Transcript
Page 1: Estado de Minas, caderno Bem Viver: Nutracêuticos (parte 2)

BEMVIVER

E S T A D O D E M I N A S ● D O M I N G O , 1 7 D E J A N E I R O D E 2 0 1 6

2

❚ REPORTAGEM DE CAPA

Como não setrata de umremédiocontrolado, osefeitos são sutis,mas eficazes

■ Jéssica Viganó,designer de interiores

CAROLINA COTTA

Os nutracêuticos são indica-dos para quem não consegue sealimentar corretamente ouquando traz benefícios para otratamento de alguma patolo-gia. “São inúmeros os ganhosem consumi-los. Eles melhoramo perfil lipídico e a função intes-tinal, diminuem a incidência decâncer, acidente vascular cere-bral, arteriosclerose e enfermi-dades hepáticas”, explica a nu-tricionista Renata Rodrigues, se-gundo a qual alimentos funcio-nais e nutracêuticos são pratica-mente sinônimos. “A diferença éque o alimento funcional é o ali-mento propriamente dito, e onutracêutico é como se fosse o'princípio ativo' que traz o realbenefício”, explica.

Segundo Laís Bhering, um ali-mento funcional também podeser um nutracêutico. Uma dasprincipais diferenças conceituaisentre eles é o fato de os nutracêu-ticos incluírem suplementos die-téticos e outros alimentos capa-zes de tratar ou prevenir doenças,enquanto os alimentos funcio-nais devem estar na forma deum alimento comum e apenas aredução do risco de doenças já érelevante. Isso também explica-ria o fato de a dieta personaliza-da, respeitando as necessidadesespecificas de cada indivíduo, sero mais adequado. Os alimentosfuncionais têm componentesque exercem efeito benéfico àsaúde, como o ômega-3 dos pei-xes de águas frias e profundas; osflavonoides do suco de uva; osglicosinolatos do brócolis, couve-flor, couve-manteiga e repolho.

“A principal diferença de con-sumir um componente isoladode um alimento é o fato de inge-rirmos apenas uma parte daque-le alimento e, muitas vezes, deforma mais concentrada. Um ali-mento é uma matriz complexade componentes, que inclui car-boidratos, lipídeos, proteínas, vi-taminas, minerais e fitoquími-cos. Ao tomarmos suco de uva,por exemplo, ingerimos todos oscomponentes presentes nele, in-cluindo os flavonoides, conside-rados um nutracêutico. Podemosusufruir dos benefícios propor-cionados pelos nutracêuticos aoconsumirmos um alimento queé fonte desses componentes em

uma dieta equilibrada, sem ne-cessidade de suplementação die-tética”, diz.

Entretanto, o uso de compo-nentes alimentares isolados po-de contribuir no tratamento dediversas doenças. “Essa é uma es-tratégia interessante para deter-minados indivíduos, desde queseja realizada com orientação deum profissional capacitado”, de-fende a nutricionista e pesquisa-dora. Os nutracêuticos, portanto,devem ser indicados de forma in-dividualizada. Os ganhos ao con-sumi-los dependem da necessi-dade de cada indivíduo. Quandoutilizados de forma segura, comindicação de nutricionista oumédico, esses componentes au-xiliam no tratamento e preven-ção de doenças e apresentammenores efeitos colaterais quemedicamentos convencionais.

PERDA DE PESO A designer deinteriores Jéssica Viganó, de 26anos, conheceu os nutracêuticospor meio de sua nutricionista,em sua busca de perda de peso.Para Jéssica, a dieta sozinha nãodá conta de resolver o excesso depeso. “É necessário exercício físi-co e, principalmente, acompa-nhamento psicológico, pois o ex-cesso de peso está, na maior par-te das vezes, associado a outrosquadros clínicos de doenças, co-mo o estresse e a ansiedade da vi-da moderna. Fórmulas tambémajudam bastante”, acredita.

E foi assim que ela não tevedúvidas de recorrer aos nutra-cêuticos. Já usou chá-verde, colá-geno e fibras naturais, além decomplexos de vitamina e fórmu-las manipuladas pela nutricionis-ta. “Como não se trata de um re-médio controlado, os efeitos sãosutis, mas eficazes.”

Jéssica consome as cápsulas ànoite, nas últimas refeições dodia. “Tive bons resultados em to-das as indicações, desde as vita-minas complementares até ocomplexo receitado em fórmulanatural pela nutricionista, paraaliviar a ansiedade, como auxiliarno tratamento” conta.

TRATAMENTO EPREVENÇÃO DE DOENÇAS

Os nutracêuticos se populari-zaram no Japão por meio do estí-mulo de seu Ministério da Saúde.Visando uma redução dos gastosem medicamentos e tratamen-tos, o governo promoveu o usode alimentos benéficos à saúdecomo prevenção. Segundo FelipeEstanislau, que pesquisa o assun-to na disciplina bromatologia emsaúde, da Faculdade de Farmáciana Universidade Federal do Rio deJaneiro (UFRJ), é a Anvisa que es-tabelece as normas para comerci-alização desses alimentos, mas,ao mesmo tempo, não reconheceo termo nutracêutico. Uma reso-lução do órgão fala em substânciabioativa: nutriente ou não nutri-ente, com ação metabólica ou fi-siológica específica no organis-mo, devendo estar presente emfontes alimentares.

Responsável pela disciplina, oengenheiro de alimentos LuizEduardodeCarvalhoponderaquenutracêutico é um nome inventa-do para coisas que já existiam eque depois se multiplicaram. “Pre-cisavam ter um nome para quehouvesse,então,umalegislaçãoes-pecífica”, explica. Segundo o pro-fessor, havia uma coleção de pro-dutos que nem eram exatamentealimentos,nemexatamentemedi-camentos, mas que eram e sãovendidos em farmácias, com ima-gem, embalagem e preço demedicamento. “São produtos queanseiam pelo privilégio de obterregistros fáceis, rápidos, baratos,comosefossemalimentos”,critica.

Segundo Luiz Eduardo, algunscriaram e usam o termo suple-mento nutricional, embora eleconsideremaiscorretaaexpressãocomplemento nutricional. “Umacoisaéingeriralgoquenãoestánoalimento, como a Co-Enzima Q10,considerada nutracêutico. Outracoisa é consumir algo que está ou

deveria estar em quantidade sufi-ciente na dieta, como betacarote-no, zinco, vitamina D, cálcio, mas apessoa consome uma cápsula su-pondo que o que há na dieta éinsuficiente. São duas coisas mui-todiferentesenãoparecerazoávelque ambas sejam classificadas co-mo nutracêuticos”, alerta.

CARÊNCIA Para o pesquisador, adieta equilibrada deveria fornecertodos esses nutrientes e compos-tos bioativos. A contradição, o pa-radoxo, é que a fração da socieda-de que tem essa dieta equilibradaé exatamente aquela que vai con-sumir o que certamente não pre-cisa. Ou seja, esse argumento deque é para cobrir déficits nutricio-nais não parece razoável para jus-tificar tal comercialização, já que ogrupo-alvo, com maiores carênci-as nutricionais, se não tem acesso

aos alimentos, menos ainda terá atais cápsulas”, explica.

Muitas vezes, um alimentofuncional é assim classificado porconter determinada substânciabioativa.Oproblemaéqueaquan-tidade presente é pequena, o querecomendaria o consumo de umaquantidadeenormedessealimen-to, para assegurar uma ingestãomínima recomendável da tal sub-stância. Cabe ressaltar, ainda, queosnutracêuticosraramentesãoto-talmente a substância anunciada.Um exemplo é o óleo de fígado debacalhau. “Basta ler o rótulo. Aquantidade de água está na faixados 70%. Talvez mais uns 25% deóleo de soja e um pouquinho deóleo de fígado de bacalhau. Parecebem mais fácil, mais seguro e atémais barato ingerir essa vitaminaApormeiodeumovocozido,umagemada”, ensina.. (CC)

Consumo consciente

Entre os inúmeros ganhosao consumi-los, especialistasressaltam que osnutracêuticos diminuem aincidência de câncer e deacidente vascular cerebral

De dentropara fora

Também chamados de pílulasou cápsulas da beleza, os nutricos-méticos são aliados das mulheresao associar vitaminas, mineraise/ou compostos bioativos que es-timulamasfunçõesdapele,corpo,cabeloeunhaspararestaurarabe-lezadedentroparafora.OBrasiléoterceiro mercado em cuidadoscom a pele e as brasileiras são ten-dência mundial de uma aborda-gem holística para a beleza. Alémdos cosméticos tópicos e procedi-mentos estéticos, estão buscandoavianutricionalqueacionaosme-canismos de beleza.

SegundoRenataCassar,nutrici-onistaespecialistaemnutricosmé-ticos,devidoaoseumecanismodeação, eles agem gradualmente,sendo necessário o uso contínuo epor determinado período detempo.UmexemploéoInnéovSi-lhouette, que ajuda na modulaçãodafloraintestinal.O produto asso-ciaumlactobacilocomatuaçãoes-pecífica na perda de peso a nutri-entes que ajudam no metabolis-mo e no processo de emagreci-mento,masseuconsumodevees-tar associado a uma dieta equili-brada e hábitos de vida saudáveis.Usados em complemento à ali-mentação, eles proporcionam umaporteadicionalde nutrientes,an-tioxidantes e outros bioativos.

JáInnéovSolarauxilianaprote-çãodiáriadapeleparaoperíododemaiorexposição,reforçandoasde-fesas antioxidantes e imunológi-cas da pele e combatendo ofotoenvelhecimento.Seuusodeveestarsempreassociadoàsmedidasdefotoproteçãoeaplicaçãodopro-tetorsolar.SegundoGabrielGonti-jo, presidente da Sociedade Brasi-leira de Dermatologia e professorde Faculdade de Medicina daUFMG, esse tipo de produto nãosubstitui o protetor solar.

O médico chama atenção paraa dose correta de vitaminas, paraque os nutricosméticos ou nutra-cêuticossejamconsideradossegu-roseeficazeseparaquenãoocorraum risco de hipervitaminose. (CC)

EDÉSIO FERREIRA/EM/D.A PRESS – 15/9/15

Gabriel Gontijo esclarece que os produtos ajudam a proteger a pele, mas não substituem o protetor solar

EDÉS

IOFE

RR

EIRA

/EM

/D.A

PRES

S

A nutricionista RenataRodrigues diz que os

nutracêuticos melhoramo perfil lipídico

e a função intestinal

CRISTINA HORTA/EM/D.A PRESS

Recommended