THAILLA FABIANE KATAOKA LOPES
EDUCAÇÃO ESTÉTICA: AS NARRATIVAS DISCENTES NO PROCESSO
FORMATIVO NO CURSO DE PEDAGOGIA
UNIVERSIDADE CIDADE DE SÃO PAULO
SÃO PAULO
2016
THAILLA FABIANE KATAOKA LOPES
EDUCAÇÃO ESTÉTICA: AS NARRATIVAS DISCENTES NO PROCESSO
FORMATIVO NO CURSO DE PEDAGOGIA
Dissertação apresentada ao Programa de Mestrado em Educação da Universidade Cidade de São Paulo, como requisito exigido para obtenção do título de Mestre em Educação junto à Universidade Cidade de São Paulo (UNICID), sob a orientação da Profª. Drª. Margaréte May Berkenbrock-Rosito.
UNIVERSIDADE CIDADE DE SÃO PAULO
SÃO PAULO
2016
Sistema de Bibliotecas do Grupo Cruzeiro do Sul Educacional
L864e Lopes, Thailla Fabiane Kataoka. Educação estética: as narrativas discentes no processo formativo no curso de pedagogia. / Thailla Fabiane Kataoka Lopes. São Paulo, 2016. 216 p. Inclui bibliografia
Dissertação (Mestrado) – Universidade Cidade de São Paulo - Orientadora: Profa. Dra. Margaréte May Berkenbrock-Rosito.
1. Educação estética. 2. Formação docente. 3. Curso de Pedagogia. I. Berkenbrock-Rosito, Margaréte May, orient. II. Título.
CDD 371.1
Banca Examinadora
________________________________________ Profa. Dra. Margaréte May Berkenbrock Rosito - Orientadora
________________________________________ Profa. Dra. Adelina de Oliveira Novaes
________________________________________ Profa. Dra. Maria de Fátima Ramos de Andrade
Dedico este trabalho а todos que acreditam na
Educação e na Educação Estética, no processo da
humanização e da sensibilidade. Agradeço ao
mundo por mudar as coisas, por nunca fazê-las ser
da mesma forma, pois assim tive о qυе pesquisar,
descobrir е desvelar.
AGRADECIMENTOS
“E aprendi que se depende sempre De tanta, muita, diferente gente
Toda pessoa sempre é as marcas das lições diárias
de outras tantas pessoas. É tão bonito quando a gente entende
Que a gente é tanta gente Onde quer que a gente vá.
É tão bonito quando a gente sente Que nunca está sozinho
Por mais que pense estar...” (Caminhos do coração – Gonzaguinha)
A Deus, por ser o maior mestre, pelo dom da vida e por ter me dado saúde e
força para enfrentar este grande desafio.
A esta Universidade que faz parte da minha história e trajetória de vida,
pessoal, profissional e acadêmica oportunizando horizontes do saber, aprender e
conhecer, como a possibilidade para concretizar o programa de Mestrado em
Educação.
A Pró-Reitoria de Educação à distância por ajudar-me a tornar realidade esse
horizonte do conhecimento.
A minha orientadora Profa. Margaréte May Berkenbrock Rosito pela
sensibilidade e doçura, pela confiança, dedicação a mim, pelos exemplos éticos e
estéticos que ampliaram meus horizontes, pelo apoio e presença nos momentos de
dificuldade, por sentir-me desafiada e encorajada, por enriquecer este trabalho e por
fazer me aprender com todas as orientações para a conclusão deste estudo.
Às professoras Adelina de Oliveira Novaes e Maria de Fátima Ramos de
Andrade, por serem pessoas especiais e sensíveis, incentivando e motivando
sempre. Por fazerem parte da minha formação acadêmica e, com muito orgulho e
honra, aceitarem o convite de compor a Banca Examinadora de Qualificação e
Defesa, enriquecendo e embelezando este trabalho.
A todos os professores do Programa de Mestrado que contribuíram no modo
de ver, perceber e vislumbrar a pesquisa, oportunizarem o conhecimento.
A professora Maria Thais pelo paciente trabalho de revisão da redação.
A todos os professores, Professora Adriana Botto Vianna, Professor Dirceu
Zaleski, Professora Maria Heloísa Aguiar, Professora Marisa Laporta, da minha
graduação que sempre acreditaram na realização desse sonho, no meu potencial e
incentivaram a continuar na jornada acadêmica.
Ao meu marido, José Alberto que partilhou todas as angústias, aflições,
momentos de alegria e tristeza, seu apoio nos altos e baixos, ao longo desta
jornada, me inspira a continuar, a vencer os desafios, a produzir e acima de tudo a
ser feliz.
A Cristal e Mel que compreenderam a ausência e vivenciaram essa etapa tão
importante sempre ao meu lado, nos momentos mais significativos.
A todos aos colegas e amigos que, durante a preparação e confecção dessa
dissertação, caminharam ao meu lado, com uma escuta atenta, respeitosa,
iluminando meu percurso formativo.
Meu agradecimento especial аоs amigos Jusselma, Malu e Gilmar Talarico
companheiros de pesquisa е irmãos na amizade, qυе fizeram parte da minha
formação е vão continuar presentes em minha vida com certeza. Obrigada pelos
palpites, opiniões e conselhos.
Ao amigo Geraldo Barbosa Neto pela inspiração com seus exemplos de
coragem, de persistência, paciência, determinação e muitas outras características
enriqueceram este trabalho.
A secretaria Sheila e o auxiliar Guilherme, o meu sincero agradecimento pela
paciência, apoio e esclarecimentos.
A todos compartilho a felicidade, alegria e entusiasmo nesse momento tão
importante e conclusivo.
A todos que fizeram parte da minha formação a minha gratidão eterna, o meu
carinho e o contentamento do o aprendizado de ser e estar em relação com o outro.
Muito obrigada!
Creio que aqueles que mais entendem de felicidade são as borboletas e as bolhas de sabão...
Ver girar essas pequenas almas leves, loucas, graciosas e que se movem é o que,
de mim, arrancam lágrimas e canções. Eu só poderia acreditar em um Deus que soubesse
dançar. E quando vi meu demônio, pareceu-me sério, grave,
profundo, solene. Era o espírito da gravidade. ele é que faz cair todas
as coisas. Não é com ira, mas com riso que se mata. Coragem!
Vamos matar o espírito da gravidade! Eu aprendi a andar. Desde então, passei por mim a
correr. Eu aprendi a voar. Desde então, não quero que me
empurrem para mudar de lugar. Agora sou leve, agora vôo, agora vejo por baixo de
mim mesmo, agora um Deus dança em mim!
Nietszche
RESUMO
O presente estudo busca o sentido de intervenção nos processos formativos à luz da Educação Estética. Apresenta como objetivos analisar, compreender e interpretar a dimensão estética nas narrativas discentes sobre a participação na metodologia formativa no dispositivo “Colcha de retalhos”, desenvolvida por Berkenbrock-Rosito (2010). Nos processos formativos no Curso de Pedagogia, a dimensão estética raramente é contemplada e, na pesquisa, é pouco estudada. Há mesmo uma lacuna no estudo do tema e é neste contexto que estabelecemos como guia para a investigação as perguntas-problema: Como o desenvolvimento da autonomia e emancipação dos sujeitos ocorre via “Colcha de Retalhos”? Quais são as possibilidades da “Colcha de Retalhos” como metodologia formativa no Curso de Pedagogia? Para proceder à análise das questões levantadas, recorre-se ao conceito de autonomia, em Freire, o de emancipação, em Adorno, o de Educação Estética, entre o sensível e a razão, em Schiller (2002). O entendimento a respeito do lugar da educação estética considera as emoções como uma questão epistemológica nos processos formativos. O material analisa as narrativas discentes do 4º e 5º semestres do curso de Pedagogia sobre a metodologia da “Colcha de Retalhos” e conduz à compreensão da biografia e da autobiografia por meio da narrativa escrita, oral e pictórica, um exercício de voltar-se para si, para sua história, suas vivências, ao rememorar e refletir sobre os caminhos e experiências estéticas vividas, as narrativas dão visibilidade às marcas que falam do sensível, do cultivo da beleza, da inteireza do ser, em conexão com a razão e sensibilidade ou, ao contrário, que falam da interdição, da negação, da desconexão. No horizonte do estudo, as narrativas indicam a possibilidade de desenvolvimento da emancipação e autonomia do discente em seu processo formativo, bem como a as reflexões acerca da metodologia formativa da “Colcha de Retalhos” como contribuição com novas proposições e estratégias no processo de formação docente-pesquisador. Palavras-chave: Educação Estética, Formação Docente, Curso de Pedagogia.
ABSTRACT This study seeks the intervention of sense in the formative processes in the light of Aesthetic Education. It has the objective to analyze, understand and interpret the aesthetic dimension in students narratives about participation in training methodology on the device "Colcha de Retalhos", developed by Berkenbrock-Rosito (2010). In the formative processes in Education Course, the aesthetic dimension is rarely contemplated and, in research, it is little studied. There is even a gap in the study of the subject and in this context we set it as a guide to research the problem-questions: How does the development of autonomy and emancipation of the subjects occurs via "Colcha de Retalhos"? What are the possibilities of "Colcha de Reatalhos" as a formative methodology in Education Course? To proceed with the analysis of these issues, we resort to the concept of autonomy in Freire, the emancipation, in Adorno, the Aesthetic Education, between the sensible and the reason, Schiller (2002). The understanding of the place of aesthetic education considers emotions as an epistemological question in the formative processes. The material analyzes the students’ narratives from the 4th and the 5th semesters of Education Course on the methodology of "Colcha de Retalhos" and leads to understanding of biography and autobiography through narrative writing, oral and pictorial, an exercise in turning to themselves, for their history, their experiences, to look back and reflect on the ways and vivid aesthetic experiences the narratives give visibility to the brands which speak of sensitive, beauty culture, the wholeness of being, in connection to reason and sensitivity or on the contrary, speaking of the ban, the denial, the disconnection. On the horizon of the study, the narratives indicate the possibility to develop students’ emancipation and autonomy in their educational process, as well as reflections about the training methodology of "Colcha de Retalhos" as a contribution to new proposals and strategies in the teacher-researcher training process.
Keywords: Aesthetic Education, Teacher Education, Pedagogy Cours.
.
LISTA DE FIGURAS
Figura 1: Colcha de retalhos – A transformação de si 34
Figura 2: Transformação 35
Figura 3: Nascimento da pesquisa 43
LISTA DE QUADROS
Quadro 1: Quadro Linha da Vida da pesquisadora 27
Quadro 2: Fases da entrevista narrativa 92
Quadro 3: Seleção de nomes para as narrativas discentes referentes à questão norteadora 95
Quadro 4: Seleção de nomes para as narrativas das discentes dos 5º semestres referentes à questão introdutória. 96
Quadro 5: Seleção de nomes para as narrativas das discentes dos 4º semestres referentes à questão introdutória. 97
O ato de conhecer, de Criar e recriar objetos faz da educação uma arte. A educação é simultaneamente uma certa teoria de conhecimento entrando na prática, um ato político, ético e estético. Gestos, entonações de voz, o caminhar na sala de aula, poses, participam da natureza estética do ato do conhecimento, do seu impacto sobre a formação dos estudantes através do ensino. (FREIRE, SHOR, 1986, p.145).
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO 14
1 “METÁFORA DA METAMORFOSE”: UMA CONTEXTUALIZAÇÃO DO ESTUDO
UM ENCONTRO DE SI ENTRE MUDANÇAS E TRANSFORMAÇÕES 18
1.1 O casulo: a narrativa escrita como um momento de olhar para si 18
1.1.1 Narrativa Pictórica: um outro modo de olhar para si 33
1.2 A saída do casulo: o sentido e significados dos sujeitos e sua historicidade 36
1.3 O voo: um olhar para si e olhar para o outro na história tecida no retalho 43
2 FORMAÇÃO DE PROFESSORES-PESQUISADORES À LUZ DA EDUCAÇÃO
ESTÉTICA 51
2.1 Educação Estética: um caminho de humanização dos sujeitos ..........................51
2.2 Experiência Estética: a narrativa como produção do conhecimento nos
processos formativos 60
2.3 A estética da narrativa: a possibilidade de desenvolvimento da autonomia e
emancipação dos sujeitos 75
3. COLCHA DE RETALHOS: UMA POSSIBILIDADE DE DESENVOLVIMENTO DA
AUTONOMIA E EMANCIPAÇÃO NA FORMAÇÃO 89
3.1 Narrativas discentes: uma compreensão sob o enfoque hermenêutico 89
3.2 A estética do casulo: encasular, isolar, fechar e mudar no processo formativo
101
3.3 A estética da metamorfose: um processo de transformação e possibilidades de
humanização 113
3.4 A estética do voo: despertar para um olhar para si e para o outro 122
CONSIDERAÇÕES FINAIS 135
14
INTRODUÇÃO
Este estudo é um recorte de uma pesquisa maior intitulada “Educação
Estética, Formação e Narrativas”, coordenada por Berkenbrock-Rosito, cadastrada
no CNPq. Como objeto de estudo, propõe-se a compreensão do dispositivo “Colcha
de Retalhos”, uma metodologia e epistemologia desenvolvidas por Berkenbrock-
Rosito, desde 2001, como proposta de formação do professor-pesquisador, por meio
das narrativas escrita, pictórica e oral, que são produzidas pelos participantes do
grupo, seja da graduação ou do mestrado, concretizadas dentro da abordagem da
pesquisa (Auto) Biográfica à luz da Educação Estética.
Neste trabalho, com a “Colcha de Retalhos”, recorre-se aos conceitos de
autonomia e de emancipação, respectivamente, em Freire (2011; 2014) e em
Adorno (1982), Schiller (2002), com o entendimento a respeito do lugar da Educação
Estética, que considera as emoções como uma questão epistemológica nos
processos formativos.
Neste estudo, com o intuito de contribuir com esta pesquisa maior, focaliza-se
a dimensão estética das narrativas discentes em seu sentido político, que é a
possibilidade de uma intervenção pedagógica no desenvolvimento da autonomia e a
emancipação dos sujeitos, contribuindo para um aprofundamento dos aspectos
teóricos e práticos da Educação Estética, por meio da narrativa de vida e do
caminho para a humanização na formação no Curso de Pedagogia.
Diante do exposto, mostra-se como problema de estudo: o sentido da
dimensão estética nas narrativas discentes produzidas no dispositivo formativo
“Colcha de Retalhos” no Curso de Pedagogia, em 2013, na Universidade Cidade de
São Paulo. Neste contexto, as perguntas-problema se apresentam como
norteadoras do estudo: Como o desenvolvimento da autonomia e emancipação dos
sujeitos ocorre via “Colcha de Retalhos”? Quais são as possibilidades da “Colcha de
Retalhos” como metodologia formativa no Curso de Pedagogia?
A hipótese norteadora é que o desenvolvimento da autonomia e da
emancipação dos sujeitos ocorre na dimensão estética, na metodologia formativa
“Colcha de Retalhos”, no Curso de Pedagogia.
Em Paulo Freire (2014), a autonomia dos sujeitos ocorre pelas dimensões:
política, ideologia, poder, estética, ética, moral, que para o autor constituem-se como
linhas invisíveis que conduzem a atitude de todos os sujeitos na tomada de decisões
15
e a compreensão sobre a sua inserção no mundo. Para o autor, o desenvolvimento
da autonomia e emancipação, consiste em um caminho de realização de justiça
entre os homens, por meio da estética, na construção de um olhar estético à
formação de professores, em prol da possibilidade de intervenção dos sujeitos.
A dimensão estética raramente é contemplada e, na pesquisa, é pouco
estudada. Neste viés, o presente trabalho, elege a dimensão estética com o objetivo
de compreender a importância da dimensão da Estética na Educação nos processos
formativos no Curso de Pedagogia, visando o desenvolvimento da autonomia e
emancipação dos sujeitos.
A realização desse estudo justifica-se pelo fato de que a dimensão da estética
e da Educação Estética tem sido pouco estudada, apresentando-se como uma
lacuna no estudo sobre os processos formativos no Curso de Pedagogia, no Ensino
Superior. Compreender a importância da Educação Estética nos processos
formativos no Curso de Pedagogia, visando o desenvolvimento da autonomia dos
sujeitos, faz parte do trabalho do aluno em buscar estratégias para ser autor do seu
processo de formativo.
Propõe-se uma reflexão sobre os conceitos de estética em Adorno, Schiller,
Freire e Perissé, contemplando o papel educativo do professor como fundamental na
construção de valores estéticos e éticos pelos alunos, visando à consciência crítica
de sua atuação como cidadão, nos Cursos de Graduação em Pedagogia.
As narrativas discentes sobre a experiência da participação na “Colcha de
Retalhos” é o material a ser analisado, com enfoque hermenêutico na perspectiva de
Gadamer (2000). No capítulo 3, descrevo como os dados foram coletados, a
organização e análise dos dados. Com possibilidade de compreensão dos sentidos
construção dos significados atribuídos pelos discentes sobre o contar as
experiências vividas.
A organização deste estudo terá a seguinte estrutura: no primeiro capítulo, a
narrativa autobiográfica escrita, como trajetória pessoal profissional e acadêmica
(pesquisa-formação). A narrativa escrita é transformada em um registro da própria
trajetória pessoal e profissional, que concede analisar e aprofundar os momentos de
um processo de autoformação, do individual construído no coletivo, teorizando como
autoria desta pesquisa. No segundo capítulo, aborda-se o conceito de Educação
Estética e a prática docente, bem como analisar a formação profissional no campo
da educação, visando à humanização do sujeito.
16
No terceiro capítulo, apresentam-se as análises das narrativas e suas
categorias das dimensões estéticas. Assim busca-se a compreensão dos conceitos
de autonomia, emancipação, processo formativo, Educação Estética e dimensões
estéticas, a partir da “Colcha de Retalhos”, como sendo um dos potenciais para
estabelecer a humanização do sujeito.
17
Há muito tempo que eu saí de casa Há muito tempo que eu caí na estrada Há muito tempo que eu estou na vida
Foi assim que eu quis, e assim eu sou feliz (Caminhos do Coração – Gonzaguinha)
18
1 “METÁFORA DA METAMORFOSE”: UMA CONTEXTUALIZAÇÃO DO ESTUDO
UM ENCONTRO DE SI ENTRE MUDANÇAS E TRANSFORMAÇÕES
a consciência nasce quando interpretamos um objeto com o nosso sentido autobiográfico, a nossa identidade e a nossa capacidade de anteciparmos o que há de vir. (JOSSO, 2002, p. 8)
Este capítulo resgata o processo (auto) formativo da pesquisadora, como um
momento de encontro consigo e com a metáfora da metamorfose por meio da
narrativa da história de vida, participando da metodologia e epistemologia da
“Colcha de Retalhos”, desenvolvida por Berkenbrock-Rosito (2014), dentro da
abordagem da pesquisa (Auto) Biográfica. Este material (auto) biográfico foi
produzido quando participei da disciplina “Fundamentos da Educação Estética”,
como aluna especial (ouvinte) no segundo semestre de 2013, no Programa de
Mestrado em Educação, na Universidade Cidade de São Paulo, onde vivenciei a
proposta da “Colcha de Retalhos” que me proporcionou um olhar para a Educação
Estética nos processos formativos do professor-pesquisador.
A narrativa escrita, pictográfica e oral é fonte documental, que permite
pesquisar momentos de um processo de autoformação do indivíduo construído no
coletivo, assim como compreendê-los e teorizá-los como fonte de autoria desta
pesquisa. É material empírico, a ser investigado, transformado em conhecimento,
como abordado por Berkenbrock-Rosito (2014). Apresenta-se o enfoque
hermenêutico, na perspectiva de Gadamer (2000), que fundamenta a compreensão
filosófica da história de vida da pesquisadora.
Ao final apresenta-se a fundamentação teórico-prática da proposta
metodológica e epistemológica da “Colcha de Retalhos”, desenvolvida por
Berkenbrock-Rosito, desde 2001, como possibilidade de intervenção nos processos
formativos visando as possibilidades e limites de desenvolvimento da autonomia e
emancipação dos sujeitos no Curso de Pedagogia.
1.1 O casulo: a narrativa escrita como um momento de olhar para si
O passado não reconhece seu lugar: ele está sempre presente. QUINTANA (2006, p. 14)
19
Nasci no dia 3 de outubro de 1985, primeira filha e a segunda neta, mas de
um relacionamento conflituoso, com uma gravidez não planejada, logo na fase inicial
de namoro dos meus pais e com uma família maternal rígida com regras, imposições
e disciplina.
Momento em que apesar de ser apenas um bebê, já vivia em situações de
luta pela sobrevivência. De um lado uma família paternal que acolheu e do outro a
família maternal que expulsou a recém-mãe do seu lar, pois para meus avós ela
havia infringido as regras da casa e era inadmissível ser mãe aos 17 anos para 18
anos de idade, teria que casar e arcar com as consequências.
Nesse período, minha mãe que cursava o curso de Matemática na
Universidade, teve que trancá-lo e meu pai que fazia o mesmo curso, por sua vez
também, para que pudessem transformar suas vidas, trabalhando e cuidando da
filha.
Os dois, então, passaram a morar na casa dos fundos de minha avó paterna,
a avó Rosa, pelo que foi relatado durante essa fase, momentos de grandes
incertezas cercavam os dois. Essas lembranças são de situações que fazem parte
da história de vida familiar, mas que durante o tempo foi contada e recontada até
minha fase de adolescência.
Nesse cenário tumultuado, passou-se cerca de um ano e meus avós
maternos decidiram se reconciliaram com minha mãe. Foi a partir daqui que se
iniciava uma nova fase, pois agora o meu lar passava a ser a casa dos meus avós
maternos, ficando sob seus cuidados. Este foi um momento de ruptura entre mãe e
filha, com momentos de visitas, que passaram a ser cada vez mais espaçadas.
Aos dois anos de idade, houve o divórcio de meus pais e isso fez com que
minha mãe retornasse a morar com meus avós, mas estes não esperaram a nova
notícia que ela trazia e foram surpreendidos por uma nova gravidez, minha irmã.
Nesse turbilhão de emoções, conflitos e sentimentos, as decisões eram
tomadas de forma impulsiva e totalmente intolerantes, pois logo minha mãe decidiu
que iria morar sozinha, grávida, mas que eu ficaria na casa dos meus avós, pois não
teria condições financeiras para cuidar de duas crianças pequenas.
Assim, passei a morar com meus avós maternos definitivamente. Durante
minha infância, esses relatos foram sendo contados, mas não sabia exatamente, em
nenhum momento, o que de fato ou ideia meus pais tinham a respeito de querer,
enfim, só ouvia e crescia.
20
Durante toda a minha infância, tive uma educação rígida, disciplinada e
autoritária, em que tudo deveria sempre sair de acordo com o planejado. Lembro-me
que desde pequena minha avó cuidava da casa e fazia sempre deliciosas comidas,
meu avô sempre trabalhador, era um vendedor exemplar, ambos pararam de
estudar no antigo ginásio, no quarto ano e sempre faziam questão de lembrar.
Já frequentando a pré-escola, lembro-me dos momentos de arrumar os
materiais escolares na mochila (caderno, estojo e lápis de cor) e a lancheira com
limonada e um pão de forma recheado. Desta fase, consigo lembrar até do gosto do
lanche e do cheiro do ambiente da pré-escola.
Aos quatro anos de idade comecei a ler e escrever, já que brincadeiras de
correr, pular, ou movimentadas eram deixadas de lado, para que eu pudesse
desenvolver mais a leitura e a escrita. Escrevia inúmeras palavras e ficava feliz com
os elogios que recebia, minha avó “coruja”, como sempre, reforçava ainda mais esse
processo de aprendizagem, tanto que, ao chegar em casa, depois da aula, à noite,
ela sempre ditava várias palavras e depois corrigia.
Nessa época, tínhamos um dicionário em casa, daqueles grandes, com quase
20 cm de altura, que ela chamava de “pai dos burros” e sempre que eu errava
alguma palavra ou a desconhecesse, dizia que deveria consultá-lo. Recordo-me até
hoje, do cheiro, da cor amarelada do papel e do peso do dicionário.
Minha avó materna sempre incentivou a pintura de desenhos, caça-palavras e
caligrafia, consequentemente tinha muitos cadernos, lápis de colorir, enfim, tudo que
fosse possível uma criança ser cercada pela educação formal. Lembro que era um
orgulho para a família, pois tão cedo já sabia ler e era rodeada de livros de contos
de fadas.
Minha tia materna, neste período, estava deixando a profissão de professora,
mas sempre levava as atividades pedagógicas que realizava com os alunos da
Educação Infantil, para que eu realizasse também em casa.
Sendo assim, posso dizer que tive uma infância rodeada de familiares
preocupados com a educação formal, de tal modo que, ao crescer, não repetisse a
história de minha mãe ou a deles.
Aos seis anos de idade, ainda não era possível ingressar no Ensino
Fundamental I, no entanto, meu avô, com muita insistência com a Secretaria da
Escola e com a Direção, levou os meus cadernos e mostrou o desempenho que eu
tinha na Educação Infantil. Todos os dias, ele levava-me até a escola, para saber se
21
tínhamos novidade do processo de ingresso. Até que finalmente, foi possível e a
vaga foi disponibilizada.
Lembro-me como se fosse hoje de arrumar a mochila, lancheira e os
cadernos todos encapados com papel camurça e figura da personagem infantil da
época “moranguinho”. Minha primeira professora foi a senhora Rosa, sempre muito
carinhosa, acolhedora, encantadora, regrada e disciplinada.
Desde aquela época, eu me sentia feliz em aprender e descobrir todos os
dias algo novo. Curiosa em aprender, era cercada de enciclopédias e livros de
histórias infantis. As descobertas do ambiente escolar eram deslumbrantes, aguçava
ainda mais minha vontade de aprender o que era desconhecido.
Os dias em que havia a chamada “aula de leitura” eram fantásticos. Entrar
naquela biblioteca preparada para que pudéssemos pegar os livros que nos
interessava e ficar horas folheando, nos permitia viajar pelo mundo das letras,
encantamentos e imaginação.
O prazer e o gosto pelo ambiente escolar, de aprender e fazer parte desse
contexto, passaram a permear minha rotina e não havia um dia sequer que me
ausentava da escola, sempre no horário e em dia com as tarefas escolares.
Recordo-me de momentos em que era necessário chegar da escola, almoçar e fazer
as tarefas designadas pelos professores, as denominadas lições de casa.
A minha brincadeira predileta na época era de escola e eu adorava ser a
professora. Lembro que fazia atividades em folhas de sulfite, folha de papel almaço
e já com dez anos de idade, com o advento do computador e da conexão com a
internet, fazia impressão de desenhos para colorir. Quando era possível, brincava
com duas amigas do bairro, mas também brincava com meus primos.
Cresci envolvida pela educação e pelo conhecimento, assim logo na infância,
aprendi as relações sociais e até profissionais. Em um bairro simples, da zona leste
de São Paulo, morava com meus avós maternos, não por opção, mas um ato de
submissão e decorrente de situações vividas pelo divórcio dos meus pais.
Todo o meu processo formativo na educação básica até o Ensino Médio,
sempre foi regrado e vigiado de modo que as minhas notas sempre fossem as mais
altas, mas pude ter uma educação privilegiada, pois sempre fui amparada e estudei
na melhor escola da rede pública estadual de outra região.
22
Esse processo de formação pessoal e educacional fez com que, ao longo da
minha vida, escolhesse ser professora, no entanto, por contratempos, essa não foi
minha primeira profissão exercida.
Aos quinze anos tomei a decisão que iria morar com meu pai, pois apesar de
ter avós sempre acolhedores, fazendo o melhor, precisava dar um grito de liberdade
para ter uma nova visão de mundo, não apenas por diversão, mas também pela
busca do equilíbrio entre a vida pessoal, escolar e amizades. O que pela minha
família paterna era reprimido, não podia ter amizades e as duas amigas que citei
eram porque brincavam na minha casa e em horário determinado.
Enfim, outro momento de muito conflito e até de atos violentos, mas que ao
fim, fui morar com meu pai e minha madrasta.
Nesse intervalo, aos dezessete anos, conclui o Ensino Médio e minha escolha
do curso para o Ensino Superior não foi ao encontro do que meu pai gostaria, pois
sempre quis fazer Pedagogia, mas ele dizia que essa área não era reconhecida e
principalmente não era bem remunerada. Preocupado com meu futuro, ele sempre
me questionava como sobreviveria com o pequeno salário, comparado à melhor
remuneração que poderia obter na área de Tecnologia de Informação e Sistemas.
Ingressei aos 17 anos na primeira universidade e conceituada para fazer
Análises e Desenvolvimento de Sistemas. Nesse momento, fazia um ano que estava
namorando com o meu atual marido, para o qual liguei para que fosse me buscar,
pois não aguentava ficar naquele lugar. Depois, ao chegar em casa, não encontrei
meu pai, que sempre chegava após às 23h do trabalho. Assim que ele chegou,
contei que não gostaria de fazer aquele curso, já que não me identificava.
Meu pai então disse que trancaria a matrícula e somente retornaria quando eu
escolhesse de fato o que queria, contudo se eu optasse pela Pedagogia teria que
começar a trabalhar e pagar. Um mês depois, ele começou a levar-me na empresa
que trabalhava aos finais de semana como free lancer e ajudava a programar
computadores.
Em nossa sociedade contemporânea, vivemos uma realidade de consumo e
de padrões a serem seguidos. Neste contexto, com uma ruptura familiar e a
necessidade de ter uma formação e profissão, minha atuação deu-se na área de
Tecnologia da Informação e Sistemas, área de renome, valor e prestígio, foi então,
que iniciei minha carreira profissional, aos 17 anos de idade.
23
Fui contratada para trabalhar na empresa e iniciei minha atuação profissional
na área de Tecnologia da Informação e Sistemas, fazendo parte de projetos e
manutenção de sistemas do Banco Santander, por uma consultoria.
É claro que no início tudo era novidade e gostava do que fazia, mas não me
identificava. Foi então, que tivemos que implementar a gestão da qualidade de
sistemas com processos, procedimentos e metodologias dos projetos, logo então,
me encontrei, pois envolvia um relacionamento com diversas áreas, demais
departamentos e treinamento.
Paralelamente, o relacionamento com minha madrasta não estava sendo
bom. Sendo assim, resolvi sair de casa e numa decisão abrupta e rápida, numa
noite, quando voltei do trabalho, entrei peguei tudo que pude e fui embora com o
meu carro, isso aos dezoito anos de idade. Passei a morar com uma amiga, dividir o
aluguel da casa e todas as despesas. Neste momento, mais do que nunca,
precisava continuar trabalhando e atuando na área de tecnologia e sistemas, pois
precisaria manter-me financeiramente, garantindo minha independência e minha
paz.
Assim, permaneci trabalhando intensamente, de domingo a domingo, aos
feriados e sem horários determinados. Foram três anos de muito aprendizado,
crescimento e compreensão do que era atuar em empresas, de fato aprendi o que
era trabalhar. Durante essa fase, não cursava nenhuma universidade, apenas
realizei cursos específicos e determinados da área.
Com dezenove anos, recebi uma proposta de uma empresa de grande porte e
ainda continuaria atuando com o Banco Santander, a proposta foi promissora e em
consenso com o diretor da empresa, resolvi embarcar em novos desafios.
Em 2005, iniciei o curso de Auditoria e Controle de Qualidade nas Empresas
(hoje denominado Gestão da Qualidade) que vinha ao encontro do meu trabalho no
setor de qualidade, na Universidade Cidade de São Paulo.
Com quase vinte anos, um salário bom para alguém com essa idade, tempo
de experiência e formação foram os alicerces para alavancar projetos pessoais.
Tendo uma renda melhor, pude retomar os estudos, conciliando com o trabalho.
Assim, todos os dias uma jornada de trabalho intensa e à noite ia à universidade, um
trajeto de quase uma hora, pois a empresa era localizada próxima a Consolação, no
centro da cidade e a Universidade na zona leste, na Vila Carrão. Apesar de parecer
24
bem intenso e cansativo, foram momentos de entusiasmo e alegria, só que,
novamente, pelo excesso de trabalho, tive que trancar o curso.
Após dois anos nessa empresa, decidi atuar em outra consultoria, porém não
foi de acordo com o que planejei e resolvi sair. Depois de quinze dias, recebi uma
ligação com uma proposta de trabalho, na Vila Olímpia, agendei a entrevista e sai de
lá com mais duas entrevistas agendadas no cliente que atuaria. Compareci em todas
as entrevistas e fui aprovada, a empresa agora era a TAM Linhas Áreas, em 2006.
Fiquei muito contente, pois sempre almejamos o crescimento e ascensão
profissional. Assim, pude retomar meu curso na Universidade Cidade de São Paulo
e depois de um ano e meio, pude concluí-lo, sendo minha primeira graduação.
Em 2007, a empresa TAM Linhas Áreas realizou um processo de outsourcing
(terceirização) do setor de sistemas, foi quando fui atuar na empresa IBM do Brasil,
como líder de equipe do setor de qualidade.
Finalmente, em 2009, consegui ingressar no curso de Pedagogia. Na
graduação, a minha relação com o conhecimento sempre foi bastante intensa,
realizei o curso que sempre quis, dessa forma sempre fui fascinada pela pesquisa,
pela leitura e pela prática reflexiva. Os meus professores sempre procuravam buscar
dentro de nós essa vocação, dom ou a vontade de sermos docentes para nossa
formação em um ensino para compreensão, de modo que nos desenvolvêssemos
professores capazes de serem críticos e reflexivos para formar nossos futuros
alunos cidadãos.
Todas as produções de textos, sínteses e resenhas sempre foram baseadas
em leituras em autores importantes para a Educação de acordo com a área de
conhecimentos e a minha relação de autoria, durante as elaborações era de
fundamental importância fazer suas relações, comparações e análises entre as
ideias dos autores e minha compreensão a respeito daquelas questões.
Participávamos de vários projetos para alinhar a teoria com a prática escolar,
com vistas a garantir uma visão ampla, para que quando fôssemos a campo, ou
seja, na sala de aula, em estágios ou regência, já possuiríamos conhecimentos
prévios para observação e reflexão posterior.
Aproveitei todas as aulas que tive na universidade, sem exceção, um dos
módulos fascinantes era o Eixo Comum quando se reunia os alunos de todos os
cursos de Licenciatura para discussão de assuntos comuns da prática, ação e
didática docentes.
25
Realizei as atividades acadêmicas complementares de modo que pudesse
ampliar meu repertório além da sala de aula e sempre buscando aprimorar os
conhecimentos e minha profissão futura.
As minhas relações com os professores sempre foram permeadas de muita
dinâmica, envolvimento e trocas de experiências, de modo que pudesse ampliar
meus conhecimentos na área de atuação, bem como para que pudéssemos criar
projetos integrados para a Universidade.
Também atuei como aluna tutora no curso de Pedagogia, quando podia
acompanhar os alunos com dificuldades no curso e direcionar os alunos com a
Coordenação do Curso e a Tutora da Pedagogia.
Neste contexto, compreendo que tive uma relação de autoria no Ensino
Superior, já que ao longo da trajetória do curso, estava bastante envolvida com os
estudos e fui muito ativa em eventos, como Semana da Educação e atividades
acadêmicas, como apresentação de trabalho nas DREs procurava me fazer
presente. Posso afirmar que fui uma aluna dedicada e comprometida durante os três
anos da Licenciatura em Pedagogia, tanto em sala, como na participação em
eventos e cursos extracurriculares, garantindo uma visão global do conhecimento
científico e social para ser docente.
A partir dessas reflexões, foi possível perceber que apesar de no início a
educação familiar ser tradicional, autoritária, havia um sujeito que gritava dentro de
mim, para que pudesse ser autor de sua história, exercendo sua autonomia e
emancipando-se.
Vale destacar aqui os três momentos que marcaram a minha formação no
Ensino Superior. O primeiro momento foi quando pude ampliar meu conhecimento
do mundo, por meio das visitas programadas a Pinacoteca, Museu da Língua
Portuguesa, Museu Catavento e o Museu da Estação Ciência. Conhecer estes
espaços e explorá-los permitiu que eu pudesse perceber que muitas vezes nos
limitamos ao consumo e passeios apenas influenciados pela sociedade, mas que
com o acesso ao mundo acadêmico, foi possível compreender que existem novos
espaços de aprendizado e de saber. Estas visitas marcaram uma nova visão de
mundo, pois pude compreender a educação como parte da vida pessoal, não apesar
profissional e que ambas caminham juntos. A partir do momento que se tem esse
acesso, posso transformar o conhecimento ingênuo numa consciência crítica e uma
nova leitura de mundo. Assim, visitas deste tipo passaram a fazer parte da minha
26
rotina de vida e social, não ficando apenas restritas a museus, mas também a outros
locais culturais e de arte, de modo a exercer plenamente minha ação no processo de
construção de conhecimento, o que caracterizaria uma relação de autoria.
Um segundo momento marcante foi o acesso às escolas para realização dos
estágios. O que, aparentemente, era algo simples, foi um momento muito
importante. Inicialmente parecia não haver complicações, pois bastava obter as
documentações, escolher a escola e fazer o estágio supervisionado, porém nas
duas primeiras escolas que compareci na região em que moro, o acesso foi negado.
A direção informava que não estavam aceitando estagiárias no momento, mesmo
sendo apenas para observação, outra informou que já havia estagiárias na escola e
a procura era grande, que deveria comparecer em outra ocasião. Assim, uma
sensação de desprezo e de rejeição veio à tona, como se fôssemos pessoas que
iriam vigiar e denunciar e que não estávamos ali por um motivo de aprendizado e
formação, para contribuir para uma educação de qualidade. Desta forma, por meio
deste processo de reflexão sobre a realidade posta à minha frente, acredito ter
assumido uma posição de autoria com relação ao conhecimento.
No entanto, não desisti e fui à busca de outras escolas, que abriram as portas
com prazer e entusiasmo, com dizeres de que ficavam felizes por existirem jovens
em formação para licenciaturas e que acreditavam na educação. Nesse sentido,
percebemos ainda uma rejeição da profissão professor, mas que por outro lado,
dependerá muito em que contexto a escola está e até mesmo das pessoas que
ocupam aquele espaço, se de fato, praticam a educação ou simplesmente a
reproduzem.
Por fim, o terceiro momento marcante foi quando ao acessar a escola, pude
ter contato com práticas pedagógicas nas salas de aulas das professoras diferentes
dos discursos e da visão escolar. As escolas se dizem interacionistas, construtivistas
e humanistas, mas na realidade os alunos e professores ainda permanecem com
uma prática tradicional, aliada ao uso do giz e da lousa, centrada na transmissão de
um conteúdo, tenho o professor como detentor do saber. Sendo assim, cada vez
mais pude transformar a visão inicial da educação como um ambiente que tem como
função social, o aprendizado e a formação de cidadãos, mas que ainda permanecem
em sua maioria com práticas arcaicas.
Neste contexto, para minha formação este foi o ponto crucial de reflexão, pois
precisava buscar compreender como e por que metodologias e concepções tão
27
tradicionais ainda persistiam nos dias atuais, por que os professores são resistentes
às mudanças, às inovações, às novas ideias, à quebra de paradigmas, às
tecnologias e principalmente por que não colocavam em prática o ensino de forma
humanizada. Novamente, fui levada a conflitantes de reflexões, buscando entender
o contexto educacional em que vivemos, o que não se consegue apenas com
leituras e discussões na universidade, o que me mostra mais um momento de
autoria no Ensino Superior.
Com isso, a minha transformação foi ainda maior, pois de fato, com o acesso
ao mundo que tive, apesar da rejeição que senti e das práticas vivenciadas, não
perdi a vontade de fazer a diferença no ambiente educacional e fui buscar cada vez
mais conhecimento, fazendo cursos extras, participando de seminários e
congressos, a fim de perceber o mundo em que estou inserida e diante de tantas
possibilidades, a vontade de conhecer, mudar e transformar a visão de ser professor
permanecia em mim.
Esse processo formativo vem ao encontro do que afirma Schiller (2002), em
sua concepção de estética, que significa o equilíbrio entre o sensível e a razão.
Assim, para o mesmo, tal conceito denota um jogo estético, no qual ocorre a
reflexão de um caminho para se chegar ao conhecimento por meio da arte. Para que
isto ocorra, faz-se necessária uma Educação Estética, que é capaz de provocar
mudanças no ser humano, de forma que este aprenda a conviver com a estética e
consigo mesmo.
Organizando o quadro linha da vida, que consiste no relato autobiográfico
aponto quatro momentos charneiras que são os seguintes:
Categorias de Espaço e Tempo
2000/2003 2008 2009 2014
Vida Familiar Rupturas familiares
Vida Acadêmica
Autoconhecimento e do mundo
Vida Profissional
Depressão
Pessoas
Marido
Livros/ Filmes/ Músicas
Tudo ou Nada – Roberto Shinyashiki
Quadro 1: Quadro Linha da Vida da pesquisadora Fonte: Elaborado pela pesquisadora
28
Com os momentos de rupturas familiares em 2000, a busca pela liberdade e
pela autonomia, a vontade de alçar novos voos, de conhecer o mundo, outras
relações sociais e pessoas, fazia com que gritasse dentro de mim um ser que queria
emancipar-se. Afinal havia sido reprimida pela educação rígida dos avós maternos,
pois no período em que percebiam o meu amadurecimento de criança para
adolescência, o que de fato queriam era que eu fosse apenas uma jovem formada
para depois casar, ter filhos e não ser dona de minhas escolhas e decisões.
Nesse momento, aprendi que precisamos buscar de fato o que nos move
como ser humano, como sujeitos que somos em nossa história, não apenas nos
deixar levar pelas decisões alheias e ser submissa a elas, mas ter autonomia, com
uma consciência crítica, de modo, que perceba que consequências podem vir, mas
que se você tem um pensamento crítico e reflexivo diante das circunstâncias, o
melhor sempre são as suas escolhas e decisões tomadas por você.
Neste processo, passei então a morar na casa do meu pai, juntamente com a
minha madrasta, momentos que, por dois anos, foram de uma relação sempre
baseada no diálogo, conversa e autêntica. No entanto, em 2003, uma explosão de
sentimentos, emoções e aflições, já não deixavam as relações familiares
permanecerem as mesmas. Assim, estabeleceu-se uma “guerra de egos” e “de
papéis”, cada qual querendo defender o seu lugar.
Com essa luta intensiva, sai de casa à noite em tempo recorde, em cinco
minutos, consegui tirar quase todos os meus pertences pessoais, sendo os mais
importantes, coloquei tudo dentro do carro em sacos plásticos e fui embora, sem
falar, sem dar satisfação, apenas iniciando uma trajetória que não teria mais volta.
Nesse momento, novamente surgiu um aprendizado, posto que diante de
determinadas situações precisamos transformar a realidade, do contrário ficamos
imersos em relações em que ao invés de amadurecer, tornam-se prisões e não
conseguimos ter nossos voos em busca da satisfação e realização pessoal. Desta
maneira, fui à busca do meu lar, passei a viver com uma amiga, conquistando minha
independência para depois, com o passar do tempo, morar junto com meu atual
marido. Durante toda essa trajetória de vida, esses momentos mais marcantes,
puderam fazer parte da minha constituição de identidade pessoal e profissional.
Nesse período, tudo o que mais dava sentido e significado para continuar
acreditar que tudo poderia ser melhor e diferente, foi dedicar-me exclusivamente ao
trabalho, na área de Tecnologia. Então, passava horas e horas, apenas no local de
29
trabalho, pois era o que mais, nesse momento, me trazia realização e
pertencimento.
No entanto, não percebi que apenas vivendo uma parte do que nos cerca na
vida, deixando menos tempo para a vida pessoal, estava adoecendo. Foi então que
no final do ano de 2008, apesar de todo o clima de renovação, esperança,
comemorações e festas, percebi que não estava sentindo-me parte desse momento
e em janeiro, logo nos primeiros dias do ano, adoeci em uma depressão inicial e
diagnosticada.
A depressão foi um momento de aprendizagem e houve uma mudança de
referenciais sobre a vida, um novo olhar diante da forma de viver, de enxergar a vida
e sua totalidade. De certa forma, ela se constituiu numa experiência estética, pois
agora compreendo que o sofrimento contribui para uma ampliação da consciência
estética, por meio da busca de olhar para nós e para o outro, que pode ser
reafirmada com May (1992), conforme o trecho abaixo que traduz a minha
compreensão da crise existencial vivida:
Eu continuo muito grato pelo assim chamado colapso nervoso que sofri quando tinha vinte e um anos. [...] Esse acontecimento forçou-me a “acordar” para vida, a sentir, a não passar pela vida sonambulicamente, a não permitir que meus modelos neuróticos obstruíssem minha apreciação da beleza. Se não tivesse sido por causa de meu caos interior, eu teria, provavelmente pensado: “Bem, esses campos de papoulas vermelhas são bonitos,” e teria prosseguido em meu caminho, sem fazer caso delas. Mas o que aconteceu foi que senti uma afinidade com aquelas papoulas em minha solidão; apanhei uma delas e a estudei com ternura. Senti uma afinidade com toda a natureza, com o universo das madrugadas e das estrelas; eu tinha sido sacudido para fora de minha antiga rotina. (MAY, 1992, p. 162).
Um momento singular que apenas quem passa sabe exatamente quais são
os pensamentos que nos atormentam, as incertezas, os choros, o isolamento, o
escuro, os pensamentos acelerados e uma ansiedade, compreendida também como
excesso de futuro, que não havia como controlar, mas que o acompanhamento
médico e terapia comportamental auxiliaram e continuam auxiliando até o momento.
Neste contexto, deixei o trabalho da IBM para buscar o meu eu interior, os
sentidos e transformação que preciso. Com o apoio, incentivo e até mesmo as
“broncas” de meu marido, para ver diferente a vida, refleti sobre o que, de fato,
poderia fazer ver o mundo novamente claro, sair do casulo e fazer um voo para
lindos lugares, assim deu-se o meu ingresso na Pedagogia em 2009.
30
Assim, o trabalho passou a tomar outro papel em minha vida, pois o que
antes era fuga no trabalho na tecnologia, agora, era realizado com prazer, amor,
alegria, entusiasmo, o que me fez perceber que antes eu apenas sobrevivia, e que
então conseguia viver de forma plena.
Durante o curso, comecei a observar novas situações, ter visões de mundo
diferente, novos sentidos de vida, principalmente nas aulas de Psicologia da
educação, História da educação, por meio das quais pude emergir e transformar a
minha vida, com o autoconhecimento e a leitura de um mundo que nos cerca.
Foram três anos intensivos de tratamento e acompanhamento, mas que fez
despertar o que estava há muito tempo guardado na memória e reprimido pela vida,
buscar minha formação como professora, que antes fora julgada pelo pai como uma
profissão nada promissora. Assim, concretizei meu sonho e conclui minha segunda
graduação.
Contudo, aqui também se faz presente uma discussão de concepção na qual
me vi engendrada, pois o que passei a questionar significava ser bem sucedida, se
seria apenas o acúmulo de riquezas ou se seria realizar com prazer determinada
atividade, de forma que tivesse sentido para sua vida.
Peres (2004) contribui para esta discussão apontando que
tecemos uma rede de imagens fomentadoras de nossas representações e vivências acadêmicas. [...] E é dessa configuração que decorre o nosso poder de recriar o mundo diuturnamente, pois o imaginário é, consequentemente, fundamental nas criações do pensar humano. (PERES, 2004, p. 10).
Neste viés, podemos perceber como a vida pessoal, profissional e acadêmica
são interligadas, não há como segmentar, o que é possível perceber que antes de
ser racional, também somos sensíveis. “A vida precisa do vazio: a lagarta dorme
num vazio chamado casulo até se transformar em borboleta”. (ALVES, 2003, p. 102)
Ao assistir ao filme Colcha de Retalhos, produzido nos Estados Unidos e
dirigido por Jocelyn Mohouse, narro as cenas que me afetaram e impactaram como
espectadora, principalmente diante da história de vida da personagem e as
metáforas que aparecem nas cenas do filme como forma de construção e
desconstrução do ser humano.
Assim como destaca Berkenbrock-Rosito (2014a), cada metáfora tem um
significado que pode ser utilizada para representar o trajeto formativo na escola e
31
fora dela de cada participante, sendo necessário imergir nos retalhos da vida para
conseguir narrar sua própria história.
A primeira cena é bastante impactante, pois apresenta um grupo de mulheres
confeccionando uma colcha para presentear a protagonista (Finn) e o tema
escolhido por todas elas é “onde mora o amor”. No decorrer do filme, Finn fica
conhecendo as histórias e segredos de cada uma daquelas senhoras, e isto serve
para que ela vá, aos poucos, refletindo sobre o que realmente quer de sua vida.
Esse momento pode servir para uma analogia para algumas ocasiões da
minha trajetória de vida, como quando estive em depressão, bem como os
momentos em que cheguei à fase adulta e quis identificar quais são os reais
objetivos da vida, como estou, quem sou e como vou conduzir a minha vida daqui
para frente. Um destes momentos também foi em 2014, quando decidi realizar o
processo seletivo para o ingresso ao Mestrado em Educação. Após, ser aluna
especial na disciplina de “Fundamentações da Estética”, no segundo semestre de
2013.
No momento atual em que me encontro, 4º semestre do Mestrado, perto da
conclusão desta pesquisa, percebo com quantos “nós” ainda preciso lidar, mas que
muitas vezes não tenho como desatá-los de um dia para o outro, sendo necessário
enfrentar as situações e buscar soluções de forma processual, para atingir o real
objetivo, compreendendo-se de forma singular.
Dessa forma, fazendo a leitura da cena, considero que a todo o momento
preciso reanalisar, avaliar, refletir e agir diante das situações, para que possamos
sempre ter em mente nossos ideais de vida. Nesse sentido, vejo que somos
responsáveis por fazer e bordar a nossa colcha de retalhos, pois assim não seremos
coadjuvantes, mas sim protagonistas da nossa própria história de vida.
A segunda cena impactante é constituída do desenrolar de um carretel de
linha, fazendo uma comparação entre este procedimento e a vida do ser humano: a
vida se desenrola aos poucos, em uma sequência, exatamente da mesma forma que
o rolo de linha. Ao pensar nesta imagem, remeto-me ao analisar os momentos
charneiras que tive em minha vida, no qual durante os anos de 2014 e 2015, os
pensamentos e ações estão voltados ao Mestrado.
É perceptível um momento de reclusão, um momento de isolamento diante de
demais áreas, no entanto, com um olhar aguçado e estético, que possibilitou a
identificação do belo ou do feio. Compreendo, ao longo da minha trajetória e história
32
de vida, como é fascinante perceber e analisar, principalmente refletir com o uso da
narrativa, pois o autoconhecimento e a autoavaliação acontecem em um processo
contínuo. Sendo assim, vejo que a aprendizagem só ocorre quando é experimentada
e vivenciada, de modo que haja crescimento e maturidade do ser humano, bem
como entender que para tudo há o tempo certo.
A terceira cena impactante é quando as mulheres passam a contar seus
segredos, sendo que as primeiras a contarem são a tia e a avó, Jaci e Gladi. Ao
encontrar-se desesperada pelo fato de seu marido estar à beira da morte, acaba
envolvendo-se, com o marido de Gladi. Na mesma cena em que Gladi descobre a
traição do marido com a irmã, há construção de uma metáfora: ela quebra tudo o
que vê pela frente, recolhe todos os cacos e faz obras de arte nas paredes de sua
casa.
Muitas vezes, nos deparamos com situações como essa relatada, o caso de
descontruir tudo o que há e construir um novo caminho. Enfrentam-se situações de
querer “jogar tudo para o alto”, relações cotidianas que nos remetem à vontade de
agir como a personagem Gladi. Quando me deparo com situações como essa,
procuro recolher todos os “por quês” para uma reflexão, diante do contexto, tempo e
espaço em que estou, para que possa amenizar a minha dor. Exatamente como fiz
quando entrei em depressão, busquei descobrir o que me levava àquela situação.
A quarta cena impactante é quando acontece um vendaval que aparece como
uma metáfora das ideias da moça, cuja cabeça está confusa, principalmente depois
da conversa com sua mãe, que dizia que tudo o que a mãe lhe ensinara até agora
estava errado, ela afirmava que estava enganada. Depois do vendaval tudo ficou
mais claro para Finn, e também para outras pessoas.
Esta é uma situação bastante comum em nossas vidas, quando não sabemos
o que acontecerá, ficamos confusos com as nossas ideias, não sabemos como
começar ou que atitude tomar perante uma situação, mas apenas com o tempo e
com as nossas atitudes é que fazemos com que aos poucos, tudo vai acontecendo
da melhor forma. Em vários momentos de minha vida, com tantas mudanças de
casa, ora vivendo com meus avós maternos, ora com meu pai, assim como minha
saída de casa, parecia que realmente havia passado um vendaval, em que tudo
havia retirado de seu lugar e precisava ser recolocado, ou seja, promover novos
significados para cada situação.
33
1.1.1 Narrativa Pictórica: um outro modo de olhar para si
Durante a construção da “Colcha de Retalhos”, uma reflexão individual ocorre
de forma interna, fazendo com possa ver sua história de vida tecida em retalho, mas
que impacta fortemente ao fazer a narração coletiva no grupo de pesquisa. De
acordo com Berkenbrock-Rosito (2014) esse momento é a importância de “tomar” a
consciência da ligação pessoal que o pesquisador mantém com seu trabalho de
pesquisa.
Nesse sentido, podemos pensar que de acordo com Paulo Freire auxiliando-
nos na inspiração da compreensão da humanização, um ser humano histórico e
inacabado pode, por meio do processo de conscientização, aprender a pensar a
partir do vivido: retomando a trajetória pessoal e profissional para ampliar o alcance
da Educação Estética aos educadores no desenvolvimento da criatividade como
prática da arte.
Eis que estavas dentro de mim e eu te buscava do lado de fora. Eu, disforme, lançava-me sobre as coisas belas que tu fizeste. Estavas comigo, eu não estava contigo. Mantinham-me longe de ti aquelas coisas que, se não fossem em ti, não existiriam. Chamaste, gritaste, venceste minha surdez. Resplandeceste, brilhaste e ofuscaste minha cegueira. Exalaste teu perfume. Eu o aspirei e suspiro por ti. Eu te provei e agora tenho fome e sede de ti. Tocaste-me e ardi no desejo de tua paz. (AGOSTINHO, 1996, p. 38)
Acredito que todo o exposto aqui pode ser observado melhor na construção
de meu retalho, com suas metáforas e criações representativas de cada questão
envolvida, conforme abaixo.
34
Figura 1: Colcha de retalhos – A transformação de si Fonte: Confeccionada pela pesquisadora
Vale destacar que as histórias narradas de cada retalho individual instigam e
sugerem uma desconstrução e construção da ideia inicial, pois a construção escrita,
a narrativa oral e sua construção pictórica transformam o olhar e leitura da sua
própria história. Ao descrever e relatar a história de vida, podemos perceber os
acontecimentos que tivemos em nossa vida e que nos movem de forma, às vezes,
imperceptível aos nossos olhos.
Neste sentido, é importante refletir sobre o quanto da minha trajetória e
história de vida me constitui como um sujeito social que sou hoje. Como
determinados acontecimentos podem transformar-nos em um ser humano capaz de
ser crítico e reflexivo, diante do que não está dito ou exposto.
Toda a história de vida nos permeia e quando trazemos isso para a narrativa,
vamos percebendo o quanto podemos agir de formas diferentes enquanto
educadores e seres humanos, desde que possamos perceber o que vivemos ou
vivenciamos. É pela experiência que o aprendizado acontece, ressaltando que nada
acontece de maneira isolada, já que estamos inseridos coletivamente, onde uma
ação profissional, por exemplo, afeta diretamente em outras categorias da vida.
Diante da participação da Colcha de Retalhos, busquei como metáfora, algo
que pudesse ser representativo sobre mudanças e transformações, sendo assim,
35
com um estudo e pesquisa no Borboletário do Museu Nacional de História Natural e
da Ciência, pude constatar que a “Metamorfose da Borboleta”, como também
apresentado em imagem pictórica em minha colcha, esta é a metáfora que
representa a minha vida em todos os sentidos.
As borboletas apresentam metamorfose completa, isto é, à medida que vão
se desenvolvendo ocorrem mudanças na forma e na estrutura do corpo, assim como
acontece no processo de construção do conhecimento.
Figura 2: Transformação Fonte: http://www.artflakes.com/en/shop/christian-schloe
A metamorfose é um processo de transformação do seu modo de vida e que
apesar das mudanças, sempre busca a perfeição. Durante a sua fase larva, ela se
alimenta de uma pequena variedade de plantas ou de uma única espécie vegetal.
Este vínculo relativamente à sua planta hospedeira faz com que a área de
distribuição das borboletas seja em parte condicionada pela própria distribuição das
plantas.
A metamorfose, como metáfora da dissertação, apresenta o momento das
mudanças que ocorrem durante o período de realização do curso de Mestrado em
Educação. A cada aula, a cada nova disciplina, a cada reunião com o grupo de
36
pesquisa, novas mudanças ocorrem a fim de estruturar o pensamento e
conhecimento, um processo de metamorfose ocorre na formação profissional do
docente pesquisador.
No momento do casulo, o animal fica em repouso e não se alimenta. Essa
fase pode durar de dias a meses, dependendo da espécie. Nas borboletas, após a
fase de pupa, o casulo se rompe, saindo dele uma borboleta adulta, o imago. Após
sair do casulo, a borboleta aguarda algumas horas até que suas asas endureçam.
Esse momento é representando para mim como um período de alimentar-se
de conhecimento, a busca pelo saber, a realização das disciplinas do mestrado para
a elaboração, reflexão, análise e compreensão dos autores para tecer a escrita em
linhas de sentido e significado.
1.2 A saída do casulo: o sentido e significados dos sujeitos e sua historicidade
A narrativa autobiográfica encontra o seu sentido desde que se compreende
que “nós não fazemos a narrativa de nossa história de vida porque temos uma
história, temos uma história porque fazemos a narrativa da nossa história de vida”.
(DELORY-MOMBERGER, 2009, p. 9).
A narrativa da história de vida de cada sujeito é composta de recortes das
recordações e lembranças de fatos que deixaram marcas e influenciam as tomadas
de decisões dos sujeitos como pessoas e profissionais. Com Josso (1999) e Nóvoa
(1995), podemos refletir sobre a formação plena para o exercício da docência
significa que não é possível limitar esta formação aos aspectos técnicos e
tecnológicos, pois ela não se dá apenas em modalidades formais e no contexto
escolar, pois os professores são pessoas que se vão se formando em seus
diferentes contextos, ao longo da sua vida.
Na produção da narrativa há a possibilidade de se refletir sobre a
profissionalização e a profissão, como indagações sobre: O que é ser professor? O
que é ser um bom professor? Como transformar minha prática? E podemos elencar
diferentes questões sobre a narrativa singular as políticas e práticas de promoção da
igualdade de oportunidades por meio da educação.
Assim, podemos contextualizar que hoje vivemos em uma sociedade em
constante mudança, tanto econômica, quanto política e culturalmente, obrigando-nos
a rever as nossas ideias para mapear as intervenções. As mudanças afetam
37
diretamente a igualdade de oportunidades, uma tendência econômica forte, e a
desigualdade pela fragmentação cultural da população, uma vez que afeta
diretamente o Estado e as chances de mobilidade social e as distinções entre as
diferentes categorias sociais.
Tardif (2008) nos faz refletir sobre três questões que envolvem a
profissionalização do ensino e da formação de professores, são elas: quais são os
saberes profissionais dos professores? Em que e como esses saberes profissionais
se distinguem dos conhecimentos universitários? Quais as relações que deveriam
existir entre os saberes profissionais e os conhecimentos universitários? A fim de
identificar estas respostas é preciso tratar conjuntamente a conjuntura social da
profissionalização, a epistemologia da prática profissional, isto é, a pesquisa para o
ensino e também características da prática de professores.
Sarmento (2009) traz uma abordagem sobre as questões humanas da
profissão docente, principalmente sobre a contação de histórias de professores, por
meio da qual traz reflexões sobre a voz dos professores como base de
conhecimento das suas experiências formativas, prosseguindo numa linha
interacionista simbólica. Demonstra que é possível aprender com as histórias de
vida de professores, da profissão em família, da profissão em contexto quase
informais, da profissão na modalidade profissional, além das aprendizagens com os
pares, da profissão na escola e com as crianças.
De acordo com Sarmento (2009) o “paradigma ecológico”, construção
interativa entre o professor-pessoa e os contextos habitados, precisa ser
considerado diante dos contextos de vida pessoal, partindo das histórias de vida,
para compreender o perfil profissional do docente perante as escolhas, valores,
pensamentos e atitudes que se estabelecem nestas relações e ainda considerar os
papéis sociais em diferentes contextos em que se realizam a sua prática e
interações.
Para que se possa compreender esse processo, a abordagem indicada pela
autora como mais adequada é o acesso à história de vida, sendo utilizada como
recurso metodológico ou para acesso ao conhecimento de experiências de vida e
significado dos atores sociais.
Ao narrar, o sujeito cria sentido às suas experiências prévias, transformando-se essa atribuição de significado em formação [...] e ao mesmo tempo, permite-nos acender ao conhecimento sobre as vidas dos professores.
38
Interessa, aqui, reconhecer o valor que s atores sociais atribuem às suas memórias como interveniente na sua aprendizagem profissional. (SARMENTO, 2009, p. 304).
Desta forma, o professor, ao narrar a sua própria história, constrói
representações comuns da sociedade contemporânea e vivência como aluno e
professor. Durante o texto, a autora traz diferentes autores que tratam a questão de
dar vozes aos professores, na busca de conhecer seus percursos de vida.
Neste viés, essa narração busca captar a realidade que é construída
socialmente e para que se possam compreender os significados dos atores sociais.
Assim, o interacionismo simbólico, apresentado por Ritzer (1993) apud Sarmento
(2009), traz à luz os significados que as pessoas constituem com base em suas
experiências, num processo de interpretação na interação social entre a biografia e a
sociedade.
Diante das concepções de Ferrarotti (1983) apud Sarmento (2009) a práxis
dialética, a razão dialética e a teoria das mediações buscam o sentido “se nós
somos, se cada indivíduo representa a representação singular do universo social e
histórico que o cerca, nós podemos conhecer o social a partir da ‘práxis individual’.”
(SARMENTO, 2009, p, 51).
Contudo, podemos perceber que todo o processo de contar as histórias,
envolve o pensar, o sentir, a voz, a sensibilidade e a racionalidade de cada professor
buscando elementos para sua identidade profissional, sobre uma relação de
contextos de vida e aprendizagem, isto é, como define Boltanski (1982) apud
Sarmento (2009), a profissão do humano.
Sendo assim, é essencial tomar consciência dos fundamentos históricos, ter
uma postura mais questionadora e autônoma, ressignificando a partir de um novo
olhar é preciso um retorno a História.
A História da Educação aborda conceitos teóricos fundamentados sempre no
tempo histórico, no sujeito histórico, nos fatos históricos e na memória, ou seja, todo
estudo envolve o contexto e a história, para que haja uma compreensão do contexto
vivido, principalmente e devido as constantes evoluções históricas.
Nosso pensamento ocorre de forma linear, mas com um tempo e fatos
circulares, assim existem pensamentos e práticas que permanecem e outras são
rompidas em um determinado momento. Transpondo esses conceitos, percebemos
que a história é uma espiral, com a experiência humana e formas de compreensão.
39
De acordo com Zeichner (2008), a prática reflexiva dos professores dispensa
uma visão apenas técnica do saber fazer, pois tem o compromisso do saber e saber
ser, uma vez que se faz necessário trabalhar de forma coletiva e ativa nos
propósitos educacionais, especialmente como professor pensar para identificar
problemas e solução, isto é, refletir antes para tomada de decisão.
Nesse sentido, percebe-se claramente a importância de se conhecer o
passado por meio da historicidade, a cultura e o contexto de forma que seja possível
dominar os conceitos e relacionar com a sociedade contemporânea, conforme
aponta Mário Quintana (2006, p. 14) “O passado não reconhece seu lugar: ele está
sempre”, o que confirma o processo de construção e de autoria da pesquisa,
principalmente para obter diferentes pontos de vista para análise de um determinado
objetivo ou objeto.
Sendo assim, podemos afirmar que aprofundar nossos conhecimentos em
História da Educação e da Pedagogia é trabalhar com os modos de conhecer. Na
antiguidade, tínhamos como foco principal os mitos, em seguida contamos com a
Filosofia e a Arte. Já na Idade Média, através da Teologia, passamos a ter um
pensamento hegemônico da religião cristã católica no ocidente. Na Idade Moderma,
com a ênfase dada à ciência, temos a arte e a filosofia relegadas a segundo plano
como modos de conhecer a realidade. Afinal, a ciência postula que a razão deve ser
considerada como única fonte de elucidação dos fenômenos e inovações. Temos
ainda o desenvolvimento industrial que alia-se ao desenvolvimento científico.
Reveladas as circunstâncias dos modos de conhecer, busquei a definição e
conceito de educação a partir do que foi despertado com as discussões sobre a
Paideia, a educação da cultura grega do século V a.C, ênfase na educação da
consciência relacionada à moral e à ética, à estética como pilares que sustentavam
o ideal de educação do ser humano.
Assim, deleitei-me correlacionando o cenário atual da educação e a
Pedagogia, que tem como eixo norteador a formação plena do sujeito para o
exercício da docência, envolvendo a função social dentro dos ambientes
educacionais, principalmente como destaca Freire (2014) que envolve aspectos da
ética, a estética, a moral, a política, o poder e a ideologia.
Sendo assim, de acordo com Campbell (1990), a Paideia conduziu um
movimento coerente com um determinado tempo histórico, o sujeito histórico, fatos
históricos, registros, rupturas e reflexões acerca do ser humano e da dinâmica da
40
sociedade. Tendo como pressuposto que o sujeito é construído pelo ser humano de
acordo com sua evolução.
Diante do conceito da Paideia, concatenei com o filme 1492 – A descoberta
do Paraíso, pois as formas de conhecimentos presentes na época e como se
desencadeava o aprendizado englobava o valor do ser humano e de sua cultura, a
partir da concepção da sua totalidade que envolve a economia, a política, o
conhecimento e a da organização do poder, diferentemente daquilo que se percebe
na educação atual.
Relacionando os fatos históricos, Aranha (2006) mostra a necessidade de se
compreender o processo de estabelecimento de status em relação à formação,
representação na sociedade e poder social. O modo de conhecer e de produzir
conhecimento, no decorrer da história humana, transformou-se, passando por
diversas fases (como pelos pensamentos mítico, filosófico, racional) e continua
alterando-se até os dias de hoje. O conhecimento de fatos de períodos históricos
possibilita uma reflexão para o conceito de Paideia como um sistema de educação e
formação da cultura, o modo como ela, apesar de surgida na Grécia antiga, ainda
ser capaz de refletir a vida do ser humano no cotidiano, sem separar a vida.
Na Idade Moderna é possível conceber a ideologia do positivismo (causa e
consequência), no entanto, deve se considerar a existência humana de que sempre
há conceitos e as histórias envolvidas para que defina que matriz se utilizar em um
determinado contexto, como afirma Aranha (2006), que aborda a existência humana,
porque, além disso, se forma uma trajetória de vida, alertando que desta dimensão
existencial vem a opção filosófica.
Neste sentido, a contação de história é um processo que auxiliará na busca
da identidade de ser professor, de buscar a sua própria história, proporcionando um
autoconhecimento de seu percurso de vida, de modo a buscar a reflexão sobre a
sua ação, principalmente conscientizando-se de que não há como trabalhar de
forma isolada e alienada, pois tudo está interligado como numa rede.
Assim, romper o isolamento que ainda perpetua em muitos, pois é na troca,
na interação, na colaboração, no compartilhamento que aprendemos, passa a ser
possível ver o mundo com outros olhos e de forma diferente. Além disso, constituir
um novo olhar para si como educador, pois lidamos com pessoas que se formam em
diversos contextos de vida.
41
Consoante, Tedesco (2004) mostra que só mobilizar competências científicas
e técnicas dos indivíduos e grupos sociais não é suficiente, cabe também mobilizar
os seus sistemas de valores básicos, demonstrando que a decisão ética antecede a
definição de estratégias políticas. Em seguida, o autor traz aspectos sobre as
estratégias políticas a fim de romper com o determinismo social dos resultados da
aprendizagem, o qual denomina de "política da subjetividade”, tratando as políticas
de cuidados na primeira infância e estratégias de mudança educacional de forma
global.
Podemos relacionar a estas questões o conceito de “modismo pedagógico”,
desenvolvido por Houssaye (1988), que funcionada com a lógica da ênfase, o que
possibilita o surgimento do lugar do morto no triângulo pedagógico. Ele utiliza a
imagem do triângulo como referência ao equilíbrio que deve se fazer presente nas
relações pedagógicas que compreendem os processos pedagógicos e a prática
pedagógica. Os processos pedagógicos compreendem: ensino, aprendizagem e
formação. A prática pedagógica é formada por três sujeitos: o
saber/conteúdo/conhecimento, o professor e os alunos. Na lógica da ênfase dois
desses elementos se constituem como sujeitos enquanto que o terceiro dessa
relação deve aceitar o papel de morto ou fazer-se de louco. O sujeito é aquele com o
qual posso estabelecer numa dada situação, uma relação privilegiada, não pode
haver sujeito sem que o outro o reconheça como tal.
O processo de ensinar privilegia o eixo professor-saber; o formar privilegia o
eixo professor-alunos; já o aprender privilegia o eixo alunos-saber. A quem cabe o
papel de morto em cada um dos processos?
No processo de ensinar é atribuído aos alunos o papel de morto, sendo
privilegiada a relação professor-saber. No processo formar cabe ao saber o papel de
morto, a relação privilegiada é dos alunos e professor. O processo de aprender
privilegia os alunos e o saber, cabendo ao professor o papel de morto. Porém, é um
morto eficaz sendo um preparador e acompanhante da situação de aprendizado. O
morto pode ganhar o jogo, como explana Houssaye (1988).
Ao analisarmos o aspecto do triângulo pedagógico e de seus processos, é
possível perceber que ao serem adotadas as políticas de ciclos de aprendizagem,
enfoca-se o processo aprender, que privilegia o aluno e o saber, deixando para o
professor o papel de morto. Contudo, a situação não se sustenta, porque o aluno
não aprende sozinho. Outro aspecto a destacar é que o professor no lugar do morto
42
pode ganhar o jogo, ou seja, ao ganhar o jogo o eixo professor-saber volta a ser
hegemônico e o aluno no lugar do morto. O aluno no morto também pode recuperar
o jogo perdido e, temos o quadro da não aprendizagem. Como diz Freire (1997),
“não se pode dizer que ensinou se não houve aprendizagem. Aprendizagem
precede o ensino”. (FREIRE, 1997, p. 47)
Numa relação pedagógica em que o aluno não aprende, ele não é sujeito
dessa relação. Assim, é possível se questionar qual a função do professor e do
saber se não houve aprendizagem efetiva. O aluno, então, se torna o morto. O
morto, segundo o autor, é aquele que estabeleceu um buraco nas relações que eu
não posso mais reconhecer como sujeito. Já o louco é aquele que recusa os termos
do funcionamento comuns, não é reconhecido como sujeito. Ele perdeu as regras do
entendimento comum e o faz saber, perturbando o jogo normal.
Com base no texto de Houssaye (1988) sobre a metáfora do Triângulo
Pedagógico para refletir os modelos pedagógicos que fundamentam as ações dos
professores e, nesse contexto, busca refletir sobre as concepções que imperam e
determinam para promover uma consciência sobre a importância do equilíbrio entre
os elementos da prática pedagógica e os processos pedagógicos, assim como sobre
a fissura entre a teoria e a prática da ação educativa.
A metáfora do Triângulo Pedagógico, em Houssaye (1988), em analogia à
prática pedagógica e aos processos pedagógicos, significa para o autor que os
modelos pedagógicos vêm sendo construídos sob a lógica da ênfase. Tal lógica
prioriza um eixo da prática pedagógica e de seus processos, deixando um elemento
no lugar do morto, o louco, que pode ganhar o jogo, o que desequilibra a lógica.
Nesse sentido, o papel formativo da pedagogia envolve processos
pedagógicos (ensinar, aprender e formar) e a prática pedagógica (professor, aluno e
saber), no qual deve refletir sobre se há um ensino para a submissão ou para a
autonomia.
Diante dessa realidade, é de suma importância o aprofundamento teórico,
para que seja o aporte da análise realizada dos dados coletados para compreender
e mergulhar na compreensão do desenvolvimento da autonomia e emancipação dos
sujeitos. Cabe nos perguntar o que tem ficado no lugar do morto nos processos
formativos dos profissionais em educação?
43
1.3 O voo: um olhar para si e para o outro na história tecida no retalho
Figura 3: Nascimento da pesquisa
Fonte: https://pontosnosisetracosnostes.wordpress.com/tag/viver/
Ensinar não é transferir conhecimento, mas criar as possibilidades para a sua própria produção ou a sua construção.
Paulo Freire (1996)
Neste estudo, o que tem ficado no lugar do morto nos processos formativos
são as narrativas de vida dos sujeitos que dele participam. Nesse aspecto, torna-se
pertinente apresentar a proposta de Berkenbrock-Rosito (2014) sobre os processos
formativos e prática docente, no que tange a metodologia e epistemologia presente
no dispositivo “Colcha de Retalhos”. Nesta proposta, percebe-se uma inquietação
epistemológica sobre os modos de como conhecer e produzir conhecimentos,
principalmente quanto ao lugar que o sujeito ocupa durante a construção do
conhecimento, no ensino, na pesquisa ou na extensão. Além disso, compreende-se
que a construção do conhecimento ocorre por meio das narrativas biográficas e
autobiográficas dos sujeitos, durante o processo de ensino-aprendizagem.
As narrativas têm um sentido epistemológico a partir da produção de
conhecimento que os sujeitos atribuem à formação docente. Nesse aspecto, a
formação docente será proveniente de cada narrativa de vida, isto é, diante de cada
experiência de vida que o sujeito teve durante sua trajetória.
44
Berkenbrock-Rosito (2014) ainda aponta que a interdisciplinaridade e a
transdisciplinaridade são frutos libertadores da dominação como objeto, pois o
sujeito produz saber com sentido e significado de mundo, por meio da linguagem,
sendo a base fundamental da epistemologia e assim a educação assume seu
sentido.
A autora faz menção a Bachelard e Piaget como inspiradores da
compreensão da ideia de sujeitos como indivíduos que constroem conhecimentos,
que, para isso, precisam articular os conhecimentos científicos com as demais
áreas, como a arte, ciência, filosofia e formação docente, distanciando e superando
o senso comum. Nesse aspecto, a autora encontra eco com o que preza Paulo
Freire em sua crítica à Educação Bancária, já que defende uma educação autônoma
e não de sujeitos passivos, mas de promoção da educação para a cultura científica
como transformação do senso comum.
Com isso, a autora propõe a “Colcha de Retalhos” como forma de mudança
no âmbito pedagógico, de construir e reconstruir a compreensão do papel docente
em formação, pois se trata de um dispositivo com um processo metodológico e
epistemológico de formação e com o uso das narrativas de vida, busca-se analisar a
experiência, pessoal e profissional, fruto da prática a ser fundamentado à luz de
teorias da educação.
A “Colcha de Retalhos” é composta por um processo de autonarrativa
(biografia e autobiográfica) que valoriza a estética, partindo do pressuposto que a
autonomia, emancipação e autoria do sujeito ocorrem pela dimensão da Educação
Estética.
Perante o estudo, é possível compreender que a formação docente deve
buscar o desenvolvimento do sujeito em sua totalidade, para que isso ocorra se faz
necessária a discussão sobre a organização curricular, para unir várias áreas do
conhecimento, apresentada por Libâneo e Santos (2010), que afirmam que o
conhecimento é construído pelas experiências de vida, pois envolve conhecimentos
científicos e empíricos.
Alguns outros movimentos de Berkenbrock-Rosito (2014) influenciam a sua
visão de compreender o trabalho docente. Sua experiência como aluna de Paulo
Freire é relatada, destacando que aprendeu com suas discussões sistematizar e
implementar os temas geradores associados à realidade e a educação, que
envolvem pesquisas, leituras, trabalhos coletivos e reconstrução do conhecimento,
45
desenvolvendo valores éticos, estéticos, morais, ideológicos e políticos para sua
transformação como sujeito e da cultura que o cerca, trazendo essa compreensão
para a “Colcha de Retalhos”.
A outra experiência fecunda de Berkenbrock-Rosito foi sua experiência como
membro do Grupo de Estudos e Pesquisa em Interdisciplinaridade (GEPI),
coordenado por Fazenda, em 2004, na qual pode compreender a
interdisciplinaridade como uma categoria de ação, na sua dimensão filosófica,
cultural e existencial, usando-se de metáforas, símbolos, histórias de vida,
entrevistas na construção da maturidade intelectual, emocional e no
desenvolvimento da sensibilidade na formação do sujeito.
Esses processos fizeram a autora perceber que um trabalho visando à
humanização do sujeito nos processos pedagógicos, pois possibilita a participação
para sentir, pensar e fazer a relação com a realidade, compreendendo suas
representações e imagens, não poderia ficar apenas no discurso. Compreende a
importância do uso da história de vida dos sujeitos envolvidos nos processos
formativos, no contexto universitário, em que predomina uma formação do ensino
tecnicista, ou apropriação de um discurso crítico que não envolvia a participação do
sujeito, pois ele recebe o discurso crítico pronto, uma dimensão política importante,
mas que é limitada, recusando o grande valor da formação humana do profissional,
visando um pensamento crítico, reflexivo e criativo, necessários no âmbito
educacional para emancipação dos sujeitos, a partir de sua trajetória formativa.
Como modo de conhecer e produzir conhecimento, parte do pressuposto das
narrativas autobiográficas, que, de acordo com Josso (2002) e Nóvoa (2009), que
tratam a história de vida como um processo de conscientização, compreensão e
formação, envolvendo práticas e didáticas no processo de ensino aprendizagem,
ligado às experiências de vida e o modo de aprender de cada sujeito.
Josso (2002), outra referência de destaque para a autora, apresenta uma
reflexão importante nesse aspecto que é “o caminhar para si” que não trata de
enfatizar questões psicológicas ou fragmentar o conhecimento, mas de compreender
a experiência de vida que envolve diferentes níveis de realidade e dimensões
políticas, psicológicas, econômicas, sociológicas, históricas e culturais. Dessa forma,
as narrativas autobiográficas são importantes, pois são possibilidades do processo
de conscientização do sujeito histórico, por isso são fundamentais no processo
pedagógico.
46
Consoante, Adorno (2004) e Freire (2011) trazem sua crítica à mídia e os
sujeitos como oprimidos, pois criam falsas representações da realidade, a
submissão, o esvaziamento das potencialidades criadoras do ser humano e
capacidades criativas.
Nesse sentido, destacamos a importância do movimento de conscientização,
em Paulo Freire, da curiosidade estética e curiosidade epistemológica, no trabalho
docente, pois não há uma disciplina específica, mas sim se dá e ocorre pelas
relações com o professor, aluno e conteúdo, assim como destaca Schiller (2002) “o
homem não pensa, ele sente antes de pensar”, assim com os relatos das narrativas
temos à dimensão do sensível e este á algo silenciado e invisível.
O processo de descrever os momentos formativos foi desenvolvimento por
Berkenbrock-Rosito (2014), como um processo metodológico e epistemológico,
dentro da abordagem (auto)biográfica, proporcionando a autoria do sujeito.
Esse procedimento contempla o uso de um questionário narrativo que passa
por três dimensões da narrativa: a escrita, a oralidade e a pictórica para a coleta de
dados, que serão analisados e interpretados sobre as dimensões pessoais,
acadêmicas e profissionais.
A “Colcha de Retalhos” é produzida a partir das narrativas: escrita, oral e
pictográfica. A narrativa escrita é produzida a partir de três estratégias. A primeira
estratégia consiste no relato biográfico de três cenas marcantes do Ensino Superior.
Após o relato, é necessário refletir sobre a relação com o conhecimento, a relação
com o professor se foi de autonomia ou submissão, em seguida sobre que aluna fui
no Ensino Superior.
A segunda estratégia, o relato autobiográfico, é produzida utilizando-se do
“Quadro da linha da Vida”, buscando “os momentos divisores de água”, inspirados
nos “momentos charneiras”, em Josso (2002) que fazem parte do processo de
formação. O “Quadro Linha da Vida” consiste em ter foco nas categorias de espaços
e tempos, as subcategorias: vida familiar, escolar/acadêmica, profissional, pessoas,
professores, livros, filmes, relações amorosas, deslocamento geográfico, buscando,
no percurso de vida da pessoa, fazer o mapeamento desses momentos charneiras.
Em Josso (2002), o conceito de “momentos charneiras” é apresentado como as
vivências que marcam uma mudança de referencial de visão de si e do mundo na
trajetória do sujeito, decorrência de uma aprendizagem, que acontece na escola e
fora dela, que refletidas transformam-se em experiências de vida.
47
A terceira estratégia é a narrativa fílmica, que teve como disparador da escrita
o filme Colcha de Retalhos, produzido nos Estados Unidos e dirigido por Jocelyn
Monhouse, assistido em sala de aula, na disciplina “Fundamentos da Educação
Estética”, no Programa de Mestrado em Educação, do qual se extraem metáforas
para estabelecer uma relação com os processos educativos, sobretudo, o sentido da
experiência de um percurso formativo.
A narrativa escrita é transformada em narrativa pictográfica, que é o registro
da história da trajetória pessoal, acadêmica e profissional tecida em um retalho. A
narrativa oral ocorre quando a história tecida no retalho é contada em sala de aula.
Depois, costura-se cada retalho, formando a “Colcha de Retalhos”, representando a
história daquele grupo.
A narrativa escrita compreende a narrativa biográfica na educação básica ou
na graduação, na qual resgata três cenas marcantes e sua reflexão sobre o tipo de
relação do conhecimento com o professor e consigo mesmo, se foi de autoria ou de
submissão. Também se utiliza do “Quadro linha da vida” criado por Berkenbrock-
Rosito (2014), possui categorias de espaço e tempo: vida familiar, escolar,
profissional, formadores, livros e filmes, e fundamenta-se em Josso (2002) para
identificação dos momentos charneiras, que são os momentos de mudança de
referenciais, que influenciam o modo de ser.
As narrativas escrita, oral e pictórica transformam se em estudo documental,
biográfico e autobiográfico, que quando analisados com enfoque hermenêutico de
Gadamer (2000), passam a servir como fundamento para compreensão e
interpretação do percurso de cada sujeito.
A reconstrução da história traz marcas artísticas, atos de criar e reconstruir a
narrativa, relacionando-se com Freire (1997), que destaca que a educação pode ser
encarada como uma arte, expressada por meio da estética. Deste modo, há
possibilidades de superar a educação bancária, pois o professor não será
transmissor de conteúdo.
Durante esse processo, ainda numa concepção freiriana, a educação
possibilita perceber o plano de fundo social e cultural, no qual o sujeito vai construir
um novo contexto de seus valores morais, éticos e estéticos, à medida que
desenvolve sua autonomia, como capacidade de refletir, criticar, o que envolve a
ética e moral no processo de formação. A ética é constituída dos modos de proceder
48
nos espaços, ou como aponta Dussel (2000), a ética deve ser vista como conceito
de vida: reprodução, manutenção e desenvolvimento.
A ética [...] diz respeito à reprodução, manutenção, desenvolvimento da vida humana. Caberia às áreas do conhecimento a responsabilidade da dignidade, por exemplo, a medicina sendo responsável pela reprodução e a psicologia pela manutenção da vida, à educação caberia o desenvolvimento das potencialidades criativas dos sujeitos, com a atitude ética se configurando como princípio de respeito, solidariedade, compaixão, autonomia, participação na prática do bem a favor da vida. (BERKENBROCK-ROSITO, 2007, p. 302).
A autora fundamenta esse raciocínio em Dussel (2000) para refletir o
processo de aprender privilegiado pela escola. Portanto, partindo do argumento que
a formação deve ser voltada para aquisição do pensamento crítico, percebe a
importância de envolver a arte como processo criativo, pois abrange a razão e
sensibilidade, como no método de História de vida e no dispositivo “Colcha de
Retalhos”, que ao costurar os retalhos temos a construção do sujeito que possibilita
construir e reconstruir as dimensões formativas e pedagógicas.
A arte de narrar experiências e histórias tem como possibilidade o
desenvolvimento do pensamento crítico, entre o sensível e o racional para o
desenvolvimento da sensibilidade.
Além disso, quando não existe uma preocupação no uso da história de vida
dos sujeitos envolvidos nos processos formativos, privilegia-se o ensino tecnicista,
desvalorizando a formação humana do profissional, que envolve um pensamento
crítico, reflexivo e criativo para emancipação dos sujeitos.
Logo, a formação exige muito mais do conhecimento científico, pois envolve
sentimento, emoção e a razão, somente com essa totalidade é que haverá a
conscientização de ser e estar no mundo. Dessa forma, as narrativas
autobiográficas são importantes, pois são possibilidades do processo de
conscientização do sujeito histórico, fundamental no processo pedagógico.
Dessa forma, o primeiro momento para reflexão é como nos tornamos
profissionais da educação. Nessa questão, Tardif (2008) destaca que os saberes
profissionais são constituídos de um conjunto de saberes: saber (conteúdo), saber
fazer (enfoque pragmático, aplicar os conhecimentos da área específica) e saber ser
(atitude) que é a epistemologia da prática profissional.
49
Acreditamos que as discussões até aqui apresentadas contribuíram para a
compreensão do desenvolvimento da autonomia e emancipação dos sujeitos,
compreender e interpretar as possibilidades e limites de desenvolvimento da
autonomia e emancipação dos sujeitos participantes na “Colcha de Retalhos”, um
dispositivo formativo de professores e pesquisadores desenvolvido por Berkenbrock-
Rosito (2014) concretizada dentro da abordagem da pesquisa (Auto) Biográfica.
Sendo assim, a compreensão da Educação Estética ocorre por meio da
participação em um procedimento importante de desenvolvimento, que auxilia os
sujeitos participantes a se tornarem conscientes de sua autonomia e emancipação
na conjuntura da contemporaneidade, proporcionando um olhar reflexivo, uma
possibilidade de romper com a educação bancária.
Um momento de pleno envolvimento, comprometimento e dedicação,
arrebatada pela criação e fruição, ao deslumbrar e encantar-se com os fundamentos
e conceitos de História de vida, autonomia e emancipação, sentidos e significados,
emoções, criatividade e a identidade docente.
Este processo de construção de conhecimento, de formação da identidade
docente e docente-pesquisador, não se dá apenas na prática da pesquisa. Deste
modo, buscamos compreender como isso se dá entre alunos do curso de
Pedagogia.
50
E são tantas marcas Que já fazem parte
Do que eu sou agora Mais ainda sei me virar...
(Lanterna Dos Afogados - Herbert Vianna)
51
2 FORMAÇÃO DE PROFESSORES-PESQUISADORES À LUZ DA EDUCAÇÃO
ESTÉTICA
A necessária promoção da ingenuidade à criticidade não pode ou não deve ser feita à distância de uma rigorosa formação ética ao lado sempre da estética. Decência e boniteza de mãos dadas. (FREIRE, 2014, p.34).
O objetivo deste capítulo é compreender a fundamentação teórica sobre o
sentido da dimensão estética na educação e processos formativos do professor-
pesquisador no Curso de Pedagogia, que formam o professor, o coordenador
pedagógico e o gestor educacional. Busca-se compreender o desenvolvimento da
autonomia e emancipação dos sujeitos à luz da educação estética como um
caminho de justiça entre os homens.
Busca-se, nesse contexto, em Freire (2014), o desenvolvimento da
autonomia, em Adorno, a emancipação da estética da indústria cultural fomentadora
da massificação dos sujeitos. Procura-se ainda, em Schiller (2002), a percepção do
sensível e da razão, destacando a experiência estética, como possibilidade de
construção e produção do conhecimento pelos sujeitos, por meio das narrativas, em
prol da construção de um olhar estético à formação de professores-pesquisadores.
2.1 Educação Estética: um caminho de humanização dos sujeitos
A Educação, etimologicamente, traz dois significados: educere no sentido de
fazer sair, lançar, tirar para fora, trazer à luz, educar; educare significando criar,
amamentar, sustentar, elevar, instruir, ensinar. Este duplo sentido da palavra
educação faz referência ao desenvolvimento e seus resultados educere, e
intervenção educativa educare. (Maurice Debesse e Gaston Mialaret (1974); Giustini
Broccolini, 1990) “A palavra Educação é, na língua portuguesa, formada pelo verbo
educar e o sufixo ação, indica um movimento de desenvolvimento e possibilidade de
intervenção”. (MARTINS, 2001, p. 243)
Faz-se necessário ressaltar que a educação ocorre em todos os espaços da
sociedade, desenvolvida por humanos e para os humanos, na convivência entre
pessoas e natureza, entre pessoas e pessoas, que ocorre em instituições sociais de
todas as áreas com o propósito de perpetuar as experiências que proporcionam bem
estar, felicidade e prazer.
52
É interessante aqui conhecer a origem da palavra Estética, que deriva dos
termos gregos, Aisthétikos, a faculdade de sentir, e Aisthesis, como sensação.
Assim, a Estética pode ser compreendida como uma dimensão própria do homem,
que vai além da vida humana, que traz a sensação como fruição, criação ou,
ruptura, como também consegue mover vontades e despertar interesses.
Buscando compreender melhor o conceito de Estética, Perissé (2009)
sabendo dos inúmeros sentidos do vocábulo, aponta a obra do filósofo francês
Etienne Souriau (1892-1979) e sua filha Anne, onde encontrou 1400 páginas, com
cerca de 1800 verbetes, entre estes, o termo Esthétique, com quatro páginas
dedicadas à sua compreensão. Já o vocabulário de Souriau apresenta também as
concepções de estética, entre outras, hegeliana, kantina, platônica, marxista,
freudiana. Traz ainda a estética vista nos traços da arte cristã, islâmica, japonesa,
egípcia. Assis Brasil, em seu dicionário do conhecimento estético, expõe 87
verbetes, constando as relações entre a arte e o cérebro, a feiúra, a beleza, o jogo, a
liberdade, a política, a religião, a terapia, a estética.
Considerado o criador da palavra Estética, Alexander Gottlieb Baumgarten
(1714-1762) (2000), remete também às origens gregas do termo. Em sua tese de
doutorado, publicada em 1735, aparece a palavra aesthetica. Baumgartem foi
bastante influenciado por Leibniz (1646-1716) e Wolf (1679-1754) influenciaram
Baumgarten, que se referem aos antigos gregos e os padres da Igreja, destacando a
diferença entre coisas percebidas pelos sentidos (aistheta) e coisas conhecidas pela
inteligência (noeta). Assim, temos as duas estruturas para configurar a realidade: “as
realidades noéticas estão no campo da lógica, e a realidade sensível é considerada,
uma gnoseologia inferior”. (BAUMGARTEN apud PERISSÉ, 2009, p. 11).
Deste modo, Baumgarten (2000) vê a Estética como uma disciplina científica,
ciência da estética, ciência da percepção, que denota doutrina do conhecimento
sensível. Assim, a compreensão das inúmeras sensações confusas, obscuras e
desconcertantes, experimentadas e vivenciadas diante das artes, como poesia,
pintura, música, enfim, das artes em geral é a finalidade desta disciplina. Para
Baumgarten: “A Estética nos permitirá aperfeiçoar nosso conhecimento da beleza, a
arte de pensar a beleza e de pensar belamente”. (BAUMGARTEN apud PERISSÉ,
2009, p. 11).
A estética é mais do que um ramo da filosofia, uma teoria da arte, é um
conceito polissêmico que foi sendo construído ao longo do tempo. É com século
53
XVIII que a estética abrange a arte ao ser compreendida com a ciência filosófica do
belo. Neste sentido, Herwitz (2010) pontua que:
pensar que a beleza, e muito menos a arte, constitui um objeto de estudo filosófico genuíno [...] a arte é tudo que há de pior, pois, se a poesia e uma droga performativa, então, a pintura e a escultura são meras cópias de cópias, tentativas de simular o mundo de um modo indecifrável a partir de seu modelo. (HERWITZ, 2010, p. 19).
Platão presenteia a poesia quando a compara à filosofia, ou seja, quando a
mesma brinda o conhecimento, endossado por Aristóteles que admira a poesia, ou
seja, o drama trágico, por ser profunda e reconhecer que ela é “mais filosófica do
que a história” (HERWITZ, 2010, p. 22). Assim,
a estética nasce como uma disciplina quando a beleza se torna o foco central. A beleza somente pode tornar-se o foco central, porque a filosofia está pronta para libertar sua experiência de conhecimento, quando ela está pronta para entender o valor da experiência na medida que ela tem seu próprio fim. (HERWITZ, 2010, p. 25).
Herwitz (2010) descreve que a disciplina da estética filosófica surge no século
XVIII, sendo que a mesma já havia sido analisada por filósofos como Platão que a
tratava negativamente, pois estava no campo do sensível. Para ele, a beleza, em
sua filosofia, estava nas formas ideais que eram compreendidas por meio da
verdadeira realidade das coisas, Platão tratava como insanidade.
A obra Educação estética do homem, escrita em 1795, por Friedrich Schiller
(2002), poeta, filósofo e dramaturgo alemão, consiste na origem à formação de suas
ideias sobre Estética nas cartas enviadas ao príncipe Augustenburg. As cartas de
Schiller sobre a Educação Estética do homem exaltam o meio transitório para
chegar-se ao estado moral, para transformar os postulados morais em práxis
cotidianas. Cabe a uma nova humanidade íntegra e perfeita, criar o Estado moral, e
não ao Estado moral, imposto criar a nova humanidade. O autor ainda defende que
a estética faz as vezes também de uma doutrina da virtude de uma ética que vem
completar o sistema moral.
Schiller utiliza-se muito de conceitos desenvolvidos por Kant na formação de
suas ideias sobre Estética, emoldurando seu argumento com a terminologia kantiana
de entendimento, a razão e a imaginação. No entanto, ele também modifica
visivelmente muitas das teorias de Kant. Schiller (2002) destaca o que ele vê como
54
as falhas do dualismo kantiano, propondo mudanças sutis, mas radicais, para o
modo como entendemos a liberdade, e (talvez o mais importante) a moralidade.
Alternadamente abraçando e lidando com noções de Kant sobre o ser humano e sua
capacidade de experimentar a beleza e alcançar a visão moral, Schiller (2002)
demonstra o potencial interior do indivíduo que reúne os princípios morais e
estéticos.
Schiller é o precursor no emprego do conceito de Educação Estética. O autor
já dizia que o homem é um ser sensível e racional e propõe uma via para libertação
do ser humano, voltada para a reunificação entre corpo e mente. Sendo este
sensível inerente à natureza humana, emerge de forma espontânea e o racional que
é cultural.
O sensível é algo que chega por meio dos sentidos. Não é próprio do
sensível, mas sem ele nem advém, nem permanece. Somos seres em conjunção,
entendida aqui como o movimento que une o gênero próximo ao específico do nosso
ser. Assim temos o sensível dado e o sensível produzido, pois como aponta Santos
(1996), “todos nós somos estéticos, ao fim e ao cabo tudo o que nos chega através
dos sentidos, sensivelmente constituído é estético também.” (SANTOS, 1996, p.
216).
A estética compreende tudo aquilo que chega pelos sentidos, mas o mundo
não se constitui por apenas que chega aos nossos sentidos, mas também pelo
sentido que lhe damos, ou seja, pelo modo de reflexão do sensível. É mediante a
cultura ou Educação Estética, quando se encontra no “estado de jogo”
contemplando o belo que o ser humano poderá desenvolver-se plenamente, tanto
em suas capacidades intelectuais quanto sensíveis. Esse é, aliás, o sentido da
passagem mais famosa de Schiller (2002), que destaca
suportará o edifício inteiro da arte estética e da bem mais dificultosa arte de viver. Pois, para dizer tudo de vez, o homem joga somente quando é homem e no pleno sentido da palavra e somente é homem pleno quando joga. (SCHILLER, 2002, p. 76).
Schiller sublinha “jogo”, “prazer” e “imaginação”, três conceitos que ele
persegue em seus escritos estéticos. Em seu estudo, Schiller (2002) argumenta que
os gregos possuíam uma espécie de unidade divina entre a imaginação e a razão, a
coerência interna da natureza humana foi dilacerada. Em suas notas, Schiller
55
relaciona essas palavras ao movimento e mudança, e, na verdade, ele está
profundamente interessado em transformar o indivíduo em primeiro lugar e,
finalmente, a sociedade por meio de sua noção de educação.
Schiller (2002) estabelece uma relação tridimensional, ou seja, apesar da
força existente entre opostos, ele acredita numa relação entre o impulso sensível
que “é aquele ao qual se prende, por fim, toda a aparição da humanidade” e o
“impulso formal que parte da existência absoluta do ser humano ou da sua natureza
racional” (Schiller, 2002, p. 60). Ambos resultam numa terceira dimensão: a do
impulso lúdico, cuja significação está baseada na compreensão da beleza, no qual o
sensível e o racional se fundem, desta maneira “este impulso lúdico seria
direcionado, portanto, a suprimir o tempo no tempo, a ligar o devir ao ser absoluto, a
modificação à identidade (SCHILLER, 2002, p. 60).
No estado do jogo o “impulso lúdico”, razão e sensibilidade atuam juntas e
não pode mais falar da tirania de uma sobre a outra. Por meio do belo, o ser humano
é como que recriado em todas as suas potencialidades e recupera sua liberdade
tanto em face das determinações do sentido quanto em face das determinações da
razão. Pode-se afirmar, então, que essa “disposição lúdica” suscitada pelo belo é um
estado de liberdade para o ser humano.
O autor ainda esclarece que o impulso sensível parte da existência sensível
do ser humano, já o impulso formal parte da existência racional do ser humano. Num
primeiro momento, parece que o ser humano se reduz a isso e não há conciliação
possível, mas para Schiller existe um terceiro impulso que é o impulso lúdico, que se
apresenta como um jogo. Não podemos ser pura sensibilidade, nem razão pura. A
solução é o equilíbrio entre estas duas forças que acontece neste jogo lúdico, no
qual a beleza exerce o papel de mediação.
Essas espécies de efeito de beleza, contudo, devem ser uma só segundo a Ideia. Ela deve dissolver quando faz igualmente tensas as duas naturezas, e deve dar tensão quando as dissolve por igual. Isso resulta desde logo do conceito de uma ação recíproca em que as duas partes se condicionam mutuamente com necessidade, ao mesmo tempo que são mutuamente condicionadas, e cujo produto mais puro é a beleza. (SCHILLER, 2002, p. 79).
Schiller (2002) articula também que por meio da veracidade e da equidade
inseridas em seus conceitos, a arte e o belo, como intervenção para o impulso lúdico
56
e para o ideal do ser humano, não podem se corrompidos. Ele acredita que a
libertação tem de acontecer no interior para que seja extravasada exteriormente.
Deste modo, Schiller elabora os conceitos de impulso sensível, formal e lúdico
e propõe a Educação Estética, ou seja, a formação do ser humano sensível, de
maneira que proporcione ao ser humano a apreciação do belo, pois este, como os
outros gostos, são aprendidos. O sensível aqui não se refere apenas à sensibilidade
artística, mas ao todo da existência humana, como meio para a conquista do ser
humano ideal, o ser humano que domina sua natureza selvagem e busca a
humanidade com ética. É pela intervenção de uma Educação Estética, que ocorre a
possibilidade do nascimento de um sujeito moral e ideal.
Daí nascem as duas tendências opostas no homem, as duas leis fundamentais da natureza sensível-racional. A primeira exige racionalidade absoluta; deve tornar mundo tudo o que é mera forma e trazer ao fenômeno todas as suas disposições. A segunda exige a formalidade absoluta: ele deve aniquilar em si mesmo tudo que é apenas mundo e introduzir coerência em todas as suas modificações; deve exteriorizar todo o seu interior e formar todo o exterior. (SCHILLER, 2002, p. 57).
Para Schiller, estética e ética estão associadas, de maneira que a estética
gera a ética como um caminho eficiente para a melhora da humanidade, a arte,
aliada à sensibilidade e a racionalidade, é um caminho que leva ao desenvolvimento
da autonomia do sujeito. Afinal, a Educação Estética, ou seja, a relação do sensível
com o racional, ou ainda a possibilidade de aprendizagem do belo, e as mudanças
que essa aprendizagem pode trazer para quem a aprende, podem contribuir para
essa conscientização do ser humano como ser interligado com o mundo. O objetivo
de Schiller (2002) é preservar a sensibilidade do ataque da liberdade e,
concomitantemente, assegurar a proteção da personalidade contra o poder das
sensações. Para ele o objetivo comum é a formação, seja da capacidade de sentir
ou da capacidade racional, contemplando a primeira e a segunda tarefa da cultura
respectivamente.
Ao colocar o foco na sensibilidade, não está dizendo que os conceitos não
estarão presentes. As faculdades são os que tornam os seres humanos autônomos.
O ponto aqui é que a sensibilidade, a imaginação e o juízo são reunidos na teoria da
estética.
A Educação Estética é, em Schiller (2002), basicamente, caracterizada como
a educação por meio da capacitação do olhar, a fim de entender as manifestações
57
das sensações boas ou más diante de obras artísticas ou da arte da relação
consigo, com o outro e com a cultura. O refletir sobre o que nos ocorre aguça a
sensibilidade, para perceber a beleza como expressão da autonomia de pensar e
descobrir-se sujeito que sente e pensa sobre o que sente atentando para todos os
matizes. A Educação Estética, como primordial e inerente ao ser humano, não é
privilégio da arte, uma vez que engloba o julgamento do belo, o gosto e o
sentimento, que são matérias subjetivas, que vão fazer aflorar a sensibilidade.
Educação Estética consiste, na visão de Schiller, refletir sobre o significado
daquilo que nos afeta causando prazer ou desprazer, gosto ou desgosto. Nesse
sentido, a aprendizagem não é só consequência da transmissão de conhecimentos
explícitos no currículo oficial, mas se dá, principalmente, pelas interações sociais
que ocorrem nos espaços educativos e formativos, no qual o jogo lúdico, entre
buscar o equilíbrio da razão e emoção são eixos importantes nessa relação
formativa.
Nesse sentido, cabe compreender na perspectiva de Schiller a dimensão
estética na educação e formação. A primeira dimensão estética encontra-se no
próprio conteúdo que a educação evidencia. A segunda dimensão constitui-se do
ambiente envolvente do processo educativo dá conta dos espaços, dos objetos, dos
instrumentos, enfim, do meio pedagógico visto como um todo, ambiente que
harmonize a qualidade estética com o meio cultural e humano. Santos (1996)
adverte, no entanto, que esse não poderá ser entendido como um processo
incondicional do estético, esteticização da vida, em que tudo seja reduzido e
limitado, pois essa condição levaria à morte a estética que, somente, pode mostrar a
sua pujança na multiplicidade, na diversidade.
A terceira dimensão, o mediador pedagógico, destaca o princípio da
simplicidade e da singeleza, mostrando que o grande mérito de um gênio é fazer-se
compreender por uma criança, despindo-se da afetação para resgatar o valor
estético e pedagógico da imagem, da metáfora, do símbolo. Essa dimensão traduz-
se na capacidade de exibir no sensível a forma e a liberdade exigidas por uma
educação intelectual e racional, como ainda esclarece Santos (1996).
Em sua quarta dimensão, a própria finalidade e horizonte da educação,
Schiller propõe o desenvolvimento integrado das potencialidades do espírito
humano. Chama a atenção para os perigos da evolução de uma das faculdades em
detrimento das demais, o que resultaria em prejuízo para a coletividade. Propõe que
58
se faça uma inversão que venha a contemplar o jogo livre e harmônico de todas as
dimensões humanas. Santos (1996) esclarece que, para Schiller, se existe um
enorme progresso em determinadas faculdades espirituais pode originar homens
extraordinários, contudo apenas a harmonia das faculdades conseguirá formar
homens felizes e perfeitos. O autor ainda defende que essa totalidade destruída pela
cultura somente será restabelecida com o advento de uma nova e mais elevada
cultura.
A Educação Estética é, por certo, também educação para a arte e pela arte
assim se nomeou a quinta dimensão Schilleriana como proposta pedagógica. O que
se observa nessa proposta é a busca da correção da arte e da prática da educação
artística que contemplam faculdades isoladas, para Schiller, as artes deveriam
metamorfosear-se em todas as outras.
A sexta dimensão pedagógica se refere à forma mesma e o espírito de toda a
educação. Santos (1996) discorre sobre as atitudes do agir pedagógico,
evidenciando que a estética é o domínio da liberdade, da livre liberdade, da
liberdade sem coação. Assim, tem-se nessa dimensão mais uma vez a reiteração da
integração dos objetos e sentido.
É importante destacar que a estética não se restringe à arte, mas diz respeito
também à natureza humana. A estética está presente em todas as dimensões de
nossa vida. As relações humanas são estéticas, as nossas atitudes para com o outro
podem ser bonitas ou feias, um prédio, o bairro, nossa cidade, o ambiente escolar,
tudo ao nosso redor é estética, o que incomoda é a estética do feio presente nas
guerras, na fome, na violência, na miséria de milhões de pessoas que é a expressão
estética do feio.
Em consonância, Adorno e Horkheimer (1985) desenvolvem a concepção da
estética da massificação cultural, advinda do termo criado por eles, filósofos
alemães da escola de Frankfurt, cunhado sob a teoria da indústria cultural, a fim de
designar a situação da arte na sociedade capitalista industrial. De acordo com
Adorno e Horkheimer (1985), na indústria cultural, tudo se torna negócio e, enquanto
negócio, seus fins comerciais são realizados por meio de sistemática e programada
exploração de bens considerados culturais. Um exemplo disso, dirá ele, é o cinema:
O cinema e o rádio não precisam mais se apresentar como arte. A verdade é que não passam de um negócio, eles a utilizam como uma ideologia destinada a legitimar o lixo que propositalmente produzem. Eles se definem
59
a si mesmos como indústrias, e as cifras publicadas dos rendimentos de seus diretores gerais suprimem toda dúvida quanto à necessidade social de seus produtos. (ADORNO; HORKHEIMER, 1985, p. 114).
Nesta perspectiva, é possível destacar que a arte tornou-se um meio eficaz
de manipulação dos sujeitos.
Em primeiro lugar, há uma transformação básica na chamada superestrutura, confundindo-se os planos da economia e da cultura. A indústria cultural determina toda a estrutura de sentido da vida cultural pela racionalidade estratégica da produção econômica, que se inocula nos bens culturais enquanto se convertem estritamente em mercadorias; a própria organização da cultura, portanto, é manipulatória dos sentidos dos objetos culturais, subordinando-os aos sentidos econômicos e políticos e, logo, à situação vigente. (ADORNO, 1995, p. 21).
Adorno e Horkheimer (1985) explicitam que isto funciona como uma indústria
de produtos culturais visando o consumo, para eles a indústria cultural transforma as
pessoas em consumidores de mercadorias culturais, suprimindo toda a seriedade da
cultura erudita, assim como sua autenticidade. A indústria cultural tem como objetivo
a submetida a elevar-se da técnica que é usada pelos meios de comunicação de
forma original e criativa que impede o ser humano de pensar de forma crítica, de
imaginar, doutrinando as consciências por meio dos gostos padronizados e da
indução para o consumo. Assim a indústria cultural substituiu o termo cultura de
massa, pois não se trata da valorização da cultura, mas de uma ideologia que
desconsidera diferenças culturais e padroniza todo mundo, com forte apelo
publicitário.
Adorno busca na estética contemporânea a viabilidade de um resgate da
percepção dos sentidos, pois sabemos que a obra de arte não estabelece uma
identificação imediata, mas de mediação com a realidade social que a produziu.
Neste sentido, caso a dimensão estética da obra artística por si só não se constitua
como determinante de mudanças das condições sociais, ela contém em si pelo
menos a possibilidade de articular tais mudanças.
A educação social é importante para compreender as raízes da desigualdade
e procurar encontrar meios para diminuí-las, levando os alunos a uma reflexão
estética. O rigor e o jogo são os polos da filosofia, o pensamento e a sensibilidade
são os polos da resistência. É esta tensão a única via para a possibilidade de uma
ação transformadora, uma ação que não se perca como pseudo-ação porque
emanada de uma pseudo-realidade- como nos alerta Adorno (1982).
60
Esse processo de conscientização compreende o desenvolvimento da
autonomia e da emancipação que ocorre por meio da estética. Pensar a dimensão
estética nos processos formativos significa priorizar a humanização do indivíduo,
que em Freire (1975), contempla a Pedagogia Libertadora uma oposição à
Educação Bancária e visaria ao desenvolvimento de autonomia dos sujeitos, em
Adorno (1995), a emancipação em relação à manipulação estética da indústria
cultural.
Neste viés,
A prática educativa supõe uma ética que contribua à formação de sujeitos morais e à construção de grupos, instituições e sociedades com relações baseadas em princípios éticos universais, como a justiça, o cuidado e o respeito. (AMORIM NETO; BERKENBROCK-ROSITO, 2007, p. 620).
Em nosso corpo habita o sensível, que nos possibilita condição de vida e do
conhecimento. O ser humano estético valoriza as emoções e os sentimentos, mas
sem esquecer o racional. Não é possível, nem desejável, desprezar a razão, mas a
própria ciência já avançou o suficiente para saber que apenas o conhecimento
técnico-científico não é capaz de dar conta do ser humano em suas múltiplas
dimensões.
Pensando num sujeito estético devemos concebê-lo como um ser em busca
do equilíbrio entre emoção e razão e se como diz Larrosa (2002) “caminhar não é
tanto ir de um lugar a outros, mas levar a passear o olhar. E o olhar não é senão
interpretar o sentido do mundo, ler o mundo” (LARROSA, 2002, p. 5). Deste modo,
ousamos pensar o sujeito estético como um ser humano capaz de passear e pousar
o olhar, interpretando e agindo diante do cenário que tem diante dos seus olhos.
2.2 Experiência Estética: a narrativa como produção do conhecimento nos
processos formativos
Podemos definir como uma experiência estética, como um processo de
aprendizagem, um fenômeno que não se deixa ver, porém, está presente na relação
com o ambiente físico e com as pessoas que convivemos. Emerge de sensações de
gosto e desgosto, prazer e desprazer, que arrebatam e têm impacto diretamente nos
61
sujeitos. Uma aprendizagem estética do espaço educativo que não ocorre via o
conteúdo oficial de uma disciplina, mas sim sentido pelos sujeitos.
A experiência estética abre porta para uma compreensão radical da realidade e do ser humano. Uma obra de arte com a qual se possa relacionar de maneira a iluminar a concepção de mundo é uma via privilegiada de acesso também a si mesmo, um convite instigante para se repensar a própria conduta, para se reavaliar a hierarquia dos valores, uma provocação para se questionar possíveis conivências pessoais com a mediocridade, com a falta de criatividade que se nota em comportamentos intolerantes, autoritários, rígidos, pragmáticos, egocêntricos, materialistas, niilistas, reducionistas etc. (PERISSÉ, 2004, p. 75).
A experiência estética é parte dos conceitos empregados para capturar as
vicissitudes do ser humano considerado como um objeto de estudo. Essa parte da
mente, do espírito, da emoção, da reação que a ciência deveria detalhar, permite
que o ser humano tenha as experiências e extraia as consequências que ele possa
extrair dessa experiência. Quando falamos em experiência estética, estamos nos
referindo ao ambiente da aprendizagem, onde todos os detalhes são importantes.
Assim, temos a contribuição de Freire (1997), para quem a expressão da estética na
educação ocorre por meio de gestos, entonação da voz, quando e como o educador
se posiciona na sala de aula, dando início a uma relação estética. A estética da
sensibilidade deverá substituir a da repetição, estimulando a criatividade, a
curiosidade e a afetividade.
O foco sobre a experiência estética incide sobre a experiência individual e não
sobre o valor social, apesar de ser também importante. Começa a liberdade do
cerceamento da religião e do controle monárquico. Consiste para a estética filosófica
libertar a beleza do ônus do conhecimento. Seu ponto será considerar algo belo que
não deva ser considerado conhecer ou aprender algo, mas um tipo de experiência
que tem valor por si mesma.
A experiência de relação estética é a experiência do sujeito com o outro,
consigo mesmo e com o mundo, mediada por uma postura que contraria as relações
baseadas apenas no utilitário com o mundo externo. Por sua vez,
o estético só se dá na dialética do sujeito e do objeto e que, portanto, não pode ser deduzido das propriedades da consciência humana, de certa estrutura dela, da psique ou de determinada constituição biológica do sujeito. A consciência estética, o sentido estético, não é algo dado, inato ou biológico, mas surge histórica e socialmente, sobre a base da atividade
62
prática material que é o trabalho, numa relação peculiar na qual o sujeito só existe para o objeto e este para o sujeito. (VASQUÉZ, 1978, p. 97).
Os objetos despertam os sentidos pela sensação de gosto ou desgosto, pela
emoção que são capazes de despertar e esses são sentimentos originários no ser
humano, que podem ser desenvolvidos ou aguçados, mais em uns do que em
outros.
Portanto, refletir sobre o significado daquilo que o afeta causando prazer ou
desprazer, gosto ou desgosto, singularmente, auxilia o processo de humanização da
educação, sem buscar “coisificar” o sujeito para o consumo.
Sócrates em “conhece-te a ti mesmo”, um marco no pensamento filosófico,
transforma a frase do oráculo em missão de vida, atribuindo a razão ao ser humano.
Procurou levar os homens a interrogarem-se para reconhecer a insensatez e a
ignorância de si próprios, despertando as suas consciências. Talvez tentar se
compreender para agir de acordo com o que se pensa é a busca pelo seu
conhecimento para se aproximar da verdade, (479-399 A.C).
Sendo assim, o papel da universidade e do professor, com base na
intervenção e na produção de conhecimento com os alunos, precisa ir além da
reprodução do conhecimento e da transmissão de informações, uma vez que este
tipo de transferência de saberes pode ocorrer ao serem utilizados livros,
enciclopédias e/ou recursos como a Internet.
A respeito das práticas educativas, Freire (1997) diz que:
Se, na verdade, não estou no mundo para simplesmente a ele me adaptar, mas para transformá-lo; se não é possível mudá-lo sem um certo sonho ou projeto de mundo, devo usar toda possibilidade que tenha para não apenas falar de minha utopia, mas participar de práticas com ela coerentes. (FREIRE, 1997, p. 54).
Ainda a respeito das práticas educativas, Freire e Shor (1986) elucidam que:
O ato de conhecer, de criar e recriar objetos faz da educação uma arte. A educação é simultaneamente uma certa teoria de conhecimento entrando na prática, um ato político, ético e estético. Gestos, entonações de voz, o caminhar na sala de aula, poses, participam da natureza estética do ato do conhecimento, do seu impacto sobre a formação dos estudantes através do ensino. (FREIRE; SHOR, 1986, p. 145).
63
A construção e produção do conhecimento de acordo com Freire (2014),
ocorre a partir da curiosidade estética que os sujeitos desenvolvem a curiosidade
epistemológica. É a partir dessa curiosidade, que o mundo desperta em nós, que
queremos ir além do senso comum e procurar as justificativas para os fenômenos
naturais e sociais no mundo em que estamos inseridos. A curiosidade é inerente a
todos os seres humanos, não é apenas um sentimento.
Esta disposição permanente que tem o ser humano de espantar-se diante das pessoas, do que elas fazem, do que elas dizem, do que elas parecem; diante dos fatos, dos fenômenos, da boniteza, da feiúra, esta incontida necessidade de compreender para explicar, de buscar a razão de ser dos fatos sem ou com rigor metódico. Esse desejo sempre vivo de sentir, de viver, de perceber o que se acha no campo de suas “visões de fundo.” (FREIRE, 2012, p. 124).
A curiosidade estética ou que nos emociona comparado ao impulso sensível
descrito por Schiller é sentida na relação do dia a dia, como citado por Freire (2012).
De acordo com Freire (2012), a boniteza não é imunidade de uma
comunidade, mas uma elaboração em que todos participam e é preciso ser nas
relações, nas decisões, através de ensaios, de maneira que se torne possível por
meio das atitudes de produzir o mundo.
Neste contexto, é essencial que devemos sair do automatismo estratificado e
questionar o porquê estamos fazendo determinadas coisas e isto se faz por meio da
validade do conhecimento (gnosiologia) e para que isto ocorra é necessário que haja
crítica, ou uma curiosidade epistemológica, impulso formal na visão de Schiller.
Josso (2002) é uma referência importante para as reflexões sobre os
processos formativos, no que tange as narrativas sobre as histórias de vida. Traz
uma reflexão sobre a importância de se trabalhar com a história de vida, para isso a
autora relata seu procedimento a partir da metáfora dos nós dos marinheiros, como
uma figura de ligação, que reúne dois fios e muitos outros, vista a complexidade de
ligação entre os seres humanos tem-se a importância do estudo do processo de
formação e de conhecimento.
Portanto, há necessidade de pensar com ética e criticidade para vencer os obstáculos colocados à frente, para construção de uma sociedade que tenha voz ativa, cidadãos que faça uma leitura de mundo antes da leitura da palavra, ou seja, consciência crítica. “A “autobiografia” expressa o “escrito da própria vida” (JOSSO, 2002, p. 343).
64
Josso (2006) apresenta seu procedimento de histórias de vida que envolve os
eixos de vida, relato e história de vida, que propõem o olhar para si, para o outro e o
cruzamento destes olhares, um procedimento que demanda interpretação, análise e
diálogo, buscando a compreensão e reconstrução da sua história de vida.
Diante disso, depara-se com a necessidade de buscar um caminho de nos
conhecermos, criarmos laços sociais, em busca de uma humanidade não desligada
e partilhada.
Durante o processo de pesquisa e formação, envolve-se um resgate a sua
história de vida, revisitar seu passado e encontrar possíveis respostas para
compreender o que se tornou hoje, desatando nós para abrir novos caminhos e
possibilidades do conhecimento.
A importância do elo que se estabelece por meio de um acordo coletivo e
ético, definindo-se os limites e confiança diante dos relatos e reflexão comuns, forma
o primeiro laço que é formado implicitamente e que ocorre durante toda a vida.
Este é o momento de escolha individual e momentânea, que será desatado
no processo biográfico, nomeado nó de atracação ou nó de cabestan. Esse nó é
feito de tal forma que não se rompe facilmente, mas que ao final do processo
formativo poderá ser desatado.
Neste contexto formativo, há diversos laços presentes nos relatos biográficos,
sendo elos do ser no mundo e que precisam, durante sua história, de vida ser
revisitados. Os laços apresentados por Josso (2006), de forma breve, são,
primeiramente os laços de parentescos, que são os mais presentes nos relatos, em
forma de aliança ou que se rompem durante o tempo, cumprindo sua missão e
tempo de permanência em sua vida.
Em seguida, temos os laços de lealdade e de fidelidade, que representam a
preservação de determinadas relações sociais. Os laços transgeracionais propõem
uma reflexão sobre a formação a partir de uma consciência histórica que ocorre no
ambiente familiar ou escolar.
Já os laços geracionais podem ser reconhecidos nas diferenças do grupo ou
dos mais velhos. Associados a eles, temos os laços de apego, laços de afinidade e
de interesses e laços de lealdade e de fidelidade, que geram amizade, amor e que
afetam diretamente a formação das sensibilidades.
Os laços profissionais são os elos estabelecidos pela atividade profissional e
pela relação com o ambiente, semelhante aos laços de parentescos, geralmente
65
profissionais que são sensíveis as atividades que realizam. Os laços simbólicos
apresentam-se pelos ideais profissionais pela prática ou por escolhas, diante das
circunstâncias. Por fim, são indicados os laços religiosos ou espirituais, que
representam a dimensão misteriosa de nossa presença.
Essas são condições em que se formam os laços biográficos, após identifica-
los, inicia-se o procedimento de história de vida, momento de escolha individual e
momentânea que será desatado para novos laços de “ligar”, “religar” ou “desligar-se”
de determinadas relações.
Sendo assim, para compreender os processos de formação e de
conhecimento é preciso conhecer que envolvem outros nós, elencados por Josso
(2002). Temos inicialmente o nó górdio, que diz respeito de todos os laços que
queremos ou nós sejam desatados, sempre aparecerem nos relatos e
principalmente laços familiares, aparece frequentemente figura feminina ou
masculina que liga à sua vida.
O nó do enforcado representa os elos que trazem riscos e ameaças a nossos
próprios olhos e dos próximos. O nó direito é utilizado para unir os acontecimentos
ou situações temporárias que envolvem amadurecimento. Já o nó esquerdo denota
todas as relações que vivemos ao longo dos anos. O equilíbrio entre as relações é
concebido no nó da espia. Por fim, o nó de pescador simboliza o fato de ligar os
momentos que são recorrentes e semelhantes.
Deste modo, com os laços e os nós identificados, a reflexão biográfica se faz
necessária, de modo a revelar os significados sobre a formação e transformação
visualizando os desafios da nossa existência.
De acordo com Josso (2006), durante esse procedimento de história de vida,
escrita e oral, surgem nós invisíveis, assim é preciso a compreensão de si,
constituinte da sua história, criando consciência do que nos move, nos interessa,
nos atrai e nos guia.
Sendo assim, o trabalho biográfico proposto pela autora não é apenas um
procedimento para retomada das lembranças, é preciso encontrar os momentos
charneiras, isto é, momento de reconstrução no percurso de vida relatado. Esse
momento deve ser articulado ao processo de formação, compreender as
lembranças, vinculando ao passado e ao futuro, buscando assim uma compreensão
para novos tipos de laços.
66
Nesse aspecto, Josso (2006) esclarece que o ser cognição e de memória nos
remete a diversas formas de epistemologia de ligação no contexto do pensamento e
ação e uma cultura, a partir de uma visão de mundo.
Contudo, o ser cognição visa analisar, interpretar e compreender os
processos de formação, criando novos laços e desatando outros, a fim de buscar
seus fios condutores, considerando que todo relato é interpretativo e de análise que
desvela os fatos da vida de um sujeito. O ser ação permite enxergar as formas que
os laços se estabelecem por meio da interação social, mobilizando todas as ações
do ser para sua transformação desejada.
Tardif (2008) identifica diversas questões que conduzem à reflexão dos
saberes que envolvem e constituem a formação docente e profissional, como: Quais
são os saberes que servem como base ao ofício do professor? Quais são os
conhecimentos, o saber-fazer, as competências e habilidades que os professores
mobilizam diariamente, nas salas de aula e nas escolas, a fim de realizar
concretamente as diversas tarefas?
Ainda nesse aspecto, embora, se diga que há uma ruptura bancária para a
democracia do pensamento, é perceptível que na prática ainda não há uma
mudança na prática pedagógica e processos educacionais, que se busque uma
formação empenhada, assim como destaca Nóvoa (2009) “formar é formar-se”, que
todo o conhecimento é autoconhecimento e que toda a formação é autoformação.
Com foco no Ensino Superior, considera-se que nesse processo de formação
e até mesmo ampliando para a construção do conhecimento, se faz necessária a
leitura da realidade e de mundo, transpondo para o processo formativo e ver o que
está invisível aos olhos.
Esse processo dará o sentido com duas significações, no sentido etimológico
de acordo com a Hermenêutica de Gadamer e será o desenvolvimento das
potencialidades humanas, inerentes aos homens que criam, sentem e pensam.
Nessa leitura, é preciso propor os questionamentos de quem é o sujeito?
Como saber lidar? São essenciais para a educação de qualidade e humanizadora
diante da contemporaneidade, assim o sujeito será criador e não consumidor.
Assim, todo ser humano tem uma educação, seja ética ou não, o que deve
analisar é que tipo de educação possui e que tipo de cultura. Ao se tratar de ética,
você pode analisar essa cultura e relacionar com a ética e a moral que estabelece
seu modo de ser, isso é se comprometer com a vida humana.
67
Assim, de acordo com Berkenbrock-Rosito (2014) ética é o que vem a ser da
vida, moral é a cultura: regras, regulamentos e modo de ser.
Considerando tudo que já foi exposto, espera-se contribuir para a
compreensão dos processos formativos visando a importância da Educação Estética
diante das possibilidades e limites do desenvolvimento da autonomia e emancipação
dos sujeitos no Curso de Pedagogia.
Dessa forma, é possível identificar a composição que resulta na problemática
dos saberes docente existente na prática docente, sendo: saber disciplinar, saber
curricular, saber formação profissional e saber da experiência.
O saber disciplinar é o saber para atender a sociedade, em formatos de
disciplinas que estão nos programas dos cursos. O saber curricular são conteúdos,
objetivos e métodos que a escola ou instituição de ensino estabelece em seu
programa ou projeto político pedagógico para compor os saberes sociais,
selecionados por uma cultura e como modelos. O saber da formação profissional
são os conhecimentos que os profissionais e docentes precisam ter para saber-fazer
e por fim a o saber da experiência que são fundamentos em seu cotidiano e meio
em que vive que surge com base na experiência e são válidos.
Neste viés, busca-se a compreensão do que é o saber docente e sua
composição, procurando enfatizar que não há como separar os saberes sociais dos
saberes da experiência, pois quando falamos de saberes e conhecimentos, se faz
necessário trazer para reflexão o contexto social e cultural que está sendo estudado,
uma vez que envolve valores éticos, morais e princípios, bem como conhecimentos
específicos de onde se atuará, como suas variações de níveis de ensino e não
apenas pensar nas técnicas do ensino.
Diante disso, é preciso que os profissionais que atuam na educação e que os
docentes sejam produtores de conhecimentos e reflexivos sobre a sua prática, de
modo que possam saber-fazer com competência e habilidade, ser pesquisador e
não apenas um mero executor, reprodutor e cumpridor de planos de aula.
Nesse aspecto, a instituição educativa deve romper as linhas diretrizes e
centralizadoras, uma vez que a educação é coletiva e não é detentora do saber e
precisa compartilhar sua constituição quando da seleção de quais saberes
curriculares e, disciplinares são necessários e irão de fato formar cidadãos críticos e
reflexivos na produção de conhecimento e não reprodutores de uma sociedade que
se altera e modifica constantemente.
68
Sabemos que em grande parte ou a maioria das escolas não atuam dessa
forma democrática ou libertadora de ensino, pois ainda estão em seu modelo
tradicional e continuam a reproduzir modelos e conhecimentos sem relação com o
social, como destacada Tardif (2008) abaixo:
A relação que os professores mantêm com os saberes é a de “transmissores”, de “portadores” ou de “objetos” de saber, mas não de produtores de um saber ou de saberes que podem impor como instância de legitimação social de sua função e como espaço de verdade de sua prática. Noutras palavras, a função docente define em relação aos saber, mas parece incapaz de definir um saber produzido ou controlado pelos que a exercem. (TARDIF, 2008, p. 40).
Partindo desse pressuposto, compreende-se, segundo Tardif (2008) que os
professores se sentem desvalorizados e não têm reconhecimento da sua profissão,
no entanto, se esquecem de que a experiência precisa ser levada às universidades,
de forma que possam perceber os valores desses saberes práticos que se integram
à prática docente, pois é isso que se constitui a representação e a cultura docente
em ação. Isso se dará por meio de pesquisas e produção de conhecimentos
acadêmicos científicos.
Para tanto, é necessário inovar a profissão docente, para uma nova cultura
profissional com base em valores de transformação social e educativa, isto é, mudar
a nossa concepção de ensino-aprendizagem de tradicional, romper práticas do
passado e focar nas formações centradas nas situações das inovações alinhadas a
sua ação docente.
Contudo, vemos que para esse processo ocorrer, é essencial que se promova
uma reformulação, para que exista uma interação e troca de conhecimentos entre
professores, para o desenvolvimento de ser professor no coletivo, até mesmo,
aproximar as escolas e com as universidades, de modo que haja um
desenvolvimento cognitivo e de carreira, bem como uma constante autoavaliação do
seu processo, isto é, descobrir, organizar, fundamentar, revisar e reconstruir sua
prática na teoria com competência.
Em pleno exercício da profissão, é preciso “ser”, atuando de forma a mobilizar
os demais saberes: saber e saber fazer, e isso se retroalimentará por meio da sua
prática profissional e uma formação continuada crítica, que analise, reflita, observe e
consiga identificar pontos de melhoria contínua do ensino, da pesquisa e
principalmente sobre a construção da identidade do professor.
69
Outra questão refere-se à crise do profissionalismo, em que alguns pontos
devem ser considerados. Primeiramente, a crise da perícia profissional, na qual se
procura solucionar os problemas ou situações de forma rápida, mas nem sempre
eficaz, pois se envolve apenas a racionalidade. Além disso, temos o impacto na
profissão devido à crise da perícia profissional com críticas e insatisfação, contra a
formação universitária. Somados a estes dois pontos, temos a crise do poder
profissional e confiança do público e por fim a crise do profissionalismo é a crise da
ética profissional, que coloca em questão os valores, os princípios e ideologias que
deveriam guiar o profissional e dar confiança ao público.
Essa crise coloca os atores das reformas na educação, reformas de ensino e
da profissão como obrigados de um lado profissionalizar o ensino, a formação e o
ofício do educador e de outro as profissões perdem o seu valor e prestígio. Nesse
sentido, destaca Tardif (2008) que devemos buscar respostas a estas questões
crítica e reflexivamente.
É, portanto, nesse contexto duplamente coercitivo que a questão de uma epistemologia da prática profissional acha sua verdadeira pertinência. De fato, se admitirmos que o movimento de profissionalização é, em grande parte, uma tentativa de renovar os fundamentos epistemológicos do ofício do professor, então devemos examinar seriamente a natureza desses fundamentos e extrair daí elementos que nos permitam entrar num processo reflexivo e crítico a respeito de nossas próprias práticas como formadores e pesquisadores. (TARDIF, 2008, p. 8).
Com base nessas inquietações e partindo do pressuposto de Freire (2011), é
possível concluir que os saberes profissionais dos professores não podem
permanecer alienados e segregados dos conhecimentos universitários, ou seja, da
pesquisa e do coletivo, pois é por meio dos elementos da epistemologia da prática
profissional dos professores que identificaremos o que se realiza no seu cotidiano,
revelando seus saberes e compreendendo como transforma a sua prática e como
desempenha seu papel, assim buscando o sentido das competências e suas
dimensões identitárias.
Vale ressaltar, que, como já abordado anteriormente neste trabalho, os
professores precisam ser vistos como sujeitos do conhecimento, pois constroem ao
longo de sua prática profissional o seu saber e saber-fazer e conjuntamente com a
universidade estudam o conjunto de saberes mobilizado para suas tarefas, além de
que, como destaca Tardif (2008) “o objeto do trabalho do docente são seres
70
humanos e, por conseguinte, os saberes dos professores carregam as marcar do ser
humano.” (TARDIF, 2008, p. 266).
Portanto, penso que um processo de emancipação do sujeito professor, a
mobilizar os seus saberes (saber, saber fazer e saber ser) e do trabalho coletivo com
outros professores (troca de experiências) é de suma importância para o processo
de mudanças.
Neste contexto, Nóvoa (2009) traz um retrato sobre a história da formação de
professores, a formação na atualidade, sua preocupação com a formação e
cidadania e propõe práticas para um bom professor e a modernidade escolar. Ele
defende que há um excesso de discurso, longo e prolixo sobre a prática docente,
entretanto não se encontram reflexões para uma melhoria na formação,
profissionalização e ensino, mas sim permanecendo no senso comum sem relação
com a prática profissional.
Com isso, vemos que é necessária uma compreensão e investigação de
caráter acadêmico, de forma que a profissão docente possa ser refletida na sua
realidade, com uma análise crítica do seu próprio trabalho, pois será constituída e
construída no interior da sua realidade profissional, do contrário, estaremos
dissociando a teoria da prática. Para que isso aconteça, assim como defende o
autor, deve haver a promoção de novos modos de organização da profissão, isto é,
trabalhadas coletivamente e com autonomia conjunta.
Nesse sentido, Nóvoa (2009) elucida que a formação de professores precisa
inspirar-se para mudar, através do estudo aprofundado de cada caso, sobretudo dos
casos de insucesso escolar, bem como da análise coletiva das práticas
pedagógicas, contando também com a obstinação e persistência profissional para
responder às necessidades e anseios dos alunos e compromisso social e vontade
de mudança.
Sendo assim, teremos novas formas de organização do trabalho da profissão,
reforçando a dimensão pessoal e a presença pública, estabelecendo uma
construção coletiva, assim dando voz aos professores.
Ao mesmo tempo, vale repensar sobre o que é ser um bom professor. A
respeito desta questão, Nóvoa (2009) define que:
Sabemos todos que é impossível definir o “bom professor”, a não ser através dessas listas intermináveis de “competências”, cuja simples enumeração se torna insuportável. Mas é possível, talvez, esboçar alguns
71
apontamentos simples, sugerindo disposições que caracterizam o trabalho docente nas sociedades contemporâneas. (NÓVOA, 2009, p. 28).
Portanto, apesar de existirem muitas variações sobre “o bom professor”,
podemos elencar alguns elementos como: o conhecimento, a cultura profissional, o
tato pedagógico, o trabalho em equipe e o compromisso social, bem como estar
centrado na aprendizagem dos alunos e na prática.
Desta maneira, pode-se relacionar com Tardif (2008), como já apontado
anteriormente, o saber, o saber fazer e o saber ser. Além disso, o autor busca
compreender a subjetividade dos professores, imerge uma reflexão sobre as
concepções tradicionais quanto a relação entre teoria e prática e as consequências
políticas sobre a formação dos professores, da pesquisa e organização do trabalho
docente.
A leitura direciona para a necessidade de compreender o professor como
sujeito do conhecimento e não como objeto, ou seja, deve ser considerado o saber e
o saber-fazer das competências e das habilidades no ambiente escolar, de modo a
dar voz aos professores, para isso é preciso ouvi-los como agentes ativos desse
processo e atores diretamente na relação da formação de outros sujeitos e
cidadãos.
Neste viés, Sarmento (2009) também propõe uma reflexão do sujeito
professor, considerando a voz dos professores, suas experiências formativas,
aprendizado com as histórias de vida, isto é, envolve o pensar, o sentir, a
sensibilidade e a racionalidade de cada um na busca de elementos para a
construção de sua identidade profissional. É importante, também, destacar a relação
de contextos de vida e aprendizagem para a definição da “profissão do humano”.
Assim, afirma-se que os professores são sujeitos do conhecimento, pois
constroem ao longo de sua prática profissional o seu saber e saber-fazer, para isso
se faz necessário considerar a subjetividade partindo do pressuposto de Tardif
(2008), este sujeito docente traz consigo os estudos da sua formação e deve
relacioná-la com a prática, sendo o saber do lado da teoria e o saber-fazer produzido
pela prática.
O professor, sendo um sujeito do conhecimento, faz com que ocorram
transformação e mobilização de saberes, como: pesquisa em universidades, nas
quais se sabe que existe ainda uma ruptura e segregação do conhecimento que
pode agregar valor e melhorias ao ensino e a formação, pois exige que haja uma
72
mudança radical nas concepções e prática que temos instauradas em nossa
sociedade contemporânea, principalmente porque afeta questões sociais, culturais e
até mesmo de formação de identidade e não apenas ser reprodutor de
conhecimentos já estabelecidos.
[...] o professor não passa de um boneco de ventríloquo ou aplica saberes produzidos por peritos que detêm a veracidade a respeito de seu trabalho ou é o brinquedos inconsciente no jogo das forças sociais que determinam o seu agir, forças que somente os pesquisadores das ciências sociais podem realmente conhecer. (TARDIF, 2008, p. 230).
Ao relacionar sujeito, teoria e prática com a pesquisa universitária, teremos
benefícios imensamente válidos, se colocados em prática, uma vez que os
professores precisam ser considerados como pesquisadores e não deixar os méritos
exclusivos apenas aos sujeitos que estão na “academia universitária”. Este deve
participar da elaboração de diversas pesquisas e segmentos sobre o que os
professores consideram sobre a profissão, sendo produtores, colaboradores e
coautores.
Com base nisso, essa ação vislumbraria e acrescentaria uma pesquisa para o
ensino e não apenas sobre o ensino com o objetivo de alinhar a formação de
professores dando de fato voz ao sujeito do conhecimento, principalmente pelo fato
de que todo conhecimento é temporal.
Para que isso se concretize se faz necessário que as políticas públicas e
autoridades educacionais escolares e universitárias reconheçam esses saberes e
que o professor, tendo o direito de falar, discutir e dialogar sobre a sua profissão,
uma formação para que habilite os professores capazes de exercerem com
qualidade e competência, ou seja, com saberes formativos, com currículos
integrados, evitando a fragmentação do ensino com o cotidiano e de reprodução.
Todavia, ainda há uma desvalorização dos saberes dos professores, como
professores pesquisadores e envolvidos para um processo de transformação social.
Consoante, Imbérnon (2011) destaca pontos importantes como a redefinição
da docência como profissão, a inovação na docência, um debate sobre a
profissionalização docente e o conhecimento profissional do docente, assim como
diante dos desafios da sociedade globalizada, do conhecimento e da informação e a
necessidade da formação como elemento principal, não único, mas permanente.
73
Dessa forma, é possível identificar uma urgência no preparo dos docentes
para o tempo das mudanças, principalmente uma vez que para que isso ocorra não
há como ser repentinamente, já que há um processo de adaptação e internalização,
composto de uma nova redefinição da profissão docente, partindo de um ser
profissional que possa ter autonomia nas tomadas de decisões, mas para isso são
necessárias competências e habilidades educativas.
Nesse processo, tanto a docência como a instituição educativa precisam
abandonar a mera transmissão de conhecimento, de modo que possamos praticar e
formar para a democracia com valores éticos, morais e princípios, não apenas nas
técnicas e conhecimentos específicos.
Diante disso, fica evidente que se faz necessário sentir, agir e pensar diante
das novas gerações dos contextos sociais de modo que possamos pensar, criticar e
analisar quaisquer situações e informações apresentadas.
Neste sentido, há que se mudar de dentro para fora no âmbito social e
cultural, no que diz respeito não apenas a currículos prescritos, mas nos currículos
ocultos, na formação de cidadãos, com vistas a uma dialogicidade e interação com
os sujeitos do processo educativo, de modo que deixem de apenas reproduzir e
decorar conhecimentos, ou melhor, informação, tornando-se analfabetos funcionais
e cívicos.
Assim sendo, para que esse tipo de ensino não se perpetue o educador, a
escola e a sociedade como um todo devem atuar de forma coletiva e mútua, para
que possa realmente transformar e mudar, no intuito, de termos realmente cidadãos
que exerçam o seu papel na sociedade e de conhecerem seus direitos e deveres,
bem como analisar e criticar todas as questões pertinentes à educação, a saúde, a
sociedade, a política, a economia e tudo que é de responsabilidade de um cidadão,
além de aprender que é a escola é um local capaz de transformar pequenos seres
humanos em grandes pensadores.
Em suma, compreender que para se exercer a docência e ser um profissional
da educação é preciso buscar pela emancipação das pessoas, ajudando a torná-las
livres e independentes dos poderes sejam econômicos, sociais e políticos. Esse
processo se dará pela construção e reconstrução da sua prática com a teoria bem
como a sua atuação de forma coletiva e que não seja modismo ou reprodução, mas
inovações com autonomia diante de uma sociedade da informação e do
74
conhecimento, pois deverá saber fazer, saber por que fazer, como fazer e para que
fazer, isso é ser docente.
Contudo, vemos que para esse processo é necessário que haja uma
reformulação na formação inicial, bem como na formação permanente dos docentes
para o desenvolvimento de ser professor, mesmo não sendo estes decisivos e
conclusivos, pois parte do conhecimento de si mesmo, desenvolvimento cognitivo e
de carreira é capaz de aprimorar a prática, com uma constante autoavaliação do seu
processo, pela descoberta, organização, fundamentação, revisão e reconstrução de
sua prática na teoria com competência.
Desde a formação inicial do professor, se faz necessária uma formação com
conhecimentos pedagógicos, científicos, culturais, contextuais, psicopedagógicos e
de identidade própria, que fundamentará a prática e ação docente, de modo que a
escola seja uma extensão do conhecimento de mundo e não um modelo
assistencialista. A prática docente faz parte de seu currículo oculto, no qual de
acordo com Sacristán (2000) apud Imbérnon (2011) sua representatividade,
demonstra os valores, morais e princípios estabelecidos por uma educação imposta,
com um pensamento pedagógico dominante.
Percebe-se que as competências do professor são inúmeras, mas uma
atitude interativa e dialética, que valorize a busca do conhecimento para promover e
provocar mudanças, intervenções, análises e reflexões, é o princípio para uma
educação emancipadora do formador e cidadão.
Tendo essas concepções, é possível compreender que a formação docente
acontece na prática, através da experiência, mas nesse momento é preciso alinhar
teoria e prática e não como muitos professores falam no senso comum de que a
teoria não funciona, mas sim por meio de uma união entre a teoria, prática e sua
técnica (conhecimentos técnicos e fundamentos) que sustentem sua prática
pedagógica.
Esse modelo de pensamento deve se concretizar em seus próprios espaços
educativos, procurando promover sempre a dialogicidade e o trabalho coletivo, para
que haja compartilhamento e interações, pois por meio das discussões e debates,
podem-se estabelecer diferentes percepções, visando à colaboração e contribuição,
ou seja, a pesquisa-ação.
Assim como afirma Imbérnon (2011), sobre os contrastes das ideias e o
predomínio do ensino simbólico:
75
É preciso, pois, derrubar o predomínio do ensino simbólico e promover um ensino mais direto, introduzindo na formação inicial uma metodologia que seja presidida pela pesquisa-ação como importante processo de aprendizagem da reflexão educativa, e que vincule constantemente teoria e prática. (IMBÉRNON, 2011, p. 67).
O autor ainda aponta que o formador pode atuar como assessor de formação
permanente de modo a instigar e promover essas ações educativas para formação
dos professores de programas educativos especiais e o desenvolvimento curricular,
partindo sempre das suas experiências e situações vivenciadas, levando assim
contribuições, mas também ajudando a resolver os problemas profissionais,
envolvendo todo educador para ação-reflexão.
Sendo assim, é possível perceber que os professores apesar da sua
formação inicial, referindo-se aqui à sua graduação, ao chegar à escola se sente
perdido e despreparado, não sabe por onde começar, além disso, usa-se um
discurso evasivo de que “a teoria é uma coisa e a prática é outra”, o que pode ser
entendido como um pensamento fechado e obsoleto, pois uma é sustentada pela
outra, sendo que a teoria é a ciência pura instrumental para, na e pela prática.
O que se observa é que há muita resistência, quando se provocam
mudanças, levam-se novas ideias e um novo sentido do que é ser professor, assim,
podem-se elencar algumas variáveis e hipóteses, como: contexto histórico, repetição
e reprodução do que era como aluno, um currículo de Pedagogia que não forma
professores capazes para atuar nesses contextos e tempos de incertezas.
2.3 A estética da narrativa: a possibilidade de desenvolvimento da autonomia e
emancipação dos sujeitos
A proposta de uma Educação Estética, sob o ponto de vista filosófico, deve
partir da reflexão, mediada pela sensibilidade, tomando a educação, não apenas
pela transmissão de conhecimentos, que pode de alguma maneira cristalizar
discursos totalitários, mas compreender assim a importância da estética nos
processos formativos de desenvolvimento da autonomia e da emancipação dos
sujeitos.
Relaciona-se a esta questão a afirmação de Enriquez (1997), de que todo
grupo funciona baseado na idealização, na crença e na ilusão, porque para que uma
ação, projeto ou trabalho a ser desenvolvido na formação de professores necessita
76
de um disparador que permita uma reflexão acerca dos seus valores, crenças e
representações diante da leitura que é realizada do seu contexto.
Sob essa perspectiva, a aprendizagem está fundamentada na estética, na
ética, na política, na ideologia, na moral e no poder que, na visão de Freire (1997),
são linhas invisíveis que sustentam uma pedagogia da autonomia dos sujeitos. Esse
processo de conscientização compreende o desenvolvimento da autonomia e da
emancipação que ocorre por meio da estética, o que remete a Enriquez (1997),
quando apresenta como aspectos da intersubjetividade interferem no processo
formativo, pois envolvem questões políticas, sociais, culturais, morais, éticas e
ideológicas.
No entanto, o que se observa é que há muita resistência, quando se provoca
mudanças, novas ideias e novos sentidos são propostos para rever o que é ser
professor, assim, podem-se elencar algumas variáveis e hipóteses, como: contexto
histórico, repetição e reprodução do que era como aluno, um currículo de Pedagogia
que não forma professores capazes para atuar nesses contextos e tempos de
incertezas.
Nesta perspectiva, temos a contribuição de Enriquez (1997):
As organizações também terão sempre uma atitude ambivalente diante dos grupos que existem no interior delas mesmas: elas preconizam o espírito de equipe que permite a competição, a emulação, a melhoria dos desempenhos. Elas mesmas estão divididas entre o desejo de ver cada grupo reforçar a autonomia e o medo de que esses grupos tenham projetos de mudanças radicais. (ENRIQUEZ, 1997, p. 11).
Contudo, os processos formativos, visando à educação do cidadão
democrático, reflexivo, analítico, com consciência crítica, ou seja, a relação do
indivíduo e mundo pode ocorrer por meio da Educação Estética.
Em consonância, temos a crítica de Freire sobre a “Educação Bancária”, que
se refere ao fato de o indivíduo se tornar passivo quando é apenas receptor de
informações, não sendo levado a pensar, criticar e analisar quaisquer situações e
informações apresentadas, tanto no sentido do conhecimento teórico (científico),
como também, no próprio conhecimento da vida e como sujeito que está inserido em
um determinado contexto social.
Nesse aspecto, Ferry (1997) destaca-se também:
77
Cuando hablamos de docentes nos referimos de transmisón de conocimíentos a niños y adolescentes. Esta problemática de transmisón de conociméntos se ha reproducido en la formácion de docentes. La prioridad está em transmisón y en los modos de evalución. (FERRY, 1997, p. 60).
Diante disso, temos que nos propor a fazer mudanças que gerem condições e
projeções, com eticidade (ética e moral) de presença no mundo com condições
sociais e políticas, isto é, um processo de transformação, sendo indispensável rever,
adequar e mudar a educação atual.
A importância da dimensão da Educação Estética nos processos formativos
como destaca Banzato:
Trata-se da arte de ensinar, aprender e formar, consubstanciada nos sentidos, sensível e sensibilidade que configuram o desenvolvimento de autonomia e emancipação, como possibilidade de intervenção dos sujeitos por via da Estética. (BANZATO, 2012, p. 104).
A dimensão estética nos processos formativos, como já abordado
anteriormente, busca a humanização do indivíduo, que para Freire (1975) requer
uma oposição à Educação Bancária, por meio de uma Pedagogia Libertadora, com
vistas ao desenvolvimento de autonomia dos sujeitos, conforme também aponta
Adorno (1995), buscando a emancipação frente à manipulação estética da indústria
cultural.
Nesse sentido, a educação se afirma como aprendizagem de vivências
baseadas na estética, na ética, na política, na ideologia, na moral e no poder, que na
visão de Freire (2014) sustentam uma pedagogia da autonomia dos sujeitos. Esse
processo de conscientização compreende o desenvolvimento da autonomia e da
emancipação que ocorre por meio da estética.
Estes conceitos estão associados à educação libertadora, cujo objetivo é a
humanização do indivíduo, que em Freire, seria uma oposição à Educação Bancária,
buscando o desenvolvimento de uma maior consciência dos sujeitos em relação à
manipulação estética inerente à indústria cultural, em Adorno.
Dessa forma, faz-necessário pensarmos e repensarmos sobre como podemos
favorecer a aprendizagem dos alunos a fim de que estes se tornem sujeitos mais
autônomos e independentes com relação a sua aprendizagem. Além disso, os
educandos precisam desenvolver os atos de aprender e colaborar, fazendo com o
que todos sejam partes do processo de aprendizagem, ensino e formação mútuas.
78
Assim, a universidade precisa assumir seu papel como espaço de construção
de conhecimento, bem como o professor compreender seu papel no processo de
ensino aprendizagem, considerando que não há mais espaço para a mera
transmissão e reprodução de conhecimentos, já que vivemos num período de
grande acesso à informação.
A transformação dos sujeitos pode e deve ocorrer por meio de uma educação
que perceba o aluno enquanto um sujeito crítico, ou seja, aquele que pensa, reflete
e buscar, a partir de seus conhecimentos e vivências, atuando sobre a realidade que
o cerca. Sob esse ângulo, a respeito das práticas educativas, Freire (1997) ressalta
que “na verdade, não estou no mundo para simplesmente a ele me adaptar, mas
para transformá-lo.” (FREIRE, 1997, p. 54).
Ainda de acordo com a crítica de Freire (2014), a “Educação Bancária”, traz o
professor como o responsável pelo “depósito” do conhecimento e, no dia da
avaliação, este realiza o “saque” para constatar se o aluno sabe ou não o que foi
ministrado em sala de aula, atribuindo uma nota ao conhecimento demonstrado pelo
aluno. Neste caso, o aluno apenas reproduz o que obteve em aula e não realiza uma
crítica, tampouco reflete sobre um conteúdo.
O desenvolvimento da autonomia é a estética do belo, valorizando os modos
de participar e decidir como princípio de humanização. Nesse sentido, a importância
do desenvolvimento da autonomia como chave para a construção de sua prática
pedagógica e educativa, para que se consiga ser um sujeito questionador,
investigador, que elabore questões para melhoria de um contexto e que seja um
diferencial e inovador. Esse processo só acontecerá no momento em que se
tomarem decisões autonomamente, com intervenções e argumentação.
Esses pontos são mais explícitos quando passamos a pensar em uma
Educação Humanizadora de questionar, pensar, refletir, pesquisar e agir e não a
ênfase do sempre estar correto e se adequado aos padrões, mas focar na formação
do sujeito com uma postura ativa que permita se desenvolver autonomia e
emancipação para a construção de novos conhecimentos com consciência crítica.
Nesse sentido, remeto a frase de Descartes (1596-1650) “eu penso, logo
existo”, que na verdade parte da dúvida de Santo Agostinho (354-430), “se eu
duvido, descubro no meu pensamento aquilo que já sabia desde sempre: eu existo,
e tenho a certeza absoluta de que existo”.
79
Em vista disso, de acordo com Freire (2014) a consciência existe, pois é
importante para a cidadania, que move e conduz para o desenvolvimento da
autonomia, partindo da dúvida, para elaborar e formar o pensamento.
Assim, cabe ao educador consciente ver e apontar esses caminhos para uma
perspectiva ética existencial fundamentada a formação dando-se na coexistência. A
consciência crítica é saber que existe a consciência ingênua, mas ainda
compreender que temos diferenças e conseguir lidar com elas, permitir que haja
uma expansão do pensamento e que hoje as suas crenças e valores passam por
transformações e novas se constituem, assim, para desenvolver essas atitudes parte
do desenvolvimento de pesquisas, que deixe de ser consumidor para produtor,
desenvolvendo novas habilidades e competências.
Os princípios nesse desenvolvimento humanizado iniciam-se pela
responsabilidade do educador e do aluno, pelo diálogo, o que quebra o paradigma
apenas da metodologia e didática, pois é pelo pensamento dialético que há
construção.
No entanto, ainda temos a ênfase de que é o professor que ensinará o aluno
a aprender, desconsiderando todo o processo de construção e processos de
aprendizagem, que envolvem concepções pedagógicas de Piaget, Vygostky e
Wallon, respectivamente, ação sobre o objeto de estudo, interação e cultura e
sentimentos e emoções.
Partindo desses princípios, vemos que, em suma, a maioria os alunos ainda
continua com um pensamento tradicional de que ao entrar em sua formação, o
professor é responsável por ensinar e dar “receitas” de como ser um bom professor,
no entanto, como vimos, existem contextos culturais, sociais, econômicos, políticos e
individuais que precisam ser considerados para se aplicar os conhecimentos e
construir novos. No entanto, sabemos também que os sujeitos resistem às
mudanças e não lidam com suas frustrações e fracassos e ao mostrar aos alunos
essas sombras existe a resistência.
Concomitantemente a esse processo, relacionamos ao mito de Sísifo escrito
pelo filosófico Albert Camus, em 1941, que demonstra o ser humano em busca de
sentido, unidade e clareza, que remete à figura do professor que a todo o momento
tendo que refazer sua prática.
80
Sísifo um personagem da mitologia grega, condenado a repetir sempre a mesma tarefa de empurrar uma pedra até o topo de uma montanha, sendo que, toda vez que estava quase alcançando o topo, a pedra rolava novamente montanha abaixo, até o ponto de partida, invalidando o duro esforço despendido. (CAMUS, 2002, p. 21).
Estamos também condenados à vulnerabilidade da autonomia de nosso
corpo. Anjos (2005) aponta a questão da vulnerabilidade para uma compreensão
mais profunda da autonomia. A autonomia é uma empreitada que não ocorre sem a
vulnerabilidade hospedada em seu corpo, a corporeidade. Isso significa perceber as
implicações do “vir-a-ser” da independência à dependência de aparelhos ou
medicamentos como recurso de sobrevivência à doença: mal de Parkinson, câncer,
mal de Alzeihmer, esquizofrenia e outras doenças mentais que interferem na
autonomia dos sujeitos. O que leva ao conceito de dignidade, co-implicado na
relação eu-outro.
No espelho da dignidade, podemos nos ver com entusiasmo em nossa corporeidade. Mas com realismo se descobrirá ali a necessidade de aprender a lidar com a própria vulnerabilidade e a dos outros. (ANJOS, 2005, p. 327).
Embora a vulnerabilidade pareça tipicamente hospitalar, ocorre também na
escola e universidade. “No contexto da escola, a vulnerabilidade dos alunos consiste
em supostamente não saber o conteúdo a ser ensinado pelo professor, também
vulnerável em não saber como o aluno aprende”. (AMORIM-NETO;
BERKENBROCK-ROSITO, 2007, p. 623).
Paira um silêncio sobre o papel do corpo nos processos educativos e formativos. Na disciplina, como condição de aprendizagem, requer-se a amputação dos movimentos corporais, por desconhecimento da biofisiologia do corpo, mostrando o desejo de controle sobre os movimentos corporais involuntários. [...] O corpo também hospeda um sujeito sensível, perceptivo. Na fenomenologia, a subjetividade diz respeito à vida interior, pessoal, do sujeito, de sua maneira de relacionar-se com o mundo, características que o tornam diferente dos demais. O mesmo objeto afeta de diferentes maneiras os sujeitos. Cada sujeito tem uma propriedade, um talento que o torna único. [...] Cabe a dimensão ética da educação o desenvolvimento das potencialidades criativas das pessoas. O desafio de educar-ir além do simples instruir- abre dimensões mais amplas do ser humano: formação da consciência crítica, participativa e política, que envolve responsabilidade e o respeito à pluralidade, o que exige uma consciência transformadora. (AMORIM-NETO; BERKENBROCK-ROSITO, 2007, p. 623).
81
A representação do corpo influenciada, especialmente, por grupos
econômicos favorece a compreensão fragmentada da identidade dos sujeitos em
mente e corpo. Sendo assim, a criança não é um corpo em que os conteúdos
programados são despejados. Essa compreensão de criança-objeto não leva em
consideração a percepção que a criança tem de si mesma e das representações do
conhecimento para compreender a sua realidade. Com isso, a proposta de ciclos
demonstra ser favorável à melhoria da política pública educacional que possam levar
em consideração o que pensam as crianças é uma maneira de preservar e resgatar
a dignidade humana.
A autonomia, a responsabilidade, o respeito, o diálogo são valores éticos e
políticos que devem permear todo o processo de educação e formação. Tal visão
requer uma prática docente diferenciada em consonância com uma formação
também diferenciada, crítica e reflexiva, guiada por valores. Para Freire (2014), “a
consciência crítica parte da compreensão do ser humano como ser no mundo, ser
de relações, finito, inacabado, inconcluso” (FREIRE, 2014, p. 72).
A autonomia vai se constituindo na experiência de várias, inúmeras decisões que vão sendo tomadas. [...] uma pedagogia da autonomia tem de estar centrada em experiências estimuladoras da decisão e da responsabilidade, vale dizer, em experiências respeitosas da liberdade. (FREIRE, 2014, p. 107).
É fundamental termos a clareza de que nós como seres humanos estamos
em constante construção, que nossas ações são escolhas feitas por nós, não são
predeterminadas, podemos mudar o rumo de nossas escolhas.
A raiz mais profunda da politicidade da educação se acha na educabilidade mesma do ser humano, que se funda na sua natureza inacabada e da qual se tornou consciente. Inacabado e consciente de seu inacabamento, histórico, necessariamente o ser humano se faria um ser ético, um ser de opção, de decisão. Um ser ligado a interesses e em relação aos quais tanto pode manter-se fiel à eticidade quanto pode transgredi-la. (FREIRE, 1997, p.110)
Não é diferente com os profissionais de educação ao fazerem escolhas são
responsáveis por elas. Essas escolhas devem ser feitas tendo a clareza que devem
ser regidas sob uma concepção de ética para fundamentar o processo pedagógico.
82
Neste sentido, percebemos que a escola tem privilegiado apenas um eixo da
prática pedagógica, enfatizando o processo ensinar, colocando em segundo plano o
eixo de aprender e formar.
Sendo assim, compreendemos a prática pedagógica na articulação dos
processos de ensinar, formar e aprender. Não se trata de escolha de um dos
processos, já que a escolha por um dos processos segue a lógica da exclusão. A
exclusão recai na não inclusão das diferentes lógicas que são plasmadas na sala de
aula e no interior da escola. Isso significa a exclusão dos sujeitos coletivos.
Agora, se você aprende, faça também “ensinar” (não se refira sistematicamente aos documentos de todo aluno que vem lhe pedir uma explicação ou um complemento) e em “formar” (é o momento de levar em conta a dinâmica do grupo e de prestar atenção especial aos alunos dependentes ou em dificuldades). (HOUSSAYE, 1988, p. 17).
Ao refletir sobre a aprendizagem dos discentes não podemos deixar no lugar
de “morto” o conteúdo ou o lugar do professor como elementos dos processos que
compõem a prática pedagógica. É necessário que o professor priorize o aprender,
mas terá que ter conhecimento de como o aluno aprende, o que causa a dificuldade
de aprendizagem, como intervir, quais atividades deverão ser planejadas para
intervenção em seu processo de desenvolvimento humano. Para tanto, é preciso
compreender que o ser humano se humaniza na construção e apropriação do
conhecimento (conteúdo), como também ter como objetivo o que precisa ser
ensinado, quais os conteúdos devem ser priorizados e como devem ser apropriados
pelos alunos, tendo em vista o tipo de cidadão que se quer formar.
Segundo Berkenbrock-Rosito (2014), aprendemos o que tem sentido para
nós, o que nos toca por inteiros. O que pode ser compreendido nas palavras de
Freire:
Ninguém pode conhecer por mim assim como não posso conhecer pelo aluno. O que posso e o que devo fazer é, [...] ao ensinar-lhe certo conteúdo, desafiá-lo a que se vá percebendo na e pela própria prática, sujeito capaz de saber. (FREIRE, 1997, p. 124).
É preciso que o professor tenha clareza de que sua tarefa não se resume em
transferir conhecimentos, mas sim de ser um facilitador para que o aluno construa
seu conhecimento.
83
Mulheres e homens, somos os únicos seres que, social e historicamente, nos tornamos capazes de apreender. Por isso, somos os únicos em que aprender é uma aventura criadora, algo, por isso mesmo, muito mais rico do que meramente repetir a lição dada. Aprender para nós é construir, reconstruir, constatar para mudar, o que não se faz sem abertura ao risco e à aventura do espírito. (FREIRE, 1997, p. 69).
Mais do que isso, o professor representa muito para os alunos, suas atitudes
são observadas, analisadas e comparadas com o seu discurso. O professor ensina
não só Língua Portuguesa, Matemática, entre outras disciplinas, como também por
meio de suas atitudes ele forma eticamente seus alunos, ou seja, ele deve se
preocupar com a formação integral do aluno.
Às vezes, mal se imagina o que se pode passar a representar na vida de um aluno um simples gesto do professor. O que pode um gesto aparentemente insignificante valer como força formadora ou como contribuição à do educando por si mesmo. (FREIRE, 1997, p. 42).
Como educar é uma escolha e como a sua prática não é neutra, toda ação
educativa tem uma intenção. Cabe ao professor e a equipe pedagógica como um
todo decidir se quer apenas ensinar ou fazer com que a maioria dos alunos aprenda.
É importante ressaltar que esta tarefa não é responsabilidade única do professor.
É preciso reconhecer a necessidade de uma educação para o pensar, que
reflita e confronte uma lógica implícita no discurso para que serve o pensar. Educar
para o pensar e sentir responsáveis de si, do outro e do contexto, trata-se de refletir
sobre o pensar como essencial na maneira de viver, tomando consciência de ser e
estar no mundo.
Neste viés, são necessárias mudanças para que a qualidade de ensino e a
formação de professores possam ter uma concepção diferente, visando à educação
como a autonomia dos sujeitos, para ética com valores, qualidade, compromisso e
comprometimento, isso acontecerá quando ensinar um conteúdo não seja apenas
para sua reprodução, mas seja ético na sua profissão para reflexão e formação da
emancipação do sujeito autônomo.
Assim, devemos considerar que a formação inicial com a contextualização de
que a prática formativa acontece permanentemente e que para melhoria deve se ter
a relação entre o cenário de atuação com a prática pedagógica, buscando respostas
para possíveis incertezas.
84
Freire contribui para esta questão esclarecendo que “não há docência sem
discência” (FREIRE, 1997, p. 12). Nesta obra, o autor discute a formação de
professores a partir de uma pedagogia crítica, contrapondo a Educação Bancária,
assim como retrata os principais pontos que o professor precisa apropriar-se para
promover a autonomia em sua prática educativa, para construção de uma sociedade
consciente.
Assim, na perspectiva de Freire (2012, p. 21), “ensinar não é transferir
conhecimentos”, propõe o sujeito do conhecimento (professor-aluno) com
possibilidades de produção e criação de conhecimento, envolvendo suas
concepções entre a teoria na prática e questões sociais e políticas.
Diante dessas reflexões de Freire (1997), é possível inferir que se faz
necessária uma prática pedagógica fundamentada e com base na teoria; e sua
teoria fundamentada na prática concretamente e não apenas em seu discurso,
nessa dimensão o autor destaca o “pensar certo” que envolve a reflexão crítica.
Ao pensar nesse aspecto e no termo reflexão por Freire (1997) e Zeichner
(2008), apresentado no XIV Encontro Nacional de Didática e Prática de Ensino
(ENDIPE), a reflexão deve ser utilizada para pensar sobre a sua prática, dialogando
como um fim em si mesmo, sobre o seu desenvolvimento como sujeito e não como
objeto.
Além disso, toda ação realizada é imprescindível que haja uma reflexão,
nesse aspecto, Freire (2014) estabelece que ensinar exige consciência do
inacabado, reconhecendo que somos um ser inacabado e que só coloca em prática
aquilo que se realiza e o que está em seu discurso.
Sabe-se que vivemos em uma sociedade oprimida, que reflete diretamente na
educação, sendo assim não temos liberdade, mas uma liberdade vigiada como diria
Foucault (2001), já que o ser humano é facilmente controlado e vigiado a todo o
momento. O autor propõe uma reflexão da “liberdade vigiada” na qual estamos
submetidos diariamente, pois na realidade o ser humano é controlado sem se dar
conta disto, tem a ilusão de ser livre. Dessa forma, transpondo a educação, ser
oprimido é não ter acesso à educação e com qualidade.
Como destaca Freire (2011), temos de nos propor a fazer mudanças que
gerem condições e projeções, com eticidade (ética e moral) de presença no mundo
com condições sociais e políticas, sendo que num um processo de transformação é
indispensável rever, adequar e mudar a educação atual.
85
Para tanto, compreendo também que isso só ocorrerá se houver a autonomia
do sujeito, que são as tomadas das decisões e como diz Freire (1997)
Ninguém é sujeito da autonomia de ninguém. Por outro lado, ninguém amadurece de repente, aos vinte e cinco anos. A gente vai amadurecendo todo dia, ou não. A autonomia, enquanto amadurecimento do ser para si, é processo, é vir a ser. (FREIRE, 1997, p. 25).
Analisar, refletir, observar e contextualizar para além dos paradigmas
científicos ou técnicos, e partir para uma perspectiva mais ampla, introduzindo a
dimensão ética que nos permite justificar o porquê e o que queremos construir uma
sociedade, em que todos tenham as mesmas oportunidades e os sistemas de
valores básicos dos cidadãos e grupos sociais.
O dilema que temos estabelecido de aceitar e concordar que vivemos em um
mundo que deixa de fora uma grande porcentagem da população, não está
desenvolvendo uma política ética de uma sociedade justa. Para isso, a
compreensão da concepção de ética se faz necessária, uma vez que com esta
pode-se construir uma sociedade baseada nos princípios de justiça e equidade, por
meio de ações e metas tangíveis.
Além disso, temos a questão da subjetividade que pode recuperar grande
parte do debate sobre o que tem sido chamado de novas desigualdades, no qual é
preciso reconhecer a importância da dimensão subjetiva diante novos desafios para
a teoria da ação política e os fenômenos sociais, assim, compreender a concepção
de sujeito que é a capacidade de articular uma história em imagens e
representações ligadas ao caminho e sua narrativa de vida, de modo que possa
dizer o que aconteceu, seus sentimentos e suas interações com a mudança de
ambiente, para transformar.
No contexto desta pesquisa, é possível compreender que a Educação
Estética ocorre por meio das narrativas de história de vida de cada sujeito, o que
permite direcionar o olhar para a própria história como possibilidade epistemológica
de conhecer e produzir conhecimentos, ao mesmo tempo desenvolve a
sensibilidade. Com isso, a estética do trabalho docente é aprendida nas relações
estéticas, desde ao entrar na sala de aula.
A criação e recriação de história por meio do registro e comunicação
possibilitam a autoria e construção do ser no mundo. A comunicação ocorre por
86
meio de símbolos e metáforas, o que não ocorre no ensino. Ela força o potencial
criativo do sujeito e a interpretação do ser humano consigo, com o outro e com o
mundo.
A sociedade contemporânea tem o consumo como importante aspecto, por
isso é necessário manter em alerta nossa curiosidade para não haver uma dicotomia
da capacidade de imaginação e elaboração do conhecer. O automatismo vivenciado
atualmente pela sociedade acaba, de certa forma, aniquilando o potencial criativo do
sujeito e como consequência o sujeito perde a capacidade de resolver novos
problemas. Temos aqui a reverberação do conceito já apresentado neste trabalho de
Educação Bancária, pois
memorização mecânica dos conteúdos, em certos casos, com exercícios repetitivos que ultrapassam o limite razoável e não damos nenhuma atenção quase a uma crítica educação da curiosidade. (FREIRE, 2012, p. 125).
Contudo, compreende-se que, independentemente do período histórico, a
educação antevê como um modelo primário a elaboração e apropriação do
conhecimento, assim como a maiêutica Socrática, que tem como sentido “dar a luz”,
como o parto, na busca do entendimento e da verdade por intermédio de perguntas
e respostas.
Esse processo, como a própria definição nos remete, é doloroso e por isso
pode ser lento e deve ser sensível, pois no movimento da busca pelo conhecimento
abrange a dúvida, a reflexão, o desenvolvimento e a autonomia, no qual se leva
tempo para conhecer, considera-se a maturidade do sujeito e o momento.
Para que isso ocorra, se faz necessário buscar formação com a intenção de
saber lidar com as diferentes realidades e culturas, estabelecendo um processo
educacional que desafie a construção de conhecimentos embasados e
fundamentos, e avance do senso comum para o conhecimento científico.
Neste viés, a proposta pedagógica de Freire traz o processo de
conscientização, para que o sujeito não permaneça na vitimização, fatalismo ou
determinismo, assim o sujeito passa da consciência ingênua para sua consciência
crítica. Nesta proposta de Freire, a curiosidade é a proposta epistemológica para
abertura do conhecimento, um movimento entre a curiosidade estética e ética por
87
meio das relações humanas e espaço, pois a sala de aula deve ser a extensão da
vida.
Portanto, aqui, temos o trabalho biográfico em si, que estabelece a
consciência e presença de si, que possibilita enxergar novos caminhos e
oportunidades, nesse processo adquirimos um saber existencial para lidar com
outros laços e os obstáculos da vida, tornam-se trampolim de conquista de ser.
89
3 COLCHA DE RETALHOS: UMA POSSIBILIDADE DE DESENVOLVIMENTO DA
AUTONOMIA E EMANCIPAÇÃO NA FORMAÇÃO
O objetivo deste capítulo consiste em apresentar a análise da coleta de dados
das narrativas discentes registradas a partir da atividade realizada por Berkenbrock-
Rosito no Curso de Pedagogia da Universidade Cidade de São Paulo (UNICID). A
análise das narrativas discentes presente nos registros diários sobre a participação
na elaboração da “Colcha de Retalhos” é o objeto deste estudo, e, mais
especificamente, o conteúdo desse capítulo permite identificar as possibilidades no
processo de desenvolvimento da emancipação e autonomia do discente que
ocorrem via estética na metodologia formativa “Colcha de Retalhos”, visando
contribuir para a reflexões acerca de proposições e estratégias no processo de
formação docente.
Deste modo, será possível elucubrar sobre a proposta “Colcha de Retalhos”
de forma crítica, refletindo sobre a prática e, a partir daí, reorganizar o trabalho em
sala de aula, para compreender a importância da construção da narrativa nos
processos formativos, como metodologia e epistemologia de trabalho pedagógico.
3.1 Narrativas discentes: uma compreensão sob o enfoque hermenêutico
A abordagem desta pesquisa é qualitativa e o procedimento análise
documental. O material analisado são as narrativas discentes dos 4º e 5º semestres
do Curso de Pedagogia da Universidade Cidade de São Paulo (UNICID) uma
universidade privada com sede na cidade de São Paulo, localizada na Zona Leste.
O Curso de Pedagogia, na Universidade Cidade de São Paulo, tem como
desafio a formação de profissionais da educação, professores e gestores,
preocupados não apenas em compreender o contexto atual, mas como poderia ser o
campo educacional brasileiro, considerando a necessidade de dinamismo e
inovação para buscarmos um desenvolvimento do cenário contemporâneo.
A disciplina “História da Educação e da Pedagogia”, ministrado por
Berkenbrock-Rosito, em 2013, de acordo com o Projeto Pedagógico do Curso de
Pedagogia da UNICID, aborda conceitos teóricos fundamentados sempre no tempo
histórico, no sujeito histórico, nos fatos históricos e na memória, ou seja, todo estudo
envolve o contexto e a história, para que haja uma compreensão do contexto vivido,
90
principalmente devido às constantes evoluções, além de promover a reflexão sobre
seu processo autofomativo.
As reflexões de seu processo reflexivo foram apresentadas na forma dos
Registros Diários, que consistiam em registros individuais sobre as aulas. Essa
prática foi adotada por Berkenbrock-Rosito, docente da disciplina, de modo que as
alunas pudessem registrar a experiência vivenciada em sala de aula, bem como
trazer fragmentos que de alguma forma sensibilizaram e foram arrebatadores para o
seu processo de aprendizagem.
Tais registros diários auxiliam na busca do sentido identitário de quem os
escreve, pois, apesar de todos os alunos terem como objetivo o registro de aula,
cada um faz a sua escolha dos tópicos e a forma de registrar as vivências, no qual
compõem páginas próprias, de autoria e singular.
Elege-se como material de estudo os registros diários produzidos pelo 4º e 5º
semestres, em 2013, que participaram da disciplina “História da Educação e da
Pedagogia”, ministrada por Berkenbrock-Rosito. Vale destacar que os alunos dos
dois semestres formam uma turma única. Assim, nesta classe, os alunos do 4º
semestre não haviam participado da “Colcha de Retalhos”. Entretanto, as alunas do
5º semestre precisavam finalizar o trabalho com a “Colcha de Retalhos”, iniciado no
semestre anterior, onde cada aluna contou a história tecida no retalho, porém,
faltava a costura dos retalhos para dar forma ao produto final. A solução encontrada
para que todos participassem foi organizar os alunos do 4º semestre em dois
grupos, assim como no 5º semestre, sendo que a tarefa dos primeiros foi realizar
uma entrevista narrativa cujo produto faria parte dos registros diários que eram a
sistematização de cada aula, que todos faziam.
Esse material assume, neste trabalho, o papel de documento a ser
investigado. Os dados coletados pelas alunas do 4º semestre utilizando o
procedimento da Entrevista Narrativa, que é uma técnica que busca a coleta de
informações sobre um assunto e que são diretamente solicitados aos sujeitos
pesquisados (JOVCHELOVITCH; BAUER, 2002). Ressalta-se que a narração está
inserida em um esquema autogerador, no qual as informações, relevâncias e
acontecimentos constroem as histórias de quem narra, com defendem Jovchelovitch
e Bauer (2002). Neste viés, afirmam os autores:
91
O estudo da narrativa conquista uma nova importância nos últimos anos. Este renovado interesse tem um tópico antigo: narrativas e narratividade tem suas origens na Poética de Aristóteles e está relacionada com a consciência do papel que contar histórias desempenha na conformação de fenômenos sociais. No despertar desta nova consciência, as narrativas se tornaram um método de pesquisa muito difundido nas Ciências Sociais. A discussão sobre narrativas vai, contudo, muito além de seu emprego como método de investigação. A narrativa como forma discursiva, como história, como histórias de vida e histórias sociais, foram abordadas por teóricos culturais e literários, linguistas, filósofos da história, psicólogos e antropólogos. (JOVCHELOVITCH; BAUER, 2002, p. 90)
As narrativas podem participar da formação do ser humano ao conduzir a
uma vivência simbólica, social e pedagógica, como também à possibilidade do
sujeito produzir sua própria história, como narrador e personagem, baseada em
fatos da própria vida pessoal e profissional. Jovchelovitchv e Bauer (2002) afirmam
que o uso de narrativas, como forma de expressão, ao contar um fato ou narrar uma
história se faz presente em toda a história humana.
A entrevista narrativa, na perspectiva de Jovchelovitch e Bauer (2002),
compreende as seguintes fases: a preparação, por meio da exploração do campo e
da identificação dos sujeitos envolvidos; a iniciação, com a formulação do tópico
inicial para narração; a narração central, que consiste numa narração livre por parte
dos sujeitos; a fase de perguntas, com questões desencadeadoras formuladas pelo
entrevistador e a fase conclusiva.
O momento de preparação e iniciação da entrevista acontece quando
elegemos alguns retalhos produzidos pelo 5º semestre e a autora contava a sua
história para as alunas do 4º semestre. Em seguida, o 4º semestre assistia a costura
dos retalhos e conversavam com outras autoras sobre a sua história. Convém
salientar que as histórias já haviam sido contadas por cada participante. Todavia,
sentiu-se a necessidade de que algumas histórias fossem recontadas para que os
alunos do 4º semestre pudessem sentir o trabalho realizado. Essa experiência e a
troca de conhecimentos se estabeleceram de modo que partilharam as
aprendizagens da importância de relatar a sua história de vida.
Em seguida, ocorreu a narração central. Os alunos do 4º semestre foram
divididos em dois grupos e os do 5º, também em dois. Assim, coube ao 4º semestre
lançar as informações adquiridas a partir da pergunta: Conte-nos o que significou
para você a participação na elaboração da “Colcha de Retalhos” no curso de
Pedagogia. Durante a entrevista, as alunas faziam os questionamentos,
92
estabelecendo-se o momento de narração central. A conversa foi gravada e
transcrita pelas alunas do 4º semestre.
Na fase conclusiva, realizou-se um questionário com as seguintes questões: o
resgate do processo (auto) formativo no contar como reconheceu que aprendeu
resgatar episódios marcantes, reconhecer as pessoas, professores, livros que
influenciaram a sua escolha profissional? O que significou refletir sobre a sua
relação com o conhecimento, professor e consigo mesmo se de autoria ou não, ou
seja, permitiu perceber que a trajetória pessoal e profissional não são distantes e
que influenciam os modelos de práticas e a decisão profissional? O que significou
transformar sua narrativa escrita na narrativa pictórica (imagem no tecido do
retalho)? Foi importante narrar sua história tecida no retalho para o grupo e ouvir a
do outro? Por quê? Você considera que a atividade “Colcha de Retalhos” foi
importante para a formação de professores no curso de Pedagogia? Por quê? O que
você parabeniza, critica e propõe para a atividade “Colcha de Retalhos”?.
A fim de elucidarmos melhor este processo, trazemos aqui um quadro com as
fases da narrativa sintetizadas.
Preparação Local e sujeitos
Iniciação
Retalhos produzidos pelo 5º semestre e relato da autora sobre a sua história para as alunas do 4º semestre. Em seguida, o 4º semestre assistia a costura dos retalhos e conversavam com outras autoras sobre a sua história.
Narração central
Os alunos do 4º semestre e do 5º foram divididos em dois grupos. Ao 4º semestre coletou as informações adquiridas a partir da pergunta: Contem-nos o que significou para você a participação na elaboração da “Colcha de Retalhos” no curso de Pedagogia.
Conclusão
Questionário com as questões: o resgate do processo (auto) formativo no contar como reconheceu que aprendeu resgatar episódios marcantes, reconhecer as pessoas, professores, livros que influenciaram a sua escolha profissional? O que significou refletir sobre a sua relação com o conhecimento, professor e consigo mesmo se de autoria ou não, ou seja, permitiu perceber que a trajetória pessoal e profissional não são distantes e que influenciam os modelos de práticas e a decisão profissional? O que significou transformar sua narrativa escrita na narrativa pictórica (imagem no tecido do retalho)? Foi importante narrar sua história tecida no retalho para o grupo e ouvir a do outro? Por quê? Você considera que a “Colcha de Retalhos” foi importante para a formação de professores no curso de Pedagogia? Por quê? O que você parabeniza, critica e propõe para a atividade “Colcha de Retalhos”?
Quadro 2: Fases da entrevista narrativa Fonte: Elaborado pela pesquisadora
93
Assim se efetivou a coleta de dados pelos alunos do 4º semestre de
Pedagogia. O material empírico a ser analisado, bem como os dados coletados
utilizando como procedimento a Entrevista Narrativa com os discentes que
participaram do dispositivo formativo, contribuiu para identificar o sentido e o
significado que é dado para cada sujeito.
Nesta perspectiva, vale aqui destacar Suárez recorrendo a Connely e
Clandinin (1995), que esclarece que tais narrativas
podem ser consideradas como uma qualidade estruturada da experiência humana e social, entendida e vista como relatos. Esses relatos são reconstruções dinâmicas das experiências nas quais seus atores dão significado ao acontecido e vivido, mediante um processo reflexivo e, em geral recursivo. Por isso, nessa perspectiva, pode-se afirmar que as narrativas estruturam nossas práticas sociais e que essa “linguagem da prática” tende a esclarecer os propósitos dessas práticas, fazendo que a linguagem narrativa não fale apenas sobre elas, mas que, além disso, as constitua e colabore na sua produção. [...] narrar histórias, nas quais os atores educativos encontram-se envolvidos na ação, e interpretar essas práticas à luz das narrativas surge como uma perspectiva peculiar de pesquisa [...] que pretende reconstruir, documentar, questionar e tornar críticos os sentidos e compreensões pedagógicas que os docentes constroem, reconstroem e negociam quando escrevem, leem, refletem. E conversam entre colegas sobre suas próprias práticas educativas. (SUARÉZ, 2008, p. 110).
Consoante, Monteiro (2003) defende que os espaços de formação precisam
proporcionar uma perspectiva reflexivo-investigativa, propiciando momentos de uso
da narrativa de formação. Ainda explana que cada processo de reflexão associado à
investigação possibilita o acesso a teorias implícitas, pessoais ou profissionais, o
que origina novas compreensões sobre estas e novos avanços progressivamente
em todos os níveis de conhecimento profissional docente. Quando este processo de
reflexão e investigação está aliado à formação, é possível afirmar que se constroem
coletivamente novos conhecimentos e práticas de emancipação.
O procedimento de análise de narrativa seguiu a Análise Temática sugerida
por Jovchelovitch e Bauer (2002) para o processo gradual de redução do texto
qualitativo. Desta forma, cada unidade do texto foi reduzida, inicialmente, em uma
paráfrase. Assim, parafrasearam-se, em uma sentença sintética, as passagens
inteiras ou parágrafos obtidos, sendo que, em seguida, definiram-se algumas
palavras-chave para essas sentenças. Em seguida, após a descrição do nome
fictício do narrador na primeira coluna, o texto principal foi exposto em três colunas,
contendo a transcrição íntegra, de forma a manter a originalidade, a veracidade e
94
até mesmo as emoções contidas nos dados relatados pelas alunas, na segunda
coluna; a paráfrase ou redução da frase, na terceira; e as respectivas palavras-
chave na quarta coluna. Ressalta-se que uma quinta coluna foi acrescentada na
tabela originada ao final do processo, com a finalidade de conter o “sistema de
categorias ou eixo”. A classificação das palavras-chave em eixos buscou facilitar a
discussão dos resultados encontrados.
Na análise temática, constrói-se um referencial de codificação, por isso é
recomendado pelos autores que seja um procedimento gradual de redução do texto
qualitativo. Desta maneira, as unidades do texto vão sendo reduzidas
progressivamente, constituindo-se então numa série de paráfrases, até se conseguir
extrair as palavras-chave.
A tabulação dos dados buscou identificar por meio das narrativas discentes,
qual a visão dos alunos, tanto do 4º quanto do 5º semestre, sobre a participação na
confecção da “Colcha de retalhos”.
Após esta separação dos dados coletados em tabelas, foi possível iniciar o
processo de análise temática, envolvendo as paráfrases, as palavras-chave e as
categorias, buscando compreender se houve um processo de autoria ou submissão,
diante das suas narrativas. Este processo está documentado e vários trechos serão
utilizados durante a análise, contudo temos o material completo nos anexos.
Para conclusão da análise, foram tabuladas as narrativas acerca do
questionário sobre o resgate (auto) formativo, incluindo as questões realizadas pelas
alunas do 4º semestre que não participaram do processo de feitura da “Colcha de
retalhos” para as alunas do 5º semestre que realizaram a construção.
Em seguida, tivemos a transcrição dos dados coletados para as sete
perguntas, a fim de analisar “Quais os limites e possibilidades do desenvolvimento
da autonomia e emancipação dos sujeitos?”. Neste processo, também utilizamos os
procedimentos da análise temática, de forma a identificar os eixos temáticos,
conforme pode ser observado nos anexos.
A título de organização e de preservação do anonimato, as alunas receberam
nome de borboletas para preservar as identidades e autoria das narrativas. A
escolha pelas borboletas remete à metáfora que permeia a dissertação, destacando
os processos de mudança e transformações que trazem liberdade, alegria, cor e
novas possibilidades. O nome das borboletas foi escolhido de forma aleatória, pois
todas, nas suas mais diferentes espécies, demarcam transformações e mudanças,
95
do mesmo modo que ocorre com os sujeitos, que vão se modificando ao longo do
processo formativo.
Sendo assim, a criatividade foi aflorada e pude dar asas a imaginação para
nomear, a partir de estudos e pesquisas de imagens, obras de artistas e citações
que envolvem o processo da metamorfose, pesquisas sobre voos, borboletas e
transformação, bem como a partir da pesquisa de informações breve sobre zoologia,
no Borboletário do Museu Nacional de História Natural.
A analogia da borboleta ao processo formativo pode ser percebida desde o
seu processo de nascimento, seu casulo, lagarta, sua metamorfose e seu voo. Cada
borboleta tem seu próprio desenvolvimento de forma singular, sua espécie, sua cor,
seu tamanho e seu tempo para fazer seu voo. O contraste das diversas cores e das
diferentes espécies é uma arte e nos leva ao belo. Segundo Schiller (2002), talvez
para alguns despertasse o feio ou a agonia, pela forma que se transforma de um
pequeno ser para um que voe.
Vale destacar que as participantes da pesquisa têm sua identidade
relacionada a cada questão norteadora. No caso do anexo A, temos os trechos
relacionados à questão “Conte-nos o que significou participar da ‘Colcha de
Retalhos’”, contando apenas com alunas do 5º semestre, com a relação abaixo.
Sujeitos Discentes
Narrador 1 Borboleta marrom
Narrador 2 Borboleta três cores
Narrador 3 Borboleta laranja
Narrador 4 Borboleta Vermelha
Narrador 5 Borboleta amarela
Narrador 6 Borboleta polidama
Narrador 7 Borboleta preta e vermelha
Narrador 8 Borboleta 88
Narrador 9 Borboleta Azul
Narrador 10 Borboleta Branca
Narrador 11 Borboleta branca camuflada
Narrador 12 Borboleta branca da madeira
Narrador 13 Borboleta coruja
Narrador 14 Borboleta estranha
96
Narrador 15 Borboleta mórmon
Narrador 16 Borboleta Rainha Alexandra
Narrador 17 Borboleta transparente
Narrador 18 Borboleta zebra
Narrador 19 Borboleta-aquática
Narrador 20 Borboleta-pavão
Narrador 21 Borboleta-apolo
Narrador 22 Borboleta bananeira
Narrador 23 Borboleta-folha
Narrador 24 Borboleta Monarca
Narrador 25 Esmeralda cauda-fina
Narrador 26 Borboleta preta e laranja
Narrador 27 Borboleta estaleira-cinza
Narrador 28 Borboleta maracujá
Narrador 29 Borboleta Castanha-vermelha
Narrador 30 Borboleta dos olhos verdes
Narrador 31 Borboleta do Manacá
Narrador 32 Borboleta verde
Narrador 33 Borboleta Rosa
Quadro 3: Seleção de nomes para as narrativas discentes referentes à questão norteadora Fonte: Elaborado pela pesquisadora
Já os dados obtidos foram dispostos no anexo C, são compostos por trechos
com relação à questão introdutória “Qual a percepção das alunas dos 5º semestre
sobre a feitura da ‘Colcha de Retalhos’?’”, tendo como participantes os narradores
descritos a seguir.
Sujeitos Discentes
Narrador 1 Borboleta Artista
Narrador 2 Borboleta Boneca
Narrador 3 Borboleta Cometa
Narrador 4 Borboleta Diferente
Narrador 5 Borboleta Filha
Narrador 6 Borboleta Palmeira
Narrador 7 Borboleta Geométrica
Narrador 8 Borboleta Hidro
97
Narrador 9 Borboleta Joaninha
Narrador 10 Borboleta Limoeiro
Narrador 11 Borboleta Jardim
Narrador 12 Borboleta Floral
Narrador 13 Borboleta Numeral
Narrador 14 Borboleta Mental
Narrador 15 Borboleta da Casa
Narrador 16 Borboleta Alerta
Narrador 17 Borboleta do Sul
Narrador 18 Borboleta do Norte
Narrador 19 Borboleta do Leste
Quadro 4: Seleção de nomes para as narrativas das discentes dos 5º semestres referentes à questão introdutória Fonte: Elaborado pela pesquisadora
Esta mesma questão introdutória respondida pelas alunas dos 4º semestre,
tem os dados dispostos no anexo B, tendo as participantes seus nomes elencados
abaixo.
Sujeitos Discentes
Narrador 1 Borboleta Maria
Narrador 2 Borboleta Pororo azul
Narrador 3 Borboleta Estaleira
Narrador 4 Borboleta Tigre
Narrador 5 Borboleta da Couve
Narrador 6 Borboleta Andorinha
Narrador 7 Borboleta Adelpha
Narrador 8 Borboleta Vanille
Narrador 9 Borboleta Amathea
Narrador 10 Borboleta Menipe
Narrador 11 Borboleta Biblis
Narrador 12 Borboleta Anamathea
Narrador 13 Borboleta Satyri
Narrador 14 Borboleta Rosa de Luto
Narrador 15 Borboleta Thoas
Narrador 16 Borboleta Beija-Flor
98
Narrador 17 Borboleta Seda
Narrador 18 Borboleta Estrela
Narrador 19 Borboleta Cristal
Narrador 20 Borboleta Esmeralda
Narrador 21 Borboleta Rubi
Narrador 22 Borboleta Ametista
Narrador 23 Borboleta Pérola
Narrador 24 Borboleta Diamante
Narrador 25 Borboleta Princesa
Narrador 26 Borboleta Grafite
Narrador 27 Borboleta Agata
Narrador 28 Borboleta Marinha
Narrador 29 Borboleta Citrino
Quadro 5: Seleção de nomes para as narrativas das discentes dos 4º semestres referentes à questão introdutória Fonte: Elaborado pela pesquisadora
A partir deste processo de parafrasear os dados obtidos, desenvolve-se um
sistema com o qual todos os textos podem ser codificados, constituindo ao fim uma
interpretação das narrativas, unindo as estruturas de relevância dos informantes
com as do pesquisador. “A fusão dos horizontes dos informantes e do pesquisador é
algo que tem a ver com a hermenêutica”. (JOVCHELOVITCH; BAUER, 2002, p.107).
Assim, temos a contribuição de Gadamer (2000), na busca da interpretação
hermenêutica das narrativas discentes. Para Gadamer (2000), a hermenêutica,
enquanto compreensão filosófica, é a arte de interpretar, traduzir, explicitar e
compreender, é o pensar e o conhecer, com equilíbrio, na busca da compreensão. À
vista disso, compreender, para Gadamer (2000), é um movimento que vai da palavra
ao conceito e do conceito à palavra, é um processo de revelar os horizontes, para
encontrar no texto o sentido de algo que diz por si mesmo.
Este horizonte se diferencia e pode variar de acordo com a época, o momento
histórico e cultural, principalmente porque existem peculiaridades, por meio das
quais se constroem diferentes perspectiva de mundo. Esta não é fixa ou estática,
mas um processo de crescimento e desenvolvimento.
Diante disso, concebe-se o conceito da hermenêutica, que tem o objetivo de
analisar qualquer que seja o estudo, para isso deve-se considerar a historicidade,
99
para uma compreensão livre de estereótipos provenientes dos preconceitos e
julgamentos da sociedade contemporânea.
Lawn (2011) destaca a ausência de clareza com os termos interpretação e
hermenêutica por serem tratados como semelhantes e essa ambiguidade pode ter
sido iniciada devido à origem da palavra hermenêutica que deriva do verbo grego
hermeneuein, que significa interpretar. Com o uso de uma metáfora em que Hermes
(que deriva de hermeneuein) um mensageiro dos deuses gregos que fazia o papel
de transmitir as mensagens destes aos mortais.
A hermenêutica, ou seja, “a arte de interpretar” com seus próprios
procedimentos e técnicas, tendo o papel de proteger e revelar a mensagem oculta.
Esta interpretação segue essa trajetória que trilha da palavra ao conceito, para então
a descoberta do conceito à palavra, para atingir a compreensão coerente do texto,
com objetivo de revelar e desvendar efetivamente um determinado conceito. Assim,
para Gadamer (2000) compreender é:
Compreender não é, em todo caso, estar de acordo com o que ou com quem se compreende. Tal igualdade seria utópica. Compreender significa que eu posso pensar e ponderar o que o outro pensa. Compreender não é portanto, uma dominação do que nos está à frente, do outro e, em geral, do mundo objetivo. Pode até também se compreender, que se compreenda para dominar. Assim, é também natural a vontade de dominação dos homens sobre a natureza, o que, de fato, torna possível a nossa sobrevivência. (GADAMER, 2000. p. 23).
Na Hermenêutica, a primeira interpretação ou compreensão é feita da pré-
compreensão, de pré-juízos, de pré-conceito, o sujeito que interpreta precisa ter
consciência dessa importância, limpar a sua mente e buscar o sentido real do texto e
não aquilo que se imagina ou pressupõe que o autor disse, exige um esforço na
interpretação para que possa chegar ao sentido do que não foi dito.
O objetivo é compreender o sentido das comunicações, seu conteúdo dito ou
não dito, as significações explícitas ou ocultas, principalmente que a tendência da
sociedade moderna é reproduzir como verdade o que é dito, mas sem compreender.
Buscando interpretar às diferentes leituras e linguagens com consciência crítica e
reflexiva, distanciando cada vez mais do processo de submissão altamente
reproduzido na sociedade.
Esse processo não é imediato, é um processo de desconstrução e
reconstrução. Assim, une-se ao conceito do Círculo da Compreensão na perspectiva
100
hermenêutica, em Gadamer (2000): o sentido de um texto é remover da parte, da
palavra ao conceito e do conceito à palavra, ampliando-se o horizonte de mundo.
Nesse aspecto, toda frase pronunciada tem muitos sentidos e cada um
precisa fazer o esforço de interpretar e compreender e argumentar o sentido da
frase no contexto. A primeira regra da hermenêutica é estudar textos, imagens,
filme, fotografias, do estudo, analisando sua intencionalidade de acordo com o
retrato de sua época, depois distanciar-se das interpretações óbvias e por isso, as
interpretações devem ser feitas sem pressa, podendo vivenciar o momento estético
da experiência da aprendizagem estética de pesquisa.
“A hermenêutica é, muito antes, uma visão fundamental acerca do que
significa em geral, o pensar e o conhecer para o homem na vida prática, mesmo se
trabalhando com métodos científicos” (GADAMER, 2000, p. 19). Desta forma, é
necessário permitir que o texto fale para que seja compreendido, pois o mesmo não
foi idealizado para que só o intérprete mostre o que pensa.
Diante desse conceito, a interpretação do mundo e do passado não pode ser
desconsiderada, pois à luz da hermenêutica desvelamos os saberes ocultos para a
compreensão contemporânea. Partindo desta concepção, a história não nos
pertence, e sim pertencemos a ela e na medida em que a interpretamos surge um
modelo de reflexão, de pensamento e de ação.
Em suma, a cada interpretação que é realizada, parte do princípio do que se
conhece e esse conhecimento será reconstruído, constituindo-se assim um espiral,
dentro do qual há um movimento cíclico entre uma parte do texto e seu sentido
global, que fundamenta a hermenêutica filosófica.
À vista disso, a hermenêutica é o pilar de que a mudança é constante, o que
demanda:
a consciência de que nossa compreensão depende da linguagem que se realiza no diálogo que somente no encontro com outras pessoas que pensam de outra forma podemos superar nossos próprios horizontes interpretativos. (HERMANN, 2002, p. 60).
Nesse aspecto, o desafio da hermenêutica, ciência da arte de interpretar não
só textos, mas também todos os elementos da própria vida, constitui-se numa
batalha infinita, assim toda frase pronunciada tem muitos sentidos e cada um precisa
101
fazer o esforço de interpretar e compreender e argumentar o sentido da frase no
contexto.
Esse caminho é uma possibilidade de alinhavar, tecer, fiar e bordar as teorias,
os dados, os encontros e os desencontros ocorridos ao longo da investigação.
Contudo, a partir da análise da perspectiva hermenêutica, a busca será no sentido
da Educação Estética nas narrativas discentes e a compreensão do
desenvolvimento da autonomia e emancipação dos sujeitos no curso de Pedagogia.
3.2 A estética do casulo: encasular, isolar, fechar e mudar no processo
formativo
“Conte-nos o que significou participar da ‘Colcha de Retalhos’” perguntam as
alunas do 4º semestre e as alunas do 5º semestre expõem seus pontos de vista.
Reconhecer e relembrar o que aconteceu na minha vida escolar é um dos pontos principais que me fez ser uma futura professora. O que me influenciou a ser professora, foram meus primeiros anos escolares, que foram atribulados e difíceis, que deixaram profundas lacunas em meu aprendizado. No entanto, eu como professora pretendo inverter este quadro, (no que depender de mim) sendo observadora e tendo um conhecimento sigiloso sobre todos os meus alunos e especificamente com aqueles alunos que tem mais dificuldades no aprendizado, pois todo indivíduo é inteligente e capaz. O que precisamos descobrir é a fonte estimuladora deste aprendizado. Significou momentos de sofrimentos e alegrias. O que dificultou o pensamento, a escolha e também a decisão de qual imagem retratava melhor estes momentos. (Borboleta Marrom, 5º sem.).
Apresentam-se “memórias” da narradora sobre acontecimentos de sua vida.
As lembranças da infância no espaço escolar influenciaram a sua escolha pela
profissão, a aluna reconhece a origem do desejo de ser uma professora diferente. A
possibilidade de transformação afetada pelas emoções também está presente na
narrativa da Borboleta Laranja e Três Cores:
Acredito que o resgate de episódios marcantes, ou melhor, reconhece-los, se deu através do olhar para si e para a história de vida e perceber que através da intuição, os pontos que permitem as transformações, ou seja, através da intuição (motiva, emocional e intelectual) as fissuras entre os acontecimentos, o eu neste. É essencial na formação de professores no curso de pedagogia, pois o profissional da educação é o único que inicia a sua formação ao nascer, e olhar, refletir toda a história de sua formação, inclusive no contexto educacional é primordial para favorecer a formação de profissionais conscientes, críticos e reflexivos, autores e autônomos,
102
portanto, mais capazes de promover transformações sociais. (Borboleta Laranja, 5º sem.).
Perceber que tudo tem ligação, elas não imaginavam que pudesse resgatar o ensino fundamental no ensino médio. Existem algumas coisas que não lembravam e com a colcha elas forçavam as lembranças. (Borboleta três Cores, 5º sem.)
A vivência da feitura da “Colcha de Retalhos” pelas alunas do 5º semestre de
acordo com o registro das alunas do 4º semestre, foi de momentos permeados pela
emoção. A Borboleta Geométrica ilustra essa constatação: “Durante a aula algumas
meninas relataram suas histórias do ensino fundamental ou fato de vida que marcou.
[...] Todas ficaram muito emocionadas em relatar suas histórias.” (Borboleta
Geométrica, 4º sem.).
A narrativa como dimensão estética do conhecimento também está presente
nos registros de Hidro, Joaninha e Borboleta do Leste:
relatam as histórias de suas vidas, no qual conquistas, perdas, mas acima de tudo realizações tanto na vida profissional como na pessoal. [...] Fiquei emocionada e pensando se um dia também poderei fazer uma colcha. (Borboleta Hidro, 4º sem.). A colcha emociona envolve, desmorona, reflete momentos de nossa vida e é através da experiência e lição de vida dos outros e nossas. [...] Descobrimos que ninguém é perfeito, sempre vai haver momentos em nossas vidas que choramos momentos dolorosos, alucinantes, bons, maravilhosos, enfim a vida não para. (Borboleta Joaninha, 4º sem.).
Esses pequenos pedaços de panos diversificados (bordados, pintados, expressos, fotografados) entre outros, eram representações de vidas de cada aluna, que tentavam retratar e passar seus sentimentos de perda, saudades, vitórias, conquistas e suas lembranças e até suas esperanças em forma de um desenho, foto, imagem, pintura e cores diversas. (Borboleta do Leste, 4º sem.).
A emoção está claramente presente nas narrativas. Com isso, podemos
afirmar que o momento das alunas do 5º semestre contarem sobre a feitura e
participação na “Colcha de Retalhos” para as alunas do 4º semestre foram
momentos de experiência estética do conhecimento, permeados pela emoção, do
gosto e do desgosto, tanto para as alunas entrevistadas como para as
entrevistadoras. A aprendizagem é uma vivência que ocorre via a emoção,
constituindo-se na dimensão estética do conhecimento. Cabe aqui ressaltar que
para Josso (2004) a experiência só ocorre por meio da reflexão sobre a vivência.
Assim, é possível compreender a trajetória formativa por meio da história de vida,
103
percebendo que aprendizagem só ocorre quando é vivenciada e experimentada, um
modo de crescimento, maturidade intelectual e emocional do ser humano.
Ao refletir sobre minha trajetória me lembrei de muitos momentos diferentes aos que escrevi na narrativa, mas reconheci aqueles que escrevi como mais importantes porque foram os que causaram emoções mais fortes.(Borboleta Polidama, 5º sem.)
As alunas do 4º semestre também puderam constatar durante a entrevista
narrativa que existe uma reflexão individual, fazendo com que possa ver sua história
de vida tecida em retalho e que é impactada fortemente ao fazer a narração coletiva.
A respeito disso, a Borboleta Artista, do 5º semestre, declara a importância da
troca de experiência: “troca de experiência entre os alunos [...] O registro é de
extrema importância e o retalho é o registro de algo marcante na vida” (Borboleta
Artista, 5º sem.). Já outra aluna destaca que: "pudemos trazer experiências, e até
compartilhar momentos da época da elaboração da colcha. Nós falamos aquilo que
julgamos necessário as pessoas saberem.” (Borboleta Anamathea, 5º sem.). A
borboleta Diamante diz que a Colcha de Retalhos possibilita: “relembrar de todos os
momentos e das histórias de vida”. (Borboleta Diamante, 5º sem.).
À vista disso, na narrativa de Borboleta Amarela relata o fato de que para
acontecer mudanças de pensamento é importante que haja conhecimento, no qual
são realizados no processo formativo, além de não se segregar a trajetória pessoal,
profissional ou acadêmica.
Me levou a pensar sobre a minha história e sobre mim mesma e assim perceber os significados que tiveram alguns acontecimentos em minha vida. Talvez autoria no processo de conhecimento sobre minha trajetória pessoal seja marcado pelo esclarecimento de que as minhas atitudes no momento em que eu vivia (passava por alguns acontecimentos em minha vida) seriam os responsáveis pelo rumo que iria tomar minha vida, sendo assim minhas escolhas dependiam de mim, retirando do papel de vítima e me colocando no papel de responsável pela minha história. (Borboleta Amarela, 5º sem.).
Evidencia-se na narrativa acima um valor estético a responsabilidade. A
necessidade de cada ser humano assumir a responsabilidade de ser autor da sua
história, um princípio que se aprende e sustenta uma atitude cidadã, implica ao
mesmo tempo outro valor estético o desenvolvimento da autonomia no processo de
formação.
104
É possível afirmar que o desenvolvimento da autonomia por meio da narrativa
de si é um processo que envolve a resistência, passa pelo medo da reprovação do
outro, um processo que envolve o autoconhecimento. Conforme podemos vislumbrar
nas seguintes narrativas:
No começo achei essa ideia um pouco estranha, pensei logo que seria chato, que não iria dar certo, mas com o passar dos dias fui entendendo o que seria esse trabalho, o significado, e logo me peguei pensando no que faria como faria... É engraçado, pois quando alguém nos mostra algo novo, algo que temos que fazer por nós mesmos logo negou, falamos que não vai dar certo ou que vai dar muito trabalho, só pelo fato de que somos nós, e só nós, que temos que fazer. (Borboleta Citrino, 5º sem.). Esse trabalho foi de extrema importância, pois consegui ver além do que foi dito, expor as nossas histórias e nossas experiências para o próximo. Sei que devemos separar a nossa vida profissional da pessoal, mas em alguns momentos será necessário trazer algumas coisas da vida pessoa ao trabalho. [...] nem sempre estamos preparados para recordar algo que passou na vida, mas é preciso trazer as lembranças para superar, aprender e porque não, fazer igual ou diferente [...] saber um pouco das nossas fraquezas e autodefesa, mas para isso, precisamos nos conhecer como um todo e isso começa pelo nosso passado. (Borboleta Ametista, 5º sem.). a maioria passou para seu retalho algo de muito importante e emocionante que havia ocorrido em sua vida, outros, assim como eu optaram por algo que não envolvesse muito a família, algo mais superficial, não sei ao certo porque, talvez alguns de nós ainda não se sentia tão a vontade com a exposição, ainda por vergonha e receio de falar sobre o que passou. (Borboleta Esmeralda, 5º sem.).
As narrativas de Borboleta Citrino, Borboleta Ametista e Borboleta Esmeralda
indicam um movimento preocupado com a aprovação do outro, mostram que a
resistência é uma necessidade de permanecer um pouco mais no casulo. Enxergar-
se e perceber-se, não é algo tão simples, se faz necessário aprender a lidar com as
emoções, sentimentos sobre o que nos afeta, o que se desvela durante a revelação
da trajetória de vida.
O não-dito na resistência de contar sua história pode ter relação com a
vergonha. Na obra As origens da vergonha de 2006, Gaulejac constata, em seu
trabalho com o método da História de Vida, que quando os sujeitos contam suas
histórias há uma busca de reconhecimento tanto no plano afetivo como social,
habitado pela vergonha de ser rebaixado ou ridicularizado pelo outro. Assim:
a vergonha é, por natureza, um sentimento sobre o qual não se fala. Exceto quando se quer dela se livrar pelo testemunho de violências humilhantes que se pode sofrer. Não seria, pois, concebível pedir para as pessoas falarem de sua vergonha. (GAULEJAC, 2006, p. 21).
105
O que mostrar? O que ocultar? São momentos de escolhas e decisões que o
narrador vivencia e aqui compreendemos como condição de desenvolvimento da
autonomia e aprendizado de uma atitude de responsabilidade. Ele escolhe o que
falar para falar de si, de representação de si mesmo. Mostrar ou ocultar são
movimentos que dizem quem eu sou. Entretanto, a vergonha de mostrar algo de sua
trajetória pode indicar uma sabedoria: de um lado, a consciência de não saber lidar
com o olhar de desaprovação do outro, por outro lado, o outro também pode não
saber lidar com a história alheia.
Nesse sentido, o isolamento no casulo é um tempo necessário para o
amadurecimento intelectual e emocional, e para o fato de que não se sentiam ainda
à vontade para expor seus relatos pessoais. Conforme as narrativas seguintes:
Fazer a colcha de retalhos foi materializar muitas coisas, foi uma transformação interior, reflexões e autoconhecimento. O dono do tempo tem suas cenas, tristezas, felicidades e podemos perceber que existem coisas que não podemos falar, pois existem críticas e nem sempre estamos preparados para as críticas, pois às vezes estamos frágeis. (Borboleta Mórmon, 5º sem.).
compartilhamos histórias de nossas vidas através da colcha de retalho [...] Pude perceber que algumas pessoas ainda não estão prontas para recordar histórias, porém algumas tiraram a resistência do início. Esse trabalho trouxe autoconfiança, nos mostrou que somos fortes e suficientes para passar por aquilo e nos mostrou a vitória que conquistamos, mostrou o respeito que temos que ter com o próximo, e não julgar pela aparência, aprendemos a nos conhecer realmente ao ponto de estarmos prontos para toda a ocasião que ocorrer na nossa vida ou pelos menos resolver com sabedoria. (Borboleta Princesa, 5º sem.). Algumas pessoas tem resistência em participar do trabalho, pois tem dificuldades em expor sua vida, porque podem ouvir críticas de outras pessoas. [...] a importância do trabalho trouxe um olhar para o outro, de outra forma, reflexão, amadurecimento, transformação e quebras de tabus. (Borboleta Pérola).
O reconhecimento se deu através da importância dos episódios, das pessoas, professores etc., e acredito que os mesmos foram resgatados facilmente porque estão vivos em mim. (Borboleta Apolo, 5º sem.)
Enriquez (1997) mostra que o conflito está bastante presente quando se
provocam mudanças, novas ideias e novos sentidos são propostos. Neste mesmo
viés, Dominicé (1988) diz que a história de vida é outro modo de conceber a
educação, pois não se trata de aproximá-la da vida, mas sim de compreender a vida
106
como espaço formativo. Desta forma, a educação é composta de momentos que só
possuem sentido na história de uma vida.
Enfim, pode-se perceber que o pertencimento envolve uma rede de relações
que envolvem o sujeito traçando representações que interiorizadas dialogam o
tempo todo com as representações aceitas socialmente, o que fica evidente nas
narrativas:
O momento de narração da história tecida em retalhos em grupo permite o reforço da identidade profissional ao mesmo tempo em que se permite a identificação entre as histórias de cada um. A criação e construção do sentimento de pertencimento. (Borboleta Laranja, 5º sem.)
Para fazer minha Colcha de Retalhos, precisei relembrar os fatos mais marcantes dos últimos anos de minha vida e ambos os fatos estavam interligados, com o ingresso na universidade, o início do namoro, a viagem para a Bahia. Para ingressar na faculdade tive inspiração do meu antigo professor de História do ensino médio, que passou para assistirmos o filme "O pianista". Meu namorado conheci no meu atual emprego, ele estava para concluir a 1ª graduação dele e já tinha interesse em iniciar a 2ª então ele me incentivou bastante a iniciar meus estudos este ano, foi assim que pude concluir um acontecimento ligado ao outro. (Borboleta Vermelha, 5º sem.)
Esse movimento de construir e reconstruir a sua própria história produz um nó
afetivo, ou seja, permite aferir o verdadeiro sentido diante dos acontecimentos e
direcionando novos caminhos, pondo em prática a reflexão biográfica dos laços e os
nós identificados, abordados por Josso (2002), de modo a revelar os significados
sobre a formação e transformação visualizando os desafios da nossa existência.
Para se compreender os processos de formação é preciso envolver outros
nós e todos os laços. Nós que queremos que sejam desatados e laços mantidos.
Nesse movimento, os laços familiares, representações de pessoas que nos
cativaram são indestrutíveis.
Descobrir dentro de si mesmo, o seu tempo de permanência no casulo, sua
metamorfose, suas asas coloridas ou unicolores e seu voo, desvenda a pessoa em
que se transformou e que determina suas ações presentes, num processo de
reflexão sobre a vida. Essa situação manifesta o sentimento experimentado durante
a feitura da “Colcha de Retalhos”, conforme demonstrado nas narrativas da
Borboleta Azul e Borboleta Coruja:
Foi um momento que pude rever momentos fundamentais com um novo olhar que o ensino superior me proporcionou. Pelo sentimento que elas
107
deixaram raiva, saudade e carinho. Foram cruciais para a escolha da profissão. (Borboleta Azul, 5º sem.). Foi muito difícil, pois percebi o quanto é complicado olhar os momentos vividos. Aprendi que devemos olhar com carinho cada momento vivido. (Borboleta Coruja, 5º sem.).
Na visão das alunas, a “Colcha de Retalhos” mostrou a necessidade de outro
olhar para as possibilidades de aprendizado, afetado pelos sentimentos de gosto e
desgosto, que são inevitáveis e cruciais para o desenvolvimento humano seja
pessoal, profissional e acadêmico.
O trecho da narrativa Borboleta Rosa de Luto, expressa a reflexão de Josso
(2006), daquilo que ganha vida no momento do resgate da história de vida.
relembrar de toda nossa jornada para construir nosso retalho, pensar novamente no nosso momento charneira e o que nos motiva na vida. [...] Ver as lágrimas nos olhos de quem conseguia ganhar a luta ou entrar em uma. A colcha de retalhos me fez pensar no meu motivo de viver, motivo que faz levantar da cama todos os dias. E assim quero conseguir fazer meus futuros alunos pensarem o porquê de estar ali e porque continuar. (Borboleta Rosa de Luto, 5º sem.).
Sendo assim, é possível notar que ao contar a história de vida, é perceptível a
identificação desses processos formativos, conforme o que Josso (2004) fala a
respeito, ou seja, de extrair da vivência dos momentos charneiras/marcantes,
identificando os percursos formativos. São esses momentos que proporcionam
aprendizagem e uma experiência quando se reflete sobre o que nos ocorre na
vivência em diferentes espaços, dentro e fora da escola, transformam-se em
experiência de vida.
Neste viés, a consciência de seus sentimentos em sua totalidade pessoal e
profissional emergiu ao observar as respostas das Borboletas Monarca, Pavão e
Polidama:
Reconheci os episódios marcantes porque eles mudaram a minha maneira de enxergar o mundo. É bem fácil, perceber como a pessoal influência no profissional. (Borboleta Monarca, 5º sem.). Cada escolha que fazemos em nossa vida tem uma consequência, sendo ela positiva ou não e cada escolha nos faz refletir e repensar em cada momento vivido. Retratar o momento não é fácil, principalmente se ele nos traz lembranças que preferimos esquecer, porém depois da colcha creio que é necessário rever e pensar em certos momentos da nossa vida, pois são com esses momentos que reflito e melhoro pessoa que sou por isso
108
depois da colcha aprendi que sou uma pessoa em constante transformação tanto pessoal como profissional. (Borboleta Pavão, 5º sem.).
Em vários momentos de minha reflexão consegui relacionar tudo o que muito que havia lido sobre a pedagogia até aqui à minha vida pessoal e profissional. (Borboleta Polidama, 5º sem.)
As falas discentes são repletas de sentidos e significados em relação aos
momentos charneiras apresentados como vivências que assinalam uma alteração
de referências, tanto da visão de si como do mundo, no percurso do sujeito.
Corroborando com essa narrativa, podemos afirmar que a sensação de resgatar os
episódios marcantes provoca o desejo do autoconhecimento. Assim como também
se compreende que a motivação é gerada pelas relações interpessoais e pelo olhar
para si.
Reconheci pelas minhas próprias experiências de vida, de influência com o meio social, aprendi com a minha família e principalmente com meus pais. (Borboleta Branca da Madeira, 5º sem.). Aprendi com a convivência com outras pessoas, acho que o contato com livros ajuda você ampliar seu conhecimento. (Borboleta Branca, 5º sem.). Através de uma professora na 8ª série, seu carinho, atenção e dedicação, foram essenciais na minha escolha profissional. (Borboleta estranha, 5º sem.)
Desvelam-se assim as relações interpessoais sendo o eu e o outro, o outro e
o eu, no diálogo com o professor, com colegas ou família. Um caminho que deve ser
percorrido e superado, pois é rodeado de obstáculos, para isso a importância de um
olhar aguçado e sensível objetivando a humanização, diante do belo interligando ao
mundo. “Significou um momento especial, pois fiz o retalho com a minha mãe e
irmão, isso foi um momento único na minha vida”. (Borboleta Coruja, 5º sem.).
Buscando entender os inúmeros fatores determinantes dessas relações,
temos as narrativas que destacam o seguinte: “com este trabalho, os alunos podem
refletir e conhecer melhor, olhar para si e até entender como está se tornando
aquele profissional que quero ser e nos questionar”. (Borboleta Estaleira-Cinza, 5º
sem.). Neste mesmo viés, a aluna relata que “significou muito esse resgate, olhar
para as minhas atitudes hoje e olhar o que eu fiz antes me faz ver o quanto o ensino
superior me transforma a cada dia.” (Borboleta Preta e Vermelha, 5º sem.).
109
As narrativas da Borboleta Laranja, Borboleta Amarela e Borboleta Branca da
Madeira acrescentam a dimensão estética como resgate e caminho para o sentido
de vida, de existir e ser, um processo de autoconhecimento:
O resgate do processo (auto) formativo, na formação de professores é essencial, pois permite o autoconhecimento na relação com o saber, o ensinar e o conviver com demais pessoas, e este autoconhecimento permite compreender-se, desenvolver-se, construir sua autonomia e emancipação. (Borboleta Laranja, 5º sem.). A colcha de retalhos é mais do que importante na formação de professores porque possibilita a reflexão de nossa história pessoal. Acredito que o autoconhecimento é o facilitador de toda escolha que fazemos na vida. (Borboleta Amarela, 5º sem.). Significou o autoconhecimento de si mesmo, significou uma reflexão sobre a vida, significou um pensamento e ideias críticas. (Borboleta Branca da Madeira, 5º sem.).
As narrativas das alunas do 5º semestre demonstram as emoções,
concomitantemente, para o reencontro de memórias atrelado à formação e o
conhecimento:
A costura da colcha de retalhos foi muito gratificante e emocionante ver algumas colegas relembrando suas histórias. Voltar a esse momento é saber "lembranças felizes ou tristes: assim é a vida". São momentos marcantes que fazem parte de cada história, como uma recordação de detalhes onde cada pessoa volta ao passado e reencontra momentos que marcaram uma vida inteira. A costura é fundamental para matéria da História da Educação, pois o mesmo é uma pequena construção de grandes princípios para uma nova história da educação se adquirir a quem quer ouvir e participar nessa formação. (Borboleta Thoas, 5º sem.).
Nesta perspectiva, vale ressaltar que esses momentos são uma compreensão
do desenvolvimento da autonomia e emancipação dos sujeitos no curso de
Pedagogia relacionando com autoria como prática educativa.
para a formação de professores no curso de pedagogia, porém teria mais sentido profissional, se a colcha tivesse sido feita no último semestre do curso, relatando as experiências e opiniões vividas por nós futuras professoras durante o curso. Porque a colcha apresentada acabou em relatos pessoais. (Borboleta Vermelha, 5º sem.)
Na visão da Borboleta Vermelha, não há possibilidade da relação da vida
pessoal com a vida acadêmica e profissional. Nóvoa (1995), diz que na formação de
professores, que hoje não é mais possível separar o “eu pessoal do eu profissional,
110
sobretudo numa profissão impregnada de valores e ideais, e muito exigentes do
ponto de vista do empenhamento e da relação humana” (NÓVOA, 1995, p. 9). Este
fato fica claro na narrativa da Borboleta Coruja, que afirma que: “a nossa trajetória
de vida tem tudo haver (sic) com a vida, profissional e pessoal. O que vamos aplicar
na vida e o que temos referente à nossa cultura.” (Borboleta Coruja, 5º sem.).
Josso (1999) diz que as narrativas de si no campo da formação de
professores, apontam-no como um método que possibilita uma reflexão sobre a
trajetória de formação na qual ao efetivar a rememoração o sujeito toma consciência
de si.
Considerando que se pode conhecer e produzir conhecimento por meio das
narrativas autobiográficas, conforme Josso (2002) e Nóvoa (2009), é preciso tratar a
história de vida tal qual um processo de conscientização, compreensão e formação,
que envolvem práticas e didáticas, sempre relacionadas às experiências de vida e o
modo de aprender de cada sujeito.
Como salienta Freire (1975) o caminho para a conscientização, para o Belo,
não é adquirido apenas em livros, ou em pacotes pedagógicos advindos das
Políticas Públicas de Educação, ou mesmo na fala do professor. Está posta em toda
a relação estabelecida entre os sujeitos e o local em que se vive, o que demonstra a
necessidade da continuidade do processo de reflexão e conhecimento.
Esse aspecto pode ser percebido nas narrativas de Borboleta Estranha e
Borboleta Bananeira, em que processo de reflexão é uma possibilidade para o
desenvolvimento da autonomia e emancipação que ocorre pelo sentir. “Retratar uma
das maiores marcas da vida foi trazer à tona a história mais importante da minha
vida. Uma dadiva de Deus.” (Borboleta estranha, 5º sem.). Já a outra aluna destaca
que: “foi importante para a formação de professores, pois através da atividade,
fazemos uma retrospectiva da nossa vida, refletindo quais os caminhos que
tomamos para chegar aqui.” (Borboleta Bananeira).
O trecho extraído da narrativa da Borboleta Pororo Azul expõe os sentimentos
vivenciados:
cada pedacinho daquela colcha guarda uma história, vivenciada por cada um de nós. Histórias tristes, alegres, algumas emocionantes. Histórias que valem a pena ser lembradas, pois de alguma forma atribuíram para o nosso crescimento pessoal. (Borboleta Pororo Azul, 5º sem.).
111
No relato, percebe-se a possibilidade e a prática no processo de autonomia
desvelada pela tomada de decisões, a partir do momento em que se escolhe o que
dizer, o que fazer, mas fica claro o limite no processo de ensino-aprendizagem
quanto aos sentidos e significados que construímos, desencadeados pelas
emoções. Assim como, as falas das Borboleta Satyri e Borboleta Beija-Flor:
cada retalho a costura da nossa colcha onde se traz em cada retalho uma história de vida, uma história de superação e de muitas outras emoções envolvidas, dá o sentido ao que se foi e é expresso na colcha. (Borboleta Satyri, 5º sem.). foi emocionante o que os desenhos nas estampas, nos representa, voltamos a chorar, dar risadas, ver cada um de nós costurando o retalho e recordando os momentos vividos que marcaram nossas vidas. [...] compartilhamos nossas emoções, nosso aprendizado, através da entrevista com as alunas do 4º semestre. (Borboleta Beija-Flor, 5º sem.).
Nesse sentido, de acordo com Sarmento (2009) resgatar a história de vida
traz a reflexão e uma abertura para a busca do sentido de sua identidade
profissional, sobre um contexto de vida e aprendizagem.
Como nos conta a Borboleta Estaleira Cinza em sua narrativa, que a partir
“dessas relações que estabelecemos que vá juntando os pedaços para formar nosso
quebra-cabeça, ou seja, nossa identidade profissional.” (Borboleta Estaleira Cinza,
5º sem.).
A narrativa da Borboleta Andorinha apresenta a relação da experiência
estética com a identidade profissional e sua escolha:
Foi um momento rico de grandes emoções, pois relembramos nossos momentos charneiras. [...] Ao contemplar aquela imagem no chão pude perceber a importância e o valor de cada símbolo representa para cada uma de nos alunas. [...] tive a convicção que essa foi uma das minhas melhores escolhas ter optado a ser pedagoga. (Borboleta Andorinha, 5º sem.).
Os trechos de relatos apresentados acima possibilitam verificar o casulo do
autoconhecimento na feitura da “Colcha de Retalhos”, que se apresenta como o
caminho para a realização profissional, o embelezamento encontra-se na disposição
de enfrentar o desafio como oportunidade de crescimento pessoal e profissional,
percebendo seu desenvolvimento com os alunos e futuros professores.
112
A leitura das análises de dados nos possibilita perceber nas narrativas
discentes que, durante o processo formativo, acontecem mudanças de pensamento
e concepções de ensino-aprendizagem, acompanhadas de emoções e sentimentos.
A experiência de narrar a própria história e resgatar o processo de formação é
um momento deslumbrante, belo, durante o qual as alunas do curso de Pedagogia
se descobriram e também se deram conta do que existe em seus corações. Esta
experiência estética do sentir, lembrar, resgatar, emocionar, traz à memória valores
e objetivos.
É notória aqui a existência do momento de retiro, de afastamento diante do
que se vivencia, mas munido de um olhar aguçado e estético, que possibilita a
identificação do belo ou do feio. Contudo, a maioria das narrativas da questão
norteadora sobre a participação na “Colcha de Retalhos” destaca a relação da
beleza do conhecimento, autoconhecimento com a trajetória de vida, tendo como
valor de se reconhecer enquanto sujeito no processo formativo. Os valores éticos e
estéticos estão presentes tanto nos procedimentos de apropriação dos
conhecimentos teóricos, na visão de mundo de professores.
Essa experiência estética promove uma experiência formadora ao refletir
sobre a emergência dos momentos charneiras, situações e acontecimentos que
modificaram os referenciais de vida do indivíduo. Para abrir-se para os momentos
marcantes parece ser necessário isolar-se, permanecer no casulo, em busca do
sentido de vida, de existir e ser, um processo de autoconhecimento em busca da
mudança. A metodologia formativa “Colcha de Retalhos” é um processo que envolve
a arte da escrita, da oralidade, do tecer a história em retalhos, de costurar como
processo criativo, pois abrange a razão e sensibilidade, que ao escrever, contar,
costurar os retalhos obtém-se a construção do sujeito que possibilita construir e
reconstruir as dimensões formativas e pedagógicas.
Nesta perspectiva assim como Freire, Schiller (2002) explana sobre a
educação da faculdade do sentir, que seria um meio de tornar efetiva na vida uma
inteligência aperfeiçoada e faz uma analogia entre o trabalho do escultor com a
matéria. O pedagogo artista é aquele para quem “educar é como criar uma obra de
arte” (SCHILLER, 2002, p. 218), respeitando a liberdade e especificidade da matéria
(ser humano).
Aqui, podemos retomar Sarmento (2009) que traz à luz o valoroso processo
de conhecer seu percurso de vida, processo significativo de dar voz aos professores.
113
Esta concepção se faz presente neste estudo, que, através do dispositivo “Colcha de
retalhos” propõe a futuro professores, que por meio do ato de narrar a sua própria
história, possam refletir sobre este processo formativo, construindo-se
representações comuns da sociedade contemporânea e vivência como aluno e
professor.
Ainda é possível relacionar estes conceitos à crítica de Freire a “Educação
Bancária”, que considera o indivíduo como mero receptor de informações passivo.
Deste modo, ele não é levado a pensar, criticar e refletir acerca de quaisquer
situações e informações apresentadas, tanto cientificamente quando na sua vida,
enxergando seu contexto social.
Sendo assim, torna-se pertinente reiterar a proposta de Berkenbrock-Rosito
(2014) sobre os processos formativos e prática docente, no que tange a metodologia
e epistemologia presente no dispositivo “Colcha de Retalhos”, vislumbra-se a
construção do conhecimento por meio das narrativas biográficas e autobiográficas
dos sujeitos, permeando todo o processo de ensino-aprendizagem.
A narrativa então passa ser vista como dimensão estética do processo
formativo. As experiências estéticas do conhecimento mostram que emoção está
presente nas narrativas, permeadas pelo gosto e desgosto. A narrativa permite que
a discente construa sua história e sua memória que é um movimento de voltar para
trás. De fazer escolhas e decidir o que quer mostrar ou ocultar. Aqui é preciso
ressaltar que comprova a hipótese desse estudo que o desenvolvimento da
autonomia e emancipação dos sujeitos ocorre via estética. Uma vez que as
lembranças são carregadas de emoções. As emoções são possibilidades de
produção e construção de conhecimento de si, do outro, da cultura, enfim, do mundo
em que está inserido.
3.3 A estética da metamorfose: um processo de transformação e
possibilidades de humanização
As alunas do 4º semestre, ao observarem o processo da “Colcha de Retalhos”
das alunas do 5º semestre, em seus registros compreendem o processo de
transformação para os que são participantes:
114
Ao ver o relato de algumas delas cheguei até me emocionar. [...] naquele pequeno pedaço de pano, somos capazes de contar um pouco da nossa história, momentos bons ou ruins, mas que marcaram nossas vidas. [...] quando ouvia falar dela, acha uma chatice, mas hoje percebi uma grande importância para as pessoas. (Borboleta Diferente, 4º sem.).
Apesar das alunas do 4º semestre serem observadoras e entrevistadoras,
elas puderam fazer a leitura do objetivo formativo do dispositivo metodológico e
epistemológico “Colcha de Retalhos”. O registro das alunas do 4º semestre deixa
clara a intenção formativa da metodologia:
resgatar as memórias da infância e adolescência de nossas colegas com o objetivo de destacar a importância das experiências de vividas na escola em ser professoras. [...] Todas se emocionaram bastante e no relato extremamente pessoal de cada uma delas percebia-se profundamente como cada ser humano é único, a experiência pode ser parecida ou até a mesma, mas a percepção, o jeito com o qual cada um irá sentir e reagir são únicos [...] e constrói a personalidade de uma pessoa. [...] acredito que as alunas em que sua trajetória de vida passaram por experiências boas irão reproduzi-las e as que passaram por ruins encontrarão nesses exemplos alternativas de superá-las. A história pessoal ajuda na compreensão sobre quem somos e as escolhas pela qual tomamos, fazendo descobrimos que tudo o que nos tornamos é reflexivo do passado e entender a importância de nossa prática pedagógica na vida dos nossos alunos. (Borboleta Mental, 4º sem.). tivemos a oportunidade de conversar com outras pessoas e de conhecer rapidamente algumas histórias através dos retalhos de tecidos, de diferentes formas, de sonhos, texturas, carregados de desejos, emoções, conquistas, realizações, sofrimento, angústia, raiva e carinho. [...] Esse movimento entre passado e presente, pode ser pensado como uma reelaboração de retalhos que darão forma a uma colcha que será tecida ao longo da vida com texturas e cores diversas que vão sendo costuradas e formando um todo com significados. [...] Para formação de professores e pesquisadores o saber pensar, refletir e analisar sobre sua própria prática é fundamental e através desse trabalho vão tecendo cada vez mais seus conhecimentos. (Borboleta Casa, 4º sem.).
Os registros das alunas do 4º semestre mostram que é possível desenvolver
a autonomia ao realizar uma releitura do modo de viver e superar-se. A narrativa de
Borboleta Castanha-Vermelha aborda o desenvolvimento da autonomia e expõe
como foi seu resgate (auto) formativo durante a sua participação na “Colcha de
Retalhos”:
Escolhi para ser professora, não com o colégio, pois os professores eram autoritários e não eram dinâmicos. Mas foi na adolescência que entrou [sic] em uma ONG e participou [sic] de um projeto voluntário, quando decidiu [sic]abrir os olhos para fazer faculdade e escolheu a pedagogia. Lembro-me de apenas um professor que incentivou a fazer o curso de pedagogia, os outros falavam para ela sair. É importante o professor se importar com o
115
aluno. Ao ouvir histórias houve um crescimento na vida e fez que com que mudasse atitudes e refletisse na questão profissional e fez com que buscasse mais conhecimento. (Borboleta Castanha-Vermelha, 5º sem.).
Borboleta Castanha-Vermelha aponta em sua narrativa a possibilidade de
autonomia e emancipação profissional e pessoal, para a prática docente. Entretanto,
salienta que esta não é exercida, ao relembrar de seus professores em sua trajetória
escolar, o que provoca o sentimento de horror que a aluna demonstra ao perceber
que existem professores que ainda agem de forma autoritária.
Convém salientar que o autoritarismo não é uma característica exclusiva da
educação bancária. É possível compreender que a concepção de educação, que
fundamenta a prática pedagógica dos professores da Borboleta Castanha-Vermelha,
é decorrente de uma cultura fabricada pela educação bancária.
A crítica à educação bancária é pelo efeito de passividade sobre o aluno
quando o professor age como um agente reprodutor de um sistema centralizador,
enfatiza-se o processo de ensinar, o professor como detentor do conhecimento, sem
abertura e consideração sobre o que pensam os alunos sobre aquilo que é lhe
proposto aprender. Entretanto, a aluna através de sua vivência na ONG, relata ter
conseguido enxergar as possibilidades de ser um agente transformador diante das
necessidades da sociedade na contemporaneidade.
Deste modo, mostra-se a pertinência de práticas que possibilitem a
manifestação do sujeito, até em ser livre para escolher a profissão que lhe agrada,
que primem pela Pedagogia da Libertação, defendida por Freire (1975), como uma
forma de pensar sobre a vida. Pensar sobre o que exerce influência em nossas
decisões e escolhas é um processo de humanização.
As narrativas de Borboleta-Apolo, Borboleta–Folha e Borboleta Preta e
Laranja manifestam esse pensamento crítico sobre o processo de humanização que
consente com Freire (2012) em que a boniteza está nas relações, nas decisões, por
meio das atitudes de se produzir o mundo:
para sermos indivíduos socialmente e profissionalmente emancipados é importante que antes ocorra um resgate de nosso processo formativo, pois para auxiliar o processo de formação de nossos alunos precisamos compreender o nosso próprio processo de formação. (Borboleta-Apolo, 5º sem.). A tomada de decisão importante não é na própria vida de futuros professores, mas também seus futuros alunos. Como condutores nosso dever esta na influência da autoafirmação e da autonomia, sem
116
começarmos por nós mesmos jamais chegaremos aos nossos alunos. (Borboleta-Folha, 5º sem.).
Foi um processo de conhecimento de submissão no ensino fundamental e médio, isso afeta muito no lado profissional. através da colcha de retalhos você será o autor da sua história, a pessoa irá voltar ao seu passado e fazer perguntas a ela mesma se questionar. (Borboleta Preta e Laranja, 5º sem.). Com certeza porque cada escolha e decisão sempre iram refletir no amanhã/futuro, levará você colher o que plantou, para semear seus objetivos. Cada aprendizado construirá o nosso conhecimento. (Borboleta Estranha, 5º sem.).
Sendo assim, para corroborar a afirmação de Freire (2014), e a possibilidade
de autoria, a Borboleta Aquática revela que: “a minha história começou sem autoria
própria, mas com o tempo e com a maturidade, pude torná-la diferente.” (Borboleta
Aquática, 5. Semestre) A respeito deste processo, vale aqui trazer a narrativa da
Borboleta Rosa, que expõe como a participação da “Colcha de Retalhos” a afetou,
implica a possibilidade de desenvolvimento da autonomia: “ foi Importante para o
desenvolvimento da reflexão e tomada de decisões em todos os campos da vida.”
(Borboleta Rosa, 5. semestre).
No tocante, temos a necessidade de refletir sobre seu contexto, as narrativas
da Borboleta Seda e da Borboleta Agata retratam a importância de reviver os
marcos de vida do passado com o presente, possibilitando as transformações e a
autoria:
Esse projeto da Colcha de Retalhos foi de suma importância para que eu me reencontrasse, fazendo que revivesse histórias que nem sabia que já havia vivido muito menos o impacto que causou. [...] pude entender como afetou minha vida pessoal e profissional alguns desses impactos foi à timidez e uma escolaridade de péssima qualidade. [...] estou no caminho certo, que os meus momentos charneiras, fizeram comigo o desabrochar, entender é preciso vencer seus medo, timidez, angústias e sempre que em conflito se permite uma autoavaliação. [...] muitos se mostraram proativos colaborando para que uma harmonia entre as imagens fossem encontrada, [...] é nítida a importância do passado, para que as transformações aconteçam com o indivíduo. [...] a mudança é complicada, mas é possível. (Borboleta Seda, 5º sem.). coleção de memórias, histórias de vidas tecidas em retalhos, histórias singulares construídas no coletivo. A escrita autobiográfica e todo o processo de contar a minha história tecida no retalho permitiu-me um encontro comigo mesma, fez-me refletir sobre minha vida... Talvez seja hora de reinventar-me ou inventar outras fantasias. Estou terminando minha graduação com uma única certeza, eu mudei, tornei-me uma pessoa melhor, vim para faculdade com o objetivo de ter uma profissão, compreendi a importância da educação para a humanidade e, principalmente, entendi o papel do professor como peça chave no processo de construção do
117
conhecimento, sendo ele responsável pelo desenvolvimento do ser humano nos anos iniciais. (Borboleta Agata, 5º sem.).
Consoante à metáfora da metamorfose, aguçar a curiosidade epistemológica
surge do mundo despertado de si, desvelada pela narrativa de Borboleta Laranja
que reafirma a possibilidade de transformação do sujeito, da submissão para um
processo de autoria e produção do conhecimento:
É essencial na formação de professores no curso de pedagogia, pois o profissional da educação é o único que inicia a sua formação ao nascer, e olhar, refletir toda a história de sua formação, inclusive no contexto educacional é primordial para favorecer a formação de profissionais conscientes, críticos e reflexivos, autores e autônomos, portanto, mais capazes de promover transformações sociais. (Borboleta Laranja, 5º sem.).
A importância de uma reflexão sobre si para a construção de um sujeito
autônomo é apontada pela Borboleta Maria, manifestando a transformação e de
reconhecimento de si, transcendendo para tornar-se autor:
o encanto nos toma e aflora os nossos sentimentos. [...] o entusiasmo tomava conta do ambiente. Embasadas em uma teoria de Gramsci de autogestão e auto-organização que defende a capacidade do ser humano se autogovernar. [...] Refleti que a historia de vida é muito importante para a nossa formação, principalmente para a formação de indivíduos sociais, sendo por ela o desenvolvimento de uma identidade pedagógica. Que tipo de professor quero ser? Que a nossa prática em sala de aula precisa ser diferenciada para preparar sujeitos participativos ativos, autônomos e críticos capazes de intervir e modificar a sociedade. (Borboleta Maria, 5º sem.).
O despertar da consciência é um movimento de fruição e criação, quando o
sujeito transforma-se em autor e ator de seu papel. A respeito disso, evidenciam-se
os relatos da Borboleta Tigre e Couve:
Deixo anotadas três palavras marcantes na aula da reunião da colcha de retalhos: Colaboração, criatividade e histórias. (Borboleta Tigre, 5º sem.) As colegas dos outros semestres tiveram um contato com o término da colcha, o que eles no futuro irão construir também. Compartilhar novamente a nossa história se alimentando e a trilha sonora fez toda a diferença. (Borboleta Couve, 5º sem.)
Em suas narrativas, pode se desvelar os resquícios de um perfil de sujeito
passivo em seu processo de ensino-aprendizagem, que se limita a relatar o óbvio,
descartando o processo de construção do conhecimento que envolve a reflexão,
118
crítica e aprendizagem. O que se demonstra um rito de passagem e
desenvolvimento da sua autonomia e emancipação.
A Borboleta Tigre ao mencionar a colaboração, criatividade e histórias,
apresenta elementos que se constituem o sujeito e a metodologia, revelando o
sentimento pela busca do conhecimento, pelo aprendizado, pelo saber e pela
pesquisa, que abrange sua vida acadêmica, mas que influencia a vida profissional e
pessoal. Já a Borboleta Couve ainda complementa em sua fala a necessidade da
continuidade sobre as histórias de vida, com as demais colegas do outro semestre,
demonstrando um movimento de ressignificação do que vivenciou durante a sua
participação plena na feitura da “Colcha de Retalhos”, buscando aguçar a sua
curiosidade epistemológica.
Os princípios desse desenvolvimento humanizado envolvem a quebra de
paradigmas, pois é com um pensamento dialético que existe construção do
conhecimento, no processo formativo. “Sim é importante, pois com a colcha
refletimos com a relação com o conhecimento, professores, consigo a prática e a
educação.” (Borboleta Branca Camuflada, 5º sem.).
Borboleta-Pavão, ao relatar sua visão sobre sua participação na “Colcha de
Retalhos”, mostra a transformação de sua visão sobre o processo formativo, o que
antes havia resistência e um julgamento prévio, levou-a a beleza e contemplação na
descoberta do sentido da narrativa de si.
Retratar o momento não é fácil, principalmente se ele nos traz lembranças que preferimos esquecer, porém depois da colcha creio que é necessário rever e pensar em certos momentos da nossa vida, pois são com esses momentos que reflito e melhoro como pessoa que sou, por isso depois da colcha aprendi que sou uma pessoa em constante transformação tanto pessoal como profissional. No primeiro momento não levei muito a sério, mais [sic] hoje vejo o quanto é e foi importante, pois me ajuda a refletir sobre muita coisa, até mesmo no momento do registro, adorei ter participado dessa experiência. (Borboleta-Pavão, 5º sem.).
Diante da fala, percebe se que o processo formativo desvela-se pelas
múltiplas linguagens e sentidos, como o caso da escrita, um momento individual e
solitário, a seguir a oralidade, o momento do diálogo e relação com os sujeitos
envolvidos e finalizando-se com a imagem (pictórica), a representação do vir a ser e
no desenvolvimento de tomada de decisões. Conceito este descrito nas narrativas:
119
Significou um exercício de se utilizar de outra linguagem, a imagem por si só utiliza de diversos símbolos que combinados colocam um significado. A imagem é única, portanto, representa um indivíduo. O meu retalho sou eu. (Borboleta Laranja, 5º sem.). A transformação foi mais significativa, as imagens tem mais impacto do que palavras. (Borboleta Três Cores, 5º sem.) Foi muito bom, às vezes nos expressamos melhor quando não usamos as palavras e descobri que é muito legal pintar, adorei. (Borboleta Branca Camuflada, 5º sem.) Foi significativa, a expressão através da imagem da minha vida, o percurso que fiz para chegar até aqui onde estou num curso superior é a realização de uma etapa dos meus sonhos. (Borboleta estaleira-cinza, 5º sem.)
Afloram os sentimentos e emoções ao perceber que a sua história de vida
está marcada em si e pode ser um registro de sua unicidade, como vemos na
seguinte narrativa “Muito importante pude ver claramente cada detalhe da minha
história desenhada na colcha, o que me fez perceber minha vida um retalho”.
(Borboleta Preta e Vermelha, 5º sem.).
Borboleta Manacá mostra a importância do ato de relembrar o modo de
aprender:
Lembro-me dos professores que pegaram a sua mão para ensinar. A narrativa mexeu muito, pois é algo concreto, um fato empírico é túnel do tempo se lembrar das coisas das escolas e das imagens. E que muitas coisas passam pela cabeça, mas tem que filtrar, porque nem tudo as pessoas tem que saber. Aprender como erros dos outros, você já está ganhando tempo é um incentivo. (Borboleta do Manacá, 5º sem.).
Na narrativa seguinte, também se evidencia a necessidade de mapear os
acontecimentos de nossa trajetória formativa onde existe a possibilidade da
reinvenção:
os acontecimentos em nossas vidas, seja ele um marco de tristeza ou de alegria, podem ser o marco inicial para mudar nossas atitudes [...] tornar sensível diante das diferenças, das desigualdades na sociedade.[...] A escola é o ambiente mais favorável em tornar sujeitos com sendo crítico, flexível, ativo, autonomia para liderar suas vidas. (Borboleta Boneca, 5º sem.).
Esse movimento de reconstrução e reinvenção faz com que haja a ruptura de
reproduções dos padrões culturais que doutrinam a consciência, como aclara
Adorno (1985) ao retratar a manipulação cultural que impede o ser humano de
pensar de forma crítica.
120
Nas narrativas da Borboleta Estrela e Coruja sobre sua participação na
“Colcha de retalhos”, diz que:
relatamos para as colegas do quarto semestre nossas histórias ou os momentos que nos influenciariam para a elaboração do nosso retalho, [...] conquista de autonomia, independência (libertação de uma situação de aprisionamento), dor, perdas marcantes ou momentos de transformação. [...] se faz necessário a colaboração do outro. [...] nos sentimos aliviadas, pois acabamos de contar e dividir nossas experiências (boas ou ruins). (Borboleta Estrela, 5º sem.). Foi importante, pois ouvi histórias lindas, de sofrimento e com uma conquista no final, isso é muito prazeroso. (Borboleta Coruja, 5º sem.)
A narrativa sinaliza que o processo de humanização é um processo de
libertação do sofrimento que aprisiona o sujeito. Parece que o aprisiona é a
capacidade de pensar sobre o sente e de alguma forma impede sua capacidade
criativa. Nesse sentido, podemos pensar que de acordo com Paulo Freire (1975)
auxiliando-nos na inspiração da compreensão da humanização, um ser humano
histórico e inacabado pode, através do processo de conscientização, aprender a
pensar a partir do vivido: retomando a trajetória pessoal, acadêmico e profissional
para ampliar o alcance de sua formação no desenvolvimento da criatividade como
prática da arte de viver.
Evidencia-se a relação entre o ato de relatar sua trajetória, a relação com o
conhecimento, a necessidade de transformação e ressignificação, dando
importância de se refletir sobre o que nos afeta a alegria ou tristeza, o gosto ou não
gosto, como possibilidade de desenvolvimento e amadurecimento intelectual e
emocional, visando à autonomia dos sujeitos.
Neste viés, o desenvolvimento da autonomia, a que Freire (2014) aponta
como uma das finalidades do processo educativo constitui-se através da passagem
do indivíduo pelo exercício do autoconhecimento, adquirindo uma expressão
adequada do que se sente e se pensa a respeito de si mesmo e dos outros e do
mundo.
Assim, é pertinente o que diz Freire (2014) a passagem da consciência
ingênua para a consciência crítica que só é possível se for levada em conta a
dimensão ética. Deste modo, “não podemos nos assumir como sujeitos da procura,
da decisão da ruptura, da opção, como sujeitos históricos, transformadores, a não
ser assumindo-nos como sujeitos éticos” (FREIRE, 2014, p. 17).
121
Neste sentido, de acordo com Freire (2014), a equidade, o respeito, a
solidariedade, a autonomia, responsabilidade social, entre outros, são valores éticos
e estéticos que sustentam os processos formativos, visando à educação do cidadão
democrático, reflexivo, analítico, com consciência crítica, ou seja, a relação do
indivíduo e mundo.
Desta forma, é cabível compreender que a “Colcha de Retalhos” possibilita
um rico processo para a aprendizagem da ética e da estética na prática da relação
dos sujeitos-alunos e sujeitos-professores com o conhecimento, pode tornar sensível
ou embrutecer as relações, a partir do que não se vê, mas que é uma estratégia
formativa processual.
Para Berkenbrock-Rosito (2014) os processos de ensinar, aprender e formar
buscam a humanização do sujeito, já que promovem uma reflexão sobre sua relação
com a realidade, que não pode ser mantido apenas no discurso. Assim, o uso da
história de vida das pessoas nos processos formativos, no contexto universitário, faz
sentido. Uma vez que sempre se elege uma formação do ensino tecnicista, ou
apropriação de um discurso pronto que não envolva a participação do sujeito, pois
ele recebe o discurso crítico pronto, que não valoriza a formação humana do
profissional, a construção de um pensamento crítico, reflexivo e criativo, necessários
no âmbito educacional para emancipação dos sujeitos, partir de sua trajetória
formativa. Como afirma Freire (2014, p. 33) “ensinar exige respeito aos saberes dos
educandos”.
Certamente, este dispositivo formulado por Berkenbrock-Rosito (2014) traz a
influência de Paulo Freire, de quem foi aluna. Assim, esta compreensão de que é
essencial a reconstrução do conhecimento, desenvolvendo valores éticos, estéticos,
morais, ideológicos e políticos para sua transformação como sujeito e da cultura que
o cerca, compõe a “Colcha de Retalhos”.
Berkenbrock-Rosito (2014) salienta se aprendemos o que faz sentido para
nós, o que nos toca por inteiros e, consoante com Freire (1997), não se pode
conhecer pelo outro, que perceberá na e pela sua experiência o desafio do professor
de que seu dever não é apenas transferir conhecimento, mas possibilitar que o aluno
o construa e produza.
As narrativas reafirmam a necessidade da formação na busca da autoria de
ser sujeito, tanto professores como alunos, uma busca que se legitima, conforme
apresentado por Freire (2014), o aluno só desenvolve a autonomia quando aprende
122
a refletir no próprio processo de tomar suas decisões e fazer escolhas. Deste modo,
o professor deve ter a clareza de estar atento à participação dos alunos e criar
condições para que ela possa ser estabelecida, de forma que professores e alunos
atuem como sujeitos e criem possibilidades para a produção e construção do
conhecimento, proporcionando a leitura do contexto escolar e do mundo.
A dimensão Estética na Educação, defendida por Schiller (2002), compreende
pensar o conjunto de sensações, emoções, sentimentos, buscando sua experiência
de mundo. O sujeito consegue entender e elucidar a sensação manifestada,
mediante a razão, ocorrendo assim um jogo lúdico entre o sensível e a razão,
movimento que caracteriza a Educação Estética. Nesse processo, surge a
consciência da estética do sujeito, de compreender seu modo de ver, conhecer e
produzir reflexões, conhecimento, de leitura e de si, culminando numa reconstrução
de si por meio das narrativas escritas, orais e pictóricas.
Assim, é imprescindível reconhecer a necessidade de uma educação para o
pensar aquilo que nos afeta, gosto ou desgosto, que promova a reflexão e o
confronto com uma lógica implícita no discurso para que serve o pensar. Educar
para o pensar a fruição de sensação e sentimentos implica responsabilidade,
respeito, compromisso sobre si, sobre o outro e sobre o contexto, consiste em
entender o pensar como algo essencial na maneira de viver, tomando consciência
de ser e estar no mundo.
3.4 A estética do voo: despertar para um olhar para si e para o outro
O respeito aparece como valor estético na relação com o outro, conforme a
narrativa de Borboleta Rosa: “Importante para se perceber, enxergar ao nosso redor
e o mundo que nos cerca. Ter respeito as pessoas com que convivemos apesar das
diferenças.” (Borboleta Rosa). Para outra discente também “foi muito importante,
pois entendemos o outro, a história do outro, compreendemos a vida do outro e o
pensamento do grupo.” (Borboleta Branca da Madeira).
Esta ideia também se faz presente no seguinte relato: “Foi muito importante,
pois passamos a olhar de outra forma, refletir mais respeitar a história do outro,
enxergar o aluno, entender seu processo de vida. Mas em tudo é superação do ser.”
(Borboleta Mórmom).
123
A fala da Borboleta Estaleira, mostra que o respeito é mais um dos elementos
primordiais com o outro, esse sentimento é aguçado pela sensibilidade:
chamou-me atenção, conhecer suas experiências de vida, porque me ensinou a respeitar as diferenças, a ter um olhar pelo próximo de compaixão e amor, reconhecer que todos possuem limitações, dificuldades e que passam por diversidades que são superadas quando há solidariedade para com outrem. (Borboleta Estaleira, 5º sem.).
O respeito manifesta-se na narrativa Borboleta Menipe, pela troca de
experiências, oportunizando o movimento de olhar para si e para o outro, um
movimento que requer o resgate de sua própria história de vida:
tivemos poucas situações em que pudéssemos saber um pouco da vida de nossas colegas, coisas, situações que viveram e que as marcaram e modificou, no momento da costura houve uma união, uma cooperação entre nós, a cada passada de agulha, nossos retalhos iam se tornando uma coisa só, foi um momento de escolha, de dividir tarefas, funções, de ter sensibilidade, de autogovernada. [...] o aprendizado em relação ao respeito para com outro, pois todas ali tínhamos o mesmo objetivo. (Borboleta Menipe, 5º sem.).
Uma lembrança de vida de cada um e proporciona a quem ouve certa experiência e podemos comparar as histórias vividas. (Borboleta Coruja, 5º sem.)
Nestas narrativas fica evidente a importância de olhar reflexivo para si e para
o outro, que foi possibilitado durante a sua participação na “Colcha de Retalhos”
uma transformação das linguagens escrita e oral afetada pelos sentidos e emoções,
que ocorre por meio da Educação Estética.
Outro aspecto importante abordado é a necessidade do conhecimento de si e
relacionar-se com o outro, pois a partir do momento em que há o reconhecimento de
si há a possibilidade de compreensão do outro, isto é, somente reconheço o outro a
partir do eu.
Tenho certeza que o autoconhecimento e o respeito ao outro aumentam muito após essa descoberta. [...] Os retalhos retratam as histórias individuais e me faz ter certeza de quão importante é conhecer o nosso aluno, valorizar a sua história. [...] Foi um encontro agradável, me fez refletir que cada um tem orgulho ou medo de sua própria história, mas que na exposição, se sentiram aliviadas. [...] Me autoconheço e auto avalio. [...] Transformações ocorreram e ocorrem a cada dia, a cada aula, sendo assim, as metodologias também deveram ser alteradas. (Borboleta do Sul, 5º sem.).
124
Sim, ao ouvir cada história percebi quanto às pessoas são fortes e pude tirar um exemplo, e é gratificante ouvir e perceber o objetivo atingido por mim e pelos meus colegas. (Borboleta transparente, 5º sem.)
A narrativa da Borboleta Branca Camuflada retrata a sensação e emoção da
compreensão da história de vida e a importância de ter condições de coparticipação:
É muito importante conhecer a história do outro, você passa a ver a pessoa de outra forma, porém na hora de narrar a minha história achei muito difícil, meu deu um branco, não me senti muito à vontade, para contar o que tinha escrito para todas. Sim, essa atividade acaba nos trazendo à tona quem realmente somos, mostra nossos valores e um professor deve se conhecer por completo, para assim conhecer e entender o outro. (Borboleta Branca Camuflada, 5º sem.).
Essa condição é uma possibilidade de desenvolvimento da responsabilidade
e compromisso da aluna com a prática docente. Nesse sentido, saber ouvir significa
prestar atenção ao discurso e do desejo do outro, esta atitude pode contribuir para o
desenvolvimento da autonomia e emancipação dos sujeitos, que ocorre via estética,
do gosto de se tornar um profissional mais consciente de seu papel, na melhoria da
qualidade dos processos de ensino e aprendizagem, que reverbera na formação de
cidadãos que dotados de sensibilidade possam realizar uma intervenção na
sociedade respeitando o bem comum.
Neste viés, é pertinente o que diz a narrativa norteadora sobre a participação
de Borboleta Três Cores:
Foi importante porque nos faz conhecer o lado mais oculto do colega de sala. Com essa experiência nos mostra que todos tiveram dificuldades para enfrentar as dificuldades. Dando oportunidade para o outro saber mais da nossa história. (Borboleta Três Cores, 5º sem.).
A ideia de que saber ouvir o outro proporciona uma formação da sensibilidade
no ser humano, como elemento fundamental e centro chave de um desenvolvimento
estético interior harmônico do sujeito, nos leva para uma compreensão maior deste
mundo contemporâneo que é tecnológico, epistemológico e sensível.
Isto fica evidente nas narrativas abaixo, a respeito da participação da “Colcha
de Retalhos”, deixando claros o sentido e o significado do ato de ouvir e
compreender:
125
Só conhecemos as pessoas quando passamos a conhecer - ouvir suas histórias. E ao narrar minha narrativa, senti que pude passar um pouco da minha história para minhas colegas. Sim. Achava que era uma besteira esse projeto, mas ao ouvir outras narrativas passei a imaginar as minhas trajetórias um aprendizado para minha formação. (Borboleta Branca, 5º sem.). este exercício fez com que eu expressasse tudo o que havia guardado em mim, além de me fazer ouvir, respeitar e procurar entender melhor o outro. (Borboleta-Apolo, 5º sem.).
Essa condição é uma possibilidade de desenvolvimento da ressignificação na
formação do sujeito, despertando o olhar para perceber a ‘beleza’ como expressão
da autonomia de pensar e descobrir-se como sujeito que sente e pensa sobre o que
esta diante da realidade, que segundo Schiller (2002), é caracterizada como a
educação através da capacitação do olhar, aguçando a sensibilidade.
A vivência do respeito pode ser revelada também na narrativa da Borboleta
dos olhos verdes: “aprendi a conviver em grupo e a lidar com os colegas. Uma
construção de respeito ao próximo. Critico o envolvimento das pessoas e falta de
união.” (Borboleta dos olhos verdes, 5º sem.).
A Borboleta Biblis demonstra em seu registro como é primordial romper com o
que é imposto, buscando novos olhares e compreensões sobre si, sobre o outro e
sobre o mundo.
Fazendo-se uma analogia com a construção do conhecimento do senso comum, eu diria que a colcha de retalhos "traduz em um saber ordinário", cujas partes costuradas manualmente, juntando cada parte da história de vida de cada uma ali presente, colocando paciência, resignação, revolta, dor, compreensão, fé, carinho, raiva, acima de tudo, com arte. Para mim o resultado desta costura é extremamente significativo, pois é repleta de vitalidade, já que brotou de uma relação direta do ser humano com o mundo e com os seus pares. É preferível "pensar" sem disto ter consciência crítica, isto é, participar de uma concepção de mundo imposta, mecanicamente pelo ambiente exterior, ou seja, por um dos vários grupos sociais, nos quais todos estão automaticamente envolvidos desde sua entrada no mundo consciente. (Borboleta Biblis, 5º sem.).
Nesse aspecto, percebe que há uma possibilidade de um olhar e espelhar-se
na história de vida relatada pelas colegas de sala, mas limitando se a reflexão sobre
o outro, pois aquilo que me afeta, também arrebata o outro, no qual ainda encontra-
se como limite em seu pensamento.
Opondo-se a fala da Borboleta dos olhos verdes, temos a Borboleta Vanille,
que em seu relato traz a estética do olhar sensível:
126
as nossas histórias de vida estão ligadas, seja pela escolha profissional seja por algum fato na vida particular, pois a vida é algo imprevisível e sempre nos surpreende. [...] Muitas vezes convivendo com as colegas diariamente possuímos uma imagem formada delas, porém quando conhecemos um pouco de sua história passamos a enxergá-las de maneira diferente. [...] refletir nestas coisas e com isso ajudou a tornar o meu olhar sensível em relação ao outro. (Borboleta Vanille, 5º sem.).
Este movimento de olhar para si e para o outro provoca a emergência das
emoções na feitura da “Colcha de Retalhos”, como ressalta a aluna que: “ao ouvir
histórias houve um crescimento na vida e fez que com que mudasse atitudes e
refletisse na questão profissional e fez com que buscasse mais conhecimento.”
(Borboleta Castanha-Vermelha, 5º sem.).
O significado de participar da “Colcha de Retalhos” está presente na narrativa
da Borboleta de Olhos verdes afirmando que se compõe como “uma construção de
respeito ao próximo.” (Borboleta dos olhos verdes, 5º sem.). A outra discente deixa
bem claro este processo, afirmando que “pude conhecer um pouco de mim e até
mesmo entender o meu jeito de ser. Aprender a respeitar a pessoa que cada é
devido a sua história ou trajetória de vida.” (Borboleta Estaleira-cinza, 5º sem.).
De acordo com as narrativas é possível afirmar que a estética como mediação
na construção do conhecimento, pode promover a capacidade de interagir com os
outros, que respeitem as diversas diferenças que encontram na sociedade, que
tenham atitude de cooperação, que abominem qualquer tipo de violência, que
respeitem as regras, capazes de solucionar problemas em grupo, respeitando as
diferentes opiniões.
Isso pode se vislumbrar na narrativa da Borboleta Três-Cores, que aponta
uma mudança de paradigma ao salientar a importância da reflexão e agir
diferentemente do que teve em sua formação escolar, já que: “aprendemos a ver o
outro com um olhar diferente, a entender o professor em sala de aula, tentando
mudar. Não fazer o que fazia no fundamental com professores. Valorizar os
professores.” (Borboleta Três Cores, 5º sem.).
A respeito desta visão de ver o outro, a Borboleta Manacá defende que: “é um
autoconhecimento porque você olha os outros de forma diferente, você enxerga o
seu aluno e olha o próximo de outra maneira.” (Borboleta do Manacá, 5º sem.).
A construção do sujeito pela e para a sensibilidade, está presente na seguinte
narrativa:
127
trocar experiências de vida enquanto se costura a várias mãos a colcha de retalhos. [...] a formar uma linda composição de vidas em que nós todas nos reconhecemos. [...] um grande tecido de vidas entrelaçadas. [...] uma experiência muito libertadora [...] como histórias tristes e que desoladoras sempre estão acompanhadas de momentos de grandes felicidades, conquistas e vitórias. [...] Impressionante a riqueza de detalhes de cada retalho, carregados de emoção, mas ao mesmo tempo trazia a leveza, a delicadeza, mostrando a história de vida de cada uma. Uma experiência verdadeiramente transformadora, ninguém saiu incólume, pois todas afetaram e foram afetadas. [...] esse tipo de atividade é tão importante para a futura pedagoga, pois somente passando por tais experiências transformadoras pode-se adquirir consciência da real dimensão do papel e da responsabilidade da profissão. (Borboleta Floral, 5º sem.).
O relato de Borboleta Amathea traz a estética do olhar sensível como um
aspecto de qualidade das relações interpessoais:
importante para todas, porque cada uma costurou um pedaço de sua história, foi bom compartilhar as histórias [...] muitos seres humanos julgam os outros, mas ninguém sabe o que cada um passa qual a dificuldade que cada um passa problemas? Todo tem, mas um diferente dos outros. [...] um dia de lição de vida, muitas experiências compartilhadas, alegrias e até mesmo tristezas. (Borboleta Amathea, 5º sem.).
Esta experiência de enxergar o outro, de maneira diversa e conseguir
perceber a si, é enfatizada na narrativa da Borboleta Cristal:
Com a colcha de retalhos cada pessoa teve a oportunidade de conhecer mais o indivíduo. Foi uma experiência de reconhecer o outro com suas diferenças. Teve uma socialização com diversas pessoas diferentes. Teve a troca de experiências por meio da socialização. [...] A união que o objetivo em comum é possível acontecer, mas com argumentos e ideias pautáveis. (Borboleta Cristal, 5º sem.).
Nesta situação, observamos que a experiência estética passa pela
experiência do sujeito com o outro, consigo e com o mundo, sempre com uma
mediação da emoção que contraria a ideia com base apenas no utilitário com o
mundo externo. Esta relação interpessoal destaca-se novamente como elemento
crucial com o registro da aluna do 4º semestre.
contribui para minha formação pessoal e profissional, sobre ouvir a história de cada um, o que marcou na vida pessoal delas. [...] poder contar a história e fazer a junção da costuram, cada uma tem sua história e essa história faz parte de outra história. (Borboleta Jardim, 4º sem.).
128
Aquilo que nos emociona no cotidiano ordinário da sala de aula, manifesta-se
na narrativa abaixo:
foi bem emocionante e nos fez refletir sobre cada história de vida. [...] este projeto promove ainda mais a integração, favorecendo o fortalecimento dos vínculos, o que beneficia a formação pessoal e moral, edificando assim, a formação do cidadão responsável, solidário e ético. [...] a cada história contada refletirmos mais sobre os fatos abordados e despertando a curiosidade sobre a vida das colegas e o mundo que as cercam. [...] É deslumbrante a arte deste belo trabalho desenvolvido na formação de professores, pois trabalha a autonomia e emancipação do ser. (Borboleta Palmeira).
Sob essa perspectiva, é necessário perceber que a aprendizagem
fundamenta-se nas emoções. Este arrebatamento estético se vê claramente no
seguinte relato: “me contaram que saíram da sala muito emocionada e conhecendo
pessoas que ao menos um bom dia dava”. (Borboleta Numeral, 5º sem.). Apesar de
simples e breve, este registro denota a transformação do olhar para o outro, de
como o dispositivo “Colcha de Retalhos” possibilita a construção de um ser humano
mais reflexivo e sensível.
Olhar o outro despido de seus conceitos e julgamentos, além da construção
do respeito ao outro e às suas vivências, estão identificados na narrativa a seguir:
O retalho é apenas uma parte de nossa história de vida, por isso não posso julgar o próximo apenas com o que ele compartilha de sua vida [...] transformar a narrativa escrita em uma imagem no tecido me fez chorar muito, me trouxe a lembrança de muitas coisas e me fez avaliar a si mesma. [...] Narrar a história para outras pessoas ouvirem foi importante para elas construir respeito ao próximo a não julgar pela aparência, aprender com o erro dos outros. [...] respeitar as diferenças, a enxergar o aluno e respeitar sua história de vida e com isso buscar maneiras de trabalhar com eles. (Borboleta do Norte, 5º sem.).
A necessidade de se colocar no lugar do outro, de modo que possa haver
cumplicidade, tolerância e respeito com o próximo, são práticas sociais que ainda
encontram-se como limite para algumas alunas do 5º semestre, apesar de terem
vivenciado e experimentado a metodologia.
Ao relacionar a narrativa das alunas do 5º semestre destaca-se a
necessidade de união, apesar de fortalecer os valores como cidadão:
foi bem emocionante e nos fez refletir sobre cada história de vida. [...] este projeto promove ainda mais a integração, favorecendo o fortalecimento dos vínculos, o que beneficia a formação pessoal e moral, edificando assim, a
129
formação do cidadão responsável, solidário e ético. [...] a cada história contada refletirmos mais sobre os fatos abordados e despertando a curiosidade sobre a vida das colegas e o mundo que as cercam [...] É deslumbrante a arte deste belo trabalho desenvolvido na formação de professores, pois trabalha a autonomia e emancipação do ser. (Borboleta Limoeiro, 5º sem.).
Este processo de reflexão é evidente no relato da discente sobre “Colcha de
Retalhos”:
percebi que houve comoção na hora que cada colega foi falando sobre suas escolhas simbólicas retratadas nos retalhos houve muita curiosidade por parte de nós do quarto semestre em cada pedacinho uma história surpreendente cada pedaço era de um pouco de cada colega [...] através das respostas de cada uma vi que para elas foi uma experiência boa importante pelo fato do resgate de situações importantes de suas vivências. (Borboleta Alerta, 4º sem.).
Como dito, apesar de ainda encontrar-se este limite, temos a possibilidade de
desenvolvimento, a partir do momento que suas falas apresentam a necessidade de
reflexão. Essa relação apresenta-se no registro da Borboleta Rubi:
O trabalho em sala da colcha trouxe uma visão sobre o outro. Aprendi a respeitar o momento de cada um, escutar suas histórias e compreender o momento vivido de cada pessoa. Trouxe vários sentimentos, emoções, choros, alegrias e sabedoria. Escutar, compreender e aprender foi o que consegui no trabalho. Histórias maravilhosas, revelações, aprendizado e conhecimento. Aprendi a conhecer o outro lado de cada pessoa da sala. Foi um momento de refletirmos sobre os sentimentos vividos. (Borboleta Rubi, 5º sem.).
Perceber o colega como ser humano, repleto de experiências e histórias,
enxergá-lo como resultado de suas vivências, é mostrado no seguinte relato: “cada
integrante do grupo pegava um pedaço seu da colcha de retalho e explicava o
significado daquele retalho. Gostei bastante” (Borboleta Filha, 4º sem.).
Corroborando, Tardif (2008) menciona que “o objeto do trabalho do docente são
seres humanos e, por conseguinte, os saberes dos professores carregam as marcar
do ser humano.” (TARDIF, 2008, p. 266).
Nos relatos das narrativas de Borboleta Rainha Alexandra, Borboleta-
Aquática e Borboleta Marinha, surge a experiência estética da convivência entre os
sujeitos durante o processo formativo e a capacidade de se colocar no lugar do
outro:
130
O reconhecimento das situações vividas foi através da reflexão, se colocar no lugar do outro o modo de pensar diferente e também pelo fato das mesmas terem me marcada bastante. (Borboleta Rainha Alexandra, 5º sem.). ouvindo o outro também aprendeu e dá valor a nossa história. (Borboleta-Aquática, 5º sem.). O ato de costurar os retalhos possibilitou o exercício da autonomia, pois durante a elaboração do retalho pudemos decidir o que gostaríamos, ou não, de compartilhar com a classe. A costura nos faz perceber que ao longo do curso todas nós nos relacionamos, com algumas pessoas mais do que com outras, fazemos parte de um todo, com objetivos em comum, e que mesmo sem desejar provocamos mudanças na vida das pessoas, e elas também provocam mudanças em nossa vida. Ouvir a história do outro nos faz respeitá-lo e compreendê-lo melhor, pois muitas vezes julgamos as atitudes das pessoas sem procurar entender o porquê delas agirem de determinada maneira. Como pedago/gas, cotidianamente vamos costurar a teoria com a prática, compartilhar nossas experiências com o outro, e para isso precisamos saber nos expressar e ouvir o que o outro tem a nos dizer. (Borboleta Marinha, 5º sem.).
Ao equiparar as narrativas da Borboleta Adeplha e da Borboleta Grafite,
percebemos que ambas apresentam a necessidade de colaboração e cooperação,
apesar de muitos momentos não concordarmos, precisamos saber ceder e aprender
a lidar com a singularidade de cada um:
colocar em prática parte do aprendizado. [...] houve um entrosamento entre as alunas apesar de não concordar com algumas colocações que foram feitas e imposições, tudo transcorreu melhor forma possível. [...] Desta forma, observei que muitas vezes devemos abrir mão da nossa opinião e a vontade para que possamos atender a necessidade do outro. [...] Colocar em prática as nossas vidas precisamos da colaboração e participação de todos que estão empenhados no mesmo ideal. (Borboleta Adelpha). relembrando as histórias, algumas foram costurá-la. Foi um trabalho lindo, pois uns pequenos desenhos demostramos tantas coisas, fazendo sentido para cada uma. Minhas sensações foram inesperadas. Não saberia que mexeria tanto comigo. Me fez refletir que cada ser humano tem sua singularidade. (Borboleta Grafite).
Nestas narrativas também fica claro o respeito pela vulnerabilidade do outro e
de nós mesmos, compreensão que se faz necessária para a construção da
autonomia, como aponta Anjos (2005), além do conceito de dignidade, co-implicado
na relação eu-outro.
A troca de experiências contribui para que ocorra esta compreensão, o que
também auxilia no desenvolvimento de olhar para si e para o outro, conforme aponta
o seguinte relato:
131
pude refletir sobre quão difícil é você partilhar de momentos que foram marcantes em sua (nossas) vidas e na carreira profissional [...] representar em um simples retalho imagens que denunciassem suas angústias e trajetórias que marcaram a história [...] uma experiência de poder observar um pouco da história do outro de um contexto de ideais, influencias encontro e desencontros que levaram a refletir e relembrar épocas anteriores, contribuindo para o meu processo de aprendizagem. [...] com sua agulha e linha entrelaçassem suas histórias juntamente com as outras compartilhando essa troca de experiência que nos possibilita a conhecer um pouco mais do outro. (Borboleta Cometa, 5º sem.).
As narrativas expressam a forma como o indivíduo se vê, como se coloca no
lugar do outro, buscando a compreensão e entendimento do outro e como se
constitui na diferença em relação ao outro. A narrativa da Borboleta Preta e
Vermelha destaca que: “nos faz refletir em cada ação e pensamento que fizemos e
nos faz refletir nas ações do eu e do outro.” Já a Borboleta Alexandra Rainha
acredita que “foi de grande importância, pois através da narração da minha história
pude contar aquilo que estava guardando dentro de mim.” Neste mesmo sentido,
temos a contribuição da Borboleta Zebra:
Foi importante para enxergar as qualidades das outras pessoas e não olhar apenas para a minha história, pois quando olhamos para as outras pessoas, a primeira vista podemos ter uma má impressão e quando conhecemos sua história. (Borboleta Zebra).
Nesse viés, as narrativas sobre o significado de participar da “Colcha de
Retalhos” revelam que durante o processo formativo os sentimentos e emoções
afetam sua reflexão de escolha, perante o que vê de si e do outro. As Borboletas
Azul, Polidama e Folha expressam a necessidade desse olhar:
Pelo sentimento que elas deixaram raiva, saudade e carinho. Foram cruciais para a escolha da profissão. (Borboleta Azul). Significou a possibilidade de refletir e reconhecimento o quanto é importante o papel do professor em nossas vidas e nossas escolhas. No curso de pedagogia fala-se muito sobre a importância do professor conhecer seus alunos e lembrar que por trás de cada um deles tem uma história. A atividade traz esse ensinamento para a prática. (Borboleta Polidama). Alguns momentos charneiras são inesquecíveis. Ao pensar em escola, o aprendizado surge imediatamente, outros momentos são de pura reflexão ou em conversas com outros indivíduos que fazem parte da minha vida ou sozinho. (Borboleta Folha).
Por outro lado, temos narrativas que consideram a metodologia da “Colcha de
Retalhos” como um momento de desabafo:
132
Foi ótimo falar e ouvir passamos três anos e não conhecemos as pessoas, foi uma forma de desabafo e união da sala. (Borboleta azul, 5º sem.). é uma experiência boa ao relatar e compartilhar com o grupo cada um tem histórias diferentes para serem divididas. (Borboleta 88, 5º sem.). foi muito importante, no meu caso em especial serviu como desabafo. (Borboleta Polidama, 5º sem.). Conclui que são trajetórias distantes e não influenciaram os modelos de práticas, a Colcha de Retalhos foi um trabalho mais pessoal, que serviu para aproximação da turma, que por se tratar de um semestre estavam todos separados e enquadrados já em seus grupos. (Borboleta Vermelha, 5º sem.).
O olhar para si e para o outro despertam emoções e sentimentos diversos
que arrebatam de forma invisível, sendo um despertar para realidade, pois ao olhar
para si é possível compreender como ocorre a formação do sujeito e o olhar para o
outro, no processo de ressignificação.
Dessa forma, de acordo com Moscovici (2005) apud Sousa e Novaes (2013),
é necessário considerar que a concepção de que cada sujeito é singular, único e
social, sua historicidade que afeta diretamente o sujeito em suas interações sociais.
Assim cada sujeito constrói a sua representação social, pois tem diferentes
contextos e culturas e juntos compartilhamos as representações sociais, a
representação é uma construção de conhecimento na relação do objeto ausente.
Assim como, as representações alternam a memória. Representa-se por meio de
signos e símbolos partilhados e aceitos socialmente, assim não há uma
representação isolada, mas que está envolvida com o social, o tempo, pessoas,
referindo-se aos fenômenos de identidade e alteridade.
Consoante, Adorno (2004) e Freire (2011) trazem sua crítica à mídia e os
sujeitos como oprimidos, pois se criam falsas representações da realidade, a
submissão, o esvaziamento das potencialidades criadoras do ser humano e
capacidades criativas.
Com isso, como no método de História de vida e no dispositivo “Colcha de
Retalhos”, que ao costurar os retalhos temos a construção do sujeito que possibilita
construir e reconstruir as dimensões formativas e pedagógicas. Deste modo, pode-
se perceber que a narrativa de experiências e histórias possibilita o exercício do
pensamento crítico, entre o sensível e o racional para o desenvolvimento da
sensibilidade.
133
Berkenbrock-Rosito (2014) menciona que as narrativas têm um sentido
epistemológico a partir da produção de conhecimento que os sujeitos atribuem sobre
a formação docente. Nesse aspecto, a formação docente será proveniente de cada
narrativa de vida, isto é, diante de cada experiência de vida que o sujeito teve
durante sua trajetória.
Aqui se evidencia que o processo de emancipação dos sujeitos passa pelo
trabalho coletivo, por meio da troca de experiências, sendo imprescindível para o
processo de mudanças, conforme aponta Tardif (2008), quando destaca a
necessidade de saber ser, construir uma atitude para com o outro, de respeito.
Consoante, Zeichner (2008) defende que a prática reflexiva dos professores
não pode ter apenas uma visão técnica do saber fazer, já que possui também o
compromisso do saber ser, pois é essencial trabalhar de forma coletiva e ativa nos
propósitos educacionais.
Com isso, é também é uma possibilidade de não se render aos encantos do
“modismo pedagógico”, que trabalha com a lógica da ênfase era dada a uma
Educação tradicional focada em conteúdo, o aluno no lugar do morto,
posteriormente com os avanços das pesquisas prevalece uma ampliação de uma
educação para a formação do sujeito como cidadão crítico e reflexivo e que para
isso, a ênfase recai na relação professor e alunos, o conteúdo no lugar do morto, a
Educação da Escola Nova como novos pensamentos sobre a aprendizagem do
aluno na relação com o conhecimento, entende-se equivocadamente, que ele
aprende sem a intervenção do professor, portanto, o professor assumiria o lugar do
morto.
No contexto desta pesquisa, é possível compreender que a Educação
Estética ocorre por meio das narrativas de história de vida de cada sujeito, o que
permite direcionar o olhar para a própria história como possibilidade de
epistemológica de conhecer e produzir conhecimentos, ao mesmo tempo que se
desenvolve a sensibilidade do equilíbrio dos processos pedagógicos ensinar,
aprender e formar e da prática pedagógica a relação professor, aluno e
conhecimento.
134
Eu prefiro ser Essa metamorfose ambulante
Do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo (Metamorfose Ambulante - Raul Seixas)
135
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Foi objeto de estudo a compreensão sobre o desenvolvimento da autonomia e
a emancipação dos sujeitos, contribuindo para um aprofundamento dos aspectos
teóricos e práticos da Educação Estética, por meio da narrativa de vida e a partir do
dispositivo “Colcha de Retalhos”, uma metodologia e epistemologia desenvolvidas
por Berkenbrock-Rosito, desde 2001, como proposta de formação do professor-
pesquisador, a concepção de Educação Estética considerando as emoções como
uma questão epistemológica nos processos formativos.
Iniciei o estudo contando a minha trajetória de vida e minhas experiências,
uma contextualização entre mudanças e transformações, que são dados da minha
infância, a vida familiar, destacando fatos e pessoas marcantes nas diversas fases,
visando à compreensão de trajetória formativa, na dimensão pessoal e profissional.
Com isso, fica claro quem é a pesquisadora, momento de perceber onde
meus pés pisam ou já pisaram. Isso é importante para uma pesquisa na abordagem
qualitativa, sob o enfoque hermenêutico, que a análise, compreensão e
interpretação dos dados não ocorre de forma neutra, há intencionalidade.
Como proposta para esta pesquisa trouxe a “Metáfora da metamorfose”, que
foi o fio condutor para analisar e tecer os aspectos que representam a vida em todos
os sentidos, seja no casulo, na metamorfose e no voo.
Para isso, busquei a compreensão teórica e prática sobre a formação de
professores-pesquisadores à luz da Educação Estética, a fim de elucidar as
concepções de estética, dimensão estética, experiência estética, aprendizagem
estética, Educação Estética. Assim foi possível estabelecer as possibilidades e
limites entre os conceitos e compreender a presença da aprendizagem estética nas
narrativas discentes, refletir sobre a humanização, o caminho de humanização dos
sujeitos por meio da Educação Estética. Deste modo, concebe-se a narrativa como
produção do conhecimento no processo formativo desvelada pela experiência
estética e estética da narrativa como possibilidade de desenvolvimento e autonomia
e emancipação dos sujeitos.
Esses movimentos fundamentam a análise, compreensão e interpretação do
material do estudo: o sentido e significado da dimensão estética nas narrativas
discentes produzidas no dispositivo formativo “Colcha de Retalhos” no Curso de
Pedagogia, em 2013, que participaram da disciplina “História da Educação e da
136
Pedagogia”, ministrada por Berkenbrock-Rosito, na Universidade Cidade de São
Paulo.
Os dados foram coletados utilizando a Entrevista Narrativa, um momento em
que as alunas do 5º semestre contaram sobre a participação na “Colcha de
Retalhos” para as alunas do 4º semestre. Os dados foram analisados sob o enfoque
hermenêutico na perspectiva de Gadamer (2000), buscando a compreensão dos
sentidos construção dos significados atribuídos pelos discentes sobre o contar as
experiências vividas na feitura da Colcha de Retalhos.
Neste contexto, cabe a resposta acerca das perguntas-problema norteadoras
do estudo: “Como o desenvolvimento da autonomia e emancipação dos sujeitos
ocorre via Colcha de Retalhos?” e “Quais são as possibilidades e limites da Colcha
de Retalhos como metodologia formativa no Curso de Pedagogia?”
A emoção é uma experiência estética no processo formativo que esteve
presente nas narrativas das histórias de vida, durante a vivência da feitura da
“Colcha de Retalhos” pelas alunas do 5º semestre de acordo com o registro das
alunas do 4º semestre, constatando pelos relatos a possibilidade de transformação
afetada pelas emoções.
A aprendizagem revelada pelo relato é uma vivência que ocorre via emoção,
constituindo-se como uma dimensão estética do conhecimento. Esses momentos de
aprendizagem foram ensejos de uma experiência estética, que surgiram a partir do
pensar sobre a fruição do gosto e do desgosto, que resultaram na produção de um
conhecimento sobre os processos formativos dos profissionais, despontando a
responsabilidade como um valor estético essencial para esta trajetória.
Nas narrativas sobre a experiência, emergiram a escola, como lugar de
memórias das narradoras e acontecimentos de sua vida, episódios relacionados
tanto na escola como na família e que influenciaram a sua escolha pela profissão
docente. Nestes momentos, ocorreram lampejos de conscientização, como um
processo de autoconhecimento, no reencontro de memórias atrelado à formação,
um sentimento de responsabilidade com sua trajetória formativa.
É importante destacar que a formação dos professores é constituída por
momentos e histórias que ocorrem dentro e fora da escola, sendo as memórias do
espaço escolar ou de acontecimentos vividos fora dela que influenciam na formação
profissional.
137
Em alguns relatos são declarados os limites da relação da vida pessoal com a
vida acadêmica e profissional, mas que são contraditórias em sua maioria, quando
mencionam que trajetória de vida tem a ver com a vida, pois nesse aspecto envolve
tanto a dimensão profissional quanto a pessoal.
A resistência é elucidada em narrativas como medo da reprovação do outro,
indicando a necessidade de aprovação do outro, aparece como sendo uma
necessidade de permanecer um pouco mais no casulo, pois é preciso amadurecer e
para isso o envolve a compreensão do sentido de ser e existir, plenamente um
processo de autoconhecimento.
Diante disso, é possível constatar que o desenvolvimento da autonomia e da
emancipação dos sujeitos ocorreu durante todo o processo de construção das
narrativas, pois envolveu escolhas e tomadas de decisões sobre o que ocultar e o
que mostrar sobre a própria história em suas narrativas escrita, oral e pictórica, bem
como possibilitam o sujeito a tomada de consciência de si e relacionando a autoria
como prática educativa.
O respeito apareceu como mais um valor estético e essencial nas relações
humanas, destacando-se a relevância do saber ouvir o outro e a indispensável
formação da sensibilidade, centro chave de um desenvolvimento estético do sujeito,
ao aliar a emoção e a razão.
Ficaram claros o sentido e o significado do ato de ouvir e compreender,
retratados pela troca de experiências, oportunizando o movimento de olhar para si e
para o outro, sendo uma possibilidade de desenvolvimento e ressignificação na
formação do sujeito, como expressão da autonomia de pensar e descobrir-se como
sujeito, que sente e pensa sobre o mundo em que está inserido.
Assim sendo a relação entre eu e o outro, o outro e o eu, no diálogo com o
professor, com colegas ou família, evidencia a importância da troca de experiência
coletiva, pois somente reconheço o outro a partir do eu e pela estética do olhar
sensível.
A experiência estética da convivência é desvelada ao refletir sobre essa
colaboração e cooperação, na troca de experiências coletivas e importante das
relações interpessoais, sendo um aprendizado primordial para lidar com a
singularidade de cada um.
Nesse sentido, compreende-se que existem momentos diferentes na
compreensão da trajetória formativa, que apesar de compor um mesmo grupo em
138
formação, percebe-se nos relatos das narrativas discentes, que algumas
permaneciam no casulo, pois ainda precisam tornar-se maduros tanto
intelectualmente quanto emocionalmente.
Os valores estéticos de responsabilidade e compromisso são explicitados
pelos relatos das discentes e falam do outro para falar de si, buscando o
reconhecimento de si como possibilidade de compreensão do outro. Isso acontece
pela emoção, na busca de compreender a história de vida do outro e de si. Aqui, os
valores estéticos desvelados precisam ser aprendidos e envolvem uma ação
reflexiva sobre o que nos causa, como possibilidade de transformação, extraindo o
visível do invisível, uma vez que a estética não se ensina, mas se aprende nas
relações.
Neste viés, vale ressaltar a visão das discentes com relação à aprendizagem
estética, que ocorre em diferentes momentos de uma trajetória, ou seja, não segue
uma linearidade, é algo processual e contínuo, a favor do desenvolvimento de um
olhar estético à formação de professores.
Nos relatos, foi possível vislumbrar que esse movimento de olhar para si e
para o outro, na feitura da “Colcha de Retalhos”, provocou a emergência de
emoções ao perceber o colega como ser humano repleto de experiências e histórias,
enxergá-lo e identificar histórias que não são tão diferentes das suas, aflorando os
sentimentos e emoções. As atitudes e práticas de valores como a cumplicidade,
tolerância e respeito com o próximo, ainda se encontram como limite para algumas
alunas do 5º semestre, apesar de terem vivenciado e experimentado a metodologia.
Outras discentes despertavam sobre a sua transformação e refletiam sobre
seu processo de mudança, no processo da metamorfose e outras narrativas
vislumbravam um olhar para o outro, um voo e despertar para a realidade.
O conhecimento sobre si e sobre o mundo compõe a identidade do docente-
pesquisador, sendo favorecido pelo processo formativo com a metodologia da
“Colcha de Retalhos”, desencadeado pelo resgate de sua trajetória de vida e o
desenvolvimento da autoria em suas histórias e colaborando na formação estética
do ser.
Outro ponto importante para se destacar é que diante dos relatos são
desveladas as múltiplas linguagens e sentidos, nas etapas da metodologia da
“Colcha de Retalhos”, como a escrita, um momento individual e solitário, a seguir a
oralidade, o momento do diálogo e relação com os outros e o último momento da
139
imagem (pictórica). A representação do vir a ser e o desenvolvimento de tomada de
decisões, constatando a importância do despertar da consciência, são movimentos
de fruição e criação, quando o sujeito transforma-se em autor e ator de seu papel.
Por fim, os relatos das discentes trazem ponderações acerca de ser
professor, procurando compreender a subjetividade da prática docente, como o
saber, o saber fazer e o saber ser, emergindo uma reflexão sobre as concepções
tradicionais relacionando teoria e prática.
Portanto, a metodologia formativa “Colcha de Retalhos” demonstrou ser uma
estratégia pertinente à formação do professor-pesquisador, possibilitando o
desenvolvimento da autonomia e emancipação dos sujeitos que ocorre pela
dimensão estética, já que, nas narrativas, há evidências do desenvolvimento
intelectual, afetivo e emocional.
Além disso, a partir da minha experiência com a Colcha de Retalhos, e com a
experiência docente e com a oportunidade deste estudo, pude identificar que
comparando essa metodologia da Colcha de Retalhos com outras da área da
educação, é possível perceber que por trabalhar com as múltiplas linguagens, por
meio da escrita, por meio da imagem e pela oralidade é possível explorar o ser
humano em sua totalidade, principalmente com o enfoque das narrativas
autobiográficas.
Sendo assim, as narrativas possibilitaram identificar e compreender o caráter
formador das vivências de cada participante. Contar sobre o percurso formativo é
uma possibilidade de perceber-se na narrativa daquilo que já foi vivido, além de
fomentar novas compreensões a partir do narrado que podem alterar a consciência
daquilo que já foi vivido. Desta forma, os professores podem, pelo caminho das
narrativas, tanto realizar projeções para o futuro, quanto reinterpreta sua história,
extraindo dela outras lições e se tornar autores e sujeitos de fato.
Esse movimento de reconstrução e reinvenção como estratégia formativa faz
com que sejam possíveis as rupturas de reproduções e um desabrochar da
consciência epistemológica, na busca da autoria, a caminho de um processo de
humanização e colaborando na formação estética do ser, demonstra-se assim, como
diz, Freire, uma busca pela justiça entre os homens.
140
REFERÊNCIAS
ABBAGNANO, Nicola. Diccionário de Filosofia. Ciudad del México: Fondo de Cultura Económica, 1966. ADORNO, T. W.; HORKHEIMER, M. Dialética do esclarecimento: fragmentos filosóficos. Rio de Janeiro: Zahar, 1985. ADORNO, T.W. Teoria estética. São Paulo: Martins Fontes, 1982. ______. Educação e emancipação. Tradução Wolfgang Leo Mar. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1995. ______. Crítica à indústria cultural: comunicação e teoria da sociedade. 3.ed. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2004. ______. A atualidade da Filosofia. Disponível em <http://adorno.planetaclix.pt/ tadorno3.htm> Acesso em 18 ago. 2013. AGOSTINHO, S. Confissões. São Paulo: Nova Cultural, 1996. ALMEIDA, C. L.; FLICKINGER, H. G.; ROHDEN, L. Hermenêutica filosófica: nas trilhas de Hans-Georg Gadamer. Porto Alegre: Edipucrs, 2000. ALVES, Rubem. Quando eu era Menino. Rio de Janeiro: Papirus, 2003. AMORIM NETO, Roque do Carmo; BERKENBROCK-ROSITO, Margaréte May. Ética e Moral na Educação. Rio de Janeiro: Wak, 2007. ANJOS, M. F. O corpo no espelho da dignidade e da vulnerabilidade. In: SOCIEDADE de Teologia e Ciências da Religião (Org.). Corporeidade e teologia. São Paulo: Paulinas, 2005. ARANHA, Maria Lúcia. História da Educação e da Pedagogia: Geral e Brasil. São Paulo: Moderna, 2006. BANZATO, A. C. A. S. Educação Estética e Formação Inicial de Professores da Educação Básica: Um estudo hermenêutico do projeto político-pedagógico do Curso de Pedagogia, na modalidade de Educação a Distância. DISSERTAÇÃO DE MESTRADO. Universidade Cidade de São Paulo. Disponível em: <http://www.unicid.edu.br/pos_graduacao/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?sid=4427> Acesso em 05 nov. 2013. BERKENBROCK-ROSITO, M. M. A história tecida em retalhos: uma prática formativa de professores e pesquisadores à luz da interdisciplinaridade e transdisciplinaridade. In: BERKENBROCK-ROSITO, M. HASS, C. M. Interdisciplinaridade e Transdisciplinaridade: políticas e práticas de formação; Rio de Janeiro: Wak, 2014, p. 143 – 176.
141
______. M. Retalhos imaginativos: a dimensão estética nos processo formativos autobiográficos. Cadernos de Educação. FaE/PPGE/UFPel, Pelotas, mai./ago. 2014a. BOFF, Leonardo. A águia e a galinha: uma metáfora da condição humana. Petrópolis: Vozes, 1997. BROCCOLINI, Giustino. Pedagogia nomenclatura e problemática. Napoli, Italia: Edizioni Scientifichi Italiane, 1990. BUENO, B. O. Histórias de Vida e Autobiografias na Formação de Professores e Profissão Docente (Brasil, 1985-2003). São Paulo: Universidade de São Paulo, 2006. CAMPBELL, J. O poder do mito. São Paulo: Palas Atenas, 1990. CAMUS, Albert. O mito de Sísifo. Rio de Janeiro: Record, 2010. DELORY-MOMBERGER, Formação e Socialização: Os Ateliês Biográficos de projeto. Natal, RN: EDUFRN, São Paulo: Paulus, 2009. DOMINICÉ, P. O que a vida lhes ensinou. In NÓVOA, António; FINGER, Matthias (Org.) O método autobiográfico e a formação. Lisboa: Ministério da Saúde, Departamento de Recursos Humanos da Saúde/ Centro de Formação e Aperfeiçoamento Profissional, 1988, p. 131-153 DUSSEL, Enrique. Ética da libertação na idade da globalização e da exclusão. Petrópolis: Vozes, 2000. ENRIQUEZ, Eugène. A instância grupal. In: ENRIQUEZ, Eugène. A organização em análise. Petrópolis: Vozes, 1997. FERRY, Gilles. Los modelos de La formación. In: FERRY, Gilles. Pedagogia de la formación. Buenos Aires, Argentina: Ediciones Novedades Educativas – Universidad de Buenos Aires, 1997. FOUCAULT, Michael. Vigiar e Punir: História da violência nas prisões. 21 ed. Petrópolis: Vozes, 2001. FREIRE, P. Educação como prática da liberdade. 5. ed. Rio de Janeiro: Paz e terra, 1975. ______. Pedagogia da esperança: um reencontro com a pedagogia do oprimido. São Paulo: Paz e Terra, 1997. ______. Pedagogia do Oprimido. 43. ed. São Paulo: Paz e Terra, 2011. ______. À sombra desta mangueira. 9. ed. São Paulo: Olho D´Água, 2012. ______. Pedagogia da Autonomia: saberes necessários à prática educativa. São
142
Paulo, Editora Paz e Terra, 2014. FREIRE, Paulo; SHOR, Ira. Medo e Ousadia: o cotidiano do professor. 9. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1986. FUSARI, M. F. de R. e. Mídias e formação de professores: em busca de caminhos de pesquisa vinculada à docência. In: FAZENDA, I (Org.). Novos Enfoques da Pesquisa Educacional. São Paulo: Cortez, 2004. GADAMER, Hans-Georg. Da Palavra ao Conceito. In: ALMEIDA CUSTÓDIO, Luís Silva de; FLICKINGER, Hans-Georg; ROHDEN, Luiz. Hermenêutica Filosófica: nas trilhas de Hans Georg Gadamer. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2000, p. 13-26. ______. Homem e Linguagem. In: ALMEIDA CUSTÓDIO, Luís Silva de; FLICKINGER, Hans-Georg; ROHDEN, Luiz. Hermenêutica Filosófica: nas trilhas de Hans Georg Gadamer. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2000, p. 117-128. ______. Sobre o Círculo da Compreensão. In: ALMEIDA CUSTÓDIO, Luís Silva de; FLICKINGER, Hans-Georg; ROHDEN, Luiz. Hermenêutica Filosófica: nas trilhas de Hans Georg Gadamer. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2000, p. 141-150. GAULEJAC, Vincent de. As origens da vergonha. São Paulo: Via Lettera e Livraria, 2006. HERMANN, Nadja. Hermenêutica e Educação. Rio de Janeiro: DP & A, 2002. HERWITZ, Daniel. Estética: Conceitos-chave em Filosofia. Porto Alegre: Artmed, 2010. HOUSSAYE, Jean. O triângulo pedagógico ou como entender a situação pedagógica. Ciências da Educação. Universidade de Rouen, 1988. Tradução apropriada orientadora desta pesquisa. IMBERNÓN, F. Formação Docente e Profissional: formar-se para a mudança e a incerteza. São Paulo, Cortez, 2011. JOSSO, Marie-Christine. Da formação do sujeito… ao sujeito da formação. In: NÓVOA, António; FINGER, Mathia. (Org.). O método (auto) biográfico e a formação. Lisboa: MS/ DRHS/CFAP, 1988. ______. História de vida e projeto: a história de vida como projeto e as “histórias de vida” a serviço de projetos. Educação e Pesquisa. v.25 n.2São Paulo jul./dez. 1999. ______. Experiências de Vida e Formação. Lisboa: Educa, 2002. ______. As figuras de ligação nos relatos de formação: ligações formadoras, deformadoras e transformadoras. Educação e Pesquisa. São Paulo, v. 32, n. 2, Ago. 2006. ______. A transformação de si a partir da narração de histórias de vida. Educação,
143
Porto Alegre/RS, ano XXX, n. 3, v. 63, p. 413-438, set. / dez. 2007. JOVCHELOVITCH, S.; BAUER, M. W. A entrevista Narrativa. In: BAUER, M. W.; GASKELL, G. Pesquisa qualitativa com texto, imagem e som. 2. ed. Rio de Janeiro: Vozes, 2002. LARROSA, J. Notas sobre a experiência e o saber da experiência. In: Revista Brasileira de Educação. Campinas: Universidade Estadual de Campinas. Jan/fev/mar/abr., 2002. LAWN, C. Compreender Gadamer. 3. ed. Petrópolis: Vozes, 2011. LIBÂNEO, José Carlos; SANTOS, Akiko (org.). Educação na era do conhecimento em rede e transdisciplinaridade. Campinas: Alínea, 2010. MARTINS, Maria Anita Viviani. Educação. In: FAZENDA, Ivani. Interdisciplinaridade: Um dicionário em construção. São Paulo; Cortez editora, 2001, p. 242- 246 MAY, Rollo. Minha Busca da Beleza. Petropolis: Vozes, 1992. MONTEIRO, F. M. A. Desenvolvimento profissional da docência: uma experiência de formação em um curso de licenciatura em pedagogia. São Carlos, 2003. Tese (Doutorado em Educação)–Centro de Educação e Ciências Humanas, Universidade Federal de São Carlos, São Paulo, 2003. NÓVOA, Antônio. Vida de professores. Porto: Porto Editora, 1995. ______. Professores: imagens do futuro presente. Lisboa: Educa, 2009. PASSEGGI, Maria da Conceição. Narrativa autobiográfica: uma prática reflexiva na formação docente. II COLÓQUIO NACIONAL DA AFIRSE. Anais, set, Brasília, DF, Universidade de Brasília, 2003. PERES, L. M. V. (Org.). Imaginário o entre-saberes do arcaico e do cotidiano. Pelotas: Editora e Gráfica Universitária/UFPel, 2004. PERISSÉ, G. Filosofia, ética e literatura: uma proposta pedagógica. São Paulo: Manole, 2004. ______. Estética & Educação. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2009 (coleção Temas & Educação). QUINTANA, M. Caderno H. 2. ed. São Paulo: Globo, 2006. ROHDEN, Luiz. Hermenêutica Filosófica: nas trilhas de Hans Georg Gadamer. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2000. ROVIGHI, Sofia Vanni. História da Filosofia Moderna: da revolução científica a Hegel. São Paulo: Loyola, 2002
144
SACRISTÁN, J. Gimeno. A educação obrigatória: seu sentido educativo e social. Porto Alegre: Artmed, 2001. SANTOS, L. R. dos. Educação Estética a dimensão esquecida. In: SANTOS, L. R. dos (coord.). Educação Estética e utopia política. Lisboa: Colibri, 1996. SARMENTO, Teresa. Contextos de vida e aprendizagem da profissão. In: FORMOSINHO, João (Coord.) Formação de Professores: aprendizagem profissional e ação docente. 1. ed. Porto, Portugal: Porto Editora, 2009. SCHILLER, Friedrich. A educação estética do homem numa série de cartas. 4. ed. São Paulo: Iluminuras, 2002. SEIDMANN, Susana; TOMÉ, Sandra; DI IORIO, Jorgelina. Representaciones sociales y dialogicidad: La psicologia social y la construcción del sujeito em la educación. In: SEIDMANN, Susana; SOUSA, Clarilza Prado (coord.). Hacia uma psicologia social de la educación. 1 ed. Buenos Aires, Argentina: Teseo, 2011. SEVERINO, A.J. Metodologia do trabalho científico. São Paulo: Cortez, 2007. SOUSA, Clarilza Prado; NOVAES, Adelina. A compreensão de subjetividade na obra de Moscovici. In: ENS, R. T.; VILLAS BÔAS, L. P. S.; BEHRENS, M. A. Representações sociais: fronteiras, interfaces e contextos. Curitiba: Champagnat; São Paulo: Fundação Carlos Chagas, 2013. SUÁREZ, D. H. A documentação narrativa de experiências pedagógicas como estratégia de pesquisa ação-formação de docentes. In: PASSEGGI, M. da C.; BARBOSA, T. M. N. (Org.). Narrativas de formação e saberes biográficos. Natal (RN): EDUFRN; São Paulo: Paulus, 2008. TARDIF, Maurice. Saberes docentes e formação profissional. 9. ed. Petrópolis: Vozes, 2008. TEDESCO, J. C. Seminário: Políticas Inclusivas e Políticas Compensatórias na Agenda de Educação. Texto apresentado no, comemorativo dos 40 anos da Fundação Carlos Chagas, realizado em 30 set. e 01 out. 2004, em São Paulo. VÁZQUEZ, Adolfo Sánchez. As ideias estéticas de Marx. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1978. ZEICHNER, M. K. Uma análise critica sobre a “reflexão” como conceito estruturante na formação docente. Educação Sociedade, Campinas, vol. 29, nº 103, mai./ago., 2008.
146
ANEXO A - Conte-nos o que significou participar da “Colcha de Retalhos”
Sujeito Narrador Pergunta1 Pergunta 2 Pergunta 3 Pergunta 4 Pergunta 5 Pergunta 6 Pergunta 7
Borboleta Marrom
Narrador 1
Relembrar a escola básica me fez ver e refletir, sobre tudo que deveria ter aprendido e o quanto isso me fez falta.
Reconhecer e relembrar o que aconteceu na minha vida escolar é um dos pontos principais que me fez ser uma futura professora. O que me influenciou a ser professora, foram meus primeiros anos escolares, que foram atribulados e difíceis, que deixaram profundas lacunas em meu aprendizado. No entanto, eu como professora pretendo inverter este quadro, (no que depender de mim) sendo observadora e tendo um conhecimento
Com certeza a minha trajetória de vida e principalmente a minha vida escolar, influenciaram quanto à escolha de ser um profissional da educação.
Significou momentos de sofrimentos e alegrias. O que dificultou o pensamento, a escolha e também a decisão de qual imagem retratava melhor estes momentos.
Expor minha história, algo que sempre esteve "cravado" em meu coração, na memória e poder compartilhar, particularmente foi primordial. Poder ouvir também a história de cada um foi emocionante! Porque cada história, sendo boa ou ruim, nos traz grandes aprendizados, reflexões, conhecimento, afim de não cometermos os mesmos erros como futuras educadoras.
Sim. A atividade Colcha de Retalhos nos traz "um olhar" amplo no que diz a respeito à formação na área da Educação. É um curso que tem como objetivo uma preparação sendo também um ótimo curso para a vida de qualquer ser humano, por nos ajudar primeiramente como cidadãos, visando também que precisamos uns dos outros. O retalho quando está sendo costurado mostra exatamente isso, e o quanto a interferência do outro pode acrescentar grandes riquezas em nossas vidas.
Este trabalho foi criativo e bem elaborado. Uma maneira de conhecermos melhor umas as outras. Quanto a critica, em minha opinião, os retalhos quando feitos ficaram melhores se fossem todos do mesmo tamanho, facilitaria na hora de juntar todos para a construção da colcha.
147
ANEXO A - Conte-nos o que significou participar da “Colcha de Retalhos”
sigiloso sobre todos os meus alunos e especificamente com aqueles alunos que tem mais dificuldades no aprendizado, pois todo indivíduo é inteligente e capaz. O que precisamos descobrir é a fonte estimuladora deste aprendizado.
Borboleta três cores
Narrador 2
Perceber que tudo tem ligação, elas não imaginavam que pudesse resgatar o ensino fundamental no ensino médio. Existem algumas coisas que não lembravam e com a colcha elas forçavam as lembranças
Pelo impacto, os episódios, no fez passar pelo o que leu, conviveu e viveu.
Aprendemos a ver o outro com um olhar diferente, a entender o professore em sala de aula, tentando mudar. Não fazer o que fazia no fundamental com professores. Valorizar os professores
A transformação foi mais significativa, as imagens tem mais impacto do que palavras.
Foi importante porque nos conhece o lado mais oculto do colega de sala. Com essa experiência nos mostra que todos tiveram dificuldades para enfrentar as dificuldades. Dando oportunidade para o outro saber mais da nossa história.
A atividade é importante porque nos faz pensar na nossa trajetória até aqui e nos mostra o porquê escolhemos esse curso. Também passar o que aprendemos para os nossos futuros alunos.
Uma atividade legal, a crítica deveria não ter só importância no curso de pedagogia. Parabenizado por nos dar a oportunidade de conhecer o outro.
148
ANEXO A - Conte-nos o que significou participar da “Colcha de Retalhos”
Borboleta laranja
Narrador 3
O resgate do processo (auto) formativo, na formação de professores é essencial, pois permite o autoconhecimento na relação com o saber, o ensinar e o conviver com demais pessoas, e este autoconhecimento permite compreender-se, desenvolver-se, construir sua autonomia e emancipação.
Acredito que o resgate de episódios marcantes, ou melhor, reconhece-los, se deu através do olhar para si e para a história de vida e perceber que através da intuição, os pontos que permitem as transformações, ou seja, através da intuição (motiva, emocional e intelectual) as fissuras entre os acontecimentos, o eu neste.
Sim, porém não é uma tarefa fácil e necessária atenção, prontidão e disponibilidade.
Significou um exercício de se utilizar de outra linguagem, a imagem por si só utiliza de diversos símbolos que combinados colocam um significado. A imagem é única, portanto, representa um indivíduo. O meu retalho sou eu.
Sim, o momento de narração da história tecida em retalhos em grupo permite o reforço da identidade profissional ao mesmo tempo em que se permite a identificação entre as histórias de cada um. A criação e construção do sentimento de pertencimento.
Sim. É essencial na formação de professores no curso de pedagogia, pois o profissional da educação é o único que inicia a sua formação ao nascer, e olhar, refletir toda a história de sua formação, inclusive no contexto educacional é primordial para favorecer a formação de profissionais conscientes, críticos e reflexivos, autores e autônomos, portanto, mais capazes de promover transformações sociais.
Parabenizo a atividade pela inovação, criatividade, metodologia e caminho que propõe aos estudantes aprimorarem através do autoconhecimento, sua autoformação. Sugiro, apenas, que ele seja desenvolvido por mais tempo, por 2 semestres consecutivos, para que se possa iniciar a fundamentação teórica.
Borboleta Vermelha
Narrador 4
Fazer a colcha juntamente com a minha turma de 1o.semestre do curso, significou muito, primeiro relembrei
Para fazer minha Colcha de Retalhos, precisei relembrar os fatos mais marcantes dos
Conclui que são trajetórias distantes e não influenciaram os modelos de práticas, a Colcha de
Sim, para a formação de professores no curso de pedagogia, porém teria mais sentido profissional, se a
----------------- ----------------- Parabenizo a professora por ter incluído em sala de aula uma proposta diferente um trabalho realizado não em
149
ANEXO A - Conte-nos o que significou participar da “Colcha de Retalhos”
acontecimentos da minha vida, mas relembrei apenas momentos bons, e no dia da apresentação das histórias da Colcha de Retalhos, a maioria das histórias que jamais eu poderia imaginar que eles passaram. Ou seja, conhecer o nome da pessoa e vê-la todo dia não significa que conhecemos sua história de vida.
últimos anos de minha vida e ambos os fatos estavam interligados, com o ingresso na universidade, o início do namoro, a viagem para a Bahia. Para ingressar na faculdade tive inspiração do meu antigo professor de História do ensino médio, que passou para assistirmos o filme "O pianista". Meu namorado conheci no meu atual emprego, ele estava para concluir a 1 a.graduação dele e já tinha interesse em iniciar a 2 a. então ele me incentivou bastante a iniciar meus
Retalhos foi um trabalho mais pessoal, que serviu para aproximação da turma, que por se tratar de um semestre estavam todos separados e enquadrados já em seus grupos.
colcha tivesse ido feita no último semestre do curso, relatando as experiências e opiniões vividas por nós futuras professoras durante o curso. Porque a colcha apresentada acabou em relatos pessoais.
grupo, mas em turma, envolvendo todas as classes. Parabenizado também às orientações antecessoras a formação da colcha de retalhos (o filme e as discussões em sala). Critico o período em que a colcha foi feita, logo no início do semestre. Eu daria como sugestão fazer uma nova Colcha de retalhos no 5o. Contando as experiências adquiridas do curso e da vivência nos ambientes escolares.
150
ANEXO A - Conte-nos o que significou participar da “Colcha de Retalhos”
estudos este ano, foi assim que pude concluir um acontecimento ligado ao outro.
Borboleta amarela
Narrador 5
O significado do resgate do processo autoformativo do ensino médio e fundamental foi à possibilidade de reflexão das coisas que vem acontecido em minha vida e o significado em minha formação.
Me levou a pensar sobre a minha história e sobre mim mesma e assim perceber os significados que tiveram alguns acontecimentos em minha vida
Talvez autoria no processo de conhecimento sobre minha trajetória pessoal seja marcado pelo esclarecimento de que as minhas atitudes no momento em que eu vivia (passava por alguns acontecimentos em minha vida) seriam os responsáveis pelo rumo que iria tomar minha vida, sendo assim minhas escolhas dependiam de mim, retirando do papel de vitima e me colocando no papel de
A colcha de retalhos é mais do que importante na formação de professores porque possibilita a reflexão de nossa história pessoal. Acredito que o autoconhecimento é o facilitador de toda escolha que fazemos na vida
-------------- -------------- Parabenizo todo o processo de construção da colcha, inclusive o filme que me ajudou a ter uma compreensão melhor sobre o significado da colcha que simboliza minha história.
151
ANEXO A - Conte-nos o que significou participar da “Colcha de Retalhos”
responsável pela minha história.
Borboleta polidama
Narrador 6
Significou a possibilidade de refletir e reconhecimento o quanto é importante o papel do professor em nossas vidas e nossas escolhas
Ao refletir sobre minha trajetória me lembrei de muitos momentos diferentes aos que escrevi na narrativa, mas reconheci aqueles que escrevi como mais importantes porque foram os que causaram emoções mais fortes.
Sim, em vários momentos de minha reflexão consegui relacionar tudo o que muito que havia lido sobre a pedagogia até aqui à minha vida pessoal e profissional.
O reconhecimento da própria história.
Sim, foi muito importante, no meu caso em especial serviu como desabafo.
No curso de pedagogia fala-se muito sobre a importância do professor conhecer seus alunos e lembrar que por trás de cada um deles tem uma história. A atividade traz esse ensinamento para a prática.
Parabenizo o trabalho em todos seus aspectos. Não tenho critica alguma, apenas sugiro que talvez a colcha - finalizada possa ser entregue a uma das alunas, tipo sorteio.
Borboleta preta e vermelha
Narrador 7
Significou muito esse resgate, olhar para as minhas atitudes hoje e olhar o que eu fiz antes me faz vir o quanto o ensino superior me transforma a cada dia.
Foi um momento de reflexão, parar e analisar tudo, escolhas e incertezas.
------------- Muito importante pude ver claramente cada detalhe da minha história desenhada na colcha, o que me fez perceber minha vida um retalho.
-------------- Sim, pois nos faz refletir em cada ação e pensamento que fizemos e nos faz refletir nas ações do eu e do outro.
Obrigada pelo desafio, obrigada por me fazer refletir e analisar minha vida, minha transformação constante. No primeiro momento juro que pensei: ah, não vou fazer, mas acabou me fazendo bem e melhor.
Borboleta 88 Narrador 8
Significou um momento bom, lembranças que
Bom, reconheci e aprendi momentos
-------------- Significou um momento criativo e emocionante ao
Sim, porque é uma experiência boa ao relatar e
Sim, Considero porque faz a gente pensar e
Foi ótimo trabalho, e emocionante este momento,
152
ANEXO A - Conte-nos o que significou participar da “Colcha de Retalhos”
ficou guardada em minha memória por muito tempo, posso descrever que foram ótimos momentos no Ensino Fundamental.
marcantes e as pessoas que estão nesta narrativa e muito valiosos apesar do tempo que passou, mas frequento a escola do ensino fundamental e reencontro todos simplesmente incrível.
passar um momento marcante para o tecido do retalho.
compartilhar com o grupo cada um tem histórias diferentes para serem divididas.
refletir. parabenizo a você professora pela oportunidade.
Borboleta Azul
Narrador 9
Foi um momento que pude rever momentos fundamentais com um novo olhar que o ensino superior me proporcionou
Pelo sentimento que elas deixaram raiva, saudade e carinho. Foram cruciais para a escolha da profissão
Sim. Pude ver que preciso conhecer e resolver minhas confusões para assim poder ser um profissional de qualidade
Foi confuso transformar sentimentos em desenho, mais muito prazeroso.
Sim. Foi ótimo falar e ouvir passamos três anos e não conhecemos as pessoas, foi uma forma de desabafo e união da sala.
Sim, porque nos faze refletir nosso percurso e repensar o que iremos fazer na vida pessoal e profissional.
A sala esta de parabéns. Os depoimentos foram lindos. Não tenho críticas
Borboleta Branca
Narrador 10
Foi significativo, porque resgatei lembranças e ouvir muitas histórias bonitas.
Aprendi com a convivência com outras pessoas, acho que o contato livros ajuda você ampliar seu conhecimento.
Sim. Quando comecei a ouvir as histórias de vidas e relacionar com os estudos de sala, acho que juntos podemos observar isso
No começo achei difícil passar para um pano uma história, a imagem que representei o que vivo. Mas quando falei minha narrativa para a sala descobri que meu desenho
Só conhecemos as pessoas quando passamos a conhecer - ouvir suas histórias. E ao narrar minha narrativa, senti que pude passar um
Sim. Achava que era uma besteira esse projeto, mas ao ouvir outras narrativas passei a imaginar as minhas trajetórias um aprendizado para minha formação.
Eu parabenizo todas por seus retalhos pelas histórias emocionantes. A professora pela iniciativa de fazer esse trabalho com as alunas. Proponho que
153
ANEXO A - Conte-nos o que significou participar da “Colcha de Retalhos”
com as práticas vividas.
representou bem a minha história
pouco da minha história para minhas colegas.
esse trabalho continue por muitas décadas
Borboleta branca camuflada
Narrador 11
Foi muito bom, pois pude ver o quanto cresci, aprendi e evolui
Procurei colocar no papel pessoas e momentos que mudaram a minha vida em alguma parte dela, recorri ao histórico da minha vida e resgatei aquilo que me marcou de alguma forma.
------------- Foi muito bom, às vezes nos expressamos melhor quando não usamos as palavras e descobri que é muito legal pintar, adorei.
É muito importante conhecer a história do outro, você passa a ver a pessoa de outra forma, porém na hora de narra a minha história achei muito difícil, meu deu um branco, não me senti muito a vontade, para contar o que tinha escrita para todas.
Sim, essa atividade acaba nos trazendo a tona quem realmente somos, mostra nossos valores e um professor deve se conhecer por completo, para assim conhecer e entender o outro.
Parabenizo a tudo, achei uma atividade muito importante e proponho que essa colcha a cada semestre, seja feita uma nova com as nossas histórias.
Borboleta branca da madeira
Narrador 12
Significou o autoconhecimento de si mesmo, significou uma reflexão sobre a vida, significou um pensamento e ideias criticas.
Reconheci pelas minhas próprias experiências de vida, de influência com o meio social, aprendi com a minha família e principalmente com meus pais.
Sim tudo tem uma relação e ligação, pois fazemos escolhas que influenciam ou mudam a própria história de vida e pessoal.
Significou uma nova experiência, uma aprendizagem sobre a história de vida da escola, da parte profissional.
Sim, foi muito importante, pois entendemos o outro, a história do outro, compreendemos a vida do outro e o pensamento do grupo.
Sim é importante, pois com a colcha refletimos com a relação com o conhecimento, professores, consigo a prática e a educação.
Parabenizo o trabalho todo e geral em minha opinião não tem nenhuma crítica sobre a atividade. Proponho a continuação desse trabalho para a formação de professores, da prática, da educação, na faculdade, na área acadêmica.
154
ANEXO A - Conte-nos o que significou participar da “Colcha de Retalhos”
Borboleta coruja
Narrador 13
Para resgatar todas essas lembranças foi significativo, lembrei o quanto foi bom o meu processo de ensino.
Foi muito difícil, pois percebi o quanto é complicado olhar os momentos vividos. Aprendi que devemos olhar com carinho cada momento vivido
A nossa trajetória de vida tem tudo haver com a vida, profissional e pessoal. O que vamos aplicar na vida e o que temos referente à nossa cultura.
Significou um momento especial, pois fiz o retalho com a minha mãe e irmão, isso foi um momento único na minha vida.
Sim, foi importante, pois ouvi histórias lindas, de sofrimento e com uma conquista no final, isso é muito prazeroso.
Sim, pois é uma lembrança de vida de cada um e proporciona a quem ouve certa experiência e podemos comparar as histórias vividas.
Eu só tenho que agradecer a professor, pois resgatou momentos únicos da minha vida, me proporcionou lembranças maravilhosas. Continue com o seu trabalho e se alguém não quiser falar sobre esse trabalho saiba que a pessoa que mais tocou assim como eu.
Borboleta estranha
Narrador 14
Foi essencial, porque sem ter passado por esses níveis de ensino, acho que não conseguiria estar no ensino superior e rumo à conclusão. Sei sim que por aqui não paro, isso foi só um pequeno marco para crescer com uma aluna que sempre ira buscar conhecimentos e como indivíduo que estará mais
Através de uma professora na 8a. Série, seu carinho, atenção e dedicação, foram essenciais na minha escolha profissional. A mesma fazia com que cada aula fosse um aprendizado diferente.
Sim, com certeza porque cada escolha e decisão sempre iram refletir no amanhã/futuro, levará você colher o que plantou, para semear seus objetivos. Cada aprendizado construirá o nosso conhecimento.
Retratar uma das maiores marcas da vida foi trazer à tona a história mais importante da minha vida. Uma dadiva de Deus
Sim, porque relatar algo tão importante faz com que essa história se renove como uma chama que arde sem sessar. Trazer ao grupo um milagre que somente Deus pode realizar e que esta vivo, é meu maior presente que a vida/ Deus poderia me dar.
-------------- ---------------
155
ANEXO A - Conte-nos o que significou participar da “Colcha de Retalhos”
preparado a vida Borboleta mórmon
Narrador 15
Na época da escola não sabia que o curso iria cursar na faculdade. Foi através de uma ONG onde trabalhou que descobriu que faria Pedagogia. A experiência na escola é que não há democracia. Já na faculdade teve outra visão de vida.
Os momentos marcantes de sua infância em sala de aula lembra que seu professor era muito legal, era amigo, e foi grande importância de seu caráter.
O professor de sua infância teve grande influencia em sua formação educacional.
Fazer a colcha de retalhos foi materializar muitas coisas, foi uma transformação interior, reflexões e autoconhecimento. O dono do tempo tem suas cenas, tristezas, felicidades e podemos perceber que existem coisas que não podemos falar, pois existem críticas e nem sempre estamos preparados para as críticas, pois às vezes estamos frágeis.
Narrar é difícil, pois existem vários lados, espiritual, pessoa e profissional, pois falamos sobre nossas dificuldades, momentos ruins, bons, junto vêm o amadurecimento às experiências vivenciadas ao ouvir as outras histórias. Em tudo aprendemos com os erros e acertos, e a respeitar a historia de cada um.
Foi muito importante, pois passamos a olhar de outra forma, refletir mais respeitar a história do outro, enxergar o aluno, entender seu processo de vida. Mas em tudo é superação do ser.
O trabalho foi maravilhoso, foi fundamentado pela professora muito bem elaborado. Extraiu o que todos tinham de melhor naquele momento, e é lógica a eficácia do trabalho. Parabéns a todas.
Borboleta Rainha Alexandra
Narrador 16
Tive um significado muito grande, pois foi através dessas recordações pude entender a pessoa que eu sou hoje e o profissional que irei ser.
O reconhecimento das situações vividas foi através da reflexão, se colocar no lugar do outro o modo de pensar diferente e também pelo
Sim Foi um momento de reflexão, onde eu passei a pensar sobre a minha história e foi um momento de grande aprofundamento, pois tive que pensar muito a passar a minha
Foi de grande importância, pois através da narração da minha história pude contar aquilo que estava guardando dentro de mim.
Sim, porque com esse trabalho paramos para refletir sobre o que passamos que eramos e a quem passamos a ser depois dessa reflexão e a quem vamos a ser como profissionais da
Eu parabenizo todas as etapas desse trabalho, pois através dele que paramos para pensar quem somos e a quem vamos ser, e como mudamos nosso caminho e a nós mesmos através
156
ANEXO A - Conte-nos o que significou participar da “Colcha de Retalhos”
fato das mesmas terem me marcada bastante.
história para o retalho.
área da educação.
do que passamos e das escolhas que tomamos.
Borboleta transparente
Narrador 17
O resgate das lembranças vividas foi muito prazeroso, pois pude perceber o quanto evolui nos meus pensamentos e ideias
O filme me mostrou muito a como atingir o objetivo, pude perceber que já passei por vários momentos que tinha caído no esquecimento.
Sim, pelo que vimos nos textos trabalhados em sala, a vida profissional esta ligada a pessoas, às vezes a gente tenta separar, mas não é possível, pois às vezes uma lição de casa pode aplicar no nosso crescimento pessoal ou familiar.
Um processo interessante, porque tudo que eu escrevi na narrativa se transformou em palavras.
Sim, ao ouvir cada história percebi quanto às pessoas são fortes e pude tirar um exemplo, e é gratificante ouvir e perceber o objetivo atingido por mim e pelos meus colegas.
Sim, pois praticamos a escrita em várias fases.
Eu só posso agradecer uma atividade como está só nós traz o reconhecimento que a cada dia que estamos crescendo e evoluindo. Muito obrigada por proporcionar, professora.
Borboleta zebra
Narrador 18
Representou para mim tristeza, pois tive uma queda na escola que estudava, provocando convulsões que se repetiam no horário de entrada das aulas, mas que foram ao longo do tempo superadas.
O filme me mostrou muito a como atingir o objetivo, pude perceber que já passei por vários momentos que tinha caído no esquecimento.
Sim, pelo que vimos nos textos trabalhados em sala, a vida profissional esta ligada a pessoas, às vezes a gente tenta separar, mas não é possível, pois às vezes uma
Representar a minha narrativa, na forma de retalhos significou representar em imagens minha fé e superação.
Foi importante para enxergar as qualidades das outras pessoas e não olhar apenas para a minha história, pois quando olhamos para as outras pessoas, a primeira vista podemos ter
Considero a atividade importante para conhecer, compartilhar e compreender as pessoas, atitudes importantes no trabalho como professor que se relaciona constantemente.
Parabenizo a atividade, proponho apenas que haja uma melhor organização na colcha de retalhos.
157
ANEXO A - Conte-nos o que significou participar da “Colcha de Retalhos”
lição de casa podemos aplicar no nosso crescimento pessoal ou familiar.
uma má impressão e quando conhecemos sua história, percebemos o quanto estamos errados.
Borboleta-aquática
Narrador 19
São fases marcantes que jamais esqueceremos. Foi importante resgatar esses momentos, podendo notar o que sou hoje são marcas do passado.
Reconhecer as pessoas, os momentos e as nossas fases, são importantes para refletir e dar o devido valor a cada um. Perceber o que somos hoje é marcas do passado.
Pude notar que a minha história começou sem autoria própria, mas com o tempo e com a maturidade, pude torná-la diferente.
Foi importante, pois tive a noção que isso significou para mim.
Sim, o porquê ouvindo o outro também aprendeu e dá valor a nossa história.
Sim, pois nos fez refletir sobre nossas vidas, nossas práticas, fazendo com que melhoremos a cada dia mais.
Achei a atividade muito construtiva, pois com ela podemos relacionar e estudar nosso passado com o presente.
Borboleta-pavão
Narrador 20
Foi muito importante para a minha formação, foi no ensino fundamental e médio que os meus professores nos estimularam para o ensino superior, foi um processo que animou, creio que por isso escolhi ser pedagoga, tenho ótimas lembranças dessa
Creio que esse reconhecimento foi marcante, por isso ainda esta na minha memória, lembro-me de cada detalhe e de cada professor que passou pela minha vida de estudante, foram importantes para a minha
Cada escolha que fazemos em nossa vida tem uma consequência, sendo ela positiva ou não e cada escolha nos faz refletir e repensar em cada momento vivido.
Retratar o momento não é fácil, principalmente se ele nos traz lembranças que preferimos esquecer, porém depois da colcha creio que é necessário rever e pensar em certos momentos da nossa vida, pois são com esses momentos que
O momento foi muito especial, pois me fez perceber que o meu momento ou a minha situação é menor ao que as dos outros, ou menos dolorosa.
A colcha como já disse nos faz refletir o que já vivemos e o que ainda vamos viver isso é fundamental para nossa profissão, onde passamos pela história de muitos alunos e que levam as pessoas a refletir sobre suas ações.
No primeiro momento não levei muito a sério, mais hoje vejo o quanto é e foi importante, pois me ajuda a refletir sobre muita coisa, até mesmo no momento do registro, adorei ter participado dessa experiência.
158
ANEXO A - Conte-nos o que significou participar da “Colcha de Retalhos”
época. escolha profissional.
reflito e melhoro pessoa que sou por isso depois da colcha aprendi que sou uma pessoa em constante transformação tanto pessoal como profissional.
Borboleta-apolo
Narrador 21
O presente resgate foi importante, pois auxiliou-me a compreender a formação na educação básica, contribui para a minha formação como indivíduo.
O reconhecimento se deu através da importância dos episódios, das pessoas, professores etc., e acredito que os mesmos foram resgatados facilmente porque estão vivos em mim.
Sim Foi um processo interessante, pois para transformar a minha narrativa escrita em imagem tive que me aprofundar ainda mais na minha história de vida para poder compreendê-la ainda mais.
Sim, pois este exercício fez com que eu expressasse tudo o que havia guardado em mim, além de me fazer ouvir, respeitar e procurar entender melhor o outro.
Sim, porque para sermos indivíduos socialmente e profissionalmente emancipados é importante que antes ocorra um resgate de nosso processo formativo, pois para auxiliar o processo de formação de nossos alunos precisamos compreender o nosso próprio processo de formação.
Parabenizo todo o enredo do trabalho e a princípio não tenho crítica, mas como proposta, acredito que seria interessante a professora compartilhar a sua história com nós, para que a colcha também tivesse o seu retalho, pois assim teríamos conhecimento de seu processo formativo.
Borboleta bananeira
Narrador 22
------------ ------------ ------------ Significou enfatizar minha narrativa no tecido, com o pensamento, que estava fazendo era. Para ser apresentado tive que dar o melhor
Sim, muito importante, não foi narrar, mas sim ouvir, pois muitas vezes pensamos que nossa vida é difícil, que
Foi importante para a formação de professores, pois através da atividade, fazemos uma retrospectiva da nossa vida,
Parabenizo, pois podemos conhecer as histórias de vida de nossos colegas.
159
ANEXO A - Conte-nos o que significou participar da “Colcha de Retalhos”
sofremos no dia a dia, para conseguir estar na universidade, mas ouvindo o grupo percebemos que tem pessoas que sofre, mas que nós.
refletindo quais os caminhos que tomamos para chegar aqui.
Borboleta-folha
Narrador 23
Crescimento. Ao tecer cada pedaço da minha história, lembrando-se de cada acontecimento, levando em consideração os fatos que foram marcantes, senti certa confiança e conforto em relação às decisões e caminhos que resolvi tomar e seguir.
Alguns momentos charneiras são inesquecíveis. Ao pensar em escola, o aprendizado surge imediatamente, outros momentos são de pura reflexão ou em conversas com outros indivíduos que fazem parte da minha vida ou sozinho.
Com certeza. A tomada de decisão importante não é na própria vida de futuros professores, mas também seus futuros alunos. Como condutores nosso dever esta na influencia da autoafirmação e da autonomia, sem começarmos por nós mesmos jamais chegaremos aos nossos alunos.
-------------- ------------------ Sim, fazer a colcha foi um despertar, um encantamento e uma esperança. Passou por momento de reflexão, negar, aceitar, escrever e sorrir.
Achei tudo interessante, não tenho críticas. Adorei a ideia de escrever, conversar pelo fato de aprender algo novo: costurar.
Borboleta Monarca
Narrador 24
O resgate me trouxe a memória
Reconheci os episódios
É bem fácil, perceber como
------------------ ------------------- Achei essa atividade
Achei importante porque me levou a
160
ANEXO A - Conte-nos o que significou participar da “Colcha de Retalhos”
episódios marcantes que eu vivi no Ensino Fundamental e o mais interessante foi perceber que nada estava relacionado ao conteúdo e sim com as coisas que aprendemos de maneira informal
marcantes porque eles mudaram a minha maneira de enxergar o mundo
a pessoal influência no profissional.
surpreendente, pois me levou a refletir sobre a minha vida e minhas escolhas, no meu caso é interessante ver como meus momentos charneiras sempre se relacionaram com os filhos e profissão, em situações de conflitos em que tive que tomar decisões.
refletir e compreender a escolha do curso de pedagogia, agora a criticai é que tive vergonha de expor momentos familiares, mas quando ouvi relatos, percebi que havia situações ainda mais constrangedoras e difíceis.
Borboleta preta e laranja
Narrador 26
Foi um processo dificultoso, no começo relembrar tudo aquilo do passado e depois resgatar detalhes para passar para outra pessoa, mas gostei da experiência vivida.
Após conhecer a professora, ela mostrou o processo da colcha de retalhos e o filme, assim as aulas foram me levando a rever a minha trajetória de vida e relembrar das diversas situações para escolher a pedagogia.
Foi um processo de conhecimento de submissão no ensino fundamental e médio, isso afeta muito no lado profissional.
------------------- ----------------- Sim, porque através da colcha de retalhos você será o autor da sua história, a pessoa irá voltar ao seu passado e fazer perguntas a ela mesma se questionar.
Parabenizo que a colha de retalhos é um trabalho ótimo, onde deve se continuar, fazendo e proporcionar isto sempre.
Borboleta estaleira-
Narrador 27
Foi importante, pois a partir do
A partir do mergulho na
Sim, pois é a partir dessas
Foi significativa, a expressão através
Sim, porque elas pude
Sim, porque com este trabalho, os
Quero parabenizar todo o trabalho,
161
ANEXO A - Conte-nos o que significou participar da “Colcha de Retalhos”
cinza resgate pude compreender melhor as situações vividas e refletir o que ficou marcada como aprendizagem na construção da minha identidade como docente e as relevâncias que isso afetou.
memória, pude resgatar e relembrar os momentos que fizeram ter a certeza do caminho que deveria seguir e que a docência era realmente o que eu queria fazer da minha vida.
relações que estabelecemos que vá juntando os pedaços para formar nosso quebra-cabeça, ou seja, nossa identidade profissional.
da imagem da minha vida, o percurso que fiz para chegar até aqui onde estou num curso superior é a realização de uma etapa dos meus sonhos.
conhecer um pouco de mim e até mesmo entender o meu jeito de ser. Aprender a respeitar a pessoa que cada é devido a sua história ou trajetória de vida
alunos podem refletir e conhecer melhor, olhar para si mesmo e até entender como esta se tornando aquele profissional que quero ser e nos questionar.
não tenho criticas. Proponho que na atividade dê mais ênfase na importância de sensibilizar os alunos a fazerem parte, para que possam olhar para si e entender-se.
Borboleta maracujá
Narrador 28
Importante para relembrar como me portava antes e agora
Borboleta Castanha-vermelha
Narrador 29
Escolhi para ser professora, não com o colégio, pois os professores eram autoritários e não eram dinâmicos. Mas foi na adolescência que entrou em uma ONG e participou de um projeto voluntário, quando decidiu abrir os olhos para fazer faculdade e escolheu a pedagogia.
Lembro-me de apenas um professor que incentivou a fazer o curso de pedagogia, os outros falavam para ela sair. É importante o professor se importar com o aluno
Através de alguns professores acabamos influenciando e tomando algumas decisões em nossas vidas ou por gostar o não
------------------ Ao ouvir histórias houve um crescimento na vida e fez que com que mudasse atitudes e refletisse na questão profissional e fez com que buscasse mais conhecimento
------------------- -------------------
162
ANEXO A - Conte-nos o que significou participar da “Colcha de Retalhos”
Borboleta dos olhos verdes
Narrador 30
Formei-me na época da ditadura e a forma que os professores ministravam eram autoritários, não estimulavam o pensamento. Cursou dois anos de nutrição e optou pela pedagogia. Aprendi a conviver em grupo e a lidar com os colegas.
--------------------- --------------------- --------------------- Uma construção de respeito ao próximo
--------------------- Critico o envolvimento das pessoas e falta de união
Borboleta do Manacá
Narrador 31
Como se estivesse em um túnel do tempo, como uma tartaruga marinha resgatando tudo o que aconteceu e adequar os parâmetros em nossos dias e também aprendeu a se colocar no lugar do outro.
Lembro-me dos professores que pegaram a sua mão para ensinar
A narrativa mexeu muito, pois é algo concreto, um fato empírico é túnel do tempo se lembrar das coisas das escolas e das imagens. E que muitas coisas passam pela cabeça, mas tem que filtrar, porque nem tudo as pessoas tem que saber.
Aprender como erros dos outros, você já esta ganhando tempo é um incentivo.
------------------ É um autoconhecimento porque você olha os outros de forma diferente, você enxerga o seu aluno e olha o próximo de outra maneira.
Parabenizo pela inovação
Borboleta verde
Narrador 32
Gostei de relembrar as
--------------- --------------- --------------- --------------- --------------- ---------------
163
ANEXO A - Conte-nos o que significou participar da “Colcha de Retalhos”
trajetórias. Borboleta Rosa
Narrador 33
Importante para se perceber, enxergar ao nosso redor e o mundo que nos cerca. Ter respeito as pessoas com que convivemos apesar das diferenças
--------------- --------------- A representação da minha vida.
--------------- Importante para o desenvolvimento da reflexão e tomada de decisões em todos os campos da vida
Parabéns.
Legenda:
1. o resgate do processo (auto) formativo no contar como reconheceu que aprendeu resgatar episódios marcantes, reconhecer as
pessoas, professores, livros que influenciaram a sua escolha profissional?
2. O que significou refletir sobre a sua relação com o conhecimento, professor e consigo mesmo se de autoria ou não?
3. permitiu perceber que a trajetória pessoal e profissional não são distantes e que influenciam os modelos de práticas e a decisão
profissional?
4. O que significou transformar sua narrativa escrita na narrativa pictórica (imagem no tecido do retalho)?
5. Foi importante narrar sua história tecida no retalho para o grupo e ouvir a do outro? Por quê?
6. Você considera que a atividade “Colcha de Retalhos” foi importante para a formação de professores no curso de Pedagogia? Por quê?
7. O que você parabeniza, critica e propõe para a atividade “Colcha de Retalhos”?.
164
ANEXO B - A percepção das alunas do 4º. Semestre sobre a feitura da colcha de retalhos
Narrador Sujeito Narração Paráfrase Palavras-chave Eixo Categoria
Narrador 1
Borboleta Artista
O que mais me chamou a atenção foi à troca de experiência, pois na sala tinha alunos que não tinham a mínima ideia de como foi desenvolvida a colcha, mas através da entrevista ele ficou mais sabendo, ou seja, ouve as trocas de experiências entre os alunos. Essa aula foi muito importante para a disciplina, pois estamos aprendendo que o registro é de extrema importância, pois ele comprova um fato e o retalho foi um registro de algo marcante na vida de cada aluno.
"(...) troca de experiência entre os alunos” " O registro é de extrema importância e o retalho é o registro de algo marcante na vida"
Registro 3.2 Casulo Autoria
Narrador 2
Borboleta Boneca
Através dos relatos feitos pelas alunas sobre a colcha de retalhos pude observar que os acontecimentos em nossas vidas, seja ele um marco de tristeza ou de alegria, pode ser o marco inicial para mudar nossas atitudes para mudar nossas atitudes diante das situações que nos impedem de nos tornarmos melhores ou nos impulsionarem para o engrandecimento como pessoa. Não digo ser grande se tornam do arrogante, egoísta, mas sim se tornar sensível diante das diferenças, das desigualdades na sociedade. Acreditar que podemos transformar situações critica através
"(...) os acontecimentos em nossas vidas, seja ele um marco de tristeza ou de alegria, podem ser o marco inicial para mudar nossas atitudes” “tornar sensível diante das diferenças, das desigualdades na sociedade." “A escola é o ambiente mais favorável em tornar sujeitos com sendo crítico, flexível, ativo, autonomia para liderar suas vidas.” “O professor deve ter autonomia para exercer sua função de ensinar”.
Experiência 3.3 Metamorfose
Submissão
165
ANEXO B - A percepção das alunas do 4º. Semestre sobre a feitura da colcha de retalhos
do nosso conhecimento científico, moral, com o intuito de revolucionarmos um momento histórico social cultural. Ser feliz por completo é quando nos tornarmos importantes para a sociedade, contribuindo para o bem de todos e consequentemente formando um mundo melhor. A escola é o ambiente mais favorável em tornar sujeitos com sendo crítico, flexível, ativo, autonomia para liderar suas vidas. O professor deve ter autonomia para exercer sua função de ensinar dominando todos os termos que determinados por sua capacitação em lecionar de forma coerente, criativa, participativa, responsável com o seu trabalho e alunos. Juntos vamos desenvolver um novo conceito de mundo diante de nossas virtudes. O conhecimento sempre será o caminho certo para nos libertarmos dos conflitos do pensamento que nos aprisiona e que impede nosso desenvolvimento.
166
ANEXO B - A percepção das alunas do 4º. Semestre sobre a feitura da colcha de retalhos
Narrador 3
Borboleta Cometa
Nesta aula, enquanto cada colega relatava a história que estava sendo representada através da imagem em pequenos recortes de tecidos, pude refletir sobre quão difícil é você partilhar de momentos que foram marcantes em sua (nossas) vidas, de como esses momentos influenciaram em nossas escolhas na vida, na carreira profissional e como foram capazes de representar em um simples retalho imagens que denunciassem suas angústias e trajetórias que marcaram a história de cada uma. Durante a aula pude observar o momento em que as colegas se organizam para costurar suas histórias. Para mim foi de grande experiência poder observar um pouco da história do outro de um contexto de ideais, influencias encontro e desencontros que levaram a refletir e relembrar épocas anteriores, contribuindo para o meu processo de aprendizagem. Ao começarem a costurar seus trajetos, eu idealizei que seria um momento único, onde cada uma com sua agulha e linha entrelaçassem suas histórias juntamente com as outras compartilhando essa troca de experiência que nos possibilita a conhecer um pouco mais do outro.
"(...) pude refletir sobre quão difícil é você partilhar de momentos que foram marcantes em sua (nossas) vidas e na carreira profissional" “representar em um simples retalho imagens que denunciassem suas angústias e trajetórias que marcaram a história” "uma experiência de poder observar um pouco da história do outro de um contexto de ideais, influencias encontro e desencontros que levaram a refletir e relembrar épocas anteriores, contribuindo para o meu processo de aprendizagem. " "com sua agulha e linha entrelaçassem suas histórias juntamente com as outras compartilhando essa troca de experiência que nos possibilita a conhecer um pouco mais do outro.”
Outro
3.4 Olhar Autoria
167
ANEXO B - A percepção das alunas do 4º. Semestre sobre a feitura da colcha de retalhos
Percebi que de início havia entusiasmo, mas aos poucos os grupos foram se desintegrando, a maioria foi embora, ficando apenas algumas colegas costurando e construindo suas histórias, entendo que algumas trabalham e não dispõe de horário, mas penso que é um momento de construção e deveria ter um pouco mais de assiduidade entre o grupo.
Narrador 4
Borboleta Diferente
A aula de hoje foi bem emocionante, percebi que cada pedacinho daquela colcha representava uma parte muito especial de cada das meninas. Ao ver o relato de algumas delas cheguei até me emocionar. Percebi que ali naquele pequeno pedaço de pano, somos capazes de contar um pouco da nossa história, momentos bons ou ruins, mas que marcaram nossas vidas. Faz-nos relembrar de dificuldades, superação, vitórias que precisamos passar para aprender com a vida, nos tornando pessoas mais fortes, experientes capazes de ultrapassar quaisquer obstáculos na vida. Ainda não passei pela colcha de retalhos, e quando ouvia falar dela, acha uma chatice, mas hoje percebi uma grande importância para as
"Ao ver o relato de algumas delas cheguei até me emocionar.” "naquele pequeno pedaço de pano, somos capazes de contar um pouco da nossa história, momentos bons ou ruins, mas que marcaram nossas vidas." " quando ouvia falar dela, acha uma chatice, mas hoje percebi uma grande importância para as pessoas”.
Resgate
3.3 Metamorfose
Autoria
168
ANEXO B - A percepção das alunas do 4º. Semestre sobre a feitura da colcha de retalhos
pessoas, nos faz refletir qual o seu ideal, pelo que você esta batalhando, quais as dificuldades superadas, quais ainda serão superadas com sua força de vontade, realmente fiquei ansiosa para chegar a minha vez. Quando as meninas começaram a costurar, se via certo carinho, dedicação, pois ali estava um pedaço de cada uma, foi muito interessante, adorei o trabalho proposto pela professora e o empenho das meninas.
Narrador 5
Borboleta Filha
A aula se iniciou com uma apresentação do grupo do 5o. Semestre. A colcha de retalhos com uma exposição dos grupos. Cada integrante do grupo pegava um pedaço seu da colcha de retalho e explicava o significado daquele retalho. Em seguida, os grupos juntos começaram a costurar a colcha. Foi muito diferente e gostei bastante. Nos do 4o. semestre fizemos uma entrevista com os grupos do 5o. semestre com os grupos.
“Cada integrante do grupo pegava um pedaço seu da colcha de retalho e explicava o significado daquele retalho.” “Gostei bastante”
Gosto 3.2 Casulo Submissão
169
ANEXO B - A percepção das alunas do 4º. Semestre sobre a feitura da colcha de retalhos
Narrador 6
Borboleta Palmeira
O dia da costura da colcha de retalhos procedeu de forma organizada, foi bem emocionante e nos fez refletir sobre cada história de vida. Percebi que com este projeto pode-se promover ainda mais a integração, favorecendo o fortalecimento dos vínculos, o que beneficia a formação pessoal e moral, edificando assim, a formação do cidadão responsável, solidário e ético. A participação das alunas contando suas histórias (nascimento de um filho, aventura na infância, traumas, realizações, viagens...) nos fez emocionar com os relatos e sendo que, a cada história contada refletirmos mais sobre os fatos abordados e despertando a curiosidade sobre a vida das colegas e o mundo que as cercam e também colaborando na confecção da colcha. É deslumbrante a arte deste belo trabalho desenvolvido na formação de professores, pois trabalha a autonomia e emancipação do ser.
"foi bem emocionante e nos fez refletir sobre cada história de vida.” “este projeto promove ainda mais a integração, favorecendo o fortalecimento dos vínculos, o que beneficia a formação pessoal e moral, edificando assim, a formação do cidadão responsável, solidário e ético.” “a cada história contada refletirmos mais sobre os fatos abordados e despertando a curiosidade sobre a vida das colegas e o mundo que as cercam” É deslumbrante a arte deste belo trabalho desenvolvido na formação de professores, pois trabalha a autonomia e emancipação do ser.
Formação 3.3 Metamorfose
Autoria
170
ANEXO B - A percepção das alunas do 4º. Semestre sobre a feitura da colcha de retalhos
Narrador 7
Borboleta Geométrica
A aula foi diferente porque iniciamos a construção da Colcha de Retalhos, formação de professores e pesquisadores na história tecida em retalhos. Também fizeram um café comunitário. Durante a aula as meninas do 5o. Semestre se organizaram para iniciar a costura dos retalhos. Durante a aula algumas meninas relataram suas histórias do ensino fundamental ou fato de vida que marcou. Após, o relato as meninas iniciaram a costura para finalização da colcha. As meninas do 4o. Semestre entrevistaram as 5o. Sobre perguntas de como foi à construção dos retalhos? Como foi realizar essa atividade? Todas ficaram muito emocionadas em relatar suas histórias.
"Durante a aula algumas meninas relataram suas histórias do ensino fundamental ou fato de vida que marcou. " "Todas ficaram muito emocionadas em relatar suas histórias."
Emoção
3.2 Casulo Autoria
Narrador 8
Borboleta Hidro
Começamos com um excelente café da manhã, pois seria uma aula diferente. O dia da colcha de retalhos. As alunas do 5o. Semestre fizeram um trabalho em retalho onde relatam as histórias de suas vidas, no qual conquistas, perdas, mas acima de tudo realizações tanto na vida profissional como na pessoal. Iniciou a costura todas juntas e a emoção de ver aqueles
"relatam as histórias de suas vidas, no qual conquistas, perdas, mas acima de tudo realizações tanto na vida profissional como na pessoal." " Fiquei emocionada e pensando se um dia também poderei fazer uma colcha”.
Sentimento 3.2 Casulo Autoria
171
ANEXO B - A percepção das alunas do 4º. Semestre sobre a feitura da colcha de retalhos
pedaços de retalhos se transformando em uma inda colcha com sentimentos diversos. Fiquei emocionada e pensando se um dia também poderei fazer uma colcha dessas e espero que sim, foi muito bom estar participando dessa costura e fazer parte dessa turma.
Narrador 9
Borboleta Joaninha
A colcha emociona envolve, desmorona, reflete momentos de nossa vida e é através da experiência e lição de vida dos outros e nossas. Descobriremos que ninguém é perfeito, feliz para sempre por mais que tente sempre vai haver momentos em nossas vidas que choramos momentos dolorosos, alucinantes, bons, maravilhosos, enfim a vida não para. Houve momentos difíceis para algumas alunas, pude ver na entrevista algumas resistentes em comentários do trabalho. O café foi maravilhoso. A aula serviu para que pudesse compreender como é importante saber um pouco de cada um, saber que o outro também passou por momentos bons ou ruins, mas que continuam seguindo seu caminho. Nunca devemos parar
"A colcha emociona envolve, desmorona, reflete momentos de nossa vida e é através da experiência e lição de vida dos outros e nossas.” “Descobrimos que ninguém é perfeito, sempre vai haver momentos em nossas vidas que choramos momentos dolorosos, alucinantes, bons, maravilhosos, enfim a vida não para. " "Houve algumas resistentes em comentários do trabalho.”.
Emoção
3.2 Casulo Autoria
172
ANEXO B - A percepção das alunas do 4º. Semestre sobre a feitura da colcha de retalhos
Narrador 10
Borboleta Limoeiro
Esta aula foi importante, conheci um pouco mais algumas colegas de sala, umas que nem sabia o nome e muito menos sua história. Quando a professor foi escolhendo alguns retalhos eu torcia para que pegasse os que eu sentia mais interessante e fui muito feliz, pois um dos que queria foi escolhido. Embora eu ainda gostasse de ter ouvido todas as histórias. Me emocionei e até chorei em alguns momentos. A entrevista foi marcante também e só deixo-me curiosa e com vontade de chegar a minha vez de fazer o meu retalho. Embora percebi falta de união na confecção, mas como no final de toda história deu tudo certo.
"conheci um pouco mais algumas colegas de sala, umas que nem sabia o nome e muito menos sua história. " "Me emocionei e até chorei em alguns momentos." “deixo-me curiosa e com vontade de chegar a minha vez de fazer o meu retalho.” " Embora percebi falta de união na confecção, mas como no final de toda história deu tudo certo.”.
Emoção
3.2 Casulo Autoria
Narrador 11
Borboleta Jardim
A aula contribui para minha formação pessoal e profissional, sobre ouvir a história de cada um, o que marcou na vida pessoal delas. Na entrevista grande parte respondeu que sim, gostou de poder contar a história e fazer a junção da costuram, cada uma tem sua história e essa história faz parte de outra história.
“contribui para minha formação pessoal e profissional, sobre ouvir a história de cada um, o que marcou na vida pessoal delas. “ poder contar a história e fazer a junção da costuram, cada uma tem sua história e essa história faz parte de outra história."
Ouvir Relacionar
3.4 Olhar Autoria
173
ANEXO B - A percepção das alunas do 4º. Semestre sobre a feitura da colcha de retalhos
Narrador 12
Borboleta Floral
Foi uma manhã muito agradável com cheiro de bolo assado e café quentinho. Uma atmosfera de cada da vovó, aconchegante e convidativa, perfeita para desenvolvimento da proposta, a de espontaneamente trocar experiências de vida enquanto se costura a várias mãos a colcha de retalhos. Foi como se cada história, cada pedacinho de vida, tecida de diferentes s também fossem costuradas de maneira a formar uma linda composição, uma colcha de retalhos de vidas em que nós todas nos reconhecemos. Foi como se todos nós formássemos uma só vez, em um único golpe de vista, um grande tecido de vidas entrelaçadas. De foi uma experiência muito libertadora, pois a sensação que foi um alivio, foi como se todos fizessem as pazes com o passado. Percebemos como histórias tristes e que desoladoras sempre estão acompanhadas de momentos de grandes felicidades, conquistas e vitórias. Impressionante a riqueza de detalhes de cada retalho, carregados de emoção, mas ao mesmo tempo trazia a leveza, a delicadeza, mostrando a história de vida de cada uma. Pareceu-me um
“trocar experiências de vida enquanto se costura a várias mãos a colcha de retalhos.” Foi como se cada história, cada pedacinho de vida, tecida de diferentes experiências também fossem costuradas de maneira a formar uma linda composição de vidas em que nós todas nos reconhecemos. "um grande tecido de vidas entrelaçadas.” “uma experiência muito libertadora” “como histórias tristes e que desoladoras sempre estão acompanhadas de momentos de grandes felicidades, conquistas e vitórias.” “Impressionante a riqueza de detalhes de cada retalho, carregados de emoção, mas ao mesmo tempo trazia a leveza, a delicadeza, mostrando a história de vida de cada uma." Uma experiência verdadeiramente transformadora, ninguém
Transformação Olhar
3.4 Olhar Autoria
174
ANEXO B - A percepção das alunas do 4º. Semestre sobre a feitura da colcha de retalhos
desabafo, passei a conhecer mais intensamente algumas colegas, pessoas que só cumprimentava, mas não as enxergava. Uma experiência verdadeiramente transformadora, ninguém saiu incólume, pois todas afetaram e foram afetadas. Adorei ter presenciado um momento tão importante das meninas. Vejo também que esse tipo de atividade é tão importante para a futura pedagoga, pois somente passando por tais experiências transformadoras pode-se adquirir consciência da real dimensão do papel e da responsabilidade da profissão.
saiu incólume, pois todas afetaram e foram afetadas. “esse tipo de atividade é tão importante para a futura pedagoga, pois somente passando por tais experiências transformadoras pode-se adquirir consciência da real dimensão do papel e da responsabilidade da profissão”.
Narrador 13
Borboleta Numeral
Foi uma aula muito interessante, como eu sou aluna do 4o. Semestre já tive a oportunidade de estudar com as meninas que fizeram a apresentação do seu retalho. Após a apresentação delas, eu muito curiosa queria saber como havia sido elas me contaram que saíram da sala muito emocionada e conhecendo pessoas que ao menos um bom dia dava.
“me contaram que saíram da sala muito emocionada e conhecendo pessoas que ao menos um bom dia dava”.
Emoção 3.2 Casulo Submissão
Narrador 14
Borboleta Mental
A atividade Colcha de retalhos realizada na aula procurou de forma geral resgatar as memórias da infância e adolescência de nossas colegas com o objetivo de destacar
"resgatar as memórias da infância e adolescência de nossas colegas com o objetivo de destacar a importância das
Conhecimento 3.3 Metamorfose
Autoria
175
ANEXO B - A percepção das alunas do 4º. Semestre sobre a feitura da colcha de retalhos
a importância das experiências de vividas na escola em ser professoras. Todas se emocionaram bastante e no relato extremamente pessoal de cada uma delas percebia-se profundamente como cada ser humano é única, a experiência pode ser parecida ou até a mesma, mas a percepção, o jeito com o qual cada um irá sentir e reagir são únicos e constrói a personalidade de uma pessoa. Segundo o conteúdo da Paideia, Santo Agostinho sobre a influência das ideias de Platão afirma que "as ideias estão dentro de si, porque no seu interior há cristo", portanto acredito que as alunas em que sua trajetória de vida passou por experiências boas irão reproduzi-las e as que passaram por ruins encontrarão nesses exemplos alternativas de superá-las. A história pessoal ajuda na compreensão sobre quem somos e as escolhas pela qual tomamos, fazendo descobrimos que tudo o que nos tornamos é reflexivo do passado e entender a importância de nossa prática pedagógica na vida dos nossos alunos.
experiências de vividas na escola em ser professoras.” " Todas se emocionaram bastante e no relato extremamente pessoal de cada uma delas percebia-se profundamente como cada ser humano é única, a experiência pode ser parecida ou até a mesma, mas a percepção, o jeito com o qual cada um irá sentir e reagir são únicos e constrói a personalidade de uma pessoa. " Segundo o conteúdo da Paideia, Santo Agostinho sobre a influência das ideias de Platão afirma que "as ideias estão dentro de si, porque no seu interior há cristo", portanto acredito que as alunas em que sua trajetória de vida passaram por experiências boas irão reproduzi-las e as que passaram por ruins encontrarão nesses exemplos alternativas de superá-las. A história pessoal ajuda na compreensão sobre quem somos e as escolhas pela
176
ANEXO B - A percepção das alunas do 4º. Semestre sobre a feitura da colcha de retalhos
qual tomamos, fazendo descobrimos que tudo o que nos tornamos é reflexivo do passado e entender a importância de nossa prática pedagógica na vida dos nossos alunos.
177
ANEXO B - A percepção das alunas do 4º. Semestre sobre a feitura da colcha de retalhos
Narrador 15
Borboleta da Casa
A aula do dia 24 de Abril foi feito um café da manhã onde tivemos a oportunidade de conversar com outras pessoas e de conhecer rapidamente algumas histórias através dos retalhos de tecidos, de diferentes formas, desenhos, texturas, carregados de desejos, emoções, conquistas, realizações, sofrimento, angústia, raiva e carinho. Uma emoção muito grande demonstrada por elas e muito contagiante. Através da entrevista ficou claro que o trabalho desenvolvido pela turma do quinto e sexto semestre sobre a colcha de retalhos foi muito rico e de grande importância para as pessoas, onde puderam fazer uma retrospectiva em suas vidas, uma viagem ao tempo, lembrando-se de algumas coisas que no início não gostariam de compartilhar com ninguém por vários motivos e após algumas pessoas narrarem suas histórias encorajam os mais receosos. Esse movimento entre passado e presente, pode ser pensado como uma reelaboração de retalhos que darão forma a uma colcha que será tecida ao longo da vida com texturas e cores diversas que vão sendo costuradas e formando um todo com significados. Para
"tivemos a oportunidade de conversar com outras pessoas e de conhecer rapidamente algumas histórias através dos retalhos de tecidos, de diferentes formas, de sonhos, texturas, carregados de desejos, emoções, conquistas, realizações, sofrimento, angústia, raiva e carinho." Esse movimento entre passado e presente, pode ser pensado como uma reelaboração de retalhos que darão forma a uma colcha que será tecida ao longo da vida com texturas e cores diversas que vão sendo costuradas e formando um todo com significados. “Para formação de professores e pesquisadores o saber pensar, refletir e analisar sobre sua própria prática é fundamental e através desse trabalho vão tecendo cada vez mais seus conhecimentos”.
Conhecimento 3.3 Metamorfose
Autoria
178
ANEXO B - A percepção das alunas do 4º. Semestre sobre a feitura da colcha de retalhos
formação de professores e pesquisadores o saber pensar, refletir e analisar sobre sua própria prática é fundamental e através desse trabalho vão tecendo cada vez mais seus conhecimentos.
179
ANEXO B - A percepção das alunas do 4º. Semestre sobre a feitura da colcha de retalhos
Narrador 16
Borboleta Alerta
Tive a oportunidade de testemunhar a costura da colcha de retalhos percebi que houve comoção na hora que cada colega foi falando sobre suas escolhas simbólicas retratadas nos retalhos houve muita curiosidade por parte de nós do quarto semestre em cada pedacinho uma história surpreendente cada pedaço era de um pouco de cada colega particularmente gostei muito dessa aula para mim foi a melhor depois as entrevistamos e foi uma parte interessante também por que através das respostas de cada uma vi que para elas foi uma experiência boa importante pelo fato do resgate de situações importantes de suas vivências. Mas teve um momento muito chato em minha opinião, muitas meninas não colaboraram na costura deixando a responsabilidade para algumas como se elas não tivessem nada a ver com o trabalho foi uma falta de respeito.
"percebi que houve comoção na hora que cada colega foi falando sobre suas escolhas simbólicas retratadas nos retalhos houve muita curiosidade por parte de nós do quarto semestre em cada pedacinho uma história surpreendente cada pedaço era de um pouco de cada colega” “através das respostas de cada uma vi que para elas foi uma experiência boa importante pelo fato do resgate de situações importantes de suas vivências.” “muitas não colaboraram na costura deixando a responsabilidade para algumas como se elas não tivessem nada a ver com o trabalho foi uma falta de respeito”.
Emoção 3.2 Casulo Autoria
180
ANEXO B - A percepção das alunas do 4º. Semestre sobre a feitura da colcha de retalhos
Narrador 17
Borboleta do Sul
Na aula a professora deu continuidade ao trabalho da colcha de retalho, iniciado no semestre passado com alunas do 5º e 6º semestre. Foi proposto que nós, alunas do 4º semestre observássemos a metodologia e a gestão escolhida para a costura. Particularmente eu lamento por ter participado apenas desse momento do projeto. Tenho certeza que o autoconhecimento e o respeito ao outro aumentam muito após essa descoberta. Os retalhos retratam as histórias individuais e me faz ter certeza de quão importante é conhecer o nosso aluno, valorizar a sua história. Senti que faltou uma base, para nós do 4º semestre, interpretarmos corretamente essa proposta. Teria dito mais valor e encanto se soubéssemos de onde surgiu esse insight para trabalhar assim, sua história e outras coisas que as meninas dos outros semestres comentaram vagamente conosco. Foi um encontro agradável, me fez refletir que cada um tem orgulho ou medo de sua própria história, mas que na exposição, se sentiram aliviadas. Para mim, não há problemas em contar a minha história, até gosto muito de repetir minhas histórias
"Tenho certeza que o autoconhecimento e o respeito ao outro aumentam muito após essa descoberta.” Os retalhos retratam as histórias individuais e me faz ter certeza de quão importante é conhecer o nosso aluno, valorizar a sua história. "Foi um encontro agradável, me fez refletir que cada um tem orgulho ou medo de sua própria história, mas que na exposição, se sentiram aliviadas." “Me autoconheço e auto avalio. " Conhecer a história da Educação e da Pedagogia, assim como a história individual, ou de um determinado público é muito importante para a atuação em na educação, pois essa não é algo estático e imutável. "Transformações ocorreram e ocorrem a cada dia, a cada aula, sendo assim, as metodologias também deveram ser alteradas."
Autoconhecimento, Formação e Transformação.
3.4 Olhar Autoria
181
ANEXO B - A percepção das alunas do 4º. Semestre sobre a feitura da colcha de retalhos
para quem se interessar, mas a cada nova vez que eu a conto, compreendo um pouco melhor tudo que eu passei, e venho passando. Me autoconheço e auto avalio. Conhecer a história da Educação e da Pedagogia, assim como a história individual, ou de um determinado público é muito importante para a atuação em na educação, pois essa não é algo estático e imutável. Transformações ocorreram e ocorrem a cada dia, a cada aula, sendo assim, as metodologias também devem ser alteradas. Conhecendo as necessidades do grupo de professores, gestão, alunos e comunidade, podemos guiar a nossa prática para que se torne significante e prazerosa. Assim temos mais chances de alcançarmos os objetivos estipulados.
"Conhecendo as necessidades do grupo de professores, gestão, alunos e comunidade, podemos guiar a nossa prática para que se torne significante e prazerosa.”.
182
ANEXO B - A percepção das alunas do 4º. Semestre sobre a feitura da colcha de retalhos
Narrador 18
Borboleta do Norte
O retalho é apenas uma parte de nossa história de vida, por isso não posso julgar o próximo apenas com o que ele compartilha de sua vida, outra aluna disse que este fato empírico marcou a vida de lá porque ela teve que ter o cuidado ao selecionar os fatos para não expor coisas particulares, transformar a narrativa escrita em uma imagem no tecido me fez chorar muito, me trouxe a lembrança de muitas coisas e me fez avaliar a si mesma. Narrar a história para outras pessoas ouvirem foi importante para elas construir respeito ao próximo a não julgar pela aparência, aprender com o erro dos outros. Para a formação no curso de pedagogia este trabalho foi importante porque ensinou a elas respeitar as diferenças, a enxergar o aluno e respeitar sua história de vida e com isso buscar maneiras de trabalhar com eles.
O retalho é apenas uma parte de nossa história de vida, por isso não posso julgar o próximo apenas com o que ele compartilha de sua vida “ " transformar a narrativa escrita em uma imagem no tecido me fez chorar muito, me trouxe a lembrança de muitas coisas e me fez avaliar a si mesma. " " Narrar a história para outras pessoas ouvirem foi importante para elas construir respeito ao próximo a não julgar pela aparência, aprender com o erro dos outros." (...) respeitar as diferenças, a enxergar o aluno e respeitar sua história de vida e com isso buscar maneiras de trabalhar com eles."
Transformação e Formação.
3.4 Olhar Autoria
183
ANEXO B - A percepção das alunas do 4º. Semestre sobre a feitura da colcha de retalhos
Narrador 19
Borboleta do Leste
Este registro é referente à costura do 5º semestre. Neste dia de entrosamento as alunas foram as protagonistas de cada pedaço de retalho que junto formaram a colcha de retalho. Esses pequenos pedaços de panos diversificados (bordados, pintados, expressos, fotografados) entre outros, eram representações de vidas de cada aluna, que tentavam retratar e passar seus sentimentos de perda, saudades, vitórias, conquistas e suas lembranças e até suas esperanças em forma de um desenho, foto, imagem, pintura e cores diversas. A colcha está ficando bonita e colorida, têm cores fortes e opacas, por todas as partes da colcha, sendo que o tamanho do retalho é diversificado e colocado onde combinasse melhor. As aulas do 4º semestre ficaram como receptoras e observadoras, ouvindo nossas mensagens que eram transmitidas como, histórias resumidas, frases ou palavras que ali estava expressa em nossas emoções, lembranças naqueles pequenos pedaços de panos.
"Esses pequenos pedaços de panos diversificados (bordados, pintados, expressos, fotografados) entre outros, eram representações de vidas de cada aluna, que tentavam retratar e passar seus sentimentos de perda, saudades, vitórias, conquistas e suas lembranças e até suas esperanças em forma de um desenho, foto, imagem, pintura e cores diversas.” “As aulas do 4º semestre ficaram como receptoras e observadoras, ouvindo as mensagens que eram transmitidas como, histórias resumidas, frases ou palavras que ali estava expressa em nossas emoções, lembranças naqueles pequenos pedaços de panos”.
Representação 3.4 Olhar Autoria
184
ANEXO C - A percepção das alunas do 5º. Semestre sobre a feitura da colcha de retalhos
Narrador Sujeito Narração Paráfrase Palavras-chave Eixo Categorias
Narrador 1
Borboleta Maria
Nós costuramos a colcha de retalhos que tínhamos iniciado no semestre anterior e voltamos ao nosso momento charneira, mais uma vez o encanto nos toma e aflora os nossos sentimentos. A turma ficou em círculo e as alunas foram espalhando os delicados retalhos no chão, o entusiasmo tomava conta do ambiente. Nós do 5o. Semestre já nos organizávamos para começar a costura, inclusive a professora. Embasadas em uma teoria de Gramsci de autogestão e auto-organização que defende a capacidade do ser humano se autogovernar. Fiquei frustrada, pois pude perceber que uma parte das alunas do 5o. Semestre não estavam nem ligando para a costura, pode até ser impressão minha, mas percebi que tomavam o café de confraternização, enquanto estávamos envolvidas realizando a costura. Achei uma falta de ética com a professora e a sua própria formação. Refleti que a historia de vida é muito importante para a nossa formação, principalmente para a formação de indivíduos sociais, sendo por ela o desenvolvimento de uma identidade pedagógica. Que tipo de professor quero ser? Que a nossa prática em
"o encanto nos toma e aflora os nossos sentimentos." "o entusiasmo tomava conta do ambiente." "Embasadas em uma teoria de Gramsci de autogestão e auto-organização que defende a capacidade do ser humano se autogovernar.” “Refleti que a historia de vida é muito importante para a nossa formação, principalmente para a formação de indivíduos sociais, sendo por ela o desenvolvimento de uma identidade pedagógica. Que tipo de professor quero ser? Que a nossa prática em sala de aula precisa ser diferenciada para preparar sujeitos participativos ativos, autônomos e críticos capazes de intervir e modificar a sociedade.”.
Formação 3.3 Metamorfose
Autoria
185
ANEXO C - A percepção das alunas do 5º. Semestre sobre a feitura da colcha de retalhos
sala de aula precisa ser diferenciada para preparar sujeitos participativos ativos, autônomos e críticos capazes de intervir e modificar a sociedade.
Narrador 2
Borboleta Pororo azul
A confraternização da colcha de retalhos foi linda. Saber que cada pedacinho daquela colcha guarda uma história, vivenciada por cada um de nós. Histórias que por alguma razão marcaram nossas vidas. Histórias tristes, alegres, algumas emocionantes e outras mirabolantes que envolvem objetivos e metas, que em algumas delas ficam a experiência de cometer os mesmos erros ou de alcançar os objetivos desejados. Histórias que valem a pena ser lembradas, pois de alguma forma atribuíram para o nosso crescimento pessoal. Por isso, estou aqui no 5o. Semestre de pedagogia para iniciar outra bela história na área da educação. Histórias que sempre vão estar registradas na nossa colcha de retalhos.
“cada pedacinho daquela colcha guarda uma história, vivenciada por cada um de nós. " "Histórias tristes, alegres, algumas emocionantes” “Histórias que valem a pena ser lembradas, pois de alguma forma atribuíram para o nosso crescimento pessoal.”.
Sentimentos 3.2 Casulo Autoria
186
ANEXO C - A percepção das alunas do 5º. Semestre sobre a feitura da colcha de retalhos
Narrador 3
Borboleta Estaleira
Nesta aula foi realizada a costura da colcha de retalho depois das apresentações de cada aluna do seu tecido, explicando a escolha da figura e o que representou para ela realizar este trabalho. O trabalho que as alunas realizaram chamou-me atenção, conhecer suas experiências de vida, porque me ensinou a respeitar as diferenças, a ter um olhar pelo próximo de compaixão e amor, reconhecer que todos possuem limitações, dificuldades e que passam por diversidades que são superadas quando há solidariedade para com outrem.
"chamou-me atenção, conhecer suas experiências de vida, porque me ensinou a respeitar as diferenças, a ter um olhar pelo próximo de compaixão e amor, reconhecer que todos possuem limitações, dificuldades e que passam por diversidades que são superadas quando há solidariedade para com outrem."
Respeito 3.4 Olhar Autoria
Narrador 4
Borboleta Tigre
Deixo anotadas três palavras marcantes na aula da reunião da colcha de retalhos: Colaboração, criatividade e histórias.
Colaboração, criatividade e histórias.
Palavras 3.2 Casulo Submissão
Narrador 5
Borboleta da Couve
A organização do nosso café e na costura da colcha de retalhos foi ótima. A trilha sonora, perfeita, a professora preparou tudo com muito cuidado e atenção. As colegas dos outros semestres tiveram um contato com o término da colcha, o que eles no futuro irão construir também. Compartilhar novamente a nossa história se alimentando e a trilha sonora fez toda a diferença. O fechamento com as fotos e as filmagens foi a cereja do bolo, e as frases da colega "Cássia", sem
"Compartilhar a nossa história se alimentando e a trilha sonora fez toda a diferença.”
Compartilhar 3.2 Casulo Submissão
187
ANEXO C - A percepção das alunas do 5º. Semestre sobre a feitura da colcha de retalhos
comentários: lindas e inspiradoras.
Narrador 6
Borboleta Andorinha
A aula anterior foi muito especial, devido ao nosso trabalho da Colcha de Retalhos que teve inicio no semestre passado e foi dada a continuidade nesse semestre. Foi um momento rico de grandes emoções, pois relembramos a nossos momentos charneiras. Ao contemplar aquela imagem no chão pude perceber a importância e o valor de cada símbolo representa para cada uma de nos alunas. A aula foi ótima do princípio ao fim principalmente quando a Colega de classe por nome Cássia fez a leitura de sua carta para todos os ouvintes, aquilo me serviu como motivação, pois naquele mesmo instante tive a convicção que essa foi uma das minhas melhores escolhas ter optado a ser pedagoga. O trabalho em conjunto na costura dos retalhos, o momento em que foi entrevistada pelas meninas do quarto ano, enfim esse dia ficará para sempre em minha memória e pretendo futuramente aplicar essa mesma atividade para meus alunos, pois é perfeita.
"Foi um momento rico de grandes emoções, pois relembramos a nossos momentos charneiras.” " Ao contemplar aquela imagem no chão pude perceber a importância e o valor de cada símbolo representa para cada uma de nos alunas." “tive a convicção que essa foi uma das minhas melhores escolhas ter optado a ser pedagoga.”
Emoção Símbolo
3.2 Casulo Autoria
188
ANEXO C - A percepção das alunas do 5º. Semestre sobre a feitura da colcha de retalhos
Narrador 7
Borboleta Adelpha
Após a narrativa e a confecção do retalho, finalmente pudemos nos organizar para finalizar a colcha. Foi um trabalho bastante interessante, pois pudemos colocar em prática parte do aprendizado. Ao nos reunirmos para definir como seriam dispostos os retalhos, houve um entrosamento entre as alunas apesar de não concordar com algumas colocações que foram feitas e imposições, tudo transcorreu melhor forma possível. Desta forma, observei que muitas vezes devemos abrir mão da nossa opinião e a vontade para que possamos atender a necessidade do outro. Todas as alunas colaboraram para que o trabalho em conjunto desse certo. Assim será a nossa vida como educadoras, pois para que possamos colocar em prática as nossas vidas precisamos da colaboração e participação de todos que estão empenhados no mesmo ideal e não somente ficar olhando de fora e criticando como as coisas são feitas, pois quando trabalhamos em grupo geramos aprendizado e aprendemos também
"colocar em prática parte do aprendizado." " houve um entrosamento entre as alunas apesar de não concordar com algumas colocações que foram feitas e imposições, tudo transcorreu melhor forma possível." " Desta forma, observei que muitas vezes devemos abrir mão da nossa opinião e a vontade para que possamos atender a necessidade do outro. "Colocar em prática as nossas vidas precisamos da colaboração e participação de todos que estão empenhados no mesmo ideal"
Outro 3.4 Olhar Autoria
189
ANEXO C - A percepção das alunas do 5º. Semestre sobre a feitura da colcha de retalhos
Narrador 8
Borboleta Vanille
Costuramos a Colcha de Retalhos retomando algumas histórias para que as meninas do 5o. Semestre pudessem fazer os registros de aula. Também participamos de uma entrevista com elas, onde relembramos a importância de contarmos as nossas histórias de vida e o que elas influenciaram na nossa escolha profissional e a nossa ação pedagógica. Enquanto costurávamos a colcha pensei que de alguma forma as nossas histórias de vida estão ligadas, seja pela escolha profissional seja por algum fato na vida particular, pois a vida é algo imprevisível e sempre nos surpreende. Muitas vezes convivendo com as colegas diariamente possuímos uma imagem formada delas, porém quando conhecemos um pouco de sua história passamos a enxergá-las de maneira diferente. Esta aula foi importante para refletir nestas coisas e com isso ajudou a tornar o meu olhar sensível em relação ao outro, assim podendo compreender melhor o rendimento dos meus alunos, a partir do que acontece em todas as áreas de sua vida, interferem diretamente e indiretamente na sua vida escolar.
“as nossas histórias de vida estão ligadas, seja pela escolha profissional seja por algum fato na vida particular, pois a vida é algo imprevisível e sempre nos surpreende.” Muitas vezes convivendo com as colegas diariamente possuímos uma imagem formada delas, porém quando conhecemos um pouco de sua história passamos a enxergá-las de maneira diferente. " " “refletir nestas coisas e com isso ajudou a tornar o meu olhar sensível em relação ao outro”,
Outro Olhar
3.4 Olhar Autoria
190
ANEXO C - A percepção das alunas do 5º. Semestre sobre a feitura da colcha de retalhos
Narrador 9
Borboleta Amathea
A Colcha de retalhos foi um momento importante para todas, porque cada uma costurou um pedaço de sua história, foi bom compartilhar as histórias, pois muitos seres humanos julgam os outros, mas ninguém sabe o que cada um passa qual a dificuldade que cada um passa problemas? Todo tem, mas um diferente dos outros. A costura foi muito bem organizada, apesar de que eu não sabia costurar direito, mas o que vale é a intenção, trabalhar em conjunto e ser um momento nosso. No dia da apresentação dos retalhos não pude participar, mas tenho certeza que foi um dia de lição de vida, muitas experiências compartilhadas, alegrias e até mesmo tristezas.
"importante para todas, porque cada uma costurou um pedaço de sua história, foi bom compartilhar as histórias” muitos seres humanos julgam os outros, mas ninguém sabe o que cada um passa qual a dificuldade que cada um passa problemas? Todo tem, mas um diferente dos outros. " um dia de lição de vida, muitas experiências compartilhadas, alegrias e até mesmo tristezas."
Outro 3.4 Olhar Autoria
191
ANEXO C - A percepção das alunas do 5º. Semestre sobre a feitura da colcha de retalhos
Narrador 10
Borboleta Menipe
O momento da costura foi um momento em que nossas histórias se entrelaçaram, por mais que já estivéssemos há quase três anos juntas, tivemos poucas situações em que pudéssemos saber um pouco da vida de nossas colegas, coisas, situações que viveram e que as marcaram e modificou, no momento da costura houve uma união, uma cooperação entre nós, a cada passada de agulha, nossos retalhos iam se tornando uma coisa só, foi um momento de escolha, de dividir tarefas, funções, de ter sensibilidade, de autogovernada. Refletindo sobre esse momento, fica claro o aprendizado em relação ao respeito para com outro, pois todas ali tínhamos o mesmo objetivo que era a costura da colcha, então a colaboração era imprescindível para a condução do nosso trabalho, já que o fazer e o pensar andam juntos, foi preciso que nós pensássemos juntas como guiaríamos nosso percurso para que o fazer se concretizasse.
"tivemos poucas situações em que pudéssemos saber um pouco da vida de nossas colegas, coisas, situações que viveram e que as marcaram e modificou, no momento da costura houve uma união, uma cooperação entre nós, a cada passada de agulha, nossos retalhos iam se tornando uma coisa só, foi um momento de escolha, de dividir tarefas, funções, de ter sensibilidade, de autogovernada.” " o aprendizado em relação ao respeito para com outro, pois todas ali tínhamos o mesmo objetivo”.
Outro 3.4 Olhar Autoria
Narrador 11
Borboleta Biblis
Fazendo-se uma analogia com a construção do conhecimento do senso comum, eu diria que a colcha de retalhos "traduz em um saber ordinário", cujas partes costuradas manualmente, juntando cada parte da
Fazendo-se uma analogia com a construção do conhecimento do senso comum, eu diria que a colcha de retalhos
Consciência 3.4 Olhar Autoria
192
ANEXO C - A percepção das alunas do 5º. Semestre sobre a feitura da colcha de retalhos
história de vida de cada uma ali presente, colocando paciência, resignação, revolta, dor, compreensão, fé, carinho, raiva, acima de tudo, com arte. Para mim o resulta desta costura é extremamente significativo, pois é repleta de vitalidade, já que brotou de uma relação direta do ser humano com o mundo e com os seus pares. Segundo o olhar de Gramsci para a Colcha de Retalhos, como ele vê, não é muito generoso, posto que ele coloque em oposição e subjacente a outra possibilidade de conhecimento, denotando, assim uma hierarquização dos saberes, quando lança o seguinte problema: É preferível "pensar" sem disto ter consciência crítica, isto é, participar de uma concepção de mundo imposta, mecanicamente pelo ambiente exterior, ou seja, por um dos vários grupos sociais, nos quais todos estão automaticamente envolvidos desde sua entrada no mundo consciente (...). Com relação ao meu processo de desenvolvimento intelectual, afirmo e assumo não ter feito os registros diários, pois por simplesmente, que durante as aulas não tive compreensão do que estava sendo ensinado, e só então, após algumas aulas percebi que tínhamos aprendido uma dialética diferente, com práticas de um conceito
"traduz em um saber ordinário", cujas partes costuradas manualmente, juntando cada parte da história de vida de cada uma ali presente, colocando paciência, resignação, revolta, dor, compreensão, fé, carinho, raiva, acima de tudo, com arte. Para mim o resulta desta costura é extremamente significativo, pois é repleta de vitalidade, já que brotou de uma relação direta do ser humano com o mundo e com os seus pares. “É preferível "pensar" sem disto ter consciência crítica, isto é, participar de uma concepção de mundo imposta, mecanicamente pelo ambiente exterior, ou seja, por um dos vários grupos sociais, nos quais todos estão automaticamente envolvidos desde sua
193
ANEXO C - A percepção das alunas do 5º. Semestre sobre a feitura da colcha de retalhos
importante dentro da perspectiva crítica dos elementos pedagógicos.
entrada no mundo consciente (...). Com relação ao meu processo de desenvolvimento intelectual, afirmo e assumo não ter feito os registros diários, pois por simplesmente, que durante as aulas não tive compreensão do que estava sendo ensinado, e só então, após algumas aulas percebi que tínhamos aprendido uma dialética diferente, com práticas de um conceito importante dentro da perspectiva crítica dos elementos pedagógicos.
Narrador 12
Borboleta Anamathea
Fizemos um café comemorativo, juntamos todos os retalhos em formato de colcha, para alinhavarmos e posteriormente a costureira colocá-los na colcha. Foi muito legal, ver pedacinhos da vida sendo costurado. A turma do 4o. Semestre não participou da construção e elaboração da colcha, apenas no momento da costura. Sendo assim, elas acabaram pedindo para algumas pessoas relatarem sobre aquelas imagens que acharam mais
"Pudemos trazer experiências, e até compartilhar momentos da época da elaboração da colcha.” Nós falamos aquilo que julgamos necessárias as pessoas saberem.
Experiências 3.3 Casulo Autoria
194
ANEXO C - A percepção das alunas do 5º. Semestre sobre a feitura da colcha de retalhos
interessantes. Participamos de uma entrevista com as alunas do 4o. Semestre. Elas fizeram perguntas tipo: o que significou voltar ao tempo para colocar algo da nossa vida no retalho? Que relação pode ser feito do que foi ensinado na faculdade com o que tiveram como alunas nos ensinos anteriores? Entre outras. Pudemos trazer experiências, e até compartilhar momentos da época da elaboração da colcha. Colocamos em prática o pouco que lemos de Gramsci sobre a autogestão. Nós falamos aquilo que julgamos necessárias as pessoas saberem. Nós colocamos a imagem que julgamos pertinentes à história, ou seja, nos coordenamos o rumo da nossa história na construção da colcha.
195
ANEXO C - A percepção das alunas do 5º. Semestre sobre a feitura da colcha de retalhos
Narrador 13
Borbole
ta
Satyri
Demos continuidade à colcha de retalhos, onde se teve início no semestre passado, e que neste semestre continuaríamos a partir de cada retalho a costura da nossa colcha onde se traz em cada retalho uma história de vida, uma história de superação e de muitas outras emoções envolvidas. Com isso, podemos partilhar o trabalho como ele foi produzido e a partir do que foi elaborado, para mostrarmos para que não tivesse realizado que foi o 4o. Semestre. Mais com a entrevista elas entenderam a partir de como foi e é elaborado esse trabalho tão dedicado, e que tanto tem haver com a matéria aplicada, onde traz passado e o que se foi desenvolvido durante o tempo de escola até os dias de hoje. A aula é aplicada nos da o sentido ao que se foi e é expresso na colcha, que nos dá e mostra qual a importância da material para o desenvolvimento do retalho.
“cada retalho a costura da nossa colcha onde se traz em cada retalho uma história de vida, uma história de superação e de muitas outras emoções envolvidas." da o sentido ao que se foi e é expresso na colcha”
Emoções 3.2 Casulo Autoria
196
ANEXO C - A percepção das alunas do 5º. Semestre sobre a feitura da colcha de retalhos
Narrador 14
Borboleta Rosa de Luto
Na última aula pudemos relembrar de toda nossa jornada para construir nosso retalho, pensar novamente no nosso momento charneira e o que nos motiva na vida. Sincronizar nossas histórias e todas juntas trabalharmos para concretizar algo que nos uniria indiretamente para toda existência da colcha. Ver as lágrimas nos olhos de quem conseguia ganhar a luta ou entrar em uma. "Vencer a si próprio é o maior das vitórias" - Platão. A colcha de retalhos me fez pensar no meu motivo de viver, motivo que faz levantar da cama todos os dias. E assim quero conseguir fazer meus futuros alunos pensarem o porquê de estar ali e porque continuar. Por fim todas aceitaram as diferenças das outras e demos ênfase na relevância que essa diversidade de sentimentos e valores que tem no processo de elaboração do trabalho como um todo. Cada uma a seu modo, contribuiu com a melhor de si para o trabalho.
"relembrar de toda nossa jornada para construir nosso retalho, pensar novamente no nosso momento charneira e o que nos motiva na vida.” “Ver as lágrimas nos olhos de quem conseguia ganhar a luta ou entrar em uma. A colcha de retalhos me fez pensar no meu motivo de viver, motivo que faz levantar da cama todos os dias. E assim quero conseguir fazer meus futuros alunos pensarem o porquê de estar ali e porque continuar.
Autoconhecimento 3.2 Casulo Autoria
197
ANEXO C - A percepção das alunas do 5º. Semestre sobre a feitura da colcha de retalhos
Narrador 15
Borboleta Thoas
A costura da colcha de retalhos foi muito gratificante e emocionante ver algumas colegas relembrando suas histórias. Ver como cada colega tem sua marca de vida que cada história é um fortalecimento para seguir em frente. Voltar a esse momento é saber "lembranças felizes ou tristes: assim é a vida". São momentos marcantes que fazem parte de cada história, como uma recordação de detalhes onde cada pessoa volta ao passado e reencontra momentos que marcaram uma vida inteira. Cada momento da costura foi um registro novo, não como "artigo", mas sim de tempos atuais deixaram grandes saudades de um tempo que se passou tão rápido aos resgatar cada detalhe que parecia não relembrar tão cedo. Esses poemas abaixo definem esse momento tão especial da costura "O tempo pode apagar lembranças de um rosto, um corpo, mas jamais apagará lembranças de pessoas que souberam fazer de pequenos instantes grandes momentos" Paulo Coelho. “Lembrança é quando, mesmo sem autorização, o seu pensamento reapresenta um capítulo". Adriana Falcão.
A costura da colcha de retalhos foi muito gratificante e emocionante ver algumas colegas relembrando suas histórias. Voltar a esse momento é saber "lembranças felizes ou tristes: assim é a vida". São momentos marcantes que fazem parte de cada história, como uma recordação de detalhes onde cada pessoa volta ao passado e reencontra momentos que marcaram uma vida inteira. “ A costura é fundamental para matéria da História da Educação, pois o mesmo é uma pequena construção de grandes princípios para uma nova história da educação se adquirir e transmitir a quem quer ouvir e participar nessa formação.
Lembranças 3.2 Casulo Autoria
198
ANEXO C - A percepção das alunas do 5º. Semestre sobre a feitura da colcha de retalhos
“Todo o dia é uma ocasião especial”. "Guarde apenas o que tem ser guardado: lembranças, sorrisos, poemas, cheiros, saudades, momentos” Martha Medeiros. Esse momento da costura é fundamental para matéria da História da Educação, pois o mesmo é uma pequena construção de grandes princípios para uma nova história da educação se adquirir e transmitir a quem quer ouvir e participar nessa formação.
199
ANEXO C - A percepção das alunas do 5º. Semestre sobre a feitura da colcha de retalhos
Narrador 16
Borboleta Beija-Flor
Na aula passada começamos a aula descontraída e animadas por causa do dia que tanto esperávamos costura da colcha de retalhos, foi emocionante o que os desenhos nas estampas, nos representa, voltamos a chorar, dar risadas, ver cada um de nós costurando o retalho e recordando os momentos vividos que marcaram nossas vidas. Foi legal! O café da manhã também foi divertido todas colaboraram de alguma forma, dessa maneira compartilhamos nossas emoções, nosso aprendizado, através da entrevista com as alunas do 4o. Semestre. Elas puderam presenciar o quão importante foi, ou seja, reunidas expressamos os nossos sentimentos, comentamos sobre o filme e o bom de estarmos juntas em um só propósito.
(...) foi emocionante o que os desenhos nas estampas, nos representa, voltamos a chorar, dar risadas, ver cada um de nós costurando o retalho e recordando os momentos vividos que marcaram nossas vidas. (...) compartilhamos nossas emoções, nosso aprendizado, através da entrevista com as alunas do 4o. semestre.
Experiência 3.2 Casulo Autoria
200
ANEXO C - A percepção das alunas do 5º. Semestre sobre a feitura da colcha de retalhos
Narrador 17
Borboleta Seda
Esse projeto da Colcha de Retalhos foi de suma importância para que eu me reencontrasse, fazendo que revivesse histórias que nem sabia que já havia vivido muito menos o impacto que causou. Foram tantas dificuldades, obstáculos e também vitórias conquistadas ao longo da minha caminhada. Como foi grandioso, relembrar minha fase escolar pude compreender que tipo de criança fui e o reflexo que carreguei para a vida adulta. No início do desenvolvimento da minha narrativa, pude entender como afetou minha vida pessoal e profissional alguns desses impactos foi à timidez e uma escolaridade de péssima qualidade. Quanto mais escrevia mais difícil ficava para escolher o momento charneira, como saber qual foi esse momento diante de tantos já vividos, foi nesse momento que veio a decisão por relatar fases que deixaram cicatrizes e durante muitos anos não abri sobre ele a ninguém. Com esse trabalho percebi que estou no caminho certo, que os meus momentos charneiras, fizeram comigo o desabrochar, entender é preciso vencer seus medo, timidez, angústias e sempre que em conflito se permite uma
Esse projeto da Colcha de Retalhos foi de suma importância para que eu me reencontrasse, fazendo que revivesse histórias que nem sabia que já havia vivido muito menos o impacto que causou. (...) pude entender como afetou minha vida pessoal e profissional alguns desses impactos foi à timidez e uma escolaridade de péssima qualidade. (...) estou no caminho certo, que os meus momentos charneiras, fizeram comigo o desabrochar, entender é preciso vencer seus medo, timidez, angústias e sempre que em conflito se permite uma autoavaliação. (...) muitos se mostraram proativo colaborando para que uma harmonia entre as imagens fossem encontrada, (...) é nítida a importância do
Autoconhecimento
3.3 Metamorfose
Autoria
201
ANEXO C - A percepção das alunas do 5º. Semestre sobre a feitura da colcha de retalhos
autoavaliação. Nesse momento da costura da colcha, vivemos uma experiência fantástica que carregaremos conosco, foi um privilégio reviver nossas histórias de uma forma singela e agradável fazendo com que o respeito e o relacionamento interpessoal das colegas fossem renovados. A maneira que foi conduzida a costura teve a contribuição de todos e muitos se mostraram proativo colaborando para que uma harmonia entre as imagens fossem encontrada, cada detalhe foi discutido e fundamentado até que todos estivessem de acordo. Entrelaçando como a disciplina é nítida a importância do passado, para que as transformações aconteçam com o individuo. Muitas vezes revivendo o passado, temos a possibilidade de mudar ou fazer algo que não fez naquele período seja porque não quis ou por falta de conhecimento, a mudança é complicada, mas é possível.
passado, para que as transformações aconteçam com o individuo. (...) a mudança é complicada, mas é possível.
202
ANEXO C - A percepção das alunas do 5º. Semestre sobre a feitura da colcha de retalhos
Narrador 18
Borboleta Estrela
Foi realizada uma confraternização, onde escrevemos na lousa mensagens de motivação, e trajetória, pois era isso que esse momento nos remetia de maneira sútil. Tivemos um café da manhã para começarmos unidades e sem interrupções já era o dia da tão esperada costura da colcha de retalhos. Iniciamos decidindo como ficariam os nossos retalhos, decidindo posicionamento por tamanho. Depois que os retalhos estavam colocados e prontos para a costura, relatamos para as colegas do quarto semestre nossas histórias ou os momentos que nos influenciariam para a elaboração do nosso retalho, que nada mais eram do que momentos que marcaram nossas vidas como filhos, conquista de autonomia, independência (libertação de uma situação de aprisionamento), dor, perdas marcantes ou momentos de transformação. Finalizamos após os relatos costurando uma atividade onde se faz necessário a colaboração do outro. Quando estamos ligando nossas histórias percebemos que nos sentimos aliviadas, pois acabamos de contar e dividir nossas experiências (boas ou ruins) onde muitas disseram se sentir aliviadas pelo relato. Costurando um ponto sim um
(...) relatamos para as colegas do quarto semestre nossas histórias ou os momentos que nos influenciariam para a elaboração do nosso retalho, (...) conquista de autonomia, independência (libertação de uma situação de aprisionamento), dor, perdas marcantes ou momentos de transformação. (...) se faz necessário a colaboração do outro. (...) nos sentimos aliviadas, pois acabamos de contar e dividir nossas experiências (boas ou ruins)
Transformação 3.4 Olhar Autoria
203
ANEXO C - A percepção das alunas do 5º. Semestre sobre a feitura da colcha de retalhos
não, uma história na outra como fazemos tantas vezes na nossa vida, quando contamos nossa historia para alguém e esse alguém passa, a saber, da nossa experiência e quando alguém nos conta e sabemos das experiências delas assim é a nossa colcha de retalhos ou colcha dos mistérios, pois cada desenho possui um significado que graças à socialização sabemos cada segredo que cada colega carrega e aprendemos a respeitar a partir daí o espaço de cada um pelo peso que carrega.
204
ANEXO C - A percepção das alunas do 5º. Semestre sobre a feitura da colcha de retalhos
Narrador 19
Borboleta Cristal
A colcha de retalhos foi um histórico da vida de pessoal totalmente diferente uma das outras. Foi uma experiência nova para cada pessoa. Com a colcha de retalhos cada pessoa teve a oportunidade de conhecer mais o indivíduo. Cada uma conheceu a história de vida da outra, vida pessoal, afetiva, profissional e familiar. Foi uma experiência de reconhecer o outro com suas diferenças. Teve uma socialização com diversas pessoas diferentes. Teve a troca de experiências por meio da socialização. A Colcha mostrou o trabalho em conjunto, pois cada uma ajudava a outra para chegar a um objetivo com. Trouze a reflexão de qua união de pessoas difererentes para ter um trabalho cada vez mellhor e significativo. A união que o objetivo em comum é possível acontecer, mas com argumentos e ideias pautáveis.
Com a colcha de retalhos cada pessoa teve a oportunidade de conhecer mais o indivíduo. Foi uma experiência de reconhecer o outro com suas diferenças. Teve uma socialização com diversas pessoas diferentes. Teve a troca de experiências por meio da socialização. (...) A união que o objetivo em comum é possível acontecer, mas com argumentos e ideias pautáveis.
Reconhecer Outro
3.4 Olhar Autoria
205
ANEXO C - A percepção das alunas do 5º. Semestre sobre a feitura da colcha de retalhos
Narrador 20
Borboleta Esmeralda
Essa aula foi muito legal, relembramos algumas histórias e unimos nossos retalhos. A primeira etapa que trabalhamos na colcha foi no semestre passado, foi uma aula muito importante para todos, a maioria passou para seu retalho algo de muito importante e emocionante que havia ocorrido em sua vida, outros, assim como eu optaram por algo que não envolvesse muito a família, algo mais superficial, não sei ao certo porque, talvez algum de nós ainda não se sentia tão à vontade com a exposição, ainda por vergonha e receio de falar sobre o que passou. Com a costura unimos uma história à outra, transformando aquele simples pedaço de pano em coisa especial para nós Vejo a aula e outras etapas da colcha como algo importante para a formação. Passei a enxergar o próximo de outra maneira e entender melhor as atitudes das várias pessoas
(...) a maioria passou para seu retalho algo de muito importante e emocionante que havia ocorrido em sua vida, outros, assim como eu optaram por algo que não envolvesse muito a família, algo mais superficial, não sei ao certo porque, talvez alguns de nós ainda não se sentia tão a vontade com a exposição, ainda por vergonha e receio de falar sobre o que passou.
Olhar 3.4 Olhar Autoria
206
ANEXO C - A percepção das alunas do 5º. Semestre sobre a feitura da colcha de retalhos
Narrador 21
Borboleta Rubi
O trabalho em sala da colcha trouxe uma visão sobre o outro. Aprendi a respeitar o momento de cada um, escutar suas histórias e compreender o momento vivido de cada pessoa. Trouxe vários sentimentos, emoções, choros, alegrias e sabedoria. Escutar, compreender e aprender foi o que consegui no trabalho. Histórias maravilhosas, revelações, aprendizado e conhecimento. Aprendi a conhecer o outro lado de cada pessoa da sala. Foi um momento de refletirmos sobre os sentimentos vividos, no dia da apresentação um momento de expectativa, para as alunas do 4o. Semestre que ainda não participam. Percebi muita ansiedade pelas alunas na sala. Durante a entrevista feita pelas alunas, meus olhos se encheram de lágrimas ao lembrar-se das histórias de todas. De poder fazer parte daquele momento de desabafo.
O trabalho em sala da colcha trouxe uma visão sobre o outro. Aprendi a respeitar o momento de cada um, escutar suas histórias e compreender o momento vivido de cada pessoa. Trouxe vários sentimentos, emoções, choros, alegrias e sabedoria. Escutar, compreender e aprender foi o que consegui no trabalho. Histórias maravilhosas, revelações, aprendizado e conhecimento. Aprendi a conhecer o outro lado de cada pessoa da sala. “Foi um momento de refletirmos sobre os sentimentos vividos.
Respeito 3.4 Olhar
207
ANEXO C - A percepção das alunas do 5º. Semestre sobre a feitura da colcha de retalhos
Narrador 22
Borboleta Ametista
Na aula costuramos os retalhos e tivemos a oportunidade de recordar algumas histórias e participarmos de uma pesquisa - entrevista para que as alunas do 4o. Semestre. Esse trabalho foi de extrema importância, pois consegui ver além do que foi dito, expor as nossas histórias e nossas experiências para o próximo. Sei que devemos separar a nossa vida profissional da pessoal, mas em alguns momentos será necessário trazer algumas coisas da vida pessoa ao trabalho. O mais importante que pude entender no dia de hoje, foi que nem sempre estamos preparados para recordar algo que passou na vida, mas é preciso trazer as lembranças para superar, aprender e porque não, fazer igual ou diferente. Posso entender que esse trabalho tenha uma importância para a nossa vida profissional, pois temos a oportunidade de nos conhecermos, saber um pouco das nossas fraquezas e autodefesa, mas para isso, precisamos nos conhecer como um todo e isso começa pelo nosso passado.
Esse trabalho foi de extrema importância, pois consegui ver além do que foi dito, expor as nossas histórias e nossas experiências para o próximo. Sei que devemos separar a nossa vida profissional da pessoal, mas em alguns momentos será necessário trazer algumas coisas da vida pessoa ao trabalho. (...) nem sempre estamos preparados para recordar algo que passou na vida, mas é preciso trazer as lembranças para superar, aprender e porque não, fazer igual ou diferente(...) saber um pouco das nossas fraquezas e autodefesa, mas para isso, precisamos nos conhecer como um todo e isso começa pelo nosso passado.
Recordar 3.2 Casulo Autoria
208
ANEXO C - A percepção das alunas do 5º. Semestre sobre a feitura da colcha de retalhos
Narrador 23
Borboleta Pérola
Vivenciando este trabalho percebi que devemos respeitar o próximo com sua história. Algumas pessoas tem resistência em participar do trabalho, pois tem dificuldades em expor sua vida, porque podem ouvir críticas de outras pessoas, mas a importância do trabalho trouxe um olhar para o outro, de outra forma, reflexão, amadurecimento, transformação e quebras de tabus. Nós como pedagogas passamos a enxergar a sala de aula diferente, entender a melhor a vida.
"Vivenciando este trabalho percebi que devemos respeitar o próximo com sua história. "Algumas pessoas tem resistência em participar do trabalho, pois tem dificuldades em expor sua vida, porque podem ouvir críticas de outras pessoas. " a importância do trabalho trouxe um olhar para o outro, de outra forma, reflexão, amadurecimento, transformação e quebras de tabus. "
Olhar 3.4 Olhar Autoria
Narrador 24
Borboleta Diamante
Este dia foi importante, pois me fez relembrar de todos os momentos e das histórias de vida, as meninas do 4o. Semestre fizeram perguntas sobre a elaboração e isso foi bom, pois no proporcionou a conversa e o conhecimento sobre o momento de cada uma passou na sua vida escolar e nos fez refletir sobre diversos aspectos.
“relembrar de todos os momentos” e das histórias de vida. As meninas do 4o. Semestre fizeram perguntas sobre a elaboração e no proporcionou a conversa e o conhecimento sobre o momento de cada uma passou na sua vida escolar e nos fez refletir sobre diversos aspectos.
Relembrar 3.3 Metamorfose
Autoria
209
ANEXO C - A percepção das alunas do 5º. Semestre sobre a feitura da colcha de retalhos
Narrador 25
Borboleta Princesa
Na aula de hoje fizemos uma roda de conversa, onde compartilhamos histórias de nossas vidas através da colcha de retalho, após, alguns alunos falarem, algumas costuravam e também participamos da entrevista com o 4o. Semestre. Pude perceber que algumas pessoas ainda não estão prontas para recordar histórias, porém algumas tiraram a resistência do início. Esse trabalho trouxe autoconfiança, nos mostrou que somos fortes e suficientes para passar por aquilo e nos mostrou a vitória que conquistamos, mostrou o respeito que temos que ter com o próximo, e não julgar pela aparência, aprendemos a nos conhecer realmente ao ponto de estarmos prontos para toda a ocasião que ocorrer na nossa vida ou pelos menos resolver com sabedoria.
"compartilhamos histórias de nossas vidas através da colcha de retalho” Pude perceber que algumas pessoas ainda não estão prontas para recordar histórias, porém algumas tiraram a resistência do início. Esse trabalho trouxe autoconfiança, nos mostrou que somos fortes e suficientes para passar por aquilo e nos mostrou a vitória que conquistamos, mostrou o respeito que temos que ter com o próximo, e não julgar pela aparência, aprendemos a nos conhecer realmente ao ponto de estarmos prontos para toda a ocasião que ocorrer na nossa vida ou pelos menos resolver com sabedoria.
Julgar
3.4 Olhar Autoria
210
ANEXO C - A percepção das alunas do 5º. Semestre sobre a feitura da colcha de retalhos
Narrador 26
Borboleta Grafite
Fizemos uma breve apresentação dos retalhos às alunas do 4o. Semestre. Depois deste momento relembrando as histórias, algumas foram costurá-la. Foi um trabalho lindo, pois uns pequenos desenhos demostramos tantas coisas, fazendo sentido para cada uma que ali estava. Ver a sua história fazendo parte de um trabalho tão lindo e significante. Pudéssemos costurar cada coisa que gostamos pertinho da gente. Minhas sensações foram inesperadas. Não saberia que mexeria tanto comigo. Me fez refletir que cada ser humano tem sua singularidade. Logo, após, fomos conversar com as colegas do 4o. Semestre para descrever nossas sensações no preparo da colcha.
relembrando as histórias, algumas foram costurá-la. Foi um trabalho lindo, pois uns pequenos desenhos demostramos tantas coisas, fazendo sentido para cada uma. Minhas sensações foram inesperadas. Não saberia que mexeria tanto comigo. Me fez refletir que cada ser humano tem sua singularidade.
Ser humano 3.4 Metamorfose
Autoria
Narrador 27
Borboleta Agata
Na aula nos reunirmos para costurar os retalhos que contam a história da vida de cada uma. No chão da sala de aula, uma coleção de memórias, histórias de vidas tecidas em retalhos, histórias singulares construídas no coletivo, após muitas opiniões e decisões sobre a organização dos retalhos, finalmente, pegamos linhas e agulhar para costurara cada tecido formando uma Colcha de Retalhos. A escrita autobiográfica e todo o processo de contar a minha história tecida no retalho permitiu-me um encontro comigo mesma, fez-me refletir sobre
No chão da sala de aula, uma coleção de memórias, histórias de vidas tecidas em retalhos, histórias singulares construídas no coletivo, após muitas opiniões e decisões sobre a organização dos retalhos. A escrita autobiográfica e todo o processo de contar a minha história tecida no retalho permitiu-me um
Humanidade 3.4 Olhar Autoria
211
ANEXO C - A percepção das alunas do 5º. Semestre sobre a feitura da colcha de retalhos
minha vida... talvez seja hora de reinventar-me ou inventar outras fantasias, aliás, foi você, professora, que me disse isso em um dos meus registros. Estou terminando minha graduação com uma única certeza, eu mudei, tornei-me uma pessoa melhor, vim para faculdade com o objetivo de ter uma profissão, não podia continuar dependendo financeiramente do meu marido, isto é fato, mas cheguei aqui e me encantei pela essência da pedagogia, compreendi a importância da educação para a humanidade e, principalmente, entendi o papel do professor como peça chave no processo de construção do conhecimento, sendo ele responsável pelo desenvolvimento do ser humano nos anos iniciais. Para Kant, "O Homem só pode tornar-se homem pela educação, e ele é tão somente o que a educação fez dele" (ARANHA, 2006, P.181). Diante disso, quero muito ir pra sala de aula e poder fazer o melhor, dar o melhor de mim, tem certeza que vou conseguir, quero, também, continuar a estudar.
encontro comigo mesma, fez-me refletir sobre minha vida... Talvez seja hora de reinventar-me ou inventar outras fantasias, aliás, foi você, professora, que me disse isso em um dos meus registros. Estou terminando minha graduação com uma única certeza, eu mudei, tornei-me uma pessoa melhor, vim para faculdade com o objetivo de ter uma profissão, compreendi a importância da educação para a humanidade e, principalmente, entendi o papel do professor como peça chave no processo de construção do conhecimento, sendo ele responsável pelo desenvolvimento do ser humano nos anos iniciais.
212
ANEXO C - A percepção das alunas do 5º. Semestre sobre a feitura da colcha de retalhos
Narrador 28
Borboleta Marinha
Na aula foi realizada a costura da Colcha de Retalhos, retalhos. O ato de costurar os retalhos possibilitou o exercício da autonomia, pois durante a elaboração do retalho pudemos decidir o que gostaríamos, ou não, de compartilhar com a classe, e durante a costura organizamos os mesmos de forma que todos os retalhos entrassem em sintonia para dar à colcha um aspecto especial. A costura nos faz perceber que ao longo do curso todas nós nos relacionamos, com algumas pessoas mais do que com outras, fazemos parte de um todo, com objetivos em comum, e que mesmo sem desejar provocamos mudanças na vida das pessoas, e elas também provocam mudanças em nossa vida. Ouvir a história do outro nos faz respeitá-lo e compreendê-lo melhor, pois muitas vezes julgamos as atitudes das pessoas sem procurar entender o porquê delas agirem de determinada maneira. Além disso, algumas histórias são exemplo de motivação, e nos incentivam a lutar por tudo que desejamos. Como pedagogas, cotidianamente vamos costurar a teoria com a prática, compartilhar nossas experiências com o outro, e para isso precisamos saber nos expressar e ouvir o que o outro tem a nos dizer.
O ato de costurar os retalhos possibilitou o exercício da autonomia, pois durante a elaboração do retalho pudemos decidir o que gostaríamos, ou não, de compartilhar com a classe. A costura nos faz perceber que ao longo do curso todas nós nos relacionamos, com algumas pessoas mais do que com outras, fazemos parte de um todo, com objetivos em comum, e que mesmo sem desejar provocamos mudanças na vida das pessoas, e elas também provocam mudanças em nossa vida. Ouvir a história do outro nos faz respeitá-lo e compreendê-lo melhor, pois muitas vezes julgamos as atitudes das pessoas sem procurar entender o porquê delas agirem de determinada maneira. Como pedagogas, cotidianamente vamos
Ouvir 3.4 Olhar Autoria
213
ANEXO C - A percepção das alunas do 5º. Semestre sobre a feitura da colcha de retalhos
Algumas de nós foram entrevistadas pelas alunas do 4º Semestre de Pedagogia, que ainda não realizaram este trabalho. A cada pergunta feita, voltamos nosso pensamento, para situações que se encontravam adormecidas em nossa mente, e quando relembradas trouxeram consigo as mais variadas emoções. Da mesma maneira que o pedagogo materializa, mesmo que involuntariamente, as atitudes de professores que passaram por ele ao longo de sua formação, a costura da colcha assemelha-se a formação deste profissional, pois ao longo do seu percurso, muitos episódios serão marcantes, alguns positivamente, outros negativamente, e ficarão guardados em sua lembrança. Os episódios positivos servirão como base para situações semelhantes às quais ele possa vir a enfrentar, e os negativos podem incentivá-lo a realizar uma transformação que o leve a aperfeiçoar-se, tanto pessoalmente quanto profissionalmente.
costurar a teoria com a prática, compartilhar nossas experiências com o outro, e para isso precisamos saber nos expressar e ouvir o que o outro tem a nos dizer.
214
ANEXO C - A percepção das alunas do 5º. Semestre sobre a feitura da colcha de retalhos
Narrador 29
Borboleta Citrino
No começo achei essa ideia um pouco estranha, pensei logo que seria chato, que não iria dar certo, mas com o passar dos dias fui entendendo o que seria esse trabalho, o significado dele, e logo me peguei pensando no que faria como faria... É engraçado, pois quando alguém nos mostra algo novo, algo que temos que fazer por nós mesmos logo negou, falamos que não vai dar certo ou que vai dar muito trabalho, só pelo fato de que somos nós, e só nós, que temos que fazer.
No começo achei essa ideia um pouco estranha, pensei logo que seria chato, que não iria dar certo, mas com o passar dos dias fui entendendo o que seria esse trabalho, o significado, e logo me peguei pensando no que faria como faria... É engraçado, pois quando alguém nos mostra algo novo, algo que temos que fazer por nós mesmos logo negou, falamos que não vai dar certo ou que vai dar muito trabalho, só pelo fato de que somos nós, e só nós, que temos que fazer.
Sentimento 3.2 Casulo Autoria