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SUMRIONoes de Direito Processual PenalInqurito policial Notitia criminis ........................................................................................ 7 Ao penal Espcies ................................................................................................. 15 Jurisdio Competncia .......................................................................................... 29 Prova (artigos 158 a 184 do CPP) ................................................................ 40 Priso em flagrante ....................................................................................... 42 Processos dos crimes de responsabilidade dos funcionrios pblicos ......... 44

3NOES DIREITO PROCESSUAL PENALThiago Andr Pierobom de vila/Zlio Maia da Rochas polcias civis, dirigidas por delegados de polcia de carreira, incumbem, ressalvada a competncia da Unio, as funes de polcia judiciria e a apurao de infraes penais, exceto as militares.

INQURITO POLICIALINTRODUO Noes Introdutrias O inqurito policial o marco inicial na apurao do fato criminoso objeto de investigao. Pode ser conceituado como o conjunto de informaes e diligncias realizadas pela polcia judiciria com a finalidade de apurar e elucidar os delitos, identificando o possvel autor, por meio de indcios da participao no fato delituoso, apurando fatos e reunindo o maior nmero possvel de elementos que formaro o conjunto probatrio contra o investigado, para que o titular da ao penal possa postular em juzo a aplicao da lei ao caso concreto. Tem por objetivo fornecer os elementos suficientes para que o Ministrio Pblico (nas aes penais pblicas) e o querelante (autor, nas aes penais privadas) ofeream, se for o caso, a denncia ou a queixa, respectivamente. Polcia Polcia uma instituio de direito pblico destinada a manter a paz pblica e a segurana individual (Mirabete). Os rgos encarregados pela Constituio Federal para a manuteno da segurana pblica so os seguintes (art. 144, caput, CF/88): I Polcia Federal; II Polcia Rodoviria Federal; III Polcia Ferroviria Federal; IV Polcias Civis; V Polcias Militares e Corpos de Bombeiros Militares. Existem duas espcies de polcia: polcia administrativa e polcia judiciria. A polcia administrativa ou de segurana possui atuao preventiva, evitando a ocorrncia do ilcito. Possui atuao mais discricionria, para evitar a prtica de atos lesivos. Normalmente, no mbito penal, atua no policiamento ostensivo. Dentre os rgos acima elencados, exercem a funo de polcia administrativa a PRF, PFF e a PM. A polcia judiciria, como o prprio nome diz, possui a funo de auxiliar a justia. Atua quando o crime j ocorreu, no intuito de colher elementos de prova do crime para eventual ajuizamento de ao penal. Segundo a Constituio Federal, exercem a funo de polcia judiciria a Polcia Federal (CF/88, art. 144, 1, I), no mbito da Justia Federal, e as Polcias Civis (CF/88, art. 144, 4), no mbito da Justia Estadual. Segundo alguns autores, existiria um terceiro tipo de polcia, a polcia de investigao. Assim, a atuao da polcia dando cumprimento s decises judiciais seria uma atuao de polcia judiciria. J a atuao da polcia investigando as infraes penais seria uma atuao de polcia de investigao. A interpretao realizada com base no disposto no art. 144, 4, da CF/88, in verbis:

Da mesma forma, em relao Polcia Federal, incumbe a apurao das infraes penais contra a ordem poltica e social ou em detrimento de bens, servios e interesses da Unio ou de suas entidades autrquicas e empresas pblicas, assim como outras infraes, cuja prtica tenha repercusso, interestadual ou internacional e exija represso uniforme, segundo se dispuser em lei (CF/88, art. 144, 1, I), bem como a funo de polcia judiciria da Unio (CF/88, art. 144, 1, IV). Registre-se que a maioria dos autores no realiza distino entre as duas atividades, nominando ambas como o exerccio da polcia judiciria. A Polcia Federal tambm exerce algumas funes de polcia administrativa, como a preveno e represso ao trfico ilcito de entorpecentes e drogas afins, o contrabando e descaminho, sem prejuzo da ao fazendria e de outros rgos pblicos nas respectivas reas de competncia, bem como exercer as funes de polcia martima, aeroporturia e de fronteiras (CF/88, art. 144, 1, incisos II e III, respectivamente). Natureza do Inqurito Policial O inqurito policial no jurisdio, mas um procedimento persecutrio de carter administrativo instaurado pela autoridade policial. Portanto, no existe um ru, e sim um investigado, que a pessoa suspeita da prtica do delito. Nos termos da exposio de motivos do prprio Cdigo de Processo Penal, o inqurito policial um procedimento preliminar ou preparatrio da ao penal. Como instruo provisria, o inqurito policial pea que antecede propositura da ao penal, oferecendo uma garantia contra os apressados e errneos juzos, que poderiam advir no momento de trepidao moral causada pela proximidade do fato delituoso. Com isso, possvel que a autoridade tenha uma melhor viso do conjunto dos fatos, nas suas circunstncias objetivas e subjetivas. Segundo a exposio de motivos: Por mais perspicaz e circunspecta a autoridade que dirige a investigao inicial, quando ainda perdura o alarma provocado pelo crime, est sujeita a equvocos ou falsos juzos, a priori, ou sugestes tendenciosas. No raro, preciso voltar atrs, refazer tudo, para que a investigao se oriente no rumo certo, at ento despercebido. Finalidade do Inqurito Policial O Inqurito Policial (IP) possui dupla finalidade. A primeira finalidade do IP fornecer subsdios para a formao da opinio delicti por parte do Ministrio Pblico ou do querelante. Opinio delicti o convencimento realizado pelo rgo de acusao no sentido de formar sua convico quanto existncia ou no do delito, diante dos elementos de informao que lhe so fornecidos.

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4Destarte, recebendo o rgo do MP os autos do inqurito policial, este ir se convencer se o delito efetivamente ocorreu ou no, viabilizando o oferecimento de acusao (denncia) ou o arquivamento do procedimento investigatrio. A outra finalidade do IP constituir a justa causa da ao penal, comprovando a materialidade do crime e indcios da autoria. Nenhuma acusao pode ser recebida pelo Judicirio sem que haja um mnimo de provas, ab initio, a fundamentar a acusao. A denncia ou queixa j deve vir respaldada por elementos de convico que a sustentem, demonstrando a possibilidade de sucesso da acusao. Uma acusao oferecida sem qualquer suporte indicirio mnimo deve ser rejeitada pelo juiz, por manifesta ausncia de justa causa (CPP, art. 43, III, 2 parte). Todavia, o IP no indispensvel para o ajuizamento da ao penal. Indispensvel que exista um mnimo de provas a justificar o recebimento da acusao. Caso j existam outras provas, que no estejam no bojo do inqurito, mas que por si s j justifiquem a ao penal, poder o rgo do Ministrio Pblico ou o querelante dispensar o IP e ajuizar a ao penal (denncia ou queixa, respectivamente) com base nestas outras peas de informao. Neste sentido, dispe expressamente o art. 46, 1, do CPP:Quando o Ministrio Pblico dispensar o inqurito policial, o prazo para o oferecimento da denncia contarse- da data em que tiver recebido as peas de informao ou a representao.

No mesmo sentido o STF:Inqurito. Dispensabilidade (STF). No essencial ao oferecimento da denncia a instaurao de inqurito policial, desde que a pea acusatria esteja sustentada por documentos suficientes caracterizao da materialidade do crime e indcios suficientes da autoria. (RTJ 76/741)

Outros exemplos de dispensa de IP: nos crimes de imprensa, basta a cpia do jornal que publicou a matria ofensiva e j estar provada a materialidade e a autoria do delito (Lei n 5.250/67, art. 43); nos crimes de abuso de autoridade, a lei prev a possibilidade do Ministrio Pblico oferecer a denncia com base na representao da vtima (Lei n 4.898/65, art. 12). Caractersticas So caractersticas do inqurito policial: procedimento escrito, sigiloso, obrigatrio para a autoridade policial, indisponvel, inquisitivo, discricionrio e auto-executvel. Apesar do contraditrio e da publicidade serem princpios consagrados no processo penal, so dispensados no inqurito policial, justamente por ser um procedimento administrativo, que antecede o processo propriamente dito e lhe d as provas e indcios, ou seja, procedimento e no processo. O inqurito policial essencialmente escrito, pois servir de base formao da pea inicial. sigiloso devido necessidade de elucidao do fato ou exigncia da sociedade, bem como para resguardar o investigado preservando seu estado de inocncia. Dependendo do tipoNOES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL

de delito, ter o inqurito de ser sigiloso, sob pena de restarem prejudicadas as atividades de apurao do fato. Isso no significa que o indiciado fique entregue a sua prpria sorte e desacompanhado de um advogado. Na verdade, a presena do advogado um direito do indiciado, no havendo, como no processo, a obrigatoriedade da presena do advogado. A presena do advogado no desenvolver do inqurito d ao indiciado maior segurana quanto aos meios utilizados na investigao. Evita-se com isso que autoridades policiais venham a induzir o indiciado ou testemunhas a declararem o que no tenham presenciado. preciso considerar, tambm, as eventuais violncias praticadas em delegacias para obter provas. Portanto, a presena do advogado no obrigatria na fase policial, mas recomenda-se a sua assistncia uma vez que uma prova mal produzida na delegacia muitas vezes no pode ser refeita em juzo, devido ao tempo transcorrido. Devese ressaltar, ainda, que na fase de delegacia as declaraes so merecedoras de crdito por terem sido prestadas no calor dos acontecimentos. Como ensina a doutrina, no inqurito, o indiciado objeto de investigao e no sujeito de direito. Registre-se, todavia, que o sigilo do inqurito no estende-se ao Juiz ou ao Ministrio Pblico, haja vista que o Juiz fiscal do princpio da legalidade, e o IP destina-se ao rgo de acusao, sendo o Ministrio Pblico o dominus litis na aes penais pblicas. Tambm no se estende ao advogado do investigado, que pode ter vista dos autos do inqurito, independentemente de procurao nos termos do Estatuto da OAB (Lei n 8.906/94, art. 7, XIV), exceto se o sigilo das investigaes for decretado pelo prprio Juiz. Somente pode ser presidido por delegado de polcia, necessariamente bacharel em Direito. O inqurito tambm indisponvel, no podendo ser arquivado pela autoridade policial (art. 17, CPP). Segundo o Supremo Tribunal Federal, aps ser arquivado o inqurito policial por despacho do juiz, a requerimento do promotor de justia, no pode a ao ser iniciada sem novas provas (cf. Smula n 524 do STF). O inqurito obrigatrio para a autoridade policial. Isto significa que, tomando conhecimento de um crime de ao penal pblica incondicionada, o delegado de polcia no possui qualquer discricionariedade em no instaurar o procedimento investigatrio. Lembre-se, todavia, que para o Ministrio Pblico o inqurito dispensvel, porquanto pode oferecer a denncia com base em outros elementos de informao. O inqurito policial tambm inquisitivo, pois nele no existe direito ao contraditrio ou ampla defesa. Neste sentido:Contraditrio no inqurito policial. Inexistncia (STF). A inaplicabilidade da garantia do contraditrio ao procedimento de investigao policial tem sido reconhecida tanto pela doutrina quanto pela jurisprudncia dos tribunais (RT 522/396), cujo magistrio tem acentuado que a garantia da ampla defesa traduz elemento essencial e exclusivo da persecuo penal em juzo. (RT 689/439)

Assim, o indiciado pode requerer a realizao de diligncias para a autoridade policial, as quais podero ser negadas caso a autoridade entenda serem tais diligncias

5impertinentes (CPP, art. 14). A nica exceo para a realizao do exame de corpo de delito (CPP, art. 184), pois nesta hiptese obrigatria sua realizao. Tambm, como conseqncia da inquisitoriedade do inqurito, no existe argio de suspeio da autoridade policial (CPP, art. 107). Todavia, existem inquritos com contraditrio. Exemplo: inqurito falimentar (contraditrio facultativo, nos termos da LF, art. 106); inqurito da Polcia Federal, a pedido do Ministro da Justia, para a expulso de estrangeiro (contraditrio obrigatrio Lei n 6.815/80, art. 184). O IP discricionrio, sendo conduzido a juzo da autoridade policial na forma e no modo que entender de direito, pois nele no h procedimento prvio a ser seguido ou percorrido. O estabelecido no art. 6 do CPP apenas um roteiro a ser seguido pela autoridade policial, segundo as peculiaridades de cada caso. Finalmente, o IP auto-executvel, podendo as diligncias serem realizadas diretamente pela autoridade policial, sem necessidade de autorizao judicial para cada ato investigatrio. Assim, a autoridade policial pode apreender objetos que tiverem relao com o delito, intimar testemunhas para prestar seus depoimentos, determinar a realizao de percias, etc. Ressalve-se apenas as garantidas constitucionais relativas inviolabilidade do domiclio, do sigilo das comunicaes telefnicas e da necessidade de autorizao judicial para as prises que no sejam em flagrante (preventiva ou temporria), ou outras expressamente previstas em lei. Justa Causa no Inqurito Policial O inqurito policial deve possuir justa causa para sua instaurao. Consideram-se requisitos mnimos de uma investigao: Fato constituir crime em tese. Exemplo: inadmissvel IP para investigar incesto, por tratar-se de fato atpico. Sinais da existncia do fato. No estar extinta a punibilidade. Exemplo: prescrio, decadncia, renncia ao direito de queixa (cf. art. 107 do CP). No ter sido o investigado j condenado ou absolvido pelo mesmo fato. Estarem presentes as condies de procedibilidade. Exemplo: representao da vtima, requisio do Ministro da Justia, entrada do autor do fato no territrio nacional (nas hipteses do art. 7, 3, II, do CP) Caso no haja justa causa para a instaurao do inqurito policial, o mesmo poder ter seu curso trancado pela impetrao de habeas corpus. No impedem a instaurao de inqurito policial o desconhecimento da autoria, ou a circunstncia de o fato tpico ter sido cometido com excludentes da ilicitude (CP, art. 23: estado de necessidade, legtima defesa, estrito cumprimento do dever legal, exerccio regular de direito). Competncia Dispe o art. 4 do CPP:Art. 4 A polcia judiciria ser exercida pelas autoridades policiais no territrio de suas respectivas circunscries e ter por fim a apurao das infraes penais e da sua autoria. Pargrafo nico. A competncia definida neste artigo no excluir a de autoridades administrativas a quem por lei seja cometida a mesma funo.

A despeito de o pargrafo nico definir que se trata de competncia da autoridade policial, melhor seria ter falado em atribuio, haja vista que competncia, em termos tcnicos, a delimitao da jurisdio e, portanto, s possui competncia a autoridade judiciria. Autoridades policiais e membros do Ministrio Pblico possuem atribuio. A regra geral para definio da atribuio o local do resultado do crime (ratione loci). Todavia, os estados podem criar tambm as delegacias especializadas (atribuio ratione materiae). Exemplo: delegacia de atendimento mulher, delegacia de txicos, delegacia de furto de veculos, etc. Dispe o art. 22 do CPP:Art. 22. No Distrito Federal e nas comarcas em que houver mais de uma circunscrio policial, a autoridade com exerccio em uma delas poder, nos inquritos a que esteja procedendo, ordenar diligncias em circunscrio de outra, independentemente de precatrias ou requisies, e bem assim providenciar, at que comparea a autoridade competente, sobre qualquer fato que ocorra em sua presena, noutra circunscrio.

Fora das hipteses do citado art. 22, caso a autoridade deva realizar diligncias no territrio de outra circunscrio, dever solicitar o colaborao da outra autoridade policial. Tratando-se de priso em flagrante, caso a autoridade policial esteja em perseguio, poder realizar a priso fora do territrio de sua circunscrio. Todavia, a autoridade competente para lavrar o auto de priso em flagrante ser a do local da priso (CPP, arts. 290 e 308). Registre-se que no existe o princpio do delegado natural. Assim, no gera nulidade do inqurito a sua realizao por autoridade incompetente. Nem mesmo na hiptese de priso em flagrante, no haver nulidade. Inquritos Extra-Policiais Conforme o pargrafo nico do art. 4 do CPP, podem existir inquritos realizados por outros rgos que no a polcia judiciria. Em uma abordagem panormica, veremos a seguir as vrias espcies de inqurito, que no tero aprofundado o estudo, pois limitamo-nos ao inqurito policial realizado pela polcia judicial (polcia civil ou federal). a) Judicial: que presidido pelo juiz de Direito, nos casos dos crimes falimentares (LF, arts. 103 a 108); b) Administrativo: que tem como objetivo apurar ilcitos administrativos; c) Civil: regido pela Lei n 7.347, de 24/6/85, que confere poderes ao Ministrio Pblico para conduzi-lo e apurar a responsabilidade por danos causados ao meio ambiente, ao consumidor, a bens e direitos de valor artstico, esttico, histrico, turstico e paisagstico, com a finalidade de ajuizar a ao civil pblica;

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6d) Militar (IPM): para os crimes que so da competncia da justia castrense; e) Infrao cometida na sede da Cmara dos Deputados, Senado Federal, STF, STJ, etc., o inqurito ser realizado pelo prprio rgo; f) Crime cometido por membro do Ministrio Pblico ou magistrado: o inqurito ser realizado no mbito da Procuradoria-Geral de Justia, perante o Tribunal; g) Parlamentares: elaborados por Comisses Parlamentares de Inqurito (CPIs). CPIs As Comisses Parlamentares de Inqurito (CPIs), nos termos da CF/88, art. 58, 3, possuem poderes de investigao prprios das autoridades judicirias. Quanto aos limites a estes poderes de investigao, o STF manifestou-se no seguinte sentido (MS 23.452, Rel. Min. Celso de Mello): 1) CPIs possuem poderes de investigao. Portanto, podem determinar a quebra do sigilo bancrio, fiscal e telefnico, desde que mediante deciso fundamentada. A ausncia de fundamentao torna invlido o ato. Por sigilo telefnico entende-se os extratos das contas. 2) CPIs no possuem poderes de acautelamento. Portanto, no podem determinar a indisponibilidade de bens, a priso preventiva, no podem formular acusaes nem punir delitos. 3) Existe um princpio constitucional de reserva de jurisdio. Assim, para determinadas decises, apenas a autoridade judiciria (em sentido estrito) seria competente. Exemplos de situaes em que as CPIs no possuem poder para determinar: busca domiciliar, interceptao telefnica e priso. Excetue-se a hiptese de priso em flagrante (Ex.: falso testemunho), pois este tipo de priso pode ser realizado por qualquer pessoa do povo, sem necessidade de autorizao judicial, nos termos do art. 301 do CPP. Valor probatrio do Inqurito Policial O inqurito policial pea de informao para o rgo de acusao. Mesmo as provas produzidas na fase pr-processual, o Juiz pode consider-las para fundamentar eventual condenao. Todavia, segundo o entendimento do STF, vedada a condenao apoiada exclusivamente nas provas do inqurito policial, pois em tal situao haveria violao ao princpio constitucional do contraditrio. Portanto, deve haver um mnimo de provas produzidas durante a ao penal, sob o crivo do contraditrio, para que, corroboradas pelas provas produzidas inquisitivamente durante as investigaes, justifiquem a condenao. Vcios Os vcios do inqurito no contaminam a futura ao penal. Portanto, o inqurito realizado por autoridade policial sem atribuies, o interrogatrio do indiciado menor sem a nomeao de curador ou outros vcios, no geram a nulidade do processo penal. Todavia, a nulidade de um ato especfico pode diminuir-lhe o valor probatrio. Por exemplo, a confisso realizada pelo indiciado menor que no foi assistido por curador, antes do advento do novo Cdigo Civil. Juizados Especias Criminais As infraes de menor potencial ofensivo sero julgadas pelo Juizado Especial Criminal. Na Justia Estadual, a Lei n 9.099/95 disciplina a matria. No mbito federal, foram criados pela Lei n 10.259/01. A Lei n 9.099/95 dispunha que se consideravam infraes de menor potencial ofensivo as contravenes penais e os crimes cuja pena mxima no excedesse a um ano de pena privativa de liberdade, excetuados os crimes com procedimento especial. Todavia, a Lei n 10.259/01, disps que se consideram infraes de menor potencial ofensivo, no mbito da Justia Federal, os crimes com pena mxima no superior a dois anos, sem excetuar os crimes sujeitos a procedimento especial. Assim, a doutrina e jurisprudncia majoritrias concluram que no podem haver dois conceitos de infrao de menor potencial ofensivo, um da justia estadual e outro da federal, em respeito ao princpio da isonomia. A valer o entendimento literal das leis, o desacato contra delegado da Polcia Federal seria crime de menor potencial ofensivo (pena mxima igual a dois anos), mas o desacato contra delegado de polcia civil no seria (pena superior a um ano). Assim, o entendimento j uniformizado pelo STJ no sentido que a Lei n 10.259/01 deu novo conceito de infrao de menor potencial ofensivo, extensivo Justia Estadual, considerando-se os crimes com pena mxima igual ou inferior a dois anos. Tambm o entendimento majoritrio tem sido no sentido de que os crimes com procedimento especial tambm seriam de competncia dos Juizados Especiais Criminais. Finalmente, em relao aos delitos com pena alternativa de multa e pena privativa de liberdade superior a dois anos. (Ex.: alguns crimes contra as relaes de consumo na Lei n 8.137/90, com pena de dois a cinco anos de recluso ou multa), entende-se que no seriam de competncia dos Juizados Especiais Criminais. Tratando-se de infraes a serem julgadas perante os Juizados Especiais Criminais, no haver a instaurao de inqurito policial, mas apenas de Termo Circunstanciado (TC). O TC uma narrao suscinta dos fatos, com a indicao das testemunhas, da vtima e do autor do fato. Havendo necessidade de exame de corpo de delito para leses fsicas, admite-se boletim mdico, ou seja, dispensa-se a tradicional percia do Instituto Mdico Legal (IML). Tambm no haver a priso em flagrante para as infraes de menor potencial ofensivo se o autor do fato se comprometer a comparecer em juzo. Dentre os principais crimes da competncia dos Juizados Especiais Criminais (delitos mais comuns), dentro da nova competncia determinada pela Lei n 10.259/01, destacamos os seguintes: Cdigo Penal Leso corporal leve (CP, art. 129, caput) Leso corporal culposa (CP, art. 129, 6) Omisso de socorro (CP, art. 135) Maus-tratos (CP, art. 136)

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7Rixa (CP, art. 137) Constrangimento ilegal (CP, art. 146) Ameaa (CP, art. 147) Violao de domiclio (CP, art. 150) Dano (CP, art. 163) Receptao culposa (CP, art. 180, 3) Ato obsceno (CP, art. 233) Adultrio (CP, art. 240) Abandono intelectual (CP, art. 246) Exerccio ilegal de medicina, arte dentria ou farmacutica (CP, art. 282) Curandeirismo (CP, art. 284) Falsa identidade (CP, arts. 307 e 308) Prevaricao (CP, art. 319) Usurpao de funo pblica (CP, art. 328) Resistncia (CP, art. 329) Desobedincia (CP, art. 330) Desacato (CP, art. 331) Comunicao falsa de crime ou contraveno (CP, art. 340) Auto-acusao falsa (CP, art. 341) Exerccio Arbitrrio das prprias razes (CP, art. 345) Todas as contravenes penais (DL n 3.688/41) Porte ilegal de arma (Lei 9.437/97, art. 10, caput) Disparo de arma (Lei 9.437/97, 1, III) Cdigo de Trnsito Brasileiro Leso corporal no trnsito (Lei n 9.503/97, art. 303) Omisso de socorro (art. 304) Fuga aps acidente (art. 305) Violao de proibio de dirigir (art. 307) Racha (art. 308) Direo sem habilitao com perigo de dano (art. 309) Emprstimo de veculo a pessoa que no pode dirigir (art. 310) Direo perigosa prxima a estabelecimentos (art. 311) Alterao de local de acidente (art. 312)Notitia criminis annima (TRF 5 regio): Padece de inconstitucionalidade o procedimento investigatrio que se origine de expediente delatrio annimo (art. 5, IV, CF/88). (JSTJ. 12/417)

NOTITIA CRIMINISA notitia criminis a notcia do crime. o conhecimento que se d pela autoridade policial de um fato aparentemente criminoso. A autoridade policial d incio s investigaes tendo por base a notitia criminis. Vrias so as formas dessa notcia chegar at a autoridade policial. Pode ocorrer quando, por qualquer meio, a autoridade policial tomar conhecimento do fato revestido de carter criminoso, podendo ser em suas atividades rotineiras, por acaso (notcia em jornal), ou ainda por provocao de terceiros que tomam conhecimento da infrao. A notitia criminis, ento, pode ser: a) notitia criminis de cognio direta ou imediata. Tambm chamada de espontnea ou inqualificada, onde a autoridade policial toma conhecimento diretamente ou por comunicao no formal do fato infringente da norma, seja atravs de suas atividades rotineiras, pelo noticirio televisivo, por meio da investigao da prpria polcia, por descoberta ocasional do corpo de delito e pela prpria vtima. Tambm considerada notitia criminis de cognio imediata a delao apcrifa, ou seja, annima.

Segundo alguns doutrinadores, nada impede que a autoridade policial, recebendo uma delao apcrifa realize, ex officio, diligncias para apurar o fato e, constatando a veracidade das informaes, instaure o inqurito policial. Assim, haver notitia criminis direta. b) notitia criminis indireta ou mediata. Comumente chamada de provocada, que ocorre quando h a provocao de algum nos termos da legislao processual penal. Acontece quando a comunicao do crime se d pela vtima, qualquer pessoa do povo (delatio criminis), requisio do juiz ou do Ministrio Pblico. c) notitia criminis coercitiva ou obrigatria. Ocorre quando se d a priso em flagrante delito, em que o agente pblico ou particular estar, ao efetuar a priso, levando autoridade policial a comunicao de um fato criminoso, o que acarretar, necessariamente, a cientificao desse fato criminoso. meio comum de instaurao a qualquer espcie de infrao, seja ao penal pblica condicionada ou incondicionada ou ao penal privada, desde que haja o flagrante delito. Considerando os autores que podem fazer a delatio criminis, temos: a) delatio criminis simples. Quando qualquer pessoa que tomar conhecimento do fato criminoso levar ao conhecimento da autoridade policial competente, podendo ser feita tanto por escrito quanto verbalmente. Tal somente poder ocorrer, frise, nos crimes de ao penal pblica. b) delatio criminis postulatria ou qualificada. Ocorre quando o ofendido ou seu representante legal, nos termos do art. 5, inciso II, do CPP, faz requerimento de instaurao do inqurito policial e tambm a comunicao do fato criminoso. Deve ser esclarecido que tal requerimento policial no se trata de representao, como originariamente v-se no jargo policial, pois esta, conforme veremos adiante no captulo da Ao Penal, um ato jurdico praticado pela vtima ou seu representante, como requisito de procedibilidade do inqurito policial e da ao penal pblica condicionada a representao (art. 5, 4). Neste caso, a vtima alm de comunicar o fato criminoso postula a instaurao do inqurito policial, exigindo providncias por parte da polcia. A notitia criminis provocada pode ser endereada tanto autoridade policial (CPP, art. 5), como ao Ministrio Pblico (CPP, arts. 27, 39 e 40) ou ao Juiz (CPP, art. 39). Verificando a autoridade policial que existe justa causa para a instaurao do inqurito policial (cf. item 4.1.6), dever instaurar o inqurito sob pena de incorrer, conforme a situao, em delito de prevaricao (CP, art. 319). Caso verifique que inexiste justa causa para a investigao, poder indeferir o pedido, cabendo recurso para o chefe de polcia, nos termos do art. 5, 2, do CPP. Todavia, havendo requisio do Juiz ou do Ministrio Pblico para a instaurao do IP, a autoridade no poder recursar-se a instaurar o IP, sob pena de incorrer no delito de desobedincia (Tourinho Filho). Todavia, na hiptese de delito sujeito a ao penal privada ou pblica condicionada, a requisio no poder ser atendida sem que se a faa acompanhar da autorizao da vtima, em razo da condio de procedibilidade. Neste sentido:

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8Inqurito. Instaurao. Ao penal privada (TacrimSP). Em se tratando de infrao onde a ao de iniciativa privada, inadmissvel a requisio de instaurao de inqurito policial por parte do Ministrio Pblico. (RJDTacrimSP, 12/211).

comum ouvir de leigos e s vezes, absurdamente, de tcnicos da rea jurdica a expresso dar queixa na delegacia. de todo inconcebvel tal expresso, posto que a delegacia jamais receber queixa. Sendo a queixa uma pea processual prpria para a propositura da ao penal privada, dever ser endereada exclusivamente a juzo criminal. Portanto, o que se far na delegacia a comunicao de um crime (notitia criminis). INSTAURAO DO INQURITO POLICIAL E DESENVOLVIMENTO De acordo com o professor Fernando Capez, as peas inaugurais do inqurito policial so: portaria: quando instaurado ex officio (ao penal pblica incondicionada); requisio do Ministrio Pblico ou da autoridade judiciria (ao penal pblica condicionada quando acompanhada de representao e incondicionada); representao do ofendido ou de seu representante legal, ou requisio do Ministro da Justia (ao penal pblica condicionada); requerimento do ofendido ou de seu representante (ao penal privada); auto de priso em flagrante (qualquer espcie de infrao penal). A notcia do fato criminoso dever ser encaminhada verbalmente ou por escrito, por qualquer do povo, autoridade policial, que, verificando a sua procedncia, determinar a abertura do inqurito policial. Nos casos em que se exige representao, o inqurito no poder ser iniciado sem ela. E nos crimes de ao privada, a autoridade policial s poder instaur-lo mediante requerimento de quem tem legitimidade para intent-la. A autoridade policial no tem disponibilidade sobre a instaurao ou no do inqurito policial. Trata-se de um dever funcional que lhe impe uma conduta positiva sempre que tiver conhecimento da prtica da infrao penal. De qualquer modo, so de natureza discricionria as atribuies da autoridade policial, que pode escolher livremente, dentro dos limites legais, a forma de conduo dos procedimentos de investigao. No h, portanto, procedimento estabelecido previamente para sua conduo. Todavia, o cdigo estabelece no art. 6 um roteiro a ser seguido pela autoridade policial. Assim, logo que tiver conhecimento da prtica da infrao penal, a autoridade policial dever:I dirigir-se ao local, providenciando para que no se alterem o estado e conservao das coisas, at a chegada dos peritos criminais;

ou agente policial que primeiro tomar conhecimento do fato poder autorizar, independentemente de exame do local, a imediata remoo das pessoas que tenham sofrido leso, bem como dos veculos nele envolvidos, se estiverem no leito da via pblica e prejudicarem o trfego (Lei n 5.970/73, art. 1). Para tal autorizao bastar a lavratura de boletim de ocorrncia.II apreender os objetos que tiverem relao com o fato, aps liberados pelos peritos criminais;

Para tal apreenso no necessria autorizao judicial. Tratando-se, todavia, de busca e apreenso domiciliar, a diligncia dever ser precedida de autorizao judicial, nos termos do art. 5, XI, da CF/88. Caso o agente seja condenado, efeito da condenao a perda em favor da Unio, ressalvado o direito do lesado ou de terceiro de boa-f, dos instrumentos do crime, desde que consistam em coisas cujo fabrico, alienao, uso, porte ou deteno constitua fato ilcito, nos termos do art. 91, alnea a, do CP.III colher todas as provas que servirem para o esclarecimento do fato e suas circunstncias; IV ouvir o ofendido;

Admite-se, inclusive, a conduo coercitiva da vtima para ser ouvida, nos termos do art. 201, pargrafo nico, do CPP.V ouvir o indiciado, com observncia, no que for aplicvel, do disposto no Captulo III do Ttulo VII deste Livro, devendo o respectivo termo ser assinado por duas testemunhas que lhe tenham ouvido a leitura;

Em caso de acidente de trnsito, a autoridade policial

Indiciamento a imputao a algum, no inqurito policial, da prtica de ilcito penal. Havendo uma convergncia de indcios da autoria do crime para determinada pessoa, esta dever ser indiciada pela autoridade policial, que concentrar suas investigaes em relao quele suspeito. Para seu interrogatrio, poder ocorrer a conduo coercitiva do indiciado, por aplicao analgica do disposto no art. 260 do CPP. Todavia, o investigado possui o direito constitucional de permanecer em silncio, sem que tal circunstncia seja considerada em seu desfavor. Assim, o art. 186 do CPP, em sua parte final, que dispunha que o silncio do interrogado poderia ser considerado em seu desfavor no foi recepcionado pela nova Constituio de 1988. Quanto necessidade de curador ao indiciado menor, vide comentrios abaixo. O art. 21 determina que a autoridade policial poder determinar a incomunicabilidade do indiciado quando o interesse da sociedade ou a convenincia da investigao o exigir, mediante despacho fundamentado. Segundo vrios doutrinadores, tal dispositivo no foi recepcionado pela atual Constituio, porque a mesma vedou a incomunicabilidade at mesmo na hiptese de estado de defesa, situao em que vrios direitos individuais j sofrem restrio (CF/88, art. 136, 3, IV). Portanto, se na situao de restries no

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9admissvel a incomunicabilidade, numa situao de normalidade com muito mais razes seria inadmissvel. Neste sentido: Tourinho, Mirabete e Capez. Em sentido contrrio, admitindo como vlido o dispositivo pelo princpio da proporcionalidade: Damsio e Vicente Greco. Em qualquer hiptese, ainda que se admita vlida a incomunicabilidade, a mesma no se estender ao advogado do indiciado, nos termos do estatuto da OAB (Lei n 8.906/94, art. 7, III).VI proceder a reconhecimento de pessoas e coisas e a acareaes; VII determinar, se for o caso, que se proceda a exame de corpo delito e a quaisquer outras percias;

cao criminal independentemente da identificao civil (Lei n 9.034/95, art. 5).IX averiguar a vida pregressa do indiciado, sob o ponto de vista individual, familiar e social, sua condio econmica, sua atitude e estado de nimo antes e depois do crime e durante ele, e quaisquer outros elementos que contriburem para a apreciao do seu temperamento e carter.

Sobre a realizao de percias, vide arts. 158 a 184 do CPP.VIII ordenar a identificao do indiciado pelo processo datiloscpico, se possvel, e fazer juntar aos autos sua folha de antecedentes;

As diligncias elencadas no art. 6 so meramente exemplificativas. Por exemplo, em certos casos a autoridade poder determinar a reconstituio do fato delituoso com escopo de elucidar pontos que no estejam devidamente esclarecidos e apurados, vista dos elementos indicirios colhidos. A NOVA MAIORIDADE CIVIL E SEUS REFLEXOS NO PROCESSO PENAL Dispunha o art. 15 do CPP que tratando-se de indiciado menor, a autoridade policial (e no a autoridade judicial) deveria nomear-lhe curador. Entendia-se que indiciado menor era aquele que estava entre os 18 e 21 anos de idade, no momento da realizao do ato procedimental. Cumpre analisar como fica a regncia de tal matria ante o advento do novo Cdigo Civil, que reduziu a capacidade civil para os 18 anos. Dispunha o revogado Cdigo Civil de 1916 que as pessoas naturais menores de 16 anos eram consideradas absolutamente incapazes, e os maiores de 16 anos e menores de 21 eram relativamente incapazes. Como no mbito penal a pessoa adquire a capacidade aos 18 anos, havia uma situao de transio durante a idade de 18 anos aos 21 anos incompletos, pois a pessoa j possua capacidade penal, mas ainda era considerada incapaz perante o direito civil. Assim, havia vrias disposies penais e processuais penais para tais situaes tais quais: necessidade de curador ao indiciado ou ru entre 18 e 21 anos incompletos; legitimao concorrente do representante legal da vtima durante esta idade, para a prtica de diversos atos (oferecimento de queixa, renncia ao direito de queixa, requerimento de diligncias no inqurito, oposio ao perdo da vtima). O novo Cdigo Civil (Lei n 10.406, de 10 de janeiro de 2002, que entrou em vigor em 10 de janeiro de 2003) estabeleceu que se consideram relativamente incapazes as pessoas maiores de 16 anos e menores de 18 anos. Assim, o novo cdigo reduziu a idade para aquisio da capacidade plena para os 18 anos, fazendo-a coincidir com a maioridade no mbito penal. Destarte, cumpre perquirir se a alterao na maioridade civil tambm trar reflexos no mbito penal e processual penal. A doutrina majoritria posicionou-se no sentido de que o novo cdigo civil efetivamente alterou as disposies do cdigo de processo penal que consideravam a pessoa entre 18 e 21 anos como carente de pleno discernimento, necessitando de curador (ru) ou representante legal (com legitimao concorrente com a vtima). Isto porque as disposies do CPP eram determina-

A Constituio Federal dispe que o civilmente identificado no ser submetido identificao criminal, salvo nas hipteses previstas em lei. Por identificao civil entende-se os documentos de identidade admitidos na legislao vigente (RG, carteira funcional e, atualmente, at a CNH). Identificao criminal a identificao datiloscpica, ou seja, a colheita das impresses digitais para comparao perante o Instituto de Identificao. Segundo o STJ, a identificao criminal abrange tanto a identificao datiloscpica quanto a identificao fotogrfica, no havendo ofensa ao direito imagem da pessoa investigada. O dispositivo constitucional possibilitou que lei ordinria estabelecesse excees regra constitucional, ou seja, hipteses em que, mesmo havendo a identificao civil, poder proceder-se identificao criminal. Tais excees esto previstas na Lei n 10.054/00, em seu art. 3, e ocorrero quando: 1) houver prtica de delito de homicdio doloso, crimes contra o patrimnio praticados mediante violncia ou grave ameaa (roubo, extorso, extorso mediante seqestro, esbulho possessrio), crime de receptao qualificada (no exerccio de atividade comercial), crimes contra a liberdade sexual (estrupro, atentado violento ao pudor, e outros), ou crime de falsificao de documento pblico; 2) houver fundada suspeita de falsificao ou adulterao do documento de identidade; 3) o estado de conservao ou a distncia temporal da expedio de documento apresentado impossibilite a completa identificao dos caracteres essenciais; 4) constar de registros policiais o uso de outros nomes ou deferentes qualificaes; 5) houver registro de extravio do documento de identidade; 6) o indiciado ou acusado no comprovar, em quarenta e oito horas, sua identificao civil. Tambm a Lei do Crime Organizado estabeleceu que sempre que uma pessoa estiver envolvida com a ao praticada por organizaes criminosas ser realizada a identifi-

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10das no sentido de compatibilizar o sistema processual com o regramento da vida civil da pessoa, dando uma maior proteo quele que, segundo a lei civil, ainda no havia atingido a plena maturidade. Todavia, com a alterao da maioridade civil para os 18 anos, as disposies que consideravam necessria curadoria ou representao pessoa menor de 21 anos tornaram-se desnecessrias, estando, segundo o entendimento doutrinrio majoritrio, tacitamente derrogadas pelo novo Cdigo Civil. Isto porque o maior de 18 anos, hoje, pode praticar os atos da vida civil e processuais livremente, sem necessidade de assistncia ou representao. No sentido do texto, entendendo que houve imediata derrogao tcita dos diversos artigos do CPP que estabeleciam necessidade de curador ao ru ou indiciado menor, ou que concediam legitimao concorrente ao representante legal da vtima maior de 18 anos e menor de 21 anos: Damsio de Jesus, Gianpaollo Poggio Smanio, Fernando Capez, Ricardo Cunha Cimenti, Victor Eduardo Rios Gonalves, Vitor Frederico Kmpel, Andr Estefam Arajo Lima1, Arnaldo Siqueira de Lima2, Luiz Flvio Gomes3 e Fernando Fulgncio Felicssimo4. Registre-se que existe entendimento doutrinrio em sentido contrrio, entendendo que, apesar de assistemtico o Cdigo de Processo Penal com a nova regulamentao civil, seria necessria legislao especfica para a revogao dos dispositivos processuais, haja vista a dicotomia entre as esferas cvel e penal, e a existncia de regras especficas na legislao criminal. Neste sentido: Marcus Vinicius de Viveiros Dias5. Todavia, como dito, o primeiro entendimento tem prevalecido na doutrina, aguardando-se um pronunciamento definitivo por parte da jurisprudncia. Assim, todas as disposies do cdigo de processo penal que concediam legitimidade de atuao ao representante legal da vtima, devem ser relidos segundo o entendimento de que este possui legitimidade apenas quando a vtima menor de 18 anos, ou possui alguma deficincia mental que comprometa seu pleno desenvolvimento intelectual. Assim, necessitam de nova interpretao sistemtica os artigos 14 e 38. As disposies que expressamente reconheciam legitimidade ao representante da vtima quando esta fosse maior de 18 anos foram tacitamente ab-rogados pelo novo Cdigo Civil. Assim, esto revogados os artigos 34, pargrafo nico do art. 50, art. 52 e 54. As disposies que exigiam curador ao indiciado ou ru menor de 21 anos tambm foram ab-rogadas. Assim, os artigos 15, 194 e 262 foram revogados, e o artigo 4491

foi derrogado no parte em exigia nomeao de curador ao menor de 21 anos. Tambm o artigo 564, III, c, foi derrogado, pois no h mais nulidade pela ausncia de curador durante o processo. Entendemos, todavia, que apenas na hiptese de ru incapaz por doena mental, ou desenvolvimento mental incompleto ou retardado, ser necessria a nomeao de curador, nos termos do art. 149, 2o, do CPP, haja vista que nesta hiptese a incapacidade no decorrente de idade inferior aos 21 anos. Contudo, existe entendimento que o artigo 279, III, que veda a atuao como perito criminal de analfabetos e menores de 21 anos, bem como o art. 434, que veda o servio como jurado do menor de 21 anos ou maior de 60 anos, ambos no estariam revogados pelo novo Cdigo Civil, haja vista no tratarem de limitaes relativas incapacidade civil, mas apenas de um requisito para maior maturidade e experincia queles que vo prestar um servio justia criminal (neste sentido: Damsio de Jesus, op. cit.). Como ainda no houve uma manifestao definitiva pelos Tribunais Superiores quanto matria, mantemos os comentrios no texto original da obra, logo abaixo. Todavia, recomendamos, desde j, a adoo do novo posicionamento ora apresentado, segundo a communis opinio doctorum majoritria. Finalmente, em relao aos reflexos da nova maioridade civil no direito penal (material), o entendimento majoritrio no sentido de que no houve qualquer influncia em relao s disposies que, de alguma forma, privilegiavam o menor de 21 anos, por tratar-se de uma questo de poltica criminal punir de forma menos severa o jovem que recm adquiriu a capacidade penal. Assim, permanece vlida a atenuante da menoridade prevista no art. 65, I, e a reduo do prazo prescricional pela metade, prevista no art. 115, ambos do CP6. Disciplina antiga da matria Como o tema ainda no foi plenamente sedimentado pelos tribunais superiores, segue abaixo a explanao relativa disciplinada antiga da matria, quanto necessidade de curador ao indiciado menor de 21 anos. A funo deste curador era auxiliar o indiciado em todos os atos que este participa, dando-lhe um apoio moral neste momento difcil de sua vida. Todavia, entendiase que o curador no possua direito de reperguntar o interrogado ou as testemunhas. No era necessrio que o curador fosse parente do indiciado, ou mesmo que se tratasse de advogado. Todavia, segundo entendimento jurisprudencial, no podiam ser curador o analfabeto, ou outro menor de 21 anos. Tambm entendia-se que no poderia ser curador um funcionrio sem imparcialidade para exercer a funo (ex.: o agente de polcia que efetuou a priso do indiciado). Contudo, este ltimo entendimento controvertido. A ausncia de nomeao de curador ao indiciado menor no gerava a nulidade do inqurito policial, mesmo porque, como visto, o IP apenas pea de informao, e no processo. Todavia, a ausncia do curador no auto de priso em flagrante anulava o auto como pea coercitiva, determinando o relaxamento da priso. Estas disposies caram no vazio, porquanto, como6

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Todos professores do Complexo Jurdico Damsio de Jesus. Vide: JESUS. Damsio de. Mesa de Cincias Criminais A nova maioridade civil: reflexos penais e processuais penais. So Paulo: Complexo Jurdico Damsio de Jesus, fev. 2003. Disponvel em . aut. cit., Alguns reflexos do novo cdigo civil no mbito penal, apud Revista Jurdica Consulex, Ano VII, n 146, 15/2/2003, pp. 53-54. Aut. cit., Maioridade Civil e as medidas do ECA, disponvel em . Aut. cti. A reduo da maioridade civil e seus reflexos no sistema jurdicopenal; apud RT Fasc. Pen., ano 91, v. 804, out.2002, pp. 461-467. Aut. cit. Nova maioridade reflete tambm no mbito penal, apud Revista Consultor Jurdico, n 27, So Paulo, 9/1/2003. Disponvel em .

Neste sentido: Damsio de Jesus e Arnaldo Siqueira de Lima, j citados. Em sentido contrrio, entendendo j haver revogao destas disposies: Fernando Fulgncio Felicssimo, op. cit.

11visto acima, no mais necessria a nomeao de curador ao indiciado menor, pela revogao tcita dos dispositivos que disciplinavam a matria neste sentido pelo novo Cdigo Civil (Lei n 10.406/02). ENCERRAMENTO Possibilidades da acusao O inqurito policial termina com o relatrio do delegado, contendo sempre no inqurito, se for o caso, certides, mandados, elementos de prova, etc., sem, contudo, expender opinies, julgamentos ou qualquer juzo de valor. O prazo para se concluir o inqurito policial de dez dias se o indiciado estiver preso, e de trinta dias se estiver solto, podendo haver dilao do prazo neste ltimo caso. Na Justia Federal, o prazo de quinze dias podendo ser prorrogado por mais quinze, a pedido devidamente fundamentado de autoridade policial e deferido pelo juiz a quem competir o conhecimento do processo. H tambm, em legislao esparsa, prazos diferenciados, como o de dez dias nos casos de crimes contra a economia popular, estando o indiciado solto ou preso. Tratando-se de crimes referentes a txicos, estando o indiciado preso, ser de quinze dias o prazo para concluso do IP, ou de trinta dias na hiptese de estar o investigado solto, conforme a nova lei de txicos ( Lei n 10.409/01, art. 29). A antiga lei de txicos (Lei n 6.368/76) estabelecia o prazo de cinco dias para a hiptese de indiciado preso. Existe controvrsia quanto ao termo inicial para a contagem do prazo estando o indiciado preso. Segundo parte da doutrina, o prazo seria de direito material, incluindo o dia da realizao da priso no prazo, por tratarse de prazo que interfere no jus libertatis (CP, art. 10). Neste sentido: Tourinho Filho e Mirabete. Em sentido contrrio, entendendo que se trata de prazo de direito processual e, portanto, exclui-se o dia do incio, nos termos do art. 798, 1, do CPP: Damsio e Capez. De qualquer forma, estando o indiciado solto, o prazo ser de direito processual, iniciando-se da instaurao do IP, exclundo-se o dia do incio. Sendo decretada a priso temporria no curso do IP, somam-se dez dias (cinco dias renovveis uma vez) ao prazo de concluso. Exemplo: estando no dcimo segundo dia do IP, com indiciado solto, sendo decretada a priso temporria do mesmo, o prazo do IP se estender por mais cinco dias aps a realizao da priso, podendo ser renovado uma vez por igual perodo. Assim, o IP, neste caso, poder ser encerrado com um total de vinte e dois dias (12+5+5). Segundo o STF, havendo fora maior, o prazo pode ser superado. De qualquer sorte, iniciada a ao penal, fica superada a alegao de excesso de prazo, para efeitos de relaxamento da priso do indiciado. Encerrado o inqurito, os autos sero remetidos ao juiz competente, acompanhados dos instrumentos do crime e dos objetos que interessarem prova. Tratando-se de crime de ao penal pblica, o Juiz remeter os autos ao Ministrio Pblico, para formao da opinio delicti. Quando tratar-se de crimes de iniciativa privada, a autoridade judiciria s poder agir mediante manifestaRecebendo o Ministrio Pblico os autos do inqurito policial, poder manifestar-se de trs formas diferentes: poder oferecer denncia, solicitar novas diligncias, ou requerer o arquivamento do inqurito. Caso o Ministrio Pblico receba o inqurito suficientemente instrudo, e convena-se (opinio delicti) que efetivamente ocorreu crime, e que a autoria est suficientemente provada, dever oferecer denncia. O prazo para oferecimento da denncia de cinco dias, estando o ru preso e quinze dias estando solto. Apenas por motivos poderosos e imprescindveis ao oferecimento da denncia, poder o Ministrio Pblico requerer a devoluo do inqurito autoridade policial para a realizao de outras diligncias. Considerando que o Ministrio Pblico o dominus litis, entende-se que o Juiz no pode negar tal pedido, sob pena de sujeitar-se ao recurso de correio parcial. Estando o ru preso, o pedido de novas diligncias feito pelo Ministrio Pblico no suspende o prazo do oferecimento da denncia, de sorte que se houver tal requerimento dever ser determinado o relaxamento da priso por excesso de prazo. Todavia, nada impede que o Ministrio Pblico, dentro do prazo do oferecimento da denncia, solicite diretamente Polcia as diligncias que considere imprescindveis e depois oferea a denncia, ainda dentro do prazo. Entende-se que dever ser designado novo prazo autoridade policial para concluir as diligncias, o qual no poder ser superior ao anteriormente estabelecido. Aps a concluso das diligncias, a polcia remeter os autos novamente ao Judicirio, que os encaminhar ao Ministrio Pblico. Ao receber novamente os autos, o Ministrio Pblico ter novo prazo para oferecimento de denncia. O Ministrio Pblico no pode requerer a priso preventiva do indiciado e solicitar a baixa dos autos delegacia para realizao de novas diligncias. Isto porque, para a decretao da priso preventiva, exige-se prova da existncia do crime e indcio suficiente da autoria (art. 312 do CPP). Portanto, ou existe prova suficiente para o pedido de decretao da priso preventiva e oferece-se denncia, ou no existe prova suficiente para o pedido, e solicita-se o retorno do inqurito delegacia. A respeito do arquivamento do inqurito policial, somente cabe ao juiz determin-lo, a requerimento do Ministrio Pblico, que o titular da ao penal. Como visto, o delegado no pode determin-lo. Caso o juiz discorde do pedido de arquivamento feito pelo Ministrio Pblico, dever enviar os autos para o procurador-geral de justia, que poder oferecer a denncia, ou determinar outro rgo do Ministrio Pblico a faz-lo, ou ainda, insistir pelo arquivamento, quando o juiz ser obrigado a acat-lo (CPP, art. 28). Entende-se que o promotor designado obrigado a oferecer denncia, pois no age em nome prprio, mas em nome do proo do ofendido ou de seu representante legal. Nesses casos, a autoridade policial, concludo o inqurito, remete-o ao Poder Judicirio, onde ficar aguardando providncias por parte do interessado. Segundo o art. 19 do CPP, pode ser entregue traslado dos autos ao requerente.

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12curador-geral de justia. Nesta situao, o Juiz atua em funo anmala como fiscal do princpio da obrigatoriedade da ao penal pblica. Caso o arquivamento seja determinado por insuficincia de provas, o inqurito policial poder ser reaberto, surgindo novos elementos de convico (art. 18 do CPP). Todavia, se o arquivamento foi determinado pela atipicidade da conduta, ou pelo reconhecimento expresso de que o investigado no praticou o fato, o inqurito policial no poder ser reaberto, pois nesta situao a deciso que o arquivou fez coisa julgada material (STF). O pedido de arquivamento ou o requerimento de novas diligncias torna inadmissvel a ao penal privada subsidiria da pblica. Existe controvrsia relativamente ao pedido implcito de arquivamento. Ocorre quando existem vrios crimes em apurao no mesmo inqurito e o Ministrio Pblico oferece denncia em relao a um delito, deixando de oferec-la em relao a outro, sem manifestar-se expressamente quanto ao arquivamento. Entende-se que no admissvel tal arquivamento implcito, no havendo que se falar em precluso para o Ministrio Pblico. Segundo Tourinho Filho, nesta situao o juiz pode aplicar o disposto no art. 28 do CPP. Finalmente, registre-se que no admissvel pedido de arquivamento tratando-se de crime de ao penal privada. Nestes crimes, o ofendido, caso no tenha interesse no prosseguimento do feito, poder realizar a renncia ao direito de queixa, que causa extintiva da punibilidade. SINOPSE Juiz

LEGISLAO CDIGO DE PROCESSO PENAL ..................................................................................................... LIVRO I DO PROCESSO EM GERAL TTULO I Disposies Preliminares Art. 1 O processo penal reger-se-, em todo o territrio brasileiro, por este Cdigo, ressalvados: I os tratados, as convenes e regras de Direito Internacional; II as prerrogativas constitucionais do Presidente da Repblica, dos ministros de Estado, nos crimes conexos com os do Presidente da Repblica, e dos ministros do Supremo Tribunal Federal, nos crimes de responsabilidade (CF, arts. 86, 89, 2, e 100);Nota: Os artigos citados neste inciso fazem referncia CF de 1937. Na Constituio de 1988 ver arts. 50, 2; 52, I e pargrafo nico; 85; 86, 1, II; e 102, I, b. Obs.: temos aqui a competncia por prerrogativa de funo decorrente de mandamento constitucional.

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III os processos da competncia da Justia Militar; IV os processos da competncia do tribunal especial (CF, art. 122, n 17);

13Nota: Referncia CF de 1937.

V os processos por crimes de imprensa. Pargrafo nico. Aplicar-se-, entretanto, este Cdigo aos processos referidos nos nos IV e V, quando as leis especiais que os regulam no dispuserem de modo diverso. Art. 2 A lei processual penal aplicar-se- desde logo, sem prejuzo da validade dos atos realizados sob a vigncia da lei anterior. Art. 3 A lei processual penal admitir interpretao extensiva e aplicao analgica, bem como o suplemento dos princpios gerais de direito. TTULO II Do Inqurito Policial Art. 4 A polcia judiciria ser exercida pelas autoridades policiais no territrio de suas respectivas circunscries e ter por fim a apurao das infraes penais e da sua autoria.Nota: A Lei n 9.043/95 substituiu a expresso jurisdio por circunscrio, atendendo, assim, velha reivindicao da doutrina que indicava como incorreta aquela expresso por entender prpria da atividade jurisdicional do Estado (Poder Judicirio) e no da polcia que desenvolve mera atividade administrativa.

I dirigir-se ao local, providenciando para que no se alterem o estado e conservao das coisas, at a chegada dos peritos criminais; II apreender os objetos que tiverem relao com o fato, aps liberados pelos peritos criminais; III colher todas as provas que servirem para o esclarecimento do fato e suas circunstncias; IV ouvir o ofendido; V ouvir o indiciado, com observncia, no que for aplicvel, do disposto no Captulo III do Ttulo VII deste Livro, devendo o respectivo termo ser assinado por duas testemunhas que lhe tenham ouvido a leitura; VI proceder a reconhecimento de pessoas e coisas e a acareaes; VII determinar, se for caso, que se proceda a exame de corpo delito e a quaisquer outras percias; VIII ordenar a identificao do indiciado pelo processo datiloscpico, se possvel, e fazer juntar aos autos sua folha de antecedentes;Nota: Quanto ao processo datiloscpico de identificao, deve ser atendido o disposto no art. 5, LVIII, da CF que dispe sobre a identificao penal, e Lei n 10.054/00.

Pargrafo nico. A competncia definida neste artigo no excluir a de autoridades administrativas, a quem por lei seja cometida a mesma funo. Art. 5 Nos crimes de ao pblica o inqurito policial ser iniciado: I de ofcio; II mediante requisio da autoridade judiciria ou do Ministrio Pblico, ou a requerimento do ofendido ou de quem tiver qualidade para represent-lo. 1 O requerimento a que se refere o n II conter sempre que possvel: a) a narrao do fato, com todas as circunstncias; b) a individuao do indiciado ou seus sinais caractersticos, e as razes de convico ou de presuno de ser ele o autor da infrao, ou os motivos de impossibilidade de o fazer; c) a nomeao das testemunhas, com indicao de sua profisso e residncia. 2 Do despacho que indeferir o requerimento de abertura de inqurito caber recurso para o chefe de polcia. 3 Qualquer pessoa do povo que tiver conhecimento da existncia de infrao penal em que caiba ao pblica poder, verbalmente ou por escrito, comunic-la autoridade policial, e esta, verificada a procedncia das informaes, mandar instaurar inqurito. 4 O inqurito, nos crimes em que a ao pblica depender de representao, no poder sem ela ser iniciado. 5 Nos crimes de ao privada, a autoridade policial somente poder proceder a inqurito a requerimento de quem tenha qualidade para intent-la. Art. 6 Logo que tiver conhecimento da prtica da infrao penal, a autoridade policial dever:

IX averiguar a vida pregressa do indiciado, sob o ponto de vista individual, familiar e social, sua condio econmica, sua atitude e estado de nimo antes e depois do crime e durante ele, e quaisquer outros elementos que contriburem para a apreciao do seu temperamento e carter. Art. 7 Para verificar a possibilidade de haver a infrao sido praticada de determinado modo, a autoridade policial poder proceder reproduo simulada dos fatos, desde que esta no contrarie a moralidade ou a ordem pblica. Art. 8 Havendo priso em flagrante, ser observado o disposto no Captulo II do Ttulo IX deste Livro. Art. 9 Todas as peas do inqurito policial sero, num s processado, reduzidas a escrito ou datilografadas e, neste caso, rubricadas pela autoridade. Art. 10. O inqurito dever terminar no prazo de dez dias, se o indiciado tiver sido preso em flagrante, ou estiver preso preventivamente, contado o prazo, nesta hiptese, a partir do dia em que se executar a ordem de priso, ou no prazo de 30 (trinta) dias, quando estiver solto, mediante fiana ou sem ela.Nota: O prazo de concluso de inqurito policial nos crimes da competncia da Justia Federal (Lei n 5.010/66) de 15 (quinze) dias, prorrogveis por mais 15 (quinze), quando o indiciado estiver preso.

1 A autoridade far minucioso relatrio do que tiver sido apurado e enviar os autos ao juiz competente. 2 No relatrio poder a autoridade indicar testemunhas que no tiverem sido inquiridas, mencionando o lugar onde possam ser encontradas. 3 Quando o fato for de difcil elucidao, e o indiciado estiver solto, a autoridade poder requerer ao juiz a devoluo dos autos, para ulteriores diligncias, que sero realizadas no prazo marcado pelo juiz. Art. 11. Os instrumentos do crime, bem como os ob-

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14jetos que interessarem prova, acompanharo os autos do inqurito. Art. 12. O inqurito policial acompanhar a denncia ou queixa, sempre que servir de base a uma ou outra. Art. 13. Incumbir ainda autoridade policial: I fornecer s autoridades judicirias as informaes necessrias instruo e julgamento dos processos; II realizar as diligncias requisitadas pelo juiz ou pelo Ministrio Pblico; III cumprir os mandados de priso expedidos pelas autoridades judicirias; IV representar acerca da priso preventiva. Art. 14. O ofendido, ou seu representante legal, e o indiciado podero requerer qualquer diligncia, que ser realizada, ou no, a juzo da autoridade. Art. 15. Se o indiciado for menor, ser-lhe- nomeado curador pela autoridade policial.Entende-se que este artigo foi tacitamente revogado pelo novo Cdigo Civil (Lei n 10.406/02), que reduziu a plena capacidade civil para os 18 anos.

Nota: Referncia ao Estatuto revogado. Aplica-se hoje a Lei n 8.906/94. No que se refere incomunicabilidade, este preceito contraria a nova CF de 1988, estando, pois, revogado este artigo no que se refere incomunicabilidade. Art. 22. No Distrito Federal e nas comarcas em que houver mais de uma circunscrio policial, a autoridade com exerccio em uma delas poder, nos inquritos a que esteja procedendo, ordenar diligncias em circunscrio de outra, independentemente de precatrias ou requisies, e bem assim providenciar, at que comparea a autoridade competente, sobre qualquer fato que ocorra em sua presena, noutra circunscrio. Art. 23. Ao fazer a remessa dos autos do inqurito ao juiz competente, a autoridade policial oficiar ao Instituto de Identificao e Estatstica, ou repartio congnere, mencionando o juzo a que tiverem sido distribudos, e os dados relativos infrao penal e pessoa do indiciado. .......................................................................................................................................

AO PENALArt. 16. O Ministrio Pblico no poder requerer a devoluo do inqurito autoridade policial, seno para novas diligncias, imprescindveis ao oferecimento da denncia. Art. 17. A autoridade policial no poder mandar arquivar autos de inqurito. Art. 18. Depois de ordenado o arquivamento do inqurito pela autoridade judiciria, por falta de base para a denncia, a autoridade policial poder proceder a novas pesquisas, se de outras provas tiver notcia.Nota: Smula n 524 do STF: Arquivado o inqurito policial, por despacho do juiz, a requerimento do promotor de justia, no pode a ao penal ser iniciada, sem novas provas.

INTRODUO Ao penal o direito de se invocar a tutela jurisdicional do Estado, ou o direito de se pedir ao Estado a aplicao do Direito Penal positivo ao caso concreto, ou o direito de se pedir ao Estado uma deciso sobre um fato penalmente relevante (Fernando da Costa Tourinho Filho). A seguir ser feito um estudo sobre a ao penal, que a forma processual de se iniciar a apurao de uma infrao penal. O Estado, tentando evitar o conflito direto dos cidados em litgio, passou a trazer para si o nus da administrao da justia, ou seja, a ditar regras a todos impostas para evitar a autodefesa, ou, em ltima instncia, o cometimento de injustias, que a supremacia do forte sobre o mais fraco, em detrimento do fim colimado pela lei: a Justia. Portanto, a vingana privada foi abolida com a ao penal, que o conjunto de formas tendentes a levar os acusados aos tribunais para serem dignamente julgados por seus crimes. No Cdigo de Processo Penal esto previstas as formas, os procedimentos pelos quais a infrao legalmente tipificada no Cdigo Penal tem uma forma nica para sua apurao. Evoluo das Teorias sobre o Direito de Ao Segue breve sinopse quanto evoluo das teorias sobre o direito de ao. Tal matria possui maior importncia para concursos direcionados a bacharis em Direito. Teoria Civilista (Savigny): ao o prprio direito material reagindo sua violao. Windsheid: ao o direito de exigir algo de outrem. Muther: ao o direito de exigir do Estado para que este torne respeitado o direito violado. Adolf Wach: o direito de ao pblico

Art. 19. Nos crimes em que no couber ao pblica, os autos do inqurito sero remetidos ao juzo competente, onde aguardaro a iniciativa do ofendido ou de seu representante legal, ou sero entregues ao requerente, se o pedir, mediante traslado. Art. 20. A autoridade assegurar no inqurito o sigilo necessrio elucidao do fato ou exigido pelo interesse da sociedade. Pargrafo nico. Nos atestados de antecedentes que lhe forem solicitados, a autoridade policial no poder mencionar quaisquer anotaes referentes instaurao de inqurito contra os requerentes, salvo no caso de existir condenao anterior. Art. 21. A incomunicabilidade do indiciado depender sempre de despacho nos autos e somente ser permitida quando o interesse da sociedade ou a convenincia da investigao o exigir. Pargrafo nico. A incomunicabilidade, que no exceder de 3 (trs) dias, ser decretada por despacho fundamentado do juiz, a requerimento da autoridade policial, ou do rgo do Ministrio Pblico, respeitado, em qualquer hiptese, o disposto no art. 89, III, do Estatuto da Ordem dos Advogados do Brasil (Lei n 4.215, de 27 de abril de 1963).

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15(contra o Estado) e autnomo (no elemento do direito material), mas s compete a quem tem razo. Chiovenda: ao direito potestativo exercido contra o adversrio. O Estado apenas conduz a pretenso. Plz e Degenkolb: ao direito abstrato. Caractersticas do Direito de Ao Autnomo: no se confunde com o direito material. Abstrato: independe do resultado final do processo. Subjetivo: titular pode exigir do EstadoJuiz a prestao jurisdicional. Pblico: a atividade jurisdicional possui natureza pblica. Condies da Ao Possibilidade jurdica do pedido: o pedido do autor deve ser, em tese, admissvel pelo ordenamento jurdico. Exemplos de hipteses em que no h possibilidade jurdica do pedido: fato no constitui crime em tese (atipicidade ou excludentes da ilicitude); inexistncia da sano penal pleiteada para aquele crime (ex: pena de morte). Interesse em agir: necessidade e utilidade do provimento jurisdicional. Como a lide no processo penal sempre obrigatria, sempre existe necessidade do processo para a condenao. Utilidade significa eficcia da deciso. Exemplo de hipteses em que o processo penal no ter eficcia: ocorrncia de causas extintivas da punibilidade, impetrao de HC por excesso de prazo se o ru j foi solto. Alguns autores admitem a prescrio em perspectiva pela ausncia de interesse em agir se o ru ter extinta sua punibilidade pela provvel condenao pela pena in concreto (prescrio retroativa CP, art. 110, 2). Todavia, o entendimento jurisprudencial majoritrio no sentido da inadmissibilidade da prescrio em perspectiva. Legitimao para agir: a pertinncia subjetiva da ao. A legitimao ativa do Ministrio Pblico, para a ao penal pblica, e da vtima, seu representante legal, ou sucessores (art. 31, CPP), na hiptese de ao penal privada. A legitimao passiva de quem participou do fato tpico (exigncia de indcios da autoria). Condio de procedibilidade: este requisito especfico da ao penal. Podem ser citadas como condies especficas de procedibilidade da ao penal: Justa Causa: existncia de suporte indicirio mnimo para ajuizamento da ao. Representao da vtima ou requisio do Ministro da Justia: nas hipteses de crime de ao penal pblica condicionada. Entrada do agente no territrio nacional, nas hipteses do CP, art. 7, 3, a e b. Trnsito em julgado da sentena que anula o casamento, no crime do art. 236 do CP. Exame pericial nos crimes contra a propriedade material, se o delito deixou vestgios (CPP, art. 525). Defesa preliminar nos crimes de responsabilidade dos funcionrios pblicos (CPP, art. 516). Tentativa de reconciliao nos crimes contra a honra (CPP, art. 520). Tentativa de acordo civil nas infraes penais de menor potencial ofensivo sujeitas ao penal privada ou pblica condicionada representao, dentro da competncia dos Juizados Especiais Criminais. Imunidade formal dos congressistas: no suspenso do processo pela Casa respectiva no prazo de 45 dias, conforme CF/88, art. 53, 3, na redao da EC n 35/01 (se houver deliberao, suspende-se a prescrio). Trata-se, neste caso, de condio negativa de prosseguibilidade.

CLASSIFICAO DA AO PENAL A ao penal poder ser pblica ou privada. Essa classificao diz respeito ao interesse defendido e a quem prope a ao penal. Quando o interesse estatal se sobrepe vontade particular, a ao penal ser proposta pelo rgo do Estado, vale dizer, pelo membro do Ministrio Pblico (Promotor de Justia ou Procurador da Repblica). Em contrapartida, se a vontade de ver desvendado um crime tem por objeto interesses extremamente ntimos e secretos do ofendido, o Estado, na forma acima exposta, no poder desvendar o delito sem que a parte demonstre seu interesse e, para tanto, provoque o Poder Pblico, exigindo a punio do responsvel. Na primeira hiptese, a ao penal pblica, o meio pelo qual se inicia a ao penal, a pea inicial, a denncia, oferecida pelo Ministrio Pblico (Promotor ou Procurador). J para a segunda, ao penal privada, sendo o maior interessado o prprio ofendido, este dever intentar a ao; a pea que d incio a queixa. Na ao penal privada, o Estado concede ao ofendido o direito de julgar sobre a convenincia da propositura da ao. Exs.: estupro, injria, etc. O critrio identificador da ao penal pblica ou privada estabelecido no Cdigo Penal. Quando o mesmo dispe que somente se procede mediante queixa, tratase de delito de ao penal privada. Quando o Cdigo Penal dispe que somente se procede mediante representao, trata-se de ao penal pblica condicionada. Quan-

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16do o CP nada menciona, entende-se que o delito de ao penal pblica, que a regra geral (CP, art. 100, caput). Justificativa da ao penal privada A ao penal privada possui basicamente dois fundamentos. O primeiro o chamado streptus judicii (escndalo do processo). Em determinadas situaes, as investigaes, o constrangimento de ser obrigada a contar a terceiros o fato criminoso, de encontrar-se novamente frente a frente com o autor do crime, de documentar e registrar para a posteridade toda a dor sofrida, enfim, de no ter respeitado o direito personalssimo da tranquilidade (right to be let alone), faz com que a vtima conclua que o processo criminal muito mais malfico que a prpria impunidade do criminoso. O Estado, reconhecendo tais circunstncias, permite que a vtima disponha da ao penal, atravs de institutos especficos como a decadncia do direito de queixa, a renncia, o perdo (se aceito), e a perempo. De outra parte, justifica-se a ao penal privada porquanto a viabilidade de concretizao do jus puniendi depende, nestas circunstncias, de dilao probatria a ser produzida quase que exclusivamente com a colaborao da vtima. Havendo negligncia por parte da vtima em auxiliar a persecutio criminis, no anseio de esquecer o mal que se passou, superar os traumas e prosseguir com sua vida, restar praticamente fadada ao fracasso eventual a ao penal a ser proposta, eventualmente, pelo Estado. Finalmente, considerando que em determinadas hipteses estaria presente um prevalente interesse privado, se a prpria vtima perdoasse seu ofensor, ou no desejasse prosseguir em sua responsabilizao, o procedimento da ao penal por iniciativa pblica iria apenas institucionalizar e perpetuar uma desnecessria situao de beligerncia, situao esta que antagnica finalidade primordial do Direito (e de forma especial do Direito Penal) que a pacificao social. AO PENAL PBLICA A ao penal pblica subdivide-se em condicionada e incondicionada, conforme imponha ou no alguma condio ao Estado para sua propositura. Ao Penal Pblica Incondicionada Dipe a Constituio Federal, em seu art. 129, I, que compete privativamente ao Ministrio Pblico promover a ao penal pblica, na forma da lei. Assim, verifica-se que no foi recepcionado o procedimento judicialiforme das contravenes penais, previsto nos arts. 26 e 531 do CP. Conforme o dispositivo constitucional, a lei poderia limitar o exerccio desta atribuio do Ministrio Pblico. As excees so a ao penal privada subsidiria da pblica (CF/88, art. 5, LIX; CPP, art. 29) e o recurso supletivo do ofendido (CPP, art. 598 e 584, 1). A ao penal pblica incondicionada no impe qualquer condio para que o rgo do Ministrio Pblico tome iniciativa para a apurao do fato. Chegando ao seu conhecimento a ocorrncia de algum crime, o Promotor Pblico, independentemente de qualquer carta branca, j denuncia o criminoso. Exs.: homicdio, furto, roubo, etc. Independentemente, pois, da vontade do ofendido, que, mesmo que no queira ver seu agressor envolvido em processo, nada poder fazer, pois o Estado no ouvir as suas lamentaes. A ao pblica condicionada, como o prprio nome indica, exige condies para que o Estado venha propor a competente ao criminal, que so a representao do prprio ofendido ou requisio do Ministrio da Justia. A diferena bsica entre esse tipo e a ao penal privada que esta ao ser proposta pelo prprio ofendido e aquela, condicionada pblica, ser proposta pelo Estado, entretanto, com o aval, ou seja, a permisso do ofendido. Ao Penal Pblica Condicionada por Representao Essa ao constitui exceo, sendo necessria para seu implemento a representao do prprio ofendido. Na ao pblica condicionada, a ao continua sendo pblica, isto , proposta pelo prprio rgo do Ministrio Pblico, que no poder proced-la enquanto no for satisfeita a condio aqui exposta, ou seja, a representao do prprio ofendido. Ex.: ameaa. A representao constitui verdadeiro sinal verde para o oferecimento da pea acusatria nas aes penais pblicas que exigirem essa condio. A regra que toda ao seja pblica incondicionada, sendo exceo a exigncia da representao que, em cada hiptese, dever conter expressamente a previso da representao. So crimes de Ao Penal Pblica Condicionada representao previstos no Cdigo Penal brasileiro: crimes contra a honra praticados contra funcionrio pblico no exerccio de suas funes: representao do ofendido (art. 141, II, CP); crimes de violao de correspondncia: representao do ofendido (art. 151, 4, CP); crimes de violao de segredo e violao de segredo profissional: representao do ofendido (art. 153, pargrafo nico, CP); crimes contra o patrimnio cometidos contra cnjuge separado judicialmente, irmos e tio ou sobrinho, com quem o agente coabita (esses crimes somente sero condicionados quando forem praticados sem violncia ou grave ameaa) (art. 182, CP); crimes de concorrncia desleal previstos no art. 196, incisos X a XII do CP; crimes contra os costumes (estupro, atentado violento ao pudor, posse sexual mediante fraude, atentado ao pudor mediante fraude, seduo, corrupo de menores, rapto), em que a vtima ou seus pais no podem prover s despesas do processo (art. 225, 2, CP); crimes de leses corporais leves e leses corporais culposas (Lei n 9.099/95, art. 88).

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17Especificamente em relao aos crimes contra a honra de funcionrio pblico, no exerccio de suas funes, o STF entende que a ao penal poder ser tanto pblica condicionada representao, quanto privada. A natureza jurdica da representao da vtima ou da requisio do Ministro da Justia de condio de procedibilidade da ao penal. Sem tais autorizaes, sequer pode ser instaurado o inqurito policial. A representao possui natureza processual (exerccio do direito de ao), mas subordinada s regras de direito material (o prazo decadencial contado incluindo o dia do incio). Em relao ao direito de representao, a titularidade conferida pela lei vtima. Sendo esta incapaz, ser exercida por seu representante legal. Admite-se a representao por procurador com poderes especiais. O prazo para realizao da representao de seis meses a contar do conhecimento da autoria do fato. As demais observaes ao direito de representao, quanto titularidade e prazo, so semelhantes, no que couber, ao direito de queixa (cf. itens abaixo). Segundo o STF, a representao prescinde de forma especial, devendo ser aceita a manifestao inequvoca de vontade da vtima no sentido de se proceder responsabilizao penal do autor do fato. Assim, a circunstncia da vtima procurar a autoridade policial, narrando os fatos e solicitando providncias, deve ser encarada como sua representao. Neste sentido, acrdo do STJ:Vtima analfabeta que comparece Delegacia de Polcia e presta declaraes, tomadas por termo, relatando o estupro e apontando o seu autor. Intuito manifesto de ver instaurado o inqurito e o conseqente processo contra o agente do crime. Manifestao de vontade equivalente representao, para qual no se exige qualquer formalismo. (RT, 685/368) co, a vista dos elementos indicirios de prova que lhe foram fornecidos, tem plena liberdade de denunciar a todos os implicados no evento delituoso, mesmo que no nomeados pela vtima. (RT, 501/364).

Ao Penal Pblica Condicionada Requisio do Ministro da Justia Tambm uma exceo da ao pblica, que necessita de uma condio para sua propositura, a requisio do Ministro da Justia. Nesse tipo de ao, que pblica, exige-se a ocorrncia da necessidade de requisio do Ministro da Justia, sem a qual impossvel a instaurao do processo. Exemplos dessa espcie de ao so os crimes contra a honra praticados contra o Presidente da Repblica, chefe de governo estrangeiro, (CP, art. 141, c/c 145, pargrafo nico), crimes praticados por estrangeiros contra brasileiros fora do Brasil (extraterritorialidade condicionada) CP, art. 7, 3, b. No existe prazo para a requisio do Ministro da Justia. Assim, no estando extinta a punibilidade, admissvel a requisio. O destinatrio da requisio deve ser o Ministrio Pblico. Predomina na doutrina o entendimento pela irretratabilidade da requisio, ou seja, uma vez feita a requisio no pode o Ministro da Justia voltar atrs e desistir da requisio, competindo apenas ao rgo do Ministrio Pblico propor a ao penal atendendo exclusivamente ao princpio da obrigatoriedade. Diferena entre Ao Penal Pblica Condicionada e Incondicionada A regra a ao pblica incondicionada, ou seja, a ao ser proposta pelo Estado, atravs do Ministrio Pblico e no necessita de qualquer condio para sua propositura. Quando a lei deseja que uma ao penal seja condicionada, expressamente dever consignar em texto de lei qual ser esta condio, se a representao da vtima ou se a requisio do Ministro da Justia. Mas em ambas haver o incio do processo mediante uma denncia do Ministrio Pblico. Possibilidade de Retratao da Representao Retratar-se voltar atrs, desistir do prosseguimento de algo. admissvel a retratao da representao, nos termos do art. 25 do CPP. Todavia, o termo final para a possibilidade de tal retratao o oferecimento da denncia. Veja-se que a renncia da representao; no desistncia da ao penal, que, por ser pblica, da alada do Estado, saindo em decorrncia da esfera de controle do ofendido. A retratao s poder ocorrer antes de existir a ao, vale dizer, antes de oferecida a denncia (pea inicial da ao pblica). A retratao, segundo o texto legal aqui transcrito, no se dirige ao penal, mas sim representao; porNOES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL

Destinatria da representao pode ser tanto a autoridade policial, quanto o juiz ou o Ministrio Pblico. Sendo prestada oralmente, dever ser reduzida a termo, exceto se vier por escrito, com firma reconhecida. O Juiz, recebendo a representao, caso a considere completa, a encaminhar diretamente ao Ministrio Pblico; seno, a encaminhar para a autoridade policial, para as diligncias necessrias, requisitando a instaurao de inqurito policial. A apresentao da representao no vincula do Ministrio Pblico na formao de sua opinio delicti. Sendo o Ministrio Pblico o dominus litis, ir avaliar se efetivamente ocorreu o ilcito penal, para o ajuizamento da ao, podendo, apesar da representao da vtima, requerer o arquivamento dos autos, se entender incabvel a ao penal. A representao abrange o fato criminoso, e no os agentes citados. Assim, feita a representao para apurar o delito praticado por uma pessoa, caso no curso das investigaes descubra-se que outras pessoas que tambm participaram do delito, no ser necessria nova representao, pois a primeira j estende-se a todo o fato criminoso. Neste sentido, deciso do STF:Na ao penal pblica condicionada, desde que feita a representao pelo ofendido, o Ministrio Pbli-

18tanto, no h que se falar em retratao da ao penal, mas sim da representao antes de iniciada a ao penal, que se d pela denncia. Admite-se a retratao da retratao da representao (nova representao), desde que realizada dentro do prazo decadencial de seis meses do conhecimento da autoria do fato. Arquivamento do Inqurito Policial Como foi visto, a autoridade policial no poder requerer ou determinar o arquivamento do inqurito policial. Poder, contudo, o Ministrio Pblico, no desejando ofertar a denncia, requerer o arquivamento do inqurito policial, cabendo autoridade judicial acatar ou no tal requerimento. Somente o juiz arquiva o inqurito policial, aps requerimento do rgo do Ministrio Pblico. Tamanha a preocupao estatal em manter a ordem social que, mesmo requerido o arquivamento por aquele a quem compete buscar a justia (promotor) em nome da sociedade, cabe ao juiz julgar ou no a convenincia do arquivamento, atuando como fiscal do princpio da obrigatoriedade. Achando infundadas as razes para o arquivamento, a autoridade judicial remeter o inqurito ao procuradorgeral, que poder oferecer denncia, indicar outro promotor para ofertar a denncia (CP, art. 28), ou ainda insistir no arquivamento. Neste ltimo caso, estar o juiz obrigado a acatar a manifestao ltima de vontade do Ministrio Pblico. AO PENAL PRIVADA Como visto anteriormente, determinados crimes so de interesse exclusivo do prprio ofendido de propor ou no a ao penal. Determinados crimes, por ferirem a esfera ntima do cidado, exigem uma avaliao sobre a convenincia ou no de ser discutido em um processo, e somente o prprio ofendido quem julgar tal convenincia, e no o Estado. Estas aes constituem excees e so encontradas no Cdigo Penal quando este expressamente determina que o processo somente ser iniciado mediante queixa. O silncio da lei importa em que a ao ser pblica, que a regra geral. Os crimes que se iniciam por queixa so: os crimes contra a honra injria, difamao e calnia (art. 145 do CPB); contra os costumes estupro, atentado violento ao pudor (art. 225 do CPB); alterao de limites e usurpao de guas praticadas sem violncia e quando a propriedade particular (art. 161, 3, do CPB); dano e introduo ou abandono de animais em propriedade alheia (art. 167 do CPB); fraude execuo (art. 179 do CPB); violao de direito autoral (art. 189 do CPB), privilgio de inveno, marca de indstria ou comrcio e concorrncia ou propaganda desleal (art. 199 da Lei n 9.279, de 14 de maio de 1996); induzimento a erro ou ocultao de impedimento para casamento (art. 236 do CPB) e adultrio (art. 240 do CPB); exerccio arbitrrio das prprias razes sem violncia (art. 345 do CPB). Ao Penal Privada Genrica Tambm conhecida por ao penal privada propriamente dita, ou de iniciativa exclusiva da vtima. aquela em que quando ausente o ofendido ou tendo este falecido, os seus sucessores podero iniciar o processo ou dar continuidade, se este j estiver em andamento (art. 31 do CPP). So sucessores: cnjuge, ascendente, descendente e irmo. Trata-se de ordem preferencial, de sorte que, por exemplo, o pai possui preferncia diante do filho. Ao Penal Privada Personalssima Trata-se de uma subespcie de ao penal privada de iniciativa exclusiva da vtima. A ao privada procura resguardar interesses intrnsecos, cabendo ao prprio ofendido ou a seu representante oferecer a queixa. Quando, nos crimes de ao penal privada, o ofendido morre ou declarado ausente, seus sucessores (cnjuge, ascendente, descendente ou irmo) podero prosseguir com a ao ou, se ainda no tiver sido proposta, inici-la. A ao sob comento, personalssima, ao contrrio, s poder ser proposta pelo prprio ofendido. Ou seja, desaparecendo a figura dos sucessores a ao no poder ser iniciada. Ex.: o crime de adultrio (CP, art. 240) e o induzimento a erro essencial e ocultao de impedimento ao casamento (CP, art. 236). Para esses dois crimes, somente o prprio ofendido poder propor a ao. Vindo a desaparecer ou morrer, automaticamente se extingue a punibilidade, no se aplicando a ordem sucessria prevista no art. 31 do CPP. Nos crimes anteriormente citados, no ocorrer essa sucesso nem prosseguir a ao penal, culminando com a extino da pretenso punitiva. Ao Privada Subsidiria da Pblica aquela que se intenta nos crimes de ao penal pblica, ou seja, condicionada ou incondicionada, se o rgo do Ministrio Pblico no oferecer a denncia no prazo legal. Essa ao est prevista no art. 29 do CPP e no inciso LXIX do art. 5 da Constituio Federal. inadmissvel a ao penal privada subsidiria da pblica caso o Ministrio Pblico j tenha oferecido a denncia, solicitado novas diligncias, ou pedido arquivamento, porquanto nestas hipteses no houve inrcia por parte do titular da ao penal pblica. O prazo para o ajuizamento da queixa subsidiria ser de seis meses, iniciando-se o prazo a partir do trmino do prazo do Ministrio Pblico. O prazo para oferecimento de denncia de cinco dias, estando o indiciado preso, ou de quinze dias, estando solto. Se h pedido de novas diligncias por parte do Ministrio Pblico, aps o retorno dos autos da delegacia, ser aberto novo prazo ao Ministrio Pblico para o oferecimento da denncia, renovando-se a oportunidade da vtima ajuizar a ao penal privada subsidiria da pblica na hiptese de nova desdia ministerial.

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19O Ministrio Pblico atua na ao penal privada subsidiria da pblica como assistente litisconsorcial, auxiliando a acusao privada. No existe perempo na ao penal privada subsidiria da pblica, pois caso a vtima negligencie o andamento do processo, abandonando-o, esta sair do feito e o Ministrio Pblico retomar a titularidade da ao penal. Conforme o art. 29 do CPP, o Ministrio Pblico pode aditar a queixa (acrescentar dados), repudi-la e oferecer denncia substitutiva (em caso de inpcia da acusao), intervir em todos os termos do processo, fornecer elementos de prova e interpor recurso. Esclarea-se que a hiptese de repdio da queixa apenas admissvel se a mesma for inepta, ou seja, possua um vcio intrnseco (e.g., narrativa absolutamente truncada do fato tpico). Caso a mesma esteja formalmente em ordem, no poder o Ministrio Pblico repudi-la. OUTRAS ESPCIES DE AO PENAL Alm da clssica diviso acima exposta, existem outros tipos de ao penal. Existe a ao penal popular, na hiptese da jurisdio poltica exercida pelo Senado Federal. Segundo o art. 52, I e II, da CF/88, compete ao Senado Federal processar e julgar os crimes de responsabilidade das seguintes autoridades: Presidente da Repblica, VicePresidente, Ministros do STF, Procurador-Geral da Repblica e Advogado-Geral da Unio, bem como os Ministros de Estado e Comandantes das Foras Armadas, estes ltimos apenas nos crimes conexos com os do Presidente. Nestas hipteses, dispe os arts. 14 e 41 da Lei n 1.079/50 que qualquer cidado poder denunciar a autoridade e acompanhar o desenrolar do processo como parte acusadora. Trata-se, destarte, de ao penal popular. Tambm considerada ao penal popular o habeas corpus. Apesar de no possuir finalidade condenatria, mas desconstitutiva de coao liberdade de locomoo, o habeas corpus possui natureza penal, haja vista garantir o status libertatis. E por admitir legitimao ativa universal, tambm uma ao penal popular. Antes do advento da Constituio Federal de 1988, existia a ao penal ex officio. Nas hipteses de contraveno penal, ou crimes de leso corporal e homicdio, ambos culposos, admitia-se o incio da ao penal mediante mera portaria da autoridade policial ou pelo auto de priso em flagrante, ou ainda por iniciativa judicial, independentemente de denncia do Ministrio Pblico. Todavia, este procedimento judicialiforme foi extinto pela atual Carta Magna, que prev ser atribuio privativa do Ministrio Pblico promover a ao penal pblica (CF, art. 129, I). AO PENAL NOS CRIMES CONTRA OS COSTUMES A questo relativa ao penal nos crimes contra os costumes das mais controversas no Direito Penal. Inicialmente, o legislador determinou a regra geral no sentido de que a ao penal em relao a tais delitos proceder-se-ia mediante queixa (art. 225, caput, CP). A justificativa de o legislador entregar o jus persequendi in judicio nas mos da vtima uma questo de poltica criminal (streptus judicii). Todavia, o prprio legislador que estabeleceu esta regra geral em relao aos crimes contra os costumes, passou a estabelecer vrias excees, s quais a jurisprudncia se encarregou de acrescentar outras, de sorte que o estudo dogmtico da ao penal nos crimes contra os costumes tornou-se verdadeira celeuma. Dispe o art. 225, 1, I, c/c 2, CP, que, tratandose de vtima pobre a ao penal ser pblica condicionada representao. Dispe o art. 225, 1, II, CP, que tratando-se de crime cometido com abuso do ptrio poder, ou da qualidade de padrasto, tutor ou curador, a ao penal ser pblica incondicionada. Da mesma forma tratando de crime contra os costumes qualificado pelo resultado leso corporal grave ou morte (art. 223, CP), a ao penal ser pblica incondicionada. Trata-se de uma interpretao sistemtica do art. 225, eis que o mesmo dispe que nos crimes definidos nos captulos anteriores, somente se procede mediante queixa, e o delito capitulado no art. 223 est dentro do mesmo captulo, de sorte que no alcanado pela norma de exceo, e, portanto, alcanado pela regra geral estabelecida no art. 100 do CP, que a da ao penal pblica incondicionada. Alm destas hipteses de ao penal pblica incondicionada, o Egrgio STF editou a Smula n 608, nos seguintes termos:No crime de estupro, praticado mediante violncia real, a ao penal pblica incondicionada.

Por violncia real entende-se leso corporal (ainda que simples). E, segundo tal entendimento, mesmo o advento da Lei n 9.099/95 no teria alterado a ao penal pblica incondicionada nestas hipteses. Neste sentido, recente deciso do STJ: EmentaHabeas Corpus. Penal. Estupro com leses corporais leves. Ao Penal Pblica Incondicionada. Smula 608/STF. Delito considerado hediondo. Impossibilidade de progresso de regime. O estupro absorve as leses corporais leves decorrentes do constrangimento, ou da conjuno carnal, no havendo, pois, como separar estas daquele, para se exigir a representao prevista no art. 88, da Lei n 9.099/95. (HC n 7.910/PB, Rel Min. Anselmo Santiago, in DJ de 23/11/1998). Vigncia da Smula 608, do STF. Consoante entendimento recentemente adotado pelo Col. STF, secundado por julgados desta Corte, os crimes de estupro e atentado violento ao pudor, quando cometidos em sua forma simples ou com violncia presumida, enquadram-se na definio legal de crimes hediondos (art. 1, da Lei n 8.072/90), receben


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