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Estudos Setorias de Inovação

Empresas Líderes na Indústria Brasileira

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Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial Reginaldo Braga Arcuri Presidente Maria Luisa Campos Machado Leal Diretora Clayton Campanhola Diretor Carla Naves Ferreira Gerente Rogério Dias de Araújo Coordenador

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Supervisão Maria Luisa Campos Machado Leal

Equipe Técnica Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial Carla Naves Ferreira – Gerente de Acompanhamento da PDP Rogério Dias de Araújo – Coordenador Inteligência Competitiva Carlos Henrique de Mello Silva – Técnico Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada – IPEA Fernanda De Negri João Alberto De Negri Centro de Desenvolvimento e Planejamento Regional de Minas Gerais - CEDEPLAR - UFMG Mauro Borges Lemos Ricardo Machado Ruiz

© 2009 – Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial – ABDI

Qualquer parte desta obra pode ser reproduzida, desde que citada a fonte.

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Empresas Líderes na Indústria Brasileira:

Recursos, Estratégias e Inovação

1. Introdução

É relativamente grande o consenso entre economistas de que o crescimento econômico dos

países está associado à inovação tecnológica. O consenso diminui se o assunto é como fazer

inovação tecnológica e é ainda menor quando o tema da inovação tecnológica está inserido

no debate sobre o desenvolvimento de países de industrialização tardia como o Brasil. No

centro deste debate estão as empresas líderes e sua capacidade de acumular recursos e

competências em intensidade e densidade suficientes para “puxar” ou difundir capacidades e

progresso por todo o sistema produtivo.

As economias mais ricas e avançadas tecnologicamente têm mostrado que o

desenvolvimento econômico está cada vez menos determinado por estáticas dotações de

recursos, tais como localização geográfica, recursos naturais e mão-de-obra barata. Tais

fatores formam a base de tradicionais vantagens competitivas que condicionou, em outros

tempos, a expansão de muitas nações como, por exemplo, os Estados Unidos e Canadá no

início dos seus processos de integração territorial.

As grandes empresas industriais modernas foram além dessas vantagens comparativas

estáticas e construíram uma estrutura própria e privada capaz de explorar economias de

escala e escopo em dimensões mundiais (Chandler 1990). Esses movimentos demandaram

não somente corretas estratégias empresariais, mas também eficientes sistemas financeiros,

infra-estruturas externas às firmas, eficiente rede de pequenos e médios fornecedores e

oferta de mão-de-obra qualificada. Os encadeamentos intersetoriais, o sistema financeiro e a

infra-estrutura também foram decisivos na viabilização das capacitações internas à firma

(Teece, 1993).

Atualmente, e de forma cada vez mais intensa, a construção de economias industriais

modernas depende menos dessas vantagens comparativas estáticas e mais de vantagens

comparativas construídas pela capacitação tecnológica das firmas e pelos sistemas de

inovação setoriais e nacionais (Nelson, 2004). Vale notar que sobre essas estruturas

econômicas privadas paira sempre a possibilidade da imitação, da difusão, da cópia ou

mesmo do aprimoramento tecnológico por parte de concorrentes. Assim, a corrosão de lucros

exclusivos passa a ser uma possibilidade que impõe às firmas a inovação como uma

dimensão estratégica presente. Portanto, as firmas modernas devem ter estratégias e

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estruturas voltadas à busca e seleção de vantagens tecnológicas, pois pouco restou das

antigas vantagens competitivas estáticas.

Não obstante essas interpretações teóricas e históricas que destacam as diferenças entre

firmas, grande parte dos estudos e pesquisas tem tratado os setores industriais como um

espaço produtivo e concorrencial “agregado” e pouca atenção tem sido dada às dimensões

específicas das firmas. Teoricamente, essa diversidade intra-setorial é fundamental para se

captar a estruturação de uma indústria e suas possibilidades de expansão.

Os indicadores de desempenho e de esforço tecnológico das firmas brasileiras mostrados por

De Negri e Salerno (2005) explicitam que são significativas as desigualdades produtivas e

tecnológicas no Brasil em diversas dimensões (escala, inserção externa, tecnologias de

processo e produto, qualificação da força de trabalho, investimento em P&D, cooperação

técnica, markup, etc). A diversidade produtiva e tecnológica é a uma das características

especialmente relevantes da indústria brasileira. Dentro deste contexto, é razoável supor que

uma parte da inovação tecnológica das firmas do Brasil é realizada através da compra bens

de capital, que são produzidos no Brasil ou em alguma medida importado dos países

desenvolvidos.

No entanto, dentro da diversidade, cabem as seguintes perguntas. As empresas líderes na

indústria no Brasil têm capacidade de geração endógena de tecnologia em intensidade e

densidade suficientes para “puxar” ou difundir capacidades e progresso por todo o sistema

produtivo brasileiro? Quem são estas empresas? Quantas são? Quais são suas

características? Qual sua posição em relação às líderes de outros países? Estas são as

perguntas que ordenam este artigo.

Estas perguntas são especialmente relevantes para o Brasil, pois este é um país com escala

de produção relativamente grande quando comparado com a média dos países em

desenvolvimento, e a sustentabilidade do seu crescimento no médio e longo prazo depende

da geração de conhecimento novo e da capacidade de transformar este conhecimento em

inovação tecnológica. Não é razoável supor que apenas o conhecimento importado nas

máquinas e equipamentos dos países tecnologicamente mais avançados seja suficiente para

sustentar o crescimento brasileiro.

O objetivo deste artigo é argumentar em favor da hipótese de que o Brasil tem empresas com

capacidade de geração endógena de conhecimento novo voltado para inovação tecnológica.

Para fazer isso, o trabalho identifica as empresas líderes da indústria brasileira e discute

características que ajudam a entender como essas firmas acumulam conhecimento para

realizar inovação tecnológica. A preocupação central é qualificar com indicadores o regime de

acumulação de conhecimento, no sentido de uma busca sistemática de inovação, intrínseco a

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rotina da firma. O estudo apóia-se ainda em indicadores de empresas de outros países para

comparar as empresas líderes do Brasil com a Argentina, México, França, Espanha e

Alemanha.

Seguindo esta introdução, na segunda seção são tratados aspectos teóricos e empíricos da

economia industrial que dão base a este artigo. Na terceira seção são detalhados os

procedimentos metodológicos. A quarta seção apresenta e discute os resultados. A quinta

seção conclui.

2. Recursos, Estratégias e Inovação

As assimetrias entre firmas sempre foram um tema complexo para a avaliação de estruturas

industriais, seja do ponto de vista empírico como do ponto de vista teórico. Como observa

Sutton (2001), os modelos que buscaram captar essas diversidades sempre encontraram

resultados difíceis de serem validados empiricamente, em particular quando buscavam

reproduzir as distribuições de tamanhos das firmas. Contudo, não obstante essas

dificuldades, inúmeros estudos de caso mostram a importância das capacitações

tecnológicas e organizacionais na consolidação de lideranças industriais e na geração de

assimetrias intra-setoriais.

Por exemplo, Graff (2006) destaca a expansão da empresa varejista Wal-Mart mostrando seu

posicionamento estratégico centrado na distribuição lean com liderança de preços no setor de

super-mercados norte-americano. Para dar suporte a essa estratégia foi construída uma

logística articulada a uma rede própria de supridores. Essa acumulação de competências

empresariais gerou um conjunto de ativos tácitos que dificultou a imitação por parte de

antigos concorrentes e ainda bloqueou a entrada de novos concorrentes.

Já Aoyama (2007) e Christopherson (2007) ilustram que a aderência radical a essa estrutura

empresarial foi uma das razões do relativo fracasso do Wal-Mart e também do Carrefour na

sua expansão na Alemanha e Japão. Tanto em um caso, como no outro, as características

das firmas explicam em grande medida a formatação das estruturas varejistas nesses países.

Lamberg & Tikkanen (2006) fazem um estudo similar, mas para o setor varejista finlandês e

destacam, de forma simétrica, as características das firmas como determinantes da estrutura

do mercado.

Seguindo um argumento similar, Lazonick & Prencipe (2005) mostram a persistência da

Rolls-Royce (turbinas) no desenvolvimento de uma capacitação tecnológica própria e a

importância dessa estratégia seja na quase falência da empresa no início da década de 1970,

como na sua fantástica recuperação e expansão no decorrer da década de 1990. As

peculiaridades de uma estrutura própria de P&D é também destacada por Christensen (2002)

ao discutir o desenvolvimento tecnológico em duas empresa concorrentes no mercado de

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bens de capital dinamarquês. No mesmo sentido, Flemming (2002) mostra a importância

dessas estruturas e estratégias de P&D para o caso do desenvolvimento da impressora jato

de tinta pela empresa HP.

Mudando um pouco o foco do P&D para as estrutura organizacionais, pode-se citar o estudo

de Jones & Miskell (2005) sobre as dificuldades da Unilever na construção um ativo tácito por

excelência: a organização interna da firma voltada para internacionalização e coordenação de

uma base produtiva multi-plantas e multi-produtos. Baron & Besanko (2001), de forma similar,

mostram como o Citibank mudou sua estrutura interna na primeira metade da década de

1990, um componente importante da sua então estratégia de internacionalização em um

ambiente de forte liberalização financeira.

Outro exemplo, mas no sentido oposto - um caso extremo de rigidez tecnológica

condicionada for fortes restrições financeiras - é o da indústria de pneus norte-americana no

decorrer das décadas de 1970 e 1980. Sull, Tedlow, & Rosenbloom (1997) descrevem como

a adesão a um padrão tecnológico pode levar empresas líderes, como a Firestone e

Goodyear, a situações de virtual falência e a quase desnacionalização completa da indústria

de pneus norte-americana.

Ainda no campo das dimensões específicas das firmas, pode-se citar as relações inter-

empresas. Esses arranjos institucionais são parte do sistema privado de desenvolvimento

tecnológico, resultam do compartilhamento de estruturas e equipes de P&D e de uma difusão

planejada de informações e capacitações. Sako (2004) analisa os casos da Toyota, Nissan e

Honda e os coloca como exemplos diferenciados do modo como esses arranjos são

estruturados. Além desse estudo, vale registrar ainda o trabalho de Womack, Jones & Ross

(1990) como uma clássica referência ao tema da coordenação privada do desenvolvimento

tecnológico intra e inter-firmas.

Nos setores intensivos em tecnologia, o trabalho de Campbell-Kelly (2001) mostra como

algumas empresas formularam suas estratégias a partir da construção interna de produtos

(ou pacotes de produtos) e mudaram dramaticamente a indústria. O setor em questão é o de

software, onde a liderança da Microsoft só se consolidou com uma inovação de produtos: o

lançamento um pacote de programas multi-funcional (“Office”), que mudou toda a indústria de

software. Foram excluída ou colocados em segundo plano produtores especializados e com

produtos com boa performance no mercado (ex. Lotus, Adobe e WordPerfect).

Quanto a Davids & Verboong (2006), os autores fornecem um exemplo oposto: como

capacitações tecnológicas diferenciais suportaram, em um primeiro momento um relativo

sucesso da empresa, no caso a Philips. Contudo, os encadeamentos inter-setoriais com

outras empresas (IBM) geraram uma focalização e uma certa “miopia” tecnológica e

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empresarial. Nesse caso, a Philips deixou de se posicionar como um potencial entrante no

mercado de computadores e presenciou uma rápida corrosão das antes diferenciais

capacitações tecnológicas. A entrada de novos produtores foi um exemplo mais notável

dessa fragilização tecnológica e erro estratégico.

Os estudos citados acima não têm a pretensão de serem representativos sob qualquer ponto

de vista, seja teórico ou histórico. Contudo, a variedade de casos apresentados tem um ponto

incomum: o realce das assimetrias das firmas, a importância das capacitações internas nas

estratégias e, por conseqüência, na estruturação da indústria. Em todos os casos

apresentados, os ativos considerados tácitos e non-tradable formaram a base do sucesso (e

do fracasso) das firmas. As capacitações tecnológicas, sejam elas à inovação de produto, de

processo, organizacional ou distributiva, tiveram um papel central e a decisão de investir em

P&D foi revestida de um cálculo estratégico de longo prazo.

Nos últimos anos, a literatura de economia industrial tem crescido e se diversificado. Dentre

as diferentes visões no âmbito desta área de conhecimento, têm crescido as análises sobre

as estratégias das firmas e particularmente ganhou espaço na literatura orientações teóricas

e metodológicas que ficaram conhecidas como “Visão Baseada em Recursos” (VBR). O

termo surge porque a firma é vista nesta abordagem como um conjunto de recursos. Esta

visão emerge a partir de perguntas que são formuladas pelas empresas na definição de suas

estratégias: Quais são os recursos mais relevantes que a empresa domina? É desejável

construir novas competências nas áreas de domínio tecnológico da empresa? Como ampliar

as competências da empresa?

Foss (1997) argumenta que a VBR emerge de duas generalizações empíricas: i) há

diferenças sistemáticas entre as firmas considerando como elas controlam recursos que são

necessários para implementar suas estratégias específicas; ii) estas diferenças são

relativamente estáveis. Levando em conta estas duas evidências empíricas, dois

pressupostos sustentam esta abordagem: i) diferenças na dotação de recursos entre as

firmas causam diferentes performances; ii) a firma busca aumentar, não necessariamente

maximizar, sua performance econômica. De forma geral, a VBR leva em conta a criação,

manutenção, e renovação das vantagens competitivas vinculados aos recursos que a firma

controla.

Uma das fontes pioneiras da VBR é o trabalho de Penrose (1956). Neste trabalho, a

estratégia da firma é o crescimento da corporação pelo aumento da acumulação de capital e

de seu market share. A firma combina recursos como máquinas e equipamentos,

conhecimento, tecnologia, mão-de-obra de maneira planejada e que se materializam em uma

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estrutura organizacional e produtiva específica.1

A idéia central de que as firmas são essencialmente diferentes está presente no trabalho

realizado por Nelson (1991). Neste trabalho, a visão da firma como uma “caixa-preta”, com

ficou estilizada a firma na abordagem neoclássica, é contra-restada pela idéia da economia

evolucionária de que incentivos, contratos e recursos específicos das firmas têm um papel

crucial para entender a dinâmica da produção

Os limites do crescimento da firma são

circunscritos pela disponibilidade de recursos produtivos (tangíveis e intangíveis), pelo

financiamento adequado para a aquisição e/ou desenvolvimento desses recursos e pelo

mercado onde está inserido.

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Contribuições sobre as estratégias das firmas foram dadas por diversos autores. O já

clássico trabalho de Chandler (1990) descreve como os recursos da firma são organizados

em uma estrutura administrativa. O autor argumenta que a estrutura da firma segue sua

estratégia. No caso da firma diversificada, a empresa segue uma estrutura organizacional

específica. Andrews (1971) define o conceito de estratégia e analisa com a firma reconhece

sua competência e seus recursos de forma a aproveitar as oportunidades de mercado

levando em conta o risco do negócio da firma. Richardson (1972) contribuiu com a descrição

detalhada do conceito de capacitações da firma e reforça a idéia de que a firma não é uma

ilha no mercado, pois a cooperação e parcerias entre as firmas são importantes para as

empresas adquirirem competências.

.

Barney (1986) sustenta o argumento de que há imperfeições de mercado que ocasionam

uma discrepância entre o preço dos recursos e seu valor de aquisição pela firma. A firma

deve buscar uma avaliação mais precisa possível sobre o valor futuro de suas estratégias se

ela quer ter um retorno acima do normal. Para Dierickx e Cool (1989) dado estas

imperfeições a sustentabilidade das vantagens competitivas das firmas dependem de

acumular e estocar ativos e de avaliar o custo de oportunidade de usar estes ativos no

processo de competição.

No livro de Nelson e Winter (1982) há vários exemplos de que firmas são diferentes na forma

como elas dominam seus recursos e obtêm suas vantagens competitivas. Estas e outras

contribuições que dão ênfase na heterogeneidade entre as firmas, veio para explicitar que o

acumulo intelectual no campo da economia industrial baseado nas análises da indústria era

insuficiente para entender a dinâmica da produção. Nestas análises, as firmas diferem entre

1 Teece (1980) combina as teorias de custos de transação conforme descritos em Coase (1937) e contribui com as idéias originais de Penrose (1956). Ver também Foss (1998), que ressalta a estrutura interna da firma com um ativo não-comercializável (non-tradable), mesmo quando composto por “insumos” adquiridos no mercado. 2 Sobre contratos e custos de transação ver também Williamson (1985) e Coase (1937)

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si porque há diferenças entre as indústrias nas quais as empresas operam.3

Do ponto e vista das teorias de economia industrial, as abordagens que tem como unidade

analítica a indústria e aquelas que têm como objeto de preocupação central a firma são

utilizadas em diversos temas de pesquisa como comércio exterior, multinacionalização de

empresas, rendimentos crescentes de escala, etc. Quando o assunto é inovação tecnológica,

estas abordagens metodológicas se complementam de uma forma especialmente relevante.

Possivelmente porque quando se trata de inovação tecnológica há necessidade de maior

interação entre as firmas e os regimes setoriais de acumulação de conhecimento de uma

dada indústria.

Portanto, quando

o corte analítico é a indústria, o que está sendo reforçado são as diferenças entre as

indústrias e não entre as firmas.

Assim, no âmbito de esforços de pesquisa de inovação tecnológica que procuram reforçar as

diferenças entre as firmas de um mesmo setor, deve ser levado em conta o conceito de

“regime tecnológico” conforme definido por Dosi (2000). Isso porque a inovação tecnológica

da empresa é influenciada de forma especialmente relevante pelo ambiente de conhecimento

tecnológico que a empresa está inserida. O regime tecnológico leva em conta quatro fatores:

i) as oportunidades tecnológicas, pois elas são fontes de incentivos das atividades

inovadoras; ii) o grau de cumulatividade do conhecimento tecnológico, uma vez que ele pode

reduzir o custo de inovações incrementais e, portanto, oferecer maior retorno para o pioneiro;

iii) as condições de apropriabilidade porque refletem tanto o incentivo como os resultados da

inovação; e iv) a complexidade da base de conhecimento relevante.

Os regimes tecnológicos das firmas afetam a estrutura setorial de concorrência, como o grau

de concentração, poder de monopólio, e outras variáveis estruturais.4

As particularidades das firmas se expressam em rotinas organizacionais, entendidas como

um conjunto de regularidades moldadas pela sua história, pelo seu aprendizado prévio, pela

maneira cotidiana com que lida com suas adversidades, pelo seu sistema de valores e pré-

Ou seja, existe uma

recorrência e interação entre a base de conhecimento relevante do setor, chamado pela

Penrose de “área de especialização tecnológica”, as condições gerais de apropriabilidade das

firmas do setor, as oportunidades tecnológicas e o grau de cumulatividade de cada firma. O

grau de cumulatividade define o centro da competência da firma e é entendido como aquilo

que ela faz melhor, dado seu acervo de conhecimentos tecnológicos (tangíveis e

principalmente intangíveis).

3 Uma referência relevante sobre a literatura que analisa a firma a partir da dinâmica indústria pode ser encontrada em Guimarães (1987). A obra deste autor está baseada no processo de competição analisado por Steindl (1976). Ver também sobre barreiras à entrada os artigos de Bain (1956) e Demsetz (1973). 4 Ver: Malerba & Orsenigo (1993), Dosi (1982), Nelson e Winter (1982), (Rosenberg 1976),

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conceitos, que pautam o comportamento da firma no seu padrão de produção, no seu ritmo

de crescimento e no seu processo de busca por inovações, enfim em sua fixação de

estratégias (Nelson & Winter, 2002; Dosi et al, 1997). As diferenças entre as firmas são

resultados de seus processos internos de aprendizado que geram vantagens específicas e

diferenciais (Foss, 1998; Teece, 1996), ou seja geram capacitações.

Essas capacitações não são vantagens absolutas, mas temporárias, pois podem ser imitadas

e aprimoradas por concorrentes. Esse processo de inovação-imitação pode explicar

mudanças nas estruturas industriais, tais como os casos exemplificados por Klepper (1997) e

mesmo os processos de adoção de tecnologias (Nelson, Peterhansl & Sampat, 2004).

Algumas características do processo de inovação e imitação são:

(a) Incerteza tecnológica e a necessidade de rotinas de busca e seleção de tecnologias e de

aprendizado. Essas rotinas são específicas das firmas e estão muitas explicitadas em

estruturas e centros de P&D dentro da firma e em contratos de cooperação universidade-

empresa e empresa-empresa;

(b) O destaque para trajetórias tecnológicas que condicionam as possibilidades tecno-

econômicas das firmas, seja na inovação como na imitação. Nesse processo a natureza

cumulativa do conhecimento tecnológico é sempre ressaltada;

(c) As irreversibilidades e temporalidade das decisões. O processo de acumulação de

conhecimentos é temporal e não é instantâneo, o que implica em períodos de aprendizado.

Há uma limitada capacidade da firma de corrigir “erros” estratégicos, sejam eles decorrentes

de avaliações pessimistas ou otimistas. Tais irreversibilidades podem se refletir também em

vantagens ou desvantagens significativas por períodos longos;

(d) A tecnologias deixa de ser um conjunto de conhecimentos adquiríveis no mercado. A

tecnologia passa a ser um conjunto variado de conhecimentos, ativos, organizações, rotinas,

equipes e estruturas físicas. Sob esse ponto de vista, tecnologias não são partes livremente

combinadas de insumos obtidos no mercado, mas um sistema organizacional específico à

firma;

(e) A dimensão tácita dessas organizações e capacitações das firmas. Esse é um ponto que

merece atenção, pois atribui a cada firma a propriedade de uma estrutura ou ativo específico

não-comercializáveis que são construídos a partir de decisões internas e autônomas da firma;

(f) Apropriabilidade, que se refere à capacidade de utilizar know-how e restringir imitação. A

capacidade tecnológica mantém-se, assim, um diferencial na geração de novos produtos e

processos. Nesse contexto, rendas exclusivas tendem a perdurar, mantendo a taxa de lucro

mais elevada e sustentando o crescimento da firma.

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Em suma, a exploração de oportunidades geradas por novas tecnologias é o ponto chave

para explicar a trajetória de crescimento e a diversidade de firmas, na medida em que:

ampliam as bases de conhecimento da firma e possibilita que os conhecimentos adquiridos

ao longo de sua trajetória gerem retornos dinâmicos; incrementam os conhecimentos tácitos

da firma, na dimensão de suas rotinas; concede lucros à firma e um poder monopolista, ao

menos temporário, que é a motivação inicial para busca da inovação; e amplifica a

acumulação interna de fundos, que é a base para a realização de investimentos.

3. Procedimentos Metodológicos de Identificação das Firmas Líderes na Indústria Brasileira

Do ponto de vista metodológico, este artigo tem duas características inéditas que o

diferenciam da literatura empírica recente. Primeiro são as informações por firmas. Este

trabalho utiliza informações de empresas com mais de 30 pessoas ocupadas na indústria

brasileira. São mais de 30 mil empresas industriais brasileiras que representam mais de 95%

do valor adicionado da indústria. O banco de dados foi organizado pelo IPEA e contêm

informações das empresas e dos trabalhadores a elas vinculados.5

A segunda característica que diferencia esta pesquisa é a classificação das firmas na

indústria, e de forma especial, como foram identificadas as empresas líderes. Liderança está

associada à participação da firma no mercado como inovadora e a sua acumulação de

capital, ou seja, empresas líderes são aquelas que são as mais inovadoras e, por isto, têm

maior participação no mercado relevante e acumulam mais.

As informações são

provenientes diversos bancos de dados do Governo Brasileiro Federal. A Pesquisa Sobre

Inovação Tecnológica na Indústria Brasileira (PINTEC) forneceu as informações sobre a

inovação tecnológica nas firmas.

Existem dois tipos de liderança que uma firma pode exercer no mercado. i) Líderes na

diferenciação de produto; ii) Líderes em custo. Estes dois tipos de empresas líderes podem

conviver dentro de um mesmo setor industrial, em um mesmo regime tecnológico. A firma

que diferencia seu produto amplia a sua participação de mercado demonstrando ao

consumidor que seu produto é diferente em diversos atributos quando comparado aos

demais produtos concorrentes e por isso podem melhor satisfazer o consumidor. A firma

induz o consumidor a atribuir ao seu produto uma menor elasticidade preço da demanda –

um produto diferenciado – o que lhe permite cobrar um preço superior e obter um preço-

prêmio. A firma que produz produtos homogêneos consegue também liderar

tecnologicamente um mercado caso ela mostre ao consumidor que o seu produto é similar

5 Sobre a montagem do banco de dados ver De Negri (2003)

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aos demais, porém é mais barato. Para fazer isso a firma necessita ter um custo de produção

menor do que os seus concorrentes.

Além das firmas líderes no mercado existem firmas com grande capacidade de acompanhar

e imitar as mudanças tecnológicas no seu setor e por isso conseguem diferenciar produtos ou

realizar mudanças para reduzir seus custos de produção. Existem, portanto, empresas que

seguem rapidamente as empresas líderes e acompanham as mudanças na dinâmica de

mercado que são impulsionadas pela concorrência setorial. Estas firmas são chamadas de

empresas seguidoras.

Para classificar as empresas neste trabalho foram usados alguns indicadores. O argumento

para este tipo de abordagem é a de que os indicadores são, na média, correlacionados e,

portanto, seria plausível acreditar que dois ou no máximo três indicadores poderiam

representar o grupo de firmas que a qual ela pertence.6

Empresas Líderes: i) Inovadora de produto novo para o mercado e que exporta com preço

prêmio

Estes indicadores são chamados

neste artigo de “indicadores principais”. Os indicadores principais para identificação das

empresas foram:

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Empresas Seguidoras: i) demais exportadoras não líderes ou, ii) empresas que tem

produtividade (valor da transformação industrial por trabalhador) igual ou superior às

exportadoras não líderes no seu setor industrial (Grupo CNAE – 3 dígitos);

ou, ii) Inovadora de processo novo para o mercado, exportadora e de menor (quartil

inferior) relação custo/faturamento no seu setor industrial (Grupo CNAE – 3 dígitos);

Empresas Emergentes: empresas não classificadas como líderes e seguidoras, logo não

exportadoras, mas que investem continuamente em P&D ou inovam produto novo para o

mercado mundial ou possuem laboratórios de P&D (departamentos de P&D e que tem

mestres/doutores ocupados em P&D).

Empresas Frágeis: demais firmas.

É importante ressaltar a classificação das firmas é intra-setorial, pois os indicadores que

estão sendo utilizados para classificar as empresas são calculados dentro do setor. No caso

do preço prêmio nas exportações, o procedimento metodológico é por produto exportado,

nível mais desagregado do que o setor da firma; no caso da relação custo/faturamento e

produtividade (valor da transformação industrial por trabalhador) os cálculos são feitos em

relação ao setor que a firma opera, considerando setor o grupo CNAE (3 dígitos).

6 A idéia de usar alguns indicadores para classificar as empresas foi emprestada da literatura econométrica de séries de tempo, particularmente da literatura que trata de indicadores antecedentes e coincidentes, ver Hollauer e Issler (2006a e 2006b) 7 Ver em De Negri e Salerno (2005) a formalização dos procedimentos para cálculo do preço prêmio.

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No caso das comparações internacionais, foram comparadas as líderes que inovam e

diferenciam produtos em cada país. Para identificar estas firmas no Brasil, foram usados

como indicadores principais: i) inovadora de produto novo para o mercado e ii) exportara com

preço prêmio. Na Argentina, México, Espanha, França e Alemanha foram consideradas os

seguintes indicadores principais: i) inovadora de produto novo para o mercado, ii)

investimento em P&D como proporção do faturamento da firma maior do que a média dos

investimentos em P&D como proporção do faturamento do seu setor iii) exportadora. O setor

foi considerado a 3 dígitos da standard international industrial classification (SIIC).

Após classificar as empresas foram usados dois procedimentos estatísticos para identificar se

as empresas formavam grupos diferenciados entre si. O primeiro procedimento foram testes

não paramétricos e paramétricos de diferença de média das categorias de firmas

classificadas. A tabela 1 apresenta estas estatísticas descritivas.8

8 Para maiores informações sobre as técnicas estatísticas paramétricas e não paramétricas de comparação de média consultar Schefeé (1959), Cochran e Cox (1957), Cox (1958), Federer (1970), Montgomery(1991), Hinkelmann and Kempthorne (1994). Connover (1980), Lehman (1975), Daniel (1978).

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Tabela 1 - Número de firmas e características médias (média aritmética) das firmas e do pessoal ocupado por categoria de empresas. Ano: 2000

Líderes Seguidoras Emergentes Frágeis Teste de diferença de

médias

Paramétrico e

N-Paramétrico

Número de firmas

Total de firmas (N) 1.114 10.105 469 20.028 -

Firmas de capital nacional (N) 739 8.957 462 19.953 -

Firmas de capital estrangeiro (N) 375 1148 7 75 -

Características da firma

Pessoal Ocupado (N) 998 258 146 69 254,8***

2352,13***

Faturamento (MI R$) 454,34 59,75 17,03 4,35 57,9***

3845,54***

Valor da transformação

industrial (MI R$) 211,59 2,18 5,18 1,52

27,87***

3892,49***

Exportações (MI U$) 46,23 5,09 0 0 67,32***

5406,11***

Importações (MI U$) 30,11 2,54 0,44 0,06 44,17***

3647,35***

Gastos P&D/Receita líquida de

vendas (%) 0,56 0,08 0,29 0,004

71,54***

111,86***

Salário médio da mão de obra

(R$/Mês) 2000,52 1210,44 919,87 679,92

725,81***

2323,85***

Escolaridade média da mão de

obra (Anos) 10,13 8,68 8,78 7,85

430,49***

1114,20***

Tempo de emprego médio da

mão de obra(Meses) 64,41 52,12 47,67 41,51

169,68***

561,93***

Fonte: PIA/IBGE, PINTEC/IBGE, Secex/MDIC, Rais/MTE.

O segundo procedimento foi uma análise discriminante. As variáveis utilizadas para

agrupamentos das observações em categorias similares foram: o logaritmo do pessoal

ocupado da firma, a produtividade do trabalho, o logaritmo da renumeração média, a

proporção de empregados com 3º grau, o coeficiente de exportação, o coeficiente de

importação, os gastos da firma com pesquisa e desenvolvimento. Depois de criadas quatro

categorias de firmas por análise discriminante foram analisadas as características segundo

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as variáveis apresentadas na tabela 1. Esta análise permitiu a nomeação de cada um dos

clusters em: líderes, seguidoras, emergentes e frágeis.

Optou-se ainda por realizar a análise de discriminante separadamente em cada um dos

setores (Grupo CNAE – 3 dígitos). Em seguida as categorias geradas por análise

discriminante foram comparadas com a classificação por indicadores principais. Os

resultados provenientes das comparações setoriais encontram-se sumarizados na tabela 2.

Tabela 2 - Comparação entre a classificação das firmas por análise discriminantes e indicadores líderes.

Classificação por Análise Discriminante

Líderes Seguidoras Emergentes Frágeis Total

Classificação

por

Indicadores

Líderes

Líderes 778 249 29 50 1.107

70,28% 22,49% 2,62% 4,52% 3,6%

Seguidoras 1159 6.541 379 1.886 9.965

11,63% 65,64% 3,80% 18,93% 32,2%

Emergentes 17 40 336 75 467

3,64% 8,57% 71,95% 16,06% 1,5%

Frágeis 101 1.681 500 17.119 19.400

0,52% 8,66% 2,58% 88,24% 62,7%

Total 2.055 8.511 1.243 19.131 30.939

6,64% 27,51% 4,02% 61,83%

Fonte: PIA/IBGE, PINTEC/IBGE, Secex/MDIC, Rais/MTE.

Observa-se um razoável grau de concordância entre as categorias criadas por análise

descriminante e as categorias criadas através de indicadores principais. Entre as firmas

pertencentes à categoria “líderes”, 70,3% foram classificadas na mesma categoria gerada por

análise discriminante. O maior grau de concordância ocorre entre as firmas frágeis, 88,24%.

Em síntese os dois procedimentos estatísticos mostram que a classificação por indicadores

principais agrupam empresas que são estatisticamente parecidas nas suas características.

4. Firmas líderes na indústria brasileira

Na indústria brasileira existiam aproximadamente 31 mil empresas com 30 ou mais pessoas

ocupadas, no ano de 2005. Dentre estas empresas, este trabalho identificou 1.114 empresas

líderes, 10.105 empresas seguidoras e 469 das empresas emergentes. A tabela 3 apresenta

o número de firmas por setor.

16

Em alguns complexos intensivos em mão de obra e recursos naturais como o couro e

calçados, madeira e móveis, têxteis e confecções e complexo agroindustrial chama a atenção

para o grande número de empresas seguidoras e frágeis. Numericamente estas firmas

representam 46% do total de firmas industriais com mais de 30 pessoas ocupadas no Brasil.

Nestes setores, as tecnologias são relativamente maduras e o progresso tecnológico de

grande parte das firmas é realizado por meio da compra de tecnologia incorporada, ou seja,

tecnologia presentes nas máquinas e equipamentos. No entanto 27,3% do total de empresas

líderes da indústria brasileira, 305 empresas, estão nestes setores. Apesar de uma

participação especialmente relevante no número total de empresas líderes, elas perdem

relevância na participação no faturamento entre seus pares da indústria brasileira, pois

representam 16,6% do faturamento das líderes, sendo que apenas o complexo agroindustrial

participa com 13,48%.

Nos setores intensivos em escala como extrativa, metalurgia básica, materiais elétricos,

complexo automobilístico e bens de capital encontram-se 295 empresas líderes. Estas

empresas representam 36% do faturamento das firmas líderes industriais brasileiras. Nestes

setores, os rendimentos crescentes de escala são um fator relevante no processo de

competição e as oportunidades tecnológicas são maiores do que nos setores intensivos em

recursos naturais e mão de obra.

Nos setores de fabricação de produtos químicos, complexo da saúde, limpeza e perfumaria e

a produção industrial do setor de tecnologia da informação existem 252 empresas líderes.

Estes setores são reconhecidamente mais intensivos em tecnologia e os esforços

tecnológicos das empresas é um importante fator de competição. Diferente dos segmentos

intensivos em mão de obra e recursos naturais e dos setores intensivos em escala, neste

setor as empresas seguidoras e frágeis estão em menor número e representam apenas 6%

do número total de firmas industriais com mais de 30 pessoas ocupadas no Brasil. Entretanto,

a participação no faturamento das empresas líderes nestes segmentos em comparação com

as demais líderes é significativa. Juntamente com o complexo de energia, que inclui dentre

outros a fabricação de derivados de petróleo e a produção de álcool, onde existem 20

empresas líderes, as empresas líderes nos setores mais intensivos em tecnologia respondem

pelo faturamento de 36,3% do total das líderes industriais brasileiras.

17

Tabela 3- Número de empresas na indústria brasileira por setor e categoria de Firmas. Firmas com 30 ou mais pessoas ocupadas. Ano: 2005

Indústria Grupo CNAE Firmas

Líderes Seguidoras Frágeis Emergentes

Extração de carvão mineral,

minerais metálicos e pedras 100 131 132 141 142 7 170 476 0

Fabricação de celulose, papel e

produtos de papel 211 212 213 214 21 185 565 9

Edição, impressão e reprodução

de gravações 221 222 223 12 321 644 4

Fabricação de produtos químicos 242 243 244 248 249 91 312 338 40

Fabricação de produtos de

minerais não-metálicos 261 262 263 264 269 56 423 1.397 6

Metalurgia básica 271 272 273 274 275 34 243 304 15

Fabricação de produtos de metal 281 282 283 284 288 289 47 569 1.697 19

Fabricação de eletrodomésticos 298 10 65 21 0

Fabricação de máquinas,

aparelhos e materiais elétricos

311 312 313 314 315 316

318 319 61 348 357 26

Fabricação de outros

equipamentos de transporte 359 352 4 41 76 7

Fabricação de produtos diversos 369 24 200 204 5

Reciclagem 371 372 0 39 48 0

Construção, montagem e

reparação de aeronaves 353 3 16 9 3

Complexo agroindustrial 151 152 153 154 155 157

158 159 160 241 246 293 140 1.213 2.729 83

Indústria automobilística 341 342 343 344 345 62 416 434 28

Bens de capital 291 294 296 297 299 132 851 757 60

Borracha e plástico 251 252 66 587 1.541 32

Complexo de energia 112 156 232 234 295 20 299 205 19

Complexo da saúde 245 331 70 222 172 28

Complexo couro e calçados 191 192 193 27 790 1.280 4

Fabricação de produtos de

limpeza e artigos de perfumaria 247 21 87 195 29

Madeira e móveis 201 202 361 62 1.184 2.186 15

Construção e reparação de

embarcações 351 0 21 83 5

Indústria da tecnologia da

informação

301 302 321 322 323 329

332 333 334 335 339 70 313 288 15

Têxtil e confecção 171 172 173 174 175 176

177 181 182 76 1.190 4.021 15

Total da indústria 1.114 10.105 20.028 469

Fonte: PIA/IBGE, PINTEC/IBGE, Secex/MDIC, Rais/MTE.

18

A densidade da indústria brasileira é uma das características que corroboram com a tese

central deste artigo que argumenta que o Brasil tem um núcleo relevante de empresas,

formado pelas líderes e uma parcela das seguidoras, com capacidade de gerar conhecimento

e difundir capacitações tecnológicas por todo o setor industrial. A busca de mais argumentos

que contribuam com a hipótese aqui defendida passa por caracterizar como as empresas

líderes buscam novos recursos para construir e ampliar suas competências nas áreas de

domínio tecnológico da empresa.

O processo de decisório da empresa é um elemento central na análise das estratégias das

firmas. As firmas tomam decisões encadeadas e de forma recorrente, ou seja, constituem

uma estratégia de longo prazo. A empresa decide investir levando em conta o que acontece

no seu mercado, mas de forma especialmente relevante ela é impulsionada pela

concorrência e pelo crescimento da demanda por seu produto. Quando a firma decide investir

ela faz opções por fazer mais do mesmo produto e/ou investir na busca de novos recursos

para competição. Se a firma decidiu por buscar novos recursos para competição, os recursos

originários desta estratégia poderão se materializar em inovação. Se a firma obtiver êxito na

sua estratégia de inovação os novos recursos e competências acumuladas pela empresa se

transformam em novos produtos ou processos e terão valor econômico para a empresa. Por

sua vez, a inovação afeta um dos principais indicadores de performance da empresa: a sua

produtividade. Este seria um ciclo virtuoso de acumulação de capital centrado na capacitação

tecnológica própria.

A decisão de investir precede a decisão de quanto investir em cada finalidade, ampliação da

capacidade e/ou inovação. A firma pode investir mais ou menos de acordo com a

disponibilidade interna de recursos financeiros e a sua capacidade de obter financiamento

fora da firma. Fora da firma, a empresa depende da oferta de crédito para as atividades que

ela pretende desenvolver. Essas linhas de crédito podem estar ou adaptadas a sua

estratégia, mas dependem fundamentalmente da diversidade de instrumentos financeiros, da

escala dos recursos ofertados e do perfil do crédito (e.g. taxa de juros, prazos, amortizações

e garantias bancárias).

No caso brasileiro, há uma restrição importante no processo decisório da empresa. A

empresa tem restrição de crédito para financiar seu investimento de longo prazo e este fator

é particularmente relevante para o financiamento de atividades que busquem novos

conhecimentos, como P&D próprio. Dado que a decisão de buscar novos recursos para

realizar inovação tecnológica é especialmente restringida pela disponibilidade de crédito, a

firma pode mudar sua estratégia de investimento levando em conta esta restrição, o que

significa sub-investir na criação de conhecimento novo.

19

Desta forma, a disponibilidade de crédito pode alterar as estratégias das empresas,

particularmente as de inovação, e conseqüentemente a forma como a empresa busca

construir novas competências. Nesse caso, os regimes tecnológicos setoriais acabarão por

refletir as estratégias restringidas das empresas e diferentes tipos de cooperação serão mais

ou menos impulsionados. Em alguns casos, para realizar inovação desejada a firma pode

cooperar de acordo com outras firmas, universidades, clientes, fornecedores de máquinas e

equipamentos e demais agentes das redes de conhecimento relevantes para a inovação

tecnológica da firma. Contudo, mesmo essas relações estarão afetadas pelas restrições de

crédito.

Finalmente, definida a estratégia de inovação e caso ela for exitosa, a firma decidirá como se

apropriar dos ganhos da inovação. Para isso, a firma escolherá diferentes estratégias:

contratos, marcas, segredos ou patentes. Para trajetórias tecnológicas mais intensivas em

conhecimento a marca no mercado não é a única estratégia da empresa, ela precisará

guardar o seu segredo industrial ou então registrar como uso exclusivo seu por meio de

patentes.

Para dar consistência a esta lógica de raciocínio esta seção do trabalho é dividido em três

outras sub-seções. A seção 4.1 concentra a análise sobre a performance das empresas. A

seção 4.2 discute as estratégias de busca de recursos para competição e o financiamento à

inovação. A seção 4.3 mostra indicadores relacionados com os regimes setoriais de inovação

e as estratégias de apropriabilidade das firmas. A seção 4.4 compara as firmas líderes que

inovam e diferenciam produtos no Brasil e países selecionados.

4.1. Performance das firmas industriais brasileiras

Na tabela 4 são apresentados os dados referentes à escala de produção das firmas

industriais brasileiras classificadas de acordo com o critério de liderança. As empresas líderes

são responsáveis por 43,3% do faturamento da indústria brasileira e empregam 21% da mão

de obra na indústria brasileira. A escala de produção destas firmas é de R$ 501 milhões por

ano e na média ocupam aproximadamente 1 mil trabalhadores por firma. A escala de

produção das firmas seguidoras na indústria é significativamente menor do que das líderes,

R$ 63,1 milhões. O grande número de empresas neste segmento de firmas, 10.105, garante

a esta categoria de empresas uma participação de 49,4% no faturamento industrial, superior

à participação das empresas líderes.

20

Tabela 4- Faturamento e pessoal ocupado na Indústria Brasileira por Categoria de Firmas. Firmas com 30 ou mais pessoas ocupadas. Ano:2005.

Tipo de

empresa

Número de

empresas

(Nº)

Faturamento

anual

(média – MI R$)

Pessoal ocupado

(média - Nº)

Participação

no faturamento

(%)

Participação

no emprego

(%)

Líderes 1.114 501,0 978 43,3 21,0

Seguidoras 10.105 63,1 253 49,4 49,4

Frágeis 20.028 4,3 73 6,6 28,2

Emergentes 469 17,9 149 0,6 1,4

Total 31.716 40,7 163 100 100

Fonte: PIA/IBGE, PINTEC/IBGE, Secex/MDIC, Rais/MTE.

O diferencial de tamanho da firma é um fator de competitividade importante das firmas por

dois motivos: possibilita obter retornos crescente de escala e aumenta as chances da

empresa para inovar.

No caso dos retornos crescentes de escala, sempre que a produção da firma aumenta mais

que proporcionalmente ao aumento dos fatores de produção por elas utilizados, há

rendimentos crescentes de escala internos à firma. Na presença de tais rendimentos, o

aumento do tamanho da firma aumenta a produtividade total dos fatores de produção.

Existem diversas fontes de rendimentos crescentes de escala, mas uma fonte típica destes

retornos crescentes, internos à firma, é o custo fixo da atividade produtiva ou os custos

associados à abertura mercados ou a introdução de novos métodos de produção. Estas

atividades envolvem custos de informação relativamente altos. Particularmente no caso das

empresas líderes que buscam diferenciar seus produtos por meio da inovação tecnológica, os

custos associados à mão de obra de alta qualificação é um fator especialmente relevante

como fonte de rendimentos crescentes de escala.

Deve ser levado em contra que as mudanças tecnológicas contemporâneas tornam a

produção mais flexível e capaz de gerar múltiplos produtos. Há oportunidades que são

aproveitadas por firmas que dominam tecnologia multi-produto com mais de uma escala

ótima de produção, possibilitam também auferirem economias internas de escopo.

Os rendimentos crescentes podem estar externos às firmas. Economias de escala externas à

firma, mas internas à indústria, originam-se do fato de que nas grandes indústrias há maior

possibilidade de especialização intra-industrial e, portanto, o custo médio é influenciado pelo

tamanho da indústria. Estas economias seriam condicionadas pela extensão do mercado.

21

As fontes de retornos de escala externos à firma também podem surgir de economias de

aglomeração, indivisibilidades dos bens públicos usados como insumos ou apoio de intra-

estrutura às atividades (como, por exemplo, serviços de telecomunicações, rodovias).

Algumas fontes das economias de escalas externas à firma afetam mais de uma indústria e,

no caso brasileiro, as indústrias mais intensivas em mão-de-obra e recursos naturais podem

aproveitar melhor sinergias externas à firma.

O tamanho da empresa também afeta as chances da empresa alcançar a inovação

tecnológica e conseqüentemente isso afeta seu desempenho mensurado em termos de

produtividade. A firma que realiza alguma inovação tecnológica, por definição, lançou um

novo produto ou realizou um novo processo. Caso este produto ou processo já existia no

mercado, a inovação tecnológica é nova para a empresa e não para o mercado. Se o produto

ou processo não existia no mercado, a inovação tecnologia é nova para o mercado. Por ser

pioneira, a inovação tecnológica nova para o mercado permite a empresa obter vantagens

maiores do que as inovações que não são novas para o mercado, pois este seria uma

imitação ou uma difusão tecnológica. Liderança e lançamento de novos produtos ou

processos são fortemente correlacionados e é por isso que a maior parte da inovação de

produto novo ou processo novo para o mercado é feito por firmas líderes.

Na tabela 5 são apresentados os indicadores de inovação tecnológica por categoria de

empresas. Os dados indicam que apenas 5% das firmas industriais brasileiras lançam

produtos e 3% lançam processos novos no mercado nacional. Dentre as empresas líderes,

88% lançaram produtos novos no mercado nacional e 39% lançaram processos novos no

mercado nacional. No quesito inovação de produto e processo novo no mercado nacional, as

firmas emergentes também se destacam, pois 31% delas lançaram produtos novos no

mercado e 9% lançaram processos novos.

Vale destacar que a intensidade de conhecimento da firma envolvido em lançar

simultaneamente produto e processo novo no mercado nacional é relativamente maior na

média do que lançar apenas processo ou produto. O lançamento de produtos novos no

mercado mundial também exige da firma maior intensidade de conhecimento específico.

Poucas empresas brasileiras conseguem lançar produtos novos no mercado mundial. No

entanto, das 1.114 empresas líderes da indústria brasileira 15% lançam produtos novos fora

do mercado brasileiro e das empresas emergentes 11% também lançaram produtos novos no

mercado mundial.

22

Tabela 5 – Inovação na Indústria Brasileira por Categoria de Firmas. Firmas com 30 ou mais pessoas ocupadas. Ano: 2005.

Tipo de empresa Inovadoras

Inovadoras de

produto novo

para o mercado

Inovadora de

processo novo

para o mercado

Inovadora de produto

e processo novo para

o mercado

Inovadora de

produto novo para o

mercado mundial

Líderes 1.114

(100%)

983

(88%)

438

(39%)

311

(28%)

171

(15%)

Seguidoras 5.494

(54%)

211

(2%)

247

(2%)

39

(0,4%)

30

(0,3%)

Frágeis 6.384

(32%)

227

(1%)

106

(1%)

21

(0,1%)

0

(0%)

Emergentes 455

(97%)

144

(31%)

44

(9%)

23

(5%)

52

(11%)

Total 13.446

(42%)

1.565

(5%)

834

(3%)

394

(1%)

253

(1%)

Fonte: PIA/IBGE, PINTEC/IBGE, Secex/MDIC, Rais/MTE. Percentuais sobre o total de empresas em

cada categoria de empresa (ver tabela 4 coluna 1) entre parênteses

O tamanho da empresa é importante porque ela afeta os rendimentos crescentes de escala

da firma e a possibilidade da firma inovar. Estas duas variáveis afetam a produtividade da

empresa. A estimativa de produtividade total dos fatores das firmas na economia brasileira é

limitada pela falta de dados sobre o estoque de capital da firma. No entanto, uma boa análise

pode ser realizada utilizando-se como informação a produtividade do fator trabalho. A tabela

6 apresenta estes indicadores. As firmas líderes são 2.6 vezes mais produtivas do que as

firmas seguidoras e tem uma participação no valor adicionado superior. As empresas líderes

da indústria brasileira respondem por 49,2% do valor da transformação industrial ao passo

que as seguidoras respondem por 44,1%. Portanto, apesar das líderes terem uma

participação no faturamento ligeiramente menor do que as seguidoras, sua participação no

valor adicionado é maior.

Os indicadores de lucro total e de salário médio pago aos empregados das líderes quando

comparado as seguidoras é também um bom indicador de a maior eficiência9

9 A eficiência de uma firma diz respeito à capacidade da firma em obter o máximo de produto a partir de um dado conjunto de insumos, ou seja, a eficiência mede a habilidade da firma em produzir tanto produto quanto permitem os insumos utilizados, ou usar o mínimo de insumos para produzir determinada quantidade de produto. Esta eficiência, por sua vez, pode também ser separada em dois componentes: eficiência de escala, que é a habilidade da firma operar na escala mais produtiva possível, e eficiência técnica propriamente dita. A eficiência de escala mede a diferença de

das empresas

líderes.

23

Tabela 6 – Produtividade, Lucro e Salário na Indústria Brasileira por Categoria de Firmas. Firmas com 30 ou mais pessoas ocupadas. Ano:2005.

Tipo de

empresa

Produtividade

(VTI/PO Mil

R$/ano)

VTI total

(BI R$)

Lucro total

(BI R$)

Salário

médio

(R$/ano)

Escolaridade

média

(anos)

Tempo de

emprego

médo

(meses)

Líderes 214,0 233,4 83,2 32.323 10,13 64,4

Seguidoras 81,8 209,4 50,1 17.929 8,68 52,1

Frágeis 19,5 28,6 6,0 8.433 7,84 41,5

Emergentes 33,9 2,4 0,5 12.140 8,77 47,6

Total 91,4 473,8 139,8

Fonte: PIA/IBGE, PINTEC/IBGE, Secex/MDIC, Rais/MTE.

O salário médio no ano pago aos empregados nas empresas líderes é 1,8 vezes maior do

que as firmas seguidoras. O salário é uma variável relevante na análise do desempenho das

firmas porque ele indica que trabalhadores mais produtivos estão trabalhando nestas

empresas. Os mecanismos de “salário eficiência”10

O tempo de permanência do trabalhador na firma é um indicador de aprendizado tecnológico.

A escolaridade média dos trabalhadores da firma é uma proxy para o nível tecnológico da

firma, pois é razoável supor que firmas com maior conteúdo tecnológico demandem mão-de-

obra mais qualificada. A tabela 6 mostra que a escolaridade da mão-de-obra e o tempo de

permanência do trabalhador na firma é mais alto das empresas líderes do que nas demais.

Firmas que ocupam mão-de-obra mais qualificada têm mais condições de diferenciar e

garantir a qualidade do produto produzido. Ao mesmo tempo em que a melhor qualificação da

mão-de-obra amplia as potencialidades disponíveis nas firmas, o posicionamento competitivo

da empresa é positivamente influenciado pela possibilidade da firma operar com conteúdo

tecnológico maior.

, por exemplo, são também comumente

utilizados por estas firmas para aumentar a produtividade da mão-de-obra. A firma seleciona

os trabalhadores mais produtivos por meio de salários mais altos e com isso acaba por

empregar os trabalhadores de maior escolaridade, reduz a rotatividade da mão de obra e

aumenta o tempo de permanência do pessoal ocupado na firma. Estas variáveis são

especialmente relevantes na análise da estratégia competitiva das firmas.

As firmas líderes tendem a exigir trabalhadores mais escolarizados e melhor treinados. O

tempo de permanência do trabalhador na firma é um indicativo de que deve haver custos produtividade da firma em relação à escala mais produtiva da sua indústria, ou seja, em relação ao ponto onde a elasticidade de escala é igual à unidade. Sobre isso ver Debreu (1951) e Farrell (1957). 10 Ver Weiss (1990)

24

irrecuperáveis, que a firma incorre por treinar a sua mão-de-obra ou então algum processo de

aprendizado tecnológico no interior da firma, que torna a rotatividade relativamente mais cara.

Sendo assim, é razoável acreditar que o processo de aprendizado se reflita no tempo de

permanência do trabalhador na firma, pois estas têm dispêndios de treinamento que seriam

perdidos com uma rotatividade alta. Emprego mais estável favorece o aprendizado

tecnológico e retroalimenta as potencialidades da firma ao mesmo tempo em que reduz os

dispêndios de treinamento, atração e demissão de pessoal. 11

Os indicadores de performance de comércio exterior das empresas na indústria brasileira

estão presentes na tabela 17. O coeficiente de exportação das firmas líderes é 22,4%,

superior aos das firmas seguidoras que é de 14,6%. Também o coeficiente de importação

das líderes também á maior do que o das seguidoras, 19,6% e 9,8% respectivamente. Além

da escala de exportações e importações das firmas líderes serem maior, o diferencial no

coeficiente de exportação e importação indica padrões de inserção externa diferenciado entre

estes dois tipos de firma.

A literatura sobre os determinantes do comércio internacional afirma que as exportações

podem estar relacionadas às tradicionais vantagens comparativas que são determinadas pela

dotação relativa de fatores de produção como mão-de-obra e recursos naturais. Esse

diferenciais são geralmente associados ao comércio inter-indústria12. As exportações podem

também estar baseadas em economias de escala, inovação tecnológica e diferenciação de

produto e, neste caso, estar essencialmente associadas ao comércio intra-indústria13

O Brasil é um país em desenvolvimento com a abundância de recursos naturais e mão-de-

obra que o torna as firmas exportadoras relativamente competitivas nas exportações de bens

que demandam maior dotação relativa destes fatores. O tamanho do mercado doméstico

brasileiro e o esforço inovador das firmas no Brasil também tornam o país competitivo em

determinados segmentos onde inovação tecnológica e retornos crescentes de escala são

determinantes da competitividade das firmas no mercado internacional.

.

As firmas líderes demandam mais importações de componentes ou produtos

complementares às linhas de produção doméstica. Isto ocorre porque o Brasil é parcialmente

ou não competitivo em segmentos de maior intensidade tecnológica. Desta maneira, o padrão

de comércio das firmas líderes que inovam e diferenciam produtos é um padrão intra-

11 No caso do Brasil existem evidências de que firmas que competem por inovação e diferenciação de produto e que exportam tendem a remunerar melhor a mão-de-obra ocupada, pagando prêmios salariais 12 Ver Heckscher (1919) e Ohlin (1933). 13 Ver Helpman (1981), Helpman e Krugman (1985). Krugman (1980), Krugman (1986), Grossman e Helpman (1994).

25

indústria, parte intra-firma, caracterizado em grande medida pela complementaridade

tecnológica com o exterior.

Tabela 7– Exportação e Importação na Indústria Brasileira por Categoria de Firmas. Firmas com 30 ou mais pessoas ocupadas. Ano: 2005.

Tipo de

empresa

Número de

exportadoras

(Nº)

Exportação

(média MI

U$/Ano)

Coeficiente de

Exportação

(%)

Participação

exportação

(%)

Número de

importadoras

(Nº)

Importação

(média MI

U$/Ano)

Coeficiente de

Importação

(%)

Participação

importações

(%)

Líderes 1.114 46,2

(22,4%) 50 979

34,3

(19,6%) 55

Seguidoras 8.256 6,2

(14,6%) 50 5.186

4,9

(9,8%) 42

Frágeis 0 0 0 943 1,4

(3,7%) 2

Emergentes 0 0 0 90 2,3

(6,0%) 0

Total 9.371 100 7.198 100

Fonte: PIA/IBGE, PINTEC/IBGE, Secex/MDIC, Rais/MTE.

4.2. A busca por recursos para competição

Na seção anterior foi observado que inovação, liderança e performance são fortemente

associados. Nesta seção, o objetivo é analisar o esforço das firmas para criar um regime de

acumulação de conhecimento, no sentido de uma busca sistemática de inovação, intrínseco à

rotina da firma.

Inicialmente é relevante caracterizar que a firma pode tornar-se inovadora de diversas

formas. Particularmente no caso da economia brasileira os investimentos que as firmas

realizam em máquinas e equipamentos estão fortemente associados ao lançamento de

produtos ou processo novos para a firma. Neste caso, o conhecimento necessário para

realizar inovação tecnológica está incorporado às máquinas e equipamentos e está em

grande medida disponível para qualquer empresa que tenha condições de investir,o que

sinaliza uma baixa apropriabilidade tecnológica.

Nem todo investimento em máquinas e equipamentos está associado à inovação tecnológica.

Uma parcela significativa do investimento em bens de capital está associada à expansão da

26

capacidade produtiva da firma, ou seja, produzir mais do mesmo produto. A tabela 8 mostra

que em 2005, o investimento total das empresas líderes da indústria brasileira foi R$ 37,7

bilhões. Ligeiramente superior ao investimento total das empresas seguidoras, que foi de R$

33,62 bilhões. Deste total, o investimento em máquinas e equipamentos das empresas

líderes e seguidoras foi de R$ 14,09 bilhões e R$ 16,93 bilhões respectivamente. A parcela

do investimento em máquinas e equipamentos que foi dirigida para a inovação tecnológica no

total do investimento neste item foi de 35,9% no caso das líderes e 48,1% no caso das

seguidoras.

Entre líderes e seguidoras, há uma diferença estrutural importante nos investimentos que as

firmas fazem para buscar recursos para a inovação. Do total investido para inovação nas

firmas líderes, 33,9% são investidos em P&D interno e externo e 7,3% são investidos na

compra de outros conhecimentos, totalizando 41,2%. Este percentual é especialmente inferior

no caso das empresas seguidoras, 19,6%. No caso das empresas seguidoras, o principal

gasto com atividades para inovação é na compra de máquinas e equipamentos, 60,8%,

enquanto que nas líderes esse valor é de apenas 32,7%. Estas diferenças na alocação de

recursos entre líderes e seguidoras explica muito a diferença entre as performances das

empresas, particularmente no que diz respeito aos diferenciais de produtividade destas duas

categorias de empresas.

27

Tabela 8 – Investimento na Indústria Brasileira por Categoria de Firmas. Firmas com 30 ou mais pessoas ocupadas. Ano: 2005.

Tipo de

empresa

Investimento Investimento para inovação

Investimento

total

(BI R$)

Máquinas e

equipamentos

(BI R$)

P&D interno e

externo

(BI R$)*

Outros

conhecimentos

(BI R$)*

Máquinas e

equipamentos

(BI R$)*

Treinamento

(BI R$)*

Lançamento

da inovação

(BI R$)*

Projeto da

inovação

(BI R$)*

Líderes 37,71 14,09 5,25

(33,9%)

1,13

(7,3%)

5,07

(32,7%)

0,35

(2,3%)

1,38

(8,9%)

2,31

(14,9%)

Seguidoras 33,62 16,93 2,28

(17,0%)

0,36

(2,6%)

8,16

(60,8%)

0,18

(1,4%)

0,68

(5,1%)

1,76

(13,1%)

Frágeis 2,76 1,62 0,08

(4,2%)

0,05

(2,5%)

1,49

(78,0%)

0,06

(3,2%)

0,05

(2,5%)

0,18

(9,6%)

Emergentes 0,35 0,21 0,21

(27,3%)

0,03

(4,4%)

0,35

(45,4%)

0,01

(1,6%)

0,09

(12,1%)

0,07

(9,1%)

Total 74,44 32,86 7,82

(24,8%)

1,57

(5,0%)

15,07

(47,7%)

0,61

(1,9%)

2,20

(7,0%)

4,32

(13,7%)

Fonte: PIA/IBGE, PINTEC/IBGE, Secex/MIDC, Rais/MTE. *Percentual do total de investimentos em

inovação por categoria de empresa entre parênteses (soma = 100% na linha)

Investir em conhecimento novo para a inovação tecnológica, particularmente em P&D faz

diferença na performance das empresas, particularmente na capacidade das firmas obterem

vantagens de inovações que são pioneiras no mercado. Em 2005 as firmas brasileiras

investiram R$ 7,8 bilhões em P&D sendo que as líderes foram responsáveis por 67% destes

investimentos. Os investimentos em P&D como proporção do faturamento das firmas

industriais com 30 ou mais pessoas ocupadas no Brasil é de 0,61%. As líderes da indústria

brasileira investem 0,94% enquanto que as seguidoras investem 0,36% do seu faturamento

em P&D.

O investimento em P&D, no entanto, não é uma variável suficiente para caracterizar a busca

sistemática de inovação na rotina da firma. A tabela 9 mostra que mais da metade das firmas

líderes realiza investimentos contínuos em P&D e cerca de 1/3 delas possuem laboratórios

onde estão empregados 2.169 mestres e doutores com dedicação exclusiva nessa atividade.

No caso das seguidoras, pouco mais de 10% realizam gastos contínuos em P&D. No entanto,

é importante ressaltar que há uma parcela de seguidoras que de acordo com os indicadores

de esforços sistemáticos de inovação, como gastos com P&D contínuo, presença de

laboratórios e de mestre e doutores com dedicação exclusiva podem se destacar entre as

seguidoras com empresas de maior capacidade competitiva.

28

Tabela 9 – Estrutura de P&D na Indústria Brasileira por Categoria de Firmas. Firmas com 30 ou mais pessoas ocupadas. Ano: 2005.

Tipo de empresa

Empresas

com P&D

contínuo

Empresas com

Laboratório de

P&D*

Pessoal com dedicação exclusiva em P&D

Doutores Mestres Outros

Líderes 652 305 495 1.674 17.450

Seguidoras 1.126 340 333 815 12.972

Frágeis 0 0 0 0 699

Emergentes 355 98 56 176 1.903

Total 2.133 743 884 2.666 33.024

Fonte: PIA/IBGE, PINTEC/IBGE, Secex/MIDC, Rais/MTE. *Empresas com departamento de P&D e

que possuem mestres ou doutores com dedicação exclusiva em P&D

Dentro da estratégia de crescimento da firma o investimento para expandir sua capacidade

instalada e para inovar ocupa um lugar central. Ninguém discute a existência de um quadro

de restrição de crédito para projetos de longo prazo na economia brasileira, que limita de

forma especialmente relevante a capacidade de investir das empresas nacionais. A despeito

do seu crescimento recente, o mercado de capitais brasileiro ainda é muito pouco

desenvolvido em comparação com países mais avançados. Há décadas que praticamente a

única fonte de capital de longo prazo para investimentos no país é o Banco Nacional de

Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). No caso do financiamento à P&D nas

empresas esta restrição é ainda maior e a FINEP tem alcançado muito poucas empresas.

Neste sentido, o crescimento da firma e o esforço que ela faz para criar capacitações para é

restringido pela disponibilidade de crédito de longo prazo.

A tabela 10 mostra o acesso às linhas de crédito de longo prazo das firmas industriais

brasileiras para o investimento e para a P&D. No período compreendido entre 1996 e 2006,

mais da metade das empresas líderes e seguidoras da indústria brasileira acessaram linhas

de crédito no BNDES para realizar seus investimentos. As firmas líderes captaram 39% da

oferta de crédito do BNDES enquanto que as empresas seguidoras captaram 56,5%. A

participação das linhas de financiamento público à P&D nas empresas é, entretanto,

substancialmente menor. Mais de 90% dos recursos que são investidos pelas empresas da

indústria brasileira em P&D são provenientes de recursos próprios da empresa.

29

Tabela 10- Financiamento na Indústria Brasileira por Categoria de Firmas. Firmas com 30 ou mais pessoas ocupadas. Ano: 2005.

Financiamento ao investimento

Anos: 1996 a 2006

Financiamento à P&D

Ano: 2005*

Tipo de empresa BNDES

(No)

Participação no

total financiado

(% de R$)

Próprio

BI R$

Privado

BI R$

Público**

BI R$

Líderes 696 39,0 4,87

(92,6%)

0,06

(1,2%)

0,32

(6,2%)

Seguidoras 5.477 56,5 2,13

(93,2%)

0,02

(0,7%)

0,14

(6,1%)

Frágeis 5.754 4,1 0,07

(85,9%)

0,001

(1,4%)

0,01

(12,6%)

Emergentes 185 0,4 0,18

(88,1%)

0,004

(1,8%)

0,02

(10,1%)

Total da indústria 12.111 100 7,24 0,09 0,49

Fonte: PIA/IBGE, PINTEC/IBGE, Secex/MDIC, Rais/MTE. *Percentual do total de financiamento à P&D

por categoria de empresa entre parênteses (soma = 100% na linha) ** Financiamento de agências

públicas são realizados principalmente pela FINEP e BNDES.

4.3. A Cooperação em P&D e Apropriação Tecnológica

O aprendizado da firma para realizar inovação tecnológica depende não somente de fatores

internos à firma. O nível de articulação da firma com o seu regime setorial de inovação pode

ampliar sobremaneira a velocidade com que a empresa alcança a inovação tecnológica. A

interação entre empresa e regime tecnológico setorial é também fortemente impulsionada

pela capacidade que a firma tem de absorver conhecimento externo. A combinação entre os

recursos internos que a firma acumula e a busca de novos recursos em cooperação com

mercado são fatores determinantes da competitividade das firmas.

A tabela 11 apresenta o número de empresas que cooperaram em P&D por categoria de

empresa. Com todos os parceiros de cooperação realizados entre as firmas industriais

brasileiras, as líderes e emergentes são os dois tipos de empresa que mais interagem de

forma cooperativa para realizar P&D. Independente da categoria de empresa, a maior parte

da cooperação em P&D é realizada com clientes e fornecedores. A cooperação com as

universidades é mais alta entre as líderes e emergentes, no entanto, apenas 8,8% das

empresas líderes e 4,4% das emergentes cooperam em P&D com universidades.

De forma geral, a cooperação em P&D dentro dos regimes tecnológicos no caso brasileiro

ainda é muito pouco significativa e existe uma tendência generalizada, independente do tipo

30

de empresa, de utilizar seus próprios recursos para inovar e não cooperar nas atividades de

P&D. Cassiolato et. al. (2005) ressaltaram que estes indicadores são inferiores aos padrões

internacionais.

Tabela 11 – Número de empresas que cooperaram em P&D na Indústria Brasileira por tipo de cooperação e categoria de firmas. Firmas com 30 ou mais pessoas ocupadas. Ano: 2005.

Tipo de

empresa Clientes Fornecedores Concorrentes

Outra

empresa

do grupo

Empresa

de

consultoria

Universidade Centros de

capacitação

Líderes 203

(18,3%)

196

(17,6%)

22

(1,9%)

129

(11,6%)

45

(4,0%)

98

(8,8%)

30

(2,7%)

Seguidoras 290

(5,3%)

317

(5,8%)

33

(0,6%)

123

(2,2%)

94

(1,7%)

149

(2,7%)

62

(1,1%)

Frágeis 120

(1,9%)

121

(1,9%)

6

(0,1%)

13

(0,2%)

21

(0,3%)

20

(0,3%)

40

(0,6%)

Emergentes 34

(7,5%)

49

(10,8%)

13

(2,8%)

4

(0,9%)

13

(2,9%)

20

(4,4%)

3

(0,6%)

Total 647

(4,8%)

682

(5,1%)

73

(0,5%)

268

(2,0%)

173

(1,3%)

287

(2,1%)

134

(1,0%)

Fonte: PIA/IBGE, PINTEC/IBGE, Secex/MIDC, Rais/MTE. Percentuais sobre o total de empresas

inovadoras em cada categoria de empresa (ver tabela 5 coluna 1) entre parênteses.

Não existe uma explicação única para a baixa cooperação das empresas brasileiras em P&D

e o sentido de causalidade também não parece ser bem definido. Os indicadores mostram,

entretanto, que empresas líderes cooperaram mais do que as demais empresas industriais.

No caso específico da cooperação em P&D, este pode ser um indicador de que as inovações

que exigem maior conhecimento demandam também mais interações cooperativas e trocas

dentro do regime tecnológico setorial da empresa.

Do ponto de vista da firma individual, a interação cooperativa em uma das atividades mais

nobres da inovação, a de P&D, está limitada, por um lado, pela necessidade e pela

capacidade que a empresa tem de absorver conhecimento externo e acumular competências

para competição. Se a firma fez opções tecnológicas mais conservadoras do ponto de vista

da necessidade de recursos novos para inovação, esforços menores e processos mais

simples de geração e conhecimento novo podem ser suficientes para o êxito inovador da

empresas. Por outro, a firma pode também não encontrar no ambiente externo à empresa

uma produção de conhecimento adaptado as suas necessidades. Estas limitações podem ser

relativamente relevantes de tal forma que as empresas encontram dificuldades de quebrar

31

um circulo vicioso de baixa necessidade de conhecimento novo para inovação e poucas

oportunidades de obter novos recursos para competição no ambiente externo a firma.

Se as empresas fizerem opções tecnológicas mais ousadas investindo mais em atividades de

inovação tecnológica de maior risco, como no caso da P&D, a necessidade de interação

cooperativa com o ambiente externo pode ser impulsionada. Isso pode ocorrer mesmo no

caso de inovações que envolvam segredo industrial. A firma pode separar o processo de

P&D em várias etapas e cooperar em determinadas atividades no lado externo da firma sem

perder o domínio exclusivo de sua tecnologia. No entanto, as opções tecnológicas da

empresa também podem ser impulsionadas pela disponibilidade de oferta de conhecimento

no sistema de C&T ou então de incentivos governamentais de fomento à P&D das empresas,

integração universidade empresa e a formação de arranjos cooperativos para a inovação

tecnológica.

A tabela 12 apresenta o número de firmas que solicitaram depósitos em patentes, marcas ou

tem como estratégia de propriedade da inovação o segredo industrial. Os maiores

percentuais de firmas que estabelecem alguma estratégia de propriedade dos ganhos da

inovação são as firmas líderes: 22,2% das firmas líderes registraram patentes no exterior e

29,3% registraram patentes de invenção. Já no caso das seguidoras com atividades

inovadoras (5.494 firmas), apenas 5% registrou patentes e 9% registrou patentes de

invenção, mas se considerarmos o total de firmas seguidoras (10.105 firmas), esses valores

são ainda menores: 2,5% e 4,5%, respectivamente.

Há, portanto, uma significativa diferença no uso e na importância desses instrumentos de

apropriação para esse dois grupos de firmas. Uma explicação simples para essa estrutura

pode estar no tipo de inovação gerada pelas firmas seguidoras. Essas inovações podem ser

muito pouco adequadas a um processo de patenteamento ou proteção institucional, que

requer tempo, documentação extensiva e é dispendioso, dado o porte de algumas firmas.

Seja como for, essas diferenças expressam a baixa apropriabilidade tecnológica das firmas

seguidoras.

Essas diferentes intensidades no uso de proteção regulada à imitação se articula a um fato

importante: os maiores valores absolutos em quase todas os indicadores de proteção

tecnológica estão relacionados as atividades das empresas seguidoras. Por exemplo, temos

277 firmas seguidoras com patentes, enquanto que as líderes somam 247. Existem 500

firmas seguidoras que usaram patentes de invenção, enquanto que as líderes são 326. No

caso das marcas, as seguidoras são 1.736 e as líderes são apenas 584.

Essas diferenças na intensidade e na escala na proteção tecnológica colocam uma questão

importante para a formulação de políticas públicas. Há um conjunto disperso de firmas

32

seguidoras que usam sistemas de proteção de forma pouco sistemática, enquanto que as

líderes o fazem de forma recorrente e, por certo, de forma mais eficiente. Detectar quais são

as firmas seguidoras que ainda não utilizam esses mecanismos de proteção seria um modo

de aumentar a possibilidade de obter uma maior apropriabilidade tecnológica em uma parte

importante da estrutura industrial

Tabela 12 – Patentes, Marcas e Segredos na Indústria Brasileira por Categoria de Firmas. Firmas com 30 ou mais pessoas ocupadas. Ano: 2005.

Tipo de

empresa

Patentes

Marcas Segredo

industrial Invenção Utilidade Desenho

industrial

Depósito no

exterior

Patentes

no exterior

Líderes 326

(29,3%)

208

(18,7%)

151

(13,6%)

146

(13,1%)

247

(22,2%)

584

(52,5%)

106

(9,5%)

Seguidoras 500

(9,1%)

441

(8,0%)

314

(5,7%)

138

(2,5%)

277

(5,0%)

1.736

(31,6%)

204

(3,7%)

Frágeis 141

(2,2%)

111

(1,7%)

120

(1,9%)

8

(0,1%)

27

(0,4%)

1.339

(21,0%)

79

(1,2%)

Emergentes 59

(13,0%)

57

(12,5%)

57

(12,4%)

6

(1,3%)

3

(0,7%)

205

(45,1%)

15

(3,3%)

Total 1.026

(7,6%)

818

(6,1%)

641

(4,8%)

297

(2,2%)

554

(4,1%)

3.864

(28,7%)

404

(3,0%)

Fonte: PIA/IBGE, PINTEC/IBGE, Secex/MIDC, Rais/MTE. Percentuais sobre o total de empresas

inovadoras em cada categoria de empresa (ver tabela 5 coluna 1) entre parênteses.

4.4. A Empresa estrangeira e a transferência de tecnologia

O investimento direto tem sido um dos mecanismos principais no processo de

internacionalização das atividades produtivas, especialmente nos últimos anos quando as

taxas de crescimento do investimento direto externo (IDE) têm sido superiores, inclusive, às

taxas de crescimento do comércio e do PIB mundiais. A questão que se coloca é se o IDE

também tem desempenhado papel relevante na internacionalização das atividades

tecnológicas. A participação dessas empresas nos gastos mundiais em P&D, bem como o

fato de o IDE constituir um dos principais canais de difusão de tecnologia entre os países

justificam essa preocupação.

É bastante conhecido o fato de que as atividades inovativas mundiais são extremamente

concentradas nos países desenvolvidos. Essa aliás, é uma das razões pelas quais a

importação de tecnologias dos países centrais pode ser um mecanismo importante de

desenvolvimento tecnológico dos demais países. Segundo Dunning (1994), no final dos anos

33

80, mais de 80% dos gastos mundiais em P&D estavam concentrados em 5 países

desenvolvidos: Estados Unidos, Japão, França, Inglaterra e Alemanha. Embora,

recentemente, seja possível perceber uma tendência de desconcentração, ela ainda é muito

pouco significativa e está bastante restrita a um pequeno grupo de países.

As atividades inovativas também são bastante concentradas, além de geograficamente, em

um pequeno número de grandes corporações. Segundo estudo da UNCTAD (2005), se

tomarmos as 700 maiores firmas com gastos em P&D no mundo – entre as quais 90% são

transnacionais (ETN) – elas respondem por quase metade do total dos gastos em P&D

mundiais e por cerca de 69% dos gastos empresariais em P&D. De fato, as capacitações

tecnológicas das ETNs são uma das vantagens específicas que possibilitam a essas

empresas superar os custos e os riscos de competir em outros países (Hymer, 1976). Essas

características, mais uma vez, ressaltam a importância dessas corporações e

conseqüentemente, do IDE, como canais preferenciais de transferência de tecnologia para os

países em desenvolvimento.

Além da participação das ETNs nos gastos globais com P&D, as atividades produtivas mais

avançadas em termos tecnológicos são, cada vez mais, dominadas pelas grandes

corporações internacionais. A conseqüência dessa concentração, especialmente para os

países menos desenvolvidos, é que entrar nesse tipo de atividade envolve participar de

cadeias produtivas dominadas por essas empresas (UNCTAD, 2003).

A propensão da firma a internalizar a produção das novas tecnologias no seu próprio país

seria maior do que no caso de produtos ou tecnologias maduras. 14

14 Vernon, R. (1995)

Assim, o desenvolvimento

tecnológico se daria no mercado de origem, de onde a firma começaria a exportar o novo

produto. Com o amadurecimento da tecnologia, o próximo passo na internacionalização da

empresa seria a produção daquele bem em outros países. Segundo essa visão, as atividades

de P&D nos países receptores do IDE estariam restritas a adaptações de produtos – para

atender às especificidades da demanda – e de processos produtivos – em virtude das

diferenças nos fatores produtivos dos países. No entanto, o ciclo do produto tem se tornado

altamente comprimido, com empresas engajadas em projetos de inovação quase simultânea

nos seus principais mercados. Desse modo, as firmas estariam agora acessando vantagens

tecnológicas nas mais diferentes localizações, movimento facilitado pelas tecnologias da

informação que reduzem os custos de coordenação das atividades inovativas. Cantwell

(1995), por exemplo, encontra evidências de um movimento de globalização da atividade

inovativa entre as ETNs. Para ele, hoje essas empresas procuram explorar as vantagens

34

tecnológicas dos diversos países, tornando suas atividades inovativas cada vez mais

internacionalizadas.

Os investimentos em pesquisa realizados pelas ETNs nos Brasil não são desprezíveis. A

tabela 13 mostra que aproximadamente metade dos gastos em P&D da indústria Brasileira

são realizados por firmas de capital transnacional. Em segundo lugar, entre as empresas

estrangeiras é maior a proporção daquelas que investem em P&D vis a vis as empresas

domésticas. Esses fatos colocam as multinacionais numa posição proeminente nos sistemas

de inovação dos países selecionados.

Em certa medida, isso já era esperado dada a posição de liderança ocupada pelas

transnacionais em termos da produção global de tecnologia e suas reconhecidas vantagens

competitivas e tecnológicas sobre as empresas uninacionais dos países em desenvolvimento.

Entretanto, De Negri (2006) mostra que a proeminência se deve a alguns poucos fatores, tais

como tamanho das subsidiárias, setor de atuação e inserção nos mercados externos. De

modo geral, as empresas estrangeiras nos países latino-americanos são maiores do que as

empresas domésticas, estão concentradas em setores mais intensivos em tecnologia e são

mais inseridas no comércio internacional. Se controlarmos esses fatores, desaparece a

superioridade das estrangeiras em relação às nacionais no que diz respeito à propensão à

realizar investimentos em P&D. Mais do que isso, quando comparamos firmas similares no

que diz respeito a essas e outras características, observamos que as empresas estrangeiras

são menos propensas e realizam menores investimentos em pesquisa do que as

domésticas.15

15 Ver Araújo (2005)

35

Tabela 13 – Esforços em P&D na Indústria Brasileira, firmas de Capital Nacional e Transnacional por categoria de firmas. Firmas com 30 ou mais pessoas ocupadas. Ano: 2005.

Tipo de empresa Número de

firmas P&D total

(R$ MI)

P&D/ Faturamento

(%)

Mestres e doutores em

P&D

N empresa que cooperou em

P&D com universidade

Empresas de Capital Nacional

Líderes 739 2.710,9 0,93 1.352 89

Seguidoras 8.957 1.160,9 0,28 676 149

Frágeis 19.953 78,3 0,10 - 16

Emergentes 462 137,4 1,84 216 22

Empresas de Capital Transnacional

Líderes 376 2.542,8 0,95 817 71

Seguidoras 1.148 1.120,5 0,50 472 27

Frágeis 76 1,1 0,04 - 0

Emergentes 7 70,8 7,86 16 2

Fonte: PIA/IBGE, PINTEC/IBGE, Secex/MIDC, Rais/MTE. Percentuais sobre o total de empresas

inovadoras em cada categoria de empresa (ver tabela 5 coluna 1) entre parênteses.

De Negri (2006) mostrou também que existem diferença entre países latinoamericanos na

atração de investimento em P&D. No Brasil, as filiais de multinacionais investem mais em

pesquisa – como proporção do faturamento – do que as filiais argentinas as mexicanas. Mais

uma vez, essa diferença permanece significativa mesmo quando comparamos empresas

estrangeiras similares nos mesmos setores de atividade.

Esses fatos sugerem a existência de uma relação positiva entre o esforço tecnológico

empreendido pela economia doméstica e aquele realizado pelas transnacionais instaladas

nesses países. Pode-se postular várias hipóteses para explicar essa correlação positiva.

Podem existir efeitos de transbordamento derivados da atuação das multinacionais ou, ao

contrário, o próprio investimento em P&D das empresas domésticas pode ser um fator

adicional a atrair o investimento estrangeiro em pesquisa. Também podemos argumentar que

as mesmas variáveis exógenas afetam tanto a propensão de empresas domésticas quanto

das empresas estrangeiras a investir em P&D nos países analisados. Nesse sentido,

argumentamos que além do tamanho da subsidiária e do seu setor de atuação, algumas

características locacionais dos países podem contribuir para explicar a maior ou menor

propensão das multinacionais a realizar investimentos em pesquisa nos países receptores.

36

4.5. Empresas líderes na inovação e diferenciação de produto no Brasil, Argentina, México, Espanha, França e Alemanha

Esta seção está reservada para comparações internacionais entre as firmas líderes

brasileiras na inovação e diferenciação de produtos com as empresas que exercem esta

mesma liderança em outros mercados. Estas firmas investem em atividades inovativas

associadas às suas competências e capacidades tecnológicas-chaves a fim de obter

performance superior que a de seus concorrentes nos mercados de atuação da firma.

Por vezes a literatura econômica tem simplificado o debate sobre a inserção internacional dos

países, argumentando que países desenvolvidos deveriam produzir e exportar bens

intensivos em tecnologia e escala de produção e países em desenvolvimento deveriam se

especializar na produção e exportação de bens intensivos em recursos naturais e mão de

obra barata.

Estas e outras interpretações genéricas sobre a dinâmica econômica de países de

industrialização tardia podem diluir características específicas de economias nacionais que

são muito diferenciadas. O Brasil tem cerca de 180 milhões de habitantes e possui uma

indústria relativamente grande com 90 mil firmas industriais com mais de 10 pessoas

ocupadas. Estas firmas investem cerca de R$ 7 bilhões ao ano em P&D e empregam mais de

6 milhões de trabalhadores. Cerca de 5 mil empresas brasileiras realizaram gastos com P&D.

Estes indicadores podem colocar o Brasil em posição diferenciada quando comparado com a

média dos países de industrialização recente.

É evidente, entretanto, que os indicadores de inovação tecnológica do Brasil estão ainda

distantes dos países desenvolvidos e de países emergentes de primeira geração da Ásia. Os

indicadores desta primeira metade da década de 2000 mostram que o investimento em P&D

como proporção do PIB no Brasil é de 1% ao passo que na média os países da OCDE

investem mais de 2,3%. O Brasil investe mais em P&D como proporção do PIB do que a

África do Sul e do que a Índia, que investem 0,8 e 0,7% respectivamente, no entanto, a China

tem investido em torno de 1,2% do seu PIB em P&D.

Comparado com a China deve ser ressaltado que a escala de investimentos do Brasil é muito

inferior a da China. Tomando em conta o ano de 2000 como exemplo, o Brasil investiu, U$ 12

bilhões em P&D e a China investiu U$ 85 bilhões. Na China existem mais de 860 mil pessoas

envolvidas em P&D nas empresas e no Brasil existem aproximadamente 60 mil.

O Brasil também tem investido pouco na formação de profissionais no exterior. O Brasil tinha

14 mil estudantes nas universidades dos países da OCDE em 2002. Neste mesmo ano a

Tailândia tinha 21 mil, Singapura e Indonésia tinham 24 e 28 mil respectivamente e a Malásia

tinha 36 mil estudantes nas universidades de países da OCDE.

37

No Brasil aproximadamente 30% das empresas são inovadoras. Em média as empresas

inovadoras nos países da União Européia representam 50% do total de firmas. As empresas

brasileiras investem 0,6% do seu faturamento em P&D. Na Alemanha este percentual é de

2,7% e na França é de 2,5%. Menos de 3% das empresas industriais brasileiras fazem

inovação de produto para o mercado. Das 30 mil empresas inovadoras, menos de duas

centenas inovaram para o mercado internacional.

A tabela 14 apresenta as características das líderes que inovam e diferenciam produtos no

Brasil, em dois países latino-americanos, Argentina e México e em três países europeus,

França, Alemanha e Espanha.

O primeiro indicador é o número de líderes em cada economia. No Brasil existem

aproximadamente 1.200 empresas líderes, muito superior ao número de empresas líderes do

México e da Argentina. Quando comparado aos países europeus, o Brasil tem mais

empresas líderes que inovam e diferenciam produtos na indústria que a Espanha. Quando

comparado com as duas das principais economias européias, quando o critério é número de

empresas líderes que inovam e diferenciam produtos o Brasil não fica muito longe da França,

mas está muito distante da Alemanha.

Quando o indicador é o valor da transformação industrial por trabalhador, as líderes

brasileiras na inovação e diferenciação de produto apresentam indicadores muito abaixo do

que são os países europeus. Uma parte desta diferença pode ser creditada as diferenças na

intensidade de fatores de produção utilizadas e pela composição setorial da produção das

diferentes economias.

No entanto, resguardado as diferenças setoriais entre as economias, os esforços em P&D

como proporção do faturamento e do pessoal envolvido em P&D são significantemente

maiores na França e na Alemanha. No caso da Espanha os indicadores de esforços de P&D

são similares com o Brasil. O Brasil, entretanto apresenta indicadores muito superiores à

Argentina e ao México.

Do ponto de vista do comércio exterior as firmas líderes industriais brasileiras apresentam

indicadores de escala de vendas relativamente próximas aos países europeus, mas seu

coeficiente de exportação é mais baixo de todas as economias comparadas.

38

Tabela 14 – Características das empresas líderes que inovam e diferenciam produtos em países selecionados

Característica Brasila Argentinaa Méxicob Françac Alemanhad Espanhae

Número de firmas

(% do total firmas)

1.199

(1,7%)

413

(3,8%)

263

(3,2%)

1.582

(6,7%)

7.676

(13,3%)

866

(23,9%)

Produtividade

(Mil US$/Trab) 118,21 160,8 98,2 224,8 496,7 193,6

P&D/Faturamento 3,06 1,12 0,81 6,72 5,77 1,85

Pessoal ocupado em P&D 20.110 2.373 1.859 69.088 nd 23.148

Coef.de

Exportação (%) 13,8 20,3 22 48,2 43,7 35,9

Exportação

(1M US$) 35,0 6 70 44,8 58,3 27

Fonte: PIA/IBGE, PINTEC/IBGE, Secex/MIDC, para o Brasil. INEG para o México, INEP para a

Argentina, Community Innovation Survey para os países europeus. a – Empresas com mais de 10

empregados (2000) b – Empresas com mais de 50 empregados (2000) c – Empresas com mais de 20

empregados (2000) d – Empresas com mais de 5 empregados (2005) e – Empresas com mais de 200

empregados (2000)

Em síntese, de forma geral, o Brasil ocupa uma posição inferior aos países da OCDE e

mesmo aqueles da primeira geração de países asiáticos. Quando comparado com as demais

economias em desenvolvimento latino-americanas o Brasil tem uma posição de liderança. A

China já ultrapassou o Brasil no esforço em P&D e o Brasil encontra-se a frente da Índia e

África do Sul nos investimentos em P&D como proporção do faturamento.

5. Conclusão

O processo de industrialização brasileiro logrou transformar uma típica economia exportadora

de bens primários em outra detentora de uma ampla estrutura produtiva. No período de

apenas meio século transcorrido entre 1930 e 1980, formou-se no país um parque industrial

diversificado. A industrialização do país foi realizada por meio dos mecanismos clássicos de

proteção cambial e subsídios creditícios e fiscais. Mecanismos circunstanciais foram também

amplamente utilizados, como defasagem de tarifas de serviços públicos e de preços de

insumos básicos produzidos por empresas estatais. Esses mecanismos de incentivo à

produção não diferiram muito daqueles encontrados em outros países que acabariam por se

destacar na industrialização ao longo das décadas seguintes, inclusive EUA e Alemanha. A

diferença que determinaria as trajetórias tomadas pelas distintas experiências reside na

orientação competitiva de cada uma delas: enquanto em certos casos o planejamento

39

econômico tinha como meta a inserção em mercados externos dinâmicos, esta não era

propriamente a prioridade das diversas políticas de desenvolvimento industrial

implementadas no Brasil.

Entre os anos 1930 e meados dos anos 1950, políticas econômicas estimularam a

substituição de importações, impulsionando o processo de industrialização. Posteriormente,

este processo passou a ser impulsionado pelo crescimento da demanda do mercado interno

e pela diversificação da estrutura industrial visada pelo planejamento econômico: o Plano de

Metas no final da década de 1950, as políticas setoriais entre fins dos anos 1960 e meados

dos 1970, e o II Plano Nacional de Desenvolvimento na segunda metade dos anos 1970.

Com isso, o país chegou ao final dos anos 1970 com uma estrutura industrial bastante

integrada e diversificada, apesar dos baixos níveis de produtividade, significativo atraso

tecnológico, e inexpressiva inserção no mercado internacional.

A transição da indústria brasileira da década de 1970 para a de 1980 ofereceu uma

oportunidade histórica de correção de rumos no sentido de incorporar as atividades

representativas do então emergente paradigma das tecnologias de informação e

comunicação, e buscar uma inserção internacional em mercados dinâmicos. Mas não foi isso

que ocorreu. A crise externa e a conseqüente instabilidade macroeconômica interna

mantiveram a indústria estagnada em toda a década de 1980 e interrompeu o processo de

industrialização. Assim, dez anos depois, a indústria brasileira se encontrava ainda mais

defasada em termos tecnológicos e pouco capacitada para atividades de inovação. A

abertura da economia e sobretudo, a liberalização comercial no início dos anos 1990

colocaram a indústria diante de um sério desafio para enfrentar competidores internacionais,

tanto no mercado interno quanto no externo.

Ao mesmo tempo despreparada, imersa em um cenário macroeconômico adverso e com

políticas públicas pouco ativas, a reação da indústria não poderia ser outra senão a de

racionalizar seus processos produtivos, com vistas à diminuição de custos e ao aumento de

eficiência. A década de 1990 seria marcada então por freqüentes oscilações do produto

industrial, concomitante a contínua queda do emprego. Houve, como resultado positivo,

justamente o efeito esperado da abertura comercial, qual seja, um choque de produtividade

no parque industrial brasileiro. Esses esforços de diminuição dos recursos necessários para o

mesmo nível de retorno levariam à inevitável inserção de grande parte das empresas

industriais brasileiras preponderantemente em mercados cuja competição se estabelece por

meio dos preços, em detrimento daqueles em que a diferenciação de produto exerce a

principal influência competitiva. Porém, é nesses mercados que as inovações tecnológicas

geram a empresas que as implementam um relativo poder de mercado que, mesmo que

temporário, permite que elas obtenham um maior retorno pelo capital investido e uma maior

40

proteção a seus trabalhadores contra as recorrentes oscilações de preços dos produtos

padronizados. Em outras palavras, se a inovação tecnológica desempenha um papel central

na trajetória de desenvolvimento econômico, o crescimento concomitante da produtividade e

do emprego industrial passa pela inserção competitiva nesses mercados. Esta, por sua vez,

só se dá por meio da intensificação de esforços inovadores, como investimentos em pesquisa

e desenvolvimento (P&D), por parte das empresas nacionais.

O caso brasileiro de reestruturação da indústria após a abertura comercial apresenta certos

traços singulares que o distancia da percepção convencional acerca da especialização das

economias em desenvolvimento em setores intensivos em mão-de-obra e recursos naturais.

Tal singularidade se apóia no fato de que, mesmo sendo o Brasil um país reconhecidamente

competitivo em bens agrícolas e industriais mais padronizados, há um grupo importante de

empresas brasileiras líderes que tem capacidade de geração endógena de conhecimento e

que teriam capacidade de puxar um desenvolvimento industrial brasileiro menos dependente

de vantagens comparativas estáticas.

O novo ambiente competitivo, ao invés de gerar uma especialização regressiva, teria

impulsionando uma nova visão empresarial que estaria presente nas empresas brasileiras

líderes. Esta nova visão empresarial está fortemente associada a padrões de competição por

inovação, diferenciando produtos ou liderando em custos e tem uma percepção mais clara a

respeito das potencialidades do país na economia mundial.

Há um conjunto de evidências neste artigo que corroboram com a hipótese de que existe no

Brasil um núcleo dinâmico de empresas líderes com capacidade endógena de geração de

conhecimento e tecnológica capaz de puxar o desenvolvimento industrial brasileiro difundindo

capacitações por todo o setor produtivo brasileiro. As empresas líderes são numericamente

significativas e distribuídas pelos diversos setores industriais brasileiros. A inovação

tecnológica e a diferenciação de produtos têm moldado as estratégias competitivas dessas

empresas, numericamente reduzidas, porém com significativa capacidade de arrasto inter-

industrial, pois representam a metade do valor agregado industrial das empresas acima de 30

pessoas ocupadas. Elas realizam alianças cooperativas em P&D e mudanças

organizacionais voltadas à inovação tecnológica, se utilizando de inovação tecnológica

sistemática para melhorar seu desempenho exportador.

Nossos resultados mostram que a idéia de um desenvolvimento industrial a partir de

segmentos dotados de um maior conteúdo tecnológico, e menos dependente de setores de

baixo valor agregado, encontra respaldo nas estratégias competitivas adotadas pelo

empresariado brasileiro que comanda parcela preponderante do produto industrial do país.

Nesse novo contexto, cabe ao Estado a produção dos estímulos necessários à adoção desse

41

padrão competitivo por parte das empresas industriais, seja diminuindo os riscos das

atividades empreendedoras e inovadoras, seja difundindo informações e eliminando entraves

burocráticos, ou seja, até mesmo aprimorando e articulando os instrumentos de

financiamento da pesquisa e desenvolvimento das empresas.

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