UNIVERSIDADE DE ÉVORA
ESCOLA DE CIÊNCIAS SOCIAIS
DEPARTAMENTOS DE ECONOMIA E DE GESTÃO
ESTRATÉGIAS PARA MELHORAR A PRODUÇÃO,
COMERCIALIZAÇÃO E TRANSFORMAÇÃO DO CAFÉ
ROBUSTA: O CASO DO MUNICÍPIO DO UÍGE (PROVÍNCIA DO
UÍGE)
Amândio Sebastião Francisco
Orientadora: Maria Leonor Pimenta Marques Verdete da Silva Carvalho
Mestrado em Economia e Gestão Aplicadas
Área de especialização: Economia e Gestão para Negócios
Évora, 2015
ESTRATÉGIAS PARA MELHORAR A PRODUÇÃO,
COMERCIALIZAÇÃO E TRANSFORMAÇÃO DO CAFÉ
ROBUSTA: O CASO DO MUNICÍPIO DO UÍGE (PROVÍNCIA DO
UÍGE)
Amândio Sebastião Francisco
Orientadora: Maria Leonor Pimenta Marques Verdete da Silva Carvalho
Mestrado em Economia e Gestão Aplicadas
Área de especialização: Economia e Gestão para Negócios
Évora, 2015
iii
“Aquele que não pode o que quer, tem que querer o que pode ”
(Carlos São Vicente)
iv
AGRADECIMENTOS
O culminar de um trabalho de final de curso é sempre um momento de grande alegria e
satisfação para o autor. Entretanto, a sua elaboração é sempre animada por momentos
sinuosos e de grande frustração, o que, em determinados momentos, acaba por causar bastante
isolamento e solidão. Mas a força de vontade, animada essencialmente pelo espirito de
colaboração – com especial destaque para os professores, amigos e família –foi crucial para o
ressurgimento de novas forças que permitiram a conclusão do trabalho. Neste sentido,
manifesto a minha enorme gratidão à Professora Doutora Maria Leonor Carvalho, pela sua
pronta e interminável disponibilidade para o aperfeiçoamento constante do trabalho. De facto,
mesmo em momentos mais complicados da sua vida, manifestou um elevado espírito de
humanismo e profissionalismo, daí o meu “Muito obrigado, Professora!”
À minha amada esposa Cláudia Francisco, por toda a compreensão e carinho manifestados na
fase de elaboração da dissertação. Por este facto, eu te agradeço, meu amor.
Ao coletivo de docentes que, de forma clara e evidente, nos transmitiram os conhecimentos,
deixo o meu muito obrigado.
Ao coletivo de trabalhadores do INCA (Uíge), particularmente ao Sr. Ginga, expresso o meu
profundo agradecimento por todo o auxílio.
Aos meus colegas do mestrado e amigos que sempre me deram forças, muito obrigado por
tudo.
.
v
Amândio Sebastião Francisco (2015) – Estratégias para melhorar a produção,
comercialização e transformação do café robusta: o caso do município do Uíge (província do
Uíge)
RESUMO
Angola, em 1974, atingiu o quarto lugar na produção mundial de café e o primeiro lugar na
produção africana. A região do Uíge teve sempre uma expressão significativa na produção
total do café produzido no país. O estudo ora apresentado objetiva encontrar mecanismos que
permitam melhorar a produção, transformação e comercialização do café robusta no
município do Uíge. A pesquisa foi desenvolvida com recurso à aplicação de um questionário
a 80 produtores de café, e teve como suporte aspetos teóricos/científicos relativos à produção
cafeícola. A região do Uíge apresentou reduzidos níveis de produção de café, determinados
essencialmente por um vasto envelhecimento dos cafezais, uma fraca tecnologia no processo
produtivo, uma estrutura de mercado altamente deficitária, falta de certificação dos produtos,
uma deficitária rede de transportes, e uma fraca qualificação da mão-de-obra, inexistência de
cooperativas de produtores. Observou-se ainda que a produção reveste caráter essencialmente
familiar e apenas o café coco é vendido ao fornecedor do mercado local, que o transporta para
Luanda. Outro dado importante é a débil estrutura de gestão dos processos produtivos por
parte dos produtores, o que dificulta a determinação dos custos de produção.
Palavras-chave: Café robusta; produção; transformação; comercialização; Uíge
vi
Amândio Sebastião Francisco (2015) – Strategies to improve production, marketing and
processing of robusta coffee: the case of the city of Uige (Uige Province)
ABSTRACT
In 1974, Angola reached number four in the world coffee production and first place in the
African production. The Uige region has always had a significant expression in the total
production of coffee produced in the country. The study presented here aims to find ways to
improve production, processing and marketing of robusta coffee in the city of Uige. The
research was developed using the application of a questioner to 80 coffee producers, and was
supported by theoretical / scientific matters affecting the coffee production. The region of
Uige had reduced coffee production levels determined essentially by a vast aging of the coffee
plantations, poor technology in the production process, a highly deficient market structure,
lack of certification of products, a deficit network transport, and poor supply of skilled labor,
lack of producer cooperatives. It was also observed that the production takes essentially
family character and only the parchment coffee is sold to the local market supplier, which
transports you to Luanda. Another important factor is the weak management structure of
production processes by producers, making it difficult to determine the production costs.
Keywords: Robusta coffee; production; processing; marketing; Uige
vii
ÍNDICE
AGRADECIMENTOS ......................................................................................................................................... iv
RESUMO........................................................................................................................................................... v
ABSTRACT ....................................................................................................................................................... vi
ÍNDICE DE GÁFICOS .......................................................................................................................................... x
ÍNDICE DE QUADROS ....................................................................................................................................... xi
ÍNDICE DE TABELAS ........................................................................................................................................ xii
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS ................................................................................................................ xiii
CAPITULO I INTRODUÇÃO ........................................................................................................... 1
1.1 Enquadramento ............................................................................................................................................ 1
1.2 O problema ................................................................................................................................................... 2
1.3 Objetivos ...................................................................................................................................................... 4
1.4 Motivações pessoais .................................................................................................................................... 4
1.5 Estrutura do Trabalho .................................................................................................................................. 4
CAPITULO II EVOLUÇÃO E CARATERIZAÇÃO DA CULTURA CAFEÍCOLA ....................... 6
2.1 Breve evolução histórica do Café ................................................................................................................. 6
2.2 Botânica do café ........................................................................................................................................... 7
2.2.1 Café Arábica .......................................................................................................................................... 7
2.2.2 Café Robusta ......................................................................................................................................... 7
2.2.3 O Café Libérica e o Café Excelsa ........................................................................................................... 8
2.3 Morfologia do cafeeiro ................................................................................................................................. 8
2.4 Produção e Processamento do café ........................................................................................................... 10
2.4.1 Produção ............................................................................................................................................. 10
2.4.2 Processamento do café ...................................................................................................................... 12
2.4.2.1 Processamento via Seca.............................................................................................................. 12
2.4.2.2. Processamento via Húmido ....................................................................................................... 12
2.4.2.3 A Limpeza do café ....................................................................................................................... 13
2.5 A Transformação do Café ........................................................................................................................... 13
viii
2.5.1 Café Verde Vs. Café Torrado e Moído ................................................................................................ 15
2.6 Sistema de Produção e a e Certificação do café ......................................................................................... 15
2.6.1 Certificação do café ............................................................................................................................ 16
2.7 Importância económica do café ................................................................................................................. 17
2.7.1 O café a nível mundial ........................................................................................................................ 17
2.7.2 A cafeicultura Angolana no Contexto Atual........................................................................................ 19
2. 8 Preços do café a nível mundial .................................................................................................................. 22
CAPITULO III METODOLOGIA ................................................................................................... 23
3.1 Definição da área de estudo ....................................................................................................................... 23
3.2 Definição de pesquisa ................................................................................................................................ 24
3.3 Escolha do método da pesquisa ................................................................................................................. 25
3.4 Instrumentos e técnicas de recolha de dados ............................................................................................ 26
3.4.1 Análise documental ............................................................................................................................ 26
3.4.2 Inquérito por questionário ................................................................................................................. 26
3.4.2.1 Critério de seleção da amostra ................................................................................................... 28
3.5 Métodos de tratamento e análise dos dados ............................................................................................. 28
CAPITULO IV ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS ................................................ 30
4.1 Caracterização socioeconómica dos produtores de café do Uíge .............................................................. 30
4.2 Produção de Café no Município ................................................................................................................. 34
4.3 Rendimento e autoconsumo agrícola ........................................................................................................ 35
4.4 Análise dos custos de produção e o processo de comercialização cafeícola no município do Uíge .......... 36
4.4.1. O processo produtivo ........................................................................................................................ 36
4.4.2 O Custo de Produção no Município do Uíge ....................................................................................... 37
4.4.3 Transformação do Café ...................................................................................................................... 40
4.4.4 Comercialização do Café ..................................................................................................................... 41
4.4.4.1 Margem de Lucro Comercial da cultura de café ......................................................................... 44
4.5 Matriz SWOT da região .............................................................................................................................. 47
4.6 Estratégias para melhorar a produção, comercialização e transformação do café ................................... 49
4.6.1 Estratégias para melhorar a produção e a transformação do café .................................................... 49
4.6.2 Estratégias para melhorar a comercialização e a qualidade do café .................................................. 50
CAPÍTULO V CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................................. 52
5.1 Conclusões .................................................................................................................................................. 52
5.2 Limitações do estudo ................................................................................................................................. 55
ix
5.3 Recomendações e perspetivas para estudos futuros ................................................................................. 56
BIBLIOGRAFIA ................................................................................................................................................ 59
ANEXO ........................................................................................................................................................... 62
x
ÍNDICE DE GÁFICOS
GRÁFICO 2.1 – PRODUÇÃO, EXPORTAÇÃO E CONSUMO MUNDIAL DO CAFÉ ...................................................... 17
GRÁFICO 2.2 - PRODUÇÃO E EXPORTAÇÃO AFRICANA ......................................................................................... 18
GRÁFICO 2.3 - PRODUÇÃO, CONSUMO E EXPORTAÇÃO NACIONAL ..................................................................... 21
GRÁFICO 2.4- PESO DA PRODUÇÃO E EXPORTAÇÃO ANGOLANA NA MUNDIAL .................................................. 22
.GRÁFICO 2.5- PREÇOS MUNDIAIS DO CAFÉ ......................................................................................................... 22
GRÁFICO 4.1 PESO DAS ATIVIDADES REMUNERADAS .......................................................................................... 38
DIAGRAMA 4.1- CIRCUITO DE COMERCIALIZAÇÃO DO CAFÉ NO UÍGE ................................................................. 42
xi
ÍNDICE DE QUADROS
QUADRO 2.1 CARATERÍSTICAS DIFERENCIADORAS DOS CAFÉS ARÁBICA E ROBUSTA ......................................... 10
QUADRO 4.1 EQUIPAMENTOS E FERRAMENTAS UTILIZADAS .............................................................................. 40
QUADRO. 4.2 MATRIZ SWOT DA PRODUÇÃO, TRANSFORMAÇÃO E COMERCIALIZAÇÃO DO CAFÉ ..................... 47
xii
ÍNDICE DE TABELAS
TABELA 2.1 PRODUÇÃO DE CAFÉ DOS PRINCIPAIS PAÍSES AFRICANO .................................................................. 18
TABELA 2.2 ESTRUTURA DA PRODUÇÃO CAFEÍCOLA ANGOLANA ........................................................................ 20
TABELA 4.1 - DISTRIBUIÇÃO DOS AGRICULTORES POR CLASSES DE IDADE .......................................................... 31
TABELA 4.2 – ESTADO CIVIL DOS PRODUTORES DE CAFÉ ..................................................................................... 31
TABELA 4.3 – NÍVEL DE ESCOLARIDADE ................................................................................................................ 32
TABELA 4.4 – TECNOLOGIA DE PRODUÇÃO .......................................................................................................... 33
TABELA 4.5 – TRAÇÃO UTILIZADA ......................................................................................................................... 33
TABELA 4.6 - ESTADO DO CAFEZAL ....................................................................................................................... 34
TABELA 4.7 NÍVEIS DE PRODUÇÃO POR HECTARE ................................................................................................ 34
TABELA 4.8 O ESPAÇAMENTO E COVEAMENTO DA PRODUÇÃO ......................................................................... 37
TABELA 4.9 ATIVIDADES REMUNERADAS ............................................................................................................. 37
TABELA 4.10 ESTRUTURA DOS PREÇOS DO CAFÉ DO GRÃO À CHÁVENA ............................................................. 42
TABELA 4.11 PRINCIPAIS PROBLEMAS INERENTES À PRODUÇÃO E COMERCIALIZAÇÃO ..................................... 43
TABELA 4.12 MARGEM DE LUCRO DA CULTURA DE CAFÉ – SEM OS CUSTOS COM A MÃO-DE-OBRA ................. 45
TABELA 4.13 MARGEM DE LUCRO DA CULTURA DE CAFÉ – COM OS CUSTOS COM A MÃO-DE-OBRA ................ 46
xiii
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
INCA- Instituto Nacional do Café
PAPAGRO: Programa de Aquisição de Produtos Agrícolas
1
CAPITULO I
INTRODUÇÃO
1.1 Enquadramento
Até 1974, a quase totalidade da produção de café derivava da espécie nativa de grande
qualidade Robustas (Amboim, Ambriz, Cazengo e Libolo), e apenas uma percentagem
inferior a 5% provinha da espécie Arábica, de regiões difusas no Planalto Central (Benguela,
Bié e Huambo) (Neto et al., 2009). Até então, Angola era o 4º produtor mundial de café,
representando este o seu principal produto de exportação.
De acordo com Odour (2005), antes da independência, cerca de 60% da área do café
encontrava-se em grandes plantações com mais de 100 hectares cada uma, que produziam
70% da cultura. Durante esta época, a produção ocupava uma área de 596.000 ha, atingindo
produções anuais de cerca de 230.000 toneladas, com produtividades médias situadas entre os
450-520 kg/ha de café verde.
Após a independência, a situação conjuntural que o país viveu, com quase 30 anos de guerra
civil, trouxe insegurança ao meio rural, levando a que a maioria dos produtores abandonasse o
país e, consequentemente, a grande maioria das fazendas viu as suas estruturas destruídas.
Face a esta situação de abandono das plantações empresariais, o governo angolano
nacionalizou a quase totalidade das explorações de café, assumindo o papel de produtor (Neto
et al., 2009; Odour, 2005). As estatísticas do INCA indicavam que a produção média das
empresas estatais rondava apenas cerca de 80 kg de café verde por ha, fruto da inexperiência
dos novos produtores, da má gestão e da falta de fatores produtivos essenciais para uma boa
produção.
Por outro lado, o período de quase 30 anos de guerra civil afastou muita gente dos seus locais
de origem, levando ao abandono das atividades agrícolas. Para além da guerra civil, existiram
vários fatores responsáveis pelo abandono da produção do café e pelos reduzidos níveis de
produtividade das plantações que permaneceram. Neto et al. (2009) referem alguns deles,
como a crise mundial do café resultante do desequilíbrio existente entre os fatores
fundamentais do mercado e a redução relativa do consumo mundial, o que gerou volatilidade
2
dos preços no mercado internacional e a sua respetiva descida para níveis nunca antes
atingidos; a estes fatores acrescem as dificuldades em conseguir mão-de-obra, a falta de
preparação técnica adequada dos trabalhadores, a degradação das vias de acesso e a existência
de uma deficiente rede comercial de apoio rural.
Segundo Neto et al. (2009), no que respeita à atual situação angolana – relativa à produção de
café – predominam as plantações com idade avançada e cultivares menos resistentes a pragas
e doenças, caraterísticas estas que resultam da instabilidade sócio-económica e política vivida
no período pós-independência. O abandono das plantações e a destruição de grande parte da
estrutura produtiva originaram severas quebras de produção.
Atualmente, a cafeicultura angolana é dominada por empresas agrícolas familiares com
plantações de baixa produtividade e que encontram inúmeras dificuldades de mercado. Neste
quadro, o Instituto Nacional de Café (INCA), sob orientação do Ministério da Agricultura,
tem vindo a desenvolver um conjunto de medidas que visam a recuperação do setor cafeícola
e incluem a recuperação da produção na extensão rural, novos métodos de investigação e
experimentação, e novas abordagens de comercialização e industrialização. Segundo o INCA
(2013) e em consequência das ações entretanto empreendidas, vive-se, atualmente, em
Angola, um ligeiro ambiente de recuperação das plantações e de toda a cadeia produtiva do
café.
O café é uma cultura perene, cuja fase produtiva se inicia apenas três a quatro anos após a
plantação, cultura esta que apresenta elevadas exigências a nível de investimentos em
maquinaria e equipamentos de beneficiação e melhoria. Deste modo, torna-se extremamente
importante existir um esforço de assistência por parte das entidades oficiais no que concerne à
produção, industrialização e comercialização do café.
1.2 O problema
A produção de café robusta constitui a principal espécie de café produzida em Angola,
atingindo uma percentagem de aproximadamente 97%. De acordo com Dilolwa (2000), cerca
de 94% da produção de café robusta encontrava-se concentrada nas regiões do Uíge, Kwanza-
Norte e Kwanza-Sul. Aliás, Odour (2005) refere também que 98% do café produzido em
Angola pertence principalmente à espécie robusta, devido à existência de condições edafo-
3
climáticas especialmente favoráveis ao desenvolvimento desta espécie, apontando também as
províncias do Bengo e de Cabinda como propícias à propagação e desenvolvimento da
mesma.
A região do Uíge, embora ocupasse o segundo lugar a nível da produção nacional,
apresentava maiores potencialidades de rendimento por hectare de produção: cerca de 460
Kg/ha contra os 453Kg/ha do Kwanza-Norte, que se havia perfilado na primeira posição, em
1973, com cerca de 82.500 toneladas produzidas, contra as 74.050 toneladas produzidas no
Uíge. Importa destacar, portanto, que a Província do Kwanza-Norte, apesar de apresentar
maiores níveis de produção de café e maior área de cultivo, tem uma capacidade produtiva
inferior à capacidade produtiva da região do Uíge, que possui maiores potencialidades de
produção de café a nível nacional (Dilolwa, 2000).
De fato, conforme mencionado, Angola, em 1974, atingiu o quarto lugar na produção mundial
de café e o primeiro lugar na produção em África (Neto et al., 2009); porém, a guerra civil, o
choque petrolífero e a crise mundial do café fizeram com que a produção do café entrasse em
decadência, secundarizando este tão importante produto nacional.
O atual quadro de produção do café na região do Uíge, tal como nas restantes zonas
produtoras de café do País, é bastante desolador, tendo em conta que parte dos cafezais foi
ocupada por outras culturas e os que permaneceram se encontram muito envelhecidos. Tal
cenário provocou uma mudança drástica na vida das pessoas que ali residiam. No entanto, o
setor do café continua a representar uma oportunidade singular de desenvolvimento e
crescimento económico para Angola. Assim, o espírito de diversificação da economia, aliado
aos níveis de preço no mercado internacional, tem servido como elemento catalisador para a
melhoria da produção, transformação e comercialização do café, com especial relevo para o
contributo do INCA neste setor. Em conformidade, a análise do estado do setor a nível local e
nacional mostra-se imperiosa, bem como a determinação a nível local dos custos de produção,
transformação e comercialização do café, nomeadamente no município do Uíge.
Neste sentido, compreender que mecanismos estratégicos permitirão melhorar a produção,
transformação e comercialização do café robusta no município do Uíge é de vital importância.
4
1.3 Objetivos
De acordo com a importância do problema em consideração, o objetivo geral desta
dissertação é analisar a produção, transformação e comercialização do café robusta no
município do Uíge, de modo a encontrar soluções e mecanismos que permitam a melhoria do
mesmo.
Para atingir este objetivo geral, é necessário observar os seguintes objetivos específicos, para
o município do Uíge:
- Identificar e caraterizar os sistemas de produção e de transformação de café;
- Identificar e caraterizar os circuitos de comercialização de café robusta no município;
- Determinar a estrutura os custos de produção, transformação e as margens de
comercialização – as margens de lucro;
-Identificar e sugerir mecanismos que visem a melhoria da produção, transformação e
comercialização de café robusta no município.
1.4 Motivações pessoais
Pessoalmente, enquanto cidadão angolano, é particularmente recompensador poder contribuir
com este estudo, que poderá sugerir novas ideias para a recuperação do setor do café e o
desenvolvimento da economia angolana. Tendo conta que não existe muito estudo sobre a
matéria no tecido literário de País.
1.5 Estrutura do Trabalho
A presente dissertação é composta por cinco capítulos, tendo o primeiro sido reservado aos
aspetos introdutórios respeitantes ao enquadramento do tema, à delimitação do problema a
estudar, bem como à estipulação dos objetivos pretendidos com o estudo.
O segundo capítulo está voltado para a análise teórica, procurando evidenciar a génese do
café, a sua tipificação, as caraterísticas da sua produção e consumo, quer a nível mundial, quer
em Angola,
No terceiro capítulo faz-se a definição da zona de estudo e descreve-se a metodologia adotada
na pesquisa empírica, destacando-se os instrumentos e técnicas de recolha de dados, a
5
descrição do questionário, os métodos de tratamento e análise dos dados e as limitações da
pesquisa.
No quarto capítulo são apresentados os resultados da pesquisa e procede-se à análise e
discussão dos mesmos. Ainda neste capítulo, ilustram-se os custos de produção do café
pergaminho.
Por fim, nas conclusões finais e recomendações, as perspectivas destacam-se os aspetos mais
relevantes extraídos deste estudo e são sintetizadas as principais soluções e sugestões que
visam minimizar os principais constrangimentos enfrentados pelo setor do café na região,
assim como as perspectivas para estudos futuros.
6
CAPITULO II
EVOLUÇÃO E CARATERIZAÇÃO DA CULTURA
CAFEÍCOLA
2.1 Breve evolução histórica do Café
O café é produzido em mais de 50 países não-áridos das regiões tropicais em quantidades
significativas, tendo, para muitos deles, uma grande importância económica derivada das
receitas geradas com a sua exportação. Com raras excepções, o café é produzido nos países
em vias de desenvolvimento. Contudo, a maior parte do consumo ocorre em países
industrializados e no Brasil, país que é o segundo maior consumidor mundial após os EUA.
Como agente de desenvolvimento, o café proporciona um meio de vida a milhões de pessoas
em todo o mundo, gerando rendimentos nas economias de subsistência, já que, como a sua
produção e colheita exigem mão-de-obra intensiva, constitui uma importante fonte de
emprego rural, tanto para homens como para mulheres (OIC, 2009).
Pensa-se que o cafeeiro será originário das regiões montanhosas do sul da Abissínia, situadas
em torno dos lagos centro-africanos, onde atualmente aparece como planta selvagem (Uckers,
1922). A sua disseminação enquanto bebida, assim como a sua propagação até aos trópicos
dever-se-á aos árabes, embora não seja possível encontrar nenhum registo fiável da existência
da espécie de Café Arábica até ao século XIII (Wellman, 1961).
A política estrita dos árabes, porém, era de não exportar grãos férteis, para que o café não
pudesse ser cultivado em nenhum outro lugar. Sucede que, em 1616, os holandeses
finalmente conseguiram apropriar-se de algumas sementes férteis e proceder ao seu cultivo
em viveiros, na região de Malabar, Índia e na Batávia (Java), região da atual Indonésia. A
disseminação do café, foi resultado do plantio de um cafeeiro proveniente de Java no Jardim
Botânico de Amesterdão, que originou mudas que, posteriormente, foram oferecidas aos
principais jardins botânicos da Europa (Bicho, 2011).
O café foi trazido para a Europa, em 1645, através de Veneza, onde abriu o primeiro café
público.
7
A introdução do café em Angola é anterior à europeia, pensando-se que tenha sido
introduzido por missionários portugueses, sendo o Robusta o dominante. Já em S. Tomé, o
cafeeiro Arábica foi introduzido a partir do Brasil no início do século XIX.
2.2 Botânica do café
O cafeeiro é um arbusto e pertence à família das Rubiaceae, género Coffea. Este género
compreende uma série de espécies e de variedades formadas ao longo do tempo a partir de
híbridos naturais entre as plantas espontâneas e de seleções genéticas por parte dos produtores
(Wellman, 1961). Do ponto de vista estritamente botânico, é impossível realizar uma
classificação sistemática e completa, pelo que se torna mais simples enumerar as espécies
mais importantes do ponto de vista económico, ou seja, aquelas que se cultivam em larga
escala com fins industriais e que são o Coffea arabica, o Coffea canephora, o Coffea excelsa e
o Coffea liberica (Gaspar, 1998).
2.2.1 Café Arábica
O Coffea arabica, conhecido como Arábica, representa mais de 60% da produção mundial e
assume grande importância económica nas regiões que o cultivam. É um produto de qualidade
superior, apreciado no mundo inteiro e de grande aceitação nos mercados consumidores.
Até 1870 foi a única espécie cultivada no mundo e atualmente é maioritariamente cultivada na
América Central e do Sul. As variedades mais importantes são a Typica e a Bourbon, sendo a
primeira cultivada no Brasil, África Oriental e em algumas regiões da Ásia; e a segunda com
predominância na América Central e do Sul e em pequenas zonas da África Oriental.
A sua cultura apresenta excelentes resultados em regiões montanhosas com altitude entre mil
e dois mil metros. É adaptado ao clima húmido com temperaturas amenas e o seu cultivo é
mais adequado em regiões de temperaturas médias entre 18°C e 23°C. Em regiões mais
quentes, com elevada humidade atmosférica, na ocasião da floração, poderá apresentar boa
frutificação desde que não existam deficiências hídricas.
2.2.2 Café Robusta
O Coffea canephora, conhecido como café Robusta, é originário da África Equatorial, onde
surge espontaneamente nas florestas. Hoje é mundialmente conhecido devido à sua ampla
distribuição nos continentes africano e asiático, à sua capacidade de adaptação a climas com
8
elevadas temperaturas e fortes precipitações, ao seu vigor vegetativo e abundante produção e
à resistência a doenças climáticas. O seu desenvolvimento inicial é mais lento que no arábica
mas pode atingir até 10 metros de altura nas regiões quentes e húmidas. É uma planta oriunda
de regiões equatoriais baixas, quentes e húmidas, adaptada a condições de temperatura muito
elevadas, com médias anuais entre 22°C e 26°C e praticamente não sofre quaisquer problemas
de frutificação. As lavouras são bastante produtivas, exibindo grande variedade quanto ao
tamanho, formato e maturação dos frutos. O robusta é responsável por 80% da produção
africana e asiática (Bicho, 2011). Mais produtivo e com menores custos, apresenta, contudo,
gosto e aroma inferiores aos do Arábica, pelo que o seu consumo está limitado às populações
locais e a alguns países importadores ou à preparação de misturas comerciais.
A espécie robusta é mais resistente a doenças e intempéries climáticas. O seu consumo é
garantido pelas indústrias de café solúvel, que costuma utilizá-lo no blend dos seus produtos.
A diferença dos custos de produção entre esta espécie e a arábica reflete o facto de os
cuidados a nível da cultura do grão robusta serem bastante menores. As duas variedades mais
importantes e conhecidas da espécie são o Robusta e o Kouillou.
2.2.3 O Café Libérica e o Café Excelsa
Estas espécies revestem menor importância a nível mundial, quer pelo volume da sua
produção, quer pela qualidade das espécies. O Coffea liberica, conhecido vulgarmente por
Libérica, é uma planta pequena de folhas muito grandes. É originária de Angola, tendo sido
também cultivada na Libéria donde lhe vem o nome. Pela sua resistência às royas adquiriu
grande importância mas a sua qualidade medíocre reduziu de imediato a sua fama. Não
obstante, continua a cultivar-se em certas zonas da África Ocidental e da Indonésia, onde a
sua produção é, em larga escala, superada pela variedade robusta. O Coffea Excelsa,
conhecido vulgarmente por Excelsa, é uma árvore de grandes dimensões que cresce em zonas
semiáridas. Desta espécie existem apenas pequenas plantações na África Equatorial.
2.3 Morfologia do cafeeiro
O sistema radicular do cafeeiro adulto é constituído por um eixo central pivotante, cónico, que
atinge normalmente uma profundidade de 50-60 cm com dois tipos de raízes de primeira
ordem. As axiais, nas quais se baseia a fixação da planta, e as que crescem horizontalmente,
9
das quais brotam principalmente as radículas absorventes, que em mais de 80% se localizam
nos 30 cm superficiais do solo.
O sistema radicular do Robusta é mais superficial que o Arábica.
Nos nós salientes do caule inserem-se as folhas opostas duas a duas. Na axila das folhas
aparecem dois tipos de gemas: as gemas múltiplas que dão origem a ramos semelhantes
aquele onde se inserem e que se localizam muito próximo da inserção do pecíolo; outras que
são as gemas simples que dão origem a ramos laterais e se localizam cerca de meio centímetro
acima do local de inserção do pecíolo.
As folhas do cafeeiro são inteiras e opostas, persistentes em condições meteorológicas
favoráveis, tornando-se caducas em condições ambientais menos favoráveis. O pecíolo é
curto, a cor é bronzeada quando novas, e verde escura quando adultas. A forma é elíptica,
sendo brilhantes na face superior e sem brilho na face inferior, variando o número de folhas
entre 2 e 19 por axila foliar.
No cafeeiro as primeiras flores aparecem normalmente quando as plantas têm 3-4 anos. As
flores distribuem-se em glomérulos axilares mais ou menos densos, raramente aparecendo
isolados. Cada glomérulo pode apresentar entre 1 a 5 flores protegidas por um epicálice.
As flores são geralmente dimorfas e laterias, com aroma mais ou menos característico. O
ovário situa-se na extremidade do pedúnculo da flor, e contém, normalmente, dois óvulos. O
cálice é composto por sépalas quase sempre sem cor verde. A corola é constituída por folhas
profundamente modificadas, denominadas pétalas. O androceu, aparelho reprodutor
masculino, é constituído pelos estames, formados encontram-se por filetes e anteras. Os grãos
de pólen, ou elementos reprodutores masculinos da planta, encontram-se nas anteras.
O gineceu, aparelho reprodutor feminino, é constituído de folhas modificadas, denominadas
folhas carpelares ou carpelos, com a função de sustentar e proteger os óvulos. Depois da
fecundação todos os elementos da flor normalmente atrofiam-se, permanecendo apenas o
ovário, que sofre modificações até se transformar em fruto.
O fruto do cafeeiro – o que verdadeiramente nos interessa - é uma drupa, vulgarmente
conhecido por cereja. É composto pelo pericarpo e pela semente. Os frutos são semi-secos e
semi-carnosos, possuindo um pedúnculo curto, e são ovais elípticos, vermelhos ou amarelos,
apresentando uma superfície lisa e brilhante quando estão maduros. O óvulo fecundado e
10
desenvolvido constitui as sementes, que são oblongas, plano-convexas, de coloração verde ou
amarela e cobertas por uma película prateada.
Existem muitas caraterísticas que distinguem o café robusta do café arábica, podendo as
mesmas revestir caráter botânico, agronómico ou morfológico, conforme se encontra descrito
no Quadro 2.1.
Quadro 2.1 Caraterísticas diferenciadoras dos cafés arábica e robusta
Parâmetro Arábica Robusta Clima ideal temperado húmido quente Altitude (m) 1000-2000 0-700 Temperatura (°C) 15-24 24-30 Pluviosidade (mm/ano) 1500-2000 2000-3000 Cromossomas 44 22 Sistema radicular profundo superficial Floração após as chuvas irregular Forma do fruto (cereja) ovalado arredondado Amadurecimento 7-9 meses 10-11 meses Semente achatada ovalada Cerejas maduras caem permanecem Hemileia vastatrix suscetível Resistente Teor de cafeína do grão 0,8-1,4% 1,7-4,0%
Fonte: www.ico.org
2.4 Produção e Processamento do café
2.4.1 Produção
Em linhas muito gerais, podemos dizer que a produção de café compreende três etapas:
instalação, incluindo a produção de mudas; plantação e, por último, manutenção. Esta última
etapa é a mais longa, durando três anos e terminando após a realização da primeira colheita. A
manutenção da plantação é, sem dúvida, a etapa que exige maior atenção e cuidados por parte
dos cafeicultores, devendo ser realizada de forma intensa e criteriosa até a planta atingir uma
performance favorável para o arranque da produção. A colheita é, então, realizada, com uma
periodicidade anual, em virtude de o cafeeiro ser uma cultura perene.
A produção de mudas de boa qualidade é fundamental para o sucesso da cultura. Estas
permitem o desenvolvimento regular da plantação, a produção inicial precoce e a obtenção de
maiores rendimentos por hectare.
A produção de mudas de café é, geralmente, realizada em viveiros sob condição de meia-
sombra; ou seja, encontra-se altamente dependente das situações de temperatura, radiação,
11
luminosidade e ainda de fertilidade do solo, em estreita ligação com a espécie utilizada (Ricci
et al. 2006). Quando utilizado, o sombreamento é feito através de árvores plantadas entre os
cafeeiros. As espécies mais utilizadas para este fim são Albizzia stipulata, Albizzia falcata,
Albizzia malcocarpa, Grevillea robusta, Erythrina edulis, Cassia siameia, entre outras. As
árvores de sombreamento influenciam o desenvolvimento da planta modificando o ambiente,
refrescando o ar e aumentando a humidade. Os resíduos orgânicos que produzem contribuem
para melhorar a fertilidade do solo e, portanto, para a obtenção de frutos grandes e saudáveis.
Se o sombreamento for feito de uma forma regular, a frutificação é menos precoce, menos
contínua e mais moderada.
O café robusta, planta de crescimento contínuo, apresenta o desenvolvimento de ramos
verticais e horizontais, que vão envelhecendo e, após um determinado número de colheitas, se
tornam pouco produtivos. Após mais de três colheitas, as hastes verticais tornam-se mesmo
improdutivas, pelo que se deverá proceder à poda gradual destas hastes (Pochet, 1987, citado
por Mahinga, 2011). Esta poda mantém uma relação adequada de colheita/área foliar,
estabiliza o nível de produção, ajuda na eficiência do controlo fitossanitário, mantém o
arejamento da planta, facilita a entrada de ar e luz, evita a morte descendente de ramos,
troncos e raízes, o que facilita e adequa a lavoura para a colheita (Pereira, 1989 citado por
Mahinga, 2011). De acordo com Miranda (2011), mesmo produzindo, os resultados da planta
não podada são sempre mais baixos quando comparados com os das plantas podadas porque
os ramos “ladrões” têm apenas a capacidade de produção de uma planta de 2-3 anos de idade.
A colheita dos frutos é feita após a maturação dos mesmos, ou seja, quando estes frutos
atingem a cor avermelhada nas variedades normais ou amarela nas variedades amarelas.
O tempo requerido para a maturação oscila entre os 6 e os 8 meses para as variedades do
arábica, sendo de 9 a 11 meses para os robustas. Para os excelsas e libericas este período é um
pouco mais dilatado, ou seja, 11-12 meses e 12-14 meses, respetivamente.
Os frutos do arábica caem com facilidade depois de maduros ou secam rapidamente na planta,
enquanto nos robustas permanecem mais tempo no estado de cereja, pelo que o período de
colheita pode ser mais dilatado no tempo.
Segundo Wellman (1961), os métodos de colheita de café mais frequentes são a derriça no
chão, a derriça no lençol ou no pano, a colheita a dedo e a colheita mecânica. A colheita a
12
dedo é o método mais perfeito, já que permite colher somente os frutos maduros, sem se
colherem os verdes.
O cafeeiro está sujeito ao regime de safra e de contra-safra, rendendo uma produção elevada a
cada dois anos ou, mais raramente, a cada três anos.
2.4.2 Processamento do café
Após a colheita dos frutos do cafeeiro, é necessário submetê-los a um conjunto de operações,
para que possam ser armazenados e comercializados. Essas operações passam pela remoção
dos grãos do café que são as sementes do fruto que se assemelha a uma cereja, e que
normalmente contém dois grãos de café. Após a remoção dos grãos, faz-se a respetiva
secagem e posterior torrefação.
O processamento do café pode ser feito através da via seca ou da via húmida: o primeiro é
geralmente usado para o café robusta; enquanto o segundo é quase exclusivamente utilizado
para os arábicas.
2.4.2.1 Processamento via Seca
O tratamento por via seca é o método mais antigo, mais simples e o que exige menos
maquinaria: após a colheita, as cerejas são selecionadas e limpas, com a finalidade de separar
as não maduras, as sobremaduras e as deterioradas, e visando ainda eliminar impurezas como
terra, galhos e folhas.
No processamento a seco, antes do descasque, utiliza-se a terminologia “café coco (cereja
seca)” e o café verde final é apelidado de “café de terreiro”; enquanto que, no processamento
a húmido, o café despolpado é conhecido como café pergaminho e o café verde final é
simplesmente chamado café despolpado. Esta operação pode ser feita manualmente, ou
recorrendo a secadores mecânicos.
2.4.2.2. Processamento via Húmido
O processamento por via húmida exige grandes quantidades de água e também equipamento
específico. A transformação do café coco (via seca) ou do café pergaminho (via húmida) em
café verde requer a sua limpeza, descasque e escolha final do grão de café (Gaspar e
Monteiro, 2001).
13
Correia (1995), afirma que o café processado por via húmida apresenta melhor qualidade,
porque se trabalha somente com grão maduros e também pelo facto do café produzido por via
seca ter a possibilidade de formar microorganismos, pois o grão mantem a humidade por mais
tempo
2.4.2.3 A Limpeza do café
A limpeza das impurezas do café é efetuada através de seletores mecânicos, de crivos
vibratórios e ainda através de ventiladores. Após a limpeza, o café é descascado através do
recurso de descascadores de percussão ou de fricção. Após o descasque, os grãos são sujeitos
a calibração em máquinas dotadas de crivos com movimentos oscilatórios ou rotativos.
Depois desta operação, os grãos de café são sujeitos a uma última operação de limpeza, que
pode ser feita à mão ou utilizando catadores eletrónicos e com radiação ultravioleta.
O café em grão é, então, guardado em tulhas de madeira, convenientemente separadas do
chão, bem ventiladas e com dimensões apropriadas.
2.5 A Transformação do Café
O processamento para obtenção de café verde obedece a um conjunto de etapas após a
colheita e, como já referido em 2.4.2, pode ser efetuado por via seca ou por via húmida. O
processo de industrialização acelera e melhora a estrutura de exportação do café, dado que
ajuda a definir um modelo final de importação dos produtos. Por outro lado, a industrialização
da produção cafeícola reforça a incorporação de tecnologia moderna na cadeia produtiva do
café. A industrialização é fortemente influenciada e influencia também ela própria o contexto
económico, já que ajuda a estimular novos empreendedores, a animar o processo de torrefação
e moagem do café. Normalmente, os novos investidores trazem consigo ousadia,
profissionalismo, criatividade - caraterísticas indispensáveis para o aumento dos níveis de
exportação (Vegro, 2008).
O processo de industrialização é também um forte vetor para o estímulo do agronegócio no
sector cafeícola, ajudando a estruturar a cadeia competitiva da produção cafeícola. A
substituição do café verde por café industrializado torrado e moído acarreta elevados
benefícios, tanto para as empresas do setor cafeícola como para o Governo. As empresas
14
beneficiarão de inúmeras vantagens com a construção de uma estrutura operante no e com o
exterior, agregando mais valor e a melhorando a competividade.
A definição de agronegócio engloba todas as operações de produção e distribuição de
suprimentos agrícolas e nas unidades agrícolas, assim como as operações de armazenamento,
processamento e distribuição. Desta cadeia devem ainda fazer parte os serviços financeiros,
de transporte, marketing, seguros, bolsas de mercadorias, etc…
Vegro (2008) afirma que a agregação de valor no processo de industrialização do café pode
resultar de diversos fatores:
a) Em quantidades iguais, o café torrado e moído vale mais do que o café verde;
b) Possibilidade de preços mais rentáveis no mercado externo, com moeda forte, do que
no mercado interno;
c) A embalagem agrega valor;
d) Diminuição dos custos de frete.
A economia Angolana – potencialmente forte na produção de café – poderá, num cenário de
aproveitamento do seu potencial, estimular a produção cafeícola e, consequentemente,
implementar um processo de industrialização do café, gerando, deste modo, mais empregos e
rendimentos. Tal cenário estimularia também o surgimento de uma classe de pequemos e
médios empreendedores e melhoraria o saldo na balança comercial – que atualmente é
maioritariamente caraterizada pela exportação petrolífera. O atual estado de industrialização
do país é bastante animador, embora não se verifiquem grandes iniciativas a nível da
industrialização no setor cafeícola. Odour (2005) realça que o parque da indústria de
descasque do país é desatualizado e praticamente inexistente, o que conduz a um reduzido
nível de rendimento, já que os produtores são forçados a vender apenas o café pergaminho.
O café torrado e moído, tratando-se de um produto com maior valor agregado, seria altamente
desejável para a economia Angolana. Assim, Angola poderia tornar-se numa grande potência
exportadora, tendo em conta as suas potencialidades produtivas: o objetivo seria incentivar a
produção, industrialização e comercialização do café, passando da atual produção familiar,
para uma produção empresarial com outros níveis de organização e regulamentação,
orientando igualmente novos rumos para o agronegócio do café.
15
2.5.1 Café Verde Vs. Café Torrado e Moído
A base produtiva de Angola, potencial produtor de café, consiste apenas na produção de café
coco, ignorando outros importantes processos da cadeia de produção cafeícola, tais como os
processos de torrefação e moagem.
Na realidade, os países importadores do café verde – como os Estados Unidos, Itália, Bélgica
e, fundamentalmente, a Alemanha – ocupam lugares de destaque como grandes exportadores
de café processado, colocando-se em posições privilegiadas no mercado global do café
torrado e moído (Embrapa, 2010). Este cenário permite que estes países capturem, em
proveito próprio, montantes muito expressivos das transações efetuadas com esse produto.
Na verdade, os países produtores de café verde normalmente não associam o processo de
produção cafeícola ao processo de industrialização do café. O fraco desenvolvimento
tecnológico de Angola coloca-a na simples posição de exportadora de café coco Há uma
produção muito tímida de café verde, uma vez que são poucos os produtores que dispõem de
uma máquina de descasque, o que se reflete em reduzidos níveis de valor acrescentado.
Odour (2005) afirma que existem, em Angola, cerca de 4-5 companhias que garantem o
processo de torrefação de café, que é normalmente vendido no mercado nacional. Tal cenário
indica-nos a fraca participação angolana no processo de transformação do café.
2.6 Sistema de Produção e a e Certificação do café
O sistema de produção cafeícola de Angola é caracterizado essencialemte por dois tipos de
agentes agrícolas. O familiar ou camponês e o comercial ou empresarial. A produção familiar
que é a produção dominante no país, é feita em pequena escala, o que dificulta o pleno
funcionamento da cadeia de produção por falta de estruturação e organização. Por exemplo,
em Angola, dois dos componentes da cadeia produtiva de café, o processo de transformação e
de comercialização do café, funcionam de forma desarticulada e ineficiente. A
comercialização ocorre entre o produtor e o intermediário, que recolhe o café à porta dos
produtores, efetua o descasque e vende em Luanda, daí partindo para outras regiões do
mundo, essencialmente Portugal e Espanha, Holanda, Itália, Alemanha (Odour, 2005). Este
autor afirma que o café de Angola é bastante apreciado a nível internacional
16
fundamentalmente para as misturas, mas peca pela sua fraca qualidade, apresentando um
gosto velho e falta de homogeneidade.
Bicho (2011) indica-nos que, nos últimos 10 anos, têm emergido novos valores associados à
produção de café, relacionados com os conceitos de qualidade, origem e natureza. Tem
havido um interesse crescente em assuntos como o impacto dos sistemas de certificação no
agricultor com particular incidência nos países emergentes. Hoje, a questão da qualidade nos
alimentos está intimamente relacionada com a segurança alimentar.
Deste modo, a certificação alimentar surge como um meio de demonstração da qualidade e de
obtenção de confiança dos consumidores com os quais os produtores não têm contacto direto.
2.6.1 Certificação do café
A certificação do produto apresenta diversos benefícios para os consumidores e produtores.
De facto, ela responde a exigência das nações ocidentais no que respeita a ética,
sustentabilidade ambiental e justiça social em relação a forma de produção, com reflexo muito
positivos nos produtores com produtos certificado.
A certificação do produto do café garante a sua origem e qualidade. Para o produtor, a
certificação enquadra o produto num segmento diferenciado, através da rotulagem, que o
valoriza e o protege de eventuais fraudes praticadas no mercado.
Em Angola, face ao quadro sombrio que carateriza a produção cafeícola, não existe uma
legislação específica que oriente o processo de certificação do café, nem as organizações não-
governamentais que se dediquem a este assunto. De acordo com Odour (2005), a qualidade do
café angolano foi posta em causa, tendo em conta a falta de homogeneidade, gosto velho, cor
amarelada e baixo nível de humidade, o que resulta da falta de controlo da qualidade: não
existem entidades (laboratórios) competentes para garantir o processo de controlo de
qualidade e a sua posterior certificação. Em Angola apenas existem estações de
experimentação, tecnologicamente atrasadas e incapazes de conferir certificação que garanta a
qualidade do café produzido no país (Odour, 2005).
17
2.7 Importância económica do café
2.7.1 O café a nível mundial
A produção mundial, entre 2002 e 2012, registou um aumento de mais de 100.000 toneladas
O mesmo ritmo foi observado nas exportações deste período: estas têm crescido, tendo
atingido o ápice no ano de 2012. Ritmo semelhante foi observado no consumo mundial
(Gráfico 2.1).
Gráfico 2.1 – Produção, Exportação e Consumo Mundial do café
Fonte: www.oic.org acedido em 10 /06/2014.
Já em África, verificou-se que, ao longo dos anos, a produção de café teve uma forte
expressão, tendo colocado países africanos na linha dos maiores produtores mundiais. A sua
produção tem sofrido fortes declínios ao longo dos últimos 10 anos devido a guerra civil que
assola grande parte dos seus estados.
No entanto quer produção, quer as exportações africanas têm vindo a aumentar nos últimos
anos como se pode visualizar o gráfico (Gráfico 2.2). É importante sublinhar que o deficiente
0
20.000
40.000
60.000
80.000
100.000
120.000
140.000
160.000
(00
0 t
on
)e
Anos
Produção Mundial
Exportação Mundial
Consumo Mundial
18
sistema de controlo estatístico não nos permite dar dados consistentes sobre a estrutura de
consumo do café em África
Gráfico 2.2 - Produção e Exportação Africana
Fonte: www.oic.org acedido em 10 /06/2014.
As exportações em grande parte dos principais produtores de café, ou seja entre 2008 a 2013
estiva muito próximas da produção, demostrando que grande parte da produção é exportada
para outras regiões do globo, tendo em conta o fraco consumo e a incipiente capacidade de
transformação do café, por outro lado estão também associados ao fraco sistema estatístico
dos países produtores ( ver tabela 2.1).
Tabela 2.1 Produção de café dos principais Países Africano
África
Anos de Produção e Exportação (toneladas)
2008/09 2009/10 2010/11 2011/12 2012/13
Produção Exportação Produção Exportação Produção Exportação Produção Exportação Produção Exportação
Angola 38 8 13 9 35 5 29 9 33 8
Burundi 412 351 112 103 353 351 204 202 406 406
Camarões 750 540 750 780 503 503 574 574 635 *
Costa do Marfim 2397 1301 1795 1170 982 958 1886 1644 2000 *
Etiópia 4949 1868 6931 2904 7500 3022 6798 2832 8100 *
Kenya 541 541 630 507 658 672 680 650 767 *
19
Uganda 3290 3054 2845 2669 3203 3150 2817 2727 3200 *
Fonte: www.ico.org. consultado em 19/03/2015
* Dados indisponíveis
2.7.2 A cafeicultura Angolana no Contexto Atual
A produção de café na década de 70 atingiu cerca de 270 mil toneladas, tendo Angola
figurado na 4ª posição mundial (Odour, 2005). De acordo com Neto et al. (2009), em Angola,
a situação presente da produção de café vive algumas dificuldades, com elevadas quebras de
produção devidas não só à idade avançada das plantações e à utilização de cultivares menos
resistentes a pragas e doenças, mas também ao abandono das plantações e destruição de
grande parte da estrutura produtiva verificada no período pós-independência. Após a
independência, os níveis de produção alteraram-se significativamente devido ao processo de
nacionalização iniciado pelo governo no quadro da descolonização. Odour (2005) refere
também que a experiência trazida pelos novos proprietários era muito limitada, o que o que
provocou uma mudança drástica nos níveis de rendimento dos cafezais e, consequentemente,
na produção.
De acordo com o INCA (2013), a cadeia produtiva do café em Angola carateriza-se, na fase
atual, por um ambiente de recuperação ténue das plantações e de toda a cadeia produtiva que,
depois de anos de abandono, necessita de investimentos avultados a todos os níveis.
O café é uma cultura perene, bastante exigente a nível da imobilização de ativos
(especialmente maquinaria e equipamentos de beneficiação), cuja fase produtiva se inicia
apenas três a quatro anos após o plantio, pelo que o processo de recuperação produtiva se
torna, muitas vezes, longo.
Angola, após a independência, entrou num período de conflito armado, o que provocou a fuga
das populações das zonas de produção e, por conseguinte, o abandono da produção de café em
muitas regiões.
De acordo Odour (2005), a área de cultivo, antes da independência, era de 596.000 hectares, o
que justificava os altos níveis de produção. Hoje, o cenário é bastante desolador, com uma
área de produção que não chega aos 50.000 hectares, embora se reconheça que a área
potencial é superior a 550.000 hectares (INCA,2013).
20
Tabela 2.2 Estrutura da Produção Cafeícola Angolana
Província
Nº cafeicultores Área com café (ha) Total
Exp. Agrícola Familiar
Exp. Agrícola
Empresarial
Exp. Agrícola Familiar
Exp. Agrícol
a Empresarial
Cafeicultore
s Nº
Área (ha)
Cabinda 1.530 - 2.601 - 1.530 2.601 Bengo 2.018 50 3.945 1.000 2.068 4.945 K.Sul 6.643 272 11.293 5.440 6.915 16.733 K. Norte 4.567 - 6.04 - 4.567 6.064 Uige 6.697 150 11.384 3.000 6.847 14.384 Benguela 730 - 1.190 - 730 1.190 Huambo 6.99 - 1.188 - 699 1.188 Bié 7.73 - 1.314 - 773 1.314 Malanje 390 - 530 - 390 530 Huila 370 - 490 - 370 490
TOTAL 24.889 472 39.999 9.440 25.361
49.439
Fonte: INCA ( 2013).
Ainda de acordo com INCA (2013), 98% da base de produção de café encontra-se
concentrada em explorações familiares, com cerca de 25.000 produtores, correspondendo 1,6
ha de café por produtor. Analisando a Tabela 2.2, verifica-se que cerca de 81% da área total
com café é detida por explorações agrícolas familiares. As explorações familiares têm, em
média, 20 ha de café. Somente as províncias do Bengo, Kuanza Sul e Uíge apresentam
participação empresarial na produção cafeícola, o que justifica os fracos níveis de produção
cafeícola angolana.
O Gráfico 2.3 sintetiza a relação entre a produção, exportação e consumo de café em Angola
entre 2002 - 2012. Da análise do Gráfico, podemos concluir que parte substancial do café
produzido em Angola foi consumido internamente, a julgar pelas diferenças, em cada ano
produtivo, entre produção e exportação: podemos observar que os níveis de exportação ficam
muito abaixo dos níveis de produção. Por outro lado, os níveis de consumo têm também
crescido consideravelmente, o que provavelmente se deve ao facto de existir grande procura
21
de café a nível local, determinada pela imigração de indivíduos com fortes hábitos de
consumo da bebida.
Gráfico 2.3 - Produção, Consumo e Exportação Nacional
Fonte: www.ico.org acedido em 10 /06/2014
O peso da exportação nacional na mundial tem vindo a decrescer fortemente, o que de certo
modo acompanha o peso da produção nacional na mundial, na qual se verifica o valor mais
baixo ocorrido em 2009 (Gráfico 2.4).
0
10
20
30
40
50
60
2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012
Pro
du
ção
,Co
nsu
mo
e e
xpo
rtaç
ão
(00
0to
n)
Anos
Produção Nacional
Exportação Nacional
Consumo Nacional
22
Gráfico 2.4- Peso da Produção e Exportação Angolana na Mundial
Fonte:www.ico.org acedido em 10 /06/2014.
2. 8 Preços do café a nível mundial
Os preços do café, a nível mundial, têm aumentado consideravelmente, conforme podemos
verificar no Gráfico 2.5, com uma ligeira queda em 2009, provocada pela baixa procura
resultante da crise económica e financeira que assolava a economia mundial, que afetou o
consumo nos principais países consumidores e consequentemente, afetou a produção dos
grandes produtores a nível mundial.
.Gráfico 2.5- Preços Mundiais do Café
Fonte: www.ico.org acedido em 10 /06/2014
0
0,01
0,02
0,03
0,04
0,05
%
Anos
Peso da Produção Nacionalna Mundial
Peso da Exportação Nacionalna Mundial
0,00
20,00
40,00
60,00
80,00
100,00
120,00
140,00
( V
alo
res
Usd
)
Anos
Preço Mundial do café
23
CAPITULO III
METODOLOGIA
O presente capítulo visa apresentar os argumentos metodológicos do trabalho efetuado,
partindo da definição da área de estudo, e da definição de pesquisa, passando pela escolha do
método da pesquisa – pesquisa qualitativa ou quantitativa – estudo de caso, critério e seleção
da amostra e instrumentos de pesquisa utilizados.
3.1 Definição da área de estudo
O estudo foi desenvolvido na província do Uíge, província cafeícola
A Província do Uíge situa-se na parte Norte da República de Angola, fazendo fronteira a
Norte e a Leste com o Congo Democrático; a Oeste com a Província do Zaire; a Sul com as
Províncias do Bengo e Kwanza Norte; e a Sudeste com a Província de Malanje. A Província
do Uíge estende-se entre os paralelos 5º 50’ e 8º 20’ de latitude Sul e os meridianos 14º 50’ e
17º 10’ de longitude este; tem uma superfície de 58.698 Km2,
e uma população estimada de
1.908.347 habitantes, residentes em 16 municípios e a sua capital é o município do Uíge
(www.uige.gov.ao).
Na região, os solos dominantes são do tipo fersialíticos tropicais, que são solos de grande
interesse agrícola, com grandes reservas aquíferas e uma boa drenagem interna; solos
paraferralíticos avermelhados, bastante produtivos, quase todos ocupados com explorações de
café; solos paraferralíticos amarelados, profundos e frescos, com bons níveis de fertilidade e
condições favoráveis ao desenvolvimento vegetativo; solos ferralíticos de textura fina, muito
espessos, praticamente sem reservas minerais e, por isso, com escasso valor agrícola, embora
revelem aptidão para determinadas culturas, como a mandioca e o amendoim (Diniz, 1973).1
24
Quanto à vegetação, a floresta densa húmida semicaducifólia domina largamente,
independentemente das condições topográficas. Aparecem também manchas de mosaico de
savana com arbustos e floresta densa húmida (Diniz, 1973).
O enquadramento topográfico da província e as suas condições ecológicas ressaltam a sua
vocação agrícola, pecuária, silvícola e piscícola. As caraterísticas ecológicas aliadas à
abundância de água, além de proporcionarem as condições ideais para a cultura de café, e
também da palmeira dendém, conferem à província vastas possibilidades de ampliar a
diversificação agrícola em todo o seu território, embora tal diversificação possa depender da
concessão de apoios substanciais.
A atividade agrícola é um dos maiores potenciais económicos da província. A produção
agrícola é caraterizada pelas seguintes culturas: café (principal atividade no tempo colonial),
mandioca, batata doce, feijão, ervilha do Congo, banana e palmeira de dendém. A atividade
pecuária é dominada pela criação de gado bovino, caprino e suíno e ainda a produção de aves.
A piscicultura tem lugar nas suas diversas lagoas; enquanto que a pesca artesanal se pratica-se
ao longo de rios, nomeadamente ao longo do rio Cuango.
Quanto à silvicultura, os recursos florestais são explorados de forma pouco sistematizada, não
existindo manutenção da vegetação. Na exploração florestal, a produção de madeira é baseada
no corte de essências rústicas e no transporte de toros para serração dentro e para fora da
província. para serração.
O Uíge é uma das maiores regiões de produção de café, sendo conhecida como a terra do baco
vermelho. É uma zona cuja produção cafeícola é caraterizada pela espécie robusta e apresenta
a maior área de produção cafeícola familiar cerca de – 11.384 ha e o maior número de
produtores quer familiar quer empresarial como se pode observar na tabela 2.1, evidenciando,
assim, a sua tradição na produção cafeícola (INCA, 2013).
3.2 Definição de pesquisa
Segundo Clark e Castro (2003), a pesquisa tem como objetivo desenvolver o processo de
construção do conhecimento, discordando ou corroborando com o conhecimento existente e
tendo por base métodos científicos que possam ser reproduzidos e validados. A pesquisa
científica é uma ferramenta extremamente importante para a compreensão de distintos
25
fenómenos, de modo a corrigi-los ou melhorá-los. Se um país não investir em investigação
científica, terá de pagar muto caro pela ciência dos outros (Zassala, 2010).
Gil (1999, p.42) define pesquisa como: “o processo formal e sistemático de desenvolvimento
do método científico. O objetivo fundamental da pesquisa é descobrir respostas para
problemas, mediante o emprego de procedimentos científicos.” O mesmo autor classifica as
pesquisas em três grupos: exploratórias, descritivas e explicativas que verificam hipóteses
causais. Para este autor, as pesquisas que verificam hipóteses causais são adotadas na
atualidade com outra definição, descritas como explicativas. O objetivo principal da pesquisa
exploratória é desenvolver, esclarecer e modificar conceitos e ideias, com base na formulação
do problema ou hipóteses pesquisáveis para estudos posteriores. Já a pesquisa explicativa é
caraterizada pela preocupação em identificar as causas que contribuem para a ocorrência do
fenómeno.
De acordo com Marconi e Lakatos (2009, p.43), “a pesquisa pode ser considerada um
procedimento formal com método de pensamento reflexivo, exigindo um tratamento
científico e constituindo o caminho para se conhecer a realidade ou para descobrir verdades
parciais”. No fundo, o principal objetivo da pesquisa é encontrar respostas as para questões
propostas, utilizando modelos científicos.
O presente estudo, embora não seja pioneiro2, é um pequeno contributo para o longo caminho
a percorrer na compreensão dos principais fenómenos atinentes ao café em Angola.
3.3 Escolha do método da pesquisa
A escolha da metodologia está relacionada com o problema em estudo, depende da natureza
do fenómeno, dos objetivos da pesquisa e de outras questões envolvidas na investigação
(Marconi e Lakatos, 2009). Estes autores afirmam que a pesquisa pode ser guiada por vários
métodos ou técnicas e que os dois processos mais utlizados são a documentação direta ou
recolha de dados primários e a indireta ou recolha de dados secundários. No presente trabalho,
optámos por aplicar ambos processos.
2 De recordar aqui o contributo de Bernardo (2012) no Amboim
26
Na recolha de dados primários, utilizámos a técnica de observação direta extensiva, com
recurso a um inquérito realizado através de um questionário. A recolha de dados secundários
consistiu na análise documental e bibliográfica.
3.4 Instrumentos e técnicas de recolha de dados
A recolha de dados para este estudo consistiu na recolha de dados secundários através da
análise documental e a segunda na recolha de dados primários baseada em inquéritos por
questionário.
3.4.1 Análise documental
O conhecimento da realidade da região foi possível por uma primeira revisão da literatura.
Esta permitiu também o levantamento de algumas questões de investigação, determinando a
definição dos objetivos. Foi feito o levantamento da bibliografia, embora muito escassa,
através de pesquisas em livros, revistas, jornais, relatórios, teses, Web e bases de dados de
instituições ligadas ao sector do café.
3.4.2 Inquérito por questionário
Neste item, apresentamos a forma de elaboração do instrumento de pesquisa, critério e seleção
da amostra, estrutura do instrumento de pesquisa, aplicação do instrumento de pesquisa e a
sua análise.
O inquérito por questionário teve como objetivo obter os dados necessários para ampliar o
êxito e confiabilidade dos dados recolhidos, visando o conhecimento da situação do café
robusta na região do Uíge e, consequentemente, pretendendo encontrar mecanismos que
permitam melhorar a sua produção, transformação e comercialização. No fundo, o que se
pretendeu foi identificar a situação atual e buscar soluções e propostas que permitam ampliar
a produção de café robusta e aproveitar todas as suas potencialidades (torrefação, moagem,
etc.), conseguindo assim aumentar o peso da província do Uíge quer no mercado nacional de
café, quer mesmo a nível internacional – transformando-a numa potência exportadora de café
de qualidade.
O inquérito por questionário foi realizado no município do Uíge.
27
Tendo em conta os objetivos fixados para este trabalho, o referido questionário (em anexo) é
composto de setenta e uma questões, estando estruturado em seis secções, nomeadamente:
Secção A: Caraterização Socioeconómica;
Secção B: Produção Agrícola;
Secção C: Produção de Café;
Secção D: Rendimento e Autoconsumo agrícola;
Secção E: Comercialização;
Secção F: Apoio.
A secção A teve como objetivo proceder à caraterização socioeconómica do público-alvo do
município do Uíge, nomeadamente em termos de idade, sexo, nível de escolaridade, número
de filhos. Pretendeu ainda conhecer outras caraterísticas socioeconómicas dos produtores tais
como detalhes da residência, energia e iluminação utilizada, acesso a água, recolha de lixo,
posse de bens e dieta alimentar.
A secção B pretendeu caraterizar a produção agrícola da região, focando-secomo em questões
relativas à posse da terra e à sua transmissão, à tomada de decisão de cultivar, às culturas
existentes e à respetiva tecnologia de produção.
A produção de café está contemplada na secção C: procurou caraterizar-se a tecnologia de
produção do café, a sua transformação e comercialização, bem como a identificar os
principais problemas existentes na região e que estão relacionados com a cultura do café.
A secção D buscou traçar o retrato do rendimento e do autoconsumo agrícola.
A comercialização foi tratada na secção E, através de questões que procuraram indagar quais
os produtos vendidos e o modo de venda dos mesmos, quais os principais meios de venda e
qual o local onde estes são comercializados, e quais os principais obstáculos a nível da
comercialização.
Finalmente, na secção F procurámos tratar as questões relativas aos apoios à produção,
transformação e comercialização do café.
Algumas dificuldades na aplicação do questionário, nomeadamente no que se refere ao baixo
nível de escolaridade dos produtores e à extensão geográfica do município e má acessibilidade
28
das explorações, levaram a que, das 71 questões, muitas ficassem por responder,
impossibilitando uma análise mais detalhada o sector neste município.
3.4.2.1 Critério de seleção da amostra
Marconi e Lakatos (2009, p. 112) definem amostra como porção ou parcela convenientemente
selecionada do universo (população), afirmando que existem dois processos de amostragem: o
processo de amostragem não probabilística e a amostragem probabilística. Os autores definem
o processo de amostragem não probabilística como aquele em que a seleção é realizada de um
modo não aleatório. Por este facto, esta amostra não é objeto de determinados tipos de
tratamento estatístico, o que dificulta inferir determinadas conclusões dos resultados obtidos
pela amostragem.
Hill (2009) indica-nos vários métodos de amostragem. Para o presente estudo apenas
retrataremos o método utilizado que foi de amostragem não probabilística por conveniência.
Embora se pretendesse utilizar uma amostragem estratificada que permitisse inserir cada
inquirido nos escalões definidos pelo INCA, as circunstâncias actuais da produção cafeícola,
não permitem o enquadramento dos produtores nos respectivos escalões.
Este método foi adotado tendo em conta a dimensão da população: pensamos que, com a sua
aplicação, os resultados permitiram efetuar a extrapolação das conclusões do estudo.
3.5 Métodos de tratamento e análise dos dados
O presente trabalho está baseado numa metodologia de caráter descritivo, já que esta
representa o melhor método para adequar a análise aos objetivos da pesquisa.
Para a análise descritiva, as variáveis foram introduzidas e tratadas no Microsoft Office Excel,
ferramenta utilizada para criar e formatar folhas de cálculo; analisar e partilhar informações;
formatar tabelas de maneira ágil e criar gráficos estruturados.
Utilizamos ainda uma outra ferramenta informática importante para o tratamento de dados
estatísticos: o SPSS. Este software é normalmente utilizado na execução de pesquisas de
mercado, constituindo uma importante ferramenta de transformação de dados em
informações/ conclusões que permitem reduzir custos e aumentar a produtividade.
29
30
CAPITULO IV
ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
Este capítulo trata da análise dos dados recolhidos aos agricultores (produtores) através dos
questionários realizados. Os quadros e gráficos apresentados ilustram os resultados obtidos,
sendo, posteriormente, feita a sua análise e retiradas as devidas conclusões.
De referir que qualquer trabalho de investigação apresenta limitações, quer pelos métodos
aplicados, quer pela possibilidade de extrapolação com confiança dos resultados.
O presente estudo não foi diferente. Vários constrangimentos surgiram ao longo do estudo,
desde a falta de informações atualizadas sobre a estrutura produtiva do café em Angola até à
própria aplicação dos questionários.
Existiam muitas informações históricas sobre o café mas algumas não correspondiam
exatamente às problemáticas que se levantavam a nível da produção, transformação e
comercialização do café na região do Uíge, já que poucos estudos sobre a estrutura produtiva
a nível regional. Esta circunstância dificultou sobremaneira a estruturação do trabalho.
O questionário foi aplicado durante 25 dias, em diversas favelas da província do Uíge, tendo o
acesso às mesmas constituído um dos principais pontos de dificuldade.
Ao longo do processo de recolha de informações, foi apenas possível manter contactos com
os produtores e responsáveis do INCA, não tendo sido possível realizar nenhum estudo ao
nível dos intermediários e os exportadores.
Neste sentido, os nossos esforços foram conduzidos no sentido de produzir a informação mais
próxima da realidade produtiva, de acordo com os dados recolhidos no local.
4.1 Caracterização socioeconómica dos produtores de café do Uíge
O resultado da análise dos dados relativos à caraterização por classe de idade (Tabela 4.1)
mostra que a maioria dos produtores de café do Uíge tem idade compreendida entre os 50 e os
60 anos (40%), sendo que 32,5% têm mais de 70 anos. Verificamos, portanto, a tendência
31
para a existência de uma população de produtores envelhecida, com um nítido desinteresse na
produção de café por parte dos mais jovens.
Tabela 4.1 - Distribuição dos agricultores por classes de idade
Classes de idade Frequência %
<=50 4 5,0
>50 e <=60 32 40,0
>60 e <=70 18 22,5
>70 26 32,
Total 80 100,0
Os produtores pertencem todos ao sexo masculino, estando o mais velho com 86 anos de
idade e o mais jovem com 37 anos. A maioria dos produtores são solteiros (46,3%), havendo
18,8% de viúvos, 12,5% de divorciados e 10% são casados (Tabela 4.2).
A maioria dos produtores de café têm o ensino primário (85%), apenas 8,8% têm o ensino
pré-secundário e 6,3% não têm qualquer escolaridade (Tabela 4.3). De realçar o baixo nível
de escolaridade dos produtores e a inexistência de indivíduos com formação superior.
Tabela 4.2 – Estado civil dos produtores de café Estado Civil Frequência %
Solteiro 37 46,3
Casado 8 10,0
Divorciado 10 12,5
Viúvo 15 18,8
Outro 10 12,5
Total 80 100,0
32
Tabela 4.3 – Nível de escolaridade
Escolaridade Frequência %
Ensino primário 68 85,0
Ensino pré secundário 7 8,8
Sem escolaridade 5 6,3
Total 80 100,0
No que concerne ao número de filhos, respetiva idade e nível de escolaridade, a questão não
foi totalmente respondida, uma vez que grande parte dos inquiridos apenas indicou o número
de filhos, sem detalhar as suas idades e nível de escolaridade. Porém, foi possível aferir que o
número médio de filhos é de seis (6) por inquirido.
Constatou-se que a totalidade dos produtores vive em casas de adobe. Tal situação deriva das
condições familiares dos produtores e da falta de acesso a materiais de construção de outro
género, juntamente com os fracos rendimentos auferidos pela população de produtores.
No que respeita à energia utilizada para cozinhar, 100% dos inquiridos afirmam recorrer à
utilização alternada de lenha e carvão. O tipo de iluminação utilizada é o lampião e petromax.
A água utilizada é proveniente de fontanário, não sendo tratada.
Relativamente ao destino do lixo, 30% dos inquiridos afirma que queima o mesmo, enquanto
a maioria (70%) o lança simplesmente na superfície da terra.
As únicas escolas existentes são de ensino primário. Quanto aos serviços de saúde eles são
facultados em centros de saúde.
Todos fazem três refeições diárias.
A maioria dos produtores possui rádio (70%), alguns possuem rádio e TV(20%), enquanto
10% não possuem quaisquer bens para melhorar a qualidade de vida.
33
Quanto à propriedade da terra, 100% dos inquiridos afirmam ser proprietários da terra, sendo
que 70% dos mesmos indica que a obteve por herança, enquanto 30% diz que a adquiriu ao
Estado. Neste âmbito, torna-se importante realçar que, de acordo a lei da terra, a terra é
propriedade exclusiva do Estado: o beneficiário tem direito de utilizá-la mas o Estado,
enquanto legítimo proprietário, pode sempre resgatá-la.
No tocante aos herdeiros, a opinião dos inquiridos foi unânime: nas futuras transmissões, o
acesso à posse da terra será para os filhos – de ambos os sexos – dos produtores.
No respeitante à decisão do tipo de cultivo, 80% dos inquiridos afirma que esta decisão cabe
ao homem. Já os restantes 20% afirmam que existe consenso do casal no que respeita às
decisões sobre o cultivo da terra. Isto é indiciador de uma cultura tipicamente machista, o que
pode constituir um entrave à modernização e expansão da cultura do café na Província.
Tabela 4.4 – Tecnologia de Produção Operações Culturais Manual (%) Manual e Mecânica (%)
Preparação da terra 88,8 11,3
Sementeira 88,8 11,3
Monda 98,8 0
Colheita 100 0
Quanto ao tipo de tecnologia, 88,8% dos produtores afirma que a preparação do terreno e a
sementeira são feitas de forma manual: 98,8% faz monda manual e a colheita é 100% manual.
A preparação do terreno e a sementeira é feita manual e mecanicamente por 11,3% dos
produtores (Tabela 4.4). É importante sublinhar que a zona de produção do café, na província
do Uíge, é bastante acidentada o que dificulta a utilização da tração mecânica e contribui para
o atraso tecnológico dos métodos de produção cafeícola.
Tabela 4.5 – Tração utilizada
Tipo de Tração Sim (%) Não (%) Própria (%) Alugada (%)
Ferramentas 87,5 12,5 100 0
Animais 0 100 0 0
Tração Mecânica 12,5 87,5 100 0
34
Sobre o tipo de tração utilizada, foi constatado que 87,5% dos inquiridos utiliza ferramentas
próprias e que 10% utiliza a tração mecânica, de que são igualmente proprietários (Tabela
4.5). Contudo, constatou-se que, na região, não existe a cultura de utilização da tração animal.
4.2 Produção de Café no Município
Os produtores de café do Uíge apenas produzem café robusta, uma vez estamos perante uma
zona extremamente favorável para este tipo de produção, nomeadamente a nível de condições
edafoclimáticas.
Contudo, a maioria dos cafezais são velhos (68,8%), enquanto apenas 15% são novos e 16,3%
são mistos (Tabela 4.6).
Tabela 4.6 - Estado do cafezal
Tipo de cafezal Frequência %
Novo 12 15,0
Velho 55 68,8
Misto 13 16,3
Total 80 100,0
O cenário apresentado é deveras preocupante, tendo em conta que os cafezais em estado de
envelhecimento diminuem o rendimento em termos de produção por hectare. Significa isto,
portanto, que os níveis de produção são manifestamente inferiores ao que seriam se
estivéssemos perante cafezais novos.
Os níveis de produção cafeícola dos inqueridos é reflectido na tabela 4.7.Procuraramos
ilustrar primeiramente as áreas de produção é importante referir que a nível da região são
considerados apenas o café coco que é o comercializável. É importante referir que as zonas
são velhas conforme apresentada na tabela 4.6.os níveis de produtividades apresentadas foram
indicados pelos produtores locais inqueridos.
Tabela 4.7 Níveis de produção por hectare
Escalão Intervalo
Nº
% Área
produzida
Produtividade
café coco kg
(ha)
Produtividade
potencial café
coco kg/há
Produção
do café
coco Kg
Produção
Potencial
café coco
(kg) de
produtores
1 ≤ 10 32 40 221 200 350 44.200 77.350
35
2 >10: ≤50 48 60 1180 236.000 413.000
Total 80 100 1401 280.200 490.350
Fonte: Elaborado pelo autor
Na Tabela 4.7 podemos visualizar que 60% dos inquiridos ocupam uma área total de 1180
hectares e situam-se no segundo escalão de produção cafeícola. A produtividade é de
200Kg/ha de café coco, quando a potencial seria de 350kg/ha. Entretanto, tal situação deve-se
ao facto dos cafezais serem muito velhos e apresentarem reduzidos níveis de produtividade
por falta de tratamento adequado, bem como a não ocupação de toda a área potencial de
produção.
Os actuais níveis de produção dos inquiridos alcançam cerca de 280.200kg, quando o ideal na
região seria 490.350 kg pelos 1401 hectares. Isto significa que há uma perda de cerca de
210.500 Kg de café coco, o que, em termos monetários (considerando o preço 60,00kz/kg),
representa 12.609.000 Kz, isto é, cerca de 129.989,69 USD (câmbio de 105,00Kz/Usd).
4.3 Rendimento e autoconsumo agrícola
Esta secção tem como objetivo determinar, por um lado, qual a cultura que gera maiores
rendimentos para as famílias, assim como avaliar o modo como estas famílias despendem os
seus rendimentos, a quem cabe o poder de decisão quanto à utilização dos rendimentos e a
responsabilidade pela alimentação da família.
Apesar do grande valor económico que o café possui, a principal fonte de rendimento dos
produtores consiste em outras culturas agrícolas cuja procura é maior e que incorporam a
dieta alimentar diária dos cidadãos. Deste modo, em termos de rendimento, os principais
produtos agrícolas vendidos são a banana, o feijão e o café.
Estes produtos são vendidos no mercado local e noutras regiões do país. É importante
sublinhar que o aumento na produção deste produtos deve-se ao incentivo criado pelo
governo central através do programa papagro, programa este que visa auxiliar e facilitar o
escoamento dos produtos em posse de agricultores que têm maior dificuldade em transportá-
-los para as zonas de maior acesso e consumo. Este programa, infelizmente, não contempla o
produto café pois, na sua conceção inicial, este produto não faz parte das prioridades do
36
executivo central. Embora não seja nossa intenção analisar o papagro, pensamos que este
programa peca pelo facto de não contemplar tão valioso no produto do nosso tecido agrícola.
Conforme já mencionámos anteriormente, a província do Uíge está estruturada sobre uma
sociedade nitidamente machista, o que é corroborado pelo facto de as decisões quanto às
despesas, isto é, ao modo de gastar o dinheiro, caberem aos homens, normalmente
desconsiderando a opinião do outro elemento do casal, a mulher.
4.4 Análise dos custos de produção e o processo de comercialização cafeícola no
município do Uíge
4.4.1. O processo produtivo
A história da estrutura agrícola angolana sempre teve presente a produção cafeícola, embora
nem sempre com os níveis de produção desejáveis Pretendemos, neste subcapítulo,
compreender o sistema de produção do município do Uíge, bem como apresentar os custos de
produção ao longo do processo de produção agrícola.
O sistema de produção de café é um elemento crucial para a determinação dos custos de
produção do mesmo já que a sua compreensão permite conhecer os principais fatores que
concorrem no processo produtivo.
O sistema de produção de café no município do Uíge é caraterizado por dois sub-sistemas,
sendo um deles implantado em áreas velhas, com muitas lavouras com cobertura e sombra e
sendo o outro sistema implantado em áreas novas.
A época de cultivo começa no mês de outubro, estendendo-se até dezembro de cada ano. As
produções são colhidas apenas a partir do terceiro ano unicamente com 5 (cinco) sacas por
hectare.
Conforme já foi referenciado, a estrutura de produção é basicamente familiar, calculando-se
que os produtores do município rondem cerca de 95%.
A) Área de produção
Para atender às necessidades da cultura do café, deve-se escolher uma área com declive
inferior a 12 %, solos com boa drenagem e ausência de camadas adensadas e uma área que
seja mecanizável.
37
A região do Uíge apresenta áreas com declive superior a 12%, solos com boa drenagem e
ausências de camadas adensadas. Contudo, dado o declive acentuado da região a margem de
mecanização é bastante reduzida, sendo a produção agrícola sobretudo manual.
A preparação da terra é feita em áreas novas e velhas de cafezal. Nas regiões de colonização
mais antigas, das décadas de 60 e 70, verifica-se sobretudo a implantação ou a renovação dos
cafezais. De realçar ainda que a população produtora de café na província do Uíge é bastante
envelhecida, fazendo falta espíritos jovens com iniciativa para dinamizarem e expandirem a
cultura e normalmente a produção é feita obedecendo ao espaçamento e coveamento referidos
na tabela 4.8.
Tabela 4.8 O espaçamento e coveamento da produção Variedade Espaçamento Planta por
cova
Cova por
(ha)
Planta por
(ha)
Hastes por
planta
Hastes por (
ha)
Poda por
Hastes /ano
Robusta 3,0 x 3,0 1 1100 1100 4 4400 1
Fonte: Inca - local
4.4.2 O Custo de Produção no Município do Uíge
Pinheiro e Carvalho (2003) afirmam que os recursos usados na produção são escassos e se
encontram disponíveis em quantidades limitadas. Assim, é importante estudar e conhecer a
estrutura de custos de qualquer processo produtivo, tendo em atenção a escassez deste recurso
na economia.
É importante sublinhar que, dado o fraco processo de recolha das informações quer junto das
famílias, quer junto do Instituto Nacional de Café, foi extremamente difícil obter dados que
nos permitissem ter uma ideia fiável sobre os custos de produção do café
Tabela 4.9 Atividades remuneradas
Atividade Valor pago Kz/hectare Valor pago
USD/hectare
Poda 400,00 4,12
Colheita 400,00 4,12
38
Desfilha 800,00 8,24
Capina 1000,00 10,3
Secagem 1200,00 12,37
Transporte e armazenamento 250,00 2,58
Total 3850,0 41,73
Fonte: Produtores de café.
É importante realçar que estas atividades ocorrem em determinados períodos do ano, pelo que
os poucos trabalhos remunerados são ocasionais e por atividade. Por outro lado os indivíduos
que beneficiam destas remunerações não são sempre os mesmos.
Mahinga (2013) afirma que um dos principais problemas da produção cafeícola em Angola é
a dificuldade na determinação dos custos de produção. Porém, pelos dados levantados no
terreno consegue-se aferir que em média o agricultor chega a gastar 41,73 USD/ hectare para
ter um individuo a executar as tarefas atinentes à produção (Tabela 4.9).
Gráfico 4.1 Peso das atividades remuneradas
5,45%
50,90%
7,27%
18,18%
12,72%
5,45%
Poda
Colheita
Desfilha
Capina
Secagem
Transportee armazenamento
39
No que respeita à tecnologia utilizada, esta é bastante rudimentar; a mão-de-obra é
predominantemente familiar, sobretudo integrada pelos filhos do sexo masculino, que vão
herdando a experiencia dos pais ao longo do processo de produção, o que possibilita que a
história familiar de produção de café não se perca ao longo dos tempos. Para o processo
produtivo são utilizados essencialmente, os seguintes equipamentos e ferramentas
40
Quadro 4.1 Equipamentos e ferramentas utilizadas
Equipamentos e Material de proteção: Ferramentas
a) Cestos;
b) Carros de mão.
c) Luvas;
d) Chapéus;
e) Botas.
a) Catanas;
b) Enxadas;
c) Pás pequenas;
d) Rastelo.
Fonte: produtores de café
No presente estudo, dado a insuficiência de dados relativos à estrutura de custos suportados
pelo produtor e a julgar pelas informações prestadas no questionário quanto à não aquisição
de fatores de produção (sementes, adubos e fertilizantes), aliados ao facto de que a utilização
das ferramentas, equipamentos e materiais não é considerável, o único fator a considerar é a
mão-de-obra familiar que, muitas vezes, nem é remunerada por se considerar que a atividade
é em benefício da família.
Em alguns casos contrata-se mão-de-obra para apoio nas atividades relacionadas com a a
poda, colheita e transporte, cujo valor a pagar é por dia pode ser visto na Tabela 4.9.
4.4.3 Transformação do Café
A transformação do café é dominada, na região, pelo processo de transformação do café
cereja em café coco com recurso à via seca.3 Este processo começa após a colheita e o café é
colocado em exposição solar no mínimo durante 7 dias, sendo depois recolhido e armazenado
em sacos de 60Kg.
O processo de secagem muitas vezes apresenta insuficiências pelo facto de ser executado
maioritariamente em locais inapropriados (não cimentados como se recomenda), carregando,
assim, materiais como areia, pedras e paus carreados por fortes ventanias e pelo facto de se
3 A totalidade do café colhido na região é processado desta forma, tendo em conta os custos elevados requeridos
pela via húmida, bem como da mão-de-obra qualificada exigida para tal operação.
41
encontrar em espaços próximos a zona de cultivo de outras culturas, o que poderá provocar o
aparecimento de microorganismos.
Os produtores da região não produzem o café verde, terminando a sua ação no café coco A
produção de café verde encontra-se reservada aos comerciantes pequenos e de médio porte.
O processo de descasque de café é também uma tarefa que não é exercida pelos produtores
tendo em conta que grande parte – senão todos – apresentam fortes limitações económicas e
financeiras que lhes permitem apenas executar as atividades que exigem menores ou quase
nenhuns custos.
No campo da transformação, a região possui uma indústria (Fábrica) de torrefação muito
antiga e desaconselhável para a torrefação do café, fruto do seu mau estado de conservação e
das condições pouco higiénicas para este processo. Esta unidade, para além de torrar o café,
também procede à moagem e embalagem de pacotes de 1kg. Estes pacotes não têm marca
nem estão sujeitos a controlo de qualidade, uma vez que não existem laboratórios a nível
local. Este café é um dos mais consumidos localmente pela comunidade Uigense.
4.4.4 Comercialização do Café
A cadeia de comercialização do café é bastante débil a nível da província do Uíge, o que tem
um forte impacto nos níveis de rendimento dos produtores, principalmente aqueles que
produzem em pequenas escala e não conseguem colocar os seus produtos nos mercados locais
sujeitando-se desse modo aos preços estabelecidos unilateralmente pelos compradores
intermédios que dominam o mercado.
Como afirmamos anteriormente na província os produtores vendem apenas o café coco pois o
café cereja tem baixa procura e os preços são pouco compensatórios.
Como se pode observar no Diagrama 4.1, a cadeia de comercialização do café não garante o
contacto entre o produtor e a entidade transformadora do café verde, o que naturalmente
provoca grande volatilidade nos preços à porta dos produtores.4
4 Nos anos 60, 70 e 80 existiam cooperativas que serviam como agências de defesa dos interesses dos produtores
a nível dos preços praticados. Com o aparecimento da economia de mercado em Angola, em 1991, grande parte
destas cooperativas encerraram, o que provocou um colapso sobre a estrutura de regulamentação dos preços, que
são muito díspares desde a fase da produção até ao produto final., sendo necessário garantir algum equilíbrio
entre ambos.
42
Diagrama 4.1- Circuito de comercialização do café no Uíge
Não existe um processo de controlo do café, tendo em conta que os produtores não registam
estes consumos em alguns casos e noutros quando não comercializam a produção pode ser
consumida entre familiares.
Os níveis de preço das distintas fases do café no mercado nacional podem ser observados na
Tabela 4.10.
Tabela 4.10 Estrutura dos preços do café do grão à chávena 2007 2014
Tipo de café Qtd (gr) Preços (Kz) Qtd (gr) Preços (Kz)
Coco porta do produtor 1000g 60 1000g 60
Café Verde 1000 75 1000 120
Café Moído 250 300 250 480
Café Torrado 250 511 250 796
Xicara de café 10 100 10 150
Fonte: INCA (2008 e 2014)
Produtores de café Cereja e coco
Agentes Exportadores café
Verde
Processadores de café verde
Produtores de Café torrado e
Instantâneo
Mercado Interno Mercado externo
43
Em 2007, as diferenças entre os preços na fase de produção e na fase de consumo são bastante
acentuadas pelo que se pode visualizar que 1/100 Gramas no hoteleiro custa três vezes mais
que no produtor. Trata-se de um indicador que nos permite aferir as discrepâncias a nível dos
rendimentos dos intervenientes desta cadeia. Em 2014 os dados alteraram-se, mas a
discrepância mantém-se.
É possível verificar que o preço à porta dos produtores mantém-se estável ou seja 0,62
USD/Kg. Já para os comerciantes de café verde viram os preços aumentar de 75 para
120,00Kz ou seja 1,24USD. Este aumento dos preços não está propriamente associado a um
aumento na produção, mas ao facto de existir um aumento no número de consumidores, fruto
dos fortes investimentos estrangeiros no país e da entrada de pessoas (profissionais) com
fortes hábitos de consumo de café.
As diferenças de preço registadas entre o café pergaminho e o torrado – claramente mais caro
que no produtor – revelam a existência de todo um segmento do negócio que podia ser
aproveitado pelos produtores, estimulando assim os seus níveis de rendimento, aumentando
os níveis de produção e criando postos de trabalho.
Quanto à comercialização da produção, os produtores vendem os seus produtos no mercado
local, recorrendo a transportes privados – que normalmente são alugados para o efeito – para
o escoamento dos produtos, o que também eleva bastante os custos dos produtores e reduz a
margem de lucro conseguida com a comercialização do café.
Tabela 4.11 Principais problemas inerentes à produção e comercialização
Classificação
Preços dos fatores de produção elevados Problema inexistente
Custos de transporte elevados Problema grave
Preço de venda reduzido Problema grave
Flutuação de preços Problema grave
Demanda reduzida Problema moderado
Difícil acesso aos mercados Problema grave
44
A Tabela 4.11 permite visualizar os principais problemas enfrentados pelos produtores a nível
de produção e de comercialização, segundo a classificação oferecida pelos próprios. Os custos
de transporte elevados, a flutuação dos preços, o reduzido preço de venda e o difícil acesso
aos mercados constituem os problemas que os agricultores consideram mais graves.
Já o preço dos fatores não é sequer considerado um problema pelos mesmos, na mediada em
que grande parte dos fatores provêm da produção própria e apenas uma pequena parte é
adquirida no mercado local. Contudo, conforme já apontámos, embora os agricultores não
revelem consciência da necessidade de fatores de produção mais especializados e
selecionados – o que se justifica provavelmente pela fraca literacia dos mesmos e pela falta de
formação qualificada na área – este cenário pode comprometer a qualidade dos produtos
agrícolas e, consequentemente, condicionar negativamente os rendimentos obtidos com a
comercialização dos mesmos.
4.4.4.1 Margem de Lucro Comercial da cultura de café
Mahinga (2013) afirma que um dos pontos fracos do sistema de produção cafeícola Angolano
é a incapacidade de determinação dos custos de produção, tendo em contas dificuldades nas
colheitas de dados e pela natureza da produção que é eminentemente familiar. Este cenário
afeta o processo de determinação de outros indicadores. Para o efeito determinamos as
margens de lucro líquidas dos produtores. Nesta seção vamos procurar estimar o custo de
produção evidenciando dois cenários. O primeiro não considerando a mão-de-obra, tendo em
conta que grande parte dos produtores não a remunera e o segundo considerando os custos de
mão-de-obra apresentados na tabela 4.9. Em ambos cenários considera-se uma produtividade
de café coco de 200 Kg/hectare. Contudo para efeitos da margem bruta do produtor, foi
determinada a conversão entre o café coco e verde em torno dos 65%,tendo em conta o
sistema de colheita e pelo facto do teor de humidade do café coco estar entre 8- 12%.
45
A) PRIMEIRO CENÁRIO – SEM A MÃO-DE-OBRA
Tabela 4.12 Margem de lucro da cultura de café – sem os custos com a mão-de-obra
Café Robusta
(Kz/ha)
Café Robusta
(USD/ha)
(1 USD =97,00Kz)
Custo de Produção 0 0
Receita do produtor 12.000,00 123,71
Custo na porta do Comerciante * 13.400,00 138,14
Receita do Comerciante 15.600,00 160,82
Preço de exportação (Entidades
Exportadoras) ** 0,00 0,00
Margem Bruta do Produtor 12.000,00 123,71
Margem Bruta do comerciante 2.200,00 22,68
Margem bruta das Entidades
Exportadoras) 0,00 0,00
*: o custo do descasque por kg é de 7,00kz fornecido pelo INCA local.
***: dados não disponíveis
Sem os custos com a mão-de-obra a margem bruta do produtor foi de 123 USD/ha. Já para o
comerciante a margem bruta é de 22,68USD/ha.
46
B) SEGUNDO CENÁRIO – COM A MÃO-DE-OBRA
Neste cenário vamos admitir os custos com a mão-de-obra por hectare de acordo com os
dados da tabela 4.9 e em função dos níveis de produção apresentados na tabela 4.7.
Entretanto, será importante notar que os custos atinentes a produção das mudas até ao plantio
não foram considerados, pelo facto de termos 68,8% dos cafezais velho (ver tabela 4.6)
Neste caso, a margem de lucro do café está representada na Tabela 4.13.
Tabela 4.13 Margem de lucro da cultura de café – com os custos com a mão-de-obra
Café Robusta
(Kz/ha)
Café Robusta
(USD/ha)
(1 USD =97,00Kz)
Custo de Produção* 4.050,00 41,75
Receita do produtor 12.000,00 123,71
Custo na porta do
Comerciante * 13.400,00 138,14
Receita do Comerciante 15.600,00 160,82
Preço de exportação
(Entidades Exportadoras) *** 0,00 0,00
Margem Bruta do Produtor 7.950,00 81,96
Margem Bruta do
comerciante 2.200,00 22,68
Margem bruta das Entidades
Exportadoras) 0,00 0,00
*Apenas foram considerados os custos com a mão-de-obra constantes da Tabela 4.7.
** Por Kg descascado custa 7,00Kz *** Dados não disponíveis
A margem bruta do produtor, com a inclusão dos custos da mão-de-obra, cifrou-se em torno
dos 81,98 USD por hectare; já a margem bruta para a comerciante fixou-se em 22,68 USD por
ha.
47
4.5 Matriz SWOT da região
A abordagem SWOT permite-nos conhecer os pontos fortes e fracos, as oportunidades e as
ameaças que se colocam ao sector cafeeiro na região do Uíge. O quadro 4.2 tem como base as
informações recolhidas no local e também a análise documental utilizada.
Quadro. 4.2 Matriz SWOT da produção, transformação e comercialização do café
Pontos Fortes Pontos Fracos Oportunidades Ameaças
Produção cafeícola
Condições edafoclimáticas
propícias;
Disponibilidades de terras
aráveis;
Produção orgânica;
Produção sem irrigação;
Possibilidade de produção de
café de reconhecida
qualidade internacional.
Idade avançada das
plantações;
Desconhecimento efetivo
dos custos de produção;
Deficiente assistência à
produção;
Falta de certificação do
café;
Falta de tratamento
fitossanitário;
Inexistência de crédito para
o fomento da atividade;
Degradação das infra –
estruturas de produção do
café
Ambiente favorável para o
investimento na cafeicultura;
Ambiente favorável à
investigação da cultura
cafeícola.
Doenças do café;
Invasão de outras culturas
em detrimento do café
Transformação
Acesso restrito a novas
tecnologias;
Reduzido número de
indústrias de transformação;
Baixa mecanização das
operações;
Degradação das infra –
estrutura de processamento e
armazenamento do café
Ambiente favorável para a
construção de fábricas de
descasque;
Estabelecimento de indústrias
de torrefação;
Ambiente favorável para o
fornecimento de estruturas
para o processamento do café
48
Comercialização
Desarticulação dos circuitos
de comercialização;
Baixo ou nulo marketing do
café da região;
Baixo preço do café no
mercado local;
Difícil acesso aos mercados.
Possibilidade de criação de
uma rede de transportes para
apoio à cafeicultura
Elevado índice de
importação do café;
Alto nível de
competitividade regional
e internacional;
Alta volatilidade nos
preços a nível mundial;
Inexistência de mercados
rurais
Recursos Humanos
Baixa qualificação do
capital humano;
Envelhecimento dos
cafeicultores
Possibilidade de formação
profissional dos produtores;
Criação de cooperativas
Fuga da mão-de-obra
nacional para outros
sectores de atividade
económica,
Plano Institucional
Infra – estruturas rodoviárias
debilitadas;
Inexistência de organismo
independente para regular a
atividade cafeícola;
Inexistência de instrumentos
jurídico – legais para regular
a atividade cafeícola
Criação de estímulos fiscais
para a produção;
Disponibilidade do governo
para apoiar o sector.
Fonte: Com base nas informações recolhidas localmente e adaptado de Guterres (2010)
Como pontos fortes as condições edafoclimáticas propícias ao desenvolvimento da cultura e a
produção de café orgânico, a disponibilidade de terras aráveis e a possibilidade de produzir
sem regar, produzindo um café de reconhecida qualidade internacional.
Quanto aos pontos fracos, de realçar a idade avançada dos cafezais, a deficiente assistência à
produção, a falta de tratamento fitossanitário e a degradação das infra-estruturas da produção
49
do café, factores que concorrem para o baixo rendimento. A inexistência do crédito para o
fomento da actividade, bem como o desconhecimento efectivo dos custos de produção
dificultam grandemente a melhoria da actividade.
A desarticulação dos circuitos de comercialização, o quase nulo marketing do café e ainda o
baixo preço do café no mercado local são factores que contribuem para os problemas
existentes a nível da comercialização do café.
Existe um ambiente favorável tanto para o investimento na cafeicultura como para à
investigação da cultura cafeícola. Entre as oportunidades para o sector de destacar também a
possibilidadede apoio à formação dos produtores e a possibilidade de criar uma rede
rodoviária.
Como ameaças de realçar as doenças do café e a invasão de outras culturas em detrimento do
café, a inexistência de mercados rurais e a grande volatilidade dos preços mundiais do café.
4.6 Estratégias para melhorar a produção, comercialização e transformação do café
As estratégias tendentes a uma melhoria da produção, comercialização e transformação do
café, ou seja, do rendimento do café na região, estão assentes na premissa que objectiva
desenvolver uma produção cafeícola sustentável na região. Os elementos a se terem conta
para garantir esta melhoria estão relacionados com os fatores tecnológicos, a mudança nos
processos produtivos, formação técnico profissional, a extensão rural, começando por uma
mudança de atitude política.
4.6.1 Estratégias para melhorar a produção e a transformação do café
As estratégicas a serem desenvolvidas neste âmbito incluem inovação tecnológica e
modernização dos sistemas de produção, que pode ser operacionalizada pelas seguintes ações:
Concessão de créditos bonificados e com longos prazos, tendo em conta que a
produção cafeícola é uma produção perene, o que permitiria aos cafeicultores ter mais
tempo para rentabilizar a sua produção.
Elaboração de um plano de formação. Educação: O nível de instrução dos agricultores
é bastante baixo. Embora não tenha um impacto imediato na produção, mas pode ser
50
negligenciado. Neste particular as organizações não-governamentais jogariam um
papel importantíssimo, assim como ajudariam a formação de cooperativas de
produtores.
Melhoramento dos processos de produção, colheita e secagem devendo ser substituído
gradualmente por tecnologias mais modernas.
Substituição gradual dos cafezais velhos por novos.
Elaboração de um plano de incentivos para o investimento na indústria de
transformação do café;
Elaboração de um plano de acesso facilitado aos inputs;
Elaboração de um programa de pesquisa e desenvolvimento tecnológico do setor
cafeeiro;
4.6.2 Estratégias para melhorar a comercialização e a qualidade do café
As estratégicas a serem desenvolvidas neste âmbito traduzem-se na implementação de um
sistema de qualidade e de certificação do café e de organização da comercialização e
estruturação da cadeia de valor. Em termos de ações podem elencar-se as seguintes:
Organização dos cafeicultores em cooperativas de forma a ter maior controlo e
eficiência dos preços, e garantir assim, mecanismos de escoamento dos produtos. As
cooperativas podiam agir como o principal interveniente no processo de
comercialização;
Melhoria dos circuitos de comercialização e de controlo da qualidade e de certificação
do café;
Análise da eficácia e da eficiência da cadeia de valor;
Realização de feiras do café serviria como meio para promoção do café do Uíge, tarefa
que arduamente podia ser desempenhada pelas cooperativas de produtores de café. As
cooperativas serviriam de estruturas que facilitariam o processo de mobilização e
congregação dos produtores o que viabilizaria e melhoraria todo o processo de
organizativo da produção cafeícola, adoção de técnicas produtivas mais modernas a
nível local bem como promoveria as melhorias das condições de vida dos produtores.
As cooperativas, no quadro do seu programa de ação, gizariam um plano estratégico a
implementar visando apoiar os agricultores, no tocante à elaboração de negócio da actividade
51
de produção de café, criando assim, as condições para a emigração da produção familiar para
uma produção empresarial.
A organização dos produtores em cooperativas que pensamos ser uma solução razoável,
serviria de mola impulsionadora para o surgimento de outras atividades no quadro da
produção cafeícola como a transformação do café ou seja o seu processo de industrialização.
A criação de canais formais e melhorados para a comercialização do café, conduziria ao
aparecimento de outras atividades como a torrefação e moagem o que entender-se-ia como um
processo de mais-valia, pós tal operação pode ser desenvolvido pelo produtor sem qualquer
inconveniente. O que de ponto de vista económico seria muito vantajoso para a comunidade
produtora e para a sociedade, que teria oportunidade de encontrar um emprego e deste modo
garantir os seus rendimentos e promovendo o seu consumo e consequente estimulação da
procura interna no município o que estimularia o crescimento económico local.
52
CAPÍTULO V
CONSIDERAÇÕES FINAIS
5.1 Conclusões
A presente dissertação teve como objetivo geral proceder a uma análise da atual realidade
cafeícola na região do Uíge, de modo a encontrar mecanismos que permitam melhorar a
produção, transformação e a comercialização do café robusta nesta Província. A região do
Uíge, posicionou-se, no passado, em segundo, lugar na produção de café a nível nacional e
consequentemente, apresentava melhores níveis de produtividade 460kg/ha em 1974. Face às
suas enormes potencialidades produtivas, em Angola, a região é conhecida como “as terras do
bago vermelho”.
Constatamos um certo tradicionalismo no que diz respeito à produção cafeícola, sem
inovações no processo produtivo e técnicas de produção muito rudimentares.
Verificou-se igualmente que os produtores de café no Uíge não utilizam adubação e não
fazem o tratamento fitossanitário nas plantações, e, na sua grande maioria, apresentam idade
muito avançada, ou seja em torno dos 50 – 60 anos de idade
Observou–se baixo nível de qualificação do capital humano, na região quer de ponto de vista
académico, quer profissional.
A tecnologia de produção utilizada para as distintas operações da cultura de café é em cerca
de 88;8% manual e apenas 11,3% utilizam um misto de tecnologia mecânica e manual.
O estudo permitiu aferir que os cafezais de 68;8% dos inquiridos são cafezais velhos, 16, 3%
têm cafezal misto e apenas 15% têm o cafezal novo.
A pesquisa permitiu concluir que a produtividade média por hectare dos inquiridos é de
200Kg de café por ha, enquanto a desejada ou a potencial, segundo os agricultores, seria de
350kg/ hectare.
53
O estudo permitiu observar que o sistema de colheita do café é feito a dedo, sendo o método
mais recomendado, pois permite colher somente os frutos maduros, sem se colherem os
verdes.
O estudo permitiu observar que apesar do grande valor económico do café para a região, o
rendimento para a subsistência dos produtores provém de outras culturas como Banana,
Mandioca, Milho, Batata, Ginguba, Feijão, Gergelim, Hortícolas.
Constatamos que os problemas atinentes à produção e comercialização estão associados aos
elevados custos dos transportes, ao preço de venda aquém da realidade, à inacessibilidade aos
mercados de Luanda onde o café é vendido a um preço ajustado ao interesse do produtor.
O sistema de produção é essencialmente caracterizado por dois sub-sistemas, sendo o
primeiro de implantação em zonas de produção velhas e o segundo em zonas novas.
O estudo permitiu observar que a região do Uíge produz apenas o café robusta.
Grande parte dos produtores inquiridos possui entre os 10 e 50 hectares para a produção do
café, embora possuam largas extensões de terra aráveis e propícias para atividade cafeícola
As atividades remuneradas são essencialmente Poda, Colheita, Desfilha, Capina, Secagem,
Transporte e Armazenamento, embora sendo de sublinhar que não a remuneração não é
praticada por grande parte dos agricultores.
O estudo permitiu ainda aferir que o processamento do café, a nível do município, é feito por
via seca, em condições pouco recomendáveis, técnica e cientificamente.
O sistema de comercialização não está devidamente estruturado, pois os agentes
processadores do café verde têm maiores proveitos em relação ao produtor, tendo em conta a
inacessibilidade aos mercados de Luanda, por fatores de ordem estrutural e conjuntural.
A transformação do café coco em verde ocorre normalmente na estação de experimentação do
INCA local e tem um custo de 7,00Kz por Kg de café coco ou seja 0,072 USD/kg.
Os custos de produção no município do Uíge foram de difícil determinação, já que o processo
produtivo se encontra despido das mais elementares regras de controlo e gestão. Por outro
lado, grande parte dos trabalhadores das produções é familiar, normalmente não remunerados.
54
Entretanto, para os produtores que não remuneram a mão–de-obra, a margem de lucro bruta
do produtor é de 123 USD/ha. Já para o comerciante a margem bruta é de 109,28USD/ha.
Por conseguinte, podemos determinar para alguns produtores que usam a mão – de –obra as
seguintes margem de lucro: do produtor é de 81,98 USD, por hectare já para o comerciante
está fixada em 109,28 USD por hectare ou seja tem mais 27,3 USD por hectare em relação ao
produtor.
Constatamos a existência de deficiente apoio técnico–cientifico por parte das autoridades,
bem como por parte do órgão responsável pela politica de produção do café que enfrenta
grandes dificuldades a todos os níveis, o que o impossibilita de proporcionar grandes apoios
aos produtores de café: as suas ações, a nível local, consistem no acompanhamento da
produção e na prestação de aconselhamento técnico “tradicional” aos produtores.
Não existem quaisquer apoios em termos de formação especializada ou apoios financeiros.
De realçar também que não existem, na região, entidades com competência técnica para aferir
a qualidade do café nas suas múltiplas fases, nem para procederem à certificação do produto.
Durante a pesquisa, verificou-se que a questão do crédito à produção cafeícola tem sido um
dos maiores entraves para o melhoramento da produção, por fatores atinentes à falta de
garantias reais. Esta questão é fundamental, tendo em atenção a falta de recursos financeiros
por parte dos produtores, esta via seria ideal para capitalizar os mesmos e estimular a
produção cafeícola, bem como melhor os processos de transformação, retirando daí as mais -
valias da produção.
O estudo permitiu observar que a região do Uíge apresenta fortes elementos positivos que vão
deste boas condições edafoclimáticas, disponibilidades de terras aráveis; produção orgânica;
produção sem irrigação; possibilidade de produção de café de reconhecida qualidade
internacional; por outro lado, elementos negativos afetam a produção cafeícola na região tais
como degradação das infra-estruturas de produção do café, acesso restrito às novas
tecnologias, reduzido número de indústrias de transformação, baixa mecanização das
operações, degradação das infra–estruturas de processamento e armazenamento do café.
55
Contudo boas oportunidades se apresentam tal como a disponibilidade do governo para apoiar
o sector cafeeiro, ambiente favorável para o investimento na cafeicultura, ambiente favorável
à investigação sobre a cultura cafeícola na região, meio benéfico para a construção de fábricas
de descasque; espaço para fornecimento de indústrias de torrefação; atmosfera favorável para
o fornecimento de estruturas para o processamento do café, possibilidade de criação de uma
rede de transportes para apoio a cafeicultura, possibilidade de estímulos fiscais para a
produção de café.
As estratégias para melhorar a produção, comercialização e transformação do café,
decorrentes da pesquisa realizada, orientam-se para a inovação tecnológica e modernização
dos sistemas de produção, bem como para a implementação de um sistema de qualidade e de
certificação do café e de organização da comercialização e estruturação da cadeia de valor.
5.2 Limitações do estudo
Qualquer trabalho de investigação apresenta limitações, quer pelos métodos aplicados, quer
pela possibilidade de extrapolação com confiança dos resultados.
O presente estudo não foi diferente. Vários constrangimentos surgiram ao longo do estudo,
desde a falta de informações atualizadas sobre a estrutura produtiva do café em Angola à
aplicação dos questionários.
Existiam muitas informações históricas sobre o café mas algumas não correspondiam
exatamente às questões levantadas a nível da produção, transformação e comercialização da
região do Uíge, pois poucos estudos sobre a estrutura produtiva a nível regional são efetuados,
o que dificultou grandemente a estruturação do trabalho.
Outra grande limitação está relacionada com a participação dos produtores que nalguns casos
escusaram identificarem-se bem como prestar informações sobre a sua produção cafeícola
pelo facto de muitos não utilizarem os canais conhecidos para a comercialização do café e de
os consumidores influenciarem fortemente os preços e porque os custos de produção estão
acima dos preços indicados pelo INCA.
O questionário foi aplicado em 25 dias, em diversas favelas da província do Uíge, aonde o
acesso foi um dos principias pontos de dificuldade.
56
Outra das grandes dificuldades foi a fraca capacidade de controlo estatístico e produtivo dos
produtores, determinados fundamentalmente pelo baixo nível de escolaridade, o que
dificultou perceber algumas questões dos questionários relacionadas essencialmente com as
áreas de produção das culturas fora do café, os custos de produção, os custos com inputs e
mão-de-obra. Neste último ponto, isto deveu-se ao facto der ser essencialmente familiar.
Ao longo do processo de colheita de informações, foi apenas possível manter contactos com
os produtores e responsáveis do INCA tendo ficado de fora os intermediários e os
exportadores.
Assim sendo, os nossos esforços foram conduzidos no sentido de produzir a informação mais
próxima da realidade produtiva com os dados colhidos no local.
5.3 Recomendações e perspetivas para estudos futuros
O estudo ora apesentado objetivava essencialmente encontrar mecanismos que permitissem
melhorar a produção, transformação e comercialização do café robusta no município,
aumentando a rentabilidade dos produtores e expandindo as suas áreas de comercialização.
Neste sentido, apraz–nos recomendar o seguinte:
1. Elaboração de uma estratégia de concessão de créditos bonificados;
2. Elaboração de um plano de formação e capacitação do capital humano;
3. Melhoramento e acompanhamento dos processo de produção, transformação do café,
de modos a facilitar a determinação dos custos de produção e transformação;
4. Recuperação das infra–estruturas rodoviárias;
5. Criação instrumento jurídico – legais para regular a atividade cafeícola;
6. Criação de uma entidade independente para garantir a regulação do mercado cafeeiro;
7. Recuperação das infra–estruturas de processamento e armazenamento do café;
8. Substituição gradual dos cafezais velhos por novas culturas;
9. Elaboração de um plano de incentivos para o investimento na indústria de
transformação do café;
10. Organização dos cafeicultores em cooperativas;
11. Elaboração de um plano de acesso facilitado aos inputs;
57
12. Reorganização dos circuitos de comercialização, controlo da qualidade e a certificação
do café;
13. Realização de feiras do café para promoção do café do Uíge.
Na perspetiva de desenvolvimento de novos estudos propomos o seguinte:
1. Realização de outros estudos aplicados outros procedimentos metodológicos para
determinação dos custos de produção e transformação do café robusta;
2. Ampliar o campo de pesquisa incluindo outros municípios produtores, de modos a ter
– se uma informação mais apurada sobre a produção cafeícola na Província
3. Elaborações de estudos de viabilidade económica para impulsionar os produtores a
emergirem da produção familiar para a empresarial;
4. Elaboração de pesquisas que permitam conhecer a real capacidade produtiva da
região.
5. Elaboração de estudos para determinação de preço de venda a porta do produtor, que
se ajuste aos potenciais custos de produção.
58
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62
ANEXO
Questionário aplicado aos produtores de café
NOME DO AGRICULTOR:
A - Caracterização socioeconómica
1. Idade --------- Anos
2. Sexo: Masculino[ ] Feminino[ ]
3. Estado civil: Solteiro[ ] Casado[ ] Divorciado[ ] Viúvo[ ] Outros[ ]
4. Nível de escolaridade:
Sem escolaridade[ ] Ensino primário[ ] Ensino pré secundário[ ]
Ensino secundário[ ] Nível superior[ ] Não respondeu[ ]
5. Número e idade dos membros da família?
Familiar Idade Nível de escolaridade
Mulher/Marido
1º filho
2º filho
63
6. Qual é o tipo da sua residência?
Casa de adobe[ ] Casa pau-a-pique[ ] Casa de tijolo[ ]
Casa (com condição permanente)[ ] Outro[ ]. Qual?...............................................
7. A energia usada para cozinhar é:
Lenha[ ] Carvão[ ] Gás Butano[ ] Outros[ ] Quais?
8. A luz usada na sua residência é:
Lampião[ ] Petromax[ ] Gerador [ ] Painel solar[ ] Energia eléctrica[ ]
9. Qual é a fonte da água para consumo humano?
Agua nascente[ ] Cacimba[ ] Canalizada em casa[ ] Fontenário[ ]
10. Tratamento de água
Água é consumida sem tratamento[ ] Água é consumida com tratamento[ ]
11. Destino dado ao lixo doméstico
Jogado na superfície da terra[ ] Queimado[ ] Enterrado[ ] Lixo[ ]
Recolhido através da colecta domiciliária[ ]
12. Existência ou ausência de serviços educacionais para o agricultor e família:
Ausência de escolas[ ] Escolas de educação infantil[ ]
Escolas de ensino primário[ ] Escolas de ensino pré-secundário[ ]
64
Escola de ensino secundário[ ] Outros[ ] Quais?...............................................
13. Existência ou ausência de serviços de saúde para o agricultor e família:
Ausência de serviços[ ]
Hospital[ ] Centro de saúde[ ] Dispensário[ ] Posto de saúde[ ]
Outros[ ] Quais?............................................................................................
14. Que bens possui para melhorar a qualidade de vida?
Rádio[ ] Televisão[ ] Antena parabólica[ ] Fogão a querosene[ ]
Frigorífico[ ] Outros[ ] Quais …..................………………...........................
15. Quantas vezes come carne por semana?
16. Quantas refeições faz por dia?
Mata-bicho[ ] Pequeno-almoço[ ] Almoço[ ] Merenda[ ] Jantar[ ]
B - Produção agrícola
17. A quem pertence a terra utilizada na agricultura?
Propriedade própria[ ] Comunidade[ ] Estado[ ] Outros[ ] Quais ?…………….
18. Se a terra é propriedade própria, como obteve a terra?
Herança[ ] Compra[ ] Estado[ ] Outros[ ] Quais?………………………..
19. Se a terra é propriedade própria, de quem é a terra?
Homem[ ] Mulher[ ] Ambos[ ]
65
20. Quem tem acesso à posse da terra, em futura transmissão?
Filhos homens[ ] Filhas mulheres[ ] Ambos[ ] Outros[ ]
21. Quem toma as decisões de cultivo da terra ?
Homem[ ] Mulher[ ] Ambos[ ]
22. Culturas e áreas e produções
Culturas Área (ha) Produção (Kg/ha)
Mandioca
Milho
Ginguba
Banana
Batata
Feijão
Gergelim
Hortícolas
23. Tipo de tracção utilizada
Ferramentas Não[ ] Sim[ ] própria[ ] Alugada[ ]
Animal Não[ ] Sim[ ] própria[ ] Alugada[ ]
Mecânica Não[ ] Sim[ ] própria[ ] Alugada[ ]
Outros Não[ ] Sim[ ] Quais? própria[ ] Alugada[ ]
24. Tecnologia de produção
Preparação do terreno: manual[ ] animal[ ] mecânica[ ]
Sementeira: manual[ ] animal[ ] mecânica[ ]
66
Monda: manual[ ] animal[ ] mecânica[ ]
Colheita: manual [ ] animal[ ] mecânica[ ]
25. Faz adubações? Não[ ] Sim[ ]
Se sim, para que culturas:
26. Faz tratamentos fitossanitários? Não[ ] Sim[ ]
Se sim, para que culturas:
27. A água para a rega provém de:
Chuva[ ] Rio[ ] Nascente[ ] Canal[ ] Outra[ ]Qual?
28. Se utiliza água para rega de canal para que culturas:
29. Quais os familiares trabalham na agricultura
Marido[ ] Mulher[ ] Filhos[ ] Outros[ ]
30. Indique quais os factores que influenciam a sua produção. Ordene 1º, 2º, 3º,….
Infestantes [ ] Excesso de água[ ] Seca[ ] Vento[ ]
Aves e animais[ ] Doença das plantas[ ] Outros[ ] Quais?
C. PRODUÇÃO DE CAFÉ
31. Que tipo de café tem
Arábica [ ] Robusta [ ]
67
32. O seu cafezal é
Cafezal Novo [ ] Cafezal Velho [ ] Misto [ ]
33. Área de café………………….ha
34. Tipo de tracção utilizada
Ferramentas Não[ ] Sim[ ] própria[ ] Alugada[ ]
Animal Não[ ] Sim[ ] própria[ ] Alugada[ ]
Mecânica Não[ ] Sim[ ] própria[ ] Alugada[ ]
Outros Não[ ] Sim[ ] Quais? própria[ ] Alugada[ ]
35. Tecnologia de produção
Poda: manual[ ] animal[ ] mecânica[ ]
Limpeza: manual[ ] animal[ ] mecânica[ ]
Colheita: manual [ ] animal[ ] mecânica[ ]
Transporte: manual [ ] animal[ ] mecânica[ ]
36. Faz adubações? Não[ ] Sim[ ]
37. Faz tratamentos fitossanitários? Não[ ] Sim[ ]
38 A água para a rega provém de:
Chuva[ ] Rio[ ] Nascente[ ] Canal[ ] Outra[ ]Qual?
68
39. Produção de Café por ano em Cereja…… Kg Pergaminho………… Kg
40. Produção de café para venda ……Kg Autoconsumo ……………. Kg
41. O café é a principal actividade agrícola ou principal fonte do seu rendimento?
Sim [ ] Não [ ]
42. Qual o rendimento do café por ano ? ..............
43. Vende o café em cereja? Sim [ ] Não [ ] Preço 50Kg [ ]
44 Vende o café pergaminho? Sim [ ] Não [ ] Preço 50Kg [ ]
45. Vende o café em grão verde? Sim [ ] Não [ ] Preço 50Kg [ ]
46. Se sim, onde vende o café e preço?
Por favor assinale
Cereja ou Pergaminho
Preço/saco 50 Kg
Angonabeiro
Fornecedor mercado local
Mercado Luanda
ONGs
Outros
69
47. Se não vende toda a sua produção, por favor classifique a razão com base em sua
importância (4 = muito importante, 3 = pouco importante, 2 = importante, 1 = não importante)
Classificação
Não colhe o suficiente para vender
Não consigo acesso ao mercado
Os preços são muito baixos
O mercado mais próximo fica muito longe
Acesso ao transporte limitado
Outros (por favor especificar)
48. Quais são os principais problemas/dificuldades que enfrenta na produção e
comercialização? (4 = muito grave, 3 = moderadamente grave, 2 = severo, 1 = Não é um problema)
Classificação
Produção baixa
Cafezal velho
Falta de sombra para o café
Falta de tratamento do café
Comercialização deficiente
Preço baixo
49. Como acha que esses problemas podem ser superados, por ordem
1
2
3
4
70
D - Rendimento e Autoconsumo agrícola
50. Quais as principais actividades agrícolas em termos de rendimento?
1.
2.
3.
51. Quem toma as decisões de como gastar o dinheiro?
Homem[ ] Mulher[ ] Ambos[ ]
52. Como gasta o dinheiro que obtém com a venda?
compra de animais[ ] máquinas[ ] Escola dos filhos[ ] Roupa[ ] Alimentos[ ]
Poupança[ ] Outros[ ] Quais?……………
53. Quais as principais actividades agrícolas em termos de autoconsumo familiar?
1.
2.
3.
54. Quem é responsável por alimentar a família?
Homem[ ] Mulher [ ] Ambos[ ]
55. Quais os meses do ano em que tem mais dificuldades para alimentar a família?
JAN FEV MA
R
ABR MAI JUN JUL AGO SET OUT NOV DEZ
71
E - Comercialização
56. Quais os factores de produção que compra?
Sementes[ ] adubos[ ] pesticidas[ ] Outros[ ] Quais?.....................
57. Onde compra os factores de produção?
Mercado local[ ] mercado municipal[ ] loja[ ] Estado[ ] ONG[ ]
vizinhos[ ] cooperativa[ ] igreja[ ]
58. Quais os produtos que vende?
59. Onde vende os produtos?
Mercado local[ ] mercado municipal[ ] loja[ ] Estado[ ] ONG[ ]
vizinhos[ ] cooperativa[ ]
60. Indique que tipo de transporte normalmente usa para vender os seus produtos:
Transporte público[ ] transporte pessoal[ ] animal[ ] a pé[ ] Outros[ ] Quais?
61. Que problemas enfrenta na produção e na comercialização?
1 = sem problemas 2 = problema moderado 3= grande problema 4 = muito grande problema
Classificação
preços dos factores são muito altos
custos de transporte muito altos
preço de venda muito baixo
72
Flutuação de preço
Demanda reduzida
Difícil acesso aos mercados
Outros quais?
F - Apoios
62. Recebeu apoios para a compra de factores de produção? Não[ ] Sim[ ]
63. Se recebeu apoios de quem recebeu?
Estado[ ] ONG’s nacionais [ ] ONG’s internacionais[ ] Outros[ ]Quais?
64. Recebeu formação profissional agrícola? Não[ ] Sim[ ]
65. Se recebeu formação profissional agrícola de quem recebeu?
Estado[ ] ONG’s nacionais [ ] ONG’s internacionais[ ] Outros[ ]Quais?
66. Quais as áreas em que recebeu formação profissional?
Produção[ ] Transformação[ ] Comercialização[ ] Conservação[ ]
Outros[ ]Quais?
67. Recebeu apoio técnico às culturas? Não[ ] Sim[ ]
Se recebeu apoio técnico às culturas, foi de
Estado[ ] ONG’s nacionais [ ] ONG’s internacionais[ ] Outros[ ]Quais?
73
68. Indique que tipo de assistência recebeu
Produção[ ] Transformação[ ] Comercialização[ ] Conservação[ ]
Outros[ ]Quais?
69. Onde obtém normalmente informações sobre a tecnologia e as culturas?
Governo/MADR/Extensão[ ] ONG’s internacionais[ ] ONG’s nacionais [ ]
Vizinhos[ ] Reunião de grupos de agricultores[ ] Rádio[ ] Televisão [ ]
Outros[ ]Quais?
70. Se investe nos custos da produção das culturas obtém o dinheiro de
Crédito[ ] Pessoal[ ] Vizinhos [ ] Outros[ ] Quais?…………….
71. Se recebeu crédito, indique de onde
Governo/MADR[ ] Bancos comerciais[ ] Micro finança[ ] ONG internacionais[ ]
ONG’s locais[ ] Outros[ ] Quais?.................................................................................