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    Irma Verri Bastian

    O TEOREMA DE PITGORAS

    Mestrado em Educao Matemtica

    PUC-SP

    2000

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    Irma Verri Bastian

    O TEOREMA DE PITGORAS

    Dissertao apresentada como exigncia

    parcial para obteno do ttulo de

    MESTRE EM EDUCAO

    MATEMTICA Comisso

    Examinadora da Pontifcia Universidade

    Catlica de So Paulo, sob orientao do

    Professor Doutor Saddo Ag Almouloud

    PUC-SP

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    Autorizo, exclusivamente para fins acadmicos e cientficos, a reproduo total ou parcial desta

    dissertao por processos de fotocopiadoras ou eletrnicos.

    Assinatura: _______________________________________ Local e Data: ______________

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    BANCA EXAMINADORA

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    RESUMO

    O presente trabalho focaliza o ensino-aprendizagem do Teorema de Pitgoras

    por meio de uma abordagem que visa enfatizar, inicialmente, o carter necessrio e

    suficiente do Teorema, para chegar, posteriormente, forma da igualdade pitagrica.

    O estudo histrico e epistemolgico levou, num segundo momento, a uma

    anlise mais apurada do objeto matemtico em questo. Aps examinar como os livros

    didticos lidam com uma parte da transposiodidtica do Teorema, fez-se o confronto

    dessas abordagens com as propostas curriculares, especialmente os Parmetros

    Curriculares Nacionais (PCNs).

    A segunda fase do trabalho trata da elaborao e aplicao de uma seqnciadidtica, tendo como pblico-alvo alunos de 8asrie. A referida seqnciacompe-se

    de duas partes: a primeira voltada para a abordagem do Teorema e a segunda para

    aplicaes do mesmo em problemas.

    Com essa experimentao foi possvel constatar a vantagem do enfoque adotado

    em relao ao usualmente encontrado nos livros didticos.

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    ABSTRACT

    This paper focusses on the teaching-learning of the Pythagorass Theorem

    through an approach that aims to emphasize, initially, the necessary and sufficient

    character of the Theorem to get, subsequently, to the form of the Pythagorean equality.

    The historical and epistemological study led, at a second moment, to a more

    refined analysis of the mathematical object in question. After examining how the

    textbooks deal with a part of the didactictransposition of the Theorem, these approaches

    were confronted with the curricular proposals, especially the National Curricular

    Parameters (PCNs).

    The second phase of the paper consists in the elaboration and application of adidactic sequence, having eighth-grade students as a target audience. The sequence

    referred to is composed of two parts: the first one concerning the approach of the

    Theorem and the second, the applications of the latter on problems.

    This experimentation made it possible to establish the advantage of the approach

    adopted over the one commonly found in textbooks.

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    AGRADECIMENTOS

    Ao professor-doutor Saddo Ag Almouloud, pela orientao dedicada e amiga,

    pelo incentivo e apoio constantes.

    Aos professores-doutores da Banca Examinadora, Benedito Antonio da Silva,

    Lilian Nasser e Tnia Maria Mendona Campos, pela ateno e sugestes.

    coordenao, professores, colegas do mestrado em Educao Matemtica da

    PUC-SP, funcionrios, bem como bibliotecrias, pelo convvio, apoio e compreenso.

    Ao colega Ronaldo P. Saraiva, pela disponibilidade em ajudar e aplicao doquestionrio em Santos.

    direo, coordenao, professores, especialmente Fussae, Joo e Tereza

    Cristina, e funcionrios dos colgios Conde Jos Vicente de Azevedo, Afonso Pena e

    Antonio Alcntara Machado, pela oportunidade da experimentao, e aos alunos que

    dela participaram.

    Ao professor-doutor Pedro A. Ruiz, jornalista, pela dedicada reviso dos textos e

    editorao.

    doutora Brigitte van Eyll, mdica, e doutor Siegfried J. Wehr, psiclogo, pela

    sustentao nos momentos crticos.

    Aos amigos, pelo apoio constante. amiga Setsuko, pelo incentivo e por me

    convencer a ingressar no mestrado.

    A meus familiares, pelo amor expresso de vrias formas: meu marido, Willy,

    pela pacincia, compreenso, cooperao e apoio irrestrito; minha filha, Andrea, e meugenro, Pedro, pela pacincia e boa vontade, auxiliando na digitao do trabalho e na

    construo das figuras. A meu filho, Marcello, e minha futura nora, Marcia, pelo

    carinho e solidariedade. minha me, Cassia, pela importante presena. minha neta,

    Sylvia, pela esperana no futuro.

    A todos que, de algum modo, contriburam para a concretizao deste trabalho.

    A Deus, por permitir que eu esteja agradecendo.

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    SUMRIO

    INTRODUO .................................................................................................................. 1

    CAPTULO I PROBLEMTICA E METODOLOGIA............................................. 3

    Problemtica ................................................................................................................. 3

    Metodologia ................................................................................................................. 11

    CAPTULO II ESTUDO HISTRICO E EPISTEMOLGICO ............................. 13

    CAPTULO III O OBJETO MATEMTICO............................................................ 19

    Sobre a importncia do Teorema de Pitgoras ........................................................ 19

    Anlise do ponto de vista matemtico e didtico de algumas demonstraes do

    Teorema de Pitgoras ............................................................................................... 22

    Algumas aplicaes do Teorema de Pitgoras ........................................................ 60

    Alguns problemas no convencionais envolvendo o Teorema de Pitgoras ........... 63

    Sobre ternas pitagricas ........................................................................................... 68

    CAPTULO IV ESTUDO DO TEOREMA DE PITGORAS NO ENSINO .......... 71

    Anlise de livros didticos, comparao com Propostas Curriculares e Parmetros

    Curriculares Nacionais (PCNs) ................................................................................ 71

    Questionrio ............................................................................................................. 84

    Anlise a priori do questionrio ............................................................................... 84

    Aplicao do questionrio ....................................................................................... 91

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    Anlise a posteriori do questionrio por meio de histogramas de barras e do

    Software CHIC ................................................................................................... 92

    CAPTULO V SEQNCIA DIDTICA ........................................................... 108

    Anlise a priori das atividades, aplicao da seqncia didtica, anlise a

    posteriori e discusso dos resultados ...... .... .... ................................. .... ... 110

    Teste de avaliao ............................................................................................ 165

    CAPTULO VI CONCLUSES ........................................................................... 179

    BIBLIOGRAFIA ....................................................................................................... 184

    ANEXOS ........................................................................................................................ I

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    INTRODUO

    No decorrer de muitos anos de magistrio, no ensino de Matemtica para o

    colegial, atualmente denominado nvel mdio, observamos a grande dificuldade dos

    alunos no que se refere aplicao do Teorema de Pitgoras comoferramentatanto na

    resoluo de problemas, como na aprendizagem de outros conceitos. Qual seria a causa

    dessa dificuldade?

    No momento da escolha do tema para nosso primeiro trabalho de Didtica em

    ps-graduao, a questo ressurgiu em nossa mente e decidimos iniciar um estudo

    horizontal sobre o Teorema, isto , averiguar as possveis utilizaes em Geometria,

    Geometria Analtica e lgebra, no mbito do nvel mdio. Entretanto, medida que

    tomvamos conhecimento de trabalhos, livros e pesquisas sobre o assunto, estas

    notadamente francesas, nosso horizonte se ampliou e percebemos se tratar de um vasto

    campo, compreendendo mltiplos aspectos. Poderamos focalizar a parte histrica e

    epistemolgica, dada a importncia do Teorema de Pitgoras na discusso dos

    incomensurveis; ou o objeto matemtico possuidor de quase 400 demonstraes; ou

    ainda um aspecto didtico, da anlise de erros mais freqentes cometidos pelos alunos.

    Ao iniciar o estudo dos trabalhos da pesquisadora Virginia Padilla sobre Anlise

    Cognitiva e de Raymond Duval sobre Registros de Representao, nosso interesse se

    voltou para a aplicao desses resultados em outras reas do conhecimento e

    almejamos, por meio deste trabalho, poder chegar resposta, pelo menos de algumas,

    de nossas indagaes.

    O objetivo testar a seqncia didtica construda em alunos que ainda no

    tenham conhecimento do Teorema de Pitgoras e verificar at que ponto possvel, com

    ela, fazer com que o ensino-aprendizagem desse tpico ganhe mais significado para o

    estudante.

    Aps um captulo dedicado ao Estudo Histrico e Epistemolgico, nossa ateno

    se voltou para a vasta gama de demonstraes existentes para o Teorema. Efetuamos, a

    seguir, um estudo abrangendo a anlise de livros didticos, de Propostas Curriculares do

    Estado de So Paulo e dos Parmetros Curriculares Nacionais (PCNs). Aplicamos

    tambm um questionrio diagnstico, tendo como pblico-alvo alunos da 1a srie do

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    nvel mdio (1 colegial), com o intuito de investigar-lhes as concepes sobre o

    Teorema de Pitgoras.

    Com base nos princpios da didtica francesa em Matemtica, em pesquisas

    sobre o tema e em pesquisas no campo da Psicologia Cognitiva, interpretamos osresultados obtidos no teste diagnstico, estabelecemos nossa problemtica de pesquisa e

    construmos a seqncia didtica.

    A comparao entre as anlises a priori e a posteriori da seqncia didtica e a

    aplicao de um teste final avaliatrio, acreditamos, permitiram decidir at que ponto

    nossos objetivos foram ou no atingidos.

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    CAPTULO I: PROBLEMTICA E METODOLOGIA

    Problemtica

    Dentre as pesquisas francesas sobre a aplicao do Teorema de Pitgoras,

    destaca-se a de Annie Bert (1995), relacionando o ensino-aprendizagem do tpico e as

    diferentes ordens de apresentao das primeiras noes de geometria mtrica no ensino

    secundrio. A autora faz um levantamento diagnstico identificando os erros mais

    freqentes apresentados por alunos franceses na utilizao do Teorema de Pitgoras. Os

    erros citados so os seguintes:

    1) utilizao do teorema para calcular o terceiro lado de um tringulo noretngulo;

    2) sendo c o comprimento da hipotenusa e a e b catetos,

    babac 22 +=+= , sem perceberem que essa concluso contradiz a condio de

    existncia de tringulo;

    3) ao calcular um dos catetos, alguns alunos escrevem que o quadrado desse

    lado igual soma dos quadrados da hipotenusa e do outro cateto;4) os alunos escrevem essa relao corretamente (item 3), mas justificam

    dizendo que aplicaram o recproco do Teorema;

    5) na verificao para decidir se um tringulo ou no retngulo, muitos

    alunos e mesmo alguns docentes (segundo Bert) afirmam ter aplicado o recproco

    quando concluem que, se a relao no verificada, o tringulo no retngulo;

    6) em classe do 3me (alunos com aproximadamente 14 anos, o

    correspondente a nossa 8a srie do ensino fundamental), foi proposto o seguinte

    exerccio: Dados AD, AB e BC, calcular DC. Erro encontrado: segundo o Teorema de

    Pitgoras, 2222 BCABADDC ++= .

    Bert (1998, p. 119) questiona: um mau

    emprego da analogia? Ou o aluno no viu o

    tringulo retngulo porque a projeo de D nofigurava no desenho (...)?

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    A seguir Bert acrescenta: Mas, no fundo, se o aluno produziu isso, porque

    ele no est engajado na questo (...). No o resultado da ausncia de

    problematizao? Alm de apontar os erros mais freqentes observados na Frana

    relativos aplicao do Teorema de Pitgoras, sugere alternativas para a construo de

    uma Engenharia Didtica abrangendo o referido tema. Ela afirma que ordens de

    apresentao oriundas da filognese (ordens acadmicas resultantes da Histria e da

    cultura) no so compatveis com a problemtica dos alunos (ontognese).

    Para conjeturar a existncia da relao pitagrica, a pesquisadora sugere que os

    alunos deveriam escolher ternas de nmeros satisfazendo a condio de existncia de

    tringulo (ingalit triangulaire) e tentar traar tringulos retngulos cujos lados

    tenham por medidas essas ternas (idem, p. 115). Assim, eles encontrariam vriostringulos, alguns retngulos e outros no, e poderiam perceber facilmente a

    impossibilidade de uma escolha arbitrria (ibidem). Examinar os dados mnimos, sobre

    lados e ngulos, para obter tringulos isomtricos poderia ser outro caminho para

    problematizar o Teorema de Pitgoras.

    Quanto forma da relao pitagrica, Bert critica o uso de puzzles (quebra-

    cabeas), do modo como aparecem nos manuais franceses, e a organizao de tabelas,

    em cujas colunas sejam solicitados os clculos da soma dos quadrados dos lados dongulo reto e do quadrado da hipotenusa. A pesquisadora prope que, apesar de a

    duplicao do quadrado ser uma situao real para iniciar o ensino do Teorema de

    Pitgoras, a mesma poderia ser pensada aps a institucionalizao do Teorema.

    Na opinio de Bert, a ordem mais compatvel e esboada pela instituio seria:

    mediatriz e simetria; determinao de uma circunferncia por trs pontos; casos de

    igualdade de tringulos quaisquer e retngulos; posies relativas de duas

    circunferncias; razes quadradas; reas; diagonal do quadrado; Teorema de Pitgoras(direto); recproco do Teorema de Pitgoras; e teorema geral sobre o tringulo. Pondera

    ainda que, nessa ordem, a consistncia matemtica seria insuficiente devido ao

    desaparecimento, nos programas franceses, dos casos de isometria de tringulos, do

    item sobre posies relativas de duas circunferncias e das razes quadradas. A ordem

    deveria incluir uma introduo translao, rotao e simetria ortogonal.

    Aps comentar a escolha atual de admitir a condio de existncia de tringulo

    e demonstrar, a partir desta ou do Teorema de Pitgoras, que o segmento perpendicular mais curto que o oblquo, Bert (apud, 1985, p. 116) cita Coquin-Viennot: H uma

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    complexidade a priori que se fundamenta nas matemticas e uma complexidade a

    posteriori a partir dos resultados dos alunos!

    No questionrio que ser oportunamente apresentado neste trabalho visando

    investigar as concepes dos alunos sobre o Teorema de Pitgoras, procurou-se detectarse alguns dos erros apontados por Bert seriam cometidos tambm por alunos

    brasileiros. Fato que realmente ocorreu e ser comentado no Captulo IV, referente ao

    Estudo do Teorema de Pitgoras no Ensino.

    Como se pode inferir das ponderaes apresentadas, Bert, no estudo, ressalta os

    entraves relativos aos encadeamentos das situaes e defasagem entre as diferentes

    ordens. Para explicar as possveis causas dos erros enumerados, Bert analisa o

    ambiente matemtico com base na transposio didtica. Poder-se-ia, entretanto, pensartambm numa relao entre os erros e alguns fenmenos estudados em Psicologia

    Cognitiva por Duval (1988 e 1995) e por Padilla (1992).

    Segundo Duval (1995), as atividades cognitivas envolvidas na aprendizagem da

    Matemtica requerem a utilizao de sistemas de expresso e de representao que vo

    alm da linguagem natural e das imagens. No caso da Geometria, destacam-se as figuras

    geomtricas, os enunciados em linguagem corrente, as representaes em perspectiva e

    as notaes simblicas. Na atividade matemtica, usual e freqente a passagem de umsistema de representao para outro, como, por exemplo, de enunciado para figura, ou a

    mobilizao simultnea de diferentes sistemas de representao durante a resoluo de

    um problema.

    A passagem de um registro para outro envolve o que se denomina coordenao

    entre os diferentes registros.Uma das dificuldades encontradas por muitos alunos nesse

    processo tem origem nos fenmenos de no congruncia, pois para o pensamento

    mais espontneo seguir a congruncia semntica.

    De acordo com Duval (1995, p. 45), a converso das representaes semiticas

    constitui para a maioria dos alunos uma atividade cognitiva nem simples, nem

    espontnea. Duas representaes pertencentes, respectivamente, a dois registros

    diferentes podem ser colocadas em correspondncia associativa entre as unidades

    significantes elementares constitutivas de cada um dos registros. Desse modo, possvel

    determinar se elas so ou no congruentes. Existe congruncia quando os trs critrios

    seguintes so verificados:

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    a) a possibilidade de uma correspondncia semntica entre os elementos

    significantes, isto , a cada unidade significante simples de uma das representaes pode

    ser associada uma unidade significante elementar;

    b) a unicidade semntica terminal, isto , a associao para cada unidadesignificativa da representao de partida nica;

    c) a ordem de apreenso no arranjo das unidades em cada uma das

    representaes se conserva.

    Exemplo de congruncia: Um nmero menor que outro converte-se em yx < .

    Duval distingue quatro formas de apreenso, isto , de interpretao para as

    figuras geomtricas: perceptiva, discursiva, operatria e seqencial. A ltima nooferece interesse para este trabalho, pois se refere a tarefas de construo de figuras, que

    tm como objetivo a reproduo de uma figura dada.

    A apreenso perceptiva imediata e automtica. A figura mostra objetos que se

    destacam independentemente de qualquer enunciado. Ao contrrio do que ocorre com as

    representaes por meio de grficos cartesianos, as figuras geomtricas no constituem

    um registro de tratamento autnomo. Em outras palavras, as propriedades de uma figura

    dependem do que enunciado como hiptese. No h figura sem legenda (idem, p.189). Acontece freqentemente que uma mesma figura, dependendo do enunciado das

    hipteses, pode representar problemas completamente diferentes. A apreenso

    perceptiva deve, portanto, estar subordinada apreenso discursiva, para levar a uma

    resoluo correta do problema.

    A apreenso discursiva desempenha um papel de neutralizao da apreenso

    perceptiva, pois a figura pode tornar-se uma armadilha, acarretando falsas concluses. A

    grande dificuldade dos alunos est essencialmente na defasagem entre apreensoperceptiva e uma interpretao comandada por hipteses.

    A apreenso operatria est centrada nas possveis modificaes de uma figura

    de partida. Quando um problema proposto, h as hipteses dadas e a questo a

    resolver. Com base nos dados do problema possvel construir uma figura, com ou sem

    instrumento. No caso de ela ser tambm dada, chamada figura de partida. A apreenso

    operatria vai permitir ver na figura o caminho de soluo ou solues do problema.

    Ou, dito de outra maneira, uma apreenso operatria solicitada cada vez que se esperada figura que ela realize uma funo heurstica, ou seja, uma funo intuitiva.

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    Como j foi citado anteriormente, a apreenso operatria consiste na

    modificao de uma figura de partida, que pode ser realizada tanto materialmente como

    mentalmente.

    Distinguem-se trs tipos de modificao:

    mereolgica decomposio da figura dada em partes, que se faz em

    funo da relao entre parte e todo;

    tica consiste em aumentar, diminuir, deformar a figura inicial;

    posicional corresponde a deslocamentos por rotao, translao etc.

    A reconfigurao um tipo de apreenso operatria. Consiste em repartir uma

    figura geomtrica em vrias subfiguras igualmente geomtricas e agrupar, isto ,

    reorganizar todas ou algumas delas de modo a formar uma nova figura. Cada figura

    pode funcionar como suporte de vrias reconfiguraes. A maior parte das

    demonstraes do Teorema de Pitgoras corresponde a diferentes empregos da

    reconfigurao.

    Segundo Padilla, salienta-se sempre o papel intuitivo que as figuras tm em

    Matemtica, mas poucos estudos tratam dos procedimentos cognitivos que permitem s

    figuras desempenhar esse papel.

    A reconfigurao pode ser espontnea e evidente ou difcil de enxergar na figura

    de partida, o que ocorre em funo de fatores de complexidade ou visibilidade, que

    facilitam ou inibem essa operao na percepo de uma figura. Padilla distingue sete

    fatores:

    o fato de o fracionamento da figura em partes elementares ser dado noincio ou necessitar ser encontrado (por meio de traados suplementares auxiliares).

    Exemplo:

    ABCD um quadrado dividido em seis retngulos iguais. Prove que as reas

    AMED, MEF e MBCF so iguais.

    Com o fracionamento no dado: Fazer a partio de um quadrado em trs partes

    iguais a partir do ponto mdio M do lado AB. Devido no congruncia entre

    enunciado e figura, o caminho de resoluo fica menos evidente;

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    o fato de o reagrupamento das partes elementares formar uma

    reconfigurao convexa ou no convexa (mais difcil de ser destacada da figura).

    Exemplo:

    Esta figura formada de cinco quadrados. Pode-se decomp-la em quatro

    partes que se superpem? A no convexidade de cada pea torna menos visvel a

    decomposio;

    o nmero de modificaes posicionais (rotaes e translaes) efetuadas

    na subfigura;

    o fato de uma mesma parte elementar dever entrar simultaneamente em

    dois reagrupamentos intermedirios a ser comparados, obstculo do desdobramento dos

    objetos, constitui-se numa dificuldade para os alunos.

    Exemplo: Sendo IO e OJ respectivamente bissetrizes dos ngulos AB e BC,

    qual o valor do ngulo IJ? Por qu?

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    O ngulo JB parte comum aos ngulos BC e IJ; o ngulo IB parte

    comum a AB e IJ. Esse desdobramento de objetos aumenta a complexidade do

    problema;

    o fato de o reagrupamento pertinente exigir a substituio das parteselementares. Exemplo:

    Mostrar que a soma dos ngulos internos de um tringulo vale 180o.

    Substituies necessrias:

    2 = 2 e 1 = 1;

    o fato de a operao de reconfigurao levar em conta as caractersticas

    do contorno.

    O contorno e o fundo quadriculado favorecem a visibilidade da reconfigurao;

    o fato de que todas as subfiguras devam ser removidas para o prprio

    interior da figura de partida ou, ao contrrio, que algumas subfiguras devam sair do

    contorno da figura de partida. Exemplo:

    Calcular a rea da Figura 1 (tringulo EMF) e da Figura 2:

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    Fig. 1 Fig. 2

    No primeiro caso, o deslocamento das subfiguras foi feito para o interior da

    figura de partida; no segundo, para o exterior. Em ambos, a reconfigurao resultou em

    retngulos, cujas reas podem ser facilmente calculadas.

    Assim, com base nas hipteses de Bert, nas concluses de Duval e Padilla, em

    pesquisas, nos resultados colhidos com o questionrio e na anlise de manuais didticos,

    foi possvel estabelecer as seguintes indagaes:

    Os manuais preocupam-se em estabelecer a forma do Teorema de Pitgoras,

    omitindo a importncia de seu carter necessrio e suficiente. At que ponto esse tipo de

    abordagem interfere na compreenso do significado do Teorema pelos alunos e na sua

    posterior recontextualizao como ferramenta na resoluo de problemas?

    Os tipos de erros observados na aplicao do Teorema decorrem da

    abordagem e/ou se constituem numa dificuldade, de carter mais geral, relativa

    apreenso da figura?

    Tendo em vistas essas questes, colocou-se como objetivo de trabalho a

    elaborao de uma seqncia didtica em duas fases. Primeiramente, realizao de

    atividades que permitissem ao aluno conjeturar a existncia da relao pitagrica; seu

    carter necessrio/suficiente (se um tringulo retngulo, ento vale a igualdade

    pitagrica: O quadrado da medida da hipotenusa igual soma dos quadrados das

    medidas dos catetos condio necessria ; e, reciprocamente, se vale a referida

    igualdade, o tringulo retngulo condio suficiente); e a forma dessa relao. Numasegunda etapa, realizao de atividades de complexidade crescente fazendo-se

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    sucessivas aproximaes com o Teorema, com o intuito de desenvolver no aluno

    condies para o emprego adequado do Teorema como ferramenta.

    Como ponto de partida foram assumidas as seguintes hipteses:

    para o aluno perceber a importncia do Teorema de Pitgoras conveniente trabalhar previamente com a condio de existncia de tringulo, a qual

    propiciar condies para o entendimento do carter necessrio e suficiente da

    igualdade pitagrica;

    alguns dos erros praticados pelos alunos quando da aplicao do

    Teorema de Pitgoras podem ser provocados por fatores prprios da interpretao de

    problemas geomtricos concernentes apreenso operatria, tais como: fenmeno da

    no congruncia entre enunciado figura ou figura Teorema de Pitgoras; obstculo

    do desdobramento de objetos; interferncia da rotao do tringulo retngulo no

    reconhecimento das unidades elementares (catetos e hipotenusa); fundo reticulado

    mascarando o caminho de resoluo do problema.

    Metodologia

    Seguindo alguns preceitos da Engenharia Didtica, fundamentou-se ametodologia desta pesquisa.

    A engenharia didtica, vista como metodologia de pesquisa, caracteriza-se em primeiro lugar

    por um esquema experimental baseado em realizaes didticas em classe, ou seja, sobre a

    concepo, a realizao, a observao e a anlise de seqncias de ensino (Artigue, 1988, pp.

    285-286).

    A metodologia da engenharia didtica compreende quatro fases: anlise prvia,

    construo e anlise das situaes didticas da engenharia, experimentao, anlise a

    posteriori e validao. A validao processa-se internamente, com base na confrontao

    entre anlise a priori e anlise a posteriori (idem, p. 286).

    Assim, numa primeira fase de anlises prvias, foi feito um estudo histrico e

    epistemolgico do Teorema de Pitgoras, visando buscar sua gnese histrica e tambmidentificar obstculos epistemolgicos. Investigou-se, ainda nessa etapa, o Teorema de

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    importncia e auxiliou na tomada de deciso no que se refere demonstrao usada na

    abordagem.

    Efetuou-se, a seguir, a anlise de livros didticos nacionais de 7 e 8 srie, em

    confronto com a proposta curricular vigente, tentando-se extrair uma eventual ligaoentre as variveis didticas utilizadas nos mesmos e a ocorrncia de obstculos

    didticos. conveniente ressaltar que, para este trabalho, obstculo no significa

    dificuldade, mas um conhecimento que produz respostas adaptadas num certo contexto

    e falsas fora dele. Conhecimento que resiste s contradies com as quais confrontado

    e ao estabelecimento de um conhecimento novo.

    Simultaneamente, realizou-se a pesquisa bibliogrfica sobre o tema, a qual se

    constituiria na base terica para o presente trabalho.

    Para detectar as concepes dos alunos sobre o Teorema de Pitgoras, preparou-

    se um questionrio que incluiu questes inspiradas em pesquisas francesas, publicadas

    pelo Instituto de Pesquisa sobre o Ensino de Matemtica (Irem) de Orlans e de Poitiers.

    Numa segunda fase, a partir dos resultados obtidos, definiu-se a estrutura da

    seqncia didtica. A seguir, as atividades foram elaboradas e analisadas a priori,

    levando-se em conta as variveis didticas empregadas, a problemtica e as hipteses

    da pesquisa.

    As fases seguintes compreendem a aplicao da seqncia didtica, a anlise a

    posteriori e validao. Entretanto, a descrio dessas fases, apesar de se iniciarem no

    prximo Captulo, com o Estudo Histrico e Epistemolgico, no pressupe uma ordem

    hermtica, pois, no que se refere seqncia didtica, preciso explicitar, ocorreram

    idas e vindas com constantes retornos fundamentao terica e pesquisas sobre o

    tema.

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    CAPTULO II: ESTUDO HISTRICO E EPISTEMOLGICO

    O estudo histrico e epistemolgico teve como finalidade caracterizar o

    Teorema de Pitgoras em sua gnese histrica e identificar obstculos. Conforme

    Artigue (1990, p. 244), a anlise epistemolgica permite evidenciar diferenas que

    ocorrem durante o que chama de transposio didtica, distanciando o saber sbio

    do saber ensinado.

    A relao pitagrica, segundo Boyer (1974), Eves (1995) e Singh (1998), havia

    sido testada, em determinados tringulos retngulos, por diversas culturas antigas, mas

    como afirmar sua veracidade para uma infinidade de tringulos retngulos? Isso s se

    tornou possvel quando Pitgoras lanou mo de uma demonstrao matemtica. Essa

    idia, de partir do particular/concreto e chegar ao geral/abstrato, foi utilizada neste

    trabalho, como ser visto no captulo referente seqncia didtica.

    Pitgoras nasceu por volta de 572 a.C., na ilha egia de Samos, na Grcia, no

    longe de Mileto, lugar do nascimento de Thales. Sua figura est envolta em mitos e

    lendas, uma vez que no existem relatos originais sobre sua vida e trabalhos. O grande

    mrito de Pitgoras teria sido a percepo de que os nmeros existem

    independentemente do mundo concreto. Desse modo, ele poderia descobrir verdades

    que ficariam acima de preconceitos ou opinies.

    Parece ter viajado pelo Egito e Babilnia, possivelmente indo at a ndia.

    Observou que os egpcios e babilnios calculavam por meio de receitas, que

    produziam respostas corretas e eram passadas de gerao a gerao, sem que ningum

    questionasse o porqu delas. Para ele era importante entender os nmeros, suas relaes

    e no meramente utiliz-los.Durante as peregrinaes, ele absorveu no s informao matemtica e

    astronmica, como tambm muitas idias religiosas. Ao retornar, encontrou Samos sob

    domnio persa e decidiu ento emigrar para o porto martimo de Crotona, uma colnia

    grega situada no sul da Itlia. L, fundou a famosa escola pitagrica, que, alm de ser

    um centro de estudos de filosofia, matemtica e cincias naturais, era tambm uma

    irmandade estreitamente unida por rituais secretos.

    A filosofia pitagrica baseava-se na suposio de que a causa ltima das vrias

    caractersticas do homem e da matria so os nmeros inteiros. Isso levava ao estudo

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    das propriedades dos nmeros, juntamente com a Geometria, a Msica e a Astronomia,

    que constituam as artes bsicas do programa pitagrico de estudos.

    O lema da escola pitagrica, Tudo nmero, deixa transparecer uma forte

    afinidade com a Mesopotmia. Segundo os historiadores, mesmo o Teorema, ao qual onome de Pitgoras est tradicionalmente ligado, j era conhecido dos babilnios, havia

    mais de um milnio antes. Porm foram os pitagricos os primeiros a demonstr-lo, o

    que justificaria a denominao de Teorema de Pitgoras, como ficou conhecido.

    Uma tableta do perodo babilnio antigo, a classificada Plimpton 322, contm

    colunas de nmeros inteiros relacionados com ternas pitagricas (Boyer, 1974, p. 26).

    A partir de dois inteiros p e q (com p > q) foram formadas ternas de nmeros:

    22 qp ; 2pq; p2 + q2

    Os trs inteiros assim obtidos podem ser usados como dimenses do tringulo

    retngulo ABC, com:

    22 qpa = ; b = 2pq; e c = p2 + q2, em que c2= a2 + b2.

    Num texto babilnio antigo aparece um problema (Boyer, 1974, p. 29) em que

    uma escada ou prancha de comprimento 0,30 unidade est apoiada a uma parede. A

    questo : quanto a extremidade inferior se afastar da parede se a superior escorregar

    para baixo uma distncia de 0,06 unidade?

    A resposta encontrada corretamente usando-se o Teorema de Pitgoras.

    Cerca de 1500 anos depois, problemas semelhantes ainda estavam sendo

    resolvidos no vale mesopotmico: Uma vara est apoiada a uma parede, se o topo

    escorrega 3 unidades quando a extremidade inferior se afasta da parede 9 unidades, qual

    o comprimento da vara? A resposta dada corretamente como sendo 15 unidades.

    Atribui-se aos pitagricos a regra para a obteno das ternas pitagricas, dada

    por:2

    1m 2 ; m; e

    2

    1m 2 +, em que m um nmero inteiro mpar.

    Como essa regra se assemelha aos exemplos babilnicos, isso faz pensar que

    talvez ela no seja uma descoberta independente (Boyer, 1974, p. 42).

    Para os agrimensores egpcios antigos, do tempo dos faras, a construo detringulos 3,4,5 com uma corda dividida em 12 partes iguais por 11 ns servia na

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    conhecessem o Teorema de Pitgoras. Ento surge para os estudiosos um problema de

    natureza terica: como se pode mostrar, sem utilizar o Teorema, que o tringulo 3,4,5

    retngulo?

    Em 1962, foi investigado o chamado papiro matemtico Cairo (desenterrado em1938), que data de 300 a.C. aproximadamente. Foram encontrados quarenta problemas

    de Matemtica, nove dos quais se relacionavam exclusivamente com o Teorema de

    Pitgoras. Isso mostra que os egpcios dessa poca no s sabiam que o tringulo

    3,4,5 retngulo, mas que tambm acontecia o mesmo para os tringulos 5,12,13 e

    20,21,29.

    Eis trs problemas encontrados no papiro matemtico de Cairo (Eves, 1995, p.

    87):

    1. Uma escada de 10 cbitos est com os ps a 6 cbitos da parede. Que

    distncia a escada alcana?

    2. Um retngulo de rea 60 cbitos quadrados tem diagonal de 13 cbitos.

    Determine os lados do retngulo.

    3. Um retngulo de rea 60 cbitos quadrados tem diagonal de 15 cbitos.

    Determine os lados do retngulos.

    A seguir, o mtodo usado pelo escriba para resolver o item 2 e o 3. Designando

    os lados por x e y; a diagonal por d; e a rea do retngulo por A, tem-se:

    x2+ y2= d2e xy = A

    que fornecem:

    x2+ 2xy + y2= d2+ 2A e x2 2xy + y2= d 2 2A, isto :

    (x + y)2= d2+ 2A e (x y)2= d2 2A

    a) No problema 2, d2+ 2A e d 2 2A so quadrados perfeitos e se podem

    encontrar imediatamente valores para (x + y) e (x y).

    b) No problema 3, d2+ 2A e d2 2A no so quadrados perfeitos e o escriba

    usa a frmula de aproximao:

    x

    y

    d

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    a2

    baba 2 ++ chegando-se a

    12

    1

    2

    118

    36

    21182118345 2 ++=++= e

    4

    110

    20

    510510105 2 +=++=

    Quanto aos documentos matemticos da antiga China, no h unanimidade dos

    historiadores no que se refere s possveis datas. O Chou Pei Suang Ching (1200 a.C. ou

    300 a.C.) parece ser o mais antigo dos clssicos matemticos. Esse tratado indica que na

    China, como tambm Herdoto dissera do Egito, a Geometria derivou da mensurao.

    No Chou Pei h problemas sobre tringulos retngulos, alguns dos quais

    reaparecem mais tarde na ndia e na Europa. Um dos mais conhecidos o do bambu

    quebrado (Boyer, 1974, p. 144):

    H um bambu de 10 ps de altura cuja extremidade superior, ao ser quebrada,

    atinge o cho a 3 ps da haste. Achar a altura da quebra.

    No tratado consta uma discusso do Teorema de Pitgoras, baseada na seguinte

    figura, porm sem nenhuma demonstrao (Eves, 1995, p. 244).

    A ndia antiga, como o Egito, tinha estiradores de corda, os detentores das

    primitivas noes geomtricas, adquiridas em conexo com o traado dos templos e a

    construo de altares. Esses conhecimentos foram reunidos nos chamados Sulvasutras

    ou Regras de Corda (Sulva refere-se s cordas usadas nas medidas).

    A mais conhecida das trs verses da obra de Apastamba, que data talvez da

    poca de Pitgoras Nela se encontram regras para a construo de ngulos retos por

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    meio de ternas de cordas, cujos comprimentos formam tradas pitagricas como 3,4,5;

    5,12,13; 8,15,17; e 12,35,37 (Boyer, 1974, p. 151).

    No improvvel que houvesse influncia mesopotmica nos Sulvasutras. As

    regras, que a aparecem, implicam no conhecimento da relao pitagrica, mas no setem informao de que os hindus tivessem alguma idia da natureza de sua

    demonstrao.

    Na idade Mdia (sculo XII), o matemtico hindu Bhaskara publicou em seu

    tratadoLilavatio problema do bambu quebrado, utilizando para altura do bambu 32

    cvados (ou cbitos) e para a distncia da extremidade cada at o p da haste 16

    cvados (Boyer, 1974, p. 162).

    Tambm usando o Teorema de Pitgoras, h um outro problema: Um pavo

    est sobre o topo de uma coluna em cuja base h um buraco de cobra. Vendo a cobra a

    uma distncia da coluna igual a trs vezes a altura da coluna, o pavo avanou em linha

    reta alcanando a cobra antes que ela chegasse a sua cova. Se o pavo e a cobra

    percorreram distncias iguais, a quantos cbitos da cova eles se encontraram?

    A demonstrao de Bhaskara para o Teorema de Pitgoras bastante conhecida

    e ser apresentada posteriormente.

    No livro I dos Elementos de Euclides de Alexandria (300 a.C.), a Proposio

    (47, I) o teorema pitagrico, com uma demonstrao atribuda universalmente ao

    prprio Euclides; e a Proposio final (48, I) o recproco desse teorema.

    possvel que Pitgoras tenha dado uma demonstrao do Teorema baseada na

    proporcionalidade das medidas dos lados de figuras semelhantes. Posteriormente, com a

    constatao de que nem todos os segmentos so necessariamente comensurveis, essa

    prova perdeu sua validade. A descoberta da existncia de nmeros irracionais foisurpreendente e perturbadora para os pitagricos, pois abalava sua filosofia, segundo a

    qual tudo dependia dos nmeros inteiros.

    A prova do Teorema dada por Euclides no utiliza as propores, o que pode ter

    sido uma estratgia para evitar a questo da incomensurabilidade. As circunstncias que

    desencadearam a primeira percepo desse obstculo constituem tema bastante

    polmico. Poderiam estar em conexo com a aplicao do Teorema de Pitgoras ao

    tringulo retngulo issceles; com o clculo da diagonal de um quadrado em funo dolado ou com as diagonais de um pentgono.

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    No prximo captulo, referente ao Objeto Matemtico, Teorema de Pitgoras,

    sero apresentadas algumas demonstraes, dentre as centenas existentes, do Teorema.

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    CAPTULO III: O OBJETO MATEMTICO

    Aqui se versar sobre a importncia do Teorema de Pitgoras no somente sob o

    ponto de vista histrico, mas tambm como caso particular da lei dos cossenos. Alm

    disso, ser apresentada a anlise do ponto de vista matemtico e a anlise didtica de

    algumas demonstraes do mesmo, com o intuito de fundamentar a opo feita

    relativamente demonstrao utilizada na abordagem do tema.

    Por outro lado, o uso do Teorema de Pitgoras, em tpicos de 7 srie, 8 e

    subseqentes, representa economia em termos de memorizao de frmulas, alm de se

    constituir numa ferramenta eficaz para a resoluo de muitos problemas envolvendo

    configuraes e subfiguras. Em vista disso, sero apresentadas algumas aplicaes do

    Teorema e exemplos ilustrativos de problemas no convencionais, nos quais ele pode

    ser utilizado.

    Para finalizar, ser exposto um interessante fato relativo s ternas pitagricas, a

    partir do seguinte teorema: Se m e n so valores inteiros obedecendo s seguintes

    condies:i) m >n >0;

    ii) m e n so primos entre si; e

    iii) m e n no so ambos mpares;

    ento as expresses 22 nmx = ; mn2y= ; e 22 nmz += fornecem todas as

    ternas pitagricas reduzidas (os componentes no tm divisores comuns), e cada terna

    somente uma vez.

    Sobre a importncia do Teorema de Pitgoras

    A relao pitagrica despertou interesse de muitos povos antigos, tais como

    babilnios, egpcios, gregos, hindus e chineses. Modernamente, parece ter servido de

    inspirao para um problema que desafiaria matemticos durante 358 anos: o chamadoltimo Teorema de Fermat, segundo o qual no existe soluo inteira para a equao

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    nnn zyx =+ na qual n natural maior que 2. A demonstrao, de 1995, que

    constituiu um marco para a histria da Matemtica, de autoria de Andrew Wiles

    (Singh, 1998).

    Todavia, a importncia do Teorema de Pitgoras, simples caso particular de um

    teorema mais geral, a lei dos cossenos, segundo Bert (1995, p.109), no se reduz a

    razes histricas nem simplicidade de seu enunciado. Existe uma funcionalidade

    especfica do Teorema, pois este caso particular pode ser demonstrado pela frmula

    geral, mas de tal forma poderoso que a partir dele possvel demonstrar sua

    generalizao e seu recproco.

    Pela lei dos cossenos, dadas as medidas de dois lados de um tringulo qualquer e

    a medida do ngulo compreendido entre eles, possvel calcular a medida do terceiro

    lado. Isto significa que, desse modo, um tringulo qualquer fica determinado.

    Reciprocamente, a lei dos cossenos permite tambm calcular as medidas dos ngulos de

    um tringulo a partir das medidas dos lados, sendo suficiente que os nmeros dados

    verifiquem a condio de existncia de tringulo. Entretanto, dados dois lados de um

    tringulo qualquer e um ngulo no compreendido entre eles, isso no suficiente para

    determin-lo, a menos que o ngulo seja reto. O Teorema de Pitgoras permite, neste

    caso, encontrar o terceiro lado. Decorre ento que um tringulo retngulo ficadeterminado pela hipotenusa e um dos catetos.

    Bert prossegue utilizando uma mudana de quadros (Douady, 1984, p. 110),

    do quadro geomtrico, das construes de tringulos com rgua e compasso, para o

    quadro algbricodiscusso da interseco de uma circunferncia com uma semi-reta

    ou com uma reta se o ngulo dado reto.

    Sejam a e b as medidas de dois lados de um tringulo, a medida do ngulo

    oposto ao lado a (0

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    Logo o sinal de dado pelo sinal de a bsen. Desse modo:

    I) < 0 a bsen a (no h soluo)

    II) > 0 i) bsen< a < b (duas solues positivas, dois tringulos)

    ii) bsen< b < a (duas solues de sinais contrrios,

    tringulo ABC)

    iii) sen= 1 (duas solues opostas, tringulos ABC e ABC)

    III) = 0 bsen= a (uma nica soluo dupla)

    I) IIi)

    IIii) IIiii)

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    III)

    Como pondera Annie Bert, o Teorema de Pitgoras no nada evidente.

    Portanto, a simples apresentao de sua frmula no teria significado para o aluno; seria

    algo mais para memorizar. Por outro lado, fazer a verificao utilizando somente

    puzzles e colocando os resultados para a classe pode dar ao professor a falsa impressode que ele proporcionou aos alunos uma chance para agir. Mas, na verdade, isso seria

    uma institucionalizao prematura.

    Essas observaes foram levadas em considerao, no presente trabalho, no

    momento da elaborao da seqncia didtica.

    Anlise do ponto de vista matemtico e Anlise do ponto de vista didtico de

    algumas demonstraes do Teorema de Pitgoras

    As demonstraes do Teorema, conhecido como a 47a Proposio de Euclides e

    tambm como o teorema do carpinteiro", podem ser classificadas em quatro grandes

    grupos:

    algbricas baseadas nas relaes mtricas nos tringulos retngulos;

    geomtricas baseadas em comparaes de reas;.

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    vetoriais baseadas em operaes com vetores e empregando o conceito de

    direo;

    dinmicas baseadas em massa e velocidade.

    Segundo Loomis (1972, p. viii.), o nmero de demonstraes algbricas

    ilimitado, o mesmo ocorrendo no campo geomtrico, e existem apenas dez tipos de

    figura geomtrica, dos quais uma demonstrao pode ser deduzida. Qualquer que seja

    ela, a classificao vai depender do critrio escolhido.

    Para Padilla (1992, p. 12) as demonstraes podem ser reagrupadas em trs

    tipos, segundo o tratamento matemtico empregado:

    em que as reas dos quadrilteros permanecem invariantes;

    por transposio de elementos;

    algbricas.

    Na verdade, os cerca de 400 tipos de demonstrao do Teorema so

    caracterizados por meio dos recursos matemticos utilizados, tais como: igualdade dasreas dos quadrilteros (mtodo de Euclides), figuras geomtricas nas quais as reas se

    mantm (mtodo geomtrico), princpio da igualdade da decomposio, princpio da

    igualdade do completamento, operaes algbricas, relaes de semelhana, mtodos

    vetoriais, mtodos da Geometria Analtica etc.

    Sero apresentadas a seguir algumas demonstraes, visando ilustrar o emprego

    desses diferentes mtodos. Os critrios utilizados na seleo das mesmas foram a

    importncia histrica e a viabilidade de uso em sala de aula.

    Na anlise didtica ser includa, sempre que se fizer interessante, uma anlise

    cognitiva baseada e/ou inspirada em Padilla (1992), pois a maior parte das

    demonstraes, mesmo as consideradas algbricas, fundamenta-se na aplicao da

    operao de reconfigurao.

    Com os comentrios efetuados aps algumas demonstraes no se tem a

    pretenso de sugerir caminhos. Eles atestam as reflexes pessoais que antecederam as

    escolhas feitas para a abordagem.

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    Demonstraes utilizando-se semelhana de tringulos, razo de projeo

    ortogonal ou cosseno

    Demonstr ao 1 (a mais conhecida; do tipo algbrico, usando-se semelhana de

    tringulos)

    Anlise do ponto de vista matemtico

    Seja ABC um tringulo retngulo em A

    AH a altura relativa hipotenusa.

    ( indica tringulo e ~ indica semelhante)

    I) HBA ~ ABCBC

    BA

    AC

    HA

    AB

    HB==

    ouac

    bh

    cm ==

    c2= am e ah = bc

    II) HBA ~AC

    BA

    HC

    HA

    HA

    HBHAC ==

    oub

    a

    n

    h

    h

    m==

    h2= mn

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    III)BC

    AC

    AC

    HC

    AB

    HAABC~HAC ==

    oua

    b

    b

    n

    c

    h==

    b2= anIV)De c2= am e b2= na decorre que

    b2+ c2= an + am b2+ c2= a(n + m)

    mas como m + n = a ento b2+ c2= a2

    Anlise do ponto de vista didtico

    Demonstrao que aparece na totalidade dos manuais didticos examinados e

    usa a semelhana de tringulos como ferramenta.

    Como conhecimentos disponveis ela pressupe: semelhana de tringulos,

    propriedades das propores, clculo algbrico e projeo ortogonal.

    Quanto anlise cognitiva, convm observar que, apesar de essa demonstrao

    utilizar comprimentos e no reas, ela requer duas reconfiguraes diferentes da figura

    base (itens I e II):

    o fracionamento da figura dado, desde o incio;

    as subfiguras so convexas (tringulos);

    cada reconfigurao exige dois desdobramentos de partes elementares, pois

    os tringulos HBA e HAC esto tambm no ABC;

    caractersticas de contorno favorveis;

    no h substituio de partes elementares auxiliares;

    no h modificaes posicionais;

    no h tratamentos auxiliares a efetuar.

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    A demonstrao no muito complexa, porm os itens (I) e (II) diminuem o grau de

    visibilidade para a aplicao da operao de reconfigurao intermediria.

    Demonstrao 2(atribuda a W. Rupert,1900; do tipo algbrico, utilizando-se

    uma circunferncia)

    Anlise do ponto de vista matemtico

    Seja o tringulo AHB

    retngulo em H.

    Com centro em B e raio

    AB, traa-se a circunferncia.

    Pelo Teorema das Cordas:

    HE.HC = AH.HD

    mas HE = h a AH = b

    HC = h + a HD = b

    (h a) (h + a) = bbh2 a2= b2

    h2= a2+ b2

    Anlise do ponto de vista didtico

    Esta demonstrao poderia ser usada como exerccio de aplicao do Teorema

    das Cordas, porm no como demonstrao inicial do Teorema de Pitgoras. Seria ao

    mesmo tempo uma oportunidade para mudana do ponto de vista, no que se refere ao

    Teorema de Pitgoras, ainda no quadro geomtrico, e tambm como uma escolha de

    variveis, na utilizao do Teorema das Cordas. Supondo o Teorema de Pitgoras j

    como conhecimento disponvel, interessante para o aluno perceber que se pode chegar

    a um mesmo resultado por mtodos diferentes

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    Como conhecimentos disponveis ela exige: o Teorema das Cordas, operaes

    com segmentos e clculo algbrico.

    Quanto anlise cognitiva, dado o tringulo AHB, retngulo em H:

    so necessrios tratamentos auxiliares, que consistem em traar acircunferncia de centro O = B e raio AB, o prolongamento de BH para obter os pontos

    E e C sobre a mesma e o prolongamento de AH a fim de obter o ponto D;

    h o obstculo do desdobramento de objetos, pois o segmento AH ,

    simultaneamente, um lado do tringulo AHB e a corda HA; o mesmo ocorrendo com o

    segmento HB, o qual figura como cateto e como parte da corda HC;

    o reagrupamento pertinente das partes elementares HD,AH,OC,HO,HEforma umasubfiguraconvexa (dois pares de ngulos opostos pelo vrtice);

    no h substituio de partes elementares;

    no h modificaes posicionais.

    O primeiro dos fatores mencionados e o obstculo do desdobramento das partes

    elementares contribuem para o aumento do grau de complexidade para a aplicao da

    operao de reconfigurao, mas as caractersticas do contorno facilitam a visibilidade

    para o emprego do Teorema das Cordas.

    Demonstr ao 3(do tipo algbrico, por meio do uso de uma circunferncia)

    Anlise do ponto de vista matemtico

  • 7/22/2019 Dissertacao Irma Verri Bastian

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    Seja o tringulo AHB retngulo em H; AB = h. Com centro em A, traa-se a

    circunferncia de raio AH=b. Tem-se: BDH~BHC pois m( CHB!

    ) = (arcCH)

    e m ( HDB!

    ) = (arcCH) entoDH

    HC

    BH

    BC

    BD

    BH==

    a

    bh

    bh

    a =

    +

    a2= h2 b2 h2= a2+ b2

    Anlise do ponto de vista didtico

    Como conhecimentos disponveis dentre outros, pressupe-se: ngulos na

    circunferncia, semelhana de tringulos, clculo algbrico e propores.

    A demonstrao acima constitui uma oportunidade para reinvestir em tpicos de

    sries anteriores (como, por exemplo, propriedade do ngulo inscrito; propriedade do

    ngulo de segmento, isto , ngulo tendo vrtice na circunferncia, um lado tangente e o

    outro secante mesma; propriedades das propores) e tambm um modo de construir o

    conhecimento. Segundo Piaget, o sujeito constri o conhecimento por meio de inmeras

    interaes com o objeto, isto , por meio de sucessivas aproximaes com o objeto, nas

    suas vrias atividades. O conhecimento, na teoria de Piaget, nunca um estado (...)

    uma atividade. Pode ser visualizado como a estruturao do sujeito numa interao viva

    com o meio (Furth, 1974, p. 38).

    Dado o tringulo AHB, retngulo em H, por meio da anlise cognitiva, observa-

    se:

    a demonstrao exige traados suplementares, tais como a circunferncia

    de centro O = A e raio AH; o prolongamento de AB para determinao do ponto D

    sobre a mesma; e os segmentos HC e DH;

    o segmento HC comum ao ngulo BHC e ao tringulo CHD; o

    segmento AB comum ao tringulo AHB e ao ngulo BDH; o arco CH determinado

    pelos ngulos inscritos BHC e BDH; o tringulo BHC parte comum aos tringulos

    AHB e BHC, fatos que provocam o obstculo do desdobramento das partes

    elementares;

    os reagrupamentos pertinentes das partes elementares formam

    subfiguras convexas (segmentos, ngulos e tringulos);

  • 7/22/2019 Dissertacao Irma Verri Bastian

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    Para visualizar a semelhana dos tringulos e os comprimentos dos lados BD =

    (h + b) e HC = (h b) preciso superar o obstculo do desdobramento dos objetos,

    acima apontado, o que dificulta a visibilidade para a aplicao da operao de

    reconfigurao. O obstculo e os tratamentos auxiliares a ser feitos aumentam o grau de

    complexidade da demonstrao.

    Demonstrao 4(do tipo algbrico, por meio de razo entre reas)

    Anlise do ponto de vista matemtico

    Seja HC AB

    Tem-se ABH ~ AHC ~ HBC 222 a

    )yz(2

    1

    b

    )z.x(2

    1

    h

    z)yx(2

    1

    ==+

    (pois reas de figuras semelhantes so proporcionais ao quadrado da razo de

    semelhana), sendo:

    AB = h AC = x

    HB = a CB = y

    H = b HC = z

    Mas222 ab

    )yz(2

    1)xz(

    2

    1

    h

    z)yx(2

    1

    +

    +=

    +

    (A soma dos antecedentes est para a soma dos conseqentes, assim como cada

    antecedente est para seu conseqente propriedade das propores.)

  • 7/22/2019 Dissertacao Irma Verri Bastian

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    Ento,222 ab

    z)yx(2

    1

    h

    z)yx(2

    1

    +

    +=

    +

    h2= a2+ b2

    (do fato de os antecedentes serem iguais, conclui-se a igualdade dos

    conseqentes).

    Anlise do ponto de vista didtico

    O objetivo principal, neste caso, seria reinvestir na propriedade da razo de reas

    entre figuras semelhantes e tambm no tpico propores.

    Sugesto: As demonstraes 2 e 3 apresentadas, caso fossem utilizadas em sala

    de aula, deveriam ser transformadas em atividades. A colocao em forma expositiva

    poderia ser montona e desmotivadora para o aluno. No caso da demonstrao 4, cada

    grupo, ou dupla de alunos, receberia a demonstrao, sem os detalhes que esto entre

    parnteses. A atividade seria ento discutir e justificar, com base nos conhecimentos

    disponveis, passagem por passagem da demonstrao.

    Quanto anlise cognitiva, valem os comentrios feitos para a demonstrao 1deste trabalho.

    Demonstrao 5(do tipo algbrico, utilizando-se cosseno)

    Anlise do ponto de vista matemtico

    Usando os tringulos retngulos AHC e ABC tem-se: CcosCACH !

    ==

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    Nos tringulos retngulos AHB e ABC valem:

    BcosBC

    BA

    BA

    BH !==

    Ento (CA)2= CB.CH e (BA)2= BC.BH

    logo (AB)2+ (AC)2= BC(BH + HC)

    (AB)2+ (AC)2= (BC)2

    Anlise do ponto de vista didtico

    Para esta demonstrao, as relaes trigonomtricas no tringulo retngulo so,

    obviamente, imprescindveis como conhecimento disponvel, mas a semelhana de

    tringulos, no caso, no foi um conhecimento mobilizado. A anlise cognitiva aponta

    caractersticas anlogas s observadas na demonstrao 1 deste trabalho.

    Demonstrao 6 (feita pelo presidente Garfield dos Estados Unidos; do tipo

    algbrico ou geomtrico, por meio de comparao de reas)

    Anlise do ponto de vista matemtico

    A rea do trapzio

    retngulo de bases b e c e altura

    (b + c) igual a2

    )cb)(bc( ++

    Por outro lado, a mesma rea tambm igual soma das reas de trs tringulos

    retngulos:

    2

    a2

    bc2

    bc 2++

  • 7/22/2019 Dissertacao Irma Verri Bastian

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    Ento2

    a

    2

    bc2

    2

    )cb( 22+=

    +

    i.. b2+ 2bc + c2= 2bc + a2

    b2+ c2= a2

    Anlise do ponto de vista didtico

    Seria importante que os alunos pensassem num modo de demonstrar que o tringulo

    CBE tambm retngulo, o que decorre imediatamente do fato de a soma das medidas

    de CBA!

    , EBC!

    e DBE!

    ser igual a 180.

    Quanto anlise cognitiva, pode-se dizer que a demonstrao fundamentada em

    dois tipos de reconfigurao: um oriundo de uma apreenso analtica, e outro global

    (Padilla, 1992, p. 35). Este privilegia a figura total, exterior, isto , o trapzio; enquanto

    no primeiro a figura vista como uma reunio de trs tringulos retngulos.

    o fracionamento da figura em partes elementares dado no incio;

    o reagrupamento pertinente dos dois tringulos retngulos forma uma

    subfigura no convexa, constituda pelos dois tringulos congruentes. Encontrar a

    reconfigurao adequada, entre todas as possveis, no muito evidente;

    o nico tratamento auxiliar necessrio, para formar a figura de Garfield,

    o traado do segmento CE;

    uma modificao posicional da subfigura chave, ou seja, do tringulo

    retngulo, deve ser feita uma rotao;

    as caractersticas do contorno so favorveis. fcil perceber que se trata

    de um trapzio;

    no h desdobramento das partes elementares;

    no h substituio das partes elementares.

    A demonstrao possui uma reconfigurao bastante visvel, depois de formada a

    figura de Garfield, com baixo grau de complexidade. Pelo fato de se apoiar em clculo

  • 7/22/2019 Dissertacao Irma Verri Bastian

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    de reas, uma excelente oportunidade para reinvestir nesse tpico e tambm em

    clculo algbrico.

    As demonstraes do tipo geomtrico tm como base a comparao de

    reas, por meio de superposio de figuras.

    Demonstrao 7 Bhaskara, sc. X I I d.C.

    Segundo os historiadores, Bhaskara desenhou apenas a figura com o comentrio

    Veja! Entretanto, no fica muito claro se a figura compreende o quadrado inicial

    (Fig. 2) e tambm a reconfigurao (Fig. 3). Se somente a Fig. 2 for considerada, a

    demonstrao pode ser pensada como sendo do tipo algbrico, mas a incluso da Fig. 3,

    a qual uma reconfigurao da Fig. 2, leva a crer numa demonstrao do tipo

    geomtrico.

    Para Loomis E. (1972), o lacnico comentrio seria justificado pela tendncia,comum naquela poca, de manter em segredo a descoberta de verdades relativas a

    algumas proposies.

    Anlise do ponto de vista matemtico

    Esta demonstrao pode ser considerada do tipo geomtrico ou do tipo

    algbrico, dependendo da estratgia utilizada, conforme comentrio anterior.

    O quadrado sobre a hipotenusa (Fig. 2) decomposto em quatro tringulos, cada

    um deles congruente ao tringulo dado, mais um quadrado cuja medida de lado b c.

    Dispondo as partes como mostra a Fig 3 obtm se dois quadrados justapostos

  • 7/22/2019 Dissertacao Irma Verri Bastian

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    Mas rea da Fig.2 = rea da Fig.3

    Como rea da Fig.2 = a2 rea da Fig.3 = b2+ c2

    Ento: a2= b2+ c2

    Algebricamente, para a Fig. 2:

    22 a)cb(2

    bc4 =+ ento: 2bc + b2 2bc + c2= a2

    b2+ c2= a2

    Anlise do ponto de vista didtico

    Essa verificao, em sala de aula, pode ser feita por meio de uma atividade:

    oito tringulos congruentes feitos de cartolina;

    dois quadrados de lados (b c).

    Aps ser formada a figura 2, a demonstrao baseia-se em dois tipos diferentes

    de apreenso da figura: analtica e global. A apreenso analtica privilegia as diferentes

    partes elementares; a figura vista como a reunio das cinco peas. A apreenso global

    privilegia a figura total a figura como um quadrado de lado a.

    Considerando-se apenas dada a Fig. 2, observa-se que:

    o fracionamento da figura em partes elementares dado no incio;

    no h tratamento auxiliar a ser efetuado;

    para formar a Fig. 2 so necessrias quatro modificaes da subfigura-chave

    (o tringulo): uma translao e trs rotaes, de modo que as hipotenusas se tornem

    lados do quadrado;

    o reagrupamento pertinente dos quatro tringulos forma uma subfigura no

    convexa;

    as caractersticas do contorno favorecem ver o pequeno quadrado (5;

    Fig.2);

    a dificuldade consiste em perceber que os lados do quadrado (5) so partes

    dos segmentos que formam os lados dos tringulos. Para observar esse detalhe preciso

    superar o obstculo do desdobramento dos objetos, porm, como se trata de umquadrado, o desdobramento de um dos segmentos suficiente para fazer a

  • 7/22/2019 Dissertacao Irma Verri Bastian

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    Trata-se, portanto, de uma demonstrao, cuja reconfigurao intermediria

    bastante visvel e pouco complexa, se efetuada algebricamente, por meio das figuras 1 e

    2. Porm, se a opo for comparao de reas, por meio da Fig. 3, surgem fatores que

    aumentam o grau de complexidade e comprometem a visibilidade para a aplicao da

    operao de reconfigurao intermediria, os quais sero analisados a seguir:

    para formar a Fig.2, como j foi visto, so necessrias uma translao e

    trs rotaes. A reconfigurao para obter a Fig. 3 requer mais cinco modificaes

    posicionais (quatro para os tringulos e uma para o quadrado central);

    necessrio um traado suplementar para obter os quadrados contguos

    de lados respectivamente c e b;

    a Fig.3 formada por um reagrupamento no convexo de trs figuras

    convexas: os dois retngulos, cada um formado por dois tringulos, e o quadrado. No

    evidente a reconfigurao conveniente, dentre todas as possveis, o que provoca

    diminuio do grau de visibilidade da aplicao da operao de reconfigurao

    intermediria;

    o obstculo do desdobramento ocasionado pelo pequeno retngulo

    (parte do retngulo horizontal), cujo lado maior comum aos dois quadrados contguos,

    fato que pode dificultar avaliar os comprimentos dos lados dos quadrados.

    O grande nmero de modificaes posicionais, o tratamento auxiliar efetuado

    (traados suplementares), o obstculo do desdobramento dos objetos mais a dificuldade

    em encontrar a reconfigurao conveniente so fatores que aumentam o grau de

    complexidade e prejudicam a visibilidade para a operao de reconfigurao.

    Demonstrao 8 - hindu (apresentada em alguns manuais didticos mais recentes.

    Geomtrica, por transposio de elementos, por meio de equivalncia)

  • 7/22/2019 Dissertacao Irma Verri Bastian

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    Anlise do ponto de vista matemtico

    Retirando-se os quatro tringulos hachurados de cada uma das figuras obtm-se:

    na Fig. 1, um quadrado de lado a e na Fig. 2, um quadrado de lado b e um

    quadrado de lado c.

    Em outras palavras, o complementar dos quatros tringulos, na Fig. 1, o

    quadrado que tem como lado a hipotenusa do tringulo retngulo. Reconfigurando-se de

    modo conveniente os quatro tringulos, o complementar deles, em relao ao quadrado

    maior, a reunio dos quadrados cujos lados so os catetos.

    Logo, a rea do quadrado de lado a a soma das reas dos quadrados cujos ladosmedem b e c, ou seja: a2= b2+ c2

    Algebricamente:

    para a Fig. 1:2

    bc4a)cb( 22 +=+

    para a Fig. 2: 2bc4cb)cb(222 ++=+

    a2+ 2bc = b2+ c2+ 2bca2= b2+ c2

    Rigorosamente, o que ocorre o seguinte (Fig. 3):

    a partir do tringulo ABC, retngulo em A, traa-se o quadrado APQR, tomando

    PC = MQ = NR = AB e

    PM = QN = BR = AC.

    Quando os quatro tringulos retngulos, que tm respectivamente as mesmas

    medidas para os catetos, so recortados, est sendo admitido implicitamente o fato de

    que as hipotenusas e os ngulos agudos tm tambm, respectivamente, as mesmas

    medidas, pois os tringulos so os mesmos.

    necessrio utilizar o caso L.A.L. de congruncia de tringulos para justificar

    que BCMN um quadrado. Em detalhes:

  • 7/22/2019 Dissertacao Irma Verri Bastian

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    ABC PCM QMN RNB

    Ento CM = MN = NB = BC;

    Resta mostrar que os ngulos do

    quadriltero BCMN so retos.

    Das congruncias do item anterior,

    decorrem:

    m ( MCP!

    ) = x e m ( CMP!

    ) = y

    Mas x + m ( BCM!

    ) + y = 180

    (formam um ngulo raso)

    Como x + y = 90, segue-se que BCM!

    reto (analogamente para os outros

    tringulos).

    Anlise do ponto de vista didtico

    Pelo exposto, pode-se observar a variedade de abordagens que a demonstrao

    propicia. Numa primeira fase pode ser explorada a reconfigurao, pois:

    o fracionamento da figura em partes elementares dado no incio;

    para formar a Fig. 1, o tringulo-chave sofre trs rotaes, e para a Fig.2

    trs translaes;

    a Fig. 1 formada pelo reagrupamento no convexo de quatro tringulos;

    a Fig. 2 o reagrupamento no convexo de duas figuras convexas (os

    retngulos, cada um formado por dois tringulos). Reconhecer a reconfigurao

    conveniente, dentre todas as possveis, no um fato muito evidente, devido no

    contigidade das partes elementares;

    as caractersticas do contorno da subfigura contida na Fig. 2, formada pela

    reunio dos quatro retngulos, favorecem a visibilidade, ajudando a encontrar, no

    quadrado maior, os dois quadrados complementares;

  • 7/22/2019 Dissertacao Irma Verri Bastian

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    para obter os dois quadrados (Fig.2), so necessrios quatro traados

    suplementares;

    no h superposio de partes elementares;

    no h substituies das partes elementares iniciais.

    As seis modificaes posicionais, os tratamentos auxiliares a ser efetuados e a

    no convexidade das subfiguras so fatores que dificultam a aplicao da operao da

    reconfigurao intermediria, porm o fato de no apresentar o obstculo do

    desdobramento e o contorno favorvel compensam essa desvantagem, aumentando o

    grau de visibilidade para a aplicao da operao.

    Numa segunda fase, o professor poder aproveitar a oportunidade para reinvestir

    em tpicos anteriores, como congruncia de tringulos e produtos notveis, pois o aluno

    deve entender que preciso, nas demonstraes rigorosas, usar definies, propriedades

    e teoremas j institucionalizados, sem o que h o risco de se ficar apenas no figural.

    Demonstrao 9 Liu Hui, 270 d.C. (geomtrica por transposio de

    elementos)

    Um quadrado formado pelo reagrupamento de peas obtidas de dois

    quadrados, isto , o quadrado da hipotenusa reconstitudo por meio dos quadrados dos

    catetos.

  • 7/22/2019 Dissertacao Irma Verri Bastian

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    Anlise do ponto de vista matemtico

    Forma-se, primeiramente, um quadrado com quatro exemplares de tringulo

    retngulo dispostos convenientemente.

    Pelo ponto M, traa-se MS // AP ; pelo ponto C, CT MS ; e por N, NV MS .

    Rigorosamente, seria necessrio adotar um procedimento anlogo ao realizado na

    demonstrao 8 para garantir que o quadriltero BCMN um quadrado.

    Anlise do ponto de vista didtico

    Como conhecimentos disponveis, esta demonstrao exige noo de rea de

    polgonos e congruncia de tringulos. Alguma habilidade em montagem de quebra-

    cabeas desejvel, pois o quadrado sobre a hipotenusa deve ser reconstitudo por meio

    dos quadrados cujos lados so respectivamente os catetos do tringulo inicial. Em outraspalavras, deve ser feita uma reconfigurao da Fig. 1, operao que ser a seguir

    analisada.

    O reagrupamento pertinente dos tringulos retngulos da Fig. 1 forma uma

    subfigura no convexa, o que dificulta efetuar a operao de reconfigurao

    intermediria:

    o fracionamento da Fig. 1 em partes elementares no vem dado no incio;

    a Fig. 1 exige tratamentos auxiliares (traados de segmentos ou retas) a

  • 7/22/2019 Dissertacao Irma Verri Bastian

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    so necessrias cinco modificaes posicionais (trs modificaes no

    tringulo inicial, mais duas translaes de dois tringulos retngulos para a

    reconfigurao);

    o contorno possui caractersticas que no favorecem a aplicao daoperao de reconfigurao intermediria;

    o obstculo do desdobramento de uma parte comum a dois

    reagrupamentos diferentes a ser comparados ocorre duas vezes, para o quadriltero (7) e

    para o tringulo (6), que esto contidos no quadrado relativo hipotenusa e nos

    quadrados relativos aos catetos;

    as subfiguras so deslocadas para o interior da figura inicial.

    Os fatores acima mencionados aumentam o grau de complexidade e diminuem o

    grau de visibilidade para a aplicao da operao de reconfigurao intermediria.

    Demonstrao 10 Ozanan (geomtrica, por transposio de elementos)

  • 7/22/2019 Dissertacao Irma Verri Bastian

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    Anlise do ponto de vista matemtico

    Os tratamentos auxiliares a ser efetuados sero detalhados mais adiante, na

    Anlise Cognitiva da demonstrao. Rigorosamente, algumas congruncias devem ser

    provadas. Assim,

    FBPABC, pois: BFPBAC !! (retos)

    FBPCBA (ngulos de lados perpendiculares)

    BFAB (lados de um quadrado)

    NCB XDC, pois: CN DX (por construo)

    BCN

    !

    XDC!

    (retos) e BC CD

    Ento,

    CSB PFB, pois BPFBCS !!

    SBC!

    FBP!

    e CB PB

    DTX CAN, pois: NCAXDT !! , logo DT = CA e CN = DX (construo).

    Da, usando CB como eixo de simetria, tem-se:

    P E (isto , E o simtrico de P), pois BP = CB = BE

    A S (isto , S simtrico de A), pois BA = BS e CBA!

    CBS!

    O X (isto , X simtrico de O), devido aos ngulos retos.

    Portanto, quadriltero AOPB quadriltero SXEB.

    Como CN = DY, por construo, fazendo-se uma translao do quadriltero

    HNCI de modo que o lado CN coincida com o segmento DY e lembrando que:

    DT = CA = CI e, tambm, TDYICN

    conclui-se que o quadriltero transladado simtrico de SYDT em relao ao

    eixo CD. Logo, quadriltero SYDT quadriltero HNCI.

    Como conseqncia, sendo XE = DE DX e XE = OP, tem-se:

    YC = DC DY = DE DX = OP

    pois, CN = DY = DX

  • 7/22/2019 Dissertacao Irma Verri Bastian

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    YRC OGP, pois YC OP

    CRY!

    PGO!

    (retos) e RCY!

    GPO!

    Anlise do ponto de vista didtico

    Trata-se de uma demonstrao bastante complexa do ponto de vista geomtrico,

    exigindo como conhecimentos disponveis congruncia de polgonos e transformaes

    (simetria, rotao e translao).

    A reconstituio do quadrado da hipotenusa feita a partir das cinco peas

    obtidas com os quadrados dos lados do ngulo reto do tringulo ABC:

    o fracionamento da figura em partes elementares no dado inicialmente;

    os tratamentos auxiliares a ser efetuados so o prolongamento de EB

    determinando o ponto P em GF , o prolongamento de DC at encontrar AH em N e o

    traado de PO // BC .

    Assim, obtm-se cinco peas, m, n, o, p e q, que reagrupadas formaro o

    quadrado de lado a = BC. De fato, tomando-se DX = DY = CN, traando-se CX e de Y,D e B conduzindo-se perpendiculares YR , DT e BS , os cinco elementos resultantes

    so congruentes, respectivamente, s cinco peas, m, n, o, p e q.

    So necessrios, portanto, sete traados suplementares (trs sobre os quadrados

    dos catetos e quatro sobre o quadrado da hipotenusa).

    os reagrupamentos das partes elementares formam subfiguras convexas;

    as subfiguras so deslocadas para o exterior da figura inicial; no h desdobramento de partes elementares auxiliares;

    no h substituio de partes elementares auxiliares;

    para reconstituir, com as cinco peas, o quadrado da hipotenusa so

    necessrias dez modificaes posicionais:

    pea m uma translao e uma simetria (de eixo CD);

    pea n uma translao e uma simetria (de eixo DB);

    i t i (d i BC)

  • 7/22/2019 Dissertacao Irma Verri Bastian

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    pea p uma rotao (de centro B) e uma simetria (de eixo BC);

    pea q uma rotao (centro G), uma translao (direo OA e uma simetria

    (eixo CY).

    Trata-se de uma demonstrao demasiadamente complicada, pelo fato de ser

    necessrio efetuar o fracionamento da figura em partes elementares e, tambm, pela

    multiplicidade de modificaes posicionais. So fatores que contribuem para o aumento

    do grau de complexidade e diminuem o grau de visibilidade no que se refere

    reconfigurao. Talvez pudesse ser reconstruda por alunos com razovel domnio da

    Geometria, como curiosidade histrica ou oportunidade de reinvestir em tpicos

    anteriores, por meio de passos guiados pelo professor.

    Demonstrao 11 Eucl ides, do l ivro Elementos,300 a.C. , Proposio 47I

    Tambm aparece sculos depois na obra de Tbit Ibn Qorra (826-901).

    (Geomtrica, por transformao, deixando a rea dos quadrilteros invariante. Prova-se

    a equivalncia de pares de partes decompostas)

    A figura utilizada por Euclides para demonstrar o Teorema de Pitgoras , s

    vezes, descrita como moinho de vento, cauda de pavo ou cadeira de noiva.

    Anlise do ponto de vista matemtico

    I) Seja ABC um tringulo retngulo em A.

    Constri-se, sobre o lado BC ,

    o quadrado BDEC, e sobre os lados

    AB e AC , os quadrados BAGF e

    CAHK, respectivamente.

    Traa-se BD//AL

    ABDFBC (caso L.A.L),

    pois AB = FB e BD = BC (lados de

    um quadrado) e m ( CBF!

    ) = m ( DBA!

    )

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    II) Chamando de A1 a rea do quadrado 1 e de A2 a do quadrado 2, tem-se:

    A1 = 2. rea (FBC) pois rea (FBC) =22

    . 2cFGFB=

    A1 = 2rea (ABD), pois os dois tringulos so congruentes.

    III) Mas: rea (ABD) =2

    )BPLD(rea

    2

    DL.BD=

    Ento: A1 = c2= 2rea (FBC) = rea (BPLD)

    Analogamente: A2 = b2= 2rea (BCK) = rea (HCEL)

    IV) Portanto, a rea do quadrado (BCED), formado pelos retngulos (BPLD) e

    (PCEL), igual soma das reas b2+ c2, portanto, a2= b2+ c2

    Na demonstrao aqui apresentada, constam detalhes que normalmente no

    aparecem nos livros que tratam da histria da Matemtica. A inteno foi evidenciar os

    conhecimentos disponveis que seriam necessrios para viabilizar seu emprego em

    alguma atividade dentro da sala de aula:

    congruncia de tringulos;

    clculo de reas de tringulos, com as variveis didticas (posio da figura)numa forma bem diferente da usual, como, por exemplo, tringulo ABD e tringulo

    FBC.

    Admitindo-se essa possibilidade, a situao-problema poderia ser colocada em

    etapas e o objetivo seria reinvestir em tpicos anteriores.

    Sob o aspecto figural convm observar que:

    o fracionamento da figura em partes elementares no dado no incio;

    ele deve ser encontrado;

    a figura demanda tratamentos auxiliares, ou seja, traado de segmentos

    que daro origem a tringulos e a retngulos. So necessrios cinco traados

    suplementares segmentos AL, AD, FC, BK e AE.

    h um grande nmero de substituies das partes elementares, num total

    de doze, seis para passar do quadrado 1 para o retngulo BPLD e seis do quadrado 2

    para o retngulo PCEL;

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    as caractersticas do contorno no ajudam aplicao da operao de

    reconfigurao intermediria;

    os reagrupamentos pertinentes formam subfiguras convexas;

    aparece seis vezes o obstculo do desdobramento dos objetos, trs para

    cada substituio FBC e ABD tm uma parte comum, o mesmo ocorrendo com

    FBC e o quadrado 1 e ABD e retngulo BPLD. Analogamente, para o quadrado 2.

    Os fatores acima mencionados ocasionam acentuado aumento no grau de

    complexidade e reduo no grau de visibilidade para aplicao da operao de

    reconfigurao, havendo ainda a dificuldade em perceber a equivalncia entre os

    diferentes agrupamentos.

    Demonstrao 12 Nassir-ed-Din, sc. XI I I d.C. (geomtrica, rea dos quadrilteros,

    invariante)

    Seja ABC um tringulo retngulo em A. So construdos sobre seus catetos e

    hipotenusa, respectivamente, os quadrados ACIH, ABFG e BCDE.

    A

    C

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    Seja L a interseco de FG e HI . Traa-se o segmento AL e, a seguir, AK

    perpendicular a DE .

    Anlise do ponto de vista matemtico

    Os tringulos LGA e ABC so congruentes (tm os catetos respectivamente

    congruentes).

    Ento LA BC e LAG!

    CBA!

    JAC!

    ,

    logo L, A, J, K so colineares (pois os ngulos opostos pelo vrtice so

    congruentes).

    Prolongando-se DC at encontrar IH em D, tem-se:

    ! rea do paralelogramo ACDL = b 2 (base AC = b e altura LG = b);

    ! paralelogramo ACDL equivalente ao retngulo CJKD

    (mesma base, LA = BC = CD, e mesma altura, CJ);

    ! portanto, retngulo CJKD tem rea igual a b 2 .

    Analogamente, prolongando-se EB at encontrar FG em E, tem-se:

    ! rea do paralelogramo ABEL = c 2 ;

    ! paralelogramo ABEL equivalente ao retngulo BEKJ;

    ! portanto, retngulo BEKJ tem rea c 2 .

    Logo, a 2 = b 2 + c 2

    interessante observar que, com a demonstrao, ficam ainda estabelecidas asseguintes relaes:

    2AC = CJ.CB e 2AB = JB.CB , pois 2b = CD.CJ e 2c = BE.JB

    Anlise do ponto de vista didtico

    A demonstrao exige, como conhecimentos disponveis, clculo de reas de

    figuras planas, congruncia de tringulos e conceito de equivalncia de figuras planas.Quanto anlise cognitiva, observa-se que:

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    a figura exige tratamentos auxiliares a efetuar. De fato, so necessrios seis

    traados suplementares as retas FG, HI, AL, AK, DC e EB;

    as caractersticas do contorno no favorecem a aplicao da operao de

    reconfigurao intermediria;

    os reagrupamentos pertinentes das partes elementares formam subfiguras

    convexas (paralelogramos e retngulos);

    o reagrupmento pertinente exige que sejam feitas seis substituies de partes

    elementares, trs para cada quadrado, para a reconstituio do quadrado de lado a, por

    meio dos quadrados de lados b e c;

    o obstculo do desdobramento de objetos aparece duas vezes, pois oparalelogramo ACDL e o quadrado de lado b tm uma parte comum, o mesmo

    ocorrendo com o paralelogramo ABEL e o quadrado de lado c.

    importante ainda comentar que os paralelogramos ACDL e ABEL devem ser

    observados em duas posies diferentes, pois, quando comparados aos retngulos CJKD

    e BEKJ, respectivamente, a base considerada LA para ambos e as alturas, CJ e BJ;

    porm, quando comparados aos quadrados, construdos sobre os catetos, as bases

    favorveis so AC e AB e as alturas LG e FB, respectivamente.

    O fato de ser necessrio descobrir o fracionamento da figura em partes

    elementares, fazer seis traados suplementares, de o contorno ser neutro para a operao

    de reconfigurao, alm da multiplicidade de substituies e do obstculo do

    desdobramento duas vezes presente, aumenta o grau de complexidade e diminui o grau

    de visibilidade para a aplicao da operao de reconfigurao intermediria.

    Demonstrao 13 - I rem de Strasbourg (geomtrica, com rea dos quadrilteros

    invariante)

    Sua originalidade em relao s demais reside no fato de utilizar o recurso das

    transformaes (simetria e translao).

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    Anlise do ponto de vista matemtico

    1) Estudo da figura:

    Os dois quadrados construdos sobre os lados do tringulo ABC tm um eixo de

    simetria comum, determinado pelas diagonais dos quadrados. Denominamos:

    D o simtrico de B e E o simtrico de C. Assim, DE = BC e .BCAAED !!

    Completando o retngulo DAEF, obtm-se, por simetria do retngulo,

    AF = DE e EF DA

    Seja H o ponto de interseo da reta FA com o lado BC.

    Assim, BH EF (ngulos opostos pelo vrtice).

    O tringulo ABH tem, portanto, os mesmos ngulos do tringulo ABC, logo ele

    retngulo em H, pois o tringulo ABC retngulo em A.

    Resumindo: AF = BC e a AF BC

    2) Obteno da relao pitagrica, em dois movimentos:

    cada quadrado se transforma num paralelogramo de mesma rea;

    cada paralelogramo se transforma em um retngulo de mesma rea;

    a figura final tem dois lados paralelos reta AF, portanto perpendiculares a

    BC e com o mesmo comprimento de AF , que igual ao de BC . Trata-se, portanto, de

    um quadrado de lado BC .

    H

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    Logo: 222 ACABBC +=

    e ainda: 2AB = BC.BH e 2AC = BC.CH

    Anlise do ponto de vista didtico

    Como conhecimentos disponveis, surgem obviamente as transformaes, o que

    constitui uma oportunidade de reinvestir nesse tpico. Quanto anlise cognitiva,

    destacam-se os seguintes fatores:

    o fracionamento da figura em partes elementares no dado inicialmente; so necessrios cinco tratamentos auxiliares (traados de FE, DF, eixo de

    simetria, DE e FH;

    as caractersticas do contorno no favorecem a aplicao da operao de

    reconfigurao intermediria;

    os reagrupamentos das partes elementares formam subfiguras convexas

    (tringulos e retngulos).

    o reagrupamento pertinente exige que se efetuem seis substituies de partes

    elementares (trs para cada quadrado);

    o desdobramento das partes elementares aparece cinco vezes, pois no

    primeiro movimento o quadrado de lado c e o paralelogramo resultante da

    transformao efetuada tm uma parte comum. Analogamente para o de lado b. No

    segundo movimento, quando cada paralelogramo se transforma em um retngulo, o

    obstculo do desdobramento surge duas vezes, porque, em cada transformao, a figuraresultante tem uma parte comum com a figura inicial. Finalmente, o quadrado sobre a

    hipotenusa (reconstitudo com os quadrados dos catetos) apresenta novamente o referido

    obstculo, porque contm o tringulo ABC.

    O fato de ser necessrio descobrir o fracionamento da figura em partes

    elementares, fazer cinco traados suplementares, haver um contorno neutro para essa

    operao, alm da multiplicidade de substituies e do obstculo do desdobramento

    cinco vezes presente, aumenta o grau de complexidade e diminue o grau de visibilidade

    para a aplicao da operao de reconfigurao intermediria

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    Demonstrao 14 General izao do Teorema de Pitgoras(Pappus e

    Friedelmeyer, geomtrica, rea dos quadrilteros, invariante)

    No h entre os pesquisadores de Histria da Matemtica unanimidade quanto

    figura original relativa demonstrao de Pappus. Existem duas verses, que sero

    apresentadas e analisadas a seguir.

    Seja um tringulo retngulo qualquer ABC; ABDE e BCFG so dois

    paralelogramos quaisquer construdos sobre os lados AB e BC respectivamente. Seja

    H o ponto de encontro de ED e FG . Traando-se por A e C as paralelas a BH , que

    cortam ED e FG respectivamente em L e K, ento o quadriltero ALKC umparalelogramo equivalente soma dos paralelogramos ABDE e BCFG. Na figura de

    Pappus, o paralelogramo ALKC construdo exteriormente ao tringulo ABC,

    tomando-se sobre a reta HB, IJ = HB e 'K'L paralela a ACpor J.

    (fig. Pappus)

    Anlise do ponto de vista matemtico

    O paralelogramo BCFG equivalente ao paralelogramo BCKH (mesma base e

    mesma altura), o qual por sua vez equivalente ao paralelogramo ICKJ, pois HB = IJ

    por construo. Analogamente, ALJI equivalente a HBDE. Como a rea de ACKJ

    a soma das reas de ICKJ e de ALJI, tem-se que ALKC equivalente reunio de

    ABDE e BCFG.

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    Para a figura de Friedelmeyer tem-se: HB = CK e HB = AL (lados de

    paralelogramo). Logo, CK = HB = AL e, portanto, ACKL um paralelogramo.

    Mas os paralelogramos BCFG e BCKH so equivalentes, pois tm mesma base,

    BC , e mesma altura. Por outro lado, BCKH e ICKN so equivalentes (mesma base,

    CK , e mesma altura). Logo BCFG e ICKN so tambm equivalentes.

    Analogamente, ABDE equivalente ao paralelogramo AINL.

    Como ACKL = ICKN " AINL, conclui-se que ACKL = BCFG " ABDE.

    Anlise do ponto de vista didtico

    Para a ltima srie do 1ograu, talvez fosse interessante tratar essa generalizao

    como uma curiosidade. O fato de utilizar equivalncia de reas como conhecimento

    disponvel propicia reinvestir nesse tpico, pois as variveis didticas (posio dos

    paralelogramos) so bem diversas daquelas normalmente escolhidas para os exerccios

    de clculo de reas dessas figuras.

    Quanto anlise cognitiva, convm observar que:

    o fracionamento da figura em partes elementares no dado inicialmente, ele

    deve ser encontrado;

    N

    I

    (Fig. Friedelmeyer)

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    a demonstrao exige tratamentos auxiliares a efetuar; pois so necessrios

    seis traados suplementares para a fig. Pappus (DH, HG, HB, AL, CK, LK)

    e seis para a fig. Friedelmeyer (DH, HG, HB, AL, CK, LK);

    as caractersticas do contorno no favorecem a aplicao da operao dereconfigurao intermediria, pois o mesmo no fornece indcios do que

    deva ser feito;

    os reagrupamentos das partes elementares formam subfiguras convexas

    (paralelogramos);

    o reagrupamento pertinente exige, tanto para a fig. Pappus como para a fig.

    Friedelmeyer, seis substituies (trs para cada paralelogramo; ABDE por

    ABHL, este por ALJI respectivamente AINL e BCFG por BCJK por

    ICKJ respectivamente ICKN);

    o obstculo do desdobramento aparece duas vezes na fig. Pappus (os

    paralelogramos ABDE e ABHL tm em comum o trapzio ABDL; os

    paralelogramos BCFG e BCKH, o trapzio BCKG). Para a figura de

    Friedelmeyer o desdobramento das partes elementares atinge tambm o

    paralelogramo ACKL, o que complica bastante a visualizao da figura,

    dando a impresso de que a mesma se encontra no num mesmo plano e sim

    no espao.

    O fracionamento da figura em partes elementares no sendo dado, a exigncia de

    seis traados suplementares, o contorno neutro, alm da multiplicidade de substituies

    e do obstculo do desdobramento de objetos, aumentam o grau de complexidade e

    diminuem o grau de visibilidade para a aplicao da operao de reconfigurao

    intermediria.

    Demonstrao 15 Leonardo da Vinci (1452-1519)

    So dados um tringulo EFG retngulo em G e sobre seus lados os quadrados

    FEJH, EDCG e FGBA. A partir dessa figura so feitas as seguintes construes

    auxiliares: segmentos AD, GI, BC.

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    Anlise do ponto de vista matemtico

    Os hexgonos ABCDEF e GEJIHF tm mesma rea, pois:

    rea do quadrado FEJH + 2 rea do tringulo FEG = rea do hexgono GEJIHF

    rea do hexgono GEJIHF = 2. rea do quadriltero BCDA = rea do hexgono

    ABCDEF

    Mas a rea do hexgono ABCDEF = rea do quadrado CDEG + rea do quadrado

    ABGF + 2 rea do tringulo


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