HIPÓLITO DA COSTA: ESCRITA NO CORREIO BRAZILIENSE, 1808-1813.
Edenir Vancini1
RESUMO
O presente trabalho visa compreender o discurso do patrono da imprensa brasileira,
Hipólito da Costa, a partir da escrita no Correio Braziliense (1808-1813). O mensário
tinha por objetivo servir como instrumento de doutrinação das massas, em perspectiva as
ações realizadas pela coroa portuguesa, na própria Metrópole, e para com as suas
colônias, em específico a brasileira. Era publicado fora de Portugal e circulava de maneira
clandestina no Brasil, porque Hipólito encontrava-se exilado em Londres. Pesquisamos
nesta fonte - O Correio Braziliense, bem como era desenvolvida a abordagem desses
feitos da coroa portuguesa, e as referidas ações políticas, especificamente no período que
compreende o governo Joanino. Através da seleção de 11 (onze) textos que fazem
referência à uma guia em específico do jornal, a “Miscellanea”. Nesta seção, estão
pontuadas as reflexões do autor acerca de temáticas que relacionam Portugal vs Brasil,
Portugal e as outras potências estrangeiras.
PALAVRAS-CHAVE: Correio Braziliense; Hipólito da Costa; Discurso; Escrita.
1. INTRODUÇÃO
A transmissão de notícias e acontecimentos através do mensário Correio
Braziliense, se fez em grande partida, seguindo três gêneros da prática jornalística, o
informativo, que enaltecia o parâmetro da publicação de toda a documentação oficial do
governo português, como também os artigos publicados pelos mais importantes jornais
da época; o interpretativo, que recorria em analisar o contexto dessas publicações e
exteriorizar com o cenário, os fatos, e por último; o opinativo, o qual trazia a apreciação
do editor do periódico acerca dos outros dois pontos.
1 Acadêmico da décima fase do curso de Licenciatura em História, da Universidade Federal da Fronteira
Sul - UFFS
A sua abordagem jornalística englobou variadas temáticas que circundavam temas
recorrentes no período. Em sua tese Aparecida M. da Silva (2010), relata um pouco sobre
a exposição dos fatos pelas guias do jornal:
[...] Nele, versou sobre questões inerentes às relações internacionais e
administrativas do governo português; a problemas que se expunham nas
colônias de Portugal, em especial no Brasil, revelados por seus
correspondentes, como a série de práticas despóticas praticadas por
governadores, longe dos olhos do soberano; falhas no sistema administrativo
português. Falou sobre os conflitos armados que assolavam a Europa. (SILVA,
2010, p. 85).
Sobre o Brasil, como supracitado em outro capítulo, a atenção de Hipólito estava
voltada para três eixos: a liberdade de imprensa, a qual não existia até meados do ano de
1822 e a declaração da independência brasileira; a segunda se concentrava sobre a
manutenção da pré-condição, que a elevação do Brasil a reino unido a Portugal e
Algarves, em 16 de dezembro de 1815, trouxe a ‘nação’ tupiniquim; e a terceira estava
diretamente ligada às práticas do regime político absolutista português em relação a sua
colônia e seus habitantes, aqui exclusivamente, se fala em Brasil.
A crítica de Hipólito da Costa, pode ser classificada em panfletária, e para se
chegar a essa conclusão, no presente trabalho, será utilizado o embasamento teórico,
estabelecido pela pesquisadora Aparecida Massena da Silva (2010), realizou em sua tese
de doutorado, e que por sua vez, se orientou no trabalho de Cibele Saliba Rizek e Wagner
de Melo Mourão, datado de 2006, com a titulação “Francisco de Oliveira: a tarefa da
crítica”, a qual trata sobre a percepção desse tipo de crítica - que se faz pelas posições
políticas em um determinado momento da história, e pela maneira que são tomadas
determinadas decisões pelos governos para sanar essas pendências político-
administrativas.
[...] revelam um grau de força efetiva de idéias e valores, em que o redator do
Correio Brasiliense externou uma visão de mundo politicamente articulada e
inserida nos eventos manifestos, no período de 1808 a 1822. Teve importância
substancial na formação da opinião pública de sua época, na medida em que
suscitou reflexões. (SILVA, 2010, p. 87).
E também:
Foi proferido num período marcado por forte censura à liberdade de expressão,
imposta pelo governo português a seus territórios, em especial no Brasil até
1821. Cada texto apresenta o desenvolvimento completo de um argumento [...]
Em determinadas situações, o redator quebra uma norma estabelecida. Ao
proferir um ataque pessoal a uma autoridade, quebra a norma do protocolo,
colocando-se num plano de igualdade ou, até, de superioridade. (SILVA, 2010,
p. 87).
A força das palavras de Hipólito da Costa se concentravam em muito na figura de
D. João VI, na de seus ministros e chefes de gabinetes. Principalmente, nos seus atos de
corrupção e abusos de poder para com a sociedade portuguesa, incluindo-se a brasileira e
das demais colônias de Portugal. A finalidade da escrita estava em orientar, doutrinar,
tornar claro, e acima de tudo ‘corrigir’ as falhas administrativas do governo joanino, a
partir de sugestões ofertadas no periódico pela ótica de seu editor.
1.1 – Análise dos textos (1808-1813)
Nesse momento do trabalho serão analisados alguns textos, que foram pré-
selecionados na guia Miscelânea. Estes textos fazem referência ao Brasil, ao momento e
a condição que a colônia atravessa, e os desdobramentos em relação às guerras
napoleônicas – Inglaterra – França – Portugal – Espanha, dentre outros países. Todos
estes fatos estão englobados nos artigos publicados por Hipólito da Costa, no período de
1808 a 1813, perpassando 11 volumes do mensário. Para cada ano serão selecionados 1
(um) ou mais textos que após a leitura do jornal (pesquisa), consideramos que apresentam
debates significativos sobre a independência, a composição da administração-política da
coroa portuguesa no período, e o discurso monarquista do editor do periódico. A escolha
por estes artigos especificamente partiu da necessidade que se estipulou para o presente
trabalho abarcar, mas o jornal dispõe de uma série de textos, que no momento e para esta
pesquisa há necessidade de selecionar apenas alguns do contexto geral da coletânea.
1.1.1 - Texto 01: Pensamentos vagos sobre novo Império do Brasil – nº 1. Julho de
1808 - Seção Miscelânea, Vol. I. Autor e Editor: Hipólito da Costa.
O primeiro texto se desdobra sobre os acontecimentos da Invasão Napoleônica a
Portugal, e a fuga da família real portuguesa; assuntos já tratados em outras instâncias no
presente trabalho. Contudo, a guia Miscelânea, tem maior flexibilidade na escrita, o que
permite de certa maneira, ao editor publicar boletins expressos das batalhas, e misturá-las
as demais notícias, intercalando com seus comentários e opiniões. O autor traça paralelos
com os acontecimentos de outras ‘nações’, estando estas conectadas ao assunto proposto,
ou apenas para afins de informação, de toda forma, a maneira que insere/diagrama,
corrobora com as questões tratadas, fazendo o leitor refletir sobre suas posições
ideológicas frente outros indivíduos em situações parecidas.
O desenrolar desse artigo trata basicamente sobre como a Espanha, está dividida
em dois grupos: os que apoiam a invasão (no caso os monarquistas), já que o Rei Carlos
IV se viu obrigado a abdicar a favor de Napoleão Bonaparte, que posteriormente repassa
o trono ao seu irmão José Bonaparte. Do outro lado, está concentrada a grande maioria
da população, que não se conforma, em entregar o seu país aos franceses, então se inicia
uma grande resistência dos espanhóis fazendo frente ao exército napoleônico.
Esse exemplo de resistência, de luta, é grifado algumas vezes pelo editor, que tenta
a partir desse fato, impulsionar o instinto de revolução nos brasileiros e portugueses que
aqui vivem, e se encontram indignados com os ‘mandos e desmandos’ da coroa
portuguesa. Outro ponto levantado por Hipólito é o fato de que o Príncipe Regente D.
João, não teria outra alternativa a não ser ‘levantar’ a sua corte de Portugal e transferi-la
para o Brasil, já que se ficasse não teria condições para enfrentar as forças francesas, e
possivelmente perderia, o trono, as colônias e também o direito de reaver a Espanha, que
por sua vez, com a abdicação dos parentes de sua mulher, por seu direito, nesses casos,
poderia reinar soberano sob a Península Ibérica.
Aparecida M. da Silva traça um paralelo entre o ocorrido em solo espanhol e os
desdobramentos com a instalação da corte no Rio de Janeiro:
Esses acontecimentos na Espanha estariam intimamente ligados com os do
Império do Brasil por dois motivos especiais: justificavam a mudança da corte
portuguesa; e davam à família de Bragança o direito ao trono espanhol, como
de se apossar das suas colônias que ficassem ao seu alcance. [...] Nessa
discussão Hipólito faz referência à questão da união, ao opinar que a Inglaterra
poderia ter desmembrado as colônias espanholas de sua metrópole, não tendo
feito por não "adotar este modo de hostilidade, que tende a revoltar o povo
contra o seu governo." (SILVA, 2010, p. 88-9).
A política de ‘boa vizinhança’ da Inglaterra para com todos os países europeus
invadidos ou em risco de invasão francesa, a deixava na situação de ‘nação pacificadora’,
e provavelmente a única capaz de medir forças com os generais e exércitos incorporados
de Napoleão, e promover a paz por todo o continente europeu, parte do africano e asiático.
Posterior há esses apontamentos, Hipólito muda o foco, e concentra-se na má
administração portuguesa, em relação a Metrópole e também a nova corte, o Brasil. Se
baseia, no fato que a colônia sempre ficou desassistida, em segundo plano, e por vezes
nas mãos de governantes relapsos, que defendiam somente os interesses da coroa e os
seus próprios, muitas vezes por ‘debaixo do pano’, sendo que o próprio rei estive em
desaviso.
Para terminar, determina que as transformações só não virão se D. João decidir,
por própria conta, dominar os territórios espanhóis na América do Sul. Sendo assim, a
campanha militar empreenderia muitos recursos e tempo do soberano, e este não disporia
desses dois fatores para investi-los no Brasil. Como pode ser visto, nesse recorte do texto,
escrito na língua portuguesa do período, apresentava uma grafia ‘diferente’, mas que em
muitos momentos se assemelha aos radicais contemporâneos do idioma2:
Ás vantagens porém, que o Povo do Brazil pode, e tem direito de esperar, de
ter la o seu Governo, seriam nullas, ou ao menos sumamente diminutas, se o
Soberano emprehendesse agora tomar posse á força d’armas, de todo o
Territorio Americano, aque tem direito por parte da Princeza Sua Mulher.
(CB3, 1808, vol. 1, p. 65).
Para os brasileiros, restava a esperança de melhorias em todas as esferas da
sociedade, pois a instalação da corte reconduziria os recursos financeiros para o solo
brasileiro, já que por muito tempo, tudo de precioso e lucrativo por essas terras, era
extraído e levado de navio através do Atlântico para a Europa, onde seria redistribuído.
A possibilidade de reinar sobre as colônias espanholas por muito tempo ‘visitou’ os
pensamentos de D. João e também da Princesa Carlota Joaquina. Para ela, era a chance
2 Em relação as demais citações diretas, todas serão traduzidas para atual conjectura da língua. 3 Ver. Lista de Abreviaturas.
de recuperar o brilho de sua dinastia, afastada do trono, por Napoleão. Para tal,
considerava-se preparada para ser Rainha, sem o marido, pois fora educada para executar
essa tarefa desde a infância, quando era Infanta do Reino da Espanha.
1.1.2 - Texto 02: Estabelecimento da Imprensa no Brasil – nº 5. Novembro de 1808
- Seção Miscelânea, Vol. I. Autor e Editor: Hipólito da Costa.
O texto em questão é relativamente curto, mas direto o suficiente para deixar os
leitores atentos para a situação do surgimento da imprensa brasileira. O primeiro
parágrafo começa com uma elucidação acerca do regimento das leis, a importância das
mesmas, ou a ‘desimportância’, quando estas representam um atraso para a sociedade.
Hipólito explicita o que a ausência de uma imprensa livre, ou simplesmente, a falta de
uma tipografia para a impressão de periódicos, livros, panfletos, ou demais formatos de
impressos influencia na propagação de ‘prejuízos’ morais e intelectuais para uma
determinada sociedade; o editor discorre sobre estar à mercê da condição de ignorância,
viver a margem, sem as possibilidades de descobrir universos novos, nas variadas áreas
que o conhecimento oferece através da leitura.
Demonstra sua felicidade para com os rumores da instalação da tipografia na
cidade do Rio de Janeiro, mas ao mesmo tempo, já apresenta seu descontentamento para
com as restrições que o governo português continuará promovendo no campo das
impressões e na sua circulação. Na introdução do terceiro parágrafo é contundente, o teor
de sua crítica. A mesma, se inicia com ares de doutrinação, como pode ser observado no
recorte abaixo:
Eu quero aqui registrar esse fato, para que fique em memória, e omitirei
algumas reflexões sobre o Governo Português, a este respeito; por que espero
que está lição, que os tempos nos oferecem, lhes abra os olhos, dando-lhes a
conhecer, que só a prosperidade do povo é que faz a prosperidade do Governo,
que quando se põem obstáculos, e entraves ao progresso, e propagação das
ciências, devem ficar tão raros os homens sábios, que quando o Governo
precisar deles, de repente, não os acha, e vê-se obrigado ou a lançar mão de um
homem instruído, mas sem boa moral; ou de um homem bom, mas estúpido,
ou ignorante, e quanto menor é o número de gente instruída, menos
probabilidade há de que o Estado seja servido por homens virtuosos e Sábios.
(CB, 1808, vol. 1, p. 393-4).
Esse comentário, ilustra o indivíduo letrado e detentor das ideias iluministas e
liberais que era Hipólito da Costa, e por ter adquirido esse conhecimento no exercício de
sua função como funcionário público da Imprensa Régia Portuguesa, se viu no direito de
retribuir através de seu mensário, de retransmitir esse ideário ou conjunto de saberes. É
perceptível, a defesa pela educação, por uma imprensa livre de censores, e também o
assentamento de suas proposições acerca do ser humano, sendo que este é responsável
direto pela manutenção da soberania de um país/nação, sendo que o despreparo é a
ruína/colapso de um sistema, que se ‘faz bonito’, mas não funciona, ou seja, exerce força
no papel, todavia na prática peca por não ter subsídios teóricos para provocar o
entendimento básico do texto.
Para concluir o artigo, o editor, informa sobre a aquisição de impressos, já que até
o presente momento, no ano de 1808 não havia um local apropriado para a impressão dos
mesmos, sendo que todo e qualquer tipo de estabelecimento tipográfico era
expressamente proibido no Brasil. A soma de “CEM LIBRAS ESTERLINAS!!!”, se faz
em caixa alta, para grafar o repúdio do autor em gastar tamanha quantia em algo, que
poderia ser produzido por qualquer pessoa com conhecimento na área, em solo brasileiro.
Termina congratulando os brasileiros sobre a novidade, e condena mais uma vez a demora
do governo português, em estabelecer tal modelo de tipografia para suprir a demanda de
suas publicações oficiais.
1.1.3 - Texto 03: Sessão: Reflexões sobre as novidades desse mês – nº 15. Agosto de
1809 - Seção Miscelânea, Vol. 3. Autor e Editor: Hipólito da Costa.
Em muitos de seus volumes, o Correio Braziliense, apresenta uma sessão
chamada Reflexões. O conteúdo dessa guia complementar é um comentário mais
direcionado por parte do editor do periódico para os acontecimentos do mês vigente. É
recorrente aparecer tópicos e artigos relacionando pequenos fatos do Brasil, Inglaterra,
França, Espanha, Portugal, Estados Unidos, Rússia, Alemanha, entre outros. Como
comentado anteriormente, são poucos os textos que dão ênfase a temática Brasil, mas nas
‘Reflexões sobre as novidades desse mês’, há espaço específico para tratar das questões
vividas no Rio de Janeiro pela Corte no momento. Então por esse motivo, para uma
melhor análise do discurso de Hipólito da Costa, o presente trabalho também aproveitará
o contexto desses pequenos recortes temporais acerca do cotidiano brasileiro. Hipólito da
Costa começa demonstrando sua imensa tristeza em relação às medidas administrativas
tomadas pelo governo português em relação ao Brasil, contudo, este pequeno relato está
inserido nas práticas de despotismo no estado do Pará. O autor destaca sobre a troca de
sujeitos no cargo de governador; onde saiu “um déspota para outro déspota”.
Para finalizar a nota, declara que se as práticas continuarem, vai trazer em cada
exemplar (mensal – volume), a lembrança do fato e a persona que a encabeça:
[...] De boa vontade me reprimo não circunstancio fatos; por que a testa da
repartição militar está um dos homens de quem espero mais; mas se até o
Conde de Linhares for com a torrente, e se fizer de cúmplice dos despotismos
dos mais, eu farei com que fiquem recordadas as ações dele e dos outros, que
só pode fazer com que se não analisem por agora esperanças de reforma, que
ainda restam; o que talvez não tenham outro fundamento senão os seus desejos;
mas enfim esperemos, e no entanto se vão ajustando materiais para a história
negra. (CB, 1809, vol. 3, p. 236).
Como já referido em outro momento, o Conde de Linhares, Rodrigo de Souza
Coutinho era o responsável pela Imprensa Régia Brasileira. Hipólito da Costa o referencia
em seu comentário, utilizando os termos ‘um dos homens de quem espero mais’, pois era
um homem à frente do seu tempo, político engajado, foi um grande incentivador das
manufaturas no Brasil. O Conde de Linhares seguia a linha do Marquês de Pombal; queria
reestruturar os pilares da administração pública portuguesa, como pode ser visto no artigo
de Prof. Doutor Antonio Paim (2009):
Basicamente, buscou soluções duradouras, como forma de superação do
“sistema restritivo e colonial que existia”. Não se tratava de que D. Rodrigo
estivesse trabalhando para a independência do Brasil. Seu empenho consistia
em proporcionar ao país autonomia econômica. Exemplo de tal empenho pode
ser documentado pelo seguinte fato: em fins de 1808 faltava carne no Rio de
Janeiro. A solução encaminhada por D. Rodrigo foi abrir um caminho
permanente entre São Paulo e a Região das Missões, onde se implantara a
pecuária. (PAIM, 2009, p. 268).
No entanto, se este se utilizasse de práticas ou manobras administrativas não
convencionais, nada impediria o editor do Correio Braziliense de escrever uma nota de
repúdio, condenando suas atitudes. Para Hipólito da Costa, era possível existir uma
‘nação’ portuguesa, em que o governo articulasse melhor para que as benesses
abrangessem todas as camadas da população, sem que necessariamente o povo sublevasse
contra o Estado por melhorias. É possível perceber, que o editor tomava partido para que
mudanças ocorressem, e transformassem o cotidiano português, tanto na metrópole como
nas colônias, contudo, sonhava em um Brasil transformado em reino, com representação
política das camadas populares, mas estas seriam apenas ‘reguladoras’ do bom
funcionamento da máquina de Estado, enquanto a direção ainda caberia a poucas cabeças
pensantes.
1.1.4 - Texto 04: Necessidade de reforma no Governo do Brazil – nº 36. Maio de 1811
- Seção Miscelânea – Seção Reflexões do Mês. Vol. 6. Autor e Editor: Hipólito da
Costa.
Ao longo de quase todo o volume 5, o qual compreende os meses de julho à
dezembro de 1810, precisamente na guia Miscelânea, na sessão de Reflexões do Mês,
Hipólito da Costa, reservou a escrita acerca do Brasil, para falar sobre corrupção no
governo e má administração. Nesse período, contextualiza a falta de responsabilidade dos
servidores públicos do alto-escalão com os gastos na máquina pública, e os excessos e
extravagâncias desnecessárias apresentadas no modo de vida da corte, instalada na cidade
do Rio de Janeiro desde o ano de 1808. Situa as condições que se encontravam o Erário,
e em contrapartida os vários empréstimos tomados juntos a coroa inglesa para a
manutenção do Estado Português.
No artigo, titulado como ‘Necessidade de reforma no Governo do Brazil’, o editor
do periódico Correio Braziliense, ressalta mais uma vez, a importância de reformas
político-administrativas no governo de Português, em relação ao Brasil e a sua ‘nova’
conjuntura e posição diante das outras potências estrangeiras.
Para Hipólito o ‘Império do Brazil’ era uma ‘realidade’ quase concretizada, a não
ser pelos percalços administrativos e pela falta de habilidade política de alguns ministros
e conselheiros, e é claro não eximindo de culpa a Vossa Majestade, o Príncipe João, filho
de D. Maria I. No início do artigo é possível ver a insatisfação destilada pelo editor, na
condução do “novo”, ao mesmo tempo “velho” modelo português de governar,
acrescentando ainda a volta de práticas administrativas que haviam se tornado
anacrônicas em Portugal, e que voltaram com força na realocação da Corte no Brasil.
Sendo a essência desse sistema a falta ou ausência de liberdades, como pode ser visto
nessa fala do autor:
Nenhum povo pode ser feliz sem gozar daquela liberdade racional, que é a base
da sociedade civil; e nenhum Estado pode ser respeitado das outras Potências
Estrangeiras; sem que a afeição dos naturais pelas suas instituições pátrias; os
leve ao ponto de sacrificar, sendo necessário, os bens, as fortunas, e as vidas.
(CB, 1811, vol. 6, p. 567).
Na continuidade do texto, Hipólito destaca a falta de efetividade das cortes no
Brasil, como não havia candidatos com ‘sangue puro’, estes não poderiam representar
suas cidades ou vilas, pela falta de nobreza titular, deixando assim, o controle destas
centralizada na figura do monarca e de seus conselheiros. Uma prática, que aos olhos do
editor do periódico atrasava a prosperidade da ‘nação brasileira’. Nesse ponto, é possível
mais uma vez verificar à luta de Hipólito da Costa acerca de uma monarquia absolutista,
e seu total apoio a instalação de uma monarquia constitucional aos moldes do Reino
Unido, considerado por ele, como sendo o modelo mais abrangente e seguro de
administração-política, e o seu repúdio ao modelo francês de ‘reformar’ o Estado, o qual
foi feito pelo povo.
[...] gritam contra toda reforma; por que lhe faz conta perpetuar os abusos com
que se engordam; mas como isso não se pode dizer às claras, alegam com seu
reisado argumento das desgraças que sobreviveram à França, por querer
reformar os abusos. Porém, nós somos de opinião contrária, e julgamos que a
oposição, do antigo governo da França, em não querer admitir a reforma dos
abusos que todos sabiam serem necessárias, é quem causou os horrorosos
males, que cobriram de luto à monarquia, e chegaram até a família real. [...]
(CB, 1811, vol. 6, p. 568).
É possível ver neste fragmento e em outras partes do contexto das reflexões do
autor, o seu desprezo por reformas elaboradas e executadas pela sociedade em geral. Estas
seriam um risco desnecessário, se o governo se utilizasse de seus mecanismos para
implementar e manter um conjunto de regras que permitissem a população viver de
maneira digna e respeitosa, e com vias de ‘poder’ para controlar possíveis abusos da
monarquia, a ‘nação’ se conduziria rapidamente para a prosperidade. Sendo, que este
‘poder’ estaria pré-determinado apenas há uma representação nas juntas ou cortes
democráticas (Assembleias). Uma possível elucidação acerca do assunto são essas duas
falas de Hipólito (CB, 1811, p. 569 e 573): “É necessário limitar o poder da coroa; para
o conservar; e para o fazer respeitar.” e também “desejamos as reformas, mas feitas pelo
Governo; e ungimos que o Governo as deve fazer em quanto há tempo; para que se evite
serem feitas pelo povo.” A limitação ao poder da monarquia, encontrada nas falas
supracitadas acima, seriam em relação aos ministros, como explica na sequência o autor
do jornal, e não propriamente a figura do monarca. Para Hipólito, extrair esse poder é
também acabar com o sistema de proteções a indivíduos da corte, o sistema de indicações
e reduzir os gastos do erário com supérfluos da corte, o que de fato para o mesmo, estaria
sugando o erário português (brasileiro) para fora de seu território.
[...] Depois que a Família Real se passou para o Brasil, se tem pedido
empréstimos avultados à Inglaterra; hipotecou-se para seu pagamento as
rendas da Madeira, e parte dos produtos dos diamantes, do pau-brasil, do
marfim, e da urzela; artigo que, por uma lei, deviam ser administrados pelo
Banco Nacional do Rio de Janeiro, e que no entanto por um ato arbitrário (e
assim se chamam todo os atos que são contra as leis) são administrados por
outros homens, que não foram legalmente nomeados; [...] (CB, 1811, vol. 6, p.
570).
Diante das dívidas contraídas, da ausência de reformas e liberdades, que outras
nações nesse período já ostentavam, o editor deixa uma pergunta no ar, para os então
ministros portugueses, (CB, 1811, p. 572): “Perguntamos aos Senhores do Governo do
Brasil: quanto tempo supõem que poderão conservar os povos, com esse sistema das
rolhas na boca?” Essa ‘deixa’ resvala na liberdade de imprensa, que não existe em
Portugal e mantém a negativa no Brasil. O autor subentende, que se mantém a boca do
povo fechada; o mesmo se faz com os olhos, impedindo que as ideais liberais adentrem o
território brasileiro através de um jornal português com livre circulação.
Para terminar o artigo, indica a possibilidade de que com a abertura política e o
processo de independência na América Espanhola, o governo deveria se espelhar nessa
situação e liberar o uso da palavra impressa; sendo que se isso não fosse possível, não era
de se surpreender que um novo periódico escrito em português, fosse publicado em
Caracas, capital da Venezuela, ou em Buenos Aires, capital da Argentina e assim,
propagar as manchetes até então proibidas no Brasil, provocando abalos na máquina de
governo português.
1.1.5 - Texto 05: Reflexões sobre as novidades do mês – Brazil4
Consternado com o descaso na administração pública, Hipólito da Costa escreve
sobre a temática por mais alguns números de seu periódico; ora dando dicas e possíveis
soluções para contornar os infortúnios político-administrativos da coroa portuguesa e por
oras tecendo críticas e traçando paralelos com ideias e propostas que deram certo em
outros países, aos quais em seu âmago considera, como ‘potências estrangeiras.
Exemplo disso, é a sua vontade em ver a soberania de Portugal e do Brasil a salvo
dos ‘corruptores’, indivíduos estes, que ocupam altos cargos na corte portuguesa junto a
figura do príncipe. Em alguns momentos, é possível perceber que o editor do jornal não
quer fazer má imagem do monarca perante os seus leitores, acreditando que o mesmo,
não é total culpado pelo ‘desequilíbrio’ no Estado português, mas sim as pessoas que lhe
rodeiam. Para confirmar tal situação, um pequeno fragmento de escrita do Correio
Braziliense:
Quantas vezes entramos na discussão dos males, que tem causado o mau
sistema de administração do Brasil, é com a esperança de que, fazendo
conhecidas origens das desordens tenhamos a doce satisfação de ver o
Soberano feliz, com a consolação de reinar sobre um povo, que deve o seu
estado de prosperidade a esse Soberano; e de ver um povo, entre o qual fomos
criados e educados, gozando das vantagens, e bens, que a natureza lhe conferiu;
[...] (CB, 1812, vol. 8, p. 93).
Para Hipólito, diante de tantas injustiças particulares vividas, ele se coloca no
lugar do povo, e deixar de lado a sua “neutralidade” de jornalista para ressaltar o desejo
e a esperança de todo um coletivo, que embasado em situações cotidianas poderia vir a
se lançar/buscar transformações para o seu meio; reiterando sempre, apenas como
cobranças e pequenas interferências, já que existia uma confiança especial no monarca
para dirigir os rumos da nação portuguesa e brasileira, num futuro próximo.
Contudo, em outros momentos vale-se lembrar, de uma das normas da instituição
da Imprensa Régia Portuguesa: “fiscalizar que nada se imprimisse contra a religião, o
governo e os bons costumes”; o termo grifado rememora a máquina de Estado portuguesa
4 Seção Miscelânea. Vol. 8. Autor e Editor: Hipólito da Costa. nº 44 e 46. Edições de Janeiro e Março de
1812.
e, basicamente o seu regente: o príncipe. Nesse caso, vale ressaltar que os ‘elogios’ ou
demonstrações de respeito por parte do editor, poderiam estar ligadas à esse
enquadramento das regras gerais da censura, uma ‘possível’ e ‘sincera’ consideração pelo
monarca e/ou todavia apenas servisse como uma orientação ao autor para não arranjar
maiores problemas com a coroa portuguesa, apesar de usufruir da proteção britânica essa
não era de toda infalível.
Na reserva de direito e uso de seu periódico, Hipólito da Costa, replicou no início
desse volume, uma carta escrita por D. Souza Coutinho. O conteúdo tecia elogios
valorosos a figura de D. João, Príncipe Regente de Portugal e do Brasil; tais considerações
ao monarca o elevavam a posto de uma divindade. A audiência do Correio Braziliense,
por sua vez, despertou em um político inglês, não nominado, a descrença nos fatos da
epístola. Este, redigiu uma nota em outro periódico, de natureza inglesa, relativizando
sobre D. João e sua condição de ‘Ser Divino’, e descreditando o jornal de Hipólito, pela
menção dos fatos, pela publicação e pelo despreparo do jornalista para lidar com certas
situações. A resposta do editor, vem a colaborar com a escrita dos últimos parágrafos
dessa pesquisa, sobre a posição do mesmo em relação aos fatos e tendências.
O escritor desta carta, politicamente, nos intenta puxar para a questão de
quanto S. A. R. o Príncipe Regente do Brasil merece os elogios. Essa manobra
nos da a conhecer o diplomático, e vemos aqui o desejo de provocar a falar de
seu Soberano, a fim de que se na força do argumento nos escapasse alguma
coisa contra ele, armar sobre isso os seus Castelos. (CB, 1812, vol. 8, p. 395).
E também:
Olhe Senhor Político; tem sido nosso grande cuidado nunca meter o nome do
Soberano em nossas discussões sobre as políticas de Portugal e Brasil, e por
duas razões. Uma por que estamos persuadidos, de que nem os erros dos
ministros, nem as maldades dos executores das ordens, se devem jamais
imputar sobre o Soberano; e outra por que sabemos, mais das vezes, mui
positivamente, as fontes dos males, que repreendemos. (CB, 1812, vol. 8, p.
395).
Sobre estes dois apontamentos, o autor do jornal, ainda elucida o estudo da
Teologia e a história de Basílio (Gregos), as quais haviam citadas pelo político inglês em
questão, para ‘desmerecer’ o monarca português. Para fechar o texto, Hipólito convida o
tal político, a lhe continuar escrevendo, caso as explicações não tenham sido satisfatórias
(CB, 1812, p. 396): “Se esta explicação ainda não o satisfaz; escreva mais, e ouvirá o
resto”.
1.1.6 - Texto 06: Relações da Corte do Rio de Janeiro com as Potências Europeias5
Por esse período do século XIV, a Europa já estava ciente das informações
oriundas do Império Russo sobre a Grande Armée6, de Napoleão, que havia marchado
em retirada após sucessivos infortúnios causados pelo General Inverno e a tática de
combate ‘terra arrasada’ do exército russo. Na sequência, as nações europeias se uniram
para mais uma vez enfrentar Bonaparte, e devolver a tranquilidade ao continente. Em 16
de outubro de 1813, em Leipzig, as forças de Napoleão bateram as da coalizão, de maneira
desesperada, com muito sacrifício, logo muitas pressões forçariam o imperador francês a
repensar suas novas manobras.
Como já havia de se esperar em Portugal e no Brasil, os comentários já se faziam
presentes sobre o possível futuro da ‘nação’ portuguesa e se cogitavam quais rumos
deveriam ser tomados. A partir da escrita de Hipólito nesse texto, é possível identificar
um sentimento de cautela por parte dos políticos de D. João, logo que, acreditavam na
insuficiência do reino em se manter sozinho frente as forças napoleônicas que ainda
rondavam a Península Ibérica. Este por sua vez, através desse artigo clama para que a
população em geral acredite em suas forças físicas e morais, e lute com as armas que tem
contra o que chama de ‘Revolução Francesa’. Conclama para que seus compatriotas
observem o exemplo da Inglaterra, que se manteve firme diante das ameaças, e que por
sua vez Portugal foi a última nação a cair nas mãos francesas, mas para esse mesmo
assunto, a ressalvas nessa conquista.
Neste sentido imputamos à covardia, a opinião daqueles Políticos Portugueses,
que asseveram que Portugal não tem forças nem meios de se defender, ou
sustentar sua dignidade como nação: obram em consequência desses
princípios. É portanto nossa intenção mostrar aqui o contrário; e que se
Portugal não goza entre as Potências da Europa uma dignidade mui conspícua,
não é por falta de meios, mas sim pela covardia de alguns Políticos, que tem
estado, o estão à frente dos Negócios Públicos. (CB, 1813, vol. 11, p. 810).
5 Seção Miscelânea. Seção Reflexões. Vol. 11. Autor e Editor: Hipólito da Costa. nº 66. Novembro de 1813.
6 Nome dado ao exército de Napoleão, também chamado de La Grande Armée (O Grande Exército).
As suas prerrogativas se baseavam na fala de Lord Liverpool7, em 4 de outubro,
na Casa dos Pares, em Londres, sobre a conjuntura de Portugal como ‘nação’ e seu
exemplo de luta contra as forças francesas em sua invasão.
“Portugal (disse Lord Liverpoll), nação pouco poderosa, e talvez, naquele
momento particular, a menos militar da Europa, se fez formidável, e resistiu
com bom sucesso às mais bem disciplinadas tropas da França. [...] foi Portugal,
quem começou a dar a esta guerra novo caráter, tornando-a guerra nacional,
em vez de guerra dos Governos que até então era. (CB, 1813, vol. 11, p. 812).
Nesse sentido, a ‘nação’ portuguesa deveria olhar para si mesma, e encontrar as
forças necessárias para se levantar e reconstruir os espaços físicos e os morais que haviam
sido destruídos por Napoleão Bonaparte em sua invasão, no ano de 1808. O apoio inglês
nas esferas financeiras, de logística, e militar foi imprescindível para a manutenção do
reino português, contudo, o preço foi alto. Apesar de ressaltar a Inglaterra como uma
nação a ser seguida de exemplo, e talvez por assim ser, Hipólito, considera a revisão de
certos acordos entre as duas partes, para que a ‘desvantagem’ comercial ficasse mais
branda, e Portugal pudesse respirar sem os sopros vindouros ingleses.
O Brasil deveria dar o ouro; e Portugal à gente; mas S. A. R. acha-se só no seu
Conselho, e todas as vezes que a falta de dinheiro, os seus financiamentos não
sabem cogitar outro meio, senão pedir emprestado para a Inglaterra. [...] Não
é assim, que uma nação que tem a possibilidade de figurar; pode nunca chegar
a ser poderosa. (CB, p. 814, vol. 11, 1813)
É dessa maneira, que Hipólito da Costa, editor do Correio Braziliense, traça seus
paralelos, tece suas críticas, exemplifica e oferta dicas, sempre cogitando melhoras na
administração e na política de Portugal. Acredita piamente num belo momento para o
Brasil talvez como ‘nação’, como reino; através de uma independência e o
estabelecimento de uma monarquia constitucionalista, aos moldes da Inglaterra, ao
mesmo passo, que Portugal faça o mesmo diminuindo o poder dos ministérios e
fortalecendo as câmaras dos deputados; dignificando o papel do monarca e diminuindo a
7 Robert Banks Jenkinson, 2º Conde de Liverpool, KG foi um político britânico, que por mais tempo foi
primeiro-ministro do Reino Unido, enquanto foi primeiro-ministro, entre 1812 a 1827. Arquivo Nacional
do Governo do Reino Unido. Disponível em https://www.gov.uk/government/history/past-prime-
ministers/robert-banks-jenkinson-earl-of-liverpool . Acesso em 10 de junho de 2015.
influência de seus conselheiros. Acreditava, em dois reinos prósperos, unidos, talvez
como reinos-irmãos, que se auxiliam mutuamente nas dificuldades e nas benesses.
2. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Diante do caminho percorrido neste trabalho conseguimos perceber que
esmiuçando o Correio Braziliense, que apesar do seu título, a sua escrita não está
propriamente concentrada nas relações sociais, políticas e econômicas brasileiras, mas
sim num conjunto de ações da Coroa Portuguesa para com os demais países europeus,
diante das transformações no cenário mundial, no período em questão. É perceptível a
preocupação política na escrita do editor-chefe, Hipólito da Costa, e está norteia o seu
trabalho.
A escolha pela Guia “Miscelanea”, facilitou a realização dessa pesquisa, pois a
compreensão e fluência empregada na escrita dessa sessão do periódico se fazem de
maneira mais simples em relação às demais guias. Os termos próprios da documentação
oficial e a vigência da língua portuguesa, que no período compreendia uma grafia
diferente da atual, nas demais ‘seções’ do mensário determinam um processo de leitura
mais rigoroso, denso, onde se faz necessária por vezes o uso de uma ferramenta jurídica,
como um manual, do mesmo modo que, um conhecimento básico (prévio) na área.
Outro ponto levantado sobre a análise de jornais e que por vezes tornou a pesquisa
um tanto ‘complexa’, dialoga com a dificuldade de ‘garimpar’ os dados em suas páginas
e a ausência por vezes da fidedignidade, objetividade, neutralidade, credibilidade e o
distanciamento do seu próprio tempo, o que de certa maneira, explica a escassez dos
impressos (periódicos) na construção da historiografia brasileira, pois os mesmos por
muito tempo foram ‘descartados’, como uma possibilidade de fonte na escrita da História,
sendo que a explicação se dá nos seguintes parâmetros, Luca:
[...] os jornais, pareciam pouco adequados para a recuperação do passado, uma
vez que essas “enciclopédias do cotidiano” continham registros fragmentários
do presente, realizados sobre o influxo de interesses, compromissos e paixões.
Em vez permitirem captar o ocorrido, dele forneciam imagens parciais,
distorcidas e subjetivas (LUCA, 2005, p. 112).
Para não incorrer em anacronismos de espaço temporal e terminologias da escrita
portuguesa na época, o estudo foi direcionado sobre a perspectiva da pesquisa
documental, respeitando a grafia das palavras e dos conceitos construídos pelo editor ao
longo do seu texto, diga-se o Correio Braziliense.
Contudo, percebemos ainda muitas lacunas que mereceriam aprofundamento e
futuras pesquisas, pela relevância que o Correio Braziliense tem para a compreensão do
surgimento da imprensa no Brasil, o discurso jornalístico e o seu papel junto à sociedade,
no início do século XIX. Um discurso político que por sua vez, se mostrava monarquista,
sendo o qual, se baseava no modelo inglês, uma monarquia constitucional; onde se
reconhece a figura do monarca (chefe simbólico do poder executivo), mas existe uma
limitação de seus poderes através das leis fundamentais (constituição).
3. REFERÊNCIAS
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