ASSOCIAÇÃO DESPORTIVA ATENEU * CAMPEÃO DE 1956Em pé: Clóvis (massagista), Coró, Rubens, Kidão, João Batista (Baiano), Vicentinho, Tilson, Brant e Edilson.
Agachados: Dito, Júber, Aroldo, Manoelzinho, Mauro de Gonha, Guarinelo e Moacir.
Presidente: Kelé Santos
O que era para ser uma entrevista acabou se
transformando num monólogo, num doce e emocio-
nante monólogo, fruído de sábias palavras de quem
conheceu o universo da idolatria e conhece muito bem
a vida. Palavras embargadas, mas carregadas de
informações, fatos históricos de um tempo que não
volta mais. Nem o peso da idade, mãos e face
enrugadas, cabelos brancos e dificuldade para se
locomover impediram que aquela “enciclopédia
humana” relatasse, para uma seleta platéia, parte da
épica página que escrevera na história do futebol de
Montes Claros e de Minas Gerais. Tudo gravado em HD
pelo jovem neto Stênio e pelo filho mul�mídia Tino
Gomes, um faz-tudo que semeia sonoridade e bom-
humor por onde passa.
Mas o primeiro capítulo espor�vo da REVISTA TUIA é
dedicado ao eterno ídolo Expedito Oliveira, o meia-
esquerda Dito, galã dos tempos de boleiro, quando
conquistara, para sempre, o coração da amada Dália.
Poderia ter galgado outros degraus no mundo da bola,
mas uma carta mudaria a carreira. Entretanto, não há
arrependimento, apenas gra�dão e amor. Aos 83 anos,
lúcido, ele nos recepcionou em sua casa, localizada na
Rua Bocaiúva, Centro, para receber o Troféu Bola
Cheia/Unimontes – Prêmio Marcelino Paz Nascimento,
na categoria “Ídolo Eterno”, das mãos do idealizador
Denarte D'Ávila. Imediatamente, Dito o reconheceu,
afinal o viu jogar futebol, jogaram xadrez juntos e até
fez questão de mostrar fotos de um torneio que
disputaram.
“Era bom de bola”, disparou Oliveira ao se referir a
D'Ávila e emendou uma história atrás da outra, a
começar pelo promissor início aos 16 anos, na
Associação Atlé�ca Vera Cruz, que mais tarde passaria
a se chamar Associação Atlé�ca Cassimiro de Abreu,
onde atuou de 1948 a 1951. Vale lembrar que pelo Vera
Cruz, ainda menino, foi campeão do Torneio Início do
Campeonato Amador, tradição que era festejadíssima
na época, afinal o vencedor entraria no certame com o
moral elevado. Em 1952, Dito Oliveira se transferiu
para o Ateneu, onde também construiria uma bela
página na história do lendário rival do Cassimiro de
Abreu. E, entre idas e vindas, o galã conquistou �tulos
com as duas camisas e, com muito orgulho, guarda as
faixas até hoje.
DITO OLIVEIRA
O craque que renunciou a bola e se rendeu ao amor
George Nande
Atentamente, o jornalista Luís Carlos
Novaes ouvia Dito Oliveira narrar
fatos da carreira, que consta de
passagens por Atlé�co, América e
Villa Nova. Mas pagavam mal e
acabou dando preferência à oficina
mecânica, onde ganhava mais, e ao
casamento com Dona Dália, união de
60 anos de amor, admiração,
dedicação e respeito. “No Atlé�co,
me deram uma chuteira ruim”,
recorda Dito, ao se lembrar da época
em que passou pelo Galo de Kafunga
e Zé do Monte. Mesmo depois de
casado, ele jogou no América, mas
sem o glamour esperado. Outro fato
marcante na jornada espor�va de
Dito foi o gol que ele fez em Pompéia,
o goleiro voador do América/RJ e
com passagem pela Seleção Brasi-
leira.
O arqueiro do Mequinha era consi-
derado o mais elás�co, plás�co e
acrobá�co da época e, por um bom
tempo, o mineiro de Itajubá se
notabilizou como um goleiro di�cil de
ser vazado. “Fiz um gol no �me que
não levava gols”, recorda Dito. Sem
qualquer ordem cronológica, ele
também contou sobre o dia em que
também teve um momento de
“humilhação”. Foi na inauguração do
Estádio João Rebello, quando jogava
pelo Ateneu e acabou levando uma
bola entre as pernas. Qual o jogador
que fez isso? Telê Santana, o Fio da
Esperança, que defendia o Flumi-
nense/RJ. Vale lembrar que antes o
Ateneu se chamava João Rebello,
mas isso é outra história.
Dito Oliveira lembra, com orgulho, de
outros fatos que marcaram sua
carreira de jogador e também como
técnico de Cassimiro, Ateneu e Bahia,
quando revolucionou e promoveu
muitos atletas das categorias de base
para as equipes de cima. Mas, talvez,
o momento mais emblemá�co tenha
sido o “dia do fico”. Ele �nha recebido
uma proposta para jogar no Villa
Nova e ficou balançado com a
possibilidade de defender as cores
alvirrubras do Leão do Bonfim. Mas
uma carta o faria desis�r da emprei-
tada. “Não vou jogar bola não, eu vou
é me casar”, repe�u as mesmas
palavras da época, quando se rendeu
ao amor que nutria por Dona Dália,
amor expressado naquela carta e que
perdura por 60 anos.
Dito contou inúmeras outras histó-
rias, eternizadas nas gravações feitas
pelo filho Tino Gomes em HD. Parte
do documentário será exibida no
Encontro dos Ídolos Eternos, que será
mais uma vez realizado por Denarte
D'Ávila, “o caçador de relíquias”, com
a presença de Buglê, ex-jogador do
Atlé�co que fez o primeiro gol do
Mineirão, no dia 5 de setembro de
1965, defendendo a Seleção Mineira
contra o River Plate, da Argen�na.
Ques�onado sobre qual é o seu �me
do coração em Montes Claros,
emocionado e com os olhos mare-
jados, Dito Oliveira não pestanejou e
respondeu: “os dois”, se referindo a
Cassimiro e Ateneu. Mas seu coração
também é do Atlé�co e, princi-
palmente, do eterno amor Dália.
TUIA ESPORTES
Dito, Daria, Lita e Juber
Expedito de Oliveira,
o meia esquerda Dito
Dália Oliveira, esposa de Dito
O esportista Denart D'Avila, Dona Dália e Dito
Arquivo
George Nande
Tino Gomes
Tino Gomes