-dade prevista naquele dispositivo constitucional. No tocante à suspensão da prescrição, entendeu-se que a Constituição não veda que seu prazo seja indeterminado, uma vez que não se constitui em hipótese de imprescri-tibilidade e a retomada do curso da prescrição fi ca apenas condicionada a evento futuro e incerto. Além disso, aduziu-se que a Constituição se restringe a enumerar os crimes sujeitos à imprescritibilidade (CF, art. 5º, XLII e XLIV), sem proibir, em tese, que lei ordinária crie outros casos. Por fi m, considerou-se inadmissível sujeitar-se o período de suspensão de que trata o art. 366 do CPP ao tempo da prescrição em abstrato, visto que, do contrário, haveria em verdade uma causa de interrupção e não de suspensão. RE provido para determinar a suspensão da prescrição por prazo indeterminado. Precedente citado: Ext 1.042/Governo de Portugal (j. em 19/12/2006). (STF, RE nº 460.971/RS, Informativo nº 456, de 12 a 23/2/2006)

Em nosso entendimento, essa decisão isolada do STF criou uma situação prática de imprescritibilidade: bastarão a citação por edital e a decisão de suspensão do processo para que a prescrição punitiva possa ser realizada sine die. Se uma pessoa cometeu um delito aos 18 anos de idade e houve a suspensão do processo, em tese, poderá ser processado novamente se for localizado aos 70 anos de idade. Nessa situação, a fi nalidade do Direito, que é trazer a segurança jurídica à sociedade, não será alcançada, pois muito mais maléfi ca é a incerteza da situação jurídica que a própria não-punição de um delito. A Constituição Federal expressamente enunciou as hipóteses em que há imprescritibilidade, reservando-a para as hipóteses mais severas (análise concreta da proporcionalidade). A nosso ver, a lei ordinária até poderia elencar outras hipóteses de prescrição diferenciada para crimes mais severos (há quem entenda que apenas a Constituição o poderia fazer). Todavia, admitir a imprescritibilidade de forma genérica para todos os delitos, ainda que sejam os mais simples e menos graves, viola fl agrantemente o princípio da proporcionalidade, pois, após um largo período de tempo, a segurança jurídica passa a ter um valor consti-tucional mais relevante que a própria punição e seu sacrifício para a realização do direito/dever de punir não é proporcional, especialmente para crimes menos graves. Em vista disso, espera-se que essa decisão do STF seja revista.

Excepcionam-se apenas os crimes de lavagem de dinheiro, pois em relação a eles existe dispositivo específi co que determina a não-aplicação da suspensão do art. 366 do CPP (Lei nº 9.613/1998, art. 2º, § 2º). Portanto, em relação aos crimes de lavagem de dinheiro, citado o réu por edital e este não comparecendo, o processo seguirá à revelia do acusado.

É permitida a produção antecipada da prova considerada urgente. Sempre é necessária a nomeação de defensor dativo, nesse caso o Ministério Público obrigatoriamente acompanhará o incidente. Segundo o STF, a prova testemunhal

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é sempre urgente, dado o risco de esquecimento dos fatos (HC nº 82.157-SP, rel. Min. Gilmar Mendes, Informativo STF nº 291).

Também é permitida a decretação da prisão preventiva. Todavia, a prisão não é automática nem obrigatória, devendo ser hipótese de cabimento, nos termos do art. 312 do CPP.

A Lei nº 11.719/2008 revogou os §§ 1º e 2º do art. 366. A revogação todavia, não altera em nada o pro cedimento.

- Ofendido: a Lei n° 11.690/2008 introduziu a necessidade de intimação à vítima no art. 201, §§ 2º e 3º. Agora, o ofendido deve ser comunicado dos atos processu-ais relativos ao ingresso e à saída do acusado da prisão, à designação de data para audiência e à sentença e respectivos acórdãos que a mantenham ou modifi que. Sua intimação pode ser realizada em seu endereço ou por meio eletrônico, a pedido do ofendido. Apesar de não estar expresso, entendemos que é admissível a comunicação por correspondência.

Intimação da Sentença de Pronúncia

A intimação da sentença de pronúncia também possui regras especiais, conforme dispõe o art. 420 do CPP:

Art. 420. A intimação da decisão de pronúncia será feita:I – pessoalmente ao acusado, ao defensor nomeado e ao Ministério Pú-blico;II – ao defensor constituído, ao querelante e ao assistente do Ministério Público, na forma do disposto no § 1º do art. 370 deste Código.Parágrafo único. Será intimado por edital o acusado solto que não for en-contrado.

Assim, da mesma forma que a sentença, o réu sempre deverá ser intimado da pronúncia, pessoalmente ou por edital. Como o parágrafo único do art. 420 não esclarece qual será o prazo de publicidade deste edital de intimação, entendemos que o juiz deverá fi xar prazo razoável para a publicidade do edital, levando em consideração outras situações semelhantes, como o prazo de 15 dias para a citação por edital ou o prazo de 90 dias para intimação por edital da sentença condenatória com pena igual ou superior a um ano.

Antigamente, apenas era admissível a citação pessoal de crime inafi ançável e, caso o réu não fosse pessoalmente intimado da pronúncia nesta situação, ocorreria a chamada crise de instância, ou seja, o processo fi caria paralisado até sua posterior localização. Esta crise de instância foi revogada com o supracitado art. 420.

INTRODUÇÃO

Processo é uma sucessão de atos tendentes à atuação da lei ao caso concre-to. É uma relação jurídico-processual que vincula autor, juiz e réu, no escopo de solucionar a lide.

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Todavia, nem todos os processos caminham de forma igual. Dadas as peculiaridades de cada crime, existem procedimentos especializados para possibi-litar uma apuração mais adequada de cada delito. Assim, procedimento é a forma específi ca pela qual o processo irá se desenvolver, ou seja, a ordem de encadeamento dos atos processuais.

A Lei n° 11.719/2008, ao dar nova redação ao art. 394, § 1º, do CPP, es-tabeleceu que o procedimento comum será dividido em três espécies: ordinário, sumário e sumaríssimo, com as seguintes regras:

I – ordinário, quando tiver por objeto crime cuja sanção máxima cominada for igual ou superior a 4 (quatro) anos de pena privativa de liberdade; II – sumário, quando tiver por objeto crime cuja sanção máxima cominada seja inferior a 4 (quatro) anos de pena privativa de liberdade; III – sumaríssimo, para as infrações penais de menor potencial ofensivo, na forma da lei.

O procedimento ordinário está previsto nos arts. 396 a 405. O procedimento sumário está previsto nos arts. 396 a 397 e arts. 531 a 538. O procedimento suma-ríssimo está previsto nos arts. 77 a 83 da Lei nº 9.099/1995 (com a fase preliminar prevista nos arts. 69 a 76 da mesma lei). Este último se caracteriza pela possibilidade de acordos processuais na fase preliminar (acordo civil ou transação penal) e pelo processamento mais condensado, sem tantas formalidades e regido precipuamente pela oralidade, com recurso para a Turma Recursal.

As disposições do procedimento comum ordinário são subsidiárias às regras de todos os demais procedimentos (art. 394, § 5º).

Entende-se que o procedimento dos crimes dolosos contra a vida também é uma espécie de procedimento comum, pois está previsto dentro do mesmo Título I do Livro II (Do processo comum). Este procedimento está previsto nos arts. 406 a 497, com a redação dada pela Lei n° 11.689/2008, que entrou em vigor em 9 de agosto de 2008, e possui uma fase inicial de admissibilidade da acusação (judicium accusationis, que vai da denúncia à pronúncia) e outra fase de julgamento efetivo do mérito pelo tribunal do júri (judicium causae).

Contudo, outros crimes possuem procedimento especial:– Crimes de Falência: possuem o procedimento previsto na Lei nº

11.101/2005, arts. 183 a 188. Para esses crimes, aplica-se o procedimento sumário do CPP, tendo a nova lei abolido o inquérito judicial, que era realizado no bojo do processo falimentar após a decretação da falência. Agora, ao se decretar a falência, ou já há elementos para a propositura da ação penal e o MP o faz ou, se não houver, este deverá requisitar a ins-tauração de inquérito policial. Essa lei também estabelece a legitimidade para ação penal privada subsidiária da pública por qualquer credor ou pelo administrador judicial.

– Crimes de responsabilidade dos funcionários públicos: arts. 513 a 518 (possibilidade de defesa preliminar antes do recebimento da acusação).

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– Crimes contra a honra: arts. 519 a 523 (necessidade de audiência de reconcilia ção antes do recebimento da queixa, e possibilidade de exceção da verdade).

– Crimes contra a propriedade imaterial: arts. 524 a 530 (necessidade da medida cautelar de busca e apreensão, antes do oferecimento de denúncia ou queixa, se o delito deixa vestígios).

– Crimes de Imprensa: seu procedimento está previsto na Lei n° 5.250/1967, art. 40 a 48. Possui como características: prazo de 10 dias para ofere-cimento de denúncia, necessidade de instrução do processo com cópia do exemplar do jornal; contraditório prévio (citação para apresentação de defesa prévia, seguida de decisão sobre o recebimento da denúncia); admissibilidade de apelação para rejeição da denúncia e RESE para seu recebimento; procedimento com interrogatório, oitiva de testemunhas, alegações escritas e sentença. O STF, em julgamento de ADPF, sus-pendeu a efi cácia dos arts. 20 a 23 da Lei n° 5.250/1967, relativos aos crimes de imprensa (STF, MC na ADPF 130/DF, rel. Min. Carlos Britto, j. 27/2/2008, Informativo n° 496). Assim, fi ca prejudicado o procedimento destes crimes, se a vigência dos crimes em si está suspensa pelo STF.

– Crimes ligados às drogas: a Lei n° 11.434/2006 prevê um procedimento diferenciado para os crimes de tráfi co de drogas e outros ligados às dro-gas. Dentre as principais características estão a previsão de contraditório prévio e previsão de diligências específi cas para a investigação (agente infi ltrado, delação premiada, não-atuação policial) e o processo (seqüestro, indisponibilidade de bens, confi sco dos instrumentos do crime). Para o delito de uso de drogas há previsão de medidas educativas não restritivas de liberdade.

– Processo de restauração de autos extraviados ou destruídos: arts. 541 a 548.

O art. 394, § 4º, com a nova redação dada pela Lei n° 11.719/2008, estabelece que “as disposições dos arts. 395 a 398 deste Código aplicam-se a todos os proce-dimentos penais de primeiro grau, ainda que não regulados neste Código”. Estes dispositivos são os relativos às hipóteses de rejeição da denúncia, e que estabelecem o procedimento de: recebimento da denúncia, citação e intimação para apresentação de resposta à acusação em 10 dias, resposta à acusação, possibilidade de absolvição sumária (espécie de julgamento antecipado da lide). A redação do referido § 4º é peremptória, portanto, entendemos que todos os procedimentos especiais passam a obrigatoriamente ter que respeitar estas regras do procedimento ordinário. Desta forma, fi cam prejudicadas todas as disposições que previam hipóteses de contradi-tório prévio (antes do recebimento da denúncia), como no procedimento de crimes de responsabilidade de funcionários públicos, crimes contra a honra, crimes de tráfi co de drogas e outros semelhantes, e crimes de imprensa. Apenas permanecerão duas hipóteses de contraditório prévio: o procedimento sumaríssimo e a ação penal originária de tribunal. O procedimento sumaríssimo permanece porque o próprio art. 394, § 1º, III, manteve a existência do procedimento sumaríssimo. Ademais,

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há uma justifi cativa para o não recebimento imediato da denúncia no procedimento sumaríssimo: é que privilegia-se a solução de todos os incidentes processuais oral-mente em concentrada audiência, bem como porque há possibilidade de se retornar novamente às fases de acordo civil ou transação penal, conforme determina o art. 79 da Lei n° 9.099/1995, o que pressupõe o não recebimento da denúncia. Também não será aplicável para o procedimento das ações penais originárias de tribunal porque o § 4º estabelece que a regra apenas se aplica “aos procedimentos penais de primeiro grau”, excluindo-se, portanto, os casos de foro por prerrogativa de função.

Segue-se fl uxogramas explicativos dos procedimentos.

IP Prazo 10 dias: preso 30 dias: solto Juiz Novas Diligências Vítima MP Arquivamento Juiz Concorda Arquivar Decadência Discorda PGJ 1) oferece denúncia ou Renúncia designa promotor; Denúncia 2) insiste em arquivar Queixa (8 testemunhas Juiz deve arquivar (6 meses) + docs. + requerimentos)

Juízo de Rejeição RESE Improvimento Prelibação (5 dias)

Recebimento Provimento

Citação e Intimação para Resposta à Acusação

Resposta à Acusação (8 test. + provas + (10 dias) Se não apresentada: preliminares + exceções) Juiz nomeia defensor dativo

Eventual Absolvição Sumária (art. 397)

Audiência de Instrução (60 dias Ofendido Perguntas do recebimento) Testemunhas de acusação Diretas Testemunhas de defesa Peritos, acareações, reconhecimentos Interrogatório

Requerimento de Não diligência complementar Processo Não Sim Complexo

Diligências Sim

Alegações Finais Debates orais Escritas (5 dias) (20 min. + 10)

Sentença Absolvição Própria (oral ou 10 dias) Imprópria (medida de segurança) Condenação

Intimações

Recurso Embargos de Declaração – 2 dias Apelação – 5 dias para interpor 8 dias para juntar razões

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Fluxograma do procedimento dos crimes dolosos contra a vida

Judicium Accusationis

Oferecimento da Rejeição RESE Improvimento Denúncia (5 dias) (8 testemunhas + docs.)

Recebimento Provimento

Citação e Intimação para Resposta à Acusação

Resposta à Acusação (8 test. + provas + (10 dias) Se não apresentada: preliminares + exceções) Juiz nomeia defensor dativo

Oitiva da acusação sobre (5 dias) Preliminares e docs.

Audiência de Instrução (10 dias) Ofendido Testemunhas de acusação Testemunhas de defesa OBS: Perguntas diretas Peritos, acareações, reconhecimentos, pelas partes Interrogatório Debates Orais (20 min. + 10 min.)

Decisão(oral ou 10 dias da audiência) (prazo máximo: 90 dias do recebimento da denúncia)

Pronúncia Impronúncia Desclassificação Absolvição Sumária

indícios da autoria faltam indícios prova de outro Prova cabal de: e materialidade crime que não doloso - fato inexistente contra a vida - réu não é autor fundamentar sobre coisa julgada formal - atipicidade prisão (admite desarquivamento (art. 384 no - excludente da ilicitude mediante prova nova) Juízo comum) - excludente da culp.

Intimação das partes Se réu não encontrado: intimação por edital

RESE Apelação RESE Apelação

Provimento Improvimento Provimento

Judicium Causae

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Judicium Causae

Trânsito em julgado da pronúncia

Intimação das partes para testemunhas (5) requerer diligências docs. + diligências para plenário Exame dos requerimentos OBS.: Desaforamento: Sanar nulidades - ordem pública Despacho Saneador Relatório do processo - imparcialidade do júri Inclusão em pauta - insegurança do réu - excesso de trabalho + demora Intimações (partes, testemunhas) Julgamento Plenário do Tribunal do Júri

Verificar presença Ausência do MP = adiamento obrigatório das partes, jurados e Ausência injustificada do defensor testemunhas = adia uma vez + cópia à Defensoria Pública Ausência do réu: - preso – adia - solto e intimado – não adia Ausência de testemunha - com cláusula de imprescindibilidade: Conduz ou adia - sem imprescindibilidade: Não adia (pode conduzir) Verificação do 15 dos 25 jurados Quórum mínimo

Abertura da sessão momento para argüir nulidades posteriores à pronúncia

Sorteio do Conselho 7 jurados de Sentença Recusas imotivadas: 3 (acusação e defesas) Ausência do número Recusas motivadas: sem número mínimo de jurados = separação dos julgtos Juramento Ofendido Instrução Testemunhas de acusação OBS: Perguntas diretas Plenária Testemunhas de defesa pelas partes Peritos, acareações, reconhecimentos Leitura de peças (com restrições) Interrogatório

Ordem: AP Pública: MP – Assistente - Defesa Debates orais AP Privada: Querelante – MP – Defesa Sustentação: 1h30 cada (se + de 1 acusado = 2h30) Réplica e Tréplica: 1h cada (se + de 1 acusado = 2h) OBS.: proibida a produção de doc. novo

Explicação Quesitos pelo juiz

Sala secreta Votação dos quesitos (sim ou não) Assinatura do termo de votação

Sentença Condenatória Absolutória Desclassificação (juiz presidente julga)

Leitura da sentença (intimação) - Apelação (5 dias) Ata da sessão - Revogou-se o protesto por novo júri

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Fluxograma do procedimento sumário

IP Prazo 10 dias: preso 30 dias: solto Juiz Novas Diligências Vítima MP Arquivamento Juiz Concorda Arquivar Decadência Discorda PGJ 1) oferece denúncia ou Renúncia designa promotor; Denúncia 2) insiste em arquivar Queixa (5 testemunhas Juiz deve arquivar (6 meses) + docs. + requerimentos)

Juízo de Rejeição RESE Improvimento Prelibação (5 dias)

Recebimento Provimento

Citação e Intimação para Resposta à Acusação

Resposta à Acusação (5 test. + provas + (10 dias) Se não apresentada: preliminares + exceções) Juiz nomeia defensor dativo

Eventual Absolvição Sumária (art. 397)

Audiência de Instrução (30 dias Ofendido Perguntas do recebimento) Testemunhas de acusação Diretas Testemunhas de defesa Peritos, acareações, reconhecimentos Interrogatório

Debates orais (20 min. + 10)

Sentença Absolvição Própria (oral ou 10 dias) Imprópria (medida de segurança) Condenação

Intimações

Recurso Embargos de Declaração – 2 dias Apelação – 5 dias para interpor 8 dias para juntar razões

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LEI Nº 11.689, DE 9 JUNHO DE 2008

Altera dispositivos do Decreto-Lei nº 3.689, de 3 de outubro de 1941 – Código de Processo Penal, relativos ao Tribunal do Júri, e dá outras providências.

O PRESIDENTE DA REPÚBLICA: Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei:

Art. 1º O Capítulo II do Título I do Livro II do Decreto-Lei nº 3.689, de 3 de ou-tubro de 1941 – Código de Processo Penal, passa a vigorar com a seguinte redação:

CAPÍTULO IIDo Procedimento Relativo aos Processos da

Competência do Tribunal do Júri

Seção IDa Acusação e da Instrução Preliminar

Art. 406. O juiz, ao receber a denúncia ou a queixa, ordenará a citação do acusado para responder a acusação, por escrito, no prazo de 10 (dez) dias.§ 1º O prazo previsto no caput deste artigo será contado a partir do efetivo cumprimento do mandado ou do comparecimento, em juízo, do acusado ou de defensor constituído, no caso de citação inválida ou por edital.§ 2º A acusação deverá arrolar testemunhas, até o máximo de 8 (oito), na denúncia ou na queixa.§ 3º Na resposta, o acusado poderá argüir preliminares e alegar tudo que interesse a sua defesa, oferecer documentos e justif icações, especif icar as provas pretendidas e arrolar testemunhas, até o máximo de 8 (oito), qua-lif icando-as e requerendo sua intimação, quando necessário. (NR) Art. 407. As exceções serão processadas em apartado, nos termos dos arts. 95 a 112 deste Código. (NR)Art. 408. Não apresentada a resposta no prazo legal, o juiz nomeará defensor para oferecê-la em até 10 (dez) dias, concedendo-lhe vista dos autos. (NR)Art. 409. Apresentada a defesa, o juiz ouvirá o Ministério Público ou o querelante sobre preliminares e documentos, em 5 (cinco) dias. (NR)Art. 410. O juiz determinará a inquirição das testemunhas e a realização das diligências requeridas pelas partes, no prazo máximo de 10 (dez) dias. (NR)

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Art. 411. Na audiência de instrução, proceder-se-á à tomada de declarações do ofendido, se possível, à inquirição das testemunhas arroladas pela acusa-ção e pela defesa, nesta ordem, bem como aos esclarecimentos dos peritos, às acareações e ao reconhecimento de pessoas e coisas, interrogando-se, em seguida, o acusado e procedendo-se o debate.§ 1º Os esclarecimentos dos peritos dependerão de prévio requerimento e de deferimento pelo juiz.§ 2º As provas serão produzidas em uma só audiência, podendo o juiz indeferir as consideradas irrelevantes, impertinentes ou protelatórias.§ 3º Encerrada a instrução probatória, observar-se-á, se for o caso, o dis-posto no art. 384 deste Código.§ 4º As alegações serão orais, concedendo-se a palavra, respectivamente, à acusação e à defesa, pelo prazo de 20 (vinte) minutos, prorrogáveis por mais 10 (dez).§ 5º Havendo mais de 1 (um) acusado, o tempo previsto para a acusação e a defesa de cada um deles será individual.§ 6º Ao assistente do Ministério Público, após a manifestação deste, serão concedidos 10 (dez) minutos, prorrogando-se por igual período o tempo de manifestação da defesa.§ 7º Nenhum ato será adiado, salvo quando imprescindível à prova faltante, determinando o juiz a condução coercitiva de quem deva comparecer.§ 8º A testemunha que comparecer será inquirida, independentemente da suspensão da audiência, observada em qualquer caso a ordem estabelecida no caput deste artigo.§ 9º Encerrados os debates, o juiz proferirá a sua decisão, ou o fará em 10 (dez) dias, ordenando que os autos para isso lhe sejam conclusos. (NR)Art. 412. O procedimento será concluído no prazo máximo de 90 (noventa) dias. (NR)

Seção IIDa Pronúncia, da Impronúncia e da Absolvição Sumária

Art. 413. O juiz, fundamentadamente, pronunciará o acusado, se convencido da materialidade do fato e da existência de indícios suf icientes de autoria ou de participação.§ 1º A fundamentação da pronúncia limitar-se-á à indicação da materiali-dade do fato e da existência de indícios suf icientes de autoria ou de parti-cipação, devendo o juiz declarar o dispositivo legal em que julgar incurso o acusado e especif icar as circunstâncias qualif icadoras e as causas de aumento de pena.§ 2º Se o crime for af iançável, o juiz arbitrará o valor da f iança para a concessão ou manutenção da liberdade provisória.§ 3º O juiz decidirá, motivadamente, no caso de manutenção, revogação ou substituição da prisão ou medida restritiva de liberdade anteriormente decretada e, tratando-se de acusado solto, sobre a necessidade da decretação

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da prisão ou imposição de quaisquer das medidas previstas no Título IX do Livro I deste Código. (NR)Art. 414. Não se convencendo da materialidade do fato ou da existência de indícios suf icientes de autoria ou de participação, o juiz, fundamenta-damente, impronunciará o acusado.Parágrafo único. Enquanto não ocorrer a extinção da punibilidade, poderá ser formulada nova denúncia ou queixa se houver prova nova. (NR)Art. 415. O juiz, fundamentadamente, absolverá desde logo o acusado, quando:I – provada a inexistência do fato;II – provado não ser ele autor ou partícipe do fato;III – o fato não constituir infração penal;IV – demonstrada causa de isenção de pena ou de exclusão do crime.Parágrafo único. Não se aplica o disposto no inciso IV do caput deste artigo ao caso de inimputabilidade prevista no caput do art. 26 do Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940 – Código Penal, salvo quando esta for a única tese defensiva. (NR)Art. 416. Contra a sentença de impronúncia ou de absolvição sumária caberá apelação. (NR)Art. 417. Se houver indícios de autoria ou de participação de outras pessoas não incluídas na acusação, o juiz, ao pronunciar ou impronunciar o acusado, determinará o retorno dos autos ao Ministério Público, por 15 (quinze) dias, aplicável, no que couber, o art. 80 deste Código. (NR)Art. 418. O juiz poderá dar ao fato def inição jurídica diversa da constante da acusação, embora o acusado f ique sujeito a pena mais grave. (NR)Art. 419. Quando o juiz se convencer, em discordância com a acusação, da existência de crime diverso dos referidos no § 1º do art. 74 deste Código e não for competente para o julgamento, remeterá os autos ao juiz que o seja.Parágrafo único. Remetidos os autos do processo a outro juiz, à disposição deste f icará o acusado preso. (NR)Art. 420. A intimação da decisão de pronúncia será feita:I – pessoalmente ao acusado, ao defensor nomeado e ao Ministério Pú-blico;II – ao defensor constituído, ao querelante e ao assistente do Ministério Público, na forma do disposto no § 1º do art. 370 deste Código.Parágrafo único. Será intimado por edital o acusado solto que não for encontrado. (NR)Art. 421. Preclusa a decisão de pronúncia, os autos serão encaminhados ao juiz presidente do Tribunal do Júri.§ 1º Ainda que preclusa a decisão de pronúncia, havendo circunstância superveniente que altere a classif icação do crime, o juiz ordenará a remessa dos autos ao Ministério Público.§ 2º Em seguida, os autos serão conclusos ao juiz para decisão. (NR)

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Seção IIIDa Preparação do Processo para Julgamento em Plenário

Art. 422. Ao receber os autos, o presidente do Tribunal do Júri determinará a intimação do órgão do Ministério Público ou do querelante, no caso de queixa, e do defensor, para, no prazo de 5 (cinco) dias, apresentarem rol de testemunhas que irão depor em plenário, até o máximo de 5 (cinco), opor-tunidade em que poderão juntar documentos e requerer diligência. (NR)Art. 423. Deliberando sobre os requerimentos de provas a serem produ-zidas ou exibidas no plenário do júri, e adotadas as providências devidas, o juiz presidente:I – ordenará as diligências necessárias para sanar qualquer nulidade ou esclarecer fato que interesse ao julgamento da causa;II – fará relatório sucinto do processo, determinando sua inclusão em pauta da reunião do Tribunal do Júri. (NR)Art. 424. Quando a lei local de organização judiciária não atribuir ao pre-sidente do Tribunal do Júri o preparo para julgamento, o juiz competente remeter-lhe-á os autos do processo preparado até 5 (cinco) dias antes do sorteio a que se refere o art. 433 deste Código.Parágrafo único. Deverão ser remetidos, também, os processos preparados até o encerramento da reunião, para a realização de julgamento. (NR)

Seção IVDo Alistamento dos Jurados

Art. 425. Anualmente, serão alistados pelo presidente do Tribunal do Júri de 800 (oitocentos) a 1.500 (um mil e quinhentos) jurados nas comarcas de mais de 1/00/000 (um milhão) de habitantes, de 300 (trezentos) a 700 (setecentos) nas comarcas de mais de 100.000 (cem mil) habitantes e de 80 (oitenta) a 400 (quatrocentos) nas comarcas de menor população.§ 1º Nas comarcas onde for necessário, poderá ser aumentado o número de jurados e, ainda, organizada lista de suplentes, depositadas as cédulas em urna especial, com as cautelas mencionadas na parte f inal do § 3º do art. 426 deste Código.§ 2º O juiz presidente requisitará às autoridades locais, associações de classe e de bairro, entidades associativas e culturais, instituições de ensino em geral, universidades, sindicatos, repartições públicas e outros núcleos comunitários a indicação de pessoas que reúnam as condições para exercer a função de jurado. (NR)Art. 426. A lista geral dos jurados, com indicação das respectivas prof is-sões, será publicada pela imprensa até o dia 10 de outubro de cada ano e divulgada em editais af ixados à porta do Tribunal do Júri.§ 1º A lista poderá ser alterada, de ofício ou mediante reclamação de qualquer do povo ao juiz presidente até o dia 10 de novembro, data de sua publicação def initiva.

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§ 2º Juntamente com a lista, serão transcritos os arts. 436 a 446 deste Código.§ 3º Os nomes e endereços dos alistados, em cartões iguais, após serem verif icados na presença do Ministério Público, de advogado indicado pela Seção local da Ordem dos Advogados do Brasil e de defensor indicado pelas Defensorias Públicas competentes, permanecerão guardados em urna fechada a chave, sob a responsabilidade do juiz presidente.§ 4º O jurado que tiver integrado o Conselho de Sentença nos 12 (doze) meses que antecederem à publicação da lista geral f ica dela excluído.§ 5º Anualmente, a lista geral de jurados será, obrigatoriamente, comple-tada. (NR)

Seção VDo Desaforamento

Art. 427. Se o interesse da ordem pública o reclamar ou houver dúvida sobre a imparcialidade do júri ou a segurança pessoal do acusado, o Tribunal, a requerimento do Ministério Público, do assistente, do querelante ou do acusado ou mediante representação do juiz competente, poderá determinar o desaforamento do julgamento para outra comarca da mesma região, onde não existam aqueles motivos, preferindo-se as mais próximas.§ 1º O pedido de desaforamento será distribuído imediatamente e terá preferência de julgamento na Câmara ou Turma competente.§ 2º Sendo relevantes os motivos alegados, o relator poderá determinar, fundamentadamente, a suspensão do julgamento pelo júri.§ 3º Será ouvido o juiz presidente, quando a medida não tiver sido por ele solicitada.§ 4º Na pendência de recurso contra a decisão de pronúncia ou quando efetivado o julgamento, não se admitirá o pedido de desaforamento, salvo, nesta última hipótese, quanto a fato ocorrido durante ou após a realização de julgamento anulado. (NR)Art. 428. O desaforamento também poderá ser determinado, em razão do comprovado excesso de serviço, ouvidos o juiz presidente e a parte con-trária, se o julgamento não puder ser realizado no prazo de 6 (seis) meses, contado do trânsito em julgado da decisão de pronúncia.§ 1º Para a contagem do prazo referido neste artigo, não se computará o tempo de adiamentos, diligências ou incidentes de interesse da defesa.§ 2º Não havendo excesso de serviço ou existência de processos aguardando julgamento em quantidade que ultrapasse a possibilidade de apreciação pelo Tribunal do Júri, nas reuniões periódicas previstas para o exercício, o acusado poderá requerer ao Tribunal que determine a imediata realização do julgamento. (NR)

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Seção VIDa Organização da Pauta

Art. 429. Salvo motivo relevante que autorize alteração na ordem dos julgamentos, terão preferência:I – os acusados presos;II – dentre os acusados presos, aqueles que estiverem há mais tempo na prisão;III – em igualdade de condições, os precedentemente pronunciados.§ 1º Antes do dia designado para o primeiro julgamento da reunião periódi-ca, será af ixada na porta do edifício do Tribunal do Júri a lista dos processos a serem julgados, obedecida a ordem prevista no caput deste artigo.§ 2º O juiz presidente reservará datas na mesma reunião periódica para a inclusão de processo que tiver o julgamento adiado. (NR)Art. 430. O assistente somente será admitido se tiver requerido sua habi-litação até 5 (cinco) dias antes da data da sessão na qual pretenda atuar. (NR)Art. 431. Estando o processo em ordem, o juiz presidente mandará intimar as partes, o ofendido, se for possível, as testemunhas e os peritos, quando houver requerimento, para a sessão de instrução e julgamento, observando, no que couber, o disposto no art. 420 deste Código. (NR)

Seção VIIDo Sorteio e da Convocação dos Jurados

Art. 432. Em seguida à organização da pauta, o juiz presidente determinará a intimação do Ministério Público, da Ordem dos Advogados do Brasil e da Defensoria Pública para acompanharem, em dia e hora designados, o sorteio dos jurados que atuarão na reunião periódica. (NR)Art. 433. O sorteio, presidido pelo juiz, far-se-á a portas abertas, caben-do-lhe retirar as cédulas até completar o número de 25 (vinte e cinco) jurados, para a reunião periódica ou extraordinária.§ 1º O sorteio será realizado entre o 15º (décimo quinto) e o 10º (décimo) dia útil antecedente à instalação da reunião.§ 2º A audiência de sorteio não será adiada pelo não comparecimento das partes.§ 3º O jurado não sorteado poderá ter o seu nome novamente incluído para as reuniões futuras. (NR)Art. 434. Os jurados sorteados serão convocados pelo correio ou por qualquer outro meio hábil para comparecer no dia e hora designados para a reunião, sob as penas da lei.Parágrafo único. No mesmo expediente de convocação serão transcritos os arts. 436 a 446 deste Código. (NR)

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Art. 435. Serão af ixados na porta do edifício do Tribunal do Júri a relação dos jurados convocados, os nomes do acusado e dos procuradores das partes, além do dia, hora e local das sessões de instrução e julgamento. (NR)

Seção VIIIDa Função do Jurado

Art. 436. O serviço do júri é obrigatório. O alistamento compreenderá os cidadãos maiores de 18 (dezoito) anos de notória idoneidade.§ 1º Nenhum cidadão poderá ser excluído dos trabalhos do júri ou deixar de ser alistado em razão de cor ou etnia, raça, credo, sexo, prof issão, classe social ou econômica, origem ou grau de instrução.§ 2º A recusa injustif icada ao serviço do júri acarretará multa no valor de 1 (um) a 10 (dez) salários mínimos, a critério do juiz, de acordo com a condição econômica do jurado. (NR)Art. 437. Estão isentos do serviço do júri:I – o Presidente da República e os Ministros de Estado;II – os Governadores e seus respectivos Secretários;III – os membros do Congresso Nacional, das Assembléias Legislativas e das Câmaras Distrital e Municipais;IV – os Prefeitos Municipais;V – os Magistrados e membros do Ministério Público e da Defensoria Pública;VI – os servidores do Poder Judiciário, do Ministério Público e da Defen-soria Pública;VII – as autoridades e os servidores da polícia e da segurança pública;VIII – os militares em serviço ativo;IX – os cidadãos maiores de 70 (setenta) anos que requeiram sua dispensa;X – aqueles que o requererem, demonstrando justo impedimento. (NR)Art. 438. A recusa ao serviço do júri fundada em convicção religiosa, f ilosóf ica ou política importará no dever de prestar serviço alternativo, sob pena de suspensão dos direitos políticos, enquanto não prestar o serviço imposto.§ 1º Entende-se por serviço alternativo o exercício de atividades de caráter administrativo, assistencial, f ilantrópico ou mesmo produtivo, no Poder Judiciário, na Defensoria Pública, no Ministério Público ou em entidade conveniada para esses f ins.§ 2º O juiz f ixará o serviço alternativo atendendo aos princípios da pro-porcionalidade e da razoabilidade. (NR)Art. 439. O exercício efetivo da função de jurado constituirá serviço público relevante, estabelecerá presunção de idoneidade moral e assegurará prisão especial, em caso de crime comum, até o julgamento def initivo. (NR)

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Art. 440. Constitui também direito do jurado, na condição do art. 439 deste Código, preferência, em igualdade de condições, nas licitações públicas e no provimento, mediante concurso, de cargo ou função pública, bem como nos casos de promoção funcional ou remoção voluntária. (NR)Art. 441. Nenhum desconto será feito nos vencimentos ou salário do jurado sorteado que comparecer à sessão do júri. (NR)Art. 442. Ao jurado que, sem causa legítima, deixar de comparecer no dia marcado para a sessão ou retirar-se antes de ser dispensado pelo presidente será aplicada multa de 1 (um) a 10 (dez) salários mínimos, a critério do juiz, de acordo com a sua condição econômica. (NR)Art. 443. Somente será aceita escusa fundada em motivo relevante devida-mente comprovado e apresentada, ressalvadas as hipóteses de força maior, até o momento da chamada dos jurados. (NR)Art. 444. O jurado somente será dispensado por decisão motivada do juiz presidente, consignada na ata dos trabalhos. (NR)Art. 445. O jurado, no exercício da função ou a pretexto de exercê-la, será responsável criminalmente nos mesmos termos em que o são os juízes togados. (NR)Art. 446. Aos suplentes, quando convocados, serão aplicáveis os disposi-tivos referentes às dispensas, faltas e escusas e à equiparação de respon-sabilidade penal prevista no art. 445 deste Código. (NR)

Seção IXDa Composição do Tribunal do Júri e da Formação do

Conselho de Sentença

Art. 447. O Tribunal do Júri é composto por 1 (um) juiz togado, seu presidente e por 25 (vinte e cinco) jurados que serão sorteados dentre os alistados, 7 (sete) dos quais constituirão o Conselho de Sentença em cada sessão de julgamento. (NR)Art. 448. São impedidos de servir no mesmo Conselho:I – marido e mulher;II – ascendente e descendente;III – sogro e genro ou nora;IV – irmãos e cunhados, durante o cunhadio;V – tio e sobrinho;VI – padrasto, madrasta ou enteado.§ 1º O mesmo impedimento ocorrerá em relação às pessoas que mantenham união estável reconhecida como entidade familiar.§ 2º Aplicar-se-á aos jurados o disposto sobre os impedimentos, a suspeição e as incompatibilidades dos juízes togados. (NR)Art. 449. Não poderá servir o jurado que:

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I – tiver funcionado em julgamento anterior do mesmo processo, indepen-dentemente da causa determinante do julgamento posterior;II – no caso do concurso de pessoas, houver integrado o Conselho de Sentença que julgou o outro acusado;III – tiver manifestado prévia disposição para condenar ou absolver o acusado. (NR)Art. 450. Dos impedidos entre si por parentesco ou relação de convivência, servirá o que houver sido sorteado em primeiro lugar. (NR)Art. 451. Os jurados excluídos por impedimento, suspeição ou incompati-bilidade serão considerados para a constituição do número legal exigível para a realização da sessão. (NR)Art. 452. O mesmo Conselho de Sentença poderá conhecer de mais de um processo, no mesmo dia, se as partes o aceitarem, hipótese em que seus integrantes deverão prestar novo compromisso. (NR)

Seção XDa reunião e das sessões do Tribunal do Júri

Art. 453. O Tribunal do Júri reunir-se-á para as sessões de instrução e julgamento nos períodos e na forma estabelecida pela lei local de organi-zação judiciária. (NR)Art. 454. Até o momento de abertura dos trabalhos da sessão, o juiz pre-sidente decidirá os casos de isenção e dispensa de jurados e o pedido de adiamento de julgamento, mandando consignar em ata as deliberações. (NR)Art. 455. Se o Ministério Público não comparecer, o juiz presidente adiará o julgamento para o primeiro dia desimpedido da mesma reunião, cien-tif icadas as partes e as testemunhas.Parágrafo único. Se a ausência não for justif icada, o fato será imediatamente comunicado ao Procurador-Geral de Justiça com a data designada para a nova sessão. (NR)Art. 456. Se a falta, sem escusa legítima, for do advogado do acusado, e se outro não for por este constituído, o fato será imediatamente comunicado ao presidente da seccional da Ordem dos Advogados do Brasil, com a data designada para a nova sessão.§ 1º Não havendo escusa legítima, o julgamento será adiado somente uma vez, devendo o acusado ser julgado quando chamado novamente.§ 2º Na hipótese do § 1º deste artigo, o juiz intimará a Defensoria Pública para o novo julgamento, que será adiado para o primeiro dia desimpedido, observado o prazo mínimo de 10 (dez) dias. (NR)Art. 457. O julgamento não será adiado pelo não comparecimento do acusado solto, do assistente ou do advogado do querelante, que tiver sido regularmente intimado.

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§ 1º Os pedidos de adiamento e as justif icações de não comparecimento deverão ser, salvo comprovado motivo de força maior, previamente sub-metidos à apreciação do juiz presidente do Tribunal do Júri.§ 2º Se o acusado preso não for conduzido, o julgamento será adiado para o primeiro dia desimpedido da mesma reunião, salvo se houver pedido de dispensa de comparecimento subscrito por ele e seu defensor. (NR)Art. 458. Se a testemunha, sem justa causa, deixar de comparecer, o juiz presidente, sem prejuízo da ação penal pela desobediência, aplicar-lhe-á a multa prevista no § 2º do art. 436 deste Código. (NR)Art. 459. Aplicar-se-á às testemunhas a serviço do Tribunal do Júri o dis-posto no art. 441 deste Código. (NR)Art. 460. Antes de constituído o Conselho de Sentença, as testemunhas serão recolhidas a lugar onde umas não possam ouvir os depoimentos das outras. (NR)Art. 461. O julgamento não será adiado se a testemunha deixar de compa-recer, salvo se uma das partes tiver requerido a sua intimação por manda-do, na oportunidade de que trata o art. 422 deste Código, declarando não prescindir do depoimento e indicando a sua localização.§ 1º Se, intimada, a testemunha não comparecer, o juiz presidente sus-penderá os trabalhos e mandará conduzi-la ou adiará o julgamento para o primeiro dia desimpedido, ordenando a sua condução.§ 2º O julgamento será realizado mesmo na hipótese de a testemunha não ser encontrada no local indicado, se assim for certif icado por of icial de justiça. (NR)Art. 462. Realizadas as diligências referidas nos arts. 454 a 461 deste Código, o juiz presidente verif icará se a urna contém as cédulas dos 25 (vinte e cinco) jurados sorteados, mandando que o escrivão proceda à chamada deles. (NR)Art. 463. Comparecendo, pelo menos, 15 (quinze) jurados, o juiz presi-dente declarará instalados os trabalhos, anunciando o processo que será submetido a julgamento.§ 1º O of icial de justiça fará o pregão, certif icando a diligência nos au-tos.§ 2º Os jurados excluídos por impedimento ou suspeição serão computados para a constituição do número legal. (NR)Art. 464. Não havendo o número referido no art. 463 deste Código, proce-der-se-á ao sorteio de tantos suplentes quantos necessários, e designar-se-á nova data para a sessão do júri. (NR)Art. 465. Os nomes dos suplentes serão consignados em ata, remetendo-se o expediente de convocação, com observância do disposto nos arts. 434 e 435 deste Código. (NR)Art. 466. Antes do sorteio dos membros do Conselho de Sentença, o juiz presidente esclarecerá sobre os impedimentos, a suspeição e as incompa-tibilidades constantes dos arts. 448 e 449 deste Código.

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§ 1º O juiz presidente também advertirá os jurados de que, uma vez sor-teados, não poderão comunicar-se entre si e com outrem, nem manifestar sua opinião sobre o processo, sob pena de exclusão do Conselho e multa, na forma do § 2º do art. 436 deste Código.§ 2º A incomunicabilidade será certif icada nos autos pelo of icial de justiça. (NR)Art. 467. Verif icando que se encontram na urna as cédulas relativas aos jurados presentes, o juiz presidente sorteará 7 (sete) dentre eles para a formação do Conselho de Sentença. (NR)Art. 468. À medida que as cédulas forem sendo retiradas da urna, o juiz presidente as lerá, e a defesa e, depois dela, o Ministério Público poderão re-cusar os jurados sorteados, até 3 (três) cada parte, sem motivar a recusa.Parágrafo único. O jurado recusado imotivadamente por qualquer das partes será excluído daquela sessão de instrução e julgamento, prosseguindo-se o sorteio para a composição do Conselho de Sentença com os jurados remanescentes. (NR)Art. 469. Se forem 2 (dois) ou mais os acusados, as recusas poderão ser feitas por um só defensor.§ 1º A separação dos julgamentos somente ocorrerá se, em razão das re-cusas, não for obtido o número mínimo de 7 (sete) jurados para compor o Conselho de Sentença.§ 2º Determinada a separação dos julgamentos, será julgado em primeiro lugar o acusado a quem foi atribuída a autoria do fato ou, em caso de co-autoria, aplicar-se-á o critério de preferência disposto no art. 429 deste Código. (NR)Art. 470. Desacolhida a argüição de impedimento, de suspeição ou de incompatibilidade contra o juiz presidente do Tribunal do Júri, órgão do Ministério Público, jurado ou qualquer funcionário, o julgamento não será suspenso, devendo, entretanto, constar da ata o seu fundamento e a decisão. (NR)Art. 471. Se, em conseqüência do impedimento, suspeição, incompatibili-dade, dispensa ou recusa, não houver número para a formação do Conselho, o julgamento será adiado para o primeiro dia desimpedido, após sorteados os suplentes, com observância do disposto no art. 464 deste Código. (NR)Art. 472. Formado o Conselho de Sentença, o presidente, levantando-se, e, com ele, todos os presentes, fará aos jurados a seguinte exortação:Em nome da lei, concito-vos a examinar esta causa com imparcialidade e a proferir a vossa decisão de acordo com a vossa consciência e os ditames da justiça.Os jurados, nominalmente chamados pelo presidente, responderão:Assim o prometo.Parágrafo único. O jurado, em seguida, receberá cópias da pronúncia ou, se for o caso, das decisões posteriores que julgaram admissível a acusação e do relatório do processo. (NR)

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Seção XIDa Instrução em Plenário

Art. 473. Prestado o compromisso pelos jurados, será iniciada a instrução plenária quando o juiz presidente, o Ministério Público, o assistente, o querelante e o defensor do acusado tomarão, sucessiva e diretamente, as declarações do ofendido, se possível, e inquirirão as testemunhas arro-ladas pela acusação.§ 1º Para a inquirição das testemunhas arroladas pela defesa, o defensor do acusado formulará as perguntas antes do Ministério Público e do assistente, mantidos no mais a ordem e os critérios estabelecidos neste artigo.§ 2º Os jurados poderão formular perguntas ao ofendido e às testemunhas, por intermédio do juiz presidente.§ 3º As partes e os jurados poderão requerer acareações, reconhecimento de pessoas e coisas e esclarecimento dos peritos, bem como a leitura de peças que se ref iram, exclusivamente, às provas colhidas por carta precatória e às provas cautelares, antecipadas ou não repetíveis. (NR)Art. 474. A seguir será o acusado interrogado, se estiver presente, na forma estabelecida no Capítulo III do Título VII do Livro I deste Código, com as alterações introduzidas nesta Seção.§ 1º O Ministério Público, o assistente, o querelante e o defensor, nessa ordem, poderão formular, diretamente, perguntas ao acusado.§ 2º Os jurados formularão perguntas por intermédio do juiz presidente.§ 3º Não se permitirá o uso de algemas no acusado durante o período em que permanecer no plenário do júri, salvo se absolutamente necessário à ordem dos trabalhos, à segurança das testemunhas ou à garantia da inte-gridade física dos presentes. (NR)Art. 475. O registro dos depoimentos e do interrogatório será feito pelos meios ou recursos de gravação magnética, eletrônica, estenotipia ou téc-nica similar, destinada a obter maior f idelidade e celeridade na colheita da prova.Parágrafo único. A transcrição do registro, após feita a degravação, constará dos autos. (NR)

Seção XIIDos Debates

Art. 476. Encerrada a instrução, será concedida a palavra ao Ministério Público, que fará a acusação, nos limites da pronúncia ou das decisões posteriores que julgaram admissível a acusação, sustentando, se for o caso, a existência de circunstância agravante.§ 1º O assistente falará depois do Ministério Público.

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§ 2º Tratando-se de ação penal de iniciativa privada, falará em primeiro lugar o querelante e, em seguida, o Ministério Público, salvo se este houver retomado a titularidade da ação, na forma do art. 29 deste Código.§ 3º Finda a acusação, terá a palavra a defesa.§ 4º A acusação poderá replicar e a defesa treplicar, sendo admitida a reinquirição de testemunha já ouvida em plenário. (NR)Art. 477. O tempo destinado à acusação e à defesa será de uma hora e meia para cada, e de uma hora para a réplica e outro tanto para a tréplica.§ 1º Havendo mais de um acusador ou mais de um defensor, combinarão entre si a distribuição do tempo, que, na falta de acordo, será dividido pelo juiz presidente, de forma a não exceder o determinado neste artigo.§ 2º Havendo mais de 1 (um) acusado, o tempo para a acusação e a defesa será acrescido de 1 (uma) hora e elevado ao dobro o da réplica e da tréplica, observado o disposto no § 1º deste artigo. (NR)Art. 478. Durante os debates as partes não poderão, sob pena de nulidade, fazer referências:I – à decisão de pronúncia, às decisões posteriores que julgaram admissí-vel a acusação ou à determinação do uso de algemas como argumento de autoridade que benef iciem ou prejudiquem o acusado;II – ao silêncio do acusado ou à ausência de interrogatório por falta de requerimento, em seu prejuízo. (NR)Art. 479. Durante o julgamento não será permitida a leitura de documento ou a exibição de objeto que não tiver sido juntado aos autos com a antece-dência mínima de 3 (três) dias úteis, dando-se ciência à outra parte.Parágrafo único. Compreende-se na proibição deste artigo a leitura de jor-nais ou qualquer outro escrito, bem como a exibição de vídeos, gravações, fotograf ias, laudos, quadros, croqui ou qualquer outro meio assemelhado, cujo conteúdo versar sobre a matéria de fato submetida à apreciação e julgamento dos jurados. (NR)Art. 480. A acusação, a defesa e os jurados poderão, a qualquer momento e por intermédio do juiz presidente, pedir ao orador que indique a folha dos autos onde se encontra a peça por ele lida ou citada, facultando-se, ainda, aos jurados solicitar-lhe, pelo mesmo meio, o esclarecimento de fato por ele alegado.§ 1º Concluídos os debates, o presidente indagará dos jurados se estão habilitados a julgar ou se necessitam de outros esclarecimentos.§ 2º Se houver dúvida sobre questão de fato, o presidente prestará escla-recimentos à vista dos autos.§ 3º Os jurados, nesta fase do procedimento, terão acesso aos autos e aos instrumentos do crime se solicitarem ao juiz presidente. (NR)Art. 481. Se a verif icação de qualquer fato, reconhecida como essencial para o julgamento da causa, não puder ser realizada imediatamente, o juiz presidente dissolverá o Conselho, ordenando a realização das diligências entendidas necessárias.

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Parágrafo único. Se a diligência consistir na produção de prova pericial, o juiz presidente, desde logo, nomeará perito e formulará quesitos, facul-tando às partes também formulá-los e indicar assistentes técnicos, no prazo de 5 (cinco) dias. (NR)

Seção XIIIDo Questionário e sua Votação

Art. 482. O Conselho de Sentença será questionado sobre matéria de fato e se o acusado deve ser absolvido.Parágrafo único. Os quesitos serão redigidos em proposições af irmativas, simples e distintas, de modo que cada um deles possa ser respondido com suf iciente clareza e necessária precisão. Na sua elaboração, o presidente levará em conta os termos da pronúncia ou das decisões posteriores que julgaram admissível a acusação, do interrogatório e das alegações das partes. (NR)Art. 483. Os quesitos serão formulados na seguinte ordem, indagando sobre:I – a materialidade do fato;II – a autoria ou participação;III – se o acusado deve ser absolvido;IV – se existe causa de diminuição de pena alegada pela defesa;V – se existe circunstância qualif icadora ou causa de aumento de pena reconhecidas na pronúncia ou em decisões posteriores que julgaram ad-missível a acusação.§ 1º A resposta negativa, de mais de 3 (três) jurados, a qualquer dos que-sitos referidos nos incisos I e II do caput deste artigo encerra a votação e implica a absolvição do acusado.§ 2º Respondidos af irmativamente por mais de 3 (três) jurados os quesitos relativos aos incisos I e II do caput deste artigo será formulado quesito com a seguinte redação:O jurado absolve o acusado?§ 3º Decidindo os jurados pela condenação, o julgamento prossegue, de-vendo ser formulados quesitos sobre:I – causa de diminuição de pena alegada pela defesa;II – circunstância qualif icadora ou causa de aumento de pena, reconhe-cidas na pronúncia ou em decisões posteriores que julgaram admissível a acusação.§ 4º Sustentada a desclassif icação da infração para outra de competência do juiz singular, será formulado quesito a respeito, para ser respondido após o 2º (segundo) ou 3º (terceiro) quesito, conforme o caso.§ 5º Sustentada a tese de ocorrência do crime na sua forma tentada ou ha-vendo divergência sobre a tipif icação do delito, sendo este da competência do Tribunal do Júri, o juiz formulará quesito acerca destas questões, para ser respondido após o segundo quesito.

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§ 6º Havendo mais de um crime ou mais de um acusado, os quesitos serão formulados em séries distintas. (NR)Art. 484. A seguir, o presidente lerá os quesitos e indagará das partes se têm requerimento ou reclamação a fazer, devendo qualquer deles, bem como a decisão, constar da ata.Parágrafo único. Ainda em plenário, o juiz presidente explicará aos jurados o signif icado de cada quesito. (NR)Art. 485. Não havendo dúvida a ser esclarecida, o juiz presidente, os jura-dos, o Ministério Público, o assistente, o querelante, o defensor do acusado, o escrivão e o of icial de justiça dirigir-se-ão à sala especial a f im de ser procedida a votação.§ 1º Na falta de sala especial, o juiz presidente determinará que o público se retire, permanecendo somente as pessoas mencionadas no caput deste artigo.§ 2º O juiz presidente advertirá as partes de que não será permitida qualquer intervenção que possa perturbar a livre manifestação do Conselho e fará retirar da sala quem se portar inconvenientemente. (NR)Art. 486. Antes de proceder-se à votação de cada quesito, o juiz presidente mandará distribuir aos jurados pequenas cédulas, feitas de papel opaco e facilmente dobráveis, contendo 7 (sete) delas a palavra sim, 7 (sete) a palavra não. (NR)Art. 487. Para assegurar o sigilo do voto, o of icial de justiça recolherá em urnas separadas as cédulas correspondentes aos votos e as não utilizadas. (NR)Art. 488. Após a resposta, verif icados os votos e as cédulas não utilizadas, o presidente determinará que o escrivão registre no termo a votação de cada quesito, bem como o resultado do julgamento.Parágrafo único. Do termo também constará a conferência das cédulas não utilizadas. (NR)Art. 489. As decisões do Tribunal do Júri serão tomadas por maioria de votos. (NR)Art. 490. Se a resposta a qualquer dos quesitos estiver em contradição com outra ou outras já dadas, o presidente, explicando aos jurados em que consiste a contradição, submeterá novamente à votação os quesitos a que se referirem tais respostas.Parágrafo único. Se, pela resposta dada a um dos quesitos, o presidente verif icar que f icam prejudicados os seguintes, assim o declarará, dando por f inda a votação. (NR)Art. 491. Encerrada a votação, será o termo a que se refere o art. 488 deste Código assinado pelo presidente, pelos jurados e pelas partes. (NR)

Seção XIVDa sentença

Art. 492. Em seguida, o presidente proferirá sentença que:I – no caso de condenação:

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a) f ixará a pena-base;b) considerará as circunstâncias agravantes ou atenuantes alegadas nos debates;c) imporá os aumentos ou diminuições da pena, em atenção às causas admitidas pelo júri;d) observará as demais disposições do art. 387 deste Código;e) mandará o acusado recolher-se ou recomendá-lo-á à prisão em que se encontra, se presentes os requisitos da prisão preventiva;f) estabelecerá os efeitos genéricos e específ icos da condenação;II – no caso de absolvição:a) mandará colocar em liberdade o acusado se por outro motivo não estiver preso;b) revogará as medidas restritivas provisoriamente decretadas;c) imporá, se for o caso, a medida de segurança cabível.§ 1º Se houver desclassif icação da infração para outra, de competência do juiz singular, ao presidente do Tribunal do Júri caberá proferir sentença em seguida, aplicando-se, quando o delito resultante da nova tipif icação for considerado pela lei como infração penal de menor potencial ofensivo, o disposto nos arts. 69 e seguintes da Lei nº 9.099, de 26 de setembro de 1995.§ 2º Em caso de desclassif icação, o crime conexo que não seja doloso contra a vida será julgado pelo juiz presidente do Tribunal do Júri, aplicando-se, no que couber, o disposto no § 1º deste artigo. (NR)Art. 493. A sentença será lida em plenário pelo presidente antes de encerrada a sessão de instrução e julgamento. (NR)

Seção XVDa Ata dos Trabalhos

Art. 494. De cada sessão de julgamento o escrivão lavrará ata, assinada pelo presidente e pelas partes. (NR)Art. 495. A ata descreverá f ielmente todas as ocorrências, mencionando obrigatoriamente:I – a data e a hora da instalação dos trabalhos;II – o magistrado que presidiu a sessão e os jurados presentes;III – os jurados que deixaram de comparecer, com escusa ou sem ela, e as sanções aplicadas;IV – o ofício ou requerimento de isenção ou dispensa;V – o sorteio dos jurados suplentes;VI – o adiamento da sessão, se houver ocorrido, com a indicação do motivo;VII – a abertura da sessão e a presença do Ministério Público, do querelante e do assistente, se houver, e a do defensor do acusado;VIII – o pregão e a sanção imposta, no caso de não comparecimento;

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IX – as testemunhas dispensadas de depor;X – o recolhimento das testemunhas a lugar de onde umas não pudessem ouvir o depoimento das outras;XI – a verif icação das cédulas pelo juiz presidente;XII – a formação do Conselho de Sentença, com o registro dos nomes dos jurados sorteados e recusas;XIII – o compromisso e o interrogatório, com simples referência ao termo;XIV – os debates e as alegações das partes com os respectivos fundamentos;XV – os incidentes;XVI – o julgamento da causa; XVII – a publicidade dos atos da instrução plenária, das diligências e da sentença. (NR)Art. 496. A falta da ata sujeitará o responsável a sanções administrativa e penal. (NR)

Seção XVIDas Atribuições do Presidente do Tribunal do Júri

Art. 497. São atribuições do juiz presidente do Tribunal do Júri, além de outras expressamente referidas neste Código:I – regular a polícia das sessões e prender os desobedientes;II – requisitar o auxílio da força pública, que f icará sob sua exclusiva autoridade;III – dirigir os debates, intervindo em caso de abuso, excesso de linguagem ou mediante requerimento de uma das partes;IV – resolver as questões incidentes que não dependam de pronunciamento do júri;V – nomear defensor ao acusado, quando considerá-lo indefeso, podendo, neste caso, dissolver o Conselho e designar novo dia para o julgamento, com a nomeação ou a constituição de novo defensor;VI – mandar retirar da sala o acusado que dif icultar a realização do julga-mento, o qual prosseguirá sem a sua presença;VII – suspender a sessão pelo tempo indispensável à realização das diligên-cias requeridas ou entendidas necessárias, mantida a incomunicabilidade dos jurados;VIII – interromper a sessão por tempo razoável, para proferir sentença e para repouso ou refeição dos jurados;IX – decidir, de ofício, ouvidos o Ministério Público e a defesa, ou a reque-rimento de qualquer destes, a argüição de extinção de punibilidade;X – resolver as questões de direito suscitadas no curso do julgamento;XI – determinar, de ofício ou a requerimento das partes ou de qualquer jurado, as diligências destinadas a sanar nulidade ou a suprir falta que prejudique o esclarecimento da verdade;

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XII – regulamentar, durante os debates, a intervenção de uma das par-tes, quando a outra estiver com a palavra, podendo conceder até 3 (três) minutos para cada aparte requerido, que serão acrescidos ao tempo desta última. (NR)”

Art. 2º O art. 581 do Decreto-Lei nº 3.689, de 3 de outubro de 1941 – Código de Processo Penal, passa a vigorar com a seguinte redação:

Art. 581 ....................................................................................................... ....................................................................................................................IV – que pronunciar o réu; ....................................................................................................................VI – (revogado); ....................................................................................................................

Art. 3º Esta Lei entra em vigor 60 (sessenta) dias após a data de sua publica-ção.

Art. 4º Ficam revogados o inciso VI do caput do art. 581 e o Capítulo IV do Título II do Livro III, ambos do Decreto-Lei nº 3.689, de 3 de outubro de 1941 – Código de Processo Penal.

Brasília, 9 de junho de 2008; 187º da Independência e 120º da República.

LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA Tarso Genro

LEI Nº 11.690, DE 9 JUNHO DE 2008

Altera dispositivos do Decreto-Lei nº 3.689, de 3 de outubro de 1941 – Código de Processo Penal, relativos à pro-va, e dá outras providências.

O PRESIDENTE DA REPÚBLICA: Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei:

Art. 1º Os arts. 155, 156, 157, 159, 201, 210, 212, 217 e 386 do Decreto-Lei nº 3.689, de 3 de outubro de 1941 – Código de Processo Penal, passam a vigorar com as seguintes alterações:

Art. 155. O juiz formará sua convicção pela livre apreciação da prova produzida em contraditório judicial, não podendo fundamentar sua deci-são exclusivamente nos elementos informativos colhidos na investigação, ressalvadas as provas cautelares, não repetíveis e antecipadas.

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Parágrafo único. Somente quanto ao estado das pessoas serão observadas as restrições estabelecidas na lei civil.Parágrafo único. Somente quanto ao estado das pessoas serão observadas as restrições estabelecidas na lei civil.Art. 156. A prova da alegação incumbirá a quem a f izer, sendo, porém, facultado ao juiz de ofício: I – ordenar, mesmo antes de iniciada a ação penal, a produção antecipada de provas consideradas urgentes e relevantes, observando a necessidade, adequação e proporcionalidade da medida; II – determinar, no curso da instrução, ou antes de proferir sentença, a reali-zação de diligências para dirimir dúvida sobre ponto relevante.II – determinar, no curso da instrução, ou antes de proferir sentença, a reali-zação de diligências para dirimir dúvida sobre ponto relevante.Art. 157. São inadmissíveis, devendo ser desentranhadas do processo, as provas ilícitas, assim entendidas as obtidas em violação a normas cons-titucionais ou legais. § 1º São também inadmissíveis as provas derivadas das ilícitas, salvo quando não evidenciado o nexo de causalidade entre umas e outras, ou quando as derivadas puderem ser obtidas por uma fonte independente das primeiras. § 2º Considera-se fonte independente aquela que por si só, seguindo os trâmites típicos e de praxe, próprios da investigação ou instrução criminal, seria capaz de conduzir ao fato objeto da prova.§ 3º Preclusa a decisão de desentranhamento da prova declarada inad-missível, esta será inutilizada por decisão judicial, facultado às partes acompanhar o incidente. § 4º (Vetado)Art. 159. O exame de corpo de delito e outras perícias serão realizados por perito of icial, portador de diploma de curso superior. § 1º Na falta de perito of icial, o exame será realizado por 2 (duas) pessoas idôneas, portadoras de diploma de curso superior preferencialmente na área específ ica, dentre as que tiverem habilitação técnica relacionada com a natureza do exame. § 2º Os peritos não of iciais prestarão o compromisso de bem e f ielmente desempenhar o encargo. § 3º Serão facultadas ao Ministério Público, ao assistente de acusação, ao ofendido, ao querelante e ao acusado a formulação de quesitos e indi-cação de assistente técnico. § 4º O assistente técnico atuará a partir de sua admissão pelo juiz e após a conclusão dos exames e elaboração do laudo pelos peritos of iciais, sendo as partes intimadas desta decisão. § 5º Durante o curso do processo judicial, é permitido às partes, quanto à perícia:

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I – requerer a oitiva dos peritos para esclarecerem a prova ou para responde-rem a quesitos, desde que o mandado de intimação e os quesitos ou questões a serem esclarecidas sejam encaminhados com antecedência mínima de 10 (dez) dias, podendo apresentar as respostas em laudo complementar; II – indicar assistentes técnicos que poderão apresentar pareceres em prazo a ser f ixado pelo juiz ou ser inquiridos em audiência. § 6º Havendo requerimento das partes, o material probatório que serviu de base à perícia será disponibilizado no ambiente do órgão of icial, que manterá sempre sua guarda, e na presença de perito of icial, para exame pelos assistentes, salvo se for impossível a sua conservação. § 7º Tratando-se de perícia complexa que abranja mais de uma área de conhecimento especializado, poder-se-á designar a atuação de mais de um perito of icial, e a parte indicar mais de um assistente técnico.

CAPÍTULO VDo Ofendido

Art. 201. Sempre que possível, o ofendido será qualif icado e perguntado sobre as circunstâncias da infração, quem seja ou presuma ser o seu autor, as provas que possa indicar, tomando-se por termo as suas declarações. § 1º Se, intimado para esse f im, deixar de comparecer sem motivo justo, o ofendido poderá ser conduzido à presença da autoridade. § 2º O ofendido será comunicado dos atos processuais relativos ao ingresso e à saída do acusado da prisão, à designação de data para audiência e à sentença e respectivos acórdãos que a mantenham ou modif iquem. § 3º As comunicações ao ofendido deverão ser feitas no endereço por ele in-dicado, admitindo-se, por opção do ofendido, o uso de meio eletrônico. § 4º Antes do início da audiência e durante a sua realização, será reservado espaço separado para o ofendido. § 5º Se o juiz entender necessário, poderá encaminhar o ofendido para atendimento multidisciplinar, especialmente nas áreas psicossocial, de assistência jurídica e de saúde, a expensas do ofensor ou do Estado. § 6º O juiz tomará as providências necessárias à preservação da intimidade, vida privada, honra e imagem do ofendido, podendo, inclusive, determinar o segredo de justiça em relação aos dados, depoimentos e outras informações constantes dos autos a seu respeito para evitar sua exposição aos meios de comunicação.§ 6º O juiz tomará as providências necessárias à preservação da intimidade, vida privada, honra e imagem do ofendido, podendo, inclusive, determinar o segredo de justiça em relação aos dados, depoimentos e outras informações constantes dos autos a seu respeito para evitar sua exposição aos meios de comunicação.Art. 210. As testemunhas serão inquiridas cada uma de per si, de modo que umas não saibam nem ouçam os depoimentos das outras, devendo o juiz adverti-las das penas cominadas ao falso testemunho.

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Parágrafo único. Antes do início da audiência e durante a sua realização, serão reservados espaços separados para a garantia da incomunicabilidade das testemunhas.Parágrafo único. Antes do início da audiência e durante a sua realização, serão reservados espaços separados para a garantia da incomunicabilidade das testemunhas.Art. 212. As perguntas serão formuladas pelas partes diretamente à tes-temunha, não admitindo o juiz aquelas que puderem induzir a resposta, não tiverem relação com a causa ou importarem na repetição de outra já respondida. Parágrafo único. Sobre os pontos não esclarecidos, o juiz poderá comple-mentar a inquirição.Parágrafo único. Sobre os pontos não esclarecidos, o juiz poderá comple-mentar a inquirição.Art. 217. Se o juiz verif icar que a presença do réu poderá causar humilhação, temor, ou sério constrangimento à testemunha ou ao ofendido, de modo que prejudique a verdade do depoimento, fará a inquirição por videoconferência e, somente na impossibilidade dessa forma, determinará a retirada do réu, prosseguindo na inquirição, com a presença do seu defensor. Parágrafo único. A adoção de qualquer das medidas previstas no caput deste artigo deverá constar do termo, assim como os motivos que a de-terminaram.Parágrafo único. A adoção de qualquer das medidas previstas no caput deste artigo deverá constar do termo, assim como os motivos que a de-terminaram.Art. 386 .......................................................................................................IV – estar provado que o réu não concorreu para a infração penal; V – não existir prova de ter o réu concorrido para a infração penal; VI – existirem circunstâncias que excluam o crime ou isentem o réu de pena (arts. 20, 21, 22, 23, 26 e § 1º do art. 28, todos do Código Penal), ou mesmo se houver fundada dúvida sobre sua existência; VII – não existir prova suf iciente para a condenação. Parágrafo único........................................................................................... ....................................................................................................................II – ordenará a cessação das medidas cautelares e provisoriamente aplica-das; ........................................................................................................... (NR)

Art. 2º Aqueles peritos que ingressaram sem exigência do diploma de curso su-perior até a data de entrada em vigor desta Lei continuarão a atuar exclusivamente nas respectivas áreas para as quais se habilitaram, ressalvados os peritos médicos.

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Art. 3º Esta Lei entra em vigor 60 (sessenta) dias após a data de sua publi-cação.

Brasília, 9 de junho de 2008; 187º da Independência e 120º da República.

LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA Tarso Genro

José Antonio Dias Toffoli

LEI Nº 11.719, DE 20 JUNHO DE 2008

Altera dispositivos do Decreto-Lei nº 3.689, de 3 de outubro de 1941 – Código de Processo Penal, relativos à sus-pensão do processo, emendatio libelli, mutatio libelli e aos pro-cedimentos.

O PRESIDENTE DA REPÚBLICA: Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei:

Art. 1º Os arts. 63, 257, 265, 362, 363, 366, 383, 384, 387, 394 a 405, 531 a 538 do Decreto-Lei nº 3.689, de 3 de outubro de 1941 – Código de Processo Penal, passam a vigorar com a seguinte redação, acrescentando-se o art. 396-A:

Art. 63 .........................................................................................................Parágrafo único. Transitada em julgado a sentença condenatória, a execução poderá ser efetuada pelo valor f ixado nos termos do inciso IV do caput do art. 387 deste Código sem prejuízo da liquidação para a apuração do dano efetivamente sofrido.Parágrafo único. Transitada em julgado a sentença condenatória, a execução poderá ser efetuada pelo valor f ixado nos termos do inciso IV do caput do art. 387 deste Código sem prejuízo da liquidação para a apuração do dano efetivamente sofrido.Art. 257. Ao Ministério Público cabe: I – promover, privativamente, a ação penal pública, na forma estabelecida neste Código; e II – f iscalizar a execução da lei.Art. 265. O defensor não poderá abandonar o processo senão por motivo imperioso, comunicado previamente o juiz, sob pena de multa de 10 (dez) a 100 (cem) salários mínimos, sem prejuízo das demais sanções cabíveis. § 1º A audiência poderá ser adiada se, por motivo justif icado, o defensor não puder comparecer.

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§ 2º Incumbe ao defensor provar o impedimento até a abertura da audiên-cia. Não o fazendo, o juiz não determinará o adiamento de ato algum do processo, devendo nomear defensor substituto, ainda que provisoriamente ou só para o efeito do ato.§ 2º Incumbe ao defensor provar o impedimento até a abertura da audiên-cia. Não o fazendo, o juiz não determinará o adiamento de ato algum do processo, devendo nomear defensor substituto, ainda que provisoriamente ou só para o efeito do ato.Art. 362. Verif icando que o réu se oculta para não ser citado, o of icial de justiça certif icará a ocorrência e procederá à citação com hora certa, na forma estabelecida nos arts. 227 a 229 da Lei nº 5.869, de 11 de janeiro de 1973 – Código de Processo Civil. Parágrafo único. Completada a citação com hora certa, se o acusado não comparecer, ser-lhe-á nomeado defensor dativo.Parágrafo único. Completada a citação com hora certa, se o acusado não comparecer, ser-lhe-á nomeado defensor dativo.Art. 363. O processo terá completada a sua formação quando realizada a citação do acusado. I – (Revogado); II – (Revogado). § 1º Não sendo encontrado o acusado, será procedida a citação por edi-tal. § 2º (Vetado)§ 3º (Vetado)§ 4º Comparecendo o acusado citado por edital, em qualquer tempo, o pro-cesso observará o disposto nos arts. 394 e seguintes deste Código.Art. 366. (Vetado)§ 1º (Revogado). § 2º (Revogado).Art. 383. O juiz, sem modif icar a descrição do fato contida na denúncia ou queixa, poderá atribuir-lhe def inição jurídica diversa, ainda que, em conseqüência, tenha de aplicar pena mais grave. § 1º Se, em conseqüência de def inição jurídica diversa, houver possibili-dade de proposta de suspensão condicional do processo, o juiz procederá de acordo com o disposto na lei. § 2º Tratando-se de infração da competência de outro juízo, a este serão encaminhados os autos.Art. 384. Encerrada a instrução probatória, se entender cabível nova def inição jurídica do fato, em conseqüência de prova existente nos autos de elemento ou circunstância da infração penal não contida na acusação, o Ministério Público deverá aditar a denúncia ou queixa, no prazo de 5 (cinco) dias, se em virtude desta houver sido instaurado o processo em

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crime de ação pública, reduzindo-se a termo o aditamento, quando feito oralmente. § 1º Não procedendo o órgão do Ministério Público ao aditamento, aplica-se o art. 28 deste Código. § 2º Ouvido o defensor do acusado no prazo de 5 (cinco) dias e admitido o aditamento, o juiz, a requerimento de qualquer das partes, designará dia e hora para continuação da audiência, com inquirição de testemunhas, novo interrogatório do acusado, realização de debates e julgamento. § 3º Aplicam-se as disposições dos §§ 1º e 2º do art. 383 ao caput deste artigo. § 4º Havendo aditamento, cada parte poderá arrolar até 3 (três) testemu-nhas, no prazo de 5 (cinco) dias, f icando o juiz, na sentença, adstrito aos termos do aditamento. § 5º Não recebido o aditamento, o processo prosseguirá.Art. 387. ..................................................................................................... ....................................................................................................................II – mencionará as outras circunstâncias apuradas e tudo o mais que deva ser levado em conta na aplicação da pena, de acordo com o disposto nos arts. 59 e 60 do Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940 – Código Penal; III – aplicará as penas de acordo com essas conclusões; IV – f ixará valor mínimo para reparação dos danos causados pela infração, considerando os prejuízos sofridos pelo ofendido; ....................................................................................................................Parágrafo único. O juiz decidirá, fundamentadamente, sobre a manutenção ou, se for o caso, imposição de prisão preventiva ou de outra medida caute-lar, sem prejuízo do conhecimento da apelação que vier a ser interposta.Parágrafo único. O juiz decidirá, fundamentadamente, sobre a manutenção ou, se for o caso, imposição de prisão preventiva ou de outra medida caute-lar, sem prejuízo do conhecimento da apelação que vier a ser interposta.Art. 394. O procedimento será comum ou especial. § 1º O procedimento comum será ordinário, sumário ou sumaríssimo: I – ordinário, quando tiver por objeto crime cuja sanção máxima cominada for igual ou superior a 4 (quatro) anos de pena privativa de liberdade; II – sumário, quando tiver por objeto crime cuja sanção máxima cominada seja inferior a 4 (quatro) anos de pena privativa de liberdade; III – sumaríssimo, para as infrações penais de menor potencial ofensivo, na forma da lei. § 2º Aplica-se a todos os processos o procedimento comum, salvo dispo-sições em contrário deste Código ou de lei especial. § 3º Nos processos de competência do Tribunal do Júri, o procedimento observará as disposições estabelecidas nos arts. 406 a 497 deste Código.

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§ 4º As disposições dos arts. 395 a 398 deste Código aplicam-se a todos os procedimentos penais de primeiro grau, ainda que não regulados neste Código. § 5º Aplicam-se subsidiariamente aos procedimentos especial, sumário e sumaríssimo as disposições do procedimento ordinário.Art. 395. A denúncia ou queixa será rejeitada quando: I – for manifestamente inepta; II – faltar pressuposto processual ou condição para o exercício da ação penal; ou III – faltar justa causa para o exercício da ação penal. Parágrafo único. (Revogado).Art. 396. Nos procedimentos ordinário e sumário, oferecida a denúncia ou queixa, o juiz, se não a rejeitar liminarmente, recebê-la-á e ordenará a citação do acusado para responder à acusação, por escrito, no prazo de 10 (dez) dias. Parágrafo único. No caso de citação por edital, o prazo para a defesa começará a fl uir a partir do comparecimento pessoal do acusado ou do defensor constituído.Art. 396-A. Na resposta, o acusado poderá argüir preliminares e alegar tudo o que interesse à sua defesa, oferecer documentos e justif icações, especif icar as provas pretendidas e arrolar testemunhas, qualif icando-as e requerendo sua intimação, quando necessário. § 1º A exceção será processada em apartado, nos termos dos arts. 95 a 112 deste Código. § 2º Não apresentada a resposta no prazo legal, ou se o acusado, citado, não constituir defensor, o juiz nomeará defensor para oferecê-la, conce-dendo-lhe vista dos autos por 10 (dez) dias.Art. 397. Após o cumprimento do disposto no art. 396-A, e parágrafos, deste Código, o juiz deverá absolver sumariamente o acusado quando verif icar: I – a existência manifesta de causa excludente da ilicitude do fato; II – a existência manifesta de causa excludente da culpabilidade do agente, salvo inimputabilidade; III – que o fato narrado evidentemente não constitui crime; ou IV – extinta a punibilidade do agente.IV – extinta a punibilidade do agente.Art. 398. (Revogado).Art. 399. Recebida a denúncia ou queixa, o juiz designará dia e hora para a audiência, ordenando a intimação do acusado, de seu defensor, do Mi-nistério Público e, se for o caso, do querelante e do assistente. § 1º O acusado preso será requisitado para comparecer ao interrogatório, devendo o poder público providenciar sua apresentação. § 2º O juiz que presidiu a instrução deverá proferir a sentença.

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Art. 400. Na audiência de instrução e julgamento, a ser realizada no prazo máximo de 60 (sessenta) dias, proceder-se-á à tomada de declarações do ofendido, à inquirição das testemunhas arroladas pela acusação e pela defesa, nesta ordem, ressalvado o disposto no art. 222 deste Código, bem como aos esclarecimentos dos peritos, às acareações e ao reconhecimento de pessoas e coisas, interrogando-se, em seguida, o acusado. § 1º As provas serão produzidas numa só audiência, podendo o juiz indeferir as consideradas irrelevantes, impertinentes ou protelatórias. § 2º Os esclarecimentos dos peritos dependerão de prévio requerimento das partes.Art. 401. Na instrução poderão ser inquiridas até 8 (oito) testemunhas arroladas pela acusação e 8 (oito) pela defesa.§ 1º Nesse número não se compreendem as que não prestem compromisso e as referidas. § 2º A parte poderá desistir da inquirição de qualquer das testemunhas arroladas, ressalvado o disposto no art. 209 deste Código.Art. 402. Produzidas as provas, ao f inal da audiência, o Ministério Pú-blico, o querelante e o assistente e, a seguir, o acusado poderão requerer diligências cuja necessidade se origine de circunstâncias ou fatos apurados na instrução.Art. 403. Não havendo requerimento de diligências, ou sendo indeferido, serão oferecidas alegações f inais orais por 20 (vinte) minutos, respecti-vamente, pela acusação e pela defesa, prorrogáveis por mais 10 (dez), proferindo o juiz, a seguir, sentença. § 1º Havendo mais de um acusado, o tempo previsto para a defesa de cada um será individual. § 2º Ao assistente do Ministério Público, após a manifestação desse, serão concedidos 10 (dez) minutos, prorrogando-se por igual período o tempo de manifestação da defesa. § 3º O juiz poderá, considerada a complexidade do caso ou o número de acusados, conceder às partes o prazo de 5 (cinco) dias sucessivamente para a apresentação de memoriais. Nesse caso, terá o prazo de 10 (dez) dias para proferir a sentença.Art. 404. Ordenado diligência considerada imprescindível, de ofício ou a re-querimento da parte, a audiência será concluída sem as alegações f inais. Parágrafo único. Realizada, em seguida, a diligência determinada, as partes apresentarão, no prazo sucessivo de 5 (cinco) dias, suas alegações f inais, por memorial, e, no prazo de 10 (dez) dias, o juiz proferirá a sentença.Art. 405. Do ocorrido em audiência será lavrado termo em livro próprio, assinado pelo juiz e pelas partes, contendo breve resumo dos fatos rele-vantes nela ocorridos. § 1º Sempre que possível, o registro dos depoimentos do investigado, indiciado, ofendido e testemunhas será feito pelos meios ou recursos de

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gravação magnética, estenotipia, digital ou técnica similar, inclusive au-diovisual, destinada a obter maior f idelidade das informações. § 2º No caso de registro por meio audiovisual, será encaminhado às partes cópia do registro original, sem necessidade de transcrição.Art. 531. Na audiência de instrução e julgamento, a ser realizada no prazo máximo de 30 (trinta) dias, proceder-se-á à tomada de declarações do ofen-dido, se possível, à inquirição das testemunhas arroladas pela acusação e pela defesa, nesta ordem, ressalvado o disposto no art. 222 deste Código, bem como aos esclarecimentos dos peritos, às acareações e ao reconhe-cimento de pessoas e coisas, interrogando-se, em seguida, o acusado e procedendo-se, f inalmente, ao debate.Art. 532. Na instrução, poderão ser inquiridas até 5 (cinco) testemunhas arroladas pela acusação e 5 (cinco) pela defesa.Art. 533. Aplica-se ao procedimento sumário o disposto nos parágrafos do art. 400 deste Código. § 1º (Revogado). § 2º (Revogado). § 3º (Revogado). § 4º (Revogado).Art. 534. As alegações f inais serão orais, concedendo-se a palavra, res-pectivamente, à acusação e à defesa, pelo prazo de 20 (vinte) minutos, prorrogáveis por mais 10 (dez), proferindo o juiz, a seguir, sentença. § 1º Havendo mais de um acusado, o tempo previsto para a defesa de cada um será individual. § 2º Ao assistente do Ministério Público, após a manifestação deste, serão concedidos 10 (dez) minutos, prorrogando-se por igual período o tempo de manifestação da defesa.Art. 535. Nenhum ato será adiado, salvo quando imprescindível a prova faltante, determinando o juiz a condução coercitiva de quem deva com-parecer. § 1º (Revogado). § 2º (Revogado).Art. 536. A testemunha que comparecer será inquirida, independentemente da suspensão da audiência, observada em qualquer caso a ordem estabele-cida no art. 531 deste Código.Art. 537. (Revogado).Art. 538. Nas infrações penais de menor potencial ofensivo, quando o juizado especial criminal encaminhar ao juízo comum as peças existentes para a adoção de outro procedimento, observar-se-á o procedimento sumário previsto neste Capítulo. § 1º (Revogado). § 2º (Revogado). § 3º (Revogado). § 4º (Revogado).

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Art. 2º Esta Lei entra em vigor 60 (sessenta) dias após a data de sua publica-ção.

Art. 3º Ficam revogados os arts. 43, 398, 498, 499, 500, 501, 502, 537, 539, 540, 594, os §§ 1º e 2º do art. 366, os §§ 1º a 4º do art. 533, os §§ 1º e 2º do art. 535 e os §§ 1º a 4º do art. 538 do Decreto-Lei nº 3.689, de 3 de outubro de 1941 – Có-digo de Processo Penal.

Brasília, 20 de junho de 2008; 187º da Independência e 120º da República.

LUIZ INÁCIO LULA DA SILVATarso Genro

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