UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA (UNEB)
Pró-reitoria de Pesquisa e Ensino de Pós-graduação (PPG)
Departamento de Tecnologia e Ciências Sociais (DTCS )
Programa de Pós-Graduação em Horticultura Irrigada – Mestrado (PPHI)
SILVER JONAS ALVES FARFÁN
DIAGNÓSTICO DE HORTAS COMUNITÁRIAS NO DIPOLO JUAZEI RO – BA E PETROLINA – PE: PERFIL E DEMANDAS DE PESQUISAS
JUAZEIRO – BA
2008
UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA (UNEB)
Pró-reitoria de Pesquisa e Ensino de Pós-graduação (PPG)
Departamento de Tecnologia e Ciências Sociais (DTCS )
Programa de Pós-Graduação em Horticultura Irrigada - Mestrado (PPHI)
SILVER JONAS ALVES FARFÁN
DIAGNÓSTICO DE HORTAS COMUNITÁRIAS NO DIPOLO JUAZEI RO – BA E PETROLINA – PE: PERFIL E DEMANDAS DE PESQUISAS
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Horticultura Irrigada da Universidade do Estado da Bahia (PPHI/UNEB/DTCS), como parte do requisito para a obtenção do título de Mestre em Agronomia. Área de Concentração: Horticultura Irrigada
Orientador: Prof. Dr. Carlos Alberto Aragão, Co-orientadores: Prof. Msc. Gilton Carlos Anísio de Albuquerque e Dra. Mina Karasawa.
JUAZEIRO – BA
2008
FICHA CATALOGRÁFICA ELABORADA PELA
BIBLIOTECA DO DEPARTAMENTO DE TECNOLOGIAS E CIÊNCIAS SOCIAIS -
DTCS – UNEB
Farfán, Silver Jonas Alves Diagnóstico de hortas comunitárias no dipolo juazeiro – BA e Petrolina – PE: perfil e demandas de pesquisas / Silver Jonas Alves Farfán. – Juazeiro: UNEB / Departamento de Tecnologia e Ciências Sociais, [s.n], 2008.
xii, 105 f. : il.; 29,7 cm.
Orientador: Carlos Alberto Aragão Dissertação (Mestrado em Horticultura Irrigada) – Universidade do
Estado da Bahia, Departamento de Tecnologia e Ciências Sociais. Inclui referências e anexos
1. Agricultura urbana. 2. Horticultura. 3. Horta comunitária –
diagnóstico – Brasil – Nordeste – Semi-Árido. I. Aragão, Carlos Alberto. II. Universidade do Estado da Bahia. Departamento de Tecnologia e Ciências Sociais. III. Título.
CDD 635
CERTIFICADO DE APROVAÇÃO
SILVER JONAS ALVES FARFÁN
DIAGNÓSTICO DE HORTAS COMUNITÁRIAS NO DIPOLO JUAZEI RO – BA E PETROLINA – PE: PERFIL E DEMANDAS DE PESQUISAS
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Horticultura Irrigada da Universidade do Estado da Bahia (PPHI/UNEB/DTCS), como parte do requisito para a obtenção do título de Mestre em Agronomia. Área de Concentração: Horticultura Irrigada.
Aprovada em: 23 / 05 / 2008
__________________________________________
Prof. Dr. Carlos Alberto Aragão
Universidade do Estado da Bahia (DTCS / UNEB)
__________________________________________
Prof. Dra. Maria Herbênia Lima Cruz Santos
Universidade do Estado da Bahia (DTCS/UNEB)
__________________________________________
Dr. Cícero Antônio de Souza Araújo
Centro Federal de Educação Tecnológica de Petrolina (CEFET Petrolina)
v
Dedico esse trabalho a Deus Jeová, rocha firme
fonte de força e fé, aos meus pais Mário Farfán
Cantoya e Casilda Alves Farfán e à minha esposa
Nadja Maria Guedes Farfán pelo apoio, confiança
e incentivo irrestritos.
vi
AGRADECIMENTOS
Venho aqui fazer meus sinceros agradecimentos às pessoas e instituições
que contribuíram direta ou indiretamente com meu trabalho nessa nova e
importante etapa da minha vida.
Inicialmente quero reconhecer à minha esposa que foi a primeira
incentivadora sendo então grande apoiadora nos dias de luta e de paz que
sucederam após a decisão de voltar a estudar. Em segundo lugar aos meus pais
que embora vivendo distante a compreensão e o interesse em me ver
progredindo sempre resultaram em grande estímulo pessoal de tocar esse
trabalho.
Também reconheço a compreensão e apoio dos meus dois filhos, Félix
Gabriel Guedes Farfán e Ariel Guedes Farfán que na durante o início de suas
adolescências tiveram que se adequar à essa nova realidade de um pai que
voltou a ser estudante resultando em mudanças nos hábitos da casa, cooperando
com o silêncio e suportando os estresses inerentes à tarefa.
Nas pesquisas de campo tenho que agradecer à equipe de bolsistas de
iniciação científica que em muito ajudaram nas entrevistas e souberam aproveitar
da oportunidade ganhando mais experiência, são eles: Nemora Cavalcante da
Silva, Mayara Milena Menezes da Luz Pires e Patrício Ferreira Batista; aos
colegas do Mestrado: Eliud Monteiro Leite e Mitsuhiro Abe de Araújo, no igual
apoio em campo e laboratório e, Msc. Saulo Araújo, amigo que mesmo à
distancia, via internet, colaborou na reflexão e análises das informações.
vii
Ao CNPH-EMBRAPA, que auxiliou na identificação de viroses na alface, à
Profa. Dra. Ana Rosa Peixoto e a Dra. Mina Karasawa da UNEB pelo apoio nas
análises e identificação de doenças e a utilização do Laboratório de Fitopatologia.
Ao Dr. José Osmã Teles Moreira pelo apoio na identificação dos insetos e a
utilização do Laboratório de Entomologia.
À UNEB que viabilizou o curso e o desenvolvimento dessa pesquisa e à
CAPES pela concessão da Bolsa Demanda Social, que permitiu minha total
dedicação para a realização da pesquisa.
Aos horticultores urbanos de Juazeiro e Petrolina, também interessados e
beneficiários desse trabalho, que estiveram dispostos à participação na pesquisa
e contribuíram com as informações essenciais para as análises e conclusões e
agora têm sua atividade mais conhecida e valorizada.
Aos professores do curso de mestrado, em especial ao Coordenador Dr.
Manoel Abílio de Queiróz e o Dr. João Domingos Rodrigues, assim como o Diretor
do Departamento José Humberto Félix de Souza, que souberam compreender e
valorizar a linha de pesquisa que escolhi propondo a união da técnica às
demandas social.
Finalmente quero agradecer especialmente ao meu orientador Dr. Carlos
Alberto Aragão, que foi um grande incentivador, porque se envolveu com o
trabalho, apostou na temática e pudemos juntos ganhar com os resultados.
viii
“Nos chamados países em desenvolvimento,
até a primeira metade do século XX, as zonas
rurais concentravam os maiores níveis de
pobreza. Com o intenso processo migratório
das áreas rurais para as áreas urbanas
ocorrido nesses países naquele século, houve
uma inversão nesse sentido. Com o intenso
processo de urbanização, verificou-se, nas
cidades, uma demanda crescente por melhores
oportunidades e melhoria da qualidade de vida,
bem como a necessidade de alimentar, em
condições adequadas, uma população cada
vez mais desvinculada da produção de
alimentos” Aquino e Assis, 2007.
Lista de Figuras
Página Figura 1. Aspecto geral das hortas em Juazeiro - BA e Petrolina - PE. a) e
b) Horta no bairro Rio Corrente, Petrolina - PE; c) sementes de coentro (Coriandrum sativum L.); d) sintomas de tombamento de plântulas de coentro; e) alface (Lactuca sativa L.) com sintoma de bronzeamento ou queima nas folhas; f) Entrevista a horticultor durante a pesquisa de campo. 2007............................................... 27
Figura 2. Imagens de satélite do mostrando hortas em Juazeiro – BA e Petrolina – PE. 2007. A) Horta comunitária no Bairro João Paulo II em Juazeiro - BA; B) Horta Comunitária no Bairro Castelo Branco, Escola Estadual, Juazeiro - BA; C) Horta comunitária no Bairro João de Deus em Petrolina - PE; D) Horta comunitária no bairro Ouro Preto, Centro Social Urbano, Petrolina - PE; E) Horta comunitária no bairro Areia Branca, Escola Otacílio Nunes, Petrolina - PE; F) Horta comunitária no bairro Dom Avelar, Escola Santa Terezinha, Petrolina – PE .................................................... 41, 66
Figura 3. Distribuição de freqüência expresso em percentual dos dados sociais dos horticultores urbanos de Juazeiro – BA e Petrolina – PE. 2007 ......................................................................................... 46
Figura 4. Distribuição de freqüência expresso em percentual dos dados econômicos dos horticultores urbanos de Juazeiro – BA e Petrolina – PE. 2007 ...................................................................... 47
Figura 5. Distribuição de freqüência expresso em percentual dos dados sobre o destino e a comercialização dos produtos cultivados pelos horticultores urbanos de Juazeiro – BA e Petrolina – PE. 2007................................................................................................. 48
Figura 6. Distribuição de freqüência expresso em percentual dos dados sobre a capacitação dos horticultores urbanos de Juazeiro – BA e Petrolina – PE. 2007 ................................................................... 49
Figura 7. Distribuição de freqüência expresso em percentual dos dados sobre assistência técnica, financiamento, adubação e interesse na produção orgânica, pelos horticultores urbanos de Juazeiro – BA e Petrolina – PE. 2007 .............................................................. 50
Figura 8. Distribuição de freqüência expresso em percentual dos dados sobre a mão de obra, procedência das famílias e comercialização dos produtos cultivados pelos horticultores urbanos de Juazeiro – BA e Petrolina – PE. 2007 .............................................................. 70
Figura 9. Distribuição de freqüência expresso em percentual da espécies cultivadas pelos horticultores urbanos de Juazeiro – BA e Petrolina – PE. 2007 ...................................................................... 73
Figura 10. Distribuição de freqüência expresso em percentual dos dados sobre a irrigação, adubação e controle de ervas invasoras nas hortas urbanas de Juazeiro – BA e Petrolina – PE. 2007 .............. 74
Figura 11. Distribuição de freqüência expresso em percentual dos dados sobre pragas e doenças nas hortas urbanas de Juazeiro – BA e Petrolina – PE. e) Insetos dos gêneros Thripes e Frankliniella encontrado em alface (Lactuca sativa L.); f) Alface com sintoma
x
de bronzeamento ou queima característico da Tospovirose; g) Sintomas de tombamento de plântulas Coentro (Coriandrum sativum L.); h) Sementes de coentro utilizadas pelos horticultores. 2007 ..........................................................................
77
Figura 12. Distribuição de freqüência expresso em percentual dos dados sobre interesse dos horticultores na proposta agroecológica e pesquisas nas hortas urbanas de Juazeiro – BA e Petrolina – PE. 2007 ................................................................................................ 81
Figura 13. Etapas da experimentação com as sementes de coentro (Coriandrum sativum L.) utilizado nas hortas urbanas de Juazeiro – BA e Petrolina – PE. a) Sintomas de tombamento de plântulas; b) Sementes utilizadas pelos horticultores; c) Plaqueamento das sementes; d) Identificação de fitopatógenos e contagem dos sintomas; e) Sintomas de Aspergillus sp.; f) Sintomas de Alternaria sp. 2007. ........................................................................ 98
Lista de Tabelas
Tabela 1. Relação das hortas comunitárias urbanas selecionadas para participar da pesquisa durante os meses de maio a outubro de 2007 .............................................................................................. 43, 69
Tabela 2. Incidência de fitopatógenos e germinação em sementes de coentro – Coriandrum sativum L. Juazeiro, 2007 ......................... 97
Lista de Quadros
Quadro 1. Relação de mútuo benefício entre escolas e horticultores familiares em Juazeiro – BA e Petrolina – PE. 2008 .................... 45
SUMÁRIO
Página RESUMO GERAL .......................................................................................... 13 GENERAL ABSTRACT .................................................................................. 15 1 INTRODUÇÃO ............................................................................................... 17 2 REVISÃO DE LITERATURA .......................................................................... 19 2.1 Urbanização e agricultura urbana .................................................................. 19 2.2 Segurança alimentar ...................................................................................... 22 2.3 Modo de produção agroecológico .................................................................. 23 2.4 As hortaliças mais produzidas e seus problemas .......................................... 24 REFERÊNCIAS CITADAS NA INTRODUÇÃO ...........…............................... 28 3 HIPÓTESE ..................................................................................................... 32 4 OBJETIVO ...................................................................................................... 33 CAPÍTULO I ................................................................................................... 34
Hortas comunitárias urbanas no dipolo Juazeiro – BA e Petrolina – PE: perfil social econômico e demandas de apoio
RESUMO ........................................................................................................ 35 ABSTRACT .................................................................................................... 36
1 INTRODUÇÃO ............................................................................................... 37 2 MATERIAL E MÉTODOS ............................................................................... 40 3 RESULTADOS ............................................................................................... 44 4 DISCUSSÃO .................................................................................................. 51 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ........................................................................... 53 AGRADECIMENTOS ..................................................................................... 55
REFERÊNCIAS .............................................................................................. 56 CAPÍTULO II .................................................................................................. 59
Limites e potenciais para produção agroecológica nas hortas comunitárias urbanas no dipolo Juazeiro – BA e Petrolina – PE no Semi-Árido Nordestino
RESUMO ........................................................................................................ 60 ABSTRACT .................................................................................................... 61
1 INTRODUÇÃO ............................................................................................... 62 2 MATERIAL E MÉTODOS ............................................................................... 65 3 RESULTADOS E DISCUSSÃO ..................................................................... 69 3.1 Pragas e doenças .......................................................................................... 75 3.2 Potencial para produção agroecológica ......................................................... 79 4 CONCLUSÕES .............................................................................................. 82
AGRADECIMENTOS ..................................................................................... 83 REFERÊNCIAS .............................................................................................. 84
CAPÍTULO III ................................................................................................. 87
Qualidade de sementes de coentro utilizadas por agricultores urbanos de Juazeiro – BA e Petrolina – PE
RESUMO ........................................................................................................ 88 ABSTRACT .................................................................................................... 89
1 INTRODUÇÃO ............................................................................................... 90
xii
2 MATERIAL E MÉTODOS .............................................................................. 91 3 RESULTADOS E DISCUSSÃO ..................................................................... 93 AGRADECIMENTOS .................................................................................... 95
REFERÊNCIAS ............................................................................................. 96 CONSIDERAÇÕES FINAIS .......................................................................... 99 ANEXOS ………………………………………….............................................. 105
RESUMO GERAL
A agricultura urbana e periurbana produzem alimentos para aproximadamente
700 milhões de pessoas que moram nas cidades, significa um quarto da
população urbana do mundo, (FAO, 2008). A horticultura urbana em Juazeiro e
Petrolina iniciada nos anos 80 vêm atuando de maneira discreta e fornecendo
alimentos para as comunidades. Essa pesquisa teve o objetivo de conhecer as
hortas comunitárias urbanas, o perfil dos agricultores e agricultoras, a produção, e
as demandas para pesquisas. Foram entrevistados 31 agricultores e agricultoras
urbanas, 10,3% do universo, em 16 hortas nas duas cidades, entre maio e
outubro de 2007. O perfil dos horticultores e suas famílias compõem-se de
migrantes, vindos de outros municípios interioranos do nordeste; como a maioria
das unidades produtivas na zona rural do semi-árido nordestino brasileiro as
hortas urbanas estudadas também são cultivadas pela família, constituindo-se
uma agricultura familiar urbana; a maioria são mulheres, pessoas adultas, idosas
e de pouca escolaridade. A renda de até um salário mínimo para 65% das
agricultoras e a destinação dos produtos para venda e consumo demonstra que o
objetivo da produção é a alimentação da família e a complementação da renda, já
que a renda familiar é um pouco maior que a renda proveniente da horta. A
produção de hortaliças envolve 23 espécies, sendo as principais a alface, coentro
e cebolinho. São cultivadas 42 espécies de plantas medicinais sendo as principais
o capim santo, erva cidreira, mastruz e hortelã, o que evidencia a preocupação da
alimentação junto com a fitoterapia. O principal problema na produção da alface é
o Groudnut ringspot vírus GRSV e na produção do coentro são sementes de
14
baixa qualidade com incidência com fungos Alternaria spp. e Aspergillus sp.
causando perdas. Os terrenos utilizados são, em geral, pequenos e pertencem a
escolas públicas ou à Diocese de Juazeiro, a água utilizada é proveniente do Rio
São Francisco, na maioria dos casos é tratada e vem do sistema público de
abastecimento e, existem conflitos nas escolas sobre a quantidade utilizada. A
assistência técnica é inexistente. As hortas comunitárias representam oferta de
trabalho, renda e segurança alimentar às famílias e consumidores, existem
demandas para pesquisa a partir dos problemas diagnosticados.
GENERAL ABSTRACT
Urban and periurban agriculture produces food for approximately 700 million
people who live in the cities, which means one quarter of the urban population of
the world, (FAO, 2008). The urban horticulture in Juazeiro, Bahia and Petrolina,
Pernambuco initiated in the 80´s, is a discrete activity and supplies food to the
communities. This research had the objective to know the communitarian urban
vegetable-gardens, the profile of the farmers, the production, and the demand for
future research. Thirty one farmers were interviewed, which is 10.3% of the total,
carried out in 16 vegetable-gardens in the two cities, between May and October of
2007. The profile of the agriculturists and their families is composed by migrants,
which came from of other cities of the northeastern region. Like the majority of the
productive units in the agricultural zone of the semi arid Brazilian northeast, the
urban vegetable-gardens studied are also cultivated by the family, constituting an
urban family agriculture, where the majority are women and aged people with little
schooling. The income of up to a minimum salary for 65% of the farmers (women)
and the destination of the products for sale and consume show that the objective
of the production is providing food for the family and complementing the income,
once the family income is a little bigger that the income proceeding from the
vegetable-gardens. The vegetable production involves 23 species, mainly lettuce,
coriander and scallion. Forty two species of medicinal plants are also cultivated
and the main species are lemon grass (Cymbopogon citratus (DC) Stapf), lemon
balm (Melissa officinalis L.), epazote (Chenopodium ambrosioides L.) and mint
(Mentha spp.) which evidences the concern with the feeding along with
16
phitotherapy. The main problem in the growing of lettuce is the Groudnut ringspot
virus GRSV and in the production of coriander is the use of low quality seeds with
the incidence of the fungi Alternaria spp. and Aspergillus sp. which cause losses
and dumping off. The fields used are, in general, small pieces of land belonging to
public schools and the Catholic Church; the water used, from the river São
Francisco, in the majority of the cases, is treated water which comes from the
public supply system and there are conflicts about the amount used. The technical
assistance is completely absent. The community vegetal gardens represent an
offer of work, income and food security to the families and consumers, and so
there is a demand for research from the diagnosed problems.
1 INTRODUÇÃO
A humanidade vem provocando e experimentando aceleradas e arriscadas
modificações no ambiente terrestre, sobretudo nos últimos duzentos anos,
quando foi dada uma arrancada decisiva na industrialização de produtos, na
produção de máquinas movidas a combustíveis fósseis, assim como o
desenvolvimento da indústria química com a ampliação e diversificação de
produtos de aplicações nas mais diversas áreas. Esses fatores contribuíram com
a absorção de mão de obra cada vez maior nas cidades, provocando uma
constante migração para os centros urbanos.
Por outro lado, as modificações no campo rural podem ser compreendidas
com a difusão da revolução verde, que estimulou nos países mais pobres uma
tecnologia fundamentada na utilização de mecanização e insumos químicos, que
teve resultados ambíguos, por um lado provocou um crescimento considerável na
produção de soja, café, carnes, por outro lado provocando o empobrecimento das
populações rurais, concentração fundiária e migrações para os centros urbanos,
ajudado pelas más condições de educação, saúde, assistência técnica, crédito e
a pesquisa nas áreas rurais. A despeito desse processo que desfavoreceu
sobremaneira a agricultura familiar, esse segmento manteve a produção
majoritária dos principais itens da cesta básica do brasileiro, como o feijão,
mandioca, milho, leite, suínos, aves e ovos.
18
Observando os agricultores que migraram para as cidades, parte desse
contingente iniciou uma agricultura urbana de base familiar, uma iniciativa de
revalorização de seus conhecimentos, habilidades e cultura latente que, frente às
difíceis condições encontradas nas cidades e aproveitando sobras de espaços, a
infra-estrutura e a mão de obra. E esse não é um fenômeno brasileiro. A FAO
vem observando e estudando esse fenômeno nos vários continentes, sob a ótica
da crescente urbanização e a necessidade de alimentar adequadamente essa
população. Na América Latina e Caribe 75% da população já vive nas cidades e a
previsão da FAO é que esse percentual chegue em 83% no ano 2030.
A região onde foi desenvolvida a pesquisa, no submédio do Rio São
Francisco, fica no Nordeste semi-árido brasileiro, uma região caracterizada por
clima quente e seco, com chuva irregular e mal distribuída, por baixos índices de
desenvolvimento humano e de investimentos públicos.
A Região teve parte de sua paisagem alterada após a implantação da
Barragem de Sobradinho no Rio São Francisco e de projetos de irrigação na
década de 80, que provocou uma importante migração, nessa perspectiva, na
década de 90, os municípios de Petrolina – PE e Juazeiro – BA receberam 38 mil
novos habitantes (IBGE, 2001), provocando uma intensa urbanização nessas
duas cidades, atraídos pela atividade agrícola irrigada. Uma das possíveis
conseqüências não planejadas desse fenômeno foi a instalação das hortas
comunitárias nas duas cidades, Figura 1, objeto de estudo dessa dissertação.
2 REVISÃO DE LITERATURA
2.1 Urbanização e agricultura urbana
A agricultura urbana e periurbana – AUP vem se mostrando nas últimas
décadas como uma atividade em ascensão no mundo contribuindo com a
segurança alimentar de populações pobres, geração de trabalho, renda e
alimentação. Um sétimo (14,28%) da produção mundial de alimentos é cultivado
em terrenos baldios, telhados, coberturas, antigos lixões e em outros espaços
urbanos. Em todo o mundo, há mais de 800 milhões de agricultores urbanos
(PNUD-UNDP, 1996).
Há experiências de agricultura urbana em todo o mundo, apoiadas tanto
pela sociedade civil quanto pelos governos constituídos tal como na Europa,
América e na África (CALDAS & PINHEIRO 2004; DIMA & OGUNMOKUM, 2006).
Na Namíbia, país vizinho da África do Sul, a urbanização está alcançando
taxas explosivas desde a independência em 1990, como conseqüência da intensa
migração da população rural para as áreas urbanas ocorre o aumento pela busca
de trabalho e emprego. Sendo o país mais seco da África, clima semi-árido, a
base agrícola da Namíbia é fraca, e a maior parte das hortaliças vendidas nos
centros urbanos é importada da África do Sul. Apesar disso, atividades intensas
de agricultura urbana estão ocorrendo, tanto em escala comercial quanto em
plantios de “fundo de quintal”, nos espaços abertos disponíveis e ao longo do
curso de rios (DIMA & OGUNMOKUM, 2006).
20
Um diagnóstico recente da agricultura urbana no bairro chamado Bosa, da
cidade de Bogotá capital da Colômbia evidencia uma atividade desenvolvida por
comunidades pobres onde a maioria das protagonistas são mulheres, existe uma
grande diversidade de cultivos e dificuldades com acesso a espaço e água
(RAMIREZ et al., 2007).
Em Cuba, depois do bloqueio econômico houve dificuldade para aquisição
de defensivos agrícolas e pesticidas, com uma conseqüente redução da produção
de produtos alimentícios. Em decorrência dessas dificuldades, Cuba desenvolveu
o Programa Nacional de Agricultura Urbana, com a finalidade de apoiar a
produção de alimentos nas cidades e também nos povoados menores, por meio
da criação de 28 subprogramas sendo 12 de cultivos, 07 de pecuária e 09 de
apoio com o principal objetivo de auto-sustentar a produção de alimentos do país
em áreas dentro e ao redor das cidades (AQUINO & ASSIS, 2007).
A experiência cubana é avaliada como a mais bem organizada e mais bem
sucedida, com o comprometimento de todos os setores governamentais e da
sociedade, sendo um sistema que modificou a produção de hortaliças que em
1994 gerava de 4.200 toneladas/ano para dois milhões de toneladas/ano em
2001, sendo toda essa produção proveniente de cultivos urbanos e orgânicos
espalhados pelo país (AQUINO & ASSIS, 2007).
O Brasil chegou ao final do século XX como um país urbano: em 2000 a
população urbana ultrapassou 2/3 da população total, e atingiu a marca dos 138
milhões de pessoas. Este é o resultado de um processo iniciado na década de 50
na região Sudeste. A partir de então, este contraste se acentuou e se generalizou
pelas cinco grandes regiões do país. Na década de 90 as cidades de Juazeiro –
BA e Petrolina – PE receberam 38 mil novos habitantes (IBGE, 2000, 2001).
As experiências de agricultura urbana no Brasil apoiadas pela sociedade
civil e governos foram objetos de algumas pesquisas acadêmicas nas cidades de
Teresina, Belo Horizonte, Fortaleza, Brasília e Campinas (MONTEIRO &
21
MONTEIRO 2006; BRANDÃO, 2001; BEZERRA et al., 1996; CARVALHO, 2001;
ARRUDA, 2006).
A Prefeitura Municipal de Belo Horizonte - MG implantou o Projeto Centros
de Vivência Agroecológica (CEVAE) em comunidades de baixa renda –
equipamentos públicos comunitários que tinham como principal diretriz a
construção participativa de um desenvolvimento sustentável no meio urbano.
Neles foram desenvolvidos programas de intervenção socioambiental, como
ações de educação ambiental e sanitária, de segurança alimentar e saúde,
agroecologia e geração de renda (CALDAS & PINHEIRO 2004).
Na capital do Rio de Janeiro, um diagnóstico realizado por Monteiro &
Mendonça (2004) evidencia que a agricultura urbana praticada nos quintais
domésticos é constituída por famílias pobres que consomem poucas hortaliças e
representa a manutenção dos traços culturais da alimentação.
No contexto da região Nordeste do Brasil, a AUP foi registrada na pesquisa
feita por Monteiro & Monteiro (2006), em Teresina – PI, sendo a mais próxima da
realidade de Juazeiro – BA e Petrolina – PE. Naquele município, por incentivo da
Prefeitura Municipal e de várias outras instituições foi iniciado em meados da
década de 80 o “Programa Hortas”. Segundo as autoras funcionam 50 hortas
comunitárias ocupando 177,2 hectares envolvendo um público de 2.430
horticultores.
A AUP tem seus prós e contras. Se for observada uma comparação com a
agricultura familiar rural, as vantagens são: menor consumo de combustível e
transporte da produção; maior diversidade de cultivos agrícolas; pouca utilização
de insumos externos, ausência de mecanização agrícola; emprega maior número
de trabalhadores por hectare, configurando um menor impacto ambiental
representando um impacto positivo na sociedade e na alimentação. Por outro
lado, as desvantagens estão no valor muito superior da terra urbana e da água
em relação ao de outras áreas rurais, os agricultores urbanos não são
22
reconhecidos por lei e existe um risco potencial de contaminação dos alimentos
através do solo ou por águas poluídas (AQUINO & ASSIS, 2007; LANG, 2007).
Uma parte das experiências a agricultura urbana citadas no Brasil se refere
a hortas comunitárias. Para efeito desse trabalho conceituamos uma horta
comunitária urbana como um grupo acima de duas pessoas que compartilham de
um espaço de terra e a disposição de água de forma comum, sendo atribuído a
eles a responsabilidade coletiva de vigilância e zelo das fronteiras do terreno,
sendo a terra e a água a eles pertencentes ou não, com o objetivo de produção
de hortaliças para seu consumo, doação e comercialização de excedentes.
2.2 Segurança alimentar
Para analisar as possibilidades de contribuição da AUP na segurança
alimentar será importante conceituar o tema. Baseando-se no documento
brasileiro à Cúpula Mundial de Alimentação, temos o seguinte: segurança
alimentar significa garantir, a todos, condições de acesso a alimentos básicos de
qualidade, em quantidade suficiente, de modo permanente e sem comprometer o
acesso a outras necessidades essenciais, com base em práticas alimentares
saudáveis, contribuindo, assim, para uma existência digna, em um contexto de
desenvolvimento integral da pessoa humana (MALUF, 1999).
Na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios - PNAD publicada em
2006 (RIO DE JANEIRO, 2006) pelo IBGE e o Ministério do Desenvolvimento
Social e Combate à Fome, observou-se que no Brasil, assim como em outros
países, a proporção da situação de “segurança alimentar” difere conforme o
rendimento domiciliar mensal per capita. A prevalência da “insegurança alimentar
grave” é substancialmente maior nos domicílios com rendimentos per capita de
até 01 salário mínimo. Os dados da PNAD apontam este comportamento para o
Brasil como um todo e para todas as Unidades da Federação.
O baixo consumo de hortaliças entre as famílias de baixa renda foi
verificado no passado por Josué de Castro (1946), Andrade (1997) e ainda ocorre
23
atualmente, tanto em países pobres quanto em países desenvolvidos, seja
motivado pela baixa renda ou pelos hábitos alimentares adquiridos, nesses
grupos o consumo de arroz, feijão, carne bovina e derivados do trigo são maiores,
sendo pequena a participação das hortaliças (HOMEM de MELO et al., 1998;
VILELA & HENZ, 2000; ROUX et al., 2000; CASTELO BRANCO et al., 2006). Daí
a necessidade de incentivar produção e o consumo de hortaliças frescas junto às
populações mais pobres, sobretudo para venda a custos acessíveis.
2.3. Modo de produção agroecológico
Devido às incertezas do uso da terra na AUP, possibilidades de roubo dos
produtos, a falta de conhecimentos mais especializados, insumos e ferramentas
apropriadas fazem com que na maioria das vezes as espécies cultivadas sejam
de baixo valor, de crescimento rápido e de fácil técnica de cultivo, portanto nem
sempre são produtos muito rentáveis (FAO, 2008). Por outro lado, essas
limitações fazem com que a AUP seja praticada da forma mais racional e
alternativa.
A proximidade dessas parcelas produtivas das residências urbanas oferece
a chance aos cidadãos urbanos de observarem e acompanharem as etapas da
produção de alimentos, permitindo um contato direto entre agricultor e
consumidor. Mais que isso, um número crescente de consumidores vem
comprando comida baseando-se em sua origem e método de produção,
orientando-se por rótulos ou referências como: “orgânico”, “sem agrotóxicos”,
“processado minimamente”, “sem antibióticos”, e “não contém transgênico”. As
hortas urbanas permitem consumir as hortaliças – visualmente, auditivamente e
pelo olfato, ou seja, sensorialmente – em todo o processo, e não apenas no
resultado (LANG, 2007), essa perspectiva inova a maneira de ver e valorizar a
agricultura urbana e a ela confere maior potencialidade.
Aquino & Assis (2007) publicaram um trabalho que defende a agricultura
orgânica com base na agroecologia como provedora de instrumental tecnológico
adequado à agricultura urbana. Os princípios básicos da agroecologia defendidos
24
pelos autores são: menor dependência possível de insumos externos à unidade
de produção e a conservação dos recursos naturais. A defesa dos autores acima
é alicerçada nas várias características da AUP que a credenciam como uma
agricultura de potencial agroecológico, são elas: produção em base familiar,
parcelas produtivas pequenas, consome o mínimo de combustível e transporte
entre a produção e os consumidores, existência de tecnologia orgânica para
controle de pragas e doenças, grande biodiversidade de cultivos agrícolas, pouca
utilização de insumos químicos e ausência de mecanização (FAO, 2008, AQUINO
& ASSIS, 2007).
Os muitos aspectos que foram bem sucedidos em Cuba podem ser
replicados na realidade Brasileira, segundo Aquino (2002), que também sugeriu
que fossem estabelecidas unidades-modelo para adaptar e testar técnicas,
servindo de referência para posterior disseminação.
Finalmente, os aspectos tecnológicos, sociais e econômicos da AUP
aliados à agroecologia permitem enquadrar a agricultura urbana agroecológica na
definição de tecnologia social, adotado pelo Instituto de Tecnologia Social – ITC,
Brasil (2004) sendo um “Conjunto de técnicas e metodologias transformadoras,
desenvolvidas e/ou aplicadas na interação com a população e apropriadas por
ela, que representam soluções para inclusão social e melhoria das condições de
vida”.
2.4 As hortaliças mais produzidas e seus problemas
Dentre as principais atividades da agricultura familiar no submédio São
Francisco destaca-se a produção de fruteiras e de hortaliças, sendo as culturas
temporárias a opção mais praticada por agricultores familiares, principalmente,
melancia, cebola e melão, e em menores proporções os cultivos de tomate,
abóbora, pimentão, cebola, pimenta, coentro e alface. As condições climáticas
com altas temperaturas e baixa umidade relativa do ar, principalmente no
segundo semestre, somada à irrigação favorece uma diversidade de hortaliças,
muito embora as mesmas condições climáticas também são favoráveis ao
25
surgimento de problemas fitossanitários, destacando-se, aqueles transmitidos por
insetos-vetores, como as viroses (LIMA, 2001).
As pesquisas publicadas sobre hortas comunitárias no Brasil se referem
constantemente aos cultivos de alface (Lacttuca sativa L.), coentro (Coriandrum
sativum L.), cebolinha verde, couve (ALMEIDA, 2004; MONTEIRO & MONTEIRO,
2006; AQUINO e ASSIS, 2007; RAMIRES et al., 2007).
Alface está dentre as hortaliças mais cultivadas e consumidas no Brasil e
em outros países como na França. No Brasil no grupo das hortaliças herbáceas é
o produto mais consumido durante todo o ano (UENO et al., 1992 citado por
BORGES, 2007). A alface pertence à família Asteraceae, mais conhecida pelo
antigo nome Compositae.
Um dos principais problemas na cultura da alface são as viroses, existindo
relatos no Brasil desde a década de 40. As viroses são doenças transmitidas por
insetos sugadores, no caso da alface são os tripes os agentes vetores, e a
relação do vírus com esse inseto é tida como circulativa e propagativa, ou seja,
uma vez contaminado, o inseto pode continuar transmitindo o vírus por toda sua
vida (ÁVILA et al., 1993; WIJKAMP et al., 1995 citados por BORGES, 2007).
O coentro é cultivado na maioria das cidades dos estados do Norte e
Nordeste do Brasil, é a hortaliça folhosa condimentar de maior consumo, crua ou
cozida (OLIVEIRA et al., 2007), presente na alimentação diária (MARQUES &
LORENCETTI, 1999). No estado da Paraíba, é cultivado em quase todas as
micro-regiões por pequenos agricultores, sem nenhuma orientação técnica, o que
tem proporcionado baixa produtividade (OLIVEIRA et al., 2004). Foi verificado em
São Luiz – MA por Santos et al., (2003) que as sementes de coentro eram
produzidas localmente na horticultura urbana o que sugere confirmar o grau
rusticidade que essa cultura é praticada.
O coentro é uma espécie da família Apiaceae, cuja origem seja
provavelmente a Europa, região do Mediterrâneo, é também considerada uma
26
espécie subutilizada ou negligenciada, embora tenha grande popularidade na
mesa dos brasileiros nortistas e nordestinos e, poucas pesquisas têm sido
realizadas para essa cultura (DIEDERICHSEN, 1996).
O objetivo dessa dissertação é investigar a importância social, econômica
hortas urbanas comunitárias e a segurança alimentar de produtores e
consumidores das em Juazeiro – BA e Petrolina – PE, bem como conhecer
aspectos técnicos, ambientais e suas demandas para a pesquisa científica.
27
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3 HIPÓTESE
“A ausência de informações e estudos sobre o sistema produtivo da
agricultura urbana e as famílias envolvidas em Juazeiro – BA e Petrolina – PE,
provavelmente dificulta o reconhecimento desse trabalho e o planejamento de
uma assistência técnica e estruturação, pois, supõe-se que essas hortas
desempenham importante função social, econômica para esses agricultores,
praticam uma agricultura com tendência agroecológica, além de contribuir com a
segurança alimentar das famílias envolvidas e população consumidora atendida“.
4 OBJETIVO
Objetivo geral:
Investigar a importância social, econômica e a segurança alimentar de
produtores e consumidores das hortas urbanas comunitárias em Juazeiro – BA e
Petrolina – PE no Semi-Árido nordestino, bem como conhecer aspectos técnicos,
ambientais e suas demandas para a pesquisa científica.
Objetivos específicos:
i) Definir o perfil social e econômico dos horticultores, contribuindo para os
estudos já desenvolvidos na região e refletir em torno das demandas de
apoio junto aos órgãos públicos e a sociedade.
ii) Estudar os sistemas produtivos das hortas urbanas e contribuir para a
reflexão acerca dos principais aspectos técnicos limitantes e as
potencialidades, com intuito de gerar subsídios para um planejamento e
implementação de sistemas viáveis de produção, fundamentados na
agroecologia.
iii) Estudar a qualidade de sementes de coentro comerciais certificadas e
sementes produzidas localmente, utilizadas pelos horticultores,
correlacionando os percentuais de germinação com fitopatógenos
presentes.
CAPÍTULO I
Hortas comunitárias urbanas no dipolo Juazeiro – BA Petrolina – PE: perfil
social econômico e demandas de apoio
Artigo formatado com base nas normas para publicação do periódico “Sociedade
& Ambiente”, para o qual será submetido.
RESUMO
A agricultura urbana e periurbana produzem alimentos para aproximadamente
700 milhões de pessoas que moram nas cidades, significa um quarto da
população urbana do mundo segundo a FAO. Essa pesquisa teve o objetivo de
conhecer as hortas comunitárias urbanas, o perfil social dos agricultores e
agricultoras e as demandas para pesquisas. O levantamento de campo foi
realizado em 16 hortas nas cidades de Juazeiro – BA e Petrolina – PE, entre maio
e outubro de 2007, entrevistou 31 agricultores e agricultoras urbanas, 10,3% do
universo. A horticultura urbana nas duas cidades da região semi-árida do
Nordeste vem se desenvolvendo desde a década de 80, seguindo características
similares a outras localidades quanto ao modelo de produção e perfil sócio-
econômico. O perfil dos agricultores e suas famílias compõem-se de migrantes,
vindos de outros municípios interioranos do nordeste; como a maioria das
unidades produtivas na zona rural do semi-árido nordestino brasileiro, as hortas
urbanas estudadas também são cultivadas pela família, constituindo-se uma
agricultura familiar urbana; a maioria são mulheres, pessoas adultas, idosas e de
pouca escolaridade. A renda de até um salário mínimo para 65% das agricultoras
e a destinação dos produtos para venda e consumo demonstra que objetivo da
produção é a alimentação da família e a complementação da renda. Os terrenos
utilizados são, em geral, pequenos e pertencem a escolas públicas ou à Igreja
católica; a água utilizada, do Rio São Francisco, na maioria dos casos é tratada,
vem do sistema público de abastecimento e existem conflitos sobre a quantidade
utilizada. A assistência técnica é inexistente e a condição do trabalho é de total
informalidade restringindo relações no comércio e o acesso às políticas públicas
da agricultura familiar. As hortas comunitárias representam oferta de trabalho,
renda e segurança alimentar às famílias e consumidores e, existem demandas
para pesquisa a partir dos problemas diagnosticados.
Palavras chaves: agricultura urbana, diagnóstico, política pública.
ABSTRACT
COMMUNITY URBAN VEGETABLE GARDENS IN THE POLE JUAZE IRO-BA
PETROLINA-PE: SOCIAL ECONOMICAL PROFILE AND DEMAND OF
SUPPORT.
Urban and periurban agriculture produce food for approximately 700 million people
that live in the cities, which means one quarter of the urban population according
to FAO. This research had the objective to know the urban community vegetable
gardens, the social profile of male and female farmers and the demand for
research. The field survey was carried out in 16 vegetable gardens in the cities of
Juazeiro – BA and Petrolina – PE, between May and October of 2007, 31 urban
farmers were interviewed, 10.3% of total. The urban horticulture in both cities of
the Northeast semi-arid region has been developed since the eighties, following
similar characteristics of other localities regarding the production model and the
social economical profile. The profile of the farmers and their families is composed
by migrants who come from other towns of Northeast. Like the majority of the
productive units in the rural areas of Brazilian Northeast Semi-Arid, the urban
vegetable gardens which were studied are also cultivated by the families,
constituting an urban familiar agriculture; most of them are women, adults, elderly
and people with low education level. The income of up to a minimum salary for
65% of the farmers (women) and the destination of the products for sale and
consume show that the objective of the production is providing food for the family
and complementing the income. The fields used are, in general, small pieces of
land belonging to public schools and the Catholic church; the water used, from the
river São Francisco, in the majority of the cases, is treated water which comes
from the public supply system and there are conflicts about the amount used. The
technical assistance is completely absent and there is a totally informal working
condition which restricts commercial relations and access to public policies of
family agriculture. The community vegetal gardens represent an offer of work,
income and food security to the families and consumers, and so there is a demand
for research from the diagnosed problems.
Key words: urban agriculture, diagnostic, public policy
1 INTRODUÇÃO
A agricultura urbana e periurbana – AUP produzem alimentos para
aproximadamente 700 milhões de pessoas que moram nas cidades – um quarto
da população urbana do mundo -, se desenvolvendo proporcionalmente à
urbanização. Na América latina e Caribe 75% da população já vive nas grandes
cidades e, segundo a FAO (2002) é que esse percentual chegue em 83% no ano
2030. O Brasil chegou ao final do século XX como um país urbano: em 2000 a
população urbana ultrapassou 2/3 da população total, atingindo a marca dos 138
milhões de pessoas. Este é o resultado de um processo iniciado na década de 50
na região Sudeste, que a partir de então se generalizando pelas cinco grandes
regiões do país (IBGE, 2000).
Há experiências de agricultura urbana em todo o mundo, desenvolvidas
com apoio tanto da sociedade civil quanto dos Governos a exemplo de Cuba, São
Petersburgo na Rússia e no Brasil as cidades de Teresina, Belo Horizonte,
Fortaleza, Brasília e Campinas todas sendo objeto alvo de pesquisas científicas
(MONTEIRO & MONTEIRO, 2006; CALDAS & PINHEIRO, 2004; BRANDÃO,
2001; BEZERRA et al. 1996, CARVALHO, 2001, ARRUDA, 2006).
A experiência de Cuba é tida como a mais bem organizada e mais bem
sucedida, com o comprometimento de todos os setores governamentais e a
sociedade, onde o sistema adotado modificou a produção de hortaliças que em
1994 gerava 4.200 toneladas por ano passando para 2 milhões de toneladas ao
ano em 2001, sendo toda essa produção proveniente de cultivos urbanos e
orgânicos espalhados pelo país (AQUINO & ASSIS, 2007). Os autores concluíram
que produção agrícola urbana pode contribuir com a melhoria da qualidade da
dieta das famílias envolvidas, aliado à (re) inserção social de populações
marginalizadas bem como melhorias nas condições ambientais.
Uma pesquisa conduzida por Castelo Branco et al. (2007) no município de
Santo Antônio do Descoberto – GO, revela a implantação de uma horta
comunitária urbana assessorada pela Empresa Brasileira de Pesquisa
38
Agropecuária – EMBRAPA, aprofundando-se nos mais diversos aspectos: social,
segurança alimentar, manejo do solo, irrigação, pragas e doenças, custos e
benefícios, sistema de produção. Os autores afirmam que a AUP pode contribuir
para garantir a segurança alimentar de populações em vulnerabilidade social de
forma direta e através da geração de renda e enfatiza a preocupação em
aprofundar conhecimentos através de novas pesquisas neste campo.
O baixo consumo de hortaliças entre as famílias de baixa renda, verificado
no passado por Josué de Castro (1946), Andrade, (1997) ainda ocorre
atualmente, tanto em países pobres quanto em países desenvolvidos, seja
motivado pela própria condição de renda ou pelos hábitos alimentares adquiridos
nesses grupos, o consumo de arroz, feijão, carne bovina e derivados do trigo são
maiores, sendo pequena a participação das hortaliças (HOMEM de MELO et al.,
1998; VILELA & HENZ, 2000; ROUX et al., 2000; CASTELO BRANCO et al.,
2006), importantes fontes de sais minerais, vitaminas, antioxidantes dentre outros,
o que limita as condições de uma alimentação adequada e saudável.
Segundo o Grupo de Trabalho de Alimentação adequada e Saudável do
Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional - CONSEA (2007), nas
atuais condições brasileiras, deve ser estimulado o maior consumo de legumes,
verduras e frutas, pois, segundo dados de 2005 da Pesquisa de Orçamento
Familiar – POF, o consumo diário é de 132 gramas de legumes, verduras e frutas,
enquanto a recomendação do Ministério da Saúde é de 400 gramas/dia.
A inadequação dessa alimentação traz resultados negativos visíveis e
mensuráveis nas pessoas tais como: sobrepeso e a obesidade, hoje problemas
de saúde pública, a prevalência significativa das doenças não transmissíveis
(dislipidemias, diabetes, hipertensão, doenças coronarianas etc) inclusive com
destacada manifestação entre crianças, uma predominância na deficiência de
micronutrientes, principalmente de ferro, de vitamina A e de cálcio (CONSEA,
2007).
39
A AUP desenvolvida em bases agroecológicas é defendida por Aquino &
Assis (2007) como provedora de instrumental tecnológico adequado à agricultura
urbana. Os princípios básicos da agroecologia defendidos pelos autores são:
menor dependência possível de insumos externos à unidade de produção e a
conservação dos recursos naturais. O ambiente urbano facilita a infra-estrutura,
disponibilidade de mão de obra familiar, proximidade com o público consumidor,
oferta limitada de espaços e possibilidade de reciclagem de materiais orgânicos
permite a viabilização da agricultura urbana orgânica com produção diversificada
e constante durante todo o ano (ASSIS, 2003).
A partir da realidade observada no Brasil, a proposta da AUP tem seus
prós e contras. Se for comparada com a agricultura familiar desenvolvida
tradicionalmente no contexto rural podemos destacar as seguintes questões. As
vantagens podem ser representadas por: menor consumo de combustível e
custos no transporte na pós-colheita; maior diversidade de cultivos agrícolas;
pouca utilização de insumos químicos e de mecanização agrícola no preparo do
solo; emprega maior número de trabalhadores por área; configurando menor
impacto ambiental e maior impacto social, resultando positivamente em benefícios
para sociedade, também no que diz respeito à alimentação.
Por outro lado, as desvantagens podem ser caracterizadas pelo valor da
terra urbana e pelos custos relativos ao insumo água, muito superiores, além
disso, existem riscos de contaminação dos alimentos através do solo ou por
águas poluídas (AQUINO & ASSIS, 2007; LANG, 2007). Por último, os
agricultores urbanos ainda não são reconhecidos como integrantes da mão de
obra do segmento produtivo caracteristicamente rural.
Seguindo a perspectiva da urbanização, na década de 90, por exemplo, os
municípios de Juazeiro – BA e Petrolina – PE receberam 38 mil novos habitantes
(IBGE, 2001), trazendo consigo inúmeros problemas com a falta de investimentos
no planejamento urbano para atender as necessidades básicas de toda essa nova
população. Por outro lado a oferta de trabalho na fruticultura irrigada também não
consegue absorver toda essa mão de obra, surgindo novas questões como a
formação de comunidades extremamente pobres, desemprego e baixo
valor da mão de obra devido ao excesso de contingente, dentre outros. Uma das
possíveis conseqüências não planejadas desse fenômeno foi a instalação das
hortas comunitárias nas duas cidades, objeto de estudo dessa dissertação.
Esse trabalho teve como objetivo definir o perfil social e econômico dos
horticultores, bem como o aspecto da segurança alimentar, contribuindo para os
estudos já desenvolvidos na região e refletir em torno das demandas de apoio
junto aos órgãos públicos e a sociedade.
2 MATERIAL E MÉTODOS
A pesquisa foi desenvolvida no submédio do Rio São Francisco, no
Nordeste semi-árido brasileiro, uma região caracterizada por clima quente e seco,
com chuva irregular e mal distribuída, por baixos índices de desenvolvimento
humano e de investimentos públicos. A Região teve parte de sua paisagem
alterada após a implantação da Barragem de Sobradinho e de projetos de
irrigação na década de 80.
Inicialmente foi realizada uma revisão bibliográfica com a coleta de dados
secundários no Censo (IBGE, 2000), publicações de revistas, teses e
dissertações, livros em bibliotecas e sites disponíveis na internet.
Em seguida foi realizado um mapeamento lançando mão de levantamento
aerofotogramétrico com a utilização do programa eletrônico Google Earth
disponível na rede internet para localizar as hortas em Juazeiro – BA e Petrolina –
PE. Esse levantamento prévio permitiu fazer a localização da maioria das hortas
comunitárias existentes nas duas cidades através da observação das imagens,
tendo como referência as cores e texturas características nas hortas urbanas em
locais inicialmente conhecidos, o que pode ser observado na Figura 2.
O objetivo foi selecionar todas as hortas comunitárias existentes na área
urbana de Juazeiro – BA e Petrolina – PE, ou seja, envolver 100% das hortas
41
comunitárias urbanas na pesquisa, que foi aproximadamente contemplado, pois
foram visitadas todas as hortas visíveis nas imagens obtidas no Google Earth
além das hortas indicadas pelos informantes durante a pesquisa de campo.
42
Foram descartadas cinco hortas urbanas situadas em escolas e terrenos privados
por não terem o perfil comunitário, pois só havia uma pessoa ou família
trabalhando.
As três etapas de campo ocorreram entre os meses de maio e outubro de
2007. As visitas aos grupos ocorreram em três etapas em momentos distintos
para facilitar o contato e a comunicação, sendo a primeira etapa a visitas às
hortas para apresentação da pesquisa e convite para uma reunião ampliada com
a maioria dos horticultores. A segunda etapa foi uma reunião aberta para nova
apresentação da pesquisa e levantamento das informações gerais da produção,
histórico e organização do trabalho, orientado pelo Questionário 1. A terceira
etapa foi a coleta de informações detalhadas através de entrevistas individuais e
aplicação do questionário 2, com questões de múltiplas respostas Nesse trabalho
estão analisadas as variáveis relativas ao perfil social, econômico e segurança
alimentar. Os questionários 1 e 2 estão no Anexo 1.
Optou-se pela aplicação do questionário aliada à entrevista, considerando
que num questionário, a informação obtida pelo pesquisador limita-se às
respostas escritas à questões pré-determinadas e numa entrevista – como o
entrevistador e a pessoa entrevistada estão presentes no momento em que as
perguntas são apresentadas e respondidas – existe oportunidade para maior
flexibilidade na obtenção de informações (SELLTIZ & DEUTSCH, 1971 citado por
ARRUDA, 2006),
Hirano et al., (1989 citado por MONTEIRO, 2005) propõe inicialmente não
existir regras fixas para definir o número ou percentual ótimo para amostras em
pesquisas. O autor cita que quanto mais homogêneo o universo menor poderá ser
a amostra representativa, e, ao contrário, quanto mais heterogêneo o universo
maior precisará ser a amostra para conter todos os tipos possíveis de variação e,
portanto, ser representativa. Portanto, utilizaram-se essas referências para definir
o tamanho da amostra como descrito a seguir.
43
Foram identificadas 03 hortas em Juazeiro – BA e 13 hortas em Petrolina –
PE, como pode ser observado na Tabela 1, onde se realizou uma contagem de
304 horticultores. Foi considerada uma amostragem de 10% do universo total de
agricultores registrados das 16 hortas, entrevistando uma amostra de 31 pessoas,
escolhidas de forma aleatória, em todas as hortas. Foi observada uma
homogeneidade no perfil social, econômico e da produção das hortas por isso não
foi necessário fazer subdivisões nas amostras.
Para cada pessoa entrevistada foi utilizado um Termo de consentimento
livre e esclarecido, Anexo 2, que explicava os objetivos da pesquisa, garantindo
liberdade do entrevistado, sigilo sobre as informações pessoais colhidas e
ausência de riscos. Os documentos foram assinados em duas vias, ficando uma
cópia com a pessoa entrevistada e outra com o pesquisador.
Após a obtenção dos dados, as informações qualitativas foram analisadas
e transformadas em texto e os dados quantitativos foram tabulados em planilhas
eletrônicas formando um banco de dados e posteriormente analisados com a
utilização de distribuição de freqüência das respostas e transformadas em
percentual, tabelas e quadros que estão apresentados a seguir.
3 RESULTADOS
Como se observa na Tabela 1 foi constatado nas hortas pesquisadas no
município de Juazeiro - BA trabalham 122 horticultores distribuídos em 4,7
hectares e no município de Petrolina – PE trabalham 182 em 6,28 hectares,
totalizando 304 horticultores que utilizam aproximadamente 10,98 hectares. A
maioria das hortas tem mais de 10 anos de implantação, sendo que, 56,2% foram
implantadas nos anos 90 e 31,2% nos anos 80. Apenas duas foram implantadas
nos últimos sete anos.
O surgimento dessas hortas, na maioria dos casos se deu por iniciativas
das escolas públicas localizadas em bairros periféricos daqueles municípios, que
a partir da década de 80 incluíam no currículo escolar a disciplina práticas
agrícolas, iniciando os trabalhos com finalidades pedagógicas, e ao mesmo tempo
atraindo pais dos alunos para trabalharem naqueles espaços, com o objetivo de
promover alternativa de geração de renda e melhorar a alimentação para famílias
de baixa renda, oferecendo o espaço físico com a segurança dos muros da escola
e água a partir dos sistemas que abastecem as escolas. Essas iniciativas, no
município de Petrolina, foram apoiadas por professores e alunos do Centro
Federal de Educação Tecnológica de Petrolina - CEFET Petrolina, e lideranças
políticas, que contribuíram inicialmente com insumos, ferramentas, instalações
hidráulicas, capacitações e assistência técnica.
Diferentemente de Petrolina, em Juazeiro as hortas foram apoiadas
inicialmente por religiosas da Igreja Católica, mas também por escolas do Estado.
No caso do Bairro João Paulo II, em Juazeiro, o terreno foi cedido pela Diocese e,
com apoio de uma empresa de mineração foi assegurado o fornecimento de água
45
bruta diretamente do Rio São Francisco, a partir de uma adutora que passa nas
proximidades. Denota-se, portanto, que os terrenos onde são implantadas as
hortas não pertencem aos horticultores, caracterizando as relações de uso da
terra como informais em 100% dos casos, uma vez que não existe mecanismo de
arrendamento, Tabela 1.
Por outro lado, os horticultores vêm sustentando e se auto-sustentando
com o funcionamento dessas hortas, mantendo ao longo desses anos uma
importante relação de mútuos benefícios com as escolas conforme Quadro 1, que
embora informal, demonstra-se estável pela sua durabilidade, existindo algumas
hortas com 24 anos de funcionamento, como pode ser visto na Tabela 1. Na visão
dos horticultores a escola ganha muito com a presença diária das famílias de
agricultores, evitando roubos e a ocupação desses espaços por vândalos e
usuários de drogas, assegurando um uso funcional das adjacências das escolas,
além dos horticultores fornecerem, sem ônus para a escola, parte da produção
para a merenda escolar, a qual fica enriquecida com verduras e temperos. Por
outro lado, embora pontuais, observou-se a existência de conflitos sobre o uso da
água, a Diretoria de duas escolas questionam a quantidade de água utilizada na
horta.
No cômputo do total da mão-de-obra, tem-se que 71% trabalham em
família e que a maioria são mulheres, correspondendo a 61% do total. Em relação
46
à faixa etária, a maioria são pessoas adultas acima de 31 anos perfazendo 96%,
sendo que 42% desses têm mais de 60 anos, Figuras 3a, b e c.
Sobre a escolaridade, 84% têm nível fundamental ou não tem instrução e,
com relação às origens, a maioria dos agricultores representada por 97% são
migrantes vindos de outros municípios nordestinos, Figuras 3 d), e).
47
A renda de uma parcela de 42% das famílias fica entre um e dois salários
mínimos em média, sendo que a renda proveniente exclusivamente das hortas é
menor, apenas 29% arrecadam de um a dois salários mínimos. A maioria, 65%
dos horticultores, arrecada menos que um salário mínimo na atividade, o que
evidencia que a horticultura rende pouco, mas funciona como importante fonte de
renda complementar para as famílias, Figuras: 4 b e c.
Embora as receitas individuais permitam inferir positivamente, ela
caracteriza-se por ser bruta, uma vez que não há informações sobre o cômputo
dos custos com insumos, e tampouco dos custos de água e da terra que não
fazem parte da análise, o que sugere serem pequenas as margens de lucro na
atividade.
48
Em relação às outras fontes de renda, 56% dos entrevistados recebem
algum benefício social ou têm pessoas na família com outras atividades, 38% têm
recursos da aposentadoria em casa e 6% recebem pensão, Figura 4 a.
O destino da produção das hortaliças comestíveis e das plantas medicinais
é o autoconsumo, venda e doações, sendo que apenas 6% horticultores não
utilizam a própria produção para consumo. Do total da produção de hortaliças
45% é comercializada no próprio local, 14% é vendida de porta em porta e, o
restante segue para feiras livres e mercadinhos de bairro para onde vai uma
parcela de 37%, Figuras 5 a e b.
Sobre as oportunidades de capacitação 55% dos agricultores receberam
capacitações técnicas, sendo 63% sobre manejo das hortaliças, oferecidas
através de cursos por parte do CEFET Petrolina, Prefeitura, Igreja ou da
EMBRAPA, Serviço Nacional de Aprendizagem Rural – SENAR ou Governo do
Estado, sendo que 14% já tiveram capacitação sobre uso de agrotóxicos, pois
muitos dos agricultores são pessoas que já trabalharam nas áreas irrigadas,
Figura 6.
49
Em relação à assistência técnica, 94% afirmaram que não recebem
qualquer tipo de assistência técnica, 100% dos entrevistados financiam a
produção com recursos próprios, normalmente para compra de esterco, sementes
e ferramentas. Os depoimentos apontaram para o desinteresse pelo
financiamento a partir do crédito oficial, com receio dos encargos e juros das
operações. A produção ocorre com a utilização de baixos níveis de insumos
externos, usam principalmente esterco de caprino ou bovino 48% e uréia 30%.
Estão dispostos a produzir somente produtos orgânicos 97% dos entrevistados,
Figura 7.
Sobre o aspecto organizacional, em apenas uma das hortas, no Bairro
João Paulo II em Juazeiro - BA, registrou-se a existência de uma associação
legalmente constituída, a qual chama a atenção por conter uma orientação para o
cultivo orgânico com apoio da Diocese de Juazeiro, do Instituto Regional da
Agropecuária Apropriada – IRPAA e da Cooperativa da Agropecuária Familiar
Orgânica do Semi-Árido – COOPERVIDA. Nas demais hortas observaram-se
50
agrupamentos informais e temporários para organização do uso do espaço
coletivo ou comprar insumos coletivamente. Contudo, 35% dos entrevistados
disseram participar de associações dos bairros, grupos onde residem, grupos de
mulheres e idosos e grupos ligados as igrejas.
Cabe destacar que em uma das hortas, do CEMIC, em Petrolina, fica
evidente um maior grau de organização motivado por um agente externo ao
grupo, uma funcionária pública municipal responsável pelo acompanhamento da
horta através de reuniões periódicas e organizando um rateio mensal dos custos
de parte das despesas coletivas. Em todas as hortas, porém, foi expresso o
desejo de que houvesse no futuro uma organização que representasse o conjunto
dos horticultores para defendê-los e conseguir melhorias em diversos aspectos
para o setor.
4 DISCUSSÃO
O contexto social e econômico da agricultura urbana em Juazeiro – BA e
Petrolina – PE é semelhante a outras descrições de AUP já estudadas no mundo.
Alguns trabalhos que retratam situações semelhantes merecem ser citadas,
referenciando o perfil aqui encontrado, no Semi-Árido da região Nordeste do
Brasil.
Um diagnóstico recente da agricultura urbana no bairro chamado Bosa, na
cidade de Bogotá capital da Colômbia (RAMIREZ et al., 2007) evidenciou grandes
semelhanças no perfil social descrito anteriormente: comunidade pobre, maioria
das pessoas envolvidas são mulheres, os cultivos principais são olerícolas e
dificuldades com espaço e água. Na capital do Rio de Janeiro, um diagnóstico
realizado por Monteiro & Mendonça (2004) evidenciou que a AUP praticada nos
quintais domésticos é constituída por famílias pobres que consomem poucas
hortaliças e representa a manutenção dos traços culturais da alimentação.
No entanto, a situação mais semelhante no contexto da região Nordeste do
Brasil foi registrada na pesquisa feita por Monteiro (2005) em Teresina – PI.
Naquele município funcionam 50 hortas ocupando 177,2 hectares, com o
incentivo da Prefeitura Municipal e de várias outras instituições dentro do
Programa Hortas iniciado em meados da década de 80. Para exemplificar as
grandes semelhanças com a experiência de Teresina em relação ao perfil e as
dificuldades, destacam-se alguns dados: 62% das pessoas envolvidas na
produção são mulheres, 65,2% dos horticultores têm mais de 46 anos, 87,5% têm
ensino fundamental incompleto e ou menos tempo de estudo. A renda familiar de
55,8% fica entre um e dois salários mínimos, em média, e a renda proveniente da
horta é menor, apenas 19,1% arrecadam entre um e dois salários mínimos,
enquanto 68% trabalham em família. Dessas famílias 69% são provenientes do
interior do Piauí ou outros estados. Os terrenos utilizados também não pertencem
aos horticultores. 68,3% não participaram de capacitações. Baixa participação em
organizações e 75% fazem o financiamento da produção com recursos próprios,
Monteiro (2005).
52
No contexto da segurança alimentar e nutricional, conforme evidencia a
Figura 4, existe uma importante contribuição dessa atividade na segurança
alimentar das famílias de horticultores, o que ocorre de duas formas: a)
diretamente através do acesso diário e constante de hortaliças frescas, ricas em
vitaminas e sais minerais, o autoconsumo, aliviando relativamente às despesas
com alimentos e, b) indiretamente através geração de receitas das vendas dos
excedentes de produção, as quais permitem a aquisição de outros gêneros
alimentícios no dia-a-dia.
De forma semelhante, a produção dessas hortaliças contribui para a
segurança alimentar dos alunos das escolas e consumidores do bairro, na medida
em que grande parte dessas hortaliças frescas é comercializada de forma direta
para os consumidores que vão comprar na própria horta. Pode-se deduzir que
uma vantagem do fornecimento diário e local – onde ocorrem 45% das vendas
nas hortas comunitárias, em relação aos produtos hortícolas oriundos de outras
localidades, fornecidos nas feiras livres semanais e supermercados – está na
possibilidade de obtenção de renda advinda da redução de custos de transporte,
embalagem e dos lucros de que seriam de outros agentes no processo de
comercialização. O que também sugere vantagens no aspecto ambiental, com o
menor uso de energia fóssil utilizada na fabricação de combustíveis e embalagens
plásticas.
Por outro lado, considerando a reduzida renda da maioria das famílias
revelada na Figura 3 g, e não sendo computadas as despesas com a água e a
terra, serão necessárias investigações mais profundas sobre a viabilidade
econômica da atividade, a fim de conhecer possibilidades de equilíbrio entre
receitas e despesas e projetar soluções técnicas para diminuir custos e a
racionalização no uso da água.
Considerando que 100% dos horticultores não são donos das terras, como
mostra a Tabela 1, mantêm relações de uso da terra informais e sendo estas
áreas são localizadas em zona urbana, impõem-se uma informalidade na
atividade, aspecto que exclui as possibilidades desses agricultores participarem
das políticas públicas voltadas para o segmento dos agricultores familiares,
como o Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar, a
Assistência Técnica e Extensão Rural e o Programa de Aquisição de Alimentos,
coordenados pelos Ministérios do Desenvolvimento Agrário e o da Agricultura,
Pecuária e Abastecimento. Também em decorrência desses fatores existem
apenas alguns casos de agricultores que são ligados aos Sindicatos dos
Trabalhadores Rurais de Juazeiro – BA e Petrolina - PE.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Como a maioria dos agricultores é migrante de outras áreas rurais, Figura
3e, e o trabalho nas hortas é eminentemente familiar, Figura 3c, de forma
semelhante às unidades produtivas na zona rural do semi-árido brasileiro, o
contexto da agricultura urbana de Juazeiro – BA e Petrolina – PE sugere um novo
conceito, agricultura familiar urbana, ainda não conhecido, e que pode vir a ser
considerado como um dos critérios para ampliar a delimitação das características
da agricultura familiar no Brasil, desconsiderando apenas o caráter urbano da
terra e assemelhando-se ao do estabelecimento rural através das demais
características.
O fato de que a mulher é maioria entre as trabalhadoras nas hortas,
exercendo um papel produtivo, na alimentação e na geração de renda, somam-se
aos papéis domésticos e reprodutivos no cuidado com a família. Portanto, essas
questões devem ser levadas em consideração no momento de qualquer
intervenção futura para melhoria do trabalho nas hortas, para que não as
sobrecarregue ou para não cometer injustiças favorecendo mais aos homens em
detrimento delas, promovendo, uma divisão de responsabilidades de forma
equilibrada.
Considerando a importância social, econômica, ambiental demonstrada na
experiência de agricultura urbana nos dois municípios estudados, observa-se um
contraste com a informalidade das condições de trabalho desses agricultores.
Faz-se necessário a construção de políticas e programas locais em apoio às
54
hortas comunitárias, o reconhecimento deles como agricultores familiares
urbanos, determinando a formalização das relações de mútuo benefício entre as
famílias e as escolas no uso dos terrenos e da água, incentivando a produção
agroecológica. Dessa forma, proporcionando a organização desses grupos e sua
aproximação com os Sindicatos dos Trabalhadores Rurais, órgãos de pesquisa e
de extensão rural.
O incentivo e apoio à organização de associações, poderão fortalecer as
relações interpessoais e interorganizacionais, abrindo a perspectiva da defesa
dos interesses desse conjunto de agricultores junto ao poder público, além de
ampliar sua visibilidade e favorecer a sua profissionalização, valorizando seu
trabalho enquanto fornecedores de produtos saudáveis, provenientes de uma
agricultura de baixos impactos ambientais e de importante função social,
estimulando a ampliação do consumo de hortaliças frescas e sadias pela
sociedade local.
A Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios - PNAD (RIO DE
JANEIRO, 2006) feita pelo IBGE e o Ministério do Desenvolvimento Social e
Combate à Fome, observou que no Brasil, assim como em outros países, a
proporção da situação de “segurança alimentar” difere conforme o rendimento
domiciliar mensal per capita. A prevalência da “insegurança alimentar grave” é
substancialmente maior nos domicílios com rendimentos per capita de até 1
salário mínimo.
Os dados da PNAD apontam este comportamento para o Brasil como um
todo e para todas as Unidades da Federação. Como as experiências de
agricultura urbana e segurança alimentar ainda são limitadas no Brasil, será
oportuno aprofundar os estudos entre as famílias participantes da AUP em
Juazeiro – BA e Petrolina – PE e fazer um comparativo com os dados do PNAD,
buscando compreender se existe diferenças nas condições de segurança
alimentar entre essas famílias e do público atendido em decorrência do trabalho
das hortas.
AGRADECIMENTOS
A CAPES e à UNEB que apoiaram o desenvolvimento dessa pesquisa e
viabilizaram sua execução e, aos horticultores urbanos, beneficiários desse
trabalho que deram colaboração fundamental.
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CAPÍTULO II
Limites e potenciais para produção agroecológica na s hortas comunitárias
urbanas no dipolo Juazeiro – BA e Petrolina – PE no Semi-Árido Nordestino
Artigo formatado com base nas normas para publicação do periódico “Caatinga”,
para o qual será submetido.
RESUMO
Um quarto da população urbana do mundo é abastecida pela agricultura urbana e
periurbana, o que representa 700 milhões de pessoas. A produção de hortaliças
nas áreas urbanas no Brasil é uma atividade relevante, porém pouco estudada.
Esse trabalho teve como objetivo estudar os fatores limitantes e potenciais das
hortas comunitárias urbanas de Juazeiro – BA e Petrolina – PE contribuindo na
reflexão sobre as possibilidades da produção fundamentada na agroecologia. A
pesquisa foi realizada através de reuniões, aplicação de questionários e
entrevistas com 31 agricultores, entre maio e outubro de 2007. Foi identificado
que os agricultores utilizam mão de obra familiar (71%), a maioria é migrante
(97%) e mulheres (61%), atuam em 16 hortas comunitárias das periferias,
cultivam 23 espécies comestíveis e 42 espécies medicinais. Dentre os principais
fatores limitantes, registrou-se a incidência de doenças causadas por fungos e
viroses no coentro (Coriandrum sativum L.) e alface (Lactuca sativa L.)
respectivamente; existem limitações relativas à quantidade de água e aplicação
de tecnologias. Dentre os fatores potenciais para produção agroecológica,
observou-se pouca utilização de insumos químicos; 97% dos agricultores
entrevistados afirmaram estar dispostos a cultivar somente produtos orgânicos e;
existem iniciativas técnicas e organizativas para adoção desse modelo de
produção, o que permite afirmar que existe potencial para o desenvolvimento
dessa atividade em bases agroecológicas.
Palavras chaves: agricultura urbana, diagnóstico, planejamento.
ABSTRACT
One quarter of the urban population of the world is supplied by urban and
periurban agriculture, representing 700 million people. The vegetable production in
urban areas in Brazil is a relevant activity, however it is little studied. This work
focused on the study of the limiting factors and the potential of urban vegetables
gardens in Juazeiro – BA and Petrolina – PE, helping the discussion about the
possibilities of agroecological production. The research was carried out though
questionnaires, meetings and interview with 31 farmers from May to October 2007.
Were identified than farmers count on family workforce (71%), the majority who
are immigrants (97%) and women (61%). These farmers work in 16 vegetables
gardens in the urban outskirt. Twenty three edible species and 42 medicinal
species were identified. Among the main problems it was verified the incidence of
diseases caused by fungi and viruses in coriander (Coriandrum sativum L.) and
lettuce (Lactuca sativa L.) respectively. There are limitations correlated with the
amount of water used and the technology use. Within the potential factors of
agroecological production it was observed a low use of chemicals, 97% of the
interviewed farmers said the were inclined to grow only organic products and there
are already technical and organization initiatives to adopt this production model,
what allows the statement that there´s a potential to develop these activities based
on the agroecological principles.
Keywords: communitarian horticulture, diagnostic, public policy
1 INTRODUÇÃO
Proporcionalmente à crescente urbanização no mundo, a agricultura
urbana e periurbana – AUP, também vêm crescendo e produzindo alimentos para
aproximadamente 700 milhões de pessoas que moram nas cidades, o que
significa um quarto da população urbana do mundo (FAO, 2002). As incertezas e
limitações quanto ao acesso e uso da terra, assim como aos conhecimentos mais
especializados no âmbito das tecnologias de produção, aliados às restrições
impostas para aquisição de insumos e ferramentas apropriadas, fazem com que
as espécies olerícolas cultivadas na AUP se caracterizem por ser relativamente
de baixo valor comercial, de crescimento rápido e de fácil técnica de cultivo,
portanto, nem sempre são produtos mais rentáveis economicamente se
compararmos a tomate e cenoura, por exemplo. Soma-se a esses problemas o
fato de que alguns países na América dos Sul e África utilizam águas residuais
sem o devido tratamento, pondo em risco a saúde dos consumidores (FAO,
2002).
Na Namíbia, a urbanização vem alcançando taxas explosivas desde a
independência em 1990, como conseqüência da intensa migração da população
rural para as áreas urbanas na busca por melhores condições. Sendo o país mais
seco da África, clima semi-árido, a base agrícola da Namíbia é fraca, e a maior
parte das hortaliças vendidas nos centros urbanos é importada da África do Sul.
Apesar disso, atividades intensas de agricultura urbana estão ocorrendo, tanto em
escala comercial quanto em plantios de fundo de quintal, nos espaços abertos
disponíveis e ao longo do curso de rios (DIMA & OGUNMOKUM, 2006).
As experiências de agricultura urbana ao redor do mundo, frequentemente
relacionam essa produção às hortaliças e fruteiras, e também à criação de
pequenos animais, sendo a mão-de-obra envolvida normalmente composta por
ex-agricultores caracteristicamente pobres em recursos financeiros. Em alguns
casos essas experiências foram promovidas através de ações de Governo, como
ocorreu em Cuba, após a queda do sistema socialista e os bloqueios comerciais,
que os obrigou a desenvolver a pesquisar para a produção com tecnologias
63
agroecológicas, caracterizada por uma horticultura totalmente orgânica, haja vista
a impossibilidade de importar insumos para o sistema convencional, que era
utilizado anteriormente aos bloqueios comerciais. Hoje todo o abastecimento de
hortaliças em Cuba é feito sem a dependência externa de produtos nem de
insumos (AQUINO, 2002).
Os muitos aspectos que foram bem sucedidos em Cuba podem ser
reproduzidos para a realidade Brasileira, segundo Aquino (2002), que também
sugeriu que fossem estabelecidas unidades-modelo para adaptar e testar
técnicas, servindo de referência para posterior disseminação. Em Cuba, as
principais medidas técnicas são determinadas com alto nível organizativo
orientado pelo Grupo Nacional de Agricultura Urbana – GNAU que consegue
comandar de forma abrangente e com capilaridade até os grupos pequenos de
agricultores. Uma das medidas geradas, em relação à sanidade das plantas, leva
em consideração principalmente o bom estado nutricional da planta e em segundo
lugar as medidas preventivas tais como pontos de desinfecção de mãos e pés nas
entradas de cada parcela de produção.
No Brasil, nas cidades de Belo Horizonte, Fortaleza, Brasília, Campinas,
Santo Antônio do Descoberto – GO e Teresina registraram-se iniciativas
governamentais que evidencia a horticultura urbana, com propósitos mais ligados
à promoção do trabalho e renda, além de produzir parte dos alimentos para
famílias das periferias daquelas cidades (BRANDÃO 2001; CARVALHO, 2001;
CALDAS & PINHEIRO, 2004; MONTEIRO & MONTEIRO, 2006, ARRUDA, 2006,
CASTELO BRANCO et al., 2007), porém, sem um enfoque para o modo de
produção agroecológico.
Uma publicação recente sobre hortas comunitárias conduzida por Castelo
Branco et al. (2007) no pequeno município de Santo Antônio do Descoberto em
Goiás, aponta que as principais dificuldades para obter a reprodução do êxito
econômico da atividade estão relacionadas à falta de assistência técnica, capital e
organização comunitária. Embora se considere que a AUP possa contribuir para
garantir a segurança alimentar de populações em vulnerabilidade social, de forma
64
direta através da geração de renda, essa solução não pode ser universalizada,
devido às suas principais limitações: espaço físico e água, porém, pode constituir-
se numa estratégia viável para minimizar os problemas ligados à insegurança
alimentar em populações em estado de pobreza.
Na experiência de Teresina, resultante de uma ação da Prefeitura
municipal e que envolve mais de 2.400 famílias, alguns aspectos sobre o sucesso
da experiência são questionados por Monteiro & Monteiro (2006), dentre eles, a
utilização de adubos químicos e agrotóxicos sem a devida capacitação sobre
seus riscos e sobre o uso dos equipamentos. Embora no referido trabalho
também tenha sido constatado grande interesse dos agricultores pela produção
orgânica, o incentivo a essa forma de produção ainda não ocorria, sendo por isso,
uma recomendação da autora à Prefeitura, que incentivasse a agricultura
orgânica para conferir desenvolvimento sustentável àquelas hortas.
Aquino & Assis (2007), publicaram um trabalho que defende a agricultura
orgânica com base na agroecologia como provedora de instrumental tecnológico
adequado à agricultura urbana. Os princípios básicos da agroecologia defendidos
pelos autores são: menor dependência possível de insumos externos à unidade
de produção e a conservação dos recursos naturais.
O ambiente urbano facilitado pela infra-estrutura, disponibilidade de mão de
obra familiar, proximidade com o público consumidor, oferta limitada de pequenos
espaços e possibilidade de reciclagem de materiais orgânicos permitem a
viabilização da agricultura urbana orgânica com produção diversificada
constantemente durante todo o ano (ASSIS, 2003).
A Região onde foi desenvolvida a pesquisa teve parte de sua paisagem
rural alterada após a implantação da Barragem de Sobradinho no Rio São
Francisco e de projetos de irrigação na década de 80, que provocou uma
importante migração, nessa perspectiva, na década de 90, os municípios de
Petrolina – PE e Juazeiro – BA receberam 38 mil novos habitantes (IBGE, 2001),
provocando uma intensa urbanização nessas duas cidades, atraídos pela
atividade agrícola irrigada. Uma das possíveis conseqüências não
planejadas desse fenômeno foi a instalação das hortas comunitárias nas duas
cidades, objeto de estudo dessa dissertação.
Esse trabalho teve como objetivo estudar os sistemas produtivos das
hortas urbanas dos municípios de Petrolina – PE e Juazeiro – BA, no Semi-Árido
nordestino, e contribuir para a reflexão acerca dos principais fatores limitantes e
as potencialidades, com intuito de gerar subsídios para um planejamento e
implementação de sistemas viáveis de produção, fundamentados na
agroecologia.
2 MATERIAL E MÉTODOS
A pesquisa foi desenvolvida no submédio do Rio São Francisco, no
Nordeste semi-árido brasileiro, uma região caracterizada por clima quente e seco,
com distribuição das chuvas de forma irregular e mal distribuída, por baixos
índices de desenvolvimento humano e de investimentos públicos, com exceções
da implantação da Barragem de Sobradinho e de projetos de irrigação a partir da
década de 80.
Inicialmente foi realizada uma revisão bibliográfica com a coleta de dados
secundários conforme no Censo (IBGE, 2000), publicações de revistas, teses e
dissertações, livros em bibliotecas e sites disponíveis na internet.
Em seguida foi realizado um mapeamento lançando mão de levantamento
aerofotogramétrico com a utilização do programa eletrônico Google Earth
disponível na rede mundial - Web para localizar as hortas em Juazeiro – BA e
Petrolina – PE. Esse levantamento prévio permitiu fazer a localização da maioria
das hortas comunitárias existentes nas duas cidades através da observação das
imagens, tendo como referência as cores e texturas características nas hortas
urbanas em locais inicialmente conhecidos, o que pode ser observado na Figura
2.
66
O objetivo foi selecionar todas as hortas comunitárias existentes na área
urbana de Juazeiro – BA e Petrolina – PE, ou seja, envolver 100% das hortas
comunitárias urbanas na pesquisa, que foi aproximadamente contemplado, pois
67
foram visitadas todas as hortas visíveis nas imagens obtidas no Google Earth
além das hortas indicadas pelos informantes durante a pesquisa de campo.
Foram descartadas cinco hortas urbanas situadas em escolas e terrenos privados
por não terem o perfil comunitário, pois só havia uma pessoa ou família
trabalhando.
As três etapas de campo ocorreram entre os meses de maio e outubro de
2007. As visitas aos grupos ocorreram em três etapas em momentos distintos
para facilitar o contato e a comunicação, sendo a primeira etapa a visitas às
hortas para apresentação da pesquisa e convite para uma reunião ampliada com
a maioria dos horticultores. A segunda etapa foi uma reunião aberta para nova
apresentação da pesquisa e levantamento das informações gerais da produção,
histórico e organização do trabalho, orientado pelo Questionário 1. A terceira
etapa foi a coleta de informações detalhadas através de entrevistas individuais e
aplicação do questionário 2, com questões de múltiplas respostas. Nesse trabalho
estão analisadas as variáveis relativas à produção e o sistema produtivo. Os
questionários 1 e 2 estão no Anexo 1.
Optou-se pela aplicação do questionário aliada à entrevista, considerando
que num questionário, a informação obtida pelo pesquisador limita-se às
respostas escritas à questões pré-determinadas e numa entrevista – como o
entrevistador e a pessoa entrevistada estão presentes no momento em que as
perguntas são apresentadas e respondidas – existe oportunidade para maior
flexibilidade na obtenção de informações (SELLTIZ & DEUTSCH, 1971 citado por
ARRUDA, 2006),
Hirano et al., (1989 citado por MONTEIRO, 2005) propõe inicialmente não
existir regras fixas para definir o número ou percentual ótimo para amostras em
pesquisas. O autor cita que quanto mais homogêneo o universo menor poderá ser
a amostra representativa, e, ao contrário, quanto mais heterogêneo o universo
maior precisará ser a amostra para conter todos os tipos possíveis de variação e,
portanto, ser representativa. Portanto, utilizaram-se essas referências para definir
o tamanho da amostra como descrito a seguir.
68
Foram identificadas 03 hortas em Juazeiro – BA e 13 hortas em Petrolina –
PE, como pode ser observado na Tabela 1, onde se realizou uma contagem de
304 horticultores. Foi considerada uma amostragem de 10% do universo total de
agricultores registrados das 16 hortas, entrevistando uma amostra de 31 pessoas,
escolhidas de forma aleatória, em todas as hortas. Foi observada uma
homogeneidade no perfil social, econômico e da produção das hortas por isso não
foi necessário fazer subdivisões nas amostras.
Para cada pessoa entrevistada foi utilizado um Termo de consentimento
livre e esclarecido, Anexo 2, que explicava os objetivos da pesquisa, garantindo
liberdade do entrevistado, sigilo sobre as informações pessoais colhidas e
ausência de riscos. Os documentos foram assinados em duas vias, ficando uma
cópia com a pessoa entrevistada e outra com o pesquisador.
Após a obtenção dos dados, as informações qualitativas foram analisadas
e transformadas em texto e os dados quantitativos foram tabulados em planilhas
eletrônicas formando um banco de dados e posteriormente analisados com a
utilização de distribuição de freqüência das respostas e transformadas em
percentual, compondo tabelas e quadros que estão apresentados a seguir.
Para identificação de dois principais problemas fitopatológicos encontrados,
queima nas folhas da alface e tombamento das plântulas de coentro, testes foram
conduzidos no laboratório de Fitopatologia da UNEB para identificação das
causas. No caso da alface e do coentro foram conduzidas diversas tentativas de
identificação de fungo ou bactérias seguindo metodologias forma de identificação
descritas por Barnet (1972) e Pavan (1997), posteriormente, no caso da alface,
foram enviadas amostras para o Centro Nacional de Pesquisa em Hortaliças –
CNPH da EMBRAPA para identificação de virus através de teste de Elisa, e no
caso do coentro foi conduzido teste de sanidade e fisiologia de lotes de sementes
seguindo metodologia descrita em Brasil (1992), para conhecer a qualidade das
sementes utilizadas pelos horticultores.
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
Das hortas pesquisadas, três delas ficam localizadas em Juazeiro-BA onde
trabalham 122 horticultores em 4,7 hectares e 13 hortas ficam em Petrolina-PE,
onde trabalham 182 horticultores em 6,28 hectares, totalizando 304 horticultores
em 10,98 hectares, de onde se deduz uma média de 27,6 horticultores por
hectare ocupado. A maioria das hortas visitadas ocupa área aberta no terreno
adjacente de escolas públicas, localizadas em bairros periféricos das sedes
municipais e, em um caso, uma horta localiza-se em uma área da Diocese de
Juazeiro. Tal característica define a atividade como eminentemente urbana. São
70
áreas relativamente pequenas, em média 0,46 hectare, com exceção da horta
localizada no terreno da Diocese que mede 3,6 hectares, Tabela 1.
Em Teresina, comparativamente, as experiências já estudadas dão conta
que 01 hectare comporta em média apenas 13,7 horticultores e o tamanho das
hortas são em média 3,54 hectares (MONTEIRO & MONTEIRO, 2006).
Em nenhum caso as relações entre os horticultores e as escolas quanto ao
uso da terra são formais, o que, além de serem áreas urbanas, limitam a
participação desses agricultores nas políticas públicas voltadas para a agricultura
familiar: Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar - PRONAF,
a assistência Técnica e Extensão Rural - ATER e o Programa de Aquisição de
Alimentos - PAA.
71
O sistema de produção nas hortas de Juazeiro – BA e Petrolina – PE conta
com mão-de-obra majoritariamente familiar representada por 71% dos casos, e os
horticultores em geral são provenientes de outros municípios do Nordeste,
herdando o mesmo modo de produção da maioria das unidades produtivas na
zona rural do semi-árido brasileiro, Figura 8a e b.
Foi observado que as técnicas de cultivo são primárias em relação à:
espaçamento, quantidade e qualidade de sementes no semeio, adubação e
irrigação, que variam consideravelmente de uma horta para outra e dentro delas,
sendo geralmente muito adensados. Por exemplo, a qualidade das sementes de
coentro utilizada é de sementes não certificadas, o que compromete quanto à
capacidade de germinação e qualidade genética, ocasionando que os
horticultores a utilizem em quantidade maior durante o semeio. De forma
semelhante, a adubação é feita conforme o critério de cada horticultor, pois não
existe um acompanhamento técnico nem análises de solo. Não foi observada a
prática de rotação de culturas ou descanso dos canteiros, configurando uma
produção bastante intensiva, provavelmente devido à escassez de espaço.
Com respeito à comercialização da produção, os entrevistados afirmaram
que 45% da produção são comercializadas no próprio local da horta, 27% nas
feiras livres semanais e mercados públicos, 10% vendem de porta em porta e
mercadinhos de bairro, Figura 8c. Sobre as dificuldades na comercialização 30%
declararam que não têm problemas para comercializar a produção, mas os
demais horticultores apontaram a falta de comprador, concorrência, falta de
estrutura e de organização, assim como preços baixos e falta de pagamento dos
compradores nas vendas à prazo, (Figura 8 d). Em geral, à essas dificuldades
prevalecem estratégias individuais, e nos casos daqueles horticultores que têm
clientes maiores, estes compram a produção dos vizinhos para garantir o volume
negociado com seus clientes.
Foi detectada a existência de uma grande diversidade de espécies em
cultivo: 23 de hortaliças comestíveis, sendo as principais: alface (Lactuca sativa
72
L.), coentro (Coriandrum sativum L.), cebolinha verde (Allium fistulosum L.) e
couve folha (Brassica oleracea L. var. acephala D.C.)e 42 espécies de hortaliças
medicinais, sendo as principais: capim santo (Cymbopogon citratus (DC) Stapf),
erva cidreira (Melissa officinalis L.), mastruz (Chenopodium ambrosioides L.) e
hortelã (Mentha spp.). Também foram identificadas mudas de plantas medicinais,
não havendo registro da existência de plantas ornamentais sendo cultivadas,
Figura 9.
Na maioria das vezes a água utilizada na produção das hortaliças, 87% dos
horticultores obtém água do sistema de abastecimento público, submetida a
tratamento, captada do Rio São Francisco, (Figura 10 a), água potável, com
qualidade para consumo humano, apresentando índices médios aceitáveis de
turbidez e cloro, segundo a Companhia Pernambucana de Saneamento –
COMPESA em Petrolina. Os pagamentos pelo fornecimento dessa água são
realizados pelas escolas, cujos custos são consideráveis, chegando a R$
6.000,00/mês em alguns casos.
Apenas a água utilizada na horta na área da Diocese de Juazeiro a água
chega diretamente do Rio São Francisco sem tratamento. É doada por uma
empresa de mineração que tem uma adutora que passa próximo ao local. O
sistema de rega em 94% dos casos é feito manualmente com uso de regadores,
(Figura 10 b). Geralmente o turno de rega é realizado duas vezes ao dia e com o
auxilio de reservatórios abertos espalhados pela horta. Esses reservatórios são
lavados em média uma vez a cada mês.
Sobre a adubação dos canteiros, 48% dos horticultores utilizam esterco
caprino, ovino e em menor quantidade o esterco bovino. Em Juazeiro – BA
observou-se alguns horticultores utilizando resíduos de café, adquirido a partir de
uma indústria próxima da horta. 30% dos produtores utilizam adubação
nitrogenada à base de uréia e 10% utilizam formulações comercias de NPK,
Figura 10 c.
73
74
Observou-se que o esterco é adquirido em sacos de nylon ou carroças.
Registra-se que 60% informaram que praticam compostagem, (Figura 10 d)
porém, a forma de fazer a compostagem relatada é bastante simplificada,
colocam apenas água e o curtimento ocorre de uma a três semanas, menos
tempo que o recomendado por Oliveira (2004), que indica 90 a 120 dias.
75
Por outro lado, também foi observado que esse o esterco é aplicado em
pequenas quantidades, menores que 10 kg por m2 por ciclo, aspecto que coincide
com a recomendação de Oliveira (2004). Porque em solos continuamente
cultivados as aplicações freqüentes de pequenas quantidades são mais eficientes
que grandes quantidades aplicadas a longos intervalos.
Observou-se a utilização de carvão com o objetivo de retirar o excesso de
salinidade dos solos, porém, sabe-se que esse elemento tem outras
características benéficas que vêm sendo pesquisadas, esse produto além de
melhorar algumas propriedades físicas do solo (estrutura, aeração, retenção de
água), apresenta quantidades (teores) significativas de macro e micronutrientes
(UCHOA et al., 2006). Porém, a análise do solo não é praticada nas hortas,
segundo os entrevistados, por falta de recursos (Figura 10 e). A realização dessas
análises permitiria recomendar uma adubação mais adequada.
O principal método de controle de ervas é o manual, 89% dos entrevistados
que disseram que utilizam normalmente uma enxada estreita que facilita as
capinas entre as plantas (Figura 10 f). Em nenhum caso foi observada a utilização
de herbicidas. As principais ervas espontâneas (ou daninhas) são: bredo
(Amaranthus viridis L.), tiririca (Cyperus rotundus L), quebra-pedra (Phyllantus
niruri L) e várias espécies de gramíneas.
3.1 Pragas e doenças
No controle de pragas, 55% dos entrevistados afirmaram que utilizam
apenas controle manual, 17% utilizam produtos naturais e apenas 2% utilizam
controle com agrotóxicos. Sobre a ocorrência de sintomas de doenças, foi citada
como a mais freqüente a queima nas folhas da alface, seguida do tombamento
das plântulas do coentro e em menor incidência uma queima nas folhas da
cebolinha verde e uma clorose nas folhas do coentro, Figura 8.
Com base no diagnóstico dos dois principais problemas detectados no
diagnóstico que causam os maiores danos econômicos para os horticultores,
76
queima nas folhas da alface e tombamento de plântulas de coentro, foram
realizadas pesquisas na literatura e conduzidos os testes no laboratório de
fitopatologia da UNEB.
No caso da queima e bronzeamento das folhas da alface (Figura 11 f)
foram descartadas as hipóteses de fungos ou bactérias. O teste de ELISA feito
com apoio da EMBRAPA Hortaliças em Brasília identificou o Groudnut ringspot
vírus - GRSV (Tospovirus). Ávila et al. (1996) identificaram no submédio São
Francisco plantas de alface, tomateiro e pimentão infectadas com GRSV. Nos
anos de 1992 e 93 foi realizado um levantamento em seis Estados brasileiros por
Lima et al. (2000), que identificou em tomateiro dentre outras espécies de
tospovirus o GRSV em Pernambuco.
Depois desse diagnóstico continuou-se a investigação com a alface e foi
identificado um gênero de Thrips que, em conjunto com o gênero Frankliniella,
segundo a literatura, provavelmente são agentes transmissores da tospovirose,
Figura 11 e. A relação entre tripes e o GRSV é classificada como
circulativa/propagativa, pois durante a primeira picada ou prova do inseto na
planta infectada ele pode adquirir o vírus e transmitir durante toda sua vida para
as outras plantas (ÁVILA, 1993; WIJKAMP, 1995 citados por BORGES, 2006).
Além disso, de forma semelhante ao tospovirus, os tripes possuem uma ampla
gama de hospedeiros em plantas cultivadas e silvestres (LEWIS, 1973 citado por
BORGES, 2006).
A preferência para alimentação e oviposição de Frankliniella occidentalis
em alface, no estágio vegetativo, foi maior em relação a outros quatro
hospedeiros testados, além de proporcionar um melhor desenvolvimento das
fases imaturas, sugerindo que plantas novas de alface são muito suscetíveis à
infestação por F. occidentalis (BAUTISTA & MAU, 1994 citado por LOPES et al.,
2000).
77
78
Não se conhece até o momento alguma substância que seja capaz de
controlar ou impedir a infecção causada pelos vírus transmitidos para as plantas
pelos seus vetores (SATAPATHY & ANJANEYULU, 1992 citado por BORGES,
2006). Em decorrência desse fato as medidas para controle das viroses são
preventivas e direcionadas para o controle dos seus vetores, ou através de
melhoramento genético com a utilização de espécies resistentes ou tolerantes.
Sendo assim, sugere-se utilizar várias estratégias e métodos para seu controle,
auxiliando-se do manejo integrado, com o objetivo de manter o nível da incidência
da doença abaixo do limite de dano econômico e sem prejuízo ao
agroecossistema (GUIMARÃES, 1999; BORGES, 2007).
Sobre o tombamento de plântulas de coentro (Figura 11 g) foi identificado
que as sementes utilizadas pelos horticultores são produzidas na própria região e
não são certificadas, provavelmente esses produtores utilizam pouca tecnologia
recomendada nas pesquisas e instruções oficiais (NASCIMENTO et al., 2006).
Foram adquiridas cinco amostras de sementes nos mesmos locais onde uma
parte dos horticultores também as adquire, nas feiras livres das cidades e,
conduzidos testes de sanidade e germinação para comparar com uma amostra de
sementes certificadas e com tratamento antifúngico que também são
comercializadas por lojas especializadas, porém pelo dobro do valor.
Foram identificados os patógenos Alternaria spp. e Aspergillus sp. em
100% das amostras de sementes de coentro, além percentual de germinação
abaixo do recomendado, inclusive nas sementes certificadas. Por conta das
características da horticultura urbana ser de base familiar, o manuseio e o
armazenamento serem caseiros e as precárias condições econômicas desses
horticultores, compreende-se a opção daqueles horticultores no uso dessas
sementes produzidas na região, com qualidade relativamente inferior, sem
tratamento químico e pela metade do preço. Constata-se com essas informações
que existe um mercado local de sementes que contribui com a horticultura
urbana, porém com sementes sem qualidade.
79
3.2 Potencial para produção agroecológica
No ambiente das hortas estudadas foi comum ouvir durante as entrevistas
a opinião de que não se aplicam agrotóxicos, uma vez que não é permitido por
eles. A horta do Bairro João Paulo II em Juazeiro – BA foi a única a constituir uma
associação dos horticultores, a qual conta com um regulamento para o cultivo
orgânico, cujo conteúdo prevê até a expulsão do associado que utilizar adubo
químico ou agrotóxico. Essa associação é relativamente assistida pela Diocese de
Juazeiro-BA, além do Instituto Regional da Pequena Agropecuária Apropriada –
IRPAA, e pela Cooperativa da Agropecuária Familiar Orgânica do Semi-Árido –
COOPERVIDA e recentemente pela Universidade Estadual da Bahia – UNEB,
através de projetos de extensão.
Embora exista a decisão pela produção orgânica nessa Associação, não se
pode dizer que a produção seja mais tecnificada que as outras hortas, pois, todas
têm o mesmo grau de simplicidade, o que é justificado pelos entrevistados por
não disporem de capital, assistência e conhecimentos técnicos para investir mais
na produção orgânica.
No caso da horta do CEMIC em Petrolina-PE, horta que fica num local de
grande visibilidade na cidade e recebe constantes visitas de professores e
estudantes para trabalhos escolares, também não é permitido o uso de nenhum
agrotóxico, mas é tolerado o uso da uréia na adubação. O autocontrole entre os
horticultores parece ser eficiente, pois segundo eles dificulta até a pulverização de
algum produto com conteúdos naturais, o que poderia gerar denúncias entre eles,
seja por medo de perderem clientela ou mesmo para obter vantagem na
concorrência.
Destaca-se ainda a horta localizada na Escola Otacílio Nunes em Petrolina
– PE, que fica numa região entre vários bairros populosos de Petrolina e ao lado
de uma grande feira pública, onde foi observado o melhor grau de tecnificação e
organização entre alguns dos horticultores. Nesta horta eles preparam canteiros
com altura padronizada, bem nivelados, além do esterco utilizam o carvão e
80
aproveitam os restos de cultura, além de utilizarem a mão de obra de quase toda
a família. Na parte da colheita utilizam embalagem em sacolas plásticas
padronizadas no próprio local e detêm grande clientela.
Quando questionados se já ouviram falar em agroecologia ou agricultura
orgânica 94%, (Figura 12 a), responderam que sim, e em seguida foi perguntado
se estariam dispostos a produzir somente produtos orgânicos nesse momento e
97% dos entrevistados responderam afirmativamente, Figura 12 b. Os
horticultores disseram que conhecem as vantagens da produção orgânica para
eles e para os consumidores. Porém os limites para converter suas produções
para o sistema orgânico é que não dispõem de nenhum capital extra, nem de
informações, capacitação e acompanhamento técnico, portanto torna-se arriscado
fazer a conversão por conta e risco próprios. Ainda ponderaram que se os custos
fossem iguais aos que eles já investem atualmente seria mais acessível, mas eles
não podem pagar pela capacitação e acompanhamento técnico.
Outro fator limitante para a conversão de sistema de produção é que
muitos deles já são pessoas idosas, e alguns justificaram que estão cansados da
vida, e uma mudança a essa altura causaria mudanças que eles não estariam
dispostos a enfrentar. Outros disseram ter medo de ficarem dependentes das
novas técnicas e não terem como arcar com possíveis novos custos inerentes à
proposta.
Mesmo assim, 81% dos entrevistados se mostraram dispostos a participar
de capacitações em agroecologia, desde que os horários não interferissem na
rotina diária de trabalho, (Figura 12 c). Quando perguntados sobre o interesse em
participar de pesquisas junto com a UNEB para o melhoramento da produção
87% disseram estar dispostos (Figuras 12 d), e ainda confirmaram os principais
problemas para pesquisar, as doenças e pragas, exemplificando com a queima
das folhas da alface (41%) e a morte do coentro (20%), Figuras 12 e.
81
Em Juazeiro e Petrolina, duas cidades pólo de dois Territórios Rurais
definidos pelo Ministério do Desenvolvimento Agrário – MDA estão instalados
diversos órgãos públicos de pesquisa, extensão e educação agropecuária tais
como: EMBRAPA, UNEB, Universidade Federal do Vale do São Francisco –
UNIVASF, Empresa Pernambucana de Pesquisa Agropecuária – IPA,
Empresa Baiana de Desenvolvimento Agrícola S.A. – EBDA, CEFET, Companhia
de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba – CODEVASF
além das Prefeituras de Juazeiro e Petrolina, conjunto de instituições que reúne
capacidade técnica e política para compreender as possibilidades da agricultura
familiar urbana com base agroecológica.
Essa pesquisa oferece dados para pautar um planejamento de ações
públicas que contemplem as demandas desses grupos, questões que estão
intimamente relacionadas com o planejamento urbano e o abastecimento
alimentar com hortaliças frescas e saudáveis frente ao grande crescimento dessa
população.
4 CONCLUSÕES
Os principais fatores limitantes encontrados no sistema produtivo das hortas
comunitárias são:
1. As relações informais sobre o uso da terra e sua característica urbana
limitam o acesso às políticas públicas de produção existentes voltadas para
o apoio da agricultura familiar com respeito ao crédito, a assistência técnica
e comercialização de alimentos;
2. As despesas com a água não são arcadas pelos agricultores e os baixos
rendimentos atuais da atividade sugerem não haver sustentabilidade
econômica;
3. As tecnologias de cultivo e manejo das hortaliças caracterizam-se como
pouco tecnificada e inadequadas em relação ao espaçamento, qualidade e
quantidade de sementes utilizadas no plantio, compostagem, adubação e
manejo de fitopatógenos;
4. Os principais problemas fitopatológicos estão relacionados à tospovirose na
alface ocasionada pelo Groudnut ring spot vírus – GRSV e ao tombamento
de plântulas de coentro causado por fungos trazidos pelas sementes não
certificadas, principalmente Alternaria spp. e Aspergillus sp.
Os potenciais encontrados nessas hortas que permitem vislumbrar um
planejamento para fomentar a produção agroecológica são:
1. O trabalho comunitárias nas hortas de Juazeiro – BA e Petrolina – PE têm
base familiar e se ajusta à produção agroecológica, dadas às evidências
relativas ao trabalho familiar, grande diversidade de cultivos, baixa
utilização de insumos externos e de energia;
2. Existe um interesse coletivo dos horticultores sobre o modo de produção
sem o uso de agrotóxicos e adubos químicos;
3. Existem iniciativas de grupos de horticultores que definiram o modelo de
produção agroecológico como prioridade;
4. Existem sementes de coentro produzidas na região com relativa qualidade
e que são comercializadas sem o uso de fungicidas e não oferece riscos no
seu manuseio e favorece a produção agroecológica;
5. Em Juazeiro – BA e Petrolina – PE existem diversos órgãos públicos com
capacidade técnica e política e, interessados na agricultura, que podem
incluir nas suas pautas a assistência à agricultura familiar urbana com base
na agroecologia.
AGRADECIMENTOS
A CAPES e à UNEB que apoiaram o desenvolvimento dessa pesquisa e
viabilizaram sua execução e, aos horticultores urbanos, beneficiários desse
trabalho que deram colaboração fundamental.
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CAPÍTULO III
Qualidade de sementes de coentro utilizadas por hor ticultores urbanos de
Juazeiro – BA e Petrolina – PE
Artigo formatado com base nas normas para publicação do periódico “Horticultura
Brasileira”, para o qual será submetido.
RESUMO
Com o objetivo de conhecer a qualidade das sementes utilizadas pelos
horticultores urbanos em Juazeiro-BA e Petrolina-PE foram estudadas quatro
amostras de sementes originadas de feiras públicas, uma proveniente de um
produtor e uma composta por semente certificada comercial, que serviu como
testemunha. Foi conduzido um teste de sanidade pelo método de incubação em
papel de filtro. Utilizando 400 sementes por amostra, 50 sementes por gerbox, as
quais foram incubadas à temperatura ambiente e fotoperíodo de 12 horas durante
7 dias. O delineamento estatístico foi inteiramente ao acaso com oito repetições
por amostra. Na maioria das amostras examinadas verificou-se germinação
abaixo de 70%, constatou-se 40,4% e 32% de incidência de Alternaria spp. e
Aspergillus sp., respectivamente. Encontrou-se uma correlação inversa e
significativa entre Aspergillus sp. e a germinação no valor de – 0,59. A opção
arriscada dos horticultores deve-se aos preços mais baixos das sementes não
certificadas, menores riscos de contaminação com os fungicidas. O fato evidencia
a necessidade de maior apoio técnico aos horticultores, e os produtores de
sementes.
Palavras chave: Agricultura Urbana, Coriandrum sativum L., teste de sanidade
ABSTRACT
With the objective to know the seed quality used by urban farmers in Juazeiro –
BA e Petrolina – PE, four samples of seeds were studied from open markets. One
sample came from a seed producer and the control was a commercial brand. A
seed health test through the incubation with filter paper method was carried out,
with 400 seeds per sample and 50 seeds per gerbox. They were incubated at
room temperature with a photoperiod of 12 hours for 7 days. The statistical design
was entirely randomized with eight replication per sample. For the majority of the
samples the germination was under 70%. It was observed 40,4% and 32%
incidence of Alternaria spp. and Aspergillus sp. respectively. An inverse correlation
between Aspergillus sp. and germination was found with the value of - 0.59. The
risky choice of farmers come from the lower prices of non-certified seeds and the
lower risk of contamination from seed pesticides. The results express the
necessity of a bigger technical support for farmers and seed producers.
Keywords: urban agriculture, Coriandrum sativum, health test ,
1 INTRODUÇÃO
A agricultura urbana e periurbana produzem alimentos para
aproximadamente 700 milhões de pessoas que moram nas cidades, significa um
quarto da população urbana do mundo (FAO, 2002). A produção urbana mundial
em grande parte é constituída de hortaliças e frutas. Um levantamento prévio feito
pelo autor em Juazeiro – BA e Petrolina – PE mostrou que na maioria das hortas
urbanas, o coentro (Coriandrum sativum L.) está entre as três principais plantas
cultivadas, ao lado da alface (Lactuca sativa L.) e cebolinho (Allium fistulosum L.),
gerando trabalho e renda para mais de 300 agricultores familiares urbanos
espalhados em 16 hortas nas duas cidades.
O coentro é cultivado na maioria dos estados do Norte e Nordeste do
Brasil, é a hortaliça folhosa condimentar de maior consumo, crua ou cozida,
especialmente no Nordeste (OLIVEIRA et al., 2007), presente na alimentação
diária (MARQUES & LORENCETTI, 1999). No estado da Paraíba, é cultivado em
quase todas as micro-regiões por pequenos agricultores, sem nenhuma
orientação técnica, o que tem proporcionado baixa produtividade (OLIVEIRA et
al., 2004).
É uma espécie da família das Apiaceae, cuja origem seja provavelmente a
Europa, região do Mediterrâneo, é também considerada uma espécie subutilizada
ou negligenciada, embora tenha grande popularidade na mesa dos brasileiros
nortistas e nordestinos, no entanto poucas, pesquisas têm sido realizadas com
essa cultura (DIEDERICHSEN, 1996). As sementes de coentro formam um
diaquênio, um fruto/semente formado de dois aquênios, que normalmente são
comercializados juntos.
No Brasil algumas pesquisas vêm se reportando aos problemas de
qualidade da semente de coentro correlacionando com fungos que se disseminam
através destas, provocando baixo vigor e dificultando o estabelecimento das
plantas em campo. Dentre os patógenos destacam-se Alternaria dauci (Kuhn)
Groves & Skolko e Alternaria alternata (Fr.:Fr.) Keissl (PEREIRA et al.,
2005; REIS et al., 2006;).
As sementes de coentro utilizadas nos plantios de Juazeiro – BA e
Petrolina – PE não têm certificação nem tratamento antifúngico, provêm de
fornecedores da própria região e são vendidas nas feiras de bairro. O fato das
sementes de coentro serem produzidas localmente para a horticultura urbana
também foi verificada em São Luiz – MA por Santos et al., (2003).
Os horticultores justificam o uso dessas sementes devido ao alto custo das
sementes comerciais certificadas, visto que as não certificadas custam quase
50% menos, e tentam reverter as perdas da qualidade com o aumento da
quantidade de sementes no plantio. Essas sementes também não têm tratamento
químico, argumento também utilizado pelos agricultores urbanos devido ao
sistema produtivo ser dependente da mão de obra familiar, sendo o
armazenamento e a semeadura caseiro e manual respectivamente, conferindo
certa segurança contra intoxicações.
O objetivo deste trabalho foi estudar da qualidade de seis lotes de
sementes de coentro provenientes de feiras livres, de produtor e de sementes
comerciais certificadas, bem como identificar os fitopatógenos presentes nas
mesmas, correlacionando com os percentuais de germinação entre sementes
comerciais tratadas e as sementes produzidas localmente.
2 MATERIAL E MÉTODOS
O experimento foi conduzido no Laboratório de Fitopatologia do
Departamento de Ciência e Tecnologia Social (DTCS) da Universidade do Estado
da Bahia (UNEB) Campus III, Juazeiro – BA, entre os meses de julho e setembro
de 2007, (Figura 13).
Previamente foram pesquisados os principais locais de compra de
sementes por parte dos agricultores, sendo identificadas oito feiras públicas, além
92
de estabelecimentos comerciais que vendem sementes certificadas e um produtor
de sementes, totalizando 18 amostras. Dentre os lotes de sementes das feiras,
para ter uma amostra menor, foram sorteadas quatro e consideradas a amostra
do produtor e da casa comercial, perfazendo seis amostras ao todo. De cada
amostra, foi considerada uma quantia de 250g.
Em todos os lotes testados as sementes estavam inteiras, com o diaquênio
unido, para manter condições iguais, vez que, Pereira et al. (2005) testaram a
germinação com as “sementes partidas” e verificaram aumento na velocidade de
germinação sem, contudo alterar a germinação total, por esta razão, neste
trabalho, as sementes não foram divididas.
O teste de sanidade dos lotes de sementes seguiu a metodologia descrita
em Brasil (1992) e Pavan (1997). Separaram-se oito amostras contendo 400
sementes inteiras para cada lote, representados por oito repetições com 50
sementes cada. As sementes foram plaqueadas em caixas gerbox, com auxílio de
pinça flambada, sobre papel de filtro previamente esterilizado em autoclave a
120ºC por 20 min. e, em seguida, umedecido com água destilada e esterilizada
para favorecer o desenvolvimento dos fungos e a germinação das sementes. As
caixas foram colocadas sobre bancada e submetidas à temperatura ambiente,
entre 25oC e 30oC, sob alternância luminosa composta por fotoperíodo com 12h
de luz e 12h de escuro, favorecido por lâmpada incandescente de 100 watts,
durante sete dias.
Para identificação dos patógenos, seis dias após o plaqueamento,
prepararam-se lâminas com corante azul de Amann e utilizou-se literatura
especializada para identificação (BARNNET & HUNTER, 1972) e em seguida foi
procedida a contagem das sementes com os dois principais
sintomas/fitopatógenos encontrados com auxílio de uma lupa (Figura 13 d). O
percentual de germinação foi determinado em primeira contagem aos sete dias
após o plaqueamento.
O delineamento foi inteiramente casualizado. As análises estatísticas foram
realizadas com auxílio do Programa SISVAR, com o teste de médias utilizando
Tukey a 5% de probabilidade e do SAS, para calcular a correlação entre a
germinação e a incidência dos fungos.
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
Nas seis amostras de sementes avaliadas, foram identificadas Alternaria
spp. e Aspergillus sp. (Tabela 2). Ocorreram ainda Fusarium sp. e crescimento
bacteriano em quantidades insignificantes, portanto foram desprezadas. A
incidência de fungos em 100% das amostras revela um quadro relativamente
preocupante. As amostras da feira livre de Juazeiro – BA e do produtor
apresentaram as maiores taxas de germinação, uma das menores taxas de
infecção dos dois fungos.
Nas amostras de sementes sem certificação, constatou-se alta incidência
de fitopatógenos, que atingiu até 40,45% de infecção de Alternaria spp. e 32,00%
de Aspergillus sp.. O lote de sementes comerciais tratadas com captan
apresentou os dois fungos, porém com incidência de 9,25% e 0,25%
respectivamente (Tabela 2), embora a germinação tenha sido de apenas 51,12%.
Esses resultados concordam com o relato de Pereira et al., (2005) e Reis et al.,
(2006), que mostraram que mesmo as sementes comerciais com tratamento
fungicida não estão livres de patógenos, especialmente aquelas tratadas com
captam, pois, a localização da A. dauci (Kuhn) Groves & Skolko, é mais provável
no embrião e/ou endosperma das mesmas, como foi observado por Muniz & Porto
(1998 citado por REIS et al., 2006).
Por outro lado, diferentemente dos resultados de Reis et al. (2006), foram
encontrados níveis significantes de Aspergillus sp, indicando que nas condições
de Juazeiro – BA e Petrolina – PE esse fitopatógeno merece novos estudos.
A A. alternata, é encontrada constantemente associada às sementes de
cenoura, embora seja considerado contaminante saprófita (CUNHA et al., 1987 e
94
STRANDBERG, 1984 citados por REIS et al., 2006), quando associado com A.
dauci, pode causar danos à qualidade fisiológica das sementes e tombamento de
plântulas (MUNIZ & PORTO, 1998 citado por REIS et al., 2006). A relação entre
esses fungos e suas conseqüências no tombamento de plântulas de cenoura
poderá ser semelhante com os sintomas encontrados com o tombamento e falhas
nas fileiras de coentro nas condições de Juazeiro – BA e Petrolina – PE. Porém,
testes com plântulas provenientes de sementes infectadas devem ser
posteriormente realizados, como também a identificação da espécie de Alternaria.
Por outro lado, os resultados desse experimento permitem afirmar que
existem dois lotes de sementes não certificadas, lotes 4 e 5, com qualidades
fisiológica e fitopatológica superiores às certificadas, o que pode ser explicado
porque a qualidade da semente é determinada na área de produção das mesmas,
sendo nessa etapa onde os cuidados devem ser redobrados, porque se ocorrer
incidência de doenças no campo elas poderão ser transmitidas por sementes, e
será difícil corrigir, mesmo com tratamentos fitossanitários, com demonstraram
Pereira et al., (2005) e Reis et al., (2006).
Houve correlação no valor de – 0,59, significativa a 1% e inversamente
proporcional entre a incidência de Aspergillus sp. e a germinação. O que pode ser
constatado observando os dois lotes que tiveram maior percentual de germinação
e menor incidência de patógenos, confirmando novamente as informações de
Reis et al., (2006) e Pereira et al., (2005) sobre o prejuízo devido a esses fungos
no estabelecimento dessa cultura. No entanto apesar de ser significativa a
correlação, ela só explica apenas parte das causas das perdas na germinação,
sendo provável que outras características influenciem no decréscimo da
germinação, provavelmente resultante do processo de produção das sementes.
Os resultados de germinação mais promissores, 69,5% e 65,5%, obtidos
nos lotes provenientes da feira de Juazeiro e do produtor respectivamente,
considerando as condições de temperatura do experimento, acima de 25oC, estão
próximos do valor obtido por Pereira et al. (2006) que encontraram 64% de
germinação nessa temperatura. Segundo esses autores, a faixa de temperatura
utilizada no presente experimento induz a uma termo-inibição, um processo
reversível, uma vez que a semente germina quando a temperatura decresce para
um nível adequado, ou à termo-dormência (ou dormência secundária), onde as
sementes não germinam mesmo após a diminuição da temperatura.
Existem pesquisas recentes que indicam métodos de colheita e
armazenamento de sementes de coentro (NASCIMENTO, 2006), portanto os
resultados encontrados nesse trabalho sugerem que as prováveis causas dos
resultados encontrados em sementes não certificadas devem-se ao processo de
produção das sementes, o que não foi possível verificar nesse trabalho, e poderá
ser feito posteriormente.
Devido o alto custo das sementes comerciais certificadas para esse
segmento produtivo, visto que as não certificadas custam quase 50% menos, com
base nos resultados encontrados nesse experimento, podem ser compreendidos
os motivos da opção desses horticultores urbanos, assumindo grandes riscos de
contaminarem seus solos já escassos e perdendo produtividade. Esse fato
evidencia a necessidade de maior apoio a esses horticultores, como também aos
produtores de sementes, dada a importância cultural, social e econômica
traduzido no consumo diário do coentro pela população.
AGRADECIMENTOS
A CAPES e à UNEB que apoiaram o desenvolvimento dessa pesquisa e
viabilizaram sua execução e, aos horticultores urbanos, beneficiários desse
trabalho que deram colaboração fundamental.
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98
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Em seguida estão colocadas as considerações finais organizadas em
relação a cada um dos três objetivos específicos definidos nessa dissertação. Em
relação ao primeiro objetivo conclui-se:
i) O perfil dos horticultores comunitários existentes no dipolo Juazeiro – BA e
Petrolina – PE, é composto na sua maioria por mulheres, pessoas adultas e
idosas, com pouca escolaridade e uma renda média abaixo de um salário
mínimo e que produzem alimentos para o autoconsumo, fornecimento às
escolas e para comercialização dos excedentes. São pessoas que migraram
de áreas rurais de outros municípios do semi-árido do Nordeste do Brasil,
por isso trazem consigo o modo de trabalho familiar, o que sugere um novo
conceito, agricultura familiar urbana, que pode vir a ser reconhecido pelo
Estado, desconsiderando apenas o caráter urbano da terra, assemelhando-
se ao do estabelecimento rural através das demais características.
ii) O fato de que as mulheres compõem a maioria das trabalhadoras nas
hortas, exercendo um papel produtivo, na alimentação e na geração de
renda, soma-se aos papéis domésticos e reprodutivos no cuidado com a
família, portanto, essas questões devem ser levadas em consideração no
momento de qualquer intervenção futura para melhoria do trabalho nas
hortas, para que não as sobrecarregue ou para não cometer injustiças
100
favorecendo mais aos homens em detrimento delas, promovendo, uma
divisão de responsabilidades de forma equilibrada.
iii) Considerando a importância social, econômica que contrasta com a
informalidade das condições de trabalho desses agricultores, faz-se
necessário a construção de políticas e programas locais em apoio às hortas
comunitárias que inclua a formalização das relações de mútuo benefício
entre as famílias e as escolas no uso dos terrenos e da água e o incentivo à
produção agroecológica, favorecendo a aproximação desses grupos ao
Sindicato dos Trabalhadores Rurais, órgãos de pesquisa e de extensão rural.
iv) Será necessário incentivar e apoiar a organização de associações a fim
de fortalecer as relações dentro e entre os grupos, para defender seus
interesses junto ao poder público, além de ampliar sua visibilidade enquanto
fornecedores de produtos saudáveis, provenientes de uma agricultura de
baixos impactos ambientais e de importante função social, estimulando a
ampliação do consumo de hortaliças frescas e sadias pela sociedade local.
v) Será importante aprofundar os estudos entre as famílias participantes da
AUP e fazer um comparativo com os dados do PNAD, buscando
compreender se existe diferenças nas condições de segurança alimentar
entre essas famílias devido ao seu trabalho nas hortas.
Sobre o segundo objetivo dessa dissertação, seguem abaixo as conclusões:
i) Os principais fatores limitantes do sistema produtivo das hortas
comunitárias são:
a) As relações informais sobre o uso da terra e sua característica urbana
limitam o acesso às políticas públicas de produção existentes voltadas
para o apoio à agricultura familiar com respeito ao crédito, a assistência
técnica e comercialização de alimentos;
101
b) As despesas com a água não são arcadas pelos agricultores e os
baixos rendimentos atuais da atividade sugerem não haver
sustentabilidade econômica;
c) As tecnologias de cultivo e manejo das hortaliças caracterizam-se
como pouco tecnificada e inadequadas em relação ao espaçamento,
qualidade e quantidade de sementes utilizadas no plantio, compostagem,
adubação e manejo de fitopatógenos;
d) Os principais problemas fitopatológicos estão relacionados à
tospovirose na alface ocasionada pelo Groudnut ring spot vírus – GRSV e
ao tombamento de plântulas de coentro causado por fungos trazidos
pelas sementes não certificadas, principalmente Alternaria spp. e
Aspergillus sp.
ii) Os fatores potenciais encontrados nas hortas que permitem vislumbrar um
planejamento para fomentar a produção agroecológica são:
a) O trabalho nas hortas tem base familiar e se ajusta à produção
agroecológica, dadas às evidências relativas ao trabalho familiar, grande
diversidade de cultivos, baixa utilização de insumos externos e de energia;
b) Existe um interesse coletivo dos horticultores sobre o modo de produção
sem o uso de agrotóxicos e adubos químicos;
c) Existem iniciativas de grupos de horticultores que definiram o modelo de
produção agroecológico como prioridade;
d) Existe um mercado local de sementes de coentro que contribui com a
horticultura urbana, que pode ser incentivado para qualificar a produção
observando normas e técnicas oficiais e da agricultura orgânica,
favorecendo a transparência em relação à procedência e a qualidade das
sementes oferecidas no mercado local;
102
e) Em Juazeiro – BA e Petrolina – PE existem diversos órgãos públicos
com capacidade técnica e política e, interessados na agricultura, que
podem incluir nas suas pautas a assistência à agricultura familiar urbana
com base na agroecologia.
Sobre o terceiro objetivo da dissertação seguem abaixo as conclusões:
i) 100% das sementes analisadas apresentaram ocorrência dos fungos
Aspergillus. spp e Aspergillus sp., que podem estar relacionados com
os sintomas encontrados em campo: tombamento e falhas nas fileiras.
Porém, testes com plântulas provenientes de sementes infectadas
devem ser posteriormente realizados.
ii) Duas amostras de sementes de coentro não certificadas e sem
tratamento químico apresentaram qualidade fisiológica e fitopatológica
superior às sementes certificadas, o que provavelmente atribui-se ao
sistema de produção das mesmas.
iii) Devido o alto custo das sementes comerciais certificadas para esse
segmento produtivo, visto que as não certificadas custam quase 50%
menos, com base nos resultados encontrados nesse experimento,
podem ser compreendidos os motivos da opção desses horticultores
urbanos por essas sementes, assumindo grandes riscos de
contaminarem seus solos já escassos e perdendo produtividade.
iv) É evidente a necessidade de maior apoio a esses horticultores,
como também aos produtores de sementes, dada a importância
cultural, social e econômica traduzido no consumo diário do coentro
pela população.
A hipótese considerada para essa pesquisa se confirma a partir de que:
i) Foi revelado um contingente expressivo de horticultores que
trabalham nas duas cidades, gerando trabalho, renda e alimentos para
103
seu sustento, para fornecimento às escolas e para a comercialização
dos excedentes nos dos bairros, contribuindo com a segurança
alimentar das cidades, além de ser uma experiência com importância
ambiental, na medida em que utiliza poucos insumos químicos na
produção, combustíveis e embalagens na comercialização.
ii) As informações reveladas com a pesquisa surpreendem justamente
por não haver visibilidade, nem o conhecimento da existência de tantos
grupos funcionando, alguns durante várias décadas e sem uma
intervenção pública planejada.
iii) Além disso, as várias questões enumeradas nessa pesquisa a título
de demandas de apoio social, técnico, científico e político oferecem o
grau e a medida para o apoio da comunidade acadêmica da UNEB e
aos demais órgãos envolvidos com a agricultura nos dois municípios.
Finalmente, pode se recomendar que, faz-se urgente reconhecer as
iniciativas que ocorrem na agricultura urbana em cada uma das cidades. O
exemplo da experiência de Cuba mostra que se esse modelo de agricultura tem
grande potencial se for suficientemente organizado com esforços da sociedade e
governo, podendo movimentar uma economia de Estado e conferir soberania
alimentar a uma nação inteira.
Se nas condições de Cuba com suas reduzidas dimensões geográficas e
submetido às condições de um bloqueio econômico a agricultura familiar urbana e
orgânica foi a estratégia para a soberania alimentar, o Brasil com sua dimensão
continental, aqui no submédio do Rio São Francisco com a experiência agrícola
do dipolo irrigado de Juazeiro e Petrolina e a presença do povo forte sertanejo,
são condições muito favoráveis que permitem vislumbrar sucesso igual ou até
maior.
Devem ser tomadas medidas políticas com alicerce técnico com o objetivo
de oferecer o necessário apoio para o desenvolvimento da agricultura familiar
104
urbana com base agroecológica nas duas cidades, dando conta de minimizar
tanta miséria que se avoluma nas periferias, oportunizando uma chance de fazer
mudanças sociais e econômicas significativas para esse público através da
produção de hortaliças saudáveis, melhorando as condições de vida de sua
população através da renda e da sua alimentação.
Conclui-se que a agricultura urbana que se desenvolve em Juazeiro – BA e
Petrolina – PE tem importância social e econômica relevante para mais de 300
famílias, sobretudo no envolvimento das mulheres, contribuindo com a segurança
alimentar e hábitos culturais das horticultoras (es) e dos seus clientes. Praticam
uma agricultura com potencial agroecológico que demanda apoio planejado nos
aspectos social, técnico, científico e político, principalmente no seu
reconhecimento e formalização das relações de uso da terra e da água.
ANEXOS
106
ANEXO I
1º questionário (maio2007)
Questões gerais a serem levantas na reunião com os grupos e em entrevistas
Instruções: inicialmente explicar quem é a UNEB e o pesquisador, quais objetivos
da visita e da pesquisa, que possibilidades de resultados eles poderão ter com a
participação na pesquisa: valorização do trabalho e dos seus produtos.
1. Nome do entrevistado (a) e das lideranças ou responsável pela horta?
____________________________________________________________
2. Localização, tamanho da área da horta? Se tem duas áreas separadas,
entender o porquê? (detalhar o endereço e o nome real da horta)
____________________________________________________________
3. Número de pessoas envolvidas? (número de famílias ou representante)
Quem trabalha? Adultos, crianças, idosos...
____________________________________________________________
4. A quem pertence a área? Estado, município, escola, igreja...
____________________________________________________________
5. Número de canteiros cultivados, como se organizam, por família ou por
pessoa?
A finalidade da produção? Alimentação de quem produz também?
____________________________________________________________
6. Como as famílias foram ou são escolhidas? Existe renovação de participantes?
desistem da atividade ou repassam seus lotes? Como acontece?
____________________________________________________________
7. Qual a origem horta comunitária? Porque essas áreas foram escolhidas?
____________________________________________________________
107
8. Qual a origem das famílias que trabalham?
9. Quais são os cultivos? Hortaliças, plantas medicinais, flores ...
____________________________________________________________
10. Como é a adubação? Esterco caprino, bovino, aves, químicos... Como é a
compra desses insumos?
____________________________________________________________
11. Como é o abastecimento da água? Quem paga, quanto paga por mês, é água
bruta ou tratada?
____________________________________________________________
12. Como é feita a comercialização? Por canteiro, por molho, no local ou à
domicílio..
____________________________________________________________
13. Como é a renda? Por canteiro, por família...
____________________________________________________________
14. Quais as maiores dificuldades? Quais são os problemas?
____________________________________________________________
15. Existe algum apoio financeiro?
____________________________________________________________
16. Existe abertura das pessoas para apoio técnico do manejo das hortas?
____________________________________________________________
17. Existiram pesquisas ou trabalhos semelhantes de assistência técnica ou
promoção das famílias e dos produtos antes?
____________________________________________________________
108
18. Algum órgão público ou privado dá assistência técnica?
____________________________________________________________
19. Algum órgão público ou privado já apoiou infra-estrutura de produção ou
comercialização?
____________________________________________________________
20. Quais pessoas se interessariam em participar da pesquisa, que envolverá
entrevistas e algumas reuniões? Anotar nomes.
____________________________________________________________
21. Permitem a pesquisa acontecer? Análises de solo e água?
____________________________________________________________
22. Tem perguntas ou propostas para a pesquisa acontecer da melhor forma?
____________________________________________________________
2º questionário (maio2007)
Questões específicas a serem levantas em entrevistas individuais. Utilizar o
Termo de consentimento livre e esclarecido, deixar uma cópia assinada e trazer a
outra assinada.
I – Identificação da entrevista
QUESTIONÁRIO: LOCAL DA HORTA
ENTREVISTADOR: DATA:
II – PERFIL DO ENTREVISTADO 3. Escolaridade. Até quando estudou?
1. Sexo : ( ) masculino ( ) feminino a) ( ) sem instrução
b) ( ) assina o nome
2. Faixa etária (em anos): c) ( ) sabe ler e escrever
a) ( ) de 18 a 25 e) de 51 a 55 d) ( )ensino fundamental incompleto
b) de 26 a 30 f) de 56 a 60 e) ( ) ensino fundamental completo
c) de 31 a 45 g) mais de 61 f) ( ) ensino médio incompleto
d) de 46 a 50 g) ( ) ensino médio completo
4. Renda familiar (em salários
mínimos):
5. Renda obtida na horta (em salários
mínimos):
109
( ) menos de 1 ( ) de 3 a 5 ( ) menos de 1 ( ) de 3 a 5
( ) de 1 a 2 ( ) mais de 5 ( ) de 1 a 2 ( ) mais de 5
6. Qual sua outra fonte de renda?
Havendo diferença entre a renda familiar e a da
horta.
a) ( ) aposentadoria
b) ( ) pensão
c) ( ) Outra. Especificar:
7. Procedência:
a) ( ) Petrolina
b) ( ) interior de Pernambuco
c) ( ) interior da Bahia
d) ( ) interior do Piauí
e) ( ) outros estados
8. Qual(is) atividades eram desenvolvida antes da hort a?
9. Porque motivo (principal) resolveu trabalhar nas ho rtas?
a) ( ) desemprego
b) ( ) necessidade de ocupação
c) ( ) já trabalhava com agricultura
d) ( ) vontade de trabalhar por conta própria
e) outro
10. Mão de obra envolvida nas hortas, quem trabalha?
a) ( ) Sozinho
b) ( ) Em família
c) ( ) Emprega pessoa quando necessário
III – QUANTO À CAPACITAÇÃO, PARTICIPAÇÃO SOCIAL E A POIO TÉCNICO E
FINANCIAMENTO
11. Já participou de algum curso
ou treinamento em horticultura?
( ) sim b) ( ) não
11.2. Especificar entidade que ministrou
curso ou treinamento.
a) ( ) Prefeitura
b) ( ) Igreja
110
11.1. Se sim... especificar qual:
a) ( ) manejo
b) ( ) associativismo/cooperativismo
c) ( ) quanto ao uso de agrotóxico
d) ( ) culinária e segurança
alimentar
e) ( ) outros
........................................
c) ( ) Embrapa
d) ( ) Sebrae
e) ( ) outra..................................................
12. Participa de alguma
agremiação onde são discutidas
questões da horta?
a) ( ) sim
b) ( ) não
12.1. Se sim... qual?
a) ( ) associação de moradores do bairro
b) ( ) associação da horta?
c) ( ) associação de idosos
d) ( )Outras ....................
13. Recebe acompanhamento
técnico?
a) ( ) sim b) ( ) não
14. Como é financiada a
produção?
a) ( ) Recursos próprios
b) ( ) Prefeitura
c) ( ) Banco do Nordeste (Pronaf,
Crediamigo)
d) ( ) outro..
..
13.1. Se sim... qual sua avaliação com
relação ao apoio técnico?
a) ( ) excelente
b) ( ) boa
c) ( ) regular
d) ( ) ruim
e) ( ) péssima
f) ( ) não quis opinar
IV – QUANTO À CONSUMO E COMERCIALIZAÇÃO
15. Principais variedades
cultivadas:
g) ( ) cebolinha verde l) ( ) berinjela
a) ( ) coentro d) ( ) couveflor h) ( ) pimenta de cheiro m)
b) ( ) alface e) ( ) tomate i) ( ) pimenta malagueta n)
c) ( ) rúcula f) ( ) rabanete j) ( ) agrião o)
111
16. O que você faz com as
hortaliças que produz?
a) ( ) Só consome
b) ( ) consome uma parte,
vende outra
c) ( ) vende tudo
d) ( ) doa
e) ( ) consome, vende e doa
17. Qual a forma de comercialização? (se
mais de uma, enumerar da maior para menor)
a) ( ) venda direta na horta
b) ( ) de porta em porta
c) ( ) feiras livres/mercado público
d) ( ) mercearia/comércio
e) ( ) supermercados
f) ( ) em casa
g) ( ) outro
18. Para onde vende a produção?
a) ( ) Juazeiro / Petrolina
b) ( ) Interior de Juazeiro / Petrolina
c) ( ) outros estados
19. Em sua opinião, quais as maiores dificuldades encon tradas na
comercialização das suas hortaliças?
20. Quais idéias já foram conversadas para melhorar a c omercialização?
21. Quais hortaliças são mais consumidas por você?
22. Quais hortaliças são mais procuradas pelo consumido r?
23. Conhece o valor nutricional das hortaliças (coentro , cebolinho, alface)
a) ( ) sim b) ( ) não
23.1 Se sim, de quais hortaliças?
24. Cultiva plantas medicinais?
( ) sim b) ( ) não
24.1. Se sim... quais?
a) ( ) erva-doce e) ( )hortelã i) ( )boldo n) ( )romã
112
b) ( ) malva f) ( )macela j) ( )erva cidreira o) ( )
c) ( ) agrião g) ( )capim santo l) ( )arruda p) ( )
d) ( )mastruz h) ( )manjericão m) ( )babosa
25. Cultiva plantas ornamentais?
a) ( ) sim b) ( ) não
24. 2. Se sim... O
que você faz com
as plantas
medicinais que
produz?
a) ( ) Só
consome
b) ( ) consome
uma parte,
vende outra
c) ( ) vende
tudo
d) ( ) doa
e) ( ) consome,
vende e doa
25.1. Se sim... quais?
.......................................................................................................
....................................................................................................
V – CARACTERÍSTICAS DA PRODUÇÃO E AMBIENTAIS
26. De onde vem a água para a
produção?
a) ( ) rede
pública
d) ( )
barreiro
b) ( ) Rio
São
Francisco
e) (
)açude
c) ( ) poço
tubular
f) ( )
cacimba
27. Qual é o método de irrigação
a) (
)regador
manual
d) (
)aspersão
convencional
b) (
)mangueira
e) ( )micro-
aspersão
c) ( )por
sulcos
f) ( )
....................
30. Qual a freqüência de limpeza
dos reservatórios de água?
33. O que mais utiliza pra adubar? (pode ser
considerada mais de uma alternativa)
113
a) ( ) Diariamente
b) ( ) A cada semana
c) ( ) De quinze em quinze dias
d) ( ) De mês em mês
e) ( ) Raramente
a) ( ) Esterco caprino
b) ( ) Esterco bovino
c) ( ) Terra vegetal
d) ( ) NPK
e) ( ) Uréia
f) ( ) Outro,
especificar...........................................
33.1 Se sim, faz compostagem
antes de utilizar o esterco?
a) ( ) sim b) ( ) não
34. Já foi feita alguma análise de solo ou de
água na horta?
a) ( ) sim b) ( ) não
35. Como faz o controle de ervas
daninhas? (pode ser considerada
mais de uma alternativa)
a) ( ) Manual
b) ( ) Cobertura morta
c) ( ) Controle químico
d) ( )
Outros.Especificar...............
36. Quais as principais ervas daninhas que
aparecem?
........................................................................
VI – QUANTO AO USO DE AGROTÓXICO
37. Como faz o controle de pragas?
(pode ser considerada mais de uma
alternativa)
a) ( ) Manual
b) ( ) Produtos naturais
c) ( ) Uso de plantas
(atrativas/repelentes)
d) ( ) Uso de iscas
e) ( ) Uso de produtos químicos
f) ( ) Uso de barreiras mecânicas
g) ( ) Não faz nada
h) Outro
Especificar...........................................
38. Quais as principais pragas (e espécie
atacada) que aparecem?
114
39. Como faz o controle de doenças?
(pode ser considerada mais de uma
alternativa)
a) Removendo as plantas atacadas
b) Uso de produtos naturas
c) Uso de produtos químicos
d) Não faz nada
e) Outro.
Qual?......................................
40. Quais as principais doenças (e
espécie atacada) que aparecem?
(aplicar somente quando houver utilização
do mesmo)
41. Já houve cursos/palestras sobre
como manusear equipamentos e os
danos que os agrotóxicos podem
causar à saúde e ao meio ambiente?
a) ( ) sim b) ( ) não
42. Tem noção das conseqüências do
uso do agrotóxico para o meio ambiente,
bem como a sua saúde e a do
consumidor?
a) ( ) sim b) ( ) não
43. É feito uso de agrotóxicos perto
dos reservatórios de água?
a) ( ) sim b) ( ) não
44. Toma precaução para evitar a
contaminação de águas próximas ou
subterrâneas por agrotóxicos ou agentes
químicos?
a) ( ) sim b) ( ) não
45. Usa equipamento de proteção
para aplicar agrotóxicos?
a) ( ) sim.
Especificar...........................................
b) ( ) não
46. O que é feito com as embalagens dos
agrotóxicos?
a) ( ) Jogadas fora no lixo comum
b) ( ) Recicladas
c) ( ) Enterra
d) ( ) Queima
e) ( ) Guarda
f) ( ) Outra...........................
47. Os aplicadores são limpos e guardados após o uso?
a) Somente limpos
b) Somente guardados
c) Nenhum dos dois
d) Os dois
115
e) São jogados no lixo
f) Outro....................................................
VII – AGROECOLOGIA COMO OPÇÃO
48. Já ouviu falar em agroecologia ou
agricultura orgânica?
a) ( ) sim b) ( ) não
49. Estaria disposto a produzir somente
produtos orgânicos para contribuir com a
melhoria do meio ambiente e da sua
própria alimentação?
a) ( ) sim b) ( ) não
50. Quanto estaria disposto a investir
(buscar financiamento, se possível) na
mudança de sistema de produção? (em
salários mínimos)
a) ( ) Menos de 1
b) ( ) De 1 a 2
c) ( ) De 3 a 5
d) ( ) Mais de 5
e) ( ) Não estaria disposto / apto a
investir ou buscar investimento
f) ( ) Não estaria disposto a mudar o
sistema de produção
g) ( ) Não quis opinar
50.1. Explicitar o porquê da resposta se
estiver disposto a investir
50.2. Explicitar o porquê de não estar
disposto a investir
51. Estaria disposto a participar de
capacitação em agroecologia/agricultura
orgânica?
a) ( ) sim b) ( ) não
52. Estaria disposto a participar de
pesquisas de melhoramento dos cultivos
junto com a UNEB?
53. Se sim, para quais problemas que você
já percebeu/observou?
54. Se sim, já desenvolveu desenvolve
alguma solução por experiência própria?
116
ANEXO II
Universidade do Estado da Bahia
Departamento de Tecnologia e Ciências Sociais – DTC S, Juazeiro – Bahia
Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
Você está sendo convidado para participar da pesquisa “Horticultura comunitária
irrigada no submédio do São Francisco: perfil, segurança alimentar e demandas
de apoio”. Você foi selecionado porque participa de uma das hortas comunitárias
irrigadas urbanas, de forma aleatória, sua participação não é obrigatória. A
qualquer momento você pode desistir de participar e retirar seu consentimento.
Sua recusa não trará nenhum prejuízo em sua relação com o pesquisador ou com
a instituição.
Os objetivos deste estudo são: “investigar a importância social, econômica sobre
a segurança alimentar de produtores e consumidores das hortas urbanas
comunitárias irrigadas em Juazeiro e Petrolina, bem como conhecer aspectos
técnicos, ambientais e suas demandas para a pesquisa acadêmica, assessoria
técnica e sua estrutura com o enfoque agroecológico”, a partir da hipótese que as
hortas comunitárias têm importância social, econômica e para a segurança
alimentar, entretanto tem pouca visibilidade, reconhecimento e demandam apoio
da pesquisa, assessoria técnica e estrutura.
Sua participação nesta pesquisa consistirá em responder perguntas sobre o seu
trabalho e seu perfil social.
Os riscos relacionados com sua participação não existem, a não ser pelo fato de
dedicar 15 a 20 minutos do seu tempo.
Os benefícios relacionados com a sua participação são as possibilidades de que o
seu trabalho venha a ser valorizado e seja demandado maior apoio do governo
em termos de pesquisa, assessoria técnica e estrutura.
117
As informações obtidas através dessa pesquisa serão confidenciais e
asseguramos o sigilo sobre sua participação. Os dados não serão divulgados de
forma a possibilitar sua identificação, pois os métodos de análise serão
estatísticos e percentuais. Os questionários estarão protegidos durante o período
de 1 (um) ano para servir a essa pesquisa e depois serão destruídos através do
fogo, protegendo e assegurando a sua privacidade.
Você receberá uma cópia deste termo onde consta o telefone e o endereço do
pesquisador principal, podendo tirar suas dúvidas sobre o projeto e sua
participação, agora ou a qualquer momento.
______________________________________
Silver Jonas Alves Farfán
Rua Petúnia, 446, Residencial Park Massangano, Petrolina - PE cep, 56.300-000,
Fone 87 3867 7258
Declaro que entendi os objetivos, riscos e benefícios de minha participação na
pesquisa e concordo em participar.
_________________________________________
Sujeito da pesquisa